modulo libras iii
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LIBRASTRANSCRIPT
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Universidade Federal de Santa Maria
Pr-Reitoria de Graduao
Centro de Educao
Curso de Graduao a Distncia de Educao Especial
1Edio, 2006
LIBRAS III6 Semestre
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S587 Silveira, Carolina Hessel Libras III : 6 semestre / [elaborao do contedo: profa. CarolinaHessel Silveira, Juliana Corra de Lima ; reviso pedaggica e de estilo:profa. Eliana da Costa Pereira de Menezes, profa. Cleidi Lovatto Pires].- 1.ed. - Santa Maria, Universidade Federal de Santa Maria, Pr-Reitoria deGraduao, Centro de Educao, Curso de Graduao a Distncia deEducao Especial, 2006.
p. : il. ; 30 cm.
1. Educao 2. Ensino 3. Educao especial 4. Surdos 5. Libras 6.Lngua brasileira de sinais I. Lima, Juliana Corra de II. Menezes, Eliana daCosta Pereira de III. Pires, Cleidi Lovatto IV. Universidade Federal de SantaMaria. Curso de Graduao a Distncia de Educao Especial
CDU: 376.33
Ficha catalogrfica elaborada porMaristela Eckhardt CRB-10/737Biblioteca Central - UFSM
Elaborao do ContedoProfa. Carolina Hessel SilveiraProfessora Pesquisadora (Conteudista)
Juliana Corra de LimaAcadmica Colaboradora
Desenvolvimentodas Normas de RedaoProfa. Ana Cludia Pavo SilukProfa. Luciana Pellin Mielniczuk (Cursode Comunicao Social | Jornalismo)Coordenao
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Projeto Grfico, Diagramaoe Produo Grfica(Curso de Desenho Industrial | Programao Visual)
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ImpressoGrfica e Editora Pallotti
* o texto produzido de inteira responsabilidade do(s) autor(es).
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Profa. Maria Alcione MunhzDiretora do Centro de Educao
Coordenao da Graduaoa Distncia em Educao Especial
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Profa. Vera Lcia MarostegaCoordenadora Pedaggica e de Oferta
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Coordenao Acadmica do Projeto doCurso de Licenciatura a Distncia deEducao Especial - Graduao - Oferta do1 ano - Projeto MEC/SEED-UFSM 02/2005
Prof. Jos Luiz Padilha DamilanoCoordenador
Profa. Maria Ins NaujorksCoordenadora/Gestora Financeira do Projeto
Joo Rafael Presa LeiteAssessor Tcnico
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Sumrio
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APRESENTAO DA DISCIPLINA
UNIDADE AREPRESENTAES DO SER SURDO
1. Identidade Surda
2. Comunidade Surda
3. Cultura Surda
4. A surdez como diferena poltica
5. A surdez como experincia visual
UNIDADE BGRAMTICA II
1. Tipos de frases na LIBRAS
2. Advrbios de tempo
3. Pronomes e expresses interrogativas
UNIDADE CCONTEXTUALIZANDO EM LIBRAS I
1. Narrativas em LIBRAS
UNIDADE DSINAIS BSICOS IV
1. Cidades
2. Estados Brasileiros
3. Pases
REFERNCIASReferncias Bibliogrficas
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5Apresentaoda Disciplina
Nesta disciplina, assim como nas demais, sero estudados
assuntos pertencentes ao seu respectivo programa, porm a
ementa referente a esta disciplina foi pensada e planejada
anteriormente reforma de contedos relacionados ao estudo da
Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Logo, aprenderemos, no da
maneira seqencial em que os cadernos se apresentam, como
por exemplo. Tipos de frases na LIBRAS que j foi trabalhada no
caderno LIBRAS II. Alguns contedos no esto em ordem, porm
foram colocado em outro caderno anterior e no prximo caderno.
Assim sendo, em nada ser alterado o contexto da disciplina,
apenas os contedos sero mais aperfeioados realidade.
Lembre-se de que a Libras uma lngua e, como todas as
outras, dinmica, sofrendo alteraes no decorrer do tempo e
espao e no prprio processo interativo. Nesta disciplina,
aprofundaremos o conhecimento sobre a Comunidade, a
Identidade e a Cultura Surda e tambm sobre o aprendizado de
LIBRAS, sendo capaz de realizar interaes comunicativas com a
Comunidade Surda. A disciplina abrange quatro unidades que
nos permitiro conhecer a LIBRAS. Na primeira unidade, iremos
conhecer a Identidade e a Comunidade Surda, a surdez como
diferena poltica e a surdez como experincia visual. Na segunda
unidade, trabalharemos a gramtica II: tipos de frases na LIBRAS;
pronomes e expresses interrogativas e advrbio de tempo. Na
terceira unidade, mostraremos o contexto em LIBRAS I: Narrativas
em LIBRAS. Em seguida, iremos conhecer sinais bsicos IV:
cidades, estados brasileiros e pases.
LIBRAS III6 Semestre
Esta disciplina ser desenvolvida com uma carga horria
de quarenta e cinco (45) horas/aula.
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6AlertaAlerta o leitor sobre algum assunto que estsendo tratado no momento.
Saiba Mais - RecomendaoIndica fontes externas e outras leituras,como livros, stios na internet, artigos, outrositens da prpria apostila, etc.
Contedos RelacionadosSugere ao aluno conhecer um ou maiscontedos especficos para melhorentendimento do contedo atual.
AtividadesAs atividades dizem respeito aos exercciosabordados no tpico anterior, podem seranalgicas ou digitais.
Veja o VdeoIndica que o aluno assista o vdeo.
Entenda os nossos cones!
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Objetivos da Unidade:
UN
IDA
DE
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REPRESENTAESDO SER SURDO
Aps o estudo do contedo e a realizao das
atividades propostas, esperamos que voc alcance
os seguintes objetivos:
- Conhea o cotidiano do ser surdo;
- Aprofunde as principais vises atuais sobre
representaes do ser surdo.
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Introduo
de extrema importncia conhecer as
representaes do ser surdo e como esta foi
se desenvolvendo para que se possa refletir
sobre ela. Iremos observar os grandes
elementos das representaes do ser surdo:
como a identidade surda, a comunidade surda,
a cultura surda, a surdez como diferena poltica,
a surdez como experincia visual.
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9U N I D A D E A
1 Identidade Surda
Figura A.1: : Professor surdo dando aulas para alunos surdos, a importncia da identificao entre professor surdo
e alunos surdos
Para falar sobre identidade surda, vamos
primeiro falar como os Estudos Culturais
pensam sobre as identidades.
Atualmente, se pensa que as identidades
no so fixas. As pessoas no tm s uma
identidade em toda vida e em todos os lugares.
Como diz Hall (1998, p. 46), as identidades
so "abertas, contraditrias, inacabadas,
fragmentadas".
Bauman (2005, p.19) afirma:
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Essa pesquisadora mostra como existe uma
relao entre a identidade surda, currculo e
pedagogia. Ela traz algumas perguntas, como:
Qual pedagogia se configura como referncia
para a aprendizagem dentro da comunidade
surda? (...) Como pode haver relaes entre
currculo e cultura para possibilitar o acesso
diferena? Perlin (2000)
Perlin traz algumas respostas para essas
perguntas e diz que j existe uma proposta nas
novas diretrizes do MEC. Ele fala em trs boas
A idia da identidade cultural nas comunidades surdasno se apresenta estvel. Ela ameaadaconstantemente pelo "outro". Este outro pode sereferir aos surdos que optaram pela representaoda identidade ouvinte. Esta poltica de representaogeralmente ter uma incidncia negativa.
Sempre h alguma coisa a explicar, desculpar,esconder ou, pelo contrrio, corajosamente ostentar,negociar, oferecer e barganhar. H diferenas aserem atenuadas ou desculpadas ou, pelo contrrio,ressaltadas e tornadas mais claras.As "identidades" flutuam no ar, algumas de nossaprpria escolha, mais outras infladas e lanadas pelaspessoas em nossa volta, e preciso estar em alertaconstante para defender as primeiras em relao sltimas.
condies para a escola produzir identidades
surdas e no identidades de deficientes
auditivos ou identidades ouvintistas. Essas
condies so (Perlin, 2000, p. 27): presena
do professor surdo na sala de aula de alunos
surdos, presena de professor ouvinte com
domnio de lngua de sinais e capacitado para
ensino de portugus como segunda lngua, e
contato do surdo com a cultura surda.
No mesmo fcil ter uma identidade surda
num mundo em que a maioria ouvinte. Nesse
sentido, Miranda (2001, p. 23) diz para a gente
pensar:
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U N I D A D E A
2 Comunidade Surda
As pessoas comentam que o grupo dos
surdos uma comunidade surda, mas este
termo o correto? Vemos que ultimamente o
grupo de surdos comeou a se nomear como
povo surdo. Em relao aos dois nomes -
comunidade e povo - preciso entender a
diferena. Na opinio de Bauman (2003, p.7),
comunidade um lugar confortvel e
aconchegante, que tem proteo e segurana.
Estas duas palavras so diferentes; assim, os
surdos participam na comunidade surda,
freqentam a associao de surdos, escolas,
igrejas, os pontos de encontro surdo (tipo de
bar, praa, shopping, etc.), onde h o prazer
entre surdos com a comunicao de LS; tm a
mesma identidade, mesma cultura, inclusive
piadas. Este um tipo de resistncia da
comunidade surda, assim como Bauman diz que
"tem proteo e segurana": a segunda casa
dos surdos. Porm os surdos moram com
famlias e a maioria das famlias dos surdos so
ouvintes, fazendo com que eles no tenham a
mesma comunicao com a famlia ouvinte. A
comunidade surda tambm abre fronteira aos
ouvintes que participam dela, como escolas de
surdos que tm intrpretes, professores
ouvintes e surdos; algumas famlias surdas tm
parentes ouvintes que vo associao, etc.
Segundo Padden e Humphries (1988, p.5),
Figura A.2: Encontro surdos para bate-sinais como a resistncia da Comunidade Surda
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Um exemplo a comunidade surda que
pode ter estudantes surdos mestrandos e
doutorandos, intrpretes, professores
surdos e ouvintes, usurios de LIBRAS, que
participam no Grupo de Estudos Surdos
O 'povo' surdo alegre. Talvez porque tenha havidomuito sofrimento em sua infncia. Eles tm prazerem se comunicar e se alegram sempre. Em umptio de recreao ou em um restaurante, um grupode surdos que falam algo incrivelmente vivo.Falamos, falamos, exprimimo-nos s vezes durantehoras. Como se tivssemos uma sede inesgotvelde dizer as coisas, das mais superficiais s maissrias. Os surdos teriam me chamado de 'Flor quechora', caso eu no tivesse tido acesso suacomunidade lingstica. A partir dos sete anos tornei-me falante e luminosa. A linguagem de sinais eraminha luz, meu sol, no pararia mais de me exprimir,aquilo saa, saa, como uma grande abertura emdireo luz. No conseguia mais parar de falarcom as pessoas. Tornei-me 'O sol que vem docorao'. Era um belo sinal.
uma comunidade surda um grupo de pessoasque vivem num determinado local, partilham osobjetivos comuns dos seus membros, e que pordiversos meios trabalham no sentido de alcanaremestes objetivos. Uma comunidade surda pode incluirpessoas que no so elas prprias Surdas, mas queapiam ativamente os objetivos da comunidade etrabalham em conjunto com as pessoas Surdas paraos alcanar.
As pessoas no nascem com as identidades
prontas, pois essas identidades so construdas
na sociedade. A mdia tambm produz
identidades - as pessoas querem andar na moda,
ter carro da moda, ser iguais aos artistas da
moda, etc. As escolas fazem parte importante
da sociedade e o currculo produz identidades.
Existem muitos lugares onde se produzem
identidades.
Um exemplo: "ser homem" e "ser mulher"
so identidades construdas. "Mulher no pode
fazer isso", "Homem no pode fazer aquilo"
(chorar, por exemplo), "menina usa cor-de-
rosa", "menino usa azul", etc. Aprende-se as
identidades com a famlia, com a escola e com
os grupos. Assim a identidade surda tambm
se aprende.
Perlin (2000, p. 25) fala da identidade surda
assim:
uma identidade que deve ser construda no interiordesta representao cultural e que se fortalece noseio da comunidade surda. (...) Sendo, apenas, umaspecto da identidade cultural, a identidade surdano se caracteriza como a totalidade da identidadeou subjetividade da pessoa.
(GES), na Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Isto muito importante
para resistncia das lutas polticas e
educacionais e que favorecem o povo
surdo.
Existem surdos com vrias identidades, como
surdo oralizado, surdo ndio, surda mulher, surdo
que vive na roa, surdo que vive no interior,
surdo que vive na capital, etc. Eles so do povo
surdo. Os surdos tm identidades diferentes,
mas tm uma coisa comum que a cultura
surda. Strobel (2006, p.6) define povo surdo
como o conjunto de sujeitos surdos que no
habita no mesmo local, mas que esto ligados
por uma origem, tais como a cultura surda,
usam lngua de sinais, tm costumes e
interesses semelhantes, histrias e tradies
comuns e qualquer outro lao compartilhado.
Na Comunidade Surda algumas pessoas
surdas participam, outras no. Nossa identidade
constri nossa comunidade e faz surgir o povo
surdo. Observe como a autora surda Laborit
escreveu (s/d, p. 75):
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U N I D A D E A
3 Cultura Surda
A cultura surda como viver nas fronteiras entre
dois mundos: um mundo visual e um mundo
Figura A.3: Cultura surda, exemplo, surdo escrevendo a mensagem no celular; televiso que tem closed caption e
legenda; televiso que tem janela que mostra interprete sinalizando ao traduzir; ao tocar campainha, piscar a luz que
tem pessoa tocando a campainha; beb chora, a luz piscar ao aviso aos pais surdos; uso Internet como Messenger
(MSN), usar webcam para bate-sinais, comum que surdos comunicam aos surdos de outros estados at outros
pases; TDD (Telecommunications Device for the Deaf), o telefone dos surdos comunicam ao digitar e ler a
escrita.
dos sons. Conforme afirma Bhabha (1998, p.
19) sobre viver em fronteiras:
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Os surdos sempre viveram uma vida na
fronteira entre o mundo surdo e o mundo dos
sons, s vezes nos "entre-lugares" negociando
sua cultura. Segundo Bhabha, sempre a cultura
dentro da fronteira precisa encontrar o "novo."
Ou seja: no passado, h histrias reprimidas,
mas que podem trazer aprendizagem, para no
futuro melhorar ou modificar a cultura surda.
Porm, existem alguns surdos que ficam
revoltados com o passado das suas histrias
reprimidas, por isso Bhabha fala que precisa
renovao do passado e, segundo Perlin (2003,
p. 224), Andar na fronteira equivale ao
hibridismo.
Como nasce a cultura surda? Wrigley (1996,
p. 45) afirma que "o trao significante que
define a cultura dos surdos o uso de uma
lngua de sinais". A lngua de sinais natural
dentro dos corpos surdos. Surdos tm a prpria
cultura diferente; pode-se pensar que a cultura
dos surdos a cultura de pessoas que
experienciam o mundo visualmente
independente de sons (Skliar; Quadros, 2000,
p. 43). uma cultura que construda pelos
surdos, no uma cultura adaptada dos
ouvintes. Como afirma Miranda (2001, p.20):
A comunidade surda constri uma cultura e produzidentidades em espaos geogrficos, no sentido deno nascerem dentro desses, mas em espaospossibilitados ou conquistados para que ocorra,intencionalmente ou no, a organizao e a produosurda.
A cultura surda autnoma. Ela coloca os
surdos no espao territorial diferente, simblico.
Nesse sentido, h uma inveno no lugar da
A experincia visual desde o ponto de vista fsico(os encontros, as festas, as estrias, as casas, osequipamentos...) at o ponto de vista mental (alngua, os sonhos, os pensamentos, as idias...).Como conseqncia possvel dizer que a cultura visual. As produes lingsticas, artsticas,cientficas e as relaes sociais so visuais.
Mas os ouvintes no entendem isso, porque
esto dentro de outra cultura. Conforme Perlin
(2004, p. 76) mostrou, "percebe-se que o
sujeito surdo est descentrado de uma cultura
e possui uma outra cultura. Percebe-se o surdo
sem seu deslocamento da cultura ouvinte ou
cultura universal e emergente na problemtica
da diferena cultural prpria".
Surdos podem se deslocar da cultura
ouvinte, como aqueles surdos que eram
oralizados anteriormente na cultura ouvinte,
descobrem que tm outros corpos iguais aos
surdos sinalizadores e comeam a se deslocar
para a cultura surda, atravessando a fronteira
sem barreira, sem "necessitar de documentos".
Existe a violncia contra a cultura surda at hoje,
como acontece em escolas inclusivas que Perlin
(2004, p. 79) descreveu na Histria:
A violncia contra a cultura surda foi marcada atravsda histria. Constatamos, na histria, eliminao vitaldos surdos, a proibio do uso de lngua de sinais,a ridicularizaro da lngua, a imposio do oralismo,a incluso do surdo entre os deficientes, a inclusodos surdos entre os ouvintes.
Nossa existncia hoje marcada por uma tenebrosasensao de sobrevivncia, de viver nas fronteirasdo "presente", para as quais no parece haver nomeprprio alm do atual e controvertido deslizamentodo prefixo "ps": ps-modernismo, ps-colonialismo,ps-feminismo...
cultura surda, pois segundo Perlin (2004, p.73);
Entrar no lugar da cultura surda requer
conhecimento da experincia do ser surdo/a
com toda a transformao que o acompanha.
Mas, como a cultura surda?
Na cultura surda, a parte visual importante
para toda a vida dos surdos. Skliar e Quadros
(2000, p. 49) explicam muito bem isso:
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U N I D A D E A
Lane (1992, p. 40) ainda fala sobre o que
mais importante para surdos como marca da
cultura dos surdos: a) a sua dignidade, ou seja,
no aceitar o que os mdicos dizem "que so
deficientes"; isto no prprio da cultura; b)
sua linguagem: os educadores no respeitam,
s reprimem a prpria lngua da cultura dos
surdos; c) sua histria surda: os ouvintes roubam
a histria prpria dos surdos e dentro no
currculo nunca ensinam a histria prpria dos
surdos; d) sua organizao social e costumes: A
maioria dos profissionais da medicina falam mal
dos costumes dos surdos, dizendo que so
bobagens e tm menor nvel do que os
costumes dos ouvintes, mas isso no verdade;
e) sua agenda poltica: os ouvintes continuam
diminuindo ou abaixando o poder dos lderes
surdos, no respeitam as opinies dos surdos e
at "empurram" os surdos para trs em suas
conquistas, s vezes.
Assim importante entender que a cultura
composta por prticas sociais sem
neutralidade. uma marcao de territrios, que
deve ser estabelecida politicamente pelos
prprios surdos. Perlin (2000, p.23) coloca que,
se a base da cultura surda no estiver presente
no currculo, dificilmente o sujeito surdo ir
percorrer a trajetria de sua nova ordem, que
ser oferecida com as representaes da prpria
cultura.
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4 A surdez como diferena poltica
Durante muitos anos, os surdos lutaram no
movimento de surdos querendo seu prprio
direito, que diferente do que pensam os
ouvintes. Significa lutar pelo surdo, no pelo
deficiente e nem pelo doente.
No sculo 19, alguns grupos de surdos
franceses, europeus e americanos (engenhei-
ros, filsofos, artistas e professores, todos
surdos), organizaram as reunies anuais
"Banquetes de Surdos" para comemorar o
aniversrio do nascimento de L`Epee.
Teve o primeiro banquete silencioso, que
ocorreu no dia 30 de novembro de 1834, em
comemorao aos 122 anos do nascimento do
L`Epee. Assim comeou a movimentao dos
surdos, foi criada uma associao de surdos em
Paris - Frana, chamada Sociedad Central de
Sordo-Mudos de Paris, fundado em 1934. A
influncia das associaes de surdos espalhada
no mundo at hoje, pois o local onde os surdos
se encontram no mesmo modelo e na mesma
lngua. Conforme Quadros (2004, s/p):
L'Epee: Padre eprofessor ouvinte quemostrou que os surdosso capazes, ensinou acomunicao, a leiturae a escrita, assimfundou a primeiraescola pblica desurdos. Veja o cadernode LIBRAS I.
Figura A.4: Movimento dos surdos quando lutam o que precisa como ser cidado
No Brasil, as associaes de surdos brasileiros foramsendo criadas e tornando-se espao de "bate-papo"e lazer em sinais para os surdos, enquanto as escolasespeciais "oralizavam" ou as escolas "integravam"as crianas surdas nas escolas regulares de ensino.
Durante anos, mais de 42% do professores
na escola para surdos eram Surdos (EUA e
Europa) e isso durou at 1879. Um dos mais
importantes professores surdos foi o francs
Laurent Clerc, convidado para lecionar nos
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1900 - Maior parte das escolas para surdos de todomundo j no utiliza mais a Lngua de Sinais porcausa da oralizao, gerando queda significativa nonvel de escolarizao dos Surdos (...), fazendocom que os Surdos buscassem no esporte suaforma de expresso mais genuna, no sentido devencer esse grande trauma lingstico, cognitivo ecomunitrio(...)
Houve uma exploso do movimento, foi um
momento emocionante e de exemplo para o
mundo dos surdos.
No dia 8 de maro de 1988 (1 semana de
movimento), houve greve na University
Gallaudet para exigir uma pessoa surda na
direo, no ao ouvinte. Surdos divulgaram
muitas campanhas, cartazes, papis, etc.,
mostrando a escrita: "Greve no Gallaudet",
"Surdos em greve pelos Surdos", "Estudantes
exigem reitor surdo", etc. Conforme Sacks
(1998, p. 145)
Um comit do corpo diretivo escolheu entre
trs finalistas (uma ouvinte e dois surdos) a
candidata ouvinte Elizabeth Ann Zinser. No dia
seguinte, houve um movimento de mil
estudantes surdos, que saram em passeata,
marchando seis quarteires at a Casa Branca
e, em seguida at o Capitlio. Aps alguns dias,
o movimento aumentou para 3 mil surdos nos
EUA, entre famlia, atores surdos, no-
estudantes, trabalhadores, etc. Finalmente
trocaram a direo e atualmente Gallaudet tem
em sua direo um surdo que King Jordan.
Houve outro grande movimento em Porto
Alegre - RS. No dia 21 a 24 de abril de 1999,
aconteceu o V Congresso Latino Americano de
Educao Bilinge para Surdos na Universidade
Federal de Rio Grande do Sul (UFRGS).
Tambm o Pr-Congresso ao V Congresso de
Educao Bilinge para Surdos nos dias 20 a
21 de abril de 1999. Mais de mil pessoas
assistiram s palestras, discusses, etc. para fazer
uma mudana da educao de surdos nos anos
2000. Um dia, houve uma mobilizao dos
surdos na rua, como pode-se observar abaixo,
na notcia do jornal Correio do Povo - Porto
Alegre - RS no dia 24 de abril de 1999, sobre
governador Olvio Dutra que colocou luvas
brancas nas mos deles. O documento sobre a
situao na educao de surdos foi entregue
pelos surdos ao governador Olvio Dutra.
Estados Unidos, fundou a escola pblica para
surdos em 1816. Mais tarde (1864) escola
Gallaudet, logo transformada na primeira
faculdade para surdos e atualmente Gallaudet
University, em Washington.
Em 1880, foi realizado o Congresso de
Milo, no qual o mtodo oral foi adotado nas
escolas de surdos, proibindo assim o uso da
lngua de sinais. Neste caso, os professores
surdos foram demitidos. Ferreira (2000, p. 29)
declarou:
Vejo uma moa fazendo sinais para seu cachorro;este, obediente, deita, rola, d a pata. O prpriocachorro veste um pano branco com os dizeres, decada lado: ENTENDO A LNGUA DE SINAIS MELHORDO QUE SPILMAN. (A presidente do corpo diretivodo Gallaudet ocupou o cargo por sete anos semaprender praticamente nada da lngua de sinais).
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Figura A.5: Jornal Correio do Povo, 24 de abril de 1999
Aqui em Santa Maria, h uma associao de
surdos, chamada ASSOCIAO DOS SURDOS
DE SANTA MARIA (ASSM), fundada em 13 de
julho de 1985, localizada na Av. Oliveira
Mesquita, 84, no bairro Salgado Filho. Os surdos
participam da associao como uma casa, onde
encontram outros surdos para bater-mos
praticar esportes, jogar, etc. Antigamente quando
no havia esse local, no tinham um ponto fixo
de encontro de surdos para bater-mos, etc.
Atualmente, em Santa Maria, existe uma
escola de surdos, a Escola Estadual de
Educao Especial Dr. Reinaldo Fernando
Coser. Esta escola de surdos tem alguns
professores surdos dando aula, isto muito
mais importante, pois traz a referncia e a
identificao. Observamos que h uma
crescente evoluo dos surdos e que
continua cada vez mais em garantia dos
plenos direitos como cidados.
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U N I D A D E A
Ronice Mller deQuadros: que acoordenadora geralresponsvel do cursoLETRAS/LIBRAS naUFSC, professora epesquisadora da UFSC.Gacha, filha de paissurdos e fez vrioslivros sobre Lingisticae Educao de Surdos.Veja mais no site http://www.ronice.ced.ufsc.br/index.htm
Agora h o decreto n 5.626, de 22 de
dezembro de 2005, que obriga o ensino de
LIBRAS nos cursos de licenciatura. Tambm
sabemos que foi lanado o curso de graduao
a distncia em LETRAS/LIBRAS na Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) com nove
plos nas universidades federais em alguns
estados do Brasil. Entre eles est a UFSM
(Universidade Federal de Santa Maria), em
Santa Maria, RS, que possui 55 alunos surdos.
Observe que o decreto n 5.626, de 22 de
dezembro de 2005, inclui a lei de LIBRAS -
Lngua Brasileira de Sinais, n 10.436 de 24
de abril de 2002, reconhecida como a
comunicao e expresso de surdos brasileiros.
Se no fosse o movimento, a luta dos surdos
possvel que no houvesse a lei.
surdo o sujeito que aprende o mundo por meiode experincias visuais e tem o direito e apossibilidade de apropriar-se da lngua brasileira de
Porm, muitas pessoas desconhecem o que
um surdo, pensa que uma deficincia, uma
pessoa incapaz, um coitado que precisa ser
normalizado, etc. preciso um maior respeito
ao surdo, no podemos normalizar, temos que
aceit-lo. O maior problema a discriminao,
o que inaceitvel para os surdos.
Perlin e Miranda (2003, p. 218) explicam
o que ser surdo:
Se vocs nos perguntarem aqui: o que ser surdo?Temos uma resposta: ser surdo uma questo devida. No se trata de uma deficincia, mas de umaexperincia visual. Experincia visual significa autilizao da viso, (em substituio total a audio),como meio de comunicao. Desta experinciavisual surge a cultura surda representada pela lnguade sinais, pelo modo diferente de ser, de seexpressar, de conhecer o mundo, de entrar nasartes, no conhecimento cientfico e acadmico. Acultura surda comporta a l ngua de sinais, anecessidade do interprete, de tecnologia de leitura.
sinais e lngua portuguesa, de modo a propiciar seupleno desenvolvimento e garantir o trnsito emdiferentes contextos sociais e culturais.
-
C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
20
5 A surdez como experincia visual
No aprendizado, a percepo visual o
ponto mais importante dos surdos. Geralmente
a educao clnica trabalha com o treinamento
de ouvir, focaliza a audio dos surdos. Isso
perda de tempo, simplesmente o uso da
experincia visual. Ser surdo no quer somente
dizer no ouvir, existem outros sentidos, o ser
Surdo uma pessoa com uso de Lngua de
Sinais, que tem identidade prpria, cultura, etc.
Os surdos tm experincia visual e adquirem
uma lngua visual-espacial, identificam-se como
surdos, assim como os ouvintes tm experincia
oral-auditiva. Conforme Quadros (2004, p.4),
Figura A.6: Como os surdos desenvolvem ao aquisio, cognio, aprendizado, etc. usar a visual, quer mostrar a
experincia visual. Este desenho que mostrar uma crnea, quando v a imagem ou paisagem, que atravessar ao
caminho para crebro.
surdo o sujeito que aprende o mundo por meiode experincias visuais e tem o direito e apossibilidade de apropriar-se da lngua brasileira desinais e lngua portuguesa, de modo a propiciar seupleno desenvolvimento e garantir o trnsito emdiferentes contextos sociais e culturais.
Porm, muitas pessoas desconhecem o que
um surdo, pensa que uma deficincia, uma
pessoa incapaz, um coitado que precisa ser
normalizado, etc. preciso um maior respeito
ao surdo, no podemos normalizar, temos que
aceit-lo. O maior problema a discriminao,
o que inaceitvel para os surdos.
Perlin e Miranda (2003, p. 218) explicam
o que ser surdo:
Se vocs nos perguntarem aqui: o que ser surdo?Temos uma resposta: ser surdo uma questo devida. No se trata de uma deficincia, mas de umaexperincia visual. Experincia visual significa autilizao da viso, (em substituio total a audio),como meio de comunicao. Desta experinciavisual surge a cultura surda representada pela lnguade sinais, pelo modo diferente de ser, de seexpressar, de conhecer o mundo, de entrar nasartes, no conhecimento cientfico e acadmico. Acultura surda comporta a l ngua de sinais, anecessidade do interprete, de tecnologia de leitura.
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21
U N I D A D E A
Por isso ser surdo uma diferena humana,
no doena ou deficincia como mdicos,
fonoaudilogos e outros clnicos costumam falar.
A Lngua de Sinais uma lngua de
modalidade gestual-visual, tendo sua estrutura
diferenciada da estrutura do portugus, que tem
por base o campo oral-auditivo. Os sinais so
formados a partir da combinao da forma e
do movimento das mos e do ponto no corpo
ou no espao em que esses sinais so feitos.
Assim, como as lnguas orais, a LIBRAS possui
sua estrutura gramatical prpria, contemplando
todos os requisitos para a sua oficializao como
lngua.
Aps a aquisio da linguagem, a lngua de
sinais ajuda os surdos desenvolvem a escrita
de portugus e leitura. Existem filhos surdos
de pais surdos que escrevem melhor do que
filhos surdos dos pais ouvintes. Conforme
Quadros (1997, p. 26), "em alguns surdos que
tiveram oportunidade de desenvolver a lngua
de sinais desde a mais tenra idade (por serem
filhos de pais surdos), percebeu-se a qualidade
das produes escritas e de suas leituras
superior produo e compreenso de muitos
alunos surdos que no tm acesso lngua de
sinais precocemente".
Leia o texto destacado abaixo:
Como so os surdos? Para responder esta
pergunta, foram feitos pelo menos trs
estudos. Pode-se refletir-se em primeiro
lugar sobre a identidade dos surdos; eles
pertencem uma categoria e esta tem
atributos que constituem uma parte da
nossa cultura popular, como conseqncia
do tratamento do surdo na literatura e nos
meios de comunicao. Em segundo lugar,
tentemos dar um salto do mundo ouvinte
e tentar imaginar como seria o nosso
mundo se fossemos surdos. A maior parte
das pessoas ouvintes se for levada a pensar
nos surdos, do de imediato o salto do seu
mundo para o mundo dos surdos, visto no
terem mais nada em que se basear. Estas
pessoas nunca leram nada sobre a
linguagem e cultura dos surdos, por isso,
esta passagem imaginria do mundo ouvinte
para o mundo surdo o nico meio a que
podem recorrer para tentarem obter um
conhecimento mais real. Se por acaso
conhecermos algum que seja surdo, est
aberto um terceiro caminho para a
compreenso da surdez, que baseada nas
caractersticas dessa determinada pessoa,
por exemplo: .
Normalmente, todos estes estudos levam
as pessoas ouvintes ao mesmo ponto de
partida respeitante s representaes dos
surdos: a surdez no um privilgio.
Na sociedade ouvinte, a surdez
estigmatizada; o socilogo, Erving Goofman
distingue trs tipo de estigma: fsico,
psicolgico e social. ,
REPRESENTAES DO SURDO
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C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
22
explica. > Qualquer desvio
susceptvel de impor um estigma e ns
temos tendncia a atribuir muitos estigmas
quando encontramos apenas algum. Todas
estas trs categorias de estigmas so
atribudas aos surdos os quais fisicamente
so considerados deficientes, facto este que
faz com que surjam algumas caractersticas
indesejveis da sua personalidade, tais
como: raciocnios confusos e
comportamentos impulsivos. Os ouvintes
podem tambm considerar os surdos como
indivduos pertencentes a uma comunidade
especfica, chegam mesmo a consider-los
um mundo parte, indesejvel, causando-
lhes desse modo distrbios sociais, como
aqueles presentes na lista de Goffman:
prostitutas, toxicodependentes,
delinqente, criminosos, msico de jazz,
bomios, ciganos, artistas de rua,
vagabundos, gente de espetculos,
jogadores, , homossexuais e
os pobres que sobrevivem nas cidades sem
vontade de trabalhar. Mas mesmo que a
comunidade dos surdos americanos fosse
conhecida pelo que uma minoria
lingstica e cultural com uma rica e nica
herana, estaria ainda sujeita a um estigma
tribal, tal como acontece com a
comunidade hispano-americana.
O estigma relativo. Na comunidade dos
surdos, ser-se surdo no mudo , como j
vimos inaceitvel. Ser-se surdo no mudo
significa que este faz ms opes de vida,
que adoptou indiscriminadamente valores
fora do comum que privilegiam a fala. As
pessoas ouvintes no conseguem ver o que
est errado com os surdos no mudos; a
articulao privilegiada na sociedade
americana, enquanto a gesticulao j no
o .
No esteretipo do ouvinte, a surdez
representa a falta e no a presena de algo.
O silencio sinnimo de vcuo. De acordo
com Padden e Humphries, a comunidade
dos surdos reconhece que o
. Por
isso a revista publicada pela National
Association of the Deaf (NAD) foi intitulada
durante muito tempo por The Silent
Worker. Mas, para o ouvinte,
representa o lado obscuro
do surdo. Quem surdo no pode ter a
mesma orientao e segurana no seu
ambiente que ns temos no nosso; com
certeza, que no podem apreciar msica,
dizemos a ns prprios; nem participarem
numa conversa, ouvir anncios ou utilizar
o telefone. A pessoa surda anda toa,
parece que est numa redoma; existe uma
barreira entre ns, por isso o surdo est
isolado. Gerasin, personagem de Ivan
Turgenev, por exemplo, foi , tal como foi o protagonista
-
23
U N I D A D E A
surdo de Carson McCulters em The Heart
is a Lonly Hunter.
O surdo, na realidade, no consegue
comunicar na linguagem do ouvinte; para
ele o simples facto de tentar como se
envolvesse num dialogue ds sourdes - um
dilogo surdo significa a no compreenso
mutua. O ouvinte muitas vezes, em
sentido figurado, chamado surdo, quando
se recusa a ouvir, principalmente, os
conselhos morais. Se os grandes progressos
em ingls esto associados a uma mente
instruda, um discurso simples, pouco
cuidado, assim como a gesticulao esto
associados a uma mente simples. Porque a
linguagem e a inteligncia esto muito
interligadas, quando tentamos classificar
uma pessoa (ficamos surpreendidos ao ouvir
uma inteligncia superior manifesta - a no
ser que tal acontea de livre vontade - numa
linguagem lenta, arrastada ou em frases
gramaticalmente incorrectas), a surdes surge
como uma deficincia do intelecto. O
do surge
no s para fazer referncia mudez, como
tambm fraqueza da mente. O casal surdo
em In This Sign, de Joanne Greenberg,
ignorante mesmo em assuntos respeitantes
ao nascimento de uma criana.
Paradoxalmente, a surdez pode parecer
digna: a to simplicidade da mente e a
inocncia de uma criana revelam uma
alma pura, sem os artifcios da civilizao.
Sophy de Dicken parece que veio do
paraso; Gargan de Maupassant no
consegue falar, um pastor ignorante, mas
forte, honesto e ntegro na sua misria.
De facto, imaginamos dois tipos de
surdez, estando nas nossas mentes o tipo
mais freqente associado a empregos de
nvel inferior ou mesmo a pobreza. O casal
surdo de The Key, de Eudora Welty pobre
ingnuo, > e tem o
comportamento de uma criana. Uma
pessoa surda pode vender cartas gravadas
com o alfabeto dos surdos excepcional que
consegue falar e ler os lbios, que como
todos ns, excepo de uma ligeira
diferena. (Que alivio!). Este no vende
cartas nem faz trabalhos manuais, no
pobre, nem pertence classe mdia na
nossa imaginao, mas distinto e elegante.
Henry Kisor, o editor de Sun-Times, em
Chicago, confirmou esta boa imagem do
surdo na sua autobiografia, em 1990,
Whats That Pig Outdoors. (O ttulo foi
escolhido para ilustrar os riscos da leitura
dos lbios).
A nossa sociedade suficientemente
rica e instruda para que estejamos
preparados para conviver com marginais, os
quais defendem as nossas normas, mas que
por razes para alm de seu controlo, no
conseguem viver com elas. Marlee Matlin,
a actriz surda, conquistou a admirao de
muitas pessoas ouvintes quando optou por
comunicar oralmente na televiso nacional
e no ter recorrido a um intrprete ao
receber o Oscar pelo seu papel de surda
culta no filme Filhos de um Deus Menor.
No entanto, pelo mesmo acto, foi alvo de
muitos criticismos por parte de alguns outros
membros da comunidade dos surdos
americanos. Para eles, naquelas poucas
-
24
C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
palavras hesitantes, ela renegou os
princpios da histria que to
brilhantemente tinha representado.
Simbolicamente, ela optou por no receber
o prmio como um membro da comunidade
dos surdos e, pareceu mesmo defender a
idia de que o recurso a quaisquer palavras
em ingls mais vantajoso para os surdos
do que a mais eloqente American Sign
Language.
Fonte: LANE, Harlan. A Mscara daA Mscara daA Mscara daA Mscara daA Mscara da
Benevo lnc iaBenevo lnc iaBenevo lnc iaBenevo lnc iaBenevo lnc ia: a comunidade surda
amordaada. Lisboa: Instituto Piaget, 1992.
1. Faa uma relao do texto lido com o
contedo da unidade.
2. Na sua opinio os surdos so vistos como
pessoas a parte, sozinhas? Por-qu?
3. Como os surdos so vistos na sua cidade?
4. Existe, em sua cidade, exemplos de
respeito cultura e comunidade surda? Cite
algum.
5. D sua opinio sobre o fato de a atriz
Marlee Matlin no necessitar de intrprete
no Oscar
Disponibilize a atividade no ambiente virtual
conforme orientaes do professor da
disciplina.
Atividade FinalAtividade FinalAtividade FinalAtividade Final
Atriz Marlee Matlin,vencedora do oscar1987, melhor atriz, quefez o filme FILHOS DOSILNCIO, diretorRanda Haines, EUA,1986. Ela surda, americana, fez vriosfilmes, na sua maioriacomo surda.
-
Objetivos da Unidade:
UN
IDA
DE
25
GRAMTICA II
Aps o estudo do contedo e a realizao das
atividades propostas, esperamos que voc alcance
os seguintes objetivos:
- aprofunde a gramtica da lngua de Sinais;
- identifique os tipos de frases na LIBRAS, pronomes
e expresses interrogativas e advrbio de tempo.
-
C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
26
Introduo
Nessa unidade, conheceremos mais
profundamente a gramtica da Lngua de Sinais
e sua importncia.
-
27
U N I D A D E B
Tipos de frasesna LIBRAS
1
Revise o caderno LIBRAS II em constam frases
em LIBRAS.
Figura B.1: Observe o desenho que o menino faz a expresso diferente cada pergunta ou conversa
-
C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
28
Na LIBRAS, no h marca de tempo nas formas
verbais. como se os verbos ficassem na frase
quase sempre no infinitivo, geralmente os
advrbios vm no comeo da frase como por
exemplo:
Advrbios de tempo2
Figura B.2
Observe o desenho que mostrar o turno
como manh, tarde, noite e madrugada.
Advrbios de tempo
HOJE e AGORA que d idia de presente:
HOJE o tempo est lindo!
ONTEM, ANTEONTEM que d idia de
passado: ONTEM eu cheguei em casa s 21h.
AMANH que d idia de futuro: AMANH
vai fazer muito calor aqui em Santa Maria.
-
29
U N I D A D E B
Pronomes e expressesinterrogativas
3
3.1QUAL, COMO,PARA QUE e PORQUE
Na LIBRAS, os pronomes QUAL, COMO e PARA
QUE tendem a ser utilizados no final da frase
e o POR QUE no inicio da frase.
preciso saber que a diferena entre o "por
que" interrogativo e o "porque" explicativo est
no contexto e nas expresses facial e corporal
Exemplos:
- QUAL?
a.CAMISETA MAIS BONIT@. ROSA OU
VERDE, QUAL?
MAIS BONIT@ ROSA URSO BONITO
(expresso facial infantil)
b. VOC LER LIVRO? QUAL NOME?
NOME "A MSCARA DA BENEVOLENCIA"
- COMO?
a. VOC IR ESCOLA AMANH COMO?
EU IR A ESCOLA DE NIBUS, VAMOS
JUNTOS?
b. EL@ COMPRAR CARRO? COMO
DINHEIRO?
EL@ PEDIR DINHEIRO EMPRESTADO
- PARA QUE?
a. PRA QUE COMPRAR ROUPA?
AMANH TEM FESTA NA CASA DA MNICA.
a. PRA-QUE ROUPA CHIQUE?
EU GOSTAR.
POR QUE?
a. POR QUE FALTAR SEGUNDA-FEIRA
PASSADA NA ESCOLA?
POR-QUE EU IR NO MDICO.
3.2QUANDO, DIA, QUE-HORA,QUANTAS-HORAS
- QUANDO e DIA
A expresso facial simultaneamente indica
que os pronomes esto na forma interrogativa.
O QUANDO, em uma resposta est relacionado
a um advrbio de tempo. Assim h trs sinais
diferentes especificando passado, futuro ou dia.
Exemplos:
- QUANDO-PASSADO (interrogativo)
a. EL@ FAZER COMPRAS DA PASSAGEM
QUANDO-PASSADO?
ONTEM, MS PASSADO, ANO-PASSADO,
etc.
-
C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
30
- QUANDO-FUTURO ou DIA
a. EL@ IR NA ESCOLA QUANDO-FUTURO?
AMANH, PRXIMO MS, DOMINGO, etc;
DIA
a. EU CONVIDAR VOC ESTUDAR COMIGO.
VOC PODER DIA?
TERA-FEIRA QUE-VEM, EU PODER.
Que-horas e Quantas-horas
Na LIBRAS, a expresso QUE HORAS? Est
relacionada com tempo cronolgico e usa-se a
mesma configurao dos numerais para
quantidade. Depois do meio-dia, conta-se
novamente as horas, pois pelo contexto j se
sabe a que turno do dia se est referindo, mas
se for necessrio especificar, acrescenta-se o
sinal de TARDE aps a hora, exemplo:
QUE-HORAS
- AULA COMEAR QUE-HORA ?
- VOC IR NO MDICO QUE-HORA?
Figura B.3: Relgio que mostrar QUE-HORAS; a viagem de carro que mostrar QUANTAS-HORAS
- SEU NIBUS VEM QUE-HORA?
- O FILME COMEA QUE-HORA?
A expresso interrogativa QUANTAS-HORAS
est sempre relacionada ao tempo gastou para
se realizar alguma atividade ou acontecer alguma
coisa, exemplos:
QUANTA-HORA
VIAJAR DE CARRO QUANTA-HORA?
ESTUDAR ESCOLA QUANTA-HORA?
-
31
U N I D A D E B
Expresses idiomticasrelacionadas ao ano sideral
Na LIBRAS, a palavra DIA tem dois sinais: um
relacionado ao dia do ms e outro para durao
(todo dia).
Exemplos:
DIA ONTEM?
ONTEM DIA 27
VIAJAR MARANHO AVIO 3 DIA
"Eu viajei 3 dias de avio para o Maranho"
Pode ser incorporado aos sinais DIA
(durao) os numerais de 1 a 4, a partir do
nmero 5 forma o sinal seguido do numeral.
exemplos:
1 DIA, 2 DIA
2 SEMANA, 3 SEMANA
VEZ-1, VEZ-2, VEZ-3, MUIT@-VEZES
DIA 20, SEMANA 8, ANO 6
Tambm pode ser incorporado aos sinais DIA
(durao) a freqncia ou a durao atravs
de movimentos repetidos ou prolongados.
Comparativo de igualdade,superioridade e inferioridade
NA LIBRAS, h trs situaes pra ser comparada
uma qualidade: superioridade, inferioridade
para isso so usados os sinais MAIS antes do
adjetivo comparado, seguido da conjuno
comparativa DO-QUE, exemplo:
X MAIS ------- DO-QUE Y;
X MENOS ---- DO-QUE Y.
E tambm o de igualdade que pode ser
utilizado como: IGUAL (dedos indicadores e
mdios das duas mos roando um no outro) e
IGUAL (duas mos em B, viradas para frente
encostadas lado a lado), geralmente no final
da frase. Exemplos:
a. VOC MAIS BONIT@ DO-QUE EL@
b. VOC 2 IDADE IGUAL
3.3
Exemplos:
TODOS-OS-DIAS - movimento repetido;
DIA-INTEIRO "o dia todo" - movimento
alongado;
-
32
-
Objetivos da Unidade:
UN
IDA
DE
33
CONTEXTUALIZANDOEM LIBRAS I
Aps o estudo do contedo e a realizao das
atividades propostas, esperamos que voc alcance
os seguintes objetivos:
- sinalize as narrativas em LIBRAS e entenda o que
professor sinalizou aps observar o vdeo;
- saiba qual a diferena dos sinais da pessoas,
coisas e animais;
- conhea os sinais de locais.
-
C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
34
Introduo
Nessa unidade, iremos aprofundar a
contextualizao em LIBRAS III, existe alguns
sinais iguais, mas que dependendo do contexto
tem outro sentido, quer. Por exemplo, o sinal
Figura C.1
de "laranja" e "sbado" so iguais, mas o
contexto diferente, observe (estrutura em
LIBRAS): "eu adoro comer laranja"; "combinar
festa sbado?"; "vestido laranja horrvel".
Pessoa Coisa Animal
-
35
U N I D A D E C
Figura C.2
Locais
-
36
C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
Narrativas em LIBRAS1
Observe que o professor sinalizar, ao narrar
em LIBRAS, alguma histria.
Soletrao
Visualize a soletrao e anote os nomes:
1. 6.
2. 7.
3. 8.
4. 9.
5. 10.
No vdeo, h uma figura para cada pergunta.
Aps, a professora sinalizar os locais.
Observe o vdeo e marque a alternativa
correta. Envie atravs do ambiente virtual
conforme orientaes do professor da
disciplina.
Acerte qual o sinal do local, colocando a,
b ou c.
1. Qual o sinal do local?
_______________________________
2. Qual o sinal do local?
__________________________________
3. Qual o sinal do local ?
_________________________________
4. Qual o sinal do local ?
_________________________________
Atividade FinalAtividade FinalAtividade FinalAtividade Final
-
Objetivos da Unidade:
UN
IDA
DE
37
SINAIS BSICOS IV
Aps o estudo do contedo e a realizao das
atividades propostas, esperamos que voc alcance o
seguinte objetivo:
- conhea os sinais de cidades, estados brasileiros e
pases.
-
C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
38
Introduo
Nessa unidade iremos conhecer os sinais de
cidades, estados brasileiros e pases. Para os
lugares que no tm sinal, preciso soletrar no
alfabeto dactilolgico. Existe vrios exemplos,
que explicaremos no decorrer da unidade. H
cidades distantes, que ns surdos no temos
contato, e no sabemos se h escola de surdos
ou associao. O melhor quando se conhece
uma cidade, a perguntamos para o lder surdo
dessa cidade sobre os sinais corretos usados
por aquela comunidade e aproveitamos para
us-los. Muitas vezes no sabemos os sinais
utilizados em alguns pases, por isso tambm
comum que alguns surdos viajem para outros
pases, a passeio ou para Congressos e trazem
os sinais originais destes outros pases para o
Brasil, e assim se espalha estes sinais originais.
-
39
U N I D A D E D
Cidades1
Figura D.1
-
C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
40
Estados Brasileiros2
Figura D.2
-
41
U N I D A D E D
Pases3
Figura D.3
-
C U R S O D E E D U C A O E S P E C I A L | U F S M
42
No vdeo, aparece uma figura para cada
pergunta. A professora sinalizar os lugares
como cidades, estados, pases. Observe o
vdeo e marque a alternativa correta. Aps
envie atravs do ambiente virtual conforme
orientaes do professor da disciplina.
Acerte qual o sinal do local, colocando a,
b ou c.
1. Qual o sinal do lugar?
________________________________
2. Qual o sinal do lugar?
________________________________
3. Qual o sinal do lugar ?
________________________________
4. Qual o sinal do lugar ?
________________________________
5. Qual o sinal do lugar ?
________________________________
6. Qual o sinal do lugar ?
________________________________
Atividade FinalAtividade FinalAtividade FinalAtividade Final
Aps isso, sugiro quevoc assista ao vdeo"Literatura em LSB"com Nelson Pimenta, apoesia "Bandeira doBrasil".
-
43
R E F E R N C I A S
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