jensen - repensando o capital cultural

22
Repensando o capital subcultural Rethinking subcultural capital REVISTA ECOPÓS | ISSN 2175-8689 | COMUNICAÇÃO E GOSTO | V. 17 | N. 3 | 2014 | DOSSIÊ O objetivo deste artigo é contribuir para repensar a noção de capital subcultural como cunhado por Sarah Thornton. Baseando-me em Bourdieu, defendo que o trabalho original de Thornton sobre o conceito falha por uma relutância em dedicar atenção analítica à posição social e outras variáveis só- cio-estruturais dos participantes da subcultura. Com o meu trabalho de campo entre os homens jo- vens subprivilegiados de origem étnica não dinamarquesa como o ponto de partida, eu argumento que uma compreensão sociológica sobre a diferenciação hierárquica e intercessões entre diferentes variáveis sócio-estruturais é necessária para explicar e compreender adequadamente subculturas e capital subcultural. A relação entre a subcultura e seus arredores é melhor compreendida ao nos concentrarmos no que é apreciado dentro dela (ou seja, o capital subcultural) e, ao mesmo tempo, ao situarmos analiticamente a subcultura em termos de classe, gênero, etnia e “raça”. PALAVRAS-CHAVE: Classe; Capital cultural; Etnia; Gênero; Masculinidade; Subcultura. The aim of this article is to contribute to the rethinking of the notion of subcultural capital as coined by Sarah Thornton. Drawing on Bourdieu, I argue that Thornton’s original work on the notion is flawed by a reluctance to devote analytical attention to the social position and other socio-structur- al variables of the participants in the subculture. With my fieldwork among underprivileged young men of non-Danish ethnic origin as the point of departure, I reason that a sociological grasp on hi- erarchical differentiation and intersections between different socio-structural variables is necessary to explain and understand subcultures and subcultural capital adequately. The relation between the subculture and its surroundings is best understood by focusing on what is appreciated within the subculture (i.e. subculture capital) and at the same time analytically situating the subculture in terms of class, gender, ethnicity and ‘race’. KEYWORDS: Class, Cultural capital, Ethnicity, Gender, Masculinity, Subculture. RESUMO ABSTRACT REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br DOSSIÊ 1 SUBMETIDO EM: 05/09/2014 ACEITO EM: 30/09/2014 Tradução: Matheus Araujo dos Santos Doutorando em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rosa Heimer Mestra em Gênero e Politicas Sociais pela London School of Economics and Political Science (LSE). Sune Qvotrup Jensen University of Aalborg, Denmark.

Upload: roman-mayora

Post on 05-Sep-2015

221 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Jensen - artículo

TRANSCRIPT

  • Repensando o capital subcultural

    Rethinking subcultural capital

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    O objetivo deste artigo contribuir para repensar a noo de capital subcultural como cunhado por Sarah Thornton. Baseando-me em Bourdieu, defendo que o trabalho original de Thornton sobre o conceito falha por uma relutncia em dedicar ateno analtica posio social e outras variveis s-cio-estruturais dos participantes da subcultura. Com o meu trabalho de campo entre os homens jo-vens subprivilegiados de origem tnica no dinamarquesa como o ponto de partida, eu argumento que uma compreenso sociolgica sobre a diferenciao hierrquica e intercesses entre diferentes variveis scio-estruturais necessria para explicar e compreender adequadamente subculturas e capital subcultural. A relao entre a subcultura e seus arredores melhor compreendida ao nos concentrarmos no que apreciado dentro dela (ou seja, o capital subcultural) e, ao mesmo tempo, ao situarmos analiticamente a subcultura em termos de classe, gnero, etnia e raa.PALAVRAS-CHAVE: Classe; Capital cultural; Etnia; Gnero; Masculinidade; Subcultura.

    The aim of this article is to contribute to the rethinking of the notion of subcultural capital as coined by Sarah Thornton. Drawing on Bourdieu, I argue that Thorntons original work on the notion is flawed by a reluctance to devote analytical attention to the social position and other socio-structur-al variables of the participants in the subculture. With my fieldwork among underprivileged young men of non-Danish ethnic origin as the point of departure, I reason that a sociological grasp on hi-erarchical differentiation and intersections between different socio-structural variables is necessary to explain and understand subcultures and subcultural capital adequately. The relation between the subculture and its surroundings is best understood by focusing on what is appreciated within the subculture (i.e. subculture capital) and at the same time analytically situating the subculture in terms of class, gender, ethnicity and race.KEYWORDS: Class, Cultural capital, Ethnicity, Gender, Masculinity, Subculture.

    RESUMO

    ABSTRACT

    REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br

    DOSSI

    1

    SUBMETIDO EM: 05/09/2014ACEITO EM: 30/09/2014

    Traduo: Matheus Araujo dos SantosDoutorando em Comunicao e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    Rosa HeimerMestra em Gnero e Politicas Sociais pela London School of Economics and Political Science (LSE).

    Sune Qvotrup JensenUniversity of Aalborg, Denmark.

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 2

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSIEu estou a caminho da discoteca. A porta emperra, mas eu empurro forte e depois entro. Dentro, os caras esto sentados, em p encostados nas paredes e no sof de couro. Changiz levanta no meio do cho como se estivesse congelado no meio

    de um movimento. Eu imediatamente entendo que eles esto provavelmente break-dancing. Vocs esto danando break?, pergunto. Chandiz acena, mas ao mesmo tempo ele parece se sentir um pouco desconfortvel com a situao. Vai em frente, continue, Rasan diz do sof de couro, e continua: esse cara bom. Lisonjeado por ser aceito entre os jovens e com expectativas, eu vou at a parede. Minha expectativa, en-tretanto, vira confuso rapidamente: o que eu estou por assistir tem pouco a ver com break dance. Changiz e Erkan esto de p de frente um para o outro. Depois de um sinal acordado de antemo, comea uma luta livre um tanto agressiva. Ningum leva nenhum golpe, chute ou cabeada. Mas, julgando a expresso facial dos dois lutado-res, h poder e dor envolvidos no modo com o qual os dois corpos esto girando no cho. Os movimentos de imobilizao duram muitos segundos, em seguida a pessoa que est agarrada embaixo consegue se torcer, se livrar, e luta para chegar ao topo. No prximo momento o emaranhado de corpos tropea na combinao de discos do bar e na mesa do DJ, atingindo as barras de ferro montadas na base. Eles giram e lutam de tal forma que eu, por um momento, me pergunto se isso por diverso ou se uma luta de verdade. A audincia torce e mostra sua apreciao quando um dos lutadores faz um movimento especial rpido ou algum poderoso detalhe, jogando as mos para o ar, num estilo hip-hop. Voc esta fora de si, eu sussurro, mas ao mesmo tempo estou fascinado... A luta inteira provavelmente durou alguns minutos. Depois Birgitte [empregada do clube de jovens] interrompe a luta, entrando na sala. Ela demora tanto para abrir a porta que os dois lutadores tm tempo de se levantar do cho e ficar de p distantes, de frente um pro outro. O que vocs esto fazendo?, ela pergunta. Por um curto momento h um silncio total. Eu recompenso a confiana dos garotos no di-zendo nada e olhando para o outro lado. Vocs esto danando break?, ela pergunta. Changiz sussurra alguma coisa, quase inaudvel. Sim. A gente esta danando break, diz Rasam. voc que est danando break, Changiz?, Birgitte pergunta. Changiz balana a cabea. Posso ver?, ela continua. Changiz praticamente ignora a pergunta dela, e depois responde com um sussurro baixo, que Birgitte interpreta como no. Vamos l. No tem por que se envergonhar, ela diz com um sorriso intolerante nos lbios e depois deixa o salo.

    ...

    Eu sigo alguns dos garotos l fora. Erkan senta e acende um cigarro. Voc est bem Erkan!, Changiz diz de maneira apreciativa. Erkan sorri. Eu deixo o tempo passar.

    Notas de campo 23 de setembro 2001.

    O episdio citado acima vem de notas que eu fiz quando estava conduzindo meu trabalho de campo em dois clubes em uma rea residencial, social e economicamente subprivilegiada, na periferia de uma provncia da Dinamarca. Eu estava no clube de jovens para coletar dados etnogrficos sobre a cultura desenvolvida por jovens ga-rotos subprivilegiados de origem tnica no dinamarquesa vivendo nesse bairro. Os garotos lutando tinham 15 e 16 anos de idade e a audincia entre 13 e 17.

    O episdio pode ser interpretado de diversos modos, e no nvel de maior senso co-mum ns podemos simplesmente concluir que no h nada incomum sobre garotos adolescentes lutando por diverso. No entanto, mesmo as prticas mais mundanas e

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 3

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    comuns do dia a dia podem, quando escrutinadas de um ponto de vista sociolgico, dizer algo sobre como pessoas lidam e reagem s suas condies de vida. Portanto, esse episdio tambm poderia ter um significado sociolgico mais profundo.

    Eu argumentaria que a cena retratada ilustrativa de algumas preocupaes centrais de uma cultura jovem distinta, criada por jovens garotos social e economicamente privados, de origem tnica no dinamarquesa e que vivem em reas residenciais sub-privilegiadas. O que exibido uma prtica corporal masculina diferenciada, levando a que a prtica dos garotos seja reconhecida como okay. Objetificando meus dados empricos, eu acho significante compreender essa cultura jovem como subcultura e, portanto, conceituar esse critrio de apreciao e reconhecimento presente dentro dessa cultura distinta de jovens como capital subcultural (Thornton, 1995).

    O objetivo deste artigo contribuir para repensar a noo de capital subcultural, a qual foi originariamente desenvolvida por Sarah Thornton no seu trabalho sobre clube de culturas britnicas. A sociologia de Pierre Bourdieu influncia o meu repen-sar. Eu critico o trabalho de Thornton e confronto o conceito por meio do meu prprio trabalho de campo para demonstrar que h um potencial explanatrio a ser ganho se integrarmos essa noo em uma sociologia que enfatiza formas de hierarquia de diferenciao e intersees entre diferentes variveis scio-estruturais.

    Na primeira seo eu apresento e discuto a sociologia de Bourdieu e o conceito de capital cultural. Depois me dirijo ao conceito de subcultura e discuto algumas crti-cas desse conceito. Na seo seguinte sigo apresentando e criticando a verso do conceito de capital subcultural de Thornton. Alguns problemas lgicos associados relao entre campo e capital so discutidos e, em seguida, ser discutido como o capital subcultural produzido e convertido. Eu retorno subcultura distinta criada por garotos jovens social e economicamente subprivilegiados de origem tnica no dinamarquesa, e depois concluo de maneira mais geral na ltima parte.

    1. A SOCIOLOGIA DE BORDIEU, DIFERENCIAO HIERRQUICA E O CONCEITO DE CAPITAL SUBCULTURAL

    Como mencionado acima, um dos objetivos deste artigo argumentar a favor da in-tegrao da noo de capital subcultural a uma sociologia que enfatiza formas hi-errquicas de diferenciao. A sociologia de Bourdieu uma escolha lgica visto que a diferenciao hierrquica central no seu trabalho e que a noo de capital subcul-tural, como cunhada por Thornton, explicitamente inspirada nele.

    Do meu ponto de vista, uma caracterstica central e definidora da sociologia de Bour-dieu que ela no compreende o mundo social como relativista (Bourdieu, 2000). Entretanto, Bourdieu no um realista; ao contrrio, ele diz que construir o objeto de anlise sempre parte do processo cientfico e, por extenso, ele argumenta que necessrio construir objetos de uma maneira terica que opere com conceitos estrut-urais fortes. De outro modo se tornaria impossvel escrutinar poder e dominao (um objeto central no projeto intelectual de Bourdieu) e padres empricos seriam deixa-dos sem explicao. Aceitar isso implica que a diferenciao vertical (hierrquica) do mundo social importante para a anlise sociolgica. Portanto, analisar a sociedade contempornea com base em suposies ps-modernas sobre a crescente fragmen-tao, pluralizao e individualizao das formas de vida, modos de vida, subculturas e biografias individuais (Mortensen, 2004, p. 21) inadequado.

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 4

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    O conceito de capital cultural ocupa um papel central na anlise de diferenciaes hierrquicas de Bourdieu. Isso pode ser lido como uma tentativa de conceituar bens valorizados pela cultura legtima de uma dada sociedade. Em Distino (1979), Bour-dieu demonstra como preferncias de gosto e estilo diferem dependendo da posio social ou de classe na sociedade, e como preferncias de gosto e estilo tm conse-quncias reais concretas, capazes de instalar e reproduzir hierarquias sociais com base em diferenas na habilidade que agentes sociais tm de dominar cdigos da cultura legtima. O capital cultural pode ser corporificado como parte do habitus, de tal forma que o agente social ter um senso corporal e pr-reflexivo do que apropriado e de conduta valorizada em um dado contexto (Bourdieu, 1986).

    O critrio do que conta como capital cultural relativamente robusto e no pode ser suspendido por agentes que escolhem no aceitar. Eles so sempre um produto de lutas histricas anteriores, mas sua assertividade est no consenso social, o qual fun-ciona somente com base na amnsia coletiva de lutas histricas prvias, uma amnsia desencadeada por grupos poderosos que possuem o privilgio do poder de classifi-car, categorizar e atribuir valor. Em outras palavras, h comumente normas compar-tilhadas e um critrio para avaliar, independentemente de que a dada caracterstica do agente seja atrativa ou desejvel. Sob essas circunstancias o capital cultural por ser convertido em capital simblico isto , reconhecimento, status, renome ou prestigio (Callewaert, 2003).

    Tendo aceitado isso, ns deveramos notar que Bourdieu tem sido criticado por sub-estimar a possibilidade de subgrupos em sociedade apresentarem (relativa) auto-nomia (ver, por exemplo, Hall 1992; Jarvinen, 1999; Prieur, 1998; Rasmussen, 1998; Stormhoj, 2002). As crticas parecem, ao menos em parte, justificadas, mas isso no necessariamente impede que se lide com a crtica com uma sociologia inspirada em Bourdieu, a qual enfatiza formas de diferenciao hierrquica. A noo de capital sub-cultural poderia ajudar-nos a resolver o problema potencialmente atravs do recon-hecimento da relativa autonomia das subculturas sem ignorar a estrutura social.

    2. A EXALTADA NOO DE SUBCULTURA: DE VOLTA A TEORIA DE BIRMING-HAM?

    A noo de capital subcultural pode ser compreendida como uma tentativa de inte-grar elementos da tradio da Escola de Birmingham/Estudos culturais com elemen-tos da sociologia de Bourdieu. Repensar esta noo, portanto, pressupe um olhar mais prximo do conceito de subcultura, bem como s suas crticas contemporneas.

    A primeira gerao da teoria subcultural estava ligada antiga criminologia e socio-logia urbana americana. Um grande marco nesse trabalho foi Garotos Delinquentes (1955) de A.K. Cohen. Cohen analisa subculturas delinquentes como solues para os problemas de status relacionados com classe. A nova gerao de tericos subculturais era marxista e foi estabelecida pela Escola de Birmingham (aqui referida como CCCS), em volumes tais como Resistncia atravs de Rituais (Hall e Jefferson, 1975) e Apren-dendo a Trabalhar (Willis, 1978)1.

    Os tericos da CCCS continuaram a entender subculturas como tentativas de solues

    1 Outras contribuies importantes, como Hebdige (1979), so deixados de fora desta discusso para evitar complicar ainda mais as coisas.

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 5

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    simblicas especificas para jovens de origem de classe trabalhadora. Eles enfatizaram que a classe trabalhadora tem sua prpria cultura, a qual subculturas da classe trab-alhadora esto relacionadas, de modo que subculturas da classe trabalhadora so uma resposta problemtica a qual a juventude compartilha com outros membros da classe cultural de pas (Hall e Jefferson, 1975, p. 48). A posio marxista deles im-plicava um foco sobre problemas mais concretos e materiais do que os problemas de status centrais para A.K. Cohen e considerado um tanto vago e suave. Subculturas eram percebidas como uma resposta coletiva a experincias materiais e situadas de suas classes (Hall e Jefferson, 1975, p. 47).

    No sistema da CCCS, subculturas so interpretadas como modos especficos de re-sponder, lidar ou resolver problemas geracionais, os quais podem ser traados de volta posio hierrquica de classe de pessoas jovens. Na minha leitura, esse tipo de reao , no entanto, basicamente criativa, o que significa que necessitada porm indeterminada pela posio de classe. A ideia de que uma subcultura um modo cria-tivo de lidar com as condies materiais e concretas de vida que so compartilhadas pelos seus participantes uma hiptese metodolgica e teortica crucial da CCCS. Mas como e de quais modos os jovens realmente reagem s suas condies de vida uma questo emprica em aberto um ponto que tem o suporte da vasta variedade de respostas e solues subculturais bem diferentes entre a jovem classe trabalha-dora inglesa analisada pela CCCS.

    O sistema terico da CCCS tem sido criticado por alguns autores. Uma crtica j pre-sente na CCCS era que as teorias carregavam um pesado vis masculino (McRobbie & Garber, 1975). Os estudiosos da CCCS tambm tm sido criticados por no haver teorizado raa e etnia adequadamente (Gilroy, 1993).

    Em um contexto nrdico, Gestur Gudmundsson (1992) criticou a CCCS por levar adi-ante muitas das suposies implcitas na antiga teoria subcultural, preocupada com a integrao da juventude desviante na sociedade burguesa. O autor tambm susten-tava que a concepo de estrutura social dela era demasiado rgida e simples e que o conceito de solues imaginadas era bastante reducionista para compreender o real potencial criativo dos sujeitos da classe jovem trabalhadora. Logo, a CCCS falhou em reconhecer as dinmicas da criatividade cultural jovem.

    Erling Bjurstrom (1997) criticou os estudiosos da CCCS por terem uma abordagem semitica social esttica, tendo resultado nas subculturas serem lidas como textos j escritos, e por terem privilegiado homologias em favor de heterologias. Ele tam-bm pensava que o sistema no considerava propriamente a vida vivida e os proces-sos de estilizao. De maneira importante, ele ainda criticou os pensadores da CCCS por no reconhecerem como a resistncia da classe trabalhadora poderia entrelaar-se em complexas cadeias de resistncia e dominao, a qual apenas poderia ser com-preendida atravs uma anlise consideravelmente mais sensitiva em termos de classe, gnero, entidade e raa (Bjurstrom, 1997).

    Alguns autores tm notado que a CCCS parece exagerar o valor explanatrio presen-te na experincia da classe trabalhadora (Muggleton, 2000; Muggleton e Weinzierl, 2003). Outras criticas apontam que a CCCS tendia a ver subculturas como monolti-cos culturais claramente demarcados e no encaravam com seriedade os significados subjetivos dos participantes subculturais (Muggleton, 2000; Muggleton and Weinzi-erl, 2003; ver tambm Bennet e Kahn-Harris, 2004).

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 6

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    A crtica, a qual eu apenas resumi breve e grosseiramente levou, de certa maneira, ao recuo da noo de subcultura. Meggleton e Weinzierl argumentam que o conceito de subcultura como foi utilizado pelos tericos do CCCS parece inadequado para captu-rar a experincia de fragmentao, fluxo e fluidez que central para a cultura jovem contempornea (Meggleton e Weinzierl, 2003, p. 3). Foi ainda argumentado que a participao em subculturas foi entendida como uma questo de escolha (Muggle-ton, 2000).

    Algumas dessas crticas parecem justificadas, na medida em que a CCCS se submeteu a uma viso marxista de diferenciao social e estrutura social primitiva e demasia-damente unidirecional, ainda que eu pense que as acusaes de determinismo social so de certo modo exageradas. A crtica feminista e antirracista aponta para a im-portncia das diferenciaes sociais relacionadas a gnero, etnia e raa. A classe teria sido genericamente super enfatizada no sistema da CCCS em detrimento de gnero, etnia e raa. Alm disso, eu acredito que h alguma verdade na comum hiptese sociolgica de que a importncia da posio de classe tem mudado, se no diminu-do. Ao menos, podemos dizer que, ainda que pudesse ser sbio manter o foco na desigualdade socioeconmica objetiva, h provavelmente algumas mudanas no significado (inter)subjetivo de classe. Uma diferena central, quando comparada com a sociedade britnica dos anos 1960 ou 1970, analisada pela CCCS, um aparente declnio na tradicional classe trabalhadora caracterizada pelo forte ethos coletivo do orgulho de sua classe.

    Tendo dito isso, eu acredito que o conceito de classe poderia certamente influenciar uma anlise subcultural tambm em casos onde subculturas cruzam empiricamente os limites de classe. possvel que o que percebido do lado de fora como sendo a mesma subcultura poderia ter significados e funes bastante diferentes para jovens de contextos sociais diferentes dentro desta subcultura e, como consequncia, eles podem no valorizar as diversas formas de capital subcultural da mesma maneira. Por exemplo, bem possvel que garotos negros da classe trabalhadora produzam e vivam hip-hop de um modo um tanto diferente de garotos brancos de classe mdia, e que esses dois grupos, portanto, valorizem diferentes aspectos da mesma subcultura. Em outras palavras, pode ser que classe, em complexas intersees com outros fatores socioculturais relevantes, desempenhe um papel diferente dentro de subculturas2.

    Eu acho que a crtica da nfase da CCCS na classe tem sido importante e necessria, mas eu me preocupo com as consequncias que a ltima crtica (Muggleton, Muggle-ton e Weinzierl, Bennett e Kahn-Harris, entre outros) pode desencadear no estudo da subcultura da juventude contempornea quando levada ao seu limite. Minha preocu-pao esta: quais perguntas no sero perguntadas se adotarmos uma teoria sobre jovens e subcultura ps-Birmingham enfatizando escolha e axiomaticamente assum-indo que o contexto social perdeu seu valor explicativo na sociedade contempornea da modernidade-tardia ou ps-moderna? Meu ponto que isso no representa um 2 Analisando minha prpria experincia juventude ocorreu-me que, por exemplo, o hip-hop dinamarqus foi etnicamente seg-regado por muitos anos, com meninos de minorias tnicas se especializando em break dance e meninos com maior background tnico (Danes) sendo DJs, fazendo rap e grafitando. Tendo eu participado, me lembro que ns, os b-boys dinamarqueses, tivemos muito pouco contato com os break dancers. Essa segregao foi altamente relacionada com classe e espao geogrfico, pois os break dancers tendiam a vir de famlias economicamente menos privilegiadas do que os b-boys dinamarqueses, e viver em outras partes menos atraentes da cidade. Na cidade onde eu morava costumvamos ridicularizar os hip hoppers no dinamarqueses, chamando-os de tripulao McDonalds (eles costumavam se encontrar em frente ao McDonalds, na praa da cidade) e zombando de seu gosto musical (eles ouviram 2pac). Tambm deve ser notado que nenhuma menina jamais foi autorizada a ocupar posies importantes nesse mundo.

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 7

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    passo frente se o conceito de subcultura jogado fora com a gua da bacia ou separado de uma anlise estrutural do mundo social. Esta crtica, nomeadamente esta que os tericos da CCCS enfatizaram a classe de maneira exagerada, justificada e no deveria levar-nos a sub enfatizar classe ou posio social. Ao contrrio, deveramos reconstruir classe como uma fator scio-estrutural relevante junto a outras variveis como gnero, etinicidade e raa e examinar como esses fatores cruzam ou se inter-conectam de maneira complexa e como isso est relacionado a subculturas e capi-tal subcultural (Carrington e Wilson, 2004). O argumento que pessoas jovens que tomam parte em uma subcultura so situadas no somente nesta, mas tambm em um mundo social mais abrangente. Portanto, compreender a relao entre posio subcultural e posio social necessrio para uma adequada anlise das subculturas.Voltando a um dos objetivos do artigo, integrar a noo de capital subcultural na sociologia que enfatiza formas hierrquicas de diferenciao, poderia ser dito que, entendido dentro de tal tradio sociolgica, o termo subcultura implica que a so-ciedade organizada hierarquicamente, e que subculturas so subordinadas e em muitas ocasies so tambm oprimidas e dominadas (Bay e Drotner, 1986; Bjurstrom, 1997). Logo, eu argumento a partir de uma definio que entende subculturas como distintiva e culturalmente diferentes em termos de estilo, normas, valores etc., e que ao mesmo tempo e igualmente importante entende subculturas como coletivi-dades de pessoas as quais esto de um modo ou de outro subprivilegiadas ou mesmo oprimidas. Seguindo Gudmundsson, eu manteria ainda que subculturas sejam uma reao s condies de vida de pessoas, elas no podem ser reduzidas a um automa-tismo previsvel, porque elas so respostas (1992) criativas. A subcultura se associa criatividade genuna em distintas coletividades culturais, mas simultaneamente se relaciona e lida simbolicamente com difceis condies de vida. A teoria da subcultura trata basicamente sobre como pessoas em posies sociais subprivilegiadas criam cultura quando tentam resolver, lidar, ou responder problemas compartilhados. Es-tas duas definies dimensionais levam em conta autonomia e dominao, cultura e estrutura, isto , apontam para as condies sob as quais autonomia exercida. A noo de capital subcultural pode ajudar-nos a entender esse jogo entre estrutura e cultura, relacionando os tipos de capital subcultural encontrados em vrias subcul-turas com intersees entre a posio social, gnero, etinicidade e raa dos partici-pantes na subcultura.

    3. CONSAGRANDO A FANTASIA DA AUSNCIA DE CLASSE A CRTICA DO CAPI-TAL SUBCULTURAL NA VERSO DE THORNTON

    Sarah Thornton (1995) desenvolveu originariamente a noo de capital subcultural. Sua pesquisa focava na subcultura que emergiu na Gr-Bretanha com respeito s grandes festas de dana (raves) e relacionada a estilos musicais, techno e house, in-cluindo vrios subgneros. Thornton designou esta subcultura como club culture. Ela estava interessada em trazer tona os mecanismos de construo de significado os quais permitem os participantes da subcultura a verem eles mesmos como un-derground e hip , e em investigar a hierarquia dentro da subcultura. Para com-preender estas questes Thornton baseou-se explicitamente, se no ecleticamente, no trabalho de Bourdieu em Distino (1995 [1979]).

    De acordo com Thornton, os participantes da subcultura se diferenciam de si prprios e outros jovens na medida em que possuem capital subcultural. Capital subcultural consiste em artefatos e conhecimento, os quais dentro de uma subcultura especfica so reconhecidos como de bom gosto, hip e sofisticados. Funciona quase da mesma

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 8

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    forma distintiva que capital cultural, permitindo o possuidor a enxergar a si mesmo de forma distinta e a ser visto de forma distinta por outros participantes relevantes da subcultura. O processo inclui construir o binrio simblico underground versus mainstream. Isto significa que no processo diferenciador os participantes da subcul-tura constroem um outro imaginrio nomeadamente um imaginrio mainstream contra o qual eles podem se diferenciar. Thornton nota que, ainda que compreender esse processo seja importante, a construo do mainstream completamente arbi-trria, e, portanto juventude ou pesquisadores subculturais no devem adotar a dis-tino entre underground e mainstream como a CCCS e seus seguidores frequent-emente o fizeram. Seus escritos ainda giram em torno de como os participantes do club culture chegam a ver a si mesmos como autnticos (em oposio ao falso/cpia ou mainstream) e como eles tentam evitar vender. Os escritos de Thornton iluminam a maneira com que uma cultura jovem exclusiva e distinta constantemente tenta evi-tar a ameaa de popularizao sempre presente. Seguindo Thornton, eu uso o termo capital subcultural neste texto com referncia a caractersticas, estilos, conhecimento e formas prticas que so recompensadas com reconhecimento, admirao, status ou prestgio dentro de uma subcultura.

    Baseando-se no conceito de capital subcultural, Thornton tem gerado importantes contribuies, ainda que haja algo um tanto preocupante a respeito de seu trabalho. Dado que a sua fonte de inspirao principal Bourdieu, parece um tanto ilgico que sua anlise no diga mais sobre a relao entre hierarquias subculturais e as hierar-quias sociais da sociedade em geral (Carrington e Wilson, 2004). Thornton no foca na possvel relao entre como agentes so posicionados no espao social e sua habili-dade de exercer classificaes de poder na subcultura. Ela poderia, portanto, ser criti-cada por no focar em aspectos do mundo social centrais no trabalho de Bourdieu: re-laes entre posies sociais, dominao, hierarquias diferenciadoras e a distribuio desigual de poder de categorizar e classificar. Em outras palavras, dado o ponto de partida de Thornton e Bourdieu, poderia ser argumentado que no processo de anlise ela na verdade abandona Bourdieu.

    No entanto, h certas implicaes relacionadas ao trabalho de Thornton, as quais ela poderia ter dado mais ateno analtica. Uma delas que raves tm demografias dife-rentes majoritariamente branca, classe trabalhadora, heterosexual e dominadas por rapazes (Thornton, 1995, p. 25); homens negros so frequentemente excludos. Outra questo que quando se fala de mainstream, as pessoas do clube usam como me-tfora Sharons e Traceys com suas bolsas de mo (Thornton, 1995, p. 98-105). Isso poderia, como Thornton coloca, ser lido como uma metfora para mulheres respei-tveis da classe trabalhadora, e a bolsa de mo poderia simbolizar a algema social e financeira da dona de casa (Thornton, 1995, p. 101). A distino da subcultura , de acordo com Thornton, baseada na ridicularizaro de mulheres da classe trabalhadora. Em outras palavras, alguma ateno foi dada s diferenas de gnero enquanto que a classe, na minha viso, tratada de uma maneira menos adequada: ns somos ditos que dentro da club culture a fantasia de no ter classe (Thorton, 1995) persiste e que se questes sobre trabalho so perguntadas nas conversas no clube seria considerado um insulto. Isso implica que dentro do auto-entendimento dos participantes da club culture, classe percebida como irrelevante e/ou que as pessoas jovens esto inter-essadas em evitar serem categorizadas por classe. De certa forma, Thornton parece na verdade aceitar isto como premissa de uma ausncia de classe visto que ela v a juventude como um perodo de lazer, na qual a maioria das pessoas jovens so isen-

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 9

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    tas de comprometimentos adultos relacionados acumulao de capital econmico (Thornton, 1995, p. 130). Ela nos diz que classe no se correlaciona de nenhum modo com nveis de capital cultural jovem (Thornton, 1995, p. 12), e que capital subcultural a pea de uma hierarquia alternativa dentro da qual os eixos de idade, gnero, sexu-alidade e raa so todos empregados para manter as determinaes de classe, renda e ocupao a margem (Thornton, 1995, p. 105).

    H algo peculiar sobre essas declaraes. Thornton parece interessada em descon-struir uma ideologia subcultural, a distino entre o autntico versus comum, mas ao faz-lo ela tende a aceitar outra ideologia subcultural: a negao de classe dentro de subculturas. Seu trabalho direciona ateno analtica primeiramente a hierarquias in-trasubculturais e no considera de quais posies no espao social os participantes da subcultura so recrutados, e o que isso significa para a relao entre subcultura e mainstream (para seu poder de categorizar outros como mainstream), e para a hierarquia intrasubcultural (para a definio de participantes do que deveria e no deveria ser aceito como capital subcultural legtimo). Ao mesmo tempo, entretanto, Thornton nota que capital subcultural pareceria ser uma moeda que se correlaciona e legitima status desiguais (Thornton, 1995, p. 104, ver tambm p. 166). Nesse caso, deveramos perguntar se classe, gnero, etnia e raa no se intersectam de maneiras complexas e interconectadas que torna um tanto sem significado focar em gnero ao invs de classe? No so Sharon e Tracey da classe trabalhadora e mulheres? Gnero no sempre vivido em um modo classista (e vice-versa)? Socilogos trabalhando na tradio de Bourdieu enfatizam que tais intersees so importantes, implicando que nem classe e nem gnero podem ser deixados de fora do quadro (Prieur, 1998; Skeggs, 1997).

    Usando a importncia das intersees de gnero e classe (com raa e etnia) como ponto de partida analtico, Thornton poderia potencialmente ter gerado importantes contribuies sobre a relao entre diferenciao social de forma geral, diferenciao intrasubcultural e hierarquia. Este potencial, entretanto, no foi nunca completamente realizado porque Thornton aceita a fantasia da ausncia de classe e, portanto, no in-clui uma sria investigao emprica de classe em sua pesquisa. Logo, um importante elemento da complexa interseo de classe, gnero, etnicidade e raa deixado de fora.

    A crtica a Thornton relevante para alm de seu prprio trabalho, porque a noo de capital subcultural teve considervel impacto como uma comum ferramenta para in-vestigao contempornea sobre juventude e subcultura. Eu acredito que o impacto foi justificado. importante ter uma noo de capital sucultural, porque isso direciona nossa ateno em direo ao critrio de reconhecimento em subculturas. Tal critrio central para a anlise subcultural simplesmente porque reconhecimento central para a vida social (discutido a seguir). A crtica, no entanto, implica que a noo de capital subcultural deveria ser repensada de tal forma a possibilitar a compreenso da relao entre reconhecimento subcultural, diferenas scio-estruturais centrais e formas de poder. Na medida em que o trabalho de Thornton pode ser pensado como uma crtica ao sistema da CCCS, minhas observaes podem ser pensadas como uma crtica crtica ao CCCS.

    Meu argumento que a subcultura precisa ser entendida e explicada por meio de uma abordagem que enfatize poder e hierarquia social, nomeadamente interpretada luz da posio social dos participantes, bem como seu gnero, etnia, raa etc. Para

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 10

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    desenvolver o conceito de capital subcultural ainda mais, devemos, portanto, focar no entendimento da relao entre subculturas e a posio scio-estrutural dos par-ticipantes, o que significa entender a relao entre posies fora e dentro da subcul-tura. Compreender essa relao no necessariamente implica pensar em termos de homologia, causalidade nica ou determinismo, mas, ao menos poderamos dizer que certamente no coincidncia que participantes subculturais fazem o que eles fazem por conta de suas condies de vida.

    Parece haver uma relao que poderia ser compreendida por meio do que Bourdieu escreveu sobre entendimento sociolgico. De acordo com Bordieu (1999), para en-tender um agente social e sua prxis de uma maneira sociologicamente adequada devemos, ao mesmo tempo, localizar e situar sua perspectiva no espao de pontos de vista. Finalmente, isso implica entender seus atos e palavras como necessrios; isto , ainda que no completamente determinado, obvio, lgico e, de certa forma, prati-camente racional que o agente faz o que ele faz dada suas condies sociais (Bordieu, 1999; Callewaer, 1998). Para uma compreenso completa tambm temos que explicar, podemos at mesmo estabelecer que compreender e explicar so uma coisa s (Bor-dieu, 1999, p. 613). Consequentemente a informao etnogrfica se torna sociologi-camente significativa apenas quanto ela objetificada, utilizando uma (re)construo analtica das condies sociais s quais torna a subcultura possvel e necessria, de certa maneira indeterminada e prtica.

    Se combinarmos os escritos de Bourdieu sobre o entendimento e a crtica que fiz Thornton, poderia ser argumentado que as caractersticas especficas, artefatos e reas de conhecimento que os participantes em uma subcultura consideram capi-tal, deveriam ser analisados relacionando capital subcultural posio social, gnero, etnia e raa dos participantes. Eu sugiro que, olhando de perto o que apreciado em uma subcultura e ao mesmo tempo situando estes diferentes resultados em ter-mos de diferenas scio-estruturais, possvel analisar intersees entre diferentes variveis scio-estruturais ou formas de poder dentro de subculturas e, desse modo, desenvolver uma anlise de subculturas mais adequada e relativamente autnoma. Na minha viso, a noo de capital subcultural pode se tornar uma ferramenta para entender subculturas jovens dadas essas modificaes.

    4. CAPITAL SUBCULTURAL, CAMPOS E GRUPOS

    Ao utilizarmos a noo de capital subcultural obtemos a capacidade analtica de re-construir os critrios de reconhecimento ou valorizao presentes em dada subcul-tura. No entanto, deve-se ressaltar que dentro da sociologia de Bourdieu a existncia de um capital implica na existncia de um campo relativamente autnomo dentro do qual este capital especfico pode ser vlido. Ao mesmo tempo, o campo est es-tendido e estruturado pelas relaes entre posies sociais constitudas por diferen-tes volumes e composies de capital (Bourdieu, 1997; Bourdieu e Wacquant, 1992). Logicamente, ento, apontar para um capital dentro de uma subcultura implica no fato de que a subcultura poderia ser concebida como um campo (ver tambm Bjur-strm, 1997; Bolin, 1999). Bourdieu prope trs critrios para determinar quando apropriado falar de um campo3:

    1. Deve ser possvel apontar agentes diferenciados posicionados em relaes (de po-der) relativamente estveis entre si.

    3 Sou grato a Annick Prieur por me ajudar a esclarecer estes critrios.

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 11

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    2. O campo deve ter certa autonomia.3. Deve ser possvel demonstrar a existncia de ou talvez, mais precisamente, demonstrar o efeito da existncia de uma forma de capital que especfica para o campo.

    , porm, questionvel se as subculturas podem ser pensadas significativamente como formaes sociais hierrquicas relativamente estveis. Talvez seja possvel fa-lar em hierarquias subculturais, mas estas provavelmente no so relativamente es-tveis. No um problema em si que as posies sejam ocupadas sucessivamente por diferentes agentes reais, contanto que elas estejam em uma relao relativamente estvel umas com as outras; mas mesmo com esta reserva ainda acho questionvel se subculturas podem ser teorizadas como campos. Essa objeo crucial se aceit-armos a importncia da premissa bsica de Bourdieu de que o campo e o capital implicam reciprocamente um no outro. No entanto, eu diria que noo de campo no deve ser atribuda um estatuto que no o de uma ferramenta analtica. Podemos, portanto, lidar com este problema simplesmente argumentando que as subculturas podem ser pensadas como semi ou quase campos, campos experimentais, campos em construo, campos embrionrios (Bjurstrm, 1997; Bolin, 1999, 1998) ou campos semiautnomos (Bjurstrm, 1997). Estes campos subculturais podem consistir, em al-guns casos, em pessoas que nunca se encontraram pessoalmente (comunidades de Internet etc.), o que no exclui a possibilidade do campo subcultural influenciar suas prxis. Contudo, na maioria dos casos as subculturas iro desempenhar um papel im-portante na interao diria porque muitas vezes consistem em redes de grupos de amigos e conhecidos que interagem na vida cotidiana.

    Eu argumento que esses grupos desempenham um papel importante para a dinmica do capital subcultural. muitas vezes dentro de tais grupos subculturais que o valor do capital subcultural testado. nos olhos dos amigos e conhecidos, que calham de tambm serem hip hoppers, por exemplo, que o prestgio atribudo ao DJ que acabou de conseguir um LP raro de vinil da old school do hip-hop. Isso significa que no se pode decidir individualmente que determinada caracterstica ou habilidade deve ser considerada capital subcultural: deve existir outros que concordam, caso contrrio, esses elementos no tm valor e no so capital. Esse acordo, no entanto, sempre o resultado de disputas anteriores sobre o que e o que no bom gosto (Fat Joe um bom rapper? A legalizao do graffiti vale a pena? O rap gangster hip-hop? Est tudo bem na compra de reimpresses de LPs raros de funk?). Essas disputas podem ocorrer dentro dos grupos, bem como entre grupos em posies diferentes dentro da mesma subcultura. Consequentemente o que considerado bom gosto sendo, portanto, capital subcultural dentro de um grupo pode ser avaliado de forma diferente em outros, mesmo que esses outros grupos possam ser considerados como pertencentes mesma subcultura.

    Quando pensamos sobre grupos devemos notar que, de acordo com Bourdieu, agen-tes que esto prximos uns aos outros no espao social tm uma chance maior de entrar em relaes viveis entre si do que os agentes que esto distantes no espao social (Bourdieu, 1994 ; Jrvinen, 2000). H duas razes para isso. Primeiro, os agentes prximos uns dos outros no espao social tero formas relativamente homogneas de habitus. Eles so propensos a experimentar simpatia um pelo outro, porque so propensos a compartilhar o gosto, estilo de vida e viso de mundo em geral. Em se-gundo lugar, agentes da mesma rea do espao social so mais propensos a se en-

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 12

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    contrar porque muitas vezes vivem nos mesmos bairros (Bourdieu, 1985, 1996). Isto levanta questes empricas sobre: se subculturas atraem pessoas de forma diferente de acordo com as diferenas scio-estruturais ou se as pessoas geralmente se agru-pam dentro de subculturas ao longo das linhas scio-estruturais.

    5. PRODUZINDO E CONVERTENDO CAPITAL SUBCULTURAL

    A questo de como o capital subcultural produzido e convertido central para uma discusso significativa sobre as vantagens e desvantagens do conceito como uma fer-ramenta analtica. Eu diria que o capital subcultural produzido pelas disputas supra-citadas entre grupos ou indivduos dentro de uma subcultura sobre o que deve ou no ser considerado bom gosto, ou seja, atraente ou desejvel dentro dessa subcul-tura. Estas lutas podem resultar em um consenso de que esta ou aquela habilidade ou caracterstica desejvel contemporaneamente um consenso que poderia ser desfeito depois.

    Movimentos e tendncias em outros campos, assim como em outras subculturas, afe-tam esse processo. As pessoas que participam de uma subcultura muitas vezes recor-rem a elementos de outras subculturas e/ou da cultura popular e atribuem a esses elementos valor subcultural por um tempo. A produo de capital subcultural muitas vezes toma a forma de uma espcie de estilizao por bricolage, em que adotar e adaptar elementos de vrias outras esferas culturais primordial (Bjurstrm, 1997; Hebdige, 1979). Em outras palavras, o capital subcultural produzido em uma intera-o criativa com o resto do mundo. Essa criatividade, no entanto, no tem lugar em um espao livre de poder e dominao; pelo contrrio, uma disputa entre agentes diferenciados. Eu diria que o poder simblico para classificar algo como capital sub-cultural distribudo desigualmente dentro de subculturas, e que este poder de-pendente da quantidade de capital subcultural que um agente j detm, ou seja, seu status e prestgio dentro da subcultura.

    A interao com os agentes ao redor tem outros aspectos. A reao das agncias viz-inhas especialmente os meios de comunicao e agncias de controle social in-terage diretamente com os mecanismos subculturais, o que produz o capital subcul-tural atribuindo status a caractersticas, traos ou artefatos especficos. A subcultura do graffiti pode fornecer uma ilustrao de tais mecanismos. Tradicionalmente, esta subcultura girou em torno de artistas competindo ao espalhar obras de graffiti em superfcies nem sempre autorizados a serem pintadas. Pintar trens foi sempre uma ao central. Cecilie Higaard (2002) argumenta que a proibio de grafitar algumas paredes antes legais e a vigilncia pesada dos trens afetou a subcultura do graffiti de tal maneira que a pintura ilegal, preferencialmente feita em trens, agora a forma mais atraente de capital subcultural, muitas vezes objectificadas na forma de fotos publicadas em diversas revistas underground. A reao do mundo ao redor, nesse exemplo, influenciou tenses, conflitos e lutas j presentes dentro da subcultura do graffiti e ajudou a produzir e a formar os critrios para o que desencadeia o prestgio, status ou reconhecimento nesta subcultura.

    A questo da converso fundamental para o conceito de capital na obra de Bour-dieu. Em seu mundo terico, o capital apenas capital na medida em que ele pode ser convertido em outros tipos de capital isto , na medida em que pode ser concebido como um recurso que pode ser utilizado em diferentes lutas ou estratgias. Estrita-

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 13

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    mente falando, portanto, o capital capital se e apenas quando ele conversvel para outras formas de capital, incluindo a meta-forma, o capital simblico. Deve, portanto, ser especificado que o capital subcultural denota o reconhecimento social e status dentro do campo subcultural e pode no ser necessariamente de muito valor simbli-co de troca no mundo exterior. Bourdieu (2000) d um exemplo disso quando assinala que, embora altamente criativa e colorida, a lngua comum entre os adolescentes do Harlem de pouco ou nenhum uso no mercado educacional ou em uma entrevista de emprego. Nesse exemplo, converter o que poderia ser chamado de um capital sub-cultural lingustico uma tarefa difcil. H, no entanto, exemplos de participantes sub-culturais sendo capazes de converter seu capital subcultural em carreiras e empregos convencionais, mesmo nos casos em que os observadores mais pessimistas poderiam ter considerado tal converso altamente improvvel. Artistas de rap foram frequent-emente recrutados de ambientes subculturais fortemente desfavorecidos (como o Harlem). Na medida em que o rap pode ser uma fonte de renda econmica e reconhe-cimento na sociedade em geral, isso pode ser considerado como a converso de capi-tal subcultural criativo em emprego ou carreira. Os participantes da club culture tm sido capazes de conseguir emprego como artistas, remixers e produtores no negcio da msica, como funcionrios de vendas em lojas com ambientes subculturais e assim por diante (McRobbie, 1993). Da mesma forma, Higaard (2002) descreve como grafit-eiros tm sido capazes de converter seu capital subcultural (o talento para o desenho de letras, para o uso da perspectiva etc.) e encontrar empregos nos ramos das artes grficas e da publicidade.

    Embora a questo da converso de capital subcultural seja, em ltima anlise, empri-ca, possvel delinear alguns argumentos hipotticos sobre as circunstncias que a facilitam. Em primeiro lugar, eu diria que tais converses so frequentemente rela-cionadas com lutas, mudanas e deslocamentos em outros campos, abertura de es-paos que podem ser ocupados por pessoas que, por meio da sua participao em subculturas, adquiriram capital subcultural que pode, de alguma forma, ser funcional ou relevante nesses outros campos. Uma ilustrao disso a tendncia dinamarquesa atual de empregar ex-delinquentes em trabalho social com jovens marginalizados semelhantes aos que eu estava investigando. Supe-se que esses ex-delinquentes, por meio de suas trajetrias de vida em subculturas carentes e marginais, adquiriram caractersticas que lhes permitam trabalhar com a prxima gerao de uma forma desejvel. Isso pode ser conceituado como um exemplo de transformao de um capital subcultural encarnado, gerado em circunstncias fortemente carentes em um plano de carreira. Pode-se argumentar que essa converso est relacionada com des-locamentos talvez at mesmo uma crise no campo do trabalho social. Mtodos tradicionais de trabalho social mostraram-se aparentemente inadequados ou mesmo contraproducentes em resolver o que percebido como problemas sociais novos e at ento no compreendidos e esta crise dentro do campo do trabalho social abriu um espao para ex-delinquentes converterem seu capital e entrarem no campo. Ex-hackers que agora trabalham como consultores de segurana no setor de TI podem ser um exemplo paralelo.

    Em segundo lugar, a possibilidade de converso muitas vezes relacionada ao vol-ume e composio de outros tipos de capital e, na medida em que estamos falando de jovens, ao volume e composio do capital do ambiente domstico familiar. Por exemplo, pode ser vantajoso ter um pai que se move em crculos empresariais e con-hece pessoas, ou seja, que possui uma grande quantidade de capital econmico e so-

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 14

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    cial, se algum tem planos de gerar lucros a partir da abertura de uma loja de roupas ou de discos em determinada rua com credibilidade.

    Uma vez que apontei para a importncia dos fatores externos e da posio social, eu tambm diria que a questo da converso do capital subcultural emprica, o que levanta questes para futuras pesquisas. Por um lado, as transies mais surpreen-dentes e espantosas de fato ocorrem e, portanto, o pessimismo excessivo pode estar deslocado aqui. Por outro lado, seguindo Bourdieu, parece obrigatrio alertar contra a projeo do relativismo no mundo social, pois, se o fizermos, perderemos nossa compreenso da distribuio desigual do poder de atribuir valor.

    6. DE VOLTA AO CAMPO: MASCULINIDADE EXPRESSIVA COMO CAPITAL SUB-CULTURAL

    Tendo discutido o conceito de capital subcultural tanto em relao sociologia de Bourdieu como tradio terica da noo de subcultura, agora hora de nos voltar-mos ao ponto de partida emprico da nossa discusso e mostrar como repensar a ideia de capital subcultural pode nos ajudar a responder pergunta: o que est acon-tecendo quando esses jovens esto lutando? O que est acontecendo em grupos de jovens de origem tnica no dinamarquesa que esto presentes e altamente visveis na maioria das grandes cidades, principalmente nas periferias urbanas social e eco-nomicamente desfavorecidas? Como vamos construir esse fenmeno como um as-sunto para investigao sociolgica de uma forma que rompa com verdades pr-concebidas do senso comum e ao mesmo tempo realize um dilogo com o campo? Podemos comear por pr abaixo o discurso dxico sobre o fenmeno. Em discurso popular, presume-se que esses grupos giram em torno de atividades criminosas, e que o que percebido como sua m conduta ou delinquncia tem simplesmente uma relao causal com a sua formao cultural tnica (Prieur, 1999) que ainda est sendo racializada no atual debate pblico sobre as supostas patologias do Oriente Mdio ou da cultura muulmana.

    Rompendo com esse entendimento dxico do fenmeno, podemos utilizar a noo de capital subcultural e examinar como as distintas formas que podemos reconstru-lo analiticamente ao fazer trabalho de campo nesses grupos esto relacionadas com intersees de classe, gnero, etnia e raa. Uma forma de compreender essa relao salientando que estas variveis scio-estruturais tm impacto na vida desses jovens na forma do que poderia ser melhor descrito como o no-reconhecimento social. Consequentemente, podemos conceituar esses jovens como fortemente carentes de capital subcultural, e construir o objeto como sendo basicamente um problema co-mum de falta de reconhecimento relacionada a pelo menos quatro fatores. Em pri-meiro lugar, esses jovens esto sujeitos ao estigma territorial, vivendo em bairros que so rotulados por meio do discurso da mdia (Morck, 1999; Sernhede, 2001a; Vestel, 1999, 2004).

    Em segundo lugar, eles so estigmatizados por causa de sua etnia e raa. Em terceiro lugar, eles vm de famlias desfavorecidas social e economicamente, cujas posies no espao social so caracterizadas por baixos volumes de capital cultural e econmico. Em quarto lugar, eles esto sujeitos a expectativas de gnero negativas relacionadas a suposies sobre a masculinidade patolgica do Oriente Mdio ou muulmana. Em outras palavras, pertencer ao sexo masculino no uma vantagem se for, ao mesmo

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 15

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    tempo, jovem e muulmano ou negro (Alexander, 2000). Esses fatores se cruzam no que eu chamaria de no-reconhecimento brutal, uma estigmatizao geral ou uma quase total falta de reconhecimento social por parte da sociedade ao redor.

    Em outras palavras, esses jovens comeam sem capital de qualquer valor no mercado de bens simblicos. Esta falta est relacionada com a forma como classe, gnero, etnia e raa se cruzam para formar e informar a sua situao social. Construir o objeto de-sta forma torna possvel compreender e explicar reconstruir analiticamente a sub-cultura como uma luta criativa por reconhecimento. O reconhecimento , de acordo com Bourdieu, a nossa prpria razo de viver, e em uma situao desprovida de recon-hecimento temos nosso acesso humanidade negado (Bourdieu, 2000)4. Podemos entender essa subcultura como uma luta para evitar tal situao, ou seja, uma luta por dignidade, uma batalha travada pelo direito de ser algum no mundo social. So nes-sas premissas que os jovens formam e reproduzem uma subcultura que gira em torno de critrios alternativos para o reconhecimento, que podem ser conceituados como capital subcultural. Nessa perspectiva, torna-se possvel reconstruir diferentes formas de capital subcultural nessa subcultura especfica.

    Com base no meu trabalho de campo, acho que significativo ver esses grupos como girando primordialmente em torno de um sistema alternativo de valorizao ou re-conhecimento, uma forma distinta do capital subcultural que eu chamaria de mas-culinidade expressiva (Jensen, 2002). A noo de masculinidade expressiva carrega vrios significados, incluindo o da masculinidade ser poderosa/forte, estando rela-cionada cultura expressiva negra (veja abaixo), e capaz de ser interpretada como uma forma de se expressar um comentrio ou declarao sobre as condies gerais de vida desses jovens (ver tambm Vestel, 2004). Essa forma de capital subcultural masculino produzido na interao com o ambiente percebido como hostil. Ela pode ser descrita como uma bricolagem, integrando elementos da: 1) cultura paterna, 2) cones de masculinidade relacionada posio social, e 3) cones de masculinidade adotado de subgneros do rap e hip-hop. bem possvel que esses jovens adotem noes de honra e masculinidade da cultura tnica de seus pais. Se o fizerem, porm, eles as adaptam, transformam e reorganizam para que se tornem significativas na situao atual dos jovens e sejam feitas para caber em uma nova subcultura genu-na. Nesse processo a honra parece ser transformada em respeito e, assim, convergir com elementos da cultura negra urbana como retratada nos meios de comunicao de massa. Alm disso, as formas de masculinidade que so historicamente relaciona-das com as condies de vida dos trabalhadores manuais masculinos desempenham certo papel. Obviamente, seria errado afirmar que todos os homens da classe traba-lhadora so, em certo sentido, machos. O ponto que em um nvel subjetivo estes jo-vens parecem se identificar com o cone do macho ganha-po de classe trabalhadora, ao mesmo tempo em que as suas circunstncias concretas de vida suportam e pro-movem essa identificao. Alm disso, os cones de masculinidade adotados a partir de variantes especficas da cultura hip-hop veiculadas pelos meios de comunicao em massa so uma parte importante da bricolage. Artistas da chamada costa oeste e o rap gangster parecem particularmente populares. Esses gneros podem ser in-terpretados como dando forma simblica a um tipo de resistncia ou crtica social s

    4 Como abordado no incio do artigo, o reconhecimento essencial para Bourdieu ao longo de sua obra, como o conceito de capital simblico pode ser lido como uma tentativa no-existencial de compreender o que os outros tm chamado reconhecimento. Em Bourdieu (2000) o reconhecimento discutido explicitamente. A noo til para compreender como aspectos importantes das condies estruturais impactam sobre a vida cotidiana das pessoas. Contribuies importantes para o complexo debate sobre o reconhecimento so Fraser (1997) e Honneth (1995).

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 16

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    circunstncias da vida no gueto urbano negro, ao mesmo tempo em que muitas vezes celebram uma forma muito estereotipada de hipermasculinidade. Obviamente, nem todos os homens negros ou nem todos os homens negros desfavorecidos na regio urbana dos Estados Unidos so hipermasculinos. Ao contrrio, esta forma de mascu-linidade pode ser pensada como um cone comunicado pela exposio do hip-hop e do rap popular pela mdia de massa. Esse cone serve como um ponto de referncia na vida desses jovens, ao mesmo tempo que a sua identificao apoiada e promovida pelas circunstncias reais de suas vidas (ver tambm Sernhede, 1999, 2001a, 2001b, 2002; Vestel, 2004). ( importante esclarecer que esses jovens no so hip-hoppers per se; antes, elementos adotados a partir do hip-hop so uma importante fonte de inspirao em sua subcultura genuinamente nova).

    A masculinidade expressiva deve ser pensada como um estilo subcultural distinto, que pode no necessariamente ser acompanhada por uma prxis hipermasculina em direo s mulheres. Em outras palavras, esse estilo subcultural no a verdade fi-nal ou nica sobre esses jovens e no deve ser reificada ou essencializada como tal (ver tambm Vestel, 2001). A masculinidade expressiva est relacionada ao capital corpreo (Wacquant, 1995). O capital corpreo , num sentido, muito fsico: ele est relacionado com a aparncia fsica concreta do corpo de uma forma concreta. Nessa subcultura, crucial para o reconhecimento social e o status que os homens jovens exibam em situaes adequadas uma forma de comportamento corporal especfi-co, bastante concreto e relacionado fora. O capital corporal implica fora, coragem e nenhum medo da dor. Ele particularmente implica ter a coragem de se levantar em defesa de seus amigos em confrontos fsicos em que eles esto em desvantagem.

    Com base na obra de Loc Wacquant, Annick Prieur (1999) realizou anlise importante desse tipo de capital corporal. De acordo com Prieur, esta forma de capital est relacio-nada com a posio do agente no espao social, uma vez que o capital corporal con-stitui uma forma distinta de masculinidade com base nas possibilidades e restries dadas pela posio social. O capital corporal uma fonte de dignidade e reconhe-cimento para aqueles que no possuem um grande volume de capital econmico ou cultural (Prieur, 1999, p. 36)5. Eu diria que este capital corporal basicamente re-lacionado masculinidade. Em seu estudo sobre a masculinidade na Austrlia con-tempornea, Connell mostra como homens em diferentes posies sociais articulam masculinidades de formas distintas. Ela analisa as distintas formas de masculinidade formadas e reproduzidas por grupos de homens adultos jovens, situados em posies sociais dominadas e marginais, masculinidades marginalizadas (Connell, 1995). Con-nell entende essas formas de masculinidade como uma prxis coletiva e social, que articula uma operao conjunta por meio das condies de vida desses homens. Os jovens marginalizados se adaptam sua posio social elevadamente exposta no mercado de trabalho por meio da formao de identidades masculinas fortes e co-letivas. Os jovens marginais estudados por Connell afirmam a masculinidade quando eles tm muito pouca coisa a oferecer no mundo social.

    Podemos nos inspirar no trabalho de Prieur e Connell e ressaltar que na subcultura a qual me dirijo aqui, os jovens subprivilegiados criam, com base em suas condies gerais de vida, uma forma distinta de masculinidade forte e expressiva, ligada a for-mas especficas de capitais corporais relacionadas fora, que engloba gnero, classe, etnia e raa. Tomar as condies gerais de vida desses jovens em termos de dife-

    5 Vestel aponta dados semelhantes sobre break dance como uma forma de obter prestgio para os meninos da favela(1999, p. 7; 2001, p. 221).

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 17

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    renciao hierrquica e intersees de classe, gnero, etnia e raa certamente necessria para analisar adequadamente esta subcultura e uma verso reconsiderada da noo de capital subcultural facilita tal anlise.

    Meu ponto que, ao nos aproximarmos dos critrios de apreciao e reconhecimento (capital subcultural) na subcultura e, ao mesmo tempo, olharmos para as condies de vida dos participantes, podemos ter insights importantes sobre como classe, gnero, etnia e raa se cruzam na vida desses jovens. Se o problema que eles tm em comum est intimamente relacionado classe, gnero, etnia e raa assim tambm a sua maneira de lidar com isso, o que ilustra que as condies sociais da vida implicam no apenas em limitaes, mas tambm em possibilidades e espao para a criatividade. Poderamos pensar essa relao em termos de um certo grau de autonomia. Eu diria que esses jovens usam seus espaos para a criatividade para enfatizar e talvez at mesmo exagerar a nica caracterstica que eles tm que pode ser transformada em uma competncia: sua masculinidade6.

    7. CONCLUSO: O CAPITAL SUBCULTURAL REPENSADO?

    O objetivo deste artigo foi o de repensar a noo de capital subcultural integrando-o em uma sociologia que enfatiza as formas hierrquicas de diferenciao e intersees entre diferentes variveis scio-estruturais, tendo a subcultura criada por jovens sub-privilegiados de origem tnica no dinamarquesa como um ponto de partida empri-co. Na minha interpretao, esse exemplo emprico mostra que o que estamos teste-munhando na Dinamarca entre certo nmero de homens jovens subprivilegiados de origem tnica no dinamarquesa agora poderia ser entendido de forma significativa e explicado por meio de uma anlise orientada pelo conceito de capital subcultural, mas somente se este conceito for repensado de uma forma que nos permita analis-lo em relao s intersees entre classe, gnero, etnia e raa. Defendo que a falta de reconhecimento desses jovens est, na verdade, relacionada em um grau muito eleva-do sua classe, gnero, etnia e raa e que uma forma distinta de capital subcultural parte integrante da soluo para ou tentativa estilstica de superar esse prob-lema. Em outras palavras, o capital subcultural , ao menos neste caso, generificado e de um gnero especfico e, ao mesmo tempo, classificado e de classe especfica, racializado e etnicizado. Tanto a etnia quanto a raa so filtradas por meio do gnero e da classe de formas complexas. Consequentemente, no podemos compreender o significado sociolgico mais profundo envolvido quando esses jovens lutam nos clubes usando uma teoria ps-subcultural que no tenta apreender a relao entre o capital subcultural e diferenciao hierrquica geral.

    A lio geral a ser aprendida com esse exemplo que ao integrar a noo de capital subcultural em uma estrutura sociolgica geral inspirada por Bourdieu um quadro enfatizando a diferenciao hierrquica torna-se possvel construir esses fenmenos como objetos de anlise sociolgica de um modo que nos permite, por um lado, com-preender a interao entre a forma como diversas variveis scio-estruturais influen-ciam a vida dos jovens e, por outro, como a agncia realizada. Ao mesmo tempo nos aprofundando e contextualizando o capital subcultural que encontramos em vrias subculturas, torna-se possvel apreender uma relativa autonomia. O conceito de capi-tal subcultural importante precisamente porque nos permite concentrar-nos nesses 6 Estudos tm mostrado algum nvel de semelhana com outras solues subculturais, como os desenvolvidos pela Cholo, uma subcultura mexicana-americana marginalizada nos EUA (Vigil; Long, 1990) e entre os porto-riquenhos em Nova Iorque (Bourgeois, 1995; 1996).

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 18

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    critrios subculturais de reconhecimento e, portanto, compreender a relao entre a subcultura e as circunstncias sociais em que a subcultura produzida e vivida.

    Pensar em subculturas e em capital subcultural a partir da sociologia de Bourdieu , portanto, completamente o oposto, em certo sentido, de pensar a subcultura em um quadro geral, o que pressupe a quebra da sociedade de massas ou pensar na par-ticipao subcultural principalmente como uma questo de escolha. Ele no descarta a criatividade, mas entende a criatividade como socialmente situada. Obviamente, a diferenciao hierrquica e horizontal (funcional) so relevantes quando se analisa subculturas porque so algo em si, mas elas tambm so e isso foi deixado de lado por pesquisadores contemporneos culturas subordinadas. Que sua autonomia apenas relativa; parte do que as torna subculturas e uma abordagem adequada para a subcultura e o capital subcultural deve refletir isso.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALEXANDER, Claire E. The Asian Gang Ethnicity, Identity, Masculinity. Oxford: Berg, 2000.

    BAY, Joi; DROTNER, Kirsten. Ungdom: en stil, et liv (Youth: A Style, A Life). Copen-hagen: Tiderne skifter, 1986.

    BENNETT, Andy; KAHN-HARRIS, Keith (eds). After Subculture: Critical Studies in Contemporary Youth Culture. New York: Palgrave, 2004.

    BJURSTRM, Erling. Hgt & lgt: Smak och stil i ungdomskulturen (High and Low: Tasteand Style in the Youth Culture). Ume: Bora, 1997.

    BOLIN, Gran. Filmbytare. Videovld, kulturell produktion och unga mn (Movie Swappers. Video Violence, Cultural Production and Young Men). Ume: Bora, 1998.

    BOLIN, Gran. Producing Cultures: The Construction of Forms and Contents of Contemporary Youth Cultures, Young 7(1): 50-65, 1999.

    BOURDIEU, Pierre. The Social Space and the Genesis of Groups. Theory and Soci-ety14(6): 723744, 1985.

    ______. The Forms of Capital. In: RICHARDSON, John G (ed.) Handbook of Theory and Research for the Sociology of Education, p. 24158. Westport, CT: Greenwood Press, 1986.

    ______. Centrale tekster indenfor sociologi og kulturteori (Central Texts within Sociology and Cultural Theory). Copenhagen: Akademisk Forlag, 1994.

    ______. Distinksjonen (Distinction). Oslo: Pax Forlag A/S, 1995 [1979].

    ______. Et steds betydning (The Meaning of a Place). In: BOURDIEU, Pierre (ed.). Symbolsk makt: artikler i utvalg (Symbolic Power: Selected Articles), pp. 14958. Oslo: Pax Forlag A/S, 1996.

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 19

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    ______. Men hvem skabte skaberne? Interviews og forelsninger (But Who Created the Creators? Interviews and Lectures). Copenhagen: Akademisk Forlag A/S, 1997.

    ______. Understanding. In: BOURDIEU, Pierre et al. (eds). The Weight of the World: Social Suffering in Contemporary Society, pp. 60726. Cambridge: Polity Press, 1999.

    ______. Pascalian Meditations. Cambridge: Polity Press, 2000.

    BOURDIEU, Pierre; WACQUANT, Loc J.D. An Invitation to Reflexive Sociology. Chi-cago, IL: Polity Press, 1992.

    BOURGOIS, Philippe. In Search of Respect: Selling Crack in El Barrio. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.

    ______. In Search of Masculinity. British Journal of Criminology 36(3): 41227, 1996.

    CALLEWAERT, Staf. Bourdieu-studier II (Bourdieu Studies II). Kbenhavns Universitet Amager: Institut for Filosofi, Pdagogik og Retorik, 1998.

    ______. Kulturel kapital og social differentiering (Cultural Capital and Social Dif-ferentiation). In: CALLEWAERT, Staf (ed.). Fra Bourdieus og Foucaults verden (From the Worlds of Bourdieu and Foucault), p. 129149. Copenhagen: Akademisk Forlag, 2003.

    CARRINGTON, Ben; Wilson, Brian. Dance Nations: Rethinking Youth Subcultural Theory. In: BENNETT, Andy; KAHN-HARRIS, Keith (eds) After Subculture Critical Studies in Contemporary Youth Culture. New York: Palgrave, 2004.

    COHEN, Albert K. Delinquent Boys. New York: The Free Press, 1955.

    COHEN, Stanley. Symbols of Trouble: Introduction to the Second Edition. In: CO-HEN, Stanley (ed.). Folk Devils and Moral Panics, third edition. London: Routledge, 2002 [1987].

    CONNELL, R.W. Masculinities. Cambridge: Polity Press, 1995.

    FRASER, Nancy. Justice Interruptus. New York: Routledge, 1997.

    GILROY, Paul. Between Afro-centrism and Euro-centrism: Youth Culture and the Problem of Hybridity, Young 1(2): 212, 1993.

    GUDMUNDSSON, Gestur. Ungdomskultur som overgang til lnarbejde (Youth Culture As Transition to Wage Labor). Copenhagen: Forlaget. Sociologi, 1992.

    HALL, John R. The Capital(s) of Cultures: A Nonholistic Approach to Status Situ-ations, Class, Gender, and Ethnicity. In: LAMONT, Michle; FOURNIER, Marcel (eds). Cultivating Differences: Symbolic Boundaries and the Making of Inequality. Chicago, IL: University of Chicago Press, 1992.

    HALL, Stuart; JEFFERSON, Tony (eds). Resistance through Rituals: Youth Subcul-

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 20

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    tures in Post-war Britain. London: Routledge, 1991 [1975].HEBDIGE, Dick. Subculture: The Meaning of Style. London: Methuen, 1979.

    HONNETH, Axel. The Struggle for Recognition. Cambridge: Polity Press, 1995.

    HIGAARD, Cecilie. Gategallerier (Street Galleries). Oslo: Pax Forlag, 2002.

    JRVINEN, Margeretha. Pierre Bourdieu on Gender and Power. Sociologisk Rap-portserie 7. Kbenhavns Universitet: Sociologisk Institut, 1999.

    ______. Pierre Bourdieu. In: ANDERSEN, Heine; KASPERSEN, Lars Bo (eds.). Klassisk og moderne samfundsteori (Classic and Modern Social Theory). Copenhagen: Hans Retizels Forlag, 2000.

    JENSEN, Sune Qvotrup. De Vilde Unge I Aalborg st (The Wild Young People in Aal-borg East). Aalborg: Aalborg Universitetsforlag, 2002.

    McROBBIE, Angela. Shut up and Dance: Youth Culture and Changing Modes of Feminin-ity, Young 1(2): 1331, 1993.

    McROBBIE, Angela; GARBER, Jenny. Girls and Subcultures. In: HALL, Stuart; JEFFER-SON, Tony (eds). Resistance through Rituals: Youth Subcultures in Post-war Britain. London: Routledge, 1975.

    MORTENSEN, Nils. Det paradoksale samfund (The Paradoxical Society). Copenha-gen: Hans Reitzels Forlag, 2004.

    MUGGLETON, David. Inside Subculture: The Postmodern Meaning of Style. Ox-ford: Berg, 2000.

    MUGGLETON, David; WEINZIERL, Rupert. What is Post-subcultural Studies Any-way? In: MUGGLETON, David; WEINZIERL, Rupert (eds) The Post-Subcultures Reader. Oxford: Berg, 2003.

    MRCK, Yvonne. Faktisk er Blgrds Plads utrolig smuk hrde drenge p Nrrebro (Actually Blgaards Plads is Unbelievably Beautiful Hard Boys on Nrre-bro), Social Kritik 11(65/66): 4458, 1999.

    PRIEUR, Annick. Forholdet mellem kjnn og klasse med utgangspunkt i Bour-dieus sosiologi (The Relationship between Gender and Class with Bourdieus Sociol-ogy as a Starting Point), Sosiologisk tidsskrift 6(12): 13147, 1998.

    ______. Maskulinitet, Kriminalitet and Etnicitet (Masculinity, Crime and Ethnic-ity), Social Kritik 11(65/66): 3343, 1999.

    RASMUSSEN, Preben H. Kultur- og klassekamp fra oven eller tingsliggrelse af menneskelige relationer. En kritik af Bourdieu (Culture- and Class-Struggle Top Down or Objectifying Human Relations. A Critique of Bourdieu). In: FREDERIKSEN, Birthe Kloch; RASMUSSEN, Palle; RASMUSSEN, Preben Horsholt (eds). En kritik af Bour-dieus sociologi (A Critique of Bourdieus Sociology). Aalborg: LEO-serien nr. 20, 1998.

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 21

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    SERNHEDE, Ove. Alienation is our Nation Reality is my Nationality. In: AMN, Erik (ed.). Det unga folkstyret (The Young Democracy). Stockholm: Statens offentliga utredningar, Nr. 93, 1999.

    ______. Los Angered og forstadens krigere (Los Angered and the Warriors of the Suburbs). Social Kritik 13(74): 3950, 2001a.

    ______. Svart Macho eller vit velour Utenfrskap, hip hop och maskulin- itet i Det Nya Sverige (Black Macho or White Velour Outsiders, Hip Hop and Masculin-ity in the New Sweden). In: EKENSTAM, Claes; JOHANSSON, Thomas; KUOSMANEN, Jari (eds). Sprickor i fasaden Manligheter i forandring: en antologi (Cracks in the Faade Changing Masculinities: An Anthology). Hedemora: Gidlunds frlag, 2001b.

    ______. Alienation is My Nation. Stockholm. Ordfront Frlag, 2002.

    SKEGGS, Beverly. Formations of Class and Gender. London: Sage, 1997.

    STORMHJ, Christel. Stil som social identitetsmarkr (Style as a Marker of Social Identity), Dansk Sociologi 13(1): 4155, 2002.

    THORNTON, Sarah. Club Cultures. Cambridge: Polity Press, 1995.

    VESTEL, Viggo. Breakdance, Red Eyed Penguins, Vikings, Grunge and Straight Rocknroll: The Construction of Place in Musical Discourse in Rudenga, East Side Oslo, Young 7(2): 424, 1999.

    ______. Aesthetics in the Grey Zone Music, Dance and Style among Multicul-tural Youths in Rudenga, East Side Oslo. In: GRIPSRUD, Jostein (ed.). The Aesthetics of Popular Art, Kulturstudier no. 19. Kristiansand: HyskoleForlaget, 2001.

    ______. Napapijiri Geographic, norske flagg, og wolla-stilen: semiotisk kreativitet blant unge menn i et flerkulturelt ungdomsmilj p Rudenga, Oslo st (Napa- pijiri Geographic, Norwegian flags and the Wolla-style: Semiotic Creativity among Young Men in a Multicultural Youth Milieu in Rudenga, East Oslo). In: FUGLERUD, ivind (ed.). Andre bilder av de andre (Other Pictures of The Others). Oslo: Pax Forlag, 2004.

    VIGIL, James Diego; LONG, John M. Emic and Etic Perspectives on Gang Culture: The Chicano Case. In: HUFF, C. Ronald (ed.). Gangs in America. Newbury Park, CA: Sage, 1990.WACQUANT, Loc J. D. Pugs at Work: Bodily Capital and Bodily Labour Among Professional Black Boxers. Body & Society 1(1): 6593, 1995.

    WILLIS, Paul. Learning to Labour. Aldershot: Ashgate, 1978.

  • REPENSANDO O CAPITAL SUBCULTURAL - SUNE QVOTRUP JENSEN | www.pos.eco.ufrj,br 22

    REV

    ISTA

    EC

    OP

    S

    | IS

    SN 2

    17

    5-8

    68

    9 |

    COM

    UN

    ICA

    O E

    GO

    STO

    | V

    . 17

    | N. 3

    | 20

    14 |

    DO

    SSI

    ANEXO: TERMO DE TRADUO

    11 June 2014

    Dear Professor Baviskar,

    Thank you for your mail. We are happy to give you the gratis permission you seek on the following terms:

    1. This permission is being given for the Portuguese language only and on a non-exclusive basis for the articles mentioned in point 3 below.

    2. This permission is valid only for the one-time reproduction of the concerned article in a book presently entitled Revista ECO-PSedited by Igor Sacramento and to be published by Post Graduate Program in Communication and Culture, Federal Uni-versity of Rio de Janeiro, Brazil. This permission is not valid for the reproduction of the concerned article in any other book, or in any other form or manner.

    3. This permission pertains only to the article Rethinking Subcultural Capital, au-thored by Sune Qvotrup Jensen, pages 257-276 i.e., a total of 20 pages from the journal mentioned in point 4 below.

    4. You will ensure that the following notice is printed at an appropriate place in your publication in relation to the articles.

    Originally published in YOUNG, Vol. 14 No.3. Copyright 2006 SAGE Publications and YOUNG Editorial Group. All rights reserved. Reproduced with the permission of the copyright holders and the publishers, Sage Publications India Pvt. Ltd, New Delhi.

    I trust that these terms are acceptable.

    We wish you all success with your publication

    Yours sincerely

    Neetu Kalra Executive Editor Journals Commissioning

    SAGE Publications India Pvt LtdB-1/I-1, Mohan Cooperative Industrial Estate

    Mathura Road, Post Bag 7, New Delhi 110 044INDIA

    T: +91 (11) 4053 9222; ext: 215F: +91 (11) 4053 9234

    www.sagepub.in

    SAGE Publications India Pvt. Ltd.B-1/I-1, Mohan Cooperative, Industrial Estate,

    Mathura Road, New Delhi -110044Tel; +91-11-40539222

    Fax: +91-11-40539234