inês ribeiro contribuição para a avaliação da dieta do margarido … · 2018. 10. 3. ·...
TRANSCRIPT
Universidade de Aveiro
2015
Departamento de Biologia
Inês Ribeiro Margarido
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa continental portuguesa
Declaração
Declaro que este relatório é integralmente da minha autoria, estando devidamente
referenciadas as fontes e obras consultadas, bem como identificadas de modo claro as
citações dessas obras. Não contém, por isso, qualquer tipo de plágio quer de textos
publicados, qualquer que seja o meio dessa publicação, incluindo meios eletrónicos, quer de
trabalhos académicos.
Universidade de Aveiro
2015
Departamento de Biologia
Inês Ribeiro Margarido
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa continental portuguesa
Tese apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Biologia Marinha, realizada sob a orientação científica da Doutora Catarina Isabel Costa Simões Eira, Investigadora no CESAM & Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e co-orientação científica da Doutora Ana Luísa Barreto Marçalo, Pos-doc no CESAM & Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro.
Parcialmente apoiado por:
Projeto LIFE+ MarPro (NAT/PT/00038) co-finaciado pela União Europeia e pela Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem.
Projecto CetSenti RECI/AAG-GLO/0470/2012 (FCOMP-01-0124-FEDER-027472), FCT/MCTES (PIDDAC) e FEDER - COMPETE (POFC).
vii
Dedico este trabalho à minha família, nomeadamente aos meus pais, aos meus irmãos e aos meus animais de estimação.
viii
ix
o júri
presidente Prof. Doutor Fernando Manuel Raposo Morgado Professor associado c/ agregação, Universidade de Aveiro
Doutora Catarina Isabel Costa Simões Eira Equiparada a Investigadora Auxiliar, Universidade de Aveiro
Doutor Alfredo López Fernández Investigador de Pós Doutoramento, Cesam – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar
x
xi
agradecimentos
Quero agradecer a todos os que me apoiaram durante estes meses, que me deram ânimo para seguir em frente nos momentos mais difíceis: aos meus pais, que sempre estiveram por perto, me apoiaram incondicionalmente e que me proporcionaram condições para seguir o meu sonho e concretizar mais uma etapa da minha vida. Sem eles não teria conseguido. À minha família (irmãos, avós, tios e primos), pela paciência e momentos de descontração que me proporcionavam. Aos meus amigos de quatro patas, que sempre estiveram presentes e me ajudaram só pela sua presença. Aos meus amigos de coração, que muitas vezes não puderam estar presentes fisicamente, mas que sempre lá estiveram à distância de um telefonema: Beta Magalhães, Rita Vaz, Andreia Pereira, Mónica Gomes, Sandra Mortágua, Bruno Martins. À Dona Caína e ao Senhor Virgílio, assim como toda a sua família, que me acolheram na sua casa e na sua família e por todo o carinho, apoio e por me terem considerado como mais uma neta. Gostaria de agradecer também à Doutora Catarina Eira, pela oportunidade que me deu para desenvolver este trabalho e pela orientação que me deu ao longo destes meses e à Doutora Ana Marçalo pela disponibilidade nas revisões do presente trabalho. À Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem por me ter disponibilizado os conteúdos estomacais que analisei. Agradeço a toda a equipa do CRAM-Q, por me ter acolhido e contribuído para o meu conhecimento nesta área. Aprendi muito! Um agradecimento também à Doutora Sílvia Monteiro, pela ajuda e paciência no trabalho laboratorial, assim como à Andreia Pereira, à Rita Vaz e à Marisa Ferreira. Também à Lídia Nicolau e à Sara Sá, pela ajuda na revisão deste documento, pela paciência, dedicação e amizade. À Sara Mendes, pela ajuda, apoio e conselhos naqueles momentos menos bons, e por todas as brincadeiras e bons momentos que passámos. Às minhas companheiras de passeio, que me proporcionaram momentos ótimos de descontração de fim de tarde. Um muito Obrigada a todos!
xii
xiii
palavras-chave
Delphinus delphis, Golfinho-comum, Dieta, Ecologia alimentar, Costa continental portuguesa.
resumo
O golfinho-comum (Delphinus delphis) é uma das espécies de cetáceos mais abundantes e mais amplamente distribuídas em todo o planeta, sendo a espécie mais abundante ao longo da costa continental portuguesa. Algumas das suas principais presas apresentam um elevado interesse comercial estando por isso, muitas vezes, associado a capturas acidentais em artes de pesca. Contudo, estudos mais recentes sobre os hábitos alimentares desta espécie na costa portuguesa são escassos. Assim, este estudo visa contribuir para a avaliação da ecologia alimentar deste cetáceo na costa portuguesa através de índices de importância numérica, ocorrência e do peso estimado, permitindo descrever a dieta não só em termos qualitativos, mas também em termos quantitativos. Foram examinados os conteúdos estomacais de 55 golfinhos-comuns arrojados na costa continental portuguesa (norte e centro) entre 2004 e 2015. De um total de 6699 presas identificadas, 66% pertenciam à classe dos peixes, 32% eram cefalópodes e 3% eram crustáceos. As espécies-presa de peixes mais importantes em termos de importância numérica foram os góbios (Gobiidae) e o carapau (Trachurus sp.). Em relação à ocorrência foram o góbio (Gobiidae) e a sardinha (Sardina pilchardus), seguidas de carapau, as espécies predominantes. Relativamente ao peso, a sardinha foi a espécie-presa predominante, seguida de faneca (Trisopterus luscus) e carapau. Quanto aos cefalópodes, a lula-bicuda (Alloteuthis sp.) foi a espécie mais importante, tanto em termos de importância numérica como em termos de ocorrência. A lula-comum (Loligo sp.) foi a mais importante em termos de peso total estimado. As espécies demersais dominaram a dieta do golfinho-comum, com uma percentagem numérica de 40%. Foram detetadas diferenças entre machos e fêmeas na composição da dieta relativamente à sardinha. Foram detetadas diferenças entre indivíduos maturos e imaturos na composição da dieta relativamente à lula-bicuda. A diversidade de presas observada nos conteúdos estomacais do golfinho-comum sugere um comportamento oportunista, consumindo as presas mais abundantes, localmente. As interações com as artes de pesca podem levar a uma elevada mortalidade destes mamíferos marinhos. Deste modo, a realização de estudos sobre os hábitos alimentares de cetáceos permitem uma melhor compreensão das possíveis interações com a pesca, e a melhoria de estratégias de conservação para evitar a morte destes animais.
xiv
xv
keywords
Delphinus delphis, common dolphin, diet, feeding ecology, portuguese continental coast.
abstract
The short-beaked common dolphin (Delphinus delphis) is one of the most abundant species of cetaceans and more broadly distributed all over the planet, being the most abundant specie along Portuguese continental coast. Some of the main preys have a high commercial value, therefore this species is associated with fishing bycatch. However, in Portuguese continental waters, recent studies about its feeding habits are scarce. The present study aims to provide information about this species feeding habits along the Portuguese continental coast. Therefore, 55 stomach contents of stranded dead common dolphins along the Portuguese coast, between 2004 and 2015 were analyzed. Quantitative and qualitative dietary information was obtained, using indexes of frequency and occurrence, and estimated weight that allowed determining the relative importance of prey species. The diet of Delphinus delphis consisted mainly of fish (66%), the majority of them commercial species and was also complemented by cephalopods and crustaceans. Gobies (Gobiidae) and horse mackerel (Trachurus sp.) were the most important preys in terms of abundance. The most frequent fish prey were gobies (Family Gobiidae), sardine (Sardina pilchardus) and horse mackerel (Trachurus sp.). In terms of mass importance, sardine was the predominant species followed by pout whiting (Trisopterus luscus) and horse mackerel. The most abundant and frequent species of cephalopod prey was the beaked squid (Allotheuthis sp.). The european squid (Loligo sp.) was the most important species considering total estimated weight. Short beaked common dolphins showed preference for demersal prey (40%), being able to explore various depths and habitats. Differences were detected in diet composition between males and females, relatively to sardine abundance. We also found differences between mature and immature individuals in relation to beaked squid. The diversity of prey observed in stomach contents of common dolphins suggests that this is a top opportunistic and generalist predator, capable of changing its diet according to prey availability, which allows for their worldwide distribution. Interaction with fisheries may lead to high mortality rates of these marine mammals. Therefore, studies about feeding habits of cetaceans provide a better understanding of possible interactions with fisheries, possibly improving strategies to prevent these animals death.
xvi
xvii
Índice
Resumo………………………………………………………………………..………………… xiii
Abstrat……………………………………...…………………………………….……..….…… xv
Lista de Figuras ............................................................................................................................ xxi
Lista de Tabelas ........................................................................................................................... xxv
1. Introdução ............................................................................................................................... 1
1.1. Caracterização da espécie Delphinus delphis .................................................................... 2
1.1.1. Taxonomia ................................................................................................................. 2
1.1.2. Morfologia ................................................................................................................. 3
1.1.3. Reprodução ................................................................................................................ 4
1.1.4. Comportamentos e estrutura social ............................................................................ 5
1.1.5. Distribuição ............................................................................................................... 6
1.2. Dieta .................................................................................................................................. 8
1.3. Estado de conservação e ameaças .................................................................................... 10
1.3.1. Captura acidental ..................................................................................................... 11
1.3.2. Diminuição da disponibilidade de presas ................................................................. 12
1.3.3. Poluição e alterações climáticas .............................................................................. 12
1.4. Importância dos estudos de dieta na conservação dos cetáceos ....................................... 14
1.5. Métodos de análise de dietas ........................................................................................... 16
1.6. Revisão bibliográfica sobre a dieta do golfinho-comum Delphinus delphis .................... 21
1.7. Objetivos ......................................................................................................................... 25
2. Materiais e Métodos .............................................................................................................. 27
2.1. Lavagem e triagem das estruturas duras .......................................................................... 28
2.2. Identificação, contagem e medições das estruturas duras ................................................ 31
2.3. Análise descritiva dos dados ............................................................................................ 33
2.4. Análise estatística ............................................................................................................ 38
3. Resultados .............................................................................................................................. 41
3.1. Composição da dieta ....................................................................................................... 41
3.2. Tamanho das presas ......................................................................................................... 44
3.3. Habitat e comportamento das presas ............................................................................... 45
3.4. Variabilidade entre indivíduos de diferentes sexos .......................................................... 47
3.5. Variabilidade entre indivíduos de diferentes estados de maturidade ................................ 49
xviii
xix
4. Discussão ................................................................................................................................ 53
4.1. Composição da dieta ....................................................................................................... 53
4.2. Comportamento Oportunista vs Especialista ................................................................... 55
4.3. Variabilidade na dieta (sexo, estado reprodutor, distribuição geográfica) ....................... 56
4.4. Interações com as atividades de pesca ............................................................................. 59
4.5. Aplicabilidade da Metodologia........................................................................................ 60
5. Conclusões ............................................................................................................................. 63
6. Considerações Finais ............................................................................................................. 65
7. Referências Bibliográficas .................................................................................................... 67
xx
xxi
Lista de Figuras
Figura 1) Golfinho-comum-de-bico-curto (Delphinus delphis), cria e adulto. ................................. 4
Figura 2) Mapa da distribuição mundial da espécie Delphinus delphis ........................................... 6
Figura 3) Distribuição do golfinho-comum (Delphinus delphis) ao longo da costa de Portugal
Continental, utilizando observações recolhidas entre 2007 e 2012. ................................................... 7
Figura 4) Distribuição dos arrojamentos de golfinho-comum (Delphinus delphis) cujos estômagos
foram analisados no presente estudo. .............................................................................................. 27
Figura 5) Conteúdo estomacal após ser limpo, pronto para secar na estufa. ................................... 29
Figura 6) Separação dos bicos de cefalópodes da restante amostra e armazenamento destes em
frascos com álcool a 70%. ............................................................................................................... 29
Figura 7) Imagens ilustrativas do crânio de um peixe, indicando a localização do dentário, da maxila
e da pré-maxila ................................................................................................................................ 30
Figura 8) Triagem das estruturas importantes para identificação das espécies presentes no conteúdo
estomacal. ....................................................................................................................................... 31
Figura 9) Exemplo de medição de (1) comprimento de um otólito de sardinha (Sardina pilchardus),
(2) comprimento do rostro de um bico inferior de Alloteuthis sp. e do comprimento do manto do bico
de Sepiolidae, com o software DinoCapture 2.0.............................................................................. 32
Figura 10) Percentagem de indivíduos amostrados, classificados por sexo e maturidade. ............. 41
Figura 11) Distribuição de tamanhos das espécies-presa do golfinho-comum. .............................. 45
Figura 12) Variabilidade na importância numérica das principais presas ingeridas, de acordo com as
suas preferências de habitat vertical, segundo o sexo dos golfinhos-comuns. ................................. 47
Figura 13) Índice de importância numérica (%N) das principais presas do golfinho-comum, de
acordo com o sexo dos indivíduos. .................................................................................................. 48
Figura 14) Importância numérica média (e desvio-padrão) de sardinha (Sardina pilchardus) em
machos e fêmeas de golfinho-comum. ............................................................................................ 48
Figura 15) Variabilidade na importância numérica das principais presas ingeridas, de acordo com as
suas preferências de habitat vertical, segundo o estado de maturidade dos golfinhos-comuns. ....... 49
Figura 16) Índices de importância numérica (%N) das principais presas do golfinho-comum, de
acordo com os diferentes estados de maturidade sexual dos indivíduos. ......................................... 50
Figura 17) Importância numérica média (e desvio-padrão) de lula-bicuda Alloteuthis sp. em
indivíduos maturos e imaturos de golfinho-comum. ....................................................................... 51
xxii
xxiii
Figura 18) Estimativas de (a) recrutamento da sardinha desde 1978 e (b) biomassa do stock (mil t),
em Portugal ..................................................................................................................................... 57
xxiv
xxv
Lista de Tabelas
Tabela I) Lista das principais espécies de presas do golfinho-comum Delphinus delphis, segundo
estudos feitos nos Oceanos Atlântico e Pacífico.............................................................................. 23
Tabela II) Equações de regressão utilizadas para calcular o tamanho e o peso das presas de peixe
encontradas nos conteúdos estomacais. TL – comprimento total do peixe (mm); W – peso total (g);
OL - comprimento do otólito (mm); OW – largura do otólito (mm). Para os casos em que não foi
possível obter a equação de regressão correspondente à ordem taxonómica pretendida
(género/família), é indicado entre parêntesis o nome da espécie que corresponde à (s) equação (s)
utilizada (s). .................................................................................................................................... 34
Tabela III) Equações de regressão utilizadas para calcular o tamanho e o peso das presas de
cefalópodes encontradas nos conteúdos estomacais. L - comprimento total do manto (mm); W – peso
total (g); LRL - comprimento do rostro do bico inferior (mm); LHL – comprimento do manto do bico
inferior (mm). Para Alloteuthis sp. e Eledone sp. não foi possível obter a equação de regressão do
peso correspondente ao género, sendo indicado entre parêntesis o nome da espécie que corresponde
à(s) reta(s) utilizada(s). .................................................................................................................... 35
Tabela IV) Habitat e profundidade (m) das presas do golfinho-comum. A tabela indica, para cada
presa, o seu habitat vertical (P – Pelágico, MP – Mesopelágico, D – Demersal), o seu habitat
horizontal (N – Nerítico, O – Oceânico) e a profundidade a que podem ser encontradas (?,
desconhecida). ................................................................................................................................. 37
Tabela V) Constituição anual da amostra. A tabela mostra o número de golfinhos-comuns
amostrados segundo o ano em que foram recolhidos, indicando para cada ano o número total de
animais amostrados (N) e o número de animais por sexo (M - macho, F - fêmea, ND - não
determinado), por maturidade (MI – machos imaturos; FI – fêmeas imaturas; MM – machos maturos;
FM – fêmeas maturas) e por causa de morte (CA - captura acidental, CAP – captura acidental
provável, ND – não determinada, OC – outras causas). .................................................................. 38
Tabela VI) Espécies e Famílias de presas identificadas e a sua importância na dieta de golfinho-
comum. A tabela mostra o número total de indivíduos encontrados (N), o respetivo índice de
importância numérica (%N), o número de estômagos em que a espécie/Família foi identificada (F),
o respetivo índice de ocorrência (%F), o peso total estimado (P) e o respetivo índice de peso estimado
(%P). NE – Não estimado. .............................................................................................................. 43
Tabela VII) Comprimentos mínimo, médio e máximo (mm) das presas do golfinho-comum. ...... 44
Tabela VIII) Preferências de habitat e profundidade (m) das presas do golfinho-comum. A tabela
indica, para cada presa, o seu habitat vertical (Pelágico, Mesopelágico, Demersal), habitat horizontal
(N – Nerítico, O – Oceânico) e a profundidade a que podem ser encontradas (?, desconhecida). ... 46
xxvi
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
1
1. Introdução
O golfinho-comum (Delphinus delphis [Linnaeus, 1758]) é uma das espécies de
cetáceos mais amplamente distribuídas, utilizando habitats neríticos e zonas oceânicas,
sendo o cetáceo mais avistado e com maior ocorrência de interações com artes de pesca no
Atlântico Norte (López et al 2002; Wise et al 2007; Brito et al 2009; Goetz et al 2014; Goetz
et al 2015). Algumas das suas presas apresentam uma grande importância económica, pelo
que essas presas são também espécies alvo de algumas pescarias. Por esta razão, os
golfinhos-comuns são muito suscetíveis a eventos de interação e captura acidental em artes
de pesca. De facto, o Homem e os cetáceos podem competir pelo mesmo alimento, o que
afeta tanto os predadores de topo das cadeias alimentares marinhas, como as pescas locais.
Alterações na distribuição e abundância de presas podem ser também consequências de
alterações climáticas (devido ao aumento da temperatura da água) ou sobrexploração,
afetando indiretamente os cetáceos (Geraci & Lounsbury 2005; Mantello 2008). O golfinho-
comum é oportunista e a sua dieta pode refletir a abundância e disponibilidade de presas
(Young & Cockroft 1994; Pusineri et al 2007; Santos et al 2013; Murphy et al 2013). Por
exemplo, o declínio da abundância de sardinha na península ibérica nos últimos anos levou
a alterações recentes na dieta destes predadores de topo (Santos et al 2013) nesta área.
Uma conservação eficaz a longo prazo dos cetáceos depende dos conhecimentos dos
vários aspetos da sua biologia, ecologia, comportamento e de conhecermos o impacto que
as ações humanas têm nestes animais, sendo necessário juntar esforços com o sector
pesqueiro. Por essa razão, vários estudos sobre cetáceos têm sido direcionados, entre outros
temas, para a análise de conteúdos estomacais de amostras recolhidas de capturas acidentais
da pesca e/ou arrojamentos (Bisi et al 2012; Dunshea et al 2013; Santos et al 2013). De
facto, os estudos sobre os hábitos alimentares de cetáceos permitem-nos melhorar o
conhecimento sobre a biologia do predador e das presas. O presente estudo foca-se no estudo
da dieta do golfinho-comum na costa ocidental Portuguesa.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
2
1.1. Caracterização da espécie Delphinus delphis
1.1.1. Taxonomia
O golfinho-comum (Delphinus delphis [Linnaeus, 1758]) é um mamífero marinho da
Ordem Cetacea, da Subordem Odontoceti (baleias com dentes) e da Família Delphinidae,
com ancestrais terrestres de há cerca de 50 milhões de anos.
Desde a sua primeira descrição, em 1758, a classificação taxonómica do género
Delphinus tem sido muito debatida e controversa. A ampla distribuição geográfica
apresentada por esta espécie fez com que existissem divergências morfológicas, fazendo
com que muitos autores começassem a diferenciá-la, dando origem a várias espécies e
subespécies diferentes (Murphy et al 2006). Apesar disso, existem estudos nas diferentes
populações de golfinhos-comuns, baseados em esqueletos, morfologia externa, padrões de
pigmentação e estudos genéticos (ex. DNA mitocondrial) (Heyning & Perrin 1994;
Carwardine & Camm 1998), e tendo em conta o dimorfismo sexual e o desenvolvimento
ontogenético, inferem sobre a existência de duas espécies distintas, o golfinho-comum-de-
bico-curto (Delphinus delphis Linnaeus, 1758) e o golfinho-comum-de-bico-comprido
(Delphinus capensis Gray, 1828). Contudo, existe alguma controvérsia na definição desta
última espécie, servindo nalguns casos apenas para distinguir duas populações simpátricas,
como por exemplo na Costa da Califórnia, onde os indivíduos de D. capensis são menos
frequentemente avistados e apresentam uma distribuição mais limitada que os indivíduos de
D. delphis (Rosel et al 1994; Kingston & Rosel 2004).
Segundo Natoli et al (2008), não existem diferenças genéticas que sejam
significativas entre as diferentes populações do Oceano Atlântico, o que sugere que esta
espécie (D. delphis) tem uma grande capacidade de dispersão de longa distância, habitando
vários meios com características diferentes, sendo por isso considerada como várias
subespécies diferentes (Amaral et al 2007; Mirimin et al 2009).
Contudo, conforme informações da IUCN (2008), e de acordo com áreas específicas
de presença, alguns investigadores sugerem a existência de duas subespécies dentro da
espécie Delphinus capensis, D. capensis capensis (oceanos Atlântico e Pacífico, em
subpopulações disjuntas ao longo da costa) e D. capensis tropicalis (Indo-Pacífico, ao leste
do mar Vermelho ao sul da China e Indonésia) (Hammond et al 2008; Amaral 2014). No
Mar Negro, foi também distinguida uma subespécie de golfinho-comum de bico curto, D.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
3
delphis ponticus (Barabash 1935), proposta com base em caraterísticas morfológicas que
foram criticadas posteriormente. No entanto, através de análises comparativas usando
morfometrias de crânios (Amaha 1994) e microssatélites de DNA (Natoli 2004), existem
diferenças entre as populações do golfinho-comum do Mar Negro e do Mar Mediterrâneo,
apesar das diferenças significativas não sejam tão evidentes em amostras pequenas de DNA
mitocondrial (Natoli 2004). Atualmente, o fluxo genético entre os Mares Negro e
Mediterrâneo é raro ou inexistente, estando ainda em avaliação (Birkun 2006).
1.1.2. Morfologia
Muitos mamíferos marinhos têm modificado a sua forma externa, desenvolvendo
novos mecanismos de propulsão para uma locomoção mais eficaz na água. Nadam de forma
ritmada flexionando o corpo, pois apresentam uma coluna vertebral muito flexível (Long et
al 1997; Perrin et al 2009). Particularmente, os cetáceos apresentam um corpo alongado e
fusiforme, que lhes permite um maior hidrodinamismo e facilita a sua deslocação. O
golfinho-comum, como todos os cetáceos, apresentam duas barbatanas peitorais, uma
barbatana caudal e uma barbatana dorsal, que lhes permitem a deslocação. A barbatana
caudal ajuda na propulsão do indivíduo, a barbatana dorsal, que é falciforme e de tamanho
médio, situa-se a meio do corpo e pode apresentar uma região cinza mais clara de tamanho
variável, serve essencialmente para a estabilização da natação e também ajuda na
termorregulação. Quanto às barbatanas peitorais, a sua função é ajudar na mudança de
direção (Howell 1930; Duguy & Robineau 1987; Rommel & Lowenstine 2001; Walker &
Wood 2005; Marigo 2006; Jefferson et al 2007; Reidenberg 2007).
A coloração geral da zona dorsal é escura, quase preta estendendo-se pelos flancos
formando uma zona triangular. Por baixo desta zona, os flancos são de uma cor amarelada
ou castanho-clara, que passa a uma cor acinzentada na parte posterior. Estende-se uma linha
preta desde a mandíbula inferior até à barbatana peitoral e outra, menos marcada, desde o
olho até à região anal. A zona do ventre apresenta uma coloração branca, exceto o extremo
da mandíbula inferior e a zona posterior, entre o ânus e a barbatana caudal (Duguy &
Robineau 1987; Smith & Worthy 2006; Mantello 2008; Perrin et al 2009).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
4
Apresentam um bico proeminente, que possui cerca de 40-50 dentes cónicos de 2,5
mm de diâmetro, por hemi-maxila. Esta é uma adaptação que lhes permite uma rápida e
eficaz captura de uma presa individual (Duguy & Robineau 1987; Perrin et al 2009).
Na fase adulta, os machos podem chegar a medir até 2,30 metros de comprimento e
a pesar mais de 100 kg, sendo as fêmeas ligeiramente mais pequenas, medindo até 1,93
metros (Perrin et al 2009). No entanto, estes padrões de tamanho podem variar
geograficamente, já que por exemplo em águas tropicais do Este do Pacífico podem ser
encontrados indivíduos com 2,35 metros (Duguy & Robineau 1987; Jefferson et al 1993;
Smith & Worthy 2006; Perrin et al 2009; Romero et al 2012).
Apresentam sistemas de navegação e deteção de presas muito desenvolvidos, que
foram evoluindo ao longo dos tempos. Como muitos mamíferos aquáticos, precisam de caçar
à noite ou em águas profundas, e por isso os sistemas sensoriais evoluíram. Assim, como os
restantes odontocetes, desenvolveram estruturas nasais que geram a ecolocalização, usando
o som para localizar a presa ou evitar obstáculos (Howell 1930; Cranford et al 1996; Au et
al 2006; Reidenberg 2007).
1.1.3. Reprodução
A maturidade sexual das fêmeas é geralmente mais precoce que a dos machos (5 a 9
anos e 8 a 11 anos, respetivamente), com tamanhos de 1,88 metros nos machos e 1,79 nas
fêmeas (Murphy & Rogan 2006). A época de reprodução é entre Julho e Outubro e os partos
ocorrem normalmente entre Junho e Setembro, já que a gestação tem a duração de cerca de
Figura 1) Golfinho-comum-de-bico-curto (Delphinus delphis),
cria e adulto (in Jefferson et al 2007).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
5
10-11 meses, para que os recém-nascidos encontrem condições ótimas de temperatura de
água (Duguy & Robineau 1987; Macdonald & Barrett 1993; Ferrero & Walker 1995;
Murphy & Rogan 2006; Jefferson et al 2007). A cria nasce com cerca de 90 centímetros
(Danil 2004; Murphy & Rogan 2006; Mantello 2008; Perrin et al 2009). Estudos de dieta de
Brophy et al (2009) concluem que o desmame pode começar entre os 3 e os 6 meses de idade
e o período de lactação dura, em média, cerca de 10 meses após o parto, podendo aumentar
com a idade materna (Murphy 2004). O período entre cada cria é de 1,3 a 2,6 anos (Perrin
& Reilly 1984). Boyd et al (1999) verificou que o tempo entre a idade média da conceção e
a idade média do primeiro parto excede o período de gestação em 4,3 meses. Isso indica que
algumas fêmeas abortam após a primeira conceção e engravidam novamente, pois a
fertilidade e o sucesso reprodutivo são geralmente afetados em cetáceos do sexo feminino
recém-maturos.
1.1.4. Comportamentos e estrutura social
São animais capazes de realizar mergulhos até aos 280 metros de profundidade,
geralmente de curta duração (até 8 minutos). Atingem uma velocidade de cerca de 50 km
por hora (Macdonald & Barrett 1993; Noren & Williams 2000; Vetter et al 2001; Pusineri
et al 2007; Mantello 2008).
Trata-se de uma espécie bastante ativa e sociável, sendo muitas vezes possível
observar-se grupos de várias centenas de indivíduos (Bearzi et al 2003; Jefferson et al 2007).
O tamanho do grupo pode variar sazonalmente e de acordo com a hora do dia (Perrin et al
2009). Brager & Schneider (1998) verificaram que nos meses de janeiro e fevereiro foram
vistos golfinhos-comuns na costa oeste da ilha sul da Nova Zelândia em grupos de 2-150
indivíduos, muitas vezes com as crias. São constituídos por animais de diferentes idades,
embora possa existir alguma separação sexual (Perrin et al 2009). As fêmeas ajudam nos
partos e como “baby-sitting”. Há uma grande competição entre machos no que diz respeito
ao acasalamento. Estima-se que possam viver até aos 35-40 anos (Vetter et al 2001; Mantello
2008).
Relativamente ao comportamento perante uma espécie diferente, é muito comum a
ocorrência de associações com outras espécies de mamíferos marinhos, nomeadamente com
o golfinho-riscado (Stenella coeruleoalba) e com a baleia-piloto (Globicephala sp.),
acreditando-se que tal associação possa ser vantajosa para a primeira espécie quando se
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
6
aproxima da costa em busca de presas costeiras (Sims 2007; Perrin et al 2009; Vieira et al
2012; Thompson et al 2013).
1.1.5. Distribuição
O golfinho-comum D. delphis é uma das espécies de cetáceos mais amplamente
distribuídos, habitando todos os mares temperados, subtropicais e tropicais dos oceanos
Atlântico e Pacífico (Macdonald & Barrett 1993; Rice 1998; Jefferson et al 2007; Perrin et
al 2009; Romero et al 2012). Ocorre tanto em águas costeiras como em zonas mais
oceânicas, tendo preferências por regiões com características oceanográficas geralmente
ligadas à alta produtividade (montes submarinos e zonas íngremes, como taludes) (Figura 2)
(Evans 1994; Jefferson et al 2007; Brito et al 2009).
Esta espécie ocorre regularmente em alguns mares fechados, como o Mar de Okhotsk
e o Mar do Japão e existem subpopulações distintas na região do Mediterrâneo e do Mar
Negro. Podem também ocorrer a Norte, Este e Oeste do Oceano Atlântico, Norte do Pacífico
e em algumas zonas do Oceano Índico, no sudeste de África e no sul da Austrália (Figura 2).
Registos anteriores desta espécie noutras partes do Oceano Índico e em águas de Taiwan
estão a ser questionados, podendo tratar-se de indivíduos da espécie de golfinho-comum-de-
bico-comprido (Delphinus capensis) (Jefferson & Van Waerebeek 2002; Jefferson et al
2007; IUCN 2014).
Figura 2) Mapa da distribuição mundial da espécie Delphinus delphis (retirado
de http://www.cms.int/reports/small_cetaceans/data/d_delphis/d_delphis.htm).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
7
É também a espécie mais abundante na costa portuguesa, aparecendo de Norte a Sul
do país, como ilustrado no mapa da Figura 3. Contudo, existem hipóteses de que o golfinho-
comum não é uniformemente distribuído ao longo da costa, mas apresenta locais de maior
probabilidade de ocorrência, entre a zona de Aveiro e Nazaré, onde a plataforma continental
é mais ampla (até 200 metros de profundidade), juntamente com as costas Galegas, mais ao
largo (Vieira et al 2012; Santos et al 2012). Estes dados são comprovados com avistamentos
e também com um maior número de ocorrências de arrojamentos nestas zonas (Santos et al
2012).
Figura 3) Distribuição do golfinho-comum (Delphinus delphis) ao longo
da costa de Portugal Continental, utilizando observações recolhidas entre
2007 e 2012 (retirado de Santos et al 2012).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
8
Há claras evidências de que esta espécie realiza migrações sazonais para outros
locais, mas também migrações horizontais, ao longo de características topográficas
proeminentes, como escarpas e montes submarinos. Neumann (2001) relatou uma migração
sazonal para mar aberto na Nova Zelândia, que parece estar correlacionada com a
temperatura da superfície do mar. Os indivíduos passaram de uma distância média de 9,2
km da costa na Primavera e no Verão a uma distância média de 20,2 km da costa no Outono.
Estas migrações podem ser explicadas pela sazonalidade na disponibilidade de presas, pela
temperatura das águas e pelas alterações sazonais nas topografias submersas (Perrin et al
2009).
1.2. Dieta
O golfinho-comum é bastante abundante tanto em habitats neríticos (plataforma
continental, <200 metros de profundidade), como em zonas oceânicas, dependendo da
disponibilidade de presas. É então considerada uma espécie oportunista, pois a sua dieta
reflete-se na abundância e disponibilidade de presas (Young & Cockroft 1994; Pusineri et al
2007; Murphy et al 2013; Santos et al 2013). Por exemplo, o declínio da abundância de
sardinha na península ibérica nos últimos anos foi observado por Santos et al (2013) no
estudo de conteúdos estomacais de golfinho-comum, em que se confirmou que houve
alterações na composição da sua dieta, na medida em que a presa mais abundante (sardinha)
se tornou menos disponível. A grande variedade de espécies de presas do golfinho-comum
é também uma evidência de que este predador não apresenta uma alimentação seletiva. No
entanto, tem sido sugerido que selecionam as presas de acordo com quantidades energéticas
mais elevadas (Brophy et al 2009; Murphy et al 2013).
Sendo uma espécie que necessita de uma grande quantidade de energia, apresenta
uma dieta composta principalmente por alimentos ricos em calorias (Spitz et al 2012; Santos
et al 2013). As presas preferenciais consistem em pequenos peixes pelágicos em cardume,
consumindo também várias espécies de cefalópodes (Zhou et al 2001; Brophy et al 2009;
Romero et al 2012; Santos et al 2013). No entanto, a sua dieta pode ser alterada de acordo
com a sua área geográfica e de acordo com as flutuações sazonais na abundância e
distribuição das presas (Silva 1999; Murphy et al 2013; Santos et al 2013). Normalmente,
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
9
caçam ao entardecer e no início da noite, a profundidades até os 260 metros, apesar de a
maioria dos mergulhos ocorrer na camada epipelágica, a menos de 100 metros de
profundidade, quando as presas começam a agregar-se mais e a migrar para a superfície para
se alimentarem (Pusineri et al 2007). Esta espécie tira proveito também dos cardumes
trazidos para a superfície ou descartados por operações de pesca comercial. Uma vez que as
espécies de presas desta são também de grande importância comercial, estão por isso mais
suscetíveis a eventos de captura acidental em artes de pesca, sejam elas de profundidade
(redes de arrasto e pescas polivalentes) ou costeiras (pesca de cerco) (Silva 1999; Goetz et
al, 2015). O golfinho-comum é a espécie de cetáceo mais avistada e com maior frequência
de ocorrência a interagir com os navios de pesca, no norte do Oceano Atlântico (López et al
2002; Wise et al 2007; Brito et al 2009; Goetz et al 2014; Goetz et al 2015). Os seus padrões
de ocorrência (águas profundas ou costeiras), provavelmente estão ligados ao alcance de
profundidade das suas principais presas, como o verdinho, nas zonas de talude continental,
e sardinha e carapau, espécies mais costeiras (Pusineri et al 2007; Méndez Fernández et al
2012; Santos et al 2014).
A variação nas preferências alimentares nos diferentes grupos de idades/maturidade
sexual ainda não foram muito estudadas. Segundo Meynier et al (2008b), no Golfo da
Biscaia, existem diferenças significativas nos diferentes grupos etários, tanto em termos de
composição de espécies de presas como em termos de tamanho das presas. Assim, o
comprimento das presas foi correlacionado com o tamanho dos indivíduos, concluindo que
a composição de presas nos machos maturos era muito menos diversificada do que a das
fêmeas maturas e indivíduos imaturos, além de que as presas maiores serviam de alimento
aos machos de grupos etários mais avançados (Ballance 2009; Murphy et al 2013). Ao largo
da costa Portuguesa, Silva (1999) observou pouca variação na composição da dieta entre os
diferentes grupos etários. De facto, nos animais analisados entre 1987 e 1997, a sardinha foi
a presa mais consumida, à exceção dos machos imaturos, tendo estes preferido verdinho.
Silva (1999) e Meynier et al (2008b) relataram também que na composição da dieta dos
machos maturos, os cefalópodes apresentaram-se em menores proporções.
Os delfinídeos exibem uma ampla gama de padrões de movimentos diários e
sazonais. Alguns dos golfinhos parecem ter migrações sazonais com movimentos de longo
alcance, apesar de haver ainda poucos estudos sobre estes padrões de movimentos (Sims
2007). No Atlântico Nordeste, Brophy et al (2009) perceberam que existe uma diferença nas
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
10
dietas de golfinhos-comuns em zonas costeiras e offshore, provando que existem
movimentos sazonais entre zonas mais próximas e mais afastadas da costa. Murphy et al
(2013) justificam estes movimentos para zonas offshore com a necessidade energética das
fêmeas grávidas e lactantes. Durante a primavera e verão, estas deslocam-se de forma a
alimentarem-se de presas mais ricas em nutrientes, visto que as presas neríticas são
nutricionalmente pobres, nesta altura do ano (Brophy et al 2009; Murphy et al 2013).
1.3. Estado de conservação e ameaças
Devido à abundância global desta espécie, geralmente o estado de conservação do
golfinho-comum é considerado de “pouco preocupante”, exceto na população de D. delphis
do Mediterrâneo, que se encontra atualmente “em perigo” (International Union for
Conservation of Nature) (Bearzi et al 2003; Hammond et al 2008; Meynier et al 2008a, b;
IUCN 2014).
As causas de morte destes animais podem dever-se a uma variedade de fatores
naturais ou antropogénicos que interagem entre si. Geralmente, a morte natural está
relacionada com diversos fatores, como as doenças, o sucesso reprodutivo, a idade, a falta
de alimento, a predação por parte de tubarões ou por interações com outras espécies de
cetáceos (Heithaus 2001; MacLeod et al 2005). De uma forma indireta, a desorientação
provocada por erros de navegação, seja em zonas pouco profundas devido a uma redução na
eficácia da ecolocalização (Chambers & James 2005) ou como resultado de alterações no
campo magnético do planeta (Klinowska 1985; Vanselow & Ricklefs 2005), podem levar ao
arrojamento e mortalidade dos animais (Sousa & Picanço 2012).
Já os fatores antropogénicos estão relacionados com o impacto das atividades
humanas nos ecossistemas marinhos e têm vindo a provocar um efeito significativo e
preocupante na mortalidade destes animais (Bearzi 2002; Sousa & Picanço 2012). Destas,
podemos destacar a sobrexploração de espécies importantes na dieta dos golfinhos-comuns,
as capturas acidentais em artes de pesca e a degradação dos habitats. Estes impactos
negativos devem ser constantemente reavaliados para que os esforços de conservação
criados estejam adaptados aos graus de ameaça que vão surgindo (Reeves et al 2003).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
11
1.3.1. Captura acidental
Um dos fatores que provoca maior impacto a nível mundial nas populações de
cetáceos é a captura acidental em artes de pesca (Read et al 2006; Du Fresne et al 2007;
Meynier et al 2008a, b; Perrin 2009; Goetz et al 2014), ou seja, a captura de espécies que
não são o alvo da pescaria mas que acabam por interagir com as embarcações. Estas
interações entre cetáceos e as artes de pesca podem ocorrer de duas formas distintas. De uma
forma operacional, em que os animais ficam presos nas redes de pesca, levando à morte
acidental imediata (emaranhamento e asfixia), ferimentos resultantes de tentativas de fuga
ou a danos nas redes. Ou de uma forma biológica, pelo facto de a sua ecologia alimentar
compartilhar os alvos dessas pescarias (Perrin 2009; Vingada et al 2012).
Northridge (2006) mostrou que cerca de 800 animais são capturados acidentalmente,
por ano, nas pescarias europeias de arrasto pelágico no Reino Unido e na pesca de arrasto
pelágico francesa do robalo. As taxas de captura anual no sector do Reino Unido desta pesca
têm vindo a diminuir nos últimos anos e a mortalidade anual média total recentemente (2000-
2006) foi de 170 animais. São conhecidas outras capturas acidentais na mesma área de
ocorrência em redes de emalhar e, possivelmente, outras artes de pesca (Northridge 2006;
Perrin 2009).
Na costa da Galiza, as interações com cetáceos são frequentemente observadas
(Goetz et al 2014). O golfinho-comum é a espécie que mais ocorre e que mais registo de
arrojamentos tem, em toda a Europa (López 2003; Goetz et al 2014). Nesta zona, os
golfinhos-comuns interagem com várias artes de pesca, como as redes de emalhar, as redes
de arrasto, de cerco, as linhas de anzóis e em armadilhas (López et al 2003).
No caso de Portugal Continental, as redes de emalhar e tresmalho são as artes de
pesca que mais contribuem para um grande número de capturas acidentais, sendo as espécies
mais capturadas o golfinho-comum (Delphinus delphis) e o boto (Phocoena phocoena)
(Reeves et al 2003; Ferreira 2007). Estas conclusões não são certezas absolutas uma vez que
é muito difícil, através de marcas nos indivíduos arrojados, identificar a arte de pesca. No
entanto, é possível criar suposições através da altura em que o indivíduo morre e arroja, pois
muitas artes de pesca têm alturas específicas de atuação, como por exemplo a arte xávega
(ocorre nomeadamente no verão) (Ferreira 2015, pers. comm.; Vingada et al 2012). Além
das redes de emalhar, também as redes de cerco, de arrasto e redes abandonadas que são
deixadas à deriva, causam a morte destes animais em muitas áreas em todo o mundo (Evans
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
12
1994; Mantello 2008; Marçalo et al 2015). Silva e Sequeira (2003) reportaram que as
interações com as artes de pesca são responsáveis por 44-54% da mortalidade da população
de golfinho-comum. Mais recentemente, entre 2010 e 2012, houve um aumento da
mortalidade no Norte e Centro de Portugal Continental, em que cerca de 50 % dos golfinhos-
comuns arrojados e analisados foram capturados acidentalmente em artes de pesca (Vingada
et al 2012).
1.3.2. Diminuição da disponibilidade de presas
O facto de o Homem e os cetáceos competirem pelo mesmo alimento, acaba por
afetar os predadores de topo das cadeias alimentares marinhas, bem como as pescas locais.
Alterações na distribuição e abundância de presas podem ser também consequências de
alterações climáticas (devido ao aumento da temperatura da água) ou sobrexploração,
afetando indiretamente os cetáceos (Geraci & Lounsbury 2005; Mantello 2008). A
sobrexploração de presas representa uma ameaça para o golfinho-comum, uma vez que a
cadeia alimentar marinha é muito complexa (Bearzi et al 2003).
No Mar Negro, esta ameaça é muito evidente (Perrin 2009). Em 1994, houve uma
grande mortalidade desta espécie de cetáceo, com um número desconhecido, resultante de
uma epizootia provocada por um morbilivírus. No entanto, este evento coincidiu com uma
drástica diminuição na abundância das três principais espécies de presas do golfinho-
comum, a anchova, a sardinha e a espadilha. Esta redução foi causada por uma combinação
de fatores: excesso de pesca, eutrofização e aumento explosivo de um ctenóforo introduzido
Mnemiopsis leidyi. A correlação entre esta grande mortalidade de golfinhos-comuns do Mar
Negro e a escassez de presas sugere que a reduzida disponibilidade destas aumenta a
susceptibilidade à infeção viral (Bearzi et al 2003; Birkun 2006; Bilgmann et al 2008;
Mantello 2008; Perrin 2009).
1.3.3. Poluição e alterações climáticas
Também a poluição e as alterações climáticas que têm vindo a ocorrer são causas,
ainda que indiretas mas não menos importantes, que afetam estas populações. Os derrames
de petróleo, assim como outras formas de poluição (ex: química, que leva a
imunossupressões e deficiências reprodutivas, e sonora, que afeta a ecolocalização),
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
13
contribuem para a degradação do habitat. Podem provocar doenças e lesões resultantes da
acumulação de elevados níveis de contaminantes, além de afetarem a abundância e a
distribuição das presas (Bearzi et al 2003; Bearzi et al 2004; Geraci & Lounsbury 2005;
Bilgmann et al 2008; Mantello 2008; Perrin 2009).
Os poluentes antropogénicos provocam efeitos negativos nos mamíferos marinhos,
como poluentes orgânicos persistentes (POP’s), pesticidas (PCB’s) e diversos metais
pesados (cádmio e mercúrio). A via de entrada mais importante dos poluentes é dieta. Estes
poluentes também criam problemas nos ecossistemas, uma vez que fazem com que haja
biomagnificação (concentrações mais elevadas encontram-se em níveis da cadeia trófica
mais elevados) e bioacumulação (aumento da concentração com a idade) (Murphy et al
2013).
Os golfinhos-comuns têm uma ampla distribuição e capacidade de se adaptarem a
diversos habitats. Em geral, a mudança climática é considerada uma ameaça para toda a
biodiversidade e para a estrutura e função dos ecossistemas que já podem estar sujeitos a
pressões antropogénicas significativas (Graham & Harrod 2009).
As alterações climáticas afetam as características físicas, químicas, biológicas e
biogeoquímicas do oceano e zonas costeiras. Desde o aumento da temperatura da água a
alterações na salinidade, pH e concentrações de CO2, estas alterações irão afetar todas as
comunidades biológicas dos oceanos. Todas estas componentes provocam, por exemplo,
alterações nas correntes oceânicas, levando a dificuldades acrescidas para os cetáceos que
fazem migrações diárias ou sazonais, como o golfinho-comum. Assim, a ocupação por parte
de outras espécies em certos habitats típicos de uma determinada espécie, faz com que haja
competição, por exemplo, pelo alimento, levando a alterações na biologia e ecologia das
espécies, ou até mesmo do desaparecimento de uma das espécies (Bearzi et al 2003;
Learmonth et al 2006).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
14
1.4. Importância dos estudos de dieta na conservação dos cetáceos
O estado dos oceanos mundiais está a deteriorar-se muito rapidamente, com
consequências devastadoras para muitas espécies marinhas (Hooker & Gerber 2004). Além
das causas naturais, as causas antropogénicas têm contribuído muito para esta deterioração.
O principal instrumento para a conservação da natureza, na União Europeia, é a Rede Natura
2000, que resulta da aplicação das Diretivas Aves e Habitats. Esta rede ecológica tem como
objetivo garantir a sobrevivência a longo prazo das espécies e habitats mais valiosos e
ameaçados da Europa. Uma das principais limitações para o alargamento da Rede Natura
2000 para ambientes marinhos é a falta de pesquisa em habitats marinhos longe da costa.
Assim, surge a necessidade de atualizar a Rede Natura 2000 na nossa costa e em mar alto,
para que as ações de conservação sejam mais eficazes. A plataforma portuguesa é
considerada uma zona de elevada importância, na medida em que interliga as áreas do
Atlântico Norte, Mediterrâneo e áreas subtropicais (e.g. Projeto LIFE+ MarPro 2013). Para
algumas espécies de cetáceos (boto, roaz, golfinho-comum) que se alimentam nas zonas
costeiras, a vulnerabilidade é maior devido à competição direta por peixe e ao aumento da
pressão humana que levou a que se começasse a pensar na importância da conservação e a
desenvolver esforços para esse fim. Assim, uma conservação eficaz a longo prazo dos
cetáceos depende dos conhecimentos dos vários aspetos da biologia, ecologia,
comportamento e do impacto que as ações humanas têm nestes animais, sendo necessário
juntar esforços com o sector pesqueiro, e contribuindo para a definição de sítios Rede Natura
2000 offshore. Neste sentido, o Projeto LIFE+ MarPro tem sido desenvolvido em parceria
com várias entidades para melhorar o estado de conservação de várias espécies de predadores
marinhos.
No entanto, a recolha de informações sobre a dieta de mamíferos marinhos é
particularmente difícil, devido aos seus hábitos de vida e incapacidade dos investigadores de
observar o momento da alimentação, sendo a investigação nesta área limitada. Atualmente,
várias investigações em cetáceos têm sido direcionadas para a análise de conteúdos
estomacais de amostras recolhidas de capturas acidentais da pesca e/ou arrojamentos, que
fornecem informação sobre as espécies de presas, tamanho e composição familiar (Bisi et al
2012; Dunshea et al 2013; Santos et al 2013).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
15
Os estudos sobre os hábitos alimentares de cetáceos permitem-nos então melhorar o
conhecimento sobre a biologia tanto do predador como da presa (Murphy et al 2013) e dão-
nos informações sobre a distribuição das presas e o tipo de habitat que utilizam (espécies
neríticas ou oceânicas). Estas informações levam a que se consiga definir a distribuição dos
cetáceos, migrações, comportamentos alimentares (estratégias de caça) e relações tróficas,
de forma a identificar os pontos críticos de interação com atividades humanas, que poderá
causar um impacto negativo na população, não só pela captura acidental, mas também pela
diminuição do stock das suas presas (Read et al 2006; Pusineri et al 2007; Santos et al 2013).
No caso do golfinho-comum, este exibe um comportamento alimentar oportunista em
diferentes regiões geográficas, o que implica que a caracterização da sua dieta pode refletir
a composição da área em peixes e cefalópodes. Assim, os estudos de dieta também podem
monitorizar a distribuição e as flutuações sazonais das presas de golfinho-comum (Silva
1999). Além disso, os estudos de dieta produzem informações sobre cadeias alimentares,
competição entre espécies pelo mesmo alimento e evolução da dinâmica dos ecossistemas
(Dunshea et al 2013).
A captura acidental em artes de pesca é um dos fatores que provoca maior impacto a
nível mundial nas populações de cetáceos e tem sido relatada numa grande variedade de
áreas por todo o mundo (Du Fresne et al 2007). Estas interações entre cetáceos e a pesca
normalmente ocorrem quando a espécie de cetáceo consome uma ou mais espécies de
interesse comercial. Deste modo, o conhecimento sobre a dieta de cetáceos dá uma melhor
compreensão das possíveis interações com a pesca (Meynier et al 2008a, b), de forma a
arranjar estratégias de conservação para evitar a morte destes animais (Bowen & Iverson
2013). Também um conhecimento detalhado dos padrões de ocorrência de cetáceos em
relação às variáveis ambientais e atividades de pesca pode ajudar a identificar hotspots onde
ocorrem conflitos entre cetáceos e pescas (Torres et al 2003), sendo um importante passo
para a avaliação das interações e para uma atuação mais eficaz na conservação dos cetáceos
(MacLeod et al 2008; Goetz et al 2015).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
16
1.5. Métodos de análise de dietas
A compreensão do papel dos mamíferos marinhos nos ecossistemas proporciona uma
melhor avaliação do impacto potencial da predação destes sobre populações de presas e da
estrutura da comunidade, além dos efeitos das mudanças ambientais e do Homem (Bowen
1997).
Atualmente, existem vários métodos que são utilizados para avaliar a dieta de
mamíferos marinhos. Estes métodos são importantes tanto para entender as interações
tróficas, como para identificar a estrutura trófica, o fluxo de energia e o funcionamento dos
ecossistemas marinhos. Além de que permitem entender como é que os indivíduos e as
populações reagem à variabilidade ecológica e ambiental, e o seu papel funcional nos
ecossistemas marinhos (Bowen 1997; Bisi et al 2012).
No entanto, a ecologia alimentar da maioria das espécies de mamíferos marinhos é
ainda pouco conhecida (Bisi et al 2012). A observação direta dos indivíduos é um dos
métodos utilizados, mas é muito limitado, no caso dos mamíferos marinhos, já que, na
maioria das espécies, a alimentação ocorre em áreas distantes da costa, em águas profundas,
em áreas remotas e/ou em grande escala espacial, dificultando assim a observação direta dos
hábitos alimentares. Apenas nas situações em que as presas são trazidas à superfície ou têm
comportamento aéreo é possível uma observação mais eficaz (Barros & Clarke 2009; Bisi
et al 2012).
Dentro dos métodos de análise de dietas tradicionais está a observação de fezes, para
identificação de estruturas das presas mais resistentes à digestão (doravante denominadas
estruturas resistentes das presas). É um método mais utilizado nos pinípedes, já que é mais
difícil a recolha de fezes em cetáceos (Fitch & Brownell 1968; Smith & Worthy 2006;
Bowen & Iverson 2013; Dunshea et al 2013).
Outro método tradicional consiste na análise de conteúdos estomacais. Esta técnica
baseia-se na identificação de estruturas resistentes de presas (por exemplo, bicos de
cefalópodes, otólitos e estruturas ósseas de peixes) (Pierce et al 2004; Bisi et al 2012). Neste
caso, identificam-se os itens das últimas refeições, o que fornece a composição da dieta em
termos de espécies de presas e o seu peso e tamanho. É necessário ter uma coleção de
referência de otólitos e ossos das espécies de presas, valores de medições de tamanhos de
otólitos e regressões de tamanhos otólitos-presas. A análise de dieta de cetáceos é possível
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
17
através da triagem de conteúdos estomacais obtidos de animais arrojados mortos. Os
cetáceos têm, geralmente, três estômagos (dependendo da espécie), todos interligados. O
estômago primário, que funciona como um prolongamento do esófago, é muscular e muito
distensível, sendo assim considerado um estômago mecânico, e é visto como uma câmara de
receção. O estômago secundário, chamado normalmente estômago glandular, que é o
principal local de decomposição química onde contém os mesmos tipos de enzimas e ácido
clorídrico que caracterizam um estômago “típico”. Por fim, o terceiro estômago, designado
por estômago pilórico, é em forma de U e termina com um forte músculo de esfíncter, regula
o fluxo digestivo e é já considerado o início do intestino delgado (duodeno) (Reynolds &
Rommel 2009). Salientam-se como vantagens deste método, a disponibilidade de amostras
e o aperfeiçoamento de protocolos para a realização de necrópsias e recolha de conteúdos
estomacais (Pierce et al 2004; Smith & Worthy 2006; Bisi et al 2012; Dunshea et al 2013).
Os dados recolhidos a partir desta análise são também utilizados na interpretação dos dados
dos ácidos gordos e isótopos estáveis. É um método barato e que não necessita de
equipamentos muito elaborados (Pierce et al 2004). Se a amostra for relativamente grande é
possível ter uma análise quantitativa e qualitativa fiável da dieta da população, através desta
técnica. Para além da importância (por ocorrência) de cada espécie-presa na dieta do
predador, como informação complementar, o comprimento dos otólitos e dos bicos dos
cefalópodes está correlacionado com as dimensões originais da presa, sendo possível estimar
o comprimento total dos peixes teleósteos e do manto de cefalópodes, bem como a massa
total de ambos, através de curvas de regressão encontradas na literatura (ex. Harvey et al
2000). Dessa maneira, é possível calcular a biomassa de determinada presa consumida por
um indivíduo ou população de mamífero marinho. Este método apresenta também algumas
desvantagens. É um método moroso e que necessita de alguma experiência no que diz
respeito à identificação dos restos da presa. Há ainda a possibilidade de ocorrerem erros na
interpretação, uma vez que os animais que arrojam poderiam estar doentes, não dando assim
uma correta informação, já que provavelmente não se estariam a alimentar como um animal
saudável (Pierce et al 2004). É possível também que a amostra seja apenas representativa de
uma pequena parte da população, não sendo então possível ter uma ideia concreta da dieta
da população saudável, principalmente porque apenas temos acesso à refeição mais recente
do animal (alimentação de 24 a 48 horas antes da morte do animal, dependendo do tempo de
digestão da presa) (Zanelatto 2001; Bowen & Iverson 2013). Muitas vezes, também não há
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
18
o cuidado de assumir que, devido ao processo digestivo, pode haver a destruição parcial das
partes duras, levando a resultados incorretos na identificação das presas e interferindo no
cálculo do seu tamanho/peso. Por isso, é necessário ter uma noção do tempo a que o conteúdo
estomacal se sujeitou à ação digestiva (mesmo depois da morte do animal), e apenas utilizar
amostras frescas, apesar de na prática, a presa fresca não permanecer no estômago muito
tempo. As diferenças nos tempos de passagem do intestino e as taxas de digestão das
diferentes espécies de presas, em idades e sexos diferentes dos golfinhos-comuns, podem
criar limitações adicionais, como sobrestimar ou subestimar a importância de determinadas
espécies, além de dificultar a identificação daquelas presas de rápida digestão (Pierce et al
2004; Pusineri et al 2007; Bisi et al 2012). Nem sempre os cetáceos ingerem as presas por
inteiro, descartando algumas partes que poderiam ser interessantes no ponto de vista da
identificação. Não há, atualmente, dados suficientes da frequência de alimentação e do
tempo de digestão destes animais. Muitas vezes, os estômagos aparecem vazios ou quase
vazios, pois os indivíduos, em momentos de stress (captura acidental, por exemplo), ou
porque estão doentes e por isso já não se alimentam há algum tempo, regurgitam o conteúdo
estomacal do 1º estômago. Todas estas limitações levam aos motivos pelos quais as
estruturas das diferentes espécies predadas podem não fornecer as proporções reais
consumidas pelos animais num episódio de alimentação (Zanelatto 2001). A utilização de
um número razoável de estômagos pode aumentar a fiabilidade e representatividade da dieta
obtida.
Outro dos métodos utilizado para estimativa da dieta é a análise de ácidos gordos.
Neste caso, é necessária a utilização das camadas de gordura mais internas, utilizando-se,
nesses casos, animais arrojados, desde que estejam ainda num estado fresco (Pierce et al
2004). Os resultados são obtidos comparando os perfis lipídicos do predador e das suas
presas (Pierce et al 2004). Os ácidos gordos são o principal constituinte da maioria dos
lípidos e, ao contrário de outros nutrientes (por exemplo, proteínas), que se degradam nos
mecanismos de digestão, estes não se degradam e são passados para os tecidos sem grandes
alterações. O uso da análise quantitativa de assinaturas de ácidos gordos (QFASA) é um
método relativamente recente e que é utilizado para estudar dietas a partir dos depósitos de
ácidos gordos nos indivíduos, como é o caso do tecido adiposo subcutâneo ou do leite nos
cetáceos (Iverson et al 2004; Nordstrom et al 2009). Particularmente, o tecido adiposo é
bioquimicamente dinâmico e é influenciado pela dieta dos animais, refletindo uma dieta
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
19
integrada num período de semanas a meses, dependendo da taxa metabólica e do grau de
deposição lipídica do indivíduo (Kirsch et al 2000; Nordstrom et al 2009). Este tecido é o
local de armazenamento dos ácidos gordos de cadeia média e longa que são utilizados como
biomarcadores neste método, pois são passados da presa para o predador e armazenados sem
qualquer tipo de modificação, permitindo assim que se identifique o tipo de dieta que os
organismos apresentam. Esta técnica permite estudar o comportamento de caça dos animais
predadores e as estruturas das cadeias alimentares com maior detalhe e informações sobre o
metabolismo lipídico (Iverson et al 2004). Adicionalmente, permite obter informações sobre
a dieta e diferenças entre sexo e classe etária, intra e interespecíficas, como já descrito em
diversos estudos (Meynier et al 2008a, b; Bisi et al 2012). No entanto, é necessário ter em
consideração alguns fatores que podem influenciar a composição de ácidos gordos nos
cetáceos, como a idade, o sexo, o estado reprodutivo, a existência de períodos de jejum e o
estado de saúde (Smith & Worthy 2006; Murphy et al 2013). Esta análise é relativa, pois é
necessária a definição de dietas hipotéticas para o teste, não permitindo, muitas vezes, a
identificação da espécie de presa (Pierce et al 2004; Dunshea et al 2013; Murphy et al 2013).
É preciso também ter em atenção o facto de existirem diferentes taxas de síntese, absorção
e deposição dos vários ácidos gordos nas diferentes espécies de cetáceos e quais são os perfis
destes nutrientes para cada presa. Torna-se assim, de algum modo, um método trabalhoso,
pois os perfis das presas de taxa aproximados podem ser idênticos, podendo variar sazonal,
regional e ontogeneticamente, entre elas, dificultando a sua identificação (Iverson et al
2004). Outra dificuldade é a oxidação que estes nutrientes sofrem com a decomposição do
indivíduo ou durante o armazenamento da amostra a -20oC. Apesar de ser um método que
permite o conhecimento da dieta numa janela temporal mais alargada, esse período de tempo
varia com o órgão amostrado, sendo necessário conhecê-lo, para uma correta interpretação
dos resultados (Pierce et al 2004; Bowen & Iverson 2013). Recentemente, este método,
juntamente com o método dos isótopos estáveis, têm sido utilizados para tentar perceber
diferenças espaciais e temporais na dieta da população de golfinho-comum do Atlântico
Nordeste (Murphy et al 2013).
Outro método é a análise de isótopos estáveis, essencialmente, o carbono (C), o azoto
(N) e o enxofre (S), que são rotineiramente utilizados para fornecer dados sobre as fontes de
alimento de consumidores em cadeias alimentares e as interações tróficas, muitas vezes em
conjunto com a análise de ácidos gordos. Este tipo de análise permite, entre outras coisas,
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
20
traçar fluxos energéticos em cadeias alimentares, uma vez que, à medida que os isótopos
passam pelos vários níveis tróficos, o seu valor pode aumentar ou diminuir. Além disso, são
úteis também para estimar o nível trófico de um predador, em comparação com outros
animais (Hobson 1993; Iverson et al 2004). Permite também obter informações
relativamente ao habitat onde o predador se alimenta através de comparações de
concentrações de carbono (Newsome et al 2010). Estes elementos estão presentes nos
ecossistemas e a sua distribuição natural reflete a história dos processos físicos e metabólicos
do ambiente (Pereira & Benedito 2007; Bisi et al 2012). Pensa-se que exista uma relação
previsível da composição isotópica entre o predador e a sua presa, havendo a necessidade de
um conhecimento prévio sobre as assinaturas das presas. Assim como o método de análise
de ácidos gordos, este método também não permite identificar com certeza a espécie de presa
consumida (Pierce et al 2004; Bisi et al 2012; Dunshea et al 2013). O azoto (δ15N)
disponibiliza a informação dietética mais útil, pois mostra um enriquecimento gradual de 3-
5 ‰ por cada aumento de nível trófico (Pierce et al 2004). No caso do carbono (δ13C),
normalmente é transferido em apenas 0-5 ‰ para o nível trófico seguinte, permitindo
identificar diferentes fontes de produtividade primária e dando informações acerca dos
habitats preferenciais para a alimentação, já que no ambiente marinho, os habitats bentónicos
e junto à costa são mais enriquecidos em δ13C do que a zona oceânica (Pierce et al 2004;
Fontaine et al 2007). No entanto, esta metodologia apresenta também algumas desvantagens.
Em primeiro lugar, se não forem recolhidos dados isotópicos das principais presas
(normalmente identificadas através de análises de conteúdos estomacais), estas análises são
apenas qualitativas e fornecem dados referentes apenas ao nível trófico e tipo de habitat, e
não uma composição da dieta detalhada. Adicionalmente, a análise de isótopos estáveis
apresenta um custo mais elevado que métodos tradicionais (Pereira & Benedito 2007).
Apesar destas limitações, também apresentam aspetos interessantes, como a perspetiva de
seguir as mudanças na dieta ao longo do tempo. Recentemente, desenvolveu-se um novo
modelo de análise de isótopos estáveis, SIAR (Stable Isotope Analysis in R), que permite
encontrar a composição da dieta de forma mais detalhada e quantitativa (Parnell et al 2010;
Jansen et al 2013). Este modelo compara isótopos estáveis do predador com os da presa,
como acontece no método de análise de ácidos gordos (Parnell et al 2010; Spitz et al 2013;
Nifong et al 2015).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
21
Outra técnica disponível para determinar a dieta de cetáceos envolve análises
moleculares, através do processo de eletroforese enzimática, anticorpos mono/policlonais ou
técnicas de PCR para a deteção do DNA da presa. Este método é normalmente utilizado para
situações em que os conteúdos estomacais não apresentem estruturas resistentes das presas
(como estruturas ósseas, otólitos ou bicos) ou quando estas já se encontram num estado de
decomposição muito avançado devido aos processos de digestão (Symondson 2002). A
utilização desta técnica em espécies de predadores generalistas é dificultada, pois é
necessário a análise de muitas espécies de presas diferentes. Esta técnica apenas permite uma
análise qualitativa e não quantitativa da dieta e necessita também que se usem práticas
laboratoriais demoradas e caras, como a cultura de anticorpos e o desenho de primers
específicos para cada espécie, exigindo ainda a presença de DNA minimamente intacto nas
amostras, para que a informação seja fiável (Symondson 2002; Dunshea et al 2013).
1.6. Revisão bibliográfica sobre a dieta do golfinho-comum Delphinus delphis
A dieta do golfinho-comum Delphinus delphis parece mudar com as áreas
geográficas e de acordo com as flutuações sazonais na abundância e distribuição das presas
(Silva 1999; Culik 2004; Meynier et al 2008a, b). De facto, o golfinho-comum apresenta
uma dieta muito variada composta por pequenos peixes epipelágicos que formam cardume
(ex: anchova e cavala) e peixes de camadas profundas (peixe lanterna e cefalópodes). Muitas
vezes, estas presas estão associadas à camada de dispersão, ou seja, espécies que estão
normalmente disponíveis para os golfinhos apenas durante as suas migrações noturnas para
a superfície, como foi observado no sul da Califórnia (Evans 1994; Culik 2004).
Em águas costeiras ou neríticas, o golfinho-comum alimenta-se de peixes
epipelágicos, cefalópodes e casualmente, crustáceos, enquanto em águas oceânicas as
espécies de peixes meso e batipelágicas, tais como os peixes Myctophidae, são os que
dominam, e em menor grau, cefalópodes (Pusineri et al 2007; Brophy et al 2009).
Esta espécie pode apresentar várias estratégias de alimentação distintas, tanto
individuais como coletivas. Quando um indivíduo se encontra sozinho, pode perseguir a
presa a alta velocidade, atordoar através do bater da cauda ou “kerplunking” (movimento
rápido da cauda na superfície). A caça coletiva é mais comum e apresenta mais vantagens,
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
22
como permitir que o animal explore o cardume de forma energeticamente mais vantajosa.
Podem formar como que paredes em redor do cardume, tornando-o mais coeso, mergulho
sincronizado, produção de uma “nuvem” de bolhas ou trazer o cardume para a superfície,
onde é mais vulnerável (Reynoso 1991; Silva 1999; Murphy et al 2013). Assim, necessitam
de adaptar a sua atividade aos movimentos das presas, para uma alimentação mais eficaz
(Reynoso 1991; Silva 1999). A seleção das estratégias de alimentação pode ser afetada pela
variação na distribuição das presas e a produtividade, possivelmente como resultado de
diferentes habitats, ou seja, águas rasas/mar aberto (Stockin & Orams 2009). Por vezes, no
Oceano Atlântico Nordeste, esta espécie pode ser vista a caçar associada a outras espécies
de cetáceos como por exemplo Stenella frontalis e Tursiops truncatus (Murphy et al 2013).
Existem situações, como a diminuição dos stocks das presas devido à sobrexploração,
que fazem com que a dieta destes cetáceos divirja, ou até mesmo que a espécie desapareça
em algumas áreas. No Mar Mediterrâneo, a sobrexploração da anchova e da sardinha fez
com que as populações aí existentes e, normalmente, mais abundantes, desaparecessem
(Bilgman et al 2008).
Os dados disponíveis sobre a dieta de golfinhos-comuns têm aumentado muito
globalmente nas últimas duas décadas, com estudos realizados tanto em animais arrojados
como capturados acidentalmente em artes de pesca (Brophy et al 2009).
Os poucos estudos que existem acerca da dieta do golfinho-comum em Portugal
Continental, levou a que se realizasse este trabalho, uma vez que, como referido
anteriormente, é de grande importância caraterizar todos os aspetos acerca da sua dieta, pois
ajuda no conhecimento geral da espécie, sendo assim mais fácil a sua conservação.
Na Tabela I, encontra-se uma lista das principais espécies de presas do golfinho-
comum, segundo estudos feitos nos Oceanos Atlântico e Pacífico.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
23
Tabela I) Lista das principais espécies de presas do golfinho-comum Delphinus delphis, segundo
estudos feitos nos Oceanos Atlântico e Pacífico.
Local Espécie de presa com maior
importância Referência
Oceano Atlântico
Portugal
Sardinha (Sardina pilchardus),
verdinho (Micromesistius
poutassou), Macroramphosus
sp., carapau (Trachurus sp.),
cavala (Scomber japonicus).
Loligo sp. e Alloteuthis sp.
Silva (1999)
Galiza
Verdinho (Micromesistius
poutassou), sardinha (Sardina
pilchardus), Atherina sp., faneca
(Trisopterus sp.), cavala
(Scomber scombrus), carapau
(Trachurus sp.), pescada
(Merluccius merluccius) e
Gobiidae.
Sepiolidae, Alloteuthis sp.,
Loligo sp. e Ommastrephidae.
Santos et al (2013)
Irlanda
Em mar aberto:
Carapau (Trachurus trachurus),
peixe lanterna (Myctophum
punctatum) e Notoscopelus
kroyeri.
Lula (Brachioteuthis riisei)
Junto à costa:
Faneca (Trisopterus sp.) e
Gobiidae.
Sepiolidae, Ommastrephidae e
Loliginidae.
Brophy et al (2009)
Cavala (Scomber scombrus),
carapau (Trachurus trachurus),
pescada (Merluccius
merluccius) e verdinho
(Micromesistius poutassou).
Couperus (1997)
Brasil
Pargo (Pagrus pagrus), carapau
(Trachurus lathami).
Lula (Loligo plei)
Melo et al (2010)
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
24
Mar Mediterrâneo
Anchova europeia (Engraulis
encrasicolus), sardinha europeia
(Sardina pilchardus), sardinela
(Sardinella aurita) e peixe-
agulha Belone belone.
Cefalópodes e crustáceos.
Bearzi et al (2003)
Baía de Biscaia
Myctophidae (Notoscopelus
kroeyeri; Myctophum puntatum)
Pusineri et al (2007)
Dorsal Meso-
Atlântica (entre
Islândia e Açores)
Peixe-lanterna (Lampanyctus
macdonaldi), Stomias boa ferox
e peixe-víbora (Chauliodus
sloani)
Doksæter et al (2008)
Oceano Pacífico
México
Atum-albacora (Thunnus
albacares)
Scott & Cattanach (1998)
Califórnia
Myctophidae, pescada do
Pacífico (Merluccius productus).
Abraliopsis felis, lula-da
Califórnia (Loligo opalescens).
Osnes-Erie (1999)
Nova Zelândia
Carapau (Trachurus
novaezelandiae), peixe-voador
(Cypselurus lineatus) e peixe-
agulha (Hyporhamphus ihi).
Anchova (Engraulis australis),
carapau (Trachurus spp.).
Lula (Nototodarus spp.).
Neumann & Orams
(2005)
Meynier et al (2008a)
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
25
1.7. Objetivos
Há uma notável falta de informações acerca da dieta de golfinhos-comuns ao longo
da costa de Portugal continental.
Este trabalho teve como principal objetivo contribuir para o estudo da dieta do
golfinho-comum Delphinus delphis ao longo da costa portuguesa, com dados de indivíduos
arrojados ou capturados acidentalmente em artes de pesca, comparando os dados entre sexos
e maturidade.
O presente estudo tem como finalidade fazer um estudo quantitativo e qualitativo das
principais espécies de presas do golfinho-comum, a fim de perceber a importância relativa
de cada uma delas, para uma melhor gestão das pescas e da conservação desta espécie de
cetáceo.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
26
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
27
2. Materiais e Métodos
A análise da dieta do golfinho-comum na costa continental portuguesa (norte e
centro) foi feita através da análise de conteúdos estomacais desta espécie. No mapa da Figura
4 pode ver-se os locais da costa continental portuguesa de onde são provenientes os
arrojamentos dos indivíduos que foram amostrados neste estudo, correspondendo à zona
Norte e Centro do país. Esta zona engloba a área de atuação da rede regional de arrojamentos
de animais marinhos do centro e norte de Portugal, coordenada localmente pela Sociedade
Portuguesa de Vida Selvagem (SPVS) e integrada na Rede de Arrojamentos de Mamíferos
Marinhos coordenada pelo Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).
As amostras mais antigas estavam congeladas (-20oC) de modo a conservar as
mesmas até ao seu processamento, enquanto as mais recentes não foram congeladas pois
foram tratadas e triadas de imediato.
Figura 4) Distribuição dos arrojamentos de
golfinho-comum (Delphinus delphis) cujos
estômagos foram analisados no presente estudo.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
28
A parte prática foi dividida em duas fases diferentes. Na primeira, procedeu-se à
lavagem dos conteúdos estomacais, separação das estruturas duras da matéria orgânica ainda
existente e pré-triagem dessas em otólitos, bicos e ossos. A segunda tarefa consistiu na
triagem das partes duras de forma a separá-las segundo as suas semelhanças, na sua
identificação, contagem e medição.
2.1. Lavagem e triagem das estruturas duras
Foram analisados 55 conteúdos estomacais de golfinhos-comuns arrojados ou
capturados acidentalmente. Destes 55 estômagos, apenas 1 estava vazio e outro estava
completamente digerido, sendo difícil identificar.
Aquando da análise dos estômagos, todos os compartimentos foram analisados e
lavados, de forma a retirar todo o conteúdo estomacal. Todos os conteúdos foram
encontrados no estômago primário e no secundário, embora normalmente neste último
houvesse muito pouco conteúdo estomacal, enquanto no estômago pilórico nunca foi
encontrado qualquer conteúdo. Os conteúdos estomacais encontrados foram posteriormente
passados por um crivo (1mm) com água quente corrente, para não deixar passar estruturas
importantes para identificação, como otólitos e bicos de cefalópodes. Nos casos em que
foram encontrados peixes ainda intactos ou apenas parcialmente digeridos, estes foram
colocados numa solução de água quente e Helizyme, uma preparação enzimática que acelera
a digestão da matéria orgânica e assim facilita a sua separação das partes duras, até que o
conteúdo estivesse devidamente limpo, altura em que se colocava na estufa para secar depois
da separação dos bicos (Figura 5).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
29
Antes da secagem dos conteúdos estomacais, estes foram triados para separar os
bicos de cefalópodes do resto da amostra (Figura 6), uma vez que ficariam danificados com
a secagem na estufa, interferindo na medição e identificação. Estes foram armazenados em
frascos, devidamente identificados, em álcool a 70%.
Figura 6) Separação dos bicos de cefalópodes da restante amostra e armazenamento destes em
frascos com álcool a 70%.
Figura 5) Conteúdo estomacal após ser limpo,
pronto para secar na estufa.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
30
Posteriormente, a amostra já pré-triada foi colocada num recipiente durante um ou
dois dias na estufa a 50oC.
Quando se tratava de parasitas, crustáceos ou poliquetas, estes eram colocados num
frasco com etanol 70% para depois serem contados.
Após a secagem na estufa, para cada conteúdo estomacal, foram separados os ossos
mais importantes, ou seja, com características que permitem mais facilmente identificar as
presas a que pertencem, como as maxilas, os dentários e as pré-maxilas (Figuras 7 e 8).
Foram também separados os otólitos, de acordo com a sua semelhança.
Figura 7) Imagens ilustrativas do crânio de um peixe, indicando a
localização do dentário, da maxila e da pré-maxila
(http://osteobase.mnhn.fr/).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
31
2.2. Identificação, contagem e medições das estruturas duras
Após a separação das estruturas de interesse, procedeu-se à sua identificação até ao
nível taxonómico mais baixo possível, com a ajuda de guias publicados (Watt et al 1997;
Tuset et al 2008) e coleções de referência (SPVS). A estimativa do número total de presas
de peixe baseou-se no número mais alto de estruturas encontradas (otólitos sagittae,
dentários, maxilas ou pré-maxilas), dividido por dois, já que todas estas estruturas se
encontram aos pares nos peixes. A única exceção são os otólitos da família Gobiidae que
devem ser divididos por quatro (Tollit et al 2010). No caso dos cefalópodes, foi determinado
o número de bicos superiores e inferiores (uma vez que cada indivíduo tem um de cada),
sendo o valor mais alto utilizado para contabilizar o número de presas. Para contabilizar os
crustáceos, já que a maioria dos indivíduos se encontrava em pedaços, e para evitar que o
Figura 8) Triagem das estruturas importantes para identificação das
espécies presentes no conteúdo estomacal.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
32
mesmo indivíduo fosse contabilizado, foi apenas contado o números de cabeças. Neste grupo
de presas não foi possível fazer a identificação, devido ao seu estado de degradação.
Após a identificação e contabilização, procedeu-se à medição dos otólitos e dos bicos
(Figura 9). No caso dos otólitos, foi medido o comprimento dos otólitos (OL). No caso dos
bicos, foram medidos apenas os inferiores, já que só existem retas de regressão para esses.
As medidas utilizadas foram o comprimento do rostro (LRL) para as espécies de lulas
(Alloteuthis sp. e Loligo sp.) e o comprimento do manto do bico (LHL) para as espécies de
polvos e chocos (Sepia sp. e Sepiolidae). Foram medidos um mínimo de 30 otólitos
escolhidos aleatoriamente ou 10% da amostra, se houvesse mais do que 300 otólitos na
amostra.
Figura 9) Exemplo de medição de (1) comprimento de um otólito de sardinha
(Sardina pilchardus), (2) comprimento do rostro de um bico inferior de Alloteuthis sp.
e do comprimento do manto do bico de Sepiolidae, com o software DinoCapture 2.0.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
33
Todas as medições foram feitas utilizando a câmara DinoEye – AM423U, uma lupa
Motic SMZ – 168 e o software DinoCapture 2.0, seguindo padrões estabelecidos pela
calibração. A medida era registada em “mm”, com três casas decimais.
Nos casos em que o otólito ou o bico era demasiado grande para ser observado na
lupa na sua totalidade, a medição foi feita com recurso a papel milimétrico, sendo por isso,
um valor aproximado às unidades. Quando os otólitos/bicos se encontravam em mau estado
(partidos ou muito gastos), apenas eram selecionados os que se encontravam em melhores
condições para efetuar as medições.
2.3. Análise descritiva dos dados
Para determinar o comprimento e o peso da presa, foram utilizadas, sempre que
disponíveis, equações de regressão. Para as presas que não foram identificadas até à espécie,
chegando apenas até ao género ou à Família, foram utilizadas equações correspondentes à
espécie que era mais comum na nossa costa. Para as espécies de peixe Boops boops, Sarda
sarda e Scomber sp. não foi encontrada a equação de regressão para o peso, não sendo por
isso estimados os pesos para estas espécies. Para a família Ommastrephidae não foi
encontrada a equação de regressão para o tamanho, não sendo assim estimado o
comprimento médio.
As tabelas II e III fornecem a informação bibliográfica de onde foram recolhidas as
equações de regressão utilizadas neste estudo.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
34
Tabela II) Equações de regressão utilizadas para calcular o tamanho e o peso das presas de peixe
encontradas nos conteúdos estomacais. TL – comprimento total do peixe (mm); W – peso total (g);
OL - comprimento do otólito (mm). Para os casos em que não foi possível obter a equação de
regressão correspondente à ordem taxonómica pretendida (género/família), é indicado entre
parêntesis o nome da espécie que corresponde à (s) equação (s) utilizada (s).
Espécie de presa Equações de regressão Referência bibliográfica
Sardina pilchardus TL = 47.45*OL1.13
W = 6.92*10-6 * TL3.03
Assis (2000)
Granadeiro & Silva (2000)
Trisopterus luscus TL = 11.30*OL1.29
W = 4.33*10-6 * TL3.19
Assis (2000)
Granadeiro & Silva (2000)
Trachurus sp. TL = 35.49*OL – 30.99
W = 6.73*10-6 * TL3.03 Granadeiro & Silva (2000)
Merluccius merluccius TL = 18.23*OL1.07
W = 2.30*10-6 * TL3.18
Assis (2000)
Granadeiro & Silva (2000)
Micromesistius poutassou TL = 12.63*OL1.19
W = 3.40*10-6 * TL3.09
Assis (2000)
Granadeiro & Silva (2000)
Scomber scombrus TL = -20.41+87.59*OL
W = 1.12*10-7 * TL3.75
Harkonen (1986)
Granadeiro & Silva (2000)
Scomber colias TL = 17.21*OL1.87
W = 4.73*10-8 * TL3.90
Assis (2000)
Granadeiro & Silva (2000)
Atherina sp.
(A. presbyter)
TL = 24.36*OL1.08
W = 0.006304*(TL/10)3.01000
Assis (2000)
Santos et al (2007)
Gobiidae
(Gobius niger)
TL = 20.37*OL1.15
W = 0.225*OW4.197
Assis (2000)
Harkonen (1986)
Bothidae
(Scophthalmus rhombus)
TL = -11.42+54.77*OL
W = 1.4*OL3.20 Harkonen (1986)
Argentina sp.
(A. sphyraena)
TL = 29.19*OL1.10
W = 0.5592*OL3.173
Assis (2000)
Harkonen (1986)
Engraulis encrasicolus TL = 28.28*OL1.23
W = 1.80*10-6*TL3.24 Assis (2000)
Ammodytidae
(Hiperoplus lanceolatus)
TL = -4.024+56.84*OL
W = 0.461*OL2.903 Harkonen (1986)
Labrus sp.
(L. bergylta)
TL = -31.24+67.97*OL
W = 0.0141*TL3.039
Harkonen (1986)
Morato et al (2001)
Boops boops TL = 1.376*OL+2.606 Macrì et al (2012)
Belone belone TL = (OL – 1.33)/0.06 Zorica et al (2010)
Myctophidae
(Myctophum punctatum)
TL = 16.77*OL1.36
W = 1.90*10-6*TL3.26 Assis (2000)
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
35
Tabela III) Equações de regressão utilizadas para calcular o tamanho e o peso das presas de
cefalópodes encontradas nos conteúdos estomacais. L - comprimento total do manto (mm); W –
peso total (g); LRL - comprimento do rostro do bico inferior (mm); LHL – comprimento do manto
do bico inferior (mm). Para Alloteuthis sp. e Eledone sp. não foi possível obter a equação de
regressão do peso correspondente ao género, sendo indicado entre parêntesis o nome da espécie
que corresponde à(s) reta(s) utilizada(s).
Espécie de presa Equações de regressão Referência bibliográfica
Alloteuthis sp.
(A. subulata)
L = -30.990+LRL*113.970
W = 7.389060*LRL2.75000 Clarke (1986)
Sepiolidae L = 18.540+LHL*1.650
W = 2.651170*LHL0.54500 Clarke (1986)
Loligo sp. L = -42.220+LRL*84.274
W = 6.195360*LRL3.24200
Clarke (1986)
Santos et al (2001)
Sepia sp. L = -2.140+LHL*21.890
W = 0.123690*LHL4.06000 Clarke (1986)
Ommastrephidae W = 2.337310*LRL2.82000 Brown & Pierce (1998)
Eledone sp.
(E. cirrhosa)
L = 3.380+LHL*26.570
W = 5.365600*LHL2.85000 Clarke (1986)
Foi determinado também, para cada espécie de presa presente em cada estômago, o
número total de indivíduos (N), a ocorrência de cada espécie (F) e o peso total (para as presas
em que foi possível estimar o peso com as equações de regressão) (P). Com base nestes
valores, foram calculados três índices (índice de importância numérica - %N; índice de
ocorrência - %F; índice de peso estimado - %P), que permitiram avaliar a importância
relativa de cada presa na dieta do golfinho-comum.
%N = 𝑵
𝑿, onde N é o número total de indivíduos de uma espécie de presa encontrados em
toda a amostra e X é o número total de presas.
%F = 𝑭
𝑨, onde F é o número de estômagos em que uma espécie de presa está presente e A é
o número total de estômagos observados.
%P = 𝑷
∑𝑷𝑻, onde P é a soma dos pesos estimados de uma espécie de presa e PT é o peso total
de todas as espécies encontradas.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
36
Os dados foram analisados para verificar se existiam diferenças na dieta quanto ao
sexo e maturidade dos indivíduos. Para as análises conforme o sexo, apenas foram tidos em
conta os indivíduos em que foi possível identificar o sexo no momento da necrópsia, já que
os de sexo indeterminado não forneciam uma informação relevante nesta variável. Para
avaliar a maturidade, os indivíduos foram divididos em três grupos: maturos, imaturos e não
determinados. Os órgãos reprodutores foram analisados durante a necrópsia, tendo em conta,
para os machos, o tamanho e o peso dos testículos (Murphy et al 2005) e para as fêmeas, a
presença/ausência de cicatrizes ou folículos nos ovários, conforme descrito em Murphy et al
(2009). Para os indivíduos cuja maturidade não foi determinada por observação dos órgãos
reprodutores, o estado de maturidade foi definido com base no tamanho do indivíduo
(quando disponível), de acordo com o descrito em Murphy & Rogan (2006) (machos
imaturos – 105 – 203.5 cm; fêmeas imaturas – 93 – 198 cm; machos maturos – 184 – 231
cm; fêmeas maturas – 183 – 216 cm).
Posteriormente, agruparam-se as espécies-presa de acordo com o tipo de habitat e
profundidade em que ocorrem (tabela IV, Maigret & Ly 1986; Silva 1999; Riede 2004;
Mytilineou et al 2005), permitindo comparar a preferência por presas pelágicas (P),
mesopelágicas (M) ou demersais (D) confome o sexo e a maturidade dos golfinhos-comuns.
O habitat é definido dependendo do local onde os indivíduos vivem, em termos de
profundidade (habitat vertical) e de distância à costa (habitat horizontal).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
37
Tabela IV) Habitat e profundidade (m) das presas do golfinho-comum. A tabela indica, para cada
presa, o seu habitat vertical (P – Pelágico, MP – Mesopelágico, D – Demersal), o seu habitat
horizontal (N – Nerítico, O – Oceânico) e a profundidade a que podem ser encontradas (?,
desconhecida) (Maigret & Ly 1986; Silva 1999; Riede 2004; Mytilineou et al 2005).
Espécie Habitat vertical Habitat
horizontal Profundidade
Sardina pilchardus P N 10-100
Trisopterus luscus D N 30-300
Trachurus sp. P N 20-500
Merluccius
merluccius MP N/O 150-500
Micromesistius
poutassou MP N/O 100-750
Scomber scombrus P N 20-250
Scomber colias P N 20-300
Atherina presbyter P N 15-50
Gobiidae D N 25-75
Bothidae D N 15-350
Argentina sphyraena D N/O 50-700
Engraulis
encrasicolus P N 0-400
Ammodytidae D N 15-60
Labrus sp. D N 1-50
Boops boops P/D N 15-350
Belone belone P O 0-?
Myctophidae MP O 100-750
Sarda sarda P N 80-200
Alloteuthis sp. D N 20-200
Sepiolidae D N 20-100
Loligo sp. P/D N 20-250
Sepia sp. D N 50-450
Ommastrephidae P/D N/O 100-400
Eledone sp. P/D N 0-200
P – Pelágico; D – Demersal; MP – Mesopelágico
Devido ao desequilíbrio da amostra relativamente à causa de morte e ano, estas
variáveis não foram analisadas estatisticamente, sendo apenas feita uma análise descritiva
relativamente à causa de morte. Os animais foram divididos em três grupos, nomeadamente
indivíduos que morreram por captura acidental ou captura acidental provável, indivíduos em
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
38
que não foi possível determinar a causa e indivíduos que morreram de outras causas (e. g.
doença, arrojamento vivo). No caso dos indivíduos que morreram por captura acidental, a
interação com artes de pesca era óbvia uma vez que traziam restos de redes ou marcas
corporais que denunciavam interferência humana (golpes, lacerações). Aqueles que foram
classificados como captura acidental provável não apresentavam marcas externas óbvias,
mas a análise interna levou a crer que existiu interação (e. g. sinais de asfixia).
A tabela V mostra a constituição da amostra em função do ano, indicando o número
de indivíduos de cada sexo, estado de maturidade e causa de morte.
Tabela V) Constituição anual da amostra. A tabela mostra o número de golfinhos-comuns
amostrados segundo o ano em que foram recolhidos, indicando para cada ano o número total de
animais amostrados (N) e o número de animais por sexo (M - macho, F - fêmea, ND - não
determinado), por maturidade (MI – machos imaturos; FI – fêmeas imaturas; MM – machos
maturos; FM – fêmeas maturas) e por causa de morte (CA - captura acidental, CAP – captura
acidental provável, ND – não determinada, OC – outras causas).
Ano N Sexo Maturidade Causa de Morte
M F ND MI FI MM FM CA/CAP ND OC
2004 1 0 1 0 0 0 0 1 0 0 1
2008 1 0 1 0 0 0 0 1 0 1 0
2009 1 0 1 0 0 0 0 1 1 0 0
2012 2 1 1 0 1 0 0 1 1 1 0
2013 5 4 1 0 0 1 4 0 5 0 0
2014 24 12 12 0 8 9 4 3 20 4 0
2015 21 11 7 3 9 3 2 4 15 5 1
Total 55 28 24 3 18 13 10 11 42 11 2
2.4. Análise estatística
Foram realizadas análises estatísticas univariadas (teste de Mann-Whitney) para
avaliar a influência de variáveis como sexo e maturidade (categóricas) na dieta de golfinho-
comum, considerando a importância numérica de determinadas espécies-presa.
Para fins estatísticos, foram analisadas individualmente as importâncias numéricas
das presas presentes em mais de 30 estômagos, tais como Sardina pilchardus, Trachurus
sp., Gobiidae, Alloteuthis sp. e Sepiolidae. Posteriormente, as presas com ocorrência superior
a 20% foram agrupadas em dois grupos, de acordo com o habitat onde ocorrem: pelágicas
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
39
(onde foram também incluídas as presas meso-pelágicas) e demersais. Assim, o grupo das
espécies pelágicas englobou Sardina pilchardus, Trachurus sp., Scomber scombrus,
Engraulis encrasicolus e Atherina presbyter enquanto o grupo das demersais incluiu
Trisopterus luscus, Gobiidae, Ammodytidae, Allotheuthis sp., Sepiolidae e Loligo sp..
A análise da variação da dieta de golfinho-comum consoante a maturidade do animal
foi baseada em duas categorias (imaturos ou maturos), por observação dos órgãos
reprodutores ou tamanho dos indivíduos, como descrito acima.
De forma a avaliar as diferenças das determinadas espécies-presa tendo em conta o
sexo e maturidade dos golfinhos foram realizados testes não paramétricos, uma vez que os
dados de importância numérica não cumpriam com o pressuposto de normalidade exigido
pelos métodos paramétricos. Tendo em conta que se pretendiam comparar apenas dois
grupos em cada uma das variáveis utlizadas (sexo e maturidade) aplicou-se o teste de Mann-
Whitney. A percentagem de golfinho-comum analisada por variável encontra-se descrita nos
gráficos representados na figura 10. Foram retirados da análise os pontos extremos (oultiers),
uma vez que poderiam influenciar os resultados (Zuur et al 2007). As análises estatísticas
foram realizadas no software R 3.1.2 (R development team, 2014).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
40
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
41
3. Resultados
A amostra deste estudo foi constituída por 55 estômagos, dos quais 28 (51%) são de
animais machos e 24 (44%) de animais fêmeas (tabela V, figura 10). Em relação à
maturidade, foram analisados 31 indivíduos imaturos (56%) e 19 maturos (35%). Quanto à
causa de morte, foi determinado que 76% dos indivíduos amostrados foram capturados ou
provavelmente capturados acidentalmente por artes de pesca, em 20% não foi possível
determinar a causa de morte e 4% dos indivíduos correspondiam a arrojamentos vivos ou
apresentavam lesões que evidenciavam patologias.
3.1. Composição da dieta
Na Tabela VI encontra-se descrito, para cada espécie de presa identificada ou Família
(quando não foi possível a identificação da espécie), o número total de indivíduos (N), o
número de estômagos em que a presa foi encontrada (F), o peso estimado total da espécie
(P) para os casos em que foi possível estimá-lo e os respetivos índices de importância
numérica (%N), ocorrência (%F) e peso estimado (%P).
No presente estudo, foram identificadas 15 famílias de peixes, enquanto foram
identificadas apenas 5 famílias de cefalópodes. Foram contabilizadas, no total, cerca de 6699
presas, onde 4395 (66%) eram peixes, 2133 (32%) eram cefalópodes e 171 (3%) eram
crustáceos. Relativamente à ocorrência, verificou-se que os peixes surgiam em 96.36%
51%44%
5%
Sexo
Machos
Fêmeas
Não definido
40%58%
2%
Maturidade
Maturo
Imaturo
Não definido
Figura 10) Percentagem de indivíduos amostrados, classificados por sexo e maturidade.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
42
(N=53) dos conteúdos estomacais analisados, os cefalópodes em 92.73% (N=51) e os
crustáceos em 30.91% (N=17). Os peixes também assumiram uma grande importância na
dieta no que diz respeito ao índice de peso estimado, já que representam 83% do peso
estimado total para todas as presas, enquanto os cefalópodes apenas representam 17%.
Para os peixes, a família que mais se destacou em termos de importância numérica,
foi a família Gobiidae, com cerca de 2125 indivíduos (31.72%), seguida de carapau
Trachurus sp., com 751 indivíduos (11.21%) e sardinha Sardinha pilchardus. Relativamente
à ocorrência das presas de peixe ingeridas, a família Gobiidae e a sardinha Sardina
pilchardus foram as que apresentaram maior ocorrência (ambos com 63.64%), seguido de
carapau Trachurus sp. (61.82%). As presas que mais contribuíram para o peso total estimado
foram o carapau (21.99%), a sardinha (21.20%) e a faneca Trisopterus luscus (11.67%,
tabela VI).
Relativamente aos cefalópodes, verificou-se uma maior importância numérica e
ocorrência de Alloteuthis sp., com 1327 indivíduos ingeridos (19.81%) e ocorrência em 80%
dos estômagos, seguido de Sepiolidae, com 743 presas ingeridas (11.09%) e uma ocorrência
de 76.36% e Loligo sp., com 51 presas presentes (0.76%) e ocorrendo em 36.36% dos
estômagos analisados. Em termos de peso total estimado ingerido, Loligo sp. foi
predominante, com uma percentagem de 7.21%, seguido de Alloteuthis sp. (6.77%) e
Sepiolidae (2.70%) (tabela VI). As restantes espécies e famílias foram identificadas em 1-4
estômagos, representando ocorrências mais baixas (tabela VI).
Assim, verificou-se que as famílias com maior importância na dieta do golfinho-
comum, tanto a nível do número de presas como em ocorrência com que aparecem nos
estômagos são os Gobiidae, Clupeidae, Carangidae (peixes) e Alloteuthis sp. (cefalópodes)
(tabela VI).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
43
Tabela VI) Espécies e Famílias de presas identificadas e a sua importância na dieta de golfinho-
comum. A tabela mostra o número total de indivíduos encontrados (N), o respetivo índice de
importância numérica (%N), o número de estômagos em que a espécie/Família foi identificada (F),
o respetivo índice de ocorrência (%F), o peso total estimado (P) e o respetivo índice de peso
estimado (%P). NE – Não estimado.
Família Espécie N %N F %F P %P
Clupeidae Sardina pilchardus 384 5.732 35 63.636 13952.114 21.200
Gadidae
Trisopterus luscus 200 2.986 23 41.818 7681.670 11.672
Micromesistius
poutassou 141 2.105 4 7.273 1212.538 1.842
Carangidae Trachurus sp. 751 11.211 34 61.818 14474.245 21.994
Merlucciidae Merluccius
merluccius 109 1.627 20 36.364 3485.405 5.296
Scombridae
Scomber sp. 30 0.448 5 9.091 NE NE
Scomber scombrus 58 0.866 14 25.455 3975.520 6.041
Scomber colias 63 0.940 9 16.364 2975.011 4.521
Sarda sarda 6 0.089 2 3.636 NE NE
Atherinidae Atherina sp.
(A. presbyter) 118 1.761 15 27.273 705.936 1.073
Gobidae - 2125 31.721 35 63.636 446.148 0.678
Bothidae - 21 0.313 10 18.182 1170.371 1.778
Argentinidae Argentina sp.
(A. sphyraena) 56 0.836 4 7.273 1349.825 2.051
Engraulidae Engraulis
encrasicolus 67 1.000 14 25.455 418.532 0.636
Ammodytidae - 253 3.777 16 29.091 1451.335 2.205
Labridae Labrus sp. 3 0.045 2 3.636 46.873 0.071
Sparidae Boops boops 2 0.030 1 1.818 NE NE
Belonidae Belone belone 6 0.089 2 3.636 1112.555 1.691
Myctophidae - 2 0.030 1 1.818 2.699 0.004
Total de peixes 4395 66% 53 96% 54461 83%
Loliginidae Alloteuthis sp. 1327 19.809 44 80.000 4457.045 6.772
Loligo sp. 51 0.761 20 36.364 4745.684 7.211
Sepiolidae - 743 11.091 42 76.364 1775.204 2.697
Sepiidae Sepia sp. 1 0.015 1 1.818 40.945 0.062
Ommastrephidae - 10 0.149 4 7.273 291.429 0.443
Octopodidae Eledone sp. 1 0.015 1 1.818 40.080 0.061
Total de cefalópodes 2133 32% 51 93% 11350 17%
Crustáceos 171 3% 17 31% NE NE
SOMA 6699 65811.163
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
44
3.2. Tamanho das presas
A tabela VII mostra os comprimentos mínimos, médios e máximos, em milímetros,
das presas ingeridas pelo golfinho-comum.
Tabela VII) Comprimentos mínimo, médio e máximo (mm) das presas do golfinho-comum.
Espécie de presa Comprimento
médio (mm)
Mínimo
(mm)
Máximo
(mm)
Sardina pilchardus 170.898 114.767 221.767
Trisopterus luscus 143.340 35.542 243.591
Trachurus sp. 121.882 32.537 237.208
Merluccius merluccius 159.343 49.177 337.367
Micromesistius poutassou 99.650 17.116 219.536
Scomber scombrus 274.827 222.565 306.826
Scomber colias 229.910 133.858 336.212
Atherina sp. 84.557 46.621 147.595
Gobiidae 23.271 10.607 62.857
Bothidae 141.842 81.306 278.149
Argentina sp. 102.210 53.039 171.059
Engraulis encrasicolus 100.985 53.610 204.795
Ammodytidae 127.995 58.784 261.476
Labrus sp. 102.187 78.803 122.517
Belone belone 56.267 49.050 60.483
Boops boops 11.816 9.099 13.267
Myctophidae 60.722 53.293 73.871
Total de peixes 118.335
Alloteuthis sp. 52.666 11.635 91.528
Sepiolidae 19.947 18.887 21.779
Loligo sp. 121.221 28.907 293.022
Sepia sp.* 89.251
Ommastrephidae NE NE
Eledone sp.* 57.184
Total de cefalópodes 68.054
* valores de comprimento referem-se a apenas 1 indivíduo
No caso dos peixes, o comprimento médio total foi de 118.335 mm, enquanto os
cefalópodes apresentaram um comprimento médio total do manto de 68.054 mm (tabela
VII). No entanto, para algumas espécies não foi encontrada nenhuma equação de regressão,
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
45
logo não foi possível calcular o tamanho (tabela II). Para Sepia sp. e Eledone sp. apenas
existia um indivíduo para cada uma das espécies, sendo que os valores de comprimento
médio que estão indicados na tabela são os valores estimados para o comprimento.
Com o gráfico da figura 11, verifica-se que cerca de 58% das presas têm entre 100 e
200 mm de comprimento, 28% têm entre 50 e 100 mm, 12% com menos de 50 mm e 8%
com mais de 200 mm, existindo assim duas classes de tamanho dominantes: 50-100 mm e
100-200 mm.
3.3. Habitat e comportamento das presas
As presas que foram identificadas nos conteúdos estomacais, foram agrupadas de
acordo com o seu comportamento, habitat e profundidades a que se encontravam (tabela
VIII). No entanto, para a análise estatística apenas foram utilizadas as espécies com
ocorrência superior a 20%.
14%
32%
59%
9%
<50 mm
50-100 mm
100-200 mm
>200 mm
Figura 11) Distribuição de tamanhos das espécies-presa do golfinho-comum.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
46
Tabela VIII) Preferências de habitat e profundidade (m) das presas do golfinho-comum. A tabela
indica, para cada presa, o seu habitat vertical (Pelágico, Mesopelágico, Demersal), habitat
horizontal (N – Nerítico, O – Oceânico) e a profundidade a que podem ser encontradas (?,
desconhecida) (Maigret & Ly 1986; Silva 1999; Riede 2004; Mytilineou et al 2005).
Espécie Habitat
vertical
Habitat
horizontal Profundidade %N %F
Sardina pilchardus*
Pelágico
N 10-100 5.732 63.636
Trachurus sp.* N 20-500 11.211 61.818
Scomber scombrus* N 20-250 0.866 25.455
Scomber colias N 20-300 0.940 16.364
Atherina presbyter* N 15-50 1.761 27.273
Engraulis encrasicolus* N 0-400 1.000 25.455
Belone belone O 0-? 0.090 3.636
Sarda sarda N 80-200 0.090 3.636
Loligo sp.* N 20-250 0.761 36.364
Merluccius merluccius*
Mesopelágico
N/O 150-500 1.627 36.364
Micromesistius
poutassou N/O 100-750 2.105 7.273
Myctophidae O 100-750 0.030 1.818
Trisopterus luscus*
Demersal
N 30-300 2.986 41.818
Gobiidae* N 25-75 31.721 63.636
Bothidae N 15-350 0.313 18.182
Argentina sphyraena N/O 50-700 0.836 7.273
Ammodytidae* N 15-60 3.777 29.091
Labrus sp. N 1 - 50 0.045 3.636
Boops boops N 15-350 0.030 1.818
Alloteuthis sp.* N 20-200 19.809 80.000
Sepiolidae* N 20-100 11.091 76.364
Sepia sp. N 50-450 0.015 1.818
Ommastrephidae N/O 100-400 0.149 7.273
Eledone sp. N 0-200 0.015 1.818
* Espécies e Famílias das principais presas ingeridas utilizadas na análise estatística.
Os dados da tabela VIII mostram, de uma forma geral, que a tendência para a ingestão
de presas demersais é superior, em termos de importância numérica, que as presas
pelágicas/mesopelágicas.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
47
3.4. Variabilidade entre indivíduos de diferentes sexos
Foi avaliado se haveria diferenças na dieta de golfinhos de diferentes sexos, tendo
em conta o tipo de habitat vertical das presas ingeridas (tabela VIII, figura 12).
O gráfico representado na figura 12 mostra que a maior parte das presas presentes
nos conteúdos estomacais de golfinhos de diferentes sexos são presas com preferência por
habitat demersal (78% e 70% de importância numérica nos machos e fêmeas,
respectivamente), seguida de pelágicas e em menor quantidade as presas mesopelágicas. Não
foram encontradas diferenças significativas entre golfinhos de sexos diferentes para a
importância numérica de presas pertencentes ao grupo pelágicas/mesopelágicas (U = 291.5,
p = 0.719) nem presas demersais (U = 238, p = 0.22).
Não foram encontradas diferenças significativas entre golfinhos de sexos diferentes
para a importância numérica da maioria das principais presas dos golfinhos (ocorrência
superior a 30%), nomeadamente Trachurus sp. (U = 361, p = 0.316), Gobiidae (U = 246.5,
p = 0.285), Alloteuthis sp. (U = 294.5, p = 0.762) e Sepiolidae (U = 278.5, p = 0.537), tal
como verificado na figura 13. A única excepção corresponde à importância numérica de
sardinha que foi significativamente diferente entre machos e fêmeas (U = 170, p = 0.013),
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Machos Fêmeas
20%28%
2%
1%
78%70%
% Pelágicos % Mesopelágicos % Demersais
Figura 12) Variabilidade na importância numérica das principais presas ingeridas,
de acordo com as suas preferências de habitat vertical, segundo o sexo dos
golfinhos-comuns.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
48
com os machos a ingerirem menos sardinhas que as fêmeas, tal como representado nas
figuras 13 e 14.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Machos Fêmeas
% N
Loligo sp.
Sepiolidae
Alloteuthis sp.
Ammodytidae
Engraulis encrasicolus
Gobiidae
Atherina sp. (A. presbyter)
Scomber scombrus
Merluccius merluccius
Trachurus sp.
Trisopterus luscus
Sardina pilchardus
0
5
10
15
20
25
30
N m
édio
Sar
din
ha
(Sard
ina p
ilch
ard
us)
Machos
Fêmeas
Figura 13) Índice de importância numérica (%N) das principais presas do
golfinho-comum, de acordo com o sexo dos indivíduos.
Figura 14) Importância numérica média (e desvio-padrão) de sardinha
(Sardina pilchardus) em machos e fêmeas de golfinho-comum.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
49
3.5. Variabilidade entre indivíduos de diferentes estados de maturidade
Relativamente à variabilidade na dieta de golfinho-comum de acordo com o seu
estado de maturidade, a figura 15 mostra que a maior parte das presas presentes nos
conteúdos estomacais de golfinhos de diferentes maturidades são presas com preferências
por habitats demersais (71% e 80% de importância numérica nos imaturos e maturos,
respectivamente), seguida de pelágicas. Assim como na análise de comparação entre sexos
diferentes, as presas mesopelágicas encontram-se em menor quantidade.
Não foram encontradas diferenças significativas entre golfinhos de diferentes estados
de maturidade para a importância numérica de presas pertencentes ao grupo
pelágicas/mesopelágicas (U = 322, p = 0.885) nem demersais (U = 405.5, p = 0.084).
Fazendo uma análise mais específica, verifica-se na figura 16, uma maior
predominância de Gobiidae nos conteúdos estomacais de golfinhos-comuns maturos do que
nos imaturos, enquanto se observa uma maior importância numérica de Trachurus sp.,
Sepiolidae sp. e Alloteuthis sp. em conteúdos estomacais de golfinhos-comuns imaturos.
Figura 15) Variabilidade na importância numérica das principais presas ingeridas, de acordo
com as suas preferências de habitat vertical, segundo o estado de maturidade dos golfinhos-
comuns.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Imaturo Maturo
28%17%
1%
3%
71%80%
% pelágicos % mesopelágicos % demersais
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
50
No entanto, não foram encontradas diferenças significativas entre golfinhos de
maturidades diferentes para a importância numérica da maioria das principais presas
analisadas, nomeadamente Sardina pilchardus (U = 338, p = 0.887), Trachurus sp. (U = 413,
p = 0.115), Gobiidae (U = 393, p = 0.1265) e Sepiolidae (U = 389.5, p = 0.271). A única
excepção corresponde à importância numérica de Alloteuthis sp., que foi significativamente
diferente entre animais imaturos e maturos (U = 447.5, p = 0.011), com os golfinhos maturos
a ingerirem menos Alloteuthis sp. que os imaturos, tal como verificado nas figuras 16 e 17.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Imaturo Maturo
% N
Loligo sp.
Sepiolidae
Alloteuthis sp.
Ammodytidae
Engraulis encrasicolus
Gobiidae
Atherina sp. (A. presbyter)
Scomber scombrus
Merluccius merluccius
Trachurus sp.
Trisopterus luscus
Sardina pilchardus
Figura 16) Índices de importância numérica (%N) das principais presas do golfinho-
comum, de acordo com os diferentes estados de maturidade sexual dos indivíduos.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
51
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
N m
édio
lula
-bic
uda
(All
ote
uth
issp
.)
Imaturo
Maturo
Figura 17) Importância numérica média (e desvio-padrão) de lula-bicuda
Alloteuthis sp. em indivíduos maturos e imaturos de golfinho-comum.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
52
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
53
4. Discussão
4.1. Composição da dieta
Até à data, existem apenas três estudos acerca da dieta do golfinho-comum na costa
Portuguesa (Silva 1996, 1999; Marçalo et al 2013). Os resultados do presente estudo
mostraram que a dieta do golfinho-comum na costa portuguesa é maioritariamente composta
por peixes, e complementada com cefalópodes. De facto, os peixes constituíram o grupo
com maior índice de importância numérica, ocorrência e peso por comparação com os
cefalópodes, tal como descrito em estudos anteriores (Silva 1996; Marçalo et al 2013). Os
resultados obtidos por Silva (1996) em animais arrojados entre 1987 e 1996, mostraram que
85% das presas identificadas eram peixes, com uma corrência de 96% e que 14% eram
cefalópodes, ocorrendo em 50% dos indivíduos analisados. Mais recentemente (2010-2012),
Marçalo et al (2013) reportaram que os peixes, apesar de ocorrerem em todos os indivíduos
analisados, têm um índice numérico mais baixo (64.1%) do que descrito por Silva (1996).
Pusineri et al (2007), na Baía de Biscaia, identificou também um maior índice de importância
numérica de peixes (90%), com uma ocorrência de 93%, enquanto os cefalópodes apenas
representavam 8% dos indivíduos identificados. Mais recentemente, na costa da Galiza,
resultados similares mostram que 89% das presas eram peixes, em cerca de 98% dos
estômagos analisados e 9% eram cefalópodes, em 70% dos estômagos (Santos et al 2013).
Os resultados obtidos no presente estudo mostram a mesma tendência observada por
Marçalo et al (2013), sugerindo que a diminuição de alguns stocks de peixes
predominantemente consumidos pela espécie em anos anteriores (e. g. sardinha, Silva 1999;
Santos et al 2004, 2012) faz com que os cefalópodes se possam tornar numa boa alternativa
na dieta dos golfinhos-comuns, além de outras espécies de peixes, como o carapau e a faneca.
A análise de conteúdos estomacais permite obter informação qualitativa e
quantitativa sobre a dieta, mas também sobre o habitat que o predador ocupa (Barros & Wells
1998; Santos et al 2013). Neste estudo, a importância numérica de presas
pelágicas/mesopelágicas foi similar à das demersais, não sendo possível afirmar que existe
preferência por determinado habitat para alimentação. No entanto, vários estudos ao longo
dos anos (e. g. Collet 1981; Desportes 1985; Silva 1999; Zhou et al 2001; Pusineri et al
2007; Meynier et al 2008b; Brophy et al 2009; Romero et al 2012; Santos et al 2013)
comprovaram que a maioria das presas dos golfinhos-comuns são presas pelágicas. No
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
54
entanto, se os golfinhos não encontram espécies pelágicas, é provável que tenham de
mergulhar a maiores profundidades para procurar alimento, capturando então presas
demersais (Silva 1996, 1999; Santos et al 2013). Outra razão possível para a presença de
espécies demersais nos conteúdos estomacais é a captura das rejeições das operações de
pesca comercial (Silva 1999). Adicionalmente, tendo em conta que o golfinho-comum
apresenta uma atividade alimentar noturna (Evans 1994), a ocorrência de migrações noturnas
verticais que apresentam algumas espécies de presas de maiores profundidades, como o
verdinho (Micromesistius poutassou), a pescada (Merluccius merluccius) e a lula-comum
(Loligo sp.) (Roper & Young 1975; Bakanev et al 1981; Mahe et al 2007), poderão também
justificar a presença de presas demersais nos estômagos de golfinhos.
As principais espécies de peixes ingeridas pelo golfinho-comum, em termos de
importância numérica foram, por ordem decrescente, góbios (Gobiidae), carapau (Trachurus
sp.) e sardinha (Sardina pilchardus). À semelhança do que foi revelado neste estudo, os
góbios constituíram 42.2% na dieta dos indivíduos da população presente na costa francesa
na Baía de Biscaia (entre 1999 e 2002), ocorrendo em mais de 40% dos estômagos analisados
(Meynier et al 2008b). Os resultados na costa da Galiza mostraram que a família Gobiidae
é das mais importantes em termos de percentagem de ocorrência (44.9%), apenas
ultrapassada pelo verdinho (48.8%) e pela sardinha (45.1%), enquanto em termos de
importância numérica o verdinho foi a espécie mais abundande (26.5%), seguido de góbios,
com uma importância numérica de 23.1% e sardinha (4.8%) (Santos et al 2013). De notar
que a elevada ocorrência e importância numérica de góbios nos estômagos de golfinhos,
pode ser devida ao facto desta família servir de alimento a outras presas, como a pescada
(Hill & Borges 2000) e a faneca (França et al 2004), podendo não representar um grupo de
presas importantes diretamente para o golfinho-comum. Por sua vez, tendo em conta tanto a
elevada percentagem de ocorrência, e particularmente o peso de sardinha nos estômagos
analisados, esta espécie apresenta uma elevada importância na dieta de golfinho-comum,
juntamente com o carapau. A importância da sardinha na dieta de D. delphis da costa
portuguesa, em termos de ocorrência e peso foi já descrita em estudos anteriores (Silva 1999;
Marçalo et al 2013).
Quanto aos cefalópodes, este estudo mostrou que a lula-bicuda (Alloteuthis sp.) foi a
mais importante numericamente e a mais frequente, assim como foi verificado por Silva
(1999) na costa portuguesa. Contudo, Marçalo et al (2013) identificou a família Sepiolidae
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
55
como sendo a família de cefalópodes com maior importância numérica na dieta do golfinho-
comum na costa portuguesa, e a mais importante em termos de ocorrência (39.1%). À
semelhança do que se verificou por Marçalo et al (2013), também na costa da Galiza (Santos
et al 2013) e na costa francesa na Baía de Biscaia (Meynier et al 2008b) a família Sepiolidae
foi a mais importante, em termos numéricos, e mais frequente, nos estômagos analisados.
Em termos de peso, na costa portuguesa, Silva (1999) verificou que a lula-comum foi a mais
importante (3.3%). Na Galiza, Santos et al (2013) verificou que a lula-comum foi a espécie
mais importante (3.2% do peso estimado para todas as presas), coincidindo com os
resultados do presente estudo, em que a espécie constituiu 7.59% do peso total estimado para
todas as presas.
4.2. Comportamento Oportunista vs Especialista
Como referido acima, alguns estudos de dieta de golfinho-comum na Europa têm
indicado que as principais presas são pequenos pelágicos em cardume (Young & Cockcroft
1994; Silva 1996, 1999; Meynier et al 2008b; Spyrakos et al 2011; Santos et al 2013). No
entanto, ocorrem variações na dieta entre áreas e estações do ano que levam a que alguns
autores sugiram que esta espécie é oportunista, com uma dieta que reflete a abundância e
disponibilidade local da presa (Evans 1994; Young & Cockcroft 1994; Spyrakos et al 2011).
Mais recentemente, autores como Meynier et al (2008b) e Spitz et al (2010), têm mostrado
que o golfinho-comum apresenta uma aparente preferência por espécies com altas
densidades calóricas. De igual modo, Santos et al (2004) sugeriram que, no momento da
caça, o golfinho-comum seleciona as espécies de peixes que são mais ricas em energia, de
forma a maximizar a taxa de consumo de energia (Meynier et al 2008b). No entanto, há uma
certa dificuldade em distinguir o comportamento especialista ou oportunista dos golfinhos,
principalmente devido à falta de informação sobre a abundância de espécies de presas
disponíveis a uma larga escala, uma vez que estas apresentam grande mobilidade (Torres et
al 2008). Com um comportamento alimentar oportunista, as presas principais serão
consumidas sempre que encontradas, levando a uma relação positiva entre a abundância de
presas e a sua importância nas amostras dos conteúdos estomacais, enquanto as presas menos
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
56
importantes são consumidas apenas quando as presas preferidas não estão disponíveis,
diminuindo à medida que aumenta a abundância de presas principais (Santos et al 2013).
No presente estudo, no total foram identificadas 25 espécies diferentes de presas,
pertencentes a 20 famílias. As presas mais importantes são as espécies mais frequentes e
abundantes na costa portuguesa (Cardador et al 2007). A grande variabilidade alimentar
exibida e a predominância na dieta das espécies mais abundantes sugerem um
comportamento alimentar oportunista, em que os indivíduos optam pelas espécies mais
frequentes e fáceis de capturar. Este comportamento oportunista explica igualmente a
preferência demonstrada pelas presas que exibem um comportamento gregário e formam
grandes cardumes, como a sardinha, o carapau, a faneca, entre outros (Reubens et al 2011;
IPMA 2015). Este comportamento alimentar oportunista parece ser caraterístico desta
espécie, tendo já sido descrito por diversos autores (Collet 1981; Desportes 1985; Evans
1994; Young & Cockcroft 1994; Santos et al 2013).
Assim, vários estudos têm comprovado que o golfinho-comum se alimenta
maioritariamente de espécies mais abundante de cada região, em particular (Young &
Cockcroft 1994; Silva 1996, 1999; Santos et al 2004, 2013; Meynier et al 2008b). Meynier
et al (2008b) concluíram que, no mesmo período, as tendências dos stocks de peixe estiveram
de acordo com as tendências observadas na dieta dos golfinhos-comuns. Também Santos et
al (2004) mostraram que a importância das duas principais espécies na dieta do golfinho-
comum na Galiza (verdinho e sardinha) estava relacionada com a abundância destas espécies
de peixes nestas águas.
4.3. Variabilidade na dieta (sexo, estado reprodutor, distribuição geográfica)
Como já foi referido, a sardinha é uma das espécies mais importantes na dieta do
golfinho-comum, assim como o carapau (Silva 1999; presente estudo). Nos últimos 20 anos,
o stock ibérico de sardinha (Península Ibérica, abrangendo Baía de Biscaia, Portugal e Golfo
de Cádiz) tem mostrado algumas flutuações em termos de abundância. No final da década
de 90, o stock da sardinha era muito baixo, mas em 2000 e 2004, o recrutamento foi elevado,
revertendo a tendência de decréscimo do stock desta espécie. No entanto, a partir de 2004,
voltou a haver um declínio que se prolonga até agora (Figura 18, Santos et al 2013; IPMA
2015).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
57
Ao longo dos anos, com o stock da sardinha a diminuir, também diminuiu a sua
importância na dieta dos golfinhos-comuns, levando estes predadores a direcionar-se para
outras espécies pelágicas muito abundantes, como o carapau e a cavala (Marçalo et al 2013).
Ao comparar valores de ocorrência de carapau nos estudos de Silva (1999), Marçalo et al
(2013) e do presente estudo, nota-se que houve um aumento neste índice ao longo do tempo.
De facto, Silva (1999) reportou 45.2%, Marçalo et al (2013) reportaram 50% e no presente
estudo foi registado o valor de 62%, indicando que o carapau tem vindo a aumentar de
importância para o golfinho-comum ao longo dos anos.
Além da abundância das presas, outros factores poderão influenciar a variabilidade
da dieta de golfinho-comum, nomeadamente factores externos (e. g. sazonalidade,
localização geográfica), que afetam a taxa de encontro entre a presa e o predador (Meynier
et al 2008b; Santos et al 2013), ou factores internos (e. g. sexo, tamanho, maturidade).
Estudos de dieta podem também fornecer dados importantes que poderão permitir a
compreensão da estrutura social de uma população, bem como as necessidades energéticas
dos diferentes grupos reprodutores (Silva 1996). Como exemplo, num estudo sobre o regime
alimentar da população de D. delphis da região de Natal, na África do Sul, Young &
Cockcroft (1994) encontraram diferenças na composição da dieta entre indivíduos imaturos
e maturos e entre sexos. Os seus resultados levaram-nos a sugerir que os machos tendem a
concentrar-se numa única espécie-presa (sardinha), uma vez que era a mais abundante e/ou
mais fácil de capturar. Por sua vez, as fêmeas apresentaram uma dieta mais variada,
selecionando outras presas que não as mais abundantes (sardinha) ou alimentando-se
oportunisticamente de espécies-presa que lhes fornecessem as exigências energéticas.
a) b)
Figura 18) Estimativas de (a) recrutamento da sardinha desde 1978 e (b) biomassa do stock (mil t), em
Portugal (retirado de IPMA (2015)).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
58
Também concluíram que as fêmeas grávidas e lactantes têm uma dieta diferente das restantes
fêmeas maturas, o que deverá ser um reflexo de necessidades energéticas distintas. Santos
et al (2004, 2013, 2014) e Meynier et al (2008b) descreveram resultados semelhantes para
esta espécie, uma vez que detetaram diferenças na composição da dieta consoante o sexo ou
maturidade dos indivíduos analisados. Os resultados do presente estudo mostraram
diferenças estatisticamente significativas entre os dois sexos, apenas para a sardinha,
verificando-se uma maior abundância de indivíduos de sardinha nos estômagos das fêmeas,
ao contrário do verificado por Young & Cockcroft (1994). Estas diferenças podem estar
relacionadas com o facto de as fêmeas, por acompanharem ativamente as crias (Ringelstein
et al 2006), passarem grande parte do seu tempo perto da superfície, local onde se encontram
as presas pelágicas, como a sardinha. Este tipo de comportamento por parte das fêmeas foi
também detetado no estudo recente de dieta de bôto (Phocoena phocoena) ao longo da costa
portuguesa (Aguiar 2013) e na zona oceânica da Baía de Biscaia, em que os autores
sugeriram que as diferenças se deveram à incapacidade de mergulho das crias e indivíduos
imaturos, assim como à performance limitada das fêmeas pelo acompanhamento das crias
na fase de amamentação (Ringelstein et al 2006). Efetivamente, apesar de não se terem
verificado diferenças significativas no tipo de presas consumidas por machos e fêmeas (com
exceção das sardinhas), notou-se uma maior percentagem de espécies pelágicas em fêmeas,
apesar de ambos os sexos ingerirem maioritariamente presas demersais.
A falta de informação sobre o estado reprodutor (e. g. grávida, lactante) impediu uma
análise aprofundada desta variável na dieta de golfinhos. No entanto, relativamente ao estado
de maturidade reprodutiva (maturo/imaturo), observaram-se diferenças significativas na
abundância de Alloteuthis sp., com um maior consumo por parte dos indivíduos imaturos.
Várias espécies de peixes e cefalópodes tendem a concentrar-se nas camadas superiores da
coluna de água quando apresentam tamanhos mais pequenos (Guerra 1992). Assim, dado os
indivíduos desta espécie de lula ingeridos por golfinho-comum no presente estudo exibirem
tamanhos pequenos (1 – 9 cm), possivelmente encontravam-se mais à superfície. Uma vez
que golfinhos adultos têm uma maior capacidade de mergulho (Ringelstein et al 2006),
podem caçar espécies caraterísticas de profundidades maiores, deixando disponíveis as
restantes para os indivíduos juvenis. Outra possível explicação é esta espécie ser uma das
presas mais fáceis de capturar se considerarmos que a capacidade de caça poderá não ser
ainda muito desenvolvida nos golfinhos-comuns imaturos.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
59
4.4. Interações com as atividades de pesca
A interacção entre golfinhos e artes de pesca tem sido frequentemente relatada (e. g.
Sekiguchi et al 1992; Young & Cockcroft 1994; López et al 2004; Bearzi et al 2006;
Spyrakos et al 2011; Lassalle et al 2012; Vingada et al 2012; Santos et al 2014). Estas
interações operacionais podem ter diversas consequências, nomeadamente a captura
acidental e mortalidade dos cetáceos, e a perda de peixe capturado e danos nos aparelhos de
pesca (Goetz et al 2013; Santos et al 2013).
Na costa portuguesa, o golfinho-comum alimenta-se de várias espécies com elevado
valor comercial, como sardinha, carapau, lula e faneca. Os resultados obtidos neste estudo
no que diz respeito à composição da dieta do golfinho-comum poderão explicar as
mortalidades registadas noutros estudos para esta espécie em determinadas artes de pesca.
De facto, segundo Ferreira (2007) e Vingada et al (2012), as redes de emalhar e tresmalho
são as artes de pesca que provocam maiores níveis de mortalidade no golfinho-comum,
sendo as espécies alvo destas artes a faneca, a pescada, carapau, verdinho e choco (Sepia
sp.). A sardinha, uma das principais espécies-presa do golfinho-comum, é principalmente
capturada com a arte de cerco, estando no entanto presente em quantidades mais pequenas
nas capturas de outras artes como o arrasto, redes de emalhar e arte-xávega (IPMA 2015;
Marçalo et al 2015). Além dos cardumes de sardinha, a pesca do cerco também captura
outros pequenos e médios pelágicos como a cavala, o carapau e o biqueirão (IPMA 2015).
Relativamente aos tamanhos das presas, este estudo verificou uma maior quantidade
de presas presentes nos conteúdos estomacais analisados, com tamanhos entre os 10 e os 20
cm de comprimento, o que corresponde aos tamanhos mínimos legais da maioria das presas
com interesse comercial (DGRM 2015). Apenas a pescada, que apresenta um valor mínimo
de 27 cm, não se encontra entre estes valores, tendo apresentado um valor médio de
comprimento de 15.93 cm. Estes resultados alertam então para potenciais problemas de
conservação associados à interação entre as pescas e os cetáceos, confirmados pelas
espécies-presa ingeridas e pelos tamanhos de presas ingeridos.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
60
4.5. Aplicabilidade da Metodologia
O presente estudo poderá apresentar potenciais limitações. Vários autores referem
que o uso de animais arrojados para o estudo da dieta de cetáceos pode não ser representativo
de uma população ativa e saudável (Meynier et al 2008b; Santos et al 2014). Raramente é
possível determinar a dieta por observação direta (Tollit et al 2010), sendo a análise de
conteúdos estomacais a longo prazo, uma possível alternativa (Santos et al 2013, 2014). No
entanto, existem outros métodos, como a análise de isótopos estáveis ou de ácidos gordos,
que apresentam algumas vantagens, tais como a obtenção de dados sobre a dieta durante um
período de tempo mais alargado (Santos et al 2014). Além disso, e uma vez que a análise de
conteúdos estomacais é baseada na determinação de partes duras de presas, que se acumulam
em diferentes lugares dos estômagos, este método poderá levar a uma sobrestimação de
algumas espécies (Meynier et al 2008b). No entanto, é importante ter em conta que mesmo
para métodos indirectos de estimativa de dieta (isótopos estáveis, ácidos gordos) é necessário
ter informações de base relativamente às principais presas ingeridas pelo predador,
normalmente obtidas unicamente por análises de conteúdo estomacal (Newsome et al 2010).
Adicionalmente, um dos aspetos importantes para um conhecimento da dieta mais
aprofundado é a seletividade dos tamanhos, que muitas vezes é dificultada pela erosão dos
otólitos, levando a uma subestimação da importância relativa do tamanho e peso das presas
(Jobling & Breiby 1986; Silva 1996; Santos et al 2013). No caso dos peixes, os otólitos mais
densos e compactos resistem melhor à ação dos ácidos estomacais, enquanto otólitos mais
pequenos e frágeis (por exemplo, Clupeidae e Scombridae) são mais rapidamente erodidos
(Silva 1996, 1999). Assim, é importante o uso de outras estruturas ósseas, como vértebras e
peças ósseas do crânio (dentários, maxilas e pré-maxilas) na identificação, cálculo do
número de indivíduos e estimativa do comprimento e peso das presas. No entanto, ainda
existe uma falta de guias de identificação dessas outras estruturas, bem como de retas de
regressão. Neste estudo, o uso das peças ósseas do crânio, para além dos otólitos, aumentou
significativamente o número de identificações possíveis. No caso dos cefalópodes, a erosão
dos bicos não é tão frequente, quando comparada com os otólitos levando, muitas vezes, a
uma sobrestimação deste grupo na dieta (Santos et al 2004, 2013; Tollit et al 2010).
Em alguns casos, é necessário ter em conta que existem espécies presentes nos
conteúdos estomacais que podem ser presas de outras presas, sendo por isso uma limitação
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
61
para a viabilidade dos resultados de dieta (Santos et al 2014). Neste estudo observou-se uma
grande quantidade de presas da família Gobiidae, presas estas que também podem servir de
alimento a peixes como a pescada (Hill & Borges 2000) e a faneca (França et al 2004). No
entanto, esta maior importância numérica de Gobiidae pode ser explicada simplesmente pelo
facto de a população de golfinho-comum da costa portuguesa frequentar águas mais
próximas da costa.
O conhecimento sobre a abundância de certas espécies de presas num local, a partir
de dados de conteúdos estomacais de indivíduos arrojados, muitas vezes é dificultado, já que
não se consegue ter a certeza de que o indivíduo arrojado se tenha alimentado naquela área.
Assim, o local de arrojamento não é uma boa indicação do local onde o golfinho se alimentou
(Santos et al 2013). A aleatoriedade das amostras em termos de causa de morte dos
indivíduos é, por isso, importante uma vez que a dieta da população é descrita a partir das
espécies-presa que são encontradas nos conteúdos estomacais. Se, por exemplo, a maior
parte das amostras for de indivíduos capturados acidentalmente, a tendência será de que os
conteúdos sejam compostos maioritariamente por espécies importantes a nível comercial,
não permitindo que se perceba corretamente o regime alimentar destas espécies (Sekiguchi
et al 1992).
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
62
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
63
5. Conclusões
Os resultados do presente estudo permitem avançar com o conhecimento geral do
golfinho-comum na costa oeste portuguesa.
A variabilidade observada nos conteúdos estomacais analisados mostra que existem
diferenças na dieta do golfinho-comum, entre machos e fêmeas, e indivíduos maturos e
imaturos, já que apresentam necessidades energéticas diferentes.
A maior parte dos conteúdos estomacais analisados são provenientes de indivíduos
que foram capturados acidentalmente, considerando vários aspetos analisados durante a
necrópsia do animal, como traumas, golpes e/ou lacerações.
A ingestão de espécies-presa de interesse comercial indica a ocorrência de
competição entre o golfinho-comum e as pescarias portuguesas pelos mesmos recursos, em
termos das espécies-presa selecionadas e das suas classes de tamanho.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
64
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
65
6. Considerações Finais
O método de análise de conteúdos estomacais deve ser revisto, de forma a tentar
minimizar os potenciais erros de sobre e subestimação de número de indivíduos de espécies-
presa encontrados. Além disso, a recolha de amostras deverá decorrer continuamente ao
longo de vários anos, para que a amostra seja representativa.
O desenvolvimento de coleções de referência das principais espécies, assim como de
equações de regressão de tamanhos e pesos, é importante para facilitar e tornar fidedignos
os resultados destes estudos, além do conhecimento da biologia e comportamento dessas
mesmas espécies.
É importante complementar os resultados do presente trabalho, não só com resultados
da análise de conteúdos estomacais de golfinhos-comuns arrojados ao longo da restante área
da costa continental, mas também com resultados de análise de isótopos estáveis e ácidos
gordos desta espécie, para uma visão mais fidedigna e completa da dieta deste predador em
Portugal.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
66
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
67
7. Referências Bibliográficas
Aguiar, Z. (2013). Ecologia alimentar do bôto (Phocoena phocoena) ao longo da
costa continental portuguesa. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências da
Universidade do Porto. 106 p.
Amaha, A. (1994). Geographic variation of the Common Dolphin, Delphinus delphis
(Odontoceti: Delphinidae). Dissertação de Doutoramento. Tokyo University of
Fisheries.
Amaral, A. R., Sequeira, M., Martínez-Cedeira, J. & Coelho, M. M. (2007). New
insights on population genetic structure of Delphinus delphis from the northeast
Atlantic and phylogenetic relationships within the genus inferred from two
mitochondrial markers. Mar. Biol. 151. pp. 1967-1976.
Amaral, K. B. (2014). Biogeografia Histórica dos Golfinhos Delphinidae
(Cetartiodactyla: Delphinidae). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Assis, C. A. S. (2000). Estudo Morfológico dos Otólitos Sagitta, Asteriscus e
Lapillus de Teleósteos (Actinopterygii, Teleostei) de Portugal Continental. Sua
aplicação em estudos de Filogenia, Sistemática e Ecologia. Dissertação de
Doutoramento. Universidade de Lisboa.
Au, W. W. L., Kastelein, R. A., Benoit-Bird, K. J., Cranford, T. W. & McKenna, M.
F. (2006). Acoustic radiation from the head of echolocating harbor porpoises
(Phocoena phocoena). The Journal of Experimental Biology. 209. pp. 2726-2733.
Bakanev, V. S., Isaev, N. A. & Shleinik, V. N. (1981). The Soviet blue whiting
investigations in April-May 1980. International Council for the Exploration of the
Sea. 12 p.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
68
Ballance, L. T. (2009). Cetacean Ecology. In: Encyclopedia of Marine Mammals 2nd
Ed. (Perrin, W.F., Würsig, B., Thewissen, J.G.M., eds.). Academic Press,
Amsterdam. pp. 196-201.
Barros, N.B. & Clarke, M.R. (2009). Diet. In: Encyclopedia of Marine Mammals 2nd
Ed. (Perrin, W. F., Würsig, B. & Thewissen, J. G. M., eds.). Academic Press,
Amsterdam. pp. 323-327.
Barros, N. B. & Wells, R. S. (1998). Prey and feeding patterns of resident bottlenose
dolphins (Tursiops truncatus) in Sarasota Bay, Florida. Journal of Mammalogy. 79
(3). pp. 1045-1059.
Bearzi, G. (2002). Interactions between cetacean and fisheries in the Mediterranean
Sea. In: Cetaceans of the Mediterranean and Black Seas: state of knowledge and
conservation strategies (Notarbartolo di Sciara, G., ed.). A report to the
ACCOBAMS Secretariat, Monaco. Section 9. 20 p.
Bearzi, G, Reeves, R.R., Notarbartolo di Sciara, G., Politi, E., Canadas, A., Frantzis,
A. & Mussi, B. (2003). Ecology, status and conservation of short-beaked common
dolphins Delphinus delphis in the Mediterranean Sea. Mammal Review. 33 (3). pp.
224-252.
Bearzi, G., Holcer, D. & Sciara, G. (2004). The role of historical dolphin takes and
habitat degradation in shaping the present status of northern Adriatic cetaceans. Mar.
Freshwat. Ecosyst. 14. pp. 363-379.
Bearzi, G., Politi, E., Agazzi, S. & Azzellino, A. (2006). Prey depletion caused by
overfishing and the decline of marine megafauna in eastern Ionian Sea coastal waters
(central Mediterranean). Biological Conservation. 127. pp. 373-382.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
69
Bilgmann, K., Moeller, L.M., Harcourt, R.G., Gales, R. & Beheregaray, L.B. (2008).
Common dolphins subject to fisheries impacts in Southern Australia are genetically
differentiated: implications for conservation. Anim. Conserv. 11. pp. 518-528.
Birkun, A. (2006). Short-beaked common dolphin (Delphinus delphis ponticus):
Black Sea subspecies. In: The status and distribution of cetaceans in the Black Sea
and Mediterranean Sea, IUCN Centre for Mediterranean Cooperation, Malaga,
Spain. (Reeves, R. R. & Notarbartolo di Sciara, G., eds.). pp. 16-22.
Bisi, T. L., Lailson-Brito, J. & Malm, O. (2012). Ecologia Alimentar em Mamíferos
Marinhos: Técnicas de Estudo. Oecologia Australis. 16 (2). pp. 210-234.
Bowen, W. D. (1997). Role of marine mammals in aquatic ecosystems. Marine
Ecology Progress Series. 158. pp. 267-274.
Bowen, W. D. & Iverson, S. J. (2013). Methods of estimating marine mammal diets:
A review of validation experiments and sources of bias and uncertainty. Marine
Mammal Science. 29 (4). pp. 719–754.
Boyd, I. L., Lockyer, C. & Marsh, H. D. (1999). Reproduction of marine mammals.
In: Biology of Marine Mammals (Reynolds, III, J. E. & Rommel, S., eds.),
Smithsonian Institution Press, Washington, DC. pp. 218-286.
Braeger, S. & Schneider, K. (1998). Near-shore distribution and abundance of
dolphins along the West Coast of the South Island, New Zealand. New Zealand
Journal of Marine and Freshwater Research. 32 (1). pp. 105-112.
Brito, C., Vieira, N., Sá, E. & Carvalho, I. (2009). Cetaceans’ occurrence off the west
central Portugal coast: a compilation of data from whaling, observations of
opportunity and boat-based surveys. Journal of Marine Animals and Their Ecology.
2 (1). pp. 10-13.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
70
Brophy, J. T., Murphy, S. & Rogan, E. (2009). The diet and feeding ecology of the
short-beaked common dolphin (Delphinus delphis) in the northeast Atlantic. Paper
SC/61/SM 14. International Whaling Commission, Cambridge, UK.
Brown, E. G. & Pierce, G. J. (1998). Monthly variation in the diet of harbour seals
in inshore waters along the southeast Shetland (UK) coastline. Marine Ecology
Progress Series. 167. pp. 275 – 289.
Cardador, F., Chaves, C., Borges, M. F. & Martins, M. M. (2007). Principais
Resultados da Campanha de Investigação Demersal “Outono 2005” na Costa
Continental Portuguesa. Relatório Científico Técnico IPIMAR, Série digital
(http://ipimar-iniap.ipimar.pt). nº 40. 28p.
Carwardine, M. & Camm, M. (1998). Whales, Dolphins, and Porpoises. DK Pub., 64
p.
Chambers, S. L. & James, R. N. (2005). Sonar termination as a cause of mass
cetacean strandings in Geographe Bay, south-western Australia. Proceedings of
acoustics. 9 (11).
Clarke, M. R. (Ed.). (1986). A Handbook for the Identification of Cephalopod Beaks.
Clarendon Press. Oxford. 273 p.
Collet A. (1981). Biologie du Dauphin commun Delphinus delphis L. en Atlantique
Nord-Est. Dissertação de Doutoramento, L'Universite de Poitiers, France.
Couperus, A. S. (1997). Interactions Between Dutch Midwater Trawl and Atlantic
White-sided Dolphins (Lagenorhynchus acutus) Southwest of Ireland. J. Northw. Atl.
Fish. Sci. 22. pp. 209–218.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
71
Cranford, T. W., Amundin, M. & Nobris, K. S. (1996). Functional Morphology and
Homology in the Odontocete Nasal Complex: Implications for Sound Generation.
Journal of Morphology. 228. pp. 223-285.
Culik, B. M. (2004). Review of Small Cetaceans Distribution, Behaviour, Migration
and Threats. Marine Mammal Action Plan / Regional Seas Reports and Studies no.
177. United Nations Environment Programme (UNEP) and the Secretariat of the
Convention on the Conservation of Migratory Species of Wild Animals (CMS). 343
p.
Danil, K. (2004). Growth and reproduction of female short-beaked common
dolphins, Delphinus delphis, in the eastern tropical Pacific. Dissertação de Mestrado.
University of San Diego.
Desportes, G. (1985). La nutrition des Odontocetes en Atlantique Nord-Est (cotes
Francaises - iles Feroe). Dissertação de Doutoramento, Universite de Poitiers,
France, 190 p.
DGRM (2015). Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços
Marítimos – Espécies de Peixes: Medidas de gestão aplicáveis a algumas das
principais espécies de peixes. Available: http://www.dgrm.min-
agricultura.pt/xportal/xmain?xpid=dgrm&xpgid=genericPageV2&conteudoDetalhe
_v2=203238 (acedido a 9 de Outubro de 2015).
Doksæter, L., Olsen, E., Nøttestad, L. & Fernö, A. (2008). Distribution and feeding
ecology of dolphins along the Mid-Atlantic Ridge between Iceland and the Azores.
Deep-Sea Research II. 55. pp. 243-253.
Du Fresne, S.P., Grant, A.R., Norden, W.S. & Pierre, J.P. (2007). Factors affecting
cetacean bycatch in a New Zealand trawl fishery. Dissertação de
Doutoramento. Department of conservation, Wellington, New Zealand.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
72
Duguy, R. & Robineau, D. (1987). Guía de los mamíferos marinos de Europa.
Omega. Barcelona. 200 p.
Dunshea, G., Barros, N. B., McCabe, E., Gales, N., Hindell, M., Jarman, S. N. &
Wells, R. S. (2013). Stranded dolphin stomach contents represent the free-ranging
population's diet. Biol. Lett. 9. 20121036.
Evans, W.E. (1994). Common dolphin, White-bellied Porpoise Delphinus
delphis Linnaeus, 1758. In: Handbook of Marine Mammals Vol 5: The First Book
of Dolphins (Ridgway, S.H. & Harrison, R., eds.). Academic Press, London. pp. 191-
224.
Ferreira, M. (2007). Ocorrência e captura acidental de cetáceos no Centro/Norte de
Portugal. Dissertação de Mestrado. Universidade do Minho.
Ferreira, M., Marçalo, A., Nicolau, L., Araújo, H., Santos, J., Pinheiro, C., Lopes, T.,
Mendes, S., Vaqueiro, J., Medina, P., Cascalho, A., Sequeira, M., Eira, C. &
Vingada, J. (2012). Estado actual das redes de arrojamentos e de reabilitação em
Portugal Continental. Anexo do Relatório intercalar do projecto LIFE MarPro NAT/
PT/00038.
Ferrero, R. C. & Walker, W. A. (1995). Growth and reproduction of the common
dolphin, Delphinus delphis Linneaus, in the offshore waters of the North Pacific
Ocean. Fishery Bulletin. 93. pp. 483-494.
Fitch, J. E. & Brownell, R. L. (1968). Fish otoliths in Cetacean stomachs and their
importance in interpreting feeding habits. Journal Fisheries Research Board of
Canada. 25 (12). pp. 2561-2574.
Fontaine, M.C., Tolley, K. A., Siebert, U., Gobert, S., Lepoint, G., Bouquegneau,
Jean- Marie & Das, K. (2007). Long-term feeding ecology and habitat use in harbour
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
73
porpoises Phocoena phocoena from Scandinavian waters inferred from trace
elements and stable isotops. BMC Ecology. 7. pp. 1-12.
França, S., Vinagre, C., Costa, M. J. & Cabral, H. N. (2004). Use of the coastal areas
adjacent to the Douro estuary as a nursery area for pouting, Trisopterus luscus
Linnaeus, 1758. J. Appl. Ichthyol. 20. pp. 99–104.
Geraci, J. R. & Lounsbury, V. J. (2005). Health. In: Encyclopedia of Marine
Mammals 2nd Ed. (Perrin, W. F., Würsig, B. & Thewissen, J. G. M., eds.). Academic
Press, Amsterdam. pp. 562-570.
Goetz, S., Read, F. L., Ferreira, M., Portela, J. M., Santos, M. B., Vingada, J., Siebert,
U., Marçalo, A., Santos, J., Araújo, H., Monteiro, S., Caldas, M., Riera, M. & Pierce,
G. J. (2014). Cetacean occurrence, habitat preferences and potential for cetacean–
fishery interactions in Iberian Atlantic waters: results from cooperative research
involving local stakeholders. Aquatic Conservation: Marine and Freshwater
Ecosystems. 25 (1). pp. 138-154.
Goetz, S., Read, F. L., Santos, M. B., Pita, C. & Pierce, G. J. (2013). Cetacean –
fishery interactions in Galicia (NW Spain): results and management implications of
a face-to-face interview survey of local fishers. ICES Journal of Marine Science. pp.
1-14.
Goetz, S., Santos, M. B., Vingada, J., Costas, D. C., Villanueva, A. G. & Pierce, G.
J. (2015). Do pingers cause stress in fish? An experimental tank study with European
sardine, Sardina pilchardus (Walbaum, 1792) (Actinopterygii, Clupeidae), exposed
to a 70 kHz dolphin pinger. Hydrobiologia. 749. pp. 83–96.
Graham, C. T. & Harrod, C. (2009). Implications of climate change for the fishes of
the British Isles. Review Paper. Journal of Fish Biology. 74. pp. 1143–1205.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
74
Granadeiro, J. P. & Silva, M. (2000). The use of otoliths and vertebrae in the
identification and size-estimation of fish in predator-prey studies. Cybium. 24 (4).
pp. 383-393.
Guerra, A. (1992). Mollusca, Cephalopoda. In Fauna Ibérica vol. 1 (Ramos et al eds),
Madrid: Museo Nacional de Ciencias Naturales, CSIC. pp. 327.
Hammond, P. S., Bearzi, G., Bjørge, A., Forney, K., Karczmarski, L., Kasuya, T.,
Perrin, W. F., Scott, M. D., Wang, J. Y., Wells, R. S. & Wilson, B. (2008). Delphinus
delphis. In: IUCN 2009. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2014.2.
www.iucnredlist.org (acedido a 18 de Setembro de 2014).
Hãrkönen, T. (1986). The Guide to the otoliths of the bony fishes of the north-east
Atlantic. Danbiu ApS. Hellerup, Denmark.
Harvey, J. T., Loughlin, T. R., Perez, M. A. & Oxman, D. S. (2000). Relationship
between fish size and otolith length for 63 species of fishes from the Eastern North
Pacific Ocean. NOAA Technical Report NMFS 150.
Heithaus, M. R. (2001). Shark attacks on Bottlenose Dolphins (Tursiops aduncus) in
Shark Bay, Western Australia: attack rate, bite scar frequencies, and attack
seasonality. Marine Mammal Science. 17. pp. 526-539.
Heyning, J.E. & Perrin, W.F. (1994). Evidence for two species of common dolphins
(genus Delphinus) from the eastern North Pacific. Contributions in Science, Los
Angeles County Museum of Natural History. 442. pp. 1-35.
Hill, L. & Borges, M. F. (2000). A comparison of the seasonal abundance of hake
(Merluccius merluccius) and its main prey species off the Portuguese coast. ICES
C.M. 2000/Q:13.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
75
Hobson, K. A. (1993). Trophic relationships among high Arctic seabirds: insights
from tissue-dependent stable-isotope models. Marine Ecology Progress Series. 95.
pp. 7-18.
Hooker, S. K. & Gerber, L. R. (2004). Marine Reserves as a Tool for Ecosystem-
Based Management: The Potential Importance of Megafauna. BioScience. 54 (1). pp.
27-39.
Howell, A. B. (1930). Aquatic Mammals: Their Adaptations to Life in the Water.
C.C. Thomas. Califórnia. 368 p.
ICNF. Rede Natura 2000 (2014) - http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/rn2000
(acedido a 25 de Setembro de 2014).
IPMA (2015) – Pescas e Aquacultura: Recursos Vivos – Sardinha. Available:
http://www.ipma.pt/pt/pescas/recursos/sardinha/index.jsp. (acedido a 9 de Outubro
de 2015).
IUCN (2008). Delphinus delphis ssp. ponticus. Red List of Threatened Species
Version 2015.1. website. Available: http://www.iucnredlist.org. (acedido a 3 de
Junho de 2015).
IUCN (2014). Delphinus delphis. Red List of Threatened Species Version 2015.1.
website. Available: http://www.iucnredlist.org. (acedido a 15 de Junho de 2015).
Iverson, S.J., Field, C., Bowen, W.D. & Blanchard, W. (2004). Quantitative fatty
acid signature analysis: A new method of estimating predator diet. Ecological
Monographs, 74. pp. 11-235.
Jansen, O. E., Michel, L., Lepoint, G., Das, K., Couperus, A. S. & Reijnders, P. J. H.
(2013). Diet of harbor porpoises along the Dutch coast: A combined stable isotope
and stomach contents approach. Marine Mammal Science. 29 (3). 295–311.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
76
Jefferson, T. A., Leatherwood, S., Webber, M. A. (1993). FAO Species Identification
Guide: Marine Mammals of the World. FAO. Roma.
Jefferson, T. A. & Van Waerebeek, K. (2002). The taxonomic status of the nominal
dolphin species Delphinus tropicalis van Bree, 1971. Marine Mammal Science 18
(4). pp. 787-818.
Jefferson, T. A., Webber, M. W. & Pitman, R. L. (2007). Marine Mammals of the
World: A Comprehensive Guide to their Identification. Academic Press. Califórnia.
592 p.
Jobling, M. & Breiby, A. (1986). The use and abuse of fish otoliths in studies of
feeding habits of marine piscivores. Sarsia. 71. pp. 265-274.
Kingston, S. E. & Rosel, P. E. (2004). Genetic differentiation among recently
diverged delphinid taxa determined using AFLP Markers. Journal of Heredity. 95.
pp. 1–10.
Kirsch, P. E., Iverson, S. J. & Bowen, W. D. (2000). Effect of a low-fat diet on body
composition and blubber fatty acids of captive juvenile harp seals (Phoca
groenlandica). Physiological and Biochemical Zoology. 73. pp. 45-59.
Klinowska, M. (1985). Cetacean stranding sites relate to geomagnetic topography.
Aquatic Mammals. 1. pp. 27-32.
Lassalle, G., Gascuel, D., Le Loc’h, F., Lobry, J., Pierce, G. J., Ridoux, V., Santos,
M. B., Spitz, J. & Niquil, N. (2012). An ecosystem approach for the assessment of
fisheries impacts on marine top-predators: the Bay of Biscay case study. ICES
Journal of Marine Sciences. 69. pp. 925 – 938.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
77
Learmonth, J. A., MacLeod, C. D., Santos, M. B., Pierce, G. J., Crick, H. Q. P. &
Robinson, R. A. (2006). Potential effects of climate change on Marine Mammals.
Oceanography and Marine Biology: An Annual Review. 44. pp. 431-464.
Long, J. H., Pabst, D. A., Shepherd, W. R. & McLellan, W. A. (1997). Locomotor
design of dolphin vertebral columns: bending mechanics and morphology of
Delphinus delphis. The Journal of Experimental Biology. 200. pp. 65–81.
López, A., Santos, M. B., Pierce, G. J., González, A. F., Valeiras, X. & Guerra, A.
(2002). Trends in strandings and by-catch of marine mammals in north-west Spain
during the 1990s. Journal of the Marine Biological Association of the United
Kingdom. 82. pp. 513-521.
López, A. (2003). Estatus dos pequenos cetáceos da Plataforma de Galicia.
Dissertação de Doutoramento. Universidade de Santiago.
López, A., Pierce, G. J., Santos, M. B., Gracia, J. & Guerra, A. (2003). Fishery by-
catches of marine mammals in Galician waters: results from on-board observations
and an interview survey of fishermen. Biological Conservation. 111. pp. 25-40.
López, A., Pierce, G. J., Valeiras, X., Santos, M. B. & Guerra, A. (2004). Distribution
patterns of small cetaceans in Galacian waters. Journal of the Marine Biological
Association of the United Kingdom. 84. pp. 283-294.
MacDonald, D. & Barrett, P. (1993). Collins Field Guide: Mammals of Britain &
Europe. Harper Collins Publishers. London.
MacLeod, C. D., Bannon, S. N., Pierce, G. J., Schweder, C., Learmonth, J. A.,
Herman, J. S. & Reid, R. J. (2005). Climate change and the cetacean community of
north-west Scotland. Biological Conservation. 124. pp. 477–483.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
78
MacLeod, C. D., Mandleberg, L., Schweder, C., Bannon, S. M. & Pierce, G. J.
(2008). A comparison of approaches for modelling the occurrence of marine animals.
Hydrobiologia. 612. pp. 21–32.
Macrì, F., Bottari, T., Bonfiglio, R., Rapisarda, G., Marino, F. (2012). Comparison
of direct versus radiographic measurement of sagittal otoliths in cadavers of bogue
(Boops boops). American Journal of Veterinary Research. 73 (2). pp. 233 – 236.
Mahe, K., Amara, R., Bryckaert, T., Kacher, M. & Brylinski, J. M. (2007).
Ontogenetic and spatial variation in the diet of hake (Merluccius merluccius) in the
Bay of Biscay and the Celtic Sea. ICES Journal of Marine Science. 64. pp. 1210–
1219.
Maigret, J. & Ly, B. (1986). Les poissons de mer de Mauritanie. Science Nat.,
Compiègne. 213 p.
Mantello, E. (2008). Dolphins and Whales: Tribes of the Ocean. 3D Entertainment
Ltd.
Marçalo, A., Katara, I., Feijó, D., Araújo, H., Oliveira, I., Santos, J., Ferreira, M.,
Monteiro, S., Pierce, G. J., Silva, J. & Vingada, J. (2015). Quantification of
interactions between the Portuguese sardine purse-seine fishery and cetaceans. ICES
Journal of Marine Science, doi: 10.1093/icesjms/fsv076.
Marçalo, A., Nicolau, L., Ferreira, M., Vingada, J., Silva, A., Pierce, G. J. (2013).
Variability in the diet of common dolphins (Delphinus delphis) and prey availability
along the Portuguese continental coast. Books of abstracts, 27th Conference -
European Cetacean Society, April 8-10 2013, Setúbal, Portugal.
Marigo, J. (2006). Cetacea (Golfinho, Baleia). In Tratado de Animais Selvagens –
Medicina Veterinária (Cubas, Z. S., Silva, J. C. R. & Catão-Dias, J. L. (eds)). São
Paulo, Brasil. Roca. pp. 715-724.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
79
Melo, C. L. C., Santos, R. A., Bassoi, M., Araújo, A. C., Lailson-Brito, J., Dorneles,
P. R. & Azevedo, A. F. (2010). Feeding habits of delphinids (Mammalia: Cetacea)
from Rio de Janeiro State, Brazil. Journal of the Marine Biological Association of
the United Kingdom. 90 (8). pp. 1509-1515.
Mèndez-Fernandez, P., Bustamante, P., Bode, A., Chouvelon, T., Ferreira, M.,
López, A., Pierce, G. J., Santos, M. B., Spitz, J., Vingada, J. V. & Caurant, F. (2012).
Foraging ecology of five toothed whale species in the Northwest Iberian Peninsula,
inferred using carbon and nitrogen isotope ratios. Journal of Experimental Marine
Biology and Ecology. 413. pp. 150–158.
Meynier, L., Stockin, K. A., Bando, M. K. H. & Duignan, P. J. (2008a) Stomach
contents of common dolphin (Delphinus sp.) from New Zealand waters, New
Zealand. Journal of Marine and Freshwater Research. 42 (2). pp. 257-268.
Meynier, L., Pusineri, C., Spitz, J., Santos, M. B., Pierce, G. J., Ridoux, V. (2008b).
Intraspecific dietary variation in the short-beaked common dolphin Delphinus
delphis in the Bay of Biscay: importance of fat fish. Marine Ecology Progress Series.
354. pp. 277–287.
Mirimin, L., Westgate, A., Rogan, E., Rosel, P., Read, A., Coughlan, J., & Cross, T.
(2009). Population structure of short-beaked common dolphins (Delphinus delphis)
in the North Atlantic Ocean as revealed by mitochondrial and nuclear genetic
markers. Mar. Biol. 156. pp. 821– 834.
Morato, T., Afonso, P., Lourinho, P., Barreiros, J. P., Santos, R. S., Nash, R. D. M.
(2001). Length-weight relationships for 21 coastal fish species of the Azores, north-
eastern Atlantic. Fisheries Research. 50. pp. 297 – 302.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
80
Moura, A. E., Sillero, N. & Rodrigues, A. (2012). Common dolphin (Delphinus
delphis) habitat preferences using data from two platforms of opportunity. Acta
Oecologica. 38. pp. 24-32.
Murphy, S. (2004). The biology and ecology of the common dolphin Delphinus
delphis in the North-east Atlantic. Dissertação de Doutoramento. University College
Cork, Ireland.
Murphy, S., Collet, A. & Rogan, E. (2005). Mating strategy in the male common
dolphin (Delphinus delphis): What gonadal analysis tells us. Journal of Mammalogy.
86. pp. 1247-1258.
Murphy, S., Herman, J., Pierce, G., Rogan, E., Kitchener, A. (2006). Taxonomic
Status and Geographical Cranial Variation of Common Dolphins (Delphinus) in the
Eastern North Atlantic. Marine Mammal Science. 22 (3). pp. 573–599.
Murphy, S. & Rogan, E. (2006). External morphology of the short-beaked common
dolphin, Delphinus delphis: growth, allometric relationships and sexual dimorphism.
Acta Zool-Stockholm. 87. pp. 315-329.
Murphy, S., Natoli, A., Amaral, A. R., Mirimin, L., Viricel, A., Caurant, F., Hoelzel,
R. & Evans, P. (2009). Short-beaked Common Dolphin Delphinus delphis. In: Report
of ASCOBANS/HELCOM small cetacean population structure workshop.
ASCOBANS, Bonn, Germany. (Evans, P. G. H. & Teilmann, J., eds.). pp. 111-130.
Murphy, S., Winship, A., Dabin, W., Jepson, P. D., Deaville, R., Read, R. J., Spurrier,
C., Rogan, E., Lopez, A., Gonzalez, A. F., Read, F. L., Addink, M., Silva, M.,
Ridoux, V., Learmonth, J. A., Pierce, G. J. & Northridge, S. P. (2009). Importance
of biological parameters in assessing the status of Delphinus delphis. Marine Ecology
Progress Series. 388. pp. 273-291.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
81
Murphy, S., Pinn, E. H. & Jepson, P. D. (2013). The Short-Beaked Common Dolphin
(Delphinus delphis) in the North-East Atlantic: Distribution, Ecology, Management
and and Conservation Status. Oceanography and Marine Biology: An Annual
Review. 51. pp. 193-280.
Mytilineou, C., Politou, C. Y., Papaconstantinou, C., Kavadas, S., D’Onghia, G. et
al. (2005). Deep-water fish fauna in the Eastern Ionian Sea. Belgium Journal of
Zoology. 135. pp. 229 – 233.
Natoli, A. (2004). Molecular ecology of Bottlenose (Tursiops sp.) and common
(Delphinus sp.) Dolphins. Dissertação de Doutoramento. Durham University.
Natoli, A., Canadas, A., Vaquero, C., Politi, E., Fernandez-Navarro, P. & Hoelzel,
A. R. (2008). Conservation genetics of the short-beaked common dolphin (Delphinus
delphis) in the Mediterranean Sea and in the eastern North Atlantic Ocean. Conserv.
Genet. 9. pp. 1479 – 1487.
Neumann, D. R. (2001). Seasonal movements of short-beaked common dolphins
(Delphinus delphis) in the north-western Bay of Plenty, New Zealand: influence of
sea surface temperature and El Nino/La Nina. New Zealand Journal of Marine and
Freshwater Research. 35. pp. 371-374.
Neumann, D. R. & Orams, M. B. (2005). Behaviour and ecology of common
dolphins (Delphinus delphis) and the impact of tourism in Mercury Bay, North
Island, New Zealand. Science for Conservation 254. Department of Conservation,
Wellington.
Newsome, S. D., Clementz, M. T. & Koch, P. L. (2010). Using stable isotope
biogeochemistry to study marine mammal ecology. Marine Mammal Science. 26 (3).
pp. 509-572.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
82
Nifong, J. C., Layman, C. A. & Silliman, B. R. (2015). Size, sex and individual-level
behaviour drive intrapopulation variation in cross-ecosystem foraging of a top-
predator. Journal of Animal Ecology. 84. pp. 35–48.
Nordstrom, C. A., Wilson, L. J., Iverson, S. J. & Tollit, D. J. (2009). Evaluating
quantitative fatty acid signature analysis (QFASA) using harbour seals phoca
vitulina richardsi in captive feeding studies. Marine ecology progress series. 360.
pp. 245–263.
Noren, S. R. & Williams, T. M. (2000). Body size and skeletal muscle myoglobin of
cetaceans: adaptations for maximizing dive duration. Comparative Biochemistry and
Physiology Part A. 126. pp. 181–191.
Northridge, S. (2006). Dolphin Bycatch: Observations And Mitigation Work In The
UK Bass Pair Trawl Fishery 2005-2006 Season. Occasional Report to DEFRA.
Osnes-Erie, L. D. (1999). Food habits of common dolphin (Delphinus delphis and D.
capensis) off California. Dissertação de Mestrado. San Jose State University.
Parnell, A. C., Inger, R., Bearhop, S. & Jackson, A. L. (2010) Source Partitioning
Using Stable Isotopes: Coping with Too Much Variation. PLoS ONE. 5 (3). pp. 1-5.
Pereira, A. L. & Benedito, E. (2007). Isótopos estáveis em estudos ecológicos:
métodos, aplicações e perspectivas. Rev. Biociên., Taubaté. 13 (1-2). pp. 16-27.
Perrin, W. F. & Reilly, S. B. (1984). Reproductive Parameters of Dolphins and Small
Whales of the Family Deiphinidae. Rep. Int. Whal. Comm. Spec. (6). pp. 97-133.
Perrin, W. F. (2009). Common dolphins. In: Encyclopedia of marine mammals 2nd
Ed. (Perrin, W.F., Würsig, B., Thewissen, J.G.M., eds.) Academic Press, Amsterdam,
pp. 255-259.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
83
Perrin, W. F., Würsig, B. & Thewissen, J. G. M. (2009). Encyclopedia of marine
mammals 2nd Ed. Academic Press, Amsterdam.
Pierce, G. J., Santos, M. B, Learmonth, E. M. & Stowasser, G. (2004). Methods for
dietary studies on marine mammals. CIESM Workshop Monographs, nº 25:
Investigating the roles of cetaceans in marine ecosystems.
Projeto LIFE+ MarPro (2013). Apresentação do Projeto LIFE+ MarPro. -
http://marprolife.org/index.php/pt/project#.VCa_K_ldW0s (acedido a: 25 de
Setembro de 2014).
Pusineri, C., Magnin, V., Meynier, L., Spitz, J., Hassani, S. & Ridoux, V. (2007).
Food and Feeding Ecology of the Common Dolphin (Delphinus delphis) in the
Oceanic Northeast Atlantic and comparison with its diet in Neritic Areas. Marine
Mammals Science. 23 (1). pp. 30–47.
Read, A. J., Drinker, P. & Northridge, S. (2006). Bycatch of marine mammals in U.S.
and global fisheries. Conservation Biology. 20. pp.163–169.
Reeves, R. R., Smith, B. D., Crespo, E. A. & di Sciara, G. N. (compilers) (2003).
Dolphins, Whales and Porpoises: 2002-2010 Conservation Action Plan for the
World’s Cetaceans. IUCN/SSC Cetacean Specialist Group. 139 p.
Reidenberg, J. S. (2007). Anatomical Adaptations of Aquatic Mammals. The
Anatomical Record. 290. pp. 507-513.
Reubens, J. T., Degraer, S. & Vincx, M. (2011). Aggregation and feeding behaviour
of pouting (Trisopterus luscus) at wind turbines in the Belgian part of the North Sea.
Fisheries Research. 108. pp. 223 – 227.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
84
Reyes, J. C. (1991). The conservation of small cetaceans: a review. Report prepared
for the Secretariat of the Convention on the Conservation of Migratory Species of
Wild Animals. UNEP/CMS Secretariat, Bonn.
Reynolds, III, J. E. & Rommel, S. A. (2009). Anatomical Dissection: Thorax and
Abdomen. In: Encyclopedia of marine mammals 2nd Ed. (Perrin, W.F., Würsig, B.,
Thewissen, J.G.M., eds.) Academic Press, Amsterdam, pp. 29-36.
Reynoso, J. P. G. (1991). Group behavior of common dolphins (Delphinus delphis)
during prey capture. Anales. Inst. Biol. Univ. Nac. Autón. México, Ser. Zool. 62 (2).
pp. 253-262.
Rice, D. W. (1998). Marine mammals of the world. Systematics and distribution.
Special publication number 4. Society for Marine Mammalogy. pp. 111-112.
Riede, K. (2004). Global register of migratory species - from global to regional
scales. Final Report of the R&D-Projekt 808 05 081. Federal Agency for Nature
Conservation, Bonn, Germany. 329 p.
Ringelstein, J., Pusineri, C., Hassani, S., Meynier, L., Nicolas, R. & Ridoux, V.
(2006). Food and feeding ecology of the striped dolphin, Stenella coeruleoalba, in
the oceanic waters of the north-east Atlantic. Journal of the Marine Biological
Association of the United Kingdom. 86. pp. 909-918.
Rommel, S. A. & Lowenstine, L. J. (2001). Gross and Microscopic Anatomy. In
CRC Handbook of Marine Mammal Medicine. (Dierauf, L. A. & Gulland, F. M. D.,
eds.). Boca Raton, Florida. pp. 129-164.
Romero, M. A., García, S., Svendsen, G., González, R. & Crespo, E. A. (2012).
Feeding habits of two sympatric dolphin species off North Patagonia, Argentina.
Marine Mammal Science. 28 (2). pp. 364– 377.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
85
Roper, C. F. E. & Young, R. E. (1975). Vertical Distribution of Pelagic Cephalopods.
Smithsonian Contributions to Zoology. Nº 209.
Rosel, P. E., Dizon, A. E. & Heying, J. E. (1994). Genetics analysis of sympatric
morphotypes of common dolphins (genus Delphinus). Marine Biology. 119. pp. 159–
167.
Santos, J., Araújo, H., Ferreira, M., Henriques, A., Miodonski, J., Monteiro, S.,
Oliveira, I., Rodrigues, P., Duro, G., Oliveira, F., Pinto, N., Sequeira, M., Eira, C. &
Vingada, J. (2012). Chapter I: Baseline estimates of
abundance and distribution of target species. Annex to the Midterm Report of
project LIFE MarPro PT/NAT/00038.
Santos, M. B., Fernández, R., López, A., Martínez, J. A. & Pierce, G. J. (2007).
Variability in the diet of bottlenose dolphin, Tursiops truncatus, in Galician waters,
north-western Spain, 1990 – 2005. Journal of the Marine Biological Association of
the United Kingdom. 87. pp. 231 – 241.
Santos, M. B., German, I., Correia, D., Read, F. L., Martinez-Cedeira, J., Caldas, M.,
López, A., Velasco, F. & Pierce, G. J. (2013). Long-term variation in common
dolphin diet in relation to prey abundance. Marine Ecology Progress Series. 481. pp.
249-268.
Santos, M. B., González-Quirós, R., Riveiro, I., Cabanas, J. M., Porteiro, C. & Pierce,
G. J. (2012). Cycles, trends and residual variation in the Iberian sardine (Sardina
pilchardus) recruitment series and their relationship with the environment. ICES
Journal of Marine Sciences. 69. pp. 739-750.
Santos, M. B., Pierce, G. J., López, A., Martinez, J. A., Fernandez, M. T., Ieno, E.,
Mente, E., Porteiro, C., Carrera, P., Meixide, M. (2004) Variability in the diet of
common dolphins (Delphinus delphis) in Galician waters 1991-2003 and
relationships with prey abundance. ICEM CM 2004/ Q:091095.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
86
Santos, M. B., Pierce, G. J., Reid, R. J., Patterson, I. A. P., Ross, H. M. & Mente, E.
(2001). Stomach contents of bottlenose dolphins (Tursiops truncatus) in Scottish
waters. Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom. 81. pp.
873 – 878.
Santos, M. B., Saavedra, C. & Pierce, G. J. (2014). Quantifying the predation on
sardine and hake by cetaceans in the Atlantic waters of the Iberian Peninsula. Deep-
Sea Research II. 106. pp. 232–244.
Scott, M. D. & Cattanach, K. L. (1998). Diel Patterns in aggregations of pelagic
dolphins and tunas in the Eastern Pacific. Marine Mammal Science. 14 (3). pp. 401-
428.
Sekiguchi, K., Klages, N. T. W. & Best, P. B. (1992). Comparative analysis of the
diets of smaller odontocete cetaceans along the coast of southern Africa. South
African Journal of Marine Science. 12 (1). pp. 843-861.
Siebert, U., Gilles, A., Lucke, K., Ludwig, M., Benke, H., Kock, K. H. & Scheidat,
M. (2006). A decade of harbour porpoise occurrence in German waters – Analyses
of aerial surveys, incidental sightings and strandings. Journal of Sea Research. 56.
pp. 65-80.
Silva, M. A. (1996). Contribuição para o conhecimento do regime alimentar e da
biologia da reprodução do golfinho-comum, Delphinus delphis Linnaeus, 1758, na
costa Portuguesa. Dissertação de Doutoramento. Universidade de Lisboa.
Silva, M. A. (1999). Diet of common dolphins, Delphinus delphis, off the Portuguese
continental coast. Journal of the Marine Biological Association of the United
Kingdom. 79. pp. 531-540.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
87
Silva, M. A. & Sequeira, M. (2003). Patterns in the mortality of common dolphins
(Delphinus delphis) on the Portuguese coast, using stranding records, 1975-1998.
Aquatic Mammals. 29 (1). pp. 88-98.
Sims, D. W. (2007). Advances in Marine Biology. Academic Press. Vol. 53. 318 p.
Slooten, E., Dawson, S. M. (1995). Conservation of marine mammals in New
Zealand. Pacific Conservation Biology. 2. pp. 64–76.
Smith, H. R. & Worthy, G. A. J. (2006). Stratification and intra- and inter-specific
differences in fatty acid composition of common dolphin (Delphinus sp.) blubber:
Implications for dietary analysis. Comparative Biochemistry and Physiology, Part B.
143. pp. 486-499.
Sousa, A. G. & Picanço, C. (2012). Registo de um Século de Arrojamentos de
Cetáceos em Portugal. In: Cetáceos de Portugal: Passado, Presente e Futuro. (Brito,
C., Carvalho, I., eds.). Paleta Natura, Lisboa.
Spitz, J., Mourocq, E., Leauté, J. P., Quéro, J. C. & Ridoux, V. (2010) Prey selection
by the common dolphin: fulfilling high energy requirements with high quality food.
J Exp Mar Biol Ecol. 390. pp. 73−77.
Spitz, J., Trites, A. W., Becquet, V., Brind’Amour, A., Cherel, Y., Galois, R. &
Ridoux, V. (2012). Cost of Living Dictates what Whales, Dolphins and Porpoises
Eat: The Importance of Prey Quality on Predator Foraging Strategies. PLoS ONE. 7
(11). e50096.
Spitz, J., Chouvelon, T., Cardinaud, M., Kostecki, C. & Lorance, P. (2013). Prey
preferences of adult sea bass Dicentrarchus labrax in the northeastern Atlantic:
implications for bycatch of common dolphin Delphinus delphis. ICES Journal of
Marine Science. 70. pp. 452–461.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
88
Spyrakos, E., Santos-Diniz, T. C., Martinez-Iglesias, G., Torres-Palenzuela, J. M. &
Pierce, G. J. (2011). Spatiotemporal patterns of marine mammal distribution in
coastal waters of Galicia, NW Spain. Hydrobiologia. 670. pp. 87-109.
Stockin, K. & Orams, M. B. (2009). The status of common dolphins (Delphinus
delphis) within New Zealand waters. IWc Scientific committee Document
Sc/61/Sm20. Cambridge, UK: International Whaling commission.
Symondson, W. O. C. (2002). Molecular identification of prey in predator diets.
Molecular Ecology. 11. pp. 627–641.
Thompson, F. N., Abraham, E. R. & Berkenbusch, K. (2013). Common Dolphin
(Delphinus delphis) Bycatch in New Zealand Commercial Trawl Fisheries. PLoS
ONE. 8 (5). e64438.
Tollit, D., Pierce, G. J., Hobson, K., Bowen, W. D. & Iverson, S. J. (2010) Diet. In:
Marine mammal ecology and conservation: a handbook of techniques (Boyd, I.,
Bowen, D., Iverson, S. eds.). Oxford University Press, Oxford. pp. 191−221.
Torres, L. G., Read, A. J. & Halpen, P. (2008) Fine-scale habitat modeling of a top
marine predator: Do prey data improve predictive capacity? Ecol Appl. 18. pp.
1702−1717.
Torres, L. G., Rosel, P. E., D’Agrosa, C. & Read, A. (2003). Improving Management
of Overlapping bottlenose dolphin ecotypes through spatial analysis and genetics.
Marine Mammal Science. 19 (3). pp. 502-514.
Tuset, V. M., Lombarte, A. & Assis, C. A. (2008). Otolith atlas for the western
Mediterranean, north and central eastern Atlantic. Scientia Marina. 72 (S1). pp. 7 –
198.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
89
Vanselow, K. H. & Ricklefs, K. (2005). Are solar activity and sperm whale Physeter
macrocephalus strandings around the North Sea related? Journal of Sea Research.
53. pp. 319-327.
Vetter, W., Scholz, E., Gaus, C., Muller, J. F. & Haynes, D. (2001). Anthropogenic
and Natural Organohalogen Compounds in Blubber of Dolphins and Dugongs
(Dugong dugon) from Northeastern Australia. Arch. Environ. Contam. Toxicol. 41.
pp. 221–231.
Vieira, N., Sá, E., Ferreira, C., Teixeira, A. & Carvalho, I. (2012). Ocorrência de
Cetáceos na Costa Centro de Portugal Continental. In: Cetáceos de Portugal:
Passado, Presente e Futuro. (Brito, C., Carvalho, I., eds.). Paleta Natura, Lisboa.
Vingada, J., Marçalo, A., Ferreira, M., Eira, C., Henriques, A., Miodonski, J.,
Oliveira, N., Marujo, D., Almeida, A., Barros, N., Oliveira, I., Monteiro, S., Araújo,
H. & Santos, J. (2012). Capítulo I: Interações entre as espécies-alvo e as pescas.
Anexo ao relatório intercalar do projecto LIFE MarPro NAT/ PT/00038.
Walker, P. & Wood, E. (2005). Life in the Sea: The Open Ocean. Facts on File, Inc.
New York. 132 p.
Watt, J., Pierce, G. J. & Boyle, P. R. (1997). Guide to the Identification of North Sea
Fish Using Prernaxillae and Vertebrae. ICES Cooperative Research Report.
Wise, L., Silva, A., Ferreira, M., Silva, M. A. & Sequeira, M. (2007). Interactions
between small cetaceans and the purse-seine fishery in western Portuguese waters.
Scientia Marina. 71. pp. 405-412.
Young, D. D. & Cockcroft, V. G. (1994). Diet of common dolphins (Delphinus
delphis) off the south-east coast of southern Africa: Opportunism or
specialization? Journal of Zoology London. 234. pp. 41-53.
Contribuição para a avaliação da dieta do Golfinho-comum (Delphinus delphis) na costa
continental portuguesa
90
Zanelatto, R. C. (2001). Dieta do boto-cinza, Sotalia fluviatilis (Cetacea,
Delphinidae), no complexo estuarino da baía de Paranaguá e sua relação com a
ictiofauna estuarina. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Paraná,
Brasil.
Zhou, J. L., Salvador, S. M., Liu, Y. P. & Sequeira, M. (2001). Heavy metals in the
tissues of common dolphins (Delphinus delphis) stranded on the Portuguese coast.
The Science of the Total Environment. 273. pp. 61-76.
Zorica, B., Sinovčić, G. & Čikeš Keč, V. (2010). Preliminary data on the study of
otolith morphology of five pelagic fish species from the Adriatic Sea (Croatia).
Journal Acta Adriatica. 51 (1). pp. 89 – 96.
Zuur, A. F., Ieno, E. N., Smith, G. M. (2007). Analysing Ecological Data. New York:
Springer.