trabalhadores com restrições e a ergonomia – perspectiva da enfermagem do trabalho®

7
1 Trabalhadores com restrições e a ergonomia – perspectiva da enfermagem do trabalho® 1 Workers with restrictions and ergonomic – perspective of occupational nursing Trabajadores con restricciones y ergonómico - perspectiva de la enfermería del trabajo Sergio de Carvalho Pereira 2 , Florence Romijn Tocantins 3 Resumo: O estudo focaliza trabalhadores com restrições, acometidos por agravos ergonômicos. Estes agravos geram um alto índice de absenteísmo a essa população, observadas na prática de enfermagem, e conseqüentemente, influenciando na sua saúde, no bem-estar e no modo de produção. Objetivos: caracterizar os trabalhadores com restrições absorvidos no escritório central de uma empresa no Município do Rio de Janeiro; e analisar os agravos de saúde no trabalho, gerados pelos riscos ergonômicos na perspectiva da enfermagem. Trata-se de um estudo quantitativo, exploratório com enfoque descritivo. O universo estudado foram 17 funcionários administrativos do referido cenário. Como instrumento para a coleta de dados utilizou-se um questionário estruturado. Os dados obtidos foram organizados sob forma de tabelas, apresentados mediante freqüência relativa e analisados a luz de literatura pertinente. Os resultados apontam que o perfil dos trabalhadores portadores com restrições constitui-se de 58,82% pessoas do sexo masculino, compreendendo a faixa etária de 22 aos 32 anos (52,94%), possuem o nível de instrução médio completo (47,06%), naturais do Estado do Rio de Janeiro (88,23%), são portadores de deficiência auditiva (52,94%), não freqüentaram a reabilitação profissional (64,70%), desempenham a função de assistente administrativo (70,59%) e, estão no exercício de suas funções no período compreendido de 1 a 2 anos (52,94%) aproximadamente. Quanto aos agravos predominantes, estes se distribuíram entre aspectos físicos e cognitivos, influenciados por aspectos organizacionais. As recomendações sugeridas delinearam-se nas ergonomias de concepção, correção e conscientização. O estudo valoriza o investimento da inclusão dos trabalhadores com restrições, onde se faz presente, a perspectiva da responsabilidade da enfermagem do trabalho, frente aos agravos ergonômicos em preservar, promover, recuperar e reabilitar a capacidade profissional e a saúde deste grupo de trabalhadores. Palavras-chaves: enfermagem ocupacional; ergonomia; pessoas portadoras de deficiência. Considerações iniciais O “problema” que originou esta investigação emergiu durante a minha vivência prática adquirida em ambulatórios do serviço de saúde ocupacional, observando-se, um alto índice de absenteísmo e de acidentes no trabalho nos trabalhadores com restrições (PCR), gerando distúrbios ósteo-musculares por movimentos repetitivos, posturas incorretas no trabalho, limitações físicas, tarefas muito restritas, observados na ergonomia física (permitir ao trabalhador com restrições adaptar-se ao posto de trabalho e realizar suas atividades de forma cômoda e produtiva ao longo de sua jornada, reduzindo o desgaste físico e mental, melhorando a sua produtividade (1) ); a comunicabilidade por parte dos portadores de deficiência auditiva, constrangimento, frustração, sofrimento psíquico e desgaste mental, observados na ergonomia cognitiva (refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora afetando as interações entre os seres humanos, associa-se com pausas de descanso, monotonia e fadiga (1) ); e fatores ligados na organização da atividade e do ambiente, observados na ergonomia organizacional (quando o ambiente de trabalho pode converter-se em elemento agressor do indivíduo qualquer que seja a origem do desequilíbrio, existe a possibilidade de dano para a saúde do trabalhador (1) ). Questão norteadora: que agravos ergonômicos acometem os trabalhadores portadores com restrições absorvidos em empresa pública de prestação de serviços localizado no Município do Rio de Janeiro? Objetivos do estudo: a. Caracterizar os trabalhadores portadores com restrições absorvidos no escritório central de uma empresa no Município do Rio de Janeiro; b. Analisar os agravos de saúde no trabalho, gerados pelos riscos ergonômicos na perspectiva da enfermagem. Após o levantamento bibliográfico constatou-se a relevância com apenas 14 estudos abordando a temática da pesquisa, verificado em bases de dados virtuais (Ministério da Ciência e Tecnologia, do banco de teses e dissertações da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, do banco de teses e dissertações da Universidade Federal de Santa Catarina, do banco de teses e dissertações da Universidade Federal de São Carlos, da Biblioteca Virtual de Saúde, nas bases de dados virtuais Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, National Library of Medicine e Scientific Electronic Library Online) com os descritores selecionados: enfermagem ocupacional, ergonomia, portadores de necessidades especiais e saúde do trabalhador.

Upload: sergio-de-carvalho

Post on 29-Dec-2014

148 views

Category:

Education


3 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Trabalhadores com restrições e a ergonomia – perspectiva da enfermagem do trabalho®

1

Trabalhadores com restrições e a ergonomia – perspectiva da enfermagem do trabalho®1

Workers with restrictions and ergonomic – perspective of occupational nursing

Trabajadores con restricciones y ergonómico - perspectiva de la enfermería del trabajo

Sergio de Carvalho Pereira2, Florence Romijn Tocantins3 Resumo: O estudo focaliza trabalhadores com restrições, acometidos por agravos ergonômicos. Estes agravos geram um alto índice de absenteísmo a essa população, observadas na prática de enfermagem, e conseqüentemente, influenciando na sua saúde, no bem-estar e no modo de produção. Objetivos: caracterizar os trabalhadores com restrições absorvidos no escritório central de uma empresa no Município do Rio de Janeiro; e analisar os agravos de saúde no trabalho, gerados pelos riscos ergonômicos na perspectiva da enfermagem. Trata-se de um estudo quantitativo, exploratório com enfoque descritivo. O universo estudado foram 17 funcionários administrativos do referido cenário. Como instrumento para a coleta de dados utilizou-se um questionário estruturado. Os dados obtidos foram organizados sob forma de tabelas, apresentados mediante freqüência relativa e analisados a luz de literatura pertinente. Os resultados apontam que o perfil dos trabalhadores portadores com restrições constitui-se de 58,82% pessoas do sexo masculino, compreendendo a faixa etária de 22 aos 32 anos (52,94%), possuem o nível de instrução médio completo (47,06%), naturais do Estado do Rio de Janeiro (88,23%), são portadores de deficiência auditiva (52,94%), não freqüentaram a reabilitação profissional (64,70%), desempenham a função de assistente administrativo (70,59%) e, estão no exercício de suas funções no período compreendido de 1 a 2 anos (52,94%) aproximadamente. Quanto aos agravos predominantes, estes se distribuíram entre aspectos físicos e cognitivos, influenciados por aspectos organizacionais. As recomendações sugeridas delinearam-se nas ergonomias de concepção, correção e conscientização. O estudo valoriza o investimento da inclusão dos trabalhadores com restrições, onde se faz presente, a perspectiva da responsabilidade da enfermagem do trabalho, frente aos agravos ergonômicos em preservar, promover, recuperar e reabilitar a capacidade profissional e a saúde deste grupo de trabalhadores. Palavras-chaves: enfermagem ocupacional; ergonomia; pessoas portadoras de deficiência. Considerações iniciais

O “problema” que originou esta investigação emergiu durante a minha vivência prática adquirida em ambulatórios do serviço de saúde ocupacional, observando-se, um alto índice de absenteísmo e de acidentes no trabalho nos trabalhadores com restrições (PCR), gerando distúrbios ósteo-musculares por movimentos repetitivos, posturas incorretas no trabalho, limitações físicas, tarefas muito restritas, observados na ergonomia física (permitir ao trabalhador com restrições adaptar-se ao posto de trabalho e realizar suas atividades de forma cômoda e produtiva ao longo de sua jornada, reduzindo o desgaste físico e mental, melhorando a sua produtividade (1)); a comunicabilidade por parte dos portadores de deficiência auditiva, constrangimento, frustração, sofrimento psíquico e desgaste mental, observados na ergonomia cognitiva (refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora afetando as interações entre os seres humanos, associa-se com pausas de descanso, monotonia e fadiga (1)); e fatores ligados na organização da atividade e do ambiente, observados na ergonomia organizacional (quando o ambiente de trabalho pode converter-se em elemento agressor do indivíduo qualquer que seja a origem do desequilíbrio, existe a possibilidade de dano para a saúde do trabalhador (1)).

Questão norteadora: que agravos ergonômicos acometem os trabalhadores portadores com restrições absorvidos em empresa pública de prestação de serviços localizado no Município do Rio de Janeiro?

Objetivos do estudo: a. Caracterizar os trabalhadores portadores com restrições absorvidos no escritório central de uma empresa no Município do Rio de Janeiro; b. Analisar os agravos de saúde no trabalho, gerados pelos riscos ergonômicos na perspectiva da enfermagem.

Após o levantamento bibliográfico constatou-se a relevância com apenas 14 estudos abordando a temática da pesquisa, verificado em bases de dados virtuais (Ministério da Ciência e Tecnologia, do banco de teses e dissertações da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, do banco de teses e dissertações da Universidade Federal de Santa Catarina, do banco de teses e dissertações da Universidade Federal de São Carlos, da Biblioteca Virtual de Saúde, nas bases de dados virtuais Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, National Library of Medicine e Scientific Electronic Library Online) com os descritores selecionados: enfermagem ocupacional, ergonomia, portadores de necessidades especiais e saúde do trabalhador.

Page 2: Trabalhadores com restrições e a ergonomia – perspectiva da enfermagem do trabalho®

2

Revisão bibliográfica

A Instrução Normativa nº. 20, de 19/01/2001, do INSS, estabelece a proporção das cotas do quadro de funcionários portadores com restrições habilitados nas empresas em seus postos de trabalho: 100 até 200 empregados – 2 %; 201 até 500 empregados – 3 %; 501 a 1000 profissionais – 4 %; e 1.001 empregados em diante – 5 % (1).

A inserção desta população no mercado de trabalho preconiza-se a colocação seletiva (processo de contratação regular desta população em ambientes adaptados) (2).

Nesta dicotomia da ruptura da produção laboral saudável (3), diz que o corpo foi o primeiro instrumento de trabalho do qual são utilizados todos os órgãos do sentido; e este trabalhador (4), sofre influência na exposição de agentes agressores nos seus postos de trabalho, onde na teoria de enfermagem de Callista Roy, o portador com restrições é capaz de se adaptar e a interagir com as mudanças do ambiente externo e interno ao seu organismo, a passo quando obtêm uma resposta ineficaz no enfrentamento frente aos riscos ocupacionais, o acarretará no adoecimento.

A International Ergonomics Association, define ergonomia como: “[...] disciplina científica que trata da compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e outros elementos do sistema, e da aplicação de métodos, teorias e dados apropriados para melhorar o bem estar do ser humano e, sobretudo as performance dos sistemas” (1:226).

Aplicação da ergonomia: colaborando na identificação de potenciais locais de riscos de acidentes e doenças profissionais (ergonomia de concepção); no acompanhamento da saúde dos trabalhadores através dos exames periódicos, complementares e de enfermagem; realizando estudos técnicos para interação do trabalhador com restrição ao ambiente laboral e ao equipamento de maneira adequada (ergonomia de correção); promovendo sistemas de comunicação e desenvolvendo exercícios de compensação nos postos de trabalho e prevenindo o erro humano nos postos de trabalho (ergonomia de conscientização) (2).

Ações do enfermeiro do trabalho, para uma intervenção ergonômica (5): a. a visão dos trabalhadores sobre o seu trabalho, condições de execução, dificuldades, queixas e problemas verbalizados; b. a observação da atividade nas situações reais de trabalho e as observações dos indicadores mais importantes na situação, relativos à eficácia ou à saúde, definidos na análise da demanda; c. a confrontação e análise destes dados com as questões levantadas pelo enfermeiro do trabalho e com os dados da literatura. Abordagem metodológica

Trata-se de um estudo quantitativo, exploratório com enfoque descritivo (6). Para Leopardi, a pesquisa quantitativa enfatiza o raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os

atributos mensuráveis da experiência humana e tem como base os procedimentos estatísticos para a análise dos dados (7).

Quanto à cronologia dos “aspectos éticos da pesquisa”, esta se desenvolveu de acordo com os seguintes acontecimentos:

Após o contato prévio com o diretor da divisão de saúde ocupacional da empresa a ser estudada, em novembro de 2005, em reunião conjunta, com as chefias imediatas e os respectivos funcionários interessados em participar da pesquisa, ao apresentar a síntese do projeto da dissertação, informando sobre seu anonimato, foram estabelecidos os critérios de inclusão e exclusão, o procedimento de coleta de dados, como acessá-los, os riscos e benefícios, as eventuais dúvidas.

O protocolo da pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, sendo acolhido em 24 de abril de 2006, e obtendo a aprovação do estudo em 18 de junho de 2006.

Adotou-se, o critério de inclusão e exclusão, não fazendo parte da pesquisa, os portadores de deficiência mental, e os menores de 18 anos, que segundo Polit e Hungler, pois juridicamente não possuem a responsabilidade civil por seus atos, quando se trata de sua integridade física e mental para este tipo de pesquisa. Conseqüentemente, são protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e Lei nº- 10.216, de 06 de abril de 2001, que trata sobre a proteção e os direitos das pessoas portadores de transtornos mentais (8).

Page 3: Trabalhadores com restrições e a ergonomia – perspectiva da enfermagem do trabalho®

3

O “cenário do estudo” foi um escritório central de uma empresa da administração indireta do Governo Federal.

A amostra aleatória consistiu de 17 funcionários administrativos portadores com restrições, oriundos de deficiência auditiva, física, múltipla e visual, conforme a classificação estabelecida pelo Decreto nº- 5.296, de 2 de dezembro de 2004, o qual se refere às normas e critérios básicos dos portadores de necessidades especiais (9).

Os resultados foram apurados manualmente e organizados em tabelas no programa Microsoft Word, versão 2003. Foram utilizados procedimentos estatísticos (distribuição de freqüência absoluta e da freqüência percentual). E, a “interpretação dos dados” foi realizada à luz da literatura pertinente, devendo-se reafirmar que os resultados encontrados atendem aos objetivos propostos neste estudo (8).

Resultados

Em relação ao perfil dos trabalhadores portadores com restrições da empresa pesquisada, constitui-se, predominantemente, de pessoas do sexo masculino (58,82%), na faixa etária de 22 aos 32 anos (52,94%), possuem o nível médio completo (47,06%), naturais do Estado do Rio de Janeiro (88,23%), são portadores de deficiência auditiva (52,94%), não freqüentaram a reabilitação profissional (64,70%) e, desempenham a função de assistente administrativo (70,59%), estão no exercício de suas funções no período compreendido de 1 a 2 anos (52,94%) aproximadamente.

No segundo objetivo deste estudo, referente aos agravos de saúde no trabalho, gerados pelos riscos ergonômicos na perspectiva da enfermagem, temos: a. Ergonomia física: adaptação ao posto de trabalho, produzindo ao longo de sua jornada, reduzindo o desgaste físico e mental, melhorando a sua produtividade (1; 12; 13; 14). Tabela 1: Distribuição dos trabalhadores portadores com restrições entrevistados, segundo a ergonomia física.

Ergonomia física Auditiva n %

Física n %

Múltipla n %

Visual n %

Jornada de trabalho de 8h/dia 05 55,56 04 66,64 01 100 01 100 Rodízio de turno 02 22,22 00 00 00 00 00 00 Postura adotada (maior incidência na postura sentada)

06 66,67

06 100

01 100

01 100

Dores articulares e musculares no ombro direito

03 33,33 02 33,33 00 00 00 00

Total de entrevistados 09 100 06 100 01 100 01 100 Fonte: Questionário aplicado na empresa, jun/2006

Dentre as questões analisadas pelas entrevistas quanto a ergonomia física, permitem múltiplas respostas, dentre as quais, observamos que a maior ocorrência está na jornada de trabalho de até 8 horas; tal qual é estipulado no Art.6º, XIII, da Constituição Federativa da República Brasileira, de 5 de outubro de 1988: “duração do trabalho normal não superior a 08 horas diárias e 44 horas semanais [...]” (15).

Quando a prática do rodízio de turno se torna comum, podem sofrer alterações no estilo de vida, aumentando o consumo do fumo em trabalhadores noturnos, influenciando negativamente a qualidade do sono, ocasionando problemas estomacais, aumento na fadiga devido ao ritmo intenso de trabalho, e outros

(16). Como desvantagens na postura sentada, citamos: sedentarismo; lordoses ou cifoses excessivas;

estase sanguínea nos membros inferiores, agravando-se quando houver a compressão da face posterior da coxa ou da panturilha, se estiver mal posicionada.

Relacionados às tarefas repetitivas, podem afetar os ombros, podendo ocasionar: endinite do supra-espinhoso (síndrome do impacto ou impingement), tendinite biceptal ou tendinite da cabeça longa do bíceps, tendinite calcificante do ombro, epicondilite lateral. b. Cognitiva: refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora afetando as interações entre os seres humanos, associa-se com pausas de descanso, monotonia e fadiga (1; 12; 13; 14).

Page 4: Trabalhadores com restrições e a ergonomia – perspectiva da enfermagem do trabalho®

4

Tabela 2: Distribuição de trabalhadores portadores com restrições entrevistados, segundo a ergonomia cognitiva. Ergonomia cognitiva Auditiva

n % Física

n % Múltipla

n % Visual

n % Hora extra 01 11,11 03 50 00 00 00 00 Pausa no trabalho 08 88,89 06 100 01 100 01 100 Fatores de risco Responsabilidade 08 88,89 03 66,67 00 00 00 00 Agravos à saúde Cefaléia 06 66,67 03 50 00 00 00 00 Total de entrevistados 09 100 06 100 01 100 01 100 Fonte: Questionário aplicado na empresa, jun/2006.

Os efeitos adversos dos riscos ambientes dos postos de trabalho nos funcionários PCR, compreendem: tensão e cansaço excessivo, tanto físico como mental, baixa qualidade de trabalho e aumento na incidência de erros; aumento no número de acidentes no trabalho, sono insuficiente associado com a dificuldade para dormir e possível necessidade de uso de medicamentos, envelhecimento precoce, alterações na vida familiar e nas atividades sociais.

Os pequenos intervalos durante as horas de trabalho são necessários para evitar a fadiga, eles são importantes nos trabalhos de acompanhamento do ritmo das máquinas ou supervisão contínua.

Os trabalhadores se sentem pressionados a gerar resultados de uma forma incisiva (responsabilidade) no cumprimento dos prazos determinados pelas chefias de serviço, e acabam relaxando com o cuidado a saúde, e foram identificados como fatores de risco para problemas músculo-esqueléticos, e são situações causadoras de stress ocupacional, também chamada de síndrome de Burnout (17; 18; 19; 20; 21; 22). c. Ergonomia organizacional: quando o ambiente de trabalho converte-se em elemento agressor do indivíduo, qualquer que seja a origem do desequilíbrio, existe a possibilidade de dano para a saúde do trabalhador (1; 12; 13; 14). Tabela 3: Distribuição de trabalhadores com restrições entrevistados, segundo a ergonomia organizacional. Ergonomia organizacional Auditiva

n % Físisa

n % Múltipla

n % Visual

n % Conforto térmico (frio) 02 22,22 01 16,67 00 00 00 00 Ambiente adaptado 00 00 03 50 00 00 00 00 Exames do PCMSO 09 100 05 83,33 01 100 00 00 Acidentes de trabalho 02 22,22 00 00 00 00 00 00 Treinamentos em saúde e segurança no trabalho 03 33,33 01 16,67 01 100 00 00 Prevenção de riscos ocupacionais Realiza pausas durante as atividades 08 88,89 06 100 01 100 01 100 Total de entrevistados 09 100 06 100 01 100 01 100 Questionário aplicado na empresa, jun/2006

A existência do frio em conjunto com fatores como vento e umidade pode originar reumatismo localizado e dores nas articulações da região cervico-braquial da coluna vertebral, das mãos e dos pés. A combinação do frio com vibrações origina perturbações ósseas e articulares, perda de sensibilidade e cãibras dolorosas nas mãos.

Porém, em relação aos recursos que são empregados para a adaptação ao trabalho dos portadores com restrições físicas, podem ser citados o piso e o acesso aos postos de trabalho. Estes, quando inadequados, tornam-se agentes de risco de acidentes de trabalho; como exemplos, citamos: rota acessível, ou seja, ter percurso livre de barreiras desde a origem até o seu destino; já no item mobiliário, a correlação equipamento não ajustado antropometricamente em relação ao trabalhador, torna-se um obstáculo no desempenho de suas tarefas (23).

Os exames ocupacionais (admissional, periódico, demissional, retorno ao trabalho, mudança de função e complementares) na prevenção secundária, têm o caráter de um estudo individual e epidemiológico das alterações relacionadas ao risco ocupacional, a sua evolução elucidada a partir do diagnóstico de enfermagem e médico, e realizar medidas de controle das doenças ocupacionais.

Os acidentes do trabalho decorrem basicamente de duas causas primárias: a. Os comportamentos inseguros (correspondem a 90% dos acidentes de trabalho) são as causas de acidentes de trabalho que residem exclusivamente no fator humano, isto é, aquelas causas que decorrem da execução de tarefas de uma forma contrária às normas de segurança, e;

Page 5: Trabalhadores com restrições e a ergonomia – perspectiva da enfermagem do trabalho®

5

b. Condições inseguras (correspondem a 10% dos acidentes de trabalho) são as causas dos acidentes do trabalho que decorrem diretamente das condições do local ou de ambientes de trabalho. Estas condições inseguras de local ou de ambientes são conhecidas como riscos profissionais.

Esta classificação foi estruturada em torno do conceito da casualidade de um acidente de trabalho, ou seja, tanto sobre as explicações meramente fenomenológicas iniciais como a modelagem do mecanismo de acidentes e taxonomia dos fatores causais: culpabilidade, acidentalidade, pré-disposição aos acidentes, fatores técnicos x fatores humanos, acidentes e contexto do trabalho e a teoria da confiabilidade de sistemas (11).

As medidas de prevenção da saúde e segurança no trabalho, avidamente monitorados pelo SESMT da empresa, fazem-se presentes nas ações de conscientização dos trabalhadores dos riscos iminentes ao seu corpo, buscados durante os treinamentos, nos diálogos diários de segurança, inclusive às empresas contratadas, inspeções aos postos de trabalhado, utilização de EPI, e exames do PCMSO, são condutas integrantes do programa de disponibilidade máxima e acidente zero na instituição (24). Conclusões

Cabe a enfermagem identificar na ergonomia as necessidades do trabalhador PCR, associando-se ao

modelo de Maslow: níveis de conservação da vida, domínio do ambiente físico, integração no grupo, reconhecimento do próprio valor, auto-realização para a fisiologia das atividades, ao sistema músculo-esquelético e ao sistema óptico (25).

A enfermagem do trabalho, por caracteriza-se por um conjunto de ações educativas e assistenciais, que visam interferir no processo de trabalho – saúde – adoecimento no sentido de valorizar o ser humano (26).

As sugestões para melhoria do desempenho das atividades laborais dos trabalhadores PCR, foram delineadas na perspectiva da enfermagem do trabalho, sendo fragmentadas sob os três aspectos da aplicabilidade da ergonomia, seja, na sua concepção, correção e conscientização. Comentários

Consideramos uma empresa socialmente inclusiva, aquela que valoriza o potencial humano, independente de suas adversidades individuais para instrumentalizar as práticas administrativas nos postos de trabalho em ambientes físicos, sejam harmônicos e adaptados, espaços estes, proporcionados por seus empregadores.

O enfermeiro do trabalho é um personagem de vital importância, no desenvolvimento de suas ações junto aos trabalhadores PCR, nas identificações dos agentes agravantes a este grupo específico, na concepção das ergonomias física, cognitiva e organizacional, como também, desenvolvendo atividades junto a estes trabalhadores e demais membros da organização, através de uma educação permanente e sistemática, oportunizando-os melhores de trabalho, e realizando recomendações acertivas na perspectiva ergonômica. Abstract: This study focuses workers with restrictions and ergonomic injury. These injuries generate a high index of absenteeism to this population, observed in nursing practice, and consequently, influence their health, well-being and the way of their production. The study has as objective to characterize the workers with restrictions absorbed in the central office of a company in the City of Rio de Janeiro; and, to analyze the health problems generated by ergonomic risks in the perspective of occupational nursing. It is a quantitative and explorative study with a descriptive approach. The studied sample was composed by 17 administrative employees. The results pointed out at a profile of these workers with restrictions, consisting of 58,82% of men, with a age from 22 to the 32 years (52,94%), have a complete medium level of instruction (47,06%), are natural of the State of Rio de Janeiro (88,23%), have auditive deficiency (52,94%), have not frequented a professional rehabilitation (64,70%), have an administrative assistant function (70,59%), and develop their function for a period of 1 to 2 years (52,94%). The predominant ergonomics injuries involved physical aspects and cognitive aspects influenced by the organizational aspects. The recommendations are delineated by ergonomic conception, correction and awareness. It is concluded about the importance to invest in the inclusion of the workers with restrictions, emphasizing the responsibility of the occupational health nursing to preserve, promote, recover and rehabilitate the professional capacity and the health of this group of workers. Key-words: occupational health nursing; ergonomics; disabled persons. Resumen: Este estudio se centra restricciones a los trabajadores con lesiones y ergonómico. Estas lesiones generan un alto índice de ausentismo a esta población, observado en la práctica de la enfermería, y, por consiguiente, influir en su salud, el bienestar y la forma de su producción. El estudio tiene como objetivo caracterizar a los trabajadores de que se impongan restricciones absorbida en la oficina central de una empresa en la ciudad de Río de Janeiro, y, para analizar los problemas de

Page 6: Trabalhadores com restrições e a ergonomia – perspectiva da enfermagem do trabalho®

6

salud generados por los riesgos ergonómicos en la perspectiva de los profesionales de enfermería. Se trata de un estudio exploratorio y cuantitativo con un enfoque descriptivo. La muestra estudiada estaba compuesta por 17 empleados administrativos. Los resultados señalaron en un perfil de estos trabajadores con restricciones, que consiste en 58,82% de los hombres, con una edad de 22 a los 32 años (52,94%), con un completo nivel medio de instrucción (47,06% ), Son naturales del Estado de Río de Janeiro (88,23%), tienen deficiencia auditivas (52,94%), no han frecuentado un profesional de rehabilitación (64,70%), tienen la función de auxiliar administrativo (70,59 %), Y desarrollar sus funciones durante un período de 1 a 2 años (52,94%). Las lesiones predominantes ergonomía involucrados aspectos físicos y aspectos cognitivos influenciado por los aspectos de organización. Las recomendaciones están delineadas por la concepción ergonómica, la corrección y la conciencia. Se concluye sobre la importancia de invertir en la inclusión de los trabajadores con restricciones, haciendo hincapié en la responsabilidad de la enfermería de salud en el trabajo para preservar, promover, recuperar y rehabilitar la capacidad profesional y la salud de este grupo de trabajadores. Palabras-clave: salud en el trabajo de enfermería; ergonomía; las personas con discapacidad. Referências 1. Ministério do Trabalho (Br). Segurança e medicina do trabalho. Manuais de legislação. São Paulo; 2006. 2. Nakamura, EKK. O trabalho de pessoas com restrições oriundas de deficiências em instituições bancárias. (Tese). Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2003. 3. Canesqui, AM Os estudos de antropologia da saúde/doença no Brasil na década de 1990. Ciência & Saúde Coletiva (Rio de Janeiro); 2003 8(1). 4. Mauro, MYC; Guimarães, RM. Fatores ergonômicos de risco e de proteção contra acidentes de trabalho: um estudo caso-controle. Revista Brasileira de Epidemiologia (Rio de Janeiro): Fiocruz; 2005 8(3): 282-294. 5. OMS/OIT. Enseñanza y formación profesional em higiene y seguridad del trabajo y ergonomia. Informe del comitê mixto OIT/OMS sobre higiene del trabajo. [Spain]: Gráficas reunidas, 2000. 6. Gil, AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002. 7. Leopardi, MT et al. Metodologia da pesquisa na saúde. Santa Maria: Patolliti, 2001. 8. Polit, DF, Beck, CT, Hungler, BP, Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 9. Ministério da Justiça (Br). Decreto nº- 5.296, normas e critérios básicos dos portadores de necessidades especiais. Anais do Seminário de qualidade de vida dos portadores de deficiência no Estado do Rio de Janeiro, ALERJ: Rio de Janeiro; 2005: 85-87. 10. Morgado, J. Furnas promove a inclusão social. Revista Furnas (Rio de Janeiro); jun/2006 333. 11. Pereira, CS. Habilidades sociais em trabalhadores com e sem deficiência física: uma análise comparativa. (Dissertação) São Carlos (SP) Universidade Federal de São Carlos; 2006. 12. Pereira, SC. A equipe multiprofissional: uma contribuição da enfermagem do trabalho no processo de reabilitação e readaptação profissional. (Monografia de Pós-Graduação). Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2001. 13. Fialho, F.; Santos, N. Manual de ergonomia no trabalho. Curitiba: Gênesis, 1997. 14. Iida, I. Ergonomia, projeto e produção. São Paulo: E. Blucher, 1993. 15. Santos, N. Ergonomia e organização do trabalho (Monografia de Pós-graduação). Florianópolis (SC): UNC; 2001. 16. Pinto, ALT, et. al. Consolidação das leis de trabalho, legislação previdenciária e constituição federal. São Paulo: Saraiva, 2006. 17. Fischer, MF; Metzner, RJ. Fadiga e capacidade para o trabalho fixo de doze horas. Rev. Saúde Pública (São Paulo); dez/2001 35 (6). 18. Ministério da Saúde (Br). Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília; 2001. 19. Dejours, Christophe. Fator humano. (Tradução Maria Helene Stocco Betiol, Maria Tonelli). 5 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005. 20. _________. A loucura do trabalho – estudo de psicopatologia do trabalho. 3 ed. São Paulo : Cortez-Oboré, 1996. 21. Kaplan, J. Medicina del trabajo. 3 ed. Buenos Aires: El Ateneo, 1994. 22. Maciel, R.H. Ergonomia e lesões por esforços repetitivos. In: Codo W., Almeida MC. LER – lesões por esforços repetitivos. Petrópolis: Vozes, 1995. 23. Mendes, René (Org.) Patologia do trabalho. 2 ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2006.

Page 7: Trabalhadores com restrições e a ergonomia – perspectiva da enfermagem do trabalho®

7

24. Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Adequação das edificações e do mobiliário urbano à pessoa deficiente, Rio de Janeiro, 2002. 25. Neumann, Ton. Acidente zero, disponibilidade máxima. Revista Furnas (Rio de Janeiro); maio/2006 (332). 26. Pires do Rio, R. et al. Ergonomia: fundamentos da ergonomia. 2 ed. Belo Horizonte: Health, 1999. 27. Zeitoune, RCG. A prática da enfermagem do trabalho: um estudo exploratório no contexto do Rio de Janeiro (Dissertação). Rio de Janeiro (RJ): Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1990.

1 Dissertação de mestrado UNIRIO; Trabalho apresentado na I Mostra da produção científica de enfermagem em saúde coletiva da UNIRIO em maio de 2007; Certificado de registro de direitos autorais expedido pela Biblioteca Nacional em 13 de abril de 2007, nº: 401.256, liv: 747, fl: 416. 2 Enfermeiro do Trabalho; Mestre em enfermagem – UNIRIO; Tesoureiro ANENT-RJ; Professor II da São Camilo e UNIG; [email protected]. Av. Ataulfo de Paiva, 1327 aptº 702 – Leblon. Rio de Janeiro/RJ. 3 Enfermeira; Doutor em enfermagem - EEAN; Departamento de Enfermagem de Saúde Publica – EEAP/UNIRIO [email protected]. R. Dr.Xavier Sigaud, 290 – Urca. Rio de Janeiro/RJ.