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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO "A VEZ DO MESTRE" Alunos portadores de TDAH no cotidiano escolar das séries iniciais POR: NEIVA BASTOS DE ALENCAR ORIENTADOR Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas Rio de Janeiro JAN/2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO "A VEZ DO MESTRE"

Alunos portadores de TDAH no cotidiano

escolar das séries iniciais

POR: NEIVA BASTOS DE ALENCAR

ORIENTADOR

Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas

Rio de Janeiro

JAN/2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO "A VEZ DO MESTRE"

Alunos portadores de TDAH no cotidiano

escolar das séries iniciais

Apresentação de monografia como

condição prévia para obter o título de

Especialista do Curso Pós-Graduação "Lato

Sensu" em Psicopedagogia – Terça / Noite –

Campus Tijuca por Neiva Bastos de Alencar

Rio de Janeiro

2005

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu filho Renan,

portador de TDAH, razão da minha existência e que me

mostrou a importância de educar aceitando as

limitações dos outros.

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AGRADECIMENTO

• a Deus por mais esta oportunidade de crescimento;

• aos meus pais e marido pelo apoio;

• a Filomena, grande amiga e incentivadora;

• a Profº Claudia Cristina pelo compromisso, pela busca de desafios e pelo amor

dedicado ao meu filho.

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RESUMO

Enquanto mãe e educadora tive e tenho interesse em estudar o cotidiano do aluno portador de TDAH nas séries iniciais das escolas brasileiras, bem como a visão do educador ao ter crianças com características tão específicas em suas mãos. O TDAH continua sendo um dos transtornos menos conhecidos por profissionais da área de educação e mesmo entre os profissionais de saúde. O portador de TDAH está matriculado em nossas escolas, mas muitas das vezes mal consegue se alfabetizar. Sua situação sócio-econômica é desfavorável, seus pais são leigos no assunto e não há um acompanhamento médico adequado que possa emitir um laudo ou parecer coerente para o caso, e assim os anos vão passando. Esta criança “grita” por ajuda, mas ninguém a ouve. O educador que vê seus alunos pelas possibilidades e não pelas limitações tenderá a realizar um trabalho criativo e inteligente apesar das dificuldades. As estratégias e as relações teórico-práticas auxiliarão o educador a realizar o trabalho de aprendizagem e socialização, atendendo aos reais interesses de crianças tão especiais, que estão além de nosso tempo e de nosso conhecimento.

Palavras Chave: Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade; Formação

do Educador; Cotidiano Escolar; Aliados dos Portadores de TDAH

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................... 07

1. Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade-O que é?................. 12

2. O Educador, sua formação e o contraste em sua realidade escolar....... 19

3. Política e Educação – Dois caminhos que não se cruzam................... 27

4. A Escola e o professor –Maiores Aliados dos portadores de TDAH........ 33

CONCLUSÀO ..................................................................................................... 40

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 45

ANEXOS ............................................................................................................. 47

ÍNDICE ................................................................................................................ 50

FOLHA DE AVALIAÇÃO.................................................................................... 51

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INTRODUÇÃO

O Sistema Educacional Brasileiro tem por finalidade oferecer educação de

qualidade para a formação do cidadão. Assim sendo, todas as crianças têm direito de

estarem matriculadas nas Unidades Escolares, inclusive as crianças portadoras de

TDAH. Diante das dificuldades encontradas pelas crianças portadoras de TDAH nas

escolas, principalmente nas séries iniciais faz-se necessário um estudo a respeito:

Ü De que forma as políticas educacionais vão intervir positivamente nos

portadores de TDAH?

Ü Quando será que outros setores da sociedade formarão efetiva parceria com a

educação, proporcionando soluções concretas para o atendimento a esta

demanda?

Ü Quando será que o professor será adequadamente capacitado para lidar com

tantas adversidades que atropelam o que aprendeu na teoria com sua prática

pedagógica

Entretanto, percebe-se que a matrícula nem sempre garante a permanência do

aluno nas escolas e muito menos um ensino de qualidade, numa escola que insiste

em caminhar a margem de uma sociedade que urge por mudanças, numa clientela

altamente heterogênea em todos os aspectos, onde a pesquisa identifica novas

síndromes, novas necessidades, nova formação para este educador que irá trabalhar

com este alunado.

Na expectativa de alcançar respostas para as questões levantadas, este

estudo teve por objetivo apontar até que ponto a criança portadora de TDAH está

realmente inserida no contexto escolar de acordo com a política educacional pública

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vigente, e até onde o professor está capacitado para atender a esta cada vez mais

crescente demanda de nossa sociedade atual.

O educador, muitas vezes, não sabe o que fazer com crianças tão especiais,

que não raramente ficam aquém de um processo por pura falta de informação

adequada e metodologia específica, por faltas de parcerias, de um ambiente

adequado, de um profissional qualificado que possa garantir a efetiva permanência

deste aluno na escola com um ensino de qualidade, onde suas reais necessidades

possam ser atendidas de forma a atingir os objetivos educacionais previstos de forma

satisfatória, que reforcem formação do aluno-cidadão.

O grupo social é o referencial a partir do qual o indivíduo cria e ajusta

constantemente sua identidade pessoal. Esse ajuste é a própria essência do

processo de socialização, que consiste em um acomodar das características

do indivíduo aos padrões reconhecidos pelo grupo social.(GLAT, 1989: 15).

Observa-se que o indivíduo manipula sistematicamente suas características

pessoais para atender ao padrão, valorizado pelo grupo o qual interage através do

relacionamento familiar que o indivíduo, desde o nascimento, aprende até que ponto é

aceitável no mesmo mundo, que tipo de “concessões a fazer” e ajuda “necessita

fazer”, assim como a qualidade das relações humanas que encontrará.

O indivíduo busca a normalização para ser aceito como membro do grupo. O

grupo espera determinado comportamento de um indivíduo, e este responde às

expectativas do grupo. Quando é segregado do mesmo, escolherá outro grupo que o

identifique e que seja por ele identificado.Assim encontramos os deficientes físicos, os

negros, mulheres, pobres, e os portadores de TDHA. As pessoas estigmatizadas

agem em função dos padrões de comportamentos esperados (os únicos que lhe foram

ensinados), de acordo com o estereotipo específico, e como eles não se adequam a

uma pré-moldagem, nem sempre são aceitos, ou quando aceitos não são trabalhados

de forma a que suas necessidades sejam respeitadas e transformadas positivamente

para seu crescimento individual.

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O contexto escolar atual, principalmente nas escolas municipais que é a

realidade a qual me reporto prova que a escola não sabe o que fazer com os alunos

TDAH. A dificuldade inicia-se na demora na confirmação do diagnóstico, pois a

precariedade dos sistemas de saúde em nosso país é gritante. A desinformação ou as

“falsas informações” sobre o caso favorecem um acúmulo de dúvidas sobre o que

fazer, onde fazer e como fazer com esse aluno.

A prática docente, o comprometimento do professor com a tarefa de ensinar e

promover a integração desses alunos ao grupo em que vivem pode-se destacar a

cumplicidade que deveria envolver a relação entre a teoria e a prática,

compreendendo que o avanço de uma enriquece a outra e vice-versa. Assim o

trabalho adequado com as crianças portadoras de TDAH só acontece quando todos os

envolvidos no processo acreditam e valoriza tanto o docente quanto o aluno.A ligação

entre discurso e prática do professor enriquece as implicações do trabalho escolar.

Não basta estudarmos os conceitos, diagnósticos ou fatores que caracterizem o

aluno portador de TDAH. É necessário saber o que se faz com essa criança que está

numa sala de aula que não oferece nenhum atrativo para ela, numa fileira onde à sua

frente só é possível identificar várias cabeças, maiores do que a dela. Numa sala onde

além dela, a professora precisa alfabetizar 30 alunos completamente diferentes entre

si, alguns já naquela mesma turma por dois ou três anos...

O professor sente-se incapaz, procura por ajuda, mas a ajuda não chega.

Quando chega, o ano já está acabando, e o aluno está ali...todos os dias, olhando

para ele.A busca de parceria junto aos responsáveis é fato praticamente utópico.O

profissional capacitado para atuar diretamente com essa clientela não está na escola,

está em algum pólo de atendimento ou em alguma clínica especializada que fica muito

longe da realidade desses alunos.O que fazer então? Desistir? Jamais...

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As dificuldades presentes, a credibilidade na criança TDAH e a formação

profissional são pontos que fundamentam a ação educativa de qualidade.O professor

tem papel fundamental no processo de aprendizagem e na saúde mental das crianças

com TDAH. É fato também a complexidade e a dificuldade do trabalho do professor

em sala de aula.Cada aluno tem sua necessidade, dificuldades e áreas de potencial. É

difícil dar a atenção extremamente individualizada de que estas crianças muitas vezes

necessitam, além disso, as escolas, especialmente as públicas, não dispõem de

ambiente adequado a isso. A proposta de ensino da escola deixa pouco espaço para

implementação de qualquer estratégia nova e mais flexível.Freqüentemente o

professor recebe alunos provenientes de famílias em que as questões de limite não

são adequadamente manejadas, confundindo a falta de limites com TDAH, o que

agrava ainda mais o caso, pois geralmente os responsáveis não aceitam a fala do

educador. Isso impõe ao professor uma dupla tarefa para cada criança, ou seja,

ensinar e educar.

São vidas que a cada ano ficam mais a margem de um processo educativo que

privilegia as minorias em detrimento dos demais. São crianças que a cada ano ficam

mais propensas a serem utilizadas pela sociedade que marginaliza e discrimina, não

dando oportunidades de ao menos serem ouvidas. São crianças que sofrem com o

descaso, que por falta de uma política efetiva são aprovados automaticamente até que

percebem que de nada adiantou tal aprovação se os conceitos básicos de cidadania

não foram construídos e então eles saem da escola.

O estudo foi desenvolvido através de referências bibliográficas, exemplos do

cotidiano escolar e através de minha própria experiência como educadora onde

buscou-se esclarecer fatos em torno do TDAH que possibilitará a consideração de

possíveis alternativas para um melhor atendimento a esta criança.

Para tanto, no primeiro capítulo foi priorizada a definição a cerca do TDAH, bem

como as principais características do portador, além da importância do diagnóstico

adequado para que as intervenções necessárias com ou sem uso de medicação

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possam ser feitas de maneira correta. Foram para isso utilizadas leituras da área de

neurociências e principalmente com os autores ROHDE, & BENCZIK que

detalhadamente caracterizam os tipos de TDAH, causas, conseqüências, diagnósticos

e intervenções necessárias.

No capítulo seguinte enfatizou-se a formação do professor que não acompanha

a realidade atual e que devido a metodologias inadequadas acabam por fazer da

escola um ambiente completamente despreparado para receber o portador de

TDAH,onde autores como Philippe Perrenoud ,Elvira Lima e Marta Koll através dos

comentários a cerca da obra de Vygotsky esclareceram pontos chave para a

adequada formação do professor de forma a atender este aluno.

A temática do terceiro capítulo ressalta a falta de apoio dos órgãos públicos no

tratamento do portador de TDAH e a total falta de parceria junto à escola, onde a falta

de profissionais tanto na área da saúde como a inclusão de alguns profissionais como

psicopedagogo nas escolas , o que torna a situação ainda mais difícil, além do

contraste do discurso sobre a educação de qualidade e da escola inclusiva.

Finalmente considerações a respeito de como o professor deve assumir o lugar

de pesquisador de forma a conscientizar-se que ele é o maior aliado do aluno portador

de TDAH, onde novas estratégias de ensino e um esforço para a revisão das leis

educacionais atuais possam favorecer integralmente a criança com TDAH, de forma a

garantir efetivamente uma escola de qualidade para todos.

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1. Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade:

O que é?

O Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (TDAH) é,

considerado, atualmente, um dos transtornos psíquicos infantis mais estudados.

Caracteriza-se essencialmente pela desatenção, hiperatividade e impulsividade na

criança, que causam prejuízo no funcionamento familiar, social e escolar.

Constitui-se num transtorno neurobiológico, multifatorial, que pode ser causado

tanto por fatores genéticos, como ambientais.Pesquisas científicas indicam que a

presença de uma disfunção na área do cérebro conhecida como córtex pré-frontal

devido a uma alteração no funcionamento de um sistema de substâncias químicas

chamadas neurotransmissores, principalmente a dopamina e a noradrenalina, que

passam informações entre as células nervosas, chamadas neurônios. O córtex pré-

frontal envia sinais inibitórios para outras áreas do cérebro, promovendo um certo

equilíbrio aos estímulos vindos do meio ambiente de forma a facilitar a concentração.

No caso do portador de TDAH, o córtex pré-frontal permanece hipoativo, não

realizando o equilíbrio necessário e como resultado, os estímulos são recebidos em

demasia, propiciando a inquietude e a distração.

No entanto, de acordo com as leituras feitas, não há uma única teoria que

comprove que apenas o córtex pré-frontal seja responsável pelo TDAH, visto que o

cérebro é um órgão que possui partes interligadas. Assim outras áreas que possuam

conexão com a região frontal podem não estar funcionando adequadamente, levando

aos sintomas de TDAH, de onde se conclui que este transtorno poderá ocorrer em

diferentes pontos interligados do cérebro.

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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, julho 2003), podemos

considerar três grupos de crianças portadoras de TDAH:

Ü Crianças que apresentam hiperatividade e desatenção (tipo combinado)

Ü Crianças que apresentam predominantemente a hiperatividade

Ü Crianças que apresentam predominantemente a desatenção.

As crianças inclusas no terceiro grupo, por quase não chamarem a atenção de

seus familiares ou de seus professores, geralmente são diagnosticadas tardiamente,

prejudicando seu tratamento adequado. Mas é muito importante termo em mente que

um “certo grau” de desatenção e hiperatividade ocorre normalmente nas pessoas, mas

nem por isso elas devem ser diagnosticadas como portadoras de TDAH. Para isso os

sintomas precisam ocorrer necessariamente na escola e em casa.

Crianças com TDAH têm dificuldade de manter a atenção e o esforço durante

períodos de tempo prolongados. Sua atenção tende a vagar e freqüentemente se

desligam da tarefa, pensando ou fazendo coisas diferentes da tarefa a ser realizada.

Freqüentemente essas crianças conseguem focar sua atenção em coisas que são

bonitas, novas, altamente estimulantes, interessantes ou até mesmo assustadoras.

Essas coisas estimulam o córtex pré-frontal, de modo que ela consiga focalizar sua

atenção e se concentrar. Uma criança portadora do TDAH pode se sair muito bem em

uma situação pessoal inusitada, e não conseguir terminar a sua simples tarefa de aula

em sua sala com 30 alunos. Tais crianças têm dificuldade em ater-se em assuntos

longos, rotineiros, cópias, lições de casa, etc, pois se constituí de uma opção nada

desejada por elas, pois elas precisam de excitação e interesse para acionar suas

funções do córtex pré-frontal.

A criança com TDAH, em sua maioria, até sabem o que deveriam fazer, mas

devido à inabilidade de controlar-se, geralmente não cumprem suas tarefas, agem

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antes de pensar! Vale dizer que elas sabem que deveriam prestar atenção na aula,

mas não prestam, levantam-se apesar de saberem que não deveriam levantar. O

TDAH não afeta a inteligência da criança, mas a sua aprendizagem. Na maioria dos

casos as crianças e adolescentes tem uma boa ou até mesmo excelente condição de

aprendizagem, fato que se dissocia das produções escolares que chegam a ser

medíocres, em muitas situações. Se for dados um exercício com uma seqüência de

operações, muito possivelmente ela consiga fazer as duas primeiras e depois não veja

as próximas, ou esqueça um sinal. Na leitura de um enunciado, ao chegar ao final não

lembre do que leu e afirme não ter entendido, ou ainda, que esqueceu o que leu. Se

for impulsivo, responde algo que lhe vem, na mente naquele momento. Em uma

avaliação escrita, poderá responder às questões da página e entregar sem perceber

que continuava na parte de trás da folha. Basta uma mosca passar pela janela que

ele perde a sua concentração naquela estória que a professora contava. E quando a

criança se dá conta, já fez o que prometeu não fazer, já perdeu a explicação que

precisava tanto, já brigou, enfim, deu tudo errado novamente.

O TDAH é reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização

Mundial da Saúde. Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH

são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola.( Fonte:

OMS, julho 2003).

De acordo com Rohde & Benczik (1999: 39) uma criança apresenta

desatenção, a ponto de ser considerado um transtorno, quando possui a maioria dos

seguintes sintomas ocorrendo a maior parte do tempo em atividades:

Ü Freqüentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por

descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras;

Ü Com freqüência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou

atividades recreativas;

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Ü Com freqüência não segue instruções e não termina seus deveres escolares,

tarefas domésticas ou deveres profissionais, não chegando ao final das tarefas;

Ü Freqüentemente tem dificuldade na organização de suas tarefas e atividades;

Ü Com freqüência evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em tarefas que

exijam esforço mental constante(como tarefas escolares ou deveres de casa);

Ü Freqüentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades

Ü É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa principal que está

executando;

Ü Com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias.

Os mesmos autores Rohde e Benczik (1999: 40) diagnosticam como portadora

do transtorno de hiperatividade quando a maioria dos seguintes sintomas torna-se

uma ocorrência constante em seu cotidiano:

Ü Freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira

Ü Com freqüência abandona sua cadeira em sala de aula ou em outras situações

nas quais se espera que permaneça sentado;

Ü Freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isso é

inapropriado;

Ü Com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em

atividades de lazer

Ü Dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas

Ü Com freqüência tem dificuldade para aguardar sua vez

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Os problemas na área afetivo-emocional geralmente estão associados ao

insucesso escolar e à dificuldade de relacionamento com outras crianças já que

possuem mais dificuldades em aguardar a sua vez e não resistem à intromissão

freqüente em assuntos alheios.

Daí a importância do diagnóstico correto, com profissional capacitado de forma

a evitar que a criança fique estigmatizada desnecessariamente.Além do mais o

diagnóstico impede que a criança fique durante anos com o desenvolvimento

prejudicado na escola e na sua vida social, atrasado em relação aos outros colegas,

nesta sociedade cada vez mais competitiva. O desinteresse em uma sala de aula pode

decorrer em conseqüências de altas habilidades em comparação aos demais colegas

de classe, de aulas tradicionais pouco atrativas, de traumas sofridos, de

incompatibilidade com o professor ou com a escola, enfim outros fatores que não

caracterizam necessariamente o TDAH.

O tratamento adequado minimiza conseqüências futuras do problema, como a

atração ao uso de drogas (muito freqüente em adolescentes), sintomas de depressão,

alterações no humor e transtornos de conduta.

O caminho até um profissional competente no TDAH muitas vezes leva meses

ou até anos.Os rótulos inadequados, a dificuldade do professor e dos responsáveis em

detectar o problema e o modismo atual das síndromes onde erroneamente

profissionais desinformados atribui qualquer problema que, por ventura a criança

possa apresentar em hiperatividade, fazem com que este caminho fique longo, onde

se perde um precioso tempo durante o qual a criança é quem mais sofre as

conseqüências, que não são poucas.Os meninos tendem a apresentar tal transtorno

com mais freqüência, mas o que não faz do caso uma regra.

O diagnóstico geralmente é feito por um neurologista ou neuropediatra, que

recorre a exames mais elaborados e testes psicológicos para o acompanhamento

adequado do tratamento, que poderá incluir algum tipo de medicação controlada.As

medicações mais testadas em estudos e mais usadas em tratamento clínico são os

chamados estimulantes, com a substância metilfenidato, no Brasil comercializado com

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o nome de Ritalina. Outras substâncias como a nortriptilina e a imipramina tem sua

eficácia pouco testada e quase não são utilizadas nestes casos.Essas medicações

estimulam a função das áreas cerebrais responsáveis pelo comportamento inibitório,

por isso tendem a estimular a seleção de estímulos que deixa de ser feita pelo córtex

pré-frontal, devido à falta da dopamina ou da noradrenalina, aumentando a

disponibilidade dos neurotransmissores deficitários nessa área. Mesmo assim a opção

pelos estimulantes deve ser avaliada individualizadamente pelo neurologista

responsável pelo caso e é importante saber que os riscos do uso de uma medicação

têm de ser comparados aos riscos da não utilização da mesma, em termos de

conseqüências do transtorno na vida familiar, social e escolar do indivíduo.

O uso de medicamentos em portadores de TDAH pode e deve ser visto como

uma ferramenta a mais na busca de uma melhor qualidade de vida. O cérebro deste

indivíduo pode ter seu funcionamento facilitado por meio da medicação, contribuindo

para que o indivíduo vivo de maneira menos desgastante. Assim o uso de

medicamentos costuma produzir resultados eficazes na grande maioria dos casos,

contribuindo para uma considerável mudança na vida destas pessoas. Para que isso

ocorra, é fundamental que se definam os sintomas causadores de maior desconforto,

em cada caso ou situação, da forma mais objetiva possível.

Definir o que se deseja melhorar no comportamento vital de um portador de

TDAH é essencial na escolha mais adequada de um medicamento.

O fundamental no tratamento da criança portadora de TDAH é o

acompanhamento de sua família e de seus professores, formando uma parceria

concreta de forma a transmitir mais segurança a essa criança que precisa de auxílio

para reestruturar seu ambiente, reduzindo sua ansiedade. Os pais também sofrem

muito com a angustia deste quadro e também precisam de ajuda para reconhecerem

neste caso permissividade ou falta de limites, bem como as longas e saturadas

punições de nada auxiliarão no desenvolvimento da criança. Ao invés disso um

modelo claro e previsível de recompensas e punições, baseado em terapias

comportamentais, e o respeito ao ritmo próprio da criança e suas limitações, ajudarão

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e muito seu desenvolvimento, minimizando os estigmas aos quais as crianças

portadoras de TDAH ficam vulneráveis.

É fato que a avaliação é necessária para que se possa entender e atender com

competência a criança com TDAH, no entanto não é raro a escola ou a família receber

o diagnóstico e não saber o que fazer com ele. Não basta ter o diagnóstico em mãos,

é necessário avaliar a situação sob o ponto de vista biológico, social e acadêmico. È

importante destacar que o TDAH tende a perdurar ao longo da vida, ou seja, ela pode

ser controlada, mas os adolescentes e adultos também sofrem as suas manifestações,

principalmente se não forem tratadas.

Assim o insucesso escolar fica vinculado à compreensão que se tem do papel

da escola. Se o papel da escola for de construir conhecimentos com “todos” os alunos,

certamente os profissionais desta escola procurarão formas de promover

aprendizagens. A rigidez da escola poderá gerar, além do fracasso escolar e do

sentimento de incapacidade, uma situação emocional desfavorável à aprendizagem,

gerando baixa auto –estima e dificultando ainda mais a aprendizagem desta criança.

Igualmente importante e, talvez até mais determinante, é a rigidez da família ao não

aceitar seu filho como ele é e entender que cada um de nós tem suas dificuldades e

pontos a serem superados. Uma família ou escola que tem uma criança com TDAH,

não tem um problema, e sim uma situação para administrar. Respeitar e apoiar a

criança em seus propósitos de desenvolver-se é fundamental.

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II - O educador, sua formação e o contraste em sua realidade

escolar.

A discussão sobre a formação docente é antiga e, ao mesmo tempo, atual;

antiga, pois, em toda a história da Educação tem sido questionada a maneira como

são formados nossos professores; atual porque, nos últimos anos, a formação do

professor tem se apresentado como fator principal das refeições sobre qualidade do

ensino, evasão e reprovação; atual ainda, por seu significado de ampliação do

universo cultural e científico daquele que ensina, dadas às necessidades e exigências

culturais e tecnológicas da sociedade.

As questões atuais mostram aos resultados nada animadores, destaca a

angústia do educador e sua formação ao longo da história. Programas são definidos,

cursos são desencadeados, conferências são proferidas, mas não se questiona para

quem são dirigidos, quais as necessidades dos que deles participam, em que medida

influencia os professores a quem são destinados e como são traduzidos

posteriormente em ações concretas nas escolas, em que medida o sistema usufrui e

se desenvolve em razão das atividades formativas dese4ncadeadas e, posteriormente,

utilizadas.

É importante, além de saber o que os docentes aprendem; verificar que

condições eles têm em sua escola, para integrar o aprendido às suas práticas

cotidianas. O entusiasmo e o interesse dos colegas de trabalho, as condições

materiais e organizacionais da escola, a disponibilidade da direção da escola para as

inovações são fatores que podem facilitar, dificultar ou mesmo impedir a inclusão de

novas práticas em sala de aula, como conseqüência de sua formação.

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Múltiplas são as possibilidades. As diferentes metodologias poderão originar

resultados consistentes neste contexto, pensar, desenvolver e avaliar, no âmbito

acadêmico ou não, propostas de formação docente significa um compromisso com

uma educação que tenha como projeto à formação de profissionais capazes de

articular competência técnica, cidadania e ética.

No cotidiano educacional atual encontram-se docentes que não tiveram a

preparação adequada para atuar. A formação inicial não tem propiciado, em boa parte

dos casos, o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos necessários para que o

professor tenha uma atuação consciente e conseqüente em sala de aula.

Para que esses aspectos necessários para atuar se desenvolvam, Esteves

(1993: 41) considera que a formação inicial deve:

Ü “incluir formas de apoio e de orientação aos professores no início da carreira,

no sentido de lhes facilitar a transição do período de formação para o emprego

propriamente dito;

Ü prepará-los para responder aos desafios que o trabalho futuro na escola lhes

colocará;

Ü dotá-los de meios que lhes permitam escolher os conhecimentos essenciais

perante a massa informativa disponível;

Ü incidir num mínimo de conhecimentos relativos à investigação pedagógica, à

informação e orientação, à educação intercultural, às novas tecnologias, ao

ensino especial, aos direitos do homem e da democracia...”.

Sem o preparo para atuar, o professor ingressa na carreira sem a noção da

dinâmica de uma sala. No período inicial da carreira docente todo o referencial teórico

aprendido na graduação é posto à prova. É nesta passagem da teoria para a prática é

que em muitos momentos o jovem docente não consegue resolver os problemas que

se apresentam no cotidiano escolar, sentindo dificuldade de transpor toda sua teoria

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para a prática. E como agravante da situação, a sociedade atual faz com que este

professor atue em duas ou mais escolas, dificultando seu trabalho, tanto no que se

refere ao desgaste físico como também no tempo de preparo de suas atividades. A

dificuldade em conduzir o processo de ensino-aprendizagem, considerando as etapas

de desenvolvimento de seus alunos de acordo com as teorias aprendidas na formação

e o conteúdo a ser desenvolvido pré-estabelecido por normas por vezes tão distantes

de seu contexto, os problemas sociais e econômicos que o faz conviver com

indisciplina, violência e até situações de risco, além dos alunos com necessidades

especiais, alunos estes que talvez uma ou duas disciplinas teóricas ao longo de sua

formação se propuseram a caracterizá-las superficialmente e que agora estão ali a sua

frente a espera de respostas que ele não sabe ou não pode dar.Sem ter com quem

compartilhar suas dúvidas, seus acertos e seus erros, o professor acaba apoiando sua

prática em ações que vivenciou na época de estudante, reproduzindo a prática de

seus antigos professores, o que dificulta sua transformação na busca de uma atuação

mais significativa e inovadora em sua atividade docente.

A sala de aula é um ponto de encontro das diferentes histórias dos diferentes

percursos, dos diferentes saberes. Mas é lá que começa o descompasso, de

desencontro, quando as dificuldades de aprendizagem “e os problemas de

comportamento”, distúrbios, síndromes e transtornos começam a aparecer.

Observando a situação das séries iniciais das escolas, encontramos uma sala

de aula com trinta e cinco alunos, onde muitos não cursaram a educação infantil. A

agitação é geral, muitos são agressivos, não demonstram conhecimento específico

sobre a linguagem escrita, mas revelam experiências com a escrita. É fato também, o

problema sócio econômico como a higiene, saúde e as condições precárias da vida

fora da escola que revelam as condições de trabalho na escola. Sem questionar tais

condições de trabalho e de vida, no entanto, espera-se que a professora alfabetize a

turma e que todos os alunos terminem o ano sabendo ler e escrever.

A escola falha na sua tarefa pedagógica porque desconhece como lidar com a

nova clientela que dela precisa. Os professores sobrecarregados e desinformados não

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conseguem lidar com assuntos como TDAH e outros fatores que possam levar às

dificuldades de aprendizagem com o número de alunos que cada turma possui, em

torno de 30 a 35, é muito difícil o professor conseguir dar atenção individualizada e

conseguir acompanhar de perto as dificuldades de cada um.

As limitações impostas pelo TDAH, quando não é corretamente diagnosticada e

tratada, atrapalha tanto a vida dos pais quando dos filhos. Chega-se ao cúmulo de não

raramente o responsável receber um “sutil” convite para trocar a escola da criança.

As crianças com TDAH não se adaptam às instituições de ensino tradicionais e

que tenham um código disciplinar muito rígido.Na rede pública a situação é ainda mais

grave. Lá, as crianças não possuem recursos para um tratamento como as da rede

particular. Com a política da progressão continuada em que o aluno é aprovado

automaticamente, mesmo que o aprendizado não tenha sido satisfatório, muitos

alunos só têm os seus casos diagnosticado na quinta série e sequer sabem ler.

Se a escola tratasse o portador de TDAH numa perspectiva Vygotskyana, veria

que o diagnóstico tradicional tende a aumentar o que deve ser visto como processo

neste aspecto, a deficiência fica cristalizada e a conseqüência do diagnóstico,

orientado somente para a “falta” e para o “não”, estabelecendo limites para o

desenvolvimento do sujeito. Ao contrário de Vygotsky que prioriza aquilo que o aluno

sabe em detrimento do que ele não sabe e propõe alternativas para que essa criança

atinja os objetivos propostos. Na perspectiva tradicional originam-se os resultados

negativos na esfera educacional e social, ao invés disso, o diagnóstico deveria

propiciar conhecimento sobre as possibilidades ou potencialidades de funcionamento,

para assim, reverter às metas e constituir condições sociais de superação e formação

de capacidades.

Não há uma solução pronta para administrar o problema dos portadores de

TDAH na sala de aula ou em casa.Pequenas mudanças na forma de lidar com eles ou

no que se espera deles podem ser a diferença essencial em sua melhoria. A eficácia

de qualquer tratamento vai depender do conhecimento e da persistência de quem lida

com esse tipo de criança.

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Algumas dicas são importantes para o trato com essas crianças:

Ü O melhor especialista para dizer como a criança aprende é a própria criança. É

assustadora a freqüência com que suas opiniões são ignoradas ou não são

solicitadas.

Ü Essas crianças necessitam de estruturação. Elas precisam estruturar o

ambiente externo, já que não podem se estruturar por si mesmas. Elas

necessitam de algo para fazê-las lembrar das coisas, de repetições, de

diretrizes, de limites e organização.

Ü Elas necessitam de um apoio especial para encontrar prazer na sala de aula.

Domínio ao invés de falhas e frustrações. É essencial prestar atenção às

emoções envolvidas no processo de aprendizagem.

Ü Os fatores que possam levá-las à distração devem ser diminuídos. Elas

precisam sentar-se em lugares calmos, próximos a um bom modelo. De

preferência próximas ao professor.

Ü As crianças com TDAH precisam ouvir regras, diretrizes e orientações mais de

uma vez. Se não conseguirem cumprir, volte e comece novamente.

Ü Olhe sempre nos olhos. Um olhar poderá tirar uma criança do seu devaneio ou

dar-lhe liberdade para fazer uma pergunta ou apenas dar-lhe segurança

silenciosamente.

Ü Limites deverão ser administrados com calma, nunca de modo punitivo. Longas

discussões são apenas diversão. Aja com firmeza, mas nunca repreenda esta

criança perante o grupo.

Ü Associe crítica a elogios, não esquecendo de reforçar cada pequena melhora,

evitando chantagens, ameaças ou medos. Isso só iria desencadear mais

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ansiedade e comportamentos cada vez mais renitentes. A negociação é sempre

o melhor caminho.

Ü Preveja o máximo que puder. Prepare as mudanças com a maior antecedência

possível. Avise o que vai acontecer e repita os avisos à medida que a hora for

se aproximando.

Ü Propicie uma espécie de válvula de escape como, por exemplo, sair de sala de

aula por alguns instantes, mas com tempo determinado. Se isto puder ser feito

dentro das regras da escola, poderá permitir à criança “recarregar” suas

baterias de atenção e ela voltará recarregada para prestar mais atenção

novamente.

Ü Procure a qualidade ao invés de quantidade dos deveres de aula e de casa.

Crianças com TDAH necessitam de uma carga reduzida, pois ficam entediadas

rapidamente e acaba por não cumprir o esperado. Permita um tempo extra para

o cumprimento das tarefas e provas. Dê uma tarefa de cada vez.

Ü Monitore o progresso freqüentemente. Crianças com TDAH se beneficiam muito

com o retorno do seu resultado. Isto ajuda a mantê-las na linha, possibilita

saber o que é esperado e se eles estão atingindo as suas metas, e pode ser

muito encorajador.

Ü Divida as tarefas em tarefas menores. Mescle as tarefas ruins com as

boas.Através da divisão de tarefas em tarefas mais simples, cada parte é mais

fácil de ser trabalhada, e a criança foge da sensação de incapacidade.Assim o

professor pode permitir à criança que demonstre a si mesma a sua capacidade

e isto pode ajudar muito a evitar acessos de fúria pela frustração antecipada.

Ü Permita-se brincar, ser criativo. Crianças com TDAH adoram novidades. Elas

respondem as novidades com entusiasmo, e isto as ajudam a manterem a

atenção.

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Ü Esforce-se e não se dê por satisfeito, tanto quanto puder. Estas crianças

convivem com o fracasso, e precisam de tudo de positivo que você puder

oferecer. O fracasso não pode ser super – enfatizado;estas crianças precisam e

se beneficiam com os elogios. Elas adoram o encorajamento. Elas absorvem e

crescem com isto. Sem isto elas retrocedem e murcham.Alimente-as com

encorajamento e elogios. O carinho deve ser associado aos limites.

Ü Tarefas mais difíceis devem ser dadas no início da aula, pois estão mais

atentos e menos cansados.

Ü Simplifique as instruções. Simplifique a programação. O palavreado mais

simples será mais facilmente compreendido. Use uma linguagem mais colorida,

mais leve, menos formal. Assim como as cores, a linguagem colorida prende a

atenção.

Ü Um sistema de recompensas é uma possibilidade de mudar o comportamento.

Crianças com TDAH respondem muito mais às recompensas e incentivos.

Possuímos áreas de recompensas cerebrais. O cérebro tende a perpetuar o

que nos dá prazer, por isso a importância dos reforços positivos.

Ü Seja o reforço positivo ou negativo, faça acontecer logo depois que o

comportamento aconteça. Esta é a melhor maneira de minimizar o fracasso ao

relatar a conseqüência da atitude.

Ü Fique atenta a integração. Estas crianças precisam se sentir enturmadas,

integradas. Assim sentir-se-ão motivadas e ficarão mais sintonizadas.

Ü Prepare-se para altos e baixos e trabalhe a mentira (estimular a falar a verdade,

mesmo errando). Seja firme, com delicadeza.

Ü Experimente um caderno escola-casa-escola. Isto pode contribuir realmente

para a comunicação pais-professores e evitar reuniões de crises. Isto ajuda

ainda o freqüente retorno de informação que a criança precisa.

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Ü Lembre-se que essas crianças possuem atenção seletiva (atenção no que

gosta) e por isso irá ter melhor desempenho em certas atividades, pois quando

faz o que gosta ativa melhor certa área do cérebro conseqüentemente

alcançando um desenvolvimento global melhor nesta hora.

Ü Exercícios físicos constituem-se num dos melhores tratamentos para este tipo

de criança. Ginástica e esportes, principalmente os coletivos como futebol

ajudam a liberar o excesso de energia, ajudam a concentrar a atenção,

estimulam certos hormônios e neurônios que são benéficos ao seu quadro.

Ü Trabalhe a inclusão sempre. Se ele for tratado igual aos outros alunos irá

prejudicar a si e aos outros sem resultados educacionais. Explique a turma que

alguns alunos precisam de atendimentos diferenciados por necessidade, e que

está agindo daquela maneira para que o aluno se concentre e conquiste ganhos

educacionais, peça a turma para alerta-lo quando estiver sendo inconveniente e

“puxar” por ele quando estiver desatento, mas tende dar o tratamento normal o

máximo possível a fim de evitar a discriminação.

Ü Lembre-se que: esta criança se pudesse, certamente agiria diferente.

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3. Política e Educação - Dois caminhos que não se

encontram

Vários fatores contribuem para a deficiência do ensino brasileiro, que vão desde

a superlotação nas salas de aula e má remuneração dos professores até a crise

financeira numa economia globalizada e os rotineiros cortes de verba no ensino

público. Se associarmos esse panorama a uma criança que, freqüentando uma escola

qualquer numa classe com cerca de 40 alunos, sofra também daquilo que

classificamos como Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH),

percebe-se então a gravidade da situação escolar nas séries iniciais.

Na maioria das escolas, a criança em geral se torna um complicador a mais

numa classe já tumultuada. E, provavelmente, não só deixará de receber atenção

adequada, como também ficará à margem de todo processo pedagógico. Isto ocorre

por uma série de motivos. Em primeiro lugar, notamos que a formação dos

educadores brasileiros ainda é deficitária e, em função disso, a maioria deles não está

preparada para diagnosticar e/ou encaminhar adequadamente as crianças com TDAH.

Nem mesmo os pais estão culturalmente preparados para aceitar que seus filhos

possam ter esse tipo de problema. Mas nos casos onde os pais aceitam procurar

ajuda é que começa o drama, pois na maioria das vezes, não temos profissionais de

saúde habilitados a fazer esse tipo diagnóstico e dar segmento eficaz principalmente

na rede pública, pois nosso sistema de saúde, no que se refere ao atendimento

neurológico infantil, ainda é precário, e insuficiente para atender a tantos casos de

TDAH na rede.

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Muitas vezes o diagnóstico pouco criterioso de TDAH serve como atenuante

para alguma comodidade ou incapacidade da escola para lidar com processos e

métodos de aprendizagem. Não é segredo que a maioria das escolas, principalmente

as públicas está longe de cumprir sua tarefa de instruir e educar, envolvidas que estão

por ditames políticos demagógicos, ou técnicos utilitaristas.Percebe-se, com certa

facilidade, que algo está muito errado e que, nem sempre, o erro é exatamente das

crianças.

Apesar de estudos e teorias a respeito do TDAH, observa-se que na prática

muito pouco é feito na escola, onde o transtorno fica mais evidenciado. Na rede

particular seguem-se duas vertentes: uma ainda enraizada nos moldes tradicionais,

com características conteudistas priorizando apenas os resultados, não possui a

flexibilidade necessária para lidar com este tipo de criança e então após inúmeras idas

e vindas da criança e do responsável aos diversos setores da escola, acaba muito

sutilmente sugerindo ao responsável que ele procure outra escola; a outra vertente

mostra uma escola tida como moderna, construtivista ou outras denominações

similares que divulga uma metodologia baseada na formação integral do aluno, com

uma série de atrativos modernos que uma escola possa oferecer e que certamente

destina-se tanto quanto a outra escola citada anteriormente a uma clientela reduzida e

elitizada. Nos dois exemplos a criança atendida nesta escola possui um meio favorável

para que as conseqüências do TDAH sejam minimizadas. Médicos renomados,

psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, atividades extras como esportes e lazer,

estão ao alcance desta criança, o que se corretamente encaminhado favorecerá o seu

aprendizado; mas apesar do discurso diferenciado, a necessidade do cumprimento de

um programa, de avaliações bimestrais, de médias para aprovação continua sendo um

fantasma para esta criança que justamente por possuir todas as oportunidades já

descritas, “não podem” fracassar, porque a sociedade não está preparada para lidar

com as diferenças e exatamente por pertencerem a uma classe privilegiada com

diversas oportunidades, é duplamente “cobrado” por não atenderem aos anseios da

família. Passam por diversas escolas, inúmeros especialistas e sofrem com isso.

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Já na rede pública a situação chega a beira do caos. A criança com TDAH,

passa por inúmeros rótulos até que o responsável encontra um neurologista para

diagnosticar o caso. Daí por diante, todos as barreiras crescem ao redor desta criança.

O Sistema Único de Saúde desprovido de profissionais adequados, de medicação de

baixo custo ou gratuitos, a falta de acompanhamento familiar que ocorre nem sempre

por negligência dos pais, a carência de escolas com recursos disponíveis, de turmas

com número adequado de alunos, de profissionais que precisam de algo além da

competência e do compromisso profissional, pois aquele aluno não é exclusividade

dele, ele é de responsabilidade de toda rede pública que muito pouco faz por ele. E

assim os anos passam, muitos ficam retidos por não conseguirem seguir o fluxo

normal do cotidiano escolar, que também prega o discurso da valorização, do

crescimento global, da escola ciclada, da inclusão, mas que lá no final da curva retém

aqueles que saíram do padrão da normalidade como os portadores de TDAH. E assim,

este aluno sofre tanto quanto o outro da rede particular que também não atendeu às

exigências de uma sociedade que vergonhosamente exclui aqueles que fogem de um

padrão pré-estabelecido por uma elite, que está longe da realidade do Brasil atual.

O contraste do discurso sobre educação de qualidade e a falta de interesse do

poder público fica explícito a cada estória de responsáveis e professores da rede

pública que vêem os anos passarem e aquela criança ali, na mesma escola, vendo

suas dificuldades aumentando, e com elas a sua exclusão do sistema escolar e a sua

inclusão no grupo dos que não deram certo.

A História mostra que mudanças no Brasil possuem um tempo próprio, e muito

longo para acontecerem. Já em 1979, no México foi assinado por iniciativa da

UNESCO (relatório UNESCO, Espanha, 1995) o Projeto Principal de Educação, onde

se buscava uma escola que atendesse à todos. Este projeto tinha por objetivo definir e

adotar algumas medidas capazes de combatera elitização da escola nos países da

América Latina. Outros documentos se sucederam, entre eles a Declaração de

Salamanca assinada em 1994. Foi essa declaração que oficializou o termo inclusão no

campo da educação.

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A inspiração para o encontro em Salamanca, na Espanha, foi reafirmar o direito

de todas as pessoas à educação, conforme a Declaração Universal de Direitos

Humanos, de 1948. A Declaração de Salamanca é conseqüência de todo um processo

em torno da igualdade em educação e uma educação de qualidade, onde Normas

Uniformes sobre a Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência,

assinado em 1993 e publicado em 1994, onde de acordo com estas normas, os

estados são obrigados a garantir que a educação de pessoas com deficiência seja

parte integrante do sistema educativo.

Foi assim, com o objetivo de promover uma educação para todos, que se

reuniram na Espanha, em junho de 1994, a convite do governo espanhol e da

UNESCO, mais de 300 representantes de 92 governos e de 25 organizações

internacionais. O Brasil, convidado oficialmente com todas as despesas pagas, não

enviou um representante (relatório UNESCO, Espanha 1995). Apesar do interesse da

Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e do Desporto, a

participação brasileira não se efetivou.

Dessa conferência mundial saiu a Declaração de Salamanca. Por ela firma-se a

urgência de ações que transformem em realidade uma educação capaz de reconhecer

as diferenças, promover a aprendizagem e atender às necessidades de cada criança

individualmente. A Declaração de Salamanca recomenda que as escolas se ajustem

às necessidades dos alunos quaisquer que sejam suas condições físicas, sociais, e

lingüísticas, incluindo aquelas que vivem nas ruas, as que trabalham, as nômades, as

de minorias étnicas e sociais, além das que se desenvolvem à margem da sociedade.

Mesmo não tendo participação efetiva na Conferência, o Brasil vem tentando

adequar-se às exigências mundiais. Acontece que baseia-se o atendimento no

princípio da normalização, utilizando a integração e a inclusão como sistemas

organizacionais.

Normalizar uma pessoa não significa torna-la normal. Significa dar a ela o

direito de ser diferente e ter suas necessidades reconhecidas e atendidas pela

sociedade. Na área da educação, normalizar é oferecer ao aluno com necessidades

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especiais, recursos profissionais e institucionais adequados para que ele desenvolva

seu potencial como estudante, pessoa e cidadão. No sistema educacional da inclusão

cabe à escola se adaptar às necessidades dos alunos e não aos alunos se adaptarem

ao modelo da escola. Daí parte a chave para o aprendizado não só dos portadores de

Síndrome de Down, deficiência visual ou auditiva, dos comprometidos com paralisia

cerebral ou qualquer outro tipo de paralisia, mas também com os nossos portadores

de TDAH, que não chegam nem perto da prioridade para atendimento, das

adequações curriculares, onde deveriam ser atendidos numa inclusão séria, num

comprometimento com o desenvolvimento desta criança e de suas habilidades,

encarando o problema como algo que precisa ser tratado, adequadamente, o quanto

antes, pois a cada dia ele cresce em nossas escolas. Importante ressaltar que não há

psicopedagogos na rede pública, pois nunca foi realizado um concurso público para o

provimento deste cargo, o que é inaceitável na realidade escolar atual. Profissionais

como psicólogos e fonoaudiólogos fazem parte do quadro de funcionários da saúde, e,

portanto não podem ser desviados para o atendimento escolar. Os postos de saúde

não atendem a demanda e a criança não é atendida. Os poucos lugares no Rio de

Janeiro onde o atendimento aos portadores de TDAH é realizado gratuitamente como

o GEDA (Grupo de Estudos de Déficit de Atenção) localizado no Instituto de

Psiquiatria na UFRJ na Avenida Venceslau Brás em Botafogo e o grupo da Santa

Casa da Misericórdia, coordenado pelo Dr Fábio Barbirato, estão com inscrições

suspensas até o segundo semestre de 2005 (Santa Casa da Misericórdia, RJ,

novembro/2004).

Uma criança com poucos recursos financeiros não poderá aguardar meses ou

até anos para conseguir uma consulta, que não garantirá a continuidade do

tratamento, muitas vezes por conta da distância de sua residência e as despesas com

transporte e medicação. Como o ano letivo não aguardou este retorno, pois o tempo

não pára, foi mais um ano perdido.

Para que, não só os alunos portadores de TDHA, como os demais que

necessitam de uma escola que lhes proporcionem oportunidades iguais, não há outro

caminho que não seja a conscientização dos órgãos governamentais para que novos

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investimentos sejam feitos, na formação do educador, na inclusão de fonoaudiólogos,

psicopedagogos e psicólogos no sistema educacional seja a nível federal, estadual ou

municipal, pois a lentidão de todo este processo de mudança e inclusão é no mínimo

criminosa, pois um ano perdido não se recupera.

Os anos passam, mas a escola permanece inerte. Não acompanha às

exigências da sociedade atual do país onde a miséria e a violência contribui para uma

elitização dos mais favorecidos, que também não ficam imunes às conseqüências da

falta de tratamento para o TDAH.

Estuda-se Piaget, discursa-se sobre Vygotsky, mas deixam para o professor

arcar sozinho com as adversidades de sua sala de aula. É um alento saber que a sede

de mudança vem aumentando entre um grande número de profissionais, que

procuram esclarecimentos, especializações como a psicopedagogia, mas frustra-se ao

saber que não será reconhecido no sistema ao qual é vinculado. Sistema este, que

exige o cumprimento de um currículo, num tempo que seu aluno não conseguirá

alcançar se não for ajudado.

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4. A escola e o professor

Maiores aliados dos portadores de TDAH

Diante de sucessivas buscas de como adequar a criança portadora de TDAH

nas séries iniciais, pergunta-se: Qual é a escola apropriada para atender este aluno? E

o que se pode entender por apropriado? Apropriada não é a escola que apenas aceita

o aluno. Apropriada é a escola que tem condições para assumir um compromisso; que

disponibiliza recursos de auxílio a alunos com dificuldades, que é receptiva ao projeto

de parceria com os pais e com os profissionais responsáveis pelo acompanhamento

do aluno; que investe na formação do seu corpo docente. Apropriada é a forma como

a escola trabalha com o conhecimento, que respeita as diferenças individuais e que é

capaz de avaliar um aluno pelos progressos que alcança e não só comparativamente

com o restante do grupo.

Entre o ensinante e o aprendente abre-se um campo de diferenças onde se situa o prazer de aprender. O ensinante entrega algo, mas para poder apropriar-se daquilo o aprendente necessita inventá-lo de novo. È uma experiência de alegria, que facilita ou perturba, conforme se posiciona o ensinante. Ensinantes são os pais, os irmãos, os tios, os a avós e demais integrantes da família, como também os professores e os companheiros na escola. (FERNANDEZ, A. 2001: 29)

Desta forma, é interessante destacar que não apenas a criança sofre de um

Transtorno, um Déficit ou uma Síndrome, mas também quem são os ensinantes dessa

criança. Esse dado é fundamental para que se trace um plano de ação

psicopedagógico que se estenda À família, à escola e aos outros profissionais que

podem estar envolvidos no processo.

Escolas que ou não conhecem o Transtorno do Déficit de Atenção e

Hiperatividade e não parecem dispostas a conhecê-lo, e/ou negam sua existência,

acreditando que “se ele fizer uma forcinha vai conseguir”, podem ser descartadas de

imediato. Escolas que aceitam mais de 25 alunos por turma também. É preciso ficar

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atento a este critério porque, às vezes, em algumas escolas particulares pouco

confiáveis, as turmas têm poucos alunos por alguma circunstância como, por exemplo,

a falta de procura por vagas. Saber quantos alunos com, dificuldades são aceitos por

classe é muito importante, porque a presença de mais de 2 ou 3 alunos nestas

condições, pode inviabilizar o trabalho do professor, que é em última e em primeira

instância, a pessoa mais importante de todo o processo. Ele é o maior diferencial. È a

atuação competente do professor que vai fazer toda a diferença.

A escola que melhor atende as necessidades dos portadores de TDAH é aquela

cuja preocupação maior está em desenvolver o potencial específico de cada aluno, em

atender às suas características únicas, em perceber seus pontos fortes e tentar

superar seus pontos fracos, porque eles irão precisar de apoio e intervenção

acadêmica com mais intensidade.

Treinamento e conhecimento sobre TDAH são essenciais para que os

professores estejam conscientes que o problema é fisiológico e biológico por natureza.

Essa criança não está deliberadamente tentando incomodar. Seu comportamento não

é planejado para nos deixar louco. Essa conscientização ajuda a manter a paciência e

a habilidade em lidar com comportamentos indesejáveis de uma maneira positiva.

Conhecendo o Transtorno e as técnicas de manejo em sala de aula, o professor

é capaz de provocar mudanças significativas na relação do aluno com a

aprendizagem. Mobilizado, o aluno também utiliza-se de novos recursos que, muitas

vezes, eram desconhecidos pelos próprios especialistas, para dar conta dos desafios

em sala de aula, para que o professor sinta orgulho dele. Portanto, é o professor que

deve ser preparado para conhecer e atuar de forma mais eficiente. È nele que devem

ser feitos os investimentos tanto por parte da família quanto da escola e dos

especialistas.

Uma sala de aula eficiente para crianças com TDAH deve ser organizada e

estruturada. A estrutura supõe regras claras, um programa previsível e carteiras

separadas. Os prêmios devem ser coerentes e freqüentes. Um programa de reforço

baseado em ganho e perda deve ser parte integral do trabalho da classe. A avaliação

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do professor deve ser freqüente e imediata. Interrupções e pequenos incidentes tem

menores conseqüências se ignorados. O material didático deve estar adequado à

habilidade da criança. Estratégias cognitivas que facilitam a auto-correção, assim

como melhoram o comportamento nas tarefas, devem ser ensinadas. As tarefas

devem variar, mas continuar sendo interessantes para os alunos. Os horários de

transição, bem como os intervalos e reuniões especiais, devem ser

supervisionados.Os professores precisam estar atentos à qualidade de reforço

negativo do seu comportamento. As expectativas devem ser adequadas ao nível de

habilidade da criança e deve-se estar preparado para mudanças.

Os professores devem ter conhecimento do conflito inabilidade X

desobediência, e aprender a discriminar entre os dois tipos de problema. È preciso

desenvolver um repertório de intervenções que deve ser desenvolvido para educar e

melhorar as habilidades deficientes da criança com TDAH.

Ajustar as expectativas familiares quanto ao rendimento acadêmico é outro

aspecto a ser considerado para que as conquistas possam ser reconhecidas. O

desempenho escolar do portador de TDAH é significativamente menor quando

comparado a um grupo de estudantes da mesma idade e com o mesmo potencial

intelectual. Quanto à retenção escolar são necessárias algumas considerações. Como

ponto de partida, é preciso se questionar qual a função da repetência, Isto é, para que

servirá. Se a metodologia de ensino for à mesma do ano anterior, não vai acrescentar

nada ao aprendizado do aluno. Se por outro lado a escola acreditar que em um ano

ele vai amadurecer e, por isso, debelar as características do TDAH, a retenção não

passará de uma punição para aquela criança, que no mínimo, perderá o seu grupo de

amigos, tão dificilmente conquistado.

Mais do que resultados do boletim, acompanhar a vida escolar de uma criança

portadora de TDAH, é acompanhar as ocorrências, as oscilações para poder analisa-

las junto à escola e aos profissionais responsáveis pelo atendimento. Antes de partir

para qualquer solução, antes de se desesperar, é importante que se defina qual é o

problema com todos os seus contornos para promoção de alternativas que deverão

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ser discutidas por todos. Só assim, a vida escolar desses estudantes poderá ser

menos fragmentada, menos sofrida e causar menos danos à auto-estima.Todos temos

capacidades e habilidades que precisam ser definidas e estimuladas. Ser intuitivo,

criativo e entusiasmado podem ser características do portador de TDAH. Aproveita-las

no projeto de ensino, através da adoção de diferentes estratégias, amplia as

possibilidades de aprendizagem. Somente saber sobre a dificuldade não é suficiente

para promover a ação educativa. Pode até servir de mais um argumento para a não –

aprendizagem. O importante é identificar o estilo da aprendizagem, as competências,

o caminho a seguir. È a partir daí que todo o processo educativo será direcionado.

Portanto, a escolha de uma escola para esta criança deve atender às

necessidades dela, necessidades estas que demandam da escola mais do que um

simples acolhimento. Demandam serviços educacionais, investimento no professor,

tempo para que os professores se reúnam e planejem adequadamente, turmas de

tamanho adequado às necessidades e auxílio técnico apropriado. Não se trata de uma

responsabilidade única da escola. Incluem todos aqueles que estão presentes na vida

desse estudante, para que a inclusão seja bem sucedida. Não há regras pré-definidas.

Há necessidades a serem atendidas desde que identificadas.

O TDAH é reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização

Mundial da Saúde. Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH

são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola. (OMS,

julho 2003).

O fator complicador a todo este discurso é que como no Brasil, o TDAH não

possui amparo para tratamento diferenciado na lei, o sistema não se interesse em

favorecer investimentos para um acompanhamento adequado a esta criança. Além da

escola, outros profissionais precisam fazer parte deste elo, onde a criança será

realmente ajudada. A rede pública de ensino não atende à necessidade de reduzir o

número de alunos devido a grande procura por vagas, a rede particular vincula o lucro

ao número de alunos matriculados e as poucas que possuem um número adequado

de alunos para esta criança, apresenta custos onerosos muito distante da realidade da

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maioria. Enquanto isso, o sistema público de saúde, agonizante, não dá conta nem

dos casos mais complexos e emergenciais, que dirá de acompanhamento ao portador

de TDAH. O desnível social proporciona as desigualdades de oportunidades e

tratamento, e o que poderia ser tratado adequadamente, fica restrito a poucos e a

maioria de nossas crianças permanece à margem do processo.Valorizar as diferenças

dos alunos e ajudar a ressaltar seus pontos fortes. Propiciar muitas oportunidades

para que eles possam demonstrar aos colegas aquilo que fazem bem.

A profissionalização não avançará se não for deliberadamente estimulada por políticas concertadas que digam respeito à formação dos professores, a seu contrato, à maneira como eles prestam conta de seu trabalho ao estatuto dos estabelecimentos e das equipes pedagógicas. Não avançará muito mais se essas políticas não encontrarem atitudes, projetos, investimento de pessoas ou grupos.( Perrenoud, 2000: 178)

E assim os cursos de formação insistem em formar para educar aqueles que

aprendem. Estratégias e intervenções para lidar com as complexidades deste aluno,

ficaram como responsabilidade do professor que busca em todas as teorias que

aprendeu na formação uma luz para na prática saber lidar com esta criança portadora

de TDAH e que nas teorias estudadas apesar de em alguns casos encontrar um certo

embasamento, ficam a mercê de toda problemática que o caso exige.

Estratégias de ensino criativas, atraentes e interativas, que mantêm os alunos

envolvidos e interagindo com seus colegas, são muito importantes. Todos os alunos

precisam e merecem um currículo rico, motivador, que utilize variedade de métodos. O

professor precisa ser capacitado em estratégias multisensoriais, aprendizagem

participativa, estilos de aprendizagem ou na teoria das múltiplas inteligências, além de

atualizar seu conhecimento para a sala de aula do presente.

Não se deve esperar que os professores eduquem e trabalhem com essas

crianças sem ajuda. É necessário um diagnóstico adequado. Com vários alunos

portadores de TDAH, um tratamento médico é crucial para permitir seu funcionamento

na escola. Os problemas sociais/comportamentais que eles freqüentemente

apresentam pedem orientação adequada.

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Faz-se necessário uma revisão na lei educacional, onde se possa instituir como

função o psicopedagogo, ao nível de educação pública, contratado através de

concurso público, para que ele possa atuar junto com o professor com o seu aluno

portador de TDAH e de outras deficiências principalmente nas séries iniciais. O

professor sozinho não possui meios e tempo disponíveis para fazer as intervenções

necessárias aquela criança, de forma que não só a prejudique como também não

prejudique os demais alunos da turma. A Psicopedagogia preocupa-se, portanto, como

a criança aprende, daí a necessidade da inclusão deste profissional no quadro de

funcionários da rede pública. È absurdo a forma omissa que a educação encara o

número cada vez maior de alunos com necessidades especiais de diversas origens,

além do portador de TDAH, e que nada de concreto acontece na grande maioria das

escolas segregando essas crianças a um futuro não muito promissor pois além de sua

dificuldade, ainda é obrigado a conviver com a omissão de uma sociedade injusta e

demagoga.

Contribuir para o crescimento dos processos da aprendizagem e auxiliar no que

diz respeito a qualquer dificuldade em relação ao rendimento escolar, também é do

âmbito da Psicopedagogia, bem como de educadores em geral.

Ter conhecimento de como o aluno constrói seu conhecimento, compreender as

dimensões das relações com a escola, com os professores, com o conteúdo e

relacioná-los aos aspectos afetivos e cognitivos, permite uma atuação mais segura e

eficiente. As dificuldades de aprendizagem como conseqüência do TDAH, tendem a

agravar-se na medida em que não são diagnosticados precocemente. Assim a

atuação da Psicopedagogia tem como base o pensar, a forma como a criança pensa e

não propriamente o que aprende. Ter um olhar psicopedagógico de um processo de

aprendizagem é buscar compreender como eles utilizam os elementos do seu sistema

cognitivo e emocional para aprender. É também buscar compreender a relação do

aluno com o conhecimento, a qual é permeada pela figura do professor e pela escola.

A escola por muitos anos destacou o que o aluno não conseguia fazer,

evidenciando suas dificuldades com as reprovações. Hoje, dentro da nova realidade, é

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preciso que a escola respeite aquilo que o aluno não consegue fazer ou aquilo que ele

leva um tempo maior do que os outros para realizar, porque isso é uma conseqüência

de algo que ele não consegue dominar. Assim, o pedido é outro: é preciso conhecer o

que o aluno faz, potencializando a sua aprendizagem. O pensar sobre aquilo que foi

aprendido na formação do professor e os estilos utilizados na hora de ensinar é o que

pode impulsionar o caminho da mudança mais efetiva e competente em educação.

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CONCLUSÃO

Ao longo deste estudo a respeito sobre crianças portadoras de TDAH ficou

comprovado que este é um distúrbio neuro-comportamental, que vem merecendo

estudos e pesquisas no mundo inteiro. Este transtorno continua sendo um dos

transtornos menos conhecidos por profissionais da área da educação e mesmo entre

os profissionais de saúde, o que de acordo com a precária situação social,

principalmente das crianças matriculadas nas escolas públicas, atrasa e prejudica

consideravelmente o tratamento desta criança que como conseqüência apresenta

sérios problemas na escola, prejudicando o seu aprendizado.

De acordo com o descrito no capítulo 1, o TDAH caracteriza-se essencialmente

pela desatenção, hiperatividade e impulsividade na criança, que causam prejuízo no

funcionamento familiar, social e escolar. È um distúrbio químico que apresenta uma

disfunção na área do cérebro conhecida como córtex pré-frontal devido a uma

alteração no funcionamento de um sistema de substâncias chamadas

neurotransmissores. No caso do portador de TDAH, o córtex pré-frontal permanece

hipoativo, não realizando o equilíbrio necessário e como resultado, os estímulos são

recebidos em demasia, propiciando a inquietude e a distração.Para os alunos

portadores de algum tipo de deficiência, Vygotsky (apud. Marta Kohl,1993:28) afirmou

que “A educação para estas crianças deveria se basear na organização especial de

suas funções e em suas características mais positivas, ao invés de se basear em seus

aspectos mais deficitários”. Daí a necessidade do profundo conhecimento por parte do

educador, das fases do desenvolvimento mental da criança e suas adversidades,

propondo estratégias educacionais que possam atender a alunos portadores de TDHA

de forma que a escola represente mais um espaço de aquisição de conhecimentos e

não um espaço onde o aluno fica a margem do processo educativo.Não devemos

reduzir as possibilidades deste aluno, mas num processo de interação constante

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descobrirmos as suas “vias de acesso” à constituição de conhecimentos e valores,

para que se possibilite seu aprender, sem que previamente determinemos até onde

terá condições de caminhar. Assim o trabalho com esta criança principalmente nas

séries iniciais, onde o transtorno fica mais evidenciado, requer do professor um

compromisso ético com o desenvolvimento daquele aluno, que ao invés de ser

rotulado como incapaz, deveria ser acompanhado mais de perto, com novas práticas,

onde a escola proporcionasse a ele um ambiente prazeroso e não a primeira porta

para sua exclusão.

A falta de parceria junto aos órgãos governamentais, onde as Universidades

continuam formando professores que mal estão preparados para atuarem com

crianças que não apresentam nenhum distúrbio aparente e consequentemente espera-

se que não apresentarão problemas ao longo de sua vida escolar, e que ao chegarem

na sala de aula deparam-se com uma realidade totalmente diferente do que lhe foi

passado na formação. Turmas numerosas nas escolas públicas, profissionais

tradicionais nas escolas particulares, necessidade de cumprimento de um currículo

que não atende a este aluno com TDAH, e que é prejudicado pela fragilidade e falta de

transparência de um sistema que continua atendendo a poucos em detrimento de

muitos.

Conforme visto nos capítulos 2 e 3 a criança portadora de TDAH, necessita de

intervenções adequadas, acompanhamento médico, psicológico e psicopedagógico

para que o seu quadro venha a apresentar êxito a médio e em longo prazo. Não se

pode esperar de um portador de TDAH, respostas precisas em curto prazo. È um

caminho longo o aluno, o professor, a escola e sua família precisam percorrer juntos,

onde a cada tropeço um certamente apoiará o outro para que as conquistas não se

percam ao longo do trajeto.

A falta de habilidade e conhecimento para lidar com a criança portadora de

TDAH, a falta de parceria e acompanhamento de outros profissionais que possam

auxiliar aos professores a traçarem qual melhor caminho a seguir, investindo nas

capacidades de cada um ao invés da prioridade às deficiências, o respeito ao ritmo

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individual e a valorização de sua “bagagem cultural” que certamente facilitará todo o

trabalho do educador que estará embasado em políticas educacionais que possibilitem

a real inclusão não só dos portadores de TDHA como aqueles que possuem outras

necessidades ainda mais complexas. O aluno é incluído quando ele é aceito, quando

ele faz parte de todo um processo, quando ele acompanha aquilo que a escola tem

para oferece-lo e não quando ele faz parte de um quadro quantitativo que é utilizado

em diversas situações, menos naquela que privilegia o verdadeiro sentido de

educação.

O Sistema Educacional urge por mudanças. O perfil da sociedade atual , onde

o ambiente também favorece o surgimento de novas síndromes e distúrbios, precisam

ser levados em conta de forma real e precisa. A escola não pode ficar a mercê da

desinformação, e do “coquetel de métodos e teorias” que não atendem aqueles que

estão entrando para a vida escolar. Também a generalização do TDAH, onde quando

mal diagnosticado pode encobrir um carência de limites por parte da família, ou o

excesso de medicação por muitas vezes desnecessária ou em dosagens não ideais,

só servem para agravar o fato,onde de uma forma ou de outra esta criança ficará

estigmatizada.

A criança portadora de TDAH necessita de um olhar carinhoso e especial. Ela

precisa ser aceita com suas particularidades em seu grupo, e jamais deverá ficar no

fundo da sala a espera do término do ano letivo, onde o professor irá comunicar a seu

responsável, que infelizmente não foi possível aprová-lo. É um crime não buscar

mudanças que possam ajudar aqueles que precisam. Esta criança não aceita na

escola, certamente buscará mais tarde um outro grupo que certamente a aceitará e

assim a sociedade vai aumentando as suas estatísticas quanto ao número de

delinqüentes, analfabetos e dependentes de drogas.

“Educar, exige reflexão crítica sobre a prática” (Paulo Freire, 1996:42) e

enquanto educadores, não podem fugir a responsabilidade que temos no sentido

buscarmos práticas pedagógicas eficientes para que possamos atender a esta

clientela que cresce a cada dia em nossas escolas. A inclusão de profissionais como

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psicólogos e psicopedagogos em todas as escolas, auxiliariam o professor e o seu

aluno portador de TDAH, realizando as intervenções necessárias junto ao aluno e a

família, construindo juntos caminhos possíveis para se chegar lá.

Confirma-se então a hipótese que a escola precisa ajustar-se às transformações da

sociedade, incluindo crianças em seus diferentes aspectos, habilidades e

competências, onde o educador adequadamente formado e atualizado verá seus

alunos pelas possibilidades e não pelas limitações, realizando um trabalho criativo,

inteligente, contextualizado apesar das dificuldades que possam surgir.

Políticas educacionais voltadas para o real crescimento do aluno,

proporcionarão novas estratégias e parcerias para o ensino. A relação entre a teoria e

a prática auxiliará o professor a realizar seu trabalho, atendendo aos reais interesses

de crianças tão especiais, que estão além do nosso tempo e conhecimento.

Sugiro maior aprofundamento nos estudos relativos a neurobiologia, pois estes

constituem-se de grande valia para o profissional que sente a necessidade de

atualização e a busca de novos caminhos. A Neurobiologia auxiliará este profissional

no entendimento de determinadas causas e conseqüências de inúmeras disfunções

que surgem no cotidiano escolar. Outra sugestão pertinente é o estudo sobre a

Legislação Educacional Brasileira dentro dos diferentes contextos históricos, onde

raramente o aluno constitui-se em prioridade sem que houvesse interesses obscuros

em seus diferentes discursos. Estudos relativos ao perfil daquele que se propõe a ser

um educador, também se constituí de uma boa sugestão que irá pontuar ao longo do

tempo, quem são estes profissionais e por quais motivos escolheram a educação

como profissão, se foi por vocação ou por ser um dos caminhos mais fáceis para se

obter um emprego ou um diploma. Assim talvez seja possível encontrar mais

respostas que sejam consistentes e coerentes com triste quadro da educação

brasileira.

Enquanto mãe de portador de TDAH percebe-se a necessidade deste estudo,

pois se vê bem de perto, o que o estigma, a escola inadequada, o diagnóstico tardio e

a não aceitação no grupo prejudicaram meu filho no passado, o que hoje, graças ao

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elo formado com minha família, amigos, estudos, busca por profissionais competentes

e atualizados na área, a inclusão numa escola pública e de qualidade onde apesar de

toda carência que a própria estrutura a obriga, o compromisso é o que rege a rotina

desta escola, e o encontro com um profissional que escolheu sua profissão por

vocação e amor, está conseguindo reverter este quadro, a passos pequenos, mas com

grandes vitórias, que fez com que esta criança acreditasse em sua capacidade e

principalmente tivesse a certeza de que é muito amada por todos nós.

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WERNER, Jairo. Saúde & Educação- Desenvolvimento e Aprendizagem do Aluno..

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ANEXOS

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INDICE

Folha de Rosto..................................................................................................... 2

Agradecimento..................................................................................................... 3

Dedicatória.......................................................................................................... 4

Resumo................................................................................................................... 5

Sumário.................................................................................................................... 6

Introdução................................................................................................................ 7

Capítulo 1. Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade-O que é?.............. . 12

Capítulo 2. O Educador, sua formação e o contraste em sua realidade escolar.... 19

Capítulo 3. Política e Educação-Dois caminhos que não se cruzam....................... 27

Capítulo 4. A escola e o professor-maiores aliados dos portadores de TDAH........ 33

Conclusão..................................................................................................................40

Referência bibliográfica..............................................................................................45

Anexos........................................................................................................................47

Índice..........................................................................................................................50

Folha de Avaliação.................................................................................................... 51

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: Alunos portadores de TDAH no cotidiano escolar das séries

iniciais

Autor: Neiva Bastos de Alencar

Data da entrega: 25/01/2005

Avaliado por: Conceito: