burriculum vitae rui tavares

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Tiragem: 43276 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Informação Geral Pág: 50 Cores: Cor Área: 16,02 x 18,84 cm² Corte: 1 de 1 ID: 44464451 29-10-2012 CONSOANTE MUDA Burriculum vitæ N ão; não pode ser. Miguel Relvas não pode perder o doutor. Deveria até, como na academia alemã, ser chamado Herr Professor Doktor Doktor — abreviado para Univ. Prof. Ddr. h. c. Relvas. A notícia de que as equivalências com que a Universidade Lusófona lhe concedeu uma licenciatura foram mais generosas do que as que concedeu a qualquer outro aluno não nos deve espantar; o que é verdadeiramente significativo é que Miguel Relvas tenha tido equivalências a cadeiras que nem sequer existiam. Isto deve fazer-nos parar para pensar. Que homem é este que está assim tão à frente do conhecimento do seu tempo? Na tentativa de responder a esta pergunta, ofereço nas próximas linhas uns humildes “Prolegómenos ditirâmbicos a um preâmbulo introdutório à possibilidade de uma relvística futura”. O proémio, como nos ensinou Kant, deve ser: “É Relvas possível?” Vejamos a resposta. Relvas desempenha na nossa república um papel equivalente ao de Aristóteles junto de Alexandre, o Grande, Sila junto de Augusto Rui Tavares ou (tremo ao escrevê-lo) Séneca junto de Nero. Relvas é como o homem que segurava para os imperadores a coroa cívica e lhes dizia continuamente ao ouvido: “Lembra-te: és mortal”. Sem dúvida que Pedro Passos Coelho pensa isso de cada vez que o vê. Sabe-se pouco sobre este homem, mas o próprio Relvas disse uma vez: “Norteei a minha vida pela simplicidade da procura do conhecimento permanente. Sou uma pessoa mais de fazer do que de falar”. Em suma, e no plural: ele faz conhecimentos. Essa é a chave. A sua carreira começou muito jovem, na área da propedêutica da juventude partidária, com as suas disciplinas de seguidística aplicada, favorometria elementar e sociopragmática da cunha, na qual revelou aptidões invulgares. Os melhores alunos desta fase passam para o exercício da chamada chapeladística psefológica, ou alquimia eleitoral. Daqui é um pulo até aos estudos de eclesiologia partidária, logo depois de etnografia parlamentar, e finalmente de ontogénese do mundo empresarial, com especialização em lusotropicapitalismo. Pelo meio, uns estágios em musicologia na Loja Mozart, e pesquisas aturadas de fisiologia animal sobre o Anas platyrhynchos (vulg. “pato bravo”). Estas são ciências de ponta. Para lá delas encontram-se as férteis pradarias da vigarística, da enganêutica e da gatunologia. Portugal tem tido um grande desenvolvimento nesta área, com os trabalhos pioneiros dos doutores Isaltino Morais, Dias Loureiro e Duarte Lima. Talvez também ele no futuro possa satisfazer o seu gostinho pela nepotologia helvetística, a microclimatologia das ilhas Caimãs e, quiçá, a gerontologia forense. Não nos deve por isso estranhar que lhe tenha sido dada equivalência não só às cadeiras de Português I, II e III, que existiam, como às de Português IV e V, que precisaram de ser inventadas especificamente para ele. Ele deveria ainda ter tido uma equivalência a Metafísica da Língua Portuguesa. Pois é certo que, apenas com o uso da nossa língua materna, Relvas já conseguiu coisas que todos os portugueses julgavam impossíveis, e continua a superar as barreiras da realidade. Historiador e eurodeputado Relvas já conseguiu coisas que todos julgavámos impossíveis e continua a superar as barreiras da realidade

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Page 1: Burriculum vitae  rui tavares

Tiragem: 43276

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 50

Cores: Cor

Área: 16,02 x 18,84 cm²

Corte: 1 de 1ID: 44464451 29-10-2012

CONSOANTE MUDA

Burriculum vitæ

Não; não pode ser. Miguel

Relvas não pode perder o

doutor. Deveria até, como

na academia alemã, ser

chamado Herr Professor

Doktor Doktor — abreviado

para Univ. Prof. Ddr. h. c. Relvas.

A notícia de que as equivalências

com que a Universidade Lusófona

lhe concedeu uma licenciatura

foram mais generosas do que as

que concedeu a qualquer outro

aluno não nos deve espantar;

o que é verdadeiramente

signifi cativo é que Miguel Relvas

tenha tido equivalências a cadeiras

que nem sequer existiam.

Isto deve fazer-nos parar

para pensar. Que homem é este

que está assim tão à frente do

conhecimento do seu tempo?

Na tentativa de responder

a esta pergunta, ofereço nas

próximas linhas uns humildes

“Prolegómenos ditirâmbicos a

um preâmbulo introdutório à

possibilidade de uma relvística

futura”. O proémio, como nos

ensinou Kant, deve ser: “É Relvas

possível?” Vejamos a resposta.

Relvas desempenha na nossa

república um papel equivalente ao

de Aristóteles junto de Alexandre,

o Grande, Sila junto de Augusto

Rui Tavares

ou (tremo ao escrevê-lo) Séneca

junto de Nero. Relvas é como o

homem que segurava para os

imperadores a coroa cívica e lhes

dizia continuamente ao ouvido:

“Lembra-te: és mortal”. Sem

dúvida que Pedro Passos Coelho

pensa isso de cada vez que o vê.

Sabe-se pouco sobre este

homem, mas o próprio Relvas

disse uma vez: “Norteei a minha

vida pela simplicidade da procura

do conhecimento permanente.

Sou uma pessoa mais de fazer

do que de falar”. Em suma, e no

plural: ele faz conhecimentos.

Essa é a chave.

A sua carreira começou muito

jovem, na área da propedêutica

da juventude partidária, com as

suas disciplinas de seguidística

aplicada, favorometria elementar

e sociopragmática da cunha, na

qual revelou aptidões invulgares.

Os melhores alunos desta

fase passam para o exercício

da chamada chapeladística

psefológica, ou alquimia eleitoral.

Daqui é um pulo até aos estudos

de eclesiologia partidária,

logo depois de etnografi a

parlamentar, e fi nalmente

de ontogénese do mundo

empresarial, com especialização

em lusotropicapitalismo. Pelo

meio, uns estágios em musicologia

na Loja Mozart, e pesquisas

aturadas de fi siologia animal

sobre o Anas platyrhynchos

(vulg. “pato bravo”). Estas são

ciências de ponta. Para lá delas

encontram-se as férteis pradarias

da vigarística, da enganêutica e

da gatunologia. Portugal tem tido

um grande desenvolvimento nesta

área, com os trabalhos pioneiros

dos doutores Isaltino Morais,

Dias Loureiro e Duarte Lima.

Talvez também ele no futuro

possa satisfazer o seu gostinho

pela nepotologia helvetística,

a microclimatologia das ilhas

Caimãs e, quiçá, a gerontologia

forense.

Não nos deve por isso

estranhar que lhe tenha sido dada

equivalência não só às cadeiras

de Português I, II e III, que

existiam, como às de Português

IV e V, que precisaram de ser

inventadas especifi camente para

ele. Ele deveria ainda ter tido

uma equivalência a Metafísica

da Língua Portuguesa. Pois é

certo que, apenas com o uso da

nossa língua materna, Relvas já

conseguiu coisas que todos os

portugueses julgavam impossíveis,

e continua a superar as barreiras

da realidade.

Historiador e eurodeputado

Relvas já conseguiu coisas que todos julgavámos impossíveis e continua a superar as barreiras da realidade