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MODELO DE GESTÃO PARTICIPATIVA, INTEGRADA E COMPARTILHADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E RURAIS DOS MUNICÍPIOS DE MUCURICI, MONTANHA E PONTO BELO,
INTEGRANTES DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAÚNAS
MODEL OF PARTNERSHIP, INTEGRATED AND SHARED MANAGEMENT OF URBAN AND RURAL SOLID RESIDUES FROM THE MUNICIPAL DISTRICTS OF MUCURICI, MONTANHA AND PONTO BELO, THAT INTEGRATE ITAUNAS RIVER’S WATERSHED
Manoel Rodrigues da Silva
Coordenadoria de Geomática do Centro Federal de Ed. Tecnológica do Espírito Santo Av. Vitória, 1729 Jucutuquara, Vitória - ES, 29040-780
e-mail: [email protected]
Aceito em 11 de setembro de 2007
RESUMO
Apresenta um diagnóstico da situação atual da questão dos Resíduos Sólidos Urbanos e Rurais nos municípios de Montanha, Mucurici e Ponto Belo, que
fazem parte da Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas, na microrregião Extremo Norte do Espírito Santo. Propõe um Modelo de um Plano de Gestão Participativa,
Integrada e Compartilhada entre as suas várias fases, principalmente na coleta diferenciada, com as diversas formas de tratamento e destinação final, para sanar
os problemas de impacto ambiental, social e econômico e dar uma melhor qualidade de vida para o meio ambiente, de sobrevivência digna para a população
carente. Este modelo constará de um sistema composto por coleta segregada, coleta seletiva, unidade de triagem e de caracterização, pátio de compostagem,
aterro sanitário compartilhado, (somente para os rejeitos), plano de recuperação/desativação e destinação adequada de lixões, criação de um plano de educação
ambiental nas escolas e nas comunidades, criação de associação de catadores de recicláveis, nos parâmetros da gestão sustentável dos resíduos sólidos, tendo
como referência o princípio dos 3 Rs, apresentado na Agenda 21: redução (do uso de matérias-primas e energia e do desperdícios nas fontes geradoras), reuti-
lização direta dos produtos e reciclagem de materiais. Mostra que as etapas dessas ações são articuladas entre si, desde a não-geração/redução de resíduos até
a disposição final, com as atividades compatíveis com as dos demais sistemas de saneamento ambiental, com a participação ativa do poder municipal de cada
integrante das ações, da iniciativa privada e da sociedade civil organizada e de toda a população.
Palavras-chave: Gestão de resíduos. Resíduos sólidos urbanos e domiciliares. Caracterização de resíduos. Aterro sanitário.
ABSTRACT
This work shows the current situation of the Urban and Rural Solid Residues in the municipal districts of Montanha, Mucurici and Ponto Belo, that
are part of Rio Itaúnas’s River’s watershed, in the microregion extreme nortth microregion of the Espírito Santo, and to proposes a Model of a Plan of
Partnership, Integrated and Sharec Management, among your several phases, mainly in the differentiated collection, with its several treatment forms
and final destination, in order to heal the problems of impact environmental, social and economical impacts, and to give a better life quality to the
environment as a whole, such as a decent survival to the lacking population. This model consists of a system composed by segregated collection, selec-
tive collection, a screening and characterization unit, a court of compost, a shared sanitary embankment, (only for the garbages), a plan to revover/
inactivate and appropriately destinate the waste, the creation of a plan of environmental education in schools, and the creation of recyclables collectors
association, respecting the parameters of the maintainable administration of the solid residues, and using as reference the principle of 3 Rs, presented
in the Calendar 21: reduction (of the use of raw materials and energy and of the wastes in the generating sources), direct reutilization of the products
and recycling of materials. All the stages of those actions are linked, from the generation/minimization of residues to the final disposition, and activities
are compatible with the other systems of environmental sanitation, including the active participation of the municipal power, of the private initiative, of
the organized civil society and of all the population.
Keywords: Residues administration; urban solid residues and home solid residues, residues characterization. Sanitary embankment.
Modelo de gestão participativa, integrada...
Revista Capixaba de Ciência e Tecnologia, Vitória, n. 3, p.1-11, 2. sem.2007
2 Revista Capixaba de Ciência e Tecnologia, Vitória, n. 3, p.1-11, 2. sem.2007
Silva, M. R. da
silva, m. r. da
1 INTRODUÇÃO
A população mundial depara, neste século, os resul-
tados do desenvolvimento científico e tecnológico e a produção
cada vez mais complexa de componentes de tecnologia avança-
da, possibilitando maior diversidade de produtos que beneficiam
e facilitam a vida moderna em qualquer recanto do mundo. En-
tretanto, essa produção maciça, com o uso de matérias-primas
de recursos naturais não renováveis, acarreta a geração dos mais
diversos tipos de rejeitos que vêm sendo descartados inadequa-
damente, provocando impactos sobre o meio ambiente do pla-
neta. Esses impactos já podem ser avaliados, como consta no
Quarto Relatório de Avaliação das mudanças climáticas e do
aquecimento global, com o título de Novos Cenários Climáticos,
divulgado, em Paris, em 02/02/2007, pela Organização das Na-
ções Unidas (ONU) e pela Organização Meteorológica Mundial
(OMM). Esse relatório foi elaborado pelo Grupo de Trabalho I
do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). (1)
Nele, o grupo diz que o aquecimento observado duran-
te os últimos 50 anos se deve provavelmente a um aumento do
efeito estufa, havendo evidência forte de que a maioria do aque-
cimento seja por causa das atividades humanas (incluindo, para
além do aumento de gases de estufa, outras alterações, como um
maior uso de águas subterrâneas e de solo para agricultura indus-
trial e maior consumo energético, e poluição).
Os resíduos gerados pelas diversas atividades produ-
tivas humanas, sejam as desenvolvidas nos meios rurais, pelas
práticas agropecuárias, sejam as desenvolvidas nos meios urba-
nos, nas habitações, nos comércios, nas indústrias e nos serviços,
constituem-se, hoje, em um grave problema de gestão de manei-
ra ambientalmente adequada e segura, enfrentado pela adminis-
tração pública, principalmente, em nível municipal. (2)
Por causa do acelerado crescimento da produção de
resíduos pela população, a partir das últimas três décadas, espe-
cialmente nas grandes cidades, onde as opções para destinação
final desses resíduos se torna cada vez mais escassas e onero-
sas, favorecendo as descargas clandestinas em locais impróprios,
contribuindo para a poluição do solo, do ar e dos recursos hídri-
cos, alterando as suas características físicas, químicas e bioló-
gicas e gerando maus adores por causa da formação de gases,
principalmente aqueles que, além de serem responsáveis pelos
mais diversos tipos de doenças, (3) fazem parte do grupo do
efeito estufa e do aquecimento global, Os geradores de resíduos
devem fazer o gerenciamento deles na própria fonte geradora,
como redução, segregação, recuperação e reutilização, visando,
além de diminuir taxas/tarifas que eles pagam, a contribuir para a
melhoria da qualidade de vida da população e do meio ambiente
e preservação dos recursos naturais.
Os problemas acarretados pela geração de resíduos
sólidos urbanos e rurais vêm-se agravando em todo o mundo
pelo crescimento demográfico, surgimento de novos produtos,
maiores facilidades de aquisição, criação ou mudança de hábitos,
desenvolvimento tecnológico; falta de recursos financeiros, de
conhecimentos técnico-administrativos e vontade política; falta
de conscientização e cobrança da população e pela falta de área
para dar uma destinação final, ambientalmente adequada a esses
resíduos. (4)
A produção e os problemas gerados do lixo no Brasil não
são diferentes. É um fenômeno inevitável que ocorre diariamente
em quantidade e composição cada vez mais diversificada e em maior
quantidade, que varia com o seu nível de desenvolvimento econômi-
co, com sua população e seus diferentes estratos sociais. (5)
Do total de resíduos coletados, 76% são dispostos ao
ar livre, o restante é destinado com 13% em aterros controlados;
10% em aterros sanitários; 0,9% em usinas de compostagem;
0,1% em incineradores e uma parcela ínfima é recuperada em
centrais de triagem/beneficiamento para reciclagem. (5)
Pela Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB),
de 2000, realizada nos 5.507 municípios brasileiros, 4.026, ou
seja, 73,1%, têm população de até 20.000 habitantes, e, nesses
municípios, 63,6% dos resíduos gerados são vazados em lixões e
em alagados; 32,2% são dispostos em aterros adequados (13,8%
sanitários, 18,4% aterros controlados), e 5% não informaram da
destinação do lixo. (6)
Considerando-se que a disposição de resíduos sólidos
em aterros controlados não é um sistema eficiente de destinação
final, uma vez que nesse sistema, em que há um confinamento
dos resíduos por meio da cobertura da camada superficial, com
argila, no final de cada jornada diária de trabalho, evitando-se,
assim, apenas a poluição do ar pela emissão de particulados, a
presença de catadores e de animais, ou seja, é um “enterramento”
dos resíduos. Porém, nesse local, há formação de chorume (líqui-
do escuro e mau cheiroso), resultante da decomposição química
e biológica dos resíduos, e há a precipitação pluviométrica que
contaminam o solo e os lençóis subterrâneos e superficiais com
os diversos tipos de metais pesados, como: o mercúrio, o co-
bre, o chumbo, o enxofre, o zinco, o cádmio, e outros, além da
formação e confinamento do biogás, composto, principalmente
por gás metano (CH4), dióxido de carbono (CO
2), óxido nitroso
(N2O), CFC (Cloro Flúor carbono) e outros. Esses gases fazem
silva, m. r. da
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parte do grupo do efeito estufa, e 55% de CH4 e 40% de CO
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são formadores de biogás, contribuindo para o aquecimento glo-
bal, desastres ambientais de difíceis dimensões, como consta na
Cartilha sobre o Efeito Estufa e a Convenção sobre Mudança do
Clima. (7)
Os problemas acarretados pela disposição de resídu-
os sólidos ao ar livre, nos famosos lixões, interferem, também,
numa séria ameaça à saúde pública, com a proliferação de vários
tipos de doenças provocados tanto pelos macro e microvetores,
como ratos, baratas, moscas, cães, aves, suínos, eqüinos, bovi-
nos, vermes, bactérias, fungos, actinomicetos e vírus, que vivem
nesse ambiente, quanto por metais pesados, já comentados, que
contaminam, também, a fauna e a flora, interferindo na cadeia
alimentar do ecossistema. (3)
Para haver uma estabilização completa dos contami-
nantes oriundos dos resíduos sólidos dispostos nesses locais, é
necessário um tempo maior do que 15 anos para a sua completa
desativação.
Analisando esse lado, então, pode-se afirmar que mais
de 82% da população brasileira faz a destinação final de seus
resíduos sólidos de maneira inadequada.
No Espírito Santo, essa estatística não poderia ser di-
ferente. Mais de 81% dos municípios do Estado fazem esse tipo
de disposição. Nesse sentido, este trabalho visa a oferecer contri-
buições para um Modelo de Gestão e de Gerenciamento dos Re-
síduos Sólidos Urbanos e Rurais dos municípios de Montanha,
Mucurici e Ponto Belo, na microrregião do Extremo Norte do
Espírito Santo, integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas,
onde já são preocupantes os problemas de degradação ambiental
dessa bacia por despejos domésticos, agropecuários, industriais,
do sistema de saúde e, também, por sedimentos carreados pelo
vento e água de chuvas.
Como reportou Custódio (8) no Jornal A GAZETA, de
06/08/2006, p. 4, com o título de “Lixões a céu aberto predomi-
nam em cidades do Norte e Noroeste”:
De um total de 32 cidades das regiões Norte e Noroeste
do Estado (ES), 24 mantêm lixões a céu aberto, conforme
levantamento feito pelo Instituto Estadual de Meio Am-
biente (IEMA). Cinco cidades já tiveram, inclusive, suas
áreas embargadas, devido ao grande impacto ambiental dos
lixões. Municípios que mantém lixões a céu aberto: Água
Doce do Norte, Águia Branca, Baixo Guandu, Barra de São
Francisco, Boa Esperança, Conceição da Barra, Ibiraçu,
Jaguaré, Ecoporanga, Fundão, Governador Lindemberg,
Mantenópolis, Marilândia, Montanha, Mucurici, Pancas,
Pinheiros, Ponto Belo, Rio Bananal, São Domingos do
Norte, São Mateus, Sooretama, Vila Pavão e Vila Valério.
Lixões embargados pelo IBAMA: Fundão, Ibiraçu, Jaguaré, São Mateus e Sooretama. Aterros controlados: Pedro Canário e São Gabriel da Palha. Lixões com aterros sanitários: Aracruz e Colatina. Municípios com transbordo para aterros sanitários: Linhares, João Neiva, Fundão e Conceição da Barra.
Os sistemas de limpeza urbana são de competência
municipal que pode executá-los diretamente ou por meio de
terceiros, mediante licitação e contrato de prestação de serviços
para promover a coleta, o tratamento e a destinação ambiental e
sanitária de forma correta e segura. No entanto, essa tarefa não é
fácil, haja vista os fatores já relacionados e a inexistência de uma
política brasileira de limpeza pública; limitações de ordem finan-
ceira, com orçamento inadequado, fluxos de caixa desequilibra-
dos, arrecadação insuficiente e inexistência de linha de crédito
específico; deficiência na capacitação técnica e profissional do
gari ao engenheiro chefe; descontinuidade política e administra-
tiva e ausência de controle ambiental. (5)
A Constituição Federal (CF) (9) estabelece em seu
artigo 23, incisos VI e VII que “é da competência comum da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios prote-
ger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas e preservar as florestas, a fauna e a flora”.
O art. 225 da Constituição Federal, § 3º, estabelece
que as condutas e atividades consideradas como lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da obriga-
ção de reparar os danos causados.
A Lei de Crimes Ambientais no 9605, de 12 de fevereiro
de 1998, em seu art. 54, § 2º, V, pune a quem lança resíduos sólidos,
líquidos ou gasosos ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em
desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos.
No § 3º do mesmo artigo, a lei pune a quem deixar de adotar, quan-
do assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução
em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. (10)
As instituições responsáveis pelo sistema de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos (GIRSU) devem contar
com a existência de uma estrutura organizacional que forneça o
suporte necessário ao desenvolvimento das atividades do siste-
ma de gerenciamento. A concepção desse sistema abrange vários
subsistemas com funções diversas, como de planejamento estra-
tégico, técnico, operacional, gerencial, recursos humanos, entre
outros. Essa concepção é condicionada pela disponibilidade de
recursos financeiros e humanos, como também pelo grau de mo-
bilização e participação social. (11)
Para municípios de pequeno porte observa-se, mui-
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Silva, M. R. da
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tas vezes, uma organização hierárquica construída com base no
princípio da especialização funcional, no qual a cadeia de co-
mando flui do topo para a base da organização, como ilustrado
pelo organograma 1.
gráficas, administrativo-financeiras e, principalmente, político-
sociais se unem para gerenciar os seus resíduos por meio de
modelos de gestão individual, obedecendo aos conceitos de Ges-
tão Integrada e Participativa, compartilhando um mesmo aterro
sanitário como tratamento e destinação final comum a todos os
municípios envolvidos, como mostra o Modelo de Gestão do or-
ganograma 2.
ORGANOGRAMA 1 - Exemplo de estrutura organizacional do sistema de gerenciamento integrado de RSU para um município de pequeno porte.
Nesse exemplo, observa-se que o Sistema Integrado de
GIRSU constitui-se em uma das gerências da Secretaria de Sane-
amento Ambiental do município, assistida pelo Conselho de Sane-
amento Ambiental, formada por segmentos representativos da co-
munidade, com função de contribuir com a proposição e o controle
do GIRSU. Esse sistema pode ser composto por atividades relacio-
nadas às etapas de geração, acondicionamento, coleta e transporte,
reaproveitamento, tratamento e destinação final. (11)
Gerenciar os resíduos de forma integrada é articular
ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento
que uma administração municipal desenvolve, apoiada em cri-
térios sanitários, ambientais e econômicos, para coletar, tratar
e dispor o lixo de uma cidade, ou seja, é acompanhar o ciclo
dos resíduos, da geração à disposição final. (12) No Modelo de
Gestão Participativa, o município, desde o desenvolvimento do
orçamento plurianual ou anual, tem a participação efetiva da co-
munidade indicando onde o município deve investir e em que
áreas deve atuar. E o orçamento plurianual ou anual da entidade
responsável pela Gestão, planejamento e execução dos serviços
de limpeza urbana no município é composto por indicações se-
torizadas de cada nível hierárquico da entidade, tendo assim a
participação efetiva dos setores administrativos, operacionais e
financeiros.
No Modelo de Gestão Compartilhada, a gestão e o ge-
renciamento são individuais para cada município e o comparti-
lhamento se dá apenas em uma das fases da Limpeza Urbana,
normalmente na destinação final. Assim, vários municípios que
tenham interesses e afinidades em características urbano-geo-
ORGANOGRAMA 2 - Modelo de gestão/gerenciamento com comparti-lhamento na destinação finalFONTE: Lima,(2001). (12)
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
O objetivo geral deste artigo é, em primeiro momento,
fazer um diagnóstico da situação atual dos problemas relacionados à
gestão e ao gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos e Rurais
(RSURus) dos municípios de Montanha, Mucurici e Ponto Belo,
integrantes da Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas, com base em
dados já evidenciados pelo Comitê de Bacias e pelo Plano Diretor
da Bacia Hidrográfica do Itaúnas, pelo Grupo de Estudos e Ações
em Recursos Hídricos da Universidade Federal do Espírito Santo
(GEARH/UFES), (13), pelo Relatório do Potencial Hidrogeológico
do Município de Montanha, elaborado pela Fundação de Apoio à
Pesquisa Científica e Tecnológica da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro (FAPUR), (14) e por observações de campo.
2.2 ESPECÍFICOS
São eles:
1. Desenvolver estudos e mecanismos para propor um
Modelo de Gestão Participativa, Integrada e Compartilhada dos
RSURus desses municípios.
2. Criar mecanismos legais de controle para implanta-
ção das ações propostas.
Secretaria de Administração
Conselho de Saneamento Ambiental
Secretaria de Saneamento Ambiental
PREFEITURA MUNICICIPAL
Procuradoria Jurídica
Secretaria de Finanças
Gerência de Planejamento, Projetos e Operação de Resíduos Sólidos
Urbanos
Setor de Fiscalização e Atendimento
PREFEITURA A
SECRETARIA DE OBRAS
GERÊNCIA DE LIMPEZA URBANA
ATERRO SANITÁRIO INTEGRADO-CONJUNTO
PREFEITURA B
SECRETARIA DE OBRAS
GERÊNCIA DE LIMPEZA URBANA
PREFEITURA C
SECRETARIA DE OBRAS
GERÊNCIA DE LIMPEZA URBANA
DEPARTAMENTO DE.
LIMPEZA URBANA
DEPARTAMENTO DE.
LIMPEZA URBANA
DEPARTAMENTO DE.
LIMPEZA URBANA
Secretaria de Administração
Conselho de Saneamento Ambiental
Secretaria de Saneamento Ambiental
PREFEITURA MUNICICIPAL
Procuradoria Jurídica
Secretaria de Finanças
Gerência de Planejamento, Projetos e Operação de Resíduos Sólidos
Urbanos
Setor de Fiscalização e Atendimento
PREFEITURA A
SECRETARIA DE OBRAS
GERÊNCIA DE LIMPEZA URBANA
ATERRO SANITÁRIO INTEGRADO-CONJUNTO
PREFEITURA B
SECRETARIA DE OBRAS
GERÊNCIA DE LIMPEZA URBANA
PREFEITURA C
SECRETARIA DE OBRAS
GERÊNCIA DE LIMPEZA URBANA
DEPARTAMENTO DE.
LIMPEZA URBANA
DEPARTAMENTO DE.
LIMPEZA URBANA
DEPARTAMENTO DE.
LIMPEZA URBANA
silva, m. r. da
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3. Fazer a atualização e complementação dos diagnós-
ticos municipais por validação dos Fóruns dos Usuários da Água
e do Desenvolvimento.
4. Fazer a caracterização dos Resíduos Sólidos Urbanos
desses municípios, para avaliar o seu potencial de reciclagem.
5. Elaborar o Plano de Projetos para Recuperação/desati-
vação de lixões e ativação da usina de triagem e compostagem.
6. Intensificar as atividades de educação ambiental,
conscientizando a população dos ganhos econômicos, ambien-
tais e sociais obtidos com a redução e reutilização de seus resí-
duos na própria fonte geradora.
7. Propor um Modelo de gestão Integrada, Participati-
va e Compartilhada que atenda às condições ambientais dos mu-
nicípios envolvidos e estender essas ações para todos os outros
municípios que integram essa Bacia, e servir de modelo para ser
aplicado em outras bacias hidrográficas.
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 RESÍDUOS SÓLIDOS
Segundo a norma NBR 10004/2004 da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), (15) são resíduos nos
estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de ori-
gem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de
serviços e de varrição. Ficam incluídos nessa definição os lodos
provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gera-
dos em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particularidades tornem im-
possível o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos
de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamen-
te impraticáveis diante da melhor tecnologia disponível.
3.2 GESTÃO
É usado para definir decisões, ações e procedimentos
adotados em nível estratégico, ou seja, define decisões em nível
de planejamento, obedecendo às condições políticas, institucio-
nais, legais, financeiras, sociais e ambientais. (12)
3.3 GERENCIAMENTO
Visa à operação do sistema de limpeza urbana. (12)
Desse modo, pode-se conceituar gestão como uma ação de pla-
nejamento e gerenciamento, a execução das ações planejadas.
3.4. PLANO DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
O Plano de Gerenciamento Integrado é um documento
que apresenta a situação atual do sistema de limpeza urbana, com
a pré-seleção das alternativas possíveis, com o estabelecimento
de ações integradas e diretrizes sob os aspectos ambientais, eco-
nômicos, financeiros, administrativos, técnicos, sociais e legais
para todas as fases de gestão dos resíduos sólidos, desde a sua
geração até a destinação final. (11)
4 CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA BACIA HI-
DROGRÁFICA
A Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas é uma bacia federal,
situada ao norte do Espírito Santo, nordeste de Minas Gerais e sul da
Bahia, ocupando uma área de drenagem aproximada de 4.800 km2,
distribuídos pelos municípios de Mucurici, Ponto Belo, Montanha,
Pinheiros, Pedro Canário, Boa Esperança, Conceição da Barra, São
Mateus, no Espírito Santo, e Mucuri na Bahia. O córrego Limoeiro
ou Guaribas serve de divisa de Minas Gerais e Espírito Santo, no
município de Mucurici. Como a divisa do Espírito Santo com o Es-
tado da Bahia está, em sua maior parte, sobre uma linha reta dentro
da Bacia do Rio Itaúnas, vários afluentes na margem esquerda têm
sua cabeceira naquele Estado, como o córrego do Zinco, Ribeirão
do Engano e outros, segundo o Grupo de Estudos e Ações em Re-
cursos Hídricos da UFES (GEARH-UFES). (13)
A figura 1 apresenta o mapa de localização da Bacia do
Rio Itaúnas, com os seus municípios correspondentes.
FIGURA 1 - Mapa da bacia rio Itaúnas.
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Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas
Sedes Municipais
BOA ESPERANÇA
PONTO BELO
MUCURICI
MONTANHA
PINHEIROS
Rio do Sul
Rio do Sul
Córrego Montanha
Córrego Itaúnas
Córrego Montanha
Rio Itaúnas
Rio Itaúnas
Rio It
aúna
s
PEDROCANÁRIO
CONCEIÇÃODA BARRA
SÃO MATEUS
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Silva, M. R. da
silva, m. r. da
Em toda a Bacia do Itaúnas, a vegetação nativa foi
substituída por pastagem para criação de gado e cultivo de café,
e com a extração da madeira para movelarias, aliados aos despe-
jos de resíduos e aos sedimentos, deu-se início a um acelerado
processo de degradação dos seus recursos hídricos, por conta-
minação e assoreamento, inclusive com perda de nascentes.
Atualmente, essa degradação está intensificando-se por causa da
acelerada atividade de exploração de rochas ornamentais e do
uso indiscriminado de herbicidas, (para eliminar a pastagem de
brachiaria), e inseticidas no preparo do solo para o plantio de
cana-de-açúcar nos municípios envolvidos neste trabalho.
A área de estudo para este artigo compreende os municí-
pios de Montanha, Mucurici e Ponto Belo na Microrregião Extremo
Norte, banhados pelo Rio Itaúnas, Córrego Montanha, Córrego do
Dezoito e Rio do Sul, e os respectivos afluentes. Apresenta um rele-
vo plano a ondulado, com predominância marcante da classe de so-
los do grupo dos Latossolos (Amarelos-Vermelhos-Escuro-Roxo),
de grande ocorrência nessa bacia hidrográfica. São solos de textura
média a fina (argilosa), com alta microporosidade, conseqüente-
mente, baixa permeabilidade. (16)
A malha rodoviária de acesso a esses municípios é a
ES-130, que faz ligação do Estado do Espírito Santo, através
desses municípios do Extremo Norte, ao Estado de Minas Ge-
rais, pela cidade de Nanuque. A seguir, são caracterizados cada
município em estudo sobre os aspectos geográficos, socioeconô-
micos, de infra-estrutura urbana e da população.
4.1 MONTANHA
4.1.1 Características geográficas
O município, de acordo com a divisão regional do Es-
pírito Santo em macrorregiões de planejamento e microrregiões
administrativas de gestão, situa-se na Região Norte do Estado,
microrregião Extremo Norte.
Geograficamente, o distrito sede do município encon-
tra-se localizado na latitude 18º07`33”S; longitude de 40º21`46”
WGr, com altitude de 180m, possuindo uma área territorial de
1.103,66 Km2 e distante 334 Km da capital. (17)
O município faz divisa ao norte com o Estado de Minas
Gerais; ao sul, com o município de Pinheiros, banhado pelo Rio do
Sul; a oeste/sudoeste com Mucurici e Ponto Belo, banhados pelo
Rio Itaúnas e pelo córrego Montanha, respectivamente; a nordeste/
sudeste com Pedro Canário. A sede fica a 18 km de Mucurici e a
22,6 km de Ponto Belo, pela ES130, conforme figura 2.
FIGURA 2 - Localização geográfica do município de Montanha. Fonte: FAPUR (2001) (14).
O solo do município, bem como dos municípios vizi-
nhos, é de predominância da Classe dos Latossolos Amarelos e
Argissolo Amarelo, de textura média a fina, de relevo suave a
ondulado.
4.1.2 Característica populacional
O município apresentou um decréscimo populacional
de 5,98% no período de 1991-2001, passando de 18.133 ha-
bitantes em 1991 para 17.049 em 2001, dos quais 74,91% se
encontram na zona urbana e o restante 25,09% na zona rural.
O município possui um distrito: Vinhático, com uma população
de 1.500 habitantes. Apresenta uma densidade demográfica de
17,10 hab./Km2. (18)
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio
do município é 0,706; o PIB é R$ 205.452.328,00 e o PIB per
capita é R$ 4.047,87. (19)
A população urbana, de aproximadamente 13.000
habitantes, gera diariamente cerca de 9.000 quilos de resíduos
sólidos, o que corresponde a 0,69 kg/hab.dia de geração per
capita. Todos esses resíduos, domésticos, públicos, comer-
ciais e os Resíduos do Sistema de Saúde (RSS) são coletados
em todos os pontos da cidade, favorecida pelo relevo plano e
silva, m. r. da
7Revista Capixaba de Ciência e Tecnologia, Vitória, n. 3, p.1-11, 2. sem.2007
Modelo de gestão participativa, integrada...
ruas pavimentadas. São dispostos, sem nenhum tratamento, há
mais de 30 anos, ao ar livre, (em lixão), à margem esquerda da
Rodovia ES 130, no Km 2, no sentido de Montanha-Mucurici,
no ES, e Nanuque, MG, em uma área de latossolo amarelo, de
topografia plana, considerada como área de recarga de aqüí-
fero subterrâneo de uma nascente de contribuição do Córrego
Montanha, localizada a 100 metros desse local, que deságua
a montante do ponto de captação de água de abastecimento
da cidade.
Os Resíduos do Sistema de Saúde (RSS) são dispos-
tos em valas abertas com retro escavadeira, no meio do lixão,
onde um funcionário adiciona gasolina para facilitar a queima
desses resíduos.
Nesse ambiente, possivelmente com o solo e os lençóis
subterrâneos e superficiais já contaminados por metais pesados,
como os já citados, e por microorganismos patogênicos, oriundos
da decomposição química e biológica dos resíduos sólidos aí de-
positados, nota-se a presença de catadores, de urubus, de animais
domésticos e, no final do dia, faz-se a queima dos materiais “inser-
víveis”, contribuindo com a poluição atmosférica, com a emissão
de dioxinas e furanos e outros compostos a ela relacionados que,
segundo Gripp, (20) são os compostos mais tóxicos já analisados
pela Environmental Protection Agency dos Estados Unidos (EPA),
resultantes da incineração de resíduos sólidos urbanos.
As dioxinas e furanos deixaram aos cidadãos dos paí-
ses industrializados uma herança de níveis inaceitavelmente al-
tos nos alimentos, nos tecidos, em bebês e na vida silvestre, os
quais são comprovadamente cancerígenos. (21)
A queima do lixão também dificulta o trânsito de au-
tomóveis pela rodovia, com a falta de visibilidade mediante a
grande emissão de fumaça formado nesse local, principalmente
à noite, onde já ocorreram alguns acidentes.
As sacolas plásticas de supermercado, presentes no
lixo, são espalhadas pelo vento para as propriedades rurais limí-
trofes ao lixão, onde há criação de gado de produção de leite e de
corte. Próximo ao lixão público, existe uma usina de triagem e
de compostagem, construída há mais de três anos, que ainda não
foi utilizada para a sua finalidade.
O Clima da região é caracterizado como tropical úmi-
do, característica do clima dos demais municípios vizinhos. A
região apresenta uma baixa disponibilidade hídrica e secas perió-
dicas, causando sérios prejuízos socioeconômicos para a região,
incluindo graves perdas agropecuárias. Em face disso, o governo
federal incluiu a região na área da Superintendência de Desen-
volvimento do Nordeste (SUDENE).
O café é a principal atividade agropecuária; a cana-de-
açúcar ocupa uma área de 1500 ha; o mamão ocupa uma área de 680
ha, e a manga com 120 ha de área plantada. A produção de origem
animal basicamente é a produção de leite, a exploração de aves para
produção de ovos e a exploração de mel de abelhas. (22)
4.2 MUCURICI
4.2.1 Características geográficas
O município de Mucurici está localizado, também, na Mi-
crorregião do Extremo Norte do Espírito Santo, ocupando uma área
de 537,711 km2, com altitude de 250 metros, latitude de 18º05`35”S
e longitude de 40oº31`04”W.Gr. População estimada em 2006 é
5.955 habitantes. Limites geográficos ao norte - Estado de Minas
gerais; ao sul, Ponto Belo e a leste, Montanha; a oeste, Ecoporan-
ga. O clima é idêntico ao de Montanha. (22)
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mé-
dio é 0,679; o PIB é R$ 22.156.778,00 e o PIB per capita é
R$ 3.634,05. Densidade demográfica de 11,20 hab./km2; Taxa
de urbanização de 61,40%. A receita total do município é R$
4.004.900,00 e a porcentagem de participação do PIB municipal
em relação ao estadual é 0,14. O município possui dois distritos:
Itabaiana e Água Boa. (19)
O café é a principal atividade no setor, sendo 52% da ren-
da no setor; a mandioca com 27% e o mamão com 9%. A produção
de origem animal é basicamente a exploração de gado de leite. (22)
O solo predominante no município é o mesmo de Mon-
tanha (Latossolo amarelo de textura média a fina).
A geração de resíduos sólidos domésticos, públicos e
comerciais, estimada pelas características dos resíduos de Mon-
tanha, está em torno de 4.200 quilos/dia, coletados em todos os
pontos da cidade, com os Resíduos do Sistema de Saúde (RSS)
e os resíduos industriais, são dispostos, sem nenhum tratamento
em um lixão, localizado próximo à Rodovia ES-130, km 2, que
liga a cidade a Ponto Belo, em uma zona de recarga de aqüífero
do Córrego Itaúnas. A cidade de Mucurici fica localizada a 4,6
km de Ponto Belo, pela ES-130.
No córrego Itaúnas, afluente do rio de mesmo nome,
que nasce no município de Ponto Belo e banha a cidade de Mu-
curici, foi construída uma barragem com 100 metros de largura,
12 metros de profundidade e 1000 metros de espelho dágua, às
margens da cidade, para abastecimento público, regularização de
vazão, autodepuração e recreação; porém, pela falta de coleta e
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silva, m. r. da
tratamento de esgotos domésticos, agrícolas, industriais e do siste-
ma de saúde, que são despejados nos corpos d’água em todos esses
municípios, as águas desse córrego e de outros afluentes da Bacia do
Itaúnas já apresentam sinais de poluição pelos despejos e de grandes
perdas por evaporação, por causa do baixo índice pluviométrico e
do alto índice de insolação na maioria dos meses do ano.
4.3. PONTO BELO
4.3.1. Características geográficas
O município de Ponto Belo está localizado na Microrre-
gião do Extremo Norte do Espírito Santo, ocupando uma área de
356,156 km2, com altitude de 270 metros, latitude de 18º07`22”S
e longitude 40º32`24”W.Gr. População total de 6.474 habitantes,
com 5.078 habitantes vivendo no meio urbano e 1.396 habitantes
vivendo na zona rural.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mé-
dio é 0,696; o PIB é R$ 20.533.080,00 e o PIB per capita é R$
3.208,80. Densidade demográfica de 18,30 hab./km2; Taxa de
urbanização de 77,71%. A participação do PIB municipal em
relação ao estadual é 0,11. (18)
O total de lixo coletado pelo Serviço de Limpeza Pú-
blica é todo destinado para o lixão, localizado às margens da
rodovia Ponto Belo-Itamira, em uma zona de recarga do aqüífero
do Córrego Montanha, a 300 metros a montante da barragem de
abastecimento público, recreativa e regularização de vazão desse
córrego, que passa e abastece a cidade de Montanha, para onde,
também, são destinados os Resíduos do Sistema de Saúde e os
resíduos industriais.
A região urbana é plana na sua totalidade, o que facilita
a coleta de resíduos em todos os setores da cidade.
O município possui dois distritos: Itamira e Estrela do
Norte. Banham a cidade o córrego do Itaúnas, onde há uma represa
de captação de água de abastecimento público, e o córrego Monta-
nha. No município e na cidade, não há usina de triagem nem dispõe
de sistema de coleta e tratamento de águas residuárias.
5 METODOLOGIA
Os municípios de Mucurici, Montanha e Ponto Belo pos-
suem aproximadamente 29.500 habitantes, produzindo cerca de 21
toneladas de resíduos sólidos diariamente, de natureza domiciliar,
públicos, comerciais, industriais e do sistema de saúde, destinados
inadequadamente, em lixões ou lançados nos corpos d’água.
As áreas usadas em cada um dos três municípios para
disposição dos seus resíduos gerados estão localizadas às margens
da Estrada Estadual (ES-130), em faixa de domínio de rodovias e
em área de preservação permanente, nos termos da Lei no 4.771/65
do Código Florestal, nos artigos 2º e 3º dessa lei, que trata de áreas
cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica,
a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas. E essas áreas estão
em topo de elevação, em zona de recarga de aqüífero com descarga
em nascentes de contribuição de seus córregos.(23)
Esses municípios apresentam características comuns em
todos os aspectos: têm o mesmo clima, o mesmo tipo de solo, a
mesma topografia, basicamente o mesmo desenvolvimento econô-
mico (centrado na agropecuária); as mesmas deficiências hídricas e
os mesmos problemas ambientais e de saúde pública.
E são limítrofes entre si e com suas sedes próximas
(com distância máxima de 22,60km: de Montanha-Ponto Belo,
via Mucurici), o que pode facilitar na gestão compartilhada de
seus resíduos sólidos.
A elaboração de um Plano de Gestão de Resíduos
Sólidos para esses municípios fundamenta-se nas diretrizes
recomendadas pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente, Mi-
nistério do Meio Ambiente (FNMA/MMA) (24) e na meto-
dologia de gestão descentralizada, integrada, participativa e
compartilhada, na qual a sociedade civil organizada e os di-
versos setores envolvidos na questão, participam ativamente
de todas as etapas do processo, conscientes das várias ativida-
des que compõem o sistema, dos custos requeridos para sua
realização e do seu papel de gerador de lixo.
Esse sistema visa à redução da geração do lixo, à
manutenção de logradouros públicos, no acondicionamento e
disposição para a coleta adequados.
Como resultado final, em operações dos serviços
menos onerosas, integração do governo municipal com todas
as secretarias da administração direta, participação da socie-
dade civil organizada, como os Fóruns de Usuários da Água e
do Desenvolvimento da Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas; na
busca de parcerias com instituições federal, estaduais e mu-
nicipais; com órgãos não-governamentais e com a iniciativa
privada, visando a equacionar os aspectos técnicos; na iden-
tificação de lideranças comunitárias e no desenvolvimento de
silva, m. r. da
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Modelo de gestão participativa, integrada...
atividades conjuntas para apoiarem e reforçarem os mecanis-
mos para execução da coleta seletiva, pautadas nos princípios
básicos da sustentabilidade ambiental, econômica, social,
cultural e política de cada município; dar apoios técnicos e
operacionais para realização eficiente de coleta seletiva.
A gestão dos resíduos sólidos pode ser feita indi-
vidualmente em cada município, com a integração de seus
setores municipais e a participação da comunidade, compar-
tilhando, apenas na destinação final, com aterro sanitário dos
rejeitos, sugerindo uma área comum a todos eles, ou seja, que
faça divisa com os três municípios e obedeça aos critérios
técnicos para escolha de área para aterro sanitário, conforme
mostra a figura 3.
forma de disposição final dos resíduos sólidos urbanos nos três
municípios, observando os seus impactos ambientais decorrentes
dessa disposição.
2ª Etapa: Realização de estudos e no desenvolvimento
das atividades necessárias para Elaboração do Plano de Gestão,
tendo como diretrizes o compartilhamento das atividades entre
os municípios, visando à maior eficiência e eficácia do sistema.
Fazer o perfil da geração de resíduos sólidos e a sua
caracterização física para avaliar quantitativamente o poder re-
ciclável deles, visando à elaboração participativa do plano de
re-socialização de catadores e geração de renda a começar da
reciclagem de resíduos e do Plano de Recuperação/desativação
de lixões e sua destinação futura.
Avaliar as ações desenvolvidas pela comunidade no
sentido de não-geração, minimização, reutilização, redução e
reciclagem de seus resíduos e a importância econômica, social
e ambiental conseguida.
Estender as ações para as comunidades e proprieda-
des rurais com orientação na destinação correta de seus resíduos
domésticos e agropecuários, como: na produção de compostos
orgânicos e construção de biodigestor com aproveitamento do
biogás, pautadas nos princípios básicos da sustentabilidade am-
biental, econômica, social e política.
Para que essas etapas sejam possíveis, é necessário dar
apoio técnico e operacional para a realização eficiente de coleta
seletiva.
Orientar e incentivar a utilização do composto orgâ-
nico (produzido na usina de compostagem) na agricultura, em
canteiros de praças e jardins, na produção de mudas para reflo-
restamento de mata ciliar e topo de morro para proteção de cor-
pos d’água e de nascentes.
Incentivar a implantação de hortas comunitárias apro-
veitando os espaços ociosos nos quintais das residências (em sua
maioria com casas baixas), utilizando o composto orgânico pro-
duzido nesses mesmos locais para produzir alimentos destinados
às pessoas carentes e, com isso, reduzir a quantidade, facilitar
a coleta de resíduos sólidos pelo Serviço de Limpeza Pública,
aumentar a vida útil do aterro sanitário e gerar renda para as
pessoas que ora se sentem excluídas.
6 RESULTADOS ESPERADOS
Por meio da implantação das etapas deste trabalho,
será possível diminuir os problemas causados pelo descarte de
resíduos sólidos em locais inadequados e de maneira insegura,
FIGURA 3 - Mapa de localização de área sugerida para aterro sanitário compartilhado entre os 3 municípios.
Para atingir o objetivo de propor um Modelo de Ges-
tão dos Resíduos Sólidos Urbanos para os municípios citados,
este trabalho será conduzido em duas etapas distintas, conforme
descritas abaixo:
1ª Etapa: Consolidação do Diagnóstico Regional, vi-
sando a legitimar, com a sociedade, as informações necessárias
para a análise da situação dos problemas de limpeza pública e
para elaboração de uma pré-proposta do Plano de Gestão Partici-
pativa, Integrada e Compartilhada de Resíduos Sólidos Urbanos
dos Municípios em questão, com envolvimento efetivo da po-
pulação representada em Fórum, nas atividades a serem desen-
volvidas em todas as etapas do processo, baseando-se em dados
já conhecidos. Avaliar, por meio de visitas técnicas in loco, a
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ÁREA SUGERIDA
MONTANHA
MUCURICI
PONTO BELO
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Silva, M. R. da
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que comprometem as condições ambientais da bacia hidrográ-
fica e da saúde pública e, com isso, possibilitar a recuperação,
proteção e manutenção dos seus recursos naturais, garantindo a
melhoria da qualidade de vida da população e a sustentabilidade
da região. Promover integração entre todos os outros municípios
que compõem a Bacia do Itaúnas e servir de modelo para ser
aplicado em outras bacias.
À base de um Programa de Gerenciamento Integrado, Par-
ticipativo e Compartilhado, articulado pelas parcerias entre os centros
comunitários regionais, as Secretarias Municipais de Agricultura e
Meio Ambiente, de Educação e Cultura, os Departamentos de Águas
e Esgotos e Habitação, enfim, com órgãos governamentais e não-go-
vernamentais, criar e pôr em prática modelos para execução de todas as
etapas da proposta sugerida. Reforçar as atividades de uma reciclagem
bem planejada, discutida e organizada, dando especial atenção à edu-
cação ambiental, pautados nos princípios de um investimento no meio
ambiente e na qualidade de vida da população, para reduzir, ao máxi-
mo, a quantidade de rejeitos e, com isso, utilizar o mínimo de resíduos
para a destinação final, conseqüentemente, menor utilização de área e
maior vida útil dos aterros sanitários.
7 CONCLUSÕES
De acordo com as características fisiográficas, socio-
econômicas, ambientais e populacionais comuns aos três muni-
cípios, a gestão de resíduos sólidos urbanos municipais dessa
bacia, com a participação da sociedade civil organizada e da
população de uma maneira geral, da integração entre os vários
setores da administração pública e no compartilhamento de ges-
tão entre si, principalmente na destinação final, possibilitará a
busca de soluções de fundamental importância para a solução
dos seus problemas, conseqüentemente, a melhoria da qualidade
de vida, por meio da recuperação e da manutenção dos seus re-
cursos naturais. Dessa maneira, procura-se encontrar uma forma
auto-sustentável de modelo de gestão, que preserve ao máximo
os recursos naturais e o meio ambiental e, simultaneamente, per-
mita o desenvolvimento econômico e melhor qualidade de vida
da sociedade presente e de gerações futuras.
O modelo de um sistema organizacional de coleta
diferenciada, o tratamento e a destinação final ambientalmen-
te adequado indicam uma contribuição, direta e indiretamen-
te, voltada para a proteção ambiental e social, oferecidas à
população pela adoção dos princípios da coleta seletiva, en-
focando a necessidade de reduzir, reutilizar e reciclar o lixo,
ressaltar a re-socialização de catadores, reduzir a utilização e
o aumento da vida útil do aterro sanitário, a redução da extra-
ção de recursos naturais, a economia de energia, a diminuição
da poluição, a fabricação de novos produtos a começar do
aproveitamento de materiais já utilizados, da diminuição do
efeito estufa e do aquecimento global, a revitalização dos cur-
sos d’água com mata ciliar de proteção e reflorestamento de
topo de morros onde há recarga de aqüíferos.
Como os três municípios têm características econômi-
co-geográficas e de gestão parecidas e população total pequena,
(29.500 habitantes), o resultado que se espera deste trabalho é,
em primeiro lugar, a desativação/recuperação dos lixões, a ativa-
ção da usina de triagem/compostagem de Montanha e construção
da usina de Ponto Belo e Mucurici); a coleta seletiva e compos-
tagem do material orgânico; a indicação de área para aterros (só
rejeitos), que seja comum aos três municípios, obedecendo aos
critérios técnicos adotados para a escolha de área para essa fina-
lidade; criação de mecanismos legais, como o Código de Lim-
peza Pública para dar suporte jurídico às atividades implantadas
em cada etapa do projeto, sem haver descontinuidade político-
administrativa.
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