revista 06 - sbot-es - jul/ago/set 2009
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Edição número 06 da revista da SBOT-ESTRANSCRIPT
Entrevista João Carlos Belloti
O médico paulista fala sobre a Medicina Baseada em Evidência.
4Matéria especial Osteoporose
Silenciosa, ela já afeta mais de 200 milhões de pessoas no mundo.
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Informativo
06 2009
jul / ago / set
Carta do Presidente
Artigo
Dicas SBOT-ES
Raio X
Vida Leve
este editorial não poderíamos
deixar de falar daquele que é
o maior evento realizado pela
Sociedade durante o ano: o 2º Congresso
de Ortopedia e Traumatologia do Espírito
Santo.
Realizado entre os dias 30 de julho e 1º de
agosto, o evento, como o do ano passado,
representou uma grande oportunidade
de atualização e troca de experiência com
vistas a fomentar novos conhecimentos e,
consequentemente, proporcionar melhor
atendimento à saúde da população capi-
xaba. Para isso, convidamos renomados es-
pecialistas e pesquisadores capixabas e de
algumas das melhores instituições médicas
e acadêmicas do País para tratarem, du-
rante as 25 palestras realizadas, de temas
extremamente importantes para a nossa
realidade profissional. Capixabas e visitan-
tes apresentaram, durante os três dias, os
principais progressos médicos alcançados
no cenário estadual e nacional.
A SBOT-ES sabe o quanto a pesquisa é im-
portante para o progresso da ciência e da
área médica em nosso País. É graças a ela
Carta do Presidente
João Carlos de Medeiros TeixeiraPresidente da SBOT-ES
DiretoriaPresidente: Dr. João Carlos de Medeiros Teixeira
Primeiro Vice-Presidente: Dr. Alceuleir Cardoso de Souza
Segundo Vice-Presidente: Dr. Adelmo Rezende F. da Costa
Primeiro Secretário: Dr. Thanguy Gomes Friço
Segundo Secretário: Dr. Adelmo Rezende Ferreira da Costa
Primeiro Tesoureiro: Dr. Antônio Tamanini
Segundo Tesoureiro: Dr. Paulo Henrique Paladini
Conselho Fiscal Dr. Carlos Henrique O. de Carvalho Dr. Mássimo Nelson C. E Gurgel Dr. Flávio Vieira Somoes Dr. Ruy Rocha GusmanDr. Fábio Vassimon JorgeDr. Bianor Guasti Júnior
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Dr. João Carlos de Medeiros Tei-xeiraDr. Anderson De NadaiDr. Alceuleir Cardoso de SouzaDr. Adelmo Rezende F. da CostaDr. Marcelo Nogueira da Silva
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Comissão de Estatuto e RegimentoDr. Anderson De Nadai
Dr. João Carlos de M. TeixeiraDr. Alceuleir Cardoso de SouzaDr. Adelmo Rezende F. da Costa
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Comissão de PresidentesDr. Pedro Nelson PrettiDr. Roberto Casotti LoraDr. José Fernando DuarteDr. Eduardo Antônio B. UvoDr. Geraldo Lopes da SilveiraDr. Hélio Barroso dos ReisDr. Jorge Luiz KrigerDr. José Lorenzo SolinoDr. Akel Nicolau Akel JúniorDr. Clark M. YazakiDr. Anderson De Nadai
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ColaboradoresTexto Thiago Moreira Mattos
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Impressão e acabamento Grafitusa. Esta revista foi impressa em papel couchê fosco 150g/m² Tiragem 4000 exemplares Periodicidade Trimestral Distribuição CP Distribuição e Lo-gística
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N que o Brasil tem avançado para alcançar
os padrões internacionais nos tratamentos
de traumas ortopédicos.
Neste contexto, a Medicina Baseada em
Evidência - conceito cada vez mais presen-
te na medicina atual - ganha destaque. Por
isso foi um dos temas discutidos durante o
congresso. Integrar a experiência clínica
com a capacidade de aplicar a informação
científica de maneira a melhorar a quali-
dade da assistência médica é o que propõe
a Medicina Baseada em Evidência (MBE).
Para entendermos um pouco mais sobre o
assunto - e também saber o que mais rolou
no Congresso -, a 6ª edição do Informativo
SBOT-ES traz uma entrevista exclusiva com
o médico e pesquisador paulista João Car-
los Belloti, que abordou brilhantemente o
conceito durante o evento. Nesta entrevis-
ta, o médico fala, entre outras coisas, sobre
a expectativa em relação ao assunto para
os próximos anos. Vale a pena conferir.
Boa leitura para todos.
O que foi e o que vem por aí
2 Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
á pouco tempo não se imaginava que seria possível a rea-
lização de cirurgia artroscópica na articulação do quadril,
justamente por sua anatomia ser formada por articulação
profunda e não haver espaço para se trabalhar. Contudo, as técni-
cas artroscópicas foram aprimoradas juntamente com a utilização de
tração em mesa ortopédica, associada ao intensificador de imagem,
sendo possível criar espaço suficiente para abordagem articular sem
danos iatrogênicos às estruturas articulares.
É importante lembrar-se dos cuidados e proteção dos pés e do
períneo - com algodão e espuma (rolo de espuma) - o que diminui
as lesões ou queixas relacionadas à tração no pós-operatório imedia-
to. Muitas reclamações de dores, que anteriormente passariam sem
diagnóstico, nos últimos cinco anos começaram a ser valorizadas, in-
vestigadas e compreendidas; houve uma evolução conjunta da orto-
pedia e da radiologia. Diagnósticos como lesões do labrum acetabular
e impacto femuroacetabular se tornaram conhecidos e cada dia mais
frequentemente associados à dor em quadris com radiografias apa-
rentemente normais. A queixa destes pacientes é geralmente dor leve
a moderada, às vezes só na prática esportiva. Outros, quando assen-
tados por longos períodos, relatam falceio ou mesmo queimação, dor
em glúteo e virilha.
Como rotina estes pacientes são avaliados em exames físicos;
exames complementares; radiografias de quadril em posição Ap e
perfil (falso perfil), e bacia em posição de rã; ressonância nuclear
magnética; e em alguns casos artrorressonância, principalmente em
casos de radiografias sem alterações e nos quais há grande dúvida se
a dor é de causa intra-articular. Não solicitamos a artrorressonância
de rotina como antes, pois trata-se de procedimento invasivo e com
risco de infecção secundária. A definição se realmente a dor é de ori-
gem intra-articular poderá ser solucionada por um teste anestésico;
o paciente é levado ao centro cirúrgico, em condições de assepsia.
Outras causas de dor no quadril passaram a ser investigadas (do-
res periarticulares). Bursites e tendinite trocantérica, ressalto lateral
fascia lata, ressalto anterior do íleo psoas, tendinite do psoas, tendi-
nites e entesites da enpinha ilíaca anterior, síndrome do piriforme,
etc, são causas de dores periarticulares que devem ser investigadas.
Até mesmo a bursite trocantérica e a ruptura do glúteo médio
já são abordadas por artroscopia, similar à cirurgia do manguito ro-
tador no ombro. Portanto, está havendo uma mudança radical na
abordagem do quadril doloroso, similar ao que aconteceu no joelho,
ombro etc; sendo importante que todos profissionais (ortopedistas,
reumatologistas, fisioterapeutas) que avaliam pacientes com dor no
quadril acompanhem esta evolução, trazendo estes benefícios aos
pacientes.
Muitas destas cirurgias artroscópicas podem ser vistas em vídeos
e aulas expostas livremente na internet no www.youtube.com, bas-
tando digitar hip athroscopy na área de pesquisa.
Artigo
H Edmar Simões da Silva Jr.
Ortopedista membro titular da SBOT e SB
Artroscopia do quadril
3Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009 3
Entrevista
Agilidade, eficiência e economia. Conheça a MBE.
João Carlos Belloti4 Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
onde mais se concentram essas publica-
ções?
Temos o Centro Cochrane do Brasil que é
um lugar de difusão desses conceitos, com
muitas publicações a respeito do assunto.
Trata-se da seção brasileira da Colaboração
Cochrane, uma organização não governa-
mental, sem fins lucrativos e sem fontes de
financiamento internacionais, que tem por
objetivo contribuir para o aprimoramen-
to da tomada de decisões em Saúde, com
base nas melhores informações disponíveis.
Quais são as áreas da ortopedia que mais
possuem literatura sobre MBE?
Acredito que sejam joelho e ombro, uma
vez que a prevalência de lesões talvez seja
um pouco maior.
No Brasil, o método da MBE é muito utilizado?
Pessoalmente, considero que a utilização
ainda não chegou ao nível ideal, embora
esteja melhorando sempre.
E qual seria o país (ou os países) no qual o
Brasil precisa se espelhar?
São três: Austrália, Inglaterra e Canadá. O
interessante é que são três países que têm
um sistema público de saúde. É público,
mas diferente de vários lugares, funciona
muito bem. Por quê? Porque todas as me-
didas lá (ou a maioria delas) são tomadas
baseadas em evidência. Ou seja, se você
gastar apenas com uma coisa que funciona
bem, você faz economia. O problema às ve-
zes nem é a falta de recurso, mas sim como
você administra esses recursos. E a MBE te
ajuda exatamente nesse ponto.
Algumas pessoas dizem que a MBE já dei-
xou de ser apenas uma alternativa para se
estabelecer de fato. Quais são as expecta-
tivas para os próximos anos em relação a
esse assunto?
No Brasil, pelo menos no meio acadêmico
e científico, isso já é uma coisa estabeleci-
da. Talvez seja necessária uma abrangência
maior. Por isso, o intuito de participar de
congressos desse tipo é justamente esse: de
vir, debater, pra que todos possam enten-
der que é uma coisa simples; simples, mas
muito boa. Acredito que tenha-
mos um aumento na utilização
da MBE numa progressão geo-
métrica.
Em 2008, você também esteve
aqui para participar do 1° Con-
gresso Capixaba de Ortopedia e
Traumatologia. Dessa vez o que
você trouxe foi um aprofunda-
mento do que foi discutido no
ano passado?
Sim. No ano passado, nós tivemos
uma conversa conceitual. Este
ano nós fizemos uma aplicação mais deta-
lhada dos tipos de estudo, das meta-análises
e fizemos também uma aplicação prática
dos casos clínicos pra todo mundo discutir
a melhor forma de tratamento baseada em
evidências. Daqui a pouco vocês nem vão
precisar mais de mim por aqui. (risos)
O que você destaca de diferença do evento
deste ano para o do ano passado?
Minhas palestras tiveram um tempo de
duração maior. Isso deixou a gente ter
uma conversa bem detalhada das coisas e
eu senti que teve uma participação muito
boa. O pessoal estava mais por dentro, e
pudemos ter uma conversa bem mais apro-
fundada.
Para finalizar, o que você tem a dizer de
nosso Estado?
Eu sou fã do Espírito Santo, principalmen-
te da moqueca capixaba. Eu até comentei
com os colegas que quero vir numa outra
oportunidade, mas de férias; pra pescar, fi-
car na praia, só curtindo (risos).
Embora esteja em constante melhoria, a
MBE ainda não chegou ao nível ideal.
Medicina Baseada em Evidên-
cias (MBE) não é o futuro; é o
presente”. As palavras são do
presidente da Sociedade Brasileira de Or-
topedia e Traumatologia, Regional Espíri-
to Santo (SBOT-ES) na ocasião do 2º Con-
gresso de Ortopedia e Traumatologia do
Espírito Santo, realizado nos dias 30 e 31
de julho e 1° de agosto. O evento, ocor-
rido no Hotel Radisson, em Vitória, teve
discussões sobre vários temas, um deles a
MBE. E para falar sobre o assunto, a SBOT-
ES convidou um paulista que já é
uma figura conhecida pelos orto-
pedistas capixabas. João Carlos
Belloti, que também esteve no
congresso do ano passado, foi
uma das atrações do evento e
ainda concedeu uma entrevista
ao informativo SBOT-ES. Bello-
ti atualmente é coordenador do
curso de metodologia da Unifesp
(instituição na qual se formou e
onde também concluiu seu mes-
trado e doutorado). Autor de
vários artigos publicados sobre
MBE e ortopedia, além de colaborador em
diversos livros, Belloti falou um pouco so-
bre sua contribuição do congresso, fez um
panorama da MBE e confessou que é fã do
Espírito Santo.
Qual a importância da MBE para a or-
topedia hoje?
Atualmente, a evolução das técnicas cirúr-
gicas e das opções de tratamento é muito
rápida, e a MBE te permite discernir o que
é efetivo do que não é. Ela te dá informa-
ção de qualidade muito boa, além de agili-
dade. Isso permite que o ortopedista esteja
sempre atualizado de forma rápida. Todos
esses fatores são importantes não apenas
para o médico, pois ganha também o pa-
ciente e o gestor de saúde pública, que
consegue descobrir de forma rápida o que
é mais eficiente e mais barato também.
Então, você deixa de gastar dinheiro com
coisas que não funcionam.
Existe muita literatura sobre MBE atu-
almente no Brasil? Quais são os centros
“A
5Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
Capa
homens e a faixa etária mais recorrente foi
a de 15 a 59 anos. Mais de 83% das víti-
mas do sexo masculino e mais de 67% das
vítimas do sexo feminino se enquadravam
nessa idade.
Em terras capixabas essa realidade não
é muito diferente. Segundo o último Re-
latório Anual de Estatística de Trânsito do
Detran-ES, no ano de 2007 foram registra-
dos 38.189 acidentes no Estado, 33% deles
com vítimas e a maioria em vias municipais
e rodovias estaduais. Das 17.566 vítimas,
mais de 3% foram fatais.
Ao todo, foram 571 mortes (uma mé-
dia de 1,61 por dia), 109 delas registradas
na Região Metropolitana (Cariacica, Fun-
dão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha
e Vitória). Esse total foi composto por 92
motociclistas, 11 ciclistas, 87 pedestres,
132 passageiros e 244 condutores.
Tudo isso sem falar dos danos causa-
dos nos acidentes sem vítimas fatais. Para
se ter uma ideia da dimensão desse qua-
dro, de janeiro a junho deste ano, só no
Hospital São Lucas foram registradas 3.070
internações por trauma provocadas por
acidentes de trânsito.
Duplicação da BR-101: possibilidades
No dia 10 de setembro deste ano, Vi-
tória recebeu representantes da Agência
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT),
que apresentaram um estudo sobre a du-
plicação do trecho da BR-101 que corta o
Espírito Santo. A obra viria com a conces-
são da rodovia à iniciativa privada. Porém,
de acordo com o estudo apresentado pela
ANTT, a duplicação só seria concluída em
2030, tempo considerado longo demais
por empresários e representantes do go-
verno estadual que participaram da reu-
nião.
A proposta também foi criticada por
planejar a duplicação do trecho Sul somen-
te para 2025. Atualmente, o trecho é consi-
derado o mais crítico e perigoso de toda a
rodovia. No que foi planejado pela ANTT,
a duplicação dos primeiros 14 quilômetros
seria feita até 2015, entre Serra e Viana, até
o entroncamento com a BR-262.
Além disso, outro fator que chamou
a atenção na proposta foi a cobrança de
pedágio. De acordo com o estudo, a du-
plicação demoraria mais de uma década,
mas a cobrança da taxa começaria em seis
meses após a assinatura do contrato com a
empresa que vencesse a licitação. O valor
da tarifa proposta seria de R$ 5,00 a cada
100 quilômetros.
Diante dos impasses apresentados,
a reunião teve como resultado a apro-
vação para se criar um grupo de estudos
que apresente alternativas à proposta da
ANTT, que por sua vez prometeu recebe-
las e analisá-las.
Não foi a primeira vez que se cogitou
entregar o trecho em questão à iniciativa
privada. Em 2007, depois de pressão do
governo do Estado, essa parte da rodo-
via, que entraria na segunda rodada de
licitações feita pelo governo federal, foi
retirada do lote de concessões. Junto com
empresários que atuam na área de logís-
tica e transporte, o governo do Estado
argumentou que não havia a garantia de
duplicação de todo o trecho e o custo do
pedágio era muito elevado.
Duplicação da “Rodovia do Contor-
no”: polêmica
No mês de agosto deste ano as condi-
ções de algumas rodovias no Espírito Santo
e o número de acidentes ocorridos nesses
locais foram tema de diversas reporta-
gens nos principais veículos de imprensa
do Estado. As matérias chegaram a listar
os pontos mais perigosos das rodovias do
Estado, dando destaque principalmente
O difícil caminho das pedras Enquanto as condições de algumas rodovias no Estado atormentam a vida de motoristas, governos (estadual e federal) penam para achar soluções que contornem o problema.
m relatório da Organização
Mundial de Saúde (OMS) publi-
cado no mês de julho deste ano
mostra que todos os anos 1,27 milhões de
pessoas morrem e entre 20 e 50 milhões fi-
cam feridas em acidentes nas estradas. Na
lista dos países que registram mais mortes
causadas por esses acidentes, o Brasil é um
dos destaques ao lado de China, Estados
Unidos, Indonésia, Egito e Federação Russa.
O estudo concluiu que, sem medidas imedia-
tas, os acidentes rodoviários serão a quinta
maior causa de morte no planeta em 2030.
Assim como em nível mundial e nacio-
nal, o alerta em relação ao número de ví-
timas em acidentes rodoviários também é
válido para Espírito Santo. Prova disso são
as estatísticas do Departamento Estadual de
Trânsito (Detran-ES). Elas apontam que em
2007 os acidentes de trânsito tiraram a vida
de mais pessoas do que doenças infecciosas
e parasitárias.
Além das condutas inadequadas por
parte dos motoristas, como desrespeito à
sinalização, excesso de velocidade e falta de
atenção, uma das causas desses acidentes
são as condições das estradas. No Espírito
Santo, por exemplo, a falta de sinalização,
os buracos encontrados em determinados
trechos ou o estado de conservação geral de
algumas rodovias colocam em risco a vida
de milhares de pessoas diariamente. A situ-
ação chega ao ponto de discutirem se entre-
gar a responsabilidade de algumas rodovias
à iniciativa privada é a melhor solução para
reduzir os acidentes nas estradas.
Acidentes no Brasil e no Espírito Santo
De acordo com dados do Relatório da
Secretaria de Vigilância da Saúde, do Minis-
tério da Saúde, sobre o perfil da mortalida-
de do brasileiro, em 2007 foram registrados
36.465 óbitos no País causados por acidentes
de trânsito. Desse total, 29.903 (82%) eram
U
6 Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 20096 Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
para a Rodovia do Contorno, que liga os
municípios de Cariacica e Serra. Até o dia
19 de agosto, a rodovia, que está em fase
de duplicação, havia registrado uma média
de quase 50 acidentes por mês em 2009.
Na hora de determinar a responsabili-
dade por tais acidentes não houve consen-
so, como mostraram as reportagens. De um
lado, a Polícia Rodoviária Federal do Esta-
do argumentou que a causa de muitos aci-
dentes é a má sinalização em determinados
trechos, culpando assim o Departamento
Nacional de Infra-Estrutura de Transpor-
tes do Espírito Santo (DNIT-ES), responsá-
vel pela sinalização das rodovias federais,
como é o caso da Rodovia do Contorno. O
DNIT-ES por sua vez jogou a culpa nos mo-
toristas, explicando que os acidentes são
provocados por excesso de velocidade e
desrespeito à sinalização.
Questionado novamente pelo informa-
tivo SBOT-ES, o DNIT-ES (em nota enviada
pelo seu Núcleo de Comunicação Social)
argumentou que os problemas na rodovia
decorrem do fato de a obra estar sendo
realizada ao mesmo tempo em que 35 mil
veículos (dos quais 68% são de carga) tran-
sitam no local, onde a velocidade máxima
permitida é de 40km/h.
Além disso, o DNIT-ES informou que a
caracterização do local não permite muitas
alternativas. “Não é possível construir va-
riantes que permitam a obra num patamar
mais seguro. Os desvios têm que ser reali-
zados na própria rodovia, e isto é um in-
contornável ingrediente a intensificar as
dificuldades e perigos que já não eram
poucos antes e durante a duplicação”.
Privatizar é a solução?
Em época de discussão da proposta de
duplicação da BR-101 no Estado, o diário A
Gazeta publicou no último dia 27 de setem-
bro uma entrevista com o presidente da As-
sociação Brasileira de Concessionárias (ABCR)
Moacyr Duarte, que falou sobre modelo de
concessões, cobrança de pedágio, entre ou-
tros assuntos. Otimista, Duarte avalia que o
programa de concessão de rodovias é um
sucesso. “Todas as pesquisas indicam que as
melhores rodovias do País são as pedagiadas.
Nas rodovias que foram transferidas para as
concessionárias, estas cumpriram seu papel,
realizaram investimentos, estão operando
adequadamente”, lembra.
O presidente da ABCR também acredi-
ta que o modelo traz mais benefícios aos
condutores do que custos. “Os usuários ga-
nham porque, na relação custo-benefício,
o que eles pagam é menos do que eles re-
cebem de retorno. Além disso, as rodovias
estão em bom estado”, completa. Duarte
pondera que é comum o usuário reclamar
dos valores cobrados nos pedágios, já que
as concessões são relativamente novas, e
as pessoas ainda não se acostumaram com
isso. “É evidente que o usuário estranha e
não gosta. Mas é uma tendência mundial.
Os recursos orçamentários não são mais su-
ficientes para atender às demandas sociais,
aposentadoria, saúde, educação, seguran-
ça, e ao mesmo tempo a infraestrutura”,
explica.
Para finalizar, Moacyr considera que
o modelo de concessões brasileiro precisa
melhorar: “Os estudos de viabilidade têm
de ser mais bem feitos. Quando você elabo-
ra um estudo tenta projetar razoavelmente
o que vai acontecer, o que dá para fazer, o
que não dá para fazer e a tarifa de pedá-
gio. Acontece que alguns governos se pre-
ocupam muito com a tarifa baixa.”
É exatamente este último ponto que,
segundo Duarte, vai pesar na duplicação da
BR-101 no Espírito Santo. “O problema ali é a
discussão de tarifa, porque se você quer uma
tarifa baixa, o que você faz? Começa a jogar
o investimento pra frente. Aí você não tem
renda suficiente para fazer o investimento
que precisa. Esse realmente é o desafio para
o estudo de viabilidade”, finaliza.
NúmerosEm 2007, no Espírito Santo...
38.189 acidentes foram registrados
33% dos acidentes foram com vítimas
80% dos condutores envolvidos em acidentes com vítimas eram
do sexo masculino
17.566 vítimas foram contabilizadas nos acidentes
571 vítimas fatais foram registradas
109 vítimas fatais foram de acidentes ocorridos na Região Me-
tropolitana
60% dos acidentes com vítimas fatais foram em vias municipais e
rodovias estaduais
16,65 mortos foi o Índice de Fatalidade por 100 mil habitantes
1,61 foi a média de mortos por dia
Fonte: Relatório Anual de Estatística de Trânsito do Detran-ES do
ano de 2007
2007
1,61
571
33%
80%
109
17.566
7Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
Social
Foram três dias de palestras, discussões e muita troca de experiência. Assim transcorreu o 2º Congresso de Ortopedia e Traumatologia do Espírito Santo, que aconteceu em Vitória, entre os dias de 30 de julho e 1º de agosto, reunindo especialistas capixabas, cariocas e paulistas, além de fisioterapeutas e acadêmicos das principais escolas médicas do Estado.As palestras versaram sobre os diversos tipos de fraturas e seus métodos de tratamento, temas diretamente relacionados ao dia-a-dia profissional nas clínicas e prontos-socorros. Para João Car-los de Medeiros Teixeira, presidente da SBOT-ES, o dever foi cumprido, pois o evento também serviu para incentivar pesquisas nessa área e mostrar que o Espírito Santo está acompanhando os avanços nacionais e internacionais com relação à estrutura, qualidade do atendimento e trata-mento de traumas.
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2º Congresso de Ortopedia e Traumatologia do Espírito Santo
José Hungria Neto e esposa, Nelson
Elias e João Carlos Teixeira.
Joao Carlos Belloti, João Carlos Teixei-
ra e Delvira Emilia Teixeira.
Adriano Souza junto com o casal
Alceuleir Souza e Denise Souza.
O evento também foi prestigiado por
residentes.
O público lotou o auditório do Hotel
Radisson.
Carlos Henrique Carvalho, Atyla Quin-
taes, Ronaldo Roncetti, Emídio Perim
Jr., João Carlos Belloti e João Carlos de
Teixeira.
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8 Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
Amphilóphio, Rodrigo Resende, Ander-
son de Nadai, Nelson Elias, Kodi Koji-
ma, Adelmo Rezende, Jose Eduardo,
João Carlos Teixeira e Alceuleir Souza.
Amphilóphio Oliveira foi um dos or-
topedistas que representou o Espírito
Santo no Congresso.
José Sérgio Franco
José Sérgio Franco, professor do Departamento de Ortopedia da UFRJ, destacou
o nível de discussões do congresso, dizendo que a participação das pessoas foi
ótima. Segundo Franco, ficou confirmado que não existe mais aquela história das
pessoas não fazerem perguntas, como acontecia em alguns eventos no passado.
O médico, que é capixaba e atualmente vive no Rio de Janeiro, também elogiou
os temas debatidos, considerando-os bastante atuais. Para ele, o que foi mos-
trado é o que existe de mais moderno no mundo hoje. E se tiveram perguntas
sobre esses assuntos significa que os capixabas estão acompanhando o que está
acontecendo e estão por dentro das novidades da área, concluiu.
José Soares Hungria Neto
Profissional da Santa Casa de São Paulo, José Soares Hungria Neto citou o enfo-
que do congresso como ponto alto do evento, uma vez que foi voltado para o
politraumatizado e para fraturas. Hungria lembrou que hoje o trauma é respon-
sável por um número muito alto de demandas nos consultórios médicos. Por isso,
iniciativas que tratem desse tema são importantíssimas, explicou. Para Hungria a
própria diversidade do público mostrou que a escolha do tema foi muito feliz, já
que estavam presentes desde residentes até médicos experientes. Isso sem falar
no ambiente informal, que facilitou o contato e permitiu uma participação com
muitas perguntas boas e pertinentes, acrescentou o médico.
Kodi Kojima
Outro profissional da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, o médico Kodi
Edson Kojima, também esteve presente no evento promovido pela SBOT-ES. Ko-
jima, que atualmente é vice-presidente da SBOT-SP, ministrou cinco palestras e
ainda fez o lançamento do livro “Casos clínicos em Ortopedia e Traumatologia”.
A publicação é um guia prático para a formação e atualização em ortopedia e
traumatologia, em que Kojima e outros dois experientes especialistas brasileiros
compartilham seus conhecimentos e experiências na análise de casos do dia-a-dia
no atendimento ortopédico. “A ideia foi produzir um livro diferente dos modelos
atuais, um caminho novo que proporcionasse uma leitura agradável tomando
por base casos clínicos que vivenciamos no nosso cotidiano”, informou Kojima.
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O presidente da SBOT-ES, João Carlos
Teixeira, discursa na abertura do con-
gresso.
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9Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
Especial
ocê precisa fazer as coisas deva-
gar e cuidadosamente devido ao
medo de uma fratura? Já imagi-
nou tendo dificuldade para caminhar e fa-
zer um simples exercício por causa de uma
deformidade e também de dores? Se você
não se encaixa neste perfil, saiba que para
muitas pessoas isso já é uma triste realida-
de. Ao contrário do que você imagina, sai-
ba também que esse problema pode não
estar tão distante de sua realidade. Trata-
se de um mal chamado osteoporose.
No mundo, essa doença cresce em pro-
porções epidêmicas. Já são 200 milhões de
portadores, segundo estimativas da Orga-
nização Mundial da Saúde (OMS). Somen-
te no Brasil cerca de 15 milhões de pessoas
têm osteoporose, porém apenas um terço
dos portadores possuem diagnóstico clíni-
co; o restante nem faz ideia de que corre
esse perigo. A situação é tão preocupante
que a OMS elegeu de 2000 a 2010 como a
década do osso e da articulação.
Doença silenciosa e progressiva que só
aparece na fase avançada - quando acon-
tecem as fraturas -, a osteoporose é uma
enfermidade esquelética sistêmica carac-
terizada pela diminuição da massa óssea
e deterioração da microarquitetura do te-
cido ósseo, com consequente aumento da
fragilidade e susceptibilidade à fraturas,
Enfermidade silenciosa e sem sintomas, a osteoporose, muitas vezes, só é descoberta quando aparecem as primeiras fraturas.
especialmente nas regiões do quadril, pu-
nho e vértebra. Embora seja mais comum
em mulheres pós-menopausa - quando o
nível hormonal cai sensivelmente - e em
idosos, a osteoporose pode aparecer em
crianças e jovens.
Os fatores de risco que colaboram para
o desenvolvimento da doença podem ser
divididos em modificáveis e não modificá-
veis. Entre os fatores modificáveis, pode-se
citar o sedentarismo e o hábito alimentar;
já entre os não modificáveis, destacam-se
o histórico familiar, a idade e o sexo. Para
o ortopedista e traumatologista Agosti-
nho Bruzzi de Figueiredo o sedentarismo
e a baixa ingestão de cálcio na alimenta-
ção são fatores de risco importantes que
podem ser facilmente modificáveis. “As
publicações mais recentes mostram que
as atividades físicas são altamente bené-
ficas, pois melhoram notadamente o pico
de massa óssea diminuindo a sua perda e
até mesmo mantendo um bom nível dessa
massa na senilidade.
Mas Agostinho Figueiredo faz um
alerta. “A prática de exercícios físicos não
reverte a perda óssea e nem modifica os
efeitos de alteração hormonal. A preven-
ção contra a osteoporose deve começar
desde a infância com a prática de ativi-
dades físicas e um dieta saudável, rica de
alimentos nutritivos”.
Conscientização – Preocupada com o
desconhecimento por parte da população
sobre os riscos da osteoporose, a SBOT lan-
çou na segunda quinzena de julho, no Rio
de Janeiro, uma espécie de projeto piloto
que futuramente será implementado em
outras regiões do País. Trata-se da cam-
panha “Sambar sem Quebrar”, uma pro-
moção realizada em conjunto com escolas
de samba carioca que orienta as passistas
- por meio de palestras - sobre a importân-
cia de realizar exames de densiometria ós-
sea, de uma alimentação que reponha os
nutrientes necessários aos ossos e também
do controle do nível hormonal.
Para Romeu Krause, presidente da
SBOT, é muito mais fácil e barato prevenir
a osteoporose do que tratá-la. “Infelizmen-
te muitas mulheres brasileiras só tomam
conhecimento da doença depois que so-
frem uma fratura”, lamentou durante a
apresentação da campanha. Contudo, um
dado ainda preocupa. Segundo a Socieda-
de Brasileira de Pacientes com Osteoporose
(Sobrapco), apenas 2% dos brasileiros têm
acesso ao tratamento da osteoporose, que
além do uso de medicamentos necessita de
uma dieta alimentar rica em cálcio e ativi-
dade física. Outro fator limitante é o preço
das drogas, já que a terapia e longa.
V
Sorrateira e ameaçadora fragilidade
10 Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
O que é ?
Enfermidade que caracteriza-se pela diminuição de massa óssea,
tornando os ossos frágeis e suscetíveis a fraturas, especialmente
nas regiões do quadril, punho e vértebra.
É mais comum em mulheres pós-menopausa e em idosos, mas
também pode aparecer em crianças e jovens.
Diagnóstico
A forma mais antiga é o raio-X. Hoje, o exame de referência é a
densiometria óssea, que quantifica a perda de massa óssea, de-
termina os riscos de fratura nos ossos comprometidos e verifica
se o tratamento está sendo adequado.
Prevenção/Tratamento
Hábitos saudáveis: exercícios físicos regulares; correta exposição
ao sol; alimentação rica em vitamina D e cálcio (folhosos escuros,
peixes, leite e outros laticínios); reposição hormonal.
Evitar: fumo e bebidas alcoólicas.
Fatores de risco
Idade/Menopausa: baixo nível hormonal;
Hábitos alimentares: insuficiência de vitamina D e cálcio;
Comportamento: sedentarismo, alcoolismo e fumo;
Outros: uso de medicamentos (corticóides) e doenças crônicas.
Dados gerais da osteoporose (OMS, Socie-dade Brasileira de Reumatologia e Ministé-rio da Saúde)
Mundo: 200 milhões de portadores atualmente;
Brasil: 15 milhões de portadores atualmente;
Brasil: 1 milhão de fraturas anuais decorrentes da osteoporose;
Brasil: 250 mil fraturas de quadril anuais. Trata-se do tipo mais
grave de fratura pelo alto risco de incapacidade e de morte por
complicações;
Brasil: 40 mil óbitos anuais decorrentes de complicações da doença;
Brasil: R$ 80 milhões foram os gastos do SUS entre 2004 e 2005
com internação decorrente da doença.
OSTEOPOROSE
11Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
esde pequenos, quando aprende-
mos a caminhar, entendemos a im-
portância que os pés terão para o
resto de nossas vidas. Seja para andar, correr,
brincar e praticar esportes, eles são uma das
partes do corpo mais exigidas. Contudo, eles
nem sempre recebem a merecida atenção.
A falta de informação e, principalmente, de
orientação médica é um fator de risco para
pés saudáveis.
Parece impossível, mas é verdade: quando
corremos, os pés sustentam cinco ou seis vezes
o peso do corpo, podendo chegar ao total de
uma tonelada dependendo de outros tipos de
esforços, segundo dados da Associação Ame-
ricana de Pedicuros. Uma pessoa que ao lon-
go da vida tenha atividade física normal, aos
50 anos terá andado cerca de 120 mil quilô-
metros, o que equivale a impressionantes dez
voltas em torno da Terra.
Dicas SBOT-ES
D
Atenção com os pés
Dicas
Tamanho esforço não poderia deixar de cau-
sar desgastes, dores e até doenças, pois esses
membros, com o passar do tempo, perdem
gradualmente sua proteção natural que ocor-
re pela degeneração do tecido gorduroso -
aquele que dá o formato almofadado dos pés
- , perdendo a função de amortecer impactos.
Além do desgaste, atenuantes como os calça-
dos utilizados, hereditariedade e higiene pes-
soal demandam mais cuidados e atenção.
Os calçados, ao mesmo tempo, são aliados e
vilões da saúde dos pés. O ortopedista Marce-
lo Nogueira explica que em atividades físicas,
os cuidados devem ser ainda maiores. “É nor-
mal a pessoa sentir dor e achar que em breve
irá passar ou, por pretender adquirir um de-
terminado calçado, relevar um evidente des-
conforto. Essas são situações que ocorrem com
frequência e que podem gerar danos muito
comuns”.
Em caso de traumas:
Interrompa as atividades imediatamente;
Use uma compressa de gelo no local lesionado;
Se possível, imobilize o local;
Erga o membro para aliviar a pressão;
Procure imediatamente um médico especialista.
Ao escolher e utilizar um calçado:
Evite sapatos apertados ou folgados demais;
Priorize o conforto;
Observe a anatomia dos pés;
Observe o peso do corpo para identificar a necessi-
dade de um calçado reforçado;
Para mulheres, no dia-a-dia é preferível usar san-
dálias rasteiras.
Ao praticar esportes e caminhada:
Comece com um ritmo mais leve e aumente a
carga aos poucos;
Não economize e adquira equipamentos ade-
quados;
Caso tenha problemas, procure acompanha-
mento médico especializado.
Segundo o ortopedista, as torções de tornoze-
lo, calos, joanetes e esporões são os problemas
que mais acometem os pés e as principais cau-
sas de procura por ajuda em seu consultório.
“O uso de calçados inadequados é um dos
erros mais frequentes e que causam tantos
estragos”, informa Nogueira.
Apesar de soluções simples e práticas que po-
dem ser adotadas no dia-a-dia, alguns proble-
mas podem demandar cuidados maiores. Um
exemplo é o Hálux Valgo. Popularmente co-
nhecido como Joanete, é uma protuberância
oriunda do crescimento ósseo do grande dedo
do pé - o dedão - e do espessamento dos teci-
dos moles que recobrem a região. Na maioria
das vezes, o Joanete é resultado do uso exces-
sivo de saltos altos e, em casos mais extremos,
é necessária cirurgia corretora.
Destinados a sustentar e a locomover nosso corpo, estes membros po-dem sofrer com diversos traumas e doenças. Confira como manter a boa saúde dos pés.
12 Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 200912
Raio X
13Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
Vida Leve
Meu melhor amigo é um
CAmPEãODos dobermans aos american staffordshire terriers, saiba quem são os prodígios que enchem de orgulho o ortopedista José Eduardo Ribeiro Filho.
recisar ao certo quanto à origem
dos primeiros cães domésticos é
entrar numa disputa aquecida e
há muito travada nos principais meios aca-
dêmicos. Enquanto registros arqueológicos
apontam restos de cães domésticos com ida-
de máxima de 14 mil anos, análises genéti-
cas em lobos, coiotes, cães e outros canídeos
empurram essa data para 135 mil anos, ou
seja, um passado bem mais distante.
As teorias postulam que os cães atu-
ais surgiram da domesticação do lobo
cinzento asiático. Ao longo dos séculos, o
homem realizou uma seleção natural das
espécies por suas aptidões, características
físicas e, principalmente, comportamen-
to, que culminou em mais de 800 espécies
atualmente.
Mas mesmo sem poder precisar uma
data específica, uma coisa é fato: o cão é o
mais antigo animal domesticado pelo ser
humano. Há mais de dois mil anos eles aju-
dam o homem a caçar predadores de aves
e ovos, a proteger plantações e a proprie-
dade, controlar rebanhos, entre outros ser-
viços. Quando se fala que o cão é o melhor
amigo do homem, não é por acaso. Não há
conhecimento de uma amizade tão forte e
duradoura entre espécies distintas quanto
o ser humano e o cão.
Foi essa empatia pela espécie que le-
vou o ortopedista José Eduardo Ribeiro
Filho - na época apenas um adolescente
de 15 anos - a ser tornar não só um apai-
xonado por cães, mas também num exímio
conhecedor. E tudo começou com o apoio
de um primo de seu pai, um juiz de exposi-
ções de cães, que o orientou a adquirir um
cachorro de pedigree e também ensinou a
Eduardo algumas técnicas de adestramen-
to e de apresentação.
P
Foto
: Art
ur
Fran
co
14 Informativo SBOT-ES | 3º trimestre 2009
A raça escolhida foi a de dobermans e
José Eduardo, até aos 23 anos, teve tempo
de sobra para treinar e participar de com-
petições, tanto é que fez de uma cadela e
filhote premiados campeões. Mas o curso
de medicina, a residência médica, um está-
gio no Canadá e um mestrado no Rio de
Janeiro exigiram mais tempo do que José
Eduardo dispunha, e o hobbie ficou de
lado, mas não esquecido.
A vez dos American Staffordshire Ter-
riers - Há três anos José Eduardo retomou
a sua antiga paixão. Agora, morando em
uma ampla casa e não mais em aparta-
mento, ele cria um macho (Golden Bullet,
de dois anos e meio) e uma fêmea (Kaylua
ou simplesmente Lua, de três anos e meio)
da raça American Staffordshire Terrier
que acabaram de ter filhotes (entre eles,
a pequena Mariah Carey, de apenas qua-
tro meses). Da mesma família dos temíveis
Pitbulls, os animais dessa raça ainda são
transformados em máquinas de briga pela
grande valentia. Mas se criados de forma
correta são dóceis, inteligentes e extrema-
mente devotados aos seus donos. “Desde
filhote já da pra saber como vai ser o com-
portamento do cão quando adulto. Por-
tanto, torna-se essencial saber controlar o
potencial do animal”, ensina José Eduardo.
“Outra característica do American Staffor-
dshire Terrier é a de ser um excelente guar-
dião. Sempre comento com minha esposa
que confio mais nos meus cães do que no
alarme da casa”, completa brincando.
Segundo o ortopedista, a escolha da
raça foi, principalmente, devido à índole do
animal. “Após várias pesquisas na internet
descobri que o American Staffordshire Ter-
rier possui um temperamento muito bom
com pessoas. Como tenho duas crianças pe-
quenas, não pensei duas vezes”, explica.
O retorno ao hobbie, contudo, não pôde
ser por completo. A vida atribulada entre
consultas e cirurgias não reserva tanto tem-
po para os treinamentos e as competições
como no passado. Mas quem pensa que o
prazer por criar um cachorro esteticamen-
te perfeito para participar de competições
acabou se engana. “Hoje não tenho tempo
suficiente para treinar, exercitar, enfim, co-
ordenar um programa de condicionamen-
to muscular completo. Assim, envio meus
animais para um treinador e apresentador
profissional que mora no Rio de Janeiro e
que se encarrega disso para mim”. Segundo
Eduardo, tem época que os cães ficam por
lá por um período de até quatro meses para
participar das exposições.
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Mas quando os cães estão com Eduar-
do, não é raro vê-lo exercitando-os por aí.
Um episódio que o deixou bastante chatea-
do aconteceu durante uma sessão de exer-
cícios. “Estava correndo com um dos meus
cães, de apenas um ano e meio, quando
inesperadamente ele infartou e morreu”.
Eduardo conta que ficou muito triste, mas
ao comunicar à pessoa que havia vendido o
animal para ele, acabou ganhando outro.
Qual é o segredo um animal campeão?
José Eduardo explica que um bom
planejamento de cruzamento é a base de
tudo. O objetivo é sempre obter um filhote
o mais próximo possível do padrão da raça
como focinho de cor preta, olhos escuros
e redondos, pálpebra pigmentada, tama-
nho e angulações de membros exatamente
como manda a Federação Internacional de
Cães. Porém, para ter um animal campeão
é necessário investir, principalmente, em
alimentação a base de rações especiais e
também em viagens para as competições.
Mas os custos tornam-se irrelevantes se
comparados ao prazer de uma conquista,
ainda mais quando ela é inesperada. “No
ano passado aconteceu uma coisa que eu
não esperava e que me deixou muito feliz.
Houve uma competição aqui em Vitória e
meu cachorro Golden Bullet faturou o título
concorrendo com um Fox Terrier que estava
em primeiro lugar no ranking da Confede-
ração Brasileira de Cinofilia”, relembra.
Na edição de agosto da revista de cir-
culação nacional Cães e Cia a estrela da
vez foi a cadela Lua. Ela participou de
uma reportagem especial, ao lado de ou-
tros três cães, sobre temperamento. José
Eduardo explica que embora o animal te-
nha um bom temperamento, ele sempre
necessitará de supervisão. “Jamais deixo
as crianças sozinhas com meus cães, por-
que eles nunca deixarão de ser animais,
uma característica que devemos sempre
lembrar e respeitar”.
José Eduardo com o casal Golden
Bullet e Lua.
A cadela Lua em uma de suas pre-
miações no ano de 2007.2
2
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