sermão nº 1910, o coração do evangelho, por charles haddon spurgeon

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Traduzido do original em Inglês

The Heart Of The Gospel — Sermon Nº 1910

The Metropolitan Tabernacle Pulpit — Volume 32

By C. H. Spurgeon

Via SpurgeonGems.org

Adaptado a partir de The C. H. Spurgeon Collection, Version 1.0, Ages Software.

Tradução por Camila Almeida

Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Dezembro de 2014

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com permissão de

Emmett O’Donnell em nome de SpurgeonGems.org, sob a licença Creative Commons Attribution-

NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,

desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

nem o utilize para quaisquer fins comerciais.

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O Coração do Evangelho (Sermão Nº 1910)

Pregado na manhã do Dia do Senhor, dia 5 de julho de 1886.

Por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.

“De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós

rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.

Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele

fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:20-21)

O coração do Evangelho é a redenção e a essência da redenção é o sacrifício substitutivo

de Cristo. Aqueles que pregam esta verdade pregam o Evangelho, independente de

qualquer outro erro por eles cometido, mas aqueles que não pregam a expiação, seja o que

for que declarem, têm perdido a essência e a substância da mensagem Divina. Nestes dias,

me vejo escravizado à sempre voltar e voltar e voltar às verdades elementares do

Evangelho. Em tempos de paz podemos nos sentir livres para fazermos excursões a

interessantes porções da verdade onde a mentira se acampa distante, mas agora devemos

permanecer no lar e guardar os corações e as casas da Igreja, defendendo os princípios

elementares da fé. Neste tempo, por si mesmos, se levantaram homens na Igreja que

pregam coisas perversas. Existem muitos que nos incomodam com suas filosofias e inter-

pretações novas, pelas quais eles negam as doutrinas que professam ensinar e enfraque-

cem a fé que se empenham para conservar. É necessário que alguns de nós, que sabem

no que acreditam e que não usam nenhum tipo de significado secreto para as palavras, se

levantem e firmem os pés mantendo a posição, retendo a Palavra da vida e claramente

declarando as verdades fundamentais do Evangelho de Jesus Cristo.

Permitam-me exemplificar-lhes por uma parábola: Nos dias de Nero havia grande escassez

de comida na cidade de Roma, embora houvesse abundância de milho para venda em Ale-

xandria. Certo homem que possuía um barco foi até a costa do oceano e lá percebeu que

muitas pessoas famintas voltavam seus olhos para além do mar, olhando para os barcos

que deveriam chegar do Egito com milho. Quando estes navios chegavam à margem, os

pobres famintos, um por um, cruzavam seus braços em amargo desapontamento, pois a

bordo, nos barris, só havia areia, que o tirano Imperador havia lhes forçado a trazerem para

a arena! Isso foi uma abominável crueldade, onde homens estavam prestes a morrer de

fome, ordenar que barcos de troca viessem e trouxessem nada mais que areia para eventos

de gladiadores, quando o trigo era tão necessário! Após isso, o comerciante que estava

com o navio ancorado disse ao seu comandante: “Esteja certo de que não traga nada menos

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do que milho na volta de Alexandria. Ainda que, antes, você tenha trazido no barco uma

medida ou duas de areia, não traga tanto quanto você mentiria por um centavo desta vez.

Não traga nada mais, eu repito, do que milho, por que essas pessoas estão morrendo. E

agora nós devemos manter os nossos barcos neste negócio de trazer-lhes comida”.

Eu tenho visto certos grandes barris carregados com nada além de areias de meras filoso-

fias e especulações, e tenho dito a mim mesmo: “Eu carregarei o meu navio com nada além

da verdade revelada de Deus, o pão da vida tão grandemente necessitado pelas pessoas”.

Deus nos concedeu que neste dia o nosso navio não tivesse nada que meramente gratifi-

casse a curiosidade, ou agradasse o paladar, mas que tivesse as verdades necessárias

para a salvação das almas. Quem sabe alguns de vocês digam: “Bem, é apenas a antiga,

velha história de Jesus e Seu amor e nada mais”. Eu não tenho desejo de ser conhecido,

senão por pregar o antigo Evangelho. Há muitos que podem vos levar a nada com música

nova; para mim, nunca deve haver música alguma, senão aquela que é ouvida no Céu:

“Àquele que nos amou e nos lavou dos nossos pecados por Seu sangue, a Ele seja glória

para sempre e eternamente!”

Pretendo, queridos amigos, começar o meu discurso com a segunda parte do meu texto,

em que a doutrina da substituição é exposta nestas palavras: “Aquele que não conheceu

pecado, foi feito pecado por nós; para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus”. Esta é a

base e o poder dos apelos que devemos fazer às consciências dos homens!

Tenho notado, meus irmãos e irmãs, por longa experiência, que nada toca o coração como

a cruz de Cristo. E quando o coração é tocado e ferido pela espada de dois gumes da Lei,

nada cura esta ferida como o bálsamo que flui do coração perfurado de Jesus. A cruz é

vida para os espiritualmente mortos [...].

Quando vemos homens vivificados, convertidos e santificados pela doutrina do sacrifício

substitutivo, podemos justamente concluir que é a verdadeira doutrina da expiação! Eu não

tenho conhecido homens levados a viver para Deus e para a santidade, a não ser pela

doutrina da morte de Cristo em favor do homem. Corações de pedra que antes nunca

bateram com a vida foram transformadas em corações de carne através do Espírito Santo

levando-os a conhecer esta verdade de Deus! A ternura sagrada visitou os obstinados

quando eles ouviram falar sobre Jesus crucificado por eles. Aqueles que têm ficado à porta

sombria do Inferno, envolvidos por sete vezes na sombra da morte, mesmo sobre estes,

uma grande luz brilhou! A história do grande Amante das almas dos homens que deu a Si

mesmo pela a sua salvação ainda é, nas mãos do Espírito Santo, a maior de todas as forças

no reino da mente! Então, nesta manhã, eu discorrerei em primeiro lugar, sobre a grande

doutrina, e, em segundo lugar, conforme Deus me ajudar, chegaremos ao grande argumento

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que está contido no versículo 20: “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo,

como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis

com Deus”.

I. Primeiro, então, com a maior brevidade possível, falarei sobre a grande doutrina. A grande

doutrina, a maior de todas, é esta: que Deus, vendo os homens se perderem por causa de

seu pecado, assumiu o pecado deles, os colocou sobre o Seu Filho unigênito, fazendo-O

pecado por nós, mesmo Aquele que não conheceu pecado, e em consequência desta

transferência do pecado, aquele que crê em Cristo Jesus é feito justo e reto, sim, é feito

justiça de Deus em Cristo! Cristo foi feito pecado para que os pecadores pudessem ser

feitos justiça! Essa é a doutrina da substituição de nosso Senhor Jesus Cristo, em lugar dos

homens culpados.

Agora, considere, em primeiro lugar, quem se fez pecado por nós? A descrição do nosso

grande Fiador é dada aqui sobre um único ponto, e pode ser mais do que suficiente para a

nossa meditação presente. Nosso Substituto era impecável, inocente e puro. “Àquele que

não conheceu pecado, [Deus] o fez pecado por nós”, Jesus Cristo, o Filho de Deus, Se fez

carne e habitou aqui, entre os homens. Mas, embora Ele tenha sido feito à semelhança da

carne do pecado, Ele não conheceu pecado. Embora o pecado tenha sido imputado a Ele,

isso não ocorreu de forma a torná-lO culpado. Ele não era, Ele não poderia ser um pecador,

Ele não tinha conhecimento pessoal do pecado. Ao longo de toda a Sua vida, Ele nunca

cometeu uma ofensa contra as grandes leis da verdade e da razão. A Lei estava em Seu

coração, era a Sua natureza ser santo. Ele podia dizer a todo o mundo, “quem dentre vós

me convence de pecado?” [João 8:46]. Mesmo Seu juiz vacilante perguntou: “Mas que mal

fez ele?” [Mateus 27:23]. Quando toda a Jerusalém foi desafiada a subornar testemunhas

contra Ele, nenhuma testemunha poderia ser encontrada. Era necessário testemunhar

falsamente e torcer Suas palavras antes que algo pudesse ser forjado contra Ele por Seus

piores inimigos. Sua vida O colocou em contato com as duas tábuas da Lei, mas Ele não

transgrediu nenhum único mandamento. Como quando os judeus examinaram o Cordeiro

Pascal antes de sacrificá-lO, assim os escribas, fariseus e doutores da Lei, os governantes

e príncipes examinaram o Senhor Jesus, sem encontrar ofensa nEle. Ele era o Cordeiro de

Deus, sem defeito e sem mancha!

Assim como não havia nenhum pecado de comissão, também não havia sobre o nosso

Senhor nenhuma culpa de omissão. Provavelmente, queridos irmãos e irmãs, nós que

somos crentes somos capacitados, pela graça Divina, a escapar da maioria dos pecados

de comissão, mas eu, por exemplo, tenho que lamentar diariamente concernente aos pe-

cados de omissão. Se tivermos graças espirituais, ainda assim elas não alcançam o ponto

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exigido de nós. Se fazemos o que é certo em si, ainda assim, geralmente estragamos o

nosso trabalho em relação à ação ou ao motivo, ou na forma de fazê-lo, ou pela autossa-

tisfação com que nós o vemos quando ele é feito. Chegamos somente há um pouco da

glória de Deus em algum aspecto ou outro! Esquecemo-nos de fazer o que devemos fazer,

ou se o fazemos, somos culpados de tibieza, autossuficiência, incredulidade ou algum outro

erro grave. Não foi assim com o nosso Divino Redentor! Você não pode dizer que havia

qualquer característica deficiente em Sua beleza perfeita. Ele era íntegro em coração, em

propósito, em pensamento, em palavra, no ato, no espírito. Você não pode acrescentar

nada à vida de Cristo sem que seja manifestamente uma excrescência. Ele era um Homem

enfaticamente pleno, como se diz hoje em dia. Sua vida é um círculo perfeito, um epítome

completo da virtude. Nenhuma pérola caiu do cordão de prata de Seu caráter. Nenhuma

virtude ofuscou e diminuiu o restante; todas as perfeições combinam em perfeita harmonia

para criar nEle uma superposição de perfeição!

Nem nosso Senhor conheceu um pecado de pensamento. Sua mente nunca produziu um

desejo mau ou concupiscências. Nunca houve, no coração de nosso bendito Senhor, o

desejo de qualquer prazer no mal, nem o desejo de escapar de qualquer sofrimento ou ver-

gonha que estivesse envolvido em Seu serviço. Quando Ele disse: “Meu Pai, se é possível,

passe de mim este cálice”; Ele de maneira nenhuma estava querendo escapar da poção

amarga à custa de Sua obra vitalícia e perfeita. Com o “se é possível”, quis dizer: “se for

compatível com a plena obediência ao Pai, e à realização do propósito Divino”. Nós vemos

a fraqueza de Sua natureza encolhendo e a santidade de Sua natureza sendo estabelecida

e conquistando, quando Ele acrescenta: “todavia, não seja como eu quero, mas como tu

queres” [Mateus 26:39]. Ele tomou sobre Si a semelhança da carne do pecado, mas, apesar

de que a carne muitas vezes fez com que Ele provasse o cansaço do corpo, nunca produziu

nEle a fraqueza do pecado. Ele tomou as nossas enfermidades, mas Ele nunca trouxe

consigo uma enfermidade que tivesse o mínimo de culpabilidade ligada a Ele. Nunca saiu

um olhar maligno daqueles benditos olhos! Nunca Seus lábios deixaram escapar uma

palavra precipitada! Nunca aqueles pés andaram por um caminho mau, nem aquelas mãos

se moveram para um ato pecaminoso! Porque Seu coração estava cheio de santidade e de

amor, tanto por dentro quanto por fora, nosso Senhor era sem mácula. Seus desejos foram

tão perfeitos como as Suas ações. Examinado pelos olhos da onisciência, nenhuma sombra

de culpa poderia ser encontrada nEle.

Sim, e mais ainda, não havia tendências sobre nosso Substituto para o mal em qualquer

forma. Em nós há sempre essas tendências, por causa da mancha do pecado original que

está sobre nós. Devemos dominar a nós mesmos e nos manter sob restrição severa ou

então nos precipitaríamos para a destruição! Nossa natureza carnal cobiça o mal e precisa

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ser contida com freios e rédeas. Feliz é o homem que pode dominar a si mesmo. Mas no

que diz respeito ao nosso Senhor, Sua natureza era ser puro, reto e amoroso. Todas as

Suas ternas vontades foram em direção a Deus. Sua vida sem restrições era santa em si.

Ele era “o Santo Menino Jesus”. O príncipe deste mundo não encontrou nEle nenhum com-

bustível para a chama que ele desejava acender. Não somente não há fluxo de pecado dEle,

mas não havia pecado nEle próprio, nem inclinação, nem tendência pecaminosa. Observe-

O em secreto e você O encontrará em oração. Olhe para a Sua alma e vai encontrá-lO

desejoso de fazer e sofrer a vontade do Pai. Oh! o caráter do bendito Cristo! Se eu tivesse

as línguas dos homens e dos anjos eu não poderia dignamente definir Sua perfeição abso-

luta! Justamente o Pai pôde ser satisfeito com Ele! Bem pode o céu adorá-lO!

Amados, era absolutamente necessário que uma pessoa que fosse capaz de sofrer em

nosso lugar fosse impecável. Um pecador detestável seria punido com razão por causa de

seus próprios crimes; o que ele poderia fazer, senão suportar a ira que é devida ao seu

próprio pecado? Nosso Senhor Jesus Cristo, como Homem esteve debaixo da Lei, mas Ele

não deveu nada para a Lei, pois Ele a cumpriu perfeitamente em todos os aspectos. Ele foi

capaz de substituir os outros, porque Ele não estava sob nenhuma culpa própria. Ele estava

apenas sob obrigações para com Deus, porque Ele tinha voluntariamente aceitado ser o

Fiador e Sacrifício para aqueles que o Pai Lhe deu. Ele era puro em Si mesmo, ou de outra

forma, Ele não poderia ter substituído os homens culpados.

Ah, como eu O admiro, que sendo como Ele era, impecável e três vezes santo, de modo

que até mesmo os céus não eram puros diante dEle, e que encontre loucura em Seus anjos,

ainda assim Ele condescendeu em ser feito pecado por nós! Como Ele poderia suportar ser

contado com o transgressor e levar o pecado de muitos? Pode não ser algo miserável para

um homem pecador conviver com os homens pecadores, mas seria uma tristeza tremenda

para os puros de espírito o habitar na companhia de miseráveis depravados e licenciosos!

Oh! que esmagadora tristeza deve ter sido para o Cristo, puro e perfeito, tabernacular entre

o hipócrita, o egoísta e o profano! Quanto pior deve ter sido o fato de que Ele mesmo tomou

sobre Si os pecados dos homens culpados! Sua natureza sensível e delicada recearia

mesmo com a sombra do pecado, e ainda assim, leia as palavras e maravilhe-se: “Àquele

que não conheceu pecado, [Deus] o fez pecado por nós” [2 Coríntios 5:21]. Nosso perfeito

Senhor e Mestre levou os nossos pecados em Seu próprio corpo sobre o madeiro. Aquele,

diante de quem o sol, em si, é fraco e o puro azul do céu é impuro, foi feito pecado! Não

preciso colocar isso em palavras bonitas. O fato, em si, é muito grande para que necessite

de qualquer acréscimo de linguagem humana. Pois dourar ouro refinado ou pintar o lírio

são coisas absurdas! Porém, muito mais absurdo seria tentar sobrepor com uma fala

floreada as belezas incomparáveis da cruz. Basta, a rima simples para dizer:

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“Oh, ouça este penetrante grito!

Qual poderia ser o seu significado?

‘Meu Deus! Meu Deus! Por que

Tu em ira, me desamparaste?’

Oh! Foi por causa de nossos pecados

Oh, estes, por Deus, foram colocados sobre Ele!

Aquele que nunca conheceu o pecado,

Pelos pecadores, foi feito pecado.”

Isto leva-me ao segundo ponto do texto que é, o que foi feito com Aquele que não conheceu

pecado? Ele foi “feito pecado”. Esta é uma expressão incrível, quanto mais você a consi-

derar, mais você se maravilhará com a sua força singular. Somente o Espírito Santo pode

originar esse tipo de linguagem! Era sábio para o Mestre Divino usar expressões muito for-

tes, pois de outra forma o pensamento não poderia ter entrado nas mentes humanas. Ape-

sar da ênfase, clareza e distinção da linguagem usada aqui e em outras passagens na

Escritura, são encontrados homens ousados o suficiente para negar que a substituição é

ensinada nas Escrituras! Com tais inteligências sutis é inútil discutir. É claro que a lingua-

gem não tem significado para eles. Pois, ler o capítulo 53 de Isaías e aceitá-lo como estando

relacionado com o Messias e, em seguida, negar Seu sacrifício substitutivo é simplesmente

maldade! Seria vão argumentar com esses seres, eles são tão cegos que, se eles fossem

transportados para o sol, eles ainda não conseguiriam ver! Na igreja e fora da igreja há uma

animosidade mortal para com esta verdade de Deus. Pensamentos modernos esforçam-se

para afastarem-se de que isso é obviamente o que o Espírito Santo quis dizer, isto é, que

o pecado foi tirado do culpado e posto sobre o Inocente. Está escrito: “o Senhor fez cair

sobre ele a iniquidade de nós todos” [Isaías 53:6]. Isto é tão simples quanto a linguagem

pode ser utilizada. Mas se algo ainda mais claro for exigido, aqui está: “[Deus] o fez pecado

por nós” [2 Coríntios 5:21].

O Senhor Deus colocou sobre Jesus, que voluntariamente aceitou, todo o fardo do pecado

humano! Em vez deste ter sido posto sobre o pecador que o cometeu, o pecado repousou

em Cristo, que não o cometeu. E a justiça que Jesus efetuou foi colocada na conta do culpa-

do, que não havia feito nada para isso, para que os culpados fossem tratados como justos!

Aqueles que, por natureza, são culpados, são, agora, considerados justos, enquanto Aque-

le que, por natureza, não conheceu absolutamente nenhum pecado, foi tratado como cul-

pado! Acho que devo ter lido em dezenas de livros que tal transferência é impossível, mas

a declaração não teve nenhum efeito sobre a minha mente. Eu não me importo se é possível

ou não segundo os eruditos incrédulos, é evidentemente possível para Deus, pois Ele o fez!

Mas, eles dizem que isso é contrário à razão. Eu não me importo com isso também. Pode

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ser contrário à razão desses incrédulos, mas não é contrário à minha! E se devo ser guiado

pela razão, eu prefiro seguir a minha própria. A expiação é um milagre e os milagres devem

ser aceitos por fé e não medidos pelo cálculo. Um fato é o melhor dos argumentos. É um

fato que o Senhor fez cair sobre Jesus a iniquidade de todos nós! A revelação de Deus

comprova este fato e a nossa fé desafia o questionamento humano! Deus diz isso e eu

acredito! E ao acreditar, acho vida e conforto nisto. Não hei de pregar isto? Seguramente

pregarei:

“Desde que pela fé eu vi a corrente

Seu fluxo a brotar das feridas,

O amor redentor tem sido o meu tema

E o será até eu morrer.”

Cristo não era culpado e não poderia ser feito culpado, mas Ele foi tratado como se fosse

culpado porque Ele quis ficar no lugar do culpado! Sim, Ele não somente foi tratado como

um pecador, mas Ele foi tratado como se tivesse sido o pecado, em si, de forma abstrata.

Esta é uma expressão incrível! O Inocente foi feito pecado!

O pecado pressionou o nosso grande Substituto mui dolorosamente. Ele sentiu o peso dele

no Jardim do Getsêmani, onde “seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que

corriam até ao chão” [Lucas 22:44]. A plena opressão veio sobre Ele quando foi pregado

no madeiro maldito. Lá, nas horas de escuridão, Ele suportou infinitamente mais do que

podemos contar. Sabemos que Ele levou a condenação da boca do homem, de modo que

está escrito: “Ele foi contado com os transgressores”. Sabemos que Ele suportou a vergo-

nha por nossa causa. Será que os vossos corações não tremeram no último domingo à

noite, quando o nosso texto foi: “Então cuspiram-lhe no rosto” [Mateus 26:67]. Um desprezo

cruel foi levado a efeito sobre a Sua Pessoa bendita! Isso, eu digo, nós sabemos. Sabemos

que Ele suportou dores incontáveis do corpo e da mente, Ele teve sede, Ele clamou na

agonia do abandono, Ele sangrou, Ele morreu. Sabemos que Ele derramou a Sua alma na

morte, e entregou o espírito. Mas havia, por trás disso e além de tudo isso, um abismo

incomensurável de sofrimento! A liturgia Grega apropriadamente fala: “Seus sofrimentos

desconhecidos”. Provavelmente para nós eles são sofrimentos incognoscíveis. Ele era

Deus, bem como Homem; e a Divindade emprestou um poder Onipotente para a Sua Huma-

nidade, de modo que foi comprimida dentro de Sua alma, e sofreu por isto, uma quantidade

de angústia de que não podemos conceber. Eu não direi mais nada. É sábio encobrir o que

é impossível descrever.

Este texto tanto desvela quanto revela a Sua tristeza, ao dizer: “[Deus] o fez pecado por

nós”. Olhe para as palavras. Perceba o seu significado, se você puder. Os anjos desejam

bem atentar para isto. Olhe para este terrível cristal. Deixe seus olhos perscrutarem profun-

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damente esse opala, em cuja profundidade das joias há chamas de fogo! O Senhor fez o

único que era perfeitamente inocente, pecado por nós! Isso significa mais humilhação,

escuridão, agonia e morte do que você pode imaginar. Ele operou uma espécie de desorien-

tação e bem perto de uma destruição ao manso e humilde espírito de nosso Senhor. Eu

não digo que o nosso Substituto suportou um inferno, o que seria injustificável. Não direi

que Ele suportou tanto a punição exata pelo pecado, ou um equivalente por ele, mas eu

digo que Ele suportou e prestou à justiça de Deus uma vindicação de Sua Lei mais clara e

mais eficaz do que teria sido prestada pela condenação dos pecadores por quem Ele

morreu.

A cruz é, sob muitos aspectos, mais plena revelação da ira de Deus contra o pecado huma-

no do que até mesmo Tofete e a fumaça do tormento que sobe para todo o sempre. Quem

quiser conhecer o ódio de Deus pelo pecado deve ver o Unigênito sangrando no corpo e

na alma, e sangrando até a morte! Ele deve, de fato, soletrar cada palavra do meu texto e

ler o seu significado mais profundo. Não, meus irmãos e irmãs, tenho vergonha da pobreza

de minha explicação e eu vou, portanto, apenas repetir a plena e sublime linguagem do

Apóstolo: “Ele o fez pecado por nós”. É mais do que: “Ele colocou sobre Ele o sofrimento”.

É mais do que “Deus o desamparou”. É mais do que: “O castigo que nos traz a paz estava

sobre Ele”. É a mais sugestiva de todas as descrições: “Ele o fez pecado por nós”. Oh,

profundidade do terror e ainda altura do amor!

Então, eu prossigo para assinalar, em terceiro lugar, quem fez isso? O texto diz: “[Deus] o

fez pecado por nós”. Isto é, o próprio Deus foi quem designou Seu Filho amado para ser

feito pecado por homens culpados! Os sábios dizem-nos que esta substituição não pode

ser justa. Quem os fez juízes do que é certo e justo? Pergunto-lhes se eles acreditam que

Jesus sofreu e morreu de fato? Se eles acreditam que Ele morreu, como é que eles expli-

cam este fato? Eles dizem que Ele morreu como um exemplo? Então eu pergunto, é justo

para Deus permitir que um Ser sem pecado morra como um exemplo? O fato da morte de

nosso Senhor é fidedigno e tem que ser relatado. A nossa é a explicação mais completa e

mais verdadeira.

Na nomeação do Senhor Jesus Cristo para ser feito pecado por nós, havia, antes de tudo,

uma demonstração de soberania Divina. Deus aqui fez o que ninguém, senão Ele poderia

ter feito. Não teria sido possível para todos nós juntos termos colocado o pecado em Cris-

to! Mas era possível que o grande Juiz de todos, que não dá conta de Suas ações, deter-

minasse que assim fosse. Ele é a fonte da retidão e o exercício da Sua prerrogativa Divina

é sempre e inquestionavelmente justo. Que o Senhor Jesus, que ofereceu a Si mesmo

como um voluntário Fiador e Substituto, deve ser aceito como Fiador e Substituto do homem

culpado, isto estava no poder do grande Supremo. Em Sua soberania Divina Ele O aceitou

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e, diante desta soberania nos inclinamos! Se houver qualquer dúvida sobre isto, a nossa

única resposta é: “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?” [Romanos 9:20].

A morte de nosso Senhor também demostra a justiça Divina. Aprouve a Deus como o juiz

de todos, que o pecado não fosse perdoado, sem a exigência da punição que tem sido tão

retamente ameaçada por isso, ou tal outra demonstração de justiça como a poder vindicar

a Lei. Eles dizem que este não é o Deus do amor. Eu respondo, é o Deus do amor, e é

proeminentemente assim! Se você tivesse sobre o banco, hoje, um juiz cuja natureza era a

bondade, em si mesmo, caberia a ele, como um juiz, executar a justiça, e se não o fizesse,

isto faria da Sua bondade algo ridículo! Na verdade, sua benignidade para com o criminoso

seria indelicadeza à sociedade em geral! Seja o que o juiz for pessoalmente, ele é

oficialmente obrigado a fazer justiça. E “não faria justiça o Juiz de toda a terra?” [Gênesis

18:25]. Você fala da paternidade de Deus, amplie o que quiser sobre esse tema, mesmo

até que você crie uma heresia dele, mas ainda assim, Deus é o grande Governador moral

do universo e cabe a Ele lidar com o pecado de tal forma que é visto como algo mau e

amargo. Deus não pode tolerar a maldade! Eu bendigo o Seu santo nome e O adoro porque

Ele não é injusto, para ser misericordioso e porque Ele não poupa os culpados, a fim de

exercer Sua gentileza! Cada transgressão e desobediência tem somente a Sua recom-

pensa. Mas, por meio do sacrifício de Cristo, Ele é capaz de perdoar com justiça! Eu bendi-

go o Seu santo nome que para vindicar Sua justiça Ele determinou que, enquanto um

perdão gratuito deveria ser provido para os crentes, isto deveria estar fundamentado sobre

uma expiação que cumpre todos os requisitos da Lei.

Contemple, também, no sacrifício substitutivo, a grande graça de Deus. Nunca se esqueça

de que Aquele a quem Deus fez pecado por nós foi o Seu próprio Filho. Sim, eu vou mais

longe: era, de certa forma, Ele mesmo, pois o Filho é um com o Pai! Você não pode confun-

dir as pessoas, mas você não pode dividir a Substância da Santíssima Trindade na Unidade.

Você não pode dividir o Filho de Deus o Pai, nem esquecer que Deus estava nEle reconcili-

ando o mundo consigo mesmo. [...] “Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus”

[Trecho do Credo Niceno]. Esta Luz que foi eclipsada, esta Divindade comprou a Igreja com

Seu próprio sangue! Nisto consiste o amor infinito! Você me diz que Deus poderia ter

perdoado sem expiação? Eu respondo que o amor finito e falível poderia ter feito isso e,

assim, ter prejudicado a si mesmo por aniquilar a justiça, mas o amor requer que ambos

sejam necessários, e assim a expiação é, de fato, infinita! Deus, Ele mesmo, proveu a

expiação por livre e plenamente dar a Si mesmo na Pessoa de Seu Filho para sofrer em

consequência do pecado humano!

O que eu quero que você observe aqui é isto: se é que sua mente se preocupa com a ade-

quação ou retidão de um sacrifício substitutivo, você pode ao mesmo tempo resolver a

questão, lembrando que Deus, Ele mesmo “por nós, fez pecado Àquele que não conheceu

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pecado”. Se Deus o fez, então, isso é bem feito. Eu não me preocupo em defender um ato

de Deus, deixe o homem que ousa acusar seu Criador pense no que Ele está fazendo! Se

o próprio Deus proveu o sacrifício, você pode ter certeza que Ele o aceitou. Jamais alguma

questão poder ser levantada sobre o assunto, uma vez que Jeová fez cair sobre Ele as

nossas iniquidades. Aquele que fez de Cristo pecado por nós, sabia o que Ele fazia, e não

devemos começar a dizer: “Isso está certo, ou isso não está certo?”. O Deus três-vezes

Santo o fez e Ele necessariamente está certo! Aquilo que satisfaz Deus pode muito bem

nos satisfazer. Se Deus está satisfeito com o sacrifício de Cristo, não devemos estar muito

mais do que satisfeitos? Não devemos estar maravilhados, extasiados, em êxtase ao

sermos salvo por um tal sacrifício como o que próprio Deus nomeia, oferece e aceita? Ele

“o fez pecado por nós”. O último ponto é o que acontece conosco em consequência? “Para

que nele fôssemos feitos justiça de Deus”. Ah, este texto maravilhoso! Nenhum homem vivo

pode esgotá-lo! Nenhum teólogo já viveu, mesmo nos dias mais prósperos da teologia,

quem poderia chegar a expor completamente tudo o que há nesta declaração!

Todo homem que crê em Jesus é, por meio de Cristo ter carregado o seu pecado, feito justo

diante de Deus! Nós somos justos pela fé em Cristo Jesus, “justificados pela fé” [Romanos

3:28, 5:1]. Mais do que isso, somos levados não somente a desenvolver o caráter de “justo”,

mas a nos tornarmos substância chamada “justiça”. Eu não posso explicar isso, mas não é

pouca coisa. Não significa algo desconsiderável, quando nós somos ditos ser “feitos justi-

ça”. Além disso, somos não somente feitos justiça, mas somos feitos “justiça de Deus”. Aqui

está um grande mistério! A justiça que Adão tinha no jardim era perfeita, mas era a justiça

do homem, a nossa é a justiça de Deus. A justiça humana falhou, mas o crente tem uma

justiça Divina, que nunca pode falhar! Ele não só tem isso, mas ele é “feito a justiça de Deus

em Cristo”. Agora podemos cantar:

“Vestido nas vestes do meu Salvador,

Santo como Ele é Santo.”

Quão aceitável para Deus devem ser aqueles que são feitos por Deus, Ele mesmo, “a

justiça de Deus nEle!”. Eu não posso conceber algo mais completo.

Assim como Cristo foi feito pecado e nunca pecou, assim somos feitos justiça, embora não

possamos afirmar que temos sido justos em nós mesmos. Embora com pecadores sejamos

forçados a confessar nossa dor, contudo o Senhor nos cobre tão completamente com a

justiça de Cristo, que só a Sua justiça é vista e somos feitos justiça de Deus nEle. Isto é

verdade para todos os santos, mesmo para tantos quantos creem no Seu nome! Oh, o

esplendor desta doutrina! Você pode vê-la, meu amigo? Pecador como você é, em si

mesmo, contaminado, deformado e arruinado, mas se você aceitar o grande Substituto que

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Deus oferece a você na Pessoa do Seu Filho amado, os seus pecados serão levados e a

justiça de Deus lhe será imputada! Seus pecados foram colocados sobre Jesus, o Bode

Expiatório; eles não são mais os seus pecados, Cristo os levou embora. Posso dizer que a

Sua justiça é imputada a você, mas eu vou mais longe e digo com o texto: “Vocês são feitos

a justiça de Deus em Cristo”. Nenhuma doutrina pode ser mais doce do que esta para

aqueles que sentem o peso do pecado e do fardo de sua maldição!

II. Então, agora, reunido tudo, eu tenho que concluir com a segunda parte do texto, o que

não é a exposição, mas a aplicação do ensino. Um grande argumento: “De sorte que somos

embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da

parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus”.

Oh! que esses lábios fossem capazes de produzir tal linguagem, ou que este coração

pudesse falar sem eles! Então eu pleitearia com toda alma descrente e não-convertida

dentro deste lugar e imploraria como por minha própria vida! Amigo, você está em inimizade

com Deus, e Deus está irado com você! E de sua parte não há qualquer disposição para a

reconciliação. Ele fez um Caminho pelo qual você pode se tornar Seu amigo, uma maneira

muito cara para Ele mesmo, mas gratuita para você. Ele não podia desistir de Sua justiça

e assim destruir a honra de Seu próprio caráter. Mas Ele deu Seu Filho, Seu Unigênito e

Seu Bem-Amado! E esse Seu Filho foi feito pecado por nós, embora Ele não conheceu

pecado! Veja como Deus lida com você! Veja quão desejoso, quão anelante Ele é pela

reconciliação entre Ele e os homens culpados! Senhores, se vocês não estão salvos, não

é porque Deus não quer ou não pode salvá-los: é porque vocês se recusam a aceitar a Sua

misericórdia em Cristo! Se houver alguma diferença entre você e Deus, hoje, não é por falta

de bondade de Sua parte, é por falta de vontade sua! O ônus da sua ruína deve estar sobre

sua própria cabeça, seu sangue deve estar em suas próprias mãos!

Agora, o que temos a dizer para você, hoje, é que estamos ansiosos para que você se

reconcilie com Deus e, por isso, agimos como embaixadores de Cristo. Eu não colocarei

qualquer ênfase sobre o cargo de embaixador como honroso ou de autoridade, porque eu

não sinto que isso teria peso com você, eu coloco toda a ênfase sobre a paz que gosta-

ríamos de lhe trazer. Deus me reconciliou conSigo mesmo e eu ficaria feliz em ver você

reconciliado também. Houve um tempo em que eu não O conhecia, nem me preocupava

com Ele. Eu vivia muito bem sem Ele e me gabava das futilidades cotidianas de modo a

esquecê-lO. Ele me levou a buscar a Sua face e buscando Sua face eu O encontrei. Ele

apagou meus pecados e tirou minha inimizade. Eu sei que eu sou seu servo e que Ele é

meu amigo, meu Pai, meu tudo. E agora, eu não posso deixar de tentar, na minha pobre

maneira, ser um embaixador dEle para você. Eu não tenho prazer que qualquer um de

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vocês vivam em inimizade com meu Pai, que vocês desenfreadamente O provoquem prefe-

rindo o mal ao invés do bem. Por que vocês não estão em paz com Aquele que tanto quer

estar em paz com vocês? Por que vocês não amam o Deus de amor e se alegram nAquele

que é tão bom para vocês?

O que Ele tem feito por mim, Ele está bastante disposto a fazer por você! Ele é um Deus

pronto para perdoar. Tenho pregado Seu Evangelho por muitos anos, mas eu nunca me

encontrei com um pecador a quem Cristo Se recusou a limpar quando ele veio a Ele. Eu

nunca soube de um único caso de um homem que confiou em Jesus e pediu para ser per-

doado, confessando seu pecado e abandonando-o, foi lançado fora. Eu digo que nunca me

encontrei com um homem a quem Jesus lançou fora, nem jamais me encontrarei! Falei com

prostitutas, a quem Ele restaurou a pureza, com bêbados a quem Ele libertou de seu mau

hábito e com homens culpados de pecados imundos que se tornaram puros e castos pela

graça de nosso Senhor Jesus! Eles sempre me contaram a mesma história: “Busquei ao

Senhor e Ele me ouviu. Ele me lavou no Seu sangue e estou mais branco do que a neve”.

Por que você não deveria ser salvo, assim como estes?

Caro amigo, talvez você nunca pensou sobre este assunto e esta manhã você não veio

aqui com qualquer ideia de pensar nisso, mas por que você não deve começar a pensar?

Você veio só para ouvir um pregador bem conhecido. Eu oro para que você se esqueça do

pregador e pense apenas em si mesmo, em seu Deus e seu Salvador. Deve ser errado

para você, que viva sem um pensamento sobre o seu Criador. Esquecê-lO é desprezá-lO!

É errado que você recuse a si mesmo a grande Expiação, e você a recusa se você não a

aceita de uma vez! É errado que você se levante contra o seu Deus, e você se levanta

contra Ele, se você não se reconcilia com Ele! Portanto, eu humildemente faço o papel de

um embaixador de Cristo e rogo-te que creias nEle e viva!

Observe como o texto diz: “somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós

rogasse”. Este pensamento me abala! Quando eu vinha para cá, nesta manhã, eu me senti

como se eu pudesse enterrar minha cabeça em minhas mãos e chorar à medida que eu

pensava em Deus rogando a alguém! Ele fala e isso é feito, miríades de anjos sentem-se

felizes por voarem ao Seu comando, e ainda assim o homem tem se tornado inimigo de

Deus a ponto de não querer se reconciliar com Ele! Deus faria dele Seu amigo e aspergiria

o sangue do Seu Filho amado para firmar a amizade. Mas o homem não quer reconciliar-

se! Olhe, o grande Deus se voltando para rogar às Suas criaturas obstinadas! Suas criatu-

ras tolas! Nisto sinto uma compaixão reverente por Deus. Ele deve suplicar para que um

rebelde seja perdoado? Você ouve isso? Anjos, vocês ouviram isso? Aquele que é o Rei

dos reis encobre Sua soberania e Se inclina para rogar às Suas criaturas que se reconcili-

em com Ele! Não é de admirar que alguns dos meus irmãos começam a voltar a descrer

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em tal ideia e não podem acreditar que Ele poderia ser assim! Parece tão depreciativo ao

Deus glorioso! No entanto, o meu texto diz, e isso deve ser verdade: “Como se Deus por

nós rogasse”.

Isto torna mais terrível o trabalho de pregar, não é mesmo? Eu devia te suplicar como se

Deus falasse com você através de mim, olhando para você através destes olhos e esten-

dendo Suas mãos por estas mãos? Ele diz: “Todo o dia estendi as minhas mãos a um po-

vo rebelde e contradizente” [Isaías 65:2, Romanos 10:21]. Ele fala baixinho, com ternura e

com afeto paternal através destes pobres lábios meus, “como se Deus por nós rogasse”.

Além disso observemos que a próxima linha, se é que é possível, tem ainda mais força:

“Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo”. Uma vez que Jesus morreu em nosso lugar, nós,

Seus remidos, devemos rogar a outros em Seu nome. E como Ele derramou o Seu coração

pelos pecadores, em Seu nome devemos, de outra forma, derramar nossos cora-ções pelos

pecadores em Seu nome. “Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo”. Agora, se o meu Senhor

estivesse aqui, nesta manhã, Ele vos pediria para virem a Ele? Eu desejo, meu Mestre, que

eu fosse mais apto a ficar em Seu lugar neste momento. Perdoe-me por eu ser tão incapaz.

Ajuda-me a quebrantar meu coração, eu penso que ele não se quebranta como deveria por

esses homens e mulheres que estão determinados a destruir a si mesmos e, portanto, Te

ignoram, meu Senhor, como se Tu fosses um criminoso comum, pendurado em uma forca!

Ó homem, como você pode pensar tão desprezivelmente a respeito da morte do Filho de

Deus? É a maravilha do tempo, a admiração de toda a eternidade! Almas, porque vocês se

recusariam a ter vida eterna? Por que vocês morreriam? Por que vocês desprezariam

Aquele por Quem unicamente vocês podem viver?

Há apenas uma Porta da Vida: esta porta é o lado aberto de Cristo; por que você não vai

entrar e viver? “Vinde a Mim”, Ele diz: “vinde a Mim”. Eu acho que eu O ouvi dizer isso:

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre

vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis

descanso para as vossas almas” [Mateus 11:28-29]. Eu acho que O vejo naquele último

dia, o grande Dia da festa, em pé e clamando: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba”

[João 7:37]. Eu O ouvi docemente declarar: “o que vem a mim de maneira nenhuma o

lançarei fora” [João 6:37]. Eu não sou digno te rogar, em nome de Cristo, mas eu imploro a

você com todo o meu coração! Você que ouve a minha voz, de domingo a domingo, venha

e aceite o grande Sacrifício e se reconcilie com Deus! Você que me ouve, pela primeira

vez, eu gostaria que você fosse embora com este zumbido nos ouvidos: “reconcilie-se com

Deus!”. Eu não tenho mais nada a dizer para você. Eu só tenho a declarar que Deus

preparou uma Propiciação e que agora Ele suplica aos pecadores para virem a Jesus, para

que por meio dEle eles possam ser reconciliados com Deus!

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Nós não vos exortamos a fazer algum esforço impossível. Nós não lhes ordenamos a fazer

alguma coisa grande. Nós não lhe pedimos dinheiro ou preço. Nem exigimos de vocês que

passem anos se sentido miseráveis. Mas apenas isso: que se reconciliem. Não é tanto

reconciliar-se como “ser reconciliado!”. Entreguem a si mesmos a Ele, que está perto de

vocês agora, as cordas do Homem podem alcançar-lhes, atraíndo-os com laços de amor,

porque Ele foi dado a vocês! Seu Espírito se esforça com vocês, rendam-se ao Seu esforço.

Como Jacó, vocês sabem que lutou um Homem até o romper do dia, deixe que o Homem,

que o Deus-Homem, lhes subjugue! Sujeitem-se! Rendam-se ao abraço daquelas mãos

que foram cravadas na cruz por vocês! Vocês não cederão ao seu melhor Amigo? Aquele

que abraça você agora, o pressiona contra o Seu coração que foi perfurado com a lança

em seu nome. Oh, renda-se! Renda-se, meu amigo!

Você não sente alguma suavidade lhe tomar? Não endureça seu coração como o aço

contra isto. Ele diz, com um tom ainda mais doce: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endure-

çais os vossos corações” [Hebreus 3:15]. Creia e viva! Livre-se do arqui-inimigo que tem

mantido você em suas garras! Fuja por sua vida! Não olhe para trás de você, não pare em

toda a planície, mas fuja para onde você vê a porta aberta da grande casa do Pai! No por-

tão, o Salvador sangrante está esperando para recebê-lo e dizer: “Eu fui feito pecado por

você e você é feito justiça de Deus em Mim”. Pai, atraia-os! Pai, atraia-os! Espírito Eterno,

atraia-os, por Jesus Cristo, pelo amor de Seu Filho! Amém.

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO use este sermão para trazer muitos

Ao conhecimento salvador de JESUS CRISTO.

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

OUTRAS LEITURAS QUE RECOMENDAMOS Baixe estes e outros e-books gratuitamente no site oEstandarteDeCristo.com.

— Sola Fide • Sola Scriptura • Sola Gratia • Solus Christus • Soli Deo Gloria —

Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.