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  • 7/22/2019 Processos de referenciao

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    Cad.Est.Ling., Campinas, (41):165-176, Jul./Dez. 2001

    PROCESSOS DE REFERENCIAO NO HIPERTEXTOANTONIO CARLOS S. XAVIER

    Universidade Federal de Pernambuco1

    ABSTRACT: This article aims to examine the functioning of the hyperlinks in thehypertexts and to discuss how they help to do the semantic, cognitive and interactional

    references. Hyperlinks are the fundamental instruments of the eletronic texts; they allowto come to ones mind the bigger interconnection of texts, informations and knowledgesof the world. They are vetorial-deitic elements that move the reader to the other virtualpages and hypertexts so fastly and economically. They achieve a complex process ofauto and hetero-referenciation: co-hypertext and pan-hypertext. Then, the hyperlinkspresent to browsers and readers one different way to make referenciation. How thishappens in the hypertext? This paper will try to show it.

    1. INTRODUOParar o mouse em um certo espao da tela do computador e clicar sobre um

    determinado hiperlink tem sido uma das aes mais comuns atualmente na vida doscerca de 300 milhes de usurios da rede mundial de computadores espalhados peloplaneta. Mergulhar eletronicamente por determinadas palavras marcadas no textodigital tem se constitudo a prtica fundamental dos hiperleitores, quando da sua leitura-navegao nas mirades de pginas indexadas web. Entretanto, a grande maioriadaqueles que tm se utilizado dos hiperlinks, ao folhearem as pginas eletrnicas,

    ainda no se deu conta da enorme complexidade que envolve esta atitudeaparentemente simples; muitos no se aperceberam dos engenhosos processos dereferenciao desencadeados pelos hiperlinks nem atentaram para a inevitvelmultiplicidade de trilhas cognitivas que eles apontam durante a leitura-navegao.

    O objetivo fundamental deste artigo discutir, ainda que com certa limitao, ofuncionamento dos hiperlinks dentro de uma perspectiva lingstico-enunciativa escio-cognitiva, bem como teorizar sobre o seu papel enquanto elemento dereferenciao digital em Hipertextos. Dizendo de uma outra maneira, queremosdesenvolver uma reflexo em torno de duas questes, que acreditamos fundamentais,

    1O autor professor do Depto de Letras da UFPE e doutorando em Lingstica na Unicamp.

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    cujas conseqncias incidem diretamente sobre as formas de ler e compreender osdiscursos inscritos na tela digital:

    1) Quais so as caractersticas tcnicas e enunciativas dos hiperlinks?2) Qual o seu papel no processo de referenciao digital, quando da leitura de

    Hipertextos?

    2. PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS: LNGUA, TEXTO, HIPERTEXTO EREFERENCIAO

    Para tanto, preciso, antes, explicitarmos qual a concepo de lngua, de texto, deHipertexto e de referenciao que subjaz aos posicionamentos aqui adotados e quesustentam a idia central a ser defendida ao longo deste artigo.

    2.a. Noo de Lngua

    A LNGUA um jogo pleno de atividades verbais, heterogneas, interacionais,cognitivas, sociais e histricas interdependentes e interrelacionadas (Beaugrande 1997).Ela resultado de aes lingsticas, sociais e cognitivas dos sujeitos que as realizamno interior de eventos reais, i.e., envoltos em acontecimentos discursivos situados nahistria. Ela compreendida como um processo repleto de aes verbais integradasproduzidas por agentes sociais historicamente constitudos. Estes agentes dotados de

    volio prpria inferem, pressupem e geram sentidos on-line a partir das pistaslingsticas de acordo com o contexto de sua produo. Nestas aes verbais estoenvolvidas operaes cognitivas, cujas decises interpretativas (avaliaes, retomadas econcluses) dos sujeitos so negociadas momento a momento e modeladas conforme odesenrolar da interao social que lhe deu origem.

    2.b. Concepo de Texto

    Textos so aqui concebidos como FORMAS DE COGNIO SOCIAL. So

    muito mais que roupagens do pensamento (como advogam alguns cognitivistas). Otexto , antes de tudo, constitutivo do prprio saber, o prprio conhecimento em si,haja vista que todo conhecimento declarativo circulante em uma dada sociedade umconhecimento lingstico e social alicerado em certos modos e gneros textuais.(Antos 1997). Os textos, eles mesmos, so a essncia do conhecimento, matria-primado saber e no s recursos tcnicos que viabilizam a exposio de saberes outros inabstracto que ganham visibilidade e concretude, quando textualizados. Alm depermitir tecnicamente a simultaneidade entre a escrita e a cincia, os textos soelementos-base desta mesma cincia, que deles se utiliza tanto como suporte para

    sistematizao, organizao e conservao do novo saber descoberto, quanto comocomponente gerador de outros saberes cientficos. Ou seja, eles so to essenciais paraa produo do conhecimento, quanto para a sua projeo e divulgao no mundo.

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    Assim como as teorias, ontologicamente, os textos, alm de serem formascomplexas e perspectivadoras do conhecimento, parecem criar mundos deconhecimentos que so textualizados lingisticamente. Eles disponibilizam aos homensuma espcie de ordem cognitiva do mundo e seu funcionamento. Ao mesmo tempo emque organizam e selecionam a cognio humana, eles evitam a sua entropia, impedem,de uma certa forma, que o conhecimento se perca.

    2.c. Definio de Hipertexto

    Mas o que mesmo o HIPERTEXTO ? A partir desta concepo de texto comoforma de cognio social que organiza e constitui o conhecimento e com odesenvolvimento das novas tecnologias digitais, permitindo a diminuio do tempo edas distncias da interao verbal entre os atores sociais, podemos observar que, umavez digitalizados, os textos parecem abrir caminho para a chegada do Hipertexto,um

    constructo semitico produzido sobre a tela do computador, um novo modo deenunciao que surge no seio da contempornea sociedade da informao nestesculo XXI.

    Theodore Nelson, o primeiro a utilizar o termo hipertexto, assim o descreve emLiterary Machine(1993):

    1. Trata-se de um conceito unificado de idias e de dados interconectados demodo que eles podem ser editados sobre a escrita do computador;

    2. Um instncia com a qual se pode religar as idias e os dados, que evidencia a

    dupla vocao do Hipertexto: um sistema de organizao de dados e um modo depensar.O Hipertexto pode ser considerado, ao mesmo tempo, um sistema material e uma

    tecnologia intelectual, em que o ator humano interage com as informaes que ele faznascer de um percurso (navegao) virtual e as modifica em funo de suasrepresentaes individuais (sistemas de crenas, valores, ideologias) e suas demandascircunstanciais. Em outras palavras, o leitor do Hipertexto no tem compromisso comuma seqenciao a priorirgida e inviolvel durante a sua leitura-nevegao (Xavier1999a).

    Cabe aqui uma sria advertncia: no se pode confundir a noo de deslinearidadecom a de descontinuidade potencial do discurso, como bem nos lembra Clment(1995). A no-linearidade deve ser definida do ponto de vista do dispositivo material eno do ponto de vista do discurso. No-linearidade no significa obrigatoriamente a nocontinuidade seqencial da materialidade discursiva, pois na recepo dos discursosessa uma deciso exclusiva do leitor, em qualquer tipo, modo ou tecnologia deenunciao.

    J a descontinuidade uma forma de montagem pela qual o dizer acha a suacoeso. O discurso na superfcie digital fortalece-se no devido linearidade de um

    desenvolvimento temtico qualquer, mas por causa da rede subterrnea de filamentosditos, no-ditos e ecoados, ainda que distncia, entre os temas afins vinculados entresi por fortes ou tnues relaes interdiscursivas/intertextuais. O Hipertexto, ento,

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    convida o leitor a re-organizaresta estrutura originalmente descontnua, a bel-prazer, eele assim o faz em seu surfe virtual, em suas idas-e-vindas a certos hiperlinks, ns oustios durante a leitura-navegao.

    A especificidade do Hipertexto repousa exatamente nesta falta de compromissocom uma ordem hierrquica, quase obrigatria, a ser seguida, instituda pela linearidadeprpria dos textos impressos, e agora questionada, bem como pela sua capacidade dere-inventar novas formas e modos discursivos.

    Portanto, o Hipertexto parece s se deixar decifrar fragmentariamente,funcionando como uma materialidade discursiva, ao mesmo tempo, mutante e plural,cuja inteligibilidade potencial conquistada lentamente por meio dos mergulhos noshiperlinks. Em suma, podemos dizer que, por no seguir a lgica seqencial dosdiscursos em celulose, o texto eletrnico apresenta-se como um espao semntico aconstruir ou em vias de construo pela interveno criativa e exploratria de seususurios.

    2.d. Perspectiva de Referenciao

    Os mergulhos em busca de significao por meio de engenhocas digitais(hiperlinks) manifesta uma outra e talvez mais importante caracterstica do textoeletrnico: um modo digital de referenciar. Cumpre, ento, explicitar o que se entendepor referenciaoe como ela se d no texto eletrnico.

    sob a tica da Lingstica Scio-Cognitiva, mais precisamente a vertentedesenvolvida pelo grupo de pesquisadores franco-suos2, que os processos de

    referenciao e inferenciao dos hiperlinks e seu papel catafrico e ditico-vetorialpara a construo da coerncia do Hipertexto sero aqui abordados.Logo, Referir, nos termos de Apothloz & Reichler-Bguelin (1995) e Mondada

    & Dubois (1995), deixa de ser um ato de rotular ou afixar previamente um adesivosobre um dado objeto do mundo e passa a ser uma atividade discursiva geradaconjuntamente na interao entre indivduos, que produzem, pela linguagem, realidadescognitivo-discursivas dentro do fervilhante desenrolar das intersubjetividadesnegociadas publicamente no mundo(Mondada e & Dubois, 1995:276).

    3. TIPOS E FUNES DOS HIPERLINKS

    Normalmente, nas pginas eletrnicas iniciais, esto ancorados dois tipos dehiperlinks:Links-Fixos, ou seja, aqueles que tm um espao estvel e constante no site;

    2Trata-se da equipe de lingistas da Universidade de Freibourg (Alain Berrendonner, Marie-Jos Reichler-Bguelin, Franoise Zay, Denis Apothloz, Laurence Benetti, Catherine Chanet e Jel Gapany), que entre osanos de 1991 e 1994 desenvolveu projeto de pesquisa sobre referenciao, tendo mantido estreito contatocom o projeto A Anfora e seu Tratamento realizado pelo Rseau Cognisciences Est, do qual participaramMichel Charolles e Georges Kleiber. Com a mesma orientao terica trabalham Laurence Kister, LorenzaMondada e Danire Dubois. Todos esses pesquisadores tiveram os resultados dos seus trabalhos de pesquisapublicados no livro Du Sintagme Nominal aux Objets-de-Discours organizado por Berrendonner &Richler-Bguelin (1995).

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    eLinks-Mveis, isto , aqueles que flutuam no site, variando a sua apario de acordocom a convenincia do enunciador, i.e., o produtor/autor da pgina eletrnica. Amaioria dos portais de acesso, inclusive o UOL, oferece geralmente seus principaisservios em hiperlinks do primeiro tipo, conservando-os todos nos mesmos lugaresdesde o lanamento oficial do portal, a fim de facilitar a localizao e memorizaoespacial pelo usurio, criando-lhe expectativa do que se pode achar naquele espaovirtual.

    Para os objetivos deste artigo, interessa definir os hiperlinks basicamente a partirde duas perspectivas diferentes, mas complementares: enquanto Dispostivo Tcnico-

    Informtico e comoMecanismo de Referenciao Digital.

    3.a. Dispositivo Tcnico-Informtico

    ele que d origem, viabilidade e visibilidade ao texto eletrnico e lhe permite

    existir interconectado. Ele torna possvel o dilogo digital entre documentos-saberes.Enquanto dispositivo tcnico-informtico, os hiperlinks, vinculam mtua einfinitamente pessoas e instituies, entrelaando-as em uma teia virtual de alcancemundial a qualquer hora do dia.Estes linkspermitem ao hiperleitor realizar livrementedesvios, saltos e fugas instantneas para outros locais virtuais da rede, de modocmodo, prtico e econmico. A distncia de um indivduo a outro, de um texto a outro,de uma idia a outra passa a ser medida por cleres clicks-de-mouse sobre estasinteligentes engenhocas digitais.

    Tais vetores informticos por onde escorrem os textos eletrnicos so distribudos

    e organizados estrategicamente pela superfcie das home-pages que circulam nociberespao, encadeando-as entre si num complexo processo de auto e htero-referenciao.

    3.b. Mecanismos de Referenciao Digital

    No que tange s pginas iniciais dos portais de acesso Internet, os links, entreoutras atribuies, servem para orientar e monitorar a leitura do visitante, sugerindo-lheoutros lugares disponveis dentro do prprio websiteou fora dele. Em tais portos-de-

    passagem digitais, os hiperleitores encontram muitas opes de servios, informao e,principalmente, lazer, enquanto navegam.No qualquer palavra, cone ou fotografia no texto eletrnico que pode ou

    merece receber um hiperlink. Em tese, somente os que de fato remetam o hiperleitor aoutros conhecimentos relevantes ao todo daquela pgina virtual devem ser linkados.Sendo assim, o processo de referenciao digital dentro do Hipertexto nasce e passaimpreterivelmente pelos hiperlinksque vo ponteando discursos e saberes diversos naenorme malha digital.

    Mas em que sentido estamos tratando a expresso referenciao digital?

    Certamente no a estamos empregando no sentido de remisso a referentes dentro domesmo texto, como habitualmente tem sido utilizado na Lingstica Textual. Algunsautores (Koch & Marcuschi 1998) tm procurado separar alguns termos que tm sido

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    geralmente tomados um pelo outro e quase nunca distinguidos em suas propriedadesdiscursivas, tais como retomada (que implica remisso e referenciao), remisso (queimplica referenciao e no necessariamente retomada) e referenciao (operaolingstico-cognitiva que no implica remisso pontualizada nem retomada especfica).

    Esta referenciao ps click-de-mouse abre para o usurio o franco e rpidoacesso a Hipertextos outros. Ou seja, essas referenciaes digitais produzem pulosinstantneos para fora da materialidade enunciativa hipertextual imediata sem ocompromisso de retomar quaisquer referentes anteriores, isto , sem a obrigao derecategorizar ou fazer progredir a cadeia referencial no nvel co-textual (Koch 1997).

    O modo digital de referenciar proposto pelos hiperlinksno hipertexto articula asinformaes linkadas basicamente de duas formas: co-hipertextual e pan-hipertextualmente.

    a) Referenciao DigitalCo-Hipertextual

    Por nos faltar uma melhor terminologia no momento, chamaremos de co-hipertextuais as referncias digitais feitas por hiperlinksdentro de um mesmo website.Vejamos, por exemplo, a organizao visual (design) da pgina principal do UOL.Todas as palavras linkadas na barra inicial e na coluna da esquerda da tela remetem ohiperleitor para dentro do portal, para dessa forma faz-lo conhecer e utilizar osservios do portal que l esto disponveis. Por serem ofertas de servios, h poucoshiperlinksque remetem o usurio a outros locais na web.

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    As localizadas no centro da tela nem sempre levam o usurio para as pginasinternas. Em contrapartida, a maioria das formas enunciativas linkadas que ocupam olado esquerdo da tela, por se tratar em geral de propagandas, dicas e sugestes,remetem sim o hiperleitor a sitesoutros fora do domnio do portal. Basta passar a setado mouse sobre a palavra ou cone linkado, que logo aparece, na parte inferior da janelado navegador, o endereo no qual est hospedado aquele website em forma dehiperlink.

    b) Referenciao DigitalPan-Hipertextual

    J os hiperlinks que levam o usurio s pginas externas de um websiteapresentam-lhe efetivamente propostas de leituras e caminhos de navegao a trilharcom possibilidade de visitas a lugares diversos na rede digital. Eles pem o hiperleitorem contato direto com discursos, posies e saberes vrios. Disponibilizam-lhe umuniverso inteiro de conhecimento que pode ser acessado atravs de um simplespremer-de-mouse.

    Os hiperlinks pan-hipertextuais tornam possvel ao usurio uma viso panormicado universo, transformando-o em sujeito mais autnomo e independente para analisaros vrios aspectos de uma mesma questo e decidir com mais talante que posio

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    assumir, dispensando, assim, intermedirios, censores e iluminados, at ento osnicos autorizados a opinar sobre um dado tema.

    Toda uma gama de dizeres torna-se desvelvel pelo funcionamento eficientedestas ferramentas de interconexo virtual. Conseqentemente, a cada click, umadiferente aventura, a cada mergulho eletrnico, uma nova descoberta ou consolidaode antigas convices, crenas ou atitudes. A viso de mundo e de homem do usuriodo hipertexto tende a se ampliar e a se flexibilizar constantemente conforme asdemandas sociais e cognitivas que emergem a sua frente.

    4. A FUNO DITICO-VETORIAL DOSHIPERLINKS

    Portanto, a funo fundamental dos hiperlinks parece mesmo ser a deVETORIAR, isto , indiciar veredas virtuais a serem percorridas pelo hiperleitor no

    ciberespao, apontar lugares outros onde se possa encontrar mais informaes queajudem a compreender o mundo e, por conseguinte, a viver um pouco melhor.Todo hiperlinktem por funo primeira indicar, sugerir caminhos, propor trajetos

    ao hiperleitor. Ele funciona originariamente como um apontador enunciativo digitalnoHipertexto, e, por essa razo, tambm um focalizador de ateno por excelncia,aparecendo perceptivelmente destacado, ou seja, normalmente sublinhado ou em cordiferenciada em relao a outros enunciados verbais e visuais na tela. Toda essaroupagem que reveste o hiperlink torna-o um atrativo e poderoso recurso de seduodo leitor e de emulao do seu desejo de conhecer os segredos que se escondem por

    trs dele.Enquanto seduz os hiperleitores, o hiperlink aponta visualmente para um lugarconcreto, atualizvel no espao digital. O stio indicado existe virtualmente, pode seracessado por qualquer um, embora no seja materializvel, tangvel fisicamente. Eleconduz veloz e facilmente o hiperleitor a lugares na rede cujo acesso seria muito maispenoso e demorado, ainda que no impossvel, caso a operao de pesquisa fosserealizada atravs de um servio de busca. Geralmente os portais que oferecem serviosde pesquisa na rede utilizam simultaneamente a tecnologia de algoritmos procedurais espiders, que so robs programados para varrerem bancos de dados da Internet at

    encontrarem a informao procurada, operao informtica que leva alguns minutospara ser processada.Com efeito, o hiperlink trabalha fundamentalmente como elemento indexador de

    outros Hipertextos, e no somente como referenciador de entidades lingsticas intra-hipertextualmente. Ele instala, no seu interior, outros dizeres hipertextualizados; operacomo incorporador virtual de pginas eletrnicas inteiras dotadas de informaes quetranscendem ao espao da co-textualidade imediata.

    O hiperlink ditico, ento, operacionaliza as imprescindveis intersees entretextos/discursos que j estejam hipertextualizados, e, ao mesmo tempo, articula, atravs

    deles, posies disparatadas em torno de uma mesma questo, evidenciando a presenade beligerncias e divergncias intelectuais to salutares para qualquer sociedade que

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    valorize a livre expresso de pensamento dentro de uma atmosfera em que prevalece oEstado Democrtico de Direito.

    Nesta perspectiva, o hiperlink com funo ditica assume um carteressencialmente EXOFRICO, prospectivo, ou seja, est sempre ejetando o hiperleitorpara fora e para um depois do dito, para um alm daquela pgina virtual, jogando partede suas expectativas de completude de compreenso em outros Hipertextos alireferendados.

    O hiperlink parece especular constantemente um movimento de projeo, dexodo no definitivo do hiperleitor dos limites do lido, sugere-lhe insistentementeatalhos que auxiliem a apreenso de sentido, ou seja, apresenta rotas alternativas, caso ohiperleitor queira pormenorizar aspectos e preencher on-line lacunas de interpretaoque, porventura, venham tona durante o processamento da leitura no Hipertexto.

    Enquanto elemento ditico, o link se constitui como um grande holofotecatalisador de olhares, cuja tarefa mostrar enfaticamente Hipertextos outros a serem

    visitados, lidos e considerados, atuando sob o efeito-m daintertextualidade/interdiscursividade constitutiva da linguagem. A sua naturezaessencialmente relacional ratifica o princpio das vinculaes necessrias entretextos/discursos que veiculam idias/ideologias carregadas de verdade/poder queimpem como so ou devem ser as relaes interinstitucionais e interpessoais nasociedade da informao.

    papel dos links-diticoscosturar essa colcha mltipla de Hipertextos retalhadose encharcados de discursos ideologizados que se avolumam na grande rede decomputadores, hoje j se aproximando dos dois bilhes de pginas eletrnicas

    indexadas.Portanto, apontar visualmente, conduzir cognitivamente e levar virtualmente o

    leitor para uma outra esfera tambm hipertextual parecem ser as atribuies fulcraisdos hiperlinks, as razes centrais de sua criao e existncia no Hipertexto.

    Os hiperlinks diticos operaram ainda como tticas retricas de cercar umdeterminado problema por todas as angulaes e perspectivas imaginveis em que elepossa ser visualizado e entendido, j que a indicao linkada se d geralmente entre

    Hipertextos que tratam do mesmo tpico e, assim, se complementam ou se refutam, sereafirmam ou se contradizem. Eles realizam uma espcie de proposta-convite aorelativo esgotamento das inmeras vertentes e vises pelas quais um mesmo assuntopode ser abordado.

    Sabe-se, pois, que um linkleva a outro, que, por sua vez, leva a outro formandouma grande conexo em cascata, que de to extensa pode ficar perdida no horizontecom risco de escapar ao alcance do olhar humano, gerando a iluso de vinculao sem-fim. Por esse motivo, acess-lo e explor-lo em toda a sua plenitude no tarefa fcil,passvel de realizao por qualquer um. O criador de tais hiperlinkssempre pressupe

    que o usurio detenha um certo conhecimento de navegao na rede, i.e., j possuaalguma experincia com leitura no-linear em pginas digitais.

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    A exemplo dos diticos discursivos que, segundo Marcuschi (1997:170), notrazem nada para os enunciados sob o ponto de vista proposicional, mas sim sob oponto de vista da qualidade do foco, os links diticos, alm de monitorarcognitivamente e lanar luz sobre o tpico, acrescentam informaes globais eadicionam dados gerais ao contedo em discusso, uma vez que ultrapassam o limite deum nico Hipertexto e conduzem a reflexo para muitos outros blocos discursivoshipertextualizados nos quais se refratam e para os quais se remetem.

    Em uma palavra, o linkditico transborda totalmente a discusso para alm de umHipertexto. Ele o instrumento virtual pelo qual se materializa o complexo processoque s feito abstratamente, mentalmente, que so as inmeras e inevitveisassociaes, vnculos e ligaes quase instantneas entre discursos e saberes afinsativados pelos leitores, quando lem hipertextual e enciclopedicamente.

    5.CONCLUSOEm sntese, poderamos dizer que, por no haver forma nica de relacionar os

    referentes no mundo real ou virtual, mas uma plasticidade discursivo-cognitiva que seamolda necessidade contextual, a referenciao digital conquista o seu lugar nouniverso virtual por apresentar-se como uma maneira fluida de fazer referenciao. Oque se nos apresenta como inovao neste modo digital de referenciar no Hipertexto ,certamente, a presena dos hiperlinks e a sua performance como elemento ditico-vetorial na constituio do sentido e na construo da coerncia no Hipertexto. Isto

    ocorre por duas razes: 1) devido sua natureza de dispositivo tcnico-informtico, quepermite efetivar geis deslocamentos de navegao on-line por cais de informaesnunca dantes aportados; 2) por sua capacidade de realizar referenciaes digitais co e

    pan-hipertextualmente (i.e., para dentro e para fora do website), as quais possibilitamilaes mentais e acessos virtuais instantneos do hiperleitor a Hipertextos outros comos quais mantm necessariamente laos cognitivos e retrico-argumentativos ou dequalquer outra ordem.

    ______________REFERNCIAS

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