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 81 Rev Bras Reumatol, v. 45, n. 2, p. 81-3, mar./abr., 2005 Diagnóstico por Imagem do Punho na Síndrome do Túnel do Carpo Diagnóstico por Imagem do Punho na Síndrome do Túnel do Carpo (*) Image Diagnosis of Carpal Tunnel Syndrome Elizabete Turrini (1) , André Rosenfeld (1) , Yara Juliano (1) , Artur da Rocha Corrêa Fernandes (1) , Jamil Natour (2)  V INHETA  IMAGENOLÓGICA IMAGENOLOGIC V IGNETTE Responsáveis: Artur da Rocha Corrêa Fernandes e Jamil Natour * Trabalho realizado no Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São P aulo (DDI/Unifesp/EPM), São P aulo, SP , Brasil. 1. DDI/U nif esp/ EPM. 2. Disciplina de R eumatologia da Un ifesp/EPM. Endereço para correspondência: Jamil Natour. Disciplina de Reumatologia da Unifesp/EPM. Rua Botucatu, 740, CEP 04023-900, São Paulo, SP, Brasil. INTRODUÇÃO A síndrome do túnel do carpo ( STC) resulta da compressão do nervo mediano no túnel do carpo, sendo a neuropatia mais comum da extremidade superior. O túnel do carpo é um espaço restrito, elíptico, confinado ventralmente pelo retináculo dos flexores, inelástico e resistente e, dorsalmente, pela superfíci e anterior dos ossos do carpo. As maiores estruturas que pa ssam pelo túnel são: quatro tendões flexores superficiais dos dedos e quatro tendões flexores profundos, tendão do flexor longo do polegar, e o nervo mediano. A incidência de STC na população geral é menor do que 1%, podendo ser encontrados, entretanto, valores ac ima de 15% em trabalhadores de risco, sendo a tendinite o achado mais comum. A compressão da STC é causada pela discrepância entre a capacidade rígida do canal e o volume de seu conteúdo. Dado que o volume do conteúdo e a capacidade do canal variam com a posição do punho em relação ao eixo do antebraço, os períodos de compressão podem ser incons- tantes, e os sintomas resultantes tendem a flutua r (Tabela 1). A STC ocupacional é causa de absenteísmo no trabalho e de disputas legais. Como a incidênci a de STC continua a aumentar, a avaliação acurada desses pacientes torna-se de fundamental importância. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é clínico e determinado pela história e exame físico. Setenta por cento dos pacientes têm entre 40 e 70 anos de idade, e as mulheres são afetadas de três a cinco vezes mais do que os homens. Os sintomas da STC são fraqueza, hiperestesia ou parestesia no território do nervo mediano. O exame físico do paciente com suspeita de STC inclui dois sinais: Tinel e Phalen. O sinal de Tinel é pesquisado com a percussão do punho, sendo positivo com dor ou formigamento no polegar e no indicador ou entre os dedos médios. O sinal de Phalen é pesquisado com a flexão a 90° do punho; se os sintomas forem reproduzidos em 60 segundos, é considerado positivo. TABELA 1 ETIOLOGIA DA SÍNDROME  DO TÚNEL DO CARPO a. Redução da capacidade do canal (túnel) - Espessament o do r etin áculo do flexor (esta condição é dif ícil de ser estabelecida, mas redução ocorre em processos inflama- tórios, como a artrite reumatóide e o mixedema) -Redução do canal seguido por desalinhamento ou calo ósseo associado com fraturas envolvendo o rádio e ossos do carpo - Compress ão do conteúdo do canal com movimentos extremos do punho em flexão - Acr omeg ali a (alte rações ósseas) b. Volume excessivo do conteúdo - Condições inflamatórias e degenerativas: tenossinovites não específicas, tenossinovite reumatóide, gota, gânglio sinovial, amiloidose e outros - Pós-traumático: osteófitos, formação de cicatriz associada com lesão de tendões e outros - Lesões neopl ásicas: tumores benignos, tumores malignos - Outros: mixed ema (a in filtra ção de tecido fibroso pode afetar o volume dos tendões), ventre muscular d entro do canal etc.

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  • 81Rev Bras Reumatol, v. 45, n. 2, p. 81-3, mar./abr., 2005

    Diagnstico por Imagem do Punho na Sndrome do Tnel do Carpo

    Diagnstico por Imagem do Punho na Sndromedo Tnel do Carpo(*)

    Image Diagnosis of Carpal Tunnel Syndrome

    Elizabete Turrini(1), Andr Rosenfeld(1), Yara Juliano(1), Artur da Rocha Corra Fernandes(1), Jamil Natour(2)

    VINHETA IMAGENOLGICAIMAGENOLOGIC VIGNETTEResponsveis: Artur da Rocha Corra Fernandes e Jamil Natour

    * Trabalho realizado no Departamento de Diagnstico por Imagem da Universidade Federal de So Paulo (DDI/Unifesp/EPM), So Paulo, SP, Brasil.1. DDI/Unifesp/EPM.2. Disciplina de Reumatologia da Unifesp/EPM.

    Endereo para correspondncia: Jamil Natour. Disciplina de Reumatologia da Unifesp/EPM. Rua Botucatu, 740, CEP 04023-900, So Paulo, SP, Brasil.

    INTRODUO

    A sndrome do tnel do carpo (STC) resulta da compressodo nervo mediano no tnel do carpo, sendo a neuropatiamais comum da extremidade superior.

    O tnel do carpo um espao restrito, elptico, confinadoventralmente pelo retinculo dos flexores, inelstico eresistente e, dorsalmente, pela superfcie anterior dos ossosdo carpo. As maiores estruturas que passam pelo tnel so:quatro tendes flexores superficiais dos dedos e quatrotendes flexores profundos, tendo do flexor longo dopolegar, e o nervo mediano.

    A incidncia de STC na populao geral menor doque 1%, podendo ser encontrados, entretanto, valores acimade 15% em trabalhadores de risco, sendo a tendinite oachado mais comum.

    A compresso da STC causada pela discrepncia entre acapacidade rgida do canal e o volume de seu contedo.Dado que o volume do contedo e a capacidade do canalvariam com a posio do punho em relao ao eixo doantebrao, os perodos de compresso podem ser incons-tantes, e os sintomas resultantes tendem a flutuar (Tabela 1).

    A STC ocupacional causa de absentesmo no trabalhoe de disputas legais. Como a incidncia de STC continua aaumentar, a avaliao acurada desses pacientes torna-se defundamental importncia.

    DIAGNSTICO

    O diagnstico clnico e determinado pela histria e examefsico. Setenta por cento dos pacientes tm entre 40 e 70anos de idade, e as mulheres so afetadas de trs a cinco

    vezes mais do que os homens. Os sintomas da STC sofraqueza, hiperestesia ou parestesia no territrio do nervomediano.

    O exame fsico do paciente com suspeita de STC incluidois sinais: Tinel e Phalen. O sinal de Tinel pesquisadocom a percusso do punho, sendo positivo com dor ouformigamento no polegar e no indicador ou entre os dedosmdios. O sinal de Phalen pesquisado com a flexo a 90do punho; se os sintomas forem reproduzidos em 60segundos, considerado positivo.

    TABELA 1ETIOLOGIA DA SNDROME DO TNEL DO CARPO

    a. Reduo da capacidade do canal (tnel)- Espessamento do retinculo do flexor (esta condio difcil de

    ser estabelecida, mas reduo ocorre em processos inflama-trios, como a artrite reumatide e o mixedema)

    - Reduo do canal seguido por desalinhamento ou calo sseoassociado com fraturas envolvendo o rdio e ossos do carpo

    - Compresso do contedo do canal com movimentos extremos dopunho em flexo

    - Acromegalia (alteraes sseas)

    b. Volume excessivo do contedo

    - Condies inflamatrias e degenerativas: tenossinovites noespecficas, tenossinovite reumatide, gota, gnglio sinovial,amiloidose e outros

    - Ps-traumtico: ostefitos, formao de cicatriz associada comleso de tendes e outros

    - Leses neoplsicas: tumores benignos, tumores malignos

    - Outros: mixedema (a infiltrao de tecido fibroso pode afetar ovolume dos tendes), ventre muscular dentro do canal etc.

  • 82 Rev Bras Reumatol, v. 45, n. 2, p. 81-3, mar./abr., 2005

    Turrini et al.

    A avaliao neurofisiolgica um mtodo de diagnsticomuito sensvel e, eventualmente, utilizado para confirmar odiagnstico clnico. Quando o diagnstico clnico de STC duvidoso, a eletromiografia pode ajudar, desde que hajacomprometimento substancial das fibras nervosas; aeletromiografia positiva confirma a suspeita clnica de STC,mas, se negativa, no a afasta. A sensibilidade para o testeeletrodiagnstico do nervo mediano varia entre 49% e 84%,enquanto especificidades de 95% ou mais tm sido registradas.

    DIAGNSTICO POR IMAGEM

    O diagnstico por imagem importante nos casosduvidosos e, especialmente, nos sintomas recorrentes ouno aliviados aps a liberao cirrgica do tnel do carpo.Enquanto as radiografias simples e a tomografia computa-dorizada representam valor diagnstico limitado, excetopela avaliao da estenose ssea do carpo e calcificaes departes moles, a ultra-sonografia e a ressonncia magntica(RM) permitem a visualizao direta da compresso donervo mediano e outras estruturas de partes moles do tneldo carpo.

    As grandes vantagens do ultra-som na STC so a de per-mitir a realizao de um exame rpido, dinmico, em temporeal, e a de representar baixo custo. O exame, no entanto,demonstra algumas limitaes, como na avaliao das estru-turas sseas (Figura 1).

    A rea do nervo mediano mais bem obtida no ultra-som na altura do rdio distal ou no pisiforme, que considerado o tnel do carpo proximal, sendo a localizaoesperada para o edema mximo do nervo. Assumindo umaforma elptica, a rea do nervo no tnel do carpo proximalno deveria ser maior do que 10 mm.

    Apesar do custo elevado, a RM pode fornecer maioresinformaes diagnsticas e anatmicas sobre a importnciadas estruturas de partes moles do tnel do carpo. A primeiravantagem da RM a capacidade de distinguir entre os tiposde tecido, baseada no contedo de gua e de gordura. Como ajuste de uma srie de parmetros, as imagens podem seradquiridas e relacionadas quantidade de molculas deprtons presentes em cada imagem. Outra vantagem acapacidade de realizar qualquer seqncia de imagem emqualquer plano (Figuras 2 e 3).

    FIGURA 1 Ultra-som do punho comvisualizao do tnel do carpo(normal esquerda e aumentado direita)

    FIGURA 2 Tnel do carpo proximal normal: imagem por ressonnciamagntica no plano axial T1 SE

    Os principais achados de STC usando-se a RM so: oaumento do nervo mediano na entrada do tnel do carpo,melhor avaliado na altura do pisiforme; o achatamento donervo mediano na regio do hamato; o aumento da inten-sidade de sinal do nervo mediano na seqncia ponderadaem T2; e o abaulamento do retinculo dos flexores.

  • 83Rev Bras Reumatol, v. 45, n. 2, p. 81-3, mar./abr., 2005

    Diagnstico por Imagem do Punho na Sndrome do Tnel do Carpo

    FIGURA 3 Nervo medianoaumentado, na alturado pisiforme, seqnciasSE T1 (a) e T2 (b)

    CONCLUSO

    O diagnstico de STC clnico. Pode ser auxiliado pelaeletroneuromiografia, havendo um crescente interesse nautilizao das modalidades de imagem para auxiliar acompreender as causas desta sndrome.

    A RM e o ultra-som podem mostrar doenas do tneldo carpo em pacientes com STC de forma mais definidaque os demais mtodos de imagem. Deve-se, entretanto,lembrar que o diagnstico da STC eminentemente clnico,sendo o exame complementar de imagem apenas ocasio-

    nalmente solicitado; quando o mesmo for negativo, noafasta definitivamente o diagnstico.

    Em razo da excelente resoluo de contraste, a RM superior na deteco de graus moderados de compressodo nervo mediano e na identificao de potenciais causasde STC, assim como em tenossinovites dos flexores ou emleses ocupando espao. O baixo custo e a rapidez, entre-tanto, favorecem o uso do ultra-som como estudo inicialda imagem na avaliao do tnel do carpo, principalmenteconsiderando-se que os critrios de imagem para o diag-nstico de STC aplicam-se a ambos os casos.

    REFERNCIAS

    1. Pierre-Jerome E, Bekkelund SI, Mellgren SI, Nordstrm R: Bilateralfast magnetic resonance imaging of the operated carpal tunnel. ScandJ Plast Reconstr Hand Surg 31: 171-7, 1997

    2. Mesgarzadeh M, Triolo J, Schneck CD: Carpal tunnel syndrome:MR imaging diagnosis. MRI Clin North Am 3: 249-64, 1995.

    3. Sernik RA: Sndrome do Tnel do Carpo com indicao de tratamentocirrgico:avaliao ultra-sonogrfica. (Tese) So Paulo: Universidadede So Paulo; 2001.

    4. Chen P, Maklad N, Redwine M, Zellit D: Dynamic high-resolutionsonography of the carpal tunnel. Am J Roentgenol 168: 533-7, 1997.

    5. Lee D, Holsbeeck MT, Janeuski PK, Ganos DL, Ditmar DM, DarianUB: Diagnosis of carpal tunnel syndrome: ultrasound versuselectromyography. Radiol Clin North Am 37: 859-72, 1999.

    6. Buchberger W: Radiologic imaging of the carpal tunnel. Eur J Radiol25: 112-7, 1997.

    7. Sernik RA, Rodrigues Jr AJ, Rodrigues CJ: Cotovelo, punho e mo.In: Sernik RA, Cerri GG: Ultra-sonografia: sistema musculoesque-ltico. So Paulo: Sarvier, 1999. p. 69.

    8. Wong SM, Griffith JF, Hui ACF, Lo SK, Fu M, Wong KS: CarpalTunnel Syndrome: Diagnostic Usefulness of Sonography; Radiology232: 93-9, 2004.

    9. Turrini E: Avaliao do tnel do carpo por ressonncia magntica empacientes com diagnstico de leses por esforos repetitivos ou distrbioosteomuscular relacionado ao trabalho. (Tese) So Paulo:UniversidadeFederal de So Paulo; 2002.