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RELATEC Revista Latinoamericana de Tecnología Educativa
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Usabilidade em tecnologia assistiva: estudo de caso num sistema de comunicacao alternativa para crianças com autismo
Usability in assistive technology: a case study of an alternative communication system for children with autism
Barbara Gorziza Avila, Liliana Maria Passerino y Liane Margarida Rockenbach Tarouco Centro de Estudos Interdisciplinares em Novas Tecnologias da Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Paulo Gama,110 Bairro Farroupilha Porto Alegre Rio Grande do Sul CEP: 90040060 (Brasil)
Email: [email protected]; [email protected]; [email protected].
Información del artículo
R e s u m o
Recibido 25 de Junio de 2013Aceptado 13 de Diciembre de 2013
A pesquisa relatada neste artigo contemplou avaliações de usabilidade sobre um sistemade Comunicação Alternativa (CA) voltado para as necessidades de crianças com aSíndrome do Autismo. O processo de construção do Sistema de Comunicação Alternativapara o Letramento de pessoas com Autismo (SCALA) desdobrouse em diferentes etapas,abrangendo desde a sua idealização até a sua avaliação efetivada com potenciais usuáriosda ferramenta. Neste artigo, primeiramente são apresentados os requisitos do sistema, suamodelagem e suas propostas de interface. Após, relatase como se deu a verificação sobrea usabilidade do sistema, seguindo as heurísticas definidas por Nielsen e adaptadas porRauber, a partir dos métodos de avaliação Inspeção e Teste de usabilidade. No método deinspeção uma das autoras realizou um conjunto de dez tarefas, previamente estabelecidas,a serem realizadas com o sistema. Nos testes de usabilidade, as mesmas tarefas foramrealizadas por quatro educadoras especiais atuantes em salas de recursos, com criançascom déficits de oralidade. Os resultados das avaliações realizadas com potenciais usuáriosda ferramenta apontaram para um conjunto de melhorias a serem realizadas para aimplementação da próxima versão do sistema. No momento, a versão 2.0 do SCALA jáestá em fase de finalização e logo deverá ser disponibilizada gratuitamente no site doprojeto.
Palavraschave: Software, Comunicação e desenvolvimento, Educação especial, Tecnologia, Crianças com deficiência.
A b s t r a c t
Keywords: Software, Communication and development, Special needs education, Technology, Disabled children.
The research reported in this paper included usability evaluations on a system ofAlternative Communication (CA) focused on the needs of children with AutismSyndrome. The process of building system Alternative Communication Literacy forpeople with Autism (SCALA) was divided into different stages, ranging from itsidealization to evaluation carried out with potential users of the tool. In this article, wepresent the first resquisitos system, its modeling and its proposed interface. After it isreported how was checking on the usability of the system, following the heuristics definedby Nielsen and adapted by Rauber, from assessment methods Inspection and Testing ofusability. Inspection method in one of the authors conducted a set of ten tasks, previouslyestablished, to be performed with the system. In usability testing, the same tasks wereperformed by four special educators working in resource rooms, children with orallanguage deficits. The results of the evaluations with potential users of the tool pointed toa series of improvements are made to the implementation of the next version of thesystem. At the time, the 2.0 version of SCALA is already being finalized and will soon beavailable for free on the project site.
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1. Introdução
A Comunicação Alternativa (CA) vem se difundindo como um potencial recurso a ser empregadoem situações que envolvem o déficit de oralidade e/ou letramento. Em função disso, há uma constantebusca pelo desenvolvimento e aprimoramento de sistemas de CA, visando que estes sejam adequados àstecnologias vigentes no contexto atual. A pesquisa apresentada por Suchato, Chetsiri, Skulareemit,Thongprasert e Punyabukkana (2011) evidencia esta busca quando relata o desenvolvimento de umsoftware de CA que roda no sistema operacional Android, comumente utilizado em smartphones atuais.O software em questão permite que ocorra a verbalização de símbolos selecionados pelo usuário, fazendodesta ferramenta uma possível alternativa para a substituição da fala por pessoas não oralizadas.Seguindo na mesma linha, Flores et al. (2012) investigaram as potencialidades de uso da ferramenta Ipad,da Apple como um recurso para explorar a Comunicação Alternativa. Os autores ressaltam ser de sumaimportância que as novas tecnologias, disponíveis no mercado atual, sejam avaliadas como recursos aserem empregados no âmbito da CA.
Além das prospecções relativas aos dispositivos que deverão receber os novos sistemas de CA,uma preocupação com a sua usabilidade vem sendo foco de muitas pesquisas. Park et al (2005), nadécada passada, já vinham em busca de contemplar a usabilidade em sistemas de CA através de métodosde predição e da categorização de palavras vislumbrando, desta forma, facilitar a manipulação dosistema por parte do usuário. Seguindo nesta busca, GarayVitoria e Abascal (2006) realizaram um estadoda arte sobre métodos de predição de palavras, com vistas a analisar seu impacto na performance dousuário e na usabilidade do sistema. Allen, McGrenere e Purves (2007) desenvolveram uma aplicaçãopara dispositivos móveis que possibilita pessoas com afasia capturarem e organizarem imagensfotográficas a serem utilizadas em contextos comunicacionais, o Phototalk. O processo dedesenvolvimento desta ferramenta também contemplou verificações de usabilidade com os futurosusuários da aplicação. Ainda Bryen, Heake, Semenuk e Segal (2010) verificaram a usabilidade daferramenta WebAACess, construída com o intuito de facilitar a navegação na web por indivíduos queapresentam distúrbios motores. Prefasi, Magal, Garde e Giménez (2010) avaliaram o uso de Tecnologiasda Informação e Comunicação (TICs) por pacientes com distúrbios cognitivos a fim de elencar critériosobjetivos de usabilidade e acessibilidade para tais ferramentas.
Vislumbrandose a continuidade em pesquisas no âmbito da CA, tendo em vista questõesreferentes à usabilidade de softwares, este trabalho voltase para a construção de um sistema de pranchasde comunicação focado mais especificamente em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA).Dessa forma, o presente artigo apresenta o processo de construção e avaliação pelos quais passou oSistema de Comunicação Alternativa para o Letramento de Pessoas com Autismo (SCALA). Salientaseque, embora tratese de uma ferramenta desenvolvida com foco nas peculiaridades do Transtorno doEspectro Autista, esta poderá ser utilizada com qualquer criança em atividades que envolvam odesenvolvimento da oralidade ou o letramento. Este é o caráter inclusivo que o sistema SCALA apresentacomo característica primordial.
A apresentação desta pesquisa iniciase com uma seção voltada para uma abordagem conceitualsobre a Tecnologia Assistiva e a Comunicação Alternativa. Em seguida, apresentamse questõesreferentes a interfaces e avaliações de usabilidade de sistemas, de um modo geral. Na seção 3 éapresentado o processo de construção do sistema SCALA, seguido da seção 4 que contém a metodologiapara as avaliações de usabilidade. No capítulo 6 são discutidos os resultados obtidos ao longo dasavaliações. Logo, seguese para as considerações finais sobre a pesquisa em questão.
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2. Tecnologia Assistiva e Comunicação Alternativa
A relação do homem com o mundo tem gerado, ao longo de sua história, a criação de inúmerosinstrumentos físicos e cognitivos, capazes de produzir alterações significativas no ambientesóciocultural. Estes instrumentos, denominados Tecnologias, vêm sendo idealizados e implementadoscom vistas a atender demandas variadas, qualificando as relações de determinados grupos com o seuambiente. Neste sentido Passerino (2010) aponta que a tecnologia extrapola o mero artefato físico,englobando também o uso e conhecimento de ferramentas, técnicas, métodos e sistemas de organizaçãoou de produção de objetos.
Na busca pelo rompimento de barreiras impostas a indivíduos que sofrem danos causados pordistúrbios físicos e/ou cognitivos, o homem voltou também sua atenção para o desenvolvimento detecnologias capazes de suprir as necessidades desencadeadas por esses distúrbios. Estas tecnologias sãoconhecidas como Tecnologias Assistivas (TAs) e definidas pelo Comitê de Ajudas Técnicas daCoordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência como uma área doconhecimento de caráter interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias,práticas e serviços visando promover a inclusão social de Pessoas com Necessidades Especiais (PNEs).
No universo das Tecnologias Assistivas, encontrase a Comunicação Alternativa (CA), definidapela American SpeechLanguageHearing Association (http://www.asha.org) como um conjunto detécnicas para o desenvolvimento da oralidade e letramento em sujeitos que apresentam déficits delinguagem. Na literatura da área, diferentes termos vêm sendo utilizados para designar a ComunicaçãoAlternativa: Comunicação Alternativa e Ampliada (Nunes, 2003), Comunicação Suplementar eAlternativa (Deliberato, Paura, Massaro & Rodrigues, 2006), ou ainda Comunicação Alternativa eFacilitadora (Gonçalves, Capovilla, Macedo & Duduchi, 1997). O que eles apresentam em comum é oobjetivo de suplementar a fala, quando o sujeito já dispõe de alguma linguagem, ou substituíla, quandohá um impedimento para que a linguagem oral seja desenvolvida.
Dentre as possíveis aplicações da CA encontramse as Pranchas de Comunicação. Estas sãosuperfícies com símbolos selecionados de acordo com as necessidades do aluno e os próprios objetivosdas pranchas (Santarosa et al., 2010). As pranchas podem dispor de fotografias, desenhos, ou tambémimagens confeccionadas, com ou sem legendas, alfabeto, números e quaisquer outros elementosnecessários para efetivar a comunicação. O processo de comunicação por meio de pranchas consiste emapontar para aquilo que se deseja expressar, comunicando conceitos através das imagens, ou formandopalavras a partir do alfabeto, no caso de sujeitos letrados ou em processo de letramento. O ato de apontarpode variar segundo o grau de comprometimento motor do usuário. Em alguns casos, costumaseutilizar adicionalmente Tecnologias Assistivas como apontadores, vocalizadores, etc.
Vários sistemas computacionais podem ser explorados com a finalidade de desenvolver pranchasde comunicação. Alguns desses sistemas são softwares específicos para CA, como o Amplisoft,desenvolvido pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e disponibilizado gratuitamente naweb para download, e o software proprietário Boardmaker, desenvolvido pela empresa Mayer Johnson.Já no âmbito dos sistemas não específicos para tal fim, encontramse os próprios softwares do pacoteOffice/BrOffice, com os quais, a partir de editores de texto e de apresentação, podem ser confeccionadaspranchas de comunicação.
Atualmente, com a evolução das tecnologias móveis, softwares para a confecção de pranchas decomunicação vêm sendo desenvolvidos para rodarem em dispositivos como tablets e telefones celulares.Kagohara et al. (2012) relatam estudos baseados no uso do Ipod para intervenções com imagens
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representativas de lanches, brinquedos e interações sociais. Flores et al. (2012) realizaram um estudocomparativo entre o uso da CA em cartões de comunicação e o uso através da ferramenta Ipad. Apassagem para as tecnologias móveis facilitou significativamente o uso das pranchas de CA. Sem estesdispositivos, a mobilidade somente era garantida através de recursos como a mídia impressa. Entretanto,no âmbito das pranchas impressas, além de se dispor de um limitado conjunto de símbolos, não há apossibilidade de explorar recursos audiovisuais, que podem atuar como elementos incentivadores dacomunicação.
Cabe salientar que a idealização de sistemas requer cuidados relacionados à interaçãousuário/interface. Não basta dispor da mobilidade quando o sistema não satisfaz as necessidades básicasde seu usuário. Dessa forma, tornase um desafio planejar um sistema de CA que, além de rodar emdiferentes dispositivos, seja capaz de atender as necessidades de comunicação de um público tão peculiarcomo os indivíduos afetados pelo TEA.
3. Interface e usabilidade de sistemas
A constante evolução das ferramentas computacionais e a competitividade imposta pelocrescimento desta área têm mobilizado os desenvolvedores de software a engajaremse na busca porformas de acesso facilitado aos seus recursos, o que vem propiciando o surgimento de interfaces cada vezmais amigáveis para o usuário. Por se tratar do ponto principal de contato da máquina com o usuário, ainterface deve ser vista como um elemento de destaque: Granollers et al. (2004) salientam que a interfaceé determinante sobre a percepção e impressão que o usuário virá a ter sobre o aplicativo. Os cuidadoscom a interface remetem diretamente a questões referentes à usabilidade dos sistemas. Nielsen (1993)descreve a usabilidade como um conjunto de atributos que definem a qualidade do produto tendo emvista a sua utilização pelo usuário.
A avaliação do produto, por sua vez, necessita de um conjunto de critérios que atendam àsexpectativas que se constroem em torno do que deve conter um bom sistema na visão de seus usuáriosfinais. Para esta avaliação, Nielsen (1993) desenvolveu um conjunto de dez heurísticas com sugestões quevisam promover usabilidade em sistemas diversos. As heurísticas descritas a seguir foram observadas noprocesso de verificação de usabilidade do sistema de CA sobre o qual versa o presente artigo:Visibilidade do estado do sistema O sistema deve sempre manter os usuários informados sobre o queestá acontecendo, através de um feedback apropriado, dentro de um tempo razoável. Concordância entreo sistema e o mundo real O sistema deve seguir as convenções do mundo, fazendo a informaçãoaparecer em uma ordem natural e lógica. Controle do usuário e liberdade Suporte para desfazer erefazer ações. Consistência e padrões Os usuários não devem ter que adivinhar se diferentes palavras,situações, ou ações significam a mesma coisa. Prevenção de erros – É importante dispor de um designcuidadoso que previna a ocorrência de problemas. Reconhecimento ao invés de lembrança Minimizar acarga da memória do usuário fazendo objetos, ações e opções visíveis. Flexibilidade e eficiência de uso A flexibilidade e eficiência do uso de Aceleradores pode frequentemente apressar a interação do usuárioexperiente de tal forma que o sistema pode prover aos usuários inexperientes e experientes. Estética edesign minimalista Os diálogos não devem conter a informação que seja irrelevante ou desnecessária.Ajudar usuários a reconhecer, diagnosticar e recuperar erros As mensagens de erro devem ser expressasem linguagem simples (nenhum código), indicar precisamente o problema e construtivamente sugeriruma solução. Ajuda e documentação Mesmo que o sistema possa ser usado sem documentação, podeser necessário fornecer ajuda e documentação. A partir deste conjunto de heurísticas, sistemas podemsubmetidos à avaliação sobre sua usabilidade, de modo a se buscar aprimoramentos ainda antes de suaprimeira versão.
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No campo da Comunicação Alternativa, uma série de softwares vêm sendo desenvolvidos nosâmbitos nacional e internacional. Entretanto, ainda não se vê uma preocupação com avaliações deusabilidade sobre os produtos desenvolvidos. Alguns estudos já vêm mencionando verificações deusabilidade sobre sistemas de comunicação alternativa: (Garbin & Dainese, 2009; Johansen & Hansen,2006), porém ainda é tímida a quantidade de estudos na área da CA.
4. O Sistema SCALA
O Sistema de Comunicação Alternativa para o Letramento de pessoas com Autismo (SCALA) foiidealizado em estudos de caso envolvendo crianças com TEA, nos quais foi possível identificarnecessidades comuns da síndrome com relação ao estabelecimento da comunicação (Avila, 2011; Bez,2010). O protótipo do Módulo Prancha deste sistema visa à construção de pranchas de comunicação,onde a ideia central é que o usuário, com ou sem o auxílio de terceiros, possa dispor imagens1 na telaprincipal para se comunicar em seu ambiente, onde a CA deve fazer parte de sua rotina, contando comrecursos como: importar imagens; imprimir prancha; ouvir, gravar e editar legendas; e modificar layout.
Figura 1. Tela principal do protótipo do SCALA (em Windows).
Conforme mostra a figura 1, a tela principal do protótipo contém três abas na parte superior: umadelas é referente ao módulo prancha; a segunda referese ao módulo história, em desenvolvimento; e naterceira constam os créditos, com a equipe desenvolvedora e as fontes de apoio. No lado esquerdo, estãoorganizadas as categorias nas quais as imagens apresentamse distribuídas (figura 2). Logo abaixo, há asseguintes funções: Abrir, Salvar, Importar, Exportar, Imprimir, Layout, Animar e Ajuda. Os dozequadros disponibilizados ao meio são os espaços onde deverão ser inseridos os cartões de comunicação,constituídos pelas imagens, com seus respectivos áudios e legendas. Há ainda outros três tipos de layout,ou seja, os cartões podem se apresentar sob outras diferentes formas.
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Figura 2. Busca por imagem na categoria alimentos.
A partir deste protótipo, estratégias de uso da CA foram desenvolvidas com vistas a promover acomunicação de um sujeito com autismo ainda não oralizado. Ao longo das interações com uma criançaportadora da síndrome, pôdese colocar o sistema sob a avaliação do usuário com Transtorno do Espectrodo Autismo (Avila, 2011). A figura 3 mostra a interface final da primeira versão do SCALA, ainda emvias de implementação.
Figura 3 Interface Final
No intuito de contemplar o público docente, que também fará uso do SCALA, foramdesenvolvidas avaliações de usabilidade, de modo a identificar aspectos a serem revistos no sistema emdesenvolvimento. A metodologia utilizada para as avaliações de usabilidade contempladas neste artigoserá descrita na seção a seguir.
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5. Metodologia para verificações de usabilidade sobre o sistema SCALA
Nesta pesquisa, através de um estudo de caso buscouse identificar quais os pontos do sistema,que esteve sob avaliação, devem ser revistos para seu devido aperfeiçoamento. A triangulação de dadosse deu a partir de dois métodos de avaliação que foram relacionados à teoria, extraída da revisãobibliográfica. Os dados obtidos nas três fontes distintas convergiram trazendo assim os resultados aoreferente estudo de caso. A metodologia aqui adotada é adaptada a partir da proposta por Rauber (2010)em um estudo sobre a usabilidade das ferramentas Orkut e Twitter para pessoas com deficiência visual.Este método consiste na união de dados obtidos em inspeção do sistema com especialistas e testes sobre omesmo com um grupo de usuários. Ambos os métodos contêm um mesmo roteiro de atividades, «[...]organizado em etapas e seguindo uma lógica de uso» (Rauber, 2010, p. 125).
5.1. Método de inspeção
O método de inspeção não requer a participação de usuários (Preece, Rogers & Sharp, 2008). Ainspeção é realizada por um ou mais especialistas, seguindo um roteiro de atividades e, no caso destetrabalho, tendo por base as heurísticas de Nielsen (1993). A Inspeção se deu a partir da avaliação dosistema SCALA por parte de uma das autoras, onde foram realizadas um conjunto de dez tarefasrepresentativas de atividades a serem comumente efetuadas com o apoio da ferramenta. Nesta parte dapesquisa, a especialista e participante da equipe desenvolvedora do sistema, buscou inspecionar se cadauma das atividades propostas contemplava as heurísticas de Nielsen, evidenciando assim problemas deusabilidade que surgiram no decorrer da avaliação.
5.2. Método de teste
Os testes de usabilidade do sistema SCALA foram estruturados com uma série de passos os quaisforam seguidos de modo padronizado por todos os integrantes da pesquisa. Dentre as primeirasestratégias adotadas, esteve a escolha intencional de quem seriam os participantes da avaliação dosistema. Como segunda providência, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, as quais servirampara que se definisse com maior precisão o seu perfil, verificando se estariam devidamente enquadradosno públicoalvo almejado pelo SCALA. O grupo de participantes dos testes de usabilidade foi formadointencionalmente por quatro educadoras que trabalham com sujeitos afetados por déficits na oralidade,tendo em vista que a CA já se encontra presente em suas práticas pedagógicas.
Durante a aplicação dos testes, a utilização combinada do método Think Aloud (pensar em vozalta) foi de suma importância para a coleta de dados. Tal procedimento consiste no usuário narrar em vozalta todos os seus passos durante a realização das tarefas, evidenciando construções cognitivasestabelecidas ao longo dos mesmos (Nielsen, 1993). A realização dos testes contou com um roteiro quecontinha 10 atividades (o mesmo utilizado durante a inspeção), as quais foram organizadas de modo acontemplar o efetivo uso do software. A execução das atividades se deu em uma mesma máquina,contendo o sistema operacional Windows XP e tendo os devidos softwares necessários aos testesinstalados previamente.
Cada sessão durou em torno de duas horas, onde as participantes realizaram as tarefas de acordocom o roteiro préestabelecido, repetindo em voz alta todo o raciocínio usado durante a execução dasatividades propostas. Todas as sessões foram filmadas e os movimentos das participantes durante o usodo sistema foram registrados através de um capturador de tela1.
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6. Análise e resultados
Na presente seção é descrita a avaliação do sistema. Salientase que as avaliações de usabilidade,foram aplicadas sobre o protótipo de que se dispunha, não tendo ainda implementada a interface final doSCALA. Porém, tendo em vista que a lógica da interface do prótotipo equivale à interface que está emvias de implementação para a primeira versão do sistema, observouse que é possível ter uma boa noçãode como o usuário irá responder ao uso do SCALA em sua versão 1.0.
6.1. Análise Relatório de Inspeção
Com relação à heurística 1 (Feedback), verificouse que vários objetos clicáveis do sistema nãodemonstram que possuem este atributo. Dessa forma, eles se confundem com as demais imagens da tela,deixando o usuário sem saber ao certo os locais onde se encontram as funcionalidades do sistema.
Observouse também problemas no que se refere à heurística 2 (Compatibilidade do sistema com omundo real). Poderia ser citado como um ponto de destaque nas questões relacionadas a essa heurística osintetizador de voz, que não emite um som natural, dificultando a compreensão do mesmo. Entretanto,salientase que a busca por um sintetizador de voz livre, que pudesse ser implementado no sistemaSCALA, não foi uma tarefa simples para o grupo de pesquisa. A dificuldade de se encontrar ferramentasde código aberto, cujos prérequisitos para a manipulação fossem compatíveis com o nível de experiênciado grupo de programadores do projeto, sendo estes alunos dos primeiros semestres da graduação,tornou a tarefa um tanto dificultosa, transformando a obtenção do sintetizador numa verdadeiraconquista para o grupo.
Outra falha percebida no sistema ao longo da inspeção foi a heurística 3 (Controle do usuário eliberdade), pois em muitas ocasiões este não oferece ao usuário a opção de desfazer suas ações,obrigandoo a retomar o processo para obter algo que tenha perdido em uma ação errônea. Estaconstatação acarreta em uma nova retomada dos requisitos do sistema, nos quais constam as descriçõesde todas as suas funcionalidades, com o seu nível de abrangência. É necessária uma retomada naestrutura do sistema, de modo que todas as ações tenham previstas formas para o seu cancelamento.
Em nenhum momento a pesquisadora detectou problemas relacionados à heurítica 4(Consistência), pois o sistema aparenta sempre manterse dentro de um mesmo padrão. Ou seja, na visãoda especialista, não há modos distintos na execução de funções semelhantes, nem tampouco janelas quedestoem de sua interface principal.
Quanto à heurística 5 (Boas mensagens de erro), encontrouse algumas falhas pontuais, as quais sereferem a uma falta de explicação ao usuário sobre quais os formatos de arquivos que o sistema comportae em que circunstâncias isso ocorre.
A falha recém descrita estendese também à heurística 6 (Prevenção de erros), pois não há umaviso claro ao usuário sobre quais tipos de arquivos o mesmo conseguirá trabalhar dentro do programa.
Na heurística 7 (Minimizar a carga de memória do usuário) observouse um problema pontual,ocorrido no processo de importação de imagens: não se fazia possível importar uma imagem diretamentepara a tela principal do sistema, ou seja, a imagem era importada para uma das categorias onde o usuárioprecisava buscálas. Isso pode confundir o usuário no momento em que ele tem que percorrer ascategorias em busca de sua imagem importada.
A heurística 8 (Flexibilidade e eficiência) foi a heurística que apresentou maior incidência deproblemas durante o processo de inspeção. Isso ocorre porque o sistema não foi desenvolvido com vistas
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a abranger uma gama de usuários mais experientes, o que o leva a falhas no oferecimento de opçõesalternativas para a execução de tarefas. Quando o projeto começou a ser desenvolvido, pensousediretamente na criança com Transtorno do Espectro do Autismo, não oralizada (foco principal do sistemaSCALA). Porém, o avanço do projeto mostrou que outros usuários, como professores e familiares,estariam envolvidos com a ferramenta, além da criança. Estes poderão mostrar destreza perante o uso deferramentas computacionais, além da própria criança poder vir a desenvolver tais habilidades a partir douso contínuo destas ferramentas.
Quanto à heurística 9 (Diálogo simples e natural), não detectouse nenhuma incidência deproblemas, visto que o sistema busca utilizar uma linguagem clara e simples para o seu públicoalvo.
Por fim, não foram encontrados problemas na heurística 10 (Ajuda e documentação), devido aofato de que os tutoriais do sistema ainda não foram disponibilizados junto ao mesmo. Pôdese avaliaraqui somente a posição do ícone Ajuda e a localização dos créditos. Ambas as opções parecem estar bemvisíveis ao usuário, não trazendo problemas referentes à sua localização.
6.2. Análise Relatório dos testes
Observouse que nos testes, assim como na inspeção, em vários momentos evidenciouse aheurística 1 (Feedback), devido ao fato de o sistema falhar em mostrar quando uma função está ativada,ou quando a mesma encontrase em processo de execução. Os problemas relacionados a essa heurísticaevidenciaramse principalmente na atividade 1, onde houve mais apontamentos por parte dasparticipantes.
Problemas relacionados à heurística 2 (Compatibilidade do sistema com o mundo real) foramencontrados na maioria das atividades. Os dois problemas mais comentados pelas participantes foram ofato do menu de ferramentas estar situado na parte inferior do sistema e o fato do sintetizador de voz sermuito mecanizado. O fato dos outros softwares, comumente utilizados pelas participantes, apresentaremsuas funções no menu superior levou as mesmas a buscarem que o SCALA procedesse da mesmamaneira. Porém, como afirma Torrezan (2009), embora seja necessário manterse uma certacompatibilidade da interface com relação aquilo que o usuário já conhece, a criatividade não deve sertotalmente banida em novas propostas de design. Ou seja, rompimentos de padrão se fazem necessáriospara que novas ideias possam ser implementadas. Logo, o grupo optou por não alterar o lugar do menude funções apresentado pelo SCALA na parte inferior da tela.
Quanto à heurística 3 (Controle do usuário e liberdade), assim como na inspeção, os problemas quemais se evidenciaram foram a falta de mobilidade de alguns itens do sistema como, por exemplo, o fatode não se poder escolher o local onde será disposto um cartão na tela. Outro problema relacionado a estaheurística foi a ausência da função desfazer em alguns momentos de uso do sistema, como acontecequando se exclui um cartão da tela principal. A opção desfazer já foi discutida anteriormente durante aanálise da inspeção de usabilidade. Já no que diz respeito à mobilidade dos cartões, será necessária umaretomada no documento dos requisitos do sistema, pois sua implementação modifica em parte a lógicasob a qual o protótipo foi planejado. Contudo, tratase de uma questão muito pertinente à idealização dapróxima versão do sistema, visto que contempla uma necessidade dos usuários que não havia sidoprevista pelo grupo de pesquisa.
Com relação à heurística 4 (Consistência), duas participantes acharam problemático o fato dousuário ter que percorrer os diretórios do computador para salvar ou abrir suas pranchas. Elas gostariamque todo o processo se desse dentro do próprio sistema, de modo a não se perder a consistência. Emboratodas as participantes tenham afirmado utilizar o computador com intensidade em suas atividades
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profissionais, estas duas ainda apresentam certa dificuldade em navegar pelos diferentes diretórios.Entretanto, o ato de salvar arquivos e buscálos na máquina constituise numa prática usual na medidaem que a pessoa realiza atividades apoiadas pelo computador. Tendo em vista que o SCALA deverápromover também uma aprendizagem sobre a tecnologia a partir do uso da tecnologia, conformesugerem Palloff e Pratt (2004), este nível de dificuldade não deverá ser sanado, pois consiste numaatividade necessária para que o usuário desenvolva sua fluência digital.
As heurísticas 5 e 6, heurística 5 (Boas mensagens de erro) e heurística 6 (Prevenção de erros), nãoforam lembradas pelas participantes em nenhum momento durante a realização dos testes.
Já a heurística 7 (Minimizar a carga de memória do usuário) evidenciouse em algumas ocasiões,destacandose principalmente no processo de importação de imagens, no qual a imagem importada vaipara a categoria e não para a tela principal do sistema. Todas as participantes gostariam de que a imagemfosse diretamente para a tela principal e este ponto foi percebido também durante as inspeções deusabilidade.
O último aspecto levantado nos testes de usabilidade foi a heurística 8 (Flexibilidade e eficiência)na qual uma das participantes achou que era certa poluição visual cada cartão conter seus própriosbotões (de gravar, ouvir e editar legenda). Entretanto, ela reconsiderou a ideia argumentando sobre afacilidade de se dispor das funções em seus respectivos cartões.
Por fim, a heurística 9 (Diálogo simples e natural) e a heurística 10 (Ajuda e documentação) nãoforam mencionadas em nenhum momento pelas participantes.
Um esboço mais detalhado sobre os resultados dos testes de usabilidade poderá ser visto nográfico que reúne todas as contribuições obtidas nos testes de usabilidade (figura 4).
Figura 4 – Gráfico testes de usabilidade
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Tabela 1. Comentários dos participantes.
Legendas Gráfico – Comentários das Participantes
A Atividade Criar Prancha
A1 Não sabia se eram necessários um ou dois cliques para ativar as funções.
A2 Quando um botão é clicável e quando ele foi ativado?
A3 Não sabia se a prancha foi realmente salva.
A4 Gostariam que o menu estivesse na parte superior da tela.
A5 O que significa limpar prancha?
A6 Adotar cores para as categorias.
A7 Não gostaria de percorrer os diretórios para salvar as pranchas.
A8 Gostariam de poder escolher onde colocar os cartões.
A9 Gostaria de saber se o software está executando uma função quando ele demora a responder.
B Atividade Abrir Prancha
B1 Dificuldade em interpretar a que se refere a opção Abrir.
B2 Não gostaria de percorrer os diretórios para abrir as pranchas.
C – Atividade Editar Legenda
C1 Gostaria de modificar a posição da legenda.
C2 Gostariam de modificar a legenda apenas clicando na palavra.
C3 Gostaria de modificar o tamanho da fonte.
C4 Maior clareza nos ícones.
C5 Confundiuse sobre a abrangência do botão “Restaurar”.
C6 Poluição visual cada cartão conter seus próprios botões (ideia reconsiderada).
D – Atividade Ouvir Legenda
D1 A pronúncia do sintetizador é muito mecanizada.
D2 Sentiu falta de voz feminina também no sintetizador.
D3 Confundiu a abrangência do botão “Ouvir legenda”.
E – Atividade Gravar Legenda
E1 É confuso o processo de gravar a legenda.
F – Atividade Acessar Tutorial
F1 Procurou pelo tutorial na parte superior da tela.
G – Atividade Modificar Layout
G1 Sente falta das funções estarem no menu superior.
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G2 Alguns ícones estão muito abstratos, principalmente o do layout.
G3 Letra maiúscula para os nomes das funções na tela principal.
G4 Gostariam de escolher o número de cartões a serem dispostos na tela.
G5 Ficaram confusas quando viram a frase “Cartões poderão ser perdidos”.
G6 Perguntou se não havia possibilidade de pranchas estarem interligadas entre si.
H – Atividade Excluir Cartões
H1 Perguntou pela opção desfazer no momento em que se exclui um cartão.
H2 Para excluir um cartão, a participante clicaria sobre o mesmo. Ela não compreendeu que o botão defechar o excluiria apenas o respectivo cartão, pois a simbologia do ícone significa fechar tudo.
I – Atividade Importar Imagem e Inserila na Prancha
I1 Sentiu falta de saber o que vai ser importado (imagem ou prancha?).
I2 Não gostou da ideia de que, ao importar uma imagem, ela vai para a categoria, mas não para a telaprincipal.
I3 Gostaria de escolher onde vai colocar as imagens, não sendo necessariamente num local específico da tela.
J – Atividade Exportar Prancha
Não sabiam se a exportação havia sido bemsucedida ou não.
7. O uso do SCALA com uma criança com TEA
O protótipo sobre o qual foram realizadas avaliações de usabilidade por docentes também foisubmetido à avaliação a partir de intervenções realizadas com uma criança com Transtorno do Espectrodo Autismo. O processo de inserção do SCALA no cotidiano da criança como um sistema para oestabelecimento da Comunicação Alternativa foi antecedido por um período de uso de recursos de baixatecnologia, com cartões de comunicação e pranchas desenvolvidos em material impresso. Outrossoftwares ainda foram explorados de forma concomitante ao uso do SCALA, com o intuito de observarpreferências da criança e recursos que poderiam vir a ser adotados pelo software em desenvolvimento.
As observações sobre a apropriação da criança por recursos multimidiáticos deram ensejo a umasérie de considerações a respeito do desenvolvimento do sistema SCALA. Observouse, por exemplo,uma tendência à dispersão das atividades propostas quando a criança interagia com periféricos como oteclado ou o mouse do computador. Desse modo, a possibilidade de uso de telas touch screen passou aser considerada como uma opção para facilitar o uso das pranchas elaboradas através do software. Alémdisso, o uso do touch screen configurase como uma tendência em tecnologias móveis, como os tablets eaparelhos celulares.
Percebeuse também que o tamanho das imagens previamente idealizado para o software estavaaquém das necessidades da criança, que não as compreendia como instrumentos para a comunicaçãoquando estas não traziam representações claras o suficiente. Para se chegar ao tamanho de imagem ideal,foram realizadas intervenções com mídia impressa e com os softwares Amplisoft e SCALA. Cartões de
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comunicação com tamanho a partir de 250px x 250px foram aceitos com maior facilidade comoinstrumentos para a comunicação pela criança.
Outro aspecto interessante observado foi a sua preferência por participar em atividades quedemandavam a socialização com outras crianças atividades individuais. Embora estratégias envolvendoatividades coletivas possam ser desenvolvidas no software SCALA sem maiores dificuldades, aindaassim tal observação dá margem à reflexão sobre a proposta na qual está sendo desenvolvido o módulohistória, idealizado previamente como um recurso para atividades individuais.
8. Considerações finais
No âmbito das Tecnologogias Assistivas, mais especificamente no que diz respeito à CA, muitosrecursos vêm sendo desenvolvidos nas últimas décadas. Neste contexto, ferramentas para a construçãode pranchas de comunicação vêm sendo desenvolvidas para atender aos déficits de oralidade,contemplando principalmente pessoas com deficiências motoras. Tendo em vista os resultados obtidosem pesquisas abrangendo o uso da CA envolvendo sujeitos com TEA (Bez, 2010; Walter, 2000, 2006),desenvolveuse um sistema de comunicação alternativa voltado mais especificamente para a promoçãoda sua comunicação.
O que diferencia esta ferramenta das demais disponíveis para a construção de pranchas de CA nãoé somente o público para o qual o SCALA é voltado, mas também os processos de avaliação aos quais omesmo foi submetido. Foram realizadas avaliações sobre este sistema a partir de diferentes perfis deusuário, contemplando não somente a visão da pesquisadora e equipe desenvolvedora, mas também deseus potenciais usuários finais: educadoras especiais (cuja avaliação foi apresentada neste artigo) e sujeitocom Transtorno do Espectro do Autismo.
Dessa forma, Passerino (2011) afirma que o SCALA foi desenvolvido não somente para um perfilde usuário, mas sim para seu contexto educacional, onde temse diferentes atores utilizandose daferramenta. Assim, a autora descreve o processo de construção do sistema SCALA dentro de um novoparadigma, que perpassa o Design Centrado no Usuário (DCU), ampliandose para um Design Centradono Contexto (DCC).
Nas avaliações realizadas, vieram à tona uma série de considerações a serem ponderadas napróxima versão da ferramenta, que já se encontra em desenvolvimento. Algumas questões de grandeimportância, puderam ser facilmente solucionáveis, como o caso dos botões que não se apresentavamcomo objetos clicáveis ao passar do mouse, ferindo a heurística 1 que trata sobre o retorno (feedback) queo sistema fornece ao usuário enquanto executa suas ações. Já outros apontamentos levaram o grupo auma retomada dos requisitos do sistema, tendo em vista que sua implementação exigia mais do que umasimples modificação no código fonte. Este foi o caso da mobilidade dos cartões na tela principal, quepretende oferecer maior controle do software pelo usuário, conforme as sugestões da heurística 3.Entretanto, alguns apontamentos deverão ser desconsiderados, pois como salienta Nielsen (1993),embora o usuário deva ser foco do projeto em todo o seu processo, não se pode esquecer que o mesmonão é especialista em design de interface e que, em alguns casos, suas sugestões não condizem com asexpectativas de todo o grupo de usuários.
Salientase que, embora este sistema de CA tenha sido desenvolvido com foco no Transtorno doEspectro do Autismo, este pode ser utilizado para atender a outros déficits de oralidade ou, inclusive,para o uso com crianças que não apresentam tais distúrbios, sendo uma ferramenta útil no processo decomunicação e de letramento.
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As avaliações realizadas foram reunidas e discutidas com a equipe desenvolvedora, que visaresolver os aspectos falhos para a próxima versão do sistema, o SCALA 2.0. Outros projetos já estão emandamento para incrementar a próxima versão do sistema, incluindo uma ferramenta para a construçãode histórias e outra ferramenta para a comunicação assíncrona. Há também um estudo emdesenvolvimento sobre as possibilidades de se trabalhar com este sistema a partir de dispositivos móveis,oferecendo às crianças uma maior mobilidade, que por consequência visa lhes proporcionar maiorautonomia a partir do uso da CA.
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