viver no campo: a herdade da sapatoa (redondo) e o ... · a vivência do espaço rural, entendido...
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R E S U M O Com este trabalho pretende-se efectuar um ponto da situação da investigação na
HerdadedaSapatoa,enquadrando-anasgrandestendênciasdadinâmicahistóricadareali-
dadecentro-alentejanaaolongodoImilénioa.C.
A B S T R A C T Thisworkintendstopresentthestateofresearchatthearchaeologicalsiteof
HerdadedaSapatoawhichfitsintooneofthegreattrendsthattranspiredinahistorically
dynamicregionoftheCentralAlentejoduringthefirstmillenniumB.C.
0. No fio do horizonte…
Quando na primeira campanha, num chuvoso fim-de-semana de Novembro, me surgiu,numgrupoinseparáveldealunasdaFaculdadedeLetrasdeLisboa,aCarlaMatias, franzina,sóbriaetímida,nãoperspectiveidesdelogoqueteriaaliumbraçodetrabalhodeumvigoratodaaprova.NoVerãoseguinte,aperseverançaeimpetuosidadecomqueaquelajovemdeportefrágiltrabalhavacomapicareta,apenaserasuplantadapelaargúciadasleiturasestratigráficas,origorerapidezdodesenho,aacutilânciadohumoreosimbolismodasrefeições.Masaquificoubemclaroemmimacapacidadeeaqualidadedotrabalhodestajovemaluna,paraquemseriafácilperspectivarumporvirdegrandereconhecimento.Quandosecomeçouaperspectivaraeventualidadedeumanovacampanhaem2004,CarlaMatiasfoidesdelogoumapossibilidadede grande certeza para acompanhar e coordenar os trabalhos; circunstâncias diversas assim
Viver no campo: a Herdade da Sapatoa (Redondo) e o povoamento rural centro-alentejano em meados do I milénio a.C.1
RUIMATALOTO
ACarlaMatiasIn memoriam
…mais que uma promessa, uma certeza.
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 135-160
Rui Mataloto Viver no campo: a Herdade da Sapatoa (Redondo) e o povoamento rural centro-alentejano em meados do I milénio a.C.
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acabaramporditarque fosse,dando-se início, emJulhodesseano,àterceiracampanhadeescavação,que magnificamente levou a efeito. Ficará parasempre a sua firmeza e determinação, tal como asuadiplomaciaebonomia;daSapatoa3serásempreCarla Matias inseparável, como se estivesse, talcomonoúltimodiadetrabalhodoVerãode2004,no fio do horizonte, desenhando alçados a umavelocidade estonteante, sob o sol abrasador doAlentejoprofundo…
1. Viver no campo: a ocupação rural na Idade do Ferro do Sul peninsular
Avivênciadoespaçorural,entendidoaquicomooresultadodapresençaeacçãodoHomemsobreomeio,constitui,aomenosdesdeostemposneolíticoseatéàconsagraçãodaépocaindus-trial,oelementoestruturantedasociedadehumanadecaracterísticasiminentementeagrícolasepecuárias. Todavia, a instalação humana em meio rural permanece, ainda hoje, como um dosmodelosdeocupaçãomenosconhecidonaPenínsulaIbéricaduranteoImilénioa.C.AtradiçãodeinvestigaçãodaIdadedoFerropeninsularcentrou-se,desdecedo,nosgrandesaglomeradospopu-lacionais,emdetrimentodesítiosdemenorentidadevisível,acabandoporestruturarumavisãodocampoexclusivamentenadependênciaeperiferiadaqueles.
OSudoestepeninsular,eemparticularoBaixoAlentejo,constituiuumaáreapioneiranoestudo destas realidades, na sequência da análise dos testemunhos epigráficos, continuando arepresentaraindahoje,eapesardaescassezdeestudossistemáticos,umadasáreasondeopovoa-mentoruralfoimaisextensamenteescavado.AsintervençõeslevadasaefeitonoâmbitodoPlanodeMinimizaçãodeImpactesdoempreendimentodeAlqueva,vieramalargaraindamaisofossojáexistente, ampliando o número de sítios intervencionados para mais de duas dezenas nestequadrantepeninsular(Mataloto,2004;Calado,MatalotoeRocha,noprelo).
Nestaamplaregiãofoi,contudo,oestudodaáreaextremenhaqueconferiuumlargodestaqueàsrealidadesemespaçorural,principalmentedemeadosdoImilénioa.C.SeaintervençãodeCanchoRoanotrouxeparaaribaltaaexistênciadeedifíciosdeíndolearistocráticaemmeiorural,nãodeixoude introduziralgumas resistênciasàanálisedocampo,aoassegurar-sedesdecedoo seucarácterúnico.Apenasnasegundametadedadécadade90,comaidentificaçãodediversasrealidadesarqueo-lógicassimilaresaCanchoRoano,oschamadostúmulos“post-orientalizantes”,secomeçouaenten-derocampoextremenhocomoumentramadocomplexodeinstalaçõesdiferenciadas,organizadasemtornodeestruturasdeíndolearistocráticaoudeprestígio(JiménezÁvila,1997;RodríguezDíazeOrtizRomero,1998).Assim,desdeentão,temsidocadavezmaisassumidaarelevânciaecomplexi-dadedomundoruralfaceàocupaçãoconcentrada,tantonoespaçoextremenho(RodríguezDíazeEnríquezNavascués,2001,p.233;RodríguezDíaz,2004;JiménezÁvila,1997,p.154),comotambémnoInteriorSuldePortugal(Mataloto,2004;Arruda,2001,p.288;Fabião,1998,vol.I,p.392;Correia,1997,p.75).AreavaliaçãodospequenosnúcleosruraisdeCastroVerdeeOurique,emparticulardeNevesI,CorvoIeFernãoVaz(Arruda,2001,p.281;JiménezÁvila,2001,p.221;Fabião,1998,vol.I,p.274;Correia,1996,p.83),deixoupatenteodestaquequealgunsdestespoderãoterdesempenhadoemtermossociais,simbólicosoumesmoeconómicos.
Fig. 1 EquipadeescavaçãonaCampanha3/2004.
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Ainvestigaçãoproto-históricadoSuleLevantepeninsularencontra-seaindadominadapelavertenteconcentradadopovoamento,apresentandooprocessourbanoganhouumrelevoeumaevoluçãosemparaleloanívelpeninsular,oquenãoobstaàpresençadeumaocupaçãorural,porvezesdeparticularintensidade(MolinosMolinos,RuizRodríguez,SerranoPeña,1995,p.239).Todavia, a dita área “ibérica” apresenta uma enorme diversidade de modelos de interacção dopovoamento,ondeospequenossítiosruraisparecemviraassumirumrelevocadavezmaior.Aqui,osestudosterritoriaistêmvindoadelinearumespaçoruralparticularmentecomplexoehierarqui-zadoparaasegundametadedomilénio,comumadiversidadedemodelosdeagregaçãohumanaemcontextorural,quevãodesdeaspequenasquintas,porvezesfortificadas,aaldeamentoscomalgumgraudecomplexidadearquitectónicaesocial(BoneteMataParreño,2001).
NaAndaluzia,eprincipalmentenoquedizrespeitoaoespaçoetempo“tartéssico”,ocernedaabordagemàocupaçãoruralpermanecefocadona“questãocolonial”enarelevânciadoimpactofenícionaexploraçãodocampo;poroutrolado,ofortedesenvolvimentourbanoconhecidopelassociedadessidéricasdestaregiãocondicionouefocalizoudesdesempreopercursodainvestigação.Todavia,começamaesboçar-seosprimeirosestudosterritoriaisondeestavertentedeinvestigaçãoganhaumverdadeirodestaque,deslocandooeixododiscursodopovoadocentral“proto-urbano”paraoterritórioeseumododeexploração(FerrerAlbeldaeBanderaRomero,2005).
Hámaisdeduasdécadasquesecomeçouaesboçararelevânciadomeioruralnaenvolventeimediata do mundo colonial fenício do Sul peninsular, retomando teorias bastante anteriores(Alvar e Wagner, 1988). O percurso conturbado da investigação colonial, com forte oscilaçõessobreaorigemdoprocesso,apardaescassainvestigaçãodireccionadaparaaveriguaçãodacoloni-zaçãoagrícola,acaboupordeterminarumaaceitaçãobastantelentadestarealidade,quecomeçaaganharefectivamenteoutroscontornos,continuandoaserdefendidacomoumvectorestratégicodaprópriainstalaçãofenícia(Wagner,2005).Assim,emtodooespaçoandaluzaocupaçãoruralpareceseraregra,apresentando,noentanto,ritmosecaracterísticasbastantediversas(Mataloto,2004,p.149),oscilandoentreacomplexidadedegrandesconjuntosarquitectónicosmultifuncio-naisinstaladosnointerior,casodeCalañasdeMarmolejo(Molinos,etal.1994)easimplicidadedosdesignados“fundosdecabana”daáreacolonialdeCádis(RuizMataeGonzálezRodríguez,1994).
Assim, o mundo rural assume-se, de modo indiscutível, como uma vertente essencial daocupaçãodoterritórioemtodaaáreamediterrâneadaPenínsula.
2. A intervenção na Herdade da Sapatoa 3
OstrabalhosnaHerdadedaSapatoa tiveramoseu inícioem1999, coma intervençãodeemergêncianosítio1daHerdadedaSapatoa,queseencontravaemacentuadoprocessodedesman-telamentopelaoscilaçãodoníveldabarragemdaVigia.
Nodecursodostrabalhosdeescavaçãofoi-nospossívelidentificarduasoutrasocupações,eposteriormente uma terceira, nas suas imediações. Quando a intervenção se encontrava quasefinalizada uma lavoura profunda afectou o sítio 3 desta Herdade, revolvendo grandes pedras,muitoprovavelmenteresultantesdadesagregaçãodeestruturas.Noâmbitodoplanodetrabalhosparaosítio1foipedida,econcedida,umaintervençãodeemergênciaparaosítio3,dandoinícioaoprojectodeescavaçãodemaisestainstalaçãonaHerdadedaSapatoa.
Ostrabalhosiniciaram-seemSetembrode2002,emparalelocomaintervençãodosítio1,ajustando-seaáreaaescavaràzonaondesurgiammaisblocoslevantadospelalavoura;apresen-
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tava,então,umaáreade7mx4m,comumtotalde28m2,aosqueseacresciaumapequenavaladesondagemcomcercade8m2.Asincógnitasdeixadaspelofactodetermosintervencionadoumaáreaaparentementeexterior,plurifaseada,comestruturasbastantedesmanteladas,conduziramaocontinuardostrabalhos.
Nacampanhade2003osmeiosdisponíveisassentiamoalargamentoemárea,expandindo-semaisdeumacentenademetrosquadrados,permitindoidentificarumpequenoconjuntoedifi-cado,compostoporváriosespaçosaparentementecobertos.Aintervençãoemprofundidadeefec-tuou-sedentrodosAmbientesI,IIeIII.
Noanoseguinte,aescassezdemeioseosresultadosdostrabalhosanteriores, impuseramumaligeiraalteraçãodosobjectivos,visando-seagoraummaiorconhecimentodecadaumdosespaçosidentificadoseapontualdelimitaçãototaldasestruturasconstruídas.
Nestemomento,ostrabalhosencontram-seemcurso,visandocaracterizarsuficientementeasmaisantigasfasesconstrutivas,particularmenteparasudestedoconjuntodaúltimafase.
2.1. A Herdade da Sapatoa: localização e trabalhos anteriores
AHerdadedaSapatoalocaliza-senaáreasuldoconcelhodoRedondo,distritodeÉvora,emambas as margens da Ribeira de Vale de Vasco, pertencente à bacia da margem direita do RioDegebee,desdelogo,àbaciadoGuadiana.
A paisagem, de grande individualidade fisiográfica, é caracterizada por um relevo muitoondulado,porvezesdeclivoso,queseabre,aespaços,emamplasrechãsjuntodasprincipaislinhasdeágua,comoaRibeiradeValedeVascoedaAlcorovisca.
tava,então,umaáreade7mx4m,comumtotalde28m2,aosqueseacresciaumapequenavaladesondagemcomcercade8m2.Asincógnitasdeixadaspelofactodetermosintervencionadoumaáreaaparentementeexterior,plurifaseada,comestruturasbastantedesmanteladas,conduziramaocontinuardostrabalhos.
Nacampanhade2003osmeiosdisponíveisassentiamoalargamentoemárea,expandindo-semaisdeumacentenademetrosquadrados,permitindoidentificarumpequenoconjuntoedifi-cado,compostoporváriosespaçosaparentementecobertos.Aintervençãoemprofundidadeefec-tuou-sedentrodosAmbientesI,IIeIII.
Noanoseguinte,aescassezdemeioseosresultadosdostrabalhosanteriores, impuseramumaligeiraalteraçãodosobjectivos,visando-seagoraummaiorconhecimentodecadaumdosespaçosidentificadoseapontualdelimitaçãototaldasestruturasconstruídas.
Nestemomento,ostrabalhosencontram-seemcurso,visandocaracterizarsuficientementeasmaisantigasfasesconstrutivas,particularmenteparasudestedoconjuntodaúltimafase.
2.1. A Herdade da Sapatoa: localização e trabalhos anteriores
AHerdadedaSapatoalocaliza-senaáreasuldoconcelhodoRedondo,distritodeÉvora,emambas as margens da Ribeira de Vale de Vasco, pertencente à bacia da margem direita do RioDegebee,desdelogo,àbaciadoGuadiana.
A paisagem, de grande individualidade fisiográfica, é caracterizada por um relevo muitoondulado,porvezesdeclivoso,queseabre,aespaços,emamplasrechãsjuntodasprincipaislinhasdeágua,comoaRibeiradeValedeVascoedaAlcorovisca.
Fig. 2 Localizaçãodosítio3daHerdadedaSapatoanaCMP462-1:25000.
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Osolo,pobre,surge-nosparticularmentepedregosoepesado,derivadodacascalheiraterciá-ria assente no substrato xistoso, que caracteriza geologicamente a área envolvente, abrindo-sejuntodasprincipaislinhasdeáguapequenasvárzeasdesolosmaisleves,facilmenteagricultáveis.
Ummontadodenso,comabundantesespéciesarbustivas(estevas,giesta,etc.),apenaspontu-almenteagricultadoemregimedesequeiro,caracterizaoactualcobertovegetaldaHerdadedaSapatoa,tendoocursodascitadasribeirassidoacompanhadoporumagaleriaripícola(choupos,freixos, faias, etc.), entretanto eliminada pela construção de uma barragem. Os resultados dasanálisesantracológicasdospoucosvestígiosrecolhidosnossítios1e3daHerdadedaSapatoapermitiramverificarapresençadeazinheiraeesteva(Queiroz,2004),quepoderáindiciarapresençadeumapaisagemdebosqueaberto,declaraorigemantrópica.Nomesmosentidoparecemapon-tar os estudos palinológicos, ao revelarem uma baixa densidade arbórea, acompanhada pelapresençadeespaçosabertosdepastagensecamposdecereal,apardeescassosindíciosdevideira(Hernández,2005).
AHerdadedaSapatoalocaliza-se,assim,nasimediações,paraSul,deumcaminhonaturalque,marginandoaabameridionaldaserrad’Ossa,interligariaempoucomaisqueumajornada,atravésdoAlentejoCentral,ocursodescendentedoGuadianaàdesembocaduradoTejoedoSado.
Narealidade,olongocorredorcentroalentejano,ondeasrealidadessidéricasdaHerdadedaSapatoaseinserem,interligaduasentidadeshistórico-geográficasdemarcadaindividualidadeaolongodoImilénioa.C.,aBaixaExtremaduraeoBaixoTejoeSado.
Assim,serádacorrelaçãodestasexistênciasqueseiráformareestruturararealidadequenosfoipossíveldetectarnaHerdadedaSapatoa.
Aescavaçãodosítio1permitiuidentificarumconjuntoarquitectónico,apenasparcialmenteconservado,comcercadeumacentenademetrosquadradosdeáreaedificada,comvárioscompar-timentosdeplantaquadrangular,aparentementeestruturadosemtornodeumpátiointerior.Emtermos construtivos, a arquitectura caracterizava-se pela utilização de uma técnica mista, compedradexistoequartzo,paraoembasamento,erecursoàterraparaodesenvolvimentoemalturadaparede;ospisossãodeterraedeargilavermelha,ruborescida,declaratradiçãomediterrânea.
Osdiversosespaçosindividualizadosapresentavamcaracterísticasdistintas,quepermitiramumaaproximaçãoàsuafuncionalidade(Fig.3).
Estelocalfoijáobjectodeumestudodecaráctermonográfico(Mataloto,2004),peloqueseapresentaaquiapenasdemodomuitosintético.
Foramdetectadosdoisespaçosdecariziminentementeresidencial(AmbienteIeII),deplantarectangular, comumaáreacobertanaordemdos15a20m2, com lareiracentral, aosquais seencontravamassociados,emanexo,doisoutrosespaçosdereduzidasdimensões,4a6m2,respec-tivamente (Fig. 3). Os conjuntos artefactuais recolhidos nestes compartimentos sugeriam umautilizaçãomultifuncional,relacionadacomumaarmazenagemquotidianaecomoconsumodealimentos.AdjacenteaoAmbienteIsituava-seumoutroespaçocoberto(AmbienteIII),quefuncio-navacomoumaáreadedistribuiçãodacirculaçãoedepreparação/confecçãodosalimentos,aten-dendoàspresençascerâmicasdegrandes formasabertaseoutrasdearmazenagemquotidiana.Seriaatravésdesteespaçoquese fariaacirculaçãoapartirdoexterior,atravésdeumpequenovestíbulo,dandoacessoqueraoespaçointeriornãocoberto(AmbienteIX),queraumoutroespaçodecozinha/armazenagem(AmbienteV),paraalémdojácomentadoAmbienteI.Nopátiodetec-tou-seumaestruturacirculardeembasamentopétreo,interpretadacomosiloouforno.
Como se terá oportunidade de constatar, o conhecimento deste conjunto arquitectónicorevelar-se-áessencialparacompreendereinterpretaroedifíciodetectadonosítio3daHerdadedaSapatoa.
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Fig. 3 Plantageraldosítio1daHerdadedaSapatoa.
Fig. 4 LocalizaçãodossítiosdaIdadedoFerronaHerdadedaSapatoaeenvolvente.
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Poroutro lado,nãoseráalheiaà leituradestessítiosapresençadeduasoutras instalaçõesruraisnasuaenvolventeimediata:osítio2,implanta-seentreossítios1e3,enquantoo4selocalizacercade1kmamontantedosítio1.Cercade2kmmaisanorte,numpequenocerrosobrearibeiradaAlcoroviscadetectou-seigualmenteoutrapequenainstalação.Assim,maisqueumaocupaçãorural isolada,dotipo“monte”(Mataloto,2004),começamosaencontrarumapequenacomuni-dade,eventualmentedebasefamiliar,estruturadaaolongodasmargensdaribeira(Fig.4).
2.2. Arquitectura do sítio 3 da Herdade da Sapatoa: caracterização e evolução2
OconjuntoedificadodaHerdadedaSapatoa3apresenta,claramente,doismomentoscons-trutivosdistintos,resultantesdeligeirasalteraçõesdoespaçoedificado.Noentanto,aníveltécnico,aconstruçãoseguesoluçõesabsolutamentesemelhantesnasduasfases,concordantes,aliás,comoconhecidonoutrasinstalaçõesruraissidéricascentroalentejanas.Aconstruçãofaziausodeumatécnicamista,comrecursoapedraeterra,sendooembasamentodasparedesempedrarecolhidanasimediações,demaioresdimensõesnabase,sobreoqualsedesenvolviaummuroemterra,talcomonosindicaapresençadeestratosargilosos,comfrequentecascalho,sobreospisos.Osvestí-giosdascoberturassãonulos,aindaqueadetecçãodealgumbarrocozidoassociadoaentramadosdemateriaisperecíveiscarbonizadospoderáestararemeterparaassoluçõesutilizadasnacober-tura.Ospisosapresentamconstituiçõesvariadas,comoporexemploasimplesterrabatidasemqualquerespecificidade,passandopelospisosdeargilavermelharuborescidaoupeloslajeados,utilizadonestecasonumespaçoexterior.
OconjuntoarquitectónicoidentificadonaHerdadedaSapatoa3resultoudeaomenosdoismomentosdeconstrução/reconstrução,dequederivouumúnicoedifício.
Poroutro lado,nãoseráalheiaà leituradestessítiosapresençadeduasoutras instalaçõesruraisnasuaenvolventeimediata:osítio2,implanta-seentreossítios1e3,enquantoo4selocalizacercade1kmamontantedosítio1.Cercade2kmmaisanorte,numpequenocerrosobrearibeiradaAlcoroviscadetectou-seigualmenteoutrapequenainstalação.Assim,maisqueumaocupaçãorural isolada,dotipo“monte”(Mataloto,2004),começamosaencontrarumapequenacomuni-dade,eventualmentedebasefamiliar,estruturadaaolongodasmargensdaribeira(Fig.4).
2.2. Arquitectura do sítio 3 da Herdade da Sapatoa: caracterização e evolução2
OconjuntoedificadodaHerdadedaSapatoa3apresenta,claramente,doismomentoscons-trutivosdistintos,resultantesdeligeirasalteraçõesdoespaçoedificado.Noentanto,aníveltécnico,aconstruçãoseguesoluçõesabsolutamentesemelhantesnasduasfases,concordantes,aliás,comoconhecidonoutrasinstalaçõesruraissidéricascentroalentejanas.Aconstruçãofaziausodeumatécnicamista,comrecursoapedraeterra,sendooembasamentodasparedesempedrarecolhidanasimediações,demaioresdimensõesnabase,sobreoqualsedesenvolviaummuroemterra,talcomonosindicaapresençadeestratosargilosos,comfrequentecascalho,sobreospisos.Osvestí-giosdascoberturassãonulos,aindaqueadetecçãodealgumbarrocozidoassociadoaentramadosdemateriaisperecíveiscarbonizadospoderáestararemeterparaassoluçõesutilizadasnacober-tura.Ospisosapresentamconstituiçõesvariadas,comoporexemploasimplesterrabatidasemqualquerespecificidade,passandopelospisosdeargilavermelharuborescidaoupeloslajeados,utilizadonestecasonumespaçoexterior.
OconjuntoarquitectónicoidentificadonaHerdadedaSapatoa3resultoudeaomenosdoismomentosdeconstrução/reconstrução,dequederivouumúnicoedifício.
Fig. 5 VistageraldasestruturasdaFaseB,nofinaldaCampanha3/2004.
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Afaseconstrutivamaisantiga,designadacomoA(Fig.6),teriasidoamaisextensa,aindaquepermaneçaamenosconhecida.Oedifíciocompunha-se,naáreajáintervencionada,porquatrocompartimentosbemdelimitados,aosqueseassociavamoutrosmenosbemcaracterizados,alémde áreas aparentemente exteriores. O Ambiente I, de planta quadrandular, correspondia a umpequenoalpendre,comcercade2,5m2,emcujointeriorseconstruiu,emlajesdexistodispostasna horizontal, uma estrutura de planta circular, de funcionalidade desconhecida, que ocupavatodoespaçodisponível.OAmbienteVI,deplantaigualmenterectangular,apresentavaumaáreadecercade5,5m2,encontrando-serelacionadocomoAmbienteIIIatravésdeumvãoposicionadono canto sudoeste, não tendo sido registado qualquer indício de correspondência funcional.OAmbienteIII(Fig.5)eraomaiordetodos,tendosidoigualmenteoprimeiroaseredificado,adossando-se os restantes a ele. Apresentava uma planta rectangular alongada, com cerca de16m2,comumvãoviradoasudeste,comcercade1,5mdelargura;nointerior,axializadacomovãodeentrada,masdescentradaparaofundodocompartimento,detectou-seumalareiraestru-turadacompedrasdexisto,deplantaquadrangular,comcercade1m2,que,decertomodo,orga-nizariaavivênciadoespaço.OAmbienteIIIdeveria,então,desempenharumafunçãoeminente-
Fig. 6 PlantageraldaFaseAdosítio3daHerdadedaSapatoa.
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menteresidencial,aindaquetivesseconhecidomúltiplasutilizaçõesassociadasàvidaquotidiana.Estecompartimento,associadoaumoutrodemenoresdimensões,nestecasooAmbienteVI,emaistardeAmbienteII,conheceparalelosexactosnosAmbientesIeIIdosítio1daHerdadedaSapatoa,devendocorresponderàcélulahabitacional-base (Fig.7),nestesconjuntosrurais, semquetenhasidopossívelregistá-la,comclareza,emoutrasocupaçõesruraisescavadasnoAlentejoCentral (Calado, Mataloto e Rocha, no prelo). Não sendo uma unidade arquitectónica ampla(c.25m2),deveriaacolherapenasumnúcleofamiliarrestrito,quedificilmentesepoderiaalargarparaalémdoslaçosmaisdirectos(pais/filhos).
O Ambiente IV situa-se nas traseiras, a poente, do Ambiente III, constituindo um espaçorectangular,comcercade8m2,aparentementeabertoasudoeste,aindaqueascondiçõesdepreser-vaçãonãopermitamsertaxativosaesterespeito.Nadanoseuinteriorindiciaafuncionalidadedoespaço, ainda que seja sugestiva a reconstituição como alpendre avançada por Varela Gomes(Gomes,1992),paraumespaçodecaracterísticassemelhantesdetectadoemNevesII,CastroVerde(Maia,1988).
Paraalémdestescompartimentosfoipossíveldetectar,paraestaFaseA,outrosespaçosestru-turados,queapenasoavançardostrabalhospermitirámelhorcaracterizar.
Fig. 7 Modeloarquitectónicodacélulahabitacional-base.
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Nocantonordestedoscompartimentosjáapresentadosedificou-se,logonestafase,umagrandeestruturacircular,comcercade2mdediâmetro,aparentementemaciça,comumpisoemargila ruborescida,quesedeviadesenvolveremalturaatravésdeumaestruturaembarrocozido,dequeseencontrouoderrube.Afuncionalidadedestetipodeestruturasnãoseencon-tra ainda devidamente esclarecida, surgindo duas hipóteses, mutuamente excludentes, a defornoeadesilo(Mataloto,2004,p.55).Emterritórioalentejanosãoconhecidasdiversasestru-turas similares em sítios rurais, tão próximos como o sítio 1 da Herdade da Sapatoa ou umpoucomaisdistantescomooEspinhaçodeCão,juntoaoGuadiana(Calado,MatalotoeRocha,noprelo).IgualmentenosúltimosanostêmvindoaserdetectadasdiversasestruturassimilaresnovizinhoterritóriodaExtremaduraespanhola,emsítiosdeíndoleurbanacomoElPalomar(JiménezÁvilaeOrtegaBlanco,2001)oualdeãocomoElChaparral(JiménezÁvilaetal.,2005).Estasencontram-se,usualmente,inseridasemespaçosabertos,aindaquenocasoaquiemestudodeva ter-se edificado inicialmente no interior de um pequeno compartimento, Ambiente VII.Nastraseirasdesteespaço,viradoaNorte,pareceterexistidoumalpendre,AmbienteXI,aindaqueoestadodeafectaçãonãopermitaesclarecersesetrataria,defacto,deumoutrocomparti-mento.
FronteiroaoAmbienteIIIdesenvolvia-seumterreiroparcialmentelajeado,comumalareiradeargilaruborescida.
Numafaseaindaindeterminada,masposterioraomomentoinicial,edificou-se,adossadoaocantosudoestedoAmbienteIII,oAmbienteVquesetratadeumpequenoespaço,deconstruçãotosca,deplantarectangular,aparentementeinterligadocomaquele,comumaáreacobertanãosuperiora2m2.Noseuinteriorregistou-seapresençadeumpequenopoial,possivelmenterela-cionadocomodesenvolvimentodealgumaactividadedoméstica,eventualmenteamoagem,comohouveoportunidadedeconstatarem“LaMata”(RodríguezDíaz,2004,p.208).Estecomparti-mentotambémnãohaveriadechegaraofimdaocupaçãodesteconjuntoarquitectónico,sendoeliminadoaindacomosítioemuso.
OAmbienteVIviriaaconhecerumapequenaalteração,eventualmentecoincidentecomaconstruçãodoAmbienteV,abrindo-seumvãoviradoaNorte,favorecendoacirculaçãocomestaárea.TambémaparedesudoestedoAmbienteIIIconheceuumapequenaalteração,aparentenodistintoaparelhoempregue.
Aestemomentointermédiosucede-seumaremodelaçãomaisalargada,aquidesignadadeFase B, que afecta principalmente o espaço do Ambiente VI, dando origem ao Ambiente II(Fig.8).EsteapresentacaracterísticassemelhantesaoAmbienteanterior,seguindo-lheinclusi-vamenteaplanta;noseuinteriorerguem-setrêspoiaisadossadosàsparedes,exceptoasudeste.Oconjuntoartefactualaquirecuperado,tratadoemseguida,confirmaasuautilizaçãocomoespaçodearmazenagem.Nosrestantesespaçosasalteraçõessãomenossensíveis.NoAmbienteIfecha-seoladosudeste,transformandooalpendreemcompartimentofechado,amortizando--se simultaneamente a estrutura circular. No Ambiente III edifica-se um banco corrido naparededofundo,sobrelevando-seopiso,queperdeasuacormuitovermelhaea texturadeargilaruborescida.OAmbienteVII,queenquadravaaestruturacircular,éeliminadonatotali-dadeouemparte,continuandoaditaestruturaemutilização.Noterreiroexteriorolajeadoéamortizadoeaslareirasabandonadas,surgindooutrasalipróximo.Igualmentenoterreiro,emuitopróximodoedifícioerguem-seduasestruturasdepedra,maciças,deplantaquandran-gular,a[15]com1,4mx0,85mea[18]com1,7mx1,25m,defuncionalidadedesconhecida.Deveriamapresentarumdesenvolvimentoemalturafazendousodeterraemateriaisperecí-veis,atendendoaosderrubesdeblocosdebarrocozido,commarcasevestígiosdepequenos
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troncosdeesteva,comoevidenciouaanáliseantracológica(Queiroz,2004),detectadosnasuaimediação.Estaspoderiamtersidosequenciais,sendoaestrutura[18],ademaioresdimensões,amaisantiga,sendosubstituídaemdeterminadomomentodestaúltimafasepelaestrutura[15].Osparalelosparaestasestruturasexterioresnãosãoabundantes,mesmoentreossítiosruraiscentro-alentejanos;nosítioruralandaluzdeCalañasdeMarmolejo,emJaén,registaram--sediversasdestasestruturas,dedimensõesalgomenores,tendosidogenericamenterelaciona-dascomaproduçãooleira,bematestadaporoutrosvestígiosno local (Molinosetal.,1994,p.22).
Estaúltimafasecaracteriza-se,principalmente,porumaevidentereduçãodaáreaedificada,mantendo, ou mesmo recuperando, a organização arquitectónica inicial. Na realidade, e aten-dendoaoconhecidonaáreaescavada,asuperfíciecobertaresumir-se-iaacercade30m2.
Estaúltimafase,amaisbemcaracterizada,apresentaumamenorcomplexidadeconstrutivaquea faseanterior, sendoambas,aparentemente,menoresemenoscomplexasqueoconjuntoedificadodetectadonosítio1daHerdadedaSapatoa.
Fig. 8 PlantageraldaFaseBdosítio3daHerdadedaSapatoa.
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2.3. Espaço e presenças cerâmicas na Herdade da Sapatoa 3
Oconjuntocerâmicodosítio3daHerdadedaSapatoapode,genericamente,subdividir-seemdoisgrandesgrupos:odascerâmicasabandonadascomosítio,geralmente fracturadasemconexão,easresultantesdautilizaçãodiacrónicaequotidianadoedifício,usualmentebastantefragmentadas.
Oabandonodosítio3daHerdadedaSapatoaprocessou-se,talcomonosítio1(Mataloto,2004),deummodorápido,deixandograndepartedascerâmicasdaúltimafasenocontextodeuso;foram,então,registadosrecipientesfragmentadosemconexãoemtrêsáreasdistintas:terreiroexterior,AmbienteIIeAmbienteIII(Fig.9).
Fig. 9 PlantageraldaHerdadedaSapatoa3edistribuiçãodoconjuntocerâmicoassociadoaomomentodeabandono.
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Noespaçoexteriorrecolheu-seumgrandepote,elaboradoatorno,fracturadosobreaestru-tura[18],ouoquerestavadela(Fig.9).NointeriordoAmbienteIIregistou-seuminteressantecontextodeabandono,namedidaemquepermitenãosóumaaproximaçãoàfuncionalidadedoespaço,comoeventualmenteàdistribuiçãodorecipientes(Fig.10).Assim,foramaquiidentifica-dascomclarezaduasânforas,umgrandepotemanual,debordodenteado,eumpequenocopomanual (Fig. 11 – SAP[45]), morfologicamente semelhante ao anterior; sem que se possa serperemptório, registou-se também mais um pote e uma tigela. O grande pote deveria situar-sesobreopoialNascente,[70],enquantoasânforasdeveriamencontrar-sesobreospoiaisnorte[69]esul[76].Estasenquadram-sedentrodotipoCR-I(GuerreroAyuso,1991),porsuavezderivadodasânforasdesacodotipoR-1(Ramon,1995).
NoAmbienteIII,próximodocantoSul,detectou-se, igualmente,umgrandepotemanual(Fig.9),quecontinhaumatigelanoseuinterior(Fig.11–SAP[93]),servindoeventualmenteparaextrairoseuconteúdo,muitoprovavelmentesólido,atendendoàutilizaçãodesterecipienteparaoefeito.NestemesmoAmbiente,masemfaseanterioraoabandono,foiamortizadosobumdospisos um pote manual, facto igualmente constatado no interior do Ambiente III do sítio 1 daHerdadedaSapatoa(Mataloto,2004,p.43).
Umpequenobalançosobreesteconjuntopermitetraçarumespectrogeralmuitopróximoaoregistadonosítio1daHerdadedaSapatoa,principalmentenarelaçãoespaço/funçãoonde,umavezmais,severificaapresençaderecipientesmanuaisdearmazenagemeconfecçãodealimentosnosespaçoshabitacionais,comoéocasodoAmbienteIIIdosítio3,oudoInosítio1;poroutrolado,ficoupelaprimeiravezclaraaatribuiçãofuncionaldospequenosespaçosanexosaoscompar-
Fig. 10 Vistageraldoconjuntocerâmico[45],fracturadoemconexãonointeriordoAmbienteVI.
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Fig. 11 Cerâmicasatornoemanuaisdasunidades[7],[10],[45]e[93]daHerdadedaSapatoa3,queseencontravamfractura-dasemconexão,naúltimafasedeocupação.
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timentosresidenciais,aodetectar-seumaconcentraçãoderecipientesdearmazenagemnoAmbienteII.Poroutrolado,nãodeixadeestranharaquasetotalausênciaderecipientesdeconsumoindivi-dual,atestado,aindaqueemnúmeroreduzido,noespóliodeabandonodosítio1.
Emtermoscronológicos,éimpossíveldemomento,combasenasevidênciascerâmicas,tentarestabelecerqualquerdiacroniadeabandonoentreosítio3eosítio1daHerdadedaSapatoa,nãosendodescabido,atendendoaocontextoetafonomiadasrealidadesrecuperadas,sugerir-seumaacçãocoordenadadeabandono.
Osegundogrupocerâmicoéaindabastantedifícildecaracterizardemodosatisfatório,namedidaemqueseencontraapenasparcialmentetratado;todavia,creiojápossívelassinalarque,talcomoseriadeesperar,seaproximabastantedorecolhidonosítio1daHerdadedaSapatoa.Poroutrolado,édeigualformarazoavelmentesemelhanteaorecuperadonafasedeabandono,eviden-ciandoumapossívelcurtadiacroniadeocupação.Narealidade,aausência,atéaomomento,deformasdecarizarcaizante,comomamilosalongados,carenasefundosemônfalo,poderemeterparaummomentodeligeiraposteridadeasuafundaçãorelativamenteaosítio1.
Peranteocenáriotraçado,cremosqueaocupaçãodosítiodaHerdadedaSapatoa3sedeveterdesenroladoentreosfinaisdoséculoVIa.C.eaprimeirametadedoséculoseguinte.
Asustentaçãoeconómicadestepequenoaglomeradodeveriaestarestreitamenterelacionadacomasdisponibilidadesdapaisagemenvolvente;assim,eatendendoaosindíciospalinológicoseantracológicos,édesuporumaeconomialocalagro-silvo-pastoril,comcultivodecereaisepasto-reio,podendoapresençadeumpotemeleiroindiciaraexploraçãoourecolhademel,tambémsuposta,apartirdomesmoindício,paraosítio1.
3. Aproximação integrada ao processo humano na primeira metade do I milénio a.C. do Alentejo Central
Aocupaçãoruraldoespaçocentroalentejanocomeçouaserreconhecidacomoumverda-deirofenómenodeinstalaçãohumanaapenasnosfinaisdadécadade90doséculopassado,sendoatéentãoapenasconhecidosalgunssítiosabertos(CaladoeRocha,1997).Noentanto,aimple-mentaçãodediversosestudossistemáticos,relacionadosprincipalmentecomgrandesobraspúbli-cas, como a barragem de Alqueva, permitiu alterar substancialmente o panorama conhecido(Calado,BarradaseMataloto,1999),constatandoumaintensaocupaçãodoespaçoruralcentroalentejanoaolongodoprimeiromilénioa.C.,quecontaactualmentecomcercadeumacentenadesítiosidentificados(Mataloto,2004).
ÉdesdejápossívelafirmarqueaprimeirametadedoImilénioa.C.conheceuoarranqueeaugedeumaintensaocupaçãodoespaçorural,entendidonasuavertenteecológica(Mataloto,2004,p.35).Nãomepareceadequadoreferiresteprocessodeinstalaçãohumanaemmeioruralcomocolonizaçãoagrícolaouagrária,comofoipropostoparaoutrasáreaspeninsulares,casodaAndaluzia(FerrerAlbeldaeBanderaRomero,2005,p.566).Esteprocessodeocupaçãodocamponãoterásidodesencadeado,naregiãoalentejana,demododirigidoecoordenado,comoseespera-riadosprocessosdecolonização;poroutro lado,dá-se,nestemomento,a intensaocupaçãodeáreasdesolosesqueléticosepoucoprodutivos,comoasmargensdoGuadiana,devendoosustento,esucesso,dasinstalaçõesrelacionar-semaioritariamentecomodesenvolvimentodeactividadespecuáriasenãoagrícolas.Assim,creiosermaisadequado,porquemenoscomprometido,definireste processo como ocupação do espaço rural, ao menos neste momento e para o AlentejoCentral.
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Écertoqueocampo,duranteofinaldaIdadedoBronze,nãoseencontravadesocupado,sendoconhecidoumnúmeroelevadodepequenasocupaçõesdestemomentonoAlentejo(CaladoeRocha,1996-1997);noentanto,sóduranteaIdadedoFerroseparececonsolidarummodelodepovoamentoclaramenterural.
Esteprocessoparecedesenrolar-se,demodosistemático,nosmeados/finaisdoséculoVIIa.C.(Calado,MatalotoeRocha,noprelo),coincidindocomoabandonodosgrandespovoadosfortifi-cadosdofinaldaIdadedoBronze,nummovimentodesencadeado,provavelmente,aindanacentú-riaanterior.Narealidade,oreforçodacomponentehumanadispersanocamposurgeclaramenteporoposiçãoaumabandonogeneralizadodosgrandespovoados,sendorarasouquasedesconhe-cidas,grandesinstalaçõeshumanasnoAlentejoCentralparaoperíodoentreosfinaisdoséculoVIIa.C.eosmeadosdomilénio.
Fig. 12 ConjuntodecerâmicasprovenientesdepequenasocupaçõesruraisdofinaldaIdadedoBronze:ZambujaldoAmigo(ZBA),Évora;ValeMariadoMeio8(VMM8)Évora.
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Aslimitaçõesdoregistoarqueológicopoderão,comtodaalegitimidade,geraralgumadiscor-dânciarelativamenteaestahipótese(Arruda,2005,p.88);noentanto,seoprocessodeabandonodasgrandesfortificaçõeséclaroimediatamenteapósasprimeiraspresençasdeorigemcolonial,creio aceitável entrever o arranque da ocupação rural algures durante o século VII a.C. Algunsnovos,evelhos,dadoscomoapresençadefíbulasdeduplamola(Fabião,1998)eAcebuchal(Ponte,1987)emTorredePalma(Monforte),oudafíbuladetipoAlcoresdaHortadasPinas(Ponte,1986)(Fig.14),muitocertamenteassociadasaocupaçõesrurais,parecemapontar,comclareza,nestesentido.
A intervençãorecentenumextensopovoado, lidocomodofinalda IdadedoBronze,SãoGens (Redondo),permitiuconstatar,naáreaescavada,umaúnicaocupaçãoaparentementedoséculoVIIa.C.,quese teriaextinguidoquantomuitonos iníciosdoséculoseguinte, revelandoclarosindíciosdeinteracçãocomasrealidadesintroduzidasnolitoralpelaspresençascoloniais(Mataloto,2004a).OsgrandespovoadosdoCasteloeEvoramonte,igualmentenaserrad’Ossaeaescassosquilómetros,tambémnãoparecemsobreviveraestaonda,aindaquetalsejamaisclaronoprimeiroquenosegundo.
Nomesmosentidoparecemapontarosdadosresultantesdeescavaçõesrecentes,eantigas,emamplospovoadosdofinaldaIdadedoBronzeumpoucoportodooAlentejoCentral.Estemovimentogeraldeabandonoparecedocumentar-se,paraalémdoscasos jácitados,emsítioscomoaCoroadoFrade(Arnaud,1979),CastelodeArraiolos(Fabião,1998,emateriaisdasinter-vençõesdeGustavoMarquesemdepósitonoMNA),ounorecentementeestudadoCastrodosRatinhos(SilvaeBerrocal,2005),desenrolando-se,creio,alguresentreosfinaisdoséculoVIIIeosmeados/finaisdoséculoVIIa.C.,estandojádevidamenteconsumadonosiníciosdoséculoVIa.C.Apenasapresençadefíbulasdeduplamola(CoroadoFrade,Arraiolos),consensualmenteaceitecomoreveladoradapresençacomercialfenícianolitoral(Ponte,2002;Fabião,1998;Arruda,1999--2000),parecemarcarodesenrolardesteprocesso,quedeveráserrápido,najustamedidaemquepareceanteceder,namaioriadoscasos,achegadadeummaiorafluxodenovosprodutosaolito-ral,comasucessivadisseminaçãonointerioralentejano,casodovinho,comofoipossíveldocu-mentarnoAltodeSãoGens(Mataloto,2004a).
A instabilidadedas grandes ocupações ao longo do I milénio a.C. acabará por se traduzirnuma extrema dificuldade de estruturação territorial das realidades humanas, ao invés do quesucedenaAndaluzia,ondeapermanênciadosgrandescentrosfavoreceu,desdecedo,aorganiza-çãodeespaçosterritoriaisnosquaisaocupaçãoruralseimplementariademodoaparentementeconcertado(FerrerAlbeldaeBanderaRomero,2005).
OséculoVIa.C.deve,então,tersidomarcadopelatotalreorganizaçãodopovoamentoalen-tejano,emergindododesmantelamentodasredesdegrandespovoadosdofinaldaIdadedoBronzeumadensamalhadepequenasinstalaçõesrurais.SeoadventodestarealidadeéjápossívelrastreardentrodoséculoVIIa.C., serácomoséculoVIa.C.quesurgirácomoumpadrãoconsolidado,efectivando-seao longodesteséculo,creio,o optimumdaocupaçãorural,queconheceráoutrastendênciasnosséculosseguintes.
Resta ainda por apurar como se irá reflectir esta profunda transformação das malhas depovoamentonaestruturaçãosocialeeconómicadoterritórioalentejano.
ApresençademateriaismetálicosemcontextosaparentementefuneráriosdoNortealente-jano,comoasfíbulasAcebuchaldeTorredePalmaeAlcoresdaHortadasPinas(Ponte,2006)(Fig.14),logonosfinaisdoséculoVIIeiníciosdoséculoVIa.C.,parecetraduzirumrápidoesca-lonamentodasrealidadessociaiseeconómicasdoespaçoruralalentejano.Creioentão,edesdejá,queatransformaçãodasestruturassociaisedepodernãoseráunívoca,nemdirecta,emergindo
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Fig. 13 CerâmicasdopovoadodoCastelodaSerrad’Ossa(1-4)(seg.CaladoeMataloto,2001)edoAltodeSãoGens(5-9)(seg.Mataloto,2004a).
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numprimeiromomentoumarealidademenoshierarquizada,maisisonómica,maseventualmentemaisdiversa,queduranteofinaldaIdadedoBronze;noentanto,asnovasestruturassociaisrapi-damenteevoluirãoparanovasformasdeentrosamentoepoder,queparecemnascereconsolidar-senestarealidaderural,sendoaevoluçãointernadoconjuntoarquitectónicodeCanchoRoano(Celestino,2001)omelhorexemplodoaparecimento,consolidaçãoeesplendordestasnovasenti-dadesdepoderentreosfinaisdoséculoVIIa.C.eosfinaisdoséculoVa.C.,numprocessodeondeosgrandesaglomeradosparecemestararredados.
Deste modo, creio que a ocupação rural centro alentejana acabará por se coordenar, emgrandemedida,entresi,gerandohierarquiaseorganizando-seemtornodeterritóriosquesevãoestruturandoaolongodotempo.CreiosernestecontextoqueacabarãoporsurgirunidadessociaiscomoasregistadasnaHerdadedaSapatoa,quepoderíamosdesignardetipoaldeamentodisperso,interligadaporlaçosfamiliares,umpoucoàsemelhançadas“comunidadesdevale”damedievali-dadeportuguesa(Mattoso,1985).
A possibilidade de estudaruma área relativamente extensanasmargensdoGuadianapermi-tiumelhorcaracterizarumaverda-deiracomunidaderibeirinha,quese estruturou ao longo do riodurante o I milénio a.C. (Calado,Mataloto e Rocha, no prelo). Aidentificaçãodemaisdetrêsdeze-nas de pequenas instalações, e aescavação parcial de uma dezena,permitiuobservaraenormediver-sidade de que se podem revestirestas instalações. Assim, parecemdistender-se na diacronia com um dinamismo e uma constância de que resulta um panoramaparticularmente rico, onde algumas ocupações se esgotam, enquanto outras se consolidam eexpandem,chegandoaconhecerimportantesconjuntosedificadoscomváriascentenasdemetrosquadradosdeáreacoberta,comoacontecenoEspinhaçodeCão(Fig.15).Apardestes,ounasuasequência,emergemgrandesconjuntosedificadosemcontextorural,comevidentescaracterísti-casdedestaque,comoaorganizaçãotripartidadoespaçoresidencial(osedifíciosemTridente,deJavier Jiménez) (Fig. 15), caso do sítio da Malhada das Taliscas 4, à imagem do conhecido noscomplexos de prestígio do Médio Guadiana, como Cancho Roano (Celestino, 1996) e La Mata(RodríguezDíaz,2004).
Nãodeixadeserinteressanteverificarqueosquatrosítiosdemaioresdimensões,EspinhaçodeCão,CasadasMoinhola3,MalhadadasTaliscas4eGatoseencontramespaçadossensivel-mentedeigualmodoentresi(cercade3a5km),gerandoarosdeinfluênciaeventualmenteseme-lhantes,istose,efectivamente,tivessemsidotodosaomenosparcialmentecontemporâneos,comopode ter acontecido. Uma vez mais encontramos aqui uma concentração elevada de pequenasinstalações, com algumas claramente destacadas face às restantes, sendo relativamente simplesvislumbrar alguma hierarquia interna do conjunto, quer em termos sociais, quer produtivos;assim,instalaçõescomooEspinhaçodeCão,comváriascentenasdemetrosquadradosdeáreaedificada, com espaços residenciais e possivelmente cultuais, poderiam coordenar e originaroutros,comooMoinhoNovodeBaixo,comreduzidasáreasedificadas.Umavezmais,aorganiza-
Fig. 14 FíbulatipoAcebuchaldeTorredePalma(Monforte)etipoAlcoresdeHortadasPinas(Elvas)(Ponte,1987,1986).
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çãodestetipodecomunidadesribeirinhas,espaçadasaolongodorio,poderiaresponderasolu-çõesdotipoaldeamentodisperso,nãotendoqueserlidascomoelementosisolados,massiminter-dependentes.
Noentanto,querarededepovoamentodetectadanamargemdoGuadiana,querareconhe-cidanaHerdadedaSapatoa,instalam-seemáreasmarginaisfaceaosterritóriosdemaiorfertili-dadeagrícola,certamentemaisatractivosparaestetipodeinstalaçõesrurais;todavia,oingentepovoamento romano conhecido nestas áreas acaba por dificultar bastante a obtenção de umaimagem fidedigna do povoamento proto-histórico, que nos surge aqui bastante mais esparso.Estasseriamaszonasondedeveriamemergircentrosdemaioresdimensões,instaladosemmeiorural,capazesdegerarecoordenarumasatelitizaçãodopovoamentonoseuentorno.Sãoescassosossítiosaquepoderíamosatribuirfunçõesdestecalibre;contudo,existem,apresentandomesmoumaenormediversidadeentresi.
NãoconhecemosnoAlentejoCentralentidadesarquitectónicasquesepossamintegrarnotipo mais característico do Médio Guadiana, os ditos “túmulos post-orientalizantes” (JiménezÁvila,1997).OsítiodaSilveira,ouHortadaRibeira(CaladoeBairinhas,1995),apresentaalgumascaracterísticasquenãodeixamderemeterparaestetipoderealidades;assim,instala-senumaáreaaplanada,juntodeumalinhadeágua,sendoactualmentevisívelumaestruturadeplantaquadran-gular,com16mdelado,realizadaemgrandesblocosdegranito,quenãodeixadeterfortesseme-lhançascomadesignada“terraza”deCanchoRoanoA3(CelestinoeJiménezÁvila,1996;Celes-tino,2001).OescassoconjuntomaterialrecolhidoàsuperfícienãodiferegrandementedoentreguepelasinstalaçõesruraisdemeadosdoImilénioa.C.Apresençadeumconjuntode3painéiscomváriascentenasdecovinhas,nosítioesuasimediações,introduznaleituraumelementodiferen-ciador,eventualmentejustificativodasualocalização.
Fig. 15 PlantageraldeestruturasdoEspinhaçodeCãoeMalhadadasTaliscas4(seg.Calado,2003–modificado).
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UmmodeloalgodistintoéapresentadopelopovoadofortificadodoCastelãodasNogueiras,cujoabandonodevecoincidirigualmentecomosmeadosdomilénio.Esteimplanta-senumaáreaaplanada, de solos particularmente férteis e abundantes aquíferos, estando muito certamentedotadodeumaestruturadefortificaçãoperimetral,quedelimitaumaáreadecercade1ha(Fig.16).Asualocalizaçãoprivilegianãosóaadjacênciadebonssolos,mastambémaproximidadeaumimportantecaminhonaturalquemarginaaserrad’OssapeloladoNorte.
JáosítiodeNossaSenhoradeMachedeparecerepresentarummodeloalgodistintodoante-rior,aindaqueseencontre,talcomoeste,aparentementerodeadoporumcircuitodemuralhas.Comumaplantarectangular,eumaáreadecercade0,5ha, implanta-senumesporãorochosodotadodealgumadefensibilidadenaturaleadjacenteaorioDegebe.Oconjuntoartefactualafasta-odoscaracterísticos“castrosderibeiro”,comosquaispartilhaomodelodeinstalação,aproxi-mando-odasinstalaçõesruraisdemeadosdoImilénioa.C.
Estesmodelosdeinstalaçãodiferenciadospoderiam,eventualmente,coordenarterritóriosdeexploração, nos quais se organizavam e distribuíam pequenas instalações rurais subordinadas,nummodelodeexploraçãoagro-pecuáriapróximoaopropostoparaabaciamédiadoGuadiana(JiménezÁvila,2001;RodríguezDíaz,2004).
Nocampoalentejanotêmvindoasurgir,aespaços,algunsclarosindíciosdediferenciaçãodosgrupos,taiscomoobraseirodemãosdoValedaMoura(Évora)(Teichner,2000),osindíciosdeliteraciarecolhidosnosítiodoOuteirodosCastelinho2,adjacenteaovaledoGuadiana(Gomes,BrazunaeMacedo,2002)ouosrecipientesdevidropolicromodanecrópoledaTera(Rocha,2003)e Malhada das Taliscas 4 (Calado, Mataloto e Rocha, no prelo), revelando provavelmente umahierarquizaçãointereintragrupal(Fig.17).
Todavia, parece-me particularmente redutor ler toda esta enorme densidade de pequenasinstalaçõesruraisapenasnasuperintendênciadasunidadesdiferenciadas,sendoarealidadebemmaiscomplexa,noentrecruzardosváriosmodelosdeinstalação.Assim,grandescomplexosruraiscomooEspinhaçodeCãopoderiamgerarecontrolardiversasoutrasentidadesmenores,enquantooutrasaindaseorganizariam,namargemdosterritóriosmaisférteis,empequenascomunidades
Fig. 16 ImagemaéreaelevantamentotopográficodoCastelãodasNogueiras(Borba).
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relativamenteisonómicaseinterligadasporlaçosfamiliares,comopoderiaserocasodaHerdadedaSapatoa,quenototalpoderiaenvolverváriasdezenasdepessoas.Nãocreioserparticularmenteproblemáticaaaceitaçãodeumcertograudeautarcianestascomunidadesrurais,queocupam,comonuncaantes,todooagroalentejano.
Asaglomeraçõesdemaioresdimensõesqueparecemacompanhar,aomenosparcialmente,agrandepresençadaocupaçãoruralsãoaindapoucoounadaconhecidas.Destas,apenaspodemossituarcomclarezanoséculoVa.C.aocupaçãodoAltoCastelinhodaSerra(Montemor-o-Novo),ondesedetectouapresençadecerâmicaática,nomeadamentetaças“Cástulo”(Gibson,CorreiaeBurgess,1998).OsníveisdebasedoCastelãodeRiodeMoinhos(Borba)entregaramumnúmeroelevadodecerâmicapintada,entreasquaisváriaspolicromas(CaladoeRocha,1997),quepoderãoapontarparaummomentoantigodoséculoIVa.C.oumesmodoséculoVa.C.Narealidade,nãocreio que os possíveis aglomerados populacionais de maiores dimensões, a existirem, tenhamjogadoumpapelrelevantenaestruturaçãodopovoamento,aomenosantesdefinaisdoséculoV a.C. No entanto, a recente identificação, na Extremadura, de importantes unidades de carizurbano ou aldeão, instaladas em zonas planas, como Palomar (Jiménez Ávila e Ortega Blanco,2001)ouElChaparral(JiménezÁvila,OrtegaBlancoeLópez-Guerra,2005),impõealgumasreser-vas,atendendoaofactodealgumasdasinstalaçõesruraisdemaioresdimensõespoderem,eventu-almente,corresponderaestetipodeaglomerações.
EmmeadosdoséculoVa.C.parececonsolidar-seumprocessodeconcentraçãopopulacionalempovoadosfortificados,comoosjácitadosdoAltodoCastelinhodaSerraeCastelão,instaladosemalcantiladosrochosos,numverdadeiroencastelamento,queestaráemgrandemedidaconclu-ídonosmeadosdoséculoseguinte.Esteprocesso,provavelmenteresultantedeumaacçãodesine-cismo, acabará por representar o abandono de grande parte das instalações em meio rural doespaçoalentejano;todavia,ocampocontinuaráaserocupado,inclusivamenteporgrupossocial-mentedestacados,comosepodededuzirdosimportantesespóliosguerreirosdetectadosnanecró-
Fig. 17 AsasdemãosprovenientesdoValedeMoura(Évora)(seg.Teicnher,2000).
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poledaHerdadedasCasasoudaCardeira(Fabião,1998,p.389;CaladoeMataloto,2001,p.144;Mataloto,2004,p.178)(Fig.18).Assim,ocampopermanecerácomoumelementorelevantenaestruturaçãodascomunidadesdasegundametadedomilénio,sendopossívelqueapresenteinclu-sivamentealgumressurgimentoapósummomentogeneralizadodeabandonoemtornoaosfinaisdoséculoVeiníciosdoséculoIVa.C.
Éprovável,atendendoaalgunsdadosquetêmvindoaemergirnosúltimosanos,quenosfinaisdo milénio, o povoamento rural conheça uma clara intensificação, já após a conquista romana,sendo,noentanto,completamentesubstituídomaistardepelacolonizaçãoromana,queditaránovasregras,reorganizandoporcompletoaestruturaçãodasredesregionaisdepovoamento.
NolongoInvernode2005,revistonaPrimaverade2007
nOTAS
1 TextooriginalmenteredigidoparapublicaçãonasActasdoVI 2 Apósoterminusdotextooriginalnovoseconsideráveisavanços CongressosdeEstudosFeníciosePúnicos,realizadoemSetembro sefizeramnoconhecimentodestesítio.Todavia,empouco
de2005emLisboa.VeioaintegrarasrespectivasActasumaversão alteraramaanálisedaáreaescavadaaté2004. truncadadomesmo.
Fig. 18 CerâmicapintadadaNecrópoledasCasas(Redondo)efalcataelançadaNecrópoledaCardeira(Alandroal)(seg.Fa-bião,1998–modificado).
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