oxigenoterapia aguda svo2

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 Livro de Atualização em Pneumologia - Volume I V - Capítulo 47  - Página 1 OXIGENOTERAPIA AGUDA  Nilva Regina Gelamo Pelegrino  Médic a Pneu molo gista , plan toni sta da UTI do Pron to Soco rro, Hosp ital das Clínicas, Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP  Irma de Godoy Profa. Assist. Dra. da Disciplina de Pneumologia, Departamento de Clínica  Médic a, Facu ldad e de Medi cina de Botu catu /UNE SP 47 Introdução O oxigênio é rotineiramente utilizado como parte do arsenal terapêutico para o tratamento de várias patologias em pacientes hospitalizados. Em condições associadas com hipoxemia aguda, a oxigenoterapia baseia-se na experiênci a clínica de que esta condição, se não corrigida, freqüentemente progride para hipóxia tecidual que resulta em lesões graves e, muitas vezes, irreversíveis em órgãos vitais. Em indivíduos hemodinamicamente estáveis, a hipóxia tecidual pode ser prevenida quando a hipoxemia é corrigida. A importância da suplementação com oxigênio e os seus efeitos terapêuticos são bem conhecidos (1, 2) . O oxigênio é uma medicação e, portanto, sua utiliza- ção deve ser orientada pelos mesmos princípios em- pregados na prescrição de outros agentes farma- cêuticos. Recomenda-se que a prescrição seja guiada por parâmetros fisiológicos, tais como aqueles especi- ficados pela conferência em oxigenoterapia realizada pelo American College of Chest Physicians/N ational Heart, Lung and Blood Institute (ACCP/NHLBI) e re- afirmados em revisões recentes sobre o assunto (2-4) . O uso apropriado do oxigênio é importante em termos de custo, de conforto para o paciente, dos riscos as- sociados à falha em usá-lo quando necessário e, tam- bém, dos seus efeitos colaterais. O profissional res- ponsável pela prescrição do oxigênio deve conhecer as evidências que suportam o seu uso, saber i dentifi- car os pacientes que necessitam da terapia e, também, prescrever, administrar e monitorizar a terapia de for- ma apropriada. Embora as normas sejam simples e bem conhe- cidas, o oxigênio é, freqüentemente, administrado sem a atenção e o cuidado que são utilizados na prescri- ção de outras drogas. Alguns estudos mostram que, em aproximadamente 30% dos pacientes recebendo oxigênio, nenhum dos critérios estabelecidos para in- dicação do tratamento estava presente (1, 5) . Adminis- tração do oxigênio sem prescrição ou de forma dife - rente da prescrita, fluxo incorreto ou desligado foram observados em outros estudos (6, 7) . Monitorização ina- dequada do tratamento tem sido descrita em 20 a 80% dos pacientes (5, 7, 8) . Em nosso meio, as improprieda- des no uso de oxigenoterapia são similares às descri- tas em outros países. V erifica mos, em estudo realiza- do em hospital universitário que, embora 76% dos pa- cientes clínicos e 7% dos cirúrgicos apresentassem pelo menos uma indicação para o tratamento, apenas 24% dos pacientes clínicos e 3% dos cirúrgicos tinham hipoxemia documentada antes do início do tratamen- to. Além disso, a monitorização da terapia ocorreu em, aproximadamen te, metade dos pacientes e a sus- pensão do tratamento foi baseada em medidas apro- priadas em apenas 10-12% dos casos (9) . Neste capítulo iremos revisar os mecanismos e os métodos diagnósticos de hipoxemia e hipóxia tecidual, as indicações, os métodos e critérios para administração, monitorização e cessação da terapia com oxigênio e os seus efeitos colaterais.

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 Livro de Atualização em Pneumologia - Volume IV - Capítulo 47 - Página 1

OXIGENOTERAPIA AGUDA

  Nilva Regina Gelamo Pelegrino  Médica Pneumologista, plantonista da UTI do Pronto Socorro, Hospitaldas Clínicas, Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP

  Irma de GodoyProfa. Assist. Dra. da Disciplina de Pneumologia, Departamento de Clínica

 Médica, Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP

47 

Introdução

O oxigênio é rotineiramente utilizado como partedo arsenal terapêutico para o tratamento de váriaspatologias em pacientes hospitalizados. Em condiçõesassociadas com hipoxemia aguda, a oxigenoterapiabaseia-se na experiência clínica de que esta condição,se não corrigida, freqüentemente progride para hipóxiatecidual que resulta em lesões graves e, muitas vezes,irreversíveis em órgãos vitais. Em indivíduos

hemodinamicamente estáveis, a hipóxia tecidual podeser prevenida quando a hipoxemia é corrigida.A importância da suplementação com oxigênio e

os seus efeitos terapêuticos são bem conhecidos (1, 2).O oxigênio é uma medicação e, portanto, sua utiliza-ção deve ser orientada pelos mesmos princípios em-pregados na prescrição de outros agentes farma-cêuticos. Recomenda-se que a prescrição seja guiadapor parâmetros fisiológicos, tais como aqueles especi-ficados pela conferência em oxigenoterapia realizadapelo American College of Chest Physicians/NationalHeart, Lung and Blood Institute (ACCP/NHLBI) e re-afirmados em revisões recentes sobre o assunto (2-4).O uso apropriado do oxigênio é importante em termosde custo, de conforto para o paciente, dos riscos as-sociados à falha em usá-lo quando necessário e, tam-bém, dos seus efeitos colaterais. O profissional res-ponsável pela prescrição do oxigênio deve conheceras evidências que suportam o seu uso, saber identifi-car os pacientes que necessitam da terapia e, também,

prescrever, administrar e monitorizar a terapia de for-ma apropriada.

Embora as normas sejam simples e bem conhe-cidas, o oxigênio é, freqüentemente, administrado sema atenção e o cuidado que são utilizados na prescri-ção de outras drogas. Alguns estudos mostram que,em aproximadamente 30% dos pacientes recebendooxigênio, nenhum dos critérios estabelecidos para in-dicação do tratamento estava presente (1, 5). Adminis-tração do oxigênio sem prescrição ou de forma dife-

rente da prescrita, fluxo incorreto ou desligado foramobservados em outros estudos (6, 7). Monitorização ina-dequada do tratamento tem sido descrita em 20 a 80%dos pacientes (5, 7, 8). Em nosso meio, as improprieda-des no uso de oxigenoterapia são similares às descri-tas em outros países. Verificamos, em estudo realiza-do em hospital universitário que, embora 76% dos pa-cientes clínicos e 7% dos cirúrgicos apresentassem pelomenos uma indicação para o tratamento, apenas 24%dos pacientes clínicos e 3% dos cirúrgicos tinhamhipoxemia documentada antes do início do tratamen-to. Além disso, a monitorização da terapia ocorreuem, aproximadamente, metade dos pacientes e a sus-pensão do tratamento foi baseada em medidas apro-priadas em apenas 10-12% dos casos (9).

Neste capítulo iremos revisar os mecanismos eos métodos diagnósticos de hipoxemia e hipóxiatecidual, as indicações, os métodos e critérios paraadministração, monitorização e cessação da terapiacom oxigênio e os seus efeitos colaterais.

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Mecanismos de hipoxemia arterial

• Hipoventilação alveolar (depressão do sistemanervoso central, doenças neuro-musculares)

• Desequilíbrio entre a ventilação e a perfusãopulmonar (asma, DPOC, insuficiência cardíaca

congestiva)

• Alteração da difusão pulmonar (enfisema,doenças intersticiais)

• Shunt artério-venoso (defeitos intracardíacos,preenchimento álveolar)

Alteração do transporte de oxigênio

• Perfusão inadequada dos tecidos (hipotensãoarterial, parada cardio-respiratória)

• Diminuição da concentração de hemoglobina(hemorragia, anemia)

• Alterações na curva de dissociação dahemoglobina (hemoglobinopatias, carboxi-hemoglobina)

• Alterações das enzimas intra-celulares

(intoxicação por cianeto, septicemia)

Quadro 1. Mecanismos fisiopatológicos de hipóxia tecidual

HistóricoPor volta do século XVIII, Karl Wilhelm Scheele

e Joseph Priestley isolaram da composição do ar ogás responsável pela propriedade de combustão, aoqual Antoine-Laurent Lavoisier deu o nome de oxigê-

nio (10) . Somente durante a primeira guerra mundial, ooxigênio passou a ter indicação médica, baseado napremissa que a privação deste traria sérias conseqü-ências aos pacientes. Meakins, em 1921, e AlvanBarach, em 1922, descreveram o uso daoxigenoterapia em casos de pneumonia lobar. Maistarde, em 1950, Comroe e Dripps fizeram uma análisecompleta sobre as bases fisiológicas da terapia comoxigênio (11).

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DEHIPÓXIA TECIDUAL

A oxigenoterapia deve ser prescrita sempre quea oferta de oxigênio aos tecidos está, ou pode tornar-se, inadequada. A oxigenação tecidual depende daintegridade da troca gasosa pulmonar e de fatores ex-tra-pulmonares como o débito cardíaco, a concentra-ção de hemoglobina no sangue e sua capacidade emtransportar e liberar o oxigênio. Como a reserva deoxigênio nos tecidos é relativamente pequena, a hipóxiatecidual ocorre dentro de quatro minutos após falha

em qualquer uma das fases do transporte de oxigênio.

Os mecanismos fisiopatológicos da hipóxiatecidual podem ser divididos em dois grandes grupos:aqueles que causam hipoxemia arterial e aqueles quecausam falência do transporte de oxigênio pelahemoglobina sem a existência de hipoxemia arterial(Quadro 1) (3, 12, 13).

Embora o transporte e liberação de oxigênio se- jam importantes, a hipoxemia geralmente implica emalteração da função pulmonar (13). A seguir, são discu-tidos os seis mecanismos que contribuem para o de-senvolvimento de hipoxemia e/ou hipercapnia(13, 14).

1. Diminuição da pressão parcial de oxigê-nio no ar inspirado: ocorre durante a inalação defumaças tóxicas, em incêndios, situação em que háconsumo de oxigênio durante a combustão, e emgrandes altitudes. Quando é o único mecanismo

envolvido no desenvolvimento da insuficiência res-piratória, resulta em hipoxemia sem evidências dehipercapnia.

2. Hipoventilação: ocorre quando o conteúdode ar alveolar não é renovado proporcionalmente àprodução de CO

2pelos tecidos; em conseqüência, o

dióxido de carbono acumula-se e a pressão parcial degás carbônico no sangue arterial (PaCO

2) aumenta. A

relação entre a ventilação alveolar (VA), a produção

de CO2 (VCO2) e a PCO2 alveolar (PACO2) pode

• Diminuição da pressão parcial de oxigênio no sangue venoso ou no ar inspirado

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ser observada na equação abaixo:

PACO2 ≈ VCO2 / VA

Nesta fórmula, assume-se que a PaCO2é igual

à PACO2, o que é verdadeiro para a média dos al-

véolos. Verificamos que a PaCO2

é inversamenteproporcional à ventilação alveolar e, portanto, quan-do a ventilação diminui a PaCO2 aumenta e a PaO2

diminui. Em indivíduos respirando ar ambiente, aelevação de CO

2está sempre associada à hipoxemia

devido aos efeitos da hipercapnia na pressão parci-al de oxigênio no ar alveolar. Este fato pode serobservado analisando-se a equação do gás alveolarque estabelece o seguinte:

PAO2= [FIO2 x (PB- PH2O)] - PaCO2 /QR

Quando consideramos a pressão barométrica(PB) de 760 mmHg, a pressão de vapor de água(PH

2O) a 37 ºC como 47 mmHg e o quociente res-

piratório (QR) como 0,8, a resolução da equaçãoseria:

PAO2= 147- PaCO

2 /0,8

Subtraíndo-se a PaO2

da PAO2

obtém-se a di-

ferença alvéolo-arterial de oxigênio [P(A-a) O2]; va-lores resultantes acima de 20 mmHg são considera-dos anormais. A hipoventilação é caracterizada porvalores normais de P(A-a) O

2,hipoxemia e

hipercapnia. Levando em consideração a equação dosgases alveolares, observa-se que o aumento da PaCO

2

e a diminuição da PaO2devem apresentar magnitudes

similares.A hipoventilação ocorre nos pacientes com

depressão do sistema nervoso central e anormali-

dades neuro-musculares ou músculo-esqueléticasque resultam em movimentação inadequada da cai-xa torácica. Na maioria dos casos, a hipoventilaçãoestá associada a outros mecanismos de hipoxemia.Embora a suplementação com oxigênio possa com-pensar o fluxo reduzido de ar inspirado e corrigir ahipoxemia, apenas a reversão da hipoventilaçãocorrige a hipercapnia e previne suas graves conse-qüências. Assim, a prioridade deve ser a correçãodo distúrbio que precipitou a hipoventilação, se ne-

cessário, com suporte ventilatório.

3. Alteração da difusão: é definida como a in-capacidade do sangue capilar pulmonar equilibrar-secom o ar alveolar. A difusão de gás através da mem-brana alvéolo-capilar é diretamente proporcional à áreade troca, ao peso molecular e à solubilidade do gás,ao gradiente da pressão parcial do gás entre o alvéoloe o sangue e inversamente proporcional à espessurada membrana. Desta maneira, alterações em qualquerdestes componentes e diminuição do tempo de con-tato entre a hemácia e o ar alveolar podem resultar emprejuízo da difusão. Normalmente, há grande reservade difusão pulmonar porque o sangue capilar equili-bra-se com o ar alveolar em 1/3 do tempo de sua pas-sagem pelos alvéolos. Assim, esta alteração raramen-te é causa de hipoxemia significante em repouso. En-

tretanto, condições que causam aumento da velocida-de de passagem do sangue pelos capilares, como exer-cício ou septicemia, podem desencadear ou acentuara hipoxemia em pacientes com grandes alterações dadifusão. As graves alterações de difusão resultam emhipoxemia e aumento da P(A-a) O2 , que são corrigi-dos pela administração de baixas FIO

2. A diminuição

da difusão pode ser um dos mecanismos envolvidosno desenvolvimento de hipoxemia nas doençasintersticiais pulmonares e no enfisema pulmonar.

4. Desequilíbrio entre a ventilação e aperfusão: é o mecanismo mais freqüente dehipoxemia clinicamente importante. A PaO

2normal

é determinada pela relação adequada entre a venti-lação e o fluxo sanguíneo (relação V/Q) em cadaunidade de troca pulmonar. Em indivíduos normais,em posição ortostática, a ventilação e a perfusãopulmonar são menores no ápice e aumentam emdireção à base pulmonar. Este gradiente é maior para

a perfusão que para a ventilação, assim a relaçãoventilação/perfusão (V/Q) não é uniforme em todoo pulmão e decresce do ápice para base. Embora osápices sejam mais ventilados que perfundidos, e asbases mais perfundidas que ventiladas, na maiorparte do pulmão há equilíbrio entre a ventilação e aperfusão (valores próximos de 1). Várias doençaspodem acentuar as anormalidades da relação V/Q eas áreas com valores baixos desta relação contribu-em para o aparecimento de hipoxemia e hipercapnia.

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Entretanto, a hiperventilação, em resposta ao estímulo

dos quimiorreceptores periféricos, mantém os níveisde PaCO2 normais ou baixos, enquanto corrige ahipoxemia apenas parcialmente. A maior eficiência dahiperventilação em corrigir a hipercapnia que ahipoxemia deve-se ao fato que o gás carbônico é, apro-ximadamente, 24 vezes mais solúvel que o oxigênio e,assim, é transportado mais rapidamente através damembrana alvéolocapilar (15).

Alguns reflexos, como a vasoconstrição lo-calizada secundária à hipóxia alveolar, podemminimizar os efeitos do desequilíbrio V/Q e corri-gir parcialmente o distúrbio. Doenças de vias aére-as, como a asma e a doença pulmonar obstrutivacrônica (DPOC), levam à ocorrência de regiões comrelação V/Q baixa devida à diminuição da ventila-ção. A hipoxemia secundária aos distúrbios V/Q

leves pode ser corrigida por pequenos aumentos daFIO

2. Quando o desequilíbrio se acentua, a respos-

ta à admistração de oxigênio piora; entretanto, odistúrbio é corrigido quando se utiliza oxigênio a100%. Assim, a P(A-a)O

2está aumentada em ar

ambiente e normal com FIO2 de 1,0.

5. Shunt artério-venoso: ocorre quando par-te do sangue venoso atravessa o pulmão e não en-tra em contato com o ar alveolar. Em indivíduos

normais, observa-se shunt de 2 a 3% devido à dre-nagem da circulação venosa brônquica e deThebesius em território arterial, o que resulta empequena queda da PaO

2. O aumento do shunt pode

ocorrer por problemas intra-cardíacos, como de-feitos nos septos interventricular ou inter-atrial, pelapersistência do canal arterial ou devido a conecçõesarterio-venosas dentro dos pulmões. Entretanto, ascausas mais freqüentes são aquelas em que há pre-enchimento alveolar por líquidos ou células, como

ocorre na pneumonia e na síndrome do desconfor-to respiratório agudo.Os valores de PaO

2estão baixos e da P(A-a)O

2

elevados, respondem pouco à oxigenoterapia e nãosão corrigidos pela administração de oxigênio a 100%porque os alvéolos estão preenchidos por líquido ecolapsados e o oxigênio administrado não tem acessoà membrana alvéolo-capilar nestas unidades. Assim,o tratamento da hipoxemia requer reversão da patolo-gia de base, incluindo medidas de recrutamento de

unidades alveolares. Devido ao estímulo dosquimioreceptores periféricos, a hipercapnia ocorreapenas quando os valores de shunt são maiores que50%.

6. Diminuição da pressão parcial de oxigê-nio no sangue venoso: a capacidade de oxigenaçãodo pulmão normal é suficiente para compensar aqueda da saturação venosa de oxigênio (SvO2) queocorre em situações associadas com débito cardía-co baixo, anemia e alto consumo de oxigênio. En-tretanto, quando há alguma doença pulmonar debase, a queda da SvO

2pode ter influência significa-

tiva na composição do sangue arterial.

Diagnóstico da oxigenação tecidualinadequada

O diagnóstico da hipóxia tecidual requer alto graude suspeição porque os sinais clínicos sãoinespecíficos. Os principais eventos clínicos queocorrem na hipoxemia aguda são decorrentes docomprometimento da função cerebral, como perdade memória recente, euforia e alterações de com-portamento. A resposta cardíaca inicial é a taqui-cardia e o aumento do débito cardíaco; porém, como aumento da gravidade do distúrbio podem ocor-

rer arritmias. Quando a PaO2 diminui para valoresde, aproximadamente, 40 mmHg, ocorrehiperventilação e, em valores abaixo de 30 mmHg, háo aparecimento do coma e da hipotensão arterial (3, 12).A cianose é um sinal tardio de hipoxemia e pode nun-ca aparecer em pacientes anêmicos, desde que acianose, por definição, ocorre quando há mais que1,5g de hemoglobina dessaturada/100 ml de san-gue capilar (3, 16). Assim, a indicação clínica deoxigenoterapia geralmente é retardada até que a me-

dida objetiva dos gases sanguíneos seja realizada.A PaO2

e a saturação periférica de oxigênio(SpO

2) permanecem como principais indicadores

laboratoriais para o início, monitorização e ajusteda oxigenoterapia. Entretanto, a PaO

2e a SpO

2

podem estar normais quando a hipóxia tecidual écausada por alteração do transporte de oxigênio.Nestes casos, a pressão parcial de oxigênio no san-gue venoso central (PvO

2) é indicador mais ade-

quado da hipoxemia tecidual. Em pacientes com

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hipoxemia crônica, ocorrem mecanismos compen-satórios como a poliglobulia e o desvio da curva dedissociação da hemoglobina para a esquerda. Nes-tes pacientes, os valores de PvO

2e PaO

2não são

bons índices para avaliar quedas adicionais daoxigenação tecidual e devem ser interpretados emassociação com os dados clínicos e os resultadosda avaliação do estado ácido-básico.

A correção da hipoxemia aguda é muito im-portante e a demora em instituir a terapia com oxi-gênio ou o uso de FIO

2menor que a necessária,

para a correção da alteração, podem levar a morteou incapacidade permanente. Estas conseqüênciasda hipoxemia são muito graves quando compara-das aos riscos associados com a administração deconcentrações elevadas de oxigênio. Portanto, nascondições em que a possibilidade de hipóxia grave

é grande (parada cardíaca ou respiratória,hipotensão arterial ou desconforto respiratório), ooxigênio deve ser administrado empiricamente.Medida dos gases sanguíneos deve ser realizada, omais breve possível, para avaliar a gravidade dahipoxemia, os valores da PaCO2 e o estado ácido-básico. A SpO

2pode ser determinada para estimar

a resposta à suplementação agudamente. De acor-do com as recomendações do ACCP/NHLBI, oscritérios para iniciar oxigenoterapia estão apresen-

tados no Quadro 2 (2).

Administração de oxigênio

Muitas condições exigem suplementação de oxi-gênio e há grande variedade de sistemas de forneci-mento do gás. O ideal é que o sistema utilizado seja omais adequado para o paciente segundo sua patolo-gia, levando-se em conta, além do conforto, o menor

Quadro 2 - Indicações de oxigenoterapia aguda

• Ressuscitação Cárdio-Repiratória• Hipoxemia (PaO2 < 60 mmHg e SaO2 < 90%)• Hipotensão arterial( PAS < 100 mmHg )• Acidose metabólica ( bicarbonato sérico < 18 mmol/l )• Taquipnéia (frequência respiratória > 24 irpm )

desperdício do gás devido ao custo da terapia. Ossistemas podem ser classificados como fixo e variável.Os sistemas fixos fornecem FIO2 constante indepen-dentemente das características de ventilação dos pa-cientes. Este tipo de sistema pode, também, ser clas-sificado como de alto fluxo porque, quando o sistemalibera pelo menos quatro vezes a ventilação minuto dopaciente, a FIO

2é mantida constante. Nos sistemas

variáveis ou de baixo fluxo, a FIO2 flutua porque ofluxo ofertado é menor que a ventilação minuto do pa-ciente e o ar ambiente é inalado em diferentes propor-ções para preencher as demandas ventilatórias (17).

1.Sistemas de fluxo baixo ou variável

Incluem a cânula nasal bilateral, o cateter naso-faríngeo (Fig.1) e a máscara simples (Fig.2). Outro

sistema é o cateter nasal unilateral com ou semcolar de espuma. O fluxo contínuo liberado por es-tes sistemas preenchem o reservatório anatômicodas vias aéreas superiores (isto é, naso e orofaringe).Esses reservatórios são inalados para dentro dospulmões em cada inspiração, mesmo quando a bocaé mantida aberta. Assim, a cânula e o cateter sãoigualmente efetivos durante a respiração bucal ounasal (4, 17). O fração inspirada de oxigênio (FIO

2) é

alta no início da fase inspiratória, e decresce à me-

dida que o ar ambiente é acrescido ao O2 inalado.1a. Cateter e cânula nasalDescrita por Addis (18), a cânula nasal tornou-se

o sistema de administração de oxigênio mais popular,porque propicia terapia contínua e confortável. Asvantagens de sua utilização incluem a facilidade de ins-talação e adaptação e a pequena interferência com afala e a alimentação (18). Assim, a administração deoxigênio por meio de cateter é técnica antiga, simples

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e popular e adequada para o uso a longo prazo. Amaior desvantagem é a incerteza sobre a FIO

2que

está sendo liberada, porque a FIO2 aumenta com oaumento do fluxo e varia de forma inversa com o picode fluxo inspiratório (PFI) (19). A estimativa da FIO2

pode ser realizada utilizando-se a seguinte fórmula:FIO2 estimada = 21% + 4 x fluxo de oxigênio ( l/ min.)

O uso do catéter nasal não está indicado quan-do há bloqueio nasal (cirurgias otorrino-laringológicas). Embora exista relato que o cateterorofaríngeo é mais efetivo que o nasal na liberação

de oxigênio em crianças, eles são desconfortáveis eforam substituídos pelo cateter nasal unilateral comcolar de espuma (20). Podem ser utilizados fluxos deaté 6 l/min., a partir do qual ocorre aumento dorisco de irritação da mucosa e desconforto, semoferecer benefícios (2, 3).

1b. Máscara simplesAs máscaras faciais são rotineiramente utiliza-

das para a administração de oxigênio desde a intro-dução das máscaras simples em 1950 (21). As más-caras simples têm uma entrada de oxigênio na basee orifícios laterais para a expiração. Elas têm ajustefrouxo e são relativamente confortáveis. Entretan-to, estudos que compararam o uso de máscara sim-ples com o de cateter nasal mostraram que a más-cara permanece menor tempo na posição correta eé, frequentemente, retirada pela enfermagem, pararealização de cuidados, ou pelos pacientes (22-24).Além disso, o cateter é mais barato, foi considera-do mais confortável e aceitável pela maioria dos

pacientes e resultou em SaO2

similares às obtidascom as máscaras (23-25).

O uso de máscaras com baixos fluxos de oxigê-nio está associado com o risco de reinalação;entretranto, não há concordância quanto à intensi-dade da reinalação e ao fluxo de oxigênio necessá-rio para prevení-la. Na máscara de Hudson, aplica-da com folga sobre a boca e o nariz, verificou-segrande aumento do volume minuto em fluxos deoxigênio menores que 5 l/min, principalmente devi-do ao aumento do volume corrente. O aumento dovolume corrente e minuto não pôde ser detectado

clinicamente e nem causou alteração na oximetriade pulso (21). Portanto, o diagnóstico de quereinalação está ocorrendo é difícil. Os indivíduosnormais são capazes de aumentar a ventilaçãoalveolar e manter a PaCO

2constante; em pacientes

com limitação da ventilação, a PaCO2 pode aumen-tar. Para evitar a reinalação recomenda-se o uso defluxos de 5 L/min ou mais (2, 21); assim, as máscarasnão são recomendadas quando o objetivo é a libe-ração de FIO

2menor que 30 a 35%.

Existem, ainda, as máscaras simples que contêmreservatório de oxigênio acoplado à sua base, chama-das de máscaras com reinalação parcial ou semreinalação. A diferença entre elas é a presença de umsistema de válvulas que pode, ou não, permitir o re-torno de parte do ar expirado para dentro do reserva-tório (4). A FIO

2oferecida com fluxos maiores que 10

L/min é de aproximadamente 60% nas máscaras comreinalação parcial e 80 a 95% nas máscaras semreinalação. Estas máscaras poderiam ser utilizadas,

FIGURA 1. Cânula nasal bilateral e catéter naso-farígeo FIGURA 2. Máscara simples

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como alternativa, em pacientes com insuficiência res-piratória aguda quando não é possível o uso da venti-lação com pressão positiva não invasiva (4).

2. Sistemas de fluxo alto ou fixo

As máscaras de oxigênio que usam o princípiode Bernoulli liberam misturas constante e precisas dear e oxigênio em altos fluxos. Foram denominadas desistemas fixos porque liberam FIO2 constante durantetodo o ciclo respiratório, as mais conhecidas são asmáscaras de Venturi (Fig. 3). Nas máscaras que usamo princípio de Bernoulli, os determinantes da adequa-ção da liberação de oxigênio são o pico fluxoinspiratório (PFI) do paciente e o fluxo total liberadopela máscara; o volume da máscara parece ser poucoimportante (26).

A máscara de Venturi apresenta excelenteperformance visto que, com pequeno tamanho, ofe-rece FIO

2constante. Apresenta vários adaptadores

de cores diferentes, que liberam FIO2fixa, para de-

terminado fluxo estabelecido, variando entre 24%a 50%. Estes adaptadores possuem orifícios de ta-manhos restritos, através dos quais o fluxo de oxi-gênio passa em alta velocidade e o ar ambiente éaspirado na mesma proporção da velocidade com aqual o O

2se move através do orifício. Deve ser uti-

lizada dentro do ambiente hospitalar devido ao altofluxo inalado e aos possíveis efeitos tóxicos da altaconcentração do oxigênio. Nos casos em que é ne-cessário controle adequado da FIO

2ofertada, como

nos pacientes portadores de doença pulmonarobstrutiva crônica que apresentam risco de retençãode CO

2, é o sistema mais apropriado para a oferta.

O uso de máscaras que exigem adaptação justa naface pode provocar sensação de claustrofobia, úlce-ras de pressão na face e orelhas, irritação ocular e

risco de aspiração. Além disso, pode haver desperdí-cio de oxigênio quando a máscara não se acopla per-feitamente à face e grande quantidade de oxigênio es-capa para o ar ambiente. Na Figura 4 está apresenta-do o esquema do funcionamento das máscaras de altoe baixo fluxo.

UMIDIFICAÇÃO

As padronizações clássicas recomendam

umidificação dos gases medicinais antes do conta-to com o paciente. A razão para essa indicação estábaseada no conceito de que o ar “seco” causa desi-dratação da mucosa das vias aéreas com diminui-ção da atividade ciliar e alteração da qualidade do muco.De acordo com o consenso da ACCP/NHLBI, não

FIGURA 3 . Máscara de Venturi com os adaptadores queliberam FIO

2diferentes. Azul: 24%; amarelo: 28%;

branco:31%; verde:35%; rosa:40% e laranja: 50%

FIGURA 4. Esquema de funcionamento das máscaras de alto ebaixo fluxo. As máscaras de alto fluxo liberam toda a ventilaçãorequerida pelo paciente usando a válvula de venturi. O tamanho doorifício dos adaptadores permite a mistura correta, de ar e oxigênio,para o fornecimento de FIO

2fixa. As máscaras de fluxo baixo não

oferecem toda a ventilação que o paciente necessita. Portanto, o aré aspirado do ambiente para dentro da máscara que tem ajustefrouxo no rosto.

Adaptado de Bateman(3).

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há evidências de que a umidificação de rotina é neces-sária durante a administração de fluxos de até 4 l/min(2). Outro estudo mostra que os sintomas nasais relata-dos pelos pacientes recebendo oxigenoterapia não sãoaliviados pela umidificação do oxigênio (27). Portanto,embora a umidificação ainda seja prática consagradapelo uso na maioria dos hopitais não existe fundamen-tação científica para sua aplicação quando o fluxo uti-lizado é inferior a 5l/min (2-4, 27).

MONITORIZAÇÃO DAOXIGENOTERAPIA

Levando em consideração que os métodos não-invasivos de administração de oxigênio, geralmen-te, liberam FIO2 variável e que o objetivo daoxigenoterapia é restaurar os níveis de PaO2 e da

saturação de oxigênio do sangue arterial (SaO2), amedida destas variáveis é necessária para avaliar aeficácia da terapia (3, 4, 28). Alguns autores recomen-dam que a monitorização da oxigenoterapia sejarealizada por meio da realização de gasometria ar-terial ou oximetria, entre meia e duas horas apósinício da suplementação e, a seguir, diariamente,mantendo PaO

2> 60mmHg e SaO

2>90%. Pacien-

tes em risco de desenvolver arritmias e insuficiên-cia respiratória devem ser monitorizados continua-

mente por meio da oximetria de pulso; nos pacien-tes com risco de hipercapnia, são necessárias medi-das mais frequentes da PaO2 e PaCO2 

(3, 5, 8).

MÉTODOS DE DETECÇÃO DAHIPOXEMIA E DE MONITORIZAÇÃO DAOXIGENOTERAPIA

1. Gasometria Arterial

É um método invasivo; contudo, permite análisecompleta dos gases sanguíneos arteriais, incluindo oestado ácido-básico, sendo de maior importância paraos pacientes retentores de CO

2. Apresenta baixa por-

centagem de complicações pequenas e temporárias,como hematoma, dor e parestesia. Não se devepuncionar sítios que apresentem edema, trauma oudoença veno-oclusiva. Nos pacientes anticoagulados,a punção arterial deve evitada, devido ao maior riscode complicações, principalmente sangramento.

2. Oximetria

Método simples, não-invasivo e de excelenteacurácia. Pode ser utilizado na monitorização contí-nua, inclusive durante o sono. Este método usa diiodosemissores de luz com 2 comprimentos de onda: 660mm (vermelho) e 940 mm (infra-vermelho). Estes com-primentos de onda são utilizados porque são os pon-tos de maior separação entre a hemoglobina e aoxihemoglobina. Quando a luz atravessa os dedos ouo lóbulo da orelha, alguma energia é absorvida pelosangue arterial e venoso, pelo tecido e pela pulsaçãodo sangue arterial. As duas luzes são pulsadas, rapi-damente, em seqüência, e a quantidade de luz trans-mitida por cada onda de pulso é utilizada para calculara SpO2 média. O sistema foi delineado para medir adiferença da saturação de oxigênio na onda de pulso;

então, onda de pulso de amplitude normal é necessá-ria para o sistema funcionar adequadamente. O erroestimado quando comparado com a SaO

2da

gasometria arterial é de 2 a 3% . Pode-se estimar asaturação de oxigênio com boa segurança, porém suaacurácia diminui quando a SaO2 cai abaixo de 80%.A leitura da SpO

2é feita através da pele e pode estar

alterada em estados clínicos comometahemoglobinemia, esclerodermia, baixa perfusãotecidual e pigmentação excessiva da pele (29).

3. Mensuração com eletrodo transcutâneo

Utilizado com frequência em UTI neonatal, pelafacilidade de leitura dos gases através da fina pele dosrecém-nascidos. Em adultos, sua utilização é mais res-trita. Pode estimar a PaO

2e a PaCO

2; entretanto, os

resultados podem sofrer a influência das mudanças dodébito cardíaco, do hematócrito e de variações noequilíbrio ácido-basico. Requer mudança freqüente de

local para evitar lesões de pele(30)

.4.Cateter intra-arterial

Neste método o sangue é aspirado do cateter dapressão arterial média e passa através de sensoresextravasculares; após a medida da PaO2 o sangue éretornado ao paciente. Redução do erro relaciona-do à coleta, menor perda de sangue e risco de in-fecção, para o paciente e para o operador, e a pos-

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sibilidade de análise freqüentes são vantagens destemétodo. Entretanto, permite apenas a análise daPaO2. O uso está restrito à investigação científica,por ser um método caro e invasivo (4).

Além da monitorização dos gases arteriais, aeficiência da oxigenoterapia depende da corretaadministração do fluxo prescrito (7). Desta forma,os fluxômetros devem ser verificados periodica-mente, visto que a discrepância entre a quantidadede oxigênio prescrita e recebida pelo paciente podeacarretar sérios danos aos mesmos (6).

CRITÉRIOS PARA INTERROMPER AOXIGENOTERAPIA

Após a resolução da doença de base a sus-pensão da oxigenoterapia deve ser avaliada. Em

nosso meio, verificamos que em mais de 90% doscasos a prescrição não é monitorizada e modificadaapropriadamente e, em geral, o paciente deixa deusar o oxigênio apenas no dia da alta (9). Os critéri-os aceitáveis para interromper a oxigenoterapia sãoos seguintes:

 1. PaO2

> 60 mmHg e SaO2

> 90%(respirando ar ambiente)

ou

2. PaO2 > 80 mmHg e SaO2 > 95%(respirando FIO2 menor que 30% )

Efeitos colaterais e toxicidade induzidapor oxigênio.

Os efeitos colaterais associados com aoxigenoterapia podem estar relacionados com o sis-tema utilizado para a administração ou com a FIO2

empregada. Aqueles relacionados aos sistemas jáforam comentados anteriormente durante a descri-ção dos mesmos.

Nos pacientes com DPOC, durante os perío-dos de exacerbação, a terapia com oxigênio pode re-sultar no aumento agudo da PaCO2, agravando o qua-dro de insuficiência respiratória. Os mecanismos en-volvidos no desenvolvimento de hipercapnia apósa oxigenoterapia não estão completamente esclare-cidos. Redução do estímulo respiratório secundá-

rio à remoção do estímulo hipóxico e aumento doespaço morto devido à liberação da vasoconstriçãohipóxica são considerados os mecanismos mais im-portantes (31). Aubier et al. (32) mostraram que amudança da ventilação-minuto (VE) após o inícioda suplementação com O

2foi mínima e identifica-

ram o aumento da relação espaço morto/volumecorrente (VD/VT), devido a alteração da relaçãoV/Q, como o mecanismo mais importante. Outrosestudos, também, sugerem que o aumento do espa-ço morto devido ao efeito Haldane e à liberação davasoconstrição hipóxica pode ser o principal meca-nismo responsável pela hipercapnia secundária àoxigenoterapia (33, 34). Entretanto, dados recentessugerem que a diminuição da ventilação contribuipara a hipercapnia induzida por oxigênio pelo me-nos em alguns pacientes (31). A retenção de CO2

ocorre, geralmente, quando a fração inspirada deoxigênio administrada excede 40%. Desta forma, autilização da menor FIO

2possível com o objetivo

de manter SaO2>90%, é a abordagem mais apro-

priada para evitar a hipercapnia relacionada àoxigenoterapia.(35)

A administração de altas concentrações deoxigênio pode levar ao desenvolvimento deatelectasias e à toxicidade pulmonar por oxigênio.Em situações de hiperóxia, ocorre produção exces-

siva de radicais livres em relação às defesas anti-oxidantes das células, principalmente, namitocôndria e no retículo endoplasmático. A pre-sença de grande quantidade destes metabólitos pro-move danos estruturais e funcionais, comoinativação enzimática, oxidação dos ácidosnucléicos, alteração da integridade da membranacelular e finalmente, morte celular.

Em humanos, os valores de FIO2 que podemser considerados seguros e o tempo de exposição

que ocasiona a toxicidade pulmonar não estão esta-belecidos; entretanto, quando a FIO2

excede 60%devem ser tomadas medidas para melhorar a efici-ência das trocas gasosas (4).

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