revista x-cultura

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Revista produzida por um grupo da turma do 3º ano do curso de Jornalismo da UNISANTA, em Santos-SP.Essa é uma edição única, pois é uma revista laboratorial.

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  • Caro leitor

    Diretor da FaAC Humberto Iafullo CHalloub

    Coordenador de Jornalismorobson bastos

    Professores ResponsveisTextos Helder marques CoelHo raquel alves

    Diagramao fernando ClaudIo Peel

    fotografia luIz C. t. nasCImento

    EditorWagner tavares

    ReprteresCarolIna YasudaJssICa alvesmatHeus Jos marIavInICIus KePeYonnY furuKaWaWagner tavares

    FotosCarolIna YasudatHIago CostaYonnY furuKaWaWagner tavares

    Diagramao e artesWagner tavaresCarolIna Yasuda

    A Revista X Cultura trabalho curricular da disciplina Laboratrio de Texto III do 3 ano do curso de Jornalismo da Unisanta

    EXPEDIENTE

    Esta a primeira edio da XCultura, uma revista que nas-ceu depois de muita conversa, muita anlise e, principalmen-te, muito querer.

    Ns que fazemos a revista, es-tamos criando algo que tem como pblico-alvo pessoas como ns mesmos. Pautas, textos, fotos, estilos, fazemos tudo desse jeito porque gostamos assim. E acha-mos que esta a melhor maneira de estabelecer um vnculo com voc, leitor, que vai acreditar e apreciar o que est vendo e lendo.

    Para lanar esta nova publica-o, estampamos, logo na capa, a imagem de uma banda santista em que estamos botando a maior f, a Music Box. Comeou fazendo co-vers e hoje j est divulgando quatro msicas prprias e dois vdeo-clipes gravados, alm de ser a nica da Bai-xada Santista fazendo shows regu-lares em So Paulo. Mais do que ler a matria, entenda, procurando as msicas que esto disponibilizadas na internet gratuitamente.

    O u t r o destaque da edio o gui-tarrista Mauro Hector. Nesse, a gente no est botando f, j acredi-tamos. Com

    quatro CDs lanados e alguns vdeos gravados em Los Angeles, nos Estados Unidos, o msico est na estrada h 30 anos. Ele nos conta do incio na guitarra

    e do apoio de Dona Rosita, me dele, que no se incomoda com o barulho e com os cabeludos na casa dela.

    E na hora de gravar, qual e s t d i o escolher? A q u e l e que fica p e r t o para fa-cilitar a logstica? Mas se a sua necessi-dade a criao de trilhas so-noras para comerciais e filmes, talvez a gravadora melhor es-teja a milhares de quilmetros de distncia.

    As Oficinas Quer continu-am revelando talentos. 20 adolescentes ajudaram a

    produzir e gravar o curta Tempo Morfina, com locaes em Santos, em pouco mais de 48 horas.

    Em nossa matria de perfil, conhea Isa-bel Ortega, uma ex-atriz de teatro que agora virou cartola da arte e, para isso, tem que atuar mais do que nunca.

    E para finalizar esta primeira edio, o lanamento de um li-

    vro escrito por trs senhori-nhas simp-ticas, permi-tindo a quem o l, receber histrias do passado com

    muita poesia e at ilustraes feitas por elas.

    Esperamos que desfrutem do que vo ver na mesma proporo que adoramos produzir estes tex-tos. Boa leitura!

    Music Box, pg. 12

    FAZEMOS PORQUE ACREDITAMOS

    Hector pg. 16

    Isabel,pg. 20

    Estdios, pg. 6

    Quer, pg. 10

    Livro, pg. 22

  • ndice12MUSIC BOX, a banda da Baixada Santista

    que est fazendo sucesso aqui e promete muito na capital

    16MAURO HECTOR, o guitarrista que tem a sorte de ter apoio (e o apartamento)da me at hoje para fazer muito barulho

    ARTISTA

    10OFICINAS QUER e seus alunos produzem mais um filme em Santos

    AUDIO-VISUAL

    4 X CULTURA | NOVEMBRO 2014

    NOVEMBRO DE 2014 | ANO 1, NMERO 1

    CAPA

  • 06

    20 De ATRIZ a CARTOLA das

    artes cnicas. A trajetria de

    Isabel Ortega

    PERFIL

    22 Trs senhoras se juntam para escrever histrias,

    poesias e desenhar. Dessa amizade veio

    um livro

    LEITURA

    a marca do seu entretenimento

    NOVEMBRO 2014 | X CULTURA 5

    ESTDIOS de gravao podem

    estar perto de voc ou muito distantes. Com

    a internet, isso no importa

    TCNICA

  • Cheguei ao endereo marcado, um lugar rodeado de comrcios na aveni-da Siqueira Campos, mais conhecida como Canal 4, na cidade de Santos, litoral de So Paulo. Constatei que o nmero era aquele mesmo, mas no havia placa identificando o estabele-cimento que eu queria encontrar. Era o lugar certo? Aproximei-me da porta de entrada, bem antiga, de cor bege, descasca-da e estreita, com uma abertura pequena na altura do rosto, grade e janelinha de vi-dro com desenhos em relevo. Isso um estdio?, pensei.

    Toquei a campainha, daquelas pa-dro cigarra, nada agradvel. En-quanto aguardava, olhei pela abertura, com a parte inferior do vidro quebra-da, e veio a confirmao de que havia acertado o endereo. Um som de rock abafado e de estilo bem pesado descia por aquela escadaria comprida.

    O prprio administrador do local apa-receu, Nando Bassetto, dono do Estdio Play Rec, que nem precisou descer, pois no topo da escada havia um interruptor. Quando o acionou... T-T. Essa infan-til onomatopeia escrita no evidencia o susto que levei. Parecia o duplo disparo de uma arma de fogo.

    Na subida, mais bege. Tudo bege! Quando se chega, ofegante, na parte de

    cima, a certeza de se estar em um estdio de gravao completa.

    Tapando um pouco desse mar de

    bege infinito, fotos de dolos do rock, pratos de bateria, discos de vinil e um extintor. O ltimo item estava estranho ali, to a mo, at atrapalhando a passa-gem, mas entendi logo quando Basseto me convidou para dar uma olhada geral. Havia muito revestimento acstico, co-nhecido pela marca, Sonex. So feitos de espuma e, por isso, tal cuidado. aplicado em algumas salas, mas, estra-nhamente, no no principal estdio de gravao. Ali, era acabamento em madeira em trs das paredes e um inu-sitado muro de pedras cobria a ltima parede. Segundo meu anfitrio, a grava-o precisa de uma certa reverberao, um eco, na medida certa, para adquirir qualidade, e esse tipo de arquitetura proporciona isso.

    O estabelecimento j existia desde 1996. Bassetto, guitarrista que passou por vrias bandas, inclusive pela primei-ra formao do Charlie Brown Jr., e hoje est na banda de hard rock Garage Fuzz, comeou a prestar mais ateno nos de-talhes de produo enquanto alugava o local para gravao das msicas de sua banda de estreia, o Mr. Green, formada em 1989, e que fazia a linha hard rock instrumental. Em toda sesso, ele ficava de olho nas dedilhadas do antigo dono, Alexandre Siaglia, na centena de botes

    MAS ONDE?Estdios dE gravao dE som podEm sE difErEnciar Em prEo, localizao, qualidadE tcnica, conforto, disponibilidadE. todos tm itEns distintos, mas alguns podEm Existir fisicamEntE E outros nEm tanto

    Por Wagner Tavares Fotos: WAGNER TAvARES

    Tcnica

    6 X CULTURA | NOVEMBRO 2014

  • da mesa de som e no manuseio do mou-se para operar os softwares de udio, como o aclamado Pro Tools. Bassetto interessou-se tanto pela parte tcnica que comeou a trazer outras bandas a partir de 2005 para ele mesmo fazer a produo. Nessa poca, o estdio ga-nhou um prmio Grammy com o Char-lie Brown Jr. na categoria Melhor lbum

    de Rock Bra-sileiro, pelo t r a b a l h o Tamo A na A t i v i d a d e . Em 2008, as-sumiu de vez o comando dos equipa-mentos, pois Siaglia se-guiu para ou-tra carreira, advocacia!

    A Play Rec tem qua-tro salas. A principal, a de gravao, anexada

    sala de comando, onde ficam os equipa-mentos de captura e de processamento

    de udio. nessa sala que Bassetto assume o papel de grande coman-dante. Dali, ele dirige os msicos

    falando em um microfone e tambm fazendo gestos bem exaltados atravs do vidro que liga os dois cmodos. H mais duas salas de ensaio, onde so ministradas aulas de instrumentos, principalmente guitarra. Ainda bem que existe isolante acstico na sala do general. A entrevista foi feita l, pois h barulho em todas as outras salas. E por um bom perodo do dia, tudo acon-tece ao mesmo tempo.

    No meio das perguntas, o mestre de todo aquele equipamento ia me falan-do curiosidades de uma rea que desco-nheo. Apesar de o computador possuir todas as ferramentas necessrias para captura, edio, processamento e finali-zao do udio, nos aparelhos antigos, os analgicos, que esto a qualidade, o peso do som. Ali, naquele lugar, a mesa com vrios canais e o PC so os prin-cipais, mas h muitos equipamentos espalhados, com aquela cara de antigo que, segundo ele, ainda so essenciais para a boa gravao.

    E gravao de qu? Estranho, mas fiz essa pergunta. Sempre de som, lgico, mas com muitas vertentes. Sempre h a tradicional gravao de CDs e EPs (um CD com menos faixas, no considerado como um lbum), alm de msicos que que-rem mandar seu trabalho, instrumental ou vocal, para um concurso; o cantor ou instrumentista que apenas quer eterni-

    zar o talen-to prprio em boa qualidade; p r o d u o de trilhas sonoras de filmes, v-

    deos e

    Tv; jingles comerciais e de campanhas polticas; o grupo de rodinha de samba, por exemplo, que quer ter essa experin-cia, mesmo sem a pretenso de se tornar profissional da msica.

    Logicamente que todo trabalho tem um preo, e Basseto abriu o jogo com os valores. So R$ 75 por hora. O estdio tem a alternativa do pacote, que sai por R$ 650 cada msica gravada e finalizada.

    Apesar do estdio tradicional, per-guntei se a internet entra em algum momento do processo. Resposta afir-mativa. Principalmente nos testes, quando ele precisa enviar uma demo para algum aprovar. Mas diz que at quando tem de mandar o produto final, com total qualidade, para uma empresa de remasterizao, no h impedimen-to. Com as velocidades que a rede tem hoje, tudo pode ser feito.

    Nando Basseto, proprietrio e comandante da Play Rec

    Basseto pilotando o equipamento central do estdio de gravao

    NOVEMBRO 2014 | X CULTURA 7

  • Fui atrs de outro estdio, um que j conhecia, o de Flvio Medeiros. Pas-sei em frente onde ficava o imvel, tambm em Santos, no canal 2.

    Decepo! Atualmente, no local, h uma escola infantil e de ensino funda-mental. Como nunca marquei o telefo-ne de Flvio, comecei a procur-lo na internet. Achei o site oficial dele, www.flaviomedeiros.com.br, mas notei um detalhe. Havia um telefone de contato com cdigos dos Estados Unidos. Fui para o batido, mas salvador, Facebook. Ali, em uma breve procura, encontrei o perfil dele. Sem hesitar, enviei uma mensagem pedindo uma entrevista e onde eu poderia encontr-lo. A res-posta confirmou o nmero de telefo-ne disponvel em seu site. O produtor musical e engenheiro de som est tra-balhando em Los Angeles h trs anos. Aqui ns ps-produzimos e mixamos os trailers oficiais que o mundo todo v nas salas de cinema. Nossos clientes so Universal Studios, Disney, MGM,

    Legendary, 20th Cen-tury Fox, DreamWorks, Warner, Pixar, Miramax, Lions Gate e outros.

    Em 2012, Flvio se formou pela The Los An-geles Recording School. Associate of Science in Recording Arts, nos Es-tados Unidos. Aps o curso, fui recomendado e contratado por uma em-presa de ps-produo de udio para o mercado de cinema, chamada Benchmark Sound Services, que atua dentro da NBC Uni-versal Studios, em Hollywood, Califr-nia. Hoje, atuo nesta empresa como compositor, produtor musical e enge-nheiro de udio.

    Mas Flvio tem uma longa histria antes dessa mudana para outro pas. Durante mais de 25 anos, foi autodi-data, investiu e trabalhou profissio-nalmente na rea de udio. Msico

    atuante desde 1986, realizava grava-es caseiras em um pequeno quarto no prprio apartamento, onde atendia alguns clientes e bandas. Foi contrata-do pela Rdio Cultura, de Santos, em 1990. Atuou na emissora por um ano como compositor e produtor musical. Quando saiu da rdio, montou seu pri-meiro negcio, os Estdios Flvio Me-deiros, nome que usa at hoje na sua empresa. Era em um imvel alugado na Rua Euclides da Cunha. Eram ape-nas duas salas de 4 por 6 metros. Por cinco anos, realizou vrios trabalhos nesse primeiro local.

    Em 1995, montou o segundo est-dio, em uma edcula de um imvel pr-prio, o mesmo onde hoje uma escola infantil. Na frente, dois comrcios ad-ministrados pelos pais dele. Na parte de cima, uma loja de aluguel de roupas e embaixo, uma loja de doces e salga-dos. Mesmo nos fundos, Flvio no ficou tmido em seu espao. Em 2008, expandiu a edcula e montou o maior estdio de gravao de udio da cida-de, obedecendo normas tcnicas em uma obra de engenharia extremamen-te complexa, segundo ele. Eram dois

    Tem estdio que no est mais em um lugar fsico, virou virtual

    Flvio em estdio da Los Angeles Recording School, locado por ele, para realizar um trabalho de mixagem de uma faixa de samba

    Flvio, ao centro, mixando a trilha sonora que fez para um curta-metragem - L.A. Film Dub Stage- Campus Hollywood

    Tcnica Fotos: ARQuivO pESSOAL

    8 X CULTURA | NOVEMBRO 2014

  • estdios bem maiores, uma sala tc-nica e uma cabine de gravao de voz.

    E a variao de servios executados ali tambm era grande. vrios lbuns em CD para o Brasil e exterior, muitos jingles comerciais e de campanha elei-toral, projetos especiais para grandes empresas, musicais teatrais, trilhas sonoras e ps-produo de udio para documentrios e audiovisuais diver-sos. At otimizao de udio para in-vestigaes e dublagem e voice-over em conferncias internacionais. En-fim, sempre h trabalho a fazer.

    Tambm lista alguns nomes co-nhecidos que fizeram trabalhos com ele: os msicos Cludio Zoli, Tomati (do Sexteto Onze e Meia) e Jos Simo-nian. Artistas do vdeo tambm, como Marcelo Tas, Selton Mello, Francisco Cuoco, Carlos Casagrande, Humberto Martins, Marcos Pasquim, Monique Alfradique e Oscar Magrini.

    E h mais um nome, que ficou bem em evidncia durante as eleies pre-sidenciais, Marina Silva. A equipe de campanha da ex-candidata contratou Flvio, mesmo ele estando em um pas distante. J tenho um histrico de mais de dez anos trabalhando em campanhas polticas. Para esta campa-nha da candidata, fui contratado por um cliente de marketing poltico com quem j trabalhei anterior-mente. Posso dizer que esta conquista fruto de um his-trico positi-vo de traba-lho.

    F l v i o era o res-p o n s v e l pela m-sica e udio dos programas. Recebia os vdeos da produo pela inter-net. Como tem trabalho fixo nos E.U.A, criava as msicas para os audiovisuais durante a noite e depois as enviava para um colaborador. Em Santos, Flvio conta com um engenheiro de som, vi-nicius Suzuki, seu funcionrio desde 2005, que cuida das finalizaes e ps--produo do som. Com tudo pronto, o material era entregue para o pessoal de produo da candidata.

    Mesmo criando, ele prprio, as tri-lhas e msicas, Flvio diz que mudou muito pouca coisa dos tempos em que tinha o maior estdio de Santos. Se necessrio, contrato msicos. Se eu estiver produzindo uma banda, vou at ela, usando o estdio que o cliente pode pagar. Ele me contrata como pro-dutor musical, como msico intrpre-te ou como engenheiro de som, fazen-do uma ou mais do que uma funo.

    Se o trabalho se restringe apenas a criar uma trilha, isto , se Flvio no de-pende de mais ningum para realiz-lo, ele faz no prprio estdio em casa. Mas h outros servios que necessitam de um lugar acusticamente tratado e com equipamento apropriado.

    Mas, em Santos, na Rua So Francis-co, ainda mantm um estdio em fun-cionamento desde 2012, com a ajuda do engenheiro de som vinicius Suzuki, que atende os clien-

    tes locais e faz a manuteno do equi-pamento. Quando h produo, Flvio fica online pelo Skype, um software de computador que permite comunicao com udio e vdeo em tempo real. Flvio e Suzuki trabalham em conjunto com os clientes que querem produo ou algo especifico, mas ainda com a superviso do prprio Flvio. vrios trabalhos fo-ram agilizados dessa forma e o cliente no se sente abandonado por mim. En-fim, funciona!.

    Em outra locao de estdio, na Paramount American Studios, em North Hollywood, Flvio faz a mixagem final do CD da banda santista No Froid, produzido no estdio de Santos, com a presena virtual dele, e depois mixado em casa, nos Estados Unidos

    NOVEMBRO 2014 | X CULTURA 9

  • Acostumados a produzir em ritmo acele-rado, a turma avanada do projeto Oficinas Quer terminou as filmagens de Tempo Morfina, curta-metragem produzido por 20 alunos de audiovisual sob a coordenao do instituto Quer. O filme uma adaptao do roteiro escrito pelo premiado diretor pau-listano de O Pacote (2011), Rafael Aidar, 35 anos, convidado especialmente para orien-tar os estudantes durante a gravao das cenas, todas feitas em Santos.

    O enredo do filme baseado em uma ex-perincia relatada por uma amiga do diretor, que teve seu relacionamento abalado com as sucessivas recadas do marido no vcio das drogas. Porm, no roteiro escrito exclusiva-mente para os alunos, Aidar contou que re-solveu inverter os papis assim que recebeu o convite feito pela produo.

    Eu j tinha toda essa histria na cabe-a, porque ela seria o tema do meu prxi-mo curta-metragem. Fiquei to surpreso e feliz com o convite que sentei e escrevi todo o roteiro em um nico dia. Essa a pri-meira vez que trabalho como orientador de alunos de Audiovisual, confessa Aidar.

    LUZ, CMERA E AO!Aps mais de 48 horas de gravao, foi

    possvel notar a expectativa de toda a equi-pe que participou da produo do filme para dar forma a mais um sonho que esta-va saindo do papel. Com os olhos cheios de lgrimas, a diretora Kamilli Semenov, 16 anos, tambm responsvel pela direo do premiado curta viso Privilegiada (2013), disse que, mesmo com o tempo apertado, todos os objetivos planejados para as gra-vaes do filme foram alcanados.

    Esse foi um trabalho muito importante para mim. Falar sobre drogas e de reaes pessoais que no so suas uma tarefa dif-cil. porm, trabalhar com profissionais como

    o diretor Rafael e os atores vincius e Priscilla facilitou bastante todo esse processo. Todos ns chegamos a um equilbrio.

    igualmente emocionado, Daniel Quei-ja, 17 anos, que divide a direo do filme com Kamilli, comentou que todos tiveram muito trabalho durante os dois dias de fil-magem, mas que todas as ideias se encai-xaram. O esforo, fsico e mental, parece ter sido compensado pela oportunidade de trabalhar ao lado do diretor paulista-no. Foi incrvel. Todos ns estvamos em sintonia na hora de filmar. No tenho mais explicaes para dizer como foi bom traba-lhar neste filme.

    ATORESOs atores escalados para dar vida aos

    personagens j foram premiados por ou-tros trabalhos. Um deles, o ator brasiliense vincius Ferreira, 38 anos, ganhou em 2004 o prmio de Melhor Ator no II Encontro de Teatro Latino-Americano, em Bogot, pela sua atuao no curta-metragem Danae, do diretor Gustavo Galvo (38). Seus ltimos

    trabalhos foram em Uma Dose violenta de Qualquer Coisa e Nove Crnicas para um Corao aos Berros, ambos de 2013.

    Fiquei muito contente e assustado por ter sido escolhido pelos alunos. Eu as-sisti ao filme Quer (2007) quando ainda estava morando em Braslia e fiquei sur-preso, pois no sabia que a produo tinha originado esse excelente projeto. A pouca idade dos alunos no interferiu em nada. Notei que todos estavam bem focados no que estavam fazendo. Me senti seguro.

    J a atriz paulistana Priscilla Maia, 39 anos, que interpreta a dependente qu-mica da histria, venceu em 2002 como Melhor Atriz por seu trabalho em Rasgue Minha Roupa, do diretor Lufe Steffen, du-rante o Festival de Cinema Super 8 de Cam-pinas. Em 2010, Priscila integrou o elenco da produo Belas Adormecidas, de rika Fromm, desempenhando o papel de uma jovem em busca da beleza.

    Trabalhar em Tempo Morfina foi um verdadeiro desafio. Tive pouco tempo para trabalhar a personagem. A concentrao

    Audiovisualalunos dE cinEma das oficinas quEr finalizaram as gravaEs dE tEmpo morfina, Escrito ExclusivamEntE pElo dirEtor rafaEl aidar. pErto dE complEtar dEz anos, o instituto quEr continua a rEvElar jovEns talEntos da baixada santista para o cEnrio cinEmatogrfico

    Por vinicius KePe

    O diretor Rafael Aidar (esq.) orientando os jovens diretores Kamilli e Daniel, durante as gravaes de Tempo Morfina

    Fotos:

    vINICI

    US KE

    PE

    10 X CULTURA | NOVEMBRO 2014

  • e objetividade dos alunos me ajudaram a compreender o que eles queriam. Gosto de desafios. E trabalhar com tanta gente nova, como o vincius e o Rafael, alm dos estudantes, foi uma grande experincia. Me entreguei neste trabalho.

    EQuipE DE FiLMAGEMUma preparao feita para que os

    alunos, adolescentes entre 15 e 18 anos de idade, se acostumem com o mercado de trabalho. Entre outras atividades, eles aprendem a fazer o prprio portflio, assim como sua apresentao, criao de currcu-lo, desenvolvimento de projetos para ins-crio em festivais e editais culturais e, por fim, a produo de um curta-metragem como verdadeiros profissionais de audio-visual disputando o mercado de trabalho.

    Entre os estudantes est Bianca Mu-nhoz, 18 anos, moradora do bairro Cidade Nutica, em So vicente. A aluna tem um tio que sempre teve uma coleo de mquinas fotogrficas antigas, o que explica sua estrei-ta relao com a fotografia. Com o trmino do ensino mdio, Bianca, que admira os trabalhos do cineasta norte-americano Tim Burton, decidiu que est pronta para cursar uma faculdade de Cinema.

    Mesmo eu no sendo uma profissio-nal, as Oficinas Quer abriram a minha ca-bea para que eu pudesse trabalhar como tal. Aprendemos a lidar mais com as nossas prprias ideias e com as outras pessoas. Tudo o que eu sei sobre cinema foi por causa das Oficinas Quer, que deixa de ser uma escola convencional para dar liber-dade e conforto para os alunos extrarem todo conhecimento que puderem.

    PRIMEIRO CAPTULOEm 2005, 1.200 jovens que moravam

    em bairros com populao de baixa renda em Santos foram selecionados para par-ticipar do teste de elenco do filme Quer (2007), que teve boa parte de suas cenas

    gravadas na zona porturia e no centro his-trico pelo cineasta Carlos Cortez. Nessa experincia foram descobertos novos talen-tos para o cinema, o que fez nascer oficial-mente em 2005 o projeto Oficinas Quer, idealizado pela produtora Gullane Filmes, com apoio do Fundo das Naes Unidas para a Infncia (Unicef).

    Em 2008, alunos trabalharam e deci-diram criar a prpria produtora, a Quer Filmes, considerada em 2010 a primeira produtora social do Pas.

    Um dos jovens que participaram do filme, e que logo aps se tornou um dos primeiros alunos, foi Nildo Ferreira. Aos 25 anos, o garoto, que sonhava ser jogador de futebol, acabou se tornando diretor, rotei-rista e professor de roteiro em Santos. Ele contou que foi fisgado pelo cinema e que no se arrependeu nem um pouco de ter abandonado o antigo sonho.

    Entre as experincias que teve enquan-to estudante destacou sua atuao na direo de fotografia de ver ou No ver, curta-metragem que integra o filme Mun-do Invisvel, do aclamado cineasta alemo Wim Wenders. Prestar ateno em tudo e

    em todos, alm de nunca ter medo de per-guntar ou de aprender. Isso foi o que mais aprendi com as Oficias Quer. Sem ela, no teria conseguido nada do que conquistei e venho conquistando, explica Nildo.

    SEM FINALperto de completar dez anos, as Ofi-

    cinas Quer continuam a capacitar com aulas de audiovisual jovens que moram em bairros de vulnerabilidade social da Baixada Santista. Ao longo deste pero-do, foram produzidos 14 filmes, alm de vdeos institucionais e webprogramas. Alguns destes trabalhos foram premia-dos em importantes festivais brasileiros de cinema, como o filme Carregadores do Monte (2013), que recebeu meno hon-rosa no Festival de Cinema de Gramado.

    Desde ento, as aulas e os exerccios prticos, agora desenvolvidos anualmente em parceria com uma universidade de San-tos, continuam com o foco em seus prin-cipais objetivos: estimular novos talentos e formar profissionais competitivos, tudo em prol do fomento do mercado cinema-togrfico regional.

    Os premiados atores Priscilla Maia (esquerda) e Vincius Ferreira (centro) foram escalados para dar vida aos personagens centrais da trama. Na foto direita, cena de bastidores

    Equipe de filmagem formada por 20 alunos das Oficinas Quer gravaram por mais de 48 horas em Santos

    NOVEMBRO 2014 | X CULTURA 11

  • Capa

    12 X CULTURA | NOVEMBRO 2014

  • music box uma banda indEpEndEntE quE busca sucEsso no Estilo rock n roll E Encara as dificuldadEs dE vivEr dE msica com o apoio dE amigos E familiarEs

    NOVEMBRO 2014 | X CULTURA 13

  • Horrios apertados, noites mal dormi-das, busca pela prpria identidade. Essa descrio pode ser a da vida de qualquer um, mas se acrescentar ensaios noturnos que avanam na madrugada e pesquisa rdua por patrocinadores, se torna, de cara, a defi-nio da banda Music Box. Existente h trs anos, o reconhecimento comeou a chegar aps a divulgao do primeiro clipe Nosso Tempo Comeou, que, h cinco meses tem mais de 20 mil visualizaes no Youtube. A coisa est saindo do nosso controle. Outro dia me pararam no shopping e pergunta-ram: Music Box?, conta Carol. E mais que re-conhecimento, j tem muita gente vestindo a camisa do grupo. Eu j vi gente andando na rua com a blusa que tem a nossa marca, diz Andr, surpreso.

    A banda composta por Carol Germa-no (21) no vocal, Percy Castanho (32) na guitarra e no vocal, Bruno Soares (25) na bateria, Andr Ricardo (34) no baixo e Luiz Ramos (30) nos teclados.

    Carol, que cantava em festas de famlia, tambm costumava dar canjas em um bar em Praia Grande, onde conhecia o dono. Nada profissional, mas que chamou a aten-o do Percy, que j havia notado os berros da hora que ela dava. A gente estava na banda de algum, era outra formao. A, eu

    e o Luizinho, decidimos cham-la pra formar uma banda nossa, como se fosse a nossa em-presa, conta o guitarrista. Desde ento, o boca a boca dos amigos e a rede social tm sido aliados da banda em busca do sucesso.

    A Rock Show, empresa que promove a maioria dos eventos musicais em Santos, parceira do grupo e ajuda no valor pago pela banda Lobo Estdio, onde ensaiam duas vezes por semana, das 23 s 2 horas da madrugada. Sem assessoria ou outro tipo de apoio, fica por conta dos integran-tes: alimentao da pgina na rede social, busca por espao em rdios e emissoras de

    televiso, e contatos para os shows. Para realizar o clipe no foi diferente,

    A gente quase pediu uma bolsa clipe pra Dilma ou fez uma passeata. Foi mais difcil que ter um filho, desabafa Carol. Ganha-mos a produo de um clipe em um festi-val de bandas independentes, mas quando a empresa soube que teria que descer a serra para gravar, cobrou 1.500 reais. Os integrantes correram atrs de inmeras gravadoras de pequeno, mdio e grande porte, mas no obtiveram resposta de ne-nhuma quanto a valores e disponibilidade de gravao. Aps um ano de tentativas,

    Capa A INDEPENDNCIA DE UMA CAIXINHA DE MSICA

    CAROL PERCY BRUNO ANDRE LUIZ

    Juntos h trs anos, a banda a unica da Baixada Santista que faz shows regularmente em So Paulo

    Por Jssica alves

    Fotos: ARQuivO pESSOAL DA BANDA / DivuLGAO

    14 X CULTURA | NOVEMBRO 2014

  • o videoclipe da msica Nosso Tempo Co-meou foi lanado em junho e concorreu na categoria videoclipe Caiara no Curta Santos 2014. No ms de setembro, a ban-da lanou o seu segundo clipe, desta vez, da msica Bailinho. Totalmente custeado pelos prprios msicos, o escolhido para dirigir o videoclipe foi o Lucas Romor, res-ponsvel por videoclipes premiados.

    PRIORIDADESA banda prioridade para todos os in-

    tegrantes e uma das principais regras no deixar os problemas pessoais atrapalha-rem os ensaios ou compromissos do grupo. Se voc quer fazer um trabalho profissio-nal, no tem essa de horrio. voc tem que abrir mo do lazer, famlia e, muitas vezes de tudo o que voc gosta de fazer. lgico que a gente tem bom senso, como no caso do Bruno, explica percy.

    O baterista Bruno Soares tem a roti-na mais puxada, acorda diariamente s 6 horas, trabalha e faz faculdade de Direito. Quando tem show em uma regio dis-tante durante a semana, o chefe conse-

    gue liber-lo na metade do dia. uma cor-reria boa, ento a gente vai levando. Mas sempre durmo na van na hora de voltar e o pessoal tenta fazer menos barulho, mas o percy e a Carol no conseguem ficar quie-tos, brinca Bruno.

    Todos tm um trabalho paralelo ban-da. A vocalista Carol d aulas de canto em sua prpria residncia e vende acessrios femininos; Percy Castanho trabalha com o pai, que tambm msico e compositor; Andr Ricardo analista de sistemas; Luiz Ramos ministra aulas de teclado e faz frilas para outras bandas.

    Por ser uma banda sem patrocnio, cada um responsvel pelos seus instrumentos. Isso um investimento pessoal, cada um tem que ter o seu. E, claro, a gente tambm investiu em conjunto para comprar coisas que a banda inteira usa, por exemplo, mesa de som e caixa de som, explica percy.

    E para conseguir uma grana extra, o con-junto vende CDs a 5 reais, camisetas e cane-cas a 30 reais. Sempre que estou no palco e vejo algum interessado, ou perguntando para uma pessoa onde vende a camiseta da banda, peo para um conhecido comear a vender. Fico responsvel por essa parte por-que no tem quem ajude, ento eu conto com o auxlio dos fs, explica Carol.

    SHOW

    A faixa etria dos frequentadores de 30 anos. O local rstico e com pou-

    cos assentos, mas parece no incomodar o pblico. Pouco tempo antes de o show

    comear, o Torto Bar j estava lotado. Num clima totalmente rock n roll, as pessoas se soltavam conforme as msicas tocadas.

    Gosto muito da banda Music Box.

    Eu tenho 45 anos e sempre que posso ve-nho aqui para ouv-los. O show me remete a momentos marcantes da minha vida. As msicas dos anos 70, 80 e 90, como, por exemplo, Queen, Legio urbana, Guns N Roses e Aerosmith ajudaram na minha formao. muito difcil encontrar jovens que gostem de rock e que faam rock, por isso os prestigio, afirma o empresrio Luis Gomes Lamaison.

    Assim como Gomes, outras pessoas tam-bm frequentam assiduamente o local para assistir ao show. O estudante William Andra-de, de 24 anos, viu a performance da banda pela primeira vez e ficou comovido. Eu gosto de rock por causa dos meus pais. Cresci ou-vindo esse tipo de msica e, hoje, no consigo ouvir outra coisa. Quando passei por aqui e escutei tocarem My Sacrifice, da banda Creed, tive que parar. Fiquei emocionado com o de-sempenho de todos no palco.

    Cada vez que a gente conversa so-bre sucesso e fs, percebemos o quanto estamos ficando mais conhecidos. Ainda no temos noo dessa popularidade. Pra gente, todos so amigos, conhecidos e etc., fala percy.

    A banda tem um EP lanado com as quatro msicas prprias (Nosso tempo comeou, Bailinho, Etiqueta ou Patro e Minha vida) que foi produzido pelo Nan-do Bassetto, guitarrista da banda hardco-re Garage Fuzz (mais sobre ele na pg. 6). Alm dessas canes, o grupo que se in-titula pop/rock, costuma fazer covers de artistas como Janis Joplin, Led Zeppelin, The Beatles, The Doors, Jessie J, Joss Sto-ne, Pitty, Charlie Brown jr. De acordo com a casa em que a banda toca, eles tambm atendem aos pedidos do pblico.

    A Music Box agitou a galera, que retribuiu calorosamente, na abertura do show das bandas NX Zero e Gloria, em Santos

    Em todos os shows Carol faz um cover de Janis Joplin, principal

    influncia da vocalista

    NOVEMBRO 2014 | X CULTURA 15

  • A orla da praia de Santos um mes-clado de arranha-cus modernos, luxu-osos e exuberantes, com edifcios anti-gos, tortos e residenciais. Dentre esses mais velhos, est o prdio Astro. Uma construo com 14 andares, com arqui-tetura mpar e corredores com vista pa-normica para o Atlntico.

    Quem nunca olhou para as janelas dos apartamentos e tentou imaginar o que acontece neles? Pois , um des-ses apartamentos j presenciou muitas histrias e muita sonzeira. o lar da Dona Rosita, me do guitarrista e com-positor santista Mauro Hector.

    Foi nesse lugar que tudo comeou. Desde a sua adolescncia, o msico pro-duziu, comps, improvisou e tocou com sua primeira banda, Os Druidas que existe at hoje.

    Dona Rosita se acostumou rpido com o entra e sai do pessoal da banda. Minha me via um pessoal cabeludo chegando e j sabia que ia rolar um ba-rulho. Talvez, para a poca, muitos pais poderiam no ter apoiado a escolha de um filho que queria ser guitarrista, mas a famlia de Mauro sempre o apoiou.

    Hoje em dia o msico casado e no mora mais com a me, mas ainda utiliza o apartamento para receber seus alunos e estudar msica com mais tranquilidade.

    Mas de onde surgiu a ideia de to-car guitarra?

    Depois de entrar por engano em uma sala de cinema do antigo cine Roxy e assistir ao filme AC/DC: Let There Be Rock, Mauro resolveu que esse seria seu caminho. Foi naquele dia que eu gostei de rock e quis ser guitarrista.

    Artista

    Por carolina Yasuda

    Com vocs...

    MAURO HECTOR!Foto: CAROLINA YASUDA

    16 X CULTURA | NOVEMBRO 2014

  • Durante sua trajetria, o msico escolheu o rock, o blues e o jazz para trabalhar. Lanou quatro CDs, tocou em diversos palcos brasileiros, gra-vou vdeos em Los Angeles, nos Esta-dos Unidos, e criou, aos poucos, uma rotina intensa, incluindo o trampo de professor de guitarra.

    A vida artstica meio complicada e incerta, mas graas a Deus foi tudo bem. Mauro vive de msica, respira msica e todos os dias tem atividades que envolvem essa arte.

    Durante a semana, costuma reser-var algumas manhs para estudo e en-saios. As tardes e noites so para dar aulas de guitarra.

    Nos finais de semana, alm das au-las nas manhs de sbado, as tardes e noites so para tocar em lugares di-ferentes, de acordo com sua agenda mensal. Mas, e a famlia? Bom, a gen-te vai se encaixando. Minha esposa,

    Ana Sierra, me apoia e fica responsvel pelo equilbrio entre trabalho e lazer, brinca o guitarrista.

    Essa vida corrida foi inevitvel para construir seu espao no meio musi-cal. Como Mauro d aulas desde os 15 anos, est um pouco mais acostuma-do, mas nem sempre as coisas foram fceis. A profisso de msico, assim como as outras, exige bastante disci-plina, dedicao e estudo. Msico no para de estudar.

    Fora as suas responsabilidades pro-fissionais, o guitarrista percebeu al-guns problemas durante esses 30 anos de carreira. Existe uma falta de res-peito com msica na cena nacional. Os prprios instrumentistas no se valori-zam e isso se reflete no pblico. Muita gente prefere pagar 600 reais para ver um guitarrista gringo do que pagar 20 reais para ir ao show de um brasileiro. isso atrapalha muito.

    Essa desvalorizao gera um desa-bafo. No Brasil, temos um dos melho-res guitarristas do mundo, Heraldo do Monte. Tambm temos Hlio Delmiro, que um gnio, e aqui em Santos, te-mos o Alexandre Birkett. Quais desses as pessoas conhecem?

    Um conselho que Mauro d para quem quer ser guitarrista profissional se acostumar a fre-quentar shows. Quer ser presti-giado? prestigie.

    Apesar de reconhecer que um msico privilegiado pela presena constante de seu pblico em sho-ws e workshops, ele tambm avalia que, na Baixada Santista, muitas coisas poderiam ser diferentes. Por aqui temos muitas bandas de rock e pop que so boas, mas acho que ain-da faltam espaos para tocar. Isso mudaria a cultura das cidades e in-centivaria novos projetos.

    Atitude Blues2007 (Independente)

    Blues From Earth 2000 (Demo)

    Mauro Hector 2000 (Demo)

    Sonoridades2002 (Independente)

    MAIS RECENTE

    Retratos2011 (Independente)

    Foto: CAROLINA YASUDA

    NOVEMBRO 2014 | X CULTURA 17

  • TCNICAS E GUITARRICESPara a maioria dos msicos, chegar ao pon-

    to de improvisar numa cano talvez seja uma das conquistas mais complexas de estudo do instrumento. Para Mauro Hector, essa habili-dade sempre fez parte do seu som. Gosto pra caramba de improvisar. No comeo, a gente no conseguia tocar como as msicas esta-vam gravadas nos discos, ento improvisava. Lgico que depois estudei tcnica, escalas e tudo mais.

    Para finalizar, Mauro Hector d algumas

    dicas diferentes para quem quer se arriscar na rea musical. Ele no s fala sobre estudo e interpretao da arte, mas coloca pontos de carter individual como itens indispensveis para ser um bom guitarrista.

    Primeiro, o cara tem de ser legal. Assim como nas outras profisses, no acho que um bom guitarrista vai passar por cima dos outros ou tentar se promover de uma forma inadequa-da. Depois, ele tem de ser humilde, criativo, sen-svel e, acima de tudo, comprometido. Quando o msico comprometido com os estudos, seu pblico e sua arte, tudo flui.

    Foto: THIAGO COSTA

    Artista

    18 X CULTURA | NOVEMBRO 2014

  • NOVEMBRO 2014 | X CULTURA 19

  • Uma coisa que no se pode dizer de Isa-bel Ortega que ela passa despercebida.

    pequena no tem mais que 1,55m. Ela pode parecer frgil, mas seu olhar firme e a entonao da voz mostram uma altivez inesperada.

    Sua postura firme e correta, quase como a de uma pessoa que por anos danou bal e sabe da impor-tncia de andar com as costas retas e olhar firme para a frente.

    Pode ser confundida com uma des-sas avs mais modernas, que se recusam a ficar em casa tricotando e se vestem com roupas elegantes, porm sbrias e se divertem com o que ainda lhes des-perta o interesse.

    Os cabelos pintados de vermelho lu-tam contra os fios brancos que insistem em se fazer notar e contrastam com os olhos azuis que no perdem o brilho.

    O teatro me mantm viva e jo-vem. quase como uma fonte da ju-ventude diz com orgulho, enquanto conta sua trajetria.

    Mesmo fora da cena teatral, perce-be-se que ela no abandona a postura teatral. Seus gestos, suspiros, olhares e falas so pontuados, pausados, quase que ensaiados, mas apresentados de modo que no paream artificiais.

    vivendo na Espanha atualmente, Isabel adora usar um ou outro termo em espanhol e realmente me pe em dvi-da se um costume comum ou apenas uma forma de enfeitar sua fala e criar uma aura de glamour.

    Hol Matheus, como ests? como ela normalmente me cumprimen-ta, com um sorriso que exibe os dentes um pouco amarelados pelos anos do v-cio em cigarro.

    Se precisasse dizer uma palavra para defin-la, acho que seria elegncia. Sim,

    essa uma palavra que posso atribuir a ela com certeza. Nos dias em que passa-mos juntos, sempre notei como ela era discreta pelo menos no que tange a seu vesturio e sempre combinava as pe-as com os adereos. Lenos e echarpes europeias com terninhos claros que sem-pre realam seus olhos, dos quais ela faz questo de falar e exibir. Outras pessoas, como alguns tcnicos que trabalham di-retamente com ela, j usariam outros ter-mos como arrogante, mas isso dito em off, longe dos ouvidos atentos dela.

    Isabel muito bem relacionada com grandes personalidades e mesmo que alguns digam que ela ainda vive mui-to de aparncia, inegvel que uma pessoa influente. Esses olhos j viram muitos pases e muitos palcos diferen-tes diz sorrindo e piscando um pouco mais que o necessrio.

    Pouco fala de sua origem riopreten-se, no por vergonha ou vaidade, mas percebe-se que sua vida gira em torno da Europa e dos festivais de teatro por onde circula, ora como curadora, ora como convidada ou palestrante.

    Com um pouco de insistncia, ela conta sua origem artstica e deixa seus olhos marejarem ao falar do incio da sua carreira na dcada de 1970, e como foi premiada como atriz revelao, com a pea A Exceo e a Regra, de Bertold Brecht. Em plena ditadura, ganhei o prmio Governador do Estado e, com isso, recebi uma bolsa para estudar m-sica. Foi algo que ajudou a alavancar mi-nha carreira, diz.

    A bolsa de msica era o prmio co-mum dado na poca e no necessaria-mente era desejado por todos. Para Isa-bel, teve pouca utilidade prtica, porm a colocou em contato com outras pesso-as do meio artstico e cultural, o que re-

    sultou em outro convite. Como era filha de pais espanhis, foi convidada pelo Consulado Espanhol para concorrer a uma bolsa na Real Escola Superior de Teatro e pera Oficial da Espanha. Esse convite surgiu devido ao fato de j ter feito Macunama no teatro e, tambm, por estar se tornando um nome conhe-cido no teatro nacional.

    Fui para l, e achei que fosse ficar s o tempo que durasse o curso, mas sur-giu um convite do diretor para que eu me tornasse sua assistente. Aceitei e fui ficando na Espanha.

    Nessa poca, j era casada e me de dois filhos. Casou cedo, aos 18 anos, e veio de uma famlia to humilde quan-to grande. Tendo outros dez irmos, foi criada sem qualquer influncia artstica e, tambm, sem o apoio dos pais, que eram trabalhadores rurais. Sua voz falha um pouco mais uma vez quase como se estivesse atuando para acentuar a sensao de tristeza

    Perfil

    UMA VIDA DEDICADA AO TEATRO

    ISABEL ORTEGA

    O teatro me mantm

    viva e jovem. quase como uma fonte da

    juventude

    Por MaTheus J. Maria

    20 X CULTURA | NOVEMBRO 2014

  • ao contar que nunca teve apoio de sua famlia e que nenhum de seus fa-miliares chegou a v-la atuar.

    Isabel foi uma das idealizadoras do festival Mirada o Festival ibero--americano de Artes Cnicas -, quando conheceu o diretor regional do Sesc So Paulo em Cdiz (Espanha), mas no muito bem vista pelos outros organiza-dores. Sabendo dessa situao delicada e por vezes desconfortvel para os que trabalham prximos a ela e aos demais organizadores, ela sempre faz questo de reforar sua posio e autoridade, por vezes de forma discreta e por vezes de forma incisiva, recitando a lista de contatos e conhecidos que ela tem.

    Para Srgio Luis Oliveira, um dos coordenadores do Mirada, ela uma figura a ser isolada pouco a pouco, algum que usa de suas relaes para manter-se em uma posio de status. E de fato ela gosta de sempre frisar que uma das criadoras desse festival e que certas coisas podem acontecer ou no,

    dependendo da minha permisso, fala essa que suscita alguns risos contidos e olhares de desaprovao a sua volta.

    Sentada em sua mesa e isolada das demais pessoas que trabalham na orga-nizao do Mirada 2014, ela passa o dia entre telefonemas para seus amigos e convidados internacionais que, segun-do ela, precisam estar aqui. A cada in-terveno realizada por ela em alguma lista de convites j feita ou discusso em andamento, o sorriso de aquiescn-cia seguido por um rolar de olhos das pessoas envolvidas.

    Deixa ela falar e achar que faz e depois fazemos o que realmente temos que fazer, essa a orientao mais co-mum dada pela coordenao do evento a todos que entram na sala e a conhe-cem pela primeira vez. Esse tipo de co-mentrio e piadas ditas em tom baixo, longe dos ouvidos atentos de Isabel, so comuns e por diversos momentos criam um ar de constrangimento em que todos so obrigados a atuar para

    no transparecer o que realmente est acontecendo.

    Pergunto-me se ela realmente per-cebe a situao que a cerca, o descon-forto com algumas decises que ela toma revelia da organizao ou se ela percebe, mas apenas no se importa.

    Isabel to atriz que talvez esse ar alheio seja apenas uma encenao, uma pea pela qual ela conduz as pes-soas sua volta sem que elas se deem conta de que esto sendo manipula-das. Mas talvez o ego dela que, embora permanea domado na maior parte do tempo, a cegue para o que realmente acontece ao redor.

    Seja como for, uma coisa que no se pode negar que Isabel Ortega encara o mundo e a vida como um grande espe-tculo onde ela sempre precisa atuar da melhor forma e, se possvel, ser a estrela.

    Afinal de contas, como ela sempre me dizia O show s acaba quando a luz apaga e a cortina fecha. At l, no po-demos parar de dar o nosso melhor.

    Foto: ARQuivO pESSOAL

    NOVEMBRO 2014 | X CULTURA 21

  • Trs autoras, trs estilos literrios diferentes. vamos contar essa histria? As amigas Wilma Terezinha Fernandes de Andrade, Graziella Tognetti e Maria Zilda da Cruz resolveram unir suas ex-perincias e fantasias para encantar os leitores em um livro.

    O incio do livro Um, dois, trs... vamos Contar Histrias foi h dois anos e o in-centivo foi aproximar as velhas amigas de faculdade e, no futuro, mostrar tudo para os netos.

    A ideia surgiu atravs de uma li-gao telefnica na qual Maria Zilda convidou Graziela a escrever o livro. Depois, para completar a equipe, cha-maram a amiga Wilma, que se surpre-endeu e adorou a ideia.

    Esto registradas em 232 pginas edi-tadas pela Comunicar, histrias que atra-

    vessam geraes, mescladas com a expe-rincia, aprendizado e uma pitadinha de fico. Com mais de 60 anos, as escritoras nos levam reflexo por meio de narrati-vas, poesias, contos e crnicas.

    O leitor viaja por guerras, conhece grandes personagens, entre escritores e trabalhadores comuns, e tambm sobre animais de estimao. Alm de entender aquelas histrias de me para filha e pen-sar sobre acontecimentos vividos no dia a dia. Tudo com muito bom humor.

    Escrita em dois pases, Brasil e Itlia, a obra foi montada pela internet, via Skype, e mesmo a distncia foi superada com muita dedicao.

    Wilma Therezinha nascida em San-tos, formada em Histria e Geografia pela Pontifcia Universidade de So Pau-lo (PUC), mestre e doutora em Histria Social pela Universidade de So Paulo (USP). J foi professora por mais de 40 anos e escritora premiada. Teve a opor-tunidade de resgatar no livro o primeiro texto de sua carreira, escrito aos 17 anos. Me sinto muito feliz e realizada em po-der reviver e publicar o meu primeiro tex-to no nosso livro.

    J Maria Zilda no nasceu em Santos, mas cresceu na cidade. Concluiu Pedago-gia e Histria na Universidade Catlica de Santos (Unisantos) e mestra e dou-

    tora em psicologia tambm pela USP. J lecionou em universidades e hoje escreve por hobby. Ela preenche o livro com poe-sias, e garante que a inspirao pode vir de onde menos se espera. uma coisa que nasce de dentro de voc, no d para explicar, contou sorrindo. Zilda escreve sobre o cotidiano, mas a sua predileo detalhar a natureza.

    E alm de escrever poesias, conta que cuidou de toda a parte grfica do livro. No foi to difcil, a tecnologia me ajudou bastante. Foi um jogo de aprendizagem.

    E as ilustraes? A italiana Graziella Tognetti, que veio da Itlia recentemen-te, adotou o Brasil como seu segundo lar. Formada em Cincias Econmicas e Co-merciais pela Unisantos, especializou-se em Sociologia Educacional em Santo An-dr e em Economia na Itlia. Inspirou-se nas obras das amigas e nos fatos que re-tratou no livro, para criar as imagens que do vida histria. Leio uma ou duas vezes cada texto e pronto. A imaginao vem. Adoro desenhar.

    Para quem quer adquirir o livro, poss-vel encontr-lo na Papelaria Organizao, em Santos e nas, nas livrarias Realejo e Loyo-la, tambm em Santos, por R$ 39,00. Se voc pensa que acabou por a, no! As autoras dis-seram que s o comeo, e que pretendem continuar a escrever novos livros.

    Leitura

    UM, DOIS, TRS...um livro E trs autoras. as amigas quE, juntas, so pura cultura, artE E sabEdoria

    Foto: YONNY FURUKAWA

    Por YonnY FuruKaWa

    As trs autoras exibem com orgulho o livro que criaram pensando nos netos e tque tambm ajudou a se reaproximarem

    22 X CULTURA | NOVEMBRO 2014