as redes sociais digitais e as eleições presidenciais no chile em 2009. a política na era do...

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ORLANDO MANCINI AS REDES SOCIAIS DIGITAIS E A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL NO CHILE EM 2009 A POLÍTICA NA ERA DO E-MARKETING 2.0 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicação e Artes Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo Curso de Especialização em Marketing Político e Propaganda Eleitoral São Paulo Março de 2010

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Page 1: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

ORLANDO MANCINI

AS REDES SOCIAIS DIGITAIS EA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL

NO CHILE EM 2009A POLÍTICA NA ERA DO E-MARKETING 2.0

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Comunicação e Artes

Departamento de Relações Públicas, Propaganda e TurismoCurso de Especialização em Marketing Político e Propaganda Eleitoral

São PauloMarço de 2010

Page 2: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0
Page 3: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

ORLANDO MANCINI

AS REDES SOCIAIS DIGITAIS EA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL

NO CHILE EM 2009A POLÍTICA NA ERA DO E-MARKETING 2.0

Monografia apresentada ao Departamento de

Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de

Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo,

em cumprimento parcial às exigências do

Curso de Especialização, para obtenção do título de

Especialista em Marketing Político e Propaganda Eleitoral,

sob a orientação da Profa. Dra. Katia Saisi.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOEscola de Comunicações e Artes

São PauloMarço de 2010

Page 4: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Comunicações e Artes

Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MARKETING POLÍTICO E PROPAGANDA ELEITORAL

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________ _________________________________

_______________________________ _________________________________

Page 5: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Dedico este trabalho a meu saudoso pai, Paulo Mancini, que com sua

imensa generosidade plantou vigorosas sementes no coração

daqueles que o conheceram.

Page 6: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Agradeço de coração a todos os professores do curso de Marketing Político e Propaganda Eleitoral pela

dedicação e palavras de incentivo.

Page 7: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

RESUMOABSTRACT

The presidential election in Chile in 2009 is one of A eleição presidencial no Chile em 2009 é

the first elections in Latin America after Barack um dos primeiros pleitos na América Latina após a

Obama's election, landmark in the electoral eleição de Barack Obama, marco na comunicação

communication after explored creatively new eleitoral por ter explorado de forma criativa as

digital media as key element in its global strategic novas mídias digitais como parte integrante de um

planning of campaign actions, withouth use planejamento estratégico global das ações de

control instruments and methods of clipping the campanha, sem lançar mão de instrumentos de

voters opinions, who were urged to participate in controle e cerceamento das opiniões dos eleitores,

democratic free discussion process of the main que eram instados a participar de forma livre e

subjects. As a result of this vision, nets built democrática das discussões dos principais temas.

around the candidacy have quickly become Fruto desta visão arejada, logo as redes formadas

powerful instruments of mobilization and fund em torno da candidatura tornaram-se poderosos

raising, and, in the end, lead to the victory, which instrumentos de mobilização e captação de

was far from certain one year before. After this recursos, desembocando na inevitável vitória nas

victory no campaign will be even possible without urnas, desfecho pouco provável um ano antes do

digital tools, since although the American pleito. Após sua vitória nenhuma campanha

campaign has not invented something intirely poderá prescindir dos meios digitais, não porque a

new, as foundations was already established, it has campanha americana tenha inventado algo novo,

disclosed a new path so far not explored that much pois as pedras já estavam ali, mas por ter revelado

in the scope of the politics-electoral um caminho ainda pouco explorado no âmbito da

communication. This research work try to comunicação político-eleitoral. Este trabalho de

understand how 2009 Chilean electoral campaign investigação procura entender como a campanha

has read and applied the lessons pointed out for eleitoral chilena de 2009 leu e aplicou as lições

Obama´s victorious campaign, as long as to walk apontadas pela campanha vitoriosa de Obama,

through this path it would be necessary to throw uma vez que para trilhar o caminho das pedras,

away some deeply established electoral rubbish.seria necessário desvencilhar-se de ranços profundamente arraigados da prática político-eleitoral.

Keywords: Political marketing, Presidential Palavras chaves: Marketing político, Eleições

elections, E-marketing 2.0, Virtual social presidenciais, e-marketing 2.0, Redes sociais

networks, Chile.virtuais, Chile.

Page 8: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

LISTA DE ILUSTRAÇÕES:

Prancha 1 – Frei - home page 13/08/2009. Acesso 19h43.

Prancha 2 – Marco - home page 14/09/2009. Acesso 21h55.

Prancha 3 - Marco Secreto 14/09/2009. Acesso 22h11.

Prancha 4 – Piñera - home page 18/09/2009. Acesso 17h26.

Prancha 5 - Piñera - chilecontodos 18/09/2009. Acesso 17h58.

Prancha 6 – Piñera – Simón Parade 18/09/2009. Acesso 18h25.

Prancha 7 - Frei - home page 9/12/2009. Acesso 21h12 .

Prancha 7A - Frei -home page 9/12/2009. Aberturas temáticas. Acesso 21h13.

Prancha 8 – Frei flechate 13/09/2009. Acesso 21h37.

Prancha 9 – Frei ilustração das propostas. 13/09/2009. Acesso 21h42.

Prancha 10 – Marco reta final 1º turno. 07/12/2009. Acesso 09h35.

Prancha 11 – Marco home page 29/09/2009. Acesso 13h27.

Prancha 12 – Marco - home Chile Cambió- 07/12/2009. Acesso 17h17.

Prancha 12A – Marco - Chile Cambió 07/12/2009. Acesso 17h25.

Prancha 13 – Marco home page Plano de governo 29/09/2009.

Prancha 13A - votação Plano de Governo 29/09/2009.

Prancha 14 – Marco aberturas home page 22/10/2009.

Prancha 15 – Piñera home page 09/12/2009. Acesso 13h33.

Prancha 16 – Piñera home page dobra página 09/12/2009. Acesso 13h33.

Prancha 17 – Piñera home page aberturas 22/10/2009. Acesso 13h15.

Prancha 18 - Piñera descargas 09/12/2009. Acesso16h52.

Prancha 19 – Facebook 28/10/2009 busca por Eduardo Frei. Acesso17h12.

Prancha 20 – Facebook “No a Eduardo Frei” 12/07/2009. Acesso 17h01.

Prancha 21 – Facebook Frei 24/09/2009. Acesso 09h25.

Prancha 22 – Facebook Frei 09/10/2009. Acesso 17h34.

Prancha 23 – Facebook Frei 22/10/2009. Acesso 10h21.

Prancha 24 – YouTube Frei spot “Soy más hermoso”.

Prancha 25 – YouTube Frei Difamadores Gomilalo.

Prancha 26 – Facebook Marco 09/10/2009. Acesso 14h27.

Prancha 27 – Facebook Marco 22/10/2009. Acesso 14h27.

Prancha 28 – Facebook Marco caricatura Frei 07-12-2009. Acesso 12h17.

Prancha 29 – Facebook Me cago el Marco.20/01/2010. Acesso 12h48.

Prancha 30 – YouTube Marco 22/10/2009. Acesso 14h38.

Prancha 31 – YouTube Marco microfone aberto. Vídeo imitação.

Prancha 32 – Site Marco jogo do Rato. 07/12/2009. Acesso 16h36.

Prancha 33 – Piñera Facebook 09/10/2009. Acesso 17h31.

Prancha 34 – Piñera Facebook 22/10/2009. Acesso 12h23.

Prancha 35 – Piñera Facebook Giro Brasil 26/11/2009. Acesso 13h27.

Prancha 36 – Facebook No a Piñera 22/01/2010. Acesso 21h12.

Prancha 37 – Twitter Piñera 24/09/2009. Acesso 10h16.

Prancha 38 – Twitter Piñera reta final 1º turno. Acesso 09/12/2009. Acesso17h36.

Prancha 39 – YouTube Piñera 22/10/2009. Acesso 12h33.

Prancha 40 – Frei home page segundo turno 04/01/2010. Acesso 12h05.

Prancha 41 – Frei home page segundo turno 13/01/2010. Acesso 15h37.

Prancha 42 – Frei segundo turno CAUSES 08/03/2010.

Prancha 43 – Piñera – home page 04/01/2010. Acesso 12h15.

Page 9: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Prancha 44 – Piñera home page. Variação logomarca.

Prancha 45 – Piñera – Twitter 12/01/2010. Acesso 14h01.

TABELAS:

Tabela 1: Presença na rede Facebook na fase inicial da campanha

Tabela 2: Presença na rede Facebook na reta final do primeiro turno

Tabela 3: Número de adesões das páginas oficiais X adesões das páginas de ataque

Tabela 4: Balanço das atividades dos candidatos no Twitter no 1º turno

Tabela 5: Balanço das atividades dos candidatos no YouTube

Tabela 6: Maior audiência positiva X maior audiência negativa no YouTube

Tabela 7: Balanço das atividades dos candidatos no Twitter no 2º turno

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Índice

1. Introdução 11

2. Breve história política do Chile 16

2.1. Das origens à invasão espanhola 17

2.2. A época Colonial 18

2.3. A Independência do Chile 19

2.4. Primórdios da República do Chile 20

2.5. A República Conservadora 20

2.6. A República Liberal 21

2.7. A República Parlamentar 23

2.8. A República Presidencial 24

2.9. A República Radical 27

2.10. Os Três Terços 29

2.11. O Governo da Unidade Popular 31

2.12. Os Anos de Chumbo 35

2.13. O Ocaso da Ditadura Militar 37

2.14. A Redemocratização e a Hegemonia da Concertación 402.15. O atual sistema político e o sistema eleitoral 45

2.16. As eleições 2009 no Chile e o perfil dos concorrentes 46

3. A comunicação política no século XXI 50

3.1. As revoluções comunicativas 50

3.2. A Internet seria o novo príncipe eletrônico? 54

3.3. As redes sociais digitais 57

4. Os candidatos na rede virtual 60

4.1. O site oficial do candidato Eduardo Frei no início da campanha 60

4.2. O site oficial do candidato Marco-Ominami no início da campanha 62

4.3. O site oficial do candidato Piñera no início da campanha 69

4.4. Reposicionamento na reta final do primeiro turno 73

4.5. Breve balanço da utilização das redes sociais digitais 79

4.6. Reposicionamento e as redes sociais no segundo turno 88

5. Conclusão 93

Bibliografia 97

Anexos 99

Page 11: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

1. Introdução

A vitória de Barack Hussein Obama nas eleições presidenciais dos Estados Unidos é um

marco significativo na história, não só dos Estados Unidos, país que por mais de três séculos

carregou a mancha da segregação racial, mas também nos processos de comunicação global e na

forma de se fazer política.

Sua equipe ousou inovar lançando mão de instrumentos e canais de comunicação até então

muito pouco utilizados em campanhas eleitorais. Logo de início o candidato abriu mão do

financiamento público de campanha, um dinheiro fácil vindo dos cofres públicos, para arriscar-se na

captação de fundos via internet. A estratégia provou ser acertada, uma vez que o volume de recursos

captados atingiu a cifra de mais de 600 bilhões de dólares em doações online. Isto contra pouco mais

de 84 milhões a que o candidato republicano John McCain dispunha como teto de gastos por ter

aceitado o financiamento público.

Obama centrou esforços nos pequenos doadores, e estes eram cativados via interação na rede

digital. A vitória do democrata não foi somente uma questão de mais recursos. Atingiu-se está cifra

astronômica graças à política de e-marketing 2.0, carro chefe da campanha de Obama, e isto em um

momento em que os usuários da rede clamam por interatividade.

Antes mesmo de definido o candidato do partido as ações de e-marketing de Obama já

chamavam a atenção de analistas políticos e especialistas em redes sociais digitais. Inácio Rodrigo

de Castro, especialista em TI, apontava, pouco antes do fechamento das previas partidárias, em seu

blog:

“Até agora ninguém pode afirmar qual candidato vencerá as prévias que definem os

candidatos oficiais de Democratas e Republicanos nos Estados Unidos. Porem, o marketing

e o e-marketing adotado pela equipe de Barack Obama já merece grande destaque. A

“campanha e-marketing 2.0” realizada pelo candidato Barack Obama é fantástica e

inovadora no marketing político no mundo. Se a eleição fosse através da net, provavelmente

o candidato Barack Obama, que tem dado muito trabalho à ex-primeira dama Hillary

Clinton, já estaria eleito como presidente dos Estados Unidos”.

http://inaciorodrigodecastro.com.br/blog-barack-obama-inacio-rodrigo-de-castro acesso

em 15/08/2008 - 21h18.

As estratégias na rede foram entregues a Chris Hughes, co-fundador da rede social

Facebook, com larga experiência em interatividade. Hughes foi o idealizador do

MyBarackObama.com, a plataforma de rede social que centralizou as atividades da campanha

online, também chamada de MyBO. A presença na rede foi arrasadora. Por onde se navegasse

haveria à disposição conteúdos produzidos tanto pela campanha como por iniciativas individuais.

Pela rede circularam desde e-mail com convites para a participação das mais diversas atividades de

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Page 12: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

campanha, pedidos de doações, mensagens do candidato, links para vídeos, músicas, relatos de

campanha. Quem desejasse poderia criar na rede social digital no MyBO, um blog pessoal

personalizável de apoio à candidatura onde se poderia participar de várias atividades on-line com o

candidato. Mais de 35 mil blogs de apoio a Obama foram criados.

Um milhão de pessoas se tornaram assinantes do sistema de envio de mensagens pelo

celular, 200 mil eventos foram planejados, 400 mil posts escritos e mais de 35 mil grupos foram

criados por meio da rede MyBarackObama.

A presença maciça nas redes sociais digitais foi uma estratégia de campanha que rendeu

preciosos frutos. Com baixo custo foi possível atingir um número altamente significativo de

adesões, sempre segmentando as ações. Obama fez-se presente em todas as principais redes:

Facebook, YouTube, Flickr, MySpace, Digg, Eventful, Twitter, Linkedin, AsianAve, para levar sua

mensagem aos descendentes de asiáticos, BlackPlanet, Glee, Faithbase, MiGente e Batanga, para

falar aos latinos e Eons, para os nascidos entre 1946 e 1964, os famosos baby boomers. A estratégia

de segmentar a mensagem para atingir públicos específicos respeitou ainda as linguagens, gostos e

problemáticas de cada público. Nestas comunidades, conteúdos produzidos por simpatizantes

tomaram a rede e multiplicaram-se. Exemplo disto foi o vídeo Yes, we can produzido pelo

Will.i.am, baseado em um discurso de Obama. O vídeo fez tanto sucesso que ganhou um site

próprio, o www.dipdive.com. Outro exemplo foi a canção Vote for Hope, feita pelo MC Yogi que,

em pouco tempo, tornou-se sucesso e foi tocada nas rádios de vários países, inclusive no Brasil.

Além das comunidades virtuais segmentadas buscando atingir públicos específicos, a

campanha oferecia aos internautas uma loja virtual onde eram vendidos os mais variados produtos,

todos eles de muito bom gosto.

A campanha conseguiu fazer do candidato democrata uma grife, uma lovemark, e o mercado

passou a oferecer tênis, camisetas, sacolas, roupa para cachorro, canecas, e até calcinhas com a

marca da campanha, vendidas no Cafepress, uma loja virtual de produtos variados. Como estratégia

sagaz de ataque, papel higiênico com os rostos estampados de McCAin e Bush foram postos à

venda.

Outra iniciativa da campanha foi disponibilizar no site do candidato ringtones e wallpaper

para celulares. Até mesmo um aplicativo para smartphone foi desenvolvido visando atrair para a

campanha de Obama os usuários.

Com planejamento e sagacidade sua equipe usou e abusou da interatividade dos novos

meios de comunicação para aproximar o candidato do seu eleitorado potencial.

“Obama, em um de seus comícios no Central Park em Nova York depois de um discurso

empolgante, convocou os presentes a se juntarem à campanha. Como? Resumindo a

história, gritou em alto e bom som algo como: “peguem seus celulares agora, digitem

“Join” e enviem o SMS para o número X”. Feito. Isso foi o bastante para que os presentes se

conectassem a campanha através do mais “íntimo” dos seus aparelhos. E foi também o

12

Page 13: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

adeus definitivo às velhinhas voluntárias que recolhem assinaturas no bom e velho papel, ao

lado do palanque." http://inaciorodrigodecastro.com.br/blog-barack-obama-inacio-

rodrigo-de-castro acesso em 15/08/2008 - 21h18.

Esta comunicação dirigida, feita aos milhares e milhares, por meio de uma tecnologia que

permite não somente transmitir mensagens no velho esquema emissor/receptor como na

comunicação eletrônica, mas privilegia a interatividade das redes sociais digitais, produziu

conteúdos desvinculados das grandes corporações da mídia (TV e jornais).

Aí reside a força da estratégia vitoriosa de Obama, que ousou fincar os dois pés no século

XXI, onde, segundo Felice, “a humanidade estaria enfrentando uma ulterior revolução

comunicativa, implementada pelas tecnologias digitais, que, numa concepção histórica, constituiria

a quarta revolução e que, como as outras, estaria ocasionando importantes transformações no

interior dos distintos aspectos do convívio humano” (FELICE, 2008, p.22).

Com maestria a campanha de Obama soube lançar mão do que há de mais atual em termos de

comunicação digital, privilegiando a interatividade, a liberdade de expressão e a participação

democrática, inaugurando uma nova era na comunicação política e eleitoral.

É neste quadro de mudanças, tanto na forma de se fazer política e campanha eleitoral, como

nas relações entre os pleiteantes a cargos eletivos e seus eleitores, que ocorrem as eleições

presidenciais no Chile de 13 de dezembro de 2009. E não poderia ser diferente, uma vez que a vitória

de Obama inseriu a ação político-eleitoral na era do e-marketing 2.0.

Mas ter site na internet e perfil nas diversas redes sociais digitais por si só não é suficiente

para cativar o eleitor. É fundamental que, a exemplo do realizado pela campanha vitoriosa de

Obama, seja incentivada a participação efetiva do cidadão. A utilização estratégica de canais e

mecanismos de participação democrática, onde o eleitor tenha voz e vez é o que faz a diferença.

A força da comunicação digital, fartamente utilizada na campanha vitoriosa de Obama,

residiu na interatividade que, nas palavras de Castells, “encerra um potencial extraordinário para a

expressão dos direitos dos cidadãos e a comunicação de valores humanos (...) coloca as pessoas em

contato numa ágora pública, para expressar suas inquietações e partilhar suas esperanças.”

(CASTELLS, 2001, p.52).

Nossa reflexão terá como objeto as ações de campanha dos candidatos à presidência no Chile

no que se refere à utilização dos recursos do e-marketing 2.0. Buscaremos avaliar em que medida as

inovações implementadas a partir da campanha americana se farão presentes nas ações dos

candidatos chilenos no que se refere à captação de recursos, comprometimento e mobilização do

eleitor, criação de canais de expressão para manifestação de opinião e ainda como enfrentarão a

enxurrada de conteúdos produzidos pelos cidadãos comuns nas redes sociais digitais com o objetivo

de ataque. Estes, quase sempre postados no site YouTube, batem recordes de exibição e, muitas

vezes, têm o poder de causar severos estragos.

13

Page 14: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

1É importante ressaltar que no Chile, segundo dados do ComScore de junho de 2007, a taxa

de penetração no que se refere ao número de internautas em relação ao conjunto da população é de

45%, a maior dentre os países da América Latina, e segundo estudo realizado pela Everis,

consultoria multinacional de negócios e tecnologia da informação, em parceria com a Escola de

Negócios da Universidade de Navarra (IESE Business School), em 2008, 97,5% de suas conexões 2são feitas por banda larga .

Este trabalho tem como objetivos gerais o estudo da utilização das novas tecnologias da

informação nos processos políticos e eleitorais, bem como suas implicações no que se refere à

participação efetiva do cidadão nos mesmos e o conseqüente fortalecimento do processo

democrático.

No que se refere ao objetivo específico este estudo tem como finalidade a compreensão de

como as novas tecnologias de informação aplicadas na última campanha americana impactam os

processos eleitorais na América Latina, em especial as eleições presidenciais no Chile. Os processos

eleitorais caracterizam-se como uma batalha pela preferência do eleitor. A persuasão é, portanto, a

maior arma desta luta. O campo de batalha, por sua vez, não são as praças públicas, mas a mente do

eleitor que precisa ser seduzido, convencido por meio da argumentação retórica, racional, mas,

sobretudo pela emoção. Obtém os louros da vitória aquele que conseguir tocar o coração e a mente

do eleitor.

Assim, este estudo terá como referencial teórico as teses de Figueiredo (FIGUEIREDO, org.

2000, P.148) acerca da persuasão eleitoral.

As teses de Reis & Trought (2003) acerca do posicionamento e da batalha pela mente do

eleitor serão também referenciais teóricos fundamentais para a compreensão dos processos de

definição do voto pelo eleitor.

No que se refere à utilização das novas tecnologias e a compreensão do atual momento por

que passa a humanidade, as teses de Castells (2002) acerca da era da informação e as de Felice

(2008) acerca das novas formas de habitar decorrentes das transformações impostas pela

interatividade das redes serão de grande valia.

Quanto à metodologia, este estudo priorizará a análise de conteúdo (Content Analysis), tanto

dos espaços ocupados pelos candidatos na rede virtual – investigação quantitativa –, como a análise

dos conteúdos e ações de e-marketing implementadas por cada um – investigação qualitativa.

Assim, efetuaremos comparações entre as páginas dos sites oficiais dos principais

candidatos em alguns momentos da disputa, para detectarmos possíveis movimentos de

reposicionamento das ações de comunicação na web, e ainda avaliarmos em que medida estas ações

se inserem em um planejamento estratégico global de campanha.

1 http://www.comscore.com/press/release.asp?press=1531; acesso em 10/09/09 - 22h082 http://www.everis.com.br/imprensa-e-publicacoes/notas-de-imprensa/2009/Pesquisa_Internet.asp; acesso em

10/09/09 - 21h08

14

Page 15: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

No que se refere à usabilidade dos sites oficiais dos candidatos utilizaremos as definições de 3Nielsen e Romani para avaliarmos o grau de adequação das páginas disponibilizadas na web.

A análise quantitativa da eficácia das ações nas redes será realizada comparando-se os dados

de adesão nas páginas do Twitter, Facebook e YouTube. Levando-se em consideração que o objetivo

maior das ações nestes espaços seria a arregimentação de adesões a comparação do número de

inscritos nos mesmos nos fornecerá indicadores seguros do grau de penetrabilidade das ações nas

redes sociais junto aos eleitores. No que se refere às ações no Twitter outros dados quantitativos

significativos a serem comparados serão o número de seguidos, seguidores, listas e de postagens

realizadas. Para o YouTube compararemos, além do número de inscritos, o número total de exibições

do canal – um forte indicador da audiência – e o número de vídeos postados.

Nossa primeira tarefa será demarcar alguns momentos que consideramos fundamentais na

história do Chile para a formação do cenário histórico-político em que transcorreram as eleições

presidenciais de 2009 para, em seguida, abordarmos as principais características do atual sistema

político e eleitoral e o perfil dos candidatos que concorreram ao pleito.

No capítulo terceiro nos dedicaremos a traçar um quadro geral da evolução da comunicação,

em especial, a comunicação política desde o desenvolvimento da expressão gestual e da fala até os

dias atuais, procurando demarcar em linhas gerais os momentos significativos das quatro

revoluções comunicativas vivenciadas pelas sociedades humanas, para então abordarmos de forma

mais detalhada o fenômeno do aparecimento das redes sociais digitais e suas implicações no

processo comunicacional e nas relações sociais.

O capítulo quarto será dedicado à análise qualitativa e quantitativa das ações de campanha na

rede realizada pelos principais candidatos ao pleito presidencial. Durante toda a campanha eleitoral

acompanhamos os candidatos na rede capturando em forma de imagem os principais momentos da

campanha. Estas comporão pranchas que, juntamente com as tabelas dos dados quantitativos sobre a

utilização das redes sociais, serão incluídas na sessão Anexos para um melhor acompanhamento das

análises realizadas.

No capítulo final procedemos a um balanço das principais ações nas redes realizadas pelos

candidatos, procurando identificar em que medida estas se adequaram às exigências da

comunicação digital, no sentido de romper com a visão anacrônica que empana o livre debate,

impondo limites e barreiras à livre manifestação e interação nas redes, sentido único de sua

existência. Espero que a leitura possa contribuir de alguma forma para lançar luz sobre a questão da

livre manifestação nas redes, e na necessidade que o momento histórico impõe de serem repensados

velhos conceitos e práticas tão arraigadas na comunicação política e eleitoral.

3 Usabilidade é um termo empregado para descrever a qualidade de interação de usuários com algum tipo de interface.

Nielsen define usabilidade como “uma medida da qualidade da experiência do usuário ao interagir com alguma coisa –

seja um site na Internet, um aplicativo de software tradicional, ou outro dispositivo que o usuário possa operar de

alguma forma”. Já o professor Roberto Romani relaciona sete regras básicas de usabilidade, a saber: clareza na

arquitetura da informação, facilidade de navegação, simplicidade, relevância do conteúdo, manter a consistência,

tempo suportável de carregamento das páginas e foco nos usuários.

15

Page 16: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

2. Breve história política do Chile

La cruz, la espada, el hambre iban diezmando la familia salvaje. Terror, terror de un golpe de herraduras, latido de una hoja, viento, dolor y lluvia.

Trecho do poema“ODA A LA ARAUCARIA ARAUCANA”Pablo Neruda (1904 – 1973)

Não temos aqui a pretensão se resgatar toda a história do Chile, mas única e tão somente

demarcar alguns momentos que consideramos fundamentais na história do país para a formação do

cenário histórico-político em que transcorreram as eleições presidenciais de 2009. O Chile, até o

golpe de 1973, era tido como um exemplo de democracia, pois entre 1830 e 1970 escolheu seus

presidentes por meio de eleições diretas sendo interrompido apenas em 1891, durante o período da

guerra civil ocorrida no governo de Balmaceda, e entre os anos 1924 e 1931, período compreendido

entre a renúncia de Alessandri e seu retorno pelo voto direto em 1932. O Chile teve um Congresso

antes dos países europeus, salvo Inglaterra e Noruega, e o voto direto foi instituído no país em 1874, 4antes mesmo da Bélgica, Dinamarca, Noruega e França .

Para a elaboração deste passeio pela história do Chile recorremos a autores clássicos que,

graças ao trabalho de digitalização de obras raras, encontram-se disponíveis para o público em geral

na internet, como Alonso de Góngora Marmolejo, que participou dos primeiros lances da conquista

e escreveu a obra “Historia de Chile desde su descobrimiento hasta el año de 1575”. Outro autor

visitado foi Diego Barros Arana e sua “Historia Jeneral de Chile”, e ainda sua “Historia Jeneral de

la Independencia de Chile”, que também se encontram disponíveis na internet. Ainda para o período

da Independência recorremos à obra de Miguel Luis Amunátegui, “Los Precursores de la

Independencia de Chile”, também disponível na internet.

SADER, Emir – Chile (1818-1990). Da Independência à Redemocratização. Editora Brasiliense, São Paulo, 1991, p. 11.

4

16

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Para o período que vai da independência aos dias atuais recorremos a duas obras de Edir

Sader: “Chile (1818-1990). Da Independência à Redemocratização” e “Democracia e Ditadura no

Chile”.

Para o período do governo Allende recorremos aos autores Andrés M. Kramer, na obra

“Chile. Historia de uma Experiência Socialista”, Fernando Alegria, que escreveu “Allende. A Paz

pelo Socialismo” e Jacob Timerman, “Chile. O Retrato de uma agonia”.

No que se refere aos dados sobre a economia chilena recorremos ao artigo de Felipe Loureiro

apresentado no VIII Congresso da AMPHU-SP em 2006, “Chile: sucesso ou fracasso neoliberal?”.

Além das obras acima citadas lançamos mão de farto material da imprensa chilena e

internacional para fundamentar afirmações polêmicas apresentadas no texto. Espero que este

apanhado geral dê conta do objetivo a que se propõe, ou seja: situar o leitor dentro do cenário

histórico-político das eleições presidenciais chilenas de 2009.

2.1. Das origens à invasão espanhola

A descoberta do Estreito que liga o Oceano Pacífico ao Atlântico pelo navegador português

Fernão de Magalhães, em 1º de novembro de 1519, é considerada pela historiografia chilena como a

data de sua descoberta.

Antes da chegada dos conquistadores espanhóis a região que hoje forma o território do Chile

era habitada por diversas tribos indígenas que ali se fixaram a partir da chegada dos primeiros

povoadores vindos pelo Estreito de Behring, por volta de 10.500 A.C.

A cordilheira dos Andes e o deserto de Atacama formaram barreiras naturais que

dificultaram a conquista e a colonização espanhola. Além disso, os espanhóis encontraram forte

resistência por parte dos Mapuches, tribo que habitava a região na época da invasão espanhola.

A violência e crueldade dos conquistadores espanhóis foram fartamente relatadas por

cronistas na época e pela historiografia. Nas guerras da conquista do Chile tiveram papel de

destaque Diego de Almagro (1535) e Pedro de Valdivia (1540), que perde a vida em combate contra

os Mapuches. O heroísmo e tenacidade dos Mapuches em resistir aos invasores foram cantados em

versos pelo poeta e soldado espanhol Alonso de Ercilla y Zúniga no poema épico “La Araucana”.

Outra obra que relata os passos da conquista espanhola no Chile é a do Capitão Alonso de Góngora 5Marmolejo , que serviu ao lado de Valdivia até sua morte, relatada em detalhes por ele em carta

supostamente dirigida ao Marques de Cañales, Vice-Rei do Peru (MARMOLEJO, 1852, P. 414).

5 MARMOLEJO, Alonso de Góngora - Historia de Chile. Desde su descobrimiento hasta el año de 1575. Real

Academia de La Historia. Tomo IV. Madri, 1852. Disponível em:

http://books.google.com/books?id=iGAVXpyx8gAC&printsec=frontcover&dq=Hist%C3%B3ria+do+Chile&ei=GD

AFS4_PCoqwNPvQzbEM&hl=pt-BR#v=onepage&q=&f=false

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Sucessivas revoltas Mapuches quase puseram fim à tentativa de colonização do Chile e, em

1598, o então governador Oñez de Loyola é morto com sua tropa no embate que ficou conhecido 6como o Desastre de Curalava (ARANA, 1834, P. 230-234).

Como consequência dos constantes levantes indígenas as cidades ao sul do Rio Biobío

foram arrasadas.

2.2. A época Colonial

Após a chamada Guerra do Arauco, entre as forças militares espanholas e os Araucanos,

estabeleceu-se uma fronteira tácita entre a colonização espanhola e as terras sob domínio Mapuche,

situação que perdurará por mais de dois séculos. A Capitania Geral do Chile tinha como capital a

cidade de Santiago e era gerida por um governador e capitão geral, assessorado pela Real Audiência,

presidida pela figura do governador. A Real Audiência era um órgão de consulta do governador e

tinha ainda a função de Tribunal de apelação do reino. Embora a capitania dependesse do vice-

reinado no que se refere a recursos militares e comerciais, não havia uma subordinação real entre o

governador e o vice-rei. A administração da justiça da capitania era autônoma, à exceção das

questões religiosas, administradas pelo Tribunal da Inquisição, e das questões comerciais, que

possuíam uma sede em Lima, no Peru.

A presença da cordilheira dos Andes, do deserto de Atacama e o parco desenvolvimento das

populações pré-colombianas ali assentadas, aliado aos constantes terremotos fizeram do Chile a

região mais pobre do Império espanhol na América. A principal atividade econômica era, no início

da colonização (sec. XVII), o comércio de derivados animais como o sebo, o couro e o charque, que

era feito com o Peru. Já no século XVIII o Chile torna-se produtor e exportador de trigo para o vice-

reinado e para o Peru, dando origem à formação de uma estrutura social agrária. Outra atividade

econômica desenvolvida no século XVIII foi a mineração do ouro, da prata e do cobre. O sistema de

monopólio por si não era suficiente para coibir o contrabando em franca ascensão no século XVIII,

realizados por navios ingleses, franceses e dos Estados Unidos.

6 ARANA, Diego Barros. – Historia Jeneral de Chile. Rafael Jover Editor. Santiago, 1834, p. 230-234.Disponível em:

http://books.google.com.br/books?id=iaQsAAAAYAAJ&printsec=frontcover&dq=ARANA,+Diego+Barros.+%E2

%80%93+Historia+Jeneral+de+Chile&as_brr=1&ei=u5xUS4rXA4bsMPjV5eEI&cd=2

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2.3. A Independência do Chile

A chegada da notícia das invasões napoleônicas na península Ibérica, em 1808, e o

encarceramento do Rei Fernando VII da Espanha arrefecem os ânimos nas colônias da América. O

Rei da Espanha não teve a mesma sorte de D. João, Rei de Portugal que teve tempo de fugir às

pressas para o Brasil.

A notícia faz germinar entre os criollos, filhos da aristocracia espanhola nascidos na

América, o movimento pela constituição de uma junta de notáveis que substituísse o governo

espanhol enquanto durasse o cativeiro do Rei, o que foi instituído em 18 de setembro de 1810, tendo 7à frente Mateo de Toro Y Zambrano, e é comemorado como a data da Independência do Chile .

È formado o primeiro Congresso Nacional onde os moderados, que defendiam maior

autonomia sem chegar à completa separação do Império espanhol, eram maioria em relação aos

exaltados, que defendiam independência absoluta imediata. A cada melhoria implementada,

sobretudo a partir da adoção dos primeiros textos constitucionais, em 1811, ia crescendo entre os

criollos o desejo de independência. É nesse período que é criada a Biblioteca Nacional e o primeiro

jornal chileno, A Aurora de Chile.

Os ânimos no Chile se exaltam devido à intenção de Felipe IV de restaurar as possessões

coloniais espanholas na América agora que, na Península Ibérica, os franceses eram expulsos.

Assim, estoura a guerra de independência no Chile e, em outubro de 1814, as tropas fieis à Coroa 8vencem os patriotas revoltosos na Batalha de Rancagua , historiada em detalhes por Arana.

A vitória das tropas reais inicia o período conhecido como da Reconquista Espanhola,

restaurando-se as instituições coloniais. Os líderes do movimento pela independência refugiam-se

em Mendonza, na Argentina, formando ali o Exército dos Andes com o objetivo de retomar a luta. As

atrocidades cometidas pelas tropas reais após a batalha fará, segundo as palavras do historiador

Amunátegui, com que muitos chilenos que até então haviam estado indiferentes em revolucionários 9exaltados .

7

Encuadernacion Barcelona. Tomo III. Santiago, 1910, p. 519. Disponível em:

http://books.google.com.br/books?id=9fZoAAAAMAAJ&pg=PP1&dq=Los+Precursores+de+la+Independencia+de

+Chile&as_brr=3&ei=CqBUS-XcJouyMav72YEN&cd=18 ARANA, Diego Barros. – Historia Jeneral de la Independencia de Chile. Imprenta Chilena. Santiago, 1854, p.

473-501. Disponível em

http://books.google.com.br/books?id=3ZYCAAAAYAAJ&pg=PP2&dq=Historia+General+de+la+Independencia+d

e+Chile+inauthor:Arana&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&num=

30&as_brr=0&ei=gZ9US5G2PJuwNP-_yJoN&cd=19 ARANA, Diego Barros – Op. Cit. P. 573. “Los ajentes de la metrópoli se portaron tan torpes, tan arbitrarios, tan

duros, que perdieron los amigos que aun conservaban en el país, i convirtieron en revolucionarios exaltados a

muchos chilenos que hasta entonces, o habían sido indiferentes, o habían prestado a los innovadores una

cooperación demasiada tíbia. La reconquista de Chile prejudicó a los españoles mas que una desastrosa derrota”.

AMUNÁTEGUI, Miguel Luis. – Los Precursores de la Independencia de Chile. Imprenta, Litografia e

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Sob o comando do general argentino José de San Martín, ladeado por Bernardo O'Higgins,

líder das milícias chilenas o Exército dos Andes, atravessa a Cordilheira e vence as tropas reais na

batalha de Chacabuco, em fevereiro de 1817, dando início ao período conhecido como Pátria Nova.

Bernardo O'Higgins é nomeado diretor supremo e, no primeiro aniversário da Batalha de

Chacabuco, em 12 de fevereiro de 1818, declara formalmente a independência do Chile.

2.4. Primórdios da República do Chile

Bernardo O'Higgins promulga em seu breve governo duas Constituições: a de 1818 e a de

1822, e consegue sufocar um dos últimos focos de resistência na cidade de Valdívia, ainda nas mãos

dos espanhóis. Seu governo desagrada a muitos devido a sua postura autoritária e, para evitar um

levante, renuncia em janeiro de 1923.

Segue-se uma década de instabilidade política em que o Chile teve nada menos do que quatro

constituições: a Constituição Moralista de 1823, as Leis Federais de 1828, a Constituição de 1828 e a

Constituição de 1833. Após a renúncia de O'Higgins, o general Ramón Freire assume o cargo de

diretor supremo debelando o último foco anti-republicano em Chiloé, ilha ao sul do Chile, e faz

redigir a chamada Constituição Moralista de 1823. O descontentamento da população com a nova

Constituição e com a crise econômica provoca a queda de seu governo.

Manuel Blanco Encalada, apoiado pelos federalistas é eleito o primeiro presidente do Chile e

promulga as Leis Federais de 1828, o que também desagrada à grande maioria da população,

instalando o caos no país. Blanco renuncia e, em seu lugar, assume o liberal Francisco Antônio Pinto,

que consegue promulgar, em 1828, nova Constituição. Antônio Pinto é reeleito, mas é acusado de

fraude eleitoral. O Congresso, ao arrepio da Constituição, impõe o nome de Francisco Ramón

Vicuña como vice. Estes fatos provocam um levante militar e, mesmo com a renúncia de Pinto e

Vicuña, desembocam na Revolução Conservadora de 1829 e na derrocada da chamada República

Liberal.

2.5. A República Conservadora

O período conhecido como da República Conservadora iniciou-se após a Revolução, em

1831, com a posse de José Joaquim Prieto como presidente, e terá como homem forte no cenário

político o conservador Diego Portales, que defendia a constituição de um governo forte,

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centralizador, impessoal e acima dos partidos. A nova Constituição promulgada em 1833 espelhava

as posições de Portales e concentrava poderes nas mãos do Presidente da República, que seria eleito

por sufrágio censitário para um mandato de cinco anos com reeleição para um segundo mandato. A

fórmula trouxe estabilidade política ao país que, aos poucos, foi vencendo a grave crise econômica e

política na qual havia mergulhado, sobretudo a partir da aplicação de uma política de atração do 10capital estrangeiro e de integração ao mercado internacional .

A exploração da nova jazida de cobre, descoberta em Chañarcillo, e a exportação de trigo

trouxeram divisas ao país. Portales, que era Ministro da Guerra, conseguiu que o Congresso

aprovasse declaração de guerra, em setembro de 1836, contra a Confederação criada entre Peru e

Bolívia para a exploração de portos no Pacífico. Na época o povo e grande parte do exército não

viam com bons olhos a declaração de guerra, mas o assassinato de Potales em junho do ano seguinte

fez com que a situação se invertesse e a vitória do Chile foi alcançada na batalha de Yungay,

comandada pelo general Manuel Bulnes, em janeiro de 1839. Está vitória fará de Bulnes o sucessor

de Prieto na presidência do Chile e durante seu governo o Chile segue em franco crescimento

econômico. É deste período a criação da Universidade do Chile e da Sociedade Literária. Ao final de

seu mandato uma insurreição sufocada tentou evitar a posse do sucessor conservador, Manuel

Montt, em dezembro de 1851.

O governo Montt investiu pesado em infraestrutura, construindo estradas de ferro, pontes e

rodovias, iniciando ainda a colonização do sul do país e incentivando a imigração de alemães. Ao

final de seu segundo mandato conflitos entre a Igreja católica e o Estado põem fim à estabilidade do

regime conservador, pois uma parcela significativa dos correligionários conservadores une-se aos

liberais dando origem à fusão Liberal-Conservadora.

2.6. A República Liberal

Em 1861 José Maria Perez é eleito presidente como candidato da aliança Liberal-

Conservadora e, em aliança com o Peru, declara guerra contra a Espanha em decorrência da disputa

pelas Ilhas Chinca e da presença ostensiva da esquadra espanhola em águas da costa ocidental da

América do Sul. Os espanhóis são vencidos em março de 1866 em El Callao. A política

expansionista iniciada pelo governo anterior visa agora a região de Antofogasta, rica em salitre e

cobre, na época sob jurisdição da Bolívia. A disputa por esse território será a causa da Guerra do

Pacífico iniciada em 1879, principal conflito bélico da história do Chile. Com a vitória do Chile

sobre o Peru e a Bolívia, esta perde a região de Antofogasta, ficando sem saída para o mar, e o Peru,

10

p. 17-18.

SADER, Emir – Chile (1818-1990). Da Independência à Redemocratização. Editora Brasiliense, São Paulo, 1991,

21

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completamente arrasado, foi vencido definitivamente na batalha de Huamachuco, perdendo as

províncias de Arica, Tacna e Taparacá. A anexação dos territórios, ricos em salitre e nitratos

impulsionará o desenvolvimento econômico do Chile. Aproveitando a mobilização militar das

tropas o governo leva a guerra aos mapuches, vencendo-os definitivamente e iniciando na região a 11colonização branca com colonos alemães .

Durante o governo de Federico Errázuriz Zañartu, que sucede ao de Perez, em 1871, a

Aliança Liberal-Conservadora chega ao final com a união do Partido Liberal ao Partido Radical; a

Constituição de 1833 é reformada para limitar os poderes presidenciais e o Congresso passa a ter

papel mais ativo.

Na eleição de 1886 é eleito o liberal José Manuel Balmaceda que receberá o país em franco

desenvolvimento econômico, o que possibilitou a seu governo a realização de vultosas obras de

modernização da infraestrutura chilena, com a construção de inúmeras ferrovias por todo o país.

Todavia Balmaceda foi angariando inimigos nos partidos e no Congresso devido ao seu perfil

fortemente presidencialista e centralizador. Visando diminuir o poder das oligarquias sobre o

parlamento instituiu o sufrágio universal e, buscando criar condições para o desenvolvimento

autônomo do Chile, propugnou a nacionalização das minas de salitre em mãos de capitalistas

ingleses. Em pouco tempo enfrentou forte oposição dos latifundiários, do Congresso e dos 12capitalistas ingleses .

O estopim da crise que levará o país, em 1891, a uma sangrenta guerra civil foi a imposição

por parte do presidente de uma Lei que tinha como objetivo abrir caminho para as mudanças

econômicas pretendidas. Em 1º de janeiro, Balmaceda suspende as atividades do Congresso por três

meses e impõe a aplicação da chamada “Ley de Presupuestos”. Com a suspensão das atividades do

Congresso o país se divide e irrompe a Guerra Civil. Enquanto uma parcela do exército declara

lealdade ao presidente golpista, a Marinha apóia os congressistas. Após algumas batalhas onde os

Balmacedistas são derrotados as tropas congressistas conseguem tomar Santiago no final de agosto

e, em 19 de setembro, Balmaceda, que havia se refugiado na Embaixada da Argentina e era apoiado

pelo governo americano, suicida-se. A Guerra Civil provocou a morte de mais de 10 mil chilenos.

A exploração das minas de salitre é restituída aos ingleses e o parlamento, como centro de

representação do poder oligárquico, é restabelecido. O desenvolvimento da economia mineradora

com base na super exploração do trabalho assalariado dará início à formação dos movimentos

operários e dos movimentos sociais contra a dominação oligárquica.

11 SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 20.12 SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 22.

22

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2.7. A República Parlamentar

Embora o período que se inaugura após a Guerra Civil não seja estritamente parlamentarista,

pois lhe faltam mecanismos clássicos deste regime, como a figura do primeiro ministro, é um

período em que o Congresso dominará a cena política e os poderes presidenciais serão

substancialmente reduzidos em relação ao anterior.

A formação dos gabinetes ministeriais deveriam agora contar com a aprovação do

Congresso, que muitas vezes aprovava a censura a tais gabinetes – que eram imediatamente

dissolvidos para serem recompostos, o que causava grande rotatividade de ministros e a

consequente incapacidade de implementar reformas e planos de governo.

Para se ter uma exata ideia da instabilidade dos governos durante este período, tomemos

como exemplo o mandato de Gérman Riesco, terceiro presidente após a Guerra Civil, que teve nada

menos do que 73 ministros e 17 gabinetes em cinco anos, o que corresponde a um novo ministério a

cada três meses e meio.

O movimento migratório do campo em direção às cidades, acelerado a partir do início do

século XX, faz inchar as cidades e submete a grande massa de migrantes às péssimas condições de

vida devido à ausência de postos de trabalho. As subhabitações proliferam e a inexistência de água

tratada e rede de esgoto facilita o aparecimento de surtos de varíola e tifo. A mortalidade atinge cifras

alarmantes; em 1909, 30 mil pessoas são vitimadas pela varíola e 18 mil por tifo. Nas minas e nas

cidades as condições de trabalho eram subumanas; a jornada de trabalho era extenuante e não havia

nem mesmo o descanso dominical, que só veio a ser instituído em 1907 após as primeiras greves,

reprimidas com violência, como o episódio do massacre de Santa Maria de Iquique, em 1907, onde

centenas de trabalhadores, mulheres e crianças foram assassinadas a rajada de metralhadoras 13disparadas pelas forças do exército .

O movimento operário dá seus primeiros passos no caminho da organização. Nascem assim

as “chamadas Sociedades de Resistência e as Mancomunales que combinavam a autodefesa e ajuda 14mútua com o enfrentamento e a luta contra os patrões ”.

São fundados os primeiros sindicatos de trabalhadores, a primeira Central Sindical do país –

Federação Operária do Chile (FOCH) –, em 1909, e sob a direção de Luis Emilio Recabarren, o

Partido Trabalhador Socialista, em 1912, que após a Revolução Soviética de 1917 transformou-se

no Partido Comunista do Chile.

ALEGRIA, Fernando – Allende. A Paz pelo Socialismo. Editora Brasiliense, São Paulo, 1984, p. 7. Também em

SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 26.14 SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 26.

13

23

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A urbanização crescente e o fortalecimento do movimento operário prenunciavam o

esgotamento do regime oligárquico e, nas eleições presidenciais de 1920, a candidatura de um líder

popular do norte canaliza o descontentamento de amplos setores da sociedade urbana pondo fim ao

regime oligarca herdado do século anterior.

Embora o Partido Comunista tivesse lançado a candidatura do líder Recabarren, por estar

preso não pôde fazer campanha, e a classe média urbana e setores do movimento operário unem-se,

em 1920, para eleger o candidato da Aliança Liberal, Arturo Fortunato Alessandri Palma, conhecido

como León de Tarapacá.

Alessandri retoma em parte o programa de reformas de Balmaceda e, caminhando em

direção ao presidencialismo, propõe o imposto sobre a renda, a nacionalização de bancos e

companhias de seguro, a participação no lucro das empresas para os trabalhadores, bem como uma

série de Leis de proteção aos trabalhadores, como a regulamentação da jornada de trabalho, a

proibição do trabalho infantil, a criação do seguro desemprego, acidentes de trabalho e

aposentadoria.

Apresentado ao Congresso, o conjunto de Leis que tinham o objetivo de fazer frente às

graves questões sociais encontra na casa forte oposição.

A jovem oficialidade do exército, diante da recusa do Senado em aprovar as reformas

manifesta-se e faz soar seus sabres em sessão em que as reformas eram discutidas. O episódio ficou

conhecido como o “Ruido de Sables” e foi interpretado como uma clara ameaça de golpe de estado,

o que forçou a casa a aprovar as reformas que fixava a jornada de trabalho em 8 horas, limitava o

trabalho feminino e infantil, criava o seguro obrigatório contra acidentes de trabalho e os tribunais

de conciliação e arbitragem.

Organizada no Comitê Militar, a jovem oficialidade aconselha o presidente a dissolver o

Congresso. Alessandri, percebendo seu enfraquecimento, resolve renunciar, exila-se na embaixada

dos Estados Unidos e, em 10 de setembro, deixa o país rumo à Itália. O país passa a ser governado

por uma Junta de Governo e, em 12 de setembro, as forças armadas dissolvem o Congresso. Em

março do ano seguinte Alessandri é chamado pelos militares para terminar seu mandato. Para dar

fim ao caos que havia se implantado na chamada república parlamentar consegue promulgar, em

1925, através de um plebiscito, uma nova Constituição que restabelecia o presidencialismo.

2.8. A República Presidencial

O movimento da oficialidade pelas reformas sociais e pela volta do presidencialismo faz

emergir na figura do militar Carlos Ibáñez del Campo, ministro da Guerra, um novo homem forte da

política chilena.

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Fortunato Alessandri trabalha nos bastidores para o lançamento de candidatura único à

presidência, a sua. Mas Carlos Ibáñez desejava o posto de mandatário da república e costura o

lançamento de um manifesto assinado por vários políticos apoiando sua candidatura como

candidato oficial gerando a renúncia de todos os outros ministros de Alessandri.

A manobra que objetivava pôr fim à pretensão de Ibáñez sai pela culatra, pois este aproveita a

situação e redige uma carta aberta ao presidente recomendando que este passasse a emitir decretos

desde que com sua assinatura, uma vez que ele era agora o único ministro do gabinete. O Cheque

mate não deixa outra saída a Alessandri senão a renúncia e, em 2 de outubro de 1925, nomeia Luiz

Barros Borgoño como ministro do interior e deixa a presidência. Os partidos então, como medida de

consenso, substituem Borgoño por Emiliano Figueroa, que assume a presidência com a missão de

solucionar a crise política, mas ele não consegue vencer a queda de braço com Ibáñez e renuncia em

abril de 1927. Com a vacância do cargo, Ibáñez finalmente consegue seu intento de assumir a

presidência do Chile.

Com ampla base popular seu governo consegue inúmeras realizações de vulto, como a

criação da Controladoria Geral da República, da Força Aérea do Chile, da Companhia Aérea

Nacional e do corpo de Carabineiros do Chile. Todavia, devido à sua postura autoritária e

centralizadora, vai perdendo o apoio popular e dos partidos. Devido às perseguições políticas

Alessandri, e parte significativa dos políticos da oposição vão para o exílio; a imprensa é censurada e

os membros do Congresso passam a serem indicados por Ibáñez, que “governa então no estilo de

caudilhos progressistas que proliferavam àquela altura na região, como o presidente argentino

Irigoyen, do Partido Radical, e o uruguaio Jorge Battle, do Partido Nacional” (SADER, 1991, P.29).

No plano econômico os reflexos da Grande Depressão de 1929 são sentidos com a drástica

diminuição da exportação do salitre, causando o colapso da mineração e das contas públicas devido

a empréstimos contraídos pelo governo junto aos Estados Unidos. Além da crise internacional a

Alemanha iniciava a substituição do salitre pelo nitrato sintético e o principal produto chileno,

responsável por quase 90% da arrecadação do estado, não encontra mais mercados. Como

consequência direta, cidades inteiras são esvaziadas, transformando-se em cidades fantasmas.

Como ressalta Sader, em 1925 a exploração do salitre empregava 60 mil trabalhadores e, em 1932,

apenas 8,5 mil viviam desta atividade mineradora.

Os movimentos comunista e anarquista ganhavam força. Em 1931, em meio a grave crise

econômica e social, Ibáñez apresenta sua renúncia assumindo em seu lugar o presidente do Senado,

Juan Esteban Montero. São convocadas novas eleições nas quais se enfrentam Alessandri, que volta

do exílio, e Montero, que vence o pleito e, ao assumir, enfrenta diversas tentativas de golpe de estado

até que, em 4 de junho de 1932, é deposto por um golpe liderado por Marmaduke Grove, Carlos

Dávila e Eugenio Matte, que fundam a República Socialista do Chile.

É instalada uma junta de governo presidida pelo general Arturo Puga e composta por Carlos

Dávila e Eugenio Matte. Dois dias depois de instalada a República Socialista, o Congresso é

dissolvido e os prisioneiros políticos do governo anterior são libertados e anistiados. O Partido

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Comunista do Chile não apoia o golpe e passa a denunciar a suposta tentativa de implantação de uma

ditadura nos moldes do Nacional Socialismo. Carlos Dávila, agora na presidência, passa a ser

atacado pela oposição e pelos meios de comunicação e, na noite de 16 de junho de 1932, após uma

grande concentração de trabalhadores no Palácio de La Moneda em apoio ao governo, um grupo de

oficiais rebela-se e prende Marmaduque Grove, então secretário da Defesa, e Eugenio Matte. Carlos

Dávila proclama-se presidente provisório da Republica Socialista, mas em seguida vê-se obrigado a

renunciar devido à falta de apoio popular e dos partidos. Em setembro a República Socialista é

dissolvida e são marcadas eleições para outubro, onde Alessandri é novamente eleito presidente.

Em seu segundo mandato Alessandri trabalha pela recuperação econômica e institucional do

país, conseguindo afastar os militares da política. O cenário político era formado pela coalizão dos

partidos Conservador e Liberal, pelo Partido Radical, em franco crescimento, o Partido Socialista

fundado em 1933, o Partido Comunista e o Partido Nacional Socialista, de inspiração nazi-fascista.

Alessandri inicia o governo compondo um gabinete pluralista, mas logo os Radicais vão se

aproximando dos partidos de esquerda e deixam o governo em 1934. Embora consiga aos poucos

recuperar a economia, a partir da substituição da mineração do salitre pelo cobre e da retomada da

produção agrícola, a divisão política entre esquerda, direita e radicais produz novos conflitos. A

exploração do cobre faz-se a partir do ingresso de capitais americanos e marca o fim do domínio

inglês na economia chilena. A exploração das minas é feita a partir da utilização de novas 15tecnologias e a produção será em larga escala .

As tensões aumentam no campo e nas cidades e, em junho de 1934, explode na província de

Malleco uma rebelião de camponeses e índios Mapuches contra os abusos da classe patronal. O

governo envia carabineiros para sufocar a revolta com a ordem de não deixar sobreviventes e na

ação foram mortos mais de 200 revoltosos. O episódio ficou conhecido como “Massacre de

Ranquil”. As tensões aumentam no campo; nas cidades a classe operária, organizada na

Confederação de Trabalhadores do Chile combate o governo com greves e manifestações. Em

fevereiro de 1936 Alessandri fecha o Congresso e decreta estado de sítio.

Avizinhando-se as eleições os radicais aproximam-se dos socialistas e comunistas formando

a Frente Popular, lançando como candidato Pedro Aguirre Cerda. Esta união entre radicais,

socialistas e comunistas reflete os acontecimentos da Europa, onde a ascensão do nazi-fascismo faz

com que a Internacional Comunista abandone a linha extremista de luta insurrecional pelo poder, 16optando pela aliança com todos os setores democráticos na luta contra o fascismo .

A Coalizão dos Conservadores e Liberais lança Gustavo Ross. Já a Aliança Popular

Libertadora e o Partido Nacional Socialista lançam a candidatura de Ibáñez. Ross larga como o

candidato favorito, mas um acontecimento de última hora mudará o destino do pleito.

Membros da juventude nazista invadem a Casa Central da Universidade do Chile em

15 SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 33.16 SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 34.

26

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setembro de 1938, sendo desalojados pela artilharia, que prendeu os 71 manifestantes. Transferidos

para o Edifício do Seguro Operário, em frente ao La Moneda, foram sumariamente fuzilados. Após

os acontecimentos, Ibáñez abre mão da candidatura e dá apoio a Cerda, que vence o pleito de

outubro com estreita margem de votos. O mandato de Cerda abre o período da história do Chile

conhecida como a dos Governos Radicais.

2.9. A República Radical

O governo de Aguirre Cerda terá um perfil de esquerda moderado e apoiará o processo de

industrialização chilena a partir do modelo de substituição das importações e do investimento na

geração de energia. Em seu governo é criada a ENAP, empresa petrolífera chilena, e a Empresa

Nacional de Eletricidade. A educação pública recebe investimentos significativos e é vista como

geradora de oportunidades e um meio seguro para a superação da miséria. O então jovem médico

Salvador Allende será o ministro da saúde do governo Cerda.

No cenário internacional a Guerra Civil espanhola faz com que um grande contingente de

espanhóis migre para o Chile. Na época o poeta Pablo Neruda era embaixador chileno em Paris e

oferece asilo aos perseguidos pelo general Franco.

Aguirre Cerda é acometido por grave doença em 1941 e vem a falecer sem cumprir o

mandato e, em 1942, é eleito Juan Antonio Ríos, do Partido Radical. No cenário internacional a

Segunda Guerra Mundial assolava a Europa, mas o Chile, a exemplo do primeiro conflito,

procurava manter uma posição de neutralidade suportando pressões dos Estados Unidos e dos países

do Eixo, mas em janeiro de 1943 toma partido no conflito ao lado dos Aliados declarando guerra à

Alemanha e ao Japão.

A aliança entre o Partido Radical e o Partido Comunista do Chile forma a Aliança

Democrática e elege, em outubro de 1946, Gabriel Gonzáles Videla para a presidência. O Partido

Comunista do Chile era na época liderado pelo poeta e diplomata Pablo Neruda e estava em franca

ascensão; nas eleições municipais de 1946 o partido dá prova da sua força nas urnas. Videla, então

sob a influência do macarthismo americano, expulsa o Partido Comunista de seu governo, o que dá

início a uma série de movimentos dos mineiros organizados em sindicatos dominados pelo partido.

O Governo então declara estado de sítio e faz aprovar no Congresso a chamada “Lei Maldita”,

colocando o PC na ilegalidade; seus membros são presos e enviados para o campo de prisioneiros

em Pisagua.

Na eleição seguinte, em 1952, o general Ibáñez é eleito presidente como candidato

independente. Sua campanha utilizou-se de recursos de marketing político para convencer o eleitor

de que era o melhor candidato. Sua candidatura, nos moldes populistas, apoiada por Peron, era

apresentada como sendo “contra os partidos e os políticos”. Slogans populistas como “O General da

27

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Esperança” e “Pão para Todos”, aliados à utilização do símbolo da vassoura para marcar a intenção

de varrer a corrupção da política, copiada no ano seguinte no Brasil por Jânio Quadros em sua 17eleição para prefeitura de São Paulo, deram bons resultados e o elegem com 47% dos votos .

Nesta eleição Allende, que havia sido ministro de Aguirre Cerda, apresenta seu nome pela

primeira vez à presidência do Chile pelo Partido Comunista, apoiado também por uma parte dos

socialistas, com um programa de governo em defesa da reforma agrária, da nacionalização do cobre

e do fim dos monopólios, mas não consegue mais do que 50 mil votos.

Ao assumir o mandato Ibáñez, aproxima-se dos partidos de esquerda buscando ampliar sua

base popular, chegando a apoiar a criação da Central Única de Trabalhadores e a revogação pelo

Congresso da Lei que havia posto o PC chileno na ilegalidade.

A partir de 1955, a economia chilena entra em recessão e, seguindo o receituário do 18liberalismo econômico da chamada Missão Klein-Sacks , são adotadas duras medidas como o corte

de subsídios e o congelamento dos salários, provocando “um processo forçado de deflação que

lançou à inatividade milhares de trabalhadores” (VITALE, 1980, p. 87), o que desencadeia uma

onda de insatisfação popular e inúmeras greves em vários setores da economia.

No final de seu governo, Ibáñez decreta estado de sítio para tentar por fim à onda de greves e,

em 1957, reprime violentamente uma manifestação da Federação de Estudantes da Universidade do

Chile, em Santiago, contra o aumento das passagens no transporte público, provocando um saldo de

20 mortos.

Segundo Emir Sade o governo de Ibáñez pode ser caracterizado como um populismo tardio,

uma vez que ocorre já no final dos ciclos getulista no Brasil e peronista na Argentina, encerrados em

1954 e 1955 respectivamente, e não pôde valer-se das condições econômicas e conjunturais que

propiciaram o aparecimento daqueles.

17

18 Em 1955 o governo chileno contratou a empresa americana Klein-Sacks para assessorá-la em política econômica e

elaborar um plano de estabilização. As medidas adotadas forte oposição de políticos e economistas de centro e

centro-esquerda, que argumentavam que as políticas propostas causariam efeitos negativos no crescimento, nível de

emprego e salários, além de não atingir as causas fundamentais da inflação.

SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 40.

28

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2.10. Os Três Terços

As eleições de 1958 transcorrem sob o clima de frustração causado pelos descaminhos do

governo populista de Ibáñez. O pleito conta com quatro candidatos e o Partido Radical, que havia

dominado a cena política no período anterior, tem como candidato Luis Bossay, que obtém tímidos

15 % nas urnas. A Frente de Ação Popular (FRAP), composta por partidos de esquerda, lança

Salvador Allende, que soma 28,9% dos votos apurados, ficando em segundo lugar com apenas 35

mil votos a menos do que o primeiro colocado.

A Democracia Cristã apresenta como candidato Eduardo Frei Montalva, que consegue

20,7% dos votos, índices até então jamais conseguidos pelo partido que, a partir desta eleição,

experimentará um vigoroso crescimento. O Partido Democrata Cristão chileno tem origem nos anos

1930 a partir da criação da Falange Nacional, uma ala moderizante do Partido Conservador e,

segundo Emir Sader, “diferenciava-se pela incorporação de alguns temas católicos, formulados por

Jacques Maritain – um dos primeiros pensadores religiosos a incorporar questões sociais –, mas

também incluía influências ideológicas do franquismo espanhol” (SADER, 1991, p. 43).

A surpresa na eleição foi o candidato de direita, Jorge Alessandri, filho de Arturo Alessandri,

que obteve nas urnas 31,6% dos votos. Alessandri é lançado pelo então recém criado Partido

Nacional, produto da fusão dos partidos Liberal e Conservador.

A partir desta eleição os radicais perdem espaço no cenário político chileno e inicia-se o

chamado período dos “Três Terços”, quando a direita, a Democracia Cristã e a esquerda se

enfrentarão sem que nenhum deles consiga maioria absoluta para governar e, num sistema eleitoral

sem segundo turno, o Congresso é chamado para eleger, dentre os pleiteantes, aquele que irá ocupar

a presidência.

Dado o resultado das urnas, o Congresso, que tinha como praxe dar posse ao candidato que

somasse maior número de votos, escolhe Jorge Alessandri, que coloca em prática medidas visando

controlar a inflação e dotar o Estado de infraestrutura que possibilitasse os investimentos privados.

No campo, inicia uma reforma agrária distribuindo terras do Estado sem, contudo, tocar nos grandes

latifúndios.

Em seu governo ocorrem os dois maiores terremotos que se tem notícia na história da

humanidade, atingindo 9,5 graus de magnitude na escala Richter. Em 21 de maio de 1960, a terra

treme na cidade de Concepción e, dois dias depois, em Valdivia. Os tremores arrasam inúmeras

cidades e provocam tsunamis que varrem grande parte da costa do Pacífico. O país recupera-se da

catástrofe e, em 1962, sedia a Copa do Mundo de futebol.

Ao final de seu governo, os socialistas, liderados por Allende, vão cada vez mais ganhando

força e, em 1964, em pleno auge da Guerra Fria, os Estados Unidos não viam com bons olhos a

iminente subida ao poder de um candidato próximo aos soviéticos. Neste cenário a Democracia

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Cristã, liderada por Frei e apoiada pelos EUA, emerge como força capaz de barrar a ascensão da

FRAP. No mesmo ano, no Brasil, a CIA patrocina o golpe militar que depõe Jango e instala a ditadura

militar.

Diante da eminência da vitória de Allende, indicada pela eleição imediatamente anterior para

a escolha do substituto do deputado socialista falecido, Óscar Naranjo, a direita opta por apoiar a

candidatura Frei, que obtém 56% dos votos.

Dessa forma a Democracia Cristã se afirmava como um partido pluriclassista, angariando

apoio do empresariado industrial, da classe média urbana e de setores marginalizados do campo e

das cidades. Em plena Guerra Fria, o governo Frei foi o que mais recebeu ajuda dos Estados Unidos

por meio do programa Aliança para o Progresso em toda a América Latina.

Seu governo será caracterizado por políticas reformistas com ênfase na construção de

moradias populares, na reforma educacional, que levará o ensino público obrigatório fundamental

para a população, e na ampliação da reforma agrária, que será feita a partir da expropriação de

grandes latifúndios, o que é visto pelos partidos de direita que o haviam apoiado como traição. O

programa de reformas de Frei abre caminho para a organização dos sindicatos rurais e de setores

urbanos na luta por moradias. As mobilizações decorrentes deste surto organizacional de setores até

então alijados da política chilena fazem com que a extrema direita passe a “considerar Frei como um

“Kerensky chileno” atribuindo-lhe a responsabilidade por ter aberto o caminho para o crescimento

da esquerda e, finalmente, sua chegada ao governo porque mexeu em agudos problemas sociais que

não soube resolver” (SADER,1991,p. 47).

Na economia, Frei inicia a nacionalização das minas de cobre adquirindo grande parte das

ações das maiores companhias mineradoras nas mãos de multinacionais. Pressionado tanto pelos

partidos de direita como pela esquerda o governo vai pouco a pouco abandonando as reformas e

enfrenta ondas de greves. Um projeto de Reforma Universitária proposto em 1968 deságua em

manifestações e enfrentamento entre os universitários e o governo que reprime com violência. No

ano seguinte a situação se agrava e, com a iminente vitória de Allende nas eleições que se

aproximavam, pairava no ar um clima de golpe de estado.

A democracia Cristã racha e é formado o Movimento da Ação Popular Unitária (MAPU),

composto pela ala esquerda do partido que se une à Unidade Popular, nova frente de esquerda

formada por socialistas, comunistas, radicais e sociais-democratas que tinha como objetivo levar

Allende ao poder. Allende já havia concorrido à presidência em 1952, 1958 e 1964. Enfrentam-se

nas urnas, em 4 de setembro de 1970, Allende, candidato da Unidade Popular, Jorge Alessandri,

candidato da direita e Radomiro Tomic, candidato da Democracia Cristã. Durante toda a campanha o

candidato Alessandri, visando evitar ser tachado como de direita, optou pela estratégia de declarar 19insistentemente “Mi candidatura es Independiente y libre de todo compromisso” .

19

p. 30.

KRAMER, Andrés M. – Chile. Historia de uma Experiencia Socialista. Ediciones Penínsola, Barcelona, 1974,

30

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Apurados os votos, Allende obtém 36,3%, Alessandi 34,9% e Tomic 27,9%. O Congresso,

mais uma vez, recebe a missão de definir o vencedor.

Embora desde 1946 o Congresso, nestes casos, tivesse optado por dar posse ao candidato que

no pleito somasse maior número de votos, como fizera em 1946, 1952 e 1958, muitos pressionam

para que Alessandri fosse apontado como o novo presidente.

O governo Nixon era visceralmente contrário a um governo de matiz marxista na América

Latina e, por meio da CIA, conspira para que Allende não seja eleito presidente.

“Durante a campanha eleitoral, a CIA saiu em Campo para assegurar a derrota de Allende.

Ao mesmo tempo, a agência tentava mobilizar grupos fascistas dentro das forças armadas.

Antes que o Congresso se reunisse, a CIA planejou o assassinato do chefe do estado-maior

da forças armadas, o general René Schneider. Apoiada pelas grandes multinacionais

americanas que operavam no Chile – ITT, Kennecott Copper, Anaconda Copper –, a CIA

ofereceu dinheiro para todo candidato que fizesse oposição a Allende, fosse ele civil, militar

ou até mesmo eclesiástico. Os meios de comunicação de massa e grupos empresariais

receberam generosa soma em dinheiro com a finalidade de derrotarem Allende nas

pesquisas de opinião, conseguirem um acordo entre os candidatos perdedores no sentido de

bloquearem a nomeação de Allende pelo Congresso, ou, como última alternativa, de

evitarem que Allende assumisse a presidência após sua aprovação pelo Congresso”.

KRAMER, 1974, p. 111-112.

Como último expediente para evitar a posse de Allende, partidários da solução pela força

colocaram em prática o sequestro do comandante do exército, René Schneider como tentativa de

forçar as forças armadas a intervir por meio de um golpe. O plano é executado em 22 de outubro, mas

Schneider, resiste aos sequestradores e é gravemente ferido, vindo a falecer dias depois. Dentre os

executores da ação figuravam funcionários da suprema corte de justiça, membros da alta

oficialidade do Exército, Marinha e Aeronáutica, agentes do serviço de segurança e políticos de 20direita .

2.11. O Governo da Unidade Popular

Diante da grande repercussão do atentado mal sucedido, a DC rejeita a proposta do Partido

Nacional para que votasse em seu candidato, que prometia renunciar e convocar de novas eleições,

quando votariam maciçamente em Tomic e, em 24 de outubro, o Congresso aponta Allende como o 21vencedor do pleito .

A via democrática para a construção de uma sociedade socialista era uma experiência nova

na história e Allende, que assume a presidência do Chile em 3 de novembro de 1970, irá enfrentar

oposição interna dos partidos à direita e boicote e conspiração por parte do governo americano e de

20

21SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 52.

SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 53.

31

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poderosas multinacionais como a ITT, a Pepsicola, a Anaconda e a Ford.

Seu governo leva adiante a nacionalização das riquezas minerais e aprofunda a reforma

agrária. Visando o controle estatal de setores da economia considerados estratégicos ensaia estatizá-

los, enfrentando dura resistência dos partidos de direita.

Em represália à nacionalização de empresas americanas que exploravam o cobre e que, por

pagarem valores irrisórios de impostos, não receberam indenização, o governo americano passa a

negar ao governo chileno empréstimos internacionais.

A política de controle da inflação a partir do congelamento de preços e do aumento real nos

salários dos trabalhadores consegue, num primeiro momento, bons resultados e o país cresce a uma

taxa de 8%, mas logo causa boicote por parte dos produtores e o desabastecimento. Os produtos de

primeira necessidade agora só poderiam ser consumidos no mercado negro devido ao boicote dos 22produtores à política de congelamento de preços . Ademais a conjuntura internacional desfavorável

advinda da crise mundial do petróleo agrava o quadro para os países em desenvolvimento.

Os enfrentamentos entre partidários e opositores de Allende tornam-se constantes nas

principais capitais e setores da oposição dão início à segunda fase do plano de desestabilização do

governo organizando manifestações da classe média urbana contra o governo, que ficaram 23conhecidas como “panelaços” ou “marchas das panelas vazias” .

No campo as disputas pela posse de terras entre agricultores e latifundiários não raro

terminavam em conflito armado e mortes. Complicando ainda mais o quadro de instabilidade Fidel

Castro visita o Chile e incita a esquerda radical a levar adiante uma revolução popular, caminho

oposto ao preconizado por Allende. Nas cidades grupos de direita armados passam a praticar

atentados contra oleodutos e centrais elétricas visando estabelecer o caos, preparando o terreno para

um golpe militar.

Com o agravamento do quadro, a Democracia Cristã deixa a Frente Popular e une-se ao

Partido Nacional para fazer oposição ao governo. Eduardo Frei era, na época, o presidente do

senado e ali manobrava para imobilizar o governo barrando as reformas propostas. As facções

radicais, como o Movimento de Esquerda Revolucionária e a Pátria e Liberdade, de extrema direita, 24praticam constantes atentados .

A CIA patrocina meios de comunicação e greves nos setores fundamentais da economia com

o objetivo de desestabilizar o governo. Em mais de uma ocasião “a idéia de assassinar Salvador

Allende – tanto antes de assumir o posto quanto durante seu mandato presidencial – passou pelos 25cérebros febris dos agentes de Washington” .

22 SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 57.

23 SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 57.

24 SADER, Emir – Democracia e Ditadura no Chile. Edit. Brasiliense, São Paulo, 1984, p. 25.

25 TIMERMAN, Jacob – Chile. O Retrato de uma agonia. Editora Best Seller, São Paulo, 1988, p. 46.

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Se após 5 meses da posse, nas eleições municipais, a Unidade Popular consegue 50,5% dos

votos, já nas eleições parlamentares de 1973, devido ao caos econômico e social decorrente das

ações de sabotagem da oposição, a Unidade Popular obtém somente 43% dos votos, contra 55% da

Confederação pela Democracia. O impasse se aprofunda, pois nem Allende consegue maioria para

aprovar as reformas, nem a oposição consegue os dois terços necessários para derrubá-lo,

inviabilizando o “golpe branco” intentado pelos setores da oposição. Eduardo Frei, o primeiro na

sucessão presidencial em caso de impeachement, por ser o presidente do Congresso, após o fracasso

do plano é substituído no partido por Patricio Alwin, que passa a ser o secretário geral e articula junto 26às Forças Armadas a deposição de Allende .

Os preparativos para o golpe já estavam adiantados quando um grupo mais radical de oficiais

lançou-se precipitadamente, em julho de 1973, em uma tentativa de golpe, cercando o Palácio e 27exigindo a renúncia de Allende, episódio que ficou conhecido como “Tancazo” . Como ainda as

articulações não estavam finalizadas a revolta pôde ser sufocada rapidamente com a intervenção do

ministro das Forças Armadas Carlos Prats, fiel a Allende.

Setores da Marinha e da Força Aérea preparavam o golpe liderado pelo vice-almirante José

Merino e pelo general Gustavo Leigh. Em 21 de agosto de 1973 o Comandante Chefe das Forças

Armadas, Carlos Prats, renuncia ao posto e, em seu lugar assume Augusto Pinochet, tido como leal e

apolítico, mas que logo cerraria fileiras ao lado dos golpistas.

Objetivando barrar o golpe de estado que se avizinhava, desagradando facções mais radicais

do governo, Allende articula a realização de um plebiscito que, como tudo sinalizava, o governo

perderia e seria obrigado a entregar o cargo a Frei, presidente do senado.

“Confessando a derrota de seu governo, Allende se propunha a abandoná-lo, evitando o

golpe militar pela entrega do mando à DC, na esperança que ela se desvinculasse assim dos

planos golpistas. Allende pretendia anunciar o plebiscito na terça-feira, 11 de setembro de

1973, por uma cadeia de rádio e televisão. Mas um erro de avaliação fez com que Allende

consultasse Pinochet sobre seu discurso, o que o levou a antecipar a data do golpe para

aquela mesma terça-feira de manhã, bloqueando assim a manobra de Allende”. SADER,

1991, p. 65.

Em 10 de setembro, navios da marinha zarpam para participar de exercícios militares, mas

regressam a Valparaíso na manhã seguinte e dão início ao golpe tomando a cidade.

Allende é noticiado do início do golpe por volta das sete da manhã e dirige-se ao La Moneda

com um grupo de partidários. Às 8h42, as rádios transmitem a primeira mensagem da Junta Militar

exigindo a imediata renúncia do presidente sob ameaça de que, caso isto não ocorresse o La Moneda

seria bombardeado.

26 SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 62.

27SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 74.

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Allende recusa-se a acatar o ultimato golpista e resolve continuar no Palácio e faz seu último

pronunciamento:

“Seguramente ésta será la última oportunidad en que pueda dirigirme a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las torres de Radio Postales y Radio Corporación. Mis palabras no tienen amargura sino decepción Que sean ellas el castigo moral para los que han traicionado el juramento que hicieron: soldados de Chile, comandantes en jefe titulares, el almirante Merino, que se ha autodesignado comandante de la Armada, más el señor Mendoza, general rastrero que sólo ayer manifestara su fidelidad y lealtad al Gobierno, y que también se ha autodenominado Director General de carabineros. Ante estos hechos sólo me cabe decir a los trabajadores: ¡Yo no voy a renunciar! Colocado en un tránsito histórico, pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Y les digo que tengo la certeza de que la semilla que hemos entregado a la conciencia digna de miles y miles de chilenos, no podrá ser segada definitivamente. Tienen la fuerza, podrán avasallarnos, pero no se detienen los procesos sociales ni con el crimen ni con la fuerza. La historia es nuestra y la hacen los pueblos.

Trabajadores de mi Patria: quiero agradecerles la lealtad que siempre tuvieron, la confianza que depositaron en un hombre que sólo fue intérprete de grandes anhelos de justicia, que empeñó su palabra en que respetaría la Constitución y la ley, y así lo hizo. En este momento definitivo, el último en que yo pueda dirigirme a ustedes, quiero que aprovechen la lección: el capital foráneo, el imperialismo, unidos a la reacción, creó el clima para que las Fuerzas Armadas rompieran su tradición, la que les enseñara el general Schneider y reafirmara el comandante Araya, víctimas del mismo sector social que hoy estará en sus casas esperando con mano ajena reconquistar el poder para seguir defendiendo sus granjerías y sus privilegios.

Me dirijo, sobre todo, a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros, a la abuela que trabajó más, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños. Me dirijo a los profesionales de la Patria, a los profesionales patriotas que siguieron trabajando contra la sedición auspiciada por los colegios profesionales, colegios de clases para defender también las ventajas de una sociedad capitalista de unos pocos.

Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron y entregaron su alegría y su espíritu de lucha. Me dirijo al hombre de Chile, al obrero, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos, porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente; en los atentados terroristas, volando los puentes, cortando las vías férreas, destruyendo lo oleoductos y los gaseoductos, frente al silencio de quienes tenían la obligación de proceder. Estaban comprometidos. La historia los juzgará.

Seguramente Radio Magallanes será acallada y el metal tranquilo de mi voz ya no llegará a ustedes. No importa. La seguirán oyendo. Siempre estaré junto a ustedes. Por lo menos mi recuerdo será el de un hombre digno que fue leal con la Patria. El pueblo debe defenderse, pero no sacrificarse. El pueblo no debe dejarse arrasar ni acribillar, pero tampoco puede humillarse.

Trabajadores de mi Patria, tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo en el que la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor.

¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!

Estas son mis últimas palabras y tengo la certeza de que mi sacrificio no será en vano, tengo la certeza de que, por lo menos, será una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición”.

Salvador Allende, 11 de setembro de 1973, 09h10. Áudio e texto disponível em:http://www.ciudadseva.com/textos/otros/ultimodi.htm; acesso em 17/09/2009, 11h22.

Aviões da Força Aérea bombardeiam o La Moneda às 11h52 e, às 14 horas, os portões são

derrubados pelo exército que toma o Palácio. Allende ordena a evacuação, mas recusa-se a se render

e, segundo o testemunho de seu médico pessoal, suicida-se com uma rajada de metralhadora.

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2.12. Os Anos de Chumbo

Reunidos na Escola Militar os golpistas formam a Junta Militar que governará o país e

decretam estado de guerra e de sítio. Pelo estado de guerra, não previsto na Constituição de 1925 que

ainda vigorava, qualquer pessoa poderia ser detida ou mesmo sumariamente executada em qualquer

lugar e sem a menor explicação. Era a institucionalização da barbárie pura e simplesmente.

O Decreto Lei nº 1, de 11 de setembro de 1973 dava posse a Augusto Pinochet na presidência

da Junta de Governo que, a partir daí, passa a governar por Decretos. Em 27 de julho Pinochet

assume como “Chefe Supremo da Nação” em virtude do Decreto Lei Nº 527 e, em 17 de dezembro,

por força do Decreto Lei Nº 806, o cargo volta a ser o de Presidente da República. O Congresso é

fechado em 21 de setembro e o governo militar assume as funções legislativas.

A repressão e as perseguições políticas vitimam grande parte dos líderes do antigo governo

da Unidade Popular e líderes dos partidos de esquerda. O Estádio do Chile, o Estádio Nacional de

Santiago, Villa Grimaldi, Quatro Álamos são transformados em campos de detenção e tortura, a

exemplo de vários outros locais por todo o país. Durante a implantação do governo militar mais de 3

mil pessoas foram assassinadas pelos órgãos de repressão. O general Bachelet, pai da atual

presidente, o cantor Victor Jara, o advogado e ministro José Tohá são figuras eminentes que

perderam a vida assassinados pelos órgãos de repressão da ditadura. Mais de 300 mil pessoas foram

detidas e mais de 35 mil pessoas foram barbaramente torturadas. Muitos procuraram o exílio, mas

foram brutalmente assassinados em atentados no exterior, como o general Carlos Prats na Argentina

e Orlando Letelier, em Washington, fato que faz com que o governo Carter passasse a fazer junto a

organismos internacionais duras críticas à ausência de liberdades democráticas no Chile.

A ditadura militar brasileira apoia o golpe e envia ao Chile o delegado do DOPS

(Departamento de Ordem Política e Social), Sérgio Paranhos Fleury, e o capitão do DOI-Codi

(Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), Enio

Pimentel Silveira, conhecido nos porões do regime como doutor Nei, como “professores” de tortura 28para ensinarem os militares chilenos .

Como ressalta Sader, a participação dos militares brasileiros tanto na preparação do golpe

como na repressão que se seguiu foi marcante.

“As articulações golpistas já haviam contado com ativa participação de autoridades

brasileiras. Sergio Paranhos Fleury, conhecido chefe policial brasileiro, havia estado

várias vezes no Chile em busca de brasileiros exilados, de informações e transferido

“tecnologias” repressivas. No dia do golpe militar o embaixador brasileiro no Chile não

pôde conter-se e afirmou: Ganhamos!” SADER, 1991, P. 68.

28 Depoimento de Ivan Seixas, diretor do Fórum de Ex Presos e Perseguidos Políticos e membro do Núcleo Memória:

disponível em: http://www.flb-ap.org.br/index.php?pagina=conteudo&&id=289&tipo=Artigos&bloco=off ou ainda

em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp111120032.htm

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Os meios de comunicação são postos sob ferrenha censura e muitos deles são expropriados,

invadidos e vários jornais são incendiados. Os que, financiados pela CIA, se colocaram a favor dos

golpistas – como o El Mercurio –, cumprem então papel de porta voz da Junta Militar.

No plano econômico os militares colocarão em prática a receita neoliberal de cunho

monetarista preconizadas pelo economista americano, professor da Universidade de Chicago,

Milton Friedman, reduzindo gastos públicos a partir do corte de investimentos e do enxugamento da

máquina administrativa por meio da redução drástica de postos de trabalho no setor público,

aumentando impostos e arrochando salários. Como consequência das medidas adotadas, a

economia chilena entra em uma grave recessão. As exportações caem drasticamente e o desemprego

atinge a casa dos 17% da população economicamente ativa, como ressalta Loureiro.O resultado dessa política liberalizante logo se tornou visível. O PIB chileno apresentou

queda superior a 12% no interregno 1973-1975. Destaque, nesse sentido, foi a depressão

sofrida pelo ramo fabril, cuja produção física sofreu decréscimo de 30%. Não há dúvida de

que a brusca abertura comercial realizada pelo regime militar, facilitando a entrada de

produtos manufaturados estrangeiros, foi a grande responsável pelo o que muitos estudiosos

caracterizaram como processo de “desindustrialização” doméstico. O fechamento de

inúmeras empresas fez o desemprego ascender a proporções alarmantes. Em 1973, apenas

5% dos chilenos não possuíam trabalho. Dois anos depois, tal porcentagem mais do que

dobrou (17%).

LOUREIRO, Felipe. Chile: sucesso ou fracasso neoliberal? (1973-2000), p.5.

http://nepheusp.googlepages.com/Chilesucessooufracassoneoliberal.pdf

A partir do ano de 1977 e até 1981, beneficiada pela abundância de capitais em nível

internacional e pela alta dos preços do cobre no mercado exportador, a economia chilena vai

conhecer um período de crescimento acelerado, período que ficou conhecido como o dos “milagres

econômicos” das ditaduras latino-americanas, visto que, na época, muitos países latino-americanos 29foram tomados de assalto por ditaduras militares apoiadas pelos Estados Unidos, e que seguiam a

mesma receita neoliberal.

Segundo Loureiro o economista Milton Friedman, expoente máximo da conhecida Escola

(neoliberal) de Chicago, chegou a afirmar para uma televisão sueca no ano de 1979 que o Chile se

converteria no “milagre econômico da década de 1980”. LOUREIRO, p. 8.

A Operação Condor, arquitetada pelo chileno Manuel Contreras, na época chefe do DINA –

Dirección de Inteligencia Nacional –, praticava terrorismo de estado com apoio da CIA, em

conjunto com outras ditaduras, em todos os países do Cone Sul, assassinando lideres da oposição e

até mesmo ex-presidentes.

29 Haiti, com Papa Doc e seu filho, Baby Doc, Argentina com Rafael Videla e Leopoldo Galtieri; Paraguai com Alfredo

Strossner e o Brasil com Castelo Branco, Costa e Silva, Medici, Geisel e Figueiredo.

36

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Para dar ares de legitimidade a seu governo, Pinochet convoca um plebiscito em 1978 em

que, segundo o governo, votaram quase 5 milhões de chilenos e o SIM ganhou na proporção de 4

para 1 eleitor. É importante ressaltar que não existiam os registros eleitorais que pudessem dar

legitimidade aos resultados declarados pelo governo e o processo apresentou várias 30irregularidades . As pressões internacionais contra a violação dos direitos humanos no Chile se

avolumam e Pinochet, por meio do Decreto Lei Nº 2.191 concede anistia a todos os que haviam

cometido delitos desde o golpe como autores, cúmplices ou encobridores. A medida objetivava

claramente colocar a salvo da Lei assassinos e torturadores a serviço do estado de exceção. A

imprensa, por sua vez, passa a revelar o destino dos primeiros desaparecidos.

2.13. O Ocaso da Ditadura Militar

O personalismo de Pinochet, os reflexos do modelo econômico adotado e as práticas

terroristas adotadas pelo Estado chileno produzem racha no grupo golpista; assim é que o

comandante da Força Aérea chilena, Gustavo Leigh, principal articulador do golpe de estado, faz

duras críticas em entrevista ao jornalista Paolo Bugialli, publicada em julho de 1978 no periódico

italiano Corriere della Sera, com repercussão na imprensa internacional, e diante da recusa em se

retratar das declarações feitas é substituído por Fernando Matthei. Na entrevista Leigh defende o

retorno do país à normalidade democrática por meio da regulamentação dos partidos, da restauração

dos registros eleitorais que haviam sido destruídos, da elaboração de leis que regulamentassem

eleições livres e uma nova Constituição que seria submetida a um referendo. Faz também duras

criticas ao desaparecimento de presos políticos e ao assassinato de Letelier.

General, tengo la impresión de que la imagen internacional de Chile jamás estuvo tan baja

como ahora. ¿Cuáles piensa que podrían ser las medidas a tomar para mejorarla?

Creo que el mejoramiento de la imagen no debe partir de acciones externas, sino del interior

mismo de Chile. Aquí falta un itinerario, y que se lo respetase. Nos daría más oxígeno. Es ya

tarde, pero es necesario de todas maneras hacer un programa para el retorno a la

normalidad, indicando tiempos y modo, todo. Yo, personalmente, pienso que no es posible un

traspaso rápido al poder civil. Yo vería todavía cinco años de poder militar, pero cinco años

utilizados para desarrollar un preciso programa que resumiría en cuatro puntos:

Primero: un estatuto que regule la vida de los partidos políticos, a fin de que no vuelvan a

caer en las degeneraciones de antes, cuando eran agencias de colocación, dedicados a los

negocios, recibían dinero y no se sabía ni de dónde ni por qué.

Segundo: la restauración de los registros electorales, que han sido destruidos. Creo que sólo

este trabajo llevará tres años de tiempo.

30 "Nosotros ya teníamos dos experiencias anteriores - en 1978 y 1980 - donde claramente hubo fraude: había pueblos

con más electores que habitantes. Mundialmente, además, no había ningún dictador que hubiera perdido un plebiscito”.

Declaração do senador Ruiz Esquide. http://diario.elmercurio.cl/detalle/index.asp?id={d7cfd411-22a1-4f7f-ab74-

03212cb1d520}acesso em 12-11-09 17h20

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Page 38: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Tercero: una ley general que regule elecciones libres.

Y cuarto: un texto constitucional para someter a referéndum. En la elaboración del texto

constitucional debieran participar también personalidades civiles (...)

Debo ahora llamarlo a afrontar un tema difícil. Las investigaciones de la justicia

norteamericana sobre el asesinato de Letelier...

Es un problema muy delicado. Yo no puedo imaginar una posible implicación de Chile. Yo

condeno vigorosamente aquel crimen, yo condeno el crimen contra cualquier hombre, así

como condeno la tortura. No puedo creer que organismos chilenos estén implicados en el

sucio caso. Pero si resultase responsabilidad del gobierno, sería muy delicado, muy difícil...

yo no podría aceptar una responsabilidad directa o indirecta de organismos del país.

¿Significa que usted reconsideraría su posición en el ámbito de la Junta Militar?

Significa exactamente esto. Yo reconsideraría muy seriamente mi posición.

Una última pregunta, delicada. Respecto a los "desaparecidos".

Es necesario pensar en los días de virtual guerra civil; en la gente que tenía documentos

falsos, que tal vez ha sido sepultada bajo nombre falso. Yo comprendo la situación terrible de

quien tiene alguna persona querida desaparecida. Pero pienso que lo único que pueden

hacer es dirigirse a los Tribunales, que en nuestro país son serios, independientes. El

gobierno declara no saber nada de los desaparecidos. Cualquier gobierno, si supiese algo

sobre un tema tan delicado y no lo dijese, sería un gobierno de desvergonzados. La única

cosa posible es afrontar el problema por la vía jurídica. (Revista Hoy)

http://es.wikipedia.org/wiki/Gustavo_Leigh#cite_ref-0. Acesso em 21/08/2009 21h18.

A partir de 1980 a crise internacional se faz sentir nos países periféricos devido à escassez de

capitais que, no período anterior possibilitaram os “milagres econômicos” das ditaduras latino-

americanas como ressalta Loureiro.

“A euforia do “milagre chileno”, porém, manter-se-ia grande enquanto os fluxos de capitais

internacionais continuassem a migrar em quantidades consideráveis para a periferia do

sistema capitalista. Sabe-se, entretanto, que tais condições deixaram de acontecer no

começo da década de 1980. Com isso, como se verá a seguir, o “milagre” neoliberal

esfacelou-se com enorme facilidade”. LOUREIRO, 2006, p. 10.

Já em meio à crise econômica, em 11 de março de 1981, o Chile teria uma nova Constituição

e, embora não tenha sido outorgada, não foi obra de uma Constituinte, e o referendo que a aprovou

teve os mesmos vícios do plebiscito feito anos antes. Sua elaboração esteve a cargo de uma comissão

que elaborou um primeiro projeto que foi enviado em outubro de 1978 ao Conselho de Estado

presidido por Jorge Alessandri, que, após dois anos e várias modificações, entrega o projeto da nova

Constituição à apreciação da Junta Militar, que nomeia um grupo de trabalho para efetuar a revisão

final. Após um mês, e tendo realizado novas modificações, este grupo a remete novamente à Junta

Militar que a aprova, marcando um referendo popular sem que os registros eleitorais fossem abertos.

Ao final do processo a Junta informa a aprovação da nova Constituição por 68,95% dos votos. A

nova carta prorrogava o mandato do ditador por mais oito anos.

No mesmo ano os sintomas de uma nova crise econômica começavam a serem sentidos.

Embalado pela nova crise mundial o país entra em recessão, a produção sofre brusca retração, a

quebradeira é geral e até mesmo os dois dos maiores grupos econômicos do país vão à bancarrota. O

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Page 39: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

preço do cobre despenca e a balança comercial apresenta déficit da ordem de 20%. O desemprego

atinge cifras alarmantes e, em 1983, 40% dos jovens estavam desempregados, como ressalta Sader.

“Do exterior chegaram os efeitos tormentosos da crise internacional do começo dos anos

80, que pegou a economia chilena particularmente desprevenida, dada a sua total abertura

ao exterior, imposta pelo esquema neoliberal. Somente em 1982 a produção caiu 19,4%, e

em fevereiro de 1983 os índices econômicos haviam retrocedido em 30% em relação ao que

eram no final de 1981... Sucederam-se as quebradeiras não apenas de pequenas e médias

empresas, mas os dois principais grupos econômicos do país também foram levados de

roldão, sofrendo intervenção governamental diante de sua falência. O desemprego atingiu a

um terço da força de trabalho, e 40% dos jovens encontravam-se sem emprego. SADER,

1991, p. 73-74.

A pressão inflacionária e o desemprego crescente fazem surgir as primeiras manifestações

pacíficas contra a política econômica do governo, mas são reprimidas com violência pelo exército.

O estado de sítio é novamente decretado e ressurgem as organizações armadas de esquerda, como a

Frente Patriótica Manuel Rodriguez que, em 27 de dezembro de 1986, atenta contra a vida de 31Pinochet. O malogro da operação armada dá início a uma forte onda de repressão .

No ano anterior, fruto das manifestações populares de protesto contra o regime, a Junta

Militar aproxima-se da Aliança Democrática, frente formada por democratas cristãos e socialistas

moderados e, a partir da intervenção do Cardeal Francisco Fresno, é firmado, em agosto de 1985, o

“Acordo Nacional para a Transição à Plena Democracia”, encarado por setores das forças armadas e

pela esquerda radical com ceticismo.

Neste mesmo ano o país foi novamente sacudido por um terremoto de grandes proporções

causando grandes estragos em Santiago, Valparaíso e San Antonio. No cenário econômico o país

recuperava-se e estava em curso o “segundo milagre” produzido a partir do modelo neoliberal e à

custa da privatização de grandes empresas como a LAN Chile, Entel e outras.

Como desmembramento do acordo firmado entre a Aliança Democrática e os militares, é

promulgado em 1987 a Lei Orgânica dos Partidos Políticos, que abria a possibilidade de formação

de agremiações partidárias, e a Lei Orgânica Constitucional, que disciplinava o sistema de

inscrições eleitorais e permitia a abertura dos registros eleitorais. Desta forma, abria-se uma brecha

para o cumprimento do preceito constitucional contido na carta de 1980, que previa a realização de

um plebiscito para ratificar a escolha do presidente da república, por um período de oito anos, do

candidato escolhido pelos Comandantes chefes das Forças Armadas e pelo General Diretor dos

Carabineiros. No caso de o resultado ser adverso o mandato de Pinochet seria prorrogado por um ano

e seriam convocadas eleições para presidente e para o Parlamento. Como ressalta Sader, “Pinochet

chamou ao plebiscito previsto pela Constituição que havia feito aprovar em 1980, confiante em que

o propalado sucesso econômico de seu governo o levaria a nova vitória. Mas os tempos haviam

mudado”. SADER, 1991, P. 75.

31 SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 75.

39

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No ano seguinte os Comandantes Chefes das Forças Armadas e o General Diretor dos

Carabineiros, escolhem como candidato Pinochet e, como determinava a Constituição, é marcado

um referendo para 5 de outubro. A candidatura Pinochet era apoiada pelo Partido da Renovação

Nacional, pela União Democrata Independente e vários pequenos partidos. Para defender o “Não” a

oposição criou a “Concertación de Partidos”, que agrupava a Democracia Cristã, o Partido Pela

Democracia, algumas facções do Partido Socialista e vários pequenos partidos, todos de oposição.

Em 5 de setembro, um mês antes do plebiscito, inicia-se a propaganda eleitoral após 15 anos

de ditadura. Os partidários do “Não” fazem uma campanha procurando mostrar um futuro otimista e

promissor, enquanto que os partidários da permanência de Pinochet no cargo optam por fazer uma

campanha alardeando o medo do retorno da Unidade Popular em caso de derrota. Apurados os votos,

o “Não” vence com 55,99% e o “Sim” obtém 44,01%.

Apesar de o silêncio inicial de Pinochet transparecer a intenção de não reconhecer o

resultado das urnas, acaba por fazê-lo e declara a intenção de cumprir a Constituição. Com o

reconhecimento do resultado do plebiscito são marcadas eleições para 14 de dezembro de 1989 e

apresentam-se como candidatos, Patrício Aylwin, pela Concertación, Hernán Büchi, como

candidato da situação e Francisco Javier Errázuriz, como candidato independente. Aylwin vence o

pleito com 55,17% dos votos.

A era Pinochet finalmente chegava ao fim. Durante mas de 17 anos de ditadura Pinochet,

seus familiares e apadrinhados acumularam fortunas surrupiadas do tesouro chileno, como

constatou uma investigação do Senado americano que conseguiu rastrear mais de 125 contas 32secretas milionárias no Banco Riggs abertas entre 1980 e 2004 .

2.14. A Redemocratização e a Hegemonia da Concertación

Após mais de 17 anos de ditadura militar Patricio Aylwin reinaugura o período de transição democrática no Chile e da hegemonia da Concertación, assumindo o mandato em 11 de março de 1990.

É bom lembrar que Aylwin foi um dos principais responsáveis dentro da Democracia Cristã

pela articulação do golpe de estado que culminou com a deposição e morte do presidente Salvador

Allende em setembro de 1973. Pinochet transfere a faixa presidencial, mas faz-se nomear

comandante-em-chefe das Forças Armadas chilenas com um mandato de 8 anos, assegurando, dessa 33forma, a tutela sobre o sistema político .

32

33 SADER, Emir – Op. Cit.1991, p. 80.

“A mediados de 2004, una investigación del Senado norteamericano arrojó que Augusto Pinochet tenía cuentas

secretas en el Banco Riggs, y que estas llegaban a las 125, en las que se depositó la suma estimada de 27 millones de

dólares, con evasión tributaria desde 1980 a 2004. La justicia chilena dejó el caso en manos del juez Sergio Muñoz que

planteó la existencia de los delitos falsificación de pasaportes y fraude al fisco, entre otros. En septiembre de 2005

Pinochet reconoció “toda responsabilidad” por las cuentas en el Riggs”. http://www.museodeprensa.cl/2004/caso-riggs.

Acesso em 22-11-2009 11h27.

40

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Embora a Concertación tenha obtido a maioria das cadeiras para o parlamento, o sistema

bicameral e a existência de senadores nomeados impediram-no de levar adiante reformas na

Constituição que levassem ao desmonte dos ranços ditatoriais.

Nas administrações locais, conhecidas como comunas, o governo estava ainda nas mãos de

pessoas nomeadas pelo governo militar, que só foram substituídas dois anos depois, na eleição de

1992, e Pinochet ainda detinha poder e prestígio nas Forças Armadas, mantendo-se como

comandante-em-chefe. O exército seguia tendo importante força política e, embora estivesse fora do

governo, pressionou contra algumas medidas adotadas pelo presidente.

Diante desse quadro Aylwin procurou dar passos seguros na construção da democracia.

Atendendo às pressões dos familiares de desaparecidos durante a ditadura, criou a Comissão

Nacional de Verdade e Reconciliação, que teve como missão investigar a violação dos direitos

humanos durante o período do regime militar. Embora as forças armadas tenham manifestado sua

desaprovação à criação da comissão os trabalhos seguiram adiante e, em março de 1991, Aywin leva

a conhecimento da população, por meio de pronunciamento em rede nacional de televisão, informes

sobre as investigações, anunciando medidas reparadoras morais e materiais às famílias das vítimas

e, em nome da Nação, pede perdão pelas atrocidades cometidas.

Visando minimizar a absoluta pobreza que atingia perto de 40% da população no início de

seu mandato, Aylwin dará prioridade à implantação de políticas sociais e, para geri-las, cria o Fundo

de Solidariedade e Inversão Social. O país experimentava um momento de crescimento econômico

advindo do aumento das exportações do cobre e de produtos agrícolas, e aproveitando-se do bom

momento econômico, propõe mudanças na cobrança de impostos, o que possibilitou o aumento da

arrecadação necessária para implantar políticas de redistribuição de renda. Ao final de seu governo a

pobreza havia diminuído para 27,5%.

No ano de 1993 foram realizadas novas eleições para presidente da República, para a Câmara

dos deputados e metade do Senado. A Democracia Cristã em ascensão elege seu candidato, Eduardo

Frei Ruiz-Tagle, filho de Eduardo Frei Montalva, também Democrata Cristão, com mais de 58% dos

votos, o maior índice alcançado nas urnas até então, contra somente 24% alcançado pelo candidato

da direita da coligação União Pelo Progresso.

Durante os primeiros anos do governo do democrata cristão Eduardo Frei, o Chile acelera

seu desenvolvimento econômico atingindo taxas de 8% ao ano. A abertura de novos mercados

internacionais na Ásia a partir da entrada do país na APEC – Asia-Pacific Economic Cooperation –,

concorre para o aumento da atividade econômica. A integração do país ao Nafta e ao Mercosul

aumenta as exportações para Estados Unidos, Canadá, México e demais países latino-americanos

O governo investe pesado na construção de modernas rodovias visando facilitar o

escoamento da produção. Todavia, a partir do final de 1995 o país irá sofrer várias catástrofes

climáticas, como a seca de 1996, seguida das grandes enchentes do ano seguinte e do terremoto de

1997, causando novo período de estagnação econômica, impondo desgaste ao governo Frei.

.

41

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Em Londres, no dia 16 de outubro de 1998, o general Pinochet é preso pela Scotland Yard,

obedecendo pedido de busca e apreensão internacional expedido pelo juiz espanhol Baltazar

Garzón, por acusação de crimes de genocídio, terrorismo e tortura praticados contra cidadãos

espanhóis na época da ditadura militar. Na ocasião, Pinochet era senador vitalício e sequer havia sido

julgado por seus crimes, o que abre ondas de manifestações no Chile, organizada por partidos de

direita, em apoio ao ex-ditador. Durante sua prisão domiciliar em Londres, Pinochet foi visitado pela

então primeira ministra britânica, Margaret Thatcher, que o chamou de “um amigo que ajudou a

combater o comunismo”. Após 503 dias de prisão domiciliar, Pinochet é extraditado para o Chile,

após a constatação médica de seu grave estado de saúde, que o declarara mentalmente incapacitado

para enfrentar um julgamento e, devido a isso, tem de renunciar ao cargo de senador vitalício. Em 10

de dezembro de 2006, às 14h15, Pinochet vem a falecer sem nem mesmo ir a julgamento por seus

crimes.

As manifestações em apoio ao ex-ditador Pinochet, preso em Londres, organizadas pelos

partidos de direita, fizeram emergir a figura do prefeito da comuna de Las Condes, Joaquín Lavín,

como alternativa à candidatura do socialista Ricardo Lagos, um dos principais líderes da

Concertación na época do plebiscito. Lagos era ministro de Obras Públicas do governo Frei e, nas

eleições anteriores, já havia apresentado seu nome como pré-candidato à Presidência sem sucesso.

No primeiro turno das eleições presidenciais de 12 de dezembro de 1999, parcela

significativa do eleitorado chileno, temeroso em ver se repetir a experiência do governo socialista de

Allende, opta por descarregar votos em Lavín. Já outra parcela significativa do eleitorado temerosa

em assistir a vitória da direita abandona a candidatura do democrata cristão Andrés Zaldivar e

descarrega votos em Lagos, que termina o primeiro turno na frente com margem estreita de cerca de

30 mil votos.

Em 16 de janeiro de 2000, Lagos é eleito com 51,3% dos votos graças à estratégia de

reconquistar eleitores de centro, perdidos no primeiro turno para Lavín, organizada pela nova

coordenadora de campanha e ex-ministra da Justiça de Frei, Soledad Alvear.

Ao assumir o governo, em 11 de março de 2000, Lagos terá como desafio dar solução às altas

taxas de desemprego, à recessão econômica por que passava o país e à crise no sistema de saúde.

Buscando enfrentar a crise, sem sucesso, o governo adentra o ano de 2001 sob intensa pressão das

oposições e dos meios de comunicação que denunciam o envolvimento de funcionários do

Ministério de Obras Públicas em atos de corrupção.

O desgaste da Concertación se torna patente com o resultado das eleições parlamentares

realizadas no final de 2001, nas quais a Aliança pelo Chile consegue agora conquistar grande

número de cadeiras, produzindo um equilíbrio de forças no Congresso. Em meados de 2003 a

economia chilena dá sinais de recuperação, atingindo um crescimento do PIB da ordem de 4%, fruto

da conclusão dos acordos comerciais firmado com União Europeia, Estados Unidos e Coreia do Sul,

capitaneados pela ministra Soledad Alvear, incrementando novamente as exportações.

42

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O ingresso do Chile no Conselho de Segurança das Nações Unidas, à época em que o

governo Bush manifestava a intenção de invadir militarmente o Irã, causa o incidente das escutas

telefônicas de funcionários do governo Lagos pela CIA, que pressionava para que o Chile votasse

favoravelmente à ação militar. A espionagem americana foi denunciada pelo jornal britânico The 34Observer, e teve repercussão no Chile pelo jornal El Mercurio em 5 de março de 2003 . O governo

Lagos, em sintonia com a opinião pública chilena, posiciona-se no Conselho contra a aventura

militar americana.

No ano de 2004 a Bolívia volta a pressionar o Chile, por meio do então presidente Carlos

Mesa, que exigia a devolução dos territórios anexados no final do século XIX, o que possibilitaria

ao país uma saída para o mar. A firmeza de posições de Lagos na defesa dos interesses nacionais e a

recuperação econômica repercutem positivamente junto à opinião pública e a aprovação de seu

governo volta a crescer, atingindo índices em torno de 65%. Contribuem para a popularidade do

governo a ação de duas ministras de Lagos, Soledad Alvear, ministra das Relações Exteriores, e

Michelle Bachelet, que num primeiro momento assume a pasta da Saúde, mas a seguir passa para o

Ministério da Defesa Nacional; sua atuação no Ministério garantirá sua indicação como candidata

oficial nas eleições presidenciais em 2006.

Ao mesmo tempo em que o governo Lagos desfruta de bons índices de aceitação, a direita,

cerrando fileiras na Aliança pelo Chile, sofre pesado desgaste devido ao escândalo da descoberta de 35uma rede de pedofilia no Chile, conhecido como Caso Spiniak , em que políticos da direita estariam

envolvidos. O resultado das eleições municipais de 2004 reflete o quadro e a Concertación obtém

uma margem de 10% de vantagem sobre a Aliança pelo Chile na eleição dos Conselheiros.

Com a popularidade em alta, tanto Bachelet como Alvear venceriam Lavin facilmente.

Diante deste quadro, a direita tenta se rearticular em torno do nome de Sebastián Piñera, um rico

empresário chileno, que é apresentado como candidato pela Renovação Nacional.

A mudança no cenário eleitoral faz a candidatura Bachelet, até então franca favorita à vitória

em primeiro turno, perder terreno e, aos poucos, a soma dos votos de Lavin e Piñera ultrapassa os da

candidata da Concertación. Ao final do primeiro turno Bachelet obtém 45,95%, contra 25,41% de

Piñera, 23,22% de Lavín e 5,4% conseguidos pelo candidato da esquerda radical, Tomás Hirsch. No

segundo turno Bachelet enfrenta Piñera, em 15 de janeiro de 2006 e consegue a vitória com 53,49%

dos votos.

Michelle Bachelet, médica pediatra e epidemiologista, assumiu a presidência do Chile no dia

11 de março de 2006, convertendo-se na primeira mulher a assumir a presidência do país e na

primeira mulher a ser eleita presidente na América Latina.

Segundo informações da France Press, com repercussão no jornal Folha de S. Paulo, no dia

de sua posse, acompanhada pela mãe e por seus três filhos, Michelle teve seu primeiro contato direto

34

35 http://www.emol.com/noticias/nacional/detalle/detallenoticias.asp?idnoticia=227733. Acesso em 21-10-2009 19h06.

http://www.emol.com/noticias/nacional/detalle/detallenoticias.asp?idnoticia=106133. Acesso em 21-10-2009 18h31.

43

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com os cidadãos da capital Santiago em um emotivo discurso no Palácio de La Moneda, onde

recordou seu pai e vários ex-presidentes, desde o conservador Jorge Alessandri ao socialista

Salvador Allende, omitindo Pinochet e arrancando acalorados aplausos.

Filha do militar constitucionalista Alberto Bachelet, preso em 1973, e torturado, veio a

falecer na prisão em 1974, há exatos 32 anos de sua posse, segundo as autoridades de ataque

cardíaco. Bachelet recordou passagens do golpe militar, quando também foi presa com sua mãe, a

arqueóloga Ángela Jeria, pela DINA (Dirección de Inteligencia Nacional), polícia secreta da

ditadura, em 1975, quando foram torturadas e forçadas a partir para o exílio. Ainda segundo a

reportagem, os maiores aplausos foram para Salvador Allende, que se suicidou no La Moneda

durante o golpe de 1973, e para Lagos, que deixava o governo com índices de popularidade na casa

dos 61%, índices até então sem precedentes para um governante chileno em final de mandato, só

superado pela sua sucessora.

Ao assumir o governo, a presidente montou um gabinete de 20 ministros repartindo cargos

entre homens e mulheres igualmente, fato nunca ousado em nenhum governo. Seus primeiros meses

de mandato são tumultuados, pois teve de enfrentar enormes manifestações estudantis em todo o

país por uma reforma educacional e, logo a seguir, modificações desastrosas iniciadas no governo

Lagos no setor de transportes trouxeram caos e descontentamento aos usuários do transporte

público, a ponto dela ser retratada em charges pelos órgãos de comunicação impressa como um

ônibus indo em direção a um penhasco.

Restando pouco mais de quatro meses para concluir seu mandato Bachelet ostentava índices

de aprovação superior a 76%, segundo apurado pelo instituto Adimark GFK, em setembro de 2009,

graças a seu ousado programa de proteção social voltado às mulheres e crianças, à reforma

previdenciária e aos bons frutos de sua política econômica que, apesar da crise econômica mundial,

colocou o Chile, ao lado do Brasil, em uma posição privilegiada, com a perspectiva de crescimento

do PIB chileno da ordem de 5%. Em meio à crise o governo Bachelet criou um programa de ajuda em

dinheiro no valor de 60 dólares para mais de 2 milhões de chilenos em situação de vulnerabilidade

econômica. Para se ter uma idéia da abrangência deste programa, convém ressaltar que o Chile tem

hoje população total de cerca de 15 milhões de habitantes.

Como no Chile não há reeleição imediata, concorreram em 2009 quatro candidatos: o

engenheiro democrata cristão, Eduardo Frei Tagle, pela Coligação Para a Democracia ou

Concertación, composta por democratas cristãos, sociais-democratas, radicais e socialistas; o

economista e empresário Sebastián Piñera, pela Coligação Aliança pelo Chile, de centro-direita,

composta por conservadores e liberais; o filósofo e cineasta Marco Ominami, pela Coligação Nova

Maioria para o Chile, composta por ecologistas e humanistas; e Jorge Arrate, pela Coligação Juntos

Podemos Mais, composta por comunistas e outras forças de esquerda.

44

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2.15. O atual sistema político e o sistema eleitoral

Desde os primeiros textos constitucionais produzidos no Chile, em 1811, pela Junta

Provisória encabeçada por Mateo de Toro Y Zambrano, que estabelecia um governo formado por

três membros e um congresso unicameral, as inúmeras Constituições e reformas que se sucederam

foram transformando o sistema político.

Com a Constituição de 1828 o país passa a ser governado por um presidente eleito em

votação indireta e é firmada a independência entre os três poderes do Estado. O Poder Legislativo

passa a ser bicameral e passa a nomear ministros da Suprema Corte de Justiça e a elaborar a peça

orçamentária do governo federal, dentre outras atribuições.

Somente a partir da Constituição de 1925, aprovada por plebiscito nacional durante o

governo de Alessandri é que a escolha do presidente passa a ser por eleição direta e o mandato é

ampliado de cinco para seis anos. O Estado é separado da Igreja e é garantida a liberdade de culto e de

consciência, são asseguradas as garantias individuais e é criado o Tribunal Qualificador de Eleições

para organizar e fiscalizar pleitos.

No que se refere ao direito de voto às mulheres, só foi conquistado em 1934 para as eleições

municipais e em 1949 para as eleições federais.

Durante o governo de Eduardo Frei Montalva são introduzidas modificações importantes,

como a limitação de ordem social ao direito de propriedade, que abrirá uma brecha na Constituição

para a nacionalização das reservas de cobre e da reforma agrária ensaiadas no governo Frei e

aceleradas no governo Allende. Outras mudanças implementadas por Frei foram a extensão do

direito de voto aos analfabetos e a diminuição da idade para votar de 21 para 18 anos.

Com o golpe militar, em 1973, rasgou-se a Constituição e o poder usurpado passou a ser

exercido por meio de decretos-lei até o ano de 1980, quando uma nova Constituição preparada por

uma comissão é aprovada pela junta de governo chefiada por Pinochet e submetida a um plebiscito.

Promulgada em 21 de outubro, a nova Constituição continha 120 artigos permanentes e 29

transitórios e é a carta atualmente vigente no Chile. Segundo o texto o Chile é uma República

Democrática, cujo estado é unitário, mas dividido em 13 regiões, 51 províncias (estados) e 342

comunas (municípios).

As regiões são administradas por um Governo Regional, tendo à frente um Intendente, na

condição de representante do presidente da República, e pelo Conselho Regional, órgão resolutivo,

normativo e fiscalizador.

Nas províncias a administração é feita pelo governador, que é subordinado ao Intendente e

assessorado pelo Conselho Econômico e Social Provincial, presidido por ele. A Administração

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comunal está a cargo do prefeito, que é assessorado pelo Conselho, presidido por este, e que

funciona como órgão resolutivo, normativo e fiscalizador e são eleitos pelo voto popular a cada

quatro anos.

O Congresso Nacional é bicameral, composto por 120 deputados e 48 senadores, tem como

atribuição legislar e fiscalizar os atos do poder executivo e está sediada na cidade de Valparaíso.

Ao Poder Judiciário cabe a aplicação das Leis e seu órgão máximo é a Corte Suprema que,

além de zelar pela correta aplicação da legislação em vigor, exerce o controle administrativo e

disciplinar sobre os demais tribunais e juízes do país.

O sistema eleitoral do Chile prevê o voto secreto e obrigatório para cidadãos maiores de 18

anos. Para as eleições de dezembro de 2009, o último censo eleitoral apontava a existência de 7,5

milhões de eleitores. A Constituição de 1925 estabeleceu o sistema de representação proporcional

para alocação de cadeiras legislativas em 28 distritos plurinominais, o sistema mais utilizado na

América Latina e Europa.

Na época da ditadura militar o país foi redividido em 60 distritos eleitorais e, para as eleições

legislativas, cada distrito tem direito a duas cadeiras na Câmara dos Deputados. Cada partido lança

um nome para cada cadeira e, por isso, o sistema é conhecido como “binominal”, pois cada distrito

elege dois deputados, ou dois senadores e, embora seja permitida a coligação de partidos para

disputar as vagas é praticamente impossível a conquista das duas, uma vez que, para que isso ocorra,

o partido ou coligação necessita ter o dobro de votos do partido ou coligação adversária.

Este mecanismo foi criado na ditadura militar para garantir a o acesso dos partidos de direita

às cadeiras no Congresso e impedir o acesso dos candidatos da extrema-esquerda que, por

consequência, são chamados de “esquerda extraparlamentar”. Por conta deste mecanismo o Partido

Comunista Chileno, embora consiga nas urnas votação em torno de 5 a 6%, não possui nenhum

representante no Congresso.

Para o cargo de presidente da República também é facultada a coligação de partidos e a

escolha é pelo voto direto. Para ser eleito o candidato deve alcançar nas urnas a maioria simples dos

votos válidos, ou seja, 50% mais um voto e, caso isso não ocorra, é realizado um segundo turno entre

os dois candidatos mais votados no primeiro turno.

2.16. As eleições 2009 no Chile e o perfil dos concorrentes

Passaremos agora a tecer uma breve apresentação dos quatro candidatos que concorreram ao

pleito. Acreditamos que o critério da ordem alfabética é o mais recomendado por ser imparcial e será

seguido também na avaliação das ações dos mesmos nas redes sociais.

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Eduardo Alfredo Juan Bernardo Frei Ruiz-Tagle nasceu em Santiago do Chile em 1942, é

engenheiro civil formado pela Universidade do Chile, tendo cursado especialização na Itália em

Administração e Técnica de Gestão. Frei é filiado à Democracia Cristã e foi o segundo presidente

após a queda da ditadura, governando o Chile entre os anos de 1994 e 2000.

Seu pai, Eduardo Frei Montalva, também democrata cristão, foi presidente entre 1964 e

1970, e um dos principais líderes de oposição ao governo Salvador Allende. Apoiou o golpe militar,

mas num segundo momento liderou as forças contrárias ao general Augusto Pinochet, até sua morte

em uma clínica privada onde foi operado. A justiça investiga se, como acreditam a família e muitos

no Chile, a ditadura mandou envenenar o ex-presidente. Os exames realizados encontraram indícios

de que isso tenha ocorrido. Frei é o candidato da Concertación, frente de partidos que governa o país

desde a redemocratização em 1990.

Uma das imagens de abertura do site oficial de Frei, de paletó cinza à direita. Acesso 29-11-09 16h15

Eduardo Frei

Jorge Arrate

Uma das imagens de abertura do site oficial de Arrate. Acesso 29-11-09 22h12

Jorge Félix Arrate Mac Niven nasceu em Santiago do Chile em 1941, é advogado,

economista, escritor, professor universitário e político. No governo Allende foi nomeado presidente 36executivo da Codelco – Corporación Nacional del Cobre de Chile –, época em que as jazidas de

A promulgação da reforma constitucional, que nacionalizou o cobre no Chile, 11 de julho de 1971 desencadeou um processo que culminou na criação de uma empresa responsável pela exploração e gestão da mineração de créditos transferidos para o Estado.

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cobre foram nacionalizadas. Entre os anos 1973 e 1987 esteve no exílio e foi secretário do Comitê de

chilenos no exterior.

Com a redemocratização foi nomeado Ministro da Educação do governo Aylwin e Ministro

do Trabalho e Previdência Social. Durante o governo Tagle foi Secretário de Governo e, no governo

de Lagos, embaixador na Argentina.

Foi filiado e membro da direção do Partido Socialista desde 1963, mas em janeiro de 2009

filiou-se ao Partido Comunista. Foi candidato da Coligação Juntos Podemos Mais, que agrupa os

partidos da chamada esquerda extraparlamentar chilena.

Marco-Ominami

Marco Antonio Enríquez-Ominami nasceu em 1973, sendo o mais jovem candidato do

pleito. É filho de Miguel Enríquez Espinosa, fundador e secretário geral do Movimento de Esquerda

Revolucionário (MIR), assassinado pela ditadura chilena quando Marco tinha meses de vida. Sua

mãe, Manuela Gumucio Rivas, é filha do ex-senador fundador da Democracia Cristã, Rafael Agustín

Gumucio Vives. Aos cinco meses de idade Marco e toda sua família foram expulsos do país por um

decreto militar e, no exílio na França, sua mãe casou-se com o senador Carlos Ominami. No ano de

2000, Marco agregou o sobrenome Ominame a seu nome.

Filósofo e cineasta, Marco é casado com a jornalista e apresentadora de TV Karen

Doggenweiler, com quem tem duas filhas.

Deputado, foi eleito em 2005 pelo Partido Socialista, do qual se desligou para apresentar sua

candidatura à presidência pela Coligação Nova Maioria para o Chile, formadas por ecologistas,

humanistas e outras forças progressistas.

Uma das imagens de abertura do site oficial de Marco. Acesso 29-11-09, 12h08

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Miguel Juan Sebastián Piñera Echenique nasceu em Santiago do Chile em 1º de dezembro de

1949. É empresário e político chileno, membro do partido de centro-direita Renovación Nacional

(RN), a facção mais liberal e moderada da direita chilena. Foi senador entre 1990 e 1998 e, nas

eleições de 2005, candidato à Presidência da República, tendo sido derrotado pela socialista

Michelle Bachelet no segundo turno.

Piñera introduziu no Chile o sistema de cartões de crédito no início dos anos 1980, o primeiro

de uma série de negócios que o levaria a acumular uma das maiores fortunas do país. Atualmente, é

dono da cadeia de televisão Chilevisión, acionista majoritário das linhas aéreas LAN e sócio de

numerosas empresas com um patrimônio estimado de 1,2 bilhão de dólares. No Brasil é controlador

da ABSA, empresa de logística aérea sediada em Campinas, interior de São Paulo.

É casado, pai de quatro filhos e vem de uma família vinculada à Democracia Cristã. Formado

pela Universidade Católica de Santiago e com mestrado em Harvard, Piñera trabalhou na década de

1970 no Banco Mundial e na Cepal.

A Coligação para a Mudança, da qual foi o candidato, foi composta por conservadores e

liberais de centro-direita. Participaram da coligação os partidos Alianza por Chile, Unión Demócrata

Independiente (UDI), Renovación Nacional (RN), ChilePrimero (CH1) e os movimentos Norte

Grande e o Humanista Cristão (MHC).

Embora tenham concorrido ao pleito quatro candidatos, Jorge Arrate, representante da

esquerda radical, possuía pouquíssimas chances de chegar ao segundo turno e, por isso, não foi

incluído nas análises.

Passemos agora para uma breve retrospectiva do caminhar das sociedades humanas, desde as

mais remotas épocas até os dias atuais, focando as chamadas revoluções comunicativas e, em

especial, as mudanças na comunicação política.

Uma das imagens de abertura do site oficial de Piñera. Acesso 29-11-09 11h01

Sebastián Piñera

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3. A comunicação política no século XXI

37"Technology is neither good nor bad; nor is it neutral”Primeira Lei de Melvin Kranzberg

Desde os mais remotos tempos os seres humanos desenvolveram formas de comunicação

gestual e a linguagem falada. Neste processo de troca simbólica, o homem foi criando novas formas

de relações sociais, transformando sua relação com o outro, com o meio e consigo mesmo. A

comunicação, mais do que transmitir informação e conteúdo simbólico produziu, ao longo de sua

caminhada na estrada dos signos, novas formas de relações sociais e novas formas de ver e

interpretar o mundo e a si mesmo. Da Ágora ateniense – espaço democrático e participativo – aos

programas eleitorais na TV da atualidade, onde o eleitor foi transformado em espectador passivo,

muita coisa mudou. Mudou, e como não poderia deixar de ser, continua mudando, pois hoje, no

limiar da chamada quarta revolução comunicativa, novas formas de comunicação e interação

prenunciam o rompimento da postura passiva a que foi relegado o cidadão comum durante o período

da chamada democracia eletrônica. Nas páginas que se seguem procuraremos reconstruir esta

caminhada desde o advento da escrita até a chamada revolução digital, procurando assinalar as

principais mudanças no campo da comunicação e, em especial, no âmbito da comunicação política.

3.1. As revoluções comunicativas

Na história do desenvolvimento das sociedades humanas, a invenção do alfabeto ocorrida na

Grécia por volta do ano 700 a.C. constitui-se num grande salto que possibilitou a construção do

discurso conceitual, bases para o desenvolvimento da filosofia ocidental e da ciência. Embora a

escrita pictórica já fosse utilizada pelos Sumérios desde 3.300 a.C., o alfabeto, em suas bases

fonéticas, dá uma nova dimensão à escrita e, após mais de 3 mil anos de comunicação oral, o homem

passava a ter a possibilidade da comunicação cumulativa, baseada no conhecimento.

Avançando para a Idade média, na Europa Ocidental, os monastérios terão o domínio da

cultura letrada e, por meio do trabalho exaustivo de copistas, trabalharão na preservação dos textos

da antiguidade clássica e na produção de uma cultura eminentemente eclesiástica, voltada ao

restritíssimo círculo letrado da época.

A difusão do alfabeto só se dará a partir da invenção dos tipos móveis de Gutenberg em 1450,

consolidando a cultura letrada e a comunicação escrita a partir da difusão do livro e do jornal

impresso.

37 A tecnologia não é nem boa, nem ruim, e também não é neutra.

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Ao analisar a questão da passagem da cultura oral para a cultura escrita, Castells alerta para o

fato de que o sistema audiovisual de símbolos e percepções, tão importante para a expressão plena da

mente humana, relegado a um segundo plano, irá ressurgir no cenário da comunicação humana, se

impondo no século XX.

“Ao estabelecer – implícita e explicitamente – uma hierarquia social entre a cultura

alfabetizada e a expressão audiovisual, o preço pago pela prática humana do discurso

escrito foi relegar o mundo dos sons e imagens aos bastidores das artes, que lidam com o

domínio privado das emoções e com o mundo público da liturgia. Sem dúvida, a cultura

audiovisual teve a sua revanche histórica no século XX, em primeiro lugar com o filme e o

rádio, depois com a televisão, superando a influência da comunicação escrita nos corações

e almas da maioria das pessoas.” (CASTELLS: 2005, p. 413)

O advento do cinema, no final do século XIX, das transmissões radiofônicas e da televisão,

no início do século XX, inauguram o período da chamada cultura de massas, marcada pela

reprodução em série da produção cultural, largamente criticada pelos filósofos da chamada Escola

de Frankfurt, da qual Theodor Adorno Adorno e Max Horkheimer são máximas expressões. Na obra

“Dialética do esclarecimento”, Adorno recusa o termo Cultura de Massa e introduz o conceito de

Indústria Cultural. Para eles o desenvolvimento da comunicação de massa teve um impacto

fundamental sobre a natureza da cultura e da ideologia nas sociedades modernas. A cultura, na visão

desses teóricos, seria o instrumento que desenvolve e assegura formas de controle das concepções

sociais e das ideologias estruturadas na sociedade capitalista. Denunciam acidamente o caráter de

mercadoria da cultura, onde o consumidor é levado à ilusão de que é sujeito, mas, ele próprio, é

transformado em mercadoria e vendido na forma de índices de audiência para o mercado

publicitário.

Na época em que Adorno e Horkheimer formularam suas idéias, o rádio e o cinema

impunham-se como poderosos meios de comunicação de massa. Ao contrário de Walter Benjamin,

também pertencente à Escola de Frankfurt, que via no cinema e na possibilidade da

reprodutibilidade da obra de arte um fator de esperanças, Adorno nutre na obra uma visão

catastrófica.

“...o que nos propusemos era, de fato, nada menos do que descobrir por que a humanidade,

em vez de entrar em estado verdadeiramente humano, está se afundando numa nova espécie

de barbárie”. (ADORNO, 1985, p.11)

A comunicação na era da sociedade de massas não faculta ao espectador nada além do que

consumir passivamente as mensagens a ele direcionadas pelos meios de comunicação eletrônicos

como verdades absolutas, inquestionáveis, forjando o axioma “deu na TV, logo, é verdade”.

Na chamada sociedade de massas a política vive a era da “democracia eletrônica” e se

espetaculariza, obedecendo pautas, conteúdos e estética dos programas de entretenimento, como

ressalta Ianni.

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“No âmbito da “democracia eletrônica”, dissolvem-se as fronteiras entre o público e o

privado, o mercado e a cultura, o cidadão e o consumidor, o povo e a multidão. Aí o

programa televisivo de debate e informação política tende a organizar-se nos moldes do

programa de entretenimento... Esse é o clima no qual a política tem sido levada a inserir-se,

como espetáculo semelhante a espetáculo dentro do espetáculo”. (IANNI: 2000, p. 153)

Assim, a passividade da sociedade de massas reflete no cotidiano da política e, ao cidadão,

não resta nenhum outro papel senão o de votante. Tal como o consumidor, que ao ir às compras vive a

ilusão de ser sujeito, já denunciada por Adorno, o eleitor vota e, como assinala Baudrillard, sente-se

participante do processo político, transferindo ao outro a responsabilidade da solução dos problemas

cotidianos, esvaziando a esfera pública de todo o seu significado.

“Não é por acaso que a publicidade, depois de ter veiculado durante muito tempo um

ultimato implícito de tipo econômico, dizendo e repetindo no fundo incansavelmente:

'compro, consumo, gozo', repete hoje sob todas as formas: 'voto, participo, estou presente,

isto diz-me respeito' – espelho de uma zombaria paradoxal, espelho da indiferença de todo o

significado público” (BAUDRILLARD: 1981, p. 114)

Hoje, na sociedade moderna, somos a cada instante bombardeados por informações.

Ouvimos o rádio ao dirigirmos no caótico trânsito das metrópoles, visualizamos outdoors e anúncios

nas fachadas dos edifícios comerciais, assistimos aos noticiários na TV, lemos jornais, livros,

revistas e navegamos na web em busca de informações. A profusão de informações que nos rodeia

nunca foi tão acintosamente generosa.

Crítico contundente da sociedade de consumo, Baudrillard construiu uma série de teorias

sobre os impactos da comunicação e das mídias na sociedade e na cultura contemporâneas. Para ele a

saturação de informação na sociedade de consumo, o mundo virtual criado pela mídia, leva ao

esvaziamento do real e à falência da comunicação. Este ponto de vista, nada animador, formulado no

início da década de 90, é defendido por Baudrillard na obra “Simulacros e Simulações”.

“Em toda parte é suposto que a informação produz uma circulação acelerada do sentido,

uma mais-valia de sentido homólogo à mais-valia econômica que provém da rotação

acelerada do capital. A informação é dada como criadora de comunicação (...). Somos todos

cúmplices deste mito. É o alfa e o ômega da nossa modernidade, sem o qual a credibilidade

da nossa organização social se afundaria. Ora o fato é que ela se afunda, e por este mesmo

motivo. Pois onde pensamos que a informação produz sentido, é o oposto que se verifica. (...)

Assim a informação dissolve o sentido e dissolve o social numa espécie de nebulosa votada,

não de todo a um aumento de inovação, mas, muito pelo contrário, à entropia total. Assim, os

media são produtores não da socialização, mas do seu contrário, da implosão do social nas

massas”. (BAIDRILLARD: 1991, p.104-106)

A obra “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel, escrita em 1513, inaugura o pensamento político

moderno e ainda hoje é referência para aqueles que vivenciam a política. Dedicada ao príncipe

Lourenço de Médici II, foi concebida pelo autor para servir de subsídio à implantação de uma

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política de unificação da Itália, tão sonhada por ele. Nela Maquiavel debate o que seriam os

principados, relacionando os tipos existentes, como seriam conquistados, mantidos ou perdidos.

Fortuna e virtù seriam os principais atributos do príncipe para a consecução dos objetivos do reino.

Em “O príncipe eletrônico”, Ianni parte das teorias de Maquiavel e do pensador italiano

Antonio Gramsci sobre o partido político, visto como “intelectual coletivo”, para analisar as

implicações decorrentes das transformações ocorridas com o avanço dos meios de comunicação de

massa e da globalização. Comparando o príncipe de Maquiavel ao príncipe moderno de Gramsci,

Ianni conclui que ambos são análogos no que se refere à capacidade de construir hegemonias.

“Tanto no que se refere a O Príncipe, de Maquiavel, como o moderno príncipe, de Gramsci,

estão em causa figuras e figurações fundamentais da política. Tudo o que pode ser específico

da política neles se polariza, sintetiza ou galvaniza. Nesse sentido é que, em última

instância, esses tipos ideais ou arquétipos estão referidos à capacidade de construir

hegemonias, simultaneamente à organização, consolidação e desenvolvimento de

soberanias”. (IANNI: 2000, p. 142.)

Lançando o olhar crítico para o final do século XX, tendo como referenciais as teorias de

Maquiavel e Gramsci, Ianni aponta o envelhecimento dos “príncipes” construídos por aqueles e

elabora sua teoria do príncipe eletrônico. Se para Maquiavel, o príncipe é uma pessoa, o líder ou

condottiere, capaz de articular inteligentemente suas qualidades de atuação e liderança (virtù), e as

condições sociopolíticas (fortuna), e para Gramsci o moderno príncipe é o partido político, para

Ianni o príncipe eletrônico será personificado por aquilo que ele classifica como “a indústria de

manipulação das consciências”, formada pela grande corporação de mídia e, em especial, pela TV.

“O que singulariza a grande corporação da mídia é que ela realiza limpidamente a

metamorfose do mercado em ideologia, do mercado em democracia, do consumismo em cidadania.

Realiza limpidamente as principais implicações da indústria cultural, combinando a produção e a

reprodução cultural com a produção e a reprodução do capital; e operando decisivamente na

formação de “mentes” e “corações” em escala global.” (IANNI: 2000, p.152).

Embora em diversas passagens de seu texto Ianni inclua a internet dentre os meios de

comunicação, acreditamos que, hoje, passados dez anos da produção do mesmo, os avanços

acelerados no que se refere ao desenvolvimento dos chamados meios de comunicação digital

impõem uma análise mais atenta daquilo que muitos autores denominam a quarta revolução

comunicativa.

Castells nos dá a idéia exata da rapidez com que o meio de comunicação digital tem se

disseminado por todo o mundo.

“A Internet tem tido um índice de penetração mais veloz do que qualquer outro meio de

comunicação na história: nos Estados Unidos, o rádio demorou 30 anos para chegar a

sessenta milhões de pessoas; a TV alcançou esse nível de difusão em 15 anos; a internet o fez

em apenas três anos após a criação da teia mundial”. (CASTELLS: 2005, p. 439)

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3.2. A Internet seria o novo príncipe eletrônico?

38“O poder dos fluxos é mais importante que os fluxos do poder”Manuel Castells

Vivemos em plena quarta revolução comunicativa e, da mesma forma que as outras três

anteriores, a adoção de novas tecnologias e novos meios de comunicação possibilitam com que a

mensagem chegue a um público cada vez maior em um espaço de tempo cada vez mais reduzido e

com um custo cada vez menor. Além disso, são criadas possibilidades de novas práticas sociais e

novas formas de interação do homem com a paisagem.

“Na época contemporânea, a humanidade estaria enfrentando uma ulterior revolução

comunicativa, implementada pelas tecnologias digitais, que, numa concepção histórica, constituiria

a quarta revolução e que, como as outras, estaria ocasionando importantes transformações no

interior dos distintos aspectos do convívio humano”. (FELICE: 2008, p.22)

A velocidade espantosa das transformações ocorridas é sem precedentes na história e teve

início na década de 1960, em pleno auge da Guerra Fria. Visando interligar pontos estratégicos a

uma rede descentralizada que não pudesse ser destruída por bombardeios, o Departamento de

Defesa do governo americano cria a ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network),

rede de longa distância criada a partir de 1965 pela Advanced Research Agency (Agencia de

Pesquisas Avançadas - ARPA, atualmente Defense Advanced Projects Research Agency, ou

DARPA) em consórcio com as principais universidades e centros de pesquisa dos EUA, com o

objetivo específico de investigar a utilidade da comunicação de dados em alta velocidade para fins

militares.

Em pouco tempo várias Universidades americanas são conectadas à rede e passam a

participar do projeto contribuindo para seu aprimoramento. No ano de 1972 a @ passa a ser utilizada

para a troca de e-mails e, em 1974 a palavra Internet é utilizada pela primeira vez pelo cientista

Vinton Cerf. No ano de 1983 o TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol),

linguagem comum usada por todos os computadores conectados à rede é criada e, em 1991, Tim

Berners-Lee e Robert Cailliau criam a World Wide Web, sistema de hipertextos que funciona a partir

de links clicáveis que levam a outros sites. Castells comenta em sua obra o surgimento e a

apropriação da Web como instrumento de resistência política.

“Como se sabe, a Internet originou-se de um esquema ousado, imaginado na década de

1960 pelos guerreiros tecnológicos da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do

Departamento de Defesa dos Estados Unidos (a mítica DARPA) para impedir a tomada ou

destruição do sistema norte-americano de comunicações pelos soviéticos, em caso de

38 CASTELLS, Manuel: A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Volume I. A Sociedade em Rede.

Editora Paz e Terra, São Paulo, 2005, p. 565.

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guerra nuclear. De certa forma foi o equivalente eletrônico das táticas maoístas de

dispersão das forças de guerrilha, por um vasto território, para enfrentar o poder de um

inimigo versátil e conhecedor do terreno. O resultado foi uma arquitetura de rede que, como

queriam seus inventores, não pode ser controlada a partir de nenhum centro e é composta

por milhares de redes de computadores autônomos com inúmeras maneiras de conexão

contornando barreiras eletrônicas... Essa rede foi apropriada por indivíduos e grupos no

mundo inteiro e com todos os tipos de objetivos, bem diferentes da extinta Guerra Fria. Na

verdade, foi pela Internet que o subcomandante Marcos, líder dos zapatistas de Chiapas,

comunicou-se com o mundo e com a mídia, do interior da floresta de Lacandon. E a internet

teve papel instrumental no crescimento da seita chinesa Falun Gong, que desafiou o partido

comunista da China em 1999, bem como na organização e na difusão do protesto contra a

Organização Mundial do Comércio em Seattle, em dezembro de 1999”. (CASTELLS: 2005,

p. 44)

O advento da rede mundial de computadores rompe a passividade ao transformar o público

espectador em produtor de conteúdos e a comunicação instantânea, em tempo real, agora corre não

mais de emissor para receptor passivo que assiste a tudo como a um espetáculo do qual faz parte

como mera audiência. É a dissolução do paradigma no qual se assentavam os estudos desenvolvidos

sobre a cultura de massas. O esquema emissor, mensagem, meio, receptor e ruído não mais fazem

sentido no âmbito da comunicação digital.

“Em nível comunicativo, a passagem das tecnologias analógicas para aquelas digitais

comporta a alteração do processo de repasse das informações, alterando a direção dos

fluxos comunicativos e, sobretudo, a posição e a identidade dos sujeitos integrantes. Como

foi descrito por diversos autores (Shannon-Weaver, Eco, e Fabbri), em níveis diferentes de

complexidade, a forma analógica se exprime pelo repasse das informações procedente de

um emissor em direção a um receptor através da emissão de um fluxo unilateral distribuído

por canais e com as intervenções de ruídos. Ao contrário de tal modelo, a comunicação

digital apresenta-se como um processo comunicativo em rede e interativo. Neste, a distinção

entre emissor e receptor é substituída por uma interação de fluxos informativos entre o

internauta e as redes, resultante de uma navegação única e individual que cria um

rizomático processo comunicativo entre arquiteturas informativas (site, blog,comunidades

virtuais etc.) conteúdos e pessoas” (FELICE: 2008, p.44-45).

A utilização dos meios digitais disponíveis, tais como os notebooks, as webcams, a máquina

fotográfica digital, os smartphones possibilitam a obtenção e produção de informações em tempo

real, teoricamente em qualquer lugar.

No que se refere à participação política a rede digital rompe com o personalismo que

caracteriza a comunicação eletrônica. A tendência hoje é a da formação de redes virtuais que, cada

vez mais, aglutinem pessoas ao redor do mundo em torno de problemáticas específicas para a troca

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de experiências para buscar soluções. Cada vez mais a postura passiva que transferia a solução dos

problemas da sociedade para o político-líder vai sendo substituída na rede pela participação

consciente.

“As redes digitais instauram uma forma comunicativa feita de fluxos e de troca de

informações “de todos para todos”. Em função da quantidade ilimitada de informações que

poder ser veiculadas na rede, a temporalidade também é distinta, praticamente em tempo

real, resultando instantâneas todas as formas de comunicação na web. Do ponto de vista

político, com relação à forma analógica, mudam os meios utilizados, as formas e os

conteúdos” (FELICE: 2008, p.52-53).

Felice propõe a transposição do conceito de “obra aberta”, elaborado em 1962 por Umberto

Eco, para a sociedade mediada pelas tecnologias digitais, uma vez que estas se apresentam como

inacabadas e abertas à participação colaborativa.

“O conceito de sociedade aberta pode ser definido, a partir deste ponto de vista, como um

conceito projeto, isto é, um campo de possibilidade, um conceito em movimento que, com o

tempo e as interações criadoras dos internautas, passa a assumir formas diversas. Trata-se

de um deslocamento conceitual importante que, pondo ênfase na crise do antropocentrismo,

define as sociabilidades e as culturas contemporâneas como realidades que nascem nas

redes e nos fluxos informativos digitais e que, em seguida, tomam formas e espaços em

localidades e topografias conectadas.

Abrem-se assim, as possibilidades de se pensar um novo conceito de virtualidade, e também

outro conceito de social. A sociedade a código aberto, mais do que um conjunto de definições

de conceitos, é também uma prática e uma forma de habitar, na qual construímos conteúdos

e nos apropriamos do mundo através das tecnologias digitais. Portanto, além de um

conceito em movimento, um campo de possibilidades, constitui-se num ecossistema no

interior do qual habitam todos aqueles que criam idéias, pensamentos, culturas, tempo livre,

prazer, arte, conteúdos “na” e “através” das redes. Código aberto, portanto, à

contaminação criativa, à participação dos demais, portador de uma ética não mais

autoritária, mas tecnologicamente experimental e socialmente não duradoura” (FELICE:

2008, p.57-58).

As previsões catastróficas de Theodor Adorno e Max Horkheimer que vaticinavam os

perigos da formação de ditaduras e governos totalitários, a partir da homogeneização e alienação das

mentes, em conseqüência do advento do mass media, embora tenham sido, em certa medida,

acertadas no que se refere ao século XX, onde imperava a comunicação analógica, perdem

ressonância hoje na era da comunicação digital.

A chamada quarta revolução comunicativa parece destronar, um a um os príncipes, de

Maquiavel a Ianni, pois o que está em jogo na rede não é a hegemonia, mas a liberdade de expressão e

a busca coletiva de soluções de problemas globais pelos que habitam o mundo atópico das redes

sociais digitais.

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3.3. As redes sociais digitais

As redes sociais digitais nasceram a partir do surgimento da chamada web 2.0. Este termo foi

utilizado pela primeira vez em outubro de 2004 pelas empresas americana produtoras de

conferências e feiras de tecnologia de informação, com a COMDEX, O'Reilly Media e MediaLive

International como o nome de um ciclo de conferências sobre interatividade na web. Tim O'Reilly, 39inventor do termo define-o em seu blog :

"Web 2.0 é a mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras

para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é

desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto

mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva" .

Com a referência ao aproveitamento da inteligência coletiva, O'Reilly reporta-se a uma das

principais características da web 2.0, sua interface interativa construída a partir de aplicativos

abertos à participação de todos. Os códigos ou boa parte deles podem ser melhorados com a

participação dos usuários. A esta característica deu-se o nome de Beta perpétuo, pois os aplicativos e

plataformas não são mais relançados a cada ano, mas aprimorados constantemente com a

participação dos usuários.

Os avanços nos aplicativos permitem, na chamada web 2.0, a qualquer usuário que não

disponha de conhecimentos de programação postar e receber conteúdos como textos, imagens, sons

e vídeos, abrindo espaço para que todos possam produzir e publicar conteúdos; os chamados

Consumer-Generated Media (CGM) – mídia gerada pelo consumidor. Nascem os blogs e as redes

sociais de relacionamento digital, como o Facebook, Orkut, YouTube, MySpace, Digg e tantas

outras.

Este “boca-a-boca digital”, embora não seja uma interação face-a-face, tende a ter a mesma

influência desta nas tomadas de decisão de compra e do voto por possuir maior credibilidade do que

as mídias tradicionais.

O nome blog vem da junção das palavras Web e Log. Blogs são sites gratuitos que permitem a

qualquer cidadão, em qualquer parte do mundo, escrever e publicar artigos ou posts. Permitem

comentários de leitores casuais e mecanismos para, quem assim o desejar, seguir os posts e ser

alertado sobre atualizações. Os blogs nasceram como diários pessoais online, transformaram-se em

ferramentas de informação e, não raro, pautam a mídia tradicional por serem ágeis , sendo usados

muitas vezes como fonte por portais de notícias, TVs e jornais.

Os atentados de 11 de setembro de 2001 contra as torres gêmeas são um exemplo clássico

disso, pois enquanto a mídia tradicional buscava informações, muitos blogs postavam vídeos e fotos

do acontecido que posteriormente foram veiculados na TV e nos portais de notícias. Muitos políticos

na atualidade possuem blogs que funcionam como canais informais de comunicação com o eleitor.

39 http://radar.oreilly.com/2006/12/web-20-compact-definition-tryi.html. Acesso em 20-11-2009 21h08.

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O Facebook é uma comunidade de relacionamento que foi lançada em fevereiro de 2004 por

Mark Zucherberg, um ex-estudante de Harvard, com o objetivo de aglutinar os estudantes daquela

instituição e, rapidamente alastrou-se por outras universidades americanas. Hoje o site de

relacionamento possui, segundo dados estatísticos da empresa , mais de 350 milhões de usuários.

Segundo estudo realizado pela Sysomos , Michael Jackson é a página mais popular no Facebook,

com 10 milhões de seguidores, vindo em segundo lugar a do ator Vin Diesel com 7 milhões e, em

terceiro, a do presidente Barack Obama com 6,9 milhões.

No Chile o Facebook é o segundo site de maior tráfego, só superado pelo site de busca

Google Chile. Todos os candidatos a presidente do Chile nas eleições de 2009 possuiam perfil no

Facebook e fizeram, cada um a sua maneira, uso do mesmo como canal de comunicação e

mobilização do eleitorado.

O YouTube é um site que permite a seus usuários carregar e compartilhar gratuitamente

vídeos na rede formando canais próprios que, como todas as redes sociais digitais, possibilitam

seguir e ser seguido pelos internautas. Foi fundado em 2005 por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed

Karim, que trabalhavam juntos na Pay Pal, uma empresa de transferência de fundos e pagamentos

por meio da web e celular. O sucesso do YouTube foi meteórico e, em 2006, foi eleito pela revista

Time a melhor invenção do ano. Um ano depois de criado, a Google comprou a empresa por nada

menos que 1,65 bilhão de dólares. Muitos políticos fazem uso do YouTube postando seus vídeos, mas

encontramos ali, sobretudo, vídeos de crítica a eles. No Chile o canal de vídeo no YouTube dos

“difamadores” fez críticas bem humoradas a todos os candidatos a presidente.

O Twitter é um microblog gratuito que permite aos usuários cadastrados postarem textos de

até 140 caracteres conhecidos como “tweets”. Os tweets são exibidos em tempo real nas páginas dos

usuários que podem “seguir” ou serem seguidos pelos outros “twitteiros”. Foi criado em 2006 por

Jack Dorsey e, como as outras inovações da web, teve crescimento vertiginoso e, embora a empresa

não forneça dados sobre o número de assinantes, a Sysomos analisou mais de 11,5 milhões de 42usuários para documentar o crescimento deste microblog e padrões de utilização .

O Twitter tem sido utilizado por muitos políticos, alimentado pessoalmente ou por

assessores. Embora procure ser utilizado como uma ferramenta para agregar valor e aproximar o

eleitor do político, no Brasil recentemente assistiu-se um caso em que foi fator de desgaste. O

protagonista foi o senador Mercadante, que precipitadamente postou em seu microblog declaração

anunciando que deixava a liderança do partido de forma irrevogável e, em seguida, após puxão de

orelhas do presidente Lula, voltou atrás revogando o irrevogável. Para que desgastes não ocorram,

os recursos da rede devem ser utilizados com a máxima cautela, pois atingem um grande número de

pessoas em tempo real.

40

41

40 http://www.facebook.com/press/info.php?statistics. Acesso em 21-11-2009 21h26.41 http://blog.sysomos.com/2009/11/30/exploring-the-world-of-facebook-pages/. Acesso em 21-11-2009 22h0642 http://www.sysomos.com/insidetwitter/. Acesso em 21-11-2009 22h51.

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Entender e, de alguma forma, medir como os candidatos a presidente no Chile fizeram uso

das mídias digitais é nosso principal objetivo a partir do próximo capitulo. Num primeiro momento,

descreveremos a atuação dos três principais candidatos nas redes sociais para, em seguida,

analisarmos suas atuações nas mesmas, procurando entender em que medida estas parecem estar

integradas a um planejamento estratégico de campanha.

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4. Os candidatos na rede virtual

Neste capítulo nos dedicaremos a descrever e analisar as ações na internet dos três principais

candidatos ao pleito presidencial ocorrido em 2009 no Chile. Num primeiro momento faremos uma

descrição detalhada dos sites oficiais dos candidatos no momento inicial da campanha para, em

seguida, compará-los com os da reta final do primeiro turno, analisando-os no que se refere à

usabilidade, ao design e as ações visando à interatividade com o eleitor.

Usabilidade é um termo empregado para descrever a qualidade de interação de usuários com

algum tipo de interface. Nielsen define usabilidade como “uma medida da qualidade da experiência

do usuário ao interagir com alguma coisa – seja um site na Internet, um aplicativo de software 43tradicional, ou outro dispositivo que o usuário possa operar de alguma forma” .

Já o professor Roberto Romani relaciona sete regras básicas de usabilidade, a saber: clareza

na arquitetura da informação, facilidade de navegação, simplicidade, relevância do conteúdo, 44manter a consistência, tempo suportável de carregamento das páginas e foco nos usuários .

Num segundo momento analisaremos a presença dos candidatos nas redes sociais no que se

refere ao grau de penetração conseguido junto aos eleitores, grau de liberdade facultada aos usuários

e formas de utilização, ou seja, se a presença na rede encontra-se integrada a um planejamento

estratégico global das ações de campanha ou se parecem estar desvinculadas das outras ações.

No momento seguinte passaremos a analisar as ações de comunicação na web dos dois

candidatos que concorreram no segundo turno procurando identificar as estratégias de

convencimento utilizadas tanto nos sites como nas redes sociais virtuais.

4.1. O site oficial do candidato Eduardo Frei no início da campanha

Iniciaremos por descrever a página de abertura do site oficial do candidato Eduardo Frei –

http://www.efrei.cl/ –, que concorreu como candidato da situação pela Consertacion, tal como se

apresentava no dia 13 de setembro de 2009, fase inicial da campanha (prancha 1).

A tela inicial do site tem o fundo branco e chama a atenção por não haver nela a foto do

candidato, e sim o mote da campanha, que será acertadamente repetido ao longo dos meses de forma

exaustiva. Em letras grandes, em caixa alta, na cor vermelha, aparecem em destaque o nome do

candidato, FREI, seguido de uma seta e a frase “VAMOS A VIVER MEJOR”.

43 Nielsen, Jacob: Usability 101: Introduction to Usability. Disponível em: http://www.useit.com/alertbox/20030825.html. Acesso em 11-02-2010 11h1844 ROMANI, Roberto: Usabilidade na Web. Disponível em ftp://ftp.unicamp.br/pub/apoio/treinamentos/tutoriais/tut_UsabilidadeWeb.pdf. Acesso em 10-02-2010 12h05

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Acima e abaixo da frase o internauta tem à disposição barras de navegação. Na parte superior

da página uma barra de menu horizontal, fina e na cor preta, traz links para o retorno ao índex,

imprensa, blog, vídeos, eventos anteriores e Organizaciones por Frei (organizações que apóiam o

candidato). Ainda na mesma barra é disponibilizada uma caixa de busca e ícones para RRS, para as

redes sociais digitais Facebook, Flickr, YouTube, Twitter e para o site SlideShare, onde são postadas

apresentações de temas da campanha na forma de slides.

Logo abaixo do mote da campanha, outra barra de menu convida o internauta a tornar-se

voluntário (Hazte voluntario), tornar-se fã (Hazte Fan), a conhecer as propostas (Las Propuestas) e

as conquistas (Nuestros Logros) e a fazer downloads de vários materiais (Descargas) – discursos,

apresentações em slides, banners para internet, cartazes.

Abaixo deste menu observa-se sete caixas de imagens onde, em cada uma delas, uma pessoa

segura uma grande seta vermelha em que está escrito, na cor branca, o mote da campanha. Uma faixa

na cor creme com os dizeres PARTICIPA EM LA CAMPAÑA AQUÍ atravessa as três últimas imagens

da direita do vídeo, conclamando o eleitor a clicar e participar da campanha. Estes são os elementos

que compõem a tela de abertura do site de Frei na fase inicial da campanha.

Rolando a página para baixo observa-se uma estrutura de três colunas, das quais duas são

dedicadas a notícias da campanha e uma à proposta do plano de governo do candidato. Ao lado

esquerdo, sob o título Hoy (hoje) a primeira foto de Frei, com ar sério e compenetrado é exposta em

close. Abaixo da foto o título da matéria informa: Frei Assiste a Te Deum Evangélico. Abaixo do

título aparecem a data e o horário, 13/09/09 – 15:18.

Um pequeno texto de quatro linhas informa que “O senador Eduardo Frei valorizou

(acolheu) o chamado das igrejas evangélicas para realizar uma campanha sem desqualificações

(ataques), assim como as referências para terminar com as especulações e as...”. Um link convida o

internauta: veja más...

Na coluna do meio, sob o título Noticias, três matérias são sucintamente apresentadas:

Eduardo Frei Inscribió su candidatura (Eduardo Frei inscreveu sua candidatura), Frei sobre El

golpe:”Aún hay heridas que non cierran” (Frei sobre o golpe: “Ainda existem feridas que não

cicatrizam”) e Frei trás reunión com Cristina Fernández: La globalizacion... (Frei após reunião

com Cristina Fernández: A globalização...). Abaixo das três chamadas de matérias um link aponta

para Todas las Notícias.

A coluna da direita é reservada para o Programa de governo do candidato. Duas caixas, uma

maior acima tem como título em letras garrafais na cor creme sobre fundo vermelho: Proteção social

para a classe média. Abaixo sobre um fundo creme, um texto na cor preta convida: Informe-se sobre

esta e outras propostas aqui. Uma seta apontada para cima, estilizando uma casa na cor vermelha

completa a mensagem. A seta será o ícone da campanha de Frei e será exaustivamente utilizada

durante toda a campanha. No quadro abaixo, sobre um tarja vermelha letras na cor creme, em caixa

alta anunciam: Plano de governo, e abaixo, uma caixa na cor creme completa: Veja a apresentação

de Eduardo Frei aqui.

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Abaixo das três colunas cinco caixas pretas no sentido horizontal fecham o bloco, tendo em

cada uma delas links para as redes sociais digitais do candidato na ordem: Facebook faça-se fan;

Twitter siga-nos, Blog a campanha por dentro, Flickr a campanha em imagens, YouTube a campanha

em vídeos.

O blog foi construído como uma página dentro do próprio site e era alimentado e assinado

pela equipe responsável pelas ações de comunicação do candidato na web, ou com matéria de

colaboradores. As postagens podiam ser comentadas pelos internautas.

Rolando a página novamente temos agora duas colunas. Do lado direito da página, ocupando

um terço do espaço uma coluna com o título Blog traz chamadas para três posagens: É oficial: 45Estamos inscritos; Frei e Cristina K: Maradona por Bielsa? Como fazer o Chile crescer. Investir em

capital (Piñera) ou nas pessoas (Frei).

A coluna é completada por uma caixa na cor creme onde um texto na cor vermelha anuncia:

Frei em seu celular: receba atualizações em seu correio e celular.

Do lado direito da página ocupando dois terços dela, uma caixa de vídeo postado no YouTube

informa: Frei se inscreveu: veja o vídeo.

Fechando a página encontramos no rodapé ícones dos partidos que apóiam o candidato,

PPD, DC, PRSD e OS com links para os respectivos sites. No centro do rodapé o endereço e telefone

do comitê central da campanha e, do lado direito, o timbre “efrei 2010” assina a autoria do site.

Esteticamente limpa e bem apresentada, a estrutura de navegação da página nos parece bem

amigável em termos de usabilidade. Os conteúdos, que não são muitos – o que consideramos uma

opção acertada – procuram abordar pontos fundamentais e são apresentados de forma sintética e

clara. No que tange à interatividade com o eleitor, a estrutura dos tópicos apresentados é sempre um

convite à participação. Observa-se que, desde o início da campanha, as ações obedeceram a uma

linha estratégica de comunicação, tanto no que se refere ao conteúdo como à forma.

4.2. O site oficial do candidato Marco-Ominami no início da campanha

Descreveremos agora a página de abertura do site oficial do candidato Marco Antonio

Enríquez-Ominami – http://web.marco2010.cl/ –, que concorreu como candidato à presidência do

Chile pela Coligação Nova Maioria para o Chile, tal como se apresentava em 14 de setembro de

2009, fase inicial da campanha (prancha 2).

Numa primeira apreciação o site nos parece arcaico no que se refere à estrutura de navegação

e design. A página é aquilo que se poderia chamar de “site linguiça”. Excessivamente extenso, com

45 Apelidado de El Loco Bielsa é um treinador de futebol argentino que, como jogador foi zagueiro. Após ter treinado a

seleção argentina entrte 1998 e 2004 foi demitido e substituído por Maradona. Em 2007 foi contartado para comandar a

seleção Chilena onde conseguiu garantir a participação da mesma na Copa de 2010.

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uma profusão de temas e links, apresentava uma estrutura vertical do tamanho de sete telas. A

impressão que se tem é a de que foi feita sem o menor de planejamento no que se refere à usabilidade

e, muito pior, sem obedecer a uma estratégia comunicacional. Atira para todas as direções.

Neste momento, o candidato não tem nem mesmo um slogan ainda. Como os campos de tela

não foram pensados e construídos para facilitar a navegação e a apreensão de conteúdos, fica difícil

até descrever o que se passa ali.

O fundo da página é branco e as cores utilizadas são o vermelho e o azul. Na parte superior

uma barra azul traz um menu em forma de texto escrito em preto, o que prejudica a leitura. Os links aí

apresentados são: Marco TV, Podcast, Imagens, Descargas (downloads), Perguntas frequentes,

Contato (@) e Mapa do site.

Abaixo da barra de menu descrita, um fundo branco traz a inscrição em letras e azuis em

caixa alta: MARCO 2010. Abaixo desta um texto em fonte menor na cor preta informa: Miles de

personas han firmado para hacer realdad los siuños de um novo Chile (milhares de pessoas

assinaram transformar em realidade os sonhos de um novo Chile). Ao lado direito das inscrições

aparece a foto do busto do candidato sorrindo trajando camisa social branca e gravata azul e, à direita

da foto, a logomarca da campanha: Uma estrela vermelha de cinco pontas colocada sangrada, ou

seja, com parte de três das cinco pontas cortadas, fora da área de visão. A estrela de cinco pontas (no

Brasil, marca registrada do PT) foi utilizada como símbolo da campanha tanto por Marco como por

Piñera, como veremos adiante.

Ao centro da estrela a rubrica do candidato e, à esquerda da estrela, o nome do candidato em

caixa baixa (marco) na cor preta e, abaixo do nome a palavra “presidente”, também em caixa baixa,

na cor azul.

Uma nova barra de menu, agora na cor vermelha, vem abaixo destes elementos descritos e

apresenta links na forma de texto escrito na cor branca: Início, Marco, Wiki, Programa, Participa,

Sala de imprensa, Pesquisa, Em todo Chile, Apoio.

Abaixo desta barra de menu, a página divide-se em três colunas até o final da página. Como

os campos de tela não são respeitados optaremos por descrever cada coluna em separado.

A coluna da esquerda é a de menor largura e apresenta várias caixas de tamanhos variáveis,

construídas com imagens “linkadas”. Na tela que estamos analisando aparecem cinco caixas. A

primeira é a maior delas na altura; quase um quadrado tem fundo azul e mostra o desenho a traço em

tons de cinza, de meio corpo um jovem apontando para o internauta e, do lado direito a inscrição em

caixa alta na cor branca: CUIDA EL VOTO (fiscalize o voto), e abaixo uma faixa vermelha anuncia:

Buscamos 35 mil apoderados de mesa (buscamos 35 mil fiscais de mesa).

A segunda caixa é um retângulo azul e mostra a foto de uma mão em sinal de positivo dentro

de um quadrado azul claro tendo acima uma pequena estrela azul escuro dentro de um pequeno

círculo branco. Do lado direito desses ícones um convite à participação: Participa. Te invitamos,

grafado em branco. Como marca d'água aparece discretamente a mesma mão, agora maior e em azul

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pouco mais claro do que o fundo.

A terceira caixa tem fundo cinza e nos moldes da anterior, aparece agora uma mão espalmada

e a palavra Apoya em letras brancas e, em baixo dela, em cinza claro a frase Haz aqui tu donacion.

Como na caixa anterior a mesma mão aparece como marca d'água. O tamanho reduzido e a cor

utilizada transmitem a sensação de acanhamento, solicitação de doação envergonhada.

A caixa abaixo tem fundo preto e traz a foto de meio resto do candidato acompanhada da

frase Marco secreto, escrita em branco. O link acessa a outro site do candidato construído na forma

de Blog. Falaremos dele adiante.

A caixa abaixo é roxa e tem uma ilustração de uma máquina de escrever e a frase Histórias de

Campaña escrita parte em branco, parte em laranja.

A caixa seguinte é preta e do lado esquerdo, dentro de um círculo cinza aparece o rosto a traço

de alguém mostrando a língua. A frase Chile cambió (Chile mudou) grafada em branco e verde

aparece à direita. O link dá acesso a outro site, que não é o oficial do candidato, mas sim de apoio. A

linguagem é mais jovem tanto no que se refere ao design como na linguagem e temas tratados.

O quadro abaixo é cinza e traz à esquerda a ilustração de um canhão de luz, em tons de cinza

claro e à direita a inscrição em branco Lo que non se vio (o que não se viu).

O próximo quadro é laranja e apresenta do lado esquerdo dois ícones, um representado um

homem e outro uma mulher e uma lupa à frente. O texto Buscamos a los y las mejores (Buscamos os

e as melhores), completa o quadro e leva o internauta a uma sessão do site que arregimenta

simpatizantes.

O quadro abaixo é vermelho e traz à esquerda um círculo amarelo e um macaquinho dentro

com as mãos tapando os olhos. O texto Ellos no votan por Marco (eles não votam por Marco).

Seguem quatro ícones para acessar as redes sociais digitais Twitter, Facebook, Flickr e

YouTube, que serão objeto de análise detalhada mais adiante. Abaixo destes uma caixa amarelo ouro

traz link para seguir o candidato no Twitter, ilustrado pelo ícone do passarinho azul do Twitter ao

notebook. Um texto em preto sob o fundo amarelo convida: Coloca a Marco en tu Twitter.

Segue uma caixa na cor bordô onde se vê ícones de um rapaz e de uma garota tendo à frente

um envelope com uma flecha e a frase Cuentale a todos sobre Marco 2010.cl (conte a todos sobre

Marco 2010.cl).

A próxima caixa é verde escuro e a ilustração de um microfone acompanhada do texto Yo

apoyo a Marco, direciona o internauta para uma página de apoios.

A próxima caixa é amarela e traz a foto de uma mão depositando o voto em uma urna e o texto

Elvotocontrario.cl que direciona o internauta para o site do evento Por um Debate Online que foi

organizado pelo portal Terra Chile durante a campanha (http://www.porundebateonline.cl/).

A última caixa desta coluna é azul e é ilustrada por um pequeno rádio e pelo texto Radio

Liberen (rádio livre).

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Esta coluna, a partir desta última caixa, fica cinza e vazia até o final da página, que é longa.

A coluna central é a mais larga e é dedicada ao conteúdo de maior destaque. Uma foto de um

sapato de mulher azul ilustra a chamada de um evento da campanha voltado às mulheres, que seria

realizado em 16 de setembro. Em letras cor de rosa a chamada: Porque dejamos los tacos en la calle,

es el turno de nosotras (Porque deixamos os saltos na rua, é a nossa vez. É uma expressão idiomática.

Aqui no Brasil usa-se “gastar sola de sapato”). Abaixo do sapato uma frase complementa a

mensagem: A ti mujer, que quieres hacer realdad las promessas, ven a soñar un Chile más justo.

Participa em nuestro feminazo (A você mulher, que quer transformar as promessas em realidade,

vem sonhar um Chile mais justo. Participe de nossa reunião de mulheres). Um texto na parte inferior

da imagem anuncia o dia, hora e local e convida para a inscrição no evento pela comunidade

Facebook. Pouco mais abaixo e à esquerda há uma barra de links para compartilhar a informação nas

comunidades virtuais e um ícone para habilitar RSS, ou seja, um agregador de conteúdo conhecido

como Web syndication que facilita o acesso a notícias e atualizações.

Abaixo a coluna traz dez pequenas chamadas de matérias jornalísticas, que procuram dar

conta dos primeiros passos da campanha e convidam o eleitor a acessar o link e continuar lendo. A

primeira matéria tem como título uma declaração do senador Carlos Ominami, padrasto de Marco

“Este es el primer intento serio por romper la esclusión política y social”, e informa sobre a

passeata realizada por candidatos ao parlamento da coligação em direção ao SERVEL, serviço

eleitoral chileno para inscrever suas candidaturas. A matéria é ilustrada com a foto da manifestação e

traz ícones para compartilhamento nas redes sociais e RRS.

A segunda matéria fala sobre uma pesquisa realizada entre estudantes do ensino médio e

universitários da Araucania em que, segundo a reportagem, Ominami foi eleito o próximo

presidente do Chile. A matéria é ilustrada por uma foto escura com alguém, que não é possível se ver

quem é, falando em uma tribuna. Por sinal, nenhuma foto da página possui legenda.

A terceira matéria tem como título uma proposta de Marco – “En mi gobierno abriremos las

salas cuenas de lunes a lunes, para que más mujeres puedan ingresar al mercado laboral” (Em meu

governo abriremos creches de segunda a segunda para que mais mulheres possam ingressar no

mercado de trabalho) – realizada quando da visita deste a uma creche infantil onde conversou com

educadoras. Na ocasião, segundo a matéria, Marco referiu-se a uma nova Lei das TVs digitais do

Chile e desafiou o candidato da Aliança (Piñera) a desfazer-se da propriedade da Chilevision. A

matéria traz a foto de Marco discursando, tendo ao fundo bandeiras da campanha.

A matéria seguinte é aberta com uma declaração do candidato: “Yo no soy El hijo de La

presidenta Bachelet, yo tuve 3 padres y uma madre, pero com Ella tenemos em común que nos muove

el mismo sueño” (Eu não sou filho da presidente Bachelet, tive 3 pais e uma mãe, mas o que temos

em comum é que somos movidos pelo mesmo sonho). A declaração, segundo a matéria, foi feita

domingo, 13 de setembro, no evento de lançamento de sua candidatura diante de uma plateia de

apoiadores que, portando bandeiras, cantavam “se siente, se siente. Marco presidente”. A chamada

para a matéria estampa a foto do evento onde Marco aparece em primeiro plano.

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A matéria seguinte relata a participação do candidato e sua esposa em um evento evangélico

ocorrido no domingo, 13 de setembro, na catedral evangélica de Santiago, em comemoração ao

aniversário da Independência do Chile. A matéria também é aberta com uma declaração do

candidato “Hago um llamado al gobierno para que abra el espectro digital y que los evangélicos

también puedan tener um canal de señal abierta” (Faço um chamado ao governo para que abra o

espectro digital e que os evangélicos também possam ter um canal de sinal aberto) e é ilustrada com

uma foto do evento onde ele cumprimenta com um beijo uma senhora.

A postagem seguinte é um poema escrito pela poetisa chilena Flora Rodriguez Lofredo e tem

o título “Cuando digo sur” (Quando digo sul).

A matéria seguinte relata a visita do candidato à cidade de Punta Arenas, onde recebeu o

apoio do alcaide local, e à cidade de Puerto Natales onde, acompanhado do ator chileno Mauricio

Pesutic, apresentou aos moradores sua proposta de criação de uma eco taxa de 10 dólares para os 300

mil turistas que visitam a região com o objetivo de investir no desenvolvimento do turismo da região.

Prometeu ainda investimentos em capacitação de professores de língua inglesa. Ilustrada com uma

foto do candidato sendo entrevistado por jornalistas na ocasião da visita, tendo logo atrás o ator da

TV chilena, a matéria tem como chamada a frase de Ominami: “Potenciaremos las cuidades de la

zona para convertirla en un pólo de desarrollo” (Fortaleceremos as cidades da região para

transformá-la em um pólo de desenvolvimento) .

A matéria que segue, abre com uma declaração do coordenador geral da campanha de

Marco-Ominami, o deputado Álvaro Escobar que defende que “La ciudadanía tiene derecho a

saber cómo y de qué vive un presidente de partido” (A sociedade tem o direito de saber como e de

que vive um presidente de partido”. A declaração, segundo a matéria teve o objetivo de defender a

retomada do projeto de Lei que obriga candidatos à presidência e ao parlamento a apresentar, na

inscrição da candidatura, declaração de patrimônio. A matéria traz a foto do deputado.

A matéria seguinte abre com uma declaração de Max Colodro, porta-voz do candidato

Marco, e pode ser considerado um ataque a Piñera, líder da corrida presidencial: “Piñera miente

compulsivamente” (Piñera mente compulsivamente), e faz referência a declarações de Piñera sobre

posições externadas pela presidente Bachelet sobre o programa de governo do candidato Frei. A

matéria traz a foto do porta-voz.

Na última matéria da coluna o candidato Ominame volta a figurar como o personagem

principal, abrindo a matéria com seu nome seguido de uma frase a ele atribuída quando da visita à 46Patagônia: “Sera prioridad en mi gobierno, mejorar la vida de todos los Megallánicos” (Será

prioridade em meu governo melhorar a vida de todos os Megallánicos). Abaixo desta chamada de

abertura, nova declaração de Marco em negrito: “No a la privatización de ENAP. Al contrario, hay

que inyetar recursos para explorar los yacimientos de gás y petróleo existentes en la zona para que

esta empresa se desarrolle a travez del tiempo” (Não à privatização da ENAP. Ao contrário, será

46 Nome dado aos habitantes da Patagônia argentina e chilena.

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necessário injetar recursos para exporar os depósitos de gaz e petróleo existentes na região para que,

com o tempo, esta empresa se desenvolva). Um pequeno texto informa que, ao final do ato, foi feita

uma homenagem a seu pai, citando suas palavras “adelante, adelante, adelante, con toda la fuerza

de la historia” (avante avante, avante,com toda a força da história). A matéria ainda informa que, na

cidade de Punta Arenas, mais de 700 simpatizantes, ao som de batucada, reuniram-se no Clube Caça

e Pesca para apoiar a candidatura independente de Marco Enriquez-Ominami.

Passemos agora à coluna da direita, que é dedicada às redes sociais do candidato, e é aberta

com a sessão Marco TV e traz um vídeo que tem como título “campanha independente” hospedado

no canal do candidato no YouTube. Nos limitaremos a descrever aqui os itens, pois as redes sociais

serão analisadas mais adiante.

Logo abaixo é disponibilizada uma caixa de busca e um campo para a subscrição para

recebimento de notícias da campanha via e-mail e, abaixo deste campo, uma colagem de quatro fotos

do candidato e o título “Fotos recentes” oferecem um link para a página do site Flickr do candidato.

O design é pobre, acompanhando a característica geral da página.

Abaixo, uma caixa rebaixada contendo outra com uma faixa azul superior anuncia:

“encuesta” (pesquisa). O internauta é convidado a se posicionar sobre se “para se fazer um bom

governo é necessário: a – más Pitutos (mais influente, no sentido de paternalista, clientelista); b – los

más capaces. Um link oferece ao votante acompanhar os resultados.

Logo a seguir o site disponibilizava, na data em que analisamos a página, um resumo em

tempo real do Twitter do candidato. Aí aparecem três tweets cujo conteúdo referem-se à declaração

polêmica de Marco feita à Revista Cosas, em julho de 2003, de que, em suas palavras, "Chile es un

lumbago, porque es como un sufrimiento permanente. Para mí, ser chileno es una tragedia. Si 47naciera de nuevo, no me gustaría serlo. Hubiera preferido ser italiano" (Chile é um reumatismo,

porque é como um sofrimento permanente. Para mim, ser chileno é uma tragédia. Se nascesse

novamente, não gostaria de sê-lo. Teria preferido ser italiano). Como era de se esperar os

concorrentes reavivaram o episódio objetivando desgastar a imagem de Marco.

Em seguida a coluna traz uma caixa reservada à página do candidato na rede social

Facebook, denominada Marco Enriquez-Ominami Los Jóvenes al Poder, Presidente 2010. A

imagem que ilustra a sessão é uma parte da que aparece na abertura do site, cortada no sentido

horizontal aparecendo somente meia face do candidato e sua logomarca. Logo abaixo uma caixa

convida o internauta a torna-se fã. A primeira reportagem da coluna do meio, já descrita aparece

novamente aí, o que demonstra a reutilização de conteúdos do site na página da comunidade

Facebook. Logo abaixo a caixa de fãs mostra oito pequenas fotos e um texto informa a existência de

58.687 inscritos.

47 http://www.emol.com/noticias/nacional/detalle/detallenoticias.asp?idnoticia=376140. Acesso em 17-11-2009,

21h54.

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Page 68: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

O próximo item que aparece na coluna é o blog do candidato, que estampa link para uma

postagem do dia 10 de setembro que tem como título “Un nuovo indicador para luchar contra la

pobreza” (Um novo indicador para lutar contra a pobreza). A matéria relata a apresentação de uma

proposta elaborada pela Fundación para la Superación de la Pobreza, denominada Umbrales

Sociales Garantizados (Princípios Sociais Garantidos), abraçada, segundo a chamada da matéria,

por todos, mesmo por aqueles mais relutantes em debaterem e compartilhar espaços.

O próximo item da coluna é uma chamada para o blog En La Tercera, uma área de blogs do

periódico La Tercera, uma das empresas de comunicação do Consorcio Periodístico de Chile S.A.

(Copesa), onde a mesma matéria sobre a proposta elaborada pela Fundación para la Superación de

la Pobreza aparece postada e assinada pelo candidato.

Em seguida aponta para o blog Hablemos de Chile, do senador Carlos Ominami, padrasto do

candidato Marco, onde aparecem dois resumos de postagens do senador. A primeira matéria tem

como título “Doctor Esteban Maturana candidato a dipuatdo” – com erro de digitação – e fala

sobre a candidatura de Maturana pelo décimo distrito pela coligação de Ominami. A segunda

matéria tem como título “Cristián Garcia Huidobro será compañero de lista de Ominami en la V

Cordillera” e é cópia de uma reportagem do El Mercurio online que anuncia a candidatura ao senado

do ator chileno.

O item seguinte leva o internauta a mais um site de Marco Ominami, chamada Marco secreto

(prancha 3). Construído numa estrutura de blog, não tem menu, e os temas mais variados são tratados

ali em pequenos textos de no máximo três parágrafos, possibilitando comentários dos internautas.

Os comentários são livres e não possuem moderação, sendo postados imediatamente na página. A

página apresentava, em 14 de setembro, três idéias postadas para comentários. A primeira idéia

lançada para debate é a do direito de voto aos cidadãos chilenos que moram no exterior. O título,

“Voto de los chilenos que viven fuera” (voto dos chilenos que vivem fora), acompanhado de um

texto de apenas uma linha “Tienen Dodô El derecho y he peleado por ello” (Têm todo o direito e eu

lutei por ele) gerou 32 comentários. Outros dois temas aparecem aí indicados, um com o título vida

familiar onde Marco, em dois parágrafos, faz comentários de sua vida familiar e da de sua mãe que,

segundo uma entrevista dada por ela e citada no texto, é cheia de contradições como a sua e de

qualquer chileno. Ainda segundo o texto sua mãe está com seu par há 34 anos e separou-se onze

vezes. O tema gerou 12 comentários de internautas. O texto seguinte tem como título a palavra

Unicameral e é uma defesa da extinção do senado, pois na visão do candidato emanam da mesma

lógica e se repetem e gerou 6 comentários. A postagem dos comentários na página é livre, imediata,

sem moderação e não necessita de inscrição, bastando o nome e o e-mail.

A sessão seguinte tem o título Apoyo Internacional (apoio internacional) e disponibiliza duas

declarações de apoio, uma do Comite de apoyo a la candidatura de Marco Enriquez-Ominami em

Francia (Comitê de apoio à candidatura de Marco Enriquez-ominami na França) formado por

chilenos que vivem naquele país. A outra é de um grupo de chilenos que residem no Canadá. A sessão

disponibiliza ainda um link para um vídeo que anuncia sua desfiliação ao Partido socialista e o

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Page 69: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

lançamento de sua candidatura à presidência.

Logo a seguir encontramos um link com o título Nuevo Pacto (Novo pacto) que remete o

internauta a um texto onde é feita uma análise sobre os vinte anos da reconstrução da democracia

chilena.

A última sessão da página tem como título El voto contrario, e é um link para o movimento

batizado com o mesmo nome, criado no final de 2008 com o objetivo de aglutinar pessoas 48independentes, apolíticas e desencantadas com os atuais partidos chilenos . O título da matéria, “El

voto contrario patrocinando a la única radio marquista do Chile”, informa o leitor que Marco

assinou, em 10 de setembro, sua inscrição como terceiro candidato à presidência do Chile como

independente. Abaixo, um link disponibiliza ao internauta o podcast das declarações do candidato

transmitidas ao vivo no domingo, 13 de setembro, do encontro de partidos para o lançamento de sua

candidatura.

Num balanço geral, a página é uma imensa colcha de retalhos. Sua estrutura indica falta de

um planejamento em sua elaboração e, por ainda não haver um norte de campanha definido e

explícito no que se refere à comunicação como um todo, demonstrado pela ausência de um slogan do

candidato, a página é falha no que se refere à usabilidade, interatividade, design e conteúdo.

Decorrente disto, ao logo da campanha, irá apresentar grandes mudanças.

4.3. O site oficial do candidato Piñera no início da campanha

Descreveremos agora a página de abertura do site oficial do candidato Sebastián Piñera –

http://Piñera2010.cl/ – tal com se apresentava em 18 de setembro de 2009, período inicial da

campanha eleitoral (prancha 4).

Na parte superior da página há uma barra onde a bandeira do Chile, em tamanho pequeno, se

repete muitas vezes. Logo abaixo vemos a fotografia do busto do candidato sorridente trajando uma

camisa azul. O fundo da página é cinza e à direita do candidato está escrito, em azul, Así queremos

Chile (Assim queremos o Chile), e abaixo desta, na cor laranja, o nome do candidato, Sebanstián

Piñera, seguido do ano 2010. Do lado direito da página aparece a logomarca do candidato, uma

estrela de cinco pontas tendo cada uma delas uma cor e, no centro desta, estão disponibilizados dois

48 Movimiento social Internet sin fines de lucro surgido el año 2008 en el programa de radio FM Tiempo "Liberen a Nicolas".Buscamos hoy que la gente tenga poder con su voto para las siguientes elecciones parlamantarias y presidenciales del 2009, luego de nuestra exitosa experiencia en las municipales 2008. Amparamos a los independientes apoliticos, los desencantados de los partidos actuales, los profesionales, las personas abiertas de mente y todo aquel que crea que hay una esperanza en cambiar la forma de guiar a nuestro pais. http://www.facebook.com/video/video.php?v=1063742868241#/pages/EL-VOTO-CONTRARIO/29683303126?v=info. Acesso em 16-09-2009 23h11.

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Page 70: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

campos de formulário com a inscrição Acompáñame (acompanhe-me). O primeiro campo é para a

inscrição via e-mail e o segundo, para celular. Abaixo destes o texto recibe novedades, noticias e

información de nuestra campaña em tu correo e celular (Receba novidades, notícias e informações

em seu correio e celular) informa a utilidade dos campos.

Abaixo uma barra de menu na cor laranja atravessa toda a página no sentido horizontal, com

textos na cor branca formando as opções de navegação: inicio, que remete o internauta à página

inicial; Sebastián,que apresenta trajetória de vida política, profissional e familiar do candidato;

Cecilia, que traz a biografia de Cecília Morel, esposa do candidato; Proyecto Chile, que já esboçava

as principais linhas do plano de governo; Blog SP, que acessa uma página dentro do site do candidato

que é usada como um blog, mas não é, além de os comentários passarem pelo crivo de um moderador

para serem publicados; Opinión, que apresenta uma série de artigos escrito por diversos apoiadores

sobre temas variados; Centro de prensa, que apresenta as notícias da campanha; Piñera TV, que abre

uma página contendo vídeos da campanha postados no YouTube; 2.0, que acessa uma página onde

são listados todas as atualizações feitas nas redes sociais virtuais do candidato e, por fim, o link

Descargables, que disponibiliza aos internautas materiais de campanha para download como

Wallpapers para monitores, telas para Blackberry, publicações e documentos de campanha, tarjas

digitais para sites, avatares para serem usados no Twitter e no Facebook, banners para sites, áudios e

o jornal da campanha .

Abaixo da barra de menu a página é dividida em duas colunas, sendo a da esquerda a mais

larga e dedicada a notícias de campanha e outros conteúdos, e a da direita dedicada a links temáticos

e às redes sociais.

A coluna da esquerda inicia com uma caixa onde aparece, à esquerda, um menu com três

opções de temas e à direita uma tela exibidora da opção selecionada. Na data da análise as opções

eram Sebastián en Argentina, que apontava para uma página onde por meio de textos, fotos e vídeo

fazia-se a cobertura da visita do candidato ao país; Grupos Tantauco se preparan para gobernar, que

direcionava a navegação para uma página que tratava da elaboração do plano de governo do 49candidato e da participação nas discussões de grupos de Tantauco , e Sebastián Dio a conocer las 15

prioridades de su gobierno, que apontava para uma página onde 15 prioridades de governo eram

arroladas.

Abaixo deste módulo seguem-se oito matérias apresentadas sempre com a mesma estrutura,

ou seja: a data da postagem e o número de comentários, uma chamada em caixa alta, uma pequena

foto à esquerda, um texto de no máximo sete linhas introduzindo o assunto e abaixo da foto dez

ícones de marcadores (bookmarks) e redes sociais para compartilhar a informação.

A primeira matéria é datada de 17 de setembro e possuía na ocasião um comentário. O título,

Sebástián: Tuvimos uma interessante y profunda reunión com la presidenta Cristina Fernández

(Tivemos uma reunião interessante e profunda com a presidente Cristina Frenández), introduz um

49Tantauco está situado na parte ocidental do país, na região Los Lagos

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Page 71: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

texto curto sobre a visita de Piñera à Casa Rosada tendo à esquerda uma foto onde, sentados em uma

mesa aparecem a presidente da Argentina, Piñera e sua esposa Cecilia.

A matéria seguinte é datada de 17 de setembro e também tem como tema a visita à Argentina.

Tem como título Sigue los pasos de Sebastián em la Argentina (Siga os passos de Sebastián na

Argentina). O texto de introdução conta a chegada de Piñera à Argentina com José María Aznar para

participar de um seminário organizado pela FAES - Fundación para el análisis y los estudios

sociales – e de vários encontros com as principais figuras do mundo político. Uma foto, sem legenda,

mostra o candidato entre cinco pessoas. Na ocasião a matéria não apresentava nenhum comentário e

estampava a frase Sé el primero en comentar (Seja o primeiro a comentar).

A terceira matéria da página é datada de 16 de setembro e tinha como tema a elaboração do

plano de governo. O título Grupos Tautauco se reúnen para planificar el futuro gobierno (Grupos de

Tautauco se reúnem para planificar o futuro governo) repete o tema já tratado em link acima. O texto

relata a participação de 37 comissões de Tautauco em uma aula magna da Pontifícia Universidade

Católica do Chile e os trabalhos de planejamento do futuro governo. A matéria possuía na data quatro

comentários.

A matéria seguinte, datada de 15 de setembro, tinha como título Sebastián entrega los

resultados del Concurso 7×7 vota X lo mejor de Chile (Sebastián entrega os resultados do concurso

7X7 vota no melhor do Chile). O concurso patrocinado pela Fundação Futuro elegeu os patrimônios

culturais do país. Na foto ilustrativa da matéria Piñera serve aos convidados uma bandeja de

empanadas, a ganhadora no quesito patrimônio gastronômico.

O texto que segue, datado de 15 de setembro, tinha como título Cordero: Piñera manejaria

mejor el tema Mapuche (Cordero: Piñera manejaria melhor o tema Mapuche) e possuía na época seis

comentários. O texto comenta a declaração de Fernando Cordero Rusque, ex-diretor geral dos

carabineiros durante o governo Frei. A matéria é ilustrada por uma foto de Cordero entre oficiais.

A matéria seguinte era datada de 14 de setembro, com título Sebastián cierra campaña de

inscripción electoral de jóvenes “Mojate por Chile” (Sebastián encerra campanha de inscrição

eleitoral de jovens “Mova-se pelo Chile”). O texto relata o encerramento da campanha de inscrição

eleitoral voltada aos jovens encabeçada por Piñera e seus filhos. Na ocasião possuía um comentário.

A matéria seguinte, de 13 de setembro, tinha como título Sebastián: “Tenemos mucho que

agradecerle a la iglesia evangélica” (Sebastián: “Temos muito que agradecer à Igreja Evangélica”).

O texto relata a participação do candidato e sua esposa no evento evangélico em comemoração à

independência do Chile, e é ilustrado com uma foto onde aparecem no interior da catedral

evangélica. Possuía na data nove comentários.

O último texto da coluna é datado de 12 de setembro e tem como tema o lançamento das 15

prioridades do governo Piñera já tratado em link acima da página. A matéria possuía na data 46

comentários e é ilustrada com uma foto do candidato segurando uma criança com uma bandeira de

campanha na mão.

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Page 72: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Passemos agora para a coluna da direita que é iniciada com uma caixa de busca da Google

sobre um fundo azul claro. Abaixo seguem dez células separados por uma linha azul clara. Em cada

um deles há um texto em duas linhas, sendo a primeira em azul profundo grafada em caixa alta e, a

segunda linha em modo normal escrita em azul claro. Na lateral direita há um pequeno ícone na cor

branca sobre uma bandeirinha azul claro.

A primeira célula tem o título 12 razones (12 razões), e como complemento, para votar por

Sebastián Piñera (para votar em Sebastián Piñera) e remete o internauta a uma página onde são

expostas as razões.

A segunda célula tem como título Voluntários por Piñera e, como complemento, Queremos

contar contigo! O link abre uma página onde o internauta é convidado a participar da campanha de

várias formas: postando artigos e comentários nos blogs ou enviando-os para os jornais, escrevendo-

se como voluntário na rede de organização da campanha, nos comitês de jovens ou de mulheres, nas

atividades de visita casa-a-casa, e nas redes sociais digitais do candidato.

A terceira célula tem como título o endereço eletrônico chilecontodos.cl, e como

complemento Ayúdanos a organizar la campaña (Ajude-nos a organizar a campanha). O endereço é

outro site da campanha dedicado à organização de voluntários e mobilização, acessado por meio de

inscrição. A página de abertura apresenta um vídeo com o candidato chamando à participação e, à

direita, campos para login ou inscrição. A página nos pareceu muito vazia e pouco atrativa.

A quarta célula tem como título Jóvenes X Piñera (Jóvens X Piñera) e como complemento a

frase Sé parte de nuentro equipo juvenil (faça parte de nossa equipe juvenil), e remete a outro site da

campanha dedicado aos jovens. O design e a linguagem são adequados ao público e o conteúdo é

bem diversificado, possibilitando a criação de páginas pessoais pelos inscritos.

A célula seguinte tem como título Me cambio por el cambio (mudo a mim pela mudança) e

como complemento Sólo faltas tú (só falta você) e aponta para uma página onde o internauta é

convidado a postar um vídeo na rede social YouTube contando por que apóia o candidato. Os vídeos

postados aparecem na página.

A sexta célula tem como título Lanzamiento de campaña (lançamento da campanha) e como

complemento a frase Revive el histórico momento, aponta para uma página onde, por meio de textos,

fotos e vídeos o evento de lançamento da campanha é exposto.

A célula seguinte tem como título El Chile que quieres (O Chile que desejas) e como

complemento a frase ¿Como sueñas tu país? (Como sonha seu país?) aponta para uma página onde

um extenso formulário recolhe informações pessoais, sonhos idéias e projetos.

A oitava célula tem como título Tú foto com Sebanstián (Sua foto com Sebastián) e como

complemento a pergunta ¿Ya eres parte de mi álbun de Flickr? (Já faz parte de meu álbum no

Flickr?) e aponta para a página do candidato na rede Flickr onde são postadas todas as fotos tiradas

durante os eventos de campanha e onde o eleitor pode procurar e, se desejar, baixar a sua tirada com o

candidato.

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Page 73: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

A célula seguinte tem como título Simón Paredes (nome do personagem) e como

complemento a frase Sigue sus aventuras (Siga suas aventuras), e aponta para o blog do personagem

de história em quadrinhos criado para a campanha na comunidade Blogspot. (prancha 6).

A última célula da coluna tem com título Fideicomiso voluntario (Confiança voluntária) e

como complemento a frase Compromiso cumplido! (Compromisso cumprido), e leva o internauta a

uma página onde são divulgados os contratos firmados por Piñera para manifestar a intenção de se

desligar de suas empresas.

Abaixo das dez células descritas há uma grande caixa azul com as atualizações do Twitter do

candidato. Na ocasião os cinco tweets que ali constam falam sobre sua visita a Argentina que estava

acontecendo.

Abaixo uma pequena caixa azul tem como título Redes sociales (redes sociais), e traz os

ícones das redes onde o candidato se faz presente: Facebook, Flickr, Twitter, Fotolog, YouTube, um

ícone de RSS e de Podcast.

A caixa de baixo, também com fundo azul tem o título Blogs recientes (postagens recentes) e

mostra o título das cinco últimas postagens do blog, cujos conteúdos já abordamos acima.

Abaixo desta caixa vemos um grande conjunto de palavras, na cor azul e em ordem

alfabética, colocadas cada uma em um tamanho de fonte, todas “lincadas”. Este é um recurso em

voga e, em muitos sites, mas não no do candidato, elas se movem dando a impressão de nuvem,

fazendo referência à nova tecnologia cloud computing (computação em nuvem) no qual os

aplicativos já não são mais instalados no computador, mas rodados a partir da rede (no servidor).

Abaixo desta a página apresentava um calendário do mês de setembro onde era possível

navegar pelas datas que mostravam as atividades de campanha e as comemorações. Abaixo deste

calendário estavam arroladas as principais atividades e comemorações do mês.

Finalizando a página as logomarcas da Fundación Futuro, Instituto Libertad, Libertad

Desarrollo, Fundación Jaime Gusmán e a da Coalición por el Cambio.

Em resumo, a página do candidato Piñera demonstrava, já na fase inicial da campanha, uma

identidade no que se refere a design, navegabilidade e interatividade com o eleitor, pois como

veremos na fase da comparação entre dois momentos da campanha, foi pensada muito antes do

início da campanha eleitoral.

4.4. Reposicionamento na reta final do primeiro turno

É comum em campanha eleitoral a prática do reposicionamento, pois à medida que as ações

planejadas são executadas são postos em prática instrumentos para que as ações, sejam elas de

comunicação ou mobilização, sejam mensuradas no que se refere à sua eficácia junto ao eleitorado.

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Page 74: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

A análise dos resultados obtidos por pesquisas qualitativas e quantitativas norteiam as eventuais

correções de rumo que se fizerem necessárias.

No que se refere às ações na web, embora a mensuração destas seja muito mais rápida e

menos dispendiosa do que para os programas de TV, pois os relatórios gerados pelos servidores

possibilitam uma radiografia fiel do comportamento e perfil do internauta, tanto nas páginas da

campanha como nos mecanismos de busca e nas redes sociais, a ação na web também dependem dos

instrumentos de mensuração tradicionais, pois as ações na rede digital para serem eficazes

necessitam estar integradas às outras ações. Assim, comunicação eletrônica e comunicação digital

devem caminhar na mesma direção, o que não deve ser confundido com falar a mesma linguagem,

pois cada mídia possui sua linguagem específica.

O planejamento de comunicação é parte importantíssima do planejamento estratégico de

uma campanha eleitoral. Nele estão as linhas mestras por onde caminhará a campanha. O slogan e os

eixos fundamentais do programa de governo serão o pano de fundo para qualquer ação de

comunicação da campanha, seja ela no rádio, na TV ou na web.

Comparando as páginas dos candidatos do início da campanha com as da reta final teremos

elementos para aferir a ocorrência ou não de ações de reposicionamento das ações de comunicação

na web por parte de cada um deles.

Se compararmos a página de Eduardo Frei disponibilizada na web em 13 de setembro

(prancha 1), fase inicial da campanha, com a de 9 de dezembro (prancha 7), reta final da campanha,

constataremos a permanência dos elementos fundamentais de conteúdo, design e navegabilidade. O

nome e o slogan do candidato continuam a abrir a página e foram trabalhados exaustivamente no

curso da campanha.

A estrutura da página manteve-se praticamente inalterada, sendo que a única inovação de

peso foi o acréscimo de novas aberturas temáticas que se sucediam a cada visita ou por meio de uma

barra de menu horizontal que dava acesso às propostas recentes do candidato, a um link que

conclamava o internauta a tornar-se fiscal de votação, a outro que dava instruções sobre o trabalho

de fiscal para os que já se haviam escrito e a última, que apresentava um novo spot de rádio da

campanha e convidava os simpatizantes a divulgarem nas redes sociais. (prancha 7A).

A seta foi o ícone da campanha de Frei. Explorada de forma criativa e interativa, deu o tom no

que se refere a design e interatividade. O eleitor era convidado a participar dos programas de TV e do

site, postando pequenos vídeos e fotos portando a seta vermelha (prancha 8).

No Plano de Governo do candidato as propostas foram ilustradas também com a utilização

da seta de maneira criativa, formando uma unidade visual e conceitual (prancha 9).

A comparação das páginas nos dois momentos do primeiro turno da campanha demonstra

que a comunicação realizada pelo site oficial do candidato Frei seguiu, desde o princípio, a mesma

linha no que se refere a estrutura das páginas, linha argumentativa e design, o que atesta a existência

de um planejamento das ações de comunicação.

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Page 75: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

No que se refere ao candidato Marco Ominami a comparação entre a página disponibilizada

na web em 14 de setembro de 2009 (prancha 2), fase inicial da campanha, com a de 7 de dezembro

(prancha 10), reta final do primeiro turno, observa-se uma mudança radical. Se a página apresentada

no início da campanha refletia total falta de planejamento e objetivos, já a da reta final do segundo

turno mostrava-se totalmente reformulada no que se refere a design, navegabilidade e conteúdos. Já

em 29 de setembro a página apresentada encontrava-se totalmente reformulada (prancha 11),

refletindo mais a existência de um planejamento de comunicação do que um reposicionamento

propriamente dito, uma vez que a campanha mal começava e, como já ressaltamos, tudo leva a crer

que na fase inicial da campanha ainda não existia planejamento algum.

Se na fase inicial da campanha a página do candidato ostentava um amadorismo patente,

após duas semanas decorridas, o site apresentado surpreende com um design atraente e bem

amigável em termos de usabilidade e opções de interatividade.

A nova página inicia com uma faixa retangular azul onde aparece à esquerda a logomarca e o

slogan da campanha: uma estrela vermelha de cinco pontas associada à frase “Marco por ti. Sigue el

cambio” (Marco por você. Siga a mudança). No centro do retângulo a frase “Miles de persona han

firmado para hacer realidad los sueños de un nuevo Chile” (milhares de pessoas assinaram – a lista

para registro da candidatura – para tornar realidade os sonhos de um novo Chile). Do lado direito um

link com a frase “Chile Cambió” (Chile Mudou) convidava o visitante a participar da campanha e

fazer história. O link dava acesso a outro site de Ominami, mais voltado aos eleitores jovens

(www.chilecambio.cl), com linguagem, conteúdos e design adequados ao segmento (prancha 12). O

site já existia na fase inicial da campanha e manteve sua estrutura de navegabilidade e design

inalterados até a reta final do primeiro turno. Nele o eleitor encontrava links para um manifesto bem

humorado em forma de vídeo, uma página que orientava os jovens eleitores a se inscrever para o

pleito, um blog com textos assinados pelo candidato e por colaboradores, a sessão Idéias Frescas

onde o eleitor era instigado a publicar idéias e propostas, a sessão Microfone Aberto, onde o eleitor

era convidado a produzir e ou postar vídeos, e ainda a sessão Em Toda Parte, dedicada às redes

sociais Twitter, Flickr e YouTube (pranchas 12A).

Abaixo desta barra azul aparece uma barra de menu horizontal cinza com links para a página

inicial, para uma apresentação do candidato, para o programa de governo, notícias, redes sociais, e

para contato. Merece destaque o link dedicado ao programa de governo (prancha 13) onde o eleitor

podia participar da construção das propostas do candidato votando sobre os principais temas ou

mesmo comentando livremente (pranchas 13A). Mediante inscrição no site, o eleitor passava a fazer

parte de forma mais ativa na construção do plano de governo do candidato, compondo grupos de

trabalho temáticos. Em 29 de setembro o site apontava a formação de 40 grupos temáticos e 984

usuários registrados. As contribuições postadas no site entre julho e setembro de 2009 deram origem

à publicação de um extenso documento que podia ser baixado no site.

Voltando à análise comparativa da página inicial do site oficial de Ominami, observamos que

logo abaixo da barra de menu cinza foi construído um módulo que era atualizado a cada visita ou

atualização da página, onde constavam sempre uma palavra de ordem associada a uma foto de

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alguma atividade do candidato (prancha 14), e um campo para a inscrição de e-mail e telefone para

os que desejassem receber notícias sobre as atividades da campanha. Esta estrutura, muito diversa

daquela poluída apresentada na fase inicial da disputa, permaneceu inalterada até a reta final do

primeiro turno, quando a foto do candidato ao lado do presidente Lula e a frase “Estamos por la

integración con nuestros vecinos” passou a ser utilizada como tentativa de capitalizar a

popularidade de Lula. Por sinal todos os candidatos ao pleito estiveram no Brasil e ostentaram na

rede fotos ao lado do presidente.

Ominami, como já foi dito anteriormente, pertencia aos quadros do Partido Socialista e, por

discordar da indicação do democrata cristão Eduardo Frei como o candidato oficial do governo,

deixou o partido e apresentou sua candidatura como candidato independente. No Chile isto é

facultado pela legislação, o que em nosso país não é permitido. Assim, Marco procurou durante toda

a campanha posicionar-se como uma opção de mudança fazendo coro com o candidato Piñera, mas

não como oposição declarada como o candidato da direita, procurando capitalizar o prestígio da

presidente Bachelet. Sua posição foi, portanto, ambígua. Declarava-se de oposição ao candidato do

governo, Eduardo Frei, mas não ao governo Bachelet.

O candidato foi o primeiro a disponibilizar no site um link com prestação de contas da

campanha, o que pode ser constatado já na página apresentada em 29 de setembro (prancha 11) e

seguido mais tarde pelos outros candidatos.

Em todas as sessões dos sites do candidato a participação do eleitor era garantida sem

moderação. As mensagens de todos eram postadas imediatamente e sem nenhum filtro, o que se

constituiu em um diferencial em relação à comunicação dos demais candidatos na web.

Como pudemos observar, a comparação entre os dois momentos da campanha de Marco

atesta um profundo reposicionamento das ações de comunicação e a utilização da estratégia de

segmentação a partir da criação de múltiplos canais de comunicação na web. Marco teve durante

toda a campanha mais de um site. Além do oficial (www.marco2010.cl), o candidato manteve e

atualizou constantemente o site de seu programa de governo (http://marcopresidente.cl/) e outro

voltado aos eleitores jovens (www.chilecambio.cl), com linguagem, conteúdos e design adequados

ao segmento.

Passemos agora à comparação entre as páginas do candidato Sebastián Piñera do início da

campanha (prancha 4) com a de 9 de dezembro, reta final do primeiro turno (prancha 15). A

comparação entre elas atesta a permanência dos elementos fundamentais no que se refere ao design e

usabilidade, à exceção do abandono da utilização das bandeirinhas do Chile na parte superior da

página que era vista na fase inicial da campanha, e da inclusão de um recurso na parte superior direita

da página inicial que, ao passar-se o mouse, a parte superior da página dobrava e revelava o anúncio

da “Festa del Cambio” (Festa da mudança) que seria realizada no dia seguinte, 10 de dezembro

(prancha 16). A inclusão do recurso implicou, cremos que por questões técnicas, na supressão da

coluna da direita da página inicial, mas não nas outras páginas do site, onde foi mantido o mesmo

design, a divisão da página em duas colunas e a estrutura de navegação do início da campanha.

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Page 77: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Da mesma forma que a dos demais candidatos a página inicial de Piñera recebeu a

incorporação de várias aberturas temáticas, associada a imagens e palavras de ordem que se

sucediam a cada visita ou atualização, o que pode ser observado já em 22 de outubro (prancha 17).

Piñera representava no pleito os setores mais conservadores da sociedade chilena e havia

disputado a eleição anterior, perdendo para Bachelet no segundo turno. Concorre como candidato de

oposição declarada e vai fazer uso de um discurso pela mudança. Já na fase inicial da campanha o

link “Me cambio por el cambio” (mudo pela mudança) inaugurava na comunicação do candidato a

utilização do conceito de mudança, que irá ser cada vez mais explorado no decorrer do pleito.

Por ter sido derrotado no segundo turno por Bachelet em 2005, Piñera teve um bom tempo

para preparar-se para esta eleição, tendo iniciado as ações na web já em outubro de 2007 como 50informa o artigo “Campaña online” postado no site pelo comitê gestor da campanha . O artigo

aborda as estratégias do candidato na web e seu papel na difusão das mensagens políticas do

candidato, bem como sua utilização no processo de organização e mobilização de voluntários e

simpatizantes. Segundo o documento, o comando online da campanha procurou: consolidar uma

identidade digital do candidato; desenhar um esquema eficiente de geração de conteúdos; ser uma

fonte de conteúdos para os meios tradicionais; integração e diálogo nas redes sociais; desenvolver e 51gerenciar uma base de dados integrada (CRM) de militantes, simpatizantes e voluntários da

52campanha; e rápida adaptação às exigências da campanha . O texto assinala sete linhas de ação

adotadas na web, como a implantação de servidor próprio e uma conta FTP com o objetivo de

gerenciar e distribuir conteúdos em vídeo de alta resolução para os canais de TV; a utilização das

redes sociais, em especial o Twitter e o Flickr, onde, segundo o texto, o próprio candidato gerava

conteúdos; a construção de um banco de dados CRM para implantação de um sistema de fidelização,

comunicação e difusão; a construção a partir de 2007 de uma plataforma de comunicação e

organização online – www.chilecontodos – na qual milhares de pessoas contribuíram com projetos e

idéias formando comissões e grupos de trabalho tranformando-se, a partir de 2009, em uma

plataforma de organização de campanha para coordenar e mobilizar pessoas por todo o país;

cobertura online de eventos de campanha, iniciada já em 3 de abril, quando da entrega dos trabalhos

das comissões dos grupos de Tantauco; disponibilização de conteúdos em vídeos, áudio podcast,

textos e fotos em canais próprios nas redes sociais como YouTube, Flickr, Facebook, Fotolog e

Twitter onde o candidato tornou-se o chileno mais seguido do país. Nas conclusões, o texto ressalta a

50 http://Piñera2010.cl/2009/09/21/campana-online. Acesso em 22/set/2009, 18h21.51 Customer Relationship Management (CRM) é uma expressão em inglês que pode ser traduzida como Gestão de

Relacionamento com o Cliente. Foi criada para definir toda uma classe de ferramentas que automatizam as funções de

contacto com o cliente, essas ferramentas compreendem sistemas informatizados e fundamentalmente uma mudança de

atitude corporativa, que objetiva criar e manter um bom relacionamento com seus clientes.52 ¿Qué hemos hecho?

Consolidar la identidad digital de Sebastián, la cual ha desarrollado desde, por lo menos, octubre de 2007. Diseñar un

esquema eficiente de generación de contenidos.

Ser una fuente de contenidos para los medios tradicionales. Integración y diálogo en redes sociales. Desarrollar y

gestionar de una base de datos integrada (CRM), de adherentes, simpatizantes, voluntarios, etc., etc., de la campaña.

Rápida adaptación a los requerimientos de la campaña. In: http://Piñera2010.cl/2009/09/21/campana-online.

77

Page 78: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

visão de que as ações na web não devem ser vistas como um fim em si mesmo, mas como parte de um

processo, e que não se deve perder de vista o fim último das ações, que seria ganhar as eleições.

Retornando à comparação entre as páginas do candidato nos dois momentos da campanha,

observamos que, devido ao fato de que a campanha foi pensada e organizada com grande

antecedência, não houve grandes alterações, tendo sido preservado o design e o fundamental na

estrutura de navegação, embora o menu principal da página tenha sofrido alteração. O link

“Proyecto Chile” foi substituído pelo link “Programa de gobierno”, isto devido ao fato de que na

fase inicial da campanha o programa do candidato estava sendo elaborado. A elaboração do Plano de

governo de Piñera foi centralizada no site www.chilecontodos, mas o mesmo não pôde ser

acompanhado, pois para a inscrição nele exigia-se que o internauta informasse o RUT (Registro

Único Tributário), que é o equivalente ao nosso CPF.

Outra modificação observada no menu foi a supressão do link “2.0” que figurava na página

apresentada na fase inicial da campanha. Na página de abertura de 9 de dezembro a campanha

lançava um concurso de slogan para o segundo turno, em que os eleitores concorriam a cinco

credenciais vip para acompanharem o candidato no dia da eleição.

O candidato Piñera optou, da mesma forma que o candidato Frei, por construir seu blog como

uma sessão do próprio site. As postagens possuíam opção para comentários, mas os mesmos

passavam pelo crivo da moderação. Por sinal todas as sessões do site possuíam a opção de

comentários, mas os mesmos só eram postados após filtro do moderador.

O site procurou disponibilizar grande quantidade de conteúdos que o internauta podia baixar

para informar-se sobre as propostas ou mesmo para ajudar a divulgar a campanha do candidato. A

sessão “descargas” é uma das mais completas em comparação às dos outros dois candidatos,

disponibilizando telas em várias resoluções (wallpapers), fundos para Blackberry, documentos os

mais variados voltados a setores específicos ou temáticos, tarjas, banners e avatares para redes

sociais, áudios com jingles e discursos do candidato e seus familiares e ainda os jornais da campanha

(pranchas 18).

Embora em todo o site o recurso da utilização de vídeos tenha sido abundante, o link “Piñera

TV” centralizava toda a produção da campanha, que era postada também na rede social YouTube, e

será objeto de análise no capítulo sobre as redes sociais.

A comparação entre os dois momentos da disputa eleitoral demonstra que a campanha de

Piñera realizada em seu site oficial manteve-se praticamente inalterada durante todo o primeiro

turno no que se refere a design, usabilidade e conteúdos fundamentais.

No item seguinte analisaremos as ações dos três principais candidatos nas chamadas redes

sociais digitais.

78

Page 79: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

4.5. Breve balanço da utilização das redes sociais digitais

Como não poderia deixar de ser, os três candidatos aqui analisados se fizeram presente nas

redes sociais digitais, mas, como veremos, esta presença guardou forma e intensidade variável, pois

cada um deles atribuiu em sua estratégia geral de campanha uma dada importância às ações na rede.

Eduardo Frei foi o candidato que teve atuação mais tímida e, por outro lado, foi o candidato

mais atacado na rede. Efetuando-se uma busca rápida nas páginas da comunidade Facebook pelo

nome do candidato, observava-se a existência de 602 grupos e 33 páginas (prancha 19). O grupo com

maior número de seguidores era o “Eduardo Frei Vale Callampa”, com 4.707 membros e foi criado

por opositores com o objetivo de realizar campanha negativa, de ataque. O segundo grupo com

maior número de seguidores chamava-se “No a Eduardo Frei” e também foi criado por opositores,

possuindo 1.845 inscritos. O terceiro da lista era um grupo criado por apoiadores do candidato

chamava-se “Comando de Eduardo Frei” e possuía somente 156 membros. Na página o candidato

utilizava, da mesma forma que Marco e Piñera, a estrela como símbolo, mas na cor branca.

Já a página relacionada ao nome do candidato com maior número de seguidores era a de

nome “No a Eduardo Frei” (prancha 20), possuindo 133.703 membros, ao passo que a página

oficial de Frei na mesma comunidade conseguiu aglutinar somente 16.578 seguidores, muito abaixo

das dos seus dois concorrentes. Observou-se, portanto o predomínio quase que absoluto de espaços

de ataque ao candidato Frei no Facebook.

Em 24 de setembro, um dia após o primeiro debate televisivo entre os candidatos, a página

oficial de Frei no Facebook (prancha 21) apresentava modestos 9.679 inscritos, e logo na primeira

postagem observamos uma eleitora criticar o candidato por misturar-se aos socialistas e por acusar

Pinochet de ter sido um ditador, mas apoiar Fidel Castro há mais de 50 anos no poder. As demais

postagens da página são de apoiadores declarando o voto ao candidato e anunciando a vitória de Frei

no debate ocorrido.

Se o site oficial da campanha pôde ser blindado a partir da utilização do expediente da

moderação de comentários, já nas redes sociais a prática é quase que impossível e a exposição às

criticas e ataques são inevitáveis.

Em 9 de outubro, um dia após mais um debate entre os presidenciáveis, desta vez transmitido

por uma emissora chilena de rádio, a página oficial de Frei no Facebook (prancha 22) apresentava

um pequeno acréscimo no número de adesões ostentando 10.196 inscritos. A primeira postagem da

página é de um eleitor que lamenta o fato de Frei apresentar-se ao eleitorado com a mesma imagem

de anos passados. O eleitor declara-se anti Piñera, mas ressalta que o mesmo tem conseguido

transmitir uma imagem mais ao gosto do eleitor e aconselha Frei a mudar rapidamente seus

assessores de imagem e comunicação. Nas três postagens seguintes duas são a favor de Piñera e uma

a favor de Frei. Os que se posicionam ali a favor de Piñera defendem que o Chile merece ser um país

desenvolvido e que isso só seria alcançado com sua eleição. Ressaltam também que o grande

vencedor do debate ocorrido no dia anterior seria o candidato da direita e acusam os democratas

79

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cristãos de não quererem perder a “mamocracia”. Em resposta à postagem que afirmava a

necessidade da eleição de Piñera para que o Chile se desenvolvesse, uma partidária de Frei alega que

é necessário votar na experiência e credibilidade, afirmando que Frei inspira confiança e os outros

candidatos são charlatões inexperientes. A prática de réplicas e tréplicas às postagens de ataque

foram muito comuns durante a campanha entre opositores e partidários dos candidatos nas redes

sociais.

Em 22 de outubro a página possuía 10.481 inscritos (prancha 23) e também trazia postagens

com críticas feitas ao candidato, desta vez por professores por conta da defasagem salarial da

categoria. Até mesmo partidários da Concertación manifestam-se ali contra a escolha de Frei como

o candidato do governo declarando “seamos realistas, y vamos de mal en peor” (sejamos realistas, e

vamos de mal a pior). Em 27 de outubro a página contava com 10.625 inscritos e também apareciam

várias criticas ao candidato. Salta aos olhos a baixa taxa de participação com o menor número de

comentários e manifestações de aprovação (curtir) em relação aos outros dois candidatos, o que

veremos mais adiante.

Na reta final do primeiro turno a página oficial de Frei contava com 12.530 inscritos e o tema

predominante ali, como também em toda a imprensa, era a reabertura do processo sobre a morte do

ex-presidente Eduardo Frei Montalva, pai do candidato que, segundo últimas provas, teria sido 53assassinado . A seis dias da eleição a reabertura do processo traz alento e fôlego à campanha de Frei.

Frei esteve presente também na rede YouTube, onde criou um canal para postar os vídeos da

campanha. Em 22 de outubro o canal freichile possuía 99 inscritos, acumulava 7.285 exibições e

registrava 45 comentários, sendo que todos os 10 que aparecem na página são a seu favor. Na data o

vídeo destaque da página divulgava a declaração de apoio do chileno José Miguel Insulza, secretário

geral da OEA ao candidato Frei. O vídeo acumulou em dois dias de exibição 332 acessos e em 4

meses obteve somente 1.099 visitas. Em toda a campanha o vídeo postado por Frei que mais foi visto 54foi o do programa eleitoral de 3 de janeiro , segundo turno da campanha, com 29.172 exibições. O

55segundo vídeo postado de maior acesso foi o spot de 30 segundos de 30 de outubro de 2009 , que

somou 28.696 exibições. Nele o candidato, rodeado de mulheres, é questionado por uma delas sobre

por que deveria votar nele e não em Piñera. Frei responde “Soy más hermoso” (sou mais bonito), e

todos riem (prancha 24).

Esta peça de marketing eleitoral no mínimo inusitada foi ao ar na TV chilena, e no YouTube

contou com 28.695 acessos. Para a rede essa audiência pode ser considerada baixíssima. Efetuando-

se uma busca no YouTube pelo nome do candidato constata-se que o vídeo de maior acesso sobre Frei 56foi o “Gomilalo. Bandas Detergentes – Sonidos limpios para un país sucio” , postado no canal de

sátira política Difamadores em 19 de agosto de 2009, que obteve nada menos do que 478.952

exibições (prancha 25).

53 Juez abre proceso contra médicos y chofer por homicidio de Frei Montalva a seis días de las elecciones. http://www.latercera.com/contenido/674_207263_9.shtml. Acesso em 07-12-2009, 16h11.54 http://www.youtube.com/user/freichile#p/u/20/zlut0C5Snpo55 http://www.youtube.com/watch?v=nyio2XnZgnU56 http://www.youtube.com/watch?v=BsN-RdUhMwE

80

Page 81: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Nenhum dos candidatos escapou do humor ácido dos Difamadores, que possuem site e estão 57presentes em todas as redes sociais do país .

No Twitter o candidato Frei não teve seu espaço pessoal, deixando a cargo da assessoria a

criação e postagens de tweets nos endereços equipofrei e noticiasfrei, onde eram informados os

passos do candidato e as atualizações do site. Mesmo com dois espaços no Twitter, o candidato foi de

longe o que teve atuação mais tímida. A página equipofrei possuía em outubro 2.351 seguidores,

seguia 3.280 usuários e acumulava 572 postagens. Já a página noticiasfrei possuía 624 seguidores,

seguia 3.170 usuários e acumulava 500 postagens.

Já o candidato Marcos Ominami teve atuação mais significativa em toda a rede. Marco

esteve presente na rede Facebook com sua página oficial, cujo título era "Marco Henriquez-

Ominami Los Jóvenes al Poder, Presidente 2010". Em 9 de outubro a página já possuía 64.447

inscritos, número quase 6 vezes maior do que o alcançado por Frei em toda a campanha. O destaque

da página fica para um comentário de um eleitor que declarava voto para o concorrente Jorge Arrate,

o último colocado na disputa presidencial (prancha 26). Foram comuns manifestações de apoio a

outros candidatos nas redes sociais e, como veremos adiante, no segundo turno os ânimos se acirram

e os comentários descambaram para insultos e palavrões.

As postagens da página informam os eleitores sobre o lançamento dos candidatos

proporcionais e procuram envolver os visitantes da página na preparação do debate que ocorreria no

rádio entre os presidenciáveis no dia seguinte, solicitando o envio de sugestões.

Em 22 de outubro a página do candidato já possuía 66.254 inscritos, e trazia postagens sobre

a viagem do candidato ao Brasil em companhia de sua esposa e do senador Ominami, relatando duas

reuniões realizadas com Lula (prancha 27).

Em 7 de dezembro, reta final do primeiro turno, a página de Marco no Facebook contava com

77.052 inscritos (prancha 28). Faltando apenas uma semana para o pleito as postagens procuravam

envolver o eleitor nas caravanas e convidam para a festa de encerramento da campanha. À esquerda

da página, na sessão fotos de fãs, um dos apoiadores do candidato postou uma caricatura do

concorrente Frei com as calças arregaçadas.

Procedemos a uma busca no Facebook pelo nome de Marcos Ominami e encontramos duas

pequenas comunidades de ataque ao candidato. A maior delas, com apenas 547 membros, tinha

como título “Marco Enriquez Ominami es um mal candidato para catolicos y evangélicos” e acusa

o candidato de ser “um progressista a favor do aborto, da legalização da maconha, do casamento

entre homossexuais e de ser anti-conservador”, bandeiras reais da candidatura Ominami. A outra

comunidade, menor ainda, possui 264 inscritos, e tem como nome “Me cago el Marco Enriquez-

Ominami” (prancha 29) . Acredito nem ser necessária a tradução. Na comunidade o candidato é

acusado de traidor e vendido por ter, no final do segundo turno, apoiado o candidato da Concertación

Eduardo Frei.

57 http://www.difamadores.cl/

81

Page 82: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

As postagens são ácidas e é comum a utilização de palavras de baixo calão e brincadeiras

jocosas com a foto do candidato.

O canal na rede YouTube do candidato Marco possuía em 22 de outubro 447 inscritos,

acumulava 21.220 exibições e destacava o vídeo sobre a visita do candidato ao Brasil onde se reuniu

por duas ocasiões com o presidente Lula (prancha 30). Na sessão de comentários o canal possuía 103

postagens e nas 10 que aparecem na página todos declaram voto ao candidato, a exceção de um que

declara voto no candidato, mas prevendo um segundo turno entre Frei e Piñera declara-se por este no

segundo pleito.

Em 7 de dezembro, reta final do primeiro turno, o canal de Marco no YouTube possuía 781

inscritos, acumulava 33.381 exibições e registrava 160 comentários, sendo que as 10 mensagens que

aparecem na página são em apoio ao candidato.

Uma busca no site YouTube pelo nome do candidato, em 7 de dezembro informava que o

vídeo mais acessado relacionado a ele era o de uma imitação do comediante chileno Stefan Kramer, 58com 290.869 exibições . O segundo vídeo mais visitado, com 228.469 exibições na rede, era um

vídeoclip de animação apresentado por Karen Doggenwailler, âncora da TV chilena e esposa do 59Ominami, muito provavelmente produzido pela própria campanha, chamado “Osito Gominami” ;

60uma paródia do clip de animação infantil “Osito Gominola” , com quase 7 milhões de exibições no

YouTube. Como comparação, basta lembrar que dentre os vídeos assinados pela campanha e

postados no YouTube o mais acessado foi o de 15 de junho voltado aos surdos, que obteve 31.530

exibições.

Além de explorar de forma criativa um sucesso de exibição mundial na web, Marco soube

capitalizar as críticas jocosas feitas pelo humorista Stefan Kramer e, uma vez que era impossível

lutar contra as quase 300 mil exibições, postou os vídeos na sessão “Microfone aberto” de seu site

chilecambio (prancha 31). Outro recurso bem humorado usado como elemento interativo no site

oficial durante a reta final do primeiro turno foi a criação do jogo do rato, no qual o internauta

“caçava” os concorrentes no Palácio de La Moneda (prancha 32).

O candidato Marco fez uso do Twitter pessoalmente, postando com frequência mensagens no

espaço marco2010. A página do candidato contava em 21 de outubro com 22.773 seguidores, seguia

21.013 usuários e já possua 2.407 postagens, mas os usuários seguidos não estavam ainda

organizados em listas.

A postagem mais recente da página do dia 21 informava sobre o sorteio dos números para a

eleição; Marco seria o número 2. O candidato estava no Brasil em visita de dois dias e as postagens

noticiavam sua chegada ao Brasil, a primeira reunião ocorrida com o presidente Lula e informava a

realização de outra reunião a ser realizada no dia seguinte, quando então participariam a esposa e o

senador Ominami, padrasto de Marco.

58 http://www.youtube.com/watch?v=Zs-NIWiX5yE59 http://www.youtube.com/watch?v=ev7Qlp5sWGQ60 http://www.youtube.com/watch?v=w7w59Zp8bEM

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Page 83: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

A imagem do candidato ao lado do presidente Lula foi fartamente explorada durante a

campanha tanto nas redes como no site oficial da campanha.

Sebastián Piñera também esteve presente em todas as redes sociais e, em 9 de outubro, a

página oficial do candidato possuía 62.637 inscritos (prancha 33). Na primeira postagem da página o

internauta era convidado a visitar um link e votar em uma enquete sobre quem havia ganhado o

debate presidencial no rádio entre os presidenciáveis, realizado no dia anterior. Um pouco mais

abaixo uma postagem realizada em 5 de outubro lembrava o aniversário do plebiscito de 1988,

quando o Chile foi às urnas para votar pelo fim do regime militar. A página do candidato no

Facebook, comparada a dos outros candidatos, foi a que mais obteve participação do eleitor que

deixava comentários nas postagens ou simplesmente marcava o link “curtir”, manifestando sua

aprovação ao conteúdo.

Em 22 de outubro, a página possuía 68.054 inscritos (prancha34). Observa-se que as

postagens não são em grande número, pois nas 13 postagens ali mostradas a primeira é do dia

anterior, 21 de outubro, e a última é a matéria já comentada de 5 de outubro sobre o aniversário do

plebiscito de 1988, mostrada na prancha anterior. Salta aos olhos ainda o grande número de

manifestações favoráveis às matérias publicadas por meio do link “curtir” e de comentários

postados por internautas. A página do candidato não dava acesso direto a nenhuma das postagens

publicadas, mostrando somente a quantidade e para acessá-las era necessário visitar o link.

Acreditamos que esse artifício foi usado como uma forma de proteção às constantes críticas postadas

no site de todos os candidatos. Assim, não ficariam expostas na página de abertura e quem quisesse

ler o que os outros haviam escrito deveriam acessar o link.

No dia 28 de agosto a página apresentava uma declaração de Gabriel Valdés, um dos

fundadores da Democracia Cristã chilena, partido de Eduardo Frei, em apoio a Piñera. Como o fato

certamente geraria polêmica visitamos os comentários e lá encontramos, em meio de inúmeras

manifestações de partidários que elogiavam a atitude de Valdés e atacavam o candidato Frei,

acanhadas manifestações contra Piñera. “Chuuuu até o conde virou a casaca, onde vamos parar...” 61fazia publicar um deles. Outro convidava: “Visiten este link www.sietejudas.cl” . O referido link

levava o internauta à sessão de cartas de um periódico virtual onde eram apresentadas duas

colaborações de leitores que faziam uma retrospectiva da trajetória do candidato Piñera e de suas

ligações com o ditador Pinochet, e de como a proximidade com o regime militar ajudou-o na

construção de sua fortuna.

Em 24 de novembro de 2009 Piñera, como os demais candidatos chilenos à presidência,

esteve no Brasil em reunião com o presidente Lula e fez estampar em suas páginas na web fotos suas

ao lado do presidente e, no Facebook, Piñera logo recebeu centenas de manifestações de apoio e

críticas (prancha 35). A primeira manifestação da página é em apoio ao candidato, mas na seguinte

um eleitor acusa-o de ter feito fortuna sob a proteção da ditadura e de não ter lutado pela

61http://sietejudas.cl/comments.php?id=250_0_27_0_C

83

Page 84: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

redemocratização do país. Só para chatear, o autor publica duas vezes seguidas as mesmas críticas na

página. A manifestação seguinte é de um eleitor de Marco Ominami que critica os eleitores de Piñera

dizendo que, com Marco presidente, será criado imediatamente o Instituto para a superação da

pobreza mental. Em seguida, um eleitor de Piñera rebate as críticas fazendo uma referência velada

ao período Allende, perguntando se esqueceram de que os comunistas andaram armados até os

dentes despejando famílias de suas casas e pergunta se isso seria democracia para alguns ou o que se

roubou no governo Frei. Conclui dizendo que o grande Piñera será o presidente do Chile e que

imagina que Marco ande de helicóptero, porque assim o povo faz, ou que Frei é tão pobre que vive da

política.

Em 9 de dezembro, reta final do primeiro turno, a página possuía 78.817 inscritos; na

primeira postagem o candidato convidava os eleitores a participar da festa de encerramento da

campanha. Um link apontava para o vídeo “invitacioncambio” postado em seu canal do YouTube

onde o candidato convidava para a festa de encerramento. Na página várias postagens reforçavam o

convite para a festa, disponibilizavam links para baixar o plano de governo, e divulgavam novos

vídeos do programa eleitoral. O alto grau de interação dos eleitores com a página pode ser constatado

pelo grande número de manifestações recebidas em todas as postagens, em especial na de 1º de

dezembro, que felicitava o candidato pela passagem de seu aniversário com 2.528 manifestações de

aprovação e 787 comentários.

Uma busca no Facebook pelo nome de Sebastián Piñera tinha como retorno a existência de

1.100 páginas e 4.100 grupos formados. A página com maior número de inscrições era a “No a

Piñera” com 156.027 inscritos, uma página de ataque ao candidato e, em segundo lugar, com

121.902 inscritos, aparecia a página oficial do candidato. A página de ataque ao candidato é um

desfilar de insultos, tanto por parte dos opositores como por parte dos partidários de Piñera, que

visitavam o espaço postando respostas no mesmo nível (prancha 36).

Piñera também fez uso do Twitter e, em 24 de setembro, sua página possuía 19.003

seguidores, seguia 18.086 páginas e possuía 619 postagens (prancha 37). Na página deste dia a

primeira postagem informava que Piñera estava em sua casa afinando detalhes para o debate

televisivo que ocorreria em 23 de setembro, e convidava os seguidores a acompanhar o evento pelo

Twitter ou pelo site do candidato. Piñera sorteou pelo Twitter dentre os que mandassem DM

(mensagens diretas) dois seguidores para acompanhá-lo no debate. Esta prática de agraciar eleitores

que o apoiavam por meio de ações interativas foi bastante utilizada por Piñera nas redes e no site

oficial da campanha

Em 21 de outubro a página possuía 21.581 seguidores, seguia 22.507 páginas e haviam sido

postadas 689 mensagens. Nas mensagens da página o candidato faz menção à classificação da

seleção chilena de futebol para a Copa do Mundo, parabeniza os professores pela passagem de seu

dia, informa sobre suas visitas a Museus e um rodeio feminino e expõe metas de seu plano de

erradicação da pobreza.

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Page 85: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Na reta final do primeiro turno a página contava com 23.665 seguidores, seguia 29.090

páginas, registrava 768 postagens e era organizada em 593 listas (prancha 38). A postagem mais

antiga da página faz referência à visita de Piñera ao Brasil e informa estar comendo um churrasco

brasileiro e admirando umas garotas. Relembra também na mensagem os 50 anos da criação de

Brasília que será comemorado no ano de 2010. Outras duas mensagens da página dão informes sobre

sua visita ao presidente Lula.

Piñera também esteve presente no YouTube com um canal próprio onde eram postados os

vídeos de campanha, e em 22 de outubro o canal possuía 414 inscritos, acumulava 19.538 exibições

e 158 comentários. Todos os 10 comentários que aparecem na página são a favor do candidato

(prancha 39). Durante a campanha o vídeo postado por Piñera mais acessado pelos internautas,

acumulando 76.625 exibições foi a polêmica peça de estréia da propaganda na TV em homenagem 62aos músicos andarilhos do Chile plagiando um vídeo da campanha de Obama. O site

63www.casttv.com montou os dois vídeos lado a lado para não restar dúvidas . Outro plágio de Piñera

foi ao discurso proferido em 2007 pelo presidente socialista espanhol, Rodríguez Zapatero. O portal 64Terra Chile publicou os dois vídeos também lado a lado com a fala dos dois .

Piñera é um político polêmico e uma busca por seu nome nas páginas do YouTube retornava

como resultado vários vídeos de ataque com altos índices de acessos. Como não poderia deixar de 65ser, o vídeo do humorista e imitador Stefan Kramer, “derrochando diñero y grandesa” , é um dos

campeões de exibição com 164.094 acessos. Vários outros vídeos de ataque ao candidato eram

encontrados na busca, e em sua maioria com índices de acesso superior a 50 mil exibições, como o 66“Piñera: la verdad que no todos saben” , com 127.988 acesso, que foi tirado do ar, ou ainda o “El

67dia que Sebastian Piñera apoyo a Pinochet en 1998” , que mostra o candidato discursando em

defesa de Pinochet, com 74.624 exibições.

Estas foram, em linhas gerais, as ações dos três principais candidatos na rede mundial de

computadores durante o primeiro turno das eleições presidenciais de 2009 no Chile. Procuramos

compilar em tabelas alguns indicadores numéricos que pudessem mensurar o grau de penetração

destas ações junto ao eleitorado, bem como o grau de envolvimento destes com os candidatos nas

redes. Como o acompanhamento total seria impossível de ser realizado optamos por eleger dois

momentos: o final do mês de outubro e a reta final do primeiro turno, quando as ações deveriam estar

no topo da curva ascendente.

As tabelas 1 e 2 demonstram que, na comunidade Facebook, Eduardo Frei teve atuação

tímida. Foi o candidato que teve o menor número de seguidores, não conseguindo arregimentar nem

um sexto do número de eleitores inscritos nas páginas de Marco e Piñera. Outro indicador

62

63

64

http://www.youtube.com/watch?v=nXRHLtx77Oc

http://www.casttv.com/video/9tebql/franja-electoral-sebastian-piera-acusado-de-plagio-a-barack-obama-video

http://www.theclinic.cl/2009/11/05/aventuras-de-un-papagayo/65 http://www.youtube.com/watch?v=SlZvUlHuoAk66 http://www.youtube.com/watch?v=32q6IJ8QonQ67 http://www.youtube.com/watch?v=TV-Ulfo09Bs

85

Page 86: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

importante, que revela o grau de envolvimento dos inscritos com as ações na referida comunidade, é

o número de comentários e manifestações de apoio às postagens realizadas pelos candidatos

(curtiram). Dentre os inscritos na comunidade de Frei apenas 1,4% deles realizaram comentários ou

manifestações de apoio na página do final de outubro. Este número foi ainda menor na reta final do

primeiro turno, somando somente 0,07% dos inscritos.

No que se refere à atuação dos candidatos Marco e Piñera, embora os dois tenham

conseguido angariar praticamente o mesmo número de seguidores em suas páginas no Facebook, o

grau de envolvimento dos eleitores de Piñera mostrou-se numericamente muito superior, pois

enquanto que somente 1,3% dos 66.254 inscritos na página de Marco em final de outubro

manifestaram-se por meio de comentários ou “curtiram” as postagens, na página de Piñera 11,8%

dos 68.054 inscritos interagiram comentando ou aprovando as postagens por meio do link “curtir”. E

na reta final do primeiro turno o quadro não foi muito diverso. Piñera obteve 10,6% de

manifestações e Marco 2,4%.

No que se refere aos ataques no Facebook, o candidato Frei foi o que mais apanhou. A tabela

3 compara o número de inscritos na página oficial de cada candidato com o número de inscritos na

principal página de ataques de cada um. A página “No a Eduardo Frei” angariou quase 11 vezes o

número de inscritos na página oficial do candidato. Piñera também esteve em desvantagem, pois a

página “no a Piñera” tinha o dobro de inscritos em relação a sua página oficial. Marco foi poupado

por esse linchamento digital, ou melhor, na verdade soube muito bem capitalizar a principal crítica a

seu favor postando no próprio site as chacotas feitas pelo imitador Stefan Kramer restando contra si

somente uma página com 264 membros, número 292 vezes menor do que os mais de 77 mil

apoiadores inscritos em sua página oficial.

Marco foi efetivamente o candidato que mais se desarmou na sua relação com a rede. Não

havia nenhuma barreira ou moderação em seus espaços na web e em uma de suas postagens

escreveu: “Aceitamos sugestões, críticas e insultos”.

No Twitter (tabela 4) o candidato Marco foi o campeão em postagens e em seguidores

acumulando na reta final do primeiro turno 3.194 tweets e 28.221 seguidores. Piñera obteve na reta

final do primeiro turno 23.665 seguidores, bem próximo ao número conseguido por Marco, mas o

volume de tweets foi bem inferior, acumulando somente 768 postagens. Eduardo Frei ficou bem

longe da atuação dos concorrentes. Na verdade nenhum dos dois endereços utilizados pela

campanha de Frei era alimentado por ele próprio. Na reta final do primeiro turno a página mais ativa

do candidato no Twitter apresentava modestos 3.862 seguidores e um volume de tweets da ordem de

758, praticamente igual ao da página de Piñera.

No YouTube (tabela 6) Frei sofreu o desgaste do sucesso do vídeo de ataque “Gomilalo”

postado pelos Difamadores, que acumulou uma audiência 16,4 vezes maior do que o vídeo de maior

sucesso produzido pela campanha. A audiência dos canais como um todo foi bem equilibrada,

acumulando os três canais perto de 35 mil acessos, mas no que se refere ao número de seguidores

registrados o canal de Frei, foi o que menor número acumulou (tabela 5).

86

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Piñera também amargou desgaste em consequência de ataques no YouTube, não só devido ao

vídeo de imitação de Stefen Kramer, mas por conta da somatória das várias peças de ataques à

disposição na rede.

Já o candidato Marco, como já mencionamos, conseguiu capitalizar as críticas de Kramer e

ainda produzir um hit a partir de uma animação infantil que estourou em audiência, obtendo dez

vezes mais acessos do que a exibição do vídeo mais popular produzido por Frei, e quatro vezes mais

do que o mais acessado da campanha de Piñera.

Marco foi a grande surpresa das eleições presidenciais. Deputado ex-filiado ao Partido

Socialista, filho de Miguel Enríquez, líder do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária), morto

durante a ditadura, desfiliou-se para concorrer como candidato independente após a Concertación

dar a vaga de candidato do governo a Eduardo Frei, sem que fossem realizadas prévias partidárias.

Em abril de 2009 pesquisa realizada pelo CERC – Centro de Estudios de la Realidad

Contemporánea – apontava índice de intenção de voto espontâneo de 1% para Marco. Em julho o

instituto apurava um vigoroso crescimento de sua candidatura que alcançava a casa dos 13% de 68índice de intenção de voto espontâneo .

O candidato Piñera, derrotado por Bachelet em 15 de janeiro de 2006, liderou a corrida de

ponta a ponta, e nas sondagens realizadas pelo instituto em abril e julho mantinha 39% de intenção

espontânea de voto. Eduardo Frei aparecia em segundo lugar com 21% nos dois estudos. Já na

pergunta estimulada Piñera somava 37%, Frei 22%, Marco 15%.

69Em outubro a pesquisa CERC apontava 71 pontos de aprovação do governo contra somente

18% dos que não o aprovavam. Embora tanto o governo quanto a presidente Bachelet acumulassem

altas taxas de aprovação o candidato da Concertación não empolgava e na pesquisa de outubro, após

o primeiro debate, o instituto apontava empate técnico entre Frei e Marco pela disputa da segunda

colocação. Os números da sondagem CERC apontavam Piñera com 38% de índices espontâneos de

voto, seguido por Frei, com 18%, e Marco, com 17%. Já no que se refere ao índice de intenção de

voto estimulado Piñera aparecia liderando com 41%, Eduardo Frei perde 5 pontos em relação à

pesquisa anterior, obtendo 20%, e Marco salta 6 pontos obtendo também 20% de intenção

estimulada de voto. Frei também acumulava o maior índice de rejeição dentre os candidatos,

somando 32%, contra 28% de Piñera e 7% de Marco.

A pesquisa realizada logo após o debate presidencial ocorrido em 23 de setembro na TV

refletia o bom desempenho do candidato Marco, apontado como o vencedor da contenda por 70analistas políticos no portal Terra chileno .

68

69

70http://www.terra.cl/actualidad/especiales/2009/elecciones/index.cfm?pagina=noticias&id_reg=1265904&titulo_url=Analistas_destacan_desempeño_de_Enriquez-Ominami_en_el_debate_presidencial

http://www.cerc.cl/Encuestas/09JUL.pdf

http://www.cerc.cl/Encuestas/09OCT.pdf

87

Page 88: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

A reabertura do processo sobre a morte em 1982 de Eduardo Frei Montalva , que segundo

novas provas teria sido envenenado, é largamente noticiada pela imprensa chilena e fornece o fôlego

necessário para Frei distanciar-se de Marco na disputa pela vaga ao segundo turno.

Em 13 de dezembro de 2009 mais de 8 milhões de chilenos foram às urnas para escolher seu

presidente e apurados os votos Piñera obteve 3.056.526 votos (44,05%), Eduardo Frei 2.053.514

votos (29,6%), Marco Enríquez-Ominami 1.396.655 votos (20,13%) e Jorge Arrate apenas 430.824

votos (6,21%).

A disputa seria decidida em um segundo turno realizado em 17 de janeiro de 2010 e o

candidato Piñera, que na eleição anterior havia disputado o segundo turno em desvantagem em

relação à candidata da Concertación, Michelle Bachelet, agora se beneficiava de uma vantagem de

14,45 pontos em relação a Frei e, pela primeira vez em 20 anos, a direita possuía chances reais de

chegar ao poder pelo voto no Chile.

4.6. Reposicionamento e as redes sociais no segundo turno

Para o segundo turno das eleições as ações na web do candidato Frei sofreram drástica

modificação no que se refere a design, conteúdos e estrutura de navegação. Fruto do

reposicionamento da candidatura, que agora necessitaria do apoio dos eleitores de Marco para

superar a votação de seu concorrente e assim chegar ao La Moneda, a campanha substituiu o slogan

“vamos a vivir mejor” pela frase “Todos por Chile, Todos por Frei”. A letra i do nome do candidato

foi invertida formando uma exclamação, e substituirá a flecha utilizada no primeiro turno como

elemento gráfico identificador da campanha (prancha 40).

Frei agora aparece trajando terno e gravata vermelha, sobre um céu azul tendo ao fundo o

Palácio de La Moneda e em companhia de personalidades de destaque, como a escritora Isabel

Allende, filha do ex-presidente Salvador Allende. Acima e abaixo deste módulo barras de menu. A

barra de menu superior manteve o mesmo aspecto gráfico. Sobre fundo preto seis links, uma caixa de

busca e ícones para acessar as redes sociais do candidato. Os links reportavam para o retorno à

página inicial, prensa (imprensa), campaña ciudadana (campanha cidadã), Eduardo Frei, Gastos e

ORGS X FREI (organizações por Frei). A barra de menu na parter inferior foi reduzida a quatro links

principais: Manifiesto, Propuestas, Nuestros logros, e Descargas. A profusão de cores utilizada no

primeiro turno foi abandonada e a página agora é mais sóbria, predominando o azul e alguns poucos

detalhes em vermelho sobre o fundo branco da página.

71

71 http://www.latercera.com/contenido/674_207263_9.shtml

88

Page 89: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Em 13 de dezembro a página era apresentada já modificada novamente. Frei aparecia agora à

esquerda da página tendo ao fundo um céu e o La Moneda; ao centro a frase “Lo digo com fuerza” e,

à direita da página, quatro artistas da TV chilena vestindo cada um uma camiseta com uma letra do

nome do candidato. A campanha de Frei procurou capitalizar o prestígio de afamados artistas

trazendo-os para as páginas do site como garotos propaganda de Frei (prancha 41).

Para fazer frente à onda de descrédito que se abateu sobre grande parcela do eleitorado que

votou em Marco e declarava dar no mesmo votar em Frei ou Piñera, a campanha passou a explorar a

frase “NO DA LO MISMO”. Um grande evento denominado “Porque no da lo mismo, la cultura y

los jóvenes estamos con Frei”, foi programado pela campanha e repercutiu na mídia a adesão de 72expoentes da classe artística .

Marco após a contagem dos votos do primeiro turno declarou ser "impossível abusar da

confiança em mim depositada. Não tenho qualquer condição de endossar o voto em outro candidato,

não farei isto, em respeito aos mais pobres e aos mais desamparados", discursou. "A velha política

está esperando sinais que não vai receber. O Chile deverá escolher entre dois projetos que são mais 73do passado do que do futuro. Frei e Piñera se parecem muito" .

Em sua rede no Facebook, Frei possuía 16.552 inscritos e passou a utilizar o aplicativo

Causes para segundo a página “juntar 24 mil seguidores en 24 horas que expresen porqué no da lo

mismo quién gobierne”. A página no Causes possuía em 13 de janeiro 152 membros e neste exato

momento, 8 de março de 2010, 21h25, acessei-a novamente; a iniciativa conseguiu mobilizar 6.686

eleitores (prancha 42).

As duas páginas da campanha de Frei no Twitter passaram a ser identificadas com o “i” de

cabeça para baixo e possuíam ainda poucos seguidores. Somando-se o número de seguidores das

duas páginas ainda resultava um número cinco vezes menos do que a de Piñera (tabela 7).

Piñera também modificou o design de seu site, mas não tão radicalmente como Frei. A

abertura do site passou a utilizar uma foto do candidato caminhando ao lado de sua esposa Cecília

entre partidários agitando bandeiras, todos sorridentes. Piñera traja uma camisa esporte rosa com as

mangas arregaçadas, usando o botton da campanha, com o braço esquerdo estendido para o alto

acenando. A estrela de cinco pontas em várias cores, símbolo da campanha, que antes aparecia na

lateral direita da página, agora aparece do lado esquerdo e é construída com linha bordada. Do lado

direito a caixa de diálogo para coleta de e-mail e celular foi preservada (prancha 43).

A estrela multicolorida, símbolo da campanha, será formada no segundo turno ora por flores

coloridas, ora pela estrela bordada, ora por um grafismo como que pintada com giz de cera, ou ainda

em tecido brilhante (prancha 44).

A barra de menu abaixo deste módulo foi mantida como aparecia no primeiro turno, mas

agora ganha a cor vinho. Abaixo do menu a estrutura em duas colunas, uma para notícias e outra

72

73

http://elecciones2009.lanacion.cl/prontus_elecciones2009/site/artic/20100112/pags/20100112014034.php

http://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2009/12/14/ult1859u20.jhtm. Acesso em 14-12-2009, 8h53.

89

Page 90: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

reservada para links para as redes, foi preservada. As modificações no design deram mais vida à

página e imprimiram um clima de otimismo vitorioso. A página dá destaque aos vídeos do programa

eleitoral, ao novo jingle da campanha e para a arregimentação de fiscais para trabalharem no dia da

eleição.

Assim, excetuando-se a troca da foto de abertura do site, as novas formas de apresentação da

estrela, símbolo da campanha e a mudança na cor da barra de menu, não foram observadas nenhuma

outra grande modificação no que se refere ao site oficial do candidato.

Em 13 de janeiro a página de Piñera no Facebook possuía 124.011 membros, e não

apresentava nenhuma mudança em relação ao primeiro turno das eleições, preservando o mesmo

design e estrutura.

A página do candidato no Twitter possuía em 12 de janeiro 23.609 seguidores, seguia 35.993

usuários, estava organizada em 755 listas e acumulava 795 tweets. Na primeira postagem da página,

Piñera retifica uma declaração dada enfaticamente no debate em resposta a um questionamento feito

por um dos jornalistas participantes, sobre sua assinatura em um recurso ao Tribunal Constitucional

contra um decreto que criava cessões de terras para constituição de áreas verdes. Piñera negou por

três vezes que não havia assinado tal recurso (prancha 57). Em sua página no Twitter assume ter

assinado e alega que não se recordava de ter assinado o documento com outros senadores. O episódio

repercutiu na imprensa chilena, que acompanhava as postagens do candidato e se servia delas como 74material para muitas vezes pautar matérias sobre as atividades do candidato .

No que se refere às ações na rede, com exceção da tentativa frustrada de Frei no Causes, não

houve grandes novidades. A novidade ficou por conta da mudança na área criativa da campanha que

elaborava os programas eleitorais para a TV do candidato Frei, antes a cargo do cineasta Ricardo

Larraín, substituído pelo publicitário José Miguel Carcavilla.

Logo no primeiro programa, levado ao ar e repercutido na rede a partir de 3 de janeiro, início

da propaganda eleitoral na TV do segundo turno, a campanha aposta na crítica humorada. O vídeo

que ficou conhecido por “Tatan Card” fazia alusão ao apelido de Piñera e era uma paródia de um

conhecido comercial de cartão de crédito. "Hay cosas que el dinero no puede comprar, para todo lo

demás existe Tatan Card", pronuncia una voz em off enquanto são apresentadas imagens de artigos

de luxo e, ao final aparecia um trono com a faixa presidencial. O comercial, que fazia referência

explicita a Piñera acusando-o de misturar política com negócios particulares, ganhou grande 75destaque nos meios de comunicação e indignação por parte do comando da campanha adversária.

Logo na manhã seguinte, sentindo o golpe, Piñera qualificou na imprensa a ação como campanha

suja e, numa tentativa de desarmar o ataque, declarou que se Frei quisesse fazer campanha suja que 76fizesse sozinho, pois não o acompanharia na lama .

74 http://www.lanacion.cl/Piñera-asume-recurso-que-nego-3-veces-en-el-debate/noticias/2010-01-12/084931.html.

Acesso em 121--01-2010,13h5075 http://elecciones2009.altavoz.net/prontus_elecciones2009/site/artic/20100104/pags/20100104120653.php. Acesso

em 04-01-10 14h5776 http://www.lanacion.cl/dura-reaccion-de-Piñera-por-franja-de-frei/noticias/2010-01-04/125747.html. acesso em 04-01-10 15h02

90

Page 91: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

No canal Youtube do candidato Frei o vídeo, que iniciava com crianças brincando e uma fala

de Frei declarando que trabalhava não para obter votos, mas pelo futuro do Chile, foi o mais assistido

durante toda a campanha, acumulando 29.172 acessos .

Frei e Piñera objetivavam conquistar votos dados a Marco no primeiro turno, pois estes

decidiriam o resultado do pleito. O candidato independente que durante o primeiro turno em suas

falas igualava os dois candidatos como representantes do passado e acusava-os de serem iguais

relutava em apoiar qualquer um deles.

A seis dias da eleição em segundo turno, os candidatos se enfrentariam no último debate

transmitido pela TV, e especialistas opinavam na imprensa sobre a pouca importância do evento

para influir no resultado das urnas. Em matéria publicada pelo portal Terra Chile, o analista político

e professor da Universidad Central de Chile, Patricio Gajardo Lagomarcino, afirmava: “A não ser

que se produza um desastre, um escândalo ou uma situação super contundente, não será decisivo.

Em geral quem assiste são pessoas que já têm seu voto decidido, aos indecisos não interessa a 78política” . Gajardo ressaltava ainda que o foro televisivo produz um impacto midiático e gera

notícias, e isso sim influi na convicção para sair à conquista de novos votos. No mesmo artigo o

cientista político Guillermo Holzmann destaca a possibilidade do aumento do número de votos

nulos, sobretudo dado por aqueles que no primeiro turno haviam votado em Marco-Ominami,

porque pela primeira vez se via de forma clara que nenhum dos dois candidatos representaria

mudança. Sobre este fato o analista político Gajardo sustentava que a estratégia de Marco seria

apostar na derrota de Frei para, a partir da crise gerada na Concertación, formar um novo partido.

A divulgação em 13 de janeiro de pesquisa que mostrava empate técnico entre os dois

candidatos foi o empurrão que faltava para o posicionamento de Marco em favor, não de Frei, mas da 79Concertación, contra a direita. A pesquisa mostrava Piñera com 50,9% e Frei com 49,1% .

Em suas justificativas Marco afirmava existir um abismo irreconciliável com a direita, e que

diante da possibilidade de que ela viesse a impedir a marcha do Chile para o futuro, tinha a

responsabilidade de contribuir para que isso não viesse ocorrer. Em nenhum momento de seu 80pronunciamento o independente citou o nome do candidato Eduardo Frei .

O pleito de 17 de janeiro transcorreu tranquilo, à exceção de um pequeno incidente relatado

pela imprensa, ocorrido em uma sessão eleitoral na cidade de Casto, na Ilha de Chiloé, onde foi 81deixada num banheiro uma bomba de fabricação caseira que não chegou a causar grandes estragos .

77

77 http://www.youtube.com/user/freichile#p/u/0/zlut0C5Snpo “A no ser que se produzca un desastre, un escándalo o una situación súper contundente, no va a ser decisivo. En general, los debates los ve la gente que ya tiene decidido su voto, los indecisos son gente a la que no le interesa la política”. http://www.terra.cl/actualidad/especiales/2009/elecciones/index.cfm?pagina=noticias&id_reg=1336517&titulo_url=Expertos_ponen_en_duda_la_efectividad_del_debate_en_los_electores_indecisos. Acesso em 11-01-10 12h2579 http://www.lanacion.cl/mori-frei-y-Piñera-en-empate-tecnico/noticias/2010-01-13/105844.html. Acesso em 13-01-2010, 12h11.80 http://www.latercera.com/contenido/674_217308_9.shtml. Acesso em 13-01-2010, 16h29.81 http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2010/01/17/ult1808u151543.jhtm. Acesso em 17-01-2010, 18h28.

91

Page 92: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Na mesma noite o candidato da direita, Sebastián Piñera, era declarado o vencedor do pleito

com uma margem de 3,23%, tendo obtido 51,61% dos votos, contra 48,38% dados a Eduardo Frei. A

eleição de Piñera põe fim a um período de 20 anos de hegemonia da Concertación, que governou o

país desde a redemocratização em 1990, com a eleição do Democrata Cristão Patrício Aylwin.

92

Page 93: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

5. Conclusão

O acompanhamento das ações realizadas pelos candidatos na rede procurou identificar em

que medida as velhas práticas e ranços da comunicação unilateral, dirigida a um receptor passivo, era

abandonada no contato com os eleitores nos meios digitais, certamente a chave do sucesso da

campanha de Obama. Como ressaltou Christopher Arterton em entrevista: "Se no passado as

estratégias de campanha giravam em torno do controle das mensagens, agora, com a internet, os

responsáveis pelas campanhas devem abrir um pouco mão desse controle porque, de certa forma, 82você deve entregar a campanha ao que os eleitores têm a dizer".

De nossa parte acreditamos que definitivamente não há meio termo, é fundamental que a

prática da moderação de mensagens seja extirpada na comunicação digital para que o eleitor se sinta

valorizado e livre de amarras. Aí sim passa a existir a possibilidade de ele se interessar e, a partir daí

interagir na construção de um projeto que deixa de ser pessoal para se tornar coletivo. Mais do que

comunicar o objetivo final das ações na web é mobilizar, envolver o eleitor, e isto só ocorre se ele se

sentir liberto de amarras e tutelas.

Este foi um dos principais problemas detectados nas ações na rede, pois, à exceção de Marco,

todos os outros candidatos acompanhados moderavam as mensagens dos eleitores em seus sites.

Esta talvez tenha sido a principal causa da baixa penetrabilidade das ações dos candidatos que

envolveram um número muito pequeno de eleitores em suas redes de relacionamento. Se somarmos

o número de inscritos nas páginas dos três candidatos na rede Facebook na reta final do primeiro

turno teremos 168.399 participantes. Este número, comparado aos quase 7 milhões de votos válidos

do primeiro turno equivale a somente 2,4%.

Marco-Ominami, com sua candidatura de última hora, conseguiu com poucos recursos

financeiros obter uma adesão nas redes equivalente à de Piñera, que não teve problemas com aportes

de capital e começou sua campanha dois anos antes do pleito. Este desempenho deveu-se à estratégia

acertada de sua equipe que recusou a prática do cerceamento da opinião dos internautas, livres para

expressarem suas opiniões em todos os espaços virtuais da candidatura.

No que se refere a Frei, sua atuação na rede como um todo foi pífia. Enquanto seus

concorrentes faziam uso do Twitter postando mensagens pessoais, o candidato recusou-se a utilizar a

ferramenta. Marco e Piñera alimentaram as pautas das redações dos jornais, rádios e TVs com tweets

postados por eles próprios regularmente, ao passo que Frei manteve-se à margem deste processo por

não compreender a força da comunicação digital.

Na comunidade Facebook, principal rede de relacionamento utilizada pelos candidatos na

campanha, Frei obteve índices de adesão equivalente a um sexto dos índices alcançados por Marco e

82 http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,candidatos-devem-abdicar-do-controle-de-campanha-na-web,443325,0.htm. 30-09-2009, 07:28

93

Page 94: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Piñera. O que se depreende é que a o candidato não deu o devido valor às ações na rede.

Representante da velha política chilena Frei incorreu no erro de não se adequar a tempo aos novos

paradigmas da comunicação digital. A aversão ao novo e o medo das críticas nas redes que

assombram os políticos tradicionais foi bem assinalada por Christopher Arterton.

“Principalmente os políticos que estão há muito tempo no poder. Eles se sentem

acuados em dois sentidos. Primeiro porque isso é algo novo que eles não necessariamente

entendem. Muitos políticos querem repetir o que fizeram para ganhar eleições passadas, e a

mudança não é algo com que se sintam confortáveis. O segundo sentido foi demonstrado no

caso Obama. E diz respeito ao papel dos formuladores da campanha, que encorajaram um

grupo de eleitores a discutir entre si, sem ter como controlar o conteúdo das conversas. Isso

é muito diferente da mentalidade que dominou as campanhas até então. Ou seja, se no

passado as estratégias de campanha giravam em torno do controle das mensagens, agora,

com a internet, os responsáveis pelas campanhas devem abrir um pouco mão desse

controle”. http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,candidatos-devem-abdicar-

do-controle-de-campanha-na-web,443325,0.htm. 30-09-2009, 21h12.

Outro erro cometido pelo candidato da Concertación foi não focar devidamente os eleitores

jovens como Piñera e, sobretudo, Marco. Sabendo-se que quase 9% dos eleitores chilenos são

jovens, e que 3,5% dos votos definiram o resultado do pleito, se torna evidente que uma boa

estratégia de atuação nas redes poderia até ter modificado o desfecho nas urnas. O que podemos

afirmar, com certeza, é que imprimiria um maior grau de competitividade à candidatura Frei.

É certo que as ações nas redes por si só não têm o poder de ganhar uma eleição, mas, se como

o ocorrido na campanha americana, estas estiverem integradas em um planejamento estratégico que

contemple o conjunto das ações de marketing, a competitividade será maior e a possibilidade de

êxito, real.

Nosso propósito inicial era entender em que medida as novas tecnologias de informação

aplicadas na última eleição americana impactariam o processo eleitoral chileno. Acreditamos que,

se por um lado as ações de campanha nas redes não tiveram no Chile o poder de envolver um grande

contingente de eleitores como na campanha americana, o saldo foi bastante positivo. Na batalha pela

mente dos eleitores os candidatos ocuparam as redes, uns mais organizados e dispostos a interagirem

de forma franca e aberta, outros, contaminados pelos vícios da comunicação eletrônica, mais

arredios, brandiram o chicote da moderação, chamando ao debate, mas caçando a palavra.

Assim, embora as ações realizadas na rede pelos candidatos chilenos não tenham conseguido

envolver um grande número de eleitores, elas abriram o caminho para a inserção das campanhas

eleitorais chilenas no âmbito da comunicação digital, onde a livre expressão e a interação entre os 83indivíduos tornam, como afirmou Castells , o poder dos fluxos mais importante que os fluxos do

poder".

"

83 Castells, Op.Cit., p, 565.

94

Page 95: As redes sociais digitais e as eleições presidenciais no Chile em 2009. A política na era do e-marketing 2.0

Embora não seja o objeto desta investigação, seria conveniente e necessário apontar em

poucas linhas alguns fatores que levaram à derrota da Concertación e a volta da direita ao poder no

Chile.

É certo que uma série de fatores influi no resultado final de uma eleição, todavia não é nada

comum um chefe de governo tendo índices de aprovação pessoal na reta final de chagada às urnas da

ordem de 80%, e uma avaliação de governo bem próxima a este índice, como o caso da presidente

Michelle Bachelet, não conseguir fazer seu sucessor. Não conheço nenhum precedente.

O caso parece ser único, mas perfeitamente explicável se buscarmos suas razões nos fatores

históricos, políticos, sócio-econômicos e na própria dinâmica do embate eleitoral que se travou entre

os quatro candidatos à presidência do Chile.

No que se refere aos fatores históricos e políticos que contribuíram para a derrota da

Concertación, tem grande peso o fato de que a aliança de partidos já governava o país desde 1990, e

que os dois últimos presidentes – Ricardo Lagos e Micchelle Bachelet – vieram dos quadros do

Partido Socialista chileno. A Democracia Cristã já havia ocupado por duas vezes a cadeira

presidencial, com Patrício Aylwin em 1990 e Eduardo Frei em 1994, e entendia ser sua vez de indicar

o candidato, forçando a indicação do nome de Frei por meio de prévias não representativas. Eduardo

Frei acumulava em sua bagagem pessoal grande desgaste devido a inúmeras denúncias de corrupção

em seu governo e, por isso, seu nome não era consenso nem na Democracia Cristã e muito menos na

aliança dos partidos governistas.

A manobra provocou uma cisão nos quadros da Concertación e fez nascer a candidatura de

Marco Enrique-Ominami, que deixou os quadros do Partido Socialista e lançou-se como candidato

independente. A principal queixa de Marco era não terem sido realizadas prévias reais, com a

participação de todos.

Os partidos que compõem a Concertación pagaram o preço por não fomentarem, ou melhor,

por obstarem a renovação dos seus quadros partidários. Os velhos caciques e a velha forma de fazer

política ainda davam as cartas no jogo político da Concertación.

No que se refere aos fatores sócio-econômicos que contribuíram para a derrota da

Concertación encontram-se as altas taxas desemprego, que na grande Santiago chegou a 10,7% em 84final de outubro , atingindo sobretudo a população jovem, e os altos índices de violência urbana. Se

por um lado as chamadas políticas de proteção social implantadas por Bachelet eram bem avaliadas

pela maioria da população, porque levavam renda a uma parcela significativa da população carente,

constituíam-se em paliativos. Durante a campanha, enquanto Frei batia na tecla da continuidade das

políticas sociais implantadas por Bachelet, Piñera ia mais além, prometendo crescimento econômico

real, geração de um milhão de empregos e medidas para enfrentar o uso crescente de drogas e a

criminalidade entre os jovens.

84 http://www.ansa.it/ansalatinabr/notizie/notiziari/chile/20091020130534965262.html. Acesso em 10-02-2010.21h16.

95

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O erro mais grave no que se refere às ações de campanha foi de cunho estratégico. A

Concertación não se deu conta de que o que estava em jogo na eleição não era o embate entre

continuidade e mudança, entre oposição e situação, mas sim entre a velha forma de se fazer política e

os velhos caciques versus a nova forma de se fazer política, e a candidatura Piñera soube ocupar este

espaço na mente do eleitor a partir de uma estratégia de posicionamento acertada. Marco-Ominami

mais ainda, pois além de ter perfil jovem e de romper com os esquemas partidários soube explorar os

recursos da rede como nenhum outro candidato do pleito, mas faltaram-lhe os recursos financeiros

abundantes na campanha de Piñera.

Deste breve balanço o que emerge é a constatação de que a Concertación foi vítima de seus

próprios erros, cometidos desde a fase de escolha do candidato, passando pela interpretação

equivocada do cenário em que se daria o pleito, até a desastrosa postura de relegar as ações na rede

ao status de mera vitrine informativa, deixando escapar por entre os dedos suas reais

potencialidades.

Após 20 anos de hegemonia da Concertación a direita volta ao poder, mas também os

comunistas, que estavam na ilegalidade já há 37 anos, desde o golpe militar, retornam à cena política

com seus três deputados eleitos.

À Democracia Cristã resta recolher os cacos da derrota e partir para a renovação de seus

quadros. Já Marco e Bachelet saem fortalecidos. O primeiro, agora atarefado na formação de um

novo partido, credencia-se como o principal aglutinador das forças de oposição ao governo de

direita.

Michelle Bachelet, com seus 80% de aprovação pessoal, credencia-se como forte candidata

ao pleito de 2014, que seguramente contará com uma rede virtual mais organizada e exigente, onde

certamente não haverá espaço para as ações que não levem em conta a liberdade de manifestação dos

eleitores.

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TABELAS:

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Tabela 1: Presença na rede Facebook na fase inicial da campanhaTabela 2: Presença na rede Facebook na reta final do primeiro turno

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Tabela 3: Número de adesões das páginas oficiais X adesões das páginas de ataque

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Tabela 4: Balanço das atividades dos candidatos no Twitter no 1º turno

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Tabela 5: Balanço das atividades dos candidatos no YouTube

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Tabela 6: Maior audiência positiva X maior audiência negativa no YouTube

vídeos ataque vídeos campanha

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Tabela 7: Balanço das atividades dos candidatos no Twitter no 2º turno