atencao a primiparas no parto normal
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parto normal. assistencia a saude. enfermagemTRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIENCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM
VIVNCIAS DE MULHERES-PRIMPARAS NAS
PRTICAS DE CUIDADO AO PARTO VAGINAL
DISSERTAO DE MESTRADO
Juliane Scarton
Santa Maria, RS, Brasil
2015
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VIVNCIAS DE MULHERES-PRIMPARAS NAS PRTICAS
DE CUIDADO AO PARTO VAGINAL
Juliane Scarton
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em
Enfermagem, rea de Concentrao Cuidado, Educao e Trabalho em
Enfermagem e Sade da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS)
como requisito parcial para obteno do grau de
Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Prof. Dr. Lcia Beatriz Ressel
Santa Maria, RS, Brasil
2015
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DEDICATRIA
Ao meu pai Sadi Scarton, e minha me Dosolina C. Mainardi Scarton, sem os quais no
seria possvel realizar esse sonho.
Exemplos de pais, que nunca mediram esforos para realizao dos meus sonhos. Hoje, tudo
o que sou, devo a vocs. Essa conquista nossa! Eu os amo com amor eterno.
Muito obrigado, meus amores.
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AGRADECIMENTOS
A Santssima Trindade, Pai, Filho e Esprito Santo de Deus, por me direcionar sempre ao
melhor caminho e por proporcionar a alegria desta conquista.
A minha me Dosolina C. Mainardi Scarton, por ser um exemplo de mulher e de me, meu
porto seguro. Pela motivao, fora e segurana nos bons e maus momentos. Obrigado
mezinha, por comemorar comigo essa conquista. Eu te amo!
Ao meu pai Sadi Scarton, por no ter medido esforos para a realizao deste sonho.
Obrigado meu amor, pela alegria que me deste, por ser esse pai maravilhoso, o melhor pai
do mundo. Eu te amo paizinho!
Ao meu irmo Jiussri e Jurema Scarton e a minha irmzinha gmea Juciane Scarton, Deus
me presenteou com os melhores irmos e amigos do mundo. Obrigado pela fora, carinho,
amizade, pacincia e pelas brigas tambm, pois quando a distncia fsica se tornou maior,
at destas, eu senti saudade. Muito obrigado, meus irmozinhos!
A minha professora Lcia Beatriz Ressel. Obrigado pela oportunidade, pelo carinho e
tamanha dedicao. Quem dera se o mundo tivesse mais pessoas com um corao lindo igual
ao seu.
A minha colega e amiga Lisie Alende Prates, voc foi um anjo enviado por Deus na forma de
amiga. Obrigado querida, por ser dona deum corao lindo. Obrigado pelo companheirismo,
carinho e ensinamentos. Te levarei para sempre em meu corao. Te amo, amiga!
A todos meus amigos e familiares que me deram fora, compreenderam meus momentos de
ausncia e tornaram minha vida mais feliz com a presena de cada um de vocs. Obrigado!
A banca examinadora, docentes que eu admiro. Obrigado por fazerem parte desse momento
to especial em minha vida.
A todos os professores do PPGenf da UFSM, discentes do grupo de pesquisa: Cuidado,
Sade e enfermagem e a Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
(CAPES), Muito obrigado!
A todos que de alguma forma tornaram esse sonho realidade.
Muito obrigado!
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RESUMO
Dissertao de Mestrado
Programa de Ps-Graduao em Enfermagem
Universidade Federal de Santa Maria
VIVNCIAS DE MULHERES-PRMIPARAS NAS PRTICAS DE CUIDADO AO
PARTO VAGINAL
AUTORA: JULIANE SCARTON
ORIENTADORA: PROF DR LCIA BEATRIZ RESSEL
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 27 de fevereiro de 2015.
O nascimento constitui um dos principais acontecimentos na vida da mulher, pois estabelece a
transio ao papel de me. Nessa direo, apesar de o nascimento de um filho ser
habitualmente um acontecimento transbordado de felicidade, no se pode desconsiderar que
comumente este tambm se constitui em um momento de ansiedade e medo determinados
pela vivncia de algo desconhecido. Nesse intuito, toda a ateno no processo parturitivo,
desde o incio do trabalho de parto, deve ser realizada levando-se em considerao o respeito
na relao entre profissional, parturiente e famlia. Com base no exposto, este estudo teve
como questo norteadora como foi a vivncia de mulheres-primparas em relao s prticas de cuidado realizadas pelos profissionais de enfermagem durante o trabalho de parto e parto,
em uma instituio hospitalar do interior do estado do Rio Grande do Sul/Brasil?, o objetivo foi conhecer a vivncia de mulheres-primparas em relao s prticas de cuidado prestadas
pelos profissionais de enfermagem no trabalho de parto e parto. Tratou-se de uma pesquisa de
campo, de abordagem qualitativa, com enfoque descritivo, realizada em uma maternidade do
interior do Estado do Rio Grande do Sul, com dez mulheres-primparas. A produo dos
dados deu-se pela utilizao de entrevista semiestruturada, gravada na ntegra, sendo os dados
transcritos e, aps, analisados pela Anlise de Contedo Temtica seguindo a Proposta
Operativa. Os preceitos ticos foram observados conforme a Resoluo nmero 466/2012.
Esta pesquisa obteve aprovao do Comit de tica em Pesquisa, sob o Certificado de
Apresentao para Apreciao tica CAEE 26452313.8.0000.5346. Entre os resultados,
emergiram, as prticas de cuidado referentes aos mtodos no farmacolgicos e de avaliao
do bem-estar materno e fetal. Destacaram-se a participao ativa dos profissionais de
enfermagem, mostrando-os presentes, preocupados e solcitos s necessidades das mulheres e,
tambm, cuidados pautados no esclarecimento e em orientaes de como proceder no perodo
expulsivo e de como enfrentar a dor das contraes uterinas no trabalho de parto e parto. Por
outro lado, encontrou-se, a restrio hdrica e alimentar e a realizao rotineira de
procedimentos desnecessrios e sem evidncias cientficas pelos profissionais de
enfermagem. Ademais, constatou-se profissionais que permaneceram indiferentes ao
momento vivido pela mulher e sua famlia. Conclui-se que, a vivncia do cuidado
desempenhado pelos profissionais de enfermagem no trabalho de parto e parto na ateno s
mulheres-primparas est intrinsicamente ligada forma com que o profissional desempenha
o seu cuidado. Espera-se que esse estudo possa contribuir no cuidado prestado s mulheres em
trabalho de parto e parto, por meio da reflexo e reformulao de condutas de cuidados nesta
rea, tanto em maternidades quanto na construo do conhecimento acerca deste tema nas
instituies de ensino, a fim de que seja consolidado a partir das necessidades das principais
protagonistas envolvidos na cena do parto, ou seja, as mulheres, seus bebs e sua famlia.
Descritores: Parto Normal. Assistncia Sade. Enfermagem
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ABSTRACT
Masters Dissertation Graduate Program in Nursing
Federal University of Santa Maria
PUERPERAS WOMEN EXPERIENCES IN CARE PRACTICES THE VAGINAL
BIRTH
AUTHOR: JULIANE SCARTON
ADVISOR: PROF DR LCIA BEATRIZ RESSEL
Place and date: Santa Maria, 27 de fevereiro de 2015.
The birth is one of the major events in women's lives, because it establishes the transition to
motherhood. In this sense, although the birth of a child usually be one of happiness
overflowed event, one can not ignore that commonly this also constitutes a time of anxiety
and fear determined by the experience of something unknown. To that end, all the attention in
the birth process, from the beginning of labor, should be carried out taking into account the
respect in the relationship between work, laboring woman and family. Based on the above,
this study was guiding question "how was the experience of women-primiparous regarding
care practices performed by nursing professionals during labor and delivery in a hospital in
the state of Rio Grande South / Brazil? ", the objective was to know the experience of women-
primiparous regarding care practices provided by nurses in labor and delivery. It was a field
research, a qualitative approach with descriptive approach, performed in a maternity hospital
in the interior of Rio Grande do Sul State, with ten women-gilts. Data production was due to
the use of semi-structured interview, recorded in full, and the transcribed data and,
subsequently, analyzed by qualitative analysis following the Proposal Operations. The ethical
principles were observed under Resolution number 466/2012. This research was approved by
the Research Ethics Committee, under the General Certificate of Appreciation for Ethics
CAEE 26452313.8.0000.5346. Among the results emerged, care practices relating to non-
pharmacological methods and evaluation of maternal and fetal well-being. Highlights
included the active participation of nursing professionals, showing the present, concerned and
helpful to the needs of women and also guided care in the clarification and guidance on how
to proceed in the second stage and how to face the pain of uterine contractions in labor and
delivery. On the other hand, it was found, the water and food restriction and routine
performance of unnecessary procedures and without scientific evidence by nursing
professionals. Moreover, it was found that professionals remained indifferent to the moment
experienced by the woman and her family. In conclusion, the experience of care played by
nurses in labor and delivery in attention to women-primiparous is intrinsically linked to the
way the professional plays his care. It is hoped that this study will contribute in the care given
to women in labor and delivery, through reflection and reformulation care behaviors in this
area, both in hospitals and in the construction of knowledge on the subject in educational
institutions, order to be consolidated from the needs of the key players involved in the birth
scene, ie women, their babies and their families. Descriptors: Childbirth Normal. Health Care. Nursing
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LISTA DE ANEXOS
Anexo A Carta de Aprovao do Comit de tica e Pesquisa ....................................... 69
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LISTA DE APNDICES
Apndice A Roteiro para Entrevista ................................................................................ 72
Apndice B - Termo de Consentimento Livre Esclarecido ............................................... 73
Apndice C - Termo de Assentimento ................................................................................. 75
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SUMRIO
1 CONSIDERAES INICIAIS .......................................................................................... 11
2 PERCURSO METODOLGICO ..................................................................................... 16
2.1 Tipo de estudo .................................................................................................................... 16
2.2 Cenrio da pesquisa ............................................................................................................ 16
2.3 Participantes da pesquisa .................................................................................................... 17
2.4 Coleta de dados ................................................................................................................... 18
2.5 Anlise dos dados ............................................................................................................... 19
2.6 Aspectos ticos ................................................................................................................... 20
3 RESULTADOS .................................................................................................................... 22
ARTIGO 1: No final compensa ver o rostinho dele: vivncias de mulheres-primparas no parto normal .............................................................................................................................. 22
ARTIGO 2: Prticas de cuidado no parto normal: a vivncia de mulheres-primparas ......... 39
4 DISCUSSO ........................................................................................................................ 57
5 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................. 62
REFERNCIAS ..................................................................................................................... 64
ANEXO .................................................................................................................................... 68
APNDICES ........................................................................................................................... 71
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1 CONSIDERAES INICIAIS
No ano de 2010, no Brasil a taxa de parto hospitalar foi superior a 98%. Contudo,
ainda existe uma elevada razo de mortalidade materna, a qual correspondia, em 2010, a 68
bitos/100.000 nascidos vivos, superando em muito os 10 bitos/100.000 considerados
aceitveis pela Organizao Mundial de Sade (OMS) (WHO, 2010; BRASIL, 2012).
Pesquisa realizada no Brasil, intitulada Nascer no Brasil, confirma uma proporo
de cesarianas de 45,5% em mulheres que apresentam risco obsttrico habitual. Ademais,
tambm se observou que intervenes realizadas no trabalho de parto e parto normal foram
abusivas, sendo que apenas 5,6% das parturientes de risco habitual e 3,2% das primparas,
nesse grupo, pariram de forma fisiolgica, sem qualquer tipo de interveno no trabalho de
parto (LEAL et al, 2014).
Esses ndices refletem modificaes nos modos de cuidar e na maneira de parir a qual
vem sofrendo transformaes ao longo dos anos. Durante milhares de anos, a prtica do
cuidar no pertenceu a uma profisso especfica. O cuidado era entendido e realizado por
qualquer pessoa que ajudasse a outra na manuteno de sua vida e na promoo da
sobrevivncia. O cuidar sempre esteve presente nas diversas dimenses do processo de
nascer, viver e morrer (COLLIRE, 1999; WALDOW, 1998).
Nesse contexto, o parto e o nascimento so acontecimentos fundantes para a existncia
e continuidade da vida humana. Durante milhares de anos, muito antes da existncia das
cincias mdicas, as mulheres construam seus modos de parir. Esse era um evento de cunho
familiar e centrado na figura feminina. O processo parturitivo era realizado no domiclio por
parteiras, em um ambiente calmo e aconchegante, junto ao convvio da famlia, uma vez que o
processo fisiolgico do parto era respeitado (BRENES, 2005; PASCHE; VILELA;
MARTINS, 2010).
Com o progresso do capitalismo industrial, a partir do sculo XIX e de forma mais
acelerada no sculo XX, com o desenvolvimento cientfico e tecnolgico e a necessidade de
controlar a natureza, o parto foi levado gradativamente para o cenrio hospitalar (PASCHE;
VILELA; MARTINS, 2010). Origina-se, ento, o ramo obsttrico da medicina, que
transformou o parto, que era uma experincia domiciliar centrada na mulher, com
participao ativa da famlia e de pessoas prximas do seu convvio, em um evento cirrgico,
desenvolvido no ambiente hospitalar e que passou a ser direcionado pelo modelo tecnocrtico,
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centrado na figura masculina do mdico e no seu poder concebido por meio do saber e de
prticas obsttricas, que determinaram uma nova direo ao parto e nascimento (BRASIL,
2010; PASCHE; VILELA; MARTINS, 2010).
Embora tenhamos cruzado um sculo desta histria, ainda persistem os cuidados
norteados pelo modelo tecnocrtico e hospitalocntrico, em que o nascimento percebido
como um problema mdico; o corpo da mulher encarado como imperfeito e ela
considerada como incapaz de compreender o processo de parturio. Com isso, os
profissionais de sade desconsideram a possibilidade de envolv-la nas decises mdicas
referentes a seu corpo, sua vida. A partir dessa lgica, vrias tecnologias so utilizadas sem
avaliar a sua necessidade e eficcia, banalizando a segurana da mulher e do beb (BRASIL,
2014).
Concernente a isso, muito se tem feito ao longo dos anos, para superar esse modelo,
por meio de programas nacionais, projetos, estudos, leis, orientaes de rgos reconhecidos
internacionalmente e baseado em evidncias cientficas, como o guia prtico elaborado pela
OMS com recomendaes de prticas seguras no parto normal (OMS, 1996), a criao do
Programa de Humanizao no Pr-Natal e Nascimento (PHPN), pelo Ministrio da Sade,
cujo objetivo principal reorganizar a assistncia, garantindo a qualidade do cuidado e a
humanizao da assistncia mulher no perodo gravdico-puerperal (BRASIL, 2001).
Ainda, a promulgao da Lei 11.108, de 7 de abril de 2005, que estabelece que os
servios de sade do Sistema nico de Sade (SUS), da rede prpria ou conveniada, devem
permitir a presena junto parturiente, de um acompanhante durante todo o perodo de
trabalho de parto, parto e ps-parto imediato, e que este deve ser de livre escolha e indicado
pela prpria parturiente (BRASIL, 2005); e mais recentemente, em 2011, instituda a Rede
Cegonha, que tambm prioriza aes direcionadas assistncia humanizada no parto e
nascimento, centradas no bem-estar da mulher e das demais pessoas envolvidas nesse
processo (BRASIL, 2011).
Nesse sentido, a criao de programas e leis, assim como o cuidado voltado para a
humanizao da assistncia, surgem a partir da necessidade de mudanas na compreenso e
no cenrio do parto. Nesse contexto, verifica-se a importncia da humanizao dos servios
de sade e de repensar o cuidado ofertado pelos profissionais parturiente (CAPIL et al,
2011).
Assim, a humanizao compreende que dever das unidades de sade receber com
dignidade e respeito a mulher, seus familiares e o recm-nascido de modo a criar um ambiente
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acolhedor e a adoo de medidas e procedimentos sabidamente benficos para o
acompanhamento do parto e do nascimento ( BRASI, 2002).
Para tanto, considera-se que as prticas de cuidado em sade realizadas/executadas
pelos profissionais devem ser norteadas pelo princpio da humanizao, permitindo e
instrumentalizando as mulheres para fazer escolhas em relao ao seu corpo e sua condio de
sade. Alm disso, os profissionais precisam promover o acolhimento, o respeito e o uso de
tecnologia apropriada diante das reais necessidades de cada caso (BRASIL, 2004).
Contudo, embora existam programas, polticas e leis que preconizam melhor qualidade
no atendimento mulher no parto, parece que ainda tem-se muito a fazer, ou que tais medidas
ainda no sensibilizaram os profissionais de sade e gestores de maternidades ou locais de
nascimento. Pensa-se que, primeiramente, se faz necessrio, para que as aes orientadas por
esses programas e polticas sejam implementadas e efetivadas, considerar a mulher como
sujeito ativo da ateno sade e no como mera espectadora. Dessa forma, ela e sua famlia
tero seus direitos valorizados e respeitados (QUEIROZ et al, 2007). Contudo, o contexto
atual de assistncia ao parto demonstra-se longe de um cuidado humanizado e idealizado
pelas mulheres.
Em estudo de reviso de literatura, em busca do estado da arte sobre a temtica desta
dissertao, verificou-se que, na tica das mulheres, o cuidado realizado deve ser
caracterizado pela preservao da privacidade, possibilitando conforto e bem-estar;
disponibilidade de lquidos e alimentos para a parturiente, proximidade com os profissionais e
a participao do acompanhante. Ainda, preciso conversar, ouvir suas angstias e seus
medos dar ateno e no deix-la sozinha (FIGUEIRDO et al, 2004; FRELLO; CARRARO,
2010; OLIVEIRA; RODRIGUES; GUEDES, 2011; FRELLO; CARRARRO, 2010b;
ROCHA; FONSECA, 2010; PEREIRA; AZEVEDO; MEDINA, 2012; SANTOS; COSTA
PEREIRA, 2012).
A literatura revela tambm que as mulheres permaneceram sozinhas na sala de pr-
parto, mesmo a equipe estando ciente de que elas estavam sem acompanhantes, pois algumas
instituies no permitiam a presena destes em certos momentos, seja no trabalho de parto,
parto ou puerprio imediato. Ademais, a realizao de rotinas institucionais como tricotomia,
enteroclisma, uso de medicamentos para induo do parto, manobra de Kristeller dentre
outras, continuam sendo implementadas em certas maternidades, tornando a assistncia
mecanizada e massificada (FRELLO; CARRARRO, 2010b; FRELLO; CARRARO, 2010a;
ROCHA; FONSECA, 2010).
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Com base nesse estudo de reviso, no que concerne produo do conhecimento
cientfico, constatou-se a importncia de pesquisas com foco no cuidado ao trabalho de parto
e parto s mulheres-primparas, tendo em vista que as produes cientficas encontradas no
abordaram esse grupo de forma especfica. Isso refora que a rea da sade carece de estudos
que abordem a vivncia, sob a perspectiva de mulheres-primparas, do cuidado oferecido
pelos profissionais de enfermagem no trabalho de parto e parto. Ressalta-se, ainda, que o foco
desse estudo, voltado para o cuidado ao parto consiste em uma das propostas da Agenda
Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade do Ministrio da Sade (BRASIL, 2008).
Nessa lgica, percebe-se que este estudo pode contribuir tanto no cuidado prestado s
mulheres em trabalho de parto e parto, quanto na reformulao de condutas de cuidados
adotadas nas maternidades e instituies de ensino. Ainda, espera-se promover reflexes e
discusses no ensino e nas pesquisas em sade, no que concerne ao cuidado mulher nos
eventos que permeiam o parto e nascimento. Tambm, pretende-se contribuir no
fortalecimento do Grupo de Pesquisa Cuidado, Sade e Enfermagem, vinculado ao
Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), permitindo
o aprofundamento dos estudos, com enfoque nessa temtica.
Outros sim, esclarece-se que, neste estudo, o termo trabalho de parto refere-se a uma
srie de fenmenos formados pelas contraes musculares rtmicas que conduzem ao
apagamento progressivo e dilatao da crvix uterina e descida da parte que se apresenta,
com eventual expulso da criana e dos outros produtos da concepo. O termo parto, por sua
vez, refere-se ao efetivo nascimento da criana (Zieguel; Cranley, 1986).
Cabe destacar a definio de parto normal assumida, neste estudo, diferencia-se um
pouco do conceito trazido pela OMS (1996), para quem parto normal aquele que tem incio
espontneo e sem risco identificado no incio do trabalho de parto, permanecendo, assim, at a
expulso do feto. A definio assumida neste estudo se alinha com as ideias defendidas no
seio do movimento pela humanizao do nascimento e parto, mas que pouco se encontra em
publicaes cientficas e, para quem, o parto normal aquele em que o feto vem ao mundo
pela via vaginal, podendo ocorrer o uso de ocitocina, de anestesia e de episiotomia,
diferenciando-se, assim, do parto natural, que aquele em que no so realizadas intervenes
medicamentosas e procedimentos invasivos, como a episiotomia.
O conceito de primparas ou primiparidade corresponde ao nmero de partos da
mulher, distinguindo-se do nmero de gestaes e correspondendo mulher que est na
iminncia de parir ou j tenha parido em uma oportunidade, ou seja, a parturiente do
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primeiro concepto, mesmo que de gemelares (MONTENEGRO; REZENDE FILHO, 2013).
Nesse estudo entende-se por mulheres-primparas aquelas que, no momento da coleta de
dados, tinham tido seu primeiro parto. Acerca de prticas de cuidado, entende-se posies
diante do desenvolvimento e da realidade social. Ou seja, maneiras de cuidado que visam aliar
os conhecimentos terico-tcnicos sensibilidade humana para prestar ateno ao indivduo
em sua complexidade biopsicossocial (FERREIRA; ACIOLI, 2010).
Desse modo, o presente estudo tem como questo norteadora a seguinte indagao:
como foi a vivncia de mulheres-primparas em relao s prticas de cuidado realizadas
pelos profissionais de enfermagem durante o trabalho de parto e parto, em uma instituio
hospitalar do interior do estado do Rio Grande do Sul/Brasil?
Assim, o objetivo foi conhecer a vivncia de mulheres-primparas em relao s
prticas de cuidado prestadas pelos profissionais de enfermagem no trabalho de parto e parto.
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2 PERCURSO METODOLGICO
Apresenta-se, neste captulo, o tipo de estudo, o cenrio da pesquisa, os participantes
envolvidos no estudo, os procedimentos e as tcnicas de coleta e de anlise de dados, e os
aspectos ticos.
2.1 Tipo de estudo
Para atender o objetivo proposto, este estudo norteou-se metodologicamente pela
abordagem qualitativa do tipo descritivo. Utilizou-se a pesquisa qualitativa, pois esta
considera a natureza dos fatos, os quais so entendidos como parte do contexto social, no qual
o ser humano se distingue no s por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar
suas aes e acontecimentos, dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus
semelhantes (MINAYO, 2014).
Em relao ao tipo descritivo o objetivo primordial consiste na descrio das
caractersticas de determinada populao, tambm tem o intuito de identificar opinies e
atitudes, alm de descrever as principais caractersticas dos participantes estudados (GIL,
2010).
2.2 Cenrio da pesquisa
O cenrio para realizao do presente estudo foi a unidade da maternidade de uma
instituio hospitalar, localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul (RS). A rede
hospitalar no municpio constituda por trs hospitais, dois deles de carter filantrpico e um
privado.
A instituio considerada como hospital de referncia para a regio por abranger 125
municpios do estado do RS, o que representa uma populao de 1.282.927 pessoas,
equivalente a 12,9% da populao do Estado.
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No cenrio do presente estudo, as participantes so acolhidas pelos profissionais de
enfermagem, nesse momento so encaminhadas para a sala de exames na maternidade onde
realizada a avaliao do trabalho de parto em curso ou no, ou a avaliao de possveis riscos
a sade da mulher ou do beb, importante destacar que nesse momento ela permanece junto
de seu acompanhante de escolha. Assim, se essas mulheres estiverem em trabalho de parto,
realizado o preenchimento burocrtico dos papeis de internao e a seguir o preparo para o
parto.
Logo, a rotina de ateno ao trabalho de parto e parto, consiste primeiramente na
realizao de exames de toque vaginal para diagnstico do trabalho de parto em curso,
verificao da presso arterial, ausculta dos batimentos cardiofetais (BCF), verificao da
temperatura e, a seguir o cumprimento de prescries mdicas, como o uso de medicamentos
para induo do parto e a realizao de procedimentos de rotina, como tricotomia,
enteroclisma e puno venosa.
Aps a mulher encaminhada para o quarto, onde permanece na presena de
acompanhante. Os cuidados para evoluo do trabalho de parto consistem tambm na
orientao e execuo do uso de mtodos no farmacolgicos como a deambulao, banho de
asperso, uso de bola sua, entre outros. Aps o inicio do parto a mulher encaminhada para
a sala de parto, geralmente acompanhada de um acompanhante.
No cenrio de estudo a equipe de enfermagem conta com (13) tcnicos de enfermagem
e (3) enfermeiros. Esta unidade conta atualmente com 15 leitos de internao, (2) salas de
parto, (1) sala de exame, (1) sala de amamentao (1) berrio com dois beros e, outras
caractersticas de menor relevncia para este estudo.
2.3 Participantes da pesquisa
As participantes do estudo foram dez mulheres-primparas, que se encontravam no
momento da coleta de dados em puerprio imediato1, ainda internadas na instituio
hospitalar. Optou-se por esse grupo de participantes, pelo fato do acontecimento do parto, ser
1 O puerprio se refere ao perodo que se estende desde logo aps se dar o nascimento at o 43 dia. Ele pode
ser dividido em puerprio imediato (do 1 ao 10 dia), puerprio tardio (11 ao 42 dia), e puerprio remoto que
corresponde (a partir do 43 dia) (BRASIL, 2001).
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algo novo e desconhecido ao seu corpo, possibilitando assim, compreender melhor a vivncia
do parto e os cuidados desempenhados pelos profissionais de enfermagem. O nmero de
participantes foi alcanado a partir do momento em que foram atingidos os objetivos
propostos no estudo e pelo critrio de saturao dos dados, momento este, que os dados
comearam a ser redundantes ou repetitivos (MINAYO, 2014).
Como critrios de incluso definiu-se que as possveis participantes do estudo
deveriam ser mulheres-primparas assistidas no cenrio do estudo em parto normal, com idade
gestacional compatvel com a viabilidade fetal (37 a 42 semanas gestacionais) e que tivessem
dado luz recm-nascidos vivos. Alm disso, essas mulheres deveriam estar internadas no
cenrio do estudo no perodo previsto para a coleta de dados e ter suas condies psquico-
cognitivas preservadas.
2.4 Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada nos meses de fevereiro, maro e abril de 2014, por
meio de entrevista individual semiestruturada, a qual permitiu s entrevistadas falar sobre o
tema em questo neste estudo, estimulando a comunicao verbal, e assim, o levantamento de
informaes sobre o assunto (MINAYO, 2014). O instrumento da entrevista foi composto por
questes fechadas que visaram caracterizar as participantes, alguns cuidados realizados no
trabalho de parto e parto, e questes abertas relativas s suas vivncias sobre o tema em
estudo (APNDICE A).
O levantamento inicial das mulheres-primparas, internadas na maternidade, foi
realizado por meio da leitura dos pronturios da unidade, o que no foi uma tarefa fcil, tendo
em vista o baixo ndice de parto normal nesta instituio sendo, 38,9% no ano de 2013. Ao
identificar as possveis participantes, de acordo com seu enquadramento nos critrios de
incluso, foi realizado contato pessoal e individual, respeitando o perodo de 24 horas aps o
parto para realizao das entrevistas, pelo fato da vivncia dos cuidados de enfermagem ao
parto estarem acentuadas em suas lembranas, assim como, pelo respeito a integridade fsica
da mulher.
Neste contato foi explicado o objetivo da pesquisa, e realizada a leitura e a explicao
do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) (APNDICE B) s participantes
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maiores de 18 anos e aos responsveis pelas menores de 18 anos. As participantes menores de
18 anos tambm receberam o Termo de Assentimento (APNDICE C) para autorizao
relativa sua participao. As entrevistas foram realizadas em uma sala anexa unidade da
maternidade, mas que se localizava no interior desta, o que garantiu a viabilizao de sua
participao e o sigilo das informaes. Nesse momento, o recm-nascido ficou aos cuidados
do acompanhante da participante do estudo. As entrevistas foram gravadas em MP3 e,
posteriormente, transcritas na ntegra, eliminando os vcios de linguagem.
2.5 Anlise dos dados
Os dados coletados foram analisados pela Anlise de Contedo Temtica seguindo a
proposta operativa de Minayo (2014), que se caracteriza por dois momentos operacionais. O
primeiro incluiu a fase exploratria e o segundo a fase interpretativa.
Na fase exploratria da investigao, buscou-se a compreenso da histria das
participantes, do ambiente de vida, de suas condies socioeconmicas, assim como
compreender o funcionamento da unidade hospitalar em que ocorreu o cuidado ao trabalho de
parto e parto.
A fase interpretativa apresentou duas etapas, sendo elas: a ordenao dos dados, que
consistiu na transcrio do material obtido atravs da coleta dos dados, a releitura do material
e a organizao dos relatos, os quais determinaram o incio da classificao dos resultados
obtidos.
A classificao dos dados, que a segunda etapa, incluiu a leitura horizontal e
exaustiva dos textos, por meio de leituras flutuantes, as quais permitiram apreender as
estruturas de relevncia e as ideias centrais dos depoimentos; a leitura transversal, na qual
foram separados os dados estabelecendo relaes entre estes, separando em categorias ou
unidades de sentido, e quando se buscou perceber as conexes entre elas. Na anlise final, os
dados foram confrontados com os referenciais tericos e, por fim, foram apresentados os
resultados da pesquisa.
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2.6 Aspectos ticos
Os preceitos ticos foram observados conforme a Resoluo n 466/2012 do Conselho
Nacional da Sade, que estabelece os parmetros para pesquisas que envolvem seres humanos
(BRASIL, 2012). O presente projeto de pesquisa, primeiramente foi registrado no Sistema de
Informaes para o Ensino (SIE) da UFSM e Gabinete de Apoio Pesquisa (GAP) do Centro
de Cincias da Sade. Aps foi encaminhado instituio hospitalar solicitando formalmente
a autorizao para realizao do estudo.
O projeto de pesquisa foi registrado na Plataforma Brasil e encaminhado para
apreciao do Comit de tica em Pesquisa da UFSM para avaliao, sendo aprovado sob o
Certificado de Apresentao para Apreciao tica (CAEE) 26452313.8.0000.5346 (ANEXO
A).
As participantes enquadradas nos critrios de incluso foram informadas,
individualmente, acerca dos objetivos da pesquisa, dos benefcios que a pesquisa promoveria,
assim como a apresentao do TCLE e da no obrigatoriedade em incluir-se entre as
participantes da investigao. As participantes foram informadas quanto proteo de suas
identidades, sendo nomeadas pela letra E seguida da sequncia numrica (E1, E2...E10);
possibilidade de solicitar sua excluso em qualquer momento sem qualquer prejuzo; ao uso
das informaes deste estudo para fins cientficos; e a ausncia de qualquer tipo de
remunerao ao aceitarem integrar-se populao estudada. Alm disso, foram comunicadas
que, ao trmino da entrevista, poderiam ouvir o contedo gravado e, se desejassem, poderiam
alter-lo, se o que quiseram dizer no estivesse claro ou coerente com o que pensavam a
respeito do tema da entrevista.
Os possveis riscos relacionaram-se s situaes que poderiam provocar
constrangimentos, bem como a possibilidade de despertar sentimentos e lembranas negativas
durante a entrevista. Foi garantido que caso houvesse algum desgaste fsico ou emocional, a
entrevista seria suspensa e poderia ser retomada em outro momento a combinar com a
participante. Entretanto, destaca-se que no ocorreu nenhum episdio dessa natureza. Os
benefcios relacionaram-se diretamente produo de conhecimento que pode qualificar as
prticas de cuidado no processo parturitivo voltada s mulheres-primparas. A pesquisadora
responsvel pelo projeto e sua orientanda assinaram o Termo de Confidencialidade e
comprometeram-se quanto ao sigilo das informaes. Ressalta-se, por fim, que os resultados
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encontrados sero retornados aos profissionais de enfermagem envolvida e a instituio, em
momento a combinar com estes; e que ser providenciado um banner informativo a respeito
das prticas de cuidado prestados no trabalho de parto e parto, balizado em evidncias
cientficas e na poltica de humanizao do parto, para ser exposto s mulheres que forem
atendidas na maternidade onde o estudo foi desenvolvido.
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3 RESULTADOS
Os resultados desta pesquisa incluem, primeiramente, a caracterizao das
participantes, assim como algumas prticas de cuidado citados pelas mulheres-primparas
durante o trabalho de parto e parto.
O grupo em estudo caracterizou-se por dez mulheres- primparas, com idade entre 15
a 29 anos de idade. Em relao ao estado civil, (sete) estavam em unio estvel, e (trs)
encontravam-se solteiras ou casadas. Quanto escolaridade, (cinco) apresentavam o ensino
mdio completo e as outras (cinco) o ensino fundamental completo, ensino mdio incompleto
e ensino fundamental incompleto. Ainda, quanto ocupao, (quatro) trabalhavam no
comrcio lojista, ficando (seis) na ocupao de estudantes, trabalho no lar, e na agricultura.
Quanto renda mensal familiar, (seis) informaram um e dois salrios mnimos, e (quatro)
renda entre trs e quatro salrios mnimos e menos de um salrio mnimo. O tempo de
permanncia em trabalho de parto, aps admisso na maternidade, variou entre 1hora e 30
minutos a 13 horas.
Em relao s prticas de cuidado realizadas no trabalho de parto e parto, (sete) das
participantes tiveram indicao de algum tipo de mtodo no farmacolgico para alvio da
dor, prevalecendo caminhada e o banho morno. Ainda, (nove) participantes tiveram a
presena de um acompanhante no trabalho de parto, parto e perodo ps-parto. Por outro lado,
(oito) fizeram uso de medicamentos para induo do parto, como ocitocina, e realizao de
procedimentos como tricotomia (sete), enteroclisma (sete) e episiotomia (nove).
A seguir, apresentam-se os artigos com os resultados oriundos do estudo.
Quadro 1: Organizao dos resultados na forma de artigos
ARTIGO TTULO OBJETIVO
ARTIGO 1 No final compensa ver o rostinho
dele: vivncias de mulheres
primparas no parto normal
Conhecer as vivncias de mulheres-
primparas em relao ao cuidado
prestado por profissionais de
enfermagem no parto normal.
ARTIGO 2
Prticas de cuidado no parto
normal: a vivncia de mulheres
primparas
Conhecer as prticas de cuidado
desenvolvidas pelos profissionais de
enfermagem durante o parto normal na
perspectiva de mulheres- primparas.
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ARTIGO 1
NO FINAL COMPENSA VER O ROSTINHO DELE: VIVNCIAS DE
MULHERES-PRIMPARAS NO PARTO NORMAL1
Resumo:
Objetivo: conhecer as vivncias de mulheres-primparas em relao s prticas de cuidado
prestadas por profissionais de enfermagem no parto normal. Mtodo: estudo qualitativo
descritivo, realizado em uma maternidade do interior do Estado do Rio Grande do Sul, com
dez mulheres-primparas. A produo dos dados deu-se por meio de entrevista individual
semiestruturada, aps os resultados foram analisados por meio da anlise de contedo
temtica seguindo a proposta operativa de Minayo. Este estudo foi aprovado pelo Comit de
tica em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria, sob o Certificado de
Apresentao para Apreciao tica CAEE 26452313.8.0000.5346. Resultados: as
participantes vivenciaram, de forma muito individual o cuidado fornecido pelos profissionais
de enfermagem durante o parto normal. As vivncias foram consideradas favorveis, quando
as participantes so orientadas, esclarecidas e respeitadas quanto a sua individualidade e
necessidades de cuidado. De modo contrrio, a vivncia torna-se negativa quando os
profissionais mostram-se indiferentes e insensveis para com o momento vivenciado pela
mulher. Consideraes finais: As prticas de cuidado realizadas pelos profissionais de
enfermagem refletem na forma de enfrentamento da mulher nos eventos que permeiam o
processo parturitivo. Assim, os profissionais de enfermagem devem atuar como facilitadores
em proporcionar uma vivncia prazerosa das prticas de cuidado no parto normal para boa
evoluo do parto.
Descritores: Assistncia sade, Parto normal, Trabalho de parto, Enfermagem.
Abstract:
Objective: to know the experiences of women-primiparous regarding care practices provided
by nursing professionals in normal birth. Method: A descriptive qualitative study in a
maternity hospital in the interior of Rio Grande do Sul State, with ten women-gilts. Data
production took place through semi-structured individual interviews after the results were
analyzed using thematic content analysis following the operative proposal of Minayo. This
study was approved by the Ethics Committee of the Federal University of Santa Maria, under
the General Certificate of Appreciation for Ethics CAEE 26452313.8.0000.5346. Results: The
participants experienced in very individual care provided by nursing professionals during
normal delivery. The experiences were considered favorable when the participants are guided,
informed and respected as their individuality and care needs. Conversely, the experience
becomes negative when professionals are indifferent and insensitive to the time experienced
by a woman. Final Thoughts: care practices carried out by nursing professionals reflect in the
form of woman's face in the events that permeate the birth process. Thus, nursing
professionals should act as facilitators to provide a pleasurable experience of care practices in
normal birth for good performance delivery.
Descriptors: Health care, Normal delivery, delivery of Work, Nursing.
_______________ Artigo ser submetido na Escola de Enfermagem Revista Anna Nery.
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CONSIDERAES INICIAIS
O nascimento constitui um dos principais acontecimentos na vida da mulher, pois
estabelece a transio da mulher para o papel de me (OLIVEIRA, RODRIGUES, GUEDES;
2011). Nessa perspectiva, o parto no resulta apenas na expulso do concepto e, sim, na
continuidade da vida humana (LEITO, 2010).
Logo, toda a ateno no processo parturitivo, desde o trabalho de parto, deve ser
realizado levando-se em considerao o respeito na relao entre profissional, parturiente e
famlia. O cuidado desempenhado pelo profissional de sade, nesta perspectiva, tem como
objetivo oferecer parturiente e aos envolvidos nesse processo a possibilidade de vivenciar o
parto de maneira prazerosa e positiva. Nesse contexto, os profissionais devem atuar como
facilitadores no desenvolvimento desta ateno (BRASIL, 2001).
Assim, o cuidado de enfermagem dispensado mulher no processo parturitivo deve
configurar-se na busca de um relacionamento mais humano e prximo parturiente. Nesse
sentido, deve possibilitar que a mulher detenha o controle sobre seu corpo de modo a
compreender o que acontece em cada fase do parto, podendo manifestar-se livremente. Ainda,
envolve a conscientizao sobre seus direitos e uma escuta atenta e sensvel do profissional de
enfermagem com vistas a auxiliar parturiente nesse processo (FRELLO; CARRARO;
BERNARDI, 2011).
Nessa direo, apesar de o nascimento de um filho ser habitualmente um
acontecimento transbordado de felicidade, no podemos desconsiderar que comumente o
mesmo tambm se constitui como um momento de ansiedade e medo pelo vivenciar
desconhecido. Assim, entre as funes dos profissionais de enfermagem est a orientao,
coordenao e conduo do cuidado ao encontro das reais necessidades da mulher (LEITO,
2010). Cabe salientar que, neste estudo, o cuidado no processo parturitivo entendido a partir
da concepo de Malheiros et al (2012), ou seja, como aquele realizado pelo profissional de
enfermagem que se posiciona como um facilitador, que respeita a fisiologia do nascimento e a
autonomia feminina, permitindo que a mulher-primpara manifeste suas vontades e, evitando
interveno desnecessrias e/ou sem evidncias cientficas sobre sua eficcia.
Concorda-se com Odent (2000) quando se refere necessidade de os profissionais
compreenderem os eventos que permeiam o parto e os diferentes momentos da vida, uma vez
que a forma de nascer propicia a construo de uma sociedade com mais respeito pelos seres
humanos. Nesta direo, dar voz s mulheres-primparas que vivenciam o processo
parturitivo uma forma de avaliar o cuidado dos profissionais de enfermagem a esse grupo e
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estimular a realizao de aes com base nas polticas pblicas de humanizao do parto e
nascimento, to necessrios no contexto atual de assistncia ao parto (OLIVEIRA;
RODRIGUES; GUEDES, 2011).
Desse modo, este estudo norteia-se pela seguinte questo de investigao como foi a
vivncia de mulheres-primparas em relao s prticas de cuidado realizadas pelos
profissionais de enfermagem no parto normal? e como objetivo: conhecer as vivncias de
mulheres-primparas em relao s prticas de cuidado prestadas por profissionais de
enfermagem no parto normal.
MTODO
Estudo de abordagem qualitativa com enfoque descritivo, desenvolvido em uma
maternidade de uma instituio hospitalar localizada no interior do Estado do Rio Grande do
Sul/RS. O estudo contou com a participao de dez mulheres-primparas, cujo nmero
definiu-se pela saturao dos dados e pelo alcance do objetivo proposto no estudo (MINAYO,
2014).
Como critrio de incluso para participao no estudo definiu-se que os participantes
deveriam ser mulheres-primparas com condies psquico-cognitivas preservadas, internadas
no cenrio da investigao no perodo definido para a coleta dos dados e que tivessem dado
luz conceptos viveis (entre 37 e 42 semanas gestacionais) e hgidos por parto normal.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista individual semiestruturada
(MINAYO, 2014), composta por questes fechadas que visaram caracterizar as participantes e
os cuidados realizados no processo parturitivo alm de questes abertas relativas a vivncia
dos cuidados de enfermagem no parto normal. As entrevistas foram realizadas nos meses de
fevereiro, maro e abril de 2014, respeitando-se o perodo de 24horas aps o parto para
realizao da coleta de dados.
Aps, os dados foram analisados por meio da Anlise de Contedo Temtica seguindo
da proposta operativa de Minayo (2014). Que se caracteriza por dois momentos operacionais,
sendo o primeiro constitudo na fase exploratria da investigao, onde busca-se a
compreenso da histria do grupo pesquisado, de seus ambientes, de suas condies
socioeconmicas, dentre outras. O segundo momento compreende a fase de interpretao, a
qual permite ao pesquisador entender os significados centrais do estudo permitindo a
apresentao do relatrio final da pesquisa.
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O anonimato das participantes foi viabilizado com a utilizao da letra E seguida da
sequncia numrica (E1, E2,...E10). Este estudo foi aprovado pelo Comit de tica em
Pesquisa da UFSM em janeiro de 2014, sob o Certificado de Apresentao para Apreciao
tica CAEE 26452313.8.0000.5346. Os preceitos ticos tambm foram observados, conforme
a Resoluo n 466/2012 do Conselho Nacional da Sade, que estabelece parmetros para
pesquisas que envolvem seres humanos (BRASIL, 2012).
RESULTADOS E DISCUSSO
A vivncia do parto um evento marcante na vida de uma mulher, especialmente pela
forma como o processo parturitivo transcorre e pela forma como o cuidado prestado
mulher, sua famlia ou acompanhante. Logo, a ateno dispensada s mulheres-primparas
deve ser pautada no dilogo, na escuta, no carinho e nas orientaes quanto a todo processo
de parto e nascimento.
O grupo em estudo caracterizou-se por dez mulheres primparas, com idade entre 15 a
29 anos de idade. Em relao ao estado civil, (sete) estavam em unio estvel, e (trs)
encontravam-se solteiras ou casadas. Quanto escolaridade, (cinco) apresentavam o ensino
mdio completo e outras (cinco) o ensino fundamental completo, ensino mdio incompleto e
ensino fundamental incompleto. Ainda, quanto ocupao, (quatro) trabalhavam no comrcio
lojista, ficando (seis) na ocupao de estudantes, trabalho no lar, e na agricultura. Quanto
renda mensal familiar, (seis) informaram um e dois salrios mnimos, e (quatro) renda entre
trs e quatro salrios mnimos e menos de um salrio mnimo. O tempo de permanncia em
trabalho de parto, aps admisso na maternidade, variou entre 1hora e 30 minutos a 13 horas.
Em relao aos cuidados prestados no trabalho de parto e parto, (sete) das
participantes tiveram indicao de algum tipo de mtodo no farmacolgico para alvio da
dor, prevalecendo caminhada e o banho morno. Ainda, (nove) participantes tiveram a
presena de um acompanhante no trabalho de parto, parto e perodo ps-parto. Por outro lado,
(oito) fizeram o uso de medicamentos para induo no parto, como ocitocina, e (sete) a
realizao de procedimentos como tricotomia, (sete) enteroclisma, e (nove) episiotomia.
Os dados extrados das falas das mulheres foram agrupados nas seguintes categorias:
O medo de no conseguir e o incentivo da equipe de enfermagem; A vivncia da dor no parto
normal; Apoio versus distanciamento; Vivncia boa ou ruim no parto? No final tudo
compensa!.
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O medo de no conseguir e o incentivo da equipe de enfermagem
Ao analisar-se a vivncia das mulheres-primparas quanto s prticas de cuidado
realizadas no processo parturitivo, notou-se que esse acontecimento rodeado por
sentimentos que fazem parte do contexto de um processo desconhecido at ento, como pode
ser depreendido dos depoimentos que seguem:
Na hora do parto, eu estava com medo de no conseguir [E3].
[...] Eu estava bem nervosa, me de primeira viagem [...] eu tinha um pouco de medo
[....] [E5].
Percebe-se que o medo do desconhecido e de ser incapaz de parir ou a vivncia de
algo que at ento s era conhecido por relatos de vivncias de outras pessoas algo temido
pelas mulheres-primparas. Essa situao desperta sentimentos como medo, dvida e
ansiedade os quais afloram devido experincia desconhecida prestes a ocorrer em seu corpo
e na sua vida (OLIVEIRA et al., 2010).
Como pode ser observado a seguir, infere-se que alguns profissionais de enfermagem
do cenrio investigado no parecem ignorar esse conjunto de sentimentos experimentados
pelas mulheres-primparas e, por isso, muitos deles, talvez de forma instintiva, se utilizam de
prticas de cuidado que so caracterizadas como tecnologias leves, a exemplo do dilogo, e
que oportunizaram a modificao desses sentimentos.
[...] da conversei com elas (tcnicas de enfermagem), que me disseram: - calma, tu
vai conseguir! [...] teve duas (tcnicas de enfermagem) que sentaram e conversaram comigo
[...] [E3].
[...] tentavam (equipe de enfermagem) me acalmar [E6].
Desde o incio do parto at o final eu gostei muito da enfermeira [...] porque ela me
acalmava bastante, me passava tranquilidade [...] [E9].
[...] me incentivaram, me deram fora (equipe de enfermagem) [E4].
[...] as gurias (tcnicas de enfermagem) me tranquilizaram [...] o carinho que as
gurias tiveram [E5].
Na hora do parto [...] elas (tcnicas de enfermagem) conversavam para eu no ficar
to nervosa [...] da a gente j vai se aliviando, no mais aquela tenso que parece que vai
[...] meu Deus! [E10].
Constata-se que o fato de a equipe mostrar-se preocupada com o bem-estar das
mulheres, conversar e ouvi-las em suas angstias, medos e inseguranas, o apoio e a fora foi
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o cuidado-chave, que substituiu tais sentimentos pela tranquilidade, segurana e calma
frente ao processo parturitivo.
Esses achados vo ao encontro dos resultados de um estudo que, buscando
compreender o adequado cuidado ao parto na tica de mulheres revelam que essas desejam
um cuidado dirigido sua individualidade. Nesse sentido, elas buscam um cuidado, baseado
no dilogo, com orientaes adequadas, pautadas na ateno, no carinho e na escuta, que
favorea o seu potencial em conduzir o trabalho de parto (ENDERLE et al., 2012).
Ainda, nos depoimentos, a seguir, algumas participantes do estudo potencializaram o
esforo expulsivo no momento do parto de forma incorreta. Isso pode estar associado ao fato
de serem primparas, mas tambm demonstrou o cuidado da equipe com relao orientao
ao esforo e respirao correta.
[...] na hora do parto eu fiz a fora errada, da ela (tcnica de enfermagem) veio,
conversou comigo e disse para no fazer fora puxando para cima, era para forar para
baixo, porque seno o nen subia [...] [E10].
Era para respirar fundo e soltar a respirao, puxar e soltar, at quando vinha a
contrao dai era para fazer fora [E4]
[...] Na sala de parto elas (equipe de enfermagem) falaram que eu tinha que fazer
fora como se eu fosse ir aos ps, n?[...] na hora, a gente sente tanta dor que parece que
estamos fazendo fora l embaixo, mas a gente est fazendo fora no rosto, sabe? Mas depois
[...] respirei fundo e fiz a fora e o nen nasceu [E6].
Na hora do parto as gurias (equipe de enfermagem) estavam ali auxiliando, quando
eu estava com bastante dor, ela (tcnica de enfermagem) disse:- respira pelo nariz, larga
pela boca, respira fundo! [...] [E5].
No que concerne s orientaes realizadas pelos profissionais de enfermagem no
momento do parto, observou-se que estas so relacionadas quanto a forma correta de
potencializar o esforo para expulso do feto (puxos) e ao momento aconselhado de faz-lo,
assim como, orientaes na conduo da respirao ritmada, como forma de melhorar as
trocas feto placentria e tranquilizar a mulher. Alm disso, a prtica de cuidado realizada
configura-se em um cuidado que possibilita as parturientes a ficarem menos ansiosas e mais
cooperativas no processo parturitivo, possibilitando que elas se empoderem frente a
capacidade fisiolgica de parir (SOUZA et al., 2013; PORFRIO; PROGIANTI; SOUZA,
2010).
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Ainda, foi possvel inferir que, na viso das mulheres, os profissionais de enfermagem
desempenharam papel importante na sua vivncia do parto, fornecendo cuidados pautados em
esclarecimentos e orientaes de como proceder para evoluo do parto. Para essas, o fato de
participarem de forma ativa e de potencializar o esforo correto permitiu uma vivncia em
que estas sentiram-se atuantes no nascimento de seus filhos, pois foram incentivadas pela
equipe.
A vivncia da dor no parto normal
Durante todo o processo parturitivo, os profissionais de enfermagem devem prestar
apoio parturiente e seu acompanhante de escolha, o qual deve estar centrado na promoo
do bem-estar dos envolvidos, pois a forma de se cuidar reflete inclusive na forma de como a
mulher se comporta frente dor, como podemos ver nos relatos abaixo.
[...] antes da enfermeira me falar para respirar, eu s pensava em gritar de dor,
colocar para fora que estava doendo, da, quando ela veio e disse pra eu respirar que no ia
doer, foi realmente o que aconteceu [...] a dor era horrvel [...] [E9].
[...] meu primeiro filho, ento, a dor para mim iria ser insuportvel, foi insuportvel,
mas assim eles (equipe de enfermagem) foram muito queridos comigo, nossa! O mdico
tambm, depois eles vieram me dar os parabns que eu no fiz um gritedo, estava bem
quietinha, mas a dor horrvel [E6].
Para grande parte das mulheres entrevistadas o medo do parto estava associado dor,
embora para elas esta dor estivesse apenas no imaginrio, construdo em conversas com suas
mes, avs, vizinhas ou pessoas do seu convvio, que repassaram suas experincias positivas
ou negativas de seus partos.
A participante E6, em seu relato, refere que a dor seria insuportvel (meu primeiro
filho, ento a dor pra mim iria ser insuportvel, foi insuportvel ), denotando uma viso
cultural de que o parto retratado na sociedade e na prpria mdia, como um momento de
extrema dor e sofrimento. De forma semelhante, observou-se no estudo de Oliveira et al.
(2010), que as participantes que mais se detiveram a sensao de dor, foram mulheres-
primparas. Percebe-se que o medo da dor um elemento construdo e transmitido de gerao
em gerao. Culturalmente, o parto sinnimo de sofrimento, pois o medo e a dor do parto
esto incorporados aos fenmenos socioculturais presentes na cultura de nossa sociedade
(PEREIRA; FRANCO; BALDIN, 2012).
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O parto, na maioria das vezes vivenciado com dor, mas as respostas das parturientes
frente a esta so variadas e dependem, muitas vezes, da forma como o profissional de
enfermagem conduz o processo. Nessa condio h de se destacar o esclarecimento de
informaes e orientaes que podem tranquilizar a parturiente e seu acompanhante, dando-
lhes segurana e demonstrando que a fisiologia do parto est sendo corretamente
acompanhada. Este cuidado retrata o acolhimento, que pode diminuir o medo, a ansiedade e,
at mesmo, o uso de intervenes desnecessrias (OMS, 2009).
Vale ressaltar que a trade medo tenso dor no parto, geralmente esta atrelada ao
fato de que, a sociedade e os meios de comunicao geralmente exercem uma viso negativa
em relao ao parto. Tambm, comumente as gestantes esto mais preocupadas com o
desenvolvimento fetal, malformaes e possveis riscos durante a gestao do que com as
modificaes que ocorrem no seu corpo e o preparo para o parto. Ainda, o desamparo
psicolgico e a indiferena do profissional, sejam pela dificuldade em comunicar-se, ou por
achar que a parturiente no compreende e tambm, no deve saber da conduta adotada so
fatores que contribuem para a exacerbao do medo da dor, e do parto em si (BRASIL, 2001).
Percebe-se, no depoimento da participante E9 a atitude da enfermeira em manter-se
prxima e orientar a parturiente quanto respirao, permitiu que ela desviasse a ateno
centrada na dor para a respirao, o que lhe favoreceu para que vivenciasse a dor em menor
intensidade, o que foi percebido positivamente pela parturiente.
Estudo aponta que os profissionais responsveis pela prestao de cuidado
parturiente devem estar atentos, desenvolvendo um olhar diferenciado para as especificidades
da mulher durante o processo parturitivo e a vivncia da dor. Essa atitude de cuidado prximo
parturiente permite experenciar positivamente o parto normal. J em relao dor, evita que
se manifeste o sentimento de medo frente ao parto (ALMEIDA; MEDEIROS; DE SOUZA,
2012).
Ao analisar a fala da participante E6, percebe-se que o cuidado prestado pelos
profissionais de enfermagem foi percebido por ela como positivo (foram muito queridos
comigo, nossa!). Contudo, ao afirmar que a equipe lhe parabenizou por ter permanecido em
silncio levou a participante E6 a acreditar que agiu corretamente ao oprimir seus gritos e
gemidos de dor, ou seja, por no ter perturbado a equipe.
Um estudo realizado com profissionais, sobre a violncia institucional em
maternidades, ressaltou que os participantes entendiam que as pacientes mais difceis so as
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escandalosas, considerando-as pacientes histricas que fazem showzinho e so pouco
tolerantes dor e demandam mais ateno (AGUIAR; DOLIVEIRA; SCHRAIBER, 2013).
Logo, o fato da participante E6 ter permanecido quietinha permitiu que a equipe
desempenhasse seu trabalho sem interferncias de chamados por parte da parturiente. Para os
profissionais que a parabenizaram, esta participante parece ser modelo exemplar de paciente
que suporta a dor em silncio.
No relato de E6 pode-se perceber, de certa forma, que os integrantes da equipe
realizaram um cuidado idealizado por ela, quando esta refere que esses (foram muito
queridos comigo). Logo, percebe-se um entendimento de que gritar ou fazer escndalo
pode gerar maus tratos da equipe, o que pode ter contribudo para que a parturiente
permanecesse em silncio, no chamasse a equipe e suportasse a dor.
Entretanto, salienta-se que os profissionais de enfermagem devem manter-se prximos
parturiente, ratificando que esta tem o livre direito de se manifestar frente a qualquer
situao, manifestando seus sentimentos, sejam eles de medo ou insegurana, uma vez que as
reaes que possam ser apresentadas por elas so extremamente comuns ao ser humano e
equipe cabe o papel de orient-la e, acima de tudo, respeit-la.
Apoio versus distanciamento
Outro aspecto a ser destacado, refere-se solicitao de ajuda, da parturiente aos
profissionais de enfermagem para suprir suas necessidades de cuidado. Verificou-se que este
momento foi vivenciado sobre dois prismas, isto , o chamado atendido e orientado versus o
chamado ignorado, como se apresenta a seguir:
Na verdade, eu no chamei, elas (equipe de enfermagem) mesmo vinham direto olhar
para ver se a gente estava bem [E10].
Eu falava para as enfermeiras e elas vinham, me atendiam, me ajudavam nas minhas
dvidas [...] Qualquer dvida, qualquer coisa, que eu precisasse elas (equipe de
enfermagem) estavam ali, dispostas a atender! [...] [E5].
O profissional de enfermagem deve incorporar em seu cotidiano de cuidado, prticas
que contribuam para que a mulher vivencie o processo parturitivo de maneira satisfatria, que
marque positivamente este momento, que nico, e de extenso familiar. Para isso,
fundamental valorizar as especificidades e o momento vivido por cada uma das mulheres
atendidas (NASCIMENTO et al., 2010).
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Mostrar-se prximo, disposto a cuidar e escutar a parturiente so aes de cuidado
importantes para a criao de laos de confiana entre profissional e parturiente, e que
facilitam o processo de parturio (FRELLO; CARRARO, 2010a; WOLFF; WALDOW,
2008). No entanto, nem todos os profissionais incorporam em sua rotina de cuidado prticas
que favorecem a vivncia prazerosa do parto normal. O reflexo do distanciamento da equipe
de enfermagem, no momento da parturio, emerge nos seguintes excertos de fala:
As gurias (equipe de enfermagem) at que foram bem atenciosas, uma que outra
que d problema [...] elas no falam muito, no te explicam o que est acontecendo, no
falavam o que iriam fazer [...] Eu preferi no chamar muito![...] Tem aquela (integrante da
equipe de enfermagem) que trabalha aqui, essa no adianta, no adianta nem falar com ela
[...] j internei com medo de ser maltratada na verdade, mas no te maltratam, mas tambm
no te do muita ateno [E7].
[...] Eu chamava toda a hora, porque estava sentindo que ele (beb) estava vindo e
elas (equipe de enfermagem) estavam falando que no, e ficavam com aquela cara, n? [...]
de nojo [...] Eu estava sentindo que eu ia ganhar e eles acharam que no, e da me fizeram
sofrer bastante, at eu ganhar porque eles acharam que no era o momento (sua idade
gestacional era 38 semanas), por isso que ele nasceu ali, na sala de exame [...] se eu
levantasse mais um pouco eu ia ganhar no cho o beb [E1].
[...] Tem umas (tcnicas de enfermagem) [...] que elas nem te cumprimentam, no
olham nem na tua cara. Entram no quarto, no pedem com licena. uma pessoa, assim, que
trabalha no sei por que [...] precisa s do dinheiro, mas por amor no , n?[...] Eu j tinha
medo, na verdade, antes de vir para c, porque aqui, a maternidade um lugar onde deveria
ser uma coisa to boa, as pessoas te tratarem to bem e, no ! [...] [...] Eu acho que tem que
trabalhar com amor [...] um lugar que era para ser uma coisa maravilhosa, que a
maternidade [E7].
Quando a participante E7 em seu depoimento refere que optou pelo silncio, por no
ser atendida e pelo medo de ser maltratada, demonstra uma construo criada pela sociedade
em relao s maternidades e os profissionais de sade que atuam neste servio. Parece existir
nas suas falas uma concepo de que este lugar nem sempre acolhedor e os profissionais
nem sempre so solcitos frente s necessidades de cuidado das parturientes, permanecendo,
muitas vezes, indiferentes ao momento vivenciado por estas.
Isso faz com que as mulheres-primparas, inmeras vezes, no solicitem ajuda,
orientaes ou esclarecimentos sobre suas dvidas e optem por enfrentar o medo do parto, a
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dor e a ansiedade sozinhas, sem poder contar com algum da equipe para incentiv-las,
encoraj-las e acalm-las. Depreende-se com isso, que o medo de ser maltratada e no ser
respeitada em suas queixas e necessidades supera o sofrimento fisiolgico que o parto por si
s pode trazer.
Nesta direo, a investigao de Wolff e Waldow (2008) identifica-se com o presente
estudo, uma vez que o modo de ser do profissional de enfermagem frente ao paciente, sua
atitude, pode favorecer o descuido, revelando-se como uma condio negativa, representada
nas falas que revelam indiferena e insensibilidade mulher durante o processo que permeia o
parto. A indiferena e a insensibilidade podem representar uma lacuna ou uma barreira em
relao ao compromisso tico do cuidar.
O descuido e a indiferena tambm se fizeram presentes no depoimento da
participante E1 revelando a desvalorizao das queixas da mulher-primpara por parte dos
profissionais de enfermagem e denunciando que o distanciamento ainda encontrado nos
servios que atendem as parturientes. Esse distanciamento leva a exposio da mulher-
primpara ao risco de um nascimento sem acompanhamento e sem vigilncia constante.
Questiona-se, neste sentido, se a rotina de trabalho nas maternidades oblitera os olhos
dos profissionais de sade que a atuam, fazendo-os agir, muitas vezes, como mquinas,
embalados pela execuo da rotina. Parece existir a concepo de que apenas mais um
parto, mais um beb. Contudo, para a participante E1, e para cada mulher, um momento
especial, o parto de seu filho, e no contexto deste estudo, a chegada do primeiro filho, a
vivncia do primeiro parto.
Os profissionais de enfermagem e demais profissionais de sade devem valorizar a
mulher e todos os aspectos que permeiam o vivenciar do parto com vistas aproximao do
sujeito autonomia e possibilidade de torn-la protagonista do processo parturitivo
(BRASIL, 2006).
Santos e Costa Pereira (2012), em seu estudo, perceberam que as mulheres solicitaram
ajuda dos profissionais durante o parto, pois consideraram que eles poderiam realizar algum
procedimento para aliviar seu sofrimento. Porm, no contexto do parto, h profissionais que
no correspondem a essas expectativas, apresentando pouca resolutividade s demandas da
mulher-primpara, no respondendo ao seu chamado e solicitaes e que permanecem
distantes em um momento que ela carece de presena, apoio e informao.
Os autores ainda salientam que as mulheres referem-se ao momento do parto como
uma experincia de dor intensa, de insegurana e de insatisfao em relao aos profissionais,
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tendo em vista a possibilidade do nascimento de seu filho ocorrer sem a presena dos
mesmos, j que no respondem aos seus chamados. Ainda, o no acompanhamento da equipe,
durante o processo parturitivo, nega o direito mulher em exercer a maternidade segura,
sendo dever dos profissionais de sade e gestores prover tanto para a me como para o
concepto as condies seguras ao parto e nascimento (SANTOS; COSTA PEREIRA, 2012;
REIS; PEPE; CAETANO, 2011).
Ainda, na mesma esteira de pensamento, a ausncia de explicaes e orientaes do
que ser realizado com a mulher, destitui dela o poder sobre seu corpo, refora a passividade e
impede sua autonomia e participao ativa no processo de parir. Ainda, de acordo com Frello,
Carraro e Bernardi (2011), as mulheres assumem uma atitude de passividade diante dos
profissionais pela falta de informao, e medo de repreenso e represso. Nesse sentido, elas
percebem-se entregando seu corpo, sua vida e seus bebs nas mos de profissionais de sade,
nem sempre imbudos dos significados de cada momento vivido no processo parturitivo. Com
isso e pelo desconhecimento do que deveria ser realizado e, at mesmo, por no saberem que
podem reivindicar um melhor atendimento, elas passam a ser meras receptoras desta
assistncia (FRELLO;CARRARO, 2010b).
Nessa perspectiva, entende-se que o dilogo e as relaes interpessoais entre
parturiente e profissionais so atitudes mnimas de cuidado e oferecem uma vivncia positiva
do processo parturitivo, devendo ser priorizadas no cuidado.
Vivncia boa ou ruim no parto? No final tudo compensa!
Levando-se em considerao os cuidados prestados pelos profissionais de enfermagem
quando questionadas sobre a vivncia do primeiro parto, percebe-se que todo o sofrimento,
dor, angstia e, at mesmo, a falta de ateno da equipe para com elas, recompensado
quando recebem seus filhos nos braos.
[...] depois que passa compensa ver o rostinho dele [E9].
Foi boa (vivncia do parto), porque ele nasceu bem saudvel [...] [E1].
Foi bom, um aprendizado [...] porque um momento nico [E4].
[...] ah, me de primeira viagem, n? No sabe nada, ento, para mim foi bom [...]as
gurias(tcnicas de enfermagem) me tranquilizaram e quando fui ver, veio o moo! [E5].
Existe uma variao na forma de vivenciar o parto em diferentes circunstncias dentro
de um sistema, no qual a percepo est articulada com o contexto no qual os envolvidos no
parto participam. A hospitalizao nem sempre resulta em um cuidado efetivo, sendo por
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vezes comum o abandono, desrespeito e maus tratos (SALIM et al., 2012), mas tambm pode
e deve ser comum a existncia de profissionais preocupados com o bem-estar da parturiente,
acompanhante e famlia, mantendo-se prximos a esses e tornando a experincia do parto
prazerosa para todos.
Ao cuidar da mulher-primpara, os profissionais de enfermagem devem consider-la
como um todo, compreender e procurar satisfaz-la, identificando suas necessidades. Ainda
deve reconhecer as diferenas culturais e individuais que permeiam o viver de cada
parturiente, contribuindo, assim, para a reduo da tenso e tornando esta vivncia positiva
(VERSIANI et al., 2015).
Nos depoimentos, percebe-se que o cuidado foi considerado positivo devido ao fato do
beb ter nascido saudvel. Portanto, quando questionadas quanto ao cuidado recebido, todas o
caracterizaram como satisfatrio, independente de terem sido bem ou mal atendidas, pois o
foco principal para elas, nesse momento, era o beb.
Logo, os sentimentos de felicidade e bem-estar, manifestados nessa fase esto
atrelados basicamente ao nascimento do beb. Com isso, ressalta-se que o processo parturitivo
envolve um conjunto de dvidas e preocupaes que se iniciam na descoberta da gestao e
permanecem latentes, aflorando-se quando a mulher pressente que o nascimento est por vir.
Confirma-se em estudo que com o nascimento do beb, as mulheres demonstram alvio pela
superao da dor e de todo sofrimento, alm de felicidade em poder ver e ter o filho nos
braos (OLIVEIRA et al, 2010).
ntido que a vivncia do parto, em grande parte, depende da forma com que os
profissionais desempenham as prticas de cuidado. Desse modo, estudo realizado por Enderle
et al. (2012), identificou que o cuidado ideal, na viso de mulheres, caracterizado pelo
pronto atendimento as suas solicitaes, assim como o fornecimento de orientaes e
esclarecimento de dvidas, e a interao com a equipe, aspectos estes que contribuem com o
processo de parir, e que permite que estas no sejam meras espectadoras. Logo, ratifica-se ao
final que, a assistncia ao parto necessita ser alicerada nas necessidades e especificidades de
cada parturiente, permitindo uma vivncia mais satisfatria do parto.
CONSIDERAES FINAIS
Os achados deste estudo permitiram identificar que as mulheres-primparas vivenciam
de forma muito particular e diferente o cuidado fornecido pelos profissionais de enfermagem
durante o processo parturitivo. Essa vivncia pode ser prazerosa e favorvel quando estas so
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orientadas, esclarecidas e respeitadas quanto as suas necessidades, atendidas com prontido e
delicadeza, quando sentem-se acolhidas e valorizadas nas suas individualidades, e tambm
quando os profissionais mostram-se prximos e preocupados com o bem-estar e cuida-a com
zelo e dedicao durante o processo parturitivo.
De modo contrrio, torna uma vivncia menos prazerosa e por vezes negativa quando
a equipe se mostra indiferente e insensvel para com o momento vivenciado pela mulher.
Nestas ocasies, torna-se uma experincia cercada de medo, sofrimento e angstia, pois os
profissionais de enfermagem que deveria facilitar o desenvolvimento de uma vivncia
positiva mostram-se distantes e apticos, desvalorizando o momento vivido pela mulher e,
muitas vezes ainda a expondo ao risco.
Deseja-se que este estudo contribua para a reflexo e crtica acerca do modelo atual de
prticas de cuidado ao parto normal. Acrescenta-se a esta ideia a necessidade de respeito aos
direitos humanos os quais devem ser discutidos e trabalhados de forma mais intensa na
formao acadmica/profissional, pois vem sendo desconsiderados durante o processo de
parturio, embora o parto, no contexto pblico de ateno sade constitua-se permeado de
polticas pblicas que buscam qualificar este evento.
Destaca-se que reconhecer a percepo da mulher frente aos cuidados desempenhados
pelos profissionais de enfermagem no processo parturitivo de grande valia, uma vez que as
prticas de cuidado desempenhadas pela equipe devem ir de encontro com o cuidado relatado
pelas mulheres. Dessa forma, mais pesquisas devem ser realizadas nesse sentido, mas
tambm, primeiramente, necessrio colocar em prtica o cuidado que se pode idealizar por
meio das vivencias dessas mulheres.
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ARTIGO 2:
PRTICAS DE CUIDADO NO PARTO NORMAL: A VIVNCIA DE MULHERES
PRMIPARAS
Resumo
Objetivo: Conhecer as prticas de cuidado desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem
durante o processo parturitivo na perspectiva de mulheres-primparas. Mtodo: Estudo de
abordagem qualitativa do tipo descritivo, desenvolvido com dez mulheres-primparas. Os
dados foram coletados por meio de entrevista individual semiestruturada e analisados pela
anlise de contedo temtica seguindo a proposta operativa de Minayo. Resultados: As
prticas de cuidado predominantemente foram aquelas relacionadas ao modelo tecnocrtico.
Encontrou-se tambm o uso de prticas seguras e que devem ser estimuladas no cuidado ao
parto normal e a prestao de cuidados que constituem a mulher como parte do processo
parturitivo. Consideraes finais: considera-se a necessidade de se repensar e reformular
prticas de cuidado institucionais que se encontram em desuso e investir em educao
continuada e na prtica de cuidados que contribuem para evoluo fisiolgica do parto, pois o
estudo demonstra que ainda no existem grandes mudanas no cenrio atual de assistncia ao
parto e nascimento.
Descritores: prticas de cuidado, sade da mulher, trabalho de parto, parto.
Abstract
Objective: To care practices developed by nurses during the birth process from the
perspective of women-gilts. Methods: A qualitative study of descriptive, developed with ten
women-gilts. Data were collected through semi-structured individual interviews and analyzed
by thematic content analysis following the operative proposal of Minayo. Results: Care
practices were predominantly those related to the technocratic model. Also met the use and
safe practices that should be encouraged in care for normal delivery and the care that
constitute the woman as part of the birth process. Final thoughts: we consider the need to
rethink and reformulate institutional care practices that are out of favor and invest in
continuing education and practice care that contribute to physiological evolution of childbirth,
because the study shows that there are still no major changes in the current scenario of the
labor and birth assistance.
Descriptors: care practices, women's health, labor, delivery
CONSIDERAES INICIAIS
A gestao e o parto, em pocas mais antigas, eram configurados como
acontecimentos que diziam respeito, particularmente, s pessoas adultas do convvio da
famlia. Assim, o nascimento sempre representou uma experincia familiar e comunitria
nica, cujos significados no diferem, em muito, dos atuais, em especial no que se refere s
manifestaes afetivas e de alegria (VAN DER SAND, 2014).
_____________________
Artigo ser submetido na Revista Gacha de Enfermagem.
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40
Assim, a histria do parto acompanha a prpria humanidade, considerada uma
atividade feminina, tradicionalmente realizada por parteiras no ambiente domiciliar
(BRENES, 2005). Antes do sculo XVI e durante muitos anos, o nascimento foi considerado
um evento, no qual a mulher era a principal protagonista, participando de forma ativa durante
esse processo (VIEIRA, 2002).
Realizar o parto fora de casa consistia em algo anormal, pois o ambiente hospitalar
no constitua um lugar seguro para a mulher dar luz. Nesse sentido, o mdico era chamado
somente em casos complexos, nos quais a parteira no conseguia auxiliar efetivamente
mulher (LEISTER; RIESCO, 2013). Contudo, o cuidado prestado mulher e famlia sofreu
mudanas significativas especialmente entre o sculo XIX e XX, com a institucionalizao do
parto (NAGAHAMA; SANTIAGO, 2005; SEIBERT et al., 2005).
Assim, nos deparamos com o ramo obsttrico da medicina, o qual levou
medicalizao e perda da autonomia da mulher como condutora do seu processo de parir
(BRASIL, 2010). Embora a evoluo tcnico-cientfica e a institucionalizao do parto
tenham diminudo situaes de riscos, ela tambm garantiu espao para realizao de prticas
desumanizadas.
Assim, a mulher deixou de parir em um local com pessoas amigas e conhecidas para
expor-se ao ambiente hospitalar e a sujeitos desconhecidos e nem sempre acolhedores
(MOREIRA, 2009). Desse modo, historicamente, a mulher foi adotando uma postura passiva
e temerosa em relao ao parto, pois este passou a ser considerado um ato mdico e de
domnio das instituies de sade, destituindo a mulher do seu papel de protagonista
(BRASIL, 2010).
Assim, a ateno mulher durante o parto no contexto atual passa pela realizao de
prticas de cuidado, de certa forma, indevidas, sem evidncias cientficas e, muitas vezes, sem
necessidade, a exemplo do uso do enteroclisma, tricotomia, episiotomia, manobra de
Kristeller, dentre outros. Logo o modelo atual centrado no servio e no profissional, no na
mulher e no processo parturitivo (RIESCO, 2014). Ainda, nesse sentido, contrapondo as
prticas citadas acima, surgem tambm as prticas de cuidado humanizadas, como o uso de
mtodos no farmacolgicos no trabalho de parto para alvio da dor e progresso fisiolgica
do parto, presena de um acompanhante de escolha no parto, com o intuito de restituir o papel
da mulher no processo parturitivo (BRASIL, 2002)
Diante desse contexto, surge no Brasil, no sculo XXI, um movimento de
humanizao do parto, com vistas a priorizar o uso de tecnologias apropriadas e
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comprovadamente benficas. Destaca-se, nesta direo, o Programa de Humanizao no Pr-
natal e Nascimento (PHPN), institudo no ano de 2000, que tem como enfoque principal a
mulher e o resgate da dignidade e autonomia durante o processo parturitivo, buscando
consolidar a transformao da ateno oferecida, baseada no cuidado humanizado (BRASIL,
2002).
A Lei n 7.498/86 e o Decreto-Lei n 94.406/87 do exerccio profissional que
estabelece a realizao do parto normal sem distcia por enfermeiro obstetra e, tambm, a
Rede Cegonha, que prioriza aes direcionadas assistncia humanizada no parto e
nascimento centradas no bem-estar da mulher e demais pessoas envolvidas nesse processo
(OMS, 1996; BRASIL, 1998; BRASIL, 2011).
Ainda, neste rol de iniciativas, cabe mencionar criao do guia prtico elaborado pela
Organizao Mundial de Sade (OMS) com recomendaes de prticas seguras no parto
normal. Entre elas, prticas comprovadamente benficas que devem ser estimuladas como a
oferta de lquidos por via oral durante o trabalho de parto e parto, uso de mtodos no
farmacolgicos para alvio da dor, respeito a escolha da mulher sobre seu acompanhante
durante o parto. Os mtodos prejudiciais ou ineficazes que devem ser eliminados como o uso
rotineiro de enema, tricotomia, manobra de Kristeller, infuso intravenosa de rotina no
trabalho de parto, administrao de ocitcitos em qualquer momento antes do parto de um
modo que no permite controlar seus efeitos (OMS, 1996).
Ainda, procedimentos que no possuem evidncias cientficas que apoiem sua prtica
e que, portanto, devem ser utilizadas com cautela at que sejam realizadas novas pesquisas,
como a manipulao ativa do feto no momento do parto, clampeamento precoce do cordo
umbilical. E, prticas no parto normal, frequentemente usadas de modo inadequado entre
essas a restrio hdrica e alimentar durante o trabalho de parto, monitoramento eletrnico
fetal, exames vaginais repetidos ou frequentes, especialmente por mais de um prestador de
servio, dentre outras (OMS, 1996).
Logo, esse arcabouo legal surge como alicerce e com o intuito de realizar um cuidado
humanizado, o qual visa um conjunto de conhecimentos, prticas e atitudes que destinam-se
promoo do parto e do nascimento de maneira saudvel, bem como a preveno da
morbimortalidade materna e perinatal. Portanto, consiste em um cuidado que deve iniciar no
pr-natal, garantindo que a equipe de sade realize procedimentos benficos para a mulher e o
beb e evite intervenes desnecessrias (BRASIL, 2001).
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Nessa lgica, os profissionais de enfermagem, devem proporcionar s mulheres um
ambiente propcio para que elas vivenciem ativamente o processo parturitivo. Sendo para isso
necessrio a