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RP alternativo Revista laboratório de Relações Públicas | UFMA | Ano XVIII | Nº 34 | 1º Semestre de 2010 Será feita no Photoshop

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Revista laboratorial.

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RP alternativoRevista laboratório de Relações Públicas | UFMA | Ano XVIII | Nº 34 | 1º Semestre de 2010

Será feita no Photoshop

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Quem faz a revista?

Abigail [email protected]

Caroline [email protected]

Deniélida [email protected]

Jean [email protected]

Larissa Ré[email protected]

Nívea [email protected]

Samira [email protected]

Thais [email protected]

Marcelo [email protected]

Renato [email protected]

Maria do Socorro [email protected]

Victor Hugo [email protected]

Karoline [email protected]

Dafne [email protected]

Kyron [email protected]

Murilo [email protected]

Rosemeri [email protected]

Tarcila [email protected]

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Ano 18, nº 35, 1º semestre de 2010.

Revista semestral produzida pelos alunos da disciplina Produção de Revista Institucional(ISSN 2175-2974)

Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão - habilitação Relações Públicas•CooRdeNAçãoProf. dr. esnel FagundesCoNReRP - 6ª região - 1011

edItoRAAna Carolina Amarante

RedAçãoAbigail CardosoAna Carolina AmaranteCaroline Ferreiradafne duartedeniélida MoraesJean JadsonKaroline oliveira Kyron diasLarissa Régia Marcelo oliveira Maria do Socorro CostaMurilo AzevedoNívea PatriceRenato FeitosaRosemeri BarrosSamira Nogueira tarcila Macieirathaís LimaVictor Hugo Raposo

ReVISãoProf. dr.José Ribamar Mende BezerraProfª drª Conceição de Maria de Araújo Ramos

CAPA e dIAgRAMAçãoLarissa Régia

edIção de IMAgeNSLarissa Régia e thaís Lima

IMPReSSão gRáFICAUnigraftIRAgeM1.500 - distribuição gratuita

eNdeReçoLaboratório de Relações Públicas - Centro de Ciências Sociais sala e- 302 Campus do Bacanga.CeP 65.085-580São Luís - MaranhãoFoNe: 0 xx 98 2109 84 30e-MAIL: [email protected]: www.rpalternativo.ufma.br•UNIVeRSIdAde FedeRAL do MARANHão

ReitoR: Prof. dr. Natalino Salgado FilhoVice-ReitoR: Prof. dr. Antônio oliveiraDiRetoR Do centRo De ciências sociais: Prof. dr. César Castrochefe Do DepaRtamento De comunicação social: Prof. dr. Francisco gonçalvescooRDenaDoR Do cuRso De comunicação social: Prof. dr. esnel Fagundes

o autor de cada texto desta revista é responsável pelas opiniões emitidas, que não representam, necessariamente, o ponto de vista dos demais.

A revista RP Alternativo, produzida pela turma do 5º período de Comunicação Social- Relações Públicas, busca propor discussões de assuntos atuais e pertinentes. em sua 35ª edição, a revista traz o tema Cultura, enfocando suas diversas faces, desde a popular até a organizacional, com o intuito de mostrar à sociedade a importância dos estudos a cerca do tema e sua influência nos processos de comunicação.

Para tanto, a matéria de capa aborda a Identidade Cultural Maranhense, dando ênfase, aos traços mais marcantes: o São João, o reggae, as comidas e as bebidas típicas, a arquitetura e a religiosidade do estado, analisando o papel do RP nesse processo.

temos uma entrevista com o professor da Universidade estadual do Rio de Janeiro - UeRJ, doutor em Ciências da Comunicação, Manoel Marcondes sobre Marketing Cultural e sobre como profissionais de comunicação podem ter um bom desempenho nessa área. o cinema e as redes sociais também são abordados, tratados aqui, em nossas matérias, como difusores em potencial de cultura.

este número inova ao trazer um encarte com a homenagem realizada durante as comemorações dos 40 anos do Curso de Comunicação Social. os homenageados foram os professores Sebastião Jorge e José Marques de Melo que foram agraciados com títulos de distinção e louvor, em virtude de suas trajetórias no meio acadêmico.

também estão presentes nesta edição, os tradicionais tCCs, resenhas, artigos, Look in e Afinal o que é?. Por fim, em ano de Copa de Mundo, não poderíamos deixar de fazer uma reflexão sobre a influência do futebol na cultura brasileira.

desejamos a todos uma boa leitura!

Edit

oria

lAna Carolina Amarante

[email protected]

Editora

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Sumário

look in e afinal o que é?

prata da casa

opinião

cinema

entrevista

crônica

cultura e organização

capa: sistema cultural

Capa: Reggae

capa: religiosidade

capa: são joão

conhecendo o mestre

concurso

pesquisa

política

futebol

internet

artigos

TCC’s

capa: culinária

capa: arquitetura

livros

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Afinal o que é?Look In

Congressos da Associação Internacional de Comunicação – ICA 2010 Com o tema “Questões de Comunicação: Desafios Políticos, Culturais e Tecnológicos”, o ICA 2010 acontecerá este ano no período de 22 a 26 de junho, em Singapura na China. O Congresso terá divisões e grupos de interesses nas seguintes áreas: Comunicação e tecnologia; Políticas e legislação de comunicação; Comunicação, raça e etnia; Comunicação global e mudanças sociais; Comunicação interpessoal; Estudos de jornalismo; Linguagem e interação social; Comunicação de massa; Comunicação organizacional; Comunicação política; Comunicação popular; Relações públicas; Comunicação visual, entre outros.Para maiores informações acesse: http://www.icahdq.org/conferences/2010/index.asp

Enecom 2010 - Encontro Regional dos Estudantes de Comunicação Social Baseando-se em quatro linhas de atuação - processo de formação de consciência, cultura popular, educação e mobilização social - o Enecom 2010 acontecerá em João Pessoa, Paraíba, de 25 de julho a 1º de agosto, com a temática “Que a comunicação se pinte de novo”.

Intercom 2010 – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaçãoEm seu XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, a Intercom, este ano, virá com o tema “Comunicação, Cultura e Juventude” ensejando debates que agregarão inúmeros pesquisadores e acadêmicos da área. Será realizado entre os dias 2 e 6 de setembro na UCS em Caxias do Sul no Rio Grande do Sul. Outras informações no site: http://www.intercom.org.br

27º Congresso Interamericano de Relações PúblicasComemorando os 50 anos de sua criação, a Confederação Interamericana de Relações Públicas–Confiarp, em parceria com a Associação Brasileira de Relações Públicas-ABRP/DF, realizará no período de 26 a 30 de setembro, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília/DF, o 27º Congresso Interamericano de Relações Públicas. Com o tema “Relações Públicas e Novos Paradigmas de Responsabilidade Social e Sustentabilidade”, o congresso visa a reunir profissionais e acadêmicos de todas as habilitações da área de Comunicação Social, além de administradores, pesquisadores, especialistas e outros que estejam interessados em debater as necessidades do mercado.Mais informações: http://www.abrp.com.br/

Abigail Cardoso Kyron Soares

// Usenet (do inglês Unix User Network) é um meio de comunicação onde usuários postam mensagens de texto (chamadas de “artigos”) em fóruns que são agrupados por assunto (chamados de newsgroups ou grupos de notícias). Ao contrário das mensagens de e-mail, que são transmitidas quase que diretamente do remetente para o destinatário, os artigos postados nos newsgroups são retransmitidos através de uma extensa rede de servidores interligados.

// SGNL ( Standard Generalized Markup Language) é um padrão de formatação de textos. Não foi desenvolvido para hipertexto, mas tornou-se conveniente para transformar documentos em hiper-objetos e para descrever as ligações.

// HyTime (Hypermedia/Time-based Document Structuring Language) é um padrão para a representação estruturada de hipermédia e conteúdo baseado em tempo. Um documento é visto como um conjunto de eventos concorrentes dependentes de tempo (como áudio, vídeo etc.), conectados por hiper-ligações. O padrão é independente de outros padrões de processamento de texto em geral.

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Prata da Casa

Primogênita, de uma família de três irmãs, teve sua criação base-ada em dois eixos: na religião, através da mãe, professora e ex-noviça e na cultura, com um pai jornalista, poeta e boêmio, sempre ligado as mani-festações culturais como a Turma do Quinto e o Boi da Madre Deus. Se sua mãe fosse viva eles completariam 33 anos de casados. Seus pais sempre prezaram pela educação e todos os seus esforços foram voltados para que as três filhas pudessem ter uma boa formação, fato que se realizou. As três possuem formação superior em universidades públicas. Enquanto secundarista, es-tudou no Liceu Maranhense, obser-vava, seu pai e seu padrinho, José

Chaves, jornalista, escritor, imortal da Academia Maranhense de Letras. No seio de jornalistas, ela sabia que queria estudar comunicação, toda-via o jornalismo não era o viés de-sejado. Quando prestou vestibular, sabia o que era Relações Públicas e que era isso que queria. Descobriu o mundo na uni-versidade, até por saber da dificul-dade de ingressar, pois só conseguiu em sua segunda tentativa. Viveu a UFMA com toda ideologia de como deve ser uma universidade pública, e por isso engajou-se no movimento estudantil, entretanto nunca quis estar à frente deste. Sabia que tinha que aproveitar a universidade ao máximo, mesmo com suas limita-

Victor Hugo Raposo

Lutar por um obje-tivo e pautar toda a sua vida em prol dessa realização, são as características dos 31 anos de Amarilis Cardoso Santos, relações públicas formada pela UFMA, especializada em Jor-nalismo Cultural, pela mesma instituição. Atua profissional-mente como Coorde-nadora do Núcleo de Relações Públicas da Rádio Universidade FM e Professora do curso de Comunicação Social da UFMA.

Em busca Sonhode um

Laris

sa R

égia

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ções estruturais e orçamentárias. Durante sua jornada, con-heceu Franklin Douglas, professor e jornalista, que a fez despertar o prazer de estudar e pesquisar. Na época não existiam muitos grupos de pesquisa no curso, e com ele teve essa oportunidade: viajou para a região dos Cocais para a realização de pesquisa e foi para a sua primeira reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC. Lan-çou um livro em parceria com ele, e deve muito de sua vida profissional ao então professor. Mas sua maior gratidão é com a própria instituição. Atribui sua carreira e a escolha de ser professora à universidade, ao ver o que é lutar pelo direito de ter uma universidade pública e gratuita. No 4° período, já tinha decidido que queria ser pro-fessora, após ser abordada pela Profª Nilma, professora do Departamento de Comunicação Social, que na ép-oca ministrava a disciplina de Pes-quisa em Opinião Pública, quando salientou que ela se tornaria uma ótima professora. Para a conquista desse sonho, pautou toda a sua vida acadêmica publicando seus artigos, participando de congressos, fa-zendo pesquisa. Sua meta era essa: prometeu que mesmo trabalhando, continuaria publicando, participan-do de eventos científicos, estando nos espaços de debate, construindo seu currículo, se aperfeiçoando, pois quando entramos no mercado de trabalho, acabamos nos envolvendo com as tarefas diárias, e nos esquec-emos do aperfeiçoamento, e esse aprimoramento contínuo é primor-dial para a área de comunicação. Sua monografia foi outro de-staque em sua vida e foi motivada pela sua publicação com Franklin Douglas, tendo por título “A Forma-ção da Opinião Pública durante a

greve estudantil de 1979, no Mara-nhão: O Caso do Jornal Pequeno”. A Profª Adeilce Azevedo, hoje aposen-tada, orientou a monografia, e a in-centivou a inscrever-se no Concurso Nacional de Monografia de Relações Públicas, anualmente promovido pela ABRP-SP (Associação Brasileira de Relações Públicas) e a Escola de Comunicação e Arte da USP, sendo, inclusive ajudada pela Profª Adeilce no custeamento da inscrição. Ficava insegura: será que conseguiria gan-har? E para sua surpresa, ela havia ganhado, concorrendo com trab-alhos de todo o Brasil. Foi uma das maiores conquistas da sua vida, chegar à maior universidade do país e receber o prêmio das mãos de Margarida Kunsch, teórica muito estudada nas Relações Públicas. Saiu em muitas reportagens, entre elas uma matéria na RP Alternativo, re-vista que ela já havia feito enquanto acadêmica. Depois de formada, nun-ca ficou desempregada. Por esse histórico de envolvimento com os movimentos sociais e terceiro setor, começou a trabalhar nesta área. Seu primeiro emprego foi na Amavida, um projeto que tinha parceria com o Unicef e ASA(Articulação do Semi-Árido), e, trabalhou, ainda, no For-mação, uma ONG que trabalha com juventude na baixada maranhense, mas sempre na área de comunica-ção. Trabalhou no movimento de Meninas e Meninos de Rua, Coorde-nou o Consórcio Nacional da Juven-tude, gerenciado em São Luís pelo CCN (Centro de Cultura Negra), onde estagiou enquanto universitária, o que foi um grande desafio, visto que trabalhava a questão do primeiro emprego, no primeiro mandato do presidente Lula. Em 2005, passou em seu primeiro concurso para professor

substituto, tendo que se desdo-brar, pois tinha o projeto no CCN, e tinha que dar aula, algo inédito em sua vida. Estava realizada, voltando a sala de aula depois de dois anos de graduada, como professora da universidade onde se formou. Mi-nistrou as disciplinas de Pesquisa de Opinião, Teoria das Relações Públi-cas e Políticas de Comunicação, essa última refletia todo o seu histórico de luta nos movimentos sociais. Perto do fim de seu contrato de dois anos, foi indicada para fazer um sele-tivo, para trabalhar na Rádio Univer-sidade, entretanto estava receosa, pois nunca havia trabalhado na área empresarial, mas nunca teve ojeriza ao mercado. Com esse receio já está a três anos na Rádio, onde trabalha com comunicação interna, assesso-ria de imprensa e relacionamento com a mídia, manutenção do site e a realização do Prêmio Rádio Univer-sidade, evento pra o qual dedica seis meses de trabalho por ano. Ainda trabalha com gestão de pessoas, fi-cando responsável pela divulgação, seleção e treinamento dos estagiári-os. Em seu núcleo estagiam sete alu-nos, sendo seis de Relações Públicas e uma de Ciências da Computação, que é web master do site da Rádio. Em 2009 passou novamente, no concurso de professor substituto. Agora, com mais experiência, seu objetivo atual é ingressar no Mes-trado, para que possa fazer concurso de professor efetivo da universidade, seu grande sonho. Defende a profissão onde chega. Em todos os espaços, revela que é Relações Públicas, tem muito orgulho da profissão, e não tem ne-nhum arrependimento, pois ama o que faz. E, depois de tantos anos no mercado, acredita que fez a escolha certa. Ter sucesso não é ter fama! Ele não é conquistado e sim mantido.

Laris

sa R

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O ambiente universitário deve propiciar oportunidades de criarmos debates acerca da sociedade. Dessa forma, entendo que a pesquisa pode e deve contribuir para entendermos melhor o funcionamento dela e, principalmente, criarmos instrumentos de transformação. Atualmente, coordeno um grupo de pesquisa na UFMA que busca entender as estratégias de comunicação utilizadas tanto para aliciar quanto para “libertar” trabalhadores no contexto do trabalho escravo no Maranhão, mais especificamente em Codó e Açailândia, dois municípios que lideram o ranking de incidência e local de origem da mão-de-obra escrava no Brasil. O estudo tem duração de 2 anos e iniciou em março deste ano. A pesquisa busca compreender o funcionamento de dois sistemas de comunicação, intitulados como “Vozes da Esperança”, que são responsáveis, num primeiro momento, por atrair os trabalhadores a uma “promessa de trabalho”, depois caracterizada por condições análogas a de escravos (rede de aliciamento) e, num segundo momento, por “libertá-los” dessa situação (rede de denúncia da exploração do trabalho). A ideia é entender como esses sistemas são formados, quais as estratégias utilizadas tanto no recrutamento quanto no resgate desses trabalhadores e quais os principais atores sociais envolvidos. Dessa forma, a partir da identificação dessas redes de aliciamento (realizada pelos chamados empreiteiros ou gatos) e denúncia acerca do trabalho escravo (realizada principalmente pelo movimento social), o estudo terá condições de sistematizar discursos e práticas dos principais atores sociais que utilizam canais de comunicação de forma estratégica. A escolha dos materiais que serão analisados deve ser feita durante a

pesquisa de campo, sob a orientação de representantes do movimento social que atuam no combate ao trabalho escravo no Maranhão – principalmente com atuação na região tocantina, como o CDVDH (Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia), o FOREM (Fórum de Erradicação do Trabalho Escravo no Maranhão), e de atuação nacional, como é o caso da ONG Repórter Brasil, que realiza o projeto “Escravos nem Pensar” no Maranhão e demais estados brasileiros onde há situação de trabalho escravo contemporâneo. A partir da compreensão da lógica do canal de comunicação para o recrutamento de trabalhadores, acredito também poder contribuir com a eficácia da atuação do movimento social, que terá a partir do acesso a esses dados, subsídios para conseguir avançar nos processos comunicacionais mais eficazes para o trabalho de prevenção. Os resultados obtidos durante o desenvolvimento desta pesquisa terá destinações tanto acadêmicas, com a participação em seminários, congressos e publicação de quatro artigos, quanto extensionistas, uma vez que serão disponibilizados pela rede de proteção de trabalhadores vulneráveis à situação de escravidão contemporânea no Maranhão. Os resultados devem ser sistematizados e repassados em encontros com representantes do movimento social em defesa dos direitos humanos, que poderão obter subsídios capazes de construir estratégias de prevenção e combate desta prática. Também haverá, neste sentido, uma oportunidade de publicização do problema para a sociedade em geral. Da mesma forma, os resultados deverão ser repassados ao poder público, que terá informações necessárias para a elaboração e execução de políticas públicas capazes de combater essa mazela social.

para a cidadania

Opinião

*A autora é jornalista, mestre em Ciências Sociais e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMA. Atual-mente, coordena o projeto Vozes da Esperança, finan-ciado pela FAPEMA. Publicou em 2008 pela Edufma sua dissertação intitulada Escravos da Precisão.

Por Flávia Moura*

Estratégias de comunicação

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Delimitar a origem de um movimento, atribuir a sua criação a algo ou alguém é geralmente uma tarefa dúbia, permeada pela possibilidade do equívoco. Assim acontece com o Cinema.

É dos irmãos Lumiére o crédito pelo início das atividades cinematográficas no mundo (embora existam registros de projeções de outros inventores), com a sessão que realizaram em 28 de dezembro de 1895 num salão do Grand Café em Paris.

No Brasil, a primeira exibição acontece em 1896 no Rio de Janeiro. Em São Luís, de acordo com o jornalista Marcos Fábio Belo Matos, as primeiras sessões aconteceram entre os dias 10 de Abril e 15 de Maio de 1898 na Rua do Sol, e, conforme anúncio da época, “Tratava-se de um Cronofotógrafo ‘Maravilhoso invento de Demeny – Photographias Animadas’, trazido por Moura Quineau um aventureiro que já residira em São Luís”.

Seguiram-se a essas, muitas outras exibições, como a do Biscópio Inglês e o Cinematógrafo Parisiense. Entretanto, as exibições e mesmo produções do cinema maranhense tiveram um curto período de duração. Entre esse momento do início do século e a década de 70 – onde são retomadas as atividades cinematográficas em São Luís - ocorreu segundo Marcos Fábio Belo

(2006, p.03)“um triste lapso, uma escuridão em que, ao que consta, nenhuma fita foi produzida.”.

A reativação do cinema maranhense acontece a partir da criação do Cine Clube Universitário - movimento criado com objetivo de fomentar nos jovens da capital maranhense a cultura cinematográfica, bem como a Jornada Maranhense de Super 8, que anos mais tarde se transformaria no Festival Guarnicê de Cinema. Foi após a produção do filme “Os pregoeiros de São Luís”, premiado em festivais de cinema brasileiros, que a Universidade Federal do Maranhão por meio do Departamento de Assuntos Culturais (DAC), passou a realizar seu projeto de maior destaque: o Festival Guarnicê de Cinema, que já está na sua 33ª edição.

O evento tornou intensa a produção cinematográfica e centenas de filme passaram a ser produzidos. O Guarnicê conseguiu relacionar a sétima arte com a oportunidade de pessoas comuns fazerem obras cinematográficas. Com um júri composto por comunicadores, profissionais da área de arte, pessoas da comunidade e membros da organização católica internacional para o cinema, o Festival possibilita a participação não somente de filmes em película, mas também de vídeos, o que o torna mais acessível, dados os custos que a produção de uma película requer.

O evento já teve suas sessões realizadas na Associação Comercial, na Assembléia Legislativa

e até no Hospital Nina Rodrigues. Rememorando antigos festivais, José Guterrez Filho, diretor técnico do Guarnicê, nos conta alguns momentos marcantes, como a apresentação de “Ele, o boto”, um filme, estrelado por Cássia Kiss que teve problemas na sua exibição.

Este ano, todo o evento será realizado no Centro de Convenções Pedro Neiva de Santana. Atualmente, o festival funciona como uma vitrine, revelando talentos maranhenses na sétima arte e fomentando a produção maranhense que, ainda nos dias de hoje, apresenta-se de forma tímida. O mesmo acontece com o próprio evento, que embora possua relevância no meio cinematográfico brasileiro, tem pouco destaque e repercussão no cenário nacional.

Projetos como o Guarnicê só são possíveis por meio de parcerias. A primeira delas é com a própria instituição universitária, com os cursos oferecidos por esta e com a comunidade. Entretanto, a maior dificuldade está em conseguir patrocinadores, que, quando obtidos, se devem, na maioria das vezes, às leis de incentivo à cultura. Assim aconteceu em 2008, onde apenas 04 projetos conseguiram captar recursos junto a Lei Rouanet de Incentivo a Cultura.

É necessário que sejam elaboradas políticas de comunicação que visem ao crescimento do número de participantes nos projetos culturas que a UFMA desenvolve. Afinal, a cultura está lado a lado com o conhecimento no processo de construção de uma sociedade.

Festival Guarnicê:

Ana Carolina AmaranteCaroline Ferreira

Cinema

Cultura nas telonas

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EntrevistaAbigail Cardoso

Maria do Socorro Costa

Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade

de São Paulo - USP, professor da Universidade Estadual do Rio

de Janeiro - UERJ, autor dos livros Marketing Cultural: das

práticas à teoria, já na segunda edição, e Relações Públicas e

Marketing: convergências entre Comunicação e Administração,

também na segunda edição, editor dos sites www.cpdcom.

inf.br e www.marketing-e-cultura.com.br, com experiência

na academia e no mercado de trabalho. Manoel Marcondes

fala a RP Alternativo sobre suas pesquisas em Marketing Cultural, as influências, os processos, e as

implicações deste na atividade de Relações Públicas.

“Fazer Marketing Cultural uma decisão de

Relações Públicas”

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Relações Públicas constituem um processo de gestão dos relacionamentos das organizações, o que implica na promoção destes, e o Marketing, por sua vez, atua como um mecanismo de gestão que possibilita aos administradores promover e sustentar mercados consumidores. Com as mudanças sociais e a valorização dos consumidores, com leis mais efetivas, as atividades de Marketing estão mais associadas aos processos de relações públicas, e têm convergido em algumas questões, no que se refere ao cliente, por exemplo, o que faz da atividade de Relações Públicas e do Marketing Cultural conceitos em evidência. Para entender a natureza desta relação, o professor Dr. Manoel Marcondes responde e explica o conceito de Marketing Cultural e a relevância do tema no Brasil, e mostra a importância deste na produção cultural.

RP alternativo: O texto “Marketing Cultural: uma invenção brasileira” informa que Marketing Cultural é um termo que só existe no Brasil. Então o que é Marketing Cultural?Manoel Marcondes: Marketing Cultural seria a atividade de viabilização da produção cultural e Marketing é justamente você estar e atuar no mercado. Então, se a área de produção cultural quer ganhar espaço e estar no mercado fará um Marketing Cultural. Esse termo ganhou sentido sobretudo por ação da imprensa no Brasil; pesquisei as fontes e só encontrei referência a ele na imprensa na década de 80. Dentro de algumas empresas essa expressão começou a ganhar sentido para denominar patrocínio, a ação de uma empresa ao bancar uma orquestra, um espetáculo; a palavra patrocínio explica muito bem essa ação, aqui e lá fora. A partir disso considerei que esse termo deveria ser trazido para dentro da universidade em uma pesquisa para tentar compreender se o mercado pratica essa atividade, se

a chama de Marketing Cultural, o que é, como se dá. Com isso, pude ver que muitas atividades que recebem o título Marketing Cultural, debaixo de um guarda-chuva conceitual, são muito diferentes. Dessa forma, além de fazer uma conceituação também propus uma classificação em modalidades.

RPa: Podemos dizer que todo patrocínio feito por uma empresa a uma atividade cultural é Marketing Cultural? Quais as diferenças entre Marketing Cultural de uma simples Publicidade?MM: Roberto Muylaert, que foi presidente da Fundação Padre Anchieta e gere a Rádio e a TV Cultura em São Paulo, no seu livro “Marketing Cultural e Comunicação Dirigida”, foi pioneiro ao usar esse termo. Ele fala justamente da sua experiência na televisão pública no início do período em que se passou a aceitar a propaganda ou a publicidade comercial dentro de uma TV Educativa. A princípio não podiam anunciar oferta, venda, só anúncios institucionais. O autor destaca também o Monterey Festival, um festival de música em São Paulo que as empresas apoiaram. Isso é patrocínio. Ganhar um nome novo não seria algo muito digno de atenção. No entanto, essa nomenclatura se consolidou e até hoje podem ser encontradas empresas que prestam serviços de marketing cultural para os anunciantes em geral. Não é absolutamente igual e nem concorre com a Publicidade Comercial. As grandes agências, sobretudo, encaram as ações de Marketing Cultural como “rouba-verbas” de mídia convencional. Se você tem 1 milhão para fazer comunicação da sua empresa, você entrega esse 1 milhão para a agência que propõe ações de mídia e de promoção. O Marketing Cultural poderia estar incluído também na categoria de promoção, que são atividades que acontecem com começo, meio e fim. São eventos, ações rápidas que poderiam estar incluídas num leque de um Marketing Promocional. Mas se você resolve fazer um patrocínio de 500 mil, este levará a recursos para pagar cachê,

produção, impressões, que não são mídia, o que reduz o faturamento da agência. Então, ela fica só com 500 mil para fazer mídia tradicional. Por isso, as agências de propaganda, de publicidade, termos que no Brasil são usados como sinônimos, as agências de comunicação, não têm sido o lugar onde nascem sugestões de apoio à cultura.

RPa: No texto “Marketing da Produção Cultural”, o autor afirma que: “Não está claro ainda se tudo aquilo que se rotula como Marketing Cultural de fato o é”. Como, diante disso, podemos identificar o que seja Marketing Cultural?MM: Algumas empresas, por exemplo, diziam que comprar ingressos de um espetáculo para distribuir aos funcionários é uma ação de Marketing Cultural. Procurei analisar esse viés. Também existe a questão do investimento que era permitida pela Lei Sarney e que existe hoje na Lei do Aúdio-visual, ou seja, além de bancar, a empresa terá eventual retorno se aquela atividade for lucrativa, e o patrocinador, além do produtor, teria participação. Se a atividade for encarada dentro do leque maior do processo de Marketing, conseguiremos encaixar essas modalidades que citei, a venda de ingressos ou o investimento, no leque de Marketing Cultural, porque tudo aquilo que entraria como viabilizador de uma proposta de valor, a entrega de um livro, espetáculo, biblioteca, que promoveria o setor, é o marketing dele. Há inclusive, ainda, algum preconceito, hoje bem menos, com o termo Marketing Cultural. Mas todo preconceito deve ser combatido. Como Marketing não ganhou tradução para o português, há segmentos que são muito arredios com o uso da palava, mas veremos que o cenário capitalista da cultura precisa se financiar, e isso se dá através do encontro do seu mercado. Se um livro é lançado e não tem leitores, se uma peça de teatro é produzida e não tem espectadores, a situação fica complicada. É claro que existem políticas estatais de cultura por meio das quais

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artistas ou companhias são bancadas, independentes do sucesso do público, uma atividade importante que o governo não deve deixar de fazer, pois nem tudo tem um mercado pujante, rico, encantador de investidores.

RPa: Na estréia do seu programa semanal “Marketing e Cultura (2001) na web rádio UERJ on-line”, você afirma que o Marketing Cultural dá algo a mais às empresas que a Publicidade não consegue dar. O que o Marketing Cultural tem a oferecer? Em que suas ações diferem das ações das atividades de Relações Públicas?MM: O Marketing Cultural foi listado pioneiramente por Margarida Kunsh da USP, dentro do leque de Comunicação Institucional, ou seja, o composto da Comunicação Integrada que seria a Propaganda Tradicional, a Comunicação Interna, Administrativa e a Institucional, que é justamente onde estão as Relações Públicas, têm uma parte voltada para ações mercadológicas. No começo do curso da UERJ, por exemplo, em 1971, Relações Públicas e Comunicação Institucional eram quase sinônimos. Foi nesse segmento da Comunicação Integrada que surgiram as ações de Marketing Cultural, de patrocínio, um pouco mais diferenciadas do puro e simples, porque elas admitiam adoções. Por exemplo, o teatro Abril. A empresa não está fazendo uma ação de começo, meio e fim, um evento: ela está bancando o teatro, é uma atitude perene, então, do ponto de vista da empresa que patrocina é uma ação de Relações Públicas do maior valor, porque está atuando na comunidade, a sua marca aparece para a comunidade. Não é vendendo produto, não é prestando serviço, é entregando equipamento cultural. Isso que o próprio Ministério da Cultura usa para denominar a atividade que é um mecenato (mecenas uma figura histórica de amparo ao artista, ao criador). Se uma empresa entrega um teatro, como o teatro Bradesco que agora foi entregue em São Paulo. Esse fato tem

uma diferença importante, porque o teatro não foi construído com incentivos fiscais, a empresa utiliza um recurso dela que poderia usar para outros fins e cria o teatro, entrega para a comunidade da cidade de São Paulo. Diria que é a Relações Públicas no seu mais alto nível.

RPa: Qual a participação das leis brasileiras de incentivo à cultura para o desenvolvimento da atividade do Marketing Cultural?MM: Na verdade, muita gente confunde Marketing Cultural com incentivo fiscal. Não tem relação. Decidir fazer Marketing Cultural é uma decisão de Relações Públicas, é uma decisão de Comunicação Institucional. Isso deveria ser feito com os recursos que seriam usados para a propaganda tradicional ou para promoções. Usaria uma parte desse dinheiro e dedicaria à Marketing Cultural. Nesse ponto, as leis de cultura ajudaram a que várias empresas que nunca anunciaram começassem a fazê-lo. Mas, elas não estavam fazendo com seu dinheiro. É fácil fazer uma ação se a empresa não está gastando. Esse fato está na origem das críticas às legislações de incentivo fiscal, porque a empresa está aparecendo, fazendo relacionamento, até gerando produtos, como livros ou dvds, sem gastar nada, o que é questionável. As leis ficaram no papel, sim, mas como toda lei de incentivo fiscal, elas deveriam ter uma duração, pois fomentam, inserem no imaginário do empresariado um novo tipo de ação e depois saem de cena. Porém, não conseguimos sair dessa cena porque parece que as empresas não criaram um hábito de apoio à cultura, só o fazem pelo incentivo fiscal, e acabamos perdendo pela razão errada. Diria que o incentivo fiscal é mais veneno que antídoto, mais vício que virtude. Quanto à participação, é mais ou menos 50%, para cada R$ 1,00 que existe em ações com leis de incentivo. Poderia dizer que há R$ 1,00 que não tem incentivo, e o fato de existir incentivo, pode ser analisado de duas maneiras: uma otimista é pensar que ele dobra a

ação cultural; a outra implica dizer que, temos um PIB cultural, mas metade dele não vem de recursos próprios, ou seja, é uma leitura que pode ser otimista ou pessimista.

RPa: Você classificou o Marketing Cultural nas categorias Misto, Fim e de Agente. Como as diferencia?MM: Depedendo do fato gerador ou do local, que não é só o geográfico, é também em que tipo de organização surgiu, se é uma organização que aglutinou outras. As ações de Marketing Cultural podem ser divididas em modalidades porque elas são diferentes. O número de 90% taxado de Marketing Cultural - apesar de não poder afirmar que seja um número válido, hoje já deve ser feita uma nova pesquisa para atualizar e estou fazendo isso na UERJ, mas há cerca de cinco anos nós podíamos afirmar isso com tranquilidade - é patrocínio puro e simples. Uma empresa vai e banca a ação. Os outros 10% estão divididos entre essas outras três modalidades.O Marketing Cultural de Fim seria aquela organização cujo fim é a produção, a difusão cultural, é uma organização de cultura, um museu, uma orquestra; se ela faz o marketing, ele vai ser o Cultural. O termo marketing sozinho não tem sentido, ele ganha sentido quando está alinhado a outra palavra. Já assisti a uma entrevista gravada do Peter Drucker em que ele dizia: “Marketing é uma filosofia que abrange toda a organização, não é um departamento”. Ele fala do conceito de Marketing que, quando usado, tem que ser aliado a uma palavra: Marketing Farmacêutico, Marketing Automobilístico, Marketing Financeiro, Marketing Cultural. É difícil para os gestores de orgãos públicos de cultura admitir isso, o que é preconceito ou desconhecimento.A outra modalidade é o Marketing Cultural de Agente. Talvez seja o tipo em que a palavra marketing apareça com mais pujança, pois o agente olha a proposta de valor desde o seu início, vai buscar um compositor novo, um texto

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inédito, os artistas que vão se interessar por aquilo, quem vai musicar essa peça, quem vai fazer o cenário, por exemplo, de uma produção de teatro ou de ópera, e aglutina, onde que vai estreiar essa peça, onde está o público, é um público de classe A, B, C, D, E, qual o tipo de ingresso que pode cobrar, ou então, é uma peça que precisa ser de graça, que tem funções educativas, que vai falar sobre violência doméstica. Há vários grupos de teatro como os Doutores da Alegria, por exemplo, que focam o seu trabalho para um determinado fim e depois buscam quem banque aquela atividade, quem invista, quer dizer, é um sujeito que faz todo o marketing mix, produto, preço, praça, promoção da atividade cultural; nesse caso o termo marketing é bem devido. O Marketing Cultural Misto, procurei muito um termo que pudesse explicar essa modalidade, e esse é um termo realmente que ficou, porque ele justamente mistura as outras modalidades, tem um pouco de patrocínio, de empreendedorismo, de agente público. Às vezes se tem um produtor privado que é o agente, um local público que é um centro cultural público e um patrocinador privado, e se faz acontecer. Essa é a modalidade que mais cresce porque está todo mundo com poucos recursos, querem co-patrocinadores, apoiadores. O problema disso para as marcas é que a comunicação dessas atividades fica sobrecarregada reduzindo a pujança de cada uma. Pergunto: quem patrocinou o show de ontem? Tinha tanta marca, tanto banner que fica difícil lembrar. São essas as modalidades.

RPa: Nos seus textos e entrevistas, percebe-se a importância da relação Cultura Educação. Como você vê essa relação? De que modo esta pode contribuir para ações de Marketing Cultural?MM: Uma das coisas que talvez seja discutível é a cisão do MEC: Educação separada de Cultura, mas a sigla continua, porque o MinC é um ministério muito pobre. A educação, de certa maneira, em comparação com a cultura, é um ministério rico, posto que, está, inclusive, na Constituição Federal, o percentual que deve ser destinado à educação. A cultura está brigando por uma verba marcada na Constituição, verba essa que ainda não existe. Então, olho para essa cisão, Cultura e Educação, perguntando se não teria sido melhor que continuassem juntas, talvez com secretarias diferentes, com uma secretaria de cultura forte, que fizesse o que o MinC tenta fazer, porque é indissociável. A pessoa será educada e, quanto mais culta ela for, mais condições terá de aprender outras coisas, pois cultura é mais abrangente, antropologicamente, hábitos, costumes, valores, é bastante grande o seu universo. A educação é uma parte dela. A cultura é maior que a educação, o conceito, a ideia de cultura. A política nacional cultural é de 2005; é muito boa, mas ainda não está implementada, já que não tem dotação; estamos brigando por 1% do orçamento, é p o u q u í s s i m o . Diria que esse é o maior problema.

RPa: No livro “Relações Públicas e Marketing: convergências entre comunicação e administração”, você afirma que Relações Públicas é a profissão do futuro, enquanto, Marketing é a profissão do presente, passado e futuro, pois sempre existiu. O que o faz pensar dessa maneira?MM: É um pouco do que Peter Drucker afirma: “O Marketing tem que estar nos ossos da empresa, em todo lugar, não tem o departamentinho de Marketing; todo mundo tem que pensar no cliente, no concorrente”. De uma certa maneira, justamente por esse fato, ele está sempre presente, desde que se queira comprar o produto, consumir o serviço, não vai desaparecer. Já a atividade de Relações Públicas, reconhecida como tal, é muito recente. Enquanto nós podemos dizer que a origem do Marketing atual remonta à

“O termo marketing

sozinho não tem

sentido(...)”

Foto: Abigail Cardoso Edição: Larissa Régia

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primeira onda de globalização, grandes navegações e as modernas Relações Públicas - não estamos falando dos discursos presidenciais americanos do século XIX que já citam a opinião pública, a importância da satisfação pública - quando se entende a governância corporativa, a responsabilidade sócio-ambiental, dar satisfações, é bem recente. Surge agora aqui no Brasil uma série de autores falando de Comunicação Pública, no sentido de dar satisfação, e nós tivemos ainda uma ditadura, que vinha com versão oficial, “pacote pronto”. A imprensa não era livre para perguntar. O relações públicas é o sujeito que lida com a imprensa. Contudo, não para controlá-la, isso é uma idéia do período militar. Ele

lida com a imprensa para abrir a porta. Se não fizer isso não está fazendo um bom trabalho. Mas esta situação é muito recente, porque o Brasil teve sua abertura para o mundo dos negócios só a partir dos anos 90; então vinte anos é pouquissímo tempo, as empresas estão sensíveis ao discurso diferenciado das Relações Públicas. Desde 1950, Bertrand Canfield, autor americano, fala de cidadania corporativa e isso parece uma novidade entre nós aqui, mas para Relações Públicas isso é muito antigo. Diria que hoje nós estamos com um terreno muito fértil para atuar e por isso, falei que era a profissão do futuro.

RPa: Uma das discussões que temos na academia é a abrangência da atividade de Marketing que acaba por considerar as outras áreas da Comunicação como acessórias de suas atividades. Nesse sentido, como a área vem se comportando para trabalhar

numa perspectiva de Comunicação Integrada? Qual é a influência do Marketing Cultural para uma mudança?MM: Nesse ponto, o Marketing Cultural não consegue agir, porque está voltado realmente para aquilo que chamamos de Belas Artes, das artes de espetáculo. Existem pouquíssimas ações de Marketing Cultural voltadas para dentro da empresa, que mexeriam até com o comportamento interno dela, mas isso é bastante sofisticado e não acaba gerando mudanças no grande quadro. Entretanto, o pessoal de Marketing está sensível, hoje, para o discurso da Comunicação Integrada, tendo em vista que as próprias agências de propaganda que eram muito parceiras das áreas de Marketing

deixaram de ser agências de propaganda para serem agências de comunicação integrada, e isso está trazendo o pessoal de Marketing para a compreensão do papel que a Comunicação e as Relações Públicas podem gerar.Por outro lado, já olhei um curso da Aberje chamado “Marketing de Relacionamento” e isso é sinônimo de Relações Públicas, mas já ganhou aceitação. Há uma porção de títulos e autores escrevendo sobre o tema, que nada mais é que a atrelagem da atividade comercial de uma empresa ao conhecimento diretamente do cliente. É o caso da Amazon, por exemplo, uma livraria virtual que não conhece o cliente porque este não vai à loja. Mas quando a procura cria um link direto, a loja conhece o cidadão, onde mora, manda o livro para ele, tem o cartão de crédito dele, sabe o aniversário, ou seja, não precisa de lugar, essa relação acontece virtualmente. Sendo assim, o Marketing é muito abrangente. Como está presente

no mundo capitalista, tudo é Marketing nesse sentido. Mitsuru Yanaze da USP propõe: “Esqueça o Marketing”. Acredito que vai um pouco nessa linha, como tem muito marketing na nossa vida vamos tirar essa palavra e ir adiante. Aí que vejo que é um bom campo para Relações Públicas, porque o Marketing está tratando de mercado, de compra e venda, de troca, de ganhar corações e mentes, está muito ligado a produto e serviço. E, quando se entra na área de reputação, de comunicação institucional, de presença da empresa na comunidade, no país, relações com o governo, não está se falando de Marketing. Fala-se de relacionamento com a imprensa, com a comunidade, com o governo. Então, as Relações Públicas ganham destaque. O Philip Kotler fala em um livro mais recente de Relações Públicas de Marketing. Já que a disciplina dele é de Marketing ele vê pelo foco do Marketing. Se vejo pelo das Relações Públicas observo com um foco diferente. No entanto, sem Marketing não há empresa, e ela tem que estar no mercado, para assim poder fazer comunicação, ações até sociais, mas se não tiver lucro, Peter Drucker diz, “Se a empresa não tem lucro nada mais existe”. E existe certo preconceito com lucro no Brasil. Tom Jobim falava um pouco isso: “Sucesso parece ofensa pessoal”, não é. Por isso, nos Estados Unidos a situação funciona sob outra ótica do que está certo é aplaudido.Aqui tem um pouco de querer opor o bem-sucedido às mazelas do país que talvez venham de outro lugar, talvez de maus governantes, de uma má escola política, mas que não são de negócios, pois o Brasil é um grande país para fazer negócios. As maiores empresas e bancos estão aqui, todo mundo fatura muito bem, somos o 3º país da indústria de cosméticos do mundo, não temos um país ruim para se fazer marketing.

RPa: O que o levou a estudar Marketing Cultural?MM: Quando estava na faculdade, tive

“(...) quando se entra na área de reputação, de

comunicação institucional, de presença da empresa na

comunidade [...] Relações Públicas ganham destaque (...)”

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a oportunidade, no último ano, de fazer um teste para uma bolsa de um ano no Departamento Cultural da UERJ, para desenvolver dois projetos. O 1º está ligado à memória das organizações e tem a ver com Relações Públicas, mas o projeto que emplacou no Departamento Cultural foi o 2 º. “A UERJ abre as suas portas”, um projeto para que a comunidade viesse à Universidade, ao cineclube, ao teatro, à concha acústica e, por causa disso, conheci alguns artistas, me encantei com a área de Relações Públicas ligadas à artistas, que seria a divulgação destes,

apaixonei-me por isso quando me formei. Dois anos após ter me formado, comecei a trabalhar com produção de teatro infantil, que é por onde se começa na escola de produção de teatro. Entrei para uma companhia, não era ator nem diretor, era divulgador. Depois essa experiência gerou uma empresa, que funcionou por 10 anos, até 93. O primeiro catálogo da empresa, um cardápio de produções, que se apresentava aos

anunciantes para que escolhessem se gostariam de fazer um teatro adulto, uma música erudita, chamava-se catálogo de Marketing Cultural, isso em 88. Quando encerrei minhas atividades, passei pelo Plano Collor, não morri. O plano foi muito ruim para a cultura, acabou com o Ministerio da Cultura, com a Embrafilme, foi bem triste, mas consegui ficar naquela situação, mesmo com o dinheiro preso, e depois que ele foi solto produzi o que tinha me comprometido e, em 93, passei a me dedicar à vida acadêmica, estudando sobre o assunto, propondo para a minha orientação com a Margarida Kunsch a

exploração do tema Marketing Cultural, que foi aceito como projeto, fazendo de uma experiência prática um motivo para fazer uma abordagem científica.

RPa: Como você vê o futuro do Marketing Cultural?MM: Sou um entusiasta da área. Quando voltei da tese, achei que o assunto estava esgotado no ano 2000. Na UERJ, estávamos recebendo uma base de 1000 telefonemas por mês porque no tempo que fiz o doutorado o curso de extensão de Marketing Cultural deu uma parada. Depois o retomamos até 2009. Portanto, o assunto ainda está aí, é preciso formar pessoas. Agora é fundamental que se descole a idéia de marketing cultural da ideia de incentivo fiscal, porque o Marketing Cultural é uma atividade autônoma, rica, pujante, existe aí uma economia de cultura importante. Uma das linhas do Ministério da Cultura é justamente descrever essa economia da cultura. Se existe uma indústria cultural existe o marketing. Não adianta chamar de outro

nome, o nome é marketing, a disciplina é Marketing Cultural. Continuo estudando o que vai ser o desdobramento dele. Deve ser meu próximo livro: Marketing para as Artes, porque aconteceu de no curso da UERJ começar a vir só o pessoal de empresa ou de agência, patrocinadores, ou de veículos. Comecei a receber cada vez menos artistas, e eles também precisam ter uma visão de marketing, porque muitas vezes são seus próprios produtores. Por isso, agora quero voltar a falar como no começo da minha carreira, para o artista, a orquestra, o grupo de teatro, propondo um conceito, um desdobramento.

RPa: O que você tem a dizer aos estudantes e profissionais de Comunicação que desejam aventurar-se nos estudos e atividades do Marketing Cultural?MM: O Marketing Cultural não está estabelecido como área de graduação. Só no Rio de Janeiro e na Bahia tem-se o curso de Produção Cultural no nível de graduação tradicional, mas não é um curso de Marketing Cultural. Diria aos estudantes de Comunicação Social que escolhessem Relações Públicas, porque ainda acho que o melhor perfil para trabalhar na produção cultural é o do relações públicas, porque ele estuda todas as matérias importantes para colocar de pé o espetáculo, uma produção. Ele analisa, tem cadeira de Marketing, de Antropologia Cultural, de Assessoria de Imprensa, de Produção Gráfica, de Eventos. Como a produção cultural é uma área muito nova, os cursos de Relações Públicas gerarão muitos perfis para trabalhar nesta atividade.

“(...) ainda acho que o melhor perfil para trabalhar na produção cultural é o do

relações públicas (...)”

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Maravilha, chuva! Dia ótimo para ficar em casa e ver um bom filme, mas veja, tenho que trabalhar, já perdi o horário, dormi demais. As horas passam, fico a imagi-nar uma cidade em que o transporte chega com rapidez, aonde o ônibus não vem lotado, sem engarrafamento, sem horas de ônibus, sem trânsito lento. Eduardo Gale-ano está certo: “o desenvolvimento é uma viagem com mais náufragos do que navegantes”.

Enquanto o Rio de Janeiro tenta se recuperar do dilúvio que matou 98 pessoas como num “Dia Depois de Amanhã”, sem efeitos especiais, presenciamos o so-frimento de famílias que ficaram sem moradia, sem seus parentes e amigos.

Quando vejo o Jornal!? Já pensou, acordar e ver o céu todo negro, como no filme “Independece Day” quando os alienígenas irão invadir a terra? Mas, nesse caso, não são seres de outros planetas que desejam a sua destruição: é o resultado de todo monóxido de carbo-no que jogamos no ar, crianças com asmas, bronquites, várias doenças respiratórias. Isso não é cena de filme, é a realidade. Foi mais ou menos, assim, que moradores da Europa tiveram que abandonar suas casas porque um vulcão, que ninguém sabe como, resolveu acordar depois de um sono de 189 anos. Fábula? Longe de ser. Enquanto alguns calculam se poderão voltar para casa, nossos líderes ainda ficam na indecisão sobre as mudan-ças climáticas. Meu Deus, o que foi a 15ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15), se no filme os aliení-genas se comunicam com os seres humanos, com o cli-ma ocorre o contrário, tenta se comunicar, até entende-mos, mas, as decisões a seu favor correm na contramão do desenvolvimento. Então vamos naufragando. Fica a pergunta: qual é a relação entre estes eventos?

Uma conferência, que finaliza sem metas concre-tas de redução dos gases-estufa e sem um texto que tivesse a aprovação de todas as nações; é nos defrontar-mos com o coelho que olha para o relógio e o seguimos, atrás, toda a humanidade, como no filme “Alice no País das Maravilhas”, em que tudo fascina: enchentes, vulcões, desabamentos, mas não se sabe para onde vai, pois a in-eficiência dos nossos líderes, em propor soluções para resolver os problemas climáticos, é a piada sem graça que ficou do ano passado, afinal mais que efeitos de cri-

ses econômicas, o homem também sente os resultados do clima e continua a agonizar com eles.

É! Somos filhos do Brasil, aliás, do mundo. Em tempos de globalização não dá para dizer que se está por fora, com todos os processos de desenvolvimento parece que estamos nos tornado “O Homem Sem Som-bra” e deixando todas as nossas características negativas predominarem. Ainda pergunto-me se não estamos vi-vendo como no livro escrito por Aldous Huxley em 1931, “Admirável Mundo Novo”, numa sociedade inteiramente organizada, sob um sistema científico, em que não há vontade livre, pois estas foram abolidas pelos condicio-namentos; e a ambição pelo desenvolvimento que ser-viria para nossos avanços, é responsável pela sujeição admissível devido a porções regulares de felicidade que obteríamos com tradicionalismo e ideologias.

Sobre estes acontecimentos os ambientalistas já alertavam a sociedade para os efeitos desastrosos que o uso indiscriminado dos recursos naturais causaria ao planeta. Mas, “homens primatas”, nem nos tornando av-atares somos capazes de vencer a arrogância, pois com tantos efeitos ainda preferimos a “Guerra ao Terror”. E simplesmente estes avisos foram ignorados, embora a incorporação de alguns conceitos como desenvolvim-ento sustentável tenha ganhado relevância em muitos discursos desde 1992.

E, se guerra ao terror é ao terror que assola a hu-manidade, o aquecimento global, não podemos ol-har estes fenômenos de maneira isolada porque isso é desconsiderar o que vem ocorrendo com o clima nos últimos anos, cujas mudanças requerem de toda socie-dade novos hábitos, sendo papel também das empresas contribuírem para que tais hábitos sejam desenvolvidos.

As empresas podem ajudar a desenvolver estes hábitos através de uma política de responsabilidade so-cial que envolva seus diferentes públicos e, com adoção de programas que possam estimular novas atitudes am-bientalmente corretas e socialmente justas, contribuir com a pressão social aos líderes na solução dos prob-lemas. Estamos esperando “Um Sonho Possível”, quem sabe comece agora com as empresas, ou talvez com a COP 16, no México. Porque se ainda não começamos a guerra, o terror se mostra continuamente.

Filmes da Vida

CrônicaMaria do Socorro Costa

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Desenvolvimento Organizacional e

O desenvolvimento da organização e os conflitos com a cultura

Cultura eOrganização

Dafne Duarte

Victor Hugo Raposo

A realidade atual das orga-nizações necessita de uma percep-ção global e uma sensibilidade cul-tural cuidadosa, o que implica um conhecimento da sua própria cul-tura e do local em que está inserido. A relevância da cultura organizacio-nal e da região em que se encontra a organização estão presentes tam-bém na definição da sua missão e no estabelecimento dos seus objetivos, sendo base para os seus resultado.

Como exemplo de um plane-jamento equivocado das ações or-ganizacionais junto à cultura em que se inseriu, temos o do Centro de Lançamento de Alcântara - MA (CLA) que entre os anos de 1986 e 1987, foi instalado em regiões quilombolas

formadas por 31 povoados e consti-tuídas por 312 famílias, habitantes dessas terras há centenas de anos.

Essas comunidades são de grande importância histórica na-cional, devido a isso a Constituição Brasileira reconhece o direito dos seus territórios aos quilombos, pelos artigos 215 e 216 e pelo artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais, que hoje percebemos estar sendo deixado às margens deste delicado processo que deveria conciliar o de-senvolvimento da organização e a preservação da cultura de um povo, ou seja, dele próprio.

Após a instalação da Orga-nização nessa região, os moradores dessas comunidades negras rurais

tiveram de ser deslocados para sete agrovilas: Peru, Pepital, Cajueiro, Ponta Seca, Só Assim, Marudá e Es-pera. Essa desapropriação dificul-tou sua subsistência por não con-seguirem se adaptar a essa nova cultura imposta.

Essa nova cultura vivenciada por eles é constituída das limitações no que diz respeito à localização da região distante da costa marítima, aos impedimentos na prática da pesca, à falta de acesso à água, às condições impróprias do solo, à re-strição de expansão familiar e a im-possibilidade de acesso aos cemité-rios onde permanecem enterrados seus ancestrais, contrariando e prej-udicando seus aspectos familiares,

Cultura RegionalMeninas Quilombolas

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culturais, religiosos e econômicos, causando transtornos na vida dessas comunidades.

Diante desse polêmico cenário somado à ampliação do CLA que pode provocar a remoção de mais 1.500 moradores, estes mesmos se mobilizaram e iniciaram uma batalha judicial, defendendo os direitos dos quilombolas. Em 17 de agosto de 2001, foi apresentada uma petição à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) por representantes das comunidades de Iririzal, Ladeira, Santa Maria, Itapera, Canelatiua, Ma-muninha, Só Assim, Samucangaua, junto ao Centro dos Direitos Huma-nos, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maran-hão e outros. Tal petição objetivou denunciar as violações de direito à propriedade e à terra ocupada por essas comunidades, além de sua de-sestruturação sociocultural.

Os quilombos de Trajano, Peptal, Marudá e Peru entraram, na Justiça Federal em 2006, com a proposição de cinco Mandados de Segurança contra o diretor-geral do CLA, por impedir a realização das colheitas e roças pela comunidade. Nessa situação de reivindicação e conflitos, os quilombolas buscaram também a regularização e titulação do seu território. Em 2007, o INCRA

informou o cadastro de 3.187 famí-lias vivendo em 96 comunidades, localizadas em uma área de 85 mil hectares em Alcântara.

Segundo Rebelo (2007), “o co-ordenador-geral do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial (Mabe) – Inaldo Faustino Silva diz que o movimento não é contra o Centro de Alcântara, mas à forma como a instalação foi feita. Afirma ele que a metodologia usada deixou as comu-nidades isoladas, criando um cunho de resistência dos quilombolas”.

A relevância da expansão do CLA não é o que deve ser discu-tido, e sim estratégias para que a relação com a população remanes-cente de quilombos seja proveitosa para ambas as partes, que o cresci-mento socioeconômico não se re-duza apenas as elites. Isso poderia realizar-se por meio de alguns pro-jetos como, por exemplo, um apoio à formação acadêmica dos quilom-bolas, para que seu conhecimento científico pudesse ser aproveitado dentro do próprio centro; capaci-tação no campo audiovisual, para possibilitar o registro dos costumes e das tradições que só são conheci-dos por meio da memória oral; um projeto de agricultura familiar, com técnicas que pudessem melhorar as condições do solo. Vale destacar

que esta é uma das maiores reivindi-cações dos quilombolas. É evidente que o CLA, assim como outras orga-nizações, deve buscar estreitar seu relacionamento com a comunidade em que está inserida, e que seu de-senvolvimento se dê junto com o de-senvolvimento desta.

Considerando a situação citada acima e seus resultados re-sumidos, podemos afirmar que as organizações devem respeitar e considerar em sua vivência o espa-ço-cultural em que estão atuando ou pretendem atuar. Ou seja, deve existir uma preocupação direta, contínua e pró-ativa por parte das organizações, para estar em confor-midade com padrões legalmente constituídos e também, aceitos pela sociedade. As lógicas culturais re-gionais devem ser relevadas e inse-ridas nos processos decisórios das organizações. Nelas, a cultura deve ser firmada por meio do respeito às demais culturas, definindo seu regulamento sem ferir ou contrariar tradições locais.

Por isso é indispensável exam-inar e relevar os aspectos da cultura envolvida, aumentando as possibili-dades de aceitação e interação com o público local. A análise da diversi-dade e da identidade dentro do am-biente organizacional considera que conflitos culturais, entre pessoas de distintas culturas, podem trazer uma variedade de resultados negativos, que comprometem a sobrevivência da organização. Dessa forma é ne-cessário dar importância ao entendi-mento dos costumes e das culturas regionais permitindo à organização uma abordagem mais exata para a conquista de seu espaço no merca-do e na sociedade local.

Centro de Lançamento de Alcântara - MA

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A identidade cultural de um povo pode ser observada por meio de suas manifestações artísticas, tradições, saber popular e pela forma como seus indivíduos estão inseridos nesse contexto de demonstrações simbólicas, transformando-se, assim, em atores sociais.

Por ser um processo altamente dinâmico e em virtude de que tudo na sociedade atual passou do status nacionalista para o viés de um mundo globalizado, em que todos têm acesso a muitas informações em tempo recorde, a cultura muitas vezes é apreendida por meio dessa nova perspectiva globalizante, chegando ao ponto de o indivíduo absorver elementos e aspectos culturais de outras regiões, muitas vezes bem diferentes da sua e resignificá-los.

Dessa forma, preservar a identidade cultual em meio a essa nova conjuntura passa a ser motivo não mais de um legado

histórico, mas de sobrevivência para determinados povos, para que estes não percam as características que compõem sua identidade cultural e que não acabem por sofrer as influências das transformações atuais. Nesse contexto, o papel do profissional de Relações Públicas torna-se imprescindível.

Segundo Nussbaumer (1997), são quatro os elementos que compõem o sistema cultural: artistas, públicos, financiadores e mídia. Os profissionais de Relações Públicas estão inseridos no terceiro elemento - os financiadores - não como responsáveis pelo capital ali empregado, mas como responsáveis pelo equilíbrio entre todos os elementos que compõem esse sistema, pois não se pode concebê-los separadamente, sem o prejuízo para a formação cultural de uma sociedade.

O profissional de Relações Públicas, ao conhecer e respeitar a diversidade da sociedade na

qual a organização está inserida, possibilita a construção dos melhores canais de comunicação para a organização atingir os seus públicos, ou elementos do sistema cultural, segmentando-os a fim de conhecer suas reais necessidades para tornar a comunicação entre eles mais eficiente e eficaz, trará o diálogo, tão necessário para que não haja somente a difusão da cultura, de forma equivocada, mas uma compreensão dos papéis desses elementos dentro da sociedade.

Torna-se visível, portanto, que os aspectos que compõem a identidade cultural de uma sociedade passam não somente por sua existência e posterior difusão, mas pelo entendimento entre os elementos que configuram e tornam possível a existência dessa identidade. O RP, como mediador, tornará conhecidos e acessíveis, ao maior número de pessoas, todos os aspectos que configuram e tornam sempre viva a cultura de um povo.

Jean Jadson

Relações Públicas e Identidade Cultural

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22 RP alternativo | 1º Semestre de 2010

Um pouco da Jamaica na Atenas Brasileira

O reggae faz parte da cultura maranhense. Mas,

como sabemos, ele não sur-giu por aqui. Originário da Jamaica, o reggae saiu da “marginalidade” para as-

sumir um papel importante na identidade do Maranhão.

Este processo de transfor-mação cultural, assim como a maioria, se deu de forma lenta e parcial, mas depois de três décadas acabou se

consolidando. O reggae jamaicano tem sua “batida” marcada pela mesclagem cultural e estilística, já que ritmos africanos, europeus e indígenas se unem e formam um gênero suave e dançante. Com uma forte influência rastafári, o reggae retrata, em suas letras, uma imagem marcada por preconceitos e dificuldades impos-tas a um povo excluído por sua situ-ação econômica, racial e religiosa, o que influenciou na negação inicial do ritmo pela indústria cultural. Essa imagem começa a transformar-se a partir da década de 1970, quando o estilo difundiu-se pelo mundo por meio do trabalho de Bob Marley e Jimmy Cliff. Especialmente, no Ma-ranhão, o reggae entrou com maior força sendo incorporado, com o tempo, à cultura local.

Reggae

O processo de inclusão do reggae na cultura maranhenseRosemeri Barros Samira Nogueira

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Logo quando chegou, ao Maranhão, o ritmo foi visto como uma invasão cultural e passou a ser difundido “de baixo para cima”, per-correndo o caminho oposto àquele, geralmente, percorrido pelos produ-tos promovidos pelo sistema da indústria cultural. Nesse lugar ele permaneceu por, pelo menos uma década, devido a discursos naciona-listas. Isto resultou na apropriação do reggae pelas classes mais carentes do Estado, geralmente negros e po-bres. Aqueles que escutavam o novo ritmo eram seduzidos pelas batidas das músicas. O reggae ou o “regueiro” eram frequentementes associados à marginalidade, pois as notícias rela-cionadas com as festas, muitas vezes, eram sobre crimes e confusões no lo-cal. Na década de 80, os meios de difusão do reggae, como as radio-las, foram melhorando, e com isso se ampliavam o comércio de discos e as festas de reggae, que ganhavam cada vez mais admiradores. Assim, o ritmo foi se incorporando à cultura ludovicense como “fruto de rearticu-lação de matrizes históricas, que vão sendo adaptadas a novos contextos, novas influências culturais (...)” (LEME, 2003, p.47). A identificação cul-tural entre o Maranhão e a Jamaica começa a partir dos povos. Questões como raça, situações econômicas, classes oprimidas são um exemplo disso. Há também outro fator, de acordo com Carlos Benedito da Silva, autor do livro “Da terra das primav-eras à ilha do amor: reggae, lazer e identidade cultural”, “a identificação com o reggae em São Luís pode ser explicada pela familiaridade do ritmo com o merengue, bolero, forró e out-

ras manifestações culturais regionais como o tambor –de- crioula e o bum-ba- meu- boi” (2004). A partir daí, o regueiro ma-ranhense foi resignificando o ritmo original pelo que entendia, ou mel-hor, sentia. Sem saber compreender as letras das músicas cantadas em inglês e sem ter o conhecimento de como se dançava esse ritmo, os ouvintes eram guiados pela potên-cia do som das radiolas e dançavam agarradinhos, imitando o jeito de dançar do forró nordestino. Foi a partir da década de 80 que o reggae ganhou caráter midiático. Já difundido pelas radio-las, o ritmo adquiriu espaço no rádio e na televisão, com a criação de pro-gramas específicos sobre o assunto, tendo como mediadores os próprios DJs das festas que, além de dar as festas caráter artístico, assumiram o papel de comunicadores. Mas, foi na década de 90 que o reggae deu um grande salto. Com um público específico, o ritmo jamaicano conquistou novos adep-

tos: os universitários de classe mé-dia. Percebendo esse novo público intelectual, a mídia local ofereceu maior visibilidade ao ritmo, passou a publicizar com mais frequência o reggae como estilo musical e ex-pressão no Maranhão (FREIRE, 2008). Já, nos anos 2000, a mídia nacional e maranhense retratava o reggae como fenômeno cultural de grande importância no Maranhão. Essa é uma das características que identifica o Estado no âmbito nacio-nal e no mundo, tornando o reggae um dos principais atrativos turísticos do Maranhão, reforçado pela mídia. O reggae, que chegou timi-damente, agradou àqueles que eram pobres e deixados de lado pela sociedade. Com o seu cresci-mento e adesão de públicos diver-sificados, logo conquistou espaço na mídia. Sendo apropriado à Indús-tria Cultural e transformando-se em bem-de-consumo, o reggae saiu da periferia para virar atração turística, tornando-se parte da identidade cultural do Maranhão.

Casal dançao reggae de radiola

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Com a crise Européia, na época do período de transição, fez-se com que os países europeus procurassem o caminho para o “El dourado”, lançan-do-se ao mar a procura de novos horizontes e culturas onde deixaram plan-tadas raízes que predominam até hoje.

Portugal, com toda sua tropa, chega ao Brasil e, em 1534 divide o país em capitanias hereditárias, entre as quais se situava o Maranhão. Porém, a ocupação do Maranhão só se dá alguns anos mais tarde, com a invasão fran-cesa liderada por Daniel de La Touche, que funda a França Equinocial.

Embora na Batalha de Guaxenduba os Portugueses tenham derrotado os franceses, expulsando-os do maranhão, não pára por aí a tentativa des-sas potências de explorar o solo maranhense. A Holanda, que no século XVII tornou-se a maior potência comercial na Europa, com os engenhos de açú-car, dominou a capitania, fazendo com que os colonos começassem uma luta para expulsá-los.

Comida

Deniélida Moraes

Culinária Maranhense:

Um resgate na história

Deniélida Ribeiro

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Dentre os vários envolvim-entos de diversas culturas, a socie-dade maranhense herdou culinárias provindas da África, Europa e dos Nativos. E no mês de junho, a tem-porada de festejos para Santo Anto-nio, São João, São Pedro e São Mar-çal reúne milhares de pessoas nos arraiais para ver e acompanhar as danças tradicionais, além das sabo-rosas comidas típicas, vendidas em barracas de palha.

Com todo esse enriqueci-mento cultural, a culinária maran-hense passou a consumir farinha de puba e farinha d’água, alimento indígena que é obtido das raízes da mandioca o processo de pre-paração demora alguns dias, pois as raízes costumam ficar de molho por mais de quatro dias e depois amassadas manualmente e postas em uma espécie de espremedor de

palha trançada, usado para escorrer e secar a mandioca ralada, chamada tipiti, que em seguida é peneirada e então levadas ao forno em casas de farinha. De acordo com a região esta massa recebe nomes diferentes como: carimã, massa d’ água, massa de mandioca, massa de puba.

A culinária maranhense é conhecida também por suas ca-maroadas, tortas de camarão, tor-tas de caranguejo, peixes fritos, caranguejos, arroz de Maria Izabel, este último, consiste na mistura de arroz com carne-de-sol. Dentre os temperos destaca-se a pimenta-do-reino que pode ser misturada no co-zidão com quiabo, jerimum, batata-doce, macaxeira, mandioca e outros ingredientes da culinária africana e indígena.

Da diversificada culinária ma-ranhense pode-se destacar o Arroz-

de-Cuxá, que de acordo com o Guia da Cidade de Saõ Luis, é oriundo da cidade de São José de Ribamar, ten-do como base de preparação a vi-nagreira, o camarão seco, a farinha de mandioca seca e a pimenta de cheiro, ingredientes bastante en-contrados na região. Resultado das várias influências e colonizações, o cuxá é um prato que reflete hábi-tos das culinárias portuguesa e af-ricana.

Os doces oriundos da cu-linária portuguesa são muito apre-ciados, e entre eles temos: buriti, bacuri, murici, jaca, caju. Destaca-se também o pé-de-moleque, a co-cada, o quindim, os papos de anjo, a baba de moça entre outros. Além de cuscuz, bolo e mingau de milho, beiju de coco e alguns que ja não são tão consumidos entre os mara-nhenses.

TradcionalArroz de Cuxá

e Filé de Peixe

Variadas comidas típicas

Destaque camarão

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TradiçãoArquitetônica

Arquitetura

São Luis possui um dos maiores conjuntos de arquitetura civil de origem europeia no mundo e revela muita história em seus séculos de vida.

A arquitetura da cidade centra-se na morada urbana acompanhando o ritmo da paisagem urbanística, o que constitui expressão da produção maranhense. As moradas maranhenses típicas incluem a casa de sobrado e a casa térrea, implantadas em sua maioria nas formas de L ou U.

Na Praia Grande, destacam-se, por sua arquitetura antiga, o Cafua das Mercês, velho mercado de escravos e atual sede do Museu do Negro, e o Convento das Mercês, importante espaço cultural maranhense. Também se apresenta como importante exemplar da arquitetura regional, o Palácio dos Leões, prédio sede do governo do estado, localizado diante da Baía de São Marcos.

Na Rua Portugal, há um conjunto de sobrados azulejados que abrigam o Museu de Artes Visuais que apresenta diversos exemplares de azulejos de múltiplas nacionalidades.

A capital maranhense, São Luís, destaca-se como patrimônio

mundial ao reunir, nos séculos de vida, diferentes

experiências políticas, religiosas e urbanísticas. A cidade dos azulejos, como é conhecida,

teve sua fundação no dia 8 de setembro de 1612. Aqueles

que conhecem pessoalmente seus espaços arquitetônicos antigos, não podem negar a

perceptível essência misteriosa e os acontecimentos registrados e

guardados em suas estreitas ruas, praças e prédios históricos.

Dafne DuarteLarissa Régia

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As históricas igrejas da ilha, elementos de arte e arquitetura bem trabalhados e diversificados, não são suntuosas em demasia ou de grande porte, porém de sólida aparência, como a Igreja da Sé (uma das mais antigas da ilha) e seu Palácio Episcopal, o Convento e a Igreja de Nossa Senhora do Monte Carmelo (local da batalha entre holandeses e portugueses). A cidade possui algumas fontes da época colonial, como a Fonte das Pedras e a Fonte do Ribeirão, essa construída em 1796, em função da necessidade de saneamento e melhoria dos serviços de abastecimento de água para a população.

Em São Luís, a utilização dos azulejos se dá de uma maneira peculiar: diferentemente de Portugal – onde eram usados apenas como revestimento de

interiores – aqui, os azulejos são aplicados, a partir de 1978, nas fachadas dos prédios, de modo a protegê-las da degradação e da ação do tempo. Este novo uso teve repercussão em Lisboa e no Porto. Isso começou a ocorrer devido aos azulejos possuírem o poder de impermeabilização protegendo as paredes contra a degradação e as ações do tempo. Sobre isso, outra curiosidade é que a cidade possui o maior prédio de azulejos da América Latina, o Edifício São Luís, localizado na Praça do Largo do Carmo.

O “traçado regular” dos azulejos facilitou uma expansão homogênea e simples criando unidade nos conjuntos em blocos harmoniosos e compactos recobertos de painéis de azulejos de diferentes padrões. São 3.500 construções que ocupam uma

área de 250 hectares. Este acervo arquitetônico já havia sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1995. Dois anos mais tarde, em1997, a UNESCO concebe à cidade o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, reconhecendo-a como um dos maiores conjuntos de arquitetura civil de origem europeia no mundo.

O centro histórico da cidade de São Luís é um exemplo de cidade portuguesa, podendo ser associado ao planejamento urbano colonial espanhol. São reveladas características arquitetônicas tanto coloniais como neoclássicas. Ao longo de três séculos de história, nossa capital conserva, além do legado literário e humano, um conjunto de arquitetura ímpar e de extrema importância para a cultura do nosso país.

Crepúsculo Vespertino Rua Portugal

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28 RP alternativo | 1º Semestre de 2010

Apesar da midiatização das re-ligiões neo-pentecostais que por intermédio dos meios de comuni-cação disseminam uma imagem de heresia, com relação às religiões afro-brasileiras, estas conseguem resistir ao tempo e à luta histórica contra a marginalização do culto. Essa resistência tem ganhado força devido as pesquisas antropológicas e sociológicas desenvolvidas nesta área, que têm resultado na desmis-tificação dos cultos, geralmente as-sociados à bruxaria e à magia negra.Outro destaque no campo religioso são os festejos em homenagem aos santos católicos, como São Benedi-to, São Raimundo Nonato, São Se-bastião, Nossa Senhora do Rosário, São José de Ribamar. São realizadas procissões e romarias, em que o sa-grado e profano se encontram sem-pre ao som de uma radiola de reg-gae, sendo esta uma característica predominante nesses festejos. Manifestações, como o festejo de São José de Ribamar e espaços sa-grados, como a Casa das Minas, se sobressaem no turismo religioso, uma vez que grupos de dentro e fora do Estado se deslocam, para acompanhar esses rituais de fé e devoção.

Entre Kyron Soares

Victor Hugo Raposo

o sagrado e o profanoLocalizado entre a Amazônia e o Nordeste brasileiro, o Maranhão sofre influências dos cultos indígenas, afro-

brasileiros e cristãos, tendo destaque as religiões de origem afro-brasileira, visto que o Estado possui a terceira maior população negra do país. Só na capital, São Luís, existem

aproximadamente mil e duas casas de culto afro e nos municípios do continente, como Codó, Cururupu, Viana,

Penalva, Caxias, São Bento, Bacabal, esse número também é relevante.

Religiosidade

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Cidade Santuário

A história de São José de Ribamar se confunde com a história do santo; esse laço se inicia na fundação da cidade e se mantém até os dias atuais. Várias lendas são repassadas de geração a geração, como a da chegada de uma navegação de portugueses que, na iminência de um naufrágio, recorreram ao Santo, prometendo que fariam um altar na localidade onde aportassem, trazendo uma imagem do santo. O porto é a atual São José de Ribamar, e a imagem é a de um santo de botas, refererindo-se aos navegantes portugueses.

Outra lenda bastante mencionada diz respeito a construção da capela, que por várias vezes foi construída de frente para a entrada da cidade, mas sempre ruía; só quando foi feita de frente para a baía que leva o nome do santo, que se firmou e se mantém até hoje.

O festejo mesmo sendo feito a São José não é realizado no dia 19 de março, seguindo o calendário católico. No início do festejo ainda não existia a MA-201, estrada que une o município à capital, e devido à realização da romaria, necessitava-se de uma data que tivesse pouca ocorrência de chuvas e que tivesse no período da lua cheia, pois não existia energia elétrica de forma regular. Então se decidiu fazer no mês de setembro de acordo com a mudança de fases da lua, fato que se repete até os dias atuais.

Em 1998, foi construído o complexo de turismo religioso, com museu, concha acústica e uma imagem de São José de Ribamar, que só perde em tamanho para o Cristo Redentor (RJ) e Padre Cícero (CE). Nos dias em que ocorrem as comemorações em devoção ao santo, a rotina da cidade dormitório se transforma, e o costumeiro percurso a São Luis se inverte.

As Minas do Maranhão

Tradicional no Maranhão, a religião afro-brasileira destaca-se em meio à diversidade religiosa, em especial, pela existência da Casa das Minas fundada em 1840 por escravos procedentes do Daomé, atualmente República do Benim.

A Casa das Minas é um terreiro da nação mina-jeje¹ que apresenta um valioso patrimônio musical, coreográfico, psicológico, histórico e folclórico. É dirigida exclusivamente por mulheres, tendo em vista que são elas que recebem os voduns²; aos homens, é dada a função de tocar o tambor e auxiliar durante os rituais.

O culto aos voduns realizado na Casa das Minas é diferente do culto aos orixás do candomblé, evidenciado pela forma sutil de incorporação de voduns, e também pelo fato dos voduns conversarem com as pessoas no terreiro.

Em geral, as cerimônias iniciam-se com uma missa na igreja, podendo começar também com uma ladainha e com hinos aos santos, cantados diante de um altar católico encontrado nos terreiros. Muitas festas da igreja são mantidas pelas comunidades dos terreiros, pois, apesar de preservarem uma religião oriunda da África, as vodunsis da Casa das Minas consideram-se católicas e costumam frequentar missas, procissões, etc. Um exemplo disso é a Festa do Divino Espírito Santo, comemorada em quase todos

os terreiros de São Luís.Nesses últimos anos, a religião

afro-brasileira tem conseguido maior reconhecimento na esfera governamental e um exemplo desse reconhecimento é o tombamento da Casa das Minas pelo Governo Federal, por meio do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

É importante ressaltar que a Casa das Minas constitui um importante foco de resistência cultural negra do Brasil, portanto sua relevância não se restringe somente ao Estado do Maranhão, alcança também o país como um todo.E agora, com os incentivos do Estado e da mídia os valores culturais tradicionais negros vêm sendo reconhecidos como valores importantes na formação da sociedade brasileira e de seus costumes.

¹ Jeje: é o nome pelo qual ficaram conhecidos, no Brasil, os escravos procedentes da atual região do Benin.

²Voduns: é o termo genérico que identifica, na África e no Brasil, as divindades jejes. Seria o equiva-lente a orixá (divindades iorubás) e inquices (divindades banto).

RitualCasa das Minas

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30 RP alternativo | 1º Semestre de 2010

O início das manifestações do São João no Maranhão se caracteriza pela vinda dos grupos de boi do interior para se apresentarem em São Luís no mês de junho. As apresentações eram realizadas em um Campo Munici-pal, onde o público pagava para assisti-las. Em 1994, a Secretaria Estadual de Cultura criou o Centro de Cultura Popular com a função de dirigir as brinca-deiras, coordenar os grupos e auxiliá-los financeiramente. O Centro funcio-nava como mediador, solicitando ao Estado materiais para a confecção das roupas e caracterização dos bois, eliminando todo custo dos brincantes.

Devido ao aumento da quantidade de grupos que dependiam dessa ajuda para se enfeitar, o Estado passou a pagar pelas apresentações e criou os espaços “VIVAS”, que são arraiais localizados nos bairros mais habitados. Este fato contribuiu para o marketing do São João e para que as brincadei-ras não perecessem. Para ter controle, o Centro de Cultura Popular criou um cadastro para inscrição e registro jurídico dos grupos de boi, de forma a pleitear um espaço dentro da programação oficial do Estado durante o evento. Para oficializarem-se nessa programação, os grupos devem partici-

O São João é uma festa de herança portuguesa que une teatro, dança e folclore com uma mistura de cores. Todos

os anos, ela é aguardada ansiosamente pela população

maranhense. É a manifestação cultural que melhor nos

identifica. Um espaço de lazer com uma diversidade de grupos

que permanecem fincados às nossas raízes populares. Quem dita o ritmo são as matracas,

zabumbas e orquestras.

Karolline OliveiraTarcila Macieira

São João:Uma cultura popular

São João

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1º Semestre de 2010 | RP alternativo 31

par por pelo menos quatro anos do São João.

O evento conta com 19 espa-ços “VIVAS”, onde os mais freqüen-tados são Viva Vinhais, Viva Monte Castelo, Viva Liberdade, Viva João Paulo, Viva Ipase, Viva Cohajap, Viva Cidade Operária, Viva Bairro de Fátima, Viva Vila Embratel, Viva Renascença, Viva Anjo da Guarda, e espaços abertos, como: Praça da Saudade, Cohatrac, Praia Grande/Casa do Maranhão, Parque Junino Praia Grande da Solidariedade/Pra-ça Nauro Machado, Praia Grande/Canto da Cultura, Lagoa da Jan-sen e Ceprama. Há, também, festas particulares que se animam com as apresentações dos grupos de boi e danças juninas. As apresentações do São João contam com as apresenta-ções de 215 grupos de Bumba Meu Boi, 70 grupos de Tambor de Crioula, 75 Danças Portuguesas, 41 Cacuriás, 30 Grupos Mirins, 36 Danças de Boiadeiros e 11 Danças Alternativas, entre elas a Dança do Caroço, Dança do Coco, Dança de São Gonçalo e a tradicional Quadrilha.

Consagrado o mais expressivo entre todos, o Bumba-Boi mistura lendas indígenas, dança, música e uma caracterização bem colorida.

Conta a história de um casal de es-cravos, Pai Francisco e Mãe Catirina, que estava grávida com desejo de comer a língua de um boi. O marido mata o boi do seu patrão para sat-isfazer o desejo da sua mulher. Ao ter conhecimento disso, o patrão obriga Pai Francisco a trazer o boi de volta. Curandeiros e pajés são chamados para salvar Pai Francisco quando o boi ressuscita urrando, e todos comemoram o milagre com uma grande festa.

No calendário tradicional do mês de junho, na noite do dia 28, véspera de São Pedro, depois de animadas apresentações por toda a capital, todos os grupos de boi con-centram-se na Madre Deus, para ir à capela fazer orações, depois se apre-sentam por toda a madrugada, junto ao público brincante que se desloca para lá e os acompanha. No dia 30 de junho ocorre o tradicional encon-tro dos bois do sotaque de matraca no bairro do João Paulo. O encontro é em homenagem a São Marçal, o santo do dia, e começa pela manhã, tendo seu clímax à tarde, quando os grupos se concentram na antiga Avenida João Pessoa, rebatizada de São Marçal.

Apesar da diversidade de

brincadeiras e grupos que festejam nos arraiais do Maranhão, a matriz cultural não pode ausentar-se no processo da construção de valores e uma das estratégias para a conserva-ção das raízes culturais é a divulga-ção, no nível nacional, do São João. São campanhas publicitárias que noticiam os grupos tradicionais fo-mentadores da cultura maranhense, mostrando como influenciam nas relações socioculturais, como são formados e quem participa. Outra estratégia que atinge principal-mente o público local, é a organiza-ção de uma programação, em que a Secretaria de Cultura valoriza os grupos mais tradicionais e compro-metidos com o folclore, remanejan-do-os para o fim da noite, onde são esperados como atrações principais. Desde o ano passado, a Secretaria está realizando uma pesquisa para levantar dados e quantificar os gru-pos que constituem a cultura popu-lar e para analisar a estética destes.

No período junino, a comuni-cação poder ser vista sob o prisma da troca de informações, manifesta-ção das opiniões, ideias e atitudes da população. É um espaço cultural que forma relações sociais não es-pecializadas. Entretanto, produzem mensagens coletivas. A mídia criou o “clima de festa”, pois divulga e fo-menta-o.

O Estado e o aparato midiático são responsáveis pelo valor agrega-do ao conceito da festa. Estimulam sempre o público para que a econo-mia se desenvolva, pois envolve mil-hares de pessoas em torno de um fato comum gerando renda para o Maranhão. Atualmente, o São João é uma manifestação histórica de cunho popular que se define como um mostruário da riqueza cultural do Estado constituindo um meio de poder mercantil.

Convento das Mercês

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32 RP alternativo | 1º Semestre de 2010

“Foi uma das coisas da minha vida que aconteceu”. Ana Leila Melônio dos Santos, professora da Universidade Federal do Ma-ranhão - UFMA há 28 anos, referindo-se ao ingresso no curso de Comunicação Social da UFMA. Com descontração, ela fala que prestou vestibular para outra área, mas devido a alguns problemas teve que escol-her entre Jornalismo e Relações Públicas. Como resultado de um “cara ou coroa”, Ana Leila tornou-se relações públicas e, como ela afirma, se “deu bem”.

Com uma vasta experiência profis-sional no mercado, Ana Leila Melônio já atuou como instrutora de relações públicas e humanas do Sindicato das Empresas de Transportes Coletivos de São Luís, técnica em comunicação social, relações públicas, no Instituto de Pesquisas e Estudos Indus-triais – IPEI, na Fundação Instituto de Pes-quisas Econômicas - FIPES, no Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais – IPES e na Sec-retaria de Planejamento do Estado do Ma-ranhão e relações públicas e instrutora de

relações públicas e humanas do Hospital São Domingos.

Na academia, além do ensino, con-tribuiu com as atividades de Supervisão e Coordenação de Estágio Supervisionado, Coordenação do Curso e Chefia de Depar-tamento. Essas experiências dão suporte à avaliação que faz do curso de Comunica-ção Social da UFMA que, segundo ela, “É um curso que já passou por muitas dificul-dades, mas com a luta do seu corpo docen-te e discente, aliados com a administração superior, tem crescido e melhorado a cada dia”.

A professora Ana Leila denomina-se como uma profissional responsável e com-promissada, prova disso é seu empenho em aprimorar seus conhecimentos por meio do mestrado em Comunicação Social, na Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro. Esse empenho a caracteriza, também, como uma docente capacitada para estar à frente de futuros profissionais qualificados para o mercado, afinal é disso que ela gosta.

Mestre em Ciências da Comunica-ção pela Universidade de São Paulo-USP, Gisela Maria Santos Ferreira de Sousa, mais conhecida como Gisa, é, há quinze anos, professora do Departamento de Comuni-cação Social da UFMA.

Gisa sempre gostou de escrever e, por isso, sua vontade inicial era de cur-sar Jornalismo, mas acabou escolhendo Relações Públicas por já estar trabalhando na área. Já formada, em 1988, montou a Interpublic – agência de Relações Públi-cas – que teve uma curta existência. Em 1995, foi contratada para o Departamento de Comunicação Social, como professora substituta e, por já ter sido aprovada em concurso, foi posteriormente efetivada.

Como professora tem-se dedicado, principalmente à orientação de monogra-fia. Entretanto, ressalta que todas as ativi-dades desenvolvidas por um professor de-

vem ser consideradas importantes. Nessa perspectiva, uma das ações que considera mais interessante é a coordenação, junto com a professora Maria do Carmo, da Mostra de Produção Academico-científica, durante o XII Congresso Nacional Universi-tário, em 2002.

Ao referir-se ao Curso de Comuni-cação Social da UFMA, afirma que ele vive um momento de mudanças bastante in-teressantes, com um número crescente de professores com mestrado e doutorado e um quadro de novos professores, em sua maioria, egressos do próprio curso.

Tendo em vista sua trajetória acadêmica, Gisa é conhecida entre seus alunos como uma professora que se preo-cupa em aliar a teoria e a prática, promov-endo visitas e atividades extraclasses que possibilitam ao aluno vivenciar um pouco o mercado de trabalho.

RP POR SORTE, COMPROMISSADA POR ESCOLHA

BODAS DE CRISTAL: 15 ANOS DE COMPROMISSO

Ana Leila Melônio dos Santos

Gisela Maria Santos Ferreira de Sousa

Conhecendo o Mestre

Rosemeri Barros

Ana Leila Melônio dos Santos

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“Quando nascemos, fomos programados / A receber o que vocês / Nos empurraram com os enlatados / Dos U.S.A., de nove às seis”. Os versos iniciais de “Geração coca-cola”, da Banda Legião Urbana estabelecem uma importante reflexão. Os meios de comunicação de massa exercem uma grande influência sobre o comportamento social, mesmo que de modo subliminar. Em meio à consolidação da sociedade capitalista, percebemos que a “opinião pública” passa a ser moldada pelos discursos dominantes e pela imposição de padrões culturais. Uma preocupação que permeou os estudos da Escola de Frankfurt, grupo de filósofos e pensadores que se reuniu em torno do Instituto de Pesquisa Social, fundando em 1920 na Alemanha.

Em 1947, Adorno e Horkheimer lançaram a obra “Dialética do Esclarecimento” e apresentaram ao mundo o conceito de indústria cultural, que designa a produção de produtos culturais com o intuito de adaptar e integrar seus consumidores ao funcionamento da ordem social vigente. Nesse sentido, os pensadores frankfurtianos preconizam a “coisificação” do ser humano, a fim de atender a lógica do sistema. Assim, as obras de arte perdem o seu caráter contestador e durante sua produção, os “artistas” já visam o lucro e comercialização de seus produtos.

Com o advento da tecnologia, tornou-se possível produzir em larga escala qualquer objeto cultural: livros, quadros, músicas, entre outros. A reprodutibilidade técnica levou as obras de arte a perderem sua aura e a um processo de homogeneização do ser humano. A indústria cultural acaba vendo no indivíduo apenas um instrumento integrante da estrutura de consumo, não apenas pelo viés material, mas, sobretudo, simbólico, como demonstra a passagem do livro “Dialética do Esclarecimento” (1947, p. 102): “reduzidos a simples material estatístico, os consumidores são distribuídos nos mapas dos institutos de pesquisa”.

Seja no cinema, na música, na literatura ou na moda, é visível um processo que anula as diferenças entre os indivíduos e os induz a desenvolver os mesmos gostos e desejos. Dessa forma, criam-se mentalidades acríticas,

que não conseguem refletir sobre suas escolhas e estão inseridas numa falsa ideia de liberdade, em que as necessidades são estimuladas pela mídia.

“Moldada para agradar aos padrões da massa consumidora, a cultura produzida pela indústria cultural rebaixaria o nível dos produtos artísticos, que também estariam carregados da ideologia dominante, a qual disseminariam, provocando o conformismo nos indivíduos. Para Adorno e Horkheimer, o cinema, o rádio e a imprensa substituiriam, na sociedade industrial, a religião em seu papel de ópio do povo.” (SANTOS, 2003, p. 89),

Há críticas quanto ao posicionamento dos frankfurtianos, que veem em suas ideias um profundo elitismo, já que a reprodutibilidade técnica permitiu um acesso maior às obras de arte, antes restritas às classes economicamente favorecidas, como demonstra a visão de Martellart, na obra “História das teorias da comunicação”: “Na verdade, não é difícil perceber em seu texto o eco de um vigoroso protesto erudito contra a intrusão da técnica no mundo da cultura”. Contudo, faz-se necessário perceber que o consumo de bens culturais não significa, necessariamente, democratização da cultura.

A partir do legado de Adorno e Horkheimer, é necessário perceber as estratégias que a mídia utiliza para estabelecer um discurso hegemônico, pautado em acordos entre entidades comunicacionais e empresas culturais. Ditando paradigmas de consumo e comportamento, os meios de comunicação de massa se utilizam do seu poder de persuasão, para impor suas visões de mundo ao público.

A atualidade do conceito de indústria cultural nos impele a um repensar no papel da comunicação. Enquanto agentes de mediação na sociedade, os comunicólogos devem difundir um discurso crítico, promovendo a formação de indivíduos autônomos e inteligentes. A mídia deve exercer sua função emancipatória, contribuindo para o desenvolvimento de uma nova sociedade, calcada em valores éticos e não apenas no consumismo.

Transformando indivíduos em consumidores

Concurso

Maycon Rangel Abreu FerreiraEstudante de Jornalismo, 5º período, UFMA

Vencedor do Concurso de Artigos da RP alternativo

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34 RP alternativo | 1º Semestre de 2010

PesquisaMarcelo Oliveira

Nivea Patrice

Os Autos de Natal são autos medievais embasados nos textos bí-blicos que narram desde o nascimento de Jesus até o momento em que Ele é adorado pelos reis magos; as encenações acontecem a partir da junção de manifestações artísticas de dança, teatro e canto. Em geral, são realizadas no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro.

A manifestação chegou ao Brasil juntamente com os jesuítas, que a utilizavam como uma forma didática para realizar a catequese e a evangelização dos indígenas. No Maranhão, os Autos de Natal foram introduzidos a partir da chegada dos casais de açorianos no século XVII. Com o passar do tempo, as apresentações deixaram de ser prioritari-amente religiosas, adquirindo características profanas e, inclusive, inte-grando o cenário folclórico brasileiro.

No Maranhão, apesar dos Autos de Natal ainda preservarem uma característica devocional relevante, a manifestação não só abriga os personagens bíblicos, mas também abriu espaço dentro do enredo para personagens profanos como a ceifeira, a pastora perdida, a ser-taneja, a florista, entre outros. As apresentações englobam uma riqueza simbólica cultural admirável, no entanto os poucos grupos que ainda existem em São Luís e no interior do estado vêm sofrendo, desde a década de 60, um processo acelerado de descaracterização e extinção. São raras as pessoas ainda vivas e que detêm este tipo de saber e, em virtude da falta de incentivo e divulgação, não há interesse das novas gerações em continuar a produzir a manifestação.

Foi considerando a antiguidade e importância desse bem cultural como parte do patrimônio imaterial maranhense que o grupo Pesqui-

Patrimônio Imaterial,

em focoTambor de Crioula

e Bumba-meu-boi são manifestações maranhenses dos quais, certamente, você

já participou, presenciou ou, no mínimo, ouviu falar. No entanto, no Maranhão,

a exemplo do que acontece em âmbito nacional, há

muitas outras manifestações culturais que não recebem do governo nem dos meios

de comunicação de massa o merecido apoio, incentivo e reconhecimento. Por conta

disso, há uma gama de manifestações culturais que são pouco conhecidas pela maior parte da sociedade,

situação que viabiliza o esquecimento e a extinção

de culturas há muito existentes no Maranhão,

como é o caso dos Autos ou Folguedos Natalinos.

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1º Semestre de 2010 | RP alternativo 35

sas Estratégicas em Comunicação da Universidade Federal do Maranhão empreendeu esforços para realizar uma pesquisa etnometodológica, de caráter científico, a fim de levan-tar informações que serão utiliza-das com a intenção de preservar e propagar esse tipo de manifestação. A professora Ester Marques, mestra em Comunicação e Cultura, é a re-sponsável técnica pelo projeto de pesquisa que se desenvolve tam-bém em conjunto com o Departa-mento de Letras e principalmente, com o trabalho de estudantes do Curso de Comunicação Social.

Contrariando a regra geral de desunião entre as habilitações do Curso de Comunicação Social, a pesquisa está sendo desenvolvida a partir da união de conhecimen-tos e esforços de alunos habilitados em jornalismo, rádio/TV e relações públicas, parceria essa que reafirma a importância de se trabalhar a co-municação de maneira integrada, e que vem mostrando-se eficaz no trabalho de resgate de uma mani-festação cultural ameaçada de ex-tinção.

Durante o primeiro trabalho efetivo em campo, o grupo percor-reu várias cidades no Maranhão acompanhando todo o processo de produção dos Autos, as caracter-ísticas e analisando cada contexto antes, durante e depois das encena-ções. Os relações públicas, além de também fotografarem e realizarem entrevistas, foram os responsáveis por confeccionar o diário de bordo, registrando, dessa forma, cada mo-mento, cenário, reações e fatos sig-nificantes para um melhor entendi-mento do contexto pesquisado e da própria reação dos pesquisadores frente ao objeto.

Após a pesquisa de campo, todos os dados foram agrupados a fim de que os relações públicas fa-

çam a tabulação e a interpretação dos dados. Esse trabalho vem se de-senvolvendo a partir de uma ótica não apenas quantitativa, mas, prin-cipalmente, qualitativa, por meio da análise dos questionamentos aplica-dos aos entrevistados e, também, a partir dos relatórios elaborados por cada pesquisador. A interpretação precisa, minuciosa e holística das informações coletadas é condição sem a qual não é viável um diag-nóstico que projete o cenário em que se procedem os Autos de Na-tal. A interpretação correta dos da-dos é proficiente porque é o seu resultado que norteará as melhores ações a serem realizadas pelo gru-po, pois é de acordo com a análise do cenário projetado que o grupo terá condições de perceber todas as necessidades a serem supridas para que a intenção de resgatar e tentar preservar dessa manifestação cul-tural seja alcançada.

A pesquisa, embora ainda esteja em seu início, apresenta-se promissora e tem-se constituído um espaço de troca de conhecimentos entre as habilitações do Curso de Co-municação Social, fato que legitima a imprescindibilidade das diferentes formas de comunicação preserva-rem um diálogo contínuo e livre de estereótipos que há muito estão en-raizados na cultura de grande parte dos estudantes de comunicação, e que, infelizmente, ainda é susten-tada por muitos professores e pro-fissionais da área. Contudo, focando no objetivo na pesquisa, os estu-dantes do grupo têm presenciado e reconhecido o valor da função de cada habilitação na tarefa árdua, porém muito prazerosa, de tentar preservar os Autos de Natal, e, con-sequentemente, evitar que parte da memória que compõe a história maranhense se perca ao longo dos tempos.

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36 RP alternativo | 1º Semestre de 2010

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Acompanhando o processo de expansão do capital interna-cional, os primeiros clubes de futebol surgiram no início do século XX, numa época profundamente marcada pela presença de imigran-tes europeus. Esses imigrantes contribuíram para inserção da práti-ca futebolística no país. Foram importantes para criação de times, popularizaram mais o esporte e o futebol era visto como parte da modernização que ocorria, sendo adotado, inclusive, pela alta socie-dade. Mas o Brasil só solidificou mesmo sua relação com o futebol em meados das décadas de 1930 e 1940, quando houve as primei-ras copas. O Brasil passava por transformações fundamentais com a instauração do “Estado Novo”, que buscava a formação de uma nova identidade nacional.

O futebol, já configurando um fenômeno de massa, foi in-scrito nesse processo como um componente disciplinador da socie-dade utilizado pelos governantes. Segundo Ribeiro 1 (2003), o Gov-erno acreditava na profissionalização dos praticantes para criar uma identidade forte. Assim, motivado pela remuneração, o esporte se tornou mais praticado, principalmente pelos pobres e negros.

Em 1958, conquistando a primeira copa, o futebol brasileiro era marcado pela individualidade e pela representação dos verda-deiros tipos do Brasil, como o bom exemplo de Pelé e Garrincha, que conquistaram as copa de 1958 e 1962, um negro e outro de origem indígena. A copa de 1970 que tornou a seleção brasileira em tri-campeã mundial consagrou-a, também, como a melhor do mundo. Um país tão sofrido e sob a ditadura militar, se tornara o melhor do

FutebolFormando a

Identidade do Brasileiro

Tendo seu primeiro contato oficial com o

futebol através do inglês Charles Miller, em 1894, o Brasil foi apresentado

ao esporte que se tor-nou o sucesso nacional.

O Inglês precursor do futebol no país era na

verdade um marinheiro que desatracou no Rio de Janeiro, e organizou uma

exibição, exatamente em frente ao palácio da princesa Isabel. Jamais

se poderia imaginar que este se tornaria o tão aclamado esporte das

multidões, um elemento cultural que abrange cada canto do Brasil.

Essa paixão alcança seu clímax na maior mani-

festação futebolística, a copa do mundo.

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Futebol

Renato Feitosa

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mundo numa área expressiva, sen-do a copa um evento esportivo tão popular. Assim, o futebol brasileiro diferenciou-se por todos e ficou con-hecido como “futebol arte”. Passou-se vinte e quatro anos desde a copa de 1970 para a seleção conquistar seu quarto e quinto título, em 1994 e 2002, se consagrando a maior campeã de todas.

Nestes anos – e até hoje – os meios de comunicação tiveram grande representatividade para a produção e difusão do futebol. Eles contribuíram para a formação dessa cultura. Representou um marco a primeira transmissão via rádio em rede nacional do mundial de 1938, por Leonardo Gagliano, da Rádio Clube do Brasil do Rio de Janeiro. A televisão teve papel importante a partir de 1970, pois antes só era feita a transmissão através do rádio, ou de filmes e vídeo - tapes. Em 1970 os jogos foram exibidos ao vivo e em 1974 já era possível assisti-los em cores. Épocas, como agora em junho, nas quais a compra de televi-sores costuma aumentar, junto com a paixão verde amarela. Os cronistas esportivos tiveram também grande participação nos jornais, nas rádios e TV, onde foram responsáveis por criar expressões famosas que retrat-avam a cultura, além de construir suas próprias interpretações do futebol. Surgiram famosos cronistas

que se destacaram, incluindo Nel-son Rodrigues, Armando Nogueira (falecido em março de 2010) e João Saldanha.

Este ano, para acompanhar os jogos, a tecnologia dos meios de comunicação está mais avançada, tornando o esporte o mais famoso do mundo. Nesta Copa de 2010, que começa em 11 de junho, conta-se com a tecnologia 3D para fascinar os telespectadores e alcançar a atenção de mais pessoas. Para 2014, no Bra-sil, a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) pretende desenvolver áreas como convergência digital, tecnologias da comunicação e da informação, redes sociais e a diversi-dade cultural.

Durante a copa do mundo, todo o Brasil cultiva ainda mais o pa-triotismo, o amor ao país, à bandeira e às cores verde e amarela. Os senti-mentos acontecem de forma intensa como os de amor, alegria e decep-ção. As grandes empresas sabem ex-plorar esse conjunto de sentimentos das pessoas, com esforços na área de comunicação. Agora, em 2010, a Brahma conseguiu o contrato de pa-trocinadora do evento, se tornando a primeira empresa brasileira a ter essa oportunidade. Para envolver os consumidores de seus produtos com o evento esportivo, a empresa criou uma propaganda institucio-nal, de nome “Brasil versus Resto do

Mundo”, estrelado pelo atacante Luís Fabiano, mostrando a força de uma seleção guerreira. Já o portal da Ter-ra fechou contratos milionários com alguns anunciantes, a AMBEV, Fiat, Itaú, Sadia, Telefônica e Unilever. O presidente de publicidade da Terra Brasil declarou: “Acredito que a Copa será boa em termos de audiência e faturamento. Teremos crescimento de 100% no faturamento. Isso se deve à maturidade da internet junto às agências e aos anunciantes”.

O Brasil é a única seleção que já participou de todas as copas, e por esse motivo a sua comemora-ção já é consagrada. Já se considera o evento algo como o São João ou o Carnaval, em que todos esperam a chegada da data. Nesse período é comum as pessoas se vestirem de verde amarelo, as cidades pararem para acompanhar os jogos (como os bancos e as lojas), as pessoas se pintam e as ruas são enfeitadas com bandeirinhas, revelando a unidade nacional. Vivemos um momento de expectativa. Mesmo quem não gos-ta de futebol se sente na obrigação de acompanhar este grande evento, pois, como ser indiferente em um as-sunto que junta toda uma nação?

1 http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires

- Ano 8 - N° 56 – Janeiro de 2003

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38 RP alternativo | 1º Semestre de 2010

PolíticaNivea Patrice

Infindáveis discussões e debates têm sido empreendidos rumo à tentativa de conceituar cultura; sociólogos, antropólogos e pensadores das mais diversas vertentes têm sugerido definições para o termo. Destarte, para além de uma definição consensual do que vem a ser cultura, temos unanimidade que a mesma caracteriza-se como riqueza de grande valor seja no que diz respeito à reafirmação/construção da identidade nacional, seja como estímulo à formação de um ser humano intelectualmente mais crítico e reflexivo quanto ao seu posicionamento em sociedade. Portanto, trabalhar estrategicamente a cultura é condição sine qua non para o desenvolvimento nacional, razão porque o artigo 215 da Carta Magna brasileira dispõe que “O Estado garantirá a

todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a

valorização e a difusão das manifestações culturais”. Assim, pode-se observar que promover a igualdade da produção e fruição cultural é dever do Estado e direito do Povo. No sentido de garantir que tais direitos sejam alcançados por todos, foi proposta, em 2005, a Emenda Constitucional nº 48 que estabeleceu a criação do Plano Nacional de Cultura, plano esse que deve abranger estratégias e diretrizes para a execução de políticas públicas dedicadas à cultura.

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1º Semestre de 2010 | RP alternativo 39

Em observância ao parágrafo 3º do artigo supra, o plano, além de objetivar o desenvolvimento cultural do país, também deverá visar a integração das ações do poder público de modo que estas sejam conduzidas rumo à Defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; Produção, promoção e difusão de bens culturais; Formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; Democratização do acesso aos bens de cultura e à Valorização da diversidade étnica e regional. Segundo o Ministério da Cultura, o PNC fomentará o acordo entre diferentes setores de interesse, de modo a definir um referencial de compartilhamento de recursos garantindo, desse modo, “plena oferta e igualdade de condições para a expressão e fruição cultural por parte dos brasileiros”.

Assim, a criação do primeiro Plano Nacional de Cultura da história democrática brasileira teve seu início efetivo a partir da Conferência Nacional de Cultura, ocorrida em 2005, oportunidade

em que foram extraídas as bases para o planejamento e a organização do plano que deverá ter a duração de 10 anos, sendo revisado a cada 4anos. Conforme o Ministério da Cultura o Plano é resultado de discussões públicas entre o Estado e a sociedade a partir de pesquisas, debattes, ouvidoria virtual e encontros participativos como as câmaras setoriais, fóruns e seminários estaduais. Esses últimos ocorreram em todas as capitais brasileiras e tiveram o intuito de aperfeiçoar o texto do projeto de lei do PNC a partir do debate de propostas. Em São Luís, o seminário aconteceu em julho de 2008 e contou com a colaboração de gestores culturais da área governamental, iniciativa privada, sociedade civil e militantes da área cultural. Elizandra Rocha, atriz e gestora cultural maranhense, foi a responsável pela coordenação do evento no Maranhão e representou o nosso estado na Conferência Nacional. Segundo ela, o Maranhão desde 2007 já dispunha de um Plano de Cultura com duração até 2010, vale

ressaltar que o plano já estava previsto na Constituição

Estadual; dessa forma, a experiência maranhense consubstanciou a formulação do Plano Nacional.

Com a realização de seminários, em 2007, discussões e debates em 2008, e a apresentação do resultado dessas discussões, em 2009, deu-se continuidade à elaboração e construção do Plano, de forma que o texto do Projeto de Lei 6.835/2006 que trata do PNC foi aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados no dia 16 de março deste ano e a posteriori deverá seguir para ser apreciado pelo Senado Federal. Segundo o relator do texto, Deputado Emiliano José (PT-BA), por meio do Plano, a política cultural ganhará corpo e financiamento efetivos, e faz-se

Gráfico do processo de criação do Plano Nacional de Cultura

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Etapas da formulação do Plano Nacional de

Cultra

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40 RP alternativo | 1º Semestre de 2010

em 140

caracTeres

ganho para produtores, criadores e sociedade em geral. Assim que o Plano entrar em vigor, os estados e os municípios terão que elaborar seus planos locais, obviamente, em harmonia com o Plano Nacional.

Se formos contemplados pelo Plano, entre outras benesses, seguiremos um caminho na tentativa de fortalecimento da identidade nacional, pois, considerando as implicações inerentes à modernidade, conforme nos descreve Stuart Hall, a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, contudo, as identidades tornam-se desvinculadas-desalojadas e parecem flutuar livremente [grifo nosso], tal ponto

de vista é consubstanciado por Karl Marx quando afirma que na condição moderna “tudo que é sólido desmancha-se no ar”. Dessa forma, podtemos conjecturar o esfacelamento das identidades culturais nacionais e é, nesse sentido, que o PNC, ao apoiar o resgate e o fortalecimento nacional cultural integrado, poderá também funcionar como tentativa de amenização dos efeitos e do enfraquecimento da identidade cultural nacional frente ao contexto global, identidade essa que se mantém precisamente pela preservação da diversidade.

Para o alcance de tal objetivo, necessitamos de conhecimento, profissionais e ferramentas comunicacionais que possam contribuir, de forma conjunta, para processo de construção/reafirmação da identidade cultural brasileira

caracterizada pela diversidade, pois os Meios de Comunicação de Massa, como principais disseminadores da produção cultural, devem priorizar em suas programações os contextos culturais locais em detrimento de uma atenção dada quase que exclusivamente às culturas do sul e sudeste do país. A preservação da diversidade étnica regional atende ao inciso V, parágrafo 3º do artigo 215. Em verdade, a aprovação do Projeto de Lei é um ato louvável, contudo, para além da aprovação do Plano, devemos atentar para sua efetivação, de acordo com os moldes constitucionais. Essa proposta se apresenta um tanto utópica e, por isso mesmo, carece de acompanhamento constante por parte da sociedade, sob pena de deixarmos solapar mais um direito constitucionalmente assegurado.

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A cultura de massa era vista, no início dos estudos de comunicação, como a cultura uniformizada produzida a partir dos processos de recepção, o que representou o enfraquecimento das barreiras entre aquilo que era con-siderado erudito e aquilo que era percebido como popular. A massificação da obra de arte fez com que ela se tornasse parte da cultura, não de poucos, mas de uma coletividade. Da mesma forma, a própria cultura de massa serviu de in-spiração para a criação artística, como é o caso do Pop Art, movimento pós-guerra que tem como principais repre-sentantes, Andy Warhol e Roy Lichtenstein.

No entanto, diferentemente do que é tratado nos primeiros estudos sobre a comunicação de massa, o papel do receptor como um agente passivo, que somente ab-sorve informações e responde a estímulos, não correspon-de à realidade em que estamos inseridos. Os indivíduos da atualidade sentem-se, cada vez mais, na posição de se fazerem ouvidos. As redes sociais têm assumido um papel importante nesse aspecto. Deste modo, é perceptível que

As redes de interação social se tornaram um dos grandes

atrativos da Internet. O Twitter, uma nova mídia que consiste

na troca de comentários de até 140 caracteres, em pouquíssimo

tempo explodiu como um dos sites de relacionamento de maior

sucesso do meio digital. Criado em 2006, o micro-blog atingiu a

marca espantosa de 32 milhões de usuários em todo o mundo.

Para entender a razão de tamanho crescimento desse espaço de discussão online,

é preciso analisá-lo como um novo modo de difusão e

retroalimentação de uma cultura de massa.

Organizacional

Internet

Murilo AzevedoThais Cristina

em 140

caracTeres

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42 RP alternativo | 1º Semestre de 2010

os indivíduos, mesmo que ora in-seridos em um contexto de massa, também apresentam momentos de criticidade que os caracterizam como públicos.

Isso explica ainda o porquê de cada vez mais as redes de inter-ação social servirem de plataforma para a atuação de grandes e peque-nas empresas, que as utilizam para fins que vão desde os publicitários até a execução de estratégias de-senvolvidas para estreitar relações com seus públicos de interesse. “A rede mundial está se tornando fun-damental aos planos de relações públicas de grande parcela das companhias [...] A própria natureza da rede mundial oferece caracter-ísticas que favorecem o trabalho de relações públicas. A comunica-ção deixou de ser um monólogo para ser um diálogo.” (PINHO, 2003, p. 17).

Um exemplo a ser observado é a Dell, empresa que produz ma-teriais de informática. Por meio do Twitter, a empresa realizou modifi-

cações em alguns modelos de seus computadores. Os usuários do modelo Dell Mini 9 faziam reclama-ções à empresa e alegavam que a tecla apóstrofo estava muito próx-ima à tecla Enter. Em função disto, o Dell Mini 10, modelo seguinte da série, já foi lançado com as devi-das modificações. Seguindo esse exemplo, outras empresas, como a Starbucks, cafeteria internacio-nal, aderiram ao Twitter como uma “caixa de sugestões”, onde as opin-iões são absorvidas em tempo real e a empresa pode agir com maior velocidade. Em alguns casos, as empresas têm direcionado fun-cionários apenas para a administ-ração e o monitoramento das mí-dias sociais digitais.

Para que essa ferramenta seja utilizada na comunicação organiza-cional, é importante lembrar que o Twitter não deve ser visto como o derradeiro meio de comunicação, muito menos como algo aplicável aos planos de comunicação de to-das as empresas. Deve ser feito um

plano estratégico de comunicação integrada e, de acordo com esse plano, o Twitter poderá ou não ser indicado para uma determinada campanha, marca, produto ou empresa. Entre as empresas locais que estão presentes no site, estão a TVN, o Mandamentos Bar, a Elle Jolie e a Universidade FM.

A Relações Públicas da Rá-dio Universidade FM, Amarílis Car-doso, comenta: “O Twitter da Rádio é mais uma ferramenta para nos comunicarmos com nosso público, mais um espaço para divulgarmos as ações da emissora e, pela veloci-dade com que a troca de informa-ções ocorre, o consideramos hoje como uma ação estratégica na nos-sa política de comunicação.” E con-clui: “Outro ponto a ser frisado é a grande quantidade de estudantes e profissionais de comunicação no Twitter. Existem, ainda, blogs excelentes tratando de Relações Públicas. Não posso deixar de citar o fato de a Aberje e o Conferp esta-rem na rede.”

Em 29 de março de 2010, a Visa, adminis-tradora de cartões de crédito, iniciou uma

promoção em conjunto com o Wall Mart. Um desconto deveria ser solicitado por 5

mil usuários com a tag #JuntosPeloDescon-toVisa. A meta foi alcançada e o jogo “Gui-

tar Hero 5” para Playstation 3 (incluindo guitarra) teve um desconto de R$ 200,00

na compra. Porém a promoção só durou 35 minutos, pois o estoque do produto havia

acabado. A falta do game gerou uma grande insatisfação e os usuários alegaram falta de planejamento na execução da promoção. O

erro causou uma revolta entre os usuários do site de relacionamento da empresa, e estes criaram diversos tags contra ela; os

tags se propagaram ainda mais e atingiram outras mídias sociais, gerando grande trans-

torno à empresa.

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1º Semestre de 2010 | RP alternativo 43

A Tecnisa Construtora é uma incorporadora no segmento de construção residencial no Brasil. Seu perfil no Twitter foi criado em 20 de fevereiro de 2008, com o intuito de ser mais uma ferramen-ta na estratégia para a Internet, assim como divulgar lançamentos, posts no blog corporativo, modi-ficações no site e na empresa. A Tecnisa lançou uma promoção para os usuários da rede social em abril de 2009, oferecendo um vale compras de R$ 2.000,00. A partir dessa ação, o número de follow-ers da empresa aumentou consid-eravelmente e foram geradas 3 negociações efetivas. O seguidor Roberto N. foi o primeiro a com-prar um imóvel por meio de uma ação no Twitter.

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Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, professor do Departamento de Comunicação Social da UFMA e coordenador do Núcleo de Estudos em Estratégias de Comunicação (NEEC). Francisco Gonçalves da Conceição apresenta-nos como resultado de pesquisa desenvolvida em seu curso de doutorado (2001-2005), sob orientação do professor Milton José Pinto, o livro “O Dissídio das Vozes”.

Com base em autores como Bourdieu, Fairclough, Hanna Arendt e Milton Pinto, o livro oferece um estudo sobre os processos de racionalização das práticas discursivas e a regulação de espaços públicos na sociedade brasileira, nos jornais Folha de São Paulo, O Globo e Estado de São Paulo, por meio de seus respectivos manuais de redação e estilo.

Pressupondo os jornais como elemento de um sistema que fabrica, transforma e reestrutura ele mesmo e os espaços públicos, o autor faz uma análise da mediatização dos jornais, da profissionalização das fontes e da variação dos leitores, estando aí o primeiro nível de problematização e o assunto abordado no primeiro capítulo.

O segundo capítulo segue essa linha, e o autor estuda as relações entre o pensamento estratégico da produção dos manuais e o lugar de interlocução dos jornais na sociedade. É nesse espaço que se estabelece

a interlocução que depende das estratégias utilizadas pelos manuais, ou seja, “a racionalização das práticas discursivas dos jornais está subordinada à disputa de posição dos jornais no mercado das notícias e na sociedade brasileira”(GONÇALVES, p. 21).

O enfoque na maneira de nomear e classificar o outro, bem como na de selecionar e dispor a informação faz parte do percurso que segue o autor, no capítulo A FALA DO OUTRO, quando trata de sua terceira e última questão: as relações discursivas e a produção do (re)conhecimento, tomando como pressuposto a idéia de que a ciência, a fé e as identidades são produzidas na relação entre interlocutores.

Como afirma o autor, o pressuposto fundamental deste livro é “que os manuais são, assim e simultaneamente, produtos e instrumentos das políticas discursivas das instituições jornalísticas, que subordinam a ação dos profissionais à disputa de um determinado lugar de interlocução no mercado e na sociedade. Os manuais são um sofisticado instrumental de legitimação de um campo intelectual, responsável pela produção e disseminação de informações em larga escala, e portanto com alta capacidade de influenciar o tecido social.”(p.14)

Rosemeri Barros

Livros

O DissíDiO Das vOzes: a pOlítica DOs jOrnais segunDO Os manuais De reDaçãO FOlha, estaDO e glObO.

EDUFMA184p.

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1º Semestre de 2010 | RP alternativo 45

O professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão, Silvano Alves Bezerra da Silva, lançou no dia 27 de maio o seu terceiro livro, Estética utilitária: interação através da experiência sensível com a publicidade. A obra traz uma análise dos efeitos estéticos nos anúncios publicitários. Entre outras questões, evidencia-se a interação do sensível na publicidade.

O trabalho está estruturado em três capítulos. O primeiro, núcleo conceitual, mostra as diferentes referências teóricas do estudo, além de já assinalar o início das proposições sustentadoras do conceito da estética utilitária. Nesse capítulo, em que o fenômeno estético é estudado em suas características e extensão ilimitada no sentido de ampla atuação, são enfocadas, a fusão e a difusibilidade e a experiência estética.

No segundo capítulo, proposicional, o objeto da reflexão do autor é a estética utilitária. Nele, o autor explica ser o fenômeno estético aplicado a criação de anúncios publicitários com o intuito da venda ou lucro. Apesar de a obra fazer referência ao campo da publicidade, Silvano Bezerra indica que a presença do sensível com o intuito de gerar um estado favorável para alguém ou para algo é o que constitui a estética utilitária. Na publicidade é que encontramos este objetivo mais explícito, a arte é pensada. Há subordinação da estética a funcionalidade, a isto o autor chama de arte comercial.

No último capítulo, analítico, cinco são os segmentos, introdução às análises, imisções da

publicidade, ocorrência correntes, vanguarda e inferências possíveis. Inicialmente, o autor apresenta as categorias estéticas para subsidiar os posteriores procedimentos de análise do material publicitário selecionado de revistas nacionais e internacionais.

A obra contribui para uma percepção fundamentada da experiência sensível junto à publicidade. O fato de a interpretação estar ausente no trabalho publicitário, a não ser quando objetivada, é que a palavra arte tem certa diferenciação. Entretanto o trabalho não tem o objetivo de discutir arte, uma vez que o autor considera uma palavra ampla, mas pretende sistematizar o estudo acerca da noção de estética aplicada no campo publicitário. A estética está subordinada ao produto, por isso diverge da estética encontrada na obra de arte. Nesta a experiência sensível está livre para a percepção, enquanto que na publicidade existe antes de tudo o produto, o bem ou o serviço que fundamenta todo o processo da criação estética no intuito de seduzir o leitor. Este último, portanto, possui uma experiência estética criada, no sentido de estrategicamente sugerida. O estudo amplia o material teórico para quem envereda pelos estudos no campo do sensível e abre caminhos para a discussão mais profunda do conceito de estética aplicada a produtos publicitários.

Larissa Régia

estética utilitária: interaçãO através Da experiência sensível cOm a publiciDaDe

A União/ Editora da UFPB234p. R$ 40,00

Livros

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46 RP alternativo | 1º Semestre de 2010

Estado, Mídia e Oligarqua é o livro do Prof. Dr. Carlos Agostinho Almeida de Macedo Couto, um estudo do poder na contemporaneidade, resultado de sua tese de doutorado em Políticas Públicas na Universidade Federal do Maranhão. Um diálogo com Gramsci, Foucault, que usa para expressar a concepção nova que se estabelece sobre a “mecânica do poder”, e autores frankfurtianos, como Walter Benjamin, por meio dos quais realiza um estudo sobre as disputas de poder presentes no Maranhão.A partir das relações de domínio que se estabelecem no estado, Couto analisa a constituição das oligarquias, cujo exame dos partidos políticos e dos meios de comunicação, permite compreendê-los com instrumentos mantenedores de uma hegemonia política de grupos dominantes. Segundo o autor “atém-se àquilo que Gramsci conceitua como pequena política”. Como fundamento conceitual utiliza as teorias da comunicação para explicar que por sua ubiquidade os meios de comunicação tornam-se vigilantes das normas

e mantenedores do controle, bem como discute sobre o peso do capital econômico no jornalismo.Parte do Maranhão para problematizar questões nacionais, como a dependência entre política, comunicação e partidos políticos, estabelecendo comparações entre a legislação e dados do Brasil e de outros países.O livro, dividido em quatro partes, explora todas as concepções que o autor situa como elementos formadores da relação de direção e dominação dos meios de comunicação no Estado, como instrumentos de disputas ideológicas, ao mostrar a influência e a participação deles e dos partidos na constituição e formação de um cenário dominado por oligarquias.

Maria do Socorro Costa

Estado, Mídia E oligarquia: podEr público E MEios dE coMunicação coMo suportE dE uM projEto político para o MaranhãoEduFMa225 p.

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1º Semestre de 2010 | RP alternativo 47

Os atores sociais estão inseridos em uma ordem de regulagem das identidades de gêne-ros fruto da matriz heterossexual compulsória denominada heteronormatividade, que determina a aparência que as feminilidades e as masculinidades devem assumir para serem inteligíveis social-mente.

Essa norma segue uma lógica que atribui continuidade entre corpo-sexo-gênero- sexuali-dade em que essas categorias são postas como dados pré-programados pela biologia tornando o gênero uma característica essencial do indivíduo. Dessa forma, nesse jogo, masculinidade e femini-lidade são marcações compartilhadas entre indivíduos pertencentes a um mesmo sexo biológico e se manifestam de forma igual nas diversas esferas sociais.

Entretanto, essa é uma visão trabalhada histórica e politicamente que visa à manutenção social pelo patriarcado. A apresentação dos gêneros é, na verdade, resultado de processos discur-sivos que são atualizados cotidianamente nas várias redes sociais nas quais se encontram inseridos os indivíduos - escola, família, igreja etc. -, disputado pelas esferas de produção de conhecimento e poder - médico, jurídico, religioso etc. Louro (2007, p.11) diz que: “A inscrição dos gêneros - feminino ou masculino - nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma determinada cultura. [...] As identi-dades de gênero [...] são, portanto, compostas e definidas por relações sociais”.

Essas manifestações controladas, e controladoras, da aparência dos gêneros não se baseiam em modelos empíricos e agem sobre os indivíduos a partir de suposições, sedimentadas no tempo, possibilitadas pela educação nas diferentes instâncias sociais.

Essa repetição estilizada formará o cimento das identidades dos gêneros. Mas as repetições em atos não são originalmente inventadas pelo indi-víduo. Nas diferentes maneiras possíveis de repetição, na ruptura ou na repetição subversiva desse estilo é que se encontrarão possibilidades para transformar o gênero.A sociedade tenta materializar nos corpos as verdades para os gêneros por meio das reiterações nas instituições sociais (a família, a igreja, a escola, as ciências). A necessidade permanente do sistema de afirmar e reafirmar, por exemplo, que mulheres e homens são diferentes por sua natureza. (BENTO, 2006, p.92)

As performances são mecanismos que visam à manutenção da ordem binária dos sexos e dos gêneros devido a sua ligação com os discursos de conceituação hegemônicos das identidades. No caso dos gêneros, essas determinações estão intimamente ligadas aos mesmos pressupostos de formação das sexualidades.

Uma vez inserido em um sistema sociocultural, o indivíduo passa a performatizar recursos simbólicos estabelecidos para que seja reconhecido/a como homem/mulher. O fato é que a não linearidade na composição das sociedades (em seu interior ou em relação a outras) torna complexa

Feminilidades e Masculinidades: implicações da heteronormatividade no discurso jornalísticoFernando Ribeiro Matos

Artigo CientíficoJornalismo

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a padronização dessas regras. Assim, os ideais sobre feminino e masculino tornam-se fluídos dentro da dinâmica das sociedades.

As individualidades passam a ser resultado de uma tecnologia discursiva histórica estrutu-rada a partir dos interesses do patriarcado que, ao empregar em sua formação a ideia do discurso biologizante dos gêneros e dos sexos, mantém o controle social a partir de uma matriz heteros-sexual responsável pela circunscrição dos indivíduos dentro das camadas sociais.

Ademais, o gênero é igualmente utilizado para designar as relações soci-ais entre os sexos. O seu uso rejeita explicitamente as explicações biológi-cas, como aquelas que encontram um denominador comum para várias formas de subordinação no fato de que as mulheres têm filhos e que os homens têm uma força muscular superior. O gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as “construções sociais”: a criação inteiramente social das idéias sobre os papéis próprios aos homens e às mulheres. (SCOTT, 2009)

Processos de controle e articulação dos discursos na formação das iden-tidades sociais e a hierarquização vertical

Não há, até que seja circunscrita, aparição que não esteja submetida a um conjunto de va-lores arranjados como constituintes de verdade. E essa construção se dá única e exclusivamente na confecção de discursos. Mas isso, diferente do que sugere, não implica que qualquer discurso venha a ser pronunciado como verdade sobre alguma coisa.

Obedecidas às regras de formação, são necessárias que sejam seguidas, certas diretrizes para o seu manuseio em sociedade. Os discursos não estão disponíveis para que os indivíduos os utili-zem de qualquer maneira.

Por outro lado, o discurso é moldado e restringido pela estrutura social no sentido mais amplo e em todos os níveis: pela classe e por outras relações sociais em um nível societário, pelas relações especificas em instituições particulares, como o direito ou a educação, por sistemas de classificação, por várias normas e convenções. (FAIRCLOUGH, 2001, p.91)

Assim as identidades de gênero não fogem a essa regulagem. Ocorre então um alinhamento entre atos linguísticos e a repetição de comportamentos, apoiados em discursos pré-estabelecidos, que pretendem dizer o que é masculino ou feminino.

Fronteiras e identidades: o papel do jornalismo na construção social

A teoria da performance de Butler (2008) enfoca a repetição de comportamentos como for-ma de reiteração das posições de gênero. Se encararmos esses comportamentos como termos dis-cursivos, essa visão pode ser revista e estendida a outras formas de manifestação identitária, sendo os meios de comunicação o palco onde se repetem. Nesse sentido, o jornalismo torna-se palco para a manifestação dessas normas, uma vez que se configura como espaço oficial de circulação de discursos nas sociedades.

As matérias dos jornais não se encontram livres dos pressupostos hegemônicos que atuam na sociedade. De fato, a produção de informação se encontra submetida não apenas aos métodos de controle exigidos pelos manuais de estilo das redações, mas também às regras simbólicas que circulam em sociedade.

Assim percebemos que as representações de masculino e feminino são pautadas por padrões biológicos, que desconsideram e deslegitimam outras possibilidades de experiências de gêneros

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REFERÊNCIAS

BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.

BUTLER, Judith P. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, Gua-cira Lopes (ORG) O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. P.151 a p.172

______. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução: Renato Aguiar. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Universidade de Brasília, 2001.LOURO, Guacira Lopes. Viajantes pós-modernos. In_____. Um corpo estranho: ensaios sobre

sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p.11 - 25.______. Pedagogias da sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (Org) O corpo educado:

pedagogias da sexualidade. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, p.7 - 34SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. 198-?. Disponível em

<http://www.dhnet.org.br/direitos/textos/generodh/gen_categoria.htm>Acesso em: 10 fev.2009.WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (Org) O corpo edu-

cado: pedagogias da sexualidade. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, P.35 - 82.

que entram em desacordo com a heteronormatividade relegando-as às fronteiras dos domínios abjetos, como é o caso de travestis e transexuais, por exemplo.

Essa matriz excludente pela qual os sujeitos são formados exige, pois, a produção simultânea de um domínio de seres abjetos, aqueles que ainda não são ”sujeitos”, mas que formam o exterior constitutivo relativamente ao domínio do sujeito. O abjeto designa aqui precisamente aquelas zonas “inóspitas” e “inabitáveis” da vida social, que são, não obstante, densam-ente povoadas por aqueles que não gozam do status de sujeito, mas cujo habitar sob o signo do “inabitável” é necessário para que o domínio do sujeito seja circunscrito. (BUTLER, 2007, p. 155)

Dessa forma o jornalismo atua baseado em ancoragens discursivas fixas sobre as represen-tações ideais sobre masculino e feminino possibilitando a reiteração das posições exigidas e deter-minadas a cada uma dessas marcações na hierarquia social, por intermédio da repetição de pres-supostos, supostamente, verdadeiros sobre essas identidades.

As matérias jornalísticas valorizam, ou cobram tributos, de acordo com os recursos simbóli-cos capitalizados pelos indivíduos nelas representados. Essa tabela de valor é atravessada por out-ras categorias - como raça e classe -, que trabalham conjuntamente na construção social de uma feminilidade e uma masculinidade consideradas ideais - ainda que tais representações se mostrem impossíveis para além de uma ordem discursiva construída histórica, política e socialmente.

Entender a construção das relações de gênero como um processo discursivo reiterado con-stantemente é perceber como a sociedade se articula a partir de um centro simbólico que cat-egoriza e domina as individualidades. Essa pedagogia encontra sustentabilidade nas mais diversas esferas de produção de conhecimento e informação, inclusive no jornalismo.

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“O riso do programa Pânico na TV e sua influência comportamental em São Luís do Maranhão.”Antovenilson Gusmão

Desde Aristóteles, vários estudiosos, filósofos, historiadores, sociólogos, psicólogos e médi-cos de diferentes lugares do mundo se dedicam a pesquisar: o riso e o humor. Estudam e analisam causas, efeitos, funções, características intelectuais e culturais. Esse interesse pelo riso não pode, ou melhor, não deveria surpreender ninguém, pois como afirma Minois (2003), em: “A História do Riso e do Escárnio”, o riso esconde seu mistério.

Talvez esse mistério esteja presente por ser considerado multiforme, ambivalente e am-bíguo. A sua expressão pode ser tanto de uma alegria pura quanto o triunfo maldoso, orgulho ou simpatia. Por isso, é estudado há séculos pelas mais diversas disciplinas. Considerado um fenô-meno universal e inato, o sentido do riso pode variar muito de uma sociedade para outra, como também no tempo e no espaço. Mas seus questionamentos vivem e povoam as mentes dos mais diversos pesquisadores em geral, até os dias de hoje.

Os comediantes ou humoristas, diferentes dos pesquisadores, não procuram o riso com a mesma finalidade, a investigação, mas o tomam na maneira de executá-lo, produzir prazer. Isso não significaria que o profissional dessa arte não buscasse saber sobre suas técnicas para uma melhor eficácia. A quebra do padrão mental, a situação imprevista da vida é a técnica geral utilizada para provocar risadas. E que nesse caso entram outras, como o exagero, o duplo sentido, a ironia e o trocadilho.

O rádio, a televisão, o cinema e o teatro já se tornaram ambientes propícios para a descontra-ção e o relaxamento acontecerem, sem falar nas rodas de amigos que podem surgir numa conversa descompromissada. Ao longo dos anos, o seu uso tem demonstrado que pode servir para diversas funções até como símbolo de status social, ou seja, caracteriza-se engraçado por quem o diz e não pela piada propriamente dita. Além da funcionalidade de diminuir as tensões em ambientes muito sérios.

Vale destacar que na contemporaneidade, a televisão tem sido o principal veículo de grande abrangência no país e que está disponível nos diversos canais brasileiros. De fato o divertimento está logo ali, basta apenas mudar de canal para assistir o programa de riso que mais gosta.

Outro aspecto importante é que vários programas da TV brasileira apresentam peculiari-dades na forma de fazer humor e que alguns são tidos como sendo de baixo escalão, vulgar, apela-tivo e grotesco. É aí que mora uma das questões do riso. Em achar que eles são tão diferentes e que não apontam semelhanças na produção do riso, uma vez que utilizam as mesmas técnicas, embora a sua abordagem, o seu contexto seja distinto. Estaria então, na sutileza e na forma de conduzir a diversão o ponto chave para que se alcance a sua simpatia, o seu entusiasmo.

Deste modo o trabalho monográfico, pretende destacar a influência comportamental do programa Pânico na TV nos jovens e adultos de São Luís. Isso através de uma pesquisa, realizada entre os meses de abril e maio de 2009, em forma de questionário, de oito perguntas subjetivas produzidas com ajuda de um psicólogo para tentar entender a preferência, o seu entendido e sua necessidade na vida social. Além do desenvolvimento exercido sobre os telespectadores. A apli-cação do questionário foi direcionada a 40 alunos de quatro instituições de ensino médio e supe-rior, dividida de forma igualitária nos setores da rede pública e privada da capital maranhense. As instituições em que foram realizadas a pesquisa são as seguintes: Centro Universitário do Maran-

Artigo Científico

Radio e TV

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hão - CEUMA, Universidade Federal do Maranhão - UFMA, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – IFMA (antigo CEFET), e o Colégio Santa Teresa - Congregação de Santa Dorotéia do Brasil. O número de questões analisadas que serviram de subsídios para o resultado da investigação deste estudo foi de 8 perguntas abertas, ou seja, 320 respostas analisadas no total. “O riso é um fenômeno global cuja história pode contribuir para esclarecer a evolução humana”. (MINOIS, 2003, p. 20).

Mas antes de se obter essa análise comportamental, investigou-se o riso, a sua construção no meio social, sua função de corrigir o indivíduo, o saber onde ele começa e termina para cada um. Em seguida, verificou-se o objeto desse estudo, o Pânico na TV, desde sua criação até atualidade, com observação para os quadros, os personagens que iniciaram e os que ainda atuam no pro-grama. Subseqüente a estes pontos é dado destaque a: “imitação”. Elemento poderoso estudado por Aristóteles para composição de sua compreensão na arte da comédia e, que é ao mesmo tem-po, um instrumento bastante utilizado pelos integrantes do Pânico para produção de personagens (voz, gestos, trejeitos, etc.) o que resulta no divertimento.

Construção do riso

De acordo com Minois (2003), na Antiguidade os mitos gregos dizem que existe uma con-statação unânime: “os deuses riem”, segundo a expressão homérica.

O riso na Idade Média é constante. Os pensadores medievais retomam em geral Aristóteles como modelo de classificação e definição do riso. Nesta época, fala-se muito sobre uma linguagem ambígua. Distinção do bom riso de um mau. Os teólogos reconheciam a importância do assunto, e o utilizavam como uma das marcas da natureza humana decaída, o pecado. Porém, existe o riso bom, que é reconhecido como o que exprime a alegria do cristão e que deve ser moderado, silen-cioso, próximo do sorriso. O mau riso seria o contrário, um riso físico, zombeteiro, barulhento, sem graça, que sacode o corpo.

No entanto, o que intrigava era o fato de o riso ser fenômeno ao mesmo tempo espiritual e físico. Esta interpretação se deu devido aos textos teológicos e canônicos, pois não apresentavam nenhum indício que Jesus Cristo rira algum dia. E mesmo há dúvida até hoje.

Durante o período da Renascença o interesse era sobre o riso e seus diferentes aspectos. Principalmente questões vindas da Idade Média, ou seja, buscava-se saber nesta época onde se localizava o riso no corpo humano e seu valor para o tratamento de doenças. Com o passar dos anos tratados confirmavam e ressaltavam o seu valor terapêutico. Neste período a importância do riso na cultura é igualmente revelada por uma novidade: a entrada do riso na literatura. Se na Idade Média os assuntos predominantes eram filosofia, teologia e história, no período renascentista com Boccacio, Rabelais, Cervantes e Shakespeare, o riso ganhou grande representatividade ao estatuto filosófico.

Função do riso

O riso está para corrigir, mesmo que de maneira sutil, seus vícios e suas distrações. Bergson fala que cada um dos membros que compõem a sociedade deve estar atento para o que cerca, se modele ou se adapte de acordo com o ambiente em que vive. E que a sociedade faz pairar em cada indivíduo, senão algo que ameaça a correção, mas que seja de alguma forma uma perspectiva de humilhação que não deixa de ser temida. Nesta visão se torna humilhante para quem é seu objeto, o riso é considerado de fato uma espécie de trote social. E concebe que, ele exerça uma função útil, a saber: de rirmos de tal defeito e corrigi-lo. O riso está para corrigir, mesmo que de maneira sutil, seus vícios e suas distrações. O riso serve como algo mais evidente entre os próprios que riem, ou seja, para distrair, produzir prazer, aproximação interpessoal e até como status social.

Ainda na obra a “História do Riso e do Escárnio” (MINOIS, 2003), o autor deixa claro que uma das grandes funcionalidades do riso para os oprimidos é a utilização do riso como instrumento de

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libertação da proibição autoritária de políticos e do medo sagrado de religiosos. E que nesta per-spectiva o riso é tido como arma nas mãos de um povo que elege ou escolhe seus representantes. Esta arma é utilizada contra as autoridades para tentar coibir suas incorreções administrativas e corrigir seus “costumes”.

Começa o riso

Para que o riso se forme ou comece a comédia, é preciso que a pessoa de quem se ri deixe de nos comover, de nos envolver com fatores sentimentais. Outro fator importante para que o riso se inicie é o contexto social, político, econômico e religioso onde se vive, pois a pessoa só entenderá o que está sendo mostrado ou dito, como ato de riso se tiver o mínimo de conhecimento do que se fala, enquanto sua origem e o seu desenrolar no meio social.

Onde acaba o riso

Quando e em que ponto será que o riso não se faz presente no indivíduo? A resposta está em um fator que é, nesse caso, determinante, a emoção. Bergson (2007, p. 104), afirma que “o riso é incompatível com a emoção”. Então, sentimentos como piedade, medo e até mesmo a simpatia podem estancar o riso da pessoa frente a algo que poderia ser considerado engraçado para outros.

Logo depois, apresenta-se o gênero grotesco ao presente trabalho, pois segundo os próprios estudiosos da categoria, o programa estudado é de humor, linguagem e imagem grotesca. Na obra o Império do Grotesco (2002), Muniz Sodré e Raquel Paiva se aventuram formar uma taxonomia das manifestações do grotesco com o intuito de tentar diminuir as confusões quanto à natureza diversa deste gênero e as suas apresentações.

O grotesco assume modalidades expressivas diversas como:Escatológico: consistem em situações escatológicas, e fazem referência a dejetos humanos,

secreções, partes baixas do corpo, etc.Teratológica: faz menções referências risíveis à monstruosidade, aberrações, deformações,

bestialismo, etc. Exemplo claro é o filme Freaks, além de um clássico do cinema, O Corcunda de Notre-Dame, de Victor Hugo, em que se associam a feiúra e delicadeza de sentimentos.

Chocante: seja escatológico ou teratológico, quando voltado apenas para a provocação su-perficial de um choque perceptivo, geralmente com intenções sensacionalistas, ele também pode ser chamado de grotesco chocante. Ex: O programa do Ratinho. 6

Crítico: neste caso, o grotesco não propicia apenas uma percepção sensorial do fenômeno, mas principalmente o desvelamento público e reeducativo que nele tenta se ocultar. É um recurso que desmascara convenções e ideais, ora rebaixando as identidades poderosas, celebridades e pre-tensiosas, para expô-los em situações risíveis ou tragicômicas.

Portanto, este trabalho de conclusão de curso busca por meio de uma pesquisa com-preender a influência do comportamento na sociedade, seus benefícios ao individuo, o avanço para maiores esclarecimentos a cerca desse elemento vivo que é o riso. E servir ainda como auxílio no caminho para as futuras investigações desse fenômeno de grande fascínio, além de contribuir refutando ou ratificando as afirmações em constante evolução.

Considerações finais

Ao longo dos anos, o riso tem demonstrado ser um fenômeno intrigante, universal, am-bíguo e inato, digno de pesquisa. Tido como um elemento vivo e por isso multiforme, o seu valor é analisado pelos estudiosos das mais diversas áreas do conhecimento, e é percebido como algo de natureza propriamente humana presente na sociedade. Além de se encontrar no meio social, o seu sentido, funcionalidade e importância podem variar no tempo e no espaço. Mas a vontade de

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investigar, onde ele começa e quando termina só tem aumentado na contemporaneidade.No presente estudo, pôde - se avaliar o comportamento de jovens e adultos nos dias atuais e

tentar compreender e vislumbrar influências, atitudes que dessem subsídios para uma análise mais próxima da realidade. Para isso foram aplicados questionários abertos por acreditar que só com a subjetividade, as pessoas teriam mais liberdade para responder e a eficácia dos resultados chegar-ia ao desejado. Os alunos que se submeteram à pesquisa pertenciam às instituições públicas e privadas, de ensino superior e médio da capital maranhense. Entre os resultados obtidos, o gosto pelo humor do Pânico foi notório, (na classificação geral dos programas televisivos de gênero hu-morístico apresentados na pesquisa houve a relação de dez programas, entre eles estão na prefer-ência dos entrevistados à seguinte ordem, empatados em primeiro lugar estão CQC e o Pânico; na segunda posição o Toma lá, Dá cá, logo em seguida veio A Grande Família na terceira posição. Da quarta a nona posição estão os programas Show do Tom, Programa do Jô, Casseta & Planeta, Zorra Total, Uma Escolinha Muito Louca e A Praça é nossa, respectivamente. O resultado classificatório quanto à primeira posição na pesquisa pode ser observado como predileção das instituições de ensino superior pelo CQC e o ensino médio pelo Pânico na TV.) apesar dele apresentar evidências de um gênero grotesco, as suas técnicas de humor nos indivíduos estudados identificam perfeita-mente o desejo pela diversão, pela sensação de prazer e o relaxamento. Essas características tam-bém foram apontadas como grau de importância na vida de cada um.

Outro ponto observado é: ao mesmo tempo em que o público analisado se mostra consci-ente do que passa no programa e até classifica como sendo grotesco, apelativo e vulgar, (entre os motivos desse resultado: a exibição das partes baixas do corpo das Panicats, com 32,5% dos votos) não percebe que os programas da TV brasileira de humor praticam as mesmas técnicas há anos, porém uns com mais outros com menos intensidade. Sendo assim, a sutileza na forma de conduzir o entretenimento e a abordagem praticada no contexto social, daria contornos suficientes para garantir a simpatia, a admiração e o entusiasmo que o telespectador tanto prestigia. Pois a quebra do padrão mental, a situação imprevista da vida é a técnica geral utilizada para provocar risadas. A escolha de humor no estudo realizado estaria atrelada a algo que denotasse inocência (o per-sonagem do César Polvilho teve em primeiro lugar na preferência com 17,5%.) e proporcionasse uma função útil (os quadros: Impostor e o Pânico Delivery empatados em 15%), tanto para motivar, ensinar como também para apenas repeti-las, no caso, os bordões criados pelos personagens do programa (bordões: Ronaldo; “Nooossa”; “Peitinhooo” e dança mais famosa do programa, a Dança do Siri). O Pânico traz, além dessas, várias outras técnicas: o exagero, o duplo sentido, a ironia e o trocadilho.

Nessa conjuntura, o aspecto da imitação tratada por Aristóteles revelou que a identificação é causadora de prazer. A semelhança da voz do comediante com a da personalidade ou anônimo é que acaba sendo um elemento que agrega valores comportamentais da realidade, o reconheci-mento traduzido pelo fascínio do riso.

Então, o Pânico na TV pode ser compreendido na perspectiva de subversão da lógica. Pois é exatamente nesse ponto que se faz o riso em uma base de ação súbita, em um acontecimento imprevisto. Isso é percebido, perfeitamente, quando alguém conta uma história engraçada, o seu início parece sem nenhuma anormalidade, no entanto, o seu final é inesperado e por isso causador de risadas. E por considerar que não existe uma fórmula definida, mas fórmulas ou técnicas dife-rentes utilizadas na base do imprevisto, é que o programa em questão tem conseguido reunir um formato que acrescenta diferentes maneiras de produzir entretenimento a um público que cresce constantemente na busca do prazer. Esta sensação acontecerá no instante em que o individuo puder escapar das tensões da vida em sociedade, sendo assim um elemento que fortalecerá a cul-tura popular na indústria cultural.

O caminho percorrido neste estudo buscou modelos que nortearam o riso e espera ter contribuído para servir de futuras investigações e fomentar o conhecimento a cerca desse assunto, seja refutando ou ratificando as afirmações deste fenômeno em constante evolução no contexto social.

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A atividade de Relações Públicas como suporte para a gestão

socialmente responsávelFelipe de Oliveira Fernandes

Vivemos em um mundo que está constantemente modificando-se. O desenvolvimento

de novas tecnologias de informação e produção e os processos referentes à Globalização e à Industrialização, além da integração e interdependência econômica cada vez maiores, proporcionaram um aumento da competição entre as organizações.

Nesse cenário percebe-se que as práticas sociais começam a se configurar com excelentes ferramentas geradoras de vantagens competitivas. Os consumidores, cada vez mais informados e conscientes, buscam produtos e serviços que superem suas expectativas, colocando em primeiro lugar os seus direitos, o respeito ao meio ambiente e a qualidade de vida.

A Responsabilidade Social é um movimento que nasceu atrelado às modificações pelas quais o mundo passava. A falta de investimento público no campo social fez com que a atuação das empresas engajadas em ações sociais ganhasse mais importância. Com as constantes mudanças econômicas e modo de agir da sociedade, essa temática evoluiu para que pudesse se adaptar à atual dinâmica mercadológica.

Assim como o seu conceito, a abrangência da atuação socialmente responsável é muito extensa e complexa. Uma empresa que se engaje apenas em apoiar o desenvolvimento da comunidade onde atua e não cumpre com suas obrigações junto aos empregados, ou não conduz seus negócios de maneira ética, não pode ser considerada uma empresa socialmente responsável, por exemplo.

A prática da Responsabilidade Social abrange uma combinação e um somatório de fatores que devem ser cuidadosamente trabalhados e analisados a fim de que se tornem eficazes. Deve existir uma sinergia entre a prática social e o negócio da empresa/organização; essa abrangência diferencia a Responsabilidade Social das demais práticas e define como esta deve ser trabalhada.

Cada vez mais as organizações estão se transformando em complexos sistemas baseados em relacionamentos. A interação entre indivíduo e organização atingiu um novo patamar: a troca de valores entre ambas as partes. As necessidades e os desejos dos consumidores, assim como a busca de credibilidade e boa reputação da marca por parte das organizações, mudaram a maneira de se fazer negócios. São necessárias novas estratégias, novos produtos e serviços e novos diferenciais competitivos para que o mercado, sempre aquecido e em busca do melhor, se satisfaça.

Uma organização que procura implantar uma gestão socialmente responsável precisa dar visibilidade às suas ações bem como integrar os agentes envolvidos em torno de um discurso unificado que não gere interpretações que possam ferir os interesses dos seus públicos. Nesse contexto, as Relações Públicas vêm ganhando espaço como atividade formadora da opinião pública e mediadora da organização com seus públicos e vice-versa.

Ao se tornar socialmente responsável, uma organização “impõe” mudanças de comportamento aos seus funcionários, envolvendo-os em seus objetivos, metas sociais e empresariais. Essa mudança de comportamento se dá por meio da comunicação: a informação gerando conhecimento e sensibilizando os receptores.

Artigo Científico

Relações Públicas

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Por promoverem a comunicação institucional, as Relações Públicas devem gerir a gestão de comunicação nas organizações socialmente responsáveis, ao

[...] propor e executar programas de participação social e avaliar resultados; promover práticas de trabalho voluntário; desenvolver programas de esclarecimento público; identificar a visibilidade da empresa diante de seus diversos públicos; sugerir e efetivar parcerias com organizações sem fins lucrativos, de maneira ética e construtiva; encontrar formas de posicionar a organização perante a opinião pública, de maneira social e ambientalmente correta; e estabelecer processos de controle para que seus planejamentos se tornem cada vez mais eficazes. (CARVALHO, 2007, p. 352-353)

Para alcançar tais objetivos, Martins e Parreira Neto, adaptam as funções básicas das Relações Públicas - assessoramento, pesquisa, planejamento, execução e avaliação - ao modelo de gestão socialmente responsável, e apontam que

Em responsabilidade social, assessoramento corresponde à promoção da nova consciência com campanhas que argumentem sobre uma nova postura moralmente correta (independente das despesas acarretadas) ao invés de apenas patrocinar a mentalidade do investir pelo retorno; pesquisa está no levantamento dos problemas sociais primários e secundários; planejamento se liga à reflexão sobre propostas de responsabilidade social para evitar que sejam confundidas com uma motivação de mercado e percam sua legitimidade (acarretando na invalidação e não aceitação do esforço pela opinião pública); e execução permanece equivalente aos estímulos no público interno para a percepção sobre a potencialidade para o serviço social e uso de estratégias de comunicação para mudar a cultura organizacional ao internalizar valores de caráter mais humano. (MARTINS e PARREIRA NETO, 2007, p. 21)

As Relações Públicas precisam coadunar-se com o planejamento administrativo da organização. Cabe a elas definir o que será divulgado e a maneira como serão envidados esforços para sensibilizar os públicos de interesse a participarem das atividades sociais da organização, de modo a contribuir para a boa reputação e credibilidade da marca.

As Relações Públicas contribuem para a responsabilidade social por participar do processo de tomada de decisão para determinar quais conseqüências poderão ocasionar nos públicos, comunicar-se com os públicos sobre os impactos que estas decisões podem ter antes que elas sejam tomadas e negociar com membros de cada público para encontrar caminhos para minimizar os impactos negativos dessas decisões. (GRUNIG apud AVERSA et al 2002)

Segundo Carvalho (2007), na implantação de uma cultura de Responsabilidade Social o profissional de Relações Públicas precisa cumprir várias etapas, sendo elas:

• Proposta de uma mudança cultural e governamental - o profissional deve delinear o perfil da cultura da organização.

• Definição de uma missão sinergicamente integrada com a visão da organização - o profissional deve explorar a missão da organização como sua razão de existir. A prática da

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responsabilidade social implica o redimensionamento pela organização de sua missão no que diz respeito ao relacionamento com a comunidade. Para isso, é necessário que o profissional leve a pôr o foco em seu papel social e também cuide para que este seja conhecido pelos diferentes públicos, a começar pelo interno.

• Determinação e divulgação dos objetivos sociais - o profissional deve estabelecer os objetivos da participação da organização no campo social e difundi-los entre os públicos-alvo.

• Motivação e reconhecimento do público interno - o profissional deve criar estratégias que proporcionem aos empregados um ambiente de trabalho alegre e sadio, ou seja, com mais qualidade de vida.

• Implantação de uma política de responsabilidade social - o profissional deve viabilizar a adoção de uma cultura de responsabilidade social que se enraíze em todos os níveis hierárquicos, a começar pela diretoria.

• Identificação de lideranças - o profissional deve desempenhar papel estratégico no processo de conscientização da organização quanto à sua responsabilidade social. Atuando ao lado das chefias, ele pode ajudá-las a identificar os funcionários que, por suas qualidades individuais, revelem-se aptos a assumir um papel de liderança nas causas sociais a serem empreendidas.

• Interpretação da responsabilidade social - o profissional deve encarregar-se de interpretar a responsabilidade social e traduzi-la para os diferentes níveis hierárquicos.

• Desenvolvimento de parcerias entre a empresa, os clientes e os fornecedores - o profissional deve propor o estabelecimento de bons relacionamentos com os clientes e os fornecedores da organização, bem como critérios de seleção de parceiros que tenham postura socialmente responsável em toda a sua cadeia produtiva.

• Comunicação e divulgação dos fatos;• Criação de um ambiente de empoderamento - no papel de comunicador, o relações públicas

divulga as metas da organização e seus objetivos, mantém canais de informação, dirige sua atenção para a cultura do “que fazer”, possibilitando soluções criativas por parte dos funcionários.

• Desenvolvimento de programas de relacionamento com as comunidades - o profissional se responsabiliza pela integração da organização com o seu ambiente, procurando desenvolver projetos sociais que atendam às necessidades, às exigências e às expectativas da comunidade e do governo local.

• Criação de uma atmosfera de envolvimento total - o profissional deve preocupar-se com a criação de condições para que haja um envolvimento total da organização e de seus públicos com a responsabilidade social, pondo o foco também nos consumidores e em todos aqueles que fazem parte da cadeia produtiva da organização.

• Estabelecimento de uma metodologia de mensuração de suas práticas - o profissional deve aprender a mensurar suas práticas e o que elas representam para a organização. (CARVALHO, 2007, p. 353-356)

A eficácia das Relações Públicas como suporte na implantação de uma gestão socialmente responsável pode ser medida pela busca de resultados e pelas possibilidades de promover mudanças significativas para os públicos de interesse de uma Organização.

Carvalho, citando Roberto Porto Simões, conclui que:

Toda atividade é gestora de um programa específico que interfere em um processo natural da sociedade, seja em seus aspectos físicos, seja em seus aspectos sociais. As relações públicas eficazes interferem

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na esfera social e, ao fazê-lo, encontrarão meios de provar, por meio de planejamentos estratégicos bem estruturados, avaliados e controlados, que as empresa socialmente responsáveis produzem resultados sociais benéficos à comunidade, estimulando os demais públicos a investir na questão social e, conseqüentemente, no desenvolvimento do país. (CARVALHO, 2007, p 356)

As Relações Públicas devem conscientizar a Organização de que o seu relacionamento com os públicos de interesse não se resume apenas ao momento da venda, ou à prestação de um serviço, ou ainda ao delegar tarefas e cobrar resultados. A atuação socialmente responsável vai além das simples atividades burocráticas do cotidiano, deve envolver sentimentos e a sensibilidade de todos perante os problemas socioambientais e a conscientização da participação de cada um como agente modificador do tempo e do espaço.

REFERÊNCIAS

AVERSA, Marecelo Bertini et al. Relações Públicas orientando a gestão da responsabilidade social na Sercomtel S. A. Telecomunicação. Londrina, 2002. Disponível em:<http://www.portal-rp.com.br/projetosacademicos/organismospublicos01/0016.htm >

CARVALHO, Carmella Batista de. Relações Públicas nos programas de responsabilidade social. In: KUNSCH, Margarida M. Krohling; KUSNCH, Waldemar Luiz (Org). Relações Públicas Comunitárias: a comunicação na perspectiva dialógica e transformadora. São Paulo: Summus, 2007.

MARTINS, Felipe Barreto de Souza; PARREIRA NETO, Manoel Alves. A Construção da Responsabilidade Social: Relações Públicas contribuindo com o desenvolvimento de novos paradigmas. Londrina, 2007. Disponível em: http://www.portal-rp.com.br/projetosacademicos/conceituais01/0094.htm

SILVA, Luisa Helena Alves da. Relações públicas e comunicação institucional nas causas sociais. In: KUNSCH, Margarida M. Krohling; KUSNCH, Waldemar Luiz (Org). Relações Públicas Comunitárias: a comunicação na perspectiva dialógica e transformadora. São Paulo: Summus, 2007.

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TCC’sDenielida Moraes

Relações Públicas e a Gestão de blogs corporativos na produção do conhecimento organizacional: da teoria as etapas práticas.Por: Thaís Verena Carneiro Arraes.

O papel do profissional de Relações Públicas no processo de sensibilização para doação de órgãos: estudo realizado no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão.Por: Valéria Romano Uchôa.

Interfaces entre responsabilidade Social e Relações Públicas: ferramentas para as organizações modernas se tornarem competitivas no mercado.Por: Felipe de Oliveira Fernandes.

O relacionamento entre a Assessoria de Comunicação da Corregedoria Geral da Justiça do Estado do Maranhão e a mídia no momento de crise.Por: Poliana da Silva Oliveira.

Proposta de planejamento de Relações Públicas para o núcleo de Relações Públicas e Cerimonial da Universidade

Federal do Maranhão.Por: Ana Carolina Rocha Aranha.

Relações Públicas e Cultura: o fortalecimento da imagem das organizações por meio da produção cultural.Por: Henrique Melo Moreira.

Atividades de Relações Públicas no cenário Organizacional Ludovicense: discussão acerca do desenvolvimento e ex-ecução das funções de Relações Públicas.Por: Renato Vilan Sá Pereira.

Pesquisa de Eficácia e Satisfação: breve estudo sobre a comunicação interna da Secretaria de Estado da educação/SEDUC.Por: Leana Michele Tavares Leal.

Relações Públicas e Responsabilidade social: A formação da opinião pública favorável e o fortalecimento da imagem organizacional.Por: Eliana Calisto Cunha.

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