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  • Linguagem & Ensino, Vol. 6, No. 1, 2003 (77-128)

    A habilidade comunicativa de linguagem

    (Communicative language ability)

    Lyle F. BACHMAN* The University of California at Los Angeles

    Traduzido por Niura Maria FONTANA Universidade de Caxias do Sul

    ABSTRACT: The article proposes a theoretical framework for describing communicative language ability, seen as a combination of language competence, strategic compe-tence, and psychophysiological mechanisms. Language competence includes organizational competence, involving both grammatical and textual competence, and pragmatic competence, which consists of illocutionary and sociolin-guistic competence. Strategic competence consists of three basic components: assessment, planning and execution. The psychophysiological mechanisms refer to the neuro-logical and psychological processes involved in the actual execution of language as a physical phenomenon. * BACHMAN, Lyle F. Communicative language ability. In: _____. Fundamental considerations in language testing. Oxford: Oxford Uni-versity Press, 1990. Traduo de Niura Maria Fontana e reviso de Isabel Maria Paese Pressanto, professoras do Departamento de Letras da Universidade de Caxias do Sul. Publicao autorizada pelo Autor e pela Editora.

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    RESUMO: O trabalho prope um quadro de referncia para a descrio da habilidade comunicativa de lingua-gem. A habilidade comunicativa de linguagem consiste em competncia lingstica, competncia estratgica e meca-nismos psicofisiolgicos. A competncia lingstica inclui competncia organizacional, que consiste em competncia gramatical e textual, e em competncia pragmtica, que consiste em competncia ilocucionria e sociolingstica. A competncia estratgica vista como a capacidade que relaciona a competncia lingstica, ou conhecimento da lngua, s estruturas de conhecimento do usurio da ln-gua e s caractersticas do contexto no qual a comunica-o acontece. A competncia estratgica realiza funes de averiguao, planejamento e execuo na determina-o dos meios mais eficientes para atingir um propsito comunicativo. Os mecanismos psicofisiolgicos envolvidos no uso da lngua caracterizam o canal (auditivo, visual) e o modo (receptivo, produtivo) atravs dos quais a compe-tncia implementada. KEYWORDS: Communicative language ability, speech acts, pragmatics, language use. PALAVRAS-CHAVE: Habilidade comunicativa de lingua-gem, atos de fala, pragmtica, uso da linguagem.

    INTRODUO

    O desempenho em testes lingsticos influenciado por uma ampla variedade de fatores, e uma compreenso desses fatores e de como eles afetam os resultados fun-damental para o desenvolvimento bem como para o uso desses testes. Embora provavelmente os especialistas em

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    testes lingsticos sempre tenham reconhecido a necessi-dade de basear o desenvolvimento e uso dos referidos tes-tes numa teoria de proficincia lingstica (por exemplo, Carroll, 1961a, 1968; Lado, 1961), recentemente eles tm reivindicado a incorporao de um arcabouo terico do que seja a proficincia lingstica aos mtodos e tecnolo-gia envolvidos em sua mensurao (Upshur, 1979; Hen-ning, 1984; Bachman e Clark, 1987). Os arcabouos apre-sentados neste captulo e no prximo constituem uma res-posta inicial a essa reivindicao, e refletem minha con-vico de que, se pretendemos desenvolver e usar adequa-damente testes lingsticos, com o propsito para o qual foram concebidos, temos que base-los em definies cla-ras tanto das habilidades que desejamos medir como dos meios atravs dos quais as observamos e medimos.

    Neste captulo, descrevo a habilidade comunicativa de linguagem de modo a oferecer, segundo penso, uma ampla base para o desenvolvimento e o uso de testes lin-gsticos assim como para a pesquisa sobre esses testes. Esta descrio compatvel com trabalhos anteriores sobre competncia comunicativa (por exemplo, Hymes, 1972b, 1973; Munby, 1978; Canale e Swain, 1980; Savignon, 1983; Canale, 1983), no sentido de que reconhece que a habilidade de usar a lngua comunicativamente envolve conhecimento lingstico ou competncia na lngua e a capacidade de implementar ou usar essa competncia (Widdowson, 1983; Candlin, 1986).1 Ao mesmo tempo, 1 Embora as palavras que se referem aos vrios aspectos do uso discur-sivo da linguagem tenham sido definidas de maneira bastante clara atravs dos anos, parece haver algum desentendimento na sua interpre-tao. Assim, correndo o risco de aumentar a confuso, tentarei indicar exatamente como eu compreendo e uso essas palavras. Uso conheci-mento e competncia mais ou menos como sinnimos, para referir

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    acredito que o arcabouo aqui apresentado amplia modelos anteriores, no sentido de que tenta caracterizar os proces-sos pelos quais os vrios componentes interagem uns com os outros e com o contexto no qual o uso da lngua aconte-ce.

    No tenho a pretenso de apresentar este arcabouo como uma teoria completa das habilidades de linguagem; livros, e mesmo bibliotecas inteiras, tm sido escritos a respeito de aspectos especficos desse tema. Espero que aqueles que ficarem interessados na mensurao de habili-dades de linguagem especficas tambm se tornem familia-rizados com a literatura da pesquisa relevante e que, en-quanto o desenvolv imento e o uso de testes prosseguem, possam eles prprios contribuir para essa pesquisa.

    Este quadro de referncia, no entanto, apresentado como um guia, um indicador, por assim dizer, para mapear direes na pesquisa e desenvolvimento de testes lingsti-

    entidades que supomos estarem nas mentes dos usurios da lngua. Alm disso, uso competncia no sentido atribudo por Hymes (1972b), e no a limito competncia lingstica, como foi originalmente definida por Chomsky (1965). Os termos trao e construto so sinni-mos mais precisos para conhecimento e competncia. O termo habili-dade inclui conhecimento ou competncia e, ainda, a capabilidade para implementar tal competncia no uso da linguagem a habilidade de fazer X. Considero que a habilidade comunicativa de linguagem oferece uma definio mais abrangente de proficincia do que a ofere-cida no contexto de testagem de lngua oral (por exemplo, Conselho Americano de Ensino de Lnguas Estrangeiras, 1986; Liskin-Gasparro, 1984; Lowe, 1985; 1986). Os termos usar e realizar/desempenhar (e os substantivos correspon-dentes) so mais ou menos sinnimos, referindo-se execuo ou im-plementao de habilidades. Usar e concretizar, assim, subsumem uma ampla variedade de termos como ouvir, falar, ler, escrever, produzir, interpretar, expressar, receber, compreender e entender, que tm eles prprios sentidos mais especficos.

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    cos. medida que a pesquisa progride, possvel que mudanas sejam feitas no prprio arcabouo para refle tir nosso conhecimento crescente. E, ao mesmo tempo que esse arcabouo baseado amplamente em pesquisa na rea da lingstica e da lingstica aplicada, ele evoluiu atravs de pesquisa emprica sobre testes lingsticos (Bachman e Palmer, 1982a). O modelo aqui apresentado , assim, o resultado de refinamento baseado em evidncia emprica, ilustrando, quero crer, sua utilidade para guiar e informar a pesquisa emprica na testagem lingstica.

    PROFICINCIA LINGSTICA E COMPETNCIA COM UNICATIVA

    Um quadro de referncia anterior para descrever a mensurao da proficincia lingstica foi o incorporado aos modelos de habilidades e componentes, tais como os que foram propostos no incio da dcada de 1960 por Lado (1961) e Carroll (1961b, 1968). Esses modelos faziam distino entre habilidades (audio, fala, leitura e escrita) e componentes de conhecimento (gramtica, vocabulrio, fonologia/grafia), mas no indicavam como as habilidades e o conhecimento se inter-relacionam. No ficava claro se as habilidades eram simplesmente manifestaes dos com-ponentes de conhecimento em diferentes modalidades e canais, ou se elas eram qualitativamente diferentes de ou-tras formas.2 Por exemplo, a leitura distingue-se da escrita

    2 Carroll (1968) discute as habilidades de desempenho lingstico, tais como velocidade e diversidade de resposta, complexidade do processa-mento de informao e conscincia de competncia lingstica, mas considera esses aspectos como essencialmente fora do construto de

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    somente no sentido de envolver interpretao mais do que expresso? Se fosse assim, como poderamos dar conta do fato de que, embora poucos de ns possamos escrever com a sofisticao e a elegncia de T. S. Eliot ou William Faulkner, podemos ler e compreender tais escritores?

    Uma limitao mais sria do modelo de habilida-des/componentes estava na falha em reconhecer o contexto completo do uso da lngua os contextos de discurso e situao. A descrio de Halliday (1976) das funes da linguagem, tanto textuais como ilocucionrias, e o deline-amento da relao entre texto e contexto de van Dijk (1977) claramente reconhecem o contexto de discurso. Hymes (1972b, 1973, 1982) reconhece, alm disso, os fatores socioculturais na situao de fala. O que emergiu dessas idias uma concepo ampliada de proficincia lingstica cuja caracterstica distintiva o reconhecimento da importncia do contexto alm da frase para o uso apro-priado da lngua. Esse contexto inclui tanto o discurso, do qual enunciados individuais e frases so parte, quanto a situao sociolingstica que governa, em alto grau, a na-tureza desse discurso, tanto na forma como na funo.

    Juntamente com esse reconhecimento do contexto no qual o uso da lngua ocorre, surgiu um reconhecimento da interao dinmica entre tal contexto e o discurso pro-priamente dito e uma viso ampliada de comunicao co-mo algo mais do que simples transferncia de informao. Sendo assim, Hymes (1972b, p. 283) descreve o uso da lngua como segue:

    proficincia lingstica. Tais aspectos sero mencionados na discusso de fatores de mtodo de teste no Captulo 5.

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    o desempenho de uma pessoa no idntico a um re-gistro de comportamento... Ele leva em conta a intera-o entre a competncia (conhecimento e habilidade para uso), a competncia dos outros e as propriedades cibernticas e emergentes dos prprios eventos. (nossa nfase)

    De modo semelhante, Savignon (1983, p. 8-9) ca-

    racteriza a comunicao como:

    dinmica mais que... esttica... Depende da negociao de sentido entre duas ou mais pessoas... especfica em relao ao contexto. A comunicao ocorre numa variedade infinita de situaes, e o sucesso num deter-minado papel depende da compreenso que se tem do contexto e de experincia prvia semelhante.

    A discusso de Kramsch (1986, p. 637) a respeito da

    interao comunicativa repete essas noes:

    A interao sempre implica negociao dos sentidos pretendidos, isto , ajuste da fala de algum ao efeito que esse algum pretende causar no ouvinte. Implica antecipao da resposta do ouvinte e das possveis compreenses errneas, esclarecendo a respeito de suas prprias intenes e das intenes do outro e chegando combinao mais prxima possvel entre os sentidos pretendidos, percebidos e antecipados.

    Formulaes recentes acerca da competncia comu-

    nicativa oferecem, assim, uma descrio muito mais a-brangente sobre o conhecimento necessrio para usar a lngua do que aquela oferecida pelos modelos anteriores de habilidades e componentes, uma vez que as primeiras in-

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    cluem, alm do conhecimento das regras gramaticais, o conhecimento de como a lngua usada para atingir pro-psitos comunicativos particulares, assim como o reconhe-cimento do uso da lngua como processo dinmico.

    UM ARCABOUO DA HABILIDADE COMUNICATIVA DE LINGUAGEM

    A habilidade comunicativa de linguagem (HCL) po-de ser descrita como consistindo em conhecimento, ou competncia, e em capacidade de implementao ou exe-cuo dessa competncia no uso comunicativo da lngua, de modo apropriado e contextualizado. Foi assim que Candlin (1986, p. 40) descreveu competncia comunicati-va:

    a habilidade de criar sentidos atravs da explorao do potencial para modificao contnua, inerente a qual-quer lngua, em resposta mudana, negociando o va-lor da conveno antes de aceitar o princpio estabele-cido. Em suma, (...) uma confluncia de estruturas de conhecimento organizadas e de um conjunto de proce-dimentos a fim de adaptar esse conhecimento para re-solver novos problemas de comunicao que no tm solues prontas e sob medida.

    O arcabouo da HCL que proponho inclui trs com-

    ponentes: competncia lingstica, competncia estratgica e mecanismos psicofisiolgicos. A competncia lingsti-ca compreende, essencialmente, um conjunto especfico de componentes de conhecimento que so utilizados na co-municao via lngua. Competncia estratgica o termo que empregarei para caracterizar a capacidade mental de

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    implementar os componentes da competncia lingstica no uso comunicativo e contextualizado da lngua. Assim, a competncia estratgica oferece os meios para relacionar as competncias de lngua aos aspectos do contexto de situao nos quais o uso da lngua ocorre e s estruturas de conhecimento do usurio da lngua (conhecimento socio-cultural e conhecimento do mundo real). Os mecanismos psicofisiolgicos referem-se aos processos neurolgicos e psicolgicos envolvidos na execuo real da lngua como fenmeno fsico (som, luz). As interaes desses compo-nentes da HCL com o contexto de uso da lngua em situa-o discursiva e as estruturas de conhecimento do usurio so ilustradas na Figura 4.1.

    Competncia lingstica

    Quadros de referncia recentes sobre competncia comu-nicativa tm includo vrios componentes diferenciados, associados ao que chamarei de competncia lingstica. Na descrio de um arcabouo terico para especificar a competncia comunicativa de um indivduo numa segunda lngua, Munby (1978) inclui codificao lingstica (a realizao do uso da lngua enquanto formas verbais), orientao sociolingstica (adequao/propriedade con-textual e necessidades comunicativas), base sociossemn-tica do conhecimento lingstico e nvel discursivo de operao. Canale e Swain (1980), examinando as bases tericas do ensino de lnguas e da avaliao lingstica por meio de testes, distinguem competncia gramatical, que inclui lxico, morfologia, semntica gramticofrasal e fonologia, de competncia sociolingstica, que consiste em regras socioculturais e regras discursivas, enquanto Canale (1983) faz uma distino ulterior entre competn-

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    cia sociocultural (regras socioculturais) e competncia discursiva (coeso e coerncia). Finalmente, Hymes (1982), numa descrio ampla de competncia lingsti-ca, inclui gramtica de recursos (aspectos que so parte do cdigo formal), gramtica discursiva (aspectos tip i-camente associados com estilo, tais como informalidade e polidez) e estilo de desempenho (aspectos idiossincrti-cos do uso individual da lngua).

    Figura 4.1 Componentes da habilidade comunicativa de linguagem no uso comunicativo da lngua

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    Tentativas de validar empiricamente esses diversos

    componentes no tm sido conclusivas. Allen et al. (1983), por exemplo, desenvolveram medidas de compe-tncia gramatical (morfologia e sintaxe), de competncia discursiva (coeso e coerncia) e de competncia sociolin-gstica (sensibilidade ao registro). A anlise de fatores dos resultados de seus testes falhou em sustentar a discri-minao fatorial desses componentes especficos. Ba-chman e Palmer (1982a), por outro lado, encontraram al-guma base para a discriminao de componentes daquilo que eles chamaram de proficincia comunicativa. Eles desenvolveram uma bateria de testes lingsticos que in-cluam competncia gramatical (morfologia e sintaxe), competncia pragmtica (vocabulrio, coeso e organiza-o) e competncia sociolingstica (sensibilidade ao re-gistro, naturalidade e referncias culturais). Os resultados desse estudo sugerem que os componentes do que eles chamaram de competncia gramatical e de competncia pragmtica esto intimamente associados uns aos outros, enquanto que os componentes que eles descreveram como competncia sociolingstica so distintos.

    A descrio de competncia lingstica aqui apre-sentada apia -se nessas descobertas empricas, que agru-pam morfologia, sintaxe, vocabulrio, coeso e organiza-o num componente: competncia organizacional. A competncia pragmtica redefinida para incluir no s elementos da competncia sociolingstica de Bachman e Palmer, mas tambm aquelas habilidades relacionadas s funes que so realizadas atravs do uso da lngua. As competncias lingsticas podem assim ser classificadas em dois tipos: competncia organizacional e competncia pragmtica. Cada uma delas, por sua vez, consiste em

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    vrias categorias. Os componentes da competncia lin-gstica so ilustrados na Figura 4.2. Este diagrama rvo-re pretende ser uma metfora visual e no um modelo terico, captando, como qualquer metfora, algumas carac-tersticas em detrimento de outras. Nesse caso esse dia-grama representa as relaes hierrquicas entre os compo-nentes da competncia lingstica, mas no pode deixar de mostr-los como se fossem separados e independentes uns dos outros. No entanto, no uso lingstico todos esses componentes interagem uns com os outros e com as carac-tersticas da situao de uso da lngua. Na verdade, essa interao propr iamente dita entre as vrias competncias e o contexto de uso da lngua que caracteriza o uso comuni-cativo da linguagem. Na ltima parte deste captulo, na discusso sobre competncia estratgica, apresentado um modelo de como essas competncias podem interagir no uso da lngua.

    Figura 4.2 Componentes da competncia lingstica

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    Competncia organizacional A competncia organizacional abrange as habilida-

    des envolvidas no controle da estrutura formal da lngua para a produo ou reconhecimento de frases gramatical-mente corretas, para a compreenso de seu contedo pro-posicional e para a sua ordenao tendo em vista a forma-o de textos. Essas habilidades so de dois tipos: grama-tical e textual.

    Competncia gramatical

    A competncia gramatical inclui as competncias envolvidas no conhecimento das formas da lngua, con-forme descrio feita por Widdowson (1978). Essas com-petncias consistem em um nmero relativamente inde-pendente de subcompetncias, tais como conhecimento de vocabulrio, morfologia, sintaxe e fonologia/grafia. Esses componentes governam a escolha de palavras para expres-sar significaes especficas, suas formas, sua organizao em enunciados para expressar proposies e sua realizao fsica, tanto sob a forma de sons quanto de smbolos escri-tos. Suponhamos, por exemplo, que a um examinando seja mostrada uma gravura de duas pessoas, um rapaz e uma moa alta, e que o candidato seja solicitado a descre-ver essa figura. Ao fazer isso, o examinando demonstra sua competncia lexical ao escolher palavras com signif i-cados apropriados (boy, girl, tall) para referir-se aos con-tedos da gravura. Demonstra seu conhecimento de mor-fologia ao acrescentar o morfema flexional ingls (-er) a alta (tall). Demonstra seu conhecimento das regras sint-ticas ao pr as palavras na ordem adequada para compor a frase A moa mais alta que o rapaz (The girl is taller than the boy). Quando produzido a partir das regras fono-lgicas da lngua inglesa, o enunciado resultante uma

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    representao lingstica precisa da informao contida na gravura. (N.T. 1) Competncia textual

    A competncia textual compreende o conhecimento das convenes para juntar enunciados de modo a formar um texto, que essencialmente uma unidade lingstica falada ou escrita consistindo em dois ou mais enuncia-dos, ou frases, que esto estruturados de acordo com regras de coeso e organizao retrica. A coeso compreende maneiras de marcar explicitamente relaes semnticas, tais como referncia, subsituao (sic) (N.T.2), elipse, con-juno e coeso lexical (Halliday e Hasan, 1976), e con-venes semelhantes s que governam a ordenao da informao velha e nova no discurso. A organizao ret-rica refere-se estrutura conceptual global de um texto e relaciona-se com o efeito do texto no usurio da lngua (van Dijk, 1977, p. 4). As convenes de organizao retrica incluem mtodos comuns de desenvolv imento, tais como narrao, descrio, comparao, classificao e anlise de processo (McCrimman, 1984). Ensinamos parte dessas convenes organizacionais formalmente nas aulas de produo escrita de textos expositivos quando mostra-mos aos alunos como ordenar a informao num pargra-fo: tpico frasal, primeira frase de sustentao primria, frases de sustentao secundria, segunda frase de susten-tao primria... concluso, ou frase de transio. Outras (N.T. 1) Em ingls, diferentemente do portugus, so usados morfemas flexionais na formao do comparativo de superioridade de grande nmero de adjetivos de uma ou duas slabas. (N.T.2) De acordo com Halliday e Hasan (1976), a categoria em questo substituio, tudo indicando ter havido um lapso de digitao no texto original.

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    convenes para organizar o discurso, porm, podem no ser ensinadas formalmente, porque no so totalmente compreendidas ou porque so simplesmente complexas demais para serem ensinadas.

    A competncia textual tambm est envolvida no uso conversacional da lngua. De fato, muito do trabalho em anlise de discurso que toma a conversao como seu ponto de partida primrio lida com componentes de com-petncia textual (por exemplo, Sinclair e Coulthard,1975; Coulthard, 1977; Hatch, 1978; Larsen-Freeman, 1980; Richards e Schmidt, 1983b). As convenes envolvidas no estabelecimento, na manuteno e na concluso de conversaes tm sido discutidas em termos de mximas (Grice, 1975), regras de conversao (Hatch e Long, 1980), rotinas conversacionais (Coulmas, 1981b) e com-petncia conversacional (Richards e Sukwiwat, 1983). Essas convenes, tais como obteno de ateno, nomeao de tpico, desenvolvimento de tpico e manu-teno da conversao (Hatch, 1978), parecem ser manei-ras pelas quais os interlocutores organizam e realizam os turnos no discurso conversacional e podem ser anlogas aos padres retricos que tm sido observados no discurso escrito.

    O que este trabalho sobre a anlise do uso conversa-cional da lngua revela, creio eu, uma rica variedade de mecanismos para marcar relaes coesivas no discurso oral e para organizar tal discurso de maneiras maximamen-te apropriadas ao contexto de uso da lngua e maximamen-te eficientes na consecuo dos objetivos comunicativos dos interlocutores. E, embora muitas dessas convenes tenham anlogos no discurso escrito, bvio que a troca conversacional, por sua natureza interativa ou recproca, d origem a mecanismos, ou necessita de artifcios para

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    organizar o discurso que so exclusividade desse gnero de discurso. Entretanto, antes de considerar essas conven-es como um componente separado da habilidade comu-nicativa de linguagem, acredito que elas possam ser me-lhor descritas juntamente com a competncia textual.

    Competncia pragmtica

    As habilidades discutidas at aqui relacionam-se organizao dos signos lingsticos que so usados na comunicao e ao modo como esses sinais so usados para referir-se a pessoas, objetos, idias e sentimentos. Ou seja, eles dizem respeito s relaes entre signos e seus referen-tes. Igualmente importantes, no uso comunicativo da lin-guagem, so as relaes entre esses signos e os referentes, por um lado, e entre os usurios da lngua e o contexto de comunicao, por outro. A descrio das relaes men-cionadas por ltimo constitui o domnio da pragmtica, que van Dijk (1977, p. 189-90) descreve como segue:

    pragmtica deve ser atribudo um domnio emprico que consiste em REGRAS lingsticas CONVENCIO-NAIS e manifestaes dessas regras na produo e in-terpretao de enunciados. Em particular, deveria ofe -recer uma contribuio anlise das condies que tor-nam os enunciados ACEITVEIS em algumas situa-es para os falantes da lngua. (nfase nossa)

    Van Dijk distingue dois aspectos da pragmtica: (1)

    o exame das condies pragmticas que determinam se um dado enunciado aceitvel para outros usurios da lngua como um ato, ou a realizao de uma funo pre-tendida; e (2) a caracterizao das condies que determi-nam quais enunciados so bem sucedidos em que situa-

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    es (p. 190). A pragmtica, assim, interessa-se pelas relaes entre os enunciados e os atos ou funes que os falantes (ou escritores) pretendem concretizar atravs des-ses enunciados, o que pode ser chamado de fora ilocucio-nria dos enunciados, e as caractersticas do contexto de uso da lngua que determinam a adequao dos enuncia-dos. Deste modo, a noo de competncia pragmtica aqui apresentada inclui a competncia ilocucionria ou o co-nhecimento das convenes pragmticas para a realizao aceitvel de funes lingsticas e de competncia socio-lingstica, ou o conhecimento das convenes sociolin-gsticas para a realizao de funes da linguagem de forma adequada num contexto dado.

    Competncia ilocucionria Atos de fala

    A noo de competncia ilocucionria pode ser in-troduzida atravs da referncia teoria dos atos de fala. Uma frase como Est frio aqui dentro, por exemplo, pode funcionar como uma afirmao sobre a atmosfera fsica num cmodo, como um aviso para no trazer o beb para dentro ou como uma solicitao para ligar o aquecedor. Cada um desses [sentidos] constitui um ato de fala diferen-te. Searle (1969) distingue trs tipos de atos de fala: atos de elocuo, atos proposicionais e atos ilocucionrios. Um ato de elocuo simplesmente o ato de dizer alguma coi-sa. Um ato proposicional envolve referncia a algo, ou expresso de uma predicao a respeito de algo. Um ato ilocucionrio a funo (afirmao, aviso, solicitao) realizada ao dizer-se algo. O significado de um enunciado pode, pois, ser descrito em termos de seu contedo propo-sicional (referncia e predicao) e de sua fora ilocucio-

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    nria (ato ilocucionrio pretendido). Austin (1962) e Sear-le (1969) tambm incluem nas suas discusses sobre senti-do os atos perlocucionrios, ou o efeito de um ato ilocu-cionrio sobre o ouvinte.3

    Para ilustrar esses diferentes atos de fala, imagine-mos um contexto no qual eu deseje conseguir que algum saia. Para concretizar isso, eu uso minha competncia ilo-cucionria, que indica que uma simples declarao pode funcionar como uma solicitao. (Vou usar tambm a mi-nha competncia sociolingstica, discutida mais adiante, para determinar quais das vrias declaraes possveis a mais adequada neste contexto especfico.) Se eu disser Gostaria que voc sasse, estou realizando um ato propo-sicional ao produzir uma frase que gramaticalmente bem formada e que tem contedo proposicional, ou significa-o. Minha habilidade de realizar este ato proposicional deriva de minha competncia gramatical. Se a pessoa a quem estou me dirigindo compreende a significao da elocuo, interpreta a fora ilocucionria do ato como uma solicitao (como foi pretendido que fosse interpretado), e executa a solicitao, a realizao do ato de fala tem a conseqncia, ou efeito perlocucionrio, da sua sada. Esse efeito perlocucionrio , de fato, dependente das compe-tncias gramatical e ilocucionria tanto minhas quanto do meu interlocutor, mas depende tambm de fatores de com-petncia no-lingsticos, tais como a disposio e a habi-lidade da outra pessoa em acatar esse pedido.

    H uma variedade de estratgias gerais atravs das quais um falante pode sinalizar sua inteno ao realizar um

    3 Searle (1969) aponta que nem todos os atos ilocuciontios tm efeitos perlocucionrios a eles associados, e argumenta que os efeitos perlocu-cionrios no podem ser considerados parte dos atos ilocucionrios.

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    ato ilocucionrio. Ele pode sinalizar sua inteno direta-mente, anunciando sua fora ilocucionria (Solicito que voc saia agora). Pode tambm sinalizar sua inteno usando uma forma sinttica apropriada, tal como o impera-tivo em Saia! Nesse caso a inteno geral do falante clara (o ato um tipo de ato diretivo), mas a fora ilocu-cionria especfica no , porque o imperativo podia ser interpretado pelo ouvinte como uma ordem, um comando ou uma advertncia.

    Outra estratgia disponvel para o falante a de ser menos direto. Isso consiste em usar um tipo de frase cuja forma no seja genericamente associada a um dado ato ilocucionrio, e cuja interpretao dependa fortemente das circunstncias sob as quais o ato realizado. Por exemplo, o falante poderia usar uma frase declarativa para afirmar por que o ouvinte deveria agir: Eu no estou conseguindo agentar mais a sua companhia. Ou ele poderia ser ainda menos direto e simplesmente declarar quase meia -noite. Quanto menos direto o falante for na sinalizao na fora ilocucionria que pretende, mais dependente sua interpretao ser da maneira pela qual ela dita e do con-texto em que dita. (A escolha entre diversas alternativas de enunciados de variados graus de diretividade ser, en-to, uma funo da fora ilocucionria do falante e da sua sensibilidade em relao s caractersticas do contexto especfico, que parte da competncia sociolingstica, discutida adiante.)

    Fraser e Nolan (1981, p. 101) descreveram dezoito estratgias de solicitao, ilustrando o grande espectro de diretividade em pedidos que possvel em ingls. Dezes-seis dessas estratgias no implicam o uso da palavra pe-dido. Os cinco exemplos da lista abaixo oferecem alguma

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    indicao a respeito da complexidade do uso discursivo da lngua:

    (1) Anunciando a inteno de realizar o ato (Eu solicito que voc me ajude.) (2) Usando uma frase imperativa, que carrega a inten-o (Por favor, ajude-me.) (3) Expressando uma conseqncia da ao do ouvinte (Se voc me ajudar, eu lhe comprarei uma revista em quadrinhos nova.) (4) Perguntando se o ouvinte tem a habilidade de agir (Voc pode/poderia/no pode/no poderia... ajudar-me?) (5) Perguntando se o ouvinte tem uma razo para (no) agir (Por que voc (no) est me ajudando?)

    A competncia ilocucionria usada tanto para ex-pressar a linguagem requerida por certa fora ilocucionria quanto para interpretar a fora ilocucionria da linguagem. Uma extenso do exemplo acima ilustra o que pretendido e interpretado no momento de uso de linguagem alm do que compreendido, quando algum emprega somente as competncias organizacionais associadas ao nvel estrutu-ral da lngua.

    A: quase meia-noite! B: Est chovendo a cntaros. A: Muito obrigado!

    Empregando a competncia gramatical, algum pode-ria determinar que as formas desses trs enunciados so gramaticalmente corretas e que os significados proposicio-

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    nais correspondem a uma imagem mental: duas pessoas, uma das quais parece irritada, numa sala, uma tempestade violenta do lado de fora. Empregando a competncia ilo-cucionria, interpretam-se as trs frases atribuindo-se a cada uma delas uma fora ilocucionria (reconhecendo cada uma como um ato ilocucionrio particular ou um conjunto de atos). As foras ilocucionrias dos trs enun-ciados (solicitao, recusa, rplica sarcstica) so esclare-cidas pelo acrscimo das palavras entre parnteses.

    A: quase meia-noite! (Por favor, saia.) B: (No, no vou sair porque) est chovendo a cnta-ros. A: Muito obrigado (por nada)!

    Funes da linguagem A seo anterior introduziu a distino entre forma e

    funo no uso discursivo da lngua atravs da discusso dos atos de fala. No entanto, para dar conta dessa distino enquanto relacionada com a expresso da lngua (fala, escrita) e com sua interpretao (audio, leitura), preci-samos considerar um arcabouo mais amplo das funes que podemos concretizar atravs do uso da lngua. A des-crio das funes da linguagem aqui oferecida foi extra-da, em grande parte, de Halliday (1973; 1976), embora essa verso estenda ao uso de lngua do adulto vrias das funes que Halliday descreveu no contexto da aquisio da lngua pela criana. Alm disso, as funes aqui descri-tas so agrupadas em quatro macrofunes: ideacional, manipulativa, heurstica e imaginativa.

    De longe, a funo mais difundida a ideacional, atravs da qual expressamos sentido de acordo com nossa experincia do mundo real (Halliday, 1973, p. 20). Isso

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    inclui o uso da lngua para expressar proposies ou para trocar informao sobre conhecimento ou sentimentos. Por exemplo, a linguagem usada ideacionalmente para apre-sentar conhecimento em palestras ou artigos acadmicos. Tambm usada ideacionalmente para expressar senti-mentos como quando algum desabafa suas emoes para um bom amigo ou num dirio, com ou sem nenhuma in-teno de obter conselho ou ajuda.

    As funes manipulativas so aquelas nas quais o propsito primeiro afetar o mundo ao nosso redor. Uma dessas funes a instrumental, pela qual usamos a lngua para conseguir que coisas sejam feitas para ns. Por exem-plo, ns podemos conseguir que algum, incluindo a ns prprios, faa alguma coisa atravs da construo ou elo-cuo de sugestes, solicitaes, ordens, comandos ou advertncias. Podemos conseguir outras coisas dizendo o que pretendemos fazer como, por exemplo, com ofereci-mentos, promessas ou ameaas. A funo reguladora usada para controlar o comportamento dos outros para manipular as pessoas e, com ou sem sua ajuda, os objetos no ambiente (Halliday 1973, p.18). Alm disso, essa fun-o realizada na formulao e declarao de regras, leis e normas de comportamento. A funo interacional da lin-guagem consiste no seu uso para formar, manter ou mudar as relaes interpessoais. Todo ato de uso de linguagem interpessoal envolve dois nveis de mensagem: contexto e relao. Haley (1963, p. 6-7) afirma o seguinte:

    Quando duas pessoas quaisquer se encontram pela pri-meira vez e comeam a estabelecer um relacionamento, uma ampla variedade de comportamento possvel en-tre as duas. Elas podem trocar cumprimentos, ou insul-tos, ou aproximaes sexuais, ou declaraes de que

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    uma superior outra, e assim por diante. medida que as duas pessoas definem o relacionamento, uma em relao outra, elas resolvem que tipo de comporta-mento comunicativo vai ocorrer nesse relacionamento. Cada mensagem que trocam, por sua prpria existncia, refora essa posio ou sugere nela uma mudana para incluir um novo tipo de mensagem. Deste modo, a rela-o definida mutuamente pela presena ou ausncia de mensagens trocadas pelas duas pessoas.

    O uso da linguagem ftica, tal como acontece em cumprimentos, questionamentos de rotina sobre sade ou comentrio sobre o tempo, essencialmente interacional quanto funo. Seu contedo proposicional est subordi-nado funo de manter o relacionamento.

    A funo heurstica aplica-se ao uso da lngua para expandir o conhecimento do mundo ao nosso redor e ocor-re geralmente em atos como ensinar, aprender, resolver problemas e memorizar conscientemente. Ensinar e apren-der podem ser formais, como no ambiente acadmico, ou informais, como no estudo individual. O uso da lngua na soluo de problemas exemplificado atravs da escrita de trabalhos acadmicos, na qual quem escreve passa pelo processo de inveno, organizao e reviso. O uso da lngua para auxiliar a reteno consciente de informao exemplificado na memorizao de fatos, palavras, frmu-las ou regras. importante observar que essa funo tam-bm faz parte do uso da lngua para o propsito de ampliar o conhecimento das pessoas sobre a linguagem propria-mente dita, ou seja, para a aquisio ou aprendizagem de uma lngua. Por exemplo, quando um professor de lngua aponta para um livro sobre uma mesa e diz O livro est sobre a mesa, ele no est transmitindo informao. Ou seja, ele no est concretizando uma funo ideacional,

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    mas antes a funo heurstica de ilustrar o significado da preposio sobre (on) em ingls.

    A funo imaginativa da linguagem capacita-nos a criar ou expandir nosso prprio ambiente por razes hu-morsticas ou estticas, nas quais o valor deriva da forma pela qual a lngua usada. Exemplos disso so contar pia-das, construir e comunicar fantasias, criar metforas ou outros usos figurativos da linguagem, assim como assistir a peas ou filmes e ler trabalhos literrios, como romances, contos ou poesia, por diverso.

    Embora essas funes tenham sido discutidas como distintas, claro que a maior parte das instncias do uso discursivo da lngua preenche vrias funes simultanea-mente. Esse o caso quando um professor marca um tema (funes ideacional, manipulativa e heurstica) de uma forma divertida (funo imaginativa), ou quando algum l uma reportagem numa revista por diverso (funo imagi-nativa) e, ao fazer isso, adquire informao til (funo heurstica). Alm disso, embora as funes da linguagem tenham sido discutidas como se ocorressem em enunciados individuais, desconectados, deve ser enfatizado que, na maioria das vezes, o uso da lngua envolve a concretizao de mltiplas funes em enunciados conectados e que so as conexes entre essas funes que conferem coerncia ao discurso.

    Competncia sociolingstica

    Enquanto a competncia ilocucionria nos habilita a usar a lngua para expressar um amplo espectro de funes e a interpretar a fora ilocucionria dos enunciados ou do discurso, a adequao dessas funes e de como elas so realizadas varia de um contexto de uso lingstico a outro, de acordo com milhares de aspectos socioculturais e dis-

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    cursivos. A competncia sociolingstica consiste na sen-sibilidade para as convenes de uso da lngua que so determinadas por aspectos do contexto especfico de seu uso, ou de seu controle; ela nos habilita a desempenhar funes da linguagem de maneiras apropriadas quele contexto. Sem tentar identificar e discutir os aspectos da situao que determinam as convenes de uso da lngua, discutirei as seguintes habilidades dentro do mbito da competncia sociolingstica: sensibilidade s diferenas de dialeto ou variedade, s diferenas de registro e natu-ralidade e, ainda, habilidade de interpretar referncias culturais e figuras de linguagem.

    Sensibilidade s diferenas de dialeto ou variedade

    Virtualmente em todas as lnguas h variaes no uso que podem estar associadas aos usurios da lngua provenientes de diferentes regies geogrficas ou perten-centes a diferentes grupos sociais. Essas variedades regio-nais e sociais, ou dialetos, podem ser caracterizadas por diferentes convenes, e a adequao do seu uso ir variar dependendo das caractersticas do contexto de uso da ln-gua. Um exemplo de como diferentes contextos requerem o uso de diferentes variedades de ingls o da estudante negra que revelou que no pensaria em usar o ingls negro em aula quando o ingls americano padro fosse apropria-do. Por outro lado, ela provavelmente seria vista como afetada e pretensiosa, ou espirituosa, se usasse o ingls americano padro em conversas informais com seus ami-gos negros. Sensibilidade s diferenas quanto ao dialeto ou variedade de lngua , pois, uma importante parte da competncia sociolingstica.

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    Sensibilidade s diferenas de registro Halliday, McIntosh e Strevens (1964, p. 90-4) usa-

    ram o termo registro para referir-se variao no uso discursivo da lngua dentro de um nico dialeto ou varie-dade.4 Eles distinguiram diferenas de registro referentes a trs aspectos de contexto de uso discursivo da lngua: rea do discurso, modalidade do discurso e estilo do discur-so. A rea do discurso pode consistir simplesmente no assunto do uso da lngua, tal como em palestras, discus-ses ou exposies escritas; pode tambm referir-se ao contexto completo de uso da lngua, como nos registros de jogo de futebol, plantao de rvores ou pirataria de computao. Variaes no registro tambm podem ocorrer como uma funo das diferenas entre modalidades do discurso falada e escrita. Quem quer que tenha tentado preservar dilogos genunos na escrita, ou apresentar um ensaio escrito com caractersticas conversacionais pode atestar as diferenas entre os registros escrito e falado.

    Outro termo que tem sido usado para descrever os traos ou convenes que caracterizam a linguagem usada dentro de uma rea particular ou para funes especficas domnio discursivo. Swales (1987), por exemplo, discute verbetes em catlogos filatlicos e a linguagem usada em cartas de solicitaes escritas para reimpresso de ensaios ou artigos como exemplos de domnios que caracterizam comunidades discursivas. O domnio discursivo no qual o uso da lngua acontece, seja ele falado, como em palestras

    4 Uma ampla discusso sobre registro oferecida em Besnier (1986).

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    ou entrevistas de seleo para admisso em emprego, ou escrito, como em cartas comerciais, avisos de emprego ou textos acadmicos, ir determinar o registro de uso da ln-gua, incluindo funes especficas e caractersticas organi-zacionais que so apropriadas quele registro. E, do mes-mo modo que um dia leto particular, ou variedade, est associado situao de participante de uma comunidade de fala, o uso do registro de um domnio discursivo parti-cular pode estabelecer a identidade de algum como mem-bro de uma comunidade discursiva. Quantas vezes, por exemplo, em grandes festas ns procuramos pessoas com quem podemos falar sobre trabalho? Do mesmo modo, podemos facilmente nos sentir excludos quando no con-seguimos participar de um dado domnio do discurso.

    O seguinte item de teste de Bachman e Palmer (1982d) oferece um exemplo sobre sensibilidade ao dom-nio do discurso (de cartas de amor):

    Nos espaos abaixo, escreva a saudao e o fechamento adequados: Cara Senhora, Tenho pensado em voc todo dia e mal posso esperar para t-la em meus braos novamente. Estarei esperan-do por voc debaixo da macieira. Nada mais a declarar, George

    (Algumas das respostas fornecidas por falantes no-nativos em nvel avanado de ingls americano a essa questo, tais como A algum amado e At logo suge-

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    rem que essa uma rea relativamente estranha da compe-tncia de linguagem, para dizer o mnimo!) (N.T.3)

    A terceira dimenso para caracterizar variaes de registro, segundo Halliday, McIntosh e Strevens (1964, p. 92), estilo do discurso, que se refere s relaes entre os participantes. A clssica discusso de estilo ainda a pro-posta por Joos (1967), que distingue cinco nveis diferen-tes de estilo ou registro no uso da lngua: frio, formal, con-sultativo, casual e ntimo. Esses cinco estilos so caracteri-zados fundamentalmente em termos das relaes que se estabelecem entre os participantes no contexto de uso da lngua, de tal modo que o emprego de um estilo inadequa-do pode ser interpretado como presunoso ou at rude. Observe, por exemplo, a familiaridade inadequada do ven-dedor que telefona para as pessoas aleatoriamente a partir de nmeros da lista telefnica e diz algo do gnero Oi, Lyle, aqui o Herb da Janelas para Tempestade Genuina-mente Americanas. Como que voc est hoje? Isso timo. Oua, voc sabe que o inverno j est chegando e eu liguei s para te informar que...

    A competncia sociolingstica envolve, pois, sen-sibilidade s variaes de registro, uma vez que a fora ilocucionria dos enunciados virtualmente sempre depende dos contextos sociais nos quais so empregados. Essas

    (N.T.3) A expresso Nada mais a declarar tpica do domnio discur-sivo legal, em declaraes juramentadas, o que sugere que o conheci-mento do examinando nesse domnio era maior que seu conhecimento a respeito das convenes usadas em cartas pessoais ntimas. Devo a informao sobre a expresso Further affiant sayeth not, no original, professora e tradutora Flavia Giselle Saretta, a quem fico muito grata. De acordo com Bachman (comunicao privada), nesse caso, uma saudao mais adequada seria My darling e um fechamento apropria-do seria With all my love.

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    variaes ocorrem tanto no uso altamente formalizado da lngua, como acontece em cumprimentos, apresentaes ou despedidas, quanto no uso extensivo da lngua, quando usamos estruturas sintticas mais elaboradas e elementos coesivos na escrita formal ou quando mantemos uma con-versa num dialeto regional com amigos de infncia e fami-liares.

    Sensibilidade naturalidade

    Um terceiro aspecto da competncia sociolingstica o que permite ao usurio formular ou interpretar um e-nunciado que no apenas lingisticamente preciso, mas que tambm estruturado, conforme a denominao de Pawley e Syder (1983), de maneira semelhante da fala nativa, isto , como se esse enunciado fosse formulado por falantes de um dialeto ou variedade particulares de deter-minada lngua da qual so nativos em relao cultura daquele dialeto ou variedade. Por exemplo, observemos a interpretao da segunda linha da seguinte interao:

    A: Por que voc est gritando? B: Porque eu tenho muita raiva com ele.(N.T.4)

    Enquanto esse exemplo soa simplesmente estranho ou arcaico, a no-naturalidade de uso da lngua pode tam-bm afetar a possibilidade de interpretao. Compare, por exemplo, Eu gostaria que voc no fizesse isso (I wish you wouldnt do that) com Eu me sentiria melhor por voc no fazer isso (I would feel better by your not doing

    (N.T.4) Enquanto em ingls a estruturao frasal da resposta pode soar apenas estranha, em portugus h um problema de regncia mais grave do ponto de vista gramatical.

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    that), ou Tenho dvidas (I have my doubts) com Eu tenho muitas dvidas (I have several doubts).

    Habilidade de interpretar referncias culturais e figuras de linguagem

    O aspecto final da competncia sociolingstica a ser abordado aqui o que nos permite usar e interpretar referncias culturais e figuras de linguagem. Muitos desses aspectos sero incorporados, com significados estabeleci-dos, ao lxico de cada lngua e podem, assim, ser conside-rados parte da competncia lexical ou vocabular. No en-tanto, o conhecimento dos sentidos estendidos atribudos por uma cultura especfica a eventos locais, instituies ou pessoas particulares, necessrio toda vez que esses senti-dos so referidos no uso da lngua. Por exemplo, para in-terpretar a seguinte interao, o usurio da lngua teria que saber que Waterloo usado lingisticamente para simbo-lizar uma grande e definitiva derrota, com terrveis conse-qncias para o derrotado:

    A: Eu soube que John no se saiu muito bem no exame final. B: , isso acabou sendo o seu Waterloo.

    O conhecimento exclusivo do significado referen-cial do nome do lugar, sem saber o que o nome conota em ingls britnico e americano, no permitiria a interpretao correta do segundo enunciado.

    De modo similar, a interpretao de linguagem fi-gurativa envolve mais do que simplesmente conhecimento do sentido referencial. Por exemplo, a interpretao correta de hiprboles, como Posso pensar num milho de boas

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    razes para no fumar, e de clichs, como O mundo uma selva, requer mais do que o conhecimento da signif i-cao das palavras e das estruturas gramaticais envolvidas, enquanto que smiles, como a de Faulkner O som dos pneus no asfalto quente era como o rasgar de seda nova, e metforas, como a de Eliot O rio transpira petrleo e as-falto, evocam imagens que vo alm das associadas aos objetos concretos aos quais se referem. Embora indivduos provenientes de diferentes ambientes culturais sejam, sem dvida, capazes de atribuir sentido s figuras de lingua-gem, as convenes que governam o uso da linguagem figurativa, assim como os sentidos e imagens especficos que so evocados, esto profundamente enraizados na cultura de uma dada sociedade ou comunidade de fala, e por isso que eu as inclu na competncia sociolingstica.

    Resumindo, a competncia lingstica compreende dois tipos de competncia, a organizacional e a pragmti-ca. A competncia organizacional inclui o conhecimento empregado na criao ou reconhecimento de enunciados gramaticalmente corretos, na compreenso de seu conte-do proposicional e na organizao desses componentes a fim de formar textos orais e escritos. A competncia pragmtica inclui os tipos de conhecimento que, somando-se competncia organizacional, so empregados no de-sempenho contextualizado e na interpretao de atos ilo-cucionrios socialmente adequados, em situao discursi-va. Essas competncias incluem o conhecimento de fun-es da linguagem, de regras sociolingsticas de adequa-o e de referncias culturais e linguagem figurativa.

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    Competncia estratgica

    Como foi mencionado acima, uma caracterstica dos quadros de referncia recentes sobre competncia comuni-cativa o reconhecimento do uso da lngua como um pro-cesso dinmico, envolvendo a averiguao sobre a infor-mao relevante no contexto e a negociao de sentido por parte do usurio da lngua. Essa viso dinmica da comu-nicao tambm se reflete na literatura sobre estratgias de comunicao da interlngua. Existem essencialmente duas abordagens para definir estratgias de comunicao: a definio interacional e a psicolingstica (Frch e Kasper, 1984).

    A definio interacional, conforme expressa por Ta-rone (1981, p. 288), caracteriza estratgia de comunicao como a tentativa recproca de dois interlocutores de concordar a respeito de um sentido em situaes nas quais as estruturas de significado requeridas no parecem ser compartilhadas. Tarone inclui estruturas de regras tanto lingsticas quanto sociolingsticas na noo de estrutura de significado e considera as estratgias de comunicao distintas dessa estrutura de significado. Numa reviso da literatura, Frch e Kasper (1984, p. 51) observam que uma viso interacional das estratgias de comunicao tem um escopo muito limitado, uma vez que somente se aplica negociao de sentido como esforo conjunto entre dois interlocutores, enquanto grande parte do uso comunicati-vo da lngua, tal como leitura de romances ou produo de livros-texto, envolve somente um indivduo, sem feedback de um segundo interlocutor. Tarone (1981, p. 289), no entanto, descreve outro tipo de estratgia, a estratgia de produo, como uma tentativa de usar o sistema lingsti-co de forma eficiente e clara, com um mnimo de esforo.

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    Do mesmo modo que as estratgias de comunicao, as estratgias de produo so distintas da competncia lin-gstica do usurio da lngua. Ao contrrio das estratgias de comunicao, porm, elas no apresentam o foco inte-racional na negociao de sentido (ibid.).

    Os quadros referenciais recentes sobre competncia comunicativa que incorporaram a noo de estratgias tm geralmente aceito a definio interacional. Assim, Canale e Swain (1980, p. 30), citando a pesquisa sobre estratgias de comunicao, incluem a competncia estratgica como um componente separado no arcabouo de competncia comunicativa por eles proposto. Eles descrevem a compe-tncia estratgica como algo que oferece uma funo com-pensatria quando a competncia lingstica dos usurios da lngua inadequada:

    A competncia estratgica... ser constituda por estra-tgias de comunicao verbal e no-verbal, que podem ser postas em prtica para compensar rupturas na co-municao devidas a variveis de desempenho ou a competncia insufic iente.

    Canale (1983, p. 339) expandiu essa definio de

    competncia estratgica de modo a incluir tanto a caracte-rstica compensatria das estratgias comunicativas como a caracterstica de aperfeioamento das estratgias de pro-duo:

    Competncia estratgica: domnio de estratgias ver-bais e no-verbais para (a) compensar rupturas na co-municao devidas competncia insuficiente ou a li-mitaes de desempenho e (b) aperfeioar o efeito ret-rico dos enunciados.

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    Ao mesmo tempo em que essas definies fornecem

    indicaes sobre a funo da competncia estratgica na facilitao da comunicao, elas so limitadas, no sentido de no descreverem os mecanismos pelos quais a compe-tncia estratgica opera. Gostaria tambm de observar que essas definies incluem manifestaes no-verbais de competncia estratgica, que so claramente uma parte importante da competncia estratgica na comunicao, mas que no sero tratadas neste livro.

    Numa tentativa de oferecer uma descrio mais ge-ral das estratgias de comunicao, Frch e Kasper (1983, p. 24) descreveram um modelo psicoligstico da produ-o da fala. Baseando-se no trabalho de psiclogos cogni-tivos, tais como Miller et al. (1960) e Clark e Clark (1977), eles descrevem um modelo de produo da fala que inclui uma fase de planejamento e uma de execuo. A fase de planejamento consiste em objetivos comunicativos gerais e num processo de planejamento cujo produto um plano. Os objetivos gerais de comunicao so constitudos por (1) um elemento de ao associado aos atos de fala; (2) um elemento modal associado relao de papis existente entre os interagentes e (3) um elemento proposicional as-sociado ao contedo do evento comunicativo. Frch e Kasper descrevem ainda o processo de planejamento como uma interao de trs componentes: o propsito comunica-tivo, os recursos comunicativos disponveis para o indiv -duo e a averiguao da situao comunicativa. A fase de execuo do modelo de Frch e Kasper (op. cit., p. 27) consiste em processos neurolgicos e fisiolgicos que implementam o plano, resultando em uso de lngua.

    O modelo de Frch e Kasper tem a finalidade nica de explicar o uso das estratgias de comunicao no con-

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    texto comunicativo da interlngua. No entanto, vejo a competncia estratgica como uma parte importante de todo o uso comunicativo da lngua, no somente aquele no qual as habilidades de linguagem so deficientes e preci-sam ser compensadas por outros meios e, sendo assim, eu ampliaria a formulao de Frch e Kasper a fim de forne-cer uma descrio mais geral da competncia estratgica no uso comunicativo da lngua. Incluo na competncia estratgica trs componentes: averiguao, planejamento e execuo.

    Componente de averiguao

    O componente de averiguao capacita-nos a (1) i-dentif icar a informao incluindo a variedade de lngua ou dialeto que necessria para a realizao de um pro-psito comunicativo particular num contexto dado; (2) determinar que competncias lingsticas (lngua nativa, segunda lngua ou lngua estrangeira) esto nossa dispo-sio para concentrar de forma mais efetiva essa informa-o na consecuo do propsito comunicativo; (3) verif i-car as habilidades e o conhecimento que so compartilha-dos por nosso interlocutor; e, (4) na seqncia da tentativa de comunicao, avaliar em que medida o objetivo comu-nicativo foi atingido. A importncia de averiguar as capa-bilidades foi enfatizada por Corder (1983, p. 15):

    As estratgias adotadas pelos falantes, claro, depen-dem de seus interlocutores. O que ns tentamos comu-nicar e como nos organizamos para isso determinado no somente por nosso conhecimento da lngua, mas tambm pela averiguao contnua da competncia lin-gstica do nosso interlocutor e de seu conhecimento do tpico do discurso.

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    O processo de averiguao pode ser ilustrado pelo

    exemplo a seguir. Quando eu morava em Bangcoc, era freqentemente trabalhoso explicar aos convidados para um jantar como chegar a minha casa. Depois de ter-me esforado para dar instrues em diversas ocasies, fina l-mente descobri, atravs do processo de averiguao, que era necessrio primeiro determinar de que parte da cidade a pessoa estaria vindo. Isso foi aprendido s custas de grande constrangimento depois de ter mandado vrios convidados famintos na direo errada, pressupondo que eles estariam vindo a minha casa pelo mesmo caminho que eu geralmente vinha. Ser capaz de extrair essa informao exigia a determinao das formas e estruturas mais efeti-vas e apropriadas (em ingls e em tailands) para fazer isso por telefone, sem soar grosseiro ou excntrico. Mes-mo a mais polida tentativa de transmitir tal informao era de pouca ajuda, no entanto, se a pessoa que eu tinha con-vidado tivesse pouco senso de orientao ou se no esti-vesse familiarizada com os principais bairros da cidade. Em tais casos, a conversa passava rapidamente do forne-cimento de orientaes para a tentativa de estabelecer al-gum ponto de referncia que ns dois conhecssemos. Uma vez que isso fosse determinado, um novo conjunto de orientaes podia ser oferecido. Em resumo, a informao de que eu necessitava para atingir meu objetivo comunica-tivo eficazmente era a parte da cidade de onde a pessoa estava vindo, e o ncleo da conversao freqentemente envolvia apurar que conhecimento geogrfico da cidade meu convidado para o jantar e eu tnhamos em comum.

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    Componente de planejamento O componente de planejamento recupera itens rele-

    vantes (gramaticais, textuais, ilocucionrios, sociolings-ticos) da competncia lingstica e formula um plano atra-vs de cuja realizao espera-se atingir o propsito comu-nicativo. No caso de um contexto de fala monolnge, itens relevantes sero retirados da competncia da lngua materna (L1), enquanto num contexto de uso bilnge, de segunda lngua ou de lngua estrangeira, os itens podem ser resgatados da lngua materna, do sistema de regras da interlngua (Li) do usurio, ou da segunda lngua ou lngua estrangeira (L2). No exemplo acima, resgatei as formas apropriadas de tratamento e de rotinas de questionamento que eu havia aprendido especificamente para a ocasio, e formulei um plano para us-las a fim de obter as informa-es necessrias. Dependendo de como a conversao se desenvolvesse, outros itens seriam recuperados e outros planos formulados.

    Essa descrio dos componentes de averiguao e de planejamento no uso comunicativo da lngua seme-lhante caracterizao feita por Johnson (1982, p. 149) dos processos envolvidos na comunicao:

    H pelo menos trs processos que [um ouvinte] precisa realizar se pretende desempenhar seu papel como inte-ragente. Primeiramente, precisa esquadrinhar o enun-ciado [do falante] para extrair dele... sua informao pragmtica... [que ] aquela parte da informao total transmitida que contribui para a informao requerida pelo falante. , em resumo, a informao que o ouvinte deseja receber... [O ouvinte] aproxima -se da tarefa de compreenso auditiva preparado para buscar certas in-formaes nas palavras do seu interagente. Uma vez que essa informao chega, ela tem que ser conferida

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    com o propsito do falante, e este o segundo processo que [o ouvinte] precisa realizar... [O ouvinte] compara, ento, o que lhe dito com o que ele quer saber, identi-fica qualquer discrepncia e ento como terceiro pro-cesso formula seu prximo enunciado.

    So exatamente essas caractersticas do uso comuni-cativo da lngua que associo competncia estratgica. Como foi apontado acima, a comunicao envolve uma inter-relao dinmica entre contexto e discurso, de tal modo que o uso comunicativo da lngua no seja caracteri-zado simplesmente pela produo ou interpretao de tex-tos, mas pela relao que se estabelece entre um texto e o contexto no qual ocorre. A interpretao do discurso, em outras palavras, requer a habilidade de usar as competn-cias lingsticas disponveis para analisar o contexto no sentido de obter informao relevante e, ento, combinar essa informao com a informao contida no discurso. funo da competncia estratgica combinar a nova infor-mao a ser processada com a informao relevante que est disponvel (inclusive o conhecimento de pressuposi-es e o conhecimento do mundo real) e mapear isso, ten-do por base o uso mais eficiente possvel das habilidades lingsticas existentes.

    Componente de execuo

    Finalmente, o componente de execuo apia -se nos mecanismos psicofisiolgicos que implementaro o plano na modalidade e no canal adequados ao propsito comunicativo e ao contexto. As interaes entre os componentes da competncia estratgica, das competncias lingsticas e do contexto de uso da lngua so ilustradas na Figura 4.3, que representa uma ampliao

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    que representa uma ampliao do modelo de Frch e Kas-per (1983, p. 25).

    Figura 4.3 Um modelo de uso discursivo da lngua

    Na compreenso ou interpretao, os mesmos pro-cessos averiguao, planejamento e execuo esto envolvidos. Ao assistir a uma palestra, por exemplo, nosso propsito comunicativo pode ser compreender melhor uma dada rea do conhecimento. Ao averiguar a situao, con-sideramos o tpico, o que sabemos sobre o locutor, a pro-vvel audincia e nossos prprios conhecimentos e habili-dades, e levantamos expectativas com relao aos enunci-

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    ados que teremos que interpretar e possibilidade de ser-mos capazes de compreend-los. Essa averiguao pode ser deliberada, como no caso de uma palestra em sala de aula, e ns podemos, de fato, nos preparar conscientemen-te, lendo um artigo proposto, por exemplo, para melhor atingir nosso propsito comunicativo. Em outros casos, nossa avaliao pode ser menos premeditada e talvez ne-cessitemos fazer ajustes na hora. Por exemplo, se achamos que a fala do palestrante tem um sotaque muito marcado, precisaremos aplicar competncias associadas interpreta-o de fala no-nativa. Se nos faltarem essas competn-cias, podemos achar a palestra incompreensvel e falhar no nosso propsito comunicativo. Pesquisa recente sobre o papel dos esquemas na leitura (por exemplo, Carrell 1982; 1986) oferece, acredito, exemplificao adicional a respei-to do papel dos planos e das expectativas resultantes no uso receptivo da lngua.

    A influncia da competncia estratgica no desempenho em testes lingsticos

    A esta altura, podemos nos perguntar sobre at que ponto a competncia estratgica afeta os resultados em testes lingsticos. Suponhamos que dois falantes no-nativos de uma lngua tenham que fazer trs testes: um teste de estrutura, um teste de desempenho receptivo con-textualizado, no qual os escores so influenciados em parte por resultados prticos, e um teste de desempenho produti-vo oral. Suponhamos que os resultados dos dois suje itos sejam os mesmos nos dois primeiros testes, mas diferentes no terceiro. Ao analisar as gravaes do terceiro teste, descobrimos que o examinando mais eficiente fez uso de maior nmero das diversas maneiras de concretizar atos

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    ilocucionrios do que o segundo e que as suas proposies fizeram mais referncias a objetos relevantes no ambiente.

    Perguntamos ao examinando menos efic iente por que ele no tentou todas as diferentes maneiras de realizar os atos ilocucionrios exigidos que o examinando mais eficiente usou e por que ele no fez referncia aos objetos relevantes no ambiente para transmitir sua mensagem. Ele responde Simplesmente no pensei nelas no momento, ou No notei os objetos no ambiente, ou Achei que o esforo no valia a pena.

    Nesse caso, poderamos caracterizar o usurio mais eficiente da lngua como o mais predisposto tarefa e in-clinado a usar o que sabia que estava disponvel para con-cretizar uma funo usando a lngua, mas ns relutaramos em dizer que a competncia lingstica dos dois falantes difere. Em outras palavras, ns consideraramos que as duas pessoas tm o mesmo controle das regras de estrutura e uso, mas que diferem na sua disposio em explorar o que elas conheciam e na flexibilidade para faz-lo. E, na mesma medida em que esse exemplo trata da generalidade da competncia estratgica para falantes no-nativos, acre-dito que ele se aplica tambm aos falantes nativos.

    Alguns tipos de tarefa de teste podem medir a com-petncia estratgica, quase a partir da concepo do ins-trumento. Em testes de compreenso de leitura, por exem-plo, uma prtica comum incluir questes requerendo inferncia. Acredito que a resposta correta a tais questes pressupe competncia estratgica, uma vez que o exami-nando precisa reconhecer que informao externa ao dis-curso relevante para responder questo e, ento, procu-rar essa informao na memria.

    Parece haver, ainda, alguns tipos de tarefas de testes lingsticos que so particularmente susceptveis aos efei-

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    tos da competncia estratgica dos examinandos, uma vez que eles podem completar tais tarefas com sucesso utili-zando sua competncia estratgica para compensar defic i-ncias em outras competncias. Um exemplo disso o teste de descrio de gravura descrito por Palmer (1972; 1981), no qual o examinando solicitado a descrever uma gravura o mais rapidamente possvel a fim de permitir ao examinador identificar a gravura descrita entre um nmero de gravuras semelhantes. Como teste de competncia or-ganizacional, o instrumento deveria requerer do exami-nando o emprego de uma variedade de itens de vocabul-rio. De fato, o assunto das gravuras foi selecionado com isso em mente. No entanto, Palmer (1981) observou que alguns sujeitos com vocabulrios obviamente restritos descreveram as gravuras em termos de colocao na pgi-na, em termos de quo escuras ou claras elas eram, ou quo grandes ou pequenas. Esses sujeitos parecem ter ado-tado a estratgia de ignorar o contedo proposicional das gravuras e, em vez disso, de comunicar a respeito do cdi-go visual no-verbal (linhas e formas), usado para repre-sent-las. Em tais testes possvel que o desempenho seja afetado mais pela competncia estratgica do que pela habilidade de linguagem especfica que o teste originaria-mente objetivava medir.

    O tipo de atribuio de pontos usado tambm pode influenciar o efeito da competncia estratgica no desem-penho do teste. Se um teste pontuado somente com base no efeito prtico do desempenho lingstico, a contribui-o potencial da competncia estratgica pode ser elevada. Consideremos, por exemplo, um teste no qual um exami-nando solicitado a escrever um conjunto de instrues descrevendo como realizar alguma tarefa, tal como prepa-rar um grfico de disperso: desenhar dois eixos intersec-

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    cionados e nome-los, apresentando um pequeno conjunto de dados corretamente. Suponhamos que o teste seja pon-tuado somente at o ponto em que o grfico de disperso desenhado pelo examinador combine com aquele mostrado ao examinando, e que o examinando seja informado de que esse o critrio de correo. Um examinando desejoso de usar o que ele sabe serem estruturas simplificadas, e talvez agramaticais, poder, mesmo assim, ser capaz de escrever um conjunto de instrues compreensveis e ade-quadas tarefa. Por outro lado, um examinando no dese-joso de fazer isso poder despender um tempo excessivo tentando produzir sentenas lingisticamente corretas, e no completar a tarefa. O mesmo teste pontuado parcia l-mente com base em critrios diferentes, digamos, o espec-tro das estruturas usadas e a correo com a qual so usa-das, poder recompensar o examinando que apresentar vocao estratgica aquele que estiver inclinado a usar uma linguagem simples e agramatical num grau inferior.

    Podemos medir a competncia estratgica? Afirmei que a competncia estratgica influencia o

    desempenho lingstico uma vez que parece haver usurios da lngua que fazem um uso melhor da sua competncia lingstica na realizao de vrias funes. Da mesma forma, alguns tipos de tarefas de teste lingstico parecem envolver a competncia estratgica num grau maior do que outras. No entanto, em vez de considerar a competncia estratgica somente como um aspecto da competncia lingstica, considero-a mais como uma habilidade geral, que capacita um indivduo a usar mais eficazmente as ha-bilidades disponveis na realizao de uma dada tarefa, seja essa tarefa relacionada ao uso comunicativo da lngua

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    ou a tarefas no-verbais, tais como a criao de uma com-posio musical, pintura ou a resoluo de equaes ma-temticas.

    E aqui que ns comeamos a entrar no reino das habilidades cognitivas gerais, ou inteligncia, que est alm do escopo deste livro. Oller (1983a, p. 355-56) levan-tou a hiptese de que um fator geral de proficincia lin-gstica (por ele assim denominado), que envolve o pro-cesso de mapeamento pragmtico das formas de enunc i-ado... nos contextos da experincia a principal funo da inteligncia. John B. Carroll, por outro lado, (comuni-cao privada) defende que a inteligncia, embora no totalmente independente, distinta das habilidades lings-ticas. Eu concordaria que seria inexato identificar compe-tncia estratgica com inteligncia. Ao mesmo tempo, simplesmente descartar a competncia estratgica como uma habilidade geral cujos efeitos no desempenho em testes lingsticos no podem ser medidos desconsiderar a questo. Determinar os efeitos das vrias habilidades de desempenho em testes , em ltima anlise, uma questo emprica de validao de construto. Assim, minha espe-rana que a formulao de competncia estratgica aqui apresentada possa ser til para gerar hipteses sobre o desempenho em testes e para o planejamento de testes que nos possibilitem examinar essas hipteses atravs de pes-quisa empr ica.

    Mecanismos psicofisiolgicos

    At aqui discuti as competncias que acredito serem parte da habilidade comunicativa de linguagem. Para ca-racterizar integralmente o uso discursivo da lngua, no

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    entanto, tambm necessrio considerar os mecanismos psicofisiolgicos que esto envolvidos nesse uso. Eles so essencialmente os processos neurolgicos e fisiolgicos que Frch e Kasper (1983) incluem em sua discusso so-bre a fase de execuo do uso da lngua. Deste modo, po-demos distinguir o canal visual do auditivo e o modo pro-dutivo do receptivo. No uso receptivo da lngua, habilida-des auditivas e visuais so empregadas, enquanto que no uso produtivo so empregadas habilidades neuromuscula-res (por exemplo, articulatrias e digitais). Como ilustra-o, no exemplo das pginas 87-8 [do livro no qual este captulo est inserido], a pessoa em teste usou corretamen-te sua competncia lingstica para formar a frase: A mo-a mais alta que o rapaz. Ela tambm usou sua habilida-de visual para ganhar acesso informao no-lingstica na gravura, sua habilidade auditiva para ganhar acesso informao nas instrues do aplicador e sua habilidade articulatria para pronunciar corretamente as palavras e para produzir acento e entonao apropriados.

    LEITURAS RECOMENDADAS

    O arcabouo descrito por Canale e Swain (1980) seminal para a pesquisa sobre competncia comunicativa. Esse trabalho inclui uma excelente reviso da pesquisa relativa aos quatro componentes principais do arcabouo: competncia gramatical, discursiva, sociolingstica e estratgica. As distines entre conhecimento das formas e uso da lngua e entre texto e discurso, feitas por Wid-dowson (1978), oferecem uma base para a compreenso da relao entre os aspectos organizacionais e ilocucionrios da competncia lingstica. Hymes (1972b) desenvolve a

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    noo de adequao sociolingstica, distinguindo o que possvel, o que realizvel, o que adequado e o que realmente feito no uso comunicativo da lngua. Halliday (1976) discute os esboos da sua teoria de gramtica fun-cional. Hymes (1972b, 1982) e van Dijk (1977) oferecem anlises extensas das caractersticas que constituem o con-texto de uso da lngua. Richards e Schmidt (1983b) ofere-cem fartos exemplos que ilustram o papel da competncia estratgica na conversao. Richards e Sukwiwat (1983) discutem os efeitos da transferncia das convenes con-versacionais da lngua materna (tailands) para o discurso conversacional numa segunda lngua (ingls). Finegan e Besnier (1988) oferecem excelentes discusses sobre dia-letos (captulo 12) e registros (captulo 13).

    REFERNCIAS(N.T.5)

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