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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ MESTRADO EM PSICOLOGIA PREVENÇÃO DE ABUSO SEXUAL INFANTO JUVENIL CURITIBA 2019

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

MESTRADO EM PSICOLOGIA

PREVENÇÃO DE ABUSO SEXUAL INFANTO JUVENIL

CURITIBA

2019

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SANDRA MARA DE ALMEIDA RODRIGUES

PREVENÇÃO DE ABUSO SEXUAL INFANTO JUVENIL

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Prof.ª Drª Maria Cristina Antunes

CURITIBA

2019

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Dados Internacionais de Catalogação na fonte Biblioteca "Sydnei Antonio Rangel Santos"

Universidade Tuiuti do Paraná

R696 Rodrigues, Sandra Mara de Almeida. Prevenção de abuso sexual infanto-juvenil / Sandra Mara

de Almeida Rodrigues; orientadora Profª. Drª. Maria Cristina Antunes.

170f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2019.

1. Prevenção. 2. Abuso sexual. 3. Mães. 4. Criança. 5. Adolescente. I. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós- Graduação em Psicologia/ Mestrado em Psicologia. II. Título.

CDD – 616.85836

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Psicologia Social Comunitária.

Curitiba, junho de 2019.

Profa. Dra. Maria Cristina Antunes Presidente/ Orientadora – UTP

Profa. Dra. Luisa Fernanda Habigzang

Membro Titular – PUCRS

Profa. Dra. Gislei Mocelin Polli Membro Titular - UTP

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“A todas as mulheres mães, meu profundo

respeito pela sua criança interior.

Dividimos mais que conhecimentos,

encontramos a porta da libertação do

sentimento de culpa” ...agora, fortalecidas,

podemos proteger outras infâncias... Aqui a

razão desta pesquisa...”

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AGRADECIMENTOS

Só cabe neste momento palavras de agradecimento diante de tamanha oportunidade em

lidar com questões doloridas do trabalho social e comunitário estando “dentro” de duas instituições.

A colaboração em forma de conhecimento científico vai ser deixado nestas páginas e espero que contribua para estudos futuros. Porém, considero, que a colaboração relacional transformou muitas realidades, inclusive a minha.

Agradeço minha orientadora Professora Doutora Maria Cristina Antunes, ela chegou no momento exato: eu precisava de sua firmeza nesta etapa da vida. A transmissão de conhecimento crítico transformador contribuiu de forma ampla para o crescimento pessoal e profissional desta orientanda. Claro, foi difícil, mas quem disse que estudar e realizar a pesquisa é fácil?

Às Professoras Doutoras, Luísa Fernanda Habigzang e Gislei Mocelin Polli, por aceitarem participar da banca de defesa e pela contribuição com observações e sugestões valiosas por ocasião da banca de qualificação.

A todos os Professores Doutores do Mestrado em Psicologia Social Comunitária, por compartilharem os seus conhecimentos com competência e dedicação.

Agradeço as portas abertas das duas instituições de ensino por meio de suas diretoras e toda equipe do café, chá e suco, computador e professoras. Foi uma ótima parceria. Agradeço aos colegas de mestrado que foram ombros fraternos durante a jornada de dois anos. Agradeço às amigas que estiveram próximas pela paciência em sair somente em feriados.

Reconheço e agradeço ao meu marido Ernesto pelo companheirismo e apoio para realização desta pesquisa. E aos meus filhos Marianne e Ernesto Filho por compreenderem a minha presença ausente.

Agradeço também à equipe da Tuiuti, mas em especial a Marilise e a Luci que foram anjos dando suporte para momentos de ansiedades. Foram tempos que passamos juntos, oportunidades, um grande presente para a vida! Muitos caminharam comigo, eu agradeço e os incluo. Todos que conheci foram muito importantes nestes dois anos.

Agradeço o Projeto Tartanina que ofertou três livros para doação às mães e também ao Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), que cedeu gentilmente folders e desenhos para colorir referentes a conteúdos educativos sobre ASI que foram utilizados nas oficinas.

Agradeço ainda aos patrocinadores, eu os chamava de “amigos da infância”. Conheço todas essas pessoas do bairro e foi importante notar o seu comprometimento. Foram coletados 63 brindes, muitos vieram embalados e foram sorteados nas oficinas dentre as participantes. Desta forma agradeço: a Zeca Cabelereiros, Claudia Modas, Papelaria Leprechaun, Floricultura Gardênia, Divino Grill no Pollo Shopping Alto da XV, Clau Costureira, Farmácia Total (Teofarma), Andreia Brito (Hinode), CR Design, Panificadora Big Pão, Coisa de Minas (comida mineira), Edson (Redosul - canetas), Carlos Livrarias, Vest Bem e Isa Modas.

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RESUMO

O objetivo deste trabalho foi desenvolver e avaliar um programa de intervenção na perspectiva da Psicologia Social Comunitária para prevenção do abuso sexual infanto-juvenil com 67 mães de crianças e adolescentes de duas instituições públicas de ensino na cidade de Curitiba. As participantes foram separadas em dois grupos: um grupo intervenção contendo 34 participantes e um grupo controle com 33 participantes. Ambos os grupos de mães responderam ao questionário na pré e na pós- intervenção. Os encontros foram semanais com duração de 6 semanas em cada uma das instituições, totalizando 12 semanas. Cada encontro teve duração aproximada de 2 horas. O primeiro e o último encontro foram reservados para o preenchimento de documentos e dos questionários. Do segundo ao quinto encontro foram abordados nas oficinas os seguintes temas: (a) o que é o abuso sexual infanto-juvenil, (b) os sinais do abuso, (c) a sexualidade, (d) segredo, autoproteção e comunicação, (e) as consequências do abuso sexual infanto-juvenil e (f) a rede de apoio vigente na cidade de Curitiba. A pesquisadora coletou as informações a respeito do nível sociodemográfico das mães assim como questões que avaliaram os conteúdos trabalhados nas oficinas. Efetivamente as oficinas se mostraram importantes para ampliar o conhecimento das mães sobre o abuso sexual infanto-juvenil evidenciadas diante do resultado significativo em praticamente todas as variáveis trabalhadas. Esta pesquisa mostra a possibilidade de ser replicada em espaços públicos como escolas, associações, grupos religiosos, apontando desta maneira alta viabilidade para implementações de Políticas Públicas de Prevenção ao ASI, sobretudo em realidades econômicas de países menos desenvolvidos ou em situações de recessão, como é o contexto social brasileiro. Palavras chave: prevenção, abuso sexual, mães, criança, adolescente.

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ABSTRACT

The aim of this study was to develop and evaluate an intervention program from the perspective of Community Social Psychology for the prevention of child-juvenile sexual abuse (CSA) with 67 mothers of children and adolescents from two public education institutions in the city of Curitiba. Participants were separated into two groups: an intervention group containing 34 participants and a control group with 33 participants. Both groups answered the questionnaire before and after intervention. The meetings consist of six sessions, each lasting 2 hours, delivered on a weekly basis, lasting 6 weeks in each institution, totaling 12 weeks. The first and last meetings were reserved for the completion of documents and questionnaires. From the second to the fifth meeting, the following topics were addressed: (a) what is child sexual abuse, (b) the signs of abuse, (c) sexuality, (d) secrecy, self-protection and communication, (e) the consequences of child and juvenile sexual abuse and (f) the current support network in the city of Curitiba. The information about the socio-demographic level of the mothers was collected as well as questions that evaluated the contents worked in the workshops. These workshops were important to improve the mother’s knowledge about CSA due to the results obtained in all the variables. The results show the possibility of being replicated in public spaces such as schools, associations and religious groups, showing this viability for public policy implementations of CSA prevention, especially in low income families.

Keywords: prevention, sexual abuse, mothers, child, youth.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Diferenças no perfil demográfico entre os grupos no pré-teste...................................................................................................... 50

TABELA 2 Conhecimento prévio sobre ASI.......................................................... 103 TABELA 3 Vítima de abuso sexual......................................................................... 105 TABELA 4 Comparação dos escores de Concepções acerca do ASI (questão

32)........................................................................................................ 108 TABELA 5 Comparação dos escores por item de Concepções acerca do ASI

(questão 32).......................................................................................... 109 TABELA 6 Comparação dos escores de Fatores relacionados ao abuso sexual

(questão 33).......................................................................................... 109 TABELA 7 Comparação dos escores de itens relevantes estatisticamente a

Fatores relacionados ao abuso sexual (questão 33)............................... 110 TABELA 8 Comparação dos escores de Mitos e crenças acerca de abuso sexual

(questão 34).......................................................................................... 110 TABELA 9 Comparação dos escores de Rede de apoio (questão 36)...................... 111 TABELA 10 Comparação dos escores de Sinais e indicadores de abuso sexual

(questão 37).......................................................................................... 111 TABELA 11 Comparação dos escores de Concepções acerca do abuso sexual

(questão 32) em relação à classe social................................................. 149 TABELA 12 Comparação dos escores de Fatores relacionados ao abuso sexual

(questão 33) em relação à classe social................................................ 149 TABELA 13 Comparação dos escores de Mitos e crenças acerca do abuso sexual

(questão 34) em relação à classe social................................................ 149 TABELA 14 Comparação dos escores de Sinais e indicadores de abuso sexual

(questão 37) em relação à classe social................................................. 149 TABELA 15 Comparação dos escores de Concepções acerca do abuso sexual

(questão 32) em relação à escolaridade................................................ 150 TABELA 16 Comparação dos escores de Fatores relacionados ao abuso sexual

(questão 33) em relação à escolaridade................................................ 150 TABELA 17 Comparação dos escores de Mitos e crenças acerca do abuso sexual

(questão 34) em relação à escolaridade................................................ 150 TABELA 18 Comparação dos escores de Sinais e indicadores de abuso sexual

(questão 37) em relação à escolaridade................................................ 150

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Primeira oficina............................................................................ 60 QUADRO 2 Segunda oficina............................................................................ 61 QUADRO 3 Terceira oficina............................................................................. 62 QUADRO 4 Quarta oficina............................................................................... 63 QUADRO 5 Quinta oficina............................................................................... 64 QUADRO 6 Sexta oficina................................................................................. 65

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LISTA DE ABREVIATURAS

ASI Abuso sexual infanto-juvenil

NRE Núcleo Regional de Educação

NUCRIA Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente vítimas de crimes

SINAN Sistema de Informação de Agravos e Notificação

SPSS Pacote de Software de Análise Estatística

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

VIVA Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes

WHATSAPP Aplicativo para celular que permite trocar mensagens ou conversas online

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APRESENTAÇÃO

Comecei a graduação em Psicologia num momento maduro da vida, casada e com dois

filhos, que naquela época eram adolescentes, hoje são adultos. A colação se deu no ano de

2015 e de forma paralela entrei na pós-graduação seguindo a linha da terapia familiar sistêmica.

Terminei a pós-graduação em 2017 com o tema “Dependência e Codependência: um ciclo para

uma relação violenta e satisfatória”. Neste mesmo ano, continuando minha inquietação, me

inscrevi no Mestrado de Psicologia na Universidade Tuiuti. Escolhi a área de Psicologia Social

Comunitária e durante a entrevista recebi a pergunta: Você aceita trabalhar com a temática da

violência? Sim, eu disse. A jornada começou naquele momento.

Foi um pouco difícil abandonar o meu olhar clínico. Foram dois anos de muitas leituras,

eu só recebia a palavra “foco”. Muitas vezes me pegava analisando o quadro clínico individual

e sempre recebia a orientação: foco! O tempo passou, e pude perceber a importância da

construção teórica a qual eu havia me dedicado. Eu estava trabalhando com grupos e isto

oferece possibilidades infinitas diante da leitura destas relações.

Não temos como fugir de um tema e daquilo que nos chama a pesquisa e ao trabalho,

de certa forma o objeto de nosso estudo nos persegue: nada aparece ou acontece por acaso, sim,

uma verdade. O abuso praticado contra crianças e adolescentes, independente da forma, me

causava muita angústia desde pequena e criança, e deste lugar eu nada podia fazer. Cresci e

caminhei no meu desenvolvimento pessoal, para ter força, argumentos e conteúdo para lidar

com toda essa violência. Hoje denomino fortalecimento.

Para iniciar meu projeto fui em busca de ideias, não bastava a literatura, necessitava de

prática. Como entrar num assunto tão dolorido? Participei de vários cursos, palestras e em

muitas fui “disfarçada” de mãe, simplesmente. Dividi percepções, participei de brincadeiras,

chorei com outras mulheres, tive que lidar também com minhas dores, pude sentir que este

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“abuso” possui uma dimensão inimaginável dentro de um ser: culpas, julgamentos, medos,

ambivalências, relacionamentos abusivos e assim por diante. Carreguei o conteúdo que poderia

me ajudar. Ideias foram aparecendo, me animei e me senti encorajada.

Eu tinha um tema e uma orientadora. Precisava de um lugar para a realização do projeto

do Mestrado. Em julho de 2017 realizei contato com a coordenação de um Centro de Educação

Infantil e dei início a organização do material para pesquisa com as mães. Foi em busca de

brindes junto aos comerciantes do bairro que, ao saberem o objetivo do projeto, doaram diversos

itens relativos a mãe e suas crianças.

Entrei em contato por e-mail com duas editoras que trabalhavam conteúdos infantis

sobre o tema prevenção de abuso e recebi o apoio do projeto Tartanina que doou três livros

sendo: dois sobre o segredo de Tartanina (Silva, Soma, & Watarai, 2011) e um manual para

pais (Silva, Santos, Soma, Prado, Watarai, & Fukumori, 2011).

Após contato telefônico o Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente vítimas de

crimes (NUCRIA), cedeu uma caixa cheia de folders e desenhos para colorir referentes a

conteúdos educativos sobre ASI, deixando aberto a possibilidade de acesso a mais materiais.

Como o número insuficientes de participantes na primeira instituição, foi necessário

novo contato. Desta vez um Colégio Municipal no mesmo bairro, com o objetivo de conseguir

mais mães participantes na e para a pesquisa.

Tendo o número de mães suficientes, deu-se início às oficinas. Muitas mães solicitavam

apoio clínico, em alguns momentos, além de encaminhar a Clínica Escola da Universidade a

pesquisadora dizia ao grupo em forma de reflexão: Você não teve culpa! Estamos diante de

novas possibilidades!

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10

1.1 Abuso sexual e sua dinâmica .......................................................................... 15

1.2 Vulnerabilidade e o Abuso Sexual .................................................................. 24

1.3 A Prevenção do Abuso Sexual ........................................................................ 28

1.4 A Contribuição da Psicologia Social Comunitária ......................................... 40

2 OBJETIVOS........................................................................................................... 47

3 MÉTODO ............................................................................................................... 48

3.1 Caracterização das Participantes ..................................................................... 48

3.2 Instrumentos .................................................................................................... 51

3.3 Procedimentos ................................................................................................. 54

3.3.1 Local .......................................................................................................... 54

3.3.2 Procedimentos éticos ................................................................................. 57

3.3.3 Capacitação para professores .................................................................... 58

3.3.4 Parcerias .................................................................................................... 59

3.4 Intervenções .................................................................................................... 60

3.5 Análise de dados ............................................................................................. 65

4 DESCRIÇÃO DAS INTERVENÇÕES ................................................................. 67

4.1 Intervenções na Creche ................................................................................... 68

4.2 Intervenções no Colégio ................................................................................. 83

4.3 Avaliação do Processo .................................................................................... 94

4.3.1 Avaliação das oficinas na perspectiva das mães ..................................... 101

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 103

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 117

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 120

APÊNDICES .............................................................................................................. 127

ANEXOS .................................................................................................................... 151

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1 INTRODUÇÃO

O abuso sexual infanto-juvenil (ASI) pode ser caracterizado como uma maneira

inapropriada de obtenção de prazer sexual através da coerção de crianças e adolescentes

incapazes de reagir ou de reconhecer demonstrações de afeto ambíguas (Ferrari, 2012; Hutz,

2010). É um problema mundial, evidenciado por meio de achados similares em vários países

em relação a seu contexto, prevalência e idades de quando aconteceu o abuso (Zhang et al.,

2013). De acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos, através do Disque 100 –

Disque Direitos Humanos, diariamente vários tipos de violência são denunciados contra

crianças e adolescentes (Brasil, 2017).

Considerando que as violências exercem grande custo econômico e social, o Ministério

da Saúde (MS) insere o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA). Este sistema

sinaliza a tipologia, a gravidade, a localização e o perfil das pessoas envolvidas no Brasil

(Brasil, 2018). A partir de 2009, o sistema integra a lista de Notificação Compulsória para, em

seguida, se fortalecer diante da portaria que universaliza a notificação de violências.

A partir de 2010, a notificação da negligência se tornou obrigatória a todos os

estabelecimentos de saúde no Brasil, contemplando seus três tipos: negligência emocional,

física e educacional. A negligência emocional é a forma mais difícil de ser identificada, pois

não deixa marcas físicas sendo decorrente da privação do afeto e do suporte emocional que

mantem o distanciamento relacional mãe/filho. Em sua forma física, engloba a não prestação

de cuidados básicos como acesso médico, alimentação e higiene além de permitir vestuário

impróprio e deixar a criança sozinha sem cuidados. Na forma educacional, a criança é privada

de condições para sua formação intelectual e moral, escolaridade básica, permissividade quanto

as suas faltas que interferem no seu desenvolvimento infantil (Brasil, 1990).

Enquanto dados, o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde divulga

informações que contribuem para ações em saúde pública. Os dados foram extraídos do Sistema

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de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Dentre os casos de violência interpessoal ou

provocada, entre os anos de 2011 a 2017, foram registradas 219.717 (15,0%) notificações de

violência contra crianças e 372.014 (25,5%) contra adolescentes, concentrando 40,5% dos

casos. Em relação a violência sexual, no mesmo período, foram notificados 184.524 casos deste

crime, subdividindo-se em 58.037 (31,5%) contra crianças e 83.068 (45,0%) contra

adolescentes. Estes dados evidenciam um aumento de 64,6% e 83,2% respectivamente, nas

notificações de violência sexual contra crianças e adolescentes (Brasil, 2018).

Em relação as crianças, a avaliação das características sociodemográficas de abuso

sexual indica que, em 2018, entre as 43.034 crianças vítimas, 74,2% eram do sexo feminino e

25,8% eram do sexo masculino. A avaliação trouxe como resultado que 33,7% dos abusos

tiveram caráter de repetição e 69,2% ocorreram na residência da criança. Para crianças do sexo

feminino, o resultado mostra que 33,8% tiveram caráter de repetição e 71,2% ocorreu na

residência da criança. Em relação as crianças do sexo masculino, o resultado trouxe que 33,2%

tiveram caráter de repetição e 63,4% ocorreu na residência da criança (Brasil, 2018).

Quanto ao provável autor da violência sexual contra crianças, a análise mostrou que em

74,7% das notificações houve envolvimento de um autor, em 81,6%, o agressor era do sexo

masculino e 37% tinham vínculo familiar com a vítima. Entre as crianças do sexo feminino, em

75,6% dos casos notificados a violência sexual foi perpetrada por um autor, em 80,8% o

agressor era do sexo masculino e 39,8% tinham vínculo familiar com a vítima. Nas crianças do

sexo masculino, em 72,2% dos casos notificados a violência sexual foi perpetrada por um autor

e 83,7%, o agressor era do sexo masculino e 35,4% tinham vínculo de amizade (Brasil, 2018).

Em relação aos adolescentes vítimas de abuso sexual, a avaliação das características

sociodemográficas mostraram que 76.716 (92,4%) eram do sexo feminino e 6.344 (7,6%) eram

do sexo masculino, sendo 67,8% na faixa etária entre 10 e 14 anos. Entre as adolescentes, 67,1%

estavam na faixa etária entre 10 e 14 anos e entre os adolescentes, 75,9% estavam na faixa etária

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entre 10 e 14 anos. As características da violência sexual contra adolescentes mostraram que

39,8% dos eventos tiveram caráter de repetição, sendo 58,2% na residência do adolescente. Nas

adolescentes, a avaliação mostrou que 39,7% tiveram caráter de repetição e 58,7% na

residência. Entre os adolescentes, a avaliação mostrou que 40,3% tiveram caráter de repetição

e 52% na sua residência (Brasil, 2018).

A avaliação das características do provável autor da violência sexual contra adolescentes

mostrou que em 78,9% das notificações houve envolvimento de um autor. Em 92,4% o agressor

era do sexo masculino e 38,4% tinham vínculo intrafamiliar. Entre as adolescentes, em 79,7%

dos casos a violência sexual foi perpetrada por um autor, em 92,8% o agressor era do sexo

masculino, sendo que 39,8% tinham vínculo intrafamiliar. Entre os adolescentes, em 69,4%

dos casos a violência sexual foi perpetrada por um autor, em 87,0% o agressor era do sexo

masculino e 41,0% tinham vínculo de amizade (Brasil, 2018).

Estes dados estatísticos evidenciam a vulnerabilidade ainda presente que atinge mais as

crianças do sexo feminino na faixa de 1 a 5 anos, numa situação repetitiva, em sua própria

residência, perpetrada por alguém de seu vínculo familiar. Entre as adolescentes, a faixa abusiva

compreende as idades entre 10 e 14 anos com as mesmas características.

Internacionalmente, a preocupação das nações com a infância e adolescência como um

compromisso social surgiu em 1959 com a Declaração dos Direitos das Crianças que resultou

na Proclamação da Declaração dos Direitos da Criança na Assembleia da ONU. Entre 1960 e

1970, o contexto brasileiro (Santos et al., 2010), ofereceu garantias para a criança como sujeito

de direitos (ECA) contemplando todas as formas de expressão de violência contra infância.

Com este estatuto, o Brasil firma a proteção integral da criança e adolescente (Brasil, 1999).

Este avanço fundamenta a questão social do ASI e ao mesmo tempo questiona a práxis

tradicional da psicologia social diante dos problemas sociais no país (Lane, 1996).

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Desta forma, a Psicologia Social no Brasil desenvolve seu arcabouço crítico, com teorias

que fundamentaram e respaldam as problemáticas de grande custo social, como o crime de ASI.

Assim, impulsiona o desenvolvimento da teoria e da prática nas comunidades quando estuda as

condições internas que impossibilita ao ser humano ser sujeito em sua comunidade. Para isso,

integra as concepções éticas com as condições externas como os direitos humanos e o apoio

programático existente (Ayres, Paiva & França-Junior, 2012; Campos, 2017; Costa, 2015;

Freitas, 1996; Lane, 1996).

O ASI, enquanto crime psicossocial, se reveste de processos relacionais que incluem a

dominação e o poder, evidencia convivências assimétricas que trazem consequências de longo

prazo que contribuem para o aparecimento de transtornos mentais, a exposição a violência

doméstica assim como as revitimizações quando adulto (Finkelhor, 2011; Guareschi, 1996;

Levey et al., 2017; Zhang et al., 2013). Este longo prazo enquanto repetição da relação abusiva,

pode trazer sequelas que comprometem o sujeito que torna indivíduo no âmbito intrafamiliar

que com efeito pode comprometer a comunidade e a sociedade (Pereira, 2008).

As características sociodemográficas trazem como alerta os fatores sociais, culturais e

ambientais que podem favorecer as ocorrências do abuso contra a criança ou adolescente

(Brasil, 2018). Desta forma, as ações preventivas primárias se inserem com o objetivo de

prevenir ou reduzir as situações de vulnerabilidade decorrentes destes contextos no qual as

crianças podem estar inseridas considerando, portanto, estas realidades e influências (Brino &

Williams, 2009), que são interdependentes e fazem parte da interação social.

Neste sentido, no contexto atual, é de suma importância a práxis da Psicologia Social

Comunitária diante do nosso existir na comunidade, através da pesquisa-ação participante ou

observação participante que valida e democratiza o conhecimento comunitário e científico. A

pesquisa-ação conta com a práxis do pesquisador no papel de intermediário, independentemente

de sua formação teórica, que considera a necessidade de uma relação dialética, do vínculo

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afetivo diante de ações reais que se traduz em apoio efetivo e emancipação (Costa, 2015;

Nasciutti, 1996).

Para uma ação transformadora dentro da comunidade, o indivíduo, o grupo e os

problemas vistos como pessoais precisam passar pelo processo de problematização.

A metodologia segue a conscientização crítica dos papéis individuais e grupais associada a uma

prática que compromete e possibilita reelaborações psicossociais. A transformação se reflete na

ação quando temos um sujeito que interage com o grupo e, em conjunto realizam um

planejamento. Assim, protagonistas de seu saber, o grupo envolvido no contexto preventivo

desenvolverá estratégias diante de um novo problema: o problema social que pertence a toda

comunidade. Será através do fortalecimento destas mães, numa postura ativa, como sujeitos

conscientes da realidade e de seus direitos e deveres, tendo ressignificando problemas

individuais como demanda da comunidade à qual pertencem e que participam, que se pode

descontruir e construir uma nova concepção de comunidade e identidade orientadas por

preceitos eticamente humanos (Freitas, 1998).

Diversos autores apontam que ações preventivas primárias desenvolvidas e que

envolvem a participação de mães diminuem a incidência de casos de abusos sexuais (Alzoubi,

Ali, Flah & Alnatour, 2018; Duffy, 2015; Levey et al., 2017; Padilha, 2007; Tremblay & Bégin,

2000; Zhang et al., 2013). Sobretudo, estes trabalhos evidenciam que quando as mães

participam e se envolvem em intervenções preventivas elas aumentam o conhecimento e

adquirem estratégias preventivas adequadas. Consequentemente, passam a atuar como um fator

proteção para seus filhos, contribuindo para a diminuição de ocorrências de casos de abuso

infanto-juvenil. Outrossim, as pesquisas contribuem apresentando aspectos teóricos de

diferentes abordagens e culturas, definem conceitos que trazem atualização, apresentam seus

dados estatísticos e apontam carências científicas e sociais. Porém, além das destas diferenças

estratégicas priorizam-se diagnósticos individuais e reprodução de conhecimento.

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Diante dos estudos citados, observa-se que poucos trabalhos de prevenção primária do

abuso sexual foram publicados, em especial com mães que pertencem a uma mesma

comunidade. Diante desta lacuna empírica, o objetivo deste estudo foi desenvolver e avaliar

intervenções com mães em duas instituições de ensino na cidade de Curitiba, para prevenção

primária do ASI no âmbito e na perspectiva da Psicologia Social Comunitária.

1.1 Abuso sexual e sua dinâmica

O abuso sexual infantil (ASI ), é definido pela maioria dos pesquisadores no assunto

como todo e qualquer ato ou jogo sexual entre um adulto com o envolvimento de uma criança

ou adolescente, podendo ser com um ou mais adultos, sendo que a atividade sexual se destina

a gratificação e prazer sexual do adulto. Pode variar em atitudes, em que não exista contato

físico, como por exemplo o voyerismo ou exibicionismo, com ou sem penetração, mas com

imposição, ameaça ou indução de sua vontade (Azeredo, 2018; World Health Organization,

2003).

A legislação brasileira considera que apalpamentos e toques também se classificam

como abuso de forma idêntica às relações sexuais com penetração. Portanto, o ASI pode ser

caracterizado como uma maneira inapropriada de obtenção de prazer sexual através da coerção

de crianças e adolescentes incapazes de reagir ou de reconhecer demonstrações de afeto

ambíguas. Tais comportamentos são considerados como violência sexual (Azeredo, 2018;

Ferrari, 2012; Hutz, 2010).

O ASI envolve poder, confiança e o uso marginal da sexualidade infantil (Lamour,

1997), coação ou sedução perante a criança, cometidos geralmente por pessoas com quem elas

têm vínculos afetivos (Pfeiffer & Salvagni, 2005). Sendo assim, o abuso sexual é uma

experiencia incompatível entre o corpo e a emoção da criança vítima que entra no processo de

dissociação desta violência. Isso acontece devido ao estágio de desenvolvimento pois crianças

e adolescentes não conseguem compreender que mesmo se tratando de um ato de violência,

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seus corpos reagem a estimulação e por este motivo podem se sentir estranhas, anormais,

pervertidas e culpadas pela sua violência. São interações sexuais inapropriadas que podem

trazer como consequência os comportamentos inadequados para a idade, considerada como

dinâmica traumagênica ou sexualização traumática (Ferrari, 2012; Hohendorff, Habigzang, &

Koller, 2014).

Por se tratar de um crime sem testemunhas, o que se tem com efeito são os sinais

emocionais, somados aos fatos relatados pela criança ou do adolescente vítima que necessitam

da credibilidade de um adulto próximo. Para a promoção de medidas jurídicas, a comprovação

forense solicita diagnósticos perante consequências observáveis na realização do exame do

corpo de delito e assim, muitas vezes, os laudos legais são inconclusivos. Além disso, o

sentimento de medo da criança em contar o que aconteceu somado ao medo da reação do adulto

diante de sua revelação, faz com que esse crime continue muitas vezes encoberto. Aliada a estas

complexidades, tanto os agressores como a família e a sociedade possuem o entendimento

errôneo de que o fato da criança ou adolescente ter sentido prazer, orgasmo ou ejaculação é

prova de que desejaram ou gostaram desta relação em forma de abuso sexual (Furniss, 1993;

Hohendorff et al., 2014; Pfeiffer & Salvagni, 2005).

Desta forma, as ações interventivas devem contemplar principalmente a mãe (Padilha;

Gomide, 2004), se considerados os possíveis rompimentos de laços familiares (Pedersen &

Grossi, 2011). O foco na mãe inclui trabalhos recentes baseados na teoria do apego que foram

projetados para melhorar a sensibilidade materna diante de possíveis revelações de ASI

(Pillhofer et al., 2015). Quando a mãe demonstra credibilidade diante da revelação, se

comportando de forma protetiva e oferecendo o suporte emocional, ela minimiza os fatores de

impacto desta violência. Especialmente, este suporte pode ser resolutivo nas seguintes

dimensões e características: na compreensão dos aspectos cognitivos e de linguagem da criança

que depende de sua idade; diante do relato da criança dar ou não continuidade a violência; a

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busca de uma intervenção apropriada em relação as inquietações infantis provenientes da

relação abusiva, podendo incidir sobre benefícios interventivos oferecidos posteriormente

(Baía, Magalhães & Veloso, 2014; Habigzang & Koller, 2014; Marafon & Scortegagna, 2016).

Estudos comprovam que as mães são também melhores orientadoras em relação a

educação sexual dos filhos devido ao fato dos pais serem menos comunicativos em relação a

este tema. Para uma correta educação sexual existe a necessidade de alguns princípios que

indicam a possibilidade de sucesso ao tema. Estes princípios são comunicação, informação, o

afeto e a referência (Feijó, 2007). Outro dado de grande importância para a realização deste

estudo com mães é o fato desta violência predominar o ambiente intrafamiliar, realizada pelo

sexo masculino na função paterna, possuindo vínculo familiar e afetivo (Brasil, 2018).

Quando a violência contra a criança envolver pessoas fora do eixo familiar, tais como

amigos ou conhecidos, é caracterizada como extrafamiliar, sendo geralmente promovidas pela

família a proteção da criança e a punição deste agressor (Furniss, 1993). O desentendimento

tem início quando o abuso ocorre dentro da casa da criança, fato que exige preparo e apoio

diante das repercussões familiares que envolvem laços de afeto e dependência financeira

(Pedersen & Grossi, 2011). Causa controvérsia porque a família deve ser a base da sociedade

que deveria garantir uma vida social equilibrada. Porém, não se pode negar sua importância

tanto em relação as relações sociais a qual ela pertence, quanto da vida emocional de seus

membros (Lane & Codo, 1988).

Embora o ASI se processe em contextos únicos, a violência sexual contra crianças e

adolescentes expõem alguns padrões que podem discutidos em fases que pressupõe uma

dinâmica visto que acontece em sua maioria na casa da criança (Brasil, 2018). É um processo

que pode envolver vários fatores e situações que se complementam como, por exemplo a recusa

da mãe aos cuidados pré-natais (Levey et al., 2017). Seu não comprometimento com este pré-

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cuidado é um comportamento que pode indicar o início da negligência, como citado

anteriormente, é o limiar para as diversas situações violentas e abusivas (Vagostello, 2002).

Trata-se de uma dinâmica complexa que necessita de algumas pré-condições,

primeiramente a coabitação. A convivência se torna um facilitador para o episódio abusivo,

vinculado a expressão natural da sexualidade infantil que é vista pelo abusador como um jogo

sexual exibido pela criança que deveria acarretar limites por parte deste adulto (Tremblay &

Bégin, 2000). Cabe esclarecer algumas distorções relativas a denominação de “jogo sexual

infantil”. A criança ou adolescente não está fazendo nenhum jogo sexual com o abusador.

O que acontece é uma expressão fisiológica diante da interação sexual que gera estímulos

sensoriais sendo uma ação natural do corpo humano. Desta forma, nesta relação, crianças e

adolescentes podem sentir satisfação, sensações como excitação, prazer ou dor e de forma

paralela, podem sentir ansiedade, medo, incapacidade e desamparo. Cabe complementar que

nem toda situação de abuso sexual contra crianças ou adolescentes envolve violência física e

causam dor. Independente disso e com esta consciência, qualquer prazer experienciado pela

vítima é acidental, ocorreu porque o abusador provocou, sendo assim, somente este é o

responsável pela violência e pelas sensações causadas à vítima (Hohendorff et al, 2014).

Debater essa dinâmica abusiva pressupõe avaliar este ciclo relacional de confiança e

afeto que almejam ser conquistadas pelo abusador. O abuso sexual possui algumas fases que

podem ser entendidas como um processo: fase do engajamento, interação sexual, fase do

segredo, fase da revelação e fase da supressão. No engajamento, o abusador se utiliza da

autoridade e do poder através de um envolvimento especial e estratégico que tem um único

objetivo: estreitar laços e obter a confiança vítima. Com a confiança e o afeto conquistados, o

abusador começa a utilização das técnicas de contato, tais como fazer cócegas e dar banho na

criança. Mais tarde, o próximo movimento da criança é ir para cama do familiar para brincar.

O abusador percebe o envolvimento infantil e tem início as interações sexuais preliminares que

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progridem para contatos mais íntimos, como sexo oral seguido de penetração. Posteriormente,

os toques e a masturbação são utilizados pelo abusador como ameaça e como reforço diante da

criança (Hohendorff et al, 2014; Sanderson, 2005).

Como o abusador deseja manter a violência em segredo, cria uma dissociação temporal

dele mesmo: uma é a figura afetuosa e confiável separada da figura agressor abusivo, como se

fosse outra pessoa. Para anular a realidade externa, o abusador evita contato verbal ou visual,

escurece o ambiente e impossibilita naquele momento a possibilidade de contato com o mundo

externo. Este padrão peculiar diante do contexto relacional é conhecido como ritual de entrada

e de saída. Assim o ritual de entrada possui uma sinalização tanto quanto o ritual de saída

sinaliza sua finalização: neste intervalo, ocorre a violência sexual. Frequentemente, o ritual de

saída é marcado por ameaças e pela negação do abusador, onde pode demonstrar inclusive

comportamentos saudáveis para com a vítima. O abusador reforça assim os sentimentos de

ambivalência na criança, com as quais geralmente possuem vínculos afetivos. Com este afeto,

a criança deseja o cessar da violência e não o afastamento do familiar/abusador (Hohendorff et

al, 2014).

Contudo, quando a vítima percebe que algo errado está acontecendo, tem início a fase

do segredo. O abusador, na busca de sua omissão e com objetivo de manutenção do abuso,

começa a ameaçar à vítima ou ameaça as pessoas significativas para ela. As intimidações

incluem vários tipos de punições e corrobora para a manutenção da síndrome do segredo que

inclui o medo e a vergonha. A manutenção deste segredo acrescenta outra síndrome:

a acomodação que inverte os papéis. A criança passa a ser responsável pela sua família. Neste

papel, ela busca evitar a desestruturação familiar, utilizando-se do altruísmo e do controle

mantendo assim a homeostase necessária a sua família (Hohendorff et al, 2014).

Diante do avanço desta intimidade e ao perceber a verdadeira intenção do abusador,

surge o sentimento de traição na vítima pela confiança depositada ocasionando o aparecimento

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da dinâmica traumagênica da traição. A mesma dinâmica acontece de forma idêntica nas

seguintes situações: (a) quando a vítima tenta revelar seu abuso e não é ouvida ou (b) quando

as pessoas agem como se nada tivesse acontecido e incidem a culpa sobre ela. Duas

circunstâncias que favorecem o abusador podem aparecer quando familiares não acreditam na

vítima: (a) dependência financeira ou (b) dependência emocional por parte da mãe. Neste

contexto, a vítima é forçada a se retratar perante seu abusador. A absolvição do abusador traz

duas consequências temerosas: a ampliação do espaço para a vulnerabilidade infantil e a

promoção de um ciclo: a crença do não confiar no relato infantil, a vítima passa a não buscar

ajuda e os adultos não escutam as vítimas (Hohendorff et al, 2014).

Geralmente somente na adolescência, as vítimas conseguem fazer a revelação do abuso

sexual por meio de duas formas: intencional ou acidental. Na primeira, a vítima decide

conscientemente revelar seu abuso para uma pessoa de confiança. As crianças mais novas

podem fazer a revelação por achar a experiência interessante, enquanto as crianças mais velhas

revelam com o objetivo de cessar a violência. Na segunda, a revelação ocorre devido as

circunstâncias externas, isto é, a violência é descoberta quando existe a observação e a

desconfiança de alguém próximo devido as marcas deixadas no corpo, doenças, gravidez ou

comportamento inadequado. Frequentemente, somente na idade adulta é possível se

desvencilhar desta relação (Batista, França, Costa, & Brito, 2008). Quando não conseguem

fazer a revelação, a próxima fase é denominada supressão. Acontece quando a vítima além de

ser obrigada a se retratar negando seu abuso, é exposta a estigmatização. O agressor, a família

e a comunidade atribuem a vítima conotações negativas devido ao fato de ter sofrido um abuso

sexual (Hohendorff et al, 2014).

A título de contextualização, famílias são compostas por diferentes configurações, mas

no ambiente familiar abusivo o foco deve estar na estrutura deste sistema. A estrutura funciona

como um conjunto de exigências, pois a família compartilha metas e histórias por um longo

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tempo e funciona com regras próprias e habituais. No caso do abuso sexual, esta estrutura

provoca danos significativos na constituição psíquica sendo mais lesivas do que uma relação

impessoal (Castilho, 2001; Marafon & Scortegagna, 2016).

Desta forma, na presença de um contexto familiar abusivo, é necessário atentar para três

situações. A primeira se refere a situações intrafamiliares que favorecem a dinâmica da

violência. A segunda são os motivos destas situações abusivas e a terceira são as pré-condições

que devem coexistir antes do ASI. Em relação as situações intrafamiliares:

(a) um ambiente familiar violento; (b) famílias com problemas como divórcios, doenças, sem

teto e semelhantes; (c) a convivência em comunidades violentas e famílias que utilizam técnicas

coercitivas para socializar as crianças e (d) as características pessoais da criança como

prematuridade, temperamento, traumas e problemas mentais (Finkelhor, 2011; Habigzang &

Koller, 2014; Duffy, Hughes, Asnes, & Leventhal, 2015). Em relação aos motivos: (a) crianças

são mais fracas, menores e sem experiência de vida; (b) crianças tem menos autocontrole;

(c) as normas sociais não são tão fortes na inibição da violência contra crianças como são para

adultos e (d) crianças tem menos possibilidade de escolher com quem ficar e menos capazes do

que um adulto de, voluntariamente, abandonar uma situação perigosa (Finkelhor, 2011). Sobre

as pré-condições: (a) a motivação do agressor que considera a criança uma fonte de gratificação

sexual; (b) superação das barreiras internas, isto é, dos fatores que impedem o agressor de

abusar da criança; (c) superação de barreiras externas que são os fatores ambientais que

impedem o agressor de abusar da criança, tais como religião e tabus, e (d) a superação da

resistência da criança (Alzoubi et al., 2018).

Complementado os cenários familiares abusivos, quando os adolescentes descendem de

meios sociais desfavorecidos correm maior risco de serem expostos ao abuso e a eventos

traumáticos. São inclusive três vezes mais propensos a relatar ter experimentado situações

abusivas se comparados com adolescentes de ambientes sociais menos desfavorecidos.

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Crianças que pertencem a famílias com baixo nível socioeconômico podem responder de forma

diferente ao conteúdo de um programa por uma variedade de razões, incluindo medo de culpar

ou punir por revelar abuso e menores níveis de envolvimento dos pais em programas de

prevenção escolar (Finkelhor, 2009).

A questão cultural também pode sustentar a dinâmica abusiva, como no caso da China

que possui como característica o conservadorismo. Esta ideologia social pode aumentar o risco

de ASI, pois dificulta diálogos abertos entre pais e filhos. Neste país são exigidos dos filhos:

respeito incondicional e subordinação. Em caso de abuso sexual, para defender a família de tal

vergonha, estes são desencorajados a contar para alguém sobre suas experiências de abuso

(Zhang et al., 2013).

Questões culturais também são apontadas em uma pesquisa recente realizada com mães

na Jordânia que trouxe como evidência: (a) falta de leis claras que englobem todos os tipos de

abuso e (b) os incidentes não chegam ao tribunal devido ao estigma ou medo em relação a

sociedade. Desta forma se mantém a impunidade devido a vergonha dos pais ao relatar as

experiências abusivas e tradições que rejeitam a homossexualidade (Alzoubi et al., 2018).

Diante de toda essa dinâmica que perturba o desenvolvimento sadio da criança, cabe

ressaltar ainda que a situação abusiva pode acontecer uma única vez ou durar muitos anos, neste

caso, expondo a criança a privações e frustrações constantes (Finkelhor, 2011). Estes

acontecimentos podem comprometer o desenvolvimento infanto-juvenil deixando muitas

sequelas. Quando as crianças são expostas ao abuso, são múltiplas as consequências que podem

ser desencadeadas e que interferem de forma direta no desenvolvimento emocional,

comportamental, social, sexual e cognitivo da criança. O desempenho escolar é uma das

consequências que pode ser observada e que evidencia o prejuízo cognitivo daquela criança.

Este foi o resultado de um estudo sobre o desempenho escolar com crianças vítimas de violência

comparadas com seus pares sem histórico de abuso (Pereira, Santos e Williams, 2009).

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Como consequências do abuso sexual podem aparecer os sinais e os sintomas como

indicativos, inclusive os transtornos e os distúrbios. É possível citar, dentre os transtornos, os

de estresse pós-traumático (TEPT) e o de conduta desafiadora. Crianças e adolescentes podem

apresentar também depressão, ansiedade, comportamento suicida, drogadição, tabagismo,

alcoolismo e a automutilação. Em relação aos distúrbios, podem ser citados os alimentares e

afetivos, a presença de hipervigilância, baixa autoestima e o isolamento (Borges & Dell’Aglio,

2008).

É necessário estar atento aos sinais decorrentes de abuso, pois alguns podem ser

indicativos de uma criança que foi ou que está sendo abusada. Os sinais característicos são:

o aparecimento de lesões nos órgãos genitais ou na boca, desconfiança de alguém e

comportamento sexual inapropriado para idade da criança. Os sintomas aparecem como

incontinência noturna, pesadelos e choro frequente (Brino, 2006; Tremblay & Bégin, 2000).

Quando a criança vivencia apenas um tipo de violência, tem a possibilidade e a

capacidade de se recuperar. Em relação aos adolescentes, caso venham a sofrer mais de um tipo

de violência no período de um ano (polivitimização), associada e múltiplas fontes, podem

apresentar sinais de que estão presos a um padrão ou presos em uma espiral descendente que

deve ser a maior preocupação para aqueles que tentam ajudar (Finkelhor, 2011).

Dentro deste padrão, marcas podem acompanhar a criança ao longo de anos e ao chegar

na idade adulta tornar-se perceptível o surgimento de problemas de saúde mental e a

revitimização. Nesta fase, podem experimentar altas taxas de violência íntima por parte do

parceiro (Zhang et al., 2013; Levey et al., 2017). Como dinâmica traumatogênica, devida a

supressão, é possível perceber a estigmatização da vítima que a longo prazo pode acarretar

tentativas de suicídio e envolvimento com drogas e álcool (Hohendorff et al, 2014).

Corroborando, é possível ainda dialogar com a violência íntima, trazendo o conceito de

baixa autoestima e as relações de apego como função chave na transmissão de características

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transgeracionais como a dependência afetiva diante de relacionamentos amorosos (Johnson &

Whiffen, 2012) incluindo a própria revitimização. Sobre este termo, a equipe do Centro

Regional de Atenção aos Maus-tratos na Infância (CRAMI), apresenta revitimização como

“toda abordagem da problemática que gera mais sofrimento à vítima”. Neste sentido, uma

entrevista malconduzida, exames clínicos e até a simples menção ao abuso podem apresentar

um novo sofrimento à vítima (Andreotti, 2012; CRAMI, 2005).

1.2 Vulnerabilidade e o Abuso Sexual

No campo promoção de saúde, o termo vulnerabilidade torna-se bastante relevante, pois

o conceito começou a ser elaborado na área dos direitos humanos, quando se iniciou a

preocupação com a discriminação sexual e a epidemia da Aids. Esta discussão ampliou o

conceito de grupo de risco ou comportamento de risco, retirando o olhar estritamente

individualizante. Neste trabalho, o conceito de vulnerabilidade a ser enfatizado não é

direcionado apenas a dimensão individual ou social, mas sim, a interconexão da dimensão

programática quando da falta ou não-condição de acesso a bens materiais e de serviço que

possam impedir um alcance maior de bem estar dos atores sociais (Ayres et al., 2012;

Guareschi, Reis, Huning & Bertuzzi, 2007) .

Cabe o entendimento de que a discussão não é linear, mas sim uma compreensão em

termos da inscrição social de pessoas tidas como vulneráveis, considerando os aspectos

específicos da comunidade e deslocando o individual para o social, tornando a dificuldade mais

abrangente e de responsabilidade social (Guareschi et al., 2007). Quando se traz o conceito de

vulnerabilidade como um subtema a violência, com o foco no ASI, a vulnerabilidade não se

encontra distante desta realidade social individualizante, enquanto sistema efetivo de

proteção/prevenção. Isto acontece por dois fatores: o fato da violência acontecer em grande

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maioria em ambiente intrafamiliar (Brasil, 2018) e por não encontrar eco na dimensão

programática.

A dimensão programática se refere a intersetorialidade de políticas específicas para o

setor da saúde com as demais políticas públicas de grande relevância para as relações e para a

estrutura social. Estabelecendo desta forma, conexões com as determinações sociais em saúde

e com os princípios previstos pela lei. Trata-se de uma interposição que as instituições exercem

na vida em sociedade e como a sociedade despende deste empenho programático para proteger

a própria comunidade (Benedetto & Silveira, 2013).

Neste sentido, articulando as três dimensões da vulnerabilidade, é perceptível a

importância de sua inter-relação. Ao serem vinculadas e diante da preposição desta dissertação,

observa-se que o trabalho preventivo proposto visa o despertar para uma condição social

emancipatória, que irá necessitar do apoio programático para complementar as medidas

preventivas de enfrentamento ao ASI por parte das mães (Ayres et al., 2012).

A dimensão programática deve conter quatro componentes: (a) disponibilidade dos

serviços, (b) acessibilidade aos serviços, (c) qualidade dos serviços e (d) aceitabilidade dos

serviços. A vulnerabilidade apareceria desta forma quando a busca por apoio na rede fosse

iniciada e não encontrasse ressonância no sistema preventivo. A intercorrência seria visível

porque, sem a articulação triangular da rede, não existe alcance efetivo. Desta forma, as

políticas públicas se configuram como uma rede de proteção instrumentalizada para lidar com

tais situações, quando da necessidade daquela família com efetividade e que atenda tal

vulnerabilidade (Ayres et al., 2012).

Desse modo, as políticas públicas se configuram como uma rede de proteção

instrumentalizada para lidar com tais situações, quando da necessidade daquela família com

efetividade e que atenda tal vulnerabilidade (Ayres et al., 2012) Em relação às políticas públicas

preventivas de ASI, Santos et al. (2010) estabelecem a necessidade de um breve histórico desta

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violência contra a mulher e contra a criança para saber quando de fato esta violência familiar

começa a se apresentar como um problema social, quando a violência entra em pauta nas

políticas públicas e o quando surge o novo olhar para infância como uma fase de atendimento

especial e de direitos adquiridos.

Ao longo das últimas cinco décadas, temas como direitos humanos, infância,

adolescência, cidadania, trabalho, sexualidade e violência resultaram em contestações e

considerações no mundo. Como resultado dessas considerações, em 1959 foi proclamada a

Declaração dos Direitos da Criança na Assembleia da ONU (Organização das Nações Unidas)

balizando a preocupação das nações com a infância como um compromisso social (Santos et

al., 2010).

Em 1960, a violência familiar começou a se apresentar como um problema social grave.

Entre 1960 e 1970, o movimento feminista motivou ensaios sobre as formas de violência e suas

consequências contra as mulheres, o que facilitou a inserção desse tema nas políticas públicas.

O âmbito privado começa a ser olhado de outra forma, no qual laços familiares também

poderiam ser violentos. Dentro desse contexto, o conceito de infância foi alterado devido ao

padrão assimétrico nas relações familiares. O novo entendimento é o de uma criança como

sujeito de direitos, não sendo mais propriedade de seus pais, conforme o Estatuto da Criança e

do Adolescente (Brasil, 1990), garantindo à essa fase os cuidados e atenção diferenciados. Com

a apresentação desse estatuto, o enfrentamento contra a expressão da violência sexual praticada

contra crianças e adolescentes assume no Brasil uma maior importância (Santos et al., 2010).

Estenderam-se nestas décadas atuações de Organizações Não Governamentais (ONG) e

criaram-se Fóruns e Conselhos. Para colaborar de forma responsiva, em 1993 aconteceu a

primeira Comissão Parlamentar Mista de Inquéritos (CPMI) com o objetivo de investigar a rede

de exploração sexual contra crianças e adolescentes. Um ano depois, na II Conferência Nacional

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dos Direitos da Criança e do Adolescente aconteceu uma mobilização social nas esferas

municipal, estadual e nacional com o objetivo de avaliar a implantação dos direitos adquiridos.

Em 1997, a ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância

e Adolescência) criou uma Rede de Informações sobre violência sexual infanto-juvenil com o

objetivo de fornecer apoio para o banco de dados regionais existentes ou em planejamento.

A ABRAPIA cria em seguida o Disque-Denúncia. O objetivo deste serviço é acolher denúncias

de qualquer tipo de violência conta crianças e adolescentes, crime de tráfico de pessoas e

desaparecimentos de crianças (Paixão & Deslandes, 2010).

Em 2003, este serviço passou para a coordenação e execução da Secretaria Especial dos

Direitos Humanos (SEDH). Em 2006, recebeu a denominação Disque 100. Por este canal é

possível receber, analisar e encaminhar as denúncias feitas aos órgãos responsáveis conforme

suas competências, preservando a identidade do denunciante. Com a transferência de

responsabilidade, o Disque 100 deixou de ser apenas um canal de denúncia, pois passou a

articular, a partir de casos concretos, uma rede de retaguarda de serviços e parceiros em todo o

país (Paixão & Deslandes, 2010).

Na cidade de Curitiba, a Secretaria Municipal de Saúde, através de seu Sistema Único

de Saúde, possui histórico de diretrizes e programas de ação em relação à prevenção do ASI

juntamente com o surgimento da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente em 2002. O

objetivo da rede é notificar, atender e orientar situações de risco, abuso e/ou agressão contando

com a participação de hospitais referências. Estes hospitais solicitam o encaminhamento de

casos de abuso dentro de um prazo de até 72h, sendo solicitado também que o responsável faça

um boletim de ocorrência (B.O.) em uma delegacia. Em Curitiba, conta com a participação do

Hospital Infantil Pequeno Príncipe (crianças até 12 anos), Hospital de Clínicas e Hospital

Evangélico. A rede está fundamentada em um sistema de Notificação Obrigatória para toda

forma de violência (suspeita ou comprovada) contra crianças e adolescentes de até 18 anos de

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idade, com base legal na Constituição Federal, Artigo 227 e no Estatuto da Criança e do

Adolescente, Artigos 13 e 245. Atendendo sistematicamente ao fluxo de encaminhamento para

o Conselho Tutelar, para o Serviço de Atendimento ao Vitimado e para alimentar o banco de

dados na Secretaria Municipal da Saúde (Curitiba, 2008).

Infelizmente, a prevenção do abuso sexual no Brasil ainda sofre carências. Isto ocorre

devido à falta de informações de direitos por parte da população. Até o ano de 2011, data em

que o Ministério da Saúde universalizou as notificações de violências, a palavra prevenção de

atos abusivos contra crianças e adolescentes precediam da palavra prevenção de doenças. Esta

relação associava prevenção a preconcepções epidêmicas, sendo vista como um problema de

comportamento, do agressor ou da vítima. Outrossim, na época, a postura da psicologia em

relação às prevenções se encontrava hegemônica e neutra em relação a prevenção como uma

questão social (Ayres et al., 2012; Lacerda Junior & Guzzo, 2005). Após períodos de

questionamentos relativos às questões sociais, a violência passou a ser inserida na área da saúde,

em que é vista como um problema social (Nascimento & Costandrade, 2016).

Considerando a abrangência deste fenômeno social que tem desfavorecido o

desenvolvimento integral da criança comprometendo sua vida adulta diante de todas as suas

relações, torna-se imperativo a realização de trabalhos direcionados a prevenção primária com

mães contra a prática do ASI.

1.3 A Prevenção do Abuso Sexual

O ASI tem feito parte de muitas culturas ao longo do tempo, infelizmente não se trata

de um problema contemporâneo. Da mesma forma, aconteceu o surgimento e a conduta prática

da ação preventiva primária diante deste crime. No Brasil, em 1950, surge um novo conceito

de prevenção primária na medida em que o profissional de psicologia com base formativa na

intervenção médica americana, se depara com sua prática elitizada e clínica versus questões

psicossociais e de saúde pública. O foco até este momento se dirigia a reprodução e manutenção

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de um status de grupo dominante, o qual se constituiu a psicologia brasileira. Uma intervenção

resultante de questões éticas, de caráter epistemológico, político e histórico. Nesta conjuntura,

recebia demandas concretas de uma sociedade marcada pela dominação com intervenções

focadas em deficiências individuais, culpabilização da vítima, com intervenções que buscavam

auxiliar isolando o indivíduo, mas que de fato, não contribuía para a sociedade (Lacerda Junior

& Guzzo, 2005).

Críticas aos modelos remediativos, fazem com que a partir de 1950, os Estados Unidos

investiguem alternativas em relação ao campo da saúde mental. Este movimento e postura

trouxe profundos questionamentos, inquietando a psicologia brasileira em relação ao homem

perante seu caráter histórico e social. Passam a ser questionadas a convicção em relação as

desordens psicológicas individuais se considerados os papéis do micro e macro sistemas,

instituições sociais, esperança, justiça e as consequências emocionais referentes as

desigualdades sociais (Lacerda Junior & Guzzo, 2005; Lane, 1996).

Após uma revolução na saúde mental cerceada pela resistência da psiquiatria, a

prevenção passa a tratar questões emocionais e mentais. Tais desordens passam a ser entendidas

como um fenômeno social que pode ser evitado. Desta forma, em termos de saúde mental, a

prevenção tem como foco o desenvolvimento saudável do indivíduo em suas diversas fases do

ciclo de vida. Para isso, busca a redução através de ações antecipadas diante de possíveis

problemas e riscos que venham a prejudicar o seu desenvolvimento (Abreu, Miranda, & Murta,

2016).

Enquanto história, a prevenção primária surge como uma intervenção que tem um

objetivo maior do que simplesmente atingir a maior parte da população. Tem como direção,

transformar a realidade de uma sociedade em sofrimento com uma posição humanista que busca

romper ciclos viciosos sustentados com os serviços de medicalização. A origem deste conceito

preventivo advém da saúde pública como uma ação que busca evitar a incidência de doenças

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tendo como público alvo grupos. Este novo modelo busca nas causas sociais as diferenças sobre

a explicação de doenças, apoiados pela proposta da mudança social como solução, objetivando

um processo efetivo que demanda ações políticas, definição de valores, relações entre meios e

fins e mudanças econômicas (Lacerda Junior & Guzzo, 2005).

O desenvolvimento teórico e prático da prevenção primária aconteceu de forma

fragmentada e desigual atingindo discordâncias conceituais e estratégicas, inclusive confusões

dentro do campo. Assim, durante uma grande fase produtiva, trabalhos conduziram ao

desenvolvimento de intervenções que tinham como objetivo demonstrar sua funcionalidade.

Estes trabalhos contribuíram para consolidação de um campo emergente como processo de

mudança social, que tem como premissa criar novas forma de intervenções com o ser humano,

com uma educação emancipatória, de caráter educativo, consciente dentro de um processo

dialético. Isso quer dizer, a inclusão da voz do grupo ativo diante das manifestações e soluções

de seus problemas sociais. Cabe salientar que, sem a ação política e a mudança social a

intervenção primária entra na prática individualista (Lacerda Júnior & Guzzo, 2005).

Estudos sobre prevenção primária não são possíveis sem a discussão dos fatores de

proteção e dos fatores de risco. Os fatores de proteção diminuem ou minimizam os fatores de

risco, priorizando o bem-estar. Os fatores de risco são variáveis presentes no contexto que

tornam o grupo mais vulnerável (Lacerda Júnior & Guzzo, 2005), diante do ASI. No público

alvo, as intervenções preventivas buscam fortalecer os fatores de proteção com intenção de

minimizar os fatores de risco (Abreu, Miranda, & Murta, 2016).

Enquanto modelo de atuação advindo da saúde pública se organiza em três níveis

preventivos: primária, secundária e terciária. Na primária, as ações são destinadas a grupos

amplos, realizadas antes de uma doença se estabelecer, contendo um caráter educativos superior

aos outros níveis preventivos. Na secundária, a prevenção acontece após a identificação dos

fatores de riso com o objetivo de evitar a cronicidade diagnosticando e intervindo. A prevenção

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terciária, objetiva reabilitar ou minimizar os efeitos de uma doença já inserida (Brino &

Williams, 2009).

Em muitas situações, conflitos derivados de concepções e objetivos diferentes, oriundos

de desentendimentos na rede de proteção, podem prejudicar o papel e a prática preventiva que

tem na psicologia social comunitária uma postura conscientizadora e ativa. Desta forma,

existem três tipos básicos de intervenções primárias: a Intervenção Punitiva Primária (IPP); a

Intervenção Primária Protetora da Criança (IPC), e a Intervenção Terapêutica Primária (ITP).

O objetivo da primeira intervenção é a punição do abusador com uma concepção de violência

como monocausal, culpabilizando assim, um indivíduo. Tal intervenção encobre os problemas

do sistema familiar da criança e de forma paralela impede o fortalecimento dos recursos do

grupo. Este é o foco das intervenções policiais e judiciárias. O objetivo da segunda intervenção

é a proteção da criança ou adolescente vítima deste abuso. A concepção é bicausal atingindo o

abusador e responsabilizando o genitor que assume a posição de fracasso diante da exposição

da vítima. Preconiza a retirada da criança ou adolescente da família, favorecendo assim sua

revitimização, não elucidando a dinâmica familiar abusiva. Este é o foco dos conselhos tutelares

e promotorias de infância e juventude. A terceira opção, tem como foco a dinâmica fundamental

que levou e manteve o abuso não se dirigindo contra qualquer membro da família, o objetivo é

o de modificar as relações familiares apresentadas (Pereira Junior, 2012).

Em relação a enfoques preventivos diante da ocorrência de ASI, as ações geralmente se

voltam para os profissionais que estão diretamente vinculados com as crianças e adolescentes.

Segundo Williams, Albuquerque, Stelko-Pereira e Santini (2014), profissionais capacitados

desempenham um papel importante na identificação de sinais de abuso. Entretanto, Santos et

al. (2010), quando abordam o ingresso da violência no sistema de garantia de direitos,

começando com o boletim de ocorrências (B.O.), afirmam que atualmente é a mãe que tem sido

identificada como uma das primeiras pessoas a tomarem conhecimento da situação, sendo

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então, responsável pelo registro de tal violência, somado ao vínculo familiar dos prováveis

autores da violência abusiva, segundo o boletim epidemiológico (Brasil, 2018). Diante disso,

urge a necessidade de maior consideração frente a figura materna como foco de intervenção

preventiva, pois sua reação frente a revelação do abuso sofrido pela criança ou pelo adolescente

pode tanto minimizar como potencializar as consequências deste abuso em seu

desenvolvimento.

Enquanto abordagem interventiva psicossocial, o acompanhamento em grupo realizados

com mães/cuidadoras, pode oferecer a sensibilização sobre seu papel dentro da família

trabalhando as necessidades da criança ou adolescente. Estas necessidades são relativas a

relação de proteção e confiança para que confirme e compreenda a situação relatada, incluindo

o não culpabilizar a criança (Hutz, 2010).

Enquanto intervenção, a formação de grupos é pré-requisito tanto na prevenção primária

(Lacerda Junior & Guzzo, 2005) como na prática da psicologia social comunitária (Lane, 1996).

Trabalhar com mães em formato de grupo oferece como oportunidade o conhecimento da

realidade comum e a autorreflexão que beneficia a ação conjunta e organizada. Proporciona o

compartilhar de experiências e o aprender na relação, ambos possibilitam a identificação entre

as participantes. O ambiente grupal propicia a introjeção de um novo modelo relacional, o

trabalho de conscientização protetiva e a comunicação sobre a dinâmica da violência. Cria-se

assim, um sistema de apoio no grupo que oportuniza a construção de fronteiras intergeracionais,

senso de autoestima, autoconfiança e segurança (Furniss, 1993). Oportuniza a divisão de

sentimento de culpa, vergonha e perda de confiança, assim como o rompimento de segredos e

isolamentos (Habigzang & Koller, 2014; Lane, 1996).

A prevenção do ASI também é responsabilidade de todos os adultos, mesmo os que não

têm filhos, pois este fato não impede sua colaboração preventiva quando de posse de

conhecimento. A comunidade precisa discutir o tema de forma prioritária para que possam

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garantir a segurança e a proteção das crianças. Tal proteção de fato surge quando se tem

entendimento sobre o que motiva os agressores, sendo esses produtos da sociedade, é a

sociedade que deve assumir a responsabilidade. Quando de posse de informações exatas sobre

o tema e com a devida separação entre o que é mito e o que é ficção, é possível trabalhar com

estereótipos que distorcem a realidade e desta forma promover a proteção efetiva das crianças

(Sanderson, 2005). O abuso sexual não é o tabu em si, mas sim, o falar sobre ele. Como pais

não falam sobre o assunto, igualmente as crianças têm dificuldade em questionar (Zhang et al.,

2013). Neste espiral, o não falar não afasta, mas colabora com o silêncio que o abusador

necessita (Habigzang & Koller, 2014).

Para desenvolver as oficinas interventivas foi possível utilizar o espaço escolar como

instituição de acesso à comunidade de mães. Ao ocupar este espaço é possível envolver toda

escola tendo como resultado uma ação indireta diante da intervenção proposta: o papel protetivo

da instituição de ensino. Instituições escolares são um local privilegiado, seu espaço social

favorece articulações entre diferentes elementos sociais e manifestações psicológicas

(Nasciutti, 1996).

Problemas sociais como o ASI que acontecem em sua maioria dentro de casa (Brasil,

2018), perpassam a instituição de ensino que não deve se encontrar despreparada para atender

estas solicitações. Embora o tema seja pouco debatido durante a formação do pedagogo assim

como outros profissionais que lidam com crianças, a escola é o primeiro lugar onde a criança

atua publicamente, interage e manifesta sua identidade pessoal. São demandas que se repetem

no ambiente escolar que pode contribuir para aumentá-la quando reproduz desigualdades e

formas de tratamento indevidas. Sendo assim, a escola não está imune a seus reflexos e a suas

consequências. Como instituição que preza por garantir os direitos das crianças e adolescentes,

a escola tem um papel fundamental na prevenção da violência familiar (Lyra, Constantino &

Ferreira, 2010).

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Ao abordar o tema de forma abrangente com a consciência de que crianças abusadas

passam ou não pelos bancos escolares, e neste caso são privadas da educação e ao

desenvolvimento, faz com que a escola e os educadores possam também se tornar aliados contra

a prática ou suspeita desta violência ao realizar a denúncia ao órgão competente (Ribeiro &

Martins, 2004).

Quando a escola enquanto instituição educacional e lugar de cuidado integral se envolve

ampliando sua visão diante da educação, extrapola seu papel de transmissão de conhecimento

e formação de valores agregando outra função: um papel protetivo que pode atuar em sintonia

com as leis brasileiras de proteção infantil (Brino & Williams, 2009). Neste papel, o ambiente

escolar se torna um cenário propício para discussão de temas ligados a saúde diante de questões

que envolvem especialmente os alunos, seu ambiente familiar e comunitário por meio de

condutas simples e da participação de todos (Carvalho, 2015).

Estudos sobre intervenções realizadas em ambiente escolar revelaram resultados

encorajadores diante da eficiência ao combate do ASI. Enquanto sistema de entrega de recursos

educativos, parece ser eficiente e não estigmatizante diante das múltiplas formas de ASI. Estas

intervenções são efetivas para abordar uma variedade de metas de prevenção, fornecem

habilidades protetivas para potenciais vítimas, inclusive mensagens de intimidação para

potenciais ofensores. São também adequadas para promover a denúncia por parte das vítimas e

podem ser adaptados para fornecer algumas mensagens de redução de danos, por exemplo,

encorajando as crianças a não se culparem por abuso ou ver tais experiências como muito raras.

A realidade é que as escolas são um local bem estabelecido para o envio de mensagens de

prevenção; têm acesso a quase todo o universo de crianças e famílias; sendo que a escola em

princípio já aceitou a responsabilidade por essa tarefa preventiva (Brino & Williams, 2009;

Finkelhor, 2009).

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Neste sentido, ao desenvolver oficinas de prevenção primária contra o ASI no ambiente

escolar, a psicologia encontra espaço na agenda da educação e saúde enquanto ação educativa

e preventiva para o enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno

desenvolvimento das crianças. Assim, segundo Sanderson (2005), um diálogo público feito de

forma clara e com ênfase informativa entre os profissionais da escola e as mães capacitaria

ambos para tratarem da violência e, como um ciclo preventivo, repassariam as informações aos

filhos e estariam aptas para identificação de sintomas e sinais de abuso. Com estas

aprendizagens abordar o tema ASI, sairia do padrão reativo para o padrão preventivo que

facilitaria seu primeiro passo: conseguir falar sobre o assunto. O não falar significa ignorar sua

existência, que contribui para o surgimento de mais casos. Com este investimento em saúde e

educação, poderá existir a promoção de mudanças nas atitudes e nas crenças, que por sua vez

facilitará a prevenção, diminuindo gastos com saúde pública e justiça criminal.

Este trabalho de intervenção procurou, inicialmente, identificar, na produção científica,

o aprofundamento teórico e métodos de intervenções primárias já realizadas através de uma

pesquisa assistemática com as seguintes palavras chave: prevenção, ASI e mães. Após a

realização da leitura integral dos artigos selecionados para síntese qualitativa, estes foram

agrupados, para fins de análise e comparação com o presente estudo com base nos seguintes

itens: tipo de pesquisa, objetivos, participantes, localização geográfica, população, tamanho das

amostras, ambiente de intervenção e métodos interventivos.

Como resultado são apresentados treze estudos. Um se refere a uma revisão sistemática

(Levey et al., 2017), outro se refere a uma revisão da literatura (Pelisoli & Piccoloto, 2010),

dois são teses de doutorado (Brino, 2006; Padilha, 2007), dois tratam de programas de

prevenção (Morris et al., 2017; Tremblay & Bégin, 2000) e seis de aplicação de questionários

ou entrevistas sobre ASI (Alzoubi et al., 2018; Gibson & Leitenbergt, 2000; Payne & Button,

2009; Elrod & Rubin,1993; Beier et al., 2016; Zhang et al., 2013) e um de análise de relatórios

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de visitas domiciliares (Duffy, 2015). Exceto os quatro que tratam de programas interventivos

(Brino, 2006; Morris et al., 2017; Padilha, 2007; Tremblay & Bégin, 2000), nenhum deles

proporcionou alguma forma de treinamento com objetivo de prevenção, limitando-se a

diagnosticar e identificar fatores de risco para o ASI, isto é, uma prática focada em deficiências

individuais (Lacerda Junior & Guzzo, 2005).

É possível observar a grande variação nos períodos de publicação: 1993 até 2017. Em

1993 a preocupação estava voltada para avaliar o nível do conhecimento dos pais, o interesse

deles em aprender e educar (Elrod & Rubin, 1993). Nos últimos cinco anos, a preocupação se

voltou para estudos com mães e adolescentes, crianças menores de sete anos, famílias com

visitas domiciliares e mães vulneráveis. É perceptível a mudança do foco e da preocupação para

mães, crianças, adolescentes (Alzoubi et al., 2018; Duffy et al., 2015; Levey et al., 2017 &

Zhang et al., 2013).

Em relação aos objetivos dos treze estudos identificados, observou-se que apenas quatro

analisaram os efeitos de programas de prevenção (Brino, 2006; Morris et al., 2017; Padilha,

2007; Tremblay & Bégin, 2000). Dois estudos trouxeram sugestões condizentes com os

trabalhos sociais e comunitários: o primeiro sugere avaliar as necessidades de mães e

identificação de intervenções que realmente possa auxiliar na prevenção (Levey et al., 2017).

O segundo, em relação a maior ou menor renda, sugere modificações para diferentes

comunidades (Morris et al., 2017). Os demais trabalhos utilizaram como metodologia a

aplicação de questionários ou entrevistas abordando questões como conhecimento prévio sobre

ASI, mitos e crenças, práticas preventivas e rede de apoio.

Deste grupo selecionado, destacam-se os dois artigos que tratam de programas de

prevenção sendo que, um se refere a um programa escolar e outro direcionado a uma

comunidade rural. O programa escolar se refere ao trabalho de Morris e seus colegas (2017)

quando da análise da eficácia do programa Safe@Last. Este programa foi desenvolvido em

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1998 e busca, em quatro (4) sessões, ensinar as crianças a: (a) distinguir pessoas seguras de

pessoas inseguras, (b) diferenciar situações seguras e inseguras, (c) habilidades de solução de

problemas, (d) habilidades de assertividade e (e) métodos claros de divulgação. Isto foi feito

através de treinamento de habilidades comportamentais, ensaios e role-playing. Os autores

perceberam ganho significativo para crianças a partir da segunda série, sendo o impacto mais

relevante em comunidades mais pobres. O programa direcionado a comunidade rural se refere

ao trabalho de Tremblay e Bégin (2000). Seu objetivo foi analisar o impacto da participação de

mães e filhos em um workshop composto por duas (2) sessões de três (3) horas sobre questões

que incluíam a prevenção de ASI. A diferenciação deste estudo se refere a formação de três

grupos de participantes: um grupo intervenção e dois grupos controle. No grupo intervenção,

participaram do workshop as mães e os filhos. No grupo controle 1, apenas os filhos e no grupo

controle 2, os que não participaram. Como resultado, os autores apontaram ganho significativo

quando tanto mães quanto filhos participam do programa.

Em relação aos participantes, apenas três artigos tratam de mães diretamente (Alzoubi

et al., 2018; Levey et al., 2017; Tremblay & Bégin, 2000). Além disto, dois artigos abordam a

família (Duffy, 2015; Elrod & Rubin, 1993) e quatro tratam de crianças ou adolescentes (Beier

et al., 2016; Gibson & Leitenbergt, 2000; Morris et al., 2017; Zhang et al., 2013). Das duas

teses, uma era destinada a comunidade acadêmica (Padilha, 2007) e a outra aos professores

(Brino, 2006). E, por último, um direcionado a comunidade (Payne &n Button, 2009).

Quanto a localização geográfica, seis estudos foram realizados nos Estados Unidos, um

na Jordânia, um na China, um na Alemanha, um no Canadá e dois no Brasil. O artigo de revisão

de literatura enfocou diversos estudos de localizações diversas. Aspectos culturais são

apresentados como elemento influenciador na eficácia da pesquisa, com destaque para o

trabalho na Jordânia (Alzoubi et al., 2018) onde a religião tem um papel preponderante,

limitando as discussões acerca da sexualidade. Da mesma forma, o trabalho na China (Zhang

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et al., 2013) onde as famílias seguem regras rígidas de comportamento que impedem que as

famílias discutam temas relacionados ao abuso e suas consequências. Com efeito, as crianças

chinesas têm carência de conhecimento sobre prevenção ao abuso sexual e autoproteção. Em

relação a trabalhos brasileiros, é possível perceber, proporcionalmente, a baixa quantidade de

estudos nacionais.

Quanto a população, aparecem contextos diferentes, tais como como serviços de saúde,

escolas, comunidades e órgãos de saúde. As participantes das pesquisas eram obtidas a partir

de alguns critérios, tais como: mulheres grávidas ou mães identificadas como de alto risco

(Levey et al., 2017), pais ou mães de crianças em idade escolar (Alzoubi et al., 2018; Duffy,

2015; Elrod & Rubin, 1993; Tremblay & Bégin, 2000), estudantes (Beier et al., 2016; Gibson

& Leitenbergt, 2000; Morris et al., 2017) e comunidade (Payne & Button, 2009).

Quanto ao tamanho das amostras, houve uma grande variação, indo de 27 a 1.173

participantes, incluindo, entre os estudos, crianças, adolescentes, pais e famílias. A presença

materna foi preponderante nos estudos, mas não a única. Isto difere do presente estudo, no qual,

o foco preventivo se restringe as mães. Quanto ao ambiente de intervenção, houve uso do

espaço doméstico em três estudos através de visitas domiciliares (Duffy, 2015; Levey et al.,

2017; Payne & Button, 2009). Nos demais estudos, a concentração se deu em ambiente escolar,

com exceção de um estudo que envolveu uma comunidade (Payne & Button, 2009). Contudo,

os resultados apresentados não indicam claramente um ambiente mais propício para a

intervenção.

Quanto ao método, a aplicação de questionários padronizados se fez presente em seis

dos estudos (Alzoubi et al., 2018; Duffy, 2015; Elrod & Rubin, 1993; Gibson & Leitenbergt,

2000; Tremblay & Bégin, 2000; Zhang et al., 2013). Entrevistas aparecem em dois estudos

(Beier et al., 2016; Payne & Button, 2009) e um estudo se baseou em relatórios de visitas de

um serviço de saúde (Duffy, 2015). Visitas domiciliares foram abordadas em uma revisão

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sistemática (Levey et al., 2017). O delineamento longitudinal pré e pós intervenção se fez

presente em apenas em três estudos (Levey et al., 2017; Tremblay & Bégin, 2000; Morris et al.,

2017).

Das pesquisas que envolveram programa de intervenção (Morris et al, 2017; Tremblay

& Bégin, 2000), os resultados foram positivos, demonstrando uma evolução estatisticamente

significante entre o pré e o pós-teste. Mesmo realizadas em países com diferentes contextos, é

possível constatar resultados contemporâneos, que contribuíram provocando questionamentos

e futuras contribuições acerca dos seguintes aspectos: (a) mães que desconheciam leis e

organizações sociais que protegem as crianças e mães que acreditavam que os agressores eram

desconhecidos da criança (Alzoubi et al., 2018; Zhang et al., 2013); (b) mães que foram

abusadas sexualmente evitam procurar cuidados pré-natais e experimentam taxas mais elevadas

de depressão pós-parto (Levey et al., 2017); (c) famílias com vulnerabilidade parental; sem

comunicação; presença de violência doméstica; histórico criminal aliado a uma rede complexa

de cuidadores que resulta em uma criança maltratada e sem conhecimento, assim aceita o abuso

como sendo sua responsabilidade e culpa (Duffy et al., 2015; Zhang et al., 2013).

Estes resultados contribuíram com seus aspectos teóricos. Isto reforça a necessidade de

estudos interventivos focados em prover, além da pesquisa, uma prática ativa dentro da própria

intervenção. Existe generosa literatura internacional que envolve avaliação de conhecimento

sobre o ASI que diagnostica riscos e contextos, mas proporcionalmente poucos trabalhos

demonstram resultados de aplicação de programas interventivos de baixo custo direcionados a

sua prevenção primária, tal como pretende o presente estudo.

Portanto, trazer, enquanto resultado, a diminuição de ocorrências de ASI e o aumento

de conhecimento das mães é um importante fator positivo, assim como as contribuições feitas

através de conceitos, dados e as carências apontadas nos estudos. Nota-se nos estudos que os

objetivos são definidos, os ambientes de coleta de dados são múltiplos, além da priorização de

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diagnósticos individuais. Foi possível perceber, enquanto limitação, a escassez de intervenções

longitudinais realizadas no Brasil, a ausência de pesquisas sociais com observação participante,

metodologias de conscientização crítica ou ressignificativas, a falta de interação social

enquanto grupos com o planejamento, envolvimento e desenvolvimento da comunidade.

1.4 A Contribuição da Psicologia Social Comunitária

Para discutir a Psicologia Social Comunitária enquanto aporte diante das intervenções

realizadas com mães é necessário trazer alguns representantes das duas correntes: a brasileira e

a latino-americana como Maria F. Q. de Freitas, Pedrinho Guareschi, Silvia Lane, Maritza

Montero e Martin Baró, que iniciaram e nomearam esta psicologia. Compreende-se, portanto,

a relevância do papel desempenhado por estes psicólogos sociais enquanto pioneiros e críticos

que tinham como preocupação os interesses da maioria da população periférica. O percurso da

psicologia social envolveu a revisão de práticas e metodologias, incluindo o contexto

comunitário que agregasse valores diante da realidade social brasileira (Freitas, 1996; Lane,

1996).

Dentro do processo evolutivo da psicologia social comunitária, o que se pretende neste

capítulo é reunir, de forma sucinta, contribuições de pensadores críticos que, imbuídos de

compromisso ético e político, discutam o desenvolvimento, a construção de ações/relações

transformadoras e alguns conceitos específicos apresentados nesta abordagem. Alguns destes

conceitos foram a ideologia, a alienação, a naturalização da violência, a dominação, o

assistencialismo e o paternalismo. Consequentemente, serão expostas de forma resumida,

alguns momentos que acompanharam e acompanham o desenvolvimento histórico e político

perpassando os anos do golpe militar, a reabertura política do país (Lane, 1996; Freitas, 1996),

sua situação atual, atentando para as transformações sociais e políticas.

O modelo de intervenção psicossocial que predominava até o ano de 1970 atentava para

o controle de comportamentos, com filosofia positivista, pretensão neutra e a desideologização.

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Porém, já a partir de 1950 surgia um novo conceito como alternativa em relação ao campo da

saúde mental que guiava a compreensão de que as desordens mentais são um fenômeno social

que pode ser evitado através de ações antecipadas (Abreu, Miranda & Murta, 2016; Lacerda

Junior & Guzzo, 2005; Lane, 1996). Na década seguinte, a sociologia sofre influência da linha

francesa que apostava nos fatores subjetivos de sujeitos protagonistas dentro de um sistema de

autogoverno onde o conhecimento é produzido na prática, na investigação, avaliação de

projetos e programas sociais referentes ao desenvolvimento comunitário vinculando o sistema

socioeconômico e político, o compromisso profissional recebe relevância ética na parceria

ciência e realidade (Pereira, 2008).

O termo “trabalhos em comunidades” no Brasil surgiram nos anos de 1940 e 1950

acompanhando a história e contexto tanto socioeconômico como político brasileiro que

abarcavam situações contrastantes como: autoridade, dominação, opressão, exploração,

desemprego, inflação, miséria, violência e assistencialismo que foram as formas de governar

predominantes nos anos de 1968 a 1975, época do golpe militar (Lane,1996). Estas foram as

razões para a realização de trabalhos em comunidades: um lugar onde a psicologia social

tradicional mostrava sua carência. Essa perspectiva evidenciava a grande importância da

mudança social apontando para consciência e valores de libertação (Fretas, 1996; Pereira,

2008).

Por conseguinte, em 1960, diante da situação do país, o foco era a população carente

que estava diante de um processo ideológico de progresso industrial. O Brasil, a Psicologia

Social Comunitária e vários países da América Latina estavam em crise. O conflito

compreendia o Estado e o Capitalismo de um lado versus as necessidades essenciais da

população alicerçadas pela sociedade civil. Nestas circunstâncias surge o processo de “Serviço

de Educação de Adultos” com tentativas do método Paulo Freire que agregava a população e

aos psicólogos uma prática com conscientizadora. Freire propõe, em primeiro lugar, a

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experiência e, em seguida, a definição de conceitos. Sua pretensão era transformar a ordem

social mediante a intervenção como processo de criação do saber popular que proporcionasse

novos tipos de relacionamentos na comunidade por meio de estratégias para formar um senso

crítico que valorizasse o cotidiano e o real dentro destas relações. Nesta época havia um

paradoxo entre a ciência acadêmica e a ciência popular (Pereira, 2008).

Diante de suas convicções, na época, a coordenação do Estado assume, cria e

desenvolve, com atuação de profissionais das ciências humanas e sociais, vários projetos na

área educacional e assistencial que atendiam aos interesses das elites com característica

assistencialista e paternalista (Freitas, 1996). Ressignificando, caberia ao Estado o

gerenciamento destes projetos e concepções incluindo o “tudo pelo social”, uma ação protetiva

diante de um discurso que reforçava a carência do povo. O aspecto crítico se refere ao ciclo que

mantem esta ideologia relacional carente que produz uma falta quando monopoliza o saber

fortalecendo o desconhecimento. Neste caso, o povo atendido se deixa colocar

democraticamente enquanto grupo dominado, desapropriados e impotentes (Guareschi, 1996;

Lane, 1996; Pereira, 2008).

Em 1962, a psicologia se torna profissão oficial regulamentada utilizando na época

teoria e metodologia importada. A partir de então estes profissionais se inserem

voluntariamente na comunidade realizando trabalhos junto à população carente incluindo o

vínculo com movimentos sociais. Em 1970, o contexto político permanecia, mas a população

já sabia lutar por canais reivindicativos formando associações e grupos compostos de vários

profissionais liberais de diferentes áreas do conhecimento. A situação oportunizou à psicologia

social recursos para produções cientificas (Pereira, 2008).

O ano de 1980 é assinalado pela reabertura política que trouxe inquietações e

desconforto diante de duas práticas sociais comunitárias: a saúde mental e educacional. O

momento de crise oportunizou o repensar desta psicologia em relação a seus métodos, práticas

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e especificidades. A demanda exigia uma prática com mais responsabilidade social e menos

individualizante, oficializando a Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso) que

passa a questionar, debater, delimitar e assim, construir uma nova psicologia social com ação

transformadora e crítica, corroborando para a consagração e sistematização da Psicologia

Comunitária (Lane, 1996; Freitas, 1996). As possibilidades se abrem em 1990 quando o

psicólogo vinculado a uma instituição, normalmente pública, é enquadrado em funções e cargos

destinados a prestação de serviços à população e o reconhecimento da profissão de psicólogo

junto aos setores populares. Ao assumir maior contato com as condições de vida da população

brasileira, passa a ser desenvolvida e denominada como psicologia na comunidade passando a

exigir um novo modelo de intervenção (Freitas, 1996), como por exemplo o desenvolvimento

de programas preventivos em comunidades contra o crime de ASI (Brasil, 1999).

Em relação a denúncia, a argumentação vem da psicologia política de Maritza Montero

inerente das práticas transformadoras de Baró, influenciada pela educação popular de Paulo

Freire (Brasil), da Sociologia Militante de Orlando Fals (Colômbia) e da Episteme da Relação

de Enrique Dussel (Argentina). Discute assim, o caráter político dos relacionamentos

comunitários, a psicologia política e sua nova concepção de indivíduo que passa a ser

considerado sempre como sujeito histórico ativo. A base para formular suas propostas

metodológicas é encontrada na Pesquisa Ação Participante ou observação participante, que em

sua nova perspectiva, esta metodologia guardava uma orientação política do fazer investigativo

produzindo a democratização do conhecimento (Costa, 2015).

Enquanto caráter político, Montero expõe o papel da ideologia e da alienação na

formação de intelectos dependentes, desvalorizados, inclusive, incapazes de realizar

autorreflexão e retrata os efeitos que a ação alienante pode trazer para indivíduos e sociedades.

Em 1990, através de um artigo, apresenta três possibilidades para produção acadêmica. A

primeira seria da política inconsciente ou implícita. A segunda, da política consciente ou

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explícita, e, por último, da psicologia política dos fatos políticos ou psicologia política

propriamente dita caracterizada pela consciência do campo, objeto, da necessidade teórica, da

aplicação e construção de métodos e técnicas para aquele campo. Esta última possibilidade,

trata de uma forma de ação ainda em construção, trazendo como orientação a denúncia da

opressão para transformação social. Esta nova Psicologia Política apontava para redefinição

crítica do papel do psicólogo na sociedade, ter como premissa temas e objetivos de libertação

e o enfoque dinâmico e histórico da construção do conhecimento (Costa, 2015; Pereira, 2008).

Com intenção de fortalecer a psicologia social, realizam a delimitação e sistematização

da teoria e da prática incluindo como requisitos a pesquisa ação participante ou observação

participante, o vínculo terapêutico, uma relação dialética grupal que oferece suporte para a

construção de um conhecimento implicado ao seu lugar de produção (psicologia na comunidade

e protagonismo). Ensinam, na prática, que a libertação acontece de fato quando existe um

pensamento crítico que emancipa e oferece independência intelectual. Tal investimento resultou

no reconhecimento da psicologia social na comunidade como área da saúde inserida nas

políticas públicas (Freitas, 1996; Campos, 2017). Habilitado, o mediador (pesquisador) pode

realizar sua leitura de grupo quando observa a interação das mães em formato de grupo, que

podem trazer algumas respostas durante a intervenção revelando dinâmicas e vínculos de

dominação ou com características ideológicas (Costa, 2015; Freitas, 1996; Guareschi, 1996;

Lane, 1996; Pereira, 2008).

Envolvendo o tema da violência, o conhecido autor da “psicologia da libertação” e

pioneiro das concepções críticas da psicologia política, Martin-Baró tinha uma particularidade:

reconhecia o processo que a violência pretendia naturalizar. Sua trajetória acadêmica facilitava

sua leitura social quando se deparava com as desigualdades e as generalizações da violência.

Desta forma, no campo da violação de direitos defendia uma nova epistemologia e práxis

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comprometidas com o lugar de sua produção, que emancipa e liberta (Martins & Lacerda Jr.,

2014).

A dominação possui algumas formas, sendo a mais ampla a econômica que, no caso do

ASI, acontece pela dependência financeira da família (Pedersen & Grossi, 2011). Em seguida,

tem-se a dominação política e cultural. Sua forma política é palpável quando observadas as

relações circulares que envolvem as pessoas, os grupos, o governo e o Estado em práticas não

democráticas, desrespeitando os direitos de todos. Na forma cultural, a análise é mais complexa,

pois, o termo cultura compreende um conjunto de relações entre pessoas ou grupos que se

padronizam e se solidificam. Neste processo, algumas situações culturais, como as relações

assimétricas, passam a ser tratadas e pensadas como se fizessem parte da natureza das pessoas.

Diante de todas essas possibilidades relacionais, Guareschi (1996) enfatiza a atenção para a

dinâmica e constante possibilidade de transformação no grupo.

Assim, em grupos, as relações podem oferecer duas possibilidades: a identificação e a

diferenciação da identidade e ambas oportunizam a manutenção ou a metamorfose.

Exemplificando, se este grupo se deixar agir pela ação do poder, extingue seus princípios de

direitos e deveres iguais negando coletivamente sua identidade. Neste padrão, existe uma

relação, isto é, alguém tem que ocupar um papel para que o outro pratique suas ações

(Guareschi, 1996). A tarefa da psicologia social é conduzir grupo rumo ao seu fortalecimento

e sua autoimagem (Hutz, 2010), utilizando-se da linguagem (diálogo) para construir com a

comunidade as três categorias fundamentais do psiquismo: a atividade, a consciência e a

identidade. Por consequência, é possível realizar uma análise teórico-prática dos avanços das

consciências individuais quando envolvidas no processo interventivo no grupo contra o ASI

(Freitas, 1996).

Em relação a violência familiar já havia sido apresentada como um problema social

grave entre 1960 e 1970 diante do movimento feminista que facilitou a inserção desse tema nas

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políticas públicas. Porém, as crianças e adolescentes ainda não possuíam direitos, eram vistos

como propriedades dos pais. Posteriormente ao período pós-ditadura, entra em vigor a nova

Constituição Federal balizada como Constituição Cidadã (1988). Esta é considerada como

marco de entrada da sociedade brasileira nos Direitos Internacionais da Criança, proclamados

pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1959 como compromisso social (Santos et al.

2010). Promove assim, a alteração do conceito de infância em que a criança passa a ser vista

como sujeito de direitos conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA (Brasil, 1990).

Atualmente, crianças e adolescentes possuem garantias dispostas em leis contra todas

as expressões de violência (Santos et al., 2010) incluindo a Rede de Proteção, criada em 2002,

como apoio programático que conta com a participação de três hospitais referências na cidade

de Curitiba (Curitiba, 2008). Em relação as notificações, mapas e boletins epidemiológicos

(Brasil, 2018) divulgam informações que contribuem para ações em saúde pública. Nos últimos

sete anos houve um aumento significativo de notificações de ASI intrafamiliar apontando como

principal abusador pessoas do sexo masculino e na função paterna (Brasil, 2018). Este avanço

fundamentou a questão social e preventiva do ASI antes associada a preconcepções epidêmicas

e comportamentais do agressor ou da vítima (Ayres et al., 2012).

Com o arcabouço e conceitos apresentados e discutidos pela psicologia social

comunitária, é possível realizar a seguinte leitura perante o crime do ASI: se trata de uma

relação ideológica onde um adulto se utiliza do poder e da dominação com a pretensão de

assegurar um sujeito infanto-juvenil em posição de vulnerabilidade, incluindo seu investimento

para naturalizar o relacionamento assimétrico (Ayres et al., 2012; Brasil, 1999; Guareschi,

1996).

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2 OBJETIVOS

Objetivo geral:

• Desenvolver e avaliar oficinas de prevenção de abuso sexual com mães de

crianças e adolescentes de duas instituições públicas de ensino na cidade de

Curitiba.

Os objetivos específicos dessa pesquisa foram:

• descrever o nível de conhecimento das mães sobre abuso sexual;

• analisar o impacto das oficinas no nível de conhecimento sobre abuso sexual;

• analisar se a classe social e a escolaridade estão relacionadas ao nível de

conhecimento sobre o abuso sexual.

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3 MÉTODO

Este estudo se refere a uma pesquisa com um delineamento quase-experimental. O

delineamento quase experimental tem como objetivo estabelecer relações de causa-efeito. Neste

tipo de delineamento, é comum a utilização de grupos de intervenção e controle para se efetuar

o controle das variáveis. Porém, estes grupos não são agrupados aleatoriamente, mas sim

naturalmente por razões de ordem prática. Sendo assim, neste trabalho, a distribuição da

amostra nos grupos foi feita por conveniência das mães (disponibilidade), tornando a seleção

dos grupos não devidamente controlada. (Baptista, 2018).

3.1 Caracterização das Participantes

Para realizar esta pesquisa foram convidadas todas as mães da creche e do colégio.

Para compor e caracterizar a amostra foram utilizados dois critérios: ser mãe de filhos

matriculados em uma das instituições e a participação de no mínimo 80% dos encontros. Esta

composição incluía algumas mães professoras de ambas as instituições. Desta forma,

participaram da pesquisa 67 mães. O grupo intervenção foi composto por 34 mães e o grupo

controle por 33 mães. A disposição do grupo intervenção aconteceu da seguinte maneira:

20 mães de crianças matriculadas na creche e 14 mães de crianças e adolescentes matriculadas

no Colégio. A disposição do grupo controle aconteceu da seguinte forma: 16 mães de crianças

da Creche e 17 mães de crianças e adolescentes do Colégio. As duas amostras foram formadas

por conveniência. Na creche, a divisão aconteceu pela escolha de turnos, sendo o grupo da tarde

denominado Intervenção e o grupo da manhã denominado grupo Controle. No colégio, na

primeira oficina, após explicação sobre a quantidade de encontros, as mães se dividiram da

seguinte maneira: as que podiam e não podiam participar. As que não podiam participar, se

ofereceram para fazer parte do grupo controle. É importante salientar que ambos os grupos

controle (creche e colégio) optaram por não realizar as oficinas ao final do grupo intervenção.

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Os dados do perfil sócio demográfico dos grupos intervenção e controle foram obtidos

através da aplicação de questionário antes do início das intervenções. Seus resultados estão

sumarizados na Tabela 1, na qual é possível identificar predominância de valores em

determinadas variáveis, a saber: estado civil, idade das mães e quantidade de filhos. No caso de

estado civil, há hegemonia de casadas no grupo de intervenção (21). Considerando que “casada”

e “vive junto” juridicamente tem o mesmo efeito, a predominância ocorre em ambos os grupos

(25 e 22, no grupo intervenção e controle, respectivamente). A média da idade das mães em

ambos os grupos é muito próxima (36 anos no grupo intervenção e 37, no controle), sendo que,

com relação a quantidade de filhos, a média é a mesma (2 filhos). Em relação as demais

variáveis, nota-se que a maioria das mães se considera branca (25 no grupo intervenção e 27,

no controle), é católica ou evangélica (29 no grupo intervenção e 26, no controle) e possui curso

superior completo ou incompleto (23 no grupo intervenção e 20, no controle). De forma

semelhante, em ambos os grupos, a maioria das mães consideram “Muito Importante” os cultos

religiosos (23 no grupo intervenção e 20, no controle). A maioria das mães trabalha (27 em

ambos os grupos) e a sua média salarial é maior no grupo controle (R$ 2.125,14) em relação ao

grupo intervenção (R$ 1.622,06). Por consequência, em relação a classificação de renda, o

grupo intervenção tem sua maioria no extrato C1 (12), enquanto o grupo controle está no B2

(12).

Percebe-se, portanto, que ambos os grupos apresentam similaridades em relação as

seguintes variáveis: idade, quantidade de filhos, estado civil, raça, religião, importância aos

cultos religiosos e grau de instrução. Estes se diferem quanto à faixa salarial e classificação de

renda, sendo o grupo controle, na média, pertencente a uma classe social levemente superior.

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Tabela 1. Diferenças no perfil demográfico entre os grupos no pré-teste.

Variável Intervenção (n = 34)

Controle (n = 33)

Total (67)

Idade 36,2 (9,4) * 37,4 (10,9) * 36,8 (10,1) * Quantidade de Filhos 2,1 (1,2) * 2,0 (1,1) * 2,1 (1,1) * Estado Civil

Solteira 7 (20,6%) 7 (21,2%) 14 (20,9%) Casada 21(61,8%) 15 (45,4%) 36 (53,7%) Vive junto 4 (11,8%) 7 (21,2%) 11 (16,4%) Divorciada 2 (5,8%) 3 (9,1%) 5 (7,5%) Viúva 0 (0,0%) 1 (3,0%) 1 (1,5%)

Você se considera

Branca 25 (73,6%) 27 (81,8%) 52 (77,6%) Negra 1 (2,9%) 1 (3,0%) 2 (3,0%) Amarela 2 (5,8%) 1 (3,0%) 3 (4,5%) Parda 6 (17,7%) 4 (12,2%) 10 (14,9%)

Religião

Católica 12 (35,3%) 11 (33,3%) 23 (34,3%) Evangélica 17 (50,0%) 15 (45,4%) 32 (47,8%) Outras 5 (14,7%) 7 (21,2%) 12 (17,9%)

Importância que dá aos cultos religiosos

Muito importante 23 (67,6%) 20 (60,6%) 43 (64,2%) Importante 8 (23,6%) 13 (39,4%) 21 (31,3%) Sem ou nenhuma importância 3 (8,8%) 0 (0,0%) 3 (4,5%)

Trabalha atualmente 27 (79,4%) 27 (81,8%) 54 (80,6%) Salário atual R$ 1.622,06 (1.239,62) * R$ 2.125,14 (1.656,25) * R$ 1.869,84 (1.470,57) * Alguém mais trabalha? 28 (82,4%) 27 (81,8%) 55 (82,1%) Renda de todos da casa R$ 3.477,24 (2.545,32) * R$ 4.124,27 (3.239,73) * R$ 3.795,93 (2.904,21) * Grau de instrução

Analfabeto/fundamental I incompleto 3 (8,8%) 2 (6,1%) 5 (7,5%) Fundamental I/fundamental II incompleto 4 (11,8%) 3 (9,1%) 7 (10,4%) Fundamental II/Médio incompleto 4 (11,8%) 6 (18,2%) 10 (14,9%) Médio/superior incompleto 9 (26,4%) 9 (27,3%) 18 (26,9%) Superior completo 14 (41,2%) 11 (33,3%) 25 (37,3%)

Classificação ABEP

A 4 (11,8%) 3 (9,1%) 7 (10,4%) B1 4 (11,8%) 3 (9,1%) 7 (10,4%) B2 6 (17,7%) 12 (36,4%) 18 (26,9%) C1 12 (35,3%) 7 (21,2%) 19 (28,4%) C2 8 (23,6%) 6 (18,2%) 14 (20,9%) D-E 0 (0,0%) 2 (6,1%) 2 (3,0%)

* O valor indicado é a média das respostas válidas com o valor do desvio padrão entre parêntesis.

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3.2 Instrumentos

Como instrumento foi elaborado um questionário autoaplicável para avaliar o impacto

deste modelo de intervenção com mães de crianças e adolescentes de duas instituições de ensino

para prevenção primária de ASI (Apêndice 1). O questionário contém 37 questões abertas e

fechadas totalizando 179 itens relativos aos dados sócio demográficos, nível socioeconômico,

conhecimento sobre abuso sexual, canais de informação, rede de apoio, concepções e fatores

relacionados ao abuso, mitos e crenças e sinais indicadores de abuso. O questionário foi

elaborado a partir dos trabalhos do Critério Brasil Abep (2018), Padilha (2007), Collings (1997)

e Brino (2006).

A seguir são apresentadas as dimensões que foram avaliadas no questionário de acordo

com cada questão e as formas de avaliação utilizadas. A questão 31 busca saber onde ir em caso

de abuso; as questões 32 e 33 se referem a concepções e fatores acerca do ASI; a questão 34

acerca de mitos e crenças; a questão 35 se refere aos canais de busca de informação acerca do

ASI; a questão 36 se refere a rede de apoio vigente e a questão 37 que se refere aos sinais e

indicadores de ASI.

As questões 1 a 16 se referem aos dados sócio demográficos, como idade, local de

nascimento e outros não foram utilizados na construção de escalas, mas foram analisadas

separadamente e integradas ao conjunto de análises.

As questões de 17 a 19 se referem ao nível socioeconômico fornecido pelo Critério

Brasil que consideram os seguintes itens de conforto: água utilizada na residência, trecho da

rua com asfalto ou não e o grau de instrução do chefe de família. O questionário é proveniente

da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) na qual a Classificação Econômica

estabelece um padrão para classificar os estratos sociais estimando a renda permanente das

famílias.

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As questões 20 a 30 identificam se a participante sofreu ou conhece alguém que sofreu

abuso sexual na infância, quem foi o agressor, com que idade e quanto tempo durou e o que foi

feito. A questão 31 busca saber se a mãe sabe o lugar que deve procurar no caso de abuso sexual.

Em caso afirmativo, havia a necessidade de escrever o local.

Para as questões 32 e 33 compostas por um total de 58 itens extraídos do Questionário

sobre Concepções Acerca do ASI (questão 32) e do Questionário de Fatores relacionados a

Abuso Sexual (questão 33) ambos desenvolvidos por Padilha (2007). Os temas abordados no

primeiro questionário são: características do abuso, causas, consequências para a criança,

informação para crianças e pais, características do agressor e punição ao agressor. No segundo,

os temas são: comportamentos de autoproteção, reconhecimento da aproximação sexual

inapropriada do adulto, discriminação do risco e resistência a induções (dizer “não”, reagir

rapidamente e contar para alguém). Os itens apresentam uma escala de 1 a 4 (sendo 1 – discordo

totalmente, 2 – discordo em parte, 3 – concordo em parte e 4 – concordo plenamente) e foram

resumidos da seguinte forma: resposta com valor 1 ou 2 foram consideradas como “discordo”

e respostas com valor 3 ou 4 como “concordo”. Na questão 32, considerou-se como desejável,

a resposta “discordo” para os seguintes itens: 1, 2, 4, 5, 7, 11, 14, 15, 22, 24, 25, 33 e 37 e para

as demais, a resposta “concordo”. Para a questão 33, considerou-se como desejável, a resposta

“discordo” para os seguintes itens: 1, 5, 6, 8, 10, 14, 16 e 17 e para as demais, a resposta

“concordo”. Sendo assim, para ambas as questões, fez-se a inversão quando necessário.

A questão 34 é composta por 16 itens que se referem a mitos e crenças sobre abuso

sexual desenvolvido por Collings (1997). Os itens apresentam uma escala de 1 a 5 (sendo 1 –

concordo totalmente, 2 – concordo em parte, 3 – nem concordo nem discordo, 4 – discordo em

parte e 5 – discordo plenamente). Para fins de avaliação, considerou-se como desejável o maior

valor possível assinalado. Após a aplicação do questionário, obteve-se um alpha de 0,83

indicando uma boa confiabilidade.

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A questão 35, desenvolvida pela pesquisadora, se refere a canais de informação, que

busca identificar se a participante ou seus filhos receberam informações, assistiram palestra,

participaram de programa preventivo ou se conversaram com amigas ou profissionais da saúde,

identificando assim se havia algum conhecimento prévio acerca do tema.

A questão 36 (rede de apoio), desenvolvida pela pesquisadora, diz respeito a rede de

apoio, tendo 7 itens que se referem a procedimentos possíveis no caso de abuso sexual. Os itens

apresentam uma escala de 1 a 4, indo de “discordo totalmente” a “concordo totalmente” de

forma semelhante à questão 32 (Padilha, 2007), adotando-se a mesma forma de avaliação,

considerando como desejável, a resposta “discordo” para os seguintes itens: 2, 3 e 6 e a resposta

“concordo” para os demais. Sendo assim, fez-se a inversão quando necessário.

A questão 37 se refere a sinais e indicadores de abuso sexual contendo 35 itens com

resposta em forma de uma escala de 1 a 5, onde quanto maior o seu valor, mais forte este item

corresponde a possibilidade de ocorrência de abuso sexual. A questão foi extraída da tese de

Rachel de Faria Brino (2006) que utilizou o instrumento desenvolvido por Flores, Kristensen,

Toson, Galarraga, Lima, Abreu, Vieira, Both e Paladini (2001). Para a sua avaliação, os sinais

e sintomas contidos na escala são classificados como específicos e inespecíficos. Os específicos

se referem a fortes indicativos de que o abuso sexual possa ter ocorrido ou estar ocorrendo,

enquanto os inespecíficos não indicam necessariamente que o abuso sexual possa ter ocorrido

ou estar ocorrendo. A avaliação é feita em uma escala de 1 a 5, onde quanto maior o seu valor,

mais indicativo de ocorrência de abuso sexual. Para os itens considerados específicos, o valor

é somado. Para os inespecíficos, a diferença para 5 é somada (valor a considerar = 5 – valor

assinalado). Os itens considerados específicos são os itens 1, 2, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 13, 15,

17, 18, 21, 23, 24, 26, 29, 30, 31, 32 e 34. Os itens inespecíficos são os itens 3, 8, 14, 16, 19,

20, 22, 25, 27, 28, 33 e 35 (Brino, 2006). Após a aplicação do questionário, obteve-se um alpha

de 0,981 indicando uma boa confiabilidade (Brino, 2006).

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3.3 Procedimentos

3.3.1 Local

A pesquisa foi realizada em duas instituições públicas de ensino no mesmo bairro na

cidade de Curitiba. Houve necessidade de uma segunda instituição devido ao número

insuficiente de mães participantes. A primeira instituição se denomina Creche, registrada como

Centro de Educacional Infantil X. Esta unidade educacional dispõe de uma responsável e seu

Núcleo Regional de Educação (NRE) é o bairro Boa Vista. Possui convênio com a Prefeitura

Municipal de Curitiba e uma Associação Beneficente como mantenedora.

Trata-se de uma creche particular que funciona como ONG. A instituição possui um

contrato com a prefeitura que paga uma parcela por cada criança matriculada, cabendo aos pais

pagarem um determinado valor X para o período integral, incluindo todas as refeições.

A responsável explica que a merenda escolar enviada pela prefeitura só serve uma refeição, por

isso “enfatiza” a importância da doação recebida. Como são instituição filantrópica, destinam

20% das vagas para famílias carentes.

A creche tem capacidade para atender e contribuir para o desenvolvimento integral de

225 crianças de 4 meses até 5 anos de idade. Funciona de segunda a sexta feira das 8h às 18h,

por meio de práticas educativas que tem como eixos norteadores interações e brincadeiras.

Segundo o senso de 2017, a creche possui infraestrutura que oferece alimentação para os alunos,

água filtrada e de rede pública, energia e esgoto da rede pública, coleta de lixo e acesso à

internet. Possui equipamentos como computadores administrativos, aparelho de DVD, som,

copiadora, impressora, projetor e câmera (foto e vídeo). Suas dependências contam com 11

salas que estão sendo utilizadas, além de berçário, sala da diretoria, de professores e de leitura,

tem 40 funcionários, parque infantil, quadra de esportes coberta além de banheiros adequados,

refeitório, almoxarifado, área verde e lavanderia.

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A segunda instituição de pesquisa foi um Colégio Estadual de Ensino Fundamental e

Médio (EFM) e Educação para Jovens Adultos (EJA). Este é considerado o segundo maior

colégio do Paraná, situado no Bairro Alto em Curitiba. Possui três diretores: duas atuam nos

períodos manhã e tarde e um diretor para o período noturno. As aulas ocorrem pela manhã das

7h 25min às 11h50min, a tarde das 13h10min às 17h35min e à noite das 18h30min às

22h50min. Possui 6915 metros quadrados, com capacidade de 2100 alunos. Em sua estrutura

conta com 20 salas de aulas comuns e uma sala e para orientação. Possui 12 banheiros, ambiente

administrativo, laboratórios de informática e ciências, ginásio com 3 quadras e anfiteatro para

260 pessoas. Conta também com bicicletário e rampa de acessibilidade.

Este colégio possui uma história, seu nome foi uma homenagem da comunidade local a

irmã e educadora de uma Congregação. A escola foi criada em 1999 para atender a demanda

de 5ª a 8ª série da comunidade do Bairro Alto. A comunidade escolar local lutou por meio de

suas entidades organizadas e reinvindicações constantes junto à Promotoria para sua expansão.

Desta forma, com a edificação de um prédio novo garantiu ampliação de salas. Em 2007 se

denomina Colégio ofertando então, aulas em três períodos. Em 2008 iniciaram os cursos EAD,

um convênio com a escola técnica da UFPR. Atende também 60 alunos na modalidade pós

médio e 60 alunos de Celem – Espanhol.

Inicialmente, o planejamento da pesquisa compreendia uma instituição de ensino

denominada creche. A indicação deste local foi de uma líder religiosa a qual a pesquisadora

tem relação. No mês de agosto de 2017, a pesquisadora entrou em contato com a instituição

através da pedagoga marcando a primeira reunião incluindo a direção. Em setembro a

pesquisadora apresentou o Projeto de Pesquisa a ser realizada na creche com as mães,

oferecendo as informações e todo formato da pesquisa. Explicou o anonimato garantido no

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que cada mãe seria convidada a assinar

no primeiro encontro e os benefícios das intervenções. No caso de riscos, a Universidade

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oferecia atendimento psicológico gratuito através de sua equipe de estagiários de psicologia.

A responsável achou o trabalho oportuno por haver muitos casos de ASI na região e, segundo

ela o projeto ofereceria oportunidade de conhecimento para as mães.

Foram discutidos: o conteúdo elaborado para as intervenções, a duração, a forma de

sorteio de brindes e a composição da equipe de pesquisa, a saber: a pesquisadora e três alunas

de graduação em psicologia. Isso foi necessário para garantir a segurança das crianças e permitir

a entrada e saída da creche das alunas auxiliares nos dias estabelecidos da semana. A diretora

solicitou poucos encontros, e se possível, início da manhã ou ao final das aulas. Concordamos

em enviar convites via agenda possibilitando dois horários. Em relação as professoras (mães) e

cuidadoras dentro da creche, a direção achava importante sua participação evidenciando uma

demanda: algumas professoras diante de situações “estranhas” não sabiam o que fazer. Em

relação às mães, solicitou que fossem trabalhado o diálogo mãe-filho explicando quem pode

mexer no corpo delas (crianças). Encerradas as dúvidas, a pedagoga mostrou a sala reservada

para o trabalho que acomodaria confortavelmente umas 70 mães, possuindo a infraestrutura

necessária: cadeiras, aparelho de DVD, telão, brinquedos diversos e uma mesa para lanche.

Em segunda visita, no mês de outubro de 2017, coincidindo com o dia das crianças a

pesquisadora observou que na entrada da creche havia uma cartolina com o telefone do

Conselho Tutelar e uma placa da Prefeitura dizendo: Creche Comunitária X, construída pelo

programa vale creche. Neste dia aconteceu a distribuição de doces referente ao dia das crianças

através de um projeto social. Em fevereiro de 2018, foi assinada na creche a Declaração de

Infraestrutura confirmando a parceria. No dia 21 de março de 2018, o Projeto recebeu a

aprovação do Comitê de Ética de Pesquisa (CEP). Foram enviados os 223 convites (xerox) para

as mães através das agendas escolares das crianças. As intervenções tiveram início dia 02 de

maio de 2018, com a presença de 70 mães com finalização em 06 de junho de 2018.

A necessidade de algumas mães levou a pesquisadora a ampliar as datas de intervenção,

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repetindo o conteúdo das oficinas e aproveitando para que as mães do grupo controle pudessem

entregar seus questionários (faltaram no último encontro – encerramento na creche). Essas

oficinas (repetidas), tiveram início no dia 16 de junho e término no dia 12 de julho de 2018.

Esta etapa enquanto flexibilização desta pesquisadora, marcou o fim das intervenções na creche.

No colégio, a pesquisadora realizou as oficinas sem a presença das as três alunas de

graduação, pois o compromisso delas se referia a primeira instituição. O acesso ao colégio foi

possível através de uma mãe que participou das oficinas na creche e que trabalhava no colégio.

No começo de agosto de 2018, foi marcada uma reunião com a diretora e da mesma forma foi

explicado conteúdo das oficinas, dando ênfase a adolescência (flexibilização). Abordou-se os

objetivos, necessidades, anonimato, apoio psicológico gratuito às mães e sorteio de livros (os

brindes arrecadados haviam sido sorteados na creche). Tendo a diretora concordado com a

realização da pesquisa, combinamos os dias e horários para as oficinas, ambas optamos pelo

período noturno, devido a disponibilidade de sala. Foram enviados 900 convites (impressos na

instituição), distribuídos nos três turnos pelas professoras aos seus alunos. Cada aluno teria a

responsabilidade de entregar o convite a mãe ou a responsável. As intervenções tiveram início

no dia 21 de agosto de 2018 finalizando em 25 de setembro de 2018.

3.3.2 Procedimentos éticos

Primeiramente, em relação a inserção psicólogo na comunidade:

Inserção orientada pelo compromisso de que o trabalho deve possibilitar mudança das condições vividas cotidianamente pela população, ao mesmo tempo em que esta é que estabelece os caminhos e aponta as suas necessidades prementes. As problemáticas para a ação definem-se conjuntamente, construindo-se muitas vezes instrumentais para aquela realidade em questão. Trata-se de uma inserção que se dá na dependência da avaliação da população, comprometendo-se com a possibilidade de mudança social e construção de conhecimento na área (Freitas, 1998).

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Pesquisas no contexto das relações comunitárias de acordo com Freitas (2015),

relacionadas a investigação e intervenção precisam contemplar cuidados éticos compreendidos

em duas perspectivas fundamentais:

1. uma, se a investigação deveria e poderia conduzir a práticas comprometidas com a construção de uma vida mais digna para as pessoas; 2. outra, se a intervenção deveria e poderia contribuir para a produção de conhecimentos que estivessem implicados com a mudança das condições responsáveis pela situação desumana em que as pessoas vivem. (Freitas, 2015, p.249).

Quanto aos desafios éticos, o objetivo de transformação social se deu de forma

comprometida com a realidade social e programática relativo a este grupo de mães (Martins &

Lacerda Jr., 2014).

1. uma, relativa às exigências metodológicas e à produção de conhecimentos que se referem, diretamente, à realidade na qual o pesquisador-trabalhador comunitário atua; 2. outra, relacionada ao que se denomina, aqui, sensibilidade cotidiana e histórica. (Freitas, 2015, p.245).

Procurou-se desta forma, contemplar ambos os desafios éticos, visto que a pesquisa se

referiu a comunidade acadêmica, porém, identificada e desenvolvida para aquela comunidade,

abrindo possibilidades durante as intervenções, utilizando desta forma o modelo de intervenção

psicossocial (Freias, 1996; Pereira, 2008).

3.3.3 Capacitação para professores

Por solicitação da direção do Colégio, a pesquisadora retornou na semana seguinte, no

dia 24 de setembro de 2018, para ministrar através de uma palestra de capacitação direcionada

aos professores, auxiliares e os outros dois diretores. Foi uma hora e meia de explanação geral,

com foco no papel da escola (flexibilização), seguidas de dúvidas dos professores em relação a

diferença do termo abusador e pedófilo. Ao final recebi uma caixa de bombons, abraços e

agradecimentos. Fomos todos tomar o café, tiramos mais fotos com os professores e verdadeiras

“amigas” que contribuíram muito. Saí da escola deixando aberto o campo para trabalhar a

sexualidade com os alunos em 2019.

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3.3.4 Parcerias

• Projeto Chá de Bonecas:

Antes de dar início as intervenções com as mães, a pesquisadora entrou em contato com

o projeto: Chá de Bonecas e Encontro de heróis coordenado por Neide Lunas em Curitiba. Estes

encontros têm como objetivo ensinar crianças e adolescentes (4 a 12 anos) a se proteger do

abuso sexual. As palestras são ministradas em escolas e igrejas de forma gratuita. Lunas utiliza

sarau literário (conta histórias), no qual fala de meninos e meninas sobre como dizer não. Utiliza

também a boneca Coralina como uma menina de grande coração que precisa aprender a deixar

seu coração feliz. Desta experiencia, a pesquisadora trouxe a boneca “Nina” que foi

encomendada ao projeto com algumas adaptações ao trabalho da pesquisadora como duas faces

(feliz e triste), tamanho, altura e corações com S ou N para adesivar durante a oficina. Nina

tinha como função ser a “criança presente” para problematizar uma possível situação de abuso

na infância diante do grupo de mães e para trabalhar o toque bom e mal na quarta sessão.

• Comerciantes do bairro:

A pesquisadora se dirigiu aos comerciantes do bairro que, ao saberem o objetivo do

projeto, doaram diversos itens relativos a mãe e suas crianças.

• Editora/projeto Tartanina:

A pesquisadora entro em contato por email com duas editoras que trabalhavam

conteúdos infantis sobre o tema prevenção de abuso sexual. Recebeu apoio do projeto Tartanina

que doou três livros: dois sobre o Segredo de Tartanina (Silva, Soma & Watarai, 2011) e um

Manual para pais (Silva, Santos, Soma, Prado, Watarai & Fukumori, 2011).

• NUCRIA:

Após contato telefônico o Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente vítimas de

crimes (NUCRIA), foi solicitado apoio através de materiais sobre ASI. O responsável, cedeu

uma caixa cheia de folders e desenhos para colorir referentes a conteúdos educativos sobre ASI

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e sacolas plásticas para separar os materiais de forma individual. O representante do núcleo

deixou aberta a possibilidade de acesso a mais materiais.

• UBS Local:

A pesquisadora contatou a responsável pela Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro

explicando o projeto e solicitando apoio caso necessidade de atendimento ou encaminhamento

de casos.

3.4 Intervenções

Primeiro encontro

Tema: Apresentação geral

Objetivo: Assinatura TCLE e aplicação do questionário.

Quadro 1. Primeira Oficina

Momento Conteúdo

Recepção Pequeno lanche - Identificação das participantes com assinatura na lista de presença com nomes e telefones para contato.

Introdução Apresentação e esclarecimento das atividades e dos encontros. Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Aplicação do questionário de pesquisa para todas as mães. Sorteio e divisão do grupo com o objetivo de criar dois grupos com 30 mães em cada um. Recolher todos os documentos preenchidos. Explicar que, durante o curso acontecerão sorteios de brindes e que ao final do curso haverá entrega de certificado para as que participaram.

Dinâmica de Apresentação

Dentro do intervalo de duas horas observar a possibilidade de aplicação da dinâmica de integração, separando-as em pequenos grupos: Teia de barbantes: A primeira mãe pega o barbante, diz seu nome e outros dados que queira compartilhar. Segura a ponta do barbante e passa para a próxima mãe. Esta também se apresenta e segura uma parte do barbante e passa para a próxima, e assim sucessivamente, até que ao final forme uma teia. Ao final, a pesquisadora amarra um pedaço de barbante com uma caneta bem no meio da rede e coloca uma garrafa ao centro. Juntas, elas terão que colocar a caneta dentro da garrafa. Em seguida, é discutida a importância da teia no trabalho que será desenvolvido.

Desenvolvimento Discussão sobre o que entenderam da dinâmica, isto é, a importância da participação de todas.

Encerramento Marcar o próximo encontro com o grupo intervenção e marcar o encontro final com ambos os grupos, reexplicando o procedimento

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Segundo encontro

Tema: O que é ASI/ atenção aos sinais de abuso infantil

Objetivo: Identificação de tipos de abusos e sintomas na criança/adolescente.

Quadro 2 Segunda Oficina

Momento Conteúdo

Recepção Pequeno lanche - Identificação dos participantes e assinatura na lista de presença.

Introdução Introdução do tema com a utilização da boneca Nina que possui um rosto com duas faces: uma feliz e uma triste.

Dinâmica Discussão em grupos e apresentação de um vídeo

Desenvolvimento Apresentação do tema ASI com apresentação lúdica da boneca Nina para problematização do tema. Nina como uma menina que tem uma história e que gosta de ajudar as pessoas e que acha todas as pessoas legais, como pode sentir raiva? Início da discussão em grupo com base nas 5 perguntas abaixo. Para tal discussão foi solicitado que as mães escrevam nos cartazes as respostas que forem aparecendo e em seguida vamos elaborar o cartaz final com as conclusões das mães. Para elaborar o cartaz final ocorrerá uma divisão em grupos em 5 cada grupo, completando 30 mães. Cada grupo contará com 6 mães que ficarão com uma pergunta para responderem: a) O que é ASI? b) Como o abuso pode acontecer? (tipos de abuso) c) Existe idade para acontecer o abuso? d) Só acontece com meninas? e) Como as crianças ficam sabendo se é certo ou errado? f) Quem pode praticar abuso? g) Onde pode acontecer o abuso? h) Acontece muito isso na sua comunidade?

Apresentação do vídeo: Prevenção e educação contra e exploração e abuso sexual de crianças - https://youtu.be/EhSNX0fv94E Sinopse: No dia 18 de novembro, e por iniciativa do Conselho da Europa, comemora-se pela primeira vez, o dia Europeu para a proteção das crianças contra a exploração sexual e o abuso infantil.

Encerramento Momento aberto para discussão em grupo sobre o que aprenderam com a discussão e com o vídeo. Marcar o próximo encontro.

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Terceiro encontro

Tema: Sexualidade

Objetivo: Como falar de sexualidade com as crianças de diferentes idades sobre a prevenção

do ASI.

Quadro 3. Terceira Oficina

Momento Conteúdo

Recepção Pequeno Lanche - Identificação dos participantes e assinatura na lista de presença.

Introdução Retomar a sessão anterior: Sobre o que falamos na semana passada?

Dinâmica Dinâmica: Utilização de massa de modelar com discussão sobre os órgãos sexuais. Em seguida discussão e apresentação visual do quadro de desenvolvimento sexual conforme as fases da criança.

Desenvolvimento Solicitar que cada uma modele seu órgão genital como quiserem, podendo ser a parte de dentro ou a parte externa do órgão genital. Em seguida, vamos caminhar em filas e olhar os trabalhos feitos. Dá-se início a discussão, o que vocês sabem sobre seu corpo?

a) Qual a função básica deste órgão que você fez? b) Quando se inicia a fase reprodutiva? c) Quais os métodos de contracepção? d) E as Doenças sexualmente transmissíveis, como fazer para

prevenir? Quem te ensinou?

Qual outra função deste órgão que você fez? a) Erótica? Prazer? Masturbação?

Qual outra função deste órgão?

a) Relacional (orientação sexual, abuso sexual (ensinar). Agora que falamos sobre nosso corpo, vamos falar sobre a sexualidade de nossos filhos. Será sugerido ao grupo que se separem da seguinte forma:

• Mães de crianças de 0 a 4 anos; • Mães de crianças de 5 a 12 anos; • Mães de adolescentes.

Em seguida discutirão ainda sobre sexualidade infantil de acordo com cada idade sobre o que elas acham normal e não normal. As mães discutiram no grupo como acham que devem ensinar seus filhos sobre a sexualidade. Como falar com eles sobre a sexualidade? Terminada a discussão, foi elaborarado um cartaz por grupo sobre os comportamentos normal e anormal. Terminada a tarefa, será apresentado ao grupo uma tabela onde a pesquisadora trará de acordo com a literatura o que é esperado em cada fase da criança em sua sexualidade (apêndice). Em seguida, discutiremos se existem diferenças entre o que elas trouxeram e o esperado.

Encerramento Momento aberto para avaliar e discutir sobre o que aprenderam neste dia e confirmar o próximo encontro.

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Quarto encontro

Tema: Segredo, autoproteção e comunicação

Objetivo: Verificar repertório de autoproteção das mães e a importância do diálogo com os

filhos.

Quadro 4. Quarta Oficina

Momento Conteúdo

Recepção Pequeno lanche - Identificação dos participantes e assinatura na lista de presença.

Introdução O que lembram nosso encontro passado?

Dinâmica Técnica dramatizada da história da Rosinha – (Padilha, 2007).

Desenvolvimento Leitura da história da Rosinha 12 anos, mãe 35, irmão 9 anos e tio 40 anos (apêndice). Após a leitura, será solicitado às mães que se separem em grupos de 6 integrantes. Cada grupo irá elaborar um final para a história da Rosinha e irão fazer uma pequena dramatização (encenação) para apresentação. Ao término, segundo repertório trazido, a pesquisadora ou irá questionar “como se pode mudar o destino da Rosinha” ou, usar o grupo com repertório adequado para discussão com todas. Após discussão, utilizaremos cartolina para elaborar uma lista sobre o que a Rosinha precisa saber e fazer para não ser abusada pelo tio? Em seguida, um debate sobre “existe segredo bom e segredo ruim?”

• Como ensinar? • O que pode estar acontecendo para uma criança não contar um

segredo? Utilização da boneca Nina para visualização das partes do corpo. Toque bom, toque mal.

Encerramento Momento aberto para avaliar e discutir sobre o que aprenderam neste dia e confirmação para próximo encontro.

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Quinto encontro

Tema: Consequências, rede de apoio e prevenção

Objetivo: Apresentação da rede de apoio vigente

Quadro 5. Quinta Oficina

Momento Conteúdo

Recepção Pequeno lanche- Identificação dos participantes e assinatura na lista de presença.

Introdução O que vocês lembram da semana passada?

Dinâmica Se o abuso aconteceu? Onde posso ir? _ Apresentação de Vídeo.

Desenvolvimento Questionar as mães sobre a história da Rosinha. _Se o abuso acontece, quais podem ser as consequências para as crianças? Discussão geral e a pesquisadora irá escrever em um cartaz as consequências trazidas. _Se acontecesse a situação de abuso, onde devemos ir? Divisão de 5 grupos e escrever em cartolinas coloridas onde a gente pode ir caso fique sabendo de uma situação de abuso contra crianças? Tem algum número que se possa ligar? Em seguida, serão apresentados dois vídeos:

• 1) Segredo bom, segredo ruim! https://youtu.be/CvQ8QU9MSPU Animação: O Segredo, aprendendo a lidar com a violência sexual. Sinopse: Nara é uma garotinha que sofre violência sexual e não sabe como lidar com esse terrível segredo. Episódio que mostra formas de identificar crianças que estejam sofrendo esse tipo de violência, retratando de que modo elas se expressam e como costumam se sentir. Ano, 2005. País - Coréia do Sul.

• 2) Defenda-se! https://youtu.be/vjwSPkguQxc Sinopse: Identificar quais carinhos são bons e quais são abusivos: todas crianças tem direito de serem amadas e receberem afeto das pessoas com quem convivem, mas é importante que elas aprendam a distinguir quais são saudáveis e quais são abusivas.

Em seguida, uma discussão sobre as consequências que conseguiram observar no vídeo 1 e para onde posso ligar para fazer a denúncia no vídeo 2? Preciso me identificar?

Encerramento Aviso de encerramento no próximo encontro-finalização. Chamada para presença de todas as 60 mães.

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Sexto encontro

Tema: Encerramento/certificado de participação

Objetivo: fechamento com o grupo intervenção e aplicação de questionário em ambos os

grupos.

Quadro 6. Sexta Oficina

Momento Conteúdo

Recepção Lanche de finalização - Identificação dos participantes e assinatura na lista de presença.

Introdução Aplicação do questionário em ambos os grupos: Grupo intervenção e grupo controle

Dinâmica Livre

Desenvolvimento Reaplicação do questionário para ambos os grupos: intervenção e controle. Para finalizar os trabalhos, a pesquisadora irá questionar o grupo:

• Como foi o programa de intervenção? • Como foi participar deste grupo? • Fizeram amizade? • O que ficou para vocês? • Quais as sugestões? • Você achou importante? Gostaram? Indicam este trabalho?

Das coisas que falamos, qual você achou mais importante? Chamada individual com momento: Entrega de certificado para as participantes e desenhos impressos para as crianças pintarem em casa com sorteio de brindes. Agradecimentos!

Encerramento Momento aberto para avaliar e discutir sobre o conteúdo que vão levar para seu dia a dia. Agradecer a ajuda de todas e marcar o início dos trabalhos com o grupo controle.

3.5 Análise de dados

Para atender o objetivo geral enquanto avaliação do processo interventivo, Guareschi

(1996) enfatiza que diante de todas as possibilidades relacionais existe a necessidade de

instrumentos de pesquisa que inclui além de questionários, a observação. O objetivo é que, com

o uso destes instrumentos seja possível a revelação da vida construída nas e pelas relações,

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atentando para a dinâmica e constante possibilidade de transformação do grupo mediante a

apresentação e discussão do referencial teórico dentro das oficinas acerca do ASI numa

proposta educativa, conscientizadora e emancipadora inerente à Psicologia Social Comunitária

(Pereira, 2008).

Para avaliar o impacto das oficinas, fez-se o cálculo dos escores para as questões 31 a

34 e 36 a 37 tanto no pré quanto no pós-teste conforme explicado no item 3.2 (Instrumentos).

Para a avaliação da diferença entre os grupos foi utilizado o teste U de Mann-Withney e para

as diferenças pré e pós foi utilizado o teste de Wilcoxom. Na análise da interferência da classe

social e nível de escolaridade no nível de conhecimento foi utilizado o teste de Kruskall-Wallys.

Os testes foram considerados significativos quando p < 0,05 e as análises foram realizadas no

SPSS 21.0 (IBM, 2012).

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4 DESCRIÇÃO DAS INTERVENÇÕES

Primeiramente, segue um breve resumo das intervenções realizadas em seis encontros

semanais ambas instituições. O primeiro encontro/oficina foi dedicado a apresentação geral

incluindo: a apresentação dos temas, as datas e a duração dos encontros; a separação dos grupos

intervenção e controle; a assinatura dos documentos exigidos para pesquisa com seres humanos

(TCLE) assim como responder aos questionários. A partir do segundo encontro, os trabalhos

foram realizados com o grupo intervenção abordando conceitos de abuso sexual com crianças

e adolescentes. O terceiro encontro teve início com o tema sexualidade trabalhando

primeiramente e mãe e em seguida como seria o repasse dos conteúdos aprendidos para seus

filhos. No quarto encontro, foi improvisada uma dramatização/teatro para verificar o repertório

destas mães. O quinto encontro foi direcionado para discussão das consequências do abuso e a

rede protetiva. No sexto e último encontro, aconteceu a reaplicação do questionário (pós

intervenção em ambos os grupos), avaliação geral dos encontros, encerramento e comemoração

das amizades construídas e das aprendizagens adquiridas.

Os conteúdos citados foram desenvolvidos de forma igual em ambas as instituições

durante as oficinas. As diferenças são de ordem relacional, das necessidades de cada grupo no

contexto da intervenção, relativa a idades dos filhos ou algum interveniente relacionado à

disposição de sala (colégio). As diferenças de ordem relacional ou necessidades de cada grupo

são apresentadas no capítulo 5.1 que se refere a Avaliação de Processo. A partir do momento

em que começaram as oficinas interventivas, os intervalos foram semanais. O período total foi

de 6 semanas para cada instituição, totalizando 12 semanas. Cada encontro tinha duração

aproximada de 2 horas. Na creche o início das intervenções foi dia 02 de maio de 2018 com

finalização em 06 de junho de 2018. A necessidade de algumas mães levou a pesquisadora a

ampliar as datas de intervenção na creche, repetindo o conteúdo das oficinas. A situação

oportunizou a entrega dos questionários das mães do grupo controle que faltaram no último

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encontro – encerramento na creche. Essas oficinas (repetidas), tiveram início no dia 16 de junho

e término no dia 12 de julho de 2018. Esta etapa enquanto flexibilização desta pesquisadora,

marcou o fim das intervenções na creche. No colégio as intervenções tiveram início no dia 21

de agosto de 2018 finalizando em 25 de setembro de 2018. Na creche a pesquisadora tinha

auxílio de três alunas de graduação, no colégio não foi possível este apoio. O grupo controle

manifestou a vontade de não participar das oficinas, somente colaborou respondendo o

questionário no momento pós intervenção (sexta oficina na creche e no colégio).

4.1 Intervenções na Creche

1º Encontro: apresentação geral, TCLE e questionários.

No dia 02 de maio de 2018, meia hora antes da primeira oficina, a pesquisadora teve uma

pequena reunião com as três auxiliares para apresentação e explicação presencial quanto aos

objetivos da pesquisa e os todos os tópicos contemplados durante nossos seis encontros. As

alunas gostaram dos tópicos e da forma como seriam as oficinas com as mães, confirmando

nosso comprometimento. Em seguida, realizamos todos os procedimentos para o início da

intervenção incluindo a preparação dos documentos necessários. A ideia era facilitar os

trabalhos manuais e se dedicar ao contato com as mães. Com tudo organizado a responsável

pela creche veio observar.

As mães começaram a chegar às 15h. Estavam presentes 70 mães dos 115

convites/resposta recebidos via agenda. Na apresentação a diretora estava presente. A

pesquisadora agradeceu a presença de todas e o espaço cedido pela creche, em seguida

apresentou a equipe e a boneca Nina. O segundo passo foi esclarecer o motivo do encontro, e

brevemente como seriam as atividades e temas assim como a programação com as datas dos

encontros. Em seguida explicou, sobre certificados e brindes às mães que estivessem presentes,

participando. Sobre o certificado foi esclarecido que se alguma mãe precisasse, poderia ser feito

um certificado válido para trabalho ou curso.

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Quando se iniciaram os questionamentos e dúvidas, a responsável pela creche se retirou.

Após as explicações, que incluíam a duração das oficinas, a pesquisadora fez uma leitura de

grupo, diante de mães que demonstravam estar bravas, por meio do tom de suas perguntas e e

gestos corporais. Falavam individualmente no grupo, não sendo possível identificar qual mãe

se manifestava.

“Pensamos que era homenagem ao dia das mães!” “não temos tempo para ficar seis semanas!” “Pensamos que seria um dia só, um dia só tudo bem... não dá para fazer um dia inteiro?” “Poderia ser no sábado o dia inteiro... Se tivessem falado antes, eu não viria!” “Eu não tenho tempo, trabalho o dia todo!” “Eu tenho um bebê em casa e não posso vir!” “Vou ver se minha mãe vem para mim?” “Meu marido pode vir no meu lugar? Ele está desempregado agora e poderia vir!” “Esse horário pra mim não dá, eu pego meu filho 17:30h e me atrapalha a tarde!” “Tem como fazer outro horário?” “Pode ser feito no sábado o dia inteiro? ou à noite?” “Podemos trazer os filhos?” “Se for sábado alguém da creche podia cuidar do portão...” “Podia ser domingo?” “domingo eu descanso, domingo curto a família, eu não venho domingo!” Diante destas manifestações espontâneas, a pesquisadora tentou responder as mães que

se posicionaram formulando perguntas. Assim, propôs possível adequação de horários e dias

da semana para os encontros, de acordo com as normas da creche. Explicou que haveriam dois

grupos, um que começaria na semana seguinte chamado intervenção e outro grupo que teria seu

início ao término do primeiro grupo (controle). Enfatizei suas assinaturas na lista de chamada,

como controle interno. Algumas mães solicitaram um certificado de presença para justificar a

falta no trabalho. A pesquisadora respondeu que sim, mas que pedissem novamente ao final da

oficina.

Em seguida, foi explicado e distribuído o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE). Foi possível observar que algumas mães não leram o termo e outras leram atentamente.

Todas assinaram e entregaram para as auxiliares que estavam próximas justamente para pegar

a segunda via do documento. Em seguida, foi solicitado que preenchessem o questionário.

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Expliquei que gostaria de saber o quanto elas já sabiam sobre o ASI antes de começarmos as

oficinas. Afirmei que seus dados pessoais não seriam usados para outros fins e que suas

respostas se tratavam somente de dados, isso estava garantido no termo que haviam assinado.

Os questionários foram distribuídos e surgiram algumas dúvidas que a equipe esclareceu. Uma

das mães solicitou ajuda para preencher o questionário, ela disse que não sabia ler. A auxiliar

T. ficou ao lado desta mãe até que terminassem todas as perguntas. Aguardamos todas

entregarem os questionários, algumas mães reclamaram de sua extensão e da presença

perguntas repetidas. Mas todas entregaram. Enquanto escreviam, algumas se serviram de café

ou suco, alguns biscoitos e balas, que foram oferecidos. Os questionários foram recolhidos e

reservados para posterior organização.

Conforme conteúdo planejado, seria realizado um sorteio, porém, a pesquisadora optou

por solicitar que se sentassem do lado esquerdo mães que queriam começar na próxima semana

no período da tarde e que se sentassem do lado direito as mães que gostariam de participar

depois de cinco semanas na parte da manhã. Uma observação rápida apontava que ambos os

grupos estavam equivalentes numericamente. Assim, foram denominadas grupo do lado

esquerdo: grupo de mães da tarde e as mães do lado direito: grupo de mães da manhã.

Como a equipe tinha os contatos de todas, foi combinado que a comunicação seria por

whats, tanto nossa quanto por parte delas, mas que poderiam ser enviados avisos ou documentos

via agenda de seus filhos. A percepção da pesquisadora sobre o grupo continuava a mesma

diante do padrão comportamental do grupo.

Neste momento de finalização, a equipe seguiu conforme planejado: sorteio brindes para

fechamento do primeiro encontro. Uma das auxiliares fez o sorteio e nesta primeira oficina

foram sorteados 10 brindes aleatórios. Foi um momento agradável. Em seguida aconteceu o

lanche e a despedida. Uma mãe permaneceu, era justamente a primeira a assinar a lista de

presença. Veio compartilhar que gostou muito da ideia de trabalhar o tema, pois havia sofrido

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abuso quando criança e isso a atrapalhou muito. A pesquisadora acolheu essa demanda,

conversou um pouco e lhe contou da possibilidade de ajuda psicológica na universidade. Caso

ela achasse conveniente que seria possível fazer sua indicação. A mãe questionou horários e se

podia levar o filho. Respondi que no caso, ela deveria primeiro esperar o retorno e que então

perguntasse ao psicólogo que lhe atenderia. A mãe agradeceu e nos despedimos.

Reorganizamos a sala, e perguntei para a responsável se poderia deixar as caixas de biscoitos,

copos, guardanapos e sucos dentro da secretaria, para facilitar as semanas. Ela aceitou e mostrou

um espaço disponível. As fichas de chamada e o material para trabalho, incluindo a boneca

Nina ficavam no carro da pesquisadora, sendo trazidos para as oficinas semanalmente. As

auxiliares se despediram e a pesquisadora foi dialogar com a direção da creche que enfatizou:

“Eu te falei que não é fácil, as mães geralmente não aparecem, é muito difícil. Mas vamos lá.”.

Em casa a pesquisadora abriu suas mensagens e se deparou com a solicitação de ajuda oferecida

para aquela mãe, mas pediu segredo, segundo ela ninguém do grupo podia saber pois ela sentia

constrangida, mas que conseguiu me pedir ajuda. Gravou uma mensagem contando que o

preenchimento do questionário reavivou seus pensamentos para uma situação vivida no

passado. Que tinha medo de entrar em depressão, devido ao filho pequeno. Ela o criou com

medo de abuso o tempo todo. Respondi sua mensagem confirmando o entendimento, pedi

desculpas pela sua dor e que em seguida ia entrar em contato com a instituição para ajuda

psicológica. Solicitei seu nome completo e telefone e pedi que aguardasse.

2º Encontro: iniciação do tema, contrato, identificação de tipos de abuso e sintomas.

Na segunda oficina compareceram 10 mães, sendo uma delas a que solicitou

acompanhamento psicológico via whats. As outras 9 participantes perguntaram se poderiam

ficar, pois não puderam vir no primeiro encontro. A pesquisadora informou que poderiam

participar e deu as orientações gerais. A partir deste segundo encontro a pesquisadora utilizou

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slides preparados anteriormente com figuras e mensagens como prévia para discussões em

grupo. Primeiramente a pesquisadora propôs um “contrato de mulheres”. Em todas as oficinas

a pesquisadora se manteve na posição de mediadora e utilizava uma linguagem acessível.

Para iniciar o tema, o primeiro slide apresentava a figura de criança agachada e de

cabeça baixa, a ideia era indicar o sofrimento. O contrato trazia reflexões, fez com que as mães

se olhassem e abaixassem a cabeça. A pesquisadora orientou da possibilidade de se sentirem

“mexidas” diante de cada encontro pois, eram situações que elas poderiam ter vivenciado de

alguma forma, ou algum familiar ou alguma amiga. Caso se sentissem desconfortáveis

comunicassem no grupo ou na saída com a pesquisadora ou com as auxiliares e juntas

pensaríamos no que fazer.

Para problematizar o tema a boneca Nina foi apresentada como a nossa criança. Contei

a história da Nina: A face sorridente contava sua breve história familiar e que como todas as

outras crianças ela gostava de ajudar pessoas. A face triste se volta para as mães contando que

um dia a Nina começou a sentir muita raiva. Mas como ela podia sentir raiva? Como ela podia

se “descomportar”? O que seria se “descomportar”? Houve um silêncio e uma pausa. Nina

permaneceu sentada na cadeirinha das crianças.

Em seguida, foram apresentados os dados estatísticos sobre a incidências, local, tipos

de famílias e quais são as crianças mais vulneráveis. As participantes verbalizaram perplexidade

com os dados apresentados.

“Nossa, bastante!” “Em casa?”.

Algumas demonstraram total desconforto em estar ali, mas seguiram participando.

Falamos sobre a negligência e que ela pode ser vista. Discutimos o grande número de pessoas

que nos relacionamos atualmente e nossas crianças também, incluindo a escola e troca de

fraldas. Algumas mães falaram de sua experiência profissional com criança “assada” ou

machucada no seu ambiente de trabalho e que dava medo de falar com os pais. Contaram que

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muitas vezes não conheciam a mãe da criança. O pai levava e buscava a criança, sendo

observado por ela que algumas crianças voltavam pela manhã com a mesma roupa que haviam

saído no dia anterior. Isso causou discussão entre as mães. Comentei que “ali” todas poderiam

ajudar com seus exemplos e conhecimentos. Discutimos também sobre a sexualidade infantil:

“as crianças precisam de limites?” Algumas mães contaram de brincadeiras das suas crianças.

“Será que é certo?” Todas essas questões foram introduzidas de forma breve para evidenciar o

quanto elas eram importantes no grupo. As mães queriam aprofundar o tema e a pesquisadora

orientava sobre discussão nos próximos encontros. Foi colocado um slide com perguntas

norteadoras, com objetivo de trabalho conjunto, compreender “o que elas sabiam,” e observar

as interações. Foram distribuídas cartolinas coloridas e giz de cera. Como o grupo era pequeno

ficou dividido em dois grupos com 5 mães cada. A orientação era ler, discutir e em grupo

escrever a resposta que achavam mais adequada. A pesquisadora caminhava entre os grupos e

as mães questionavam quem tinha a resposta certa. Elas perguntavam e a pesquisadora no papel

de mediadora retornava a pergunta para todas do grupo, para decisão conjunta. Elas riam e se

voltavam para o grupo. As perguntas norteadoras eram relacionadas ao ASI: Como acontece?

Os sinais, onde pode acontecer e como a criança aprende sobre o certo e o errado? Após cartazes

prontos, a pesquisadora leu e sugeriu que observassem durante a explicação se o que elas

pensavam estava de acordo com a literatura, isto é, com as pesquisas recentes. Discutimos todas

as questões e em meio aos diálogos, duas mães se levantaram e contaram de sua situação

abusiva enquanto crianças. Evidenciaram a identificação de atos que achavam ser “coisa da sua

cabeça”. Disseram se sentir pela primeira vez capazes de falar sobre o abuso que haviam

sofrido. Era possível sentir a emoção e dor presente, mas também um lugar possível de falar

sobre todo aquele sentimento. A pesquisadora se sentiu feliz durante esse processo, pois era

essa também a intenção do contrato: a interação e a confiança no grupo. As mães presentes se

solidarizaram, ouviram, abraçaram e perguntaram como foi e com quem foi, e ofereceram muito

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apoio. Ambas disseram sentir-se livres de um peso escondido. Após abraço grupal e individual,

fizemos o sorteio de 5 brindes e tomamos o nosso café.

A mãe que havia solicitado ajuda psicológica e segredo perante o grupo, foi uma das

que conseguiu relatar sua situação abusiva. Ao final do encontro ela divide que o questionário

havia feito ela lembrar de coisas que estavam guardadas. Contou que a faculdade indicada pela

pesquisadora ligou uma vez e que nunca mais ligou. Pedi a ela que entrasse novamente em

contato. Permanecemos assim e nos despedimos. Abaixo depoimento enviado via whats pela

mãe P.

“ Vou te mandar um depoimento , ai ao vc arruma pra postar no grupo e pode acrescentar o q vc achar pertinente para grupo”. Aos 4 anos mais ou menos, nem entendia direito me tornei vítima do meu avô materno. Os abusos aconteciam dentro de casa, enquanto minha avó e mãe estavam envolvidas com os afazeres domésticos. Ele me sentava no colo dele acariciava nas partes íntimas. Com medo de dizer não e por ele falar q não poderia contar pq iriam brigar comigo pq era segredo é segredo não se conta, tinha q aceitar mesmo não gostando e me sentindo mal por aquilo, atendia aos seus pedidos. Ele nem se envergonhava. Como defesa, me fazia acreditar que aquilo era um carinho normal. Foram muito tempo assim de abusos, que me transformaram em uma adolescente cheia de problemas sempre com vontade de morrer e achando q eu era pior pessoa do mundo. Entrei em depressão, tentei me matar diversas vezes. Por muitos anos, culpei a minha mãe por não ter percebido nada. ‘Por que não me protegeu, pq não cuidaram de mim, eu era apenas uma criança eu me perguntava. Mas no fundo, a culpa era de uma só pessoa: dele. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, era muito pequena e cheguei a pensar que era responsável por aquela violência. Vivo à sombra deste fantasma até hoje. Só consegui me abrir sobre o assunto com mais de 30 anos, sempre num sofrimento em silêncio. Para poupar minha mãe, nunca contei nada a ela. Hoje, tenho 41 anos e ainda choro toda vez que lembro de tudo. Acho que se eu tivesse passado por um acompanhamento diferente quando criança, se tivesse pais preparados para saber os sinais não teria sofrido tanto e sozinha, não teria me sujeitado a muitos abusos. Infelizmente esse não foi único.

Hoje em dia vivo melhor, mas cresci amedrontada, com baixa estima, me sujeitava a tudo apenas pra ter carinho, mas isso me custou muitas humilhações, pior q eu achava q era assim mesmo. Muitas incógnitas na minha cabeça, tinha um vazio uma tristeza na alma q doía, q muitas vezes so passava qdo bebia até desmaiar, a dor era tanta mas tanta q único q queria era morrer, aí eu ia tentar me matar, não tinha outra saída a não ser essa. Era uma vida infeliz, por muito tempo vivia como se fosse a palhaça da corte, assim era aceita pelas pessoas, mas nao por mim, qdo eu estava sozinha tinha medo das pessoas, não conseguia sair desacompanhada, tinha um medo fora do normal. Isso me rendeu fazer xixi na cama por muito tempo, q por vez eu cheirava xixi, imagina como era escurracada na escola pelos colegas. Muita tristeza...

Depois de adulta, além de ter relações com pessoas problemáticas, como se eu tivesse obrigações cuidar, acredito eu q era o q eu queria q fizessem comigo.

Me tornei uma pessoa depressiva, fui internada por duas vezes em hospital psiquiátrico por depressão profunda. Costumava dizer q eu era uma morta viva, sem vontade de nada e quase isolada da sociedade.”(sic).

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3º Encontro: sexualidade

Neste dia compareceram 11 mães. Após assinatura de presença, foi realizada uma breve

retrospectiva em grupo do encontro anterior. Em seguida a pesquisadora pegou uma caixa de

massa de modelar e disse que “queria ver as artes delas”. Foram distribuídas massas de modelar

e dito que trabalharíamos com “arte” naquela oficina: A consigna era a seguinte: Peguem a cor

que quiserem, podem misturar as cores, para fazer a sua vagina. Pode ser por dentro ou por fora,

mas é um trabalho individual. Cada uma faz a sua. Brinquei: “Não fiquem olhando as outras.”

Neste encontro, uma das participantes trouxe sua filha de 20 anos, que ficou encabulada, mas

fez sua “obra de arte”. Ela ficava encolhida, atrás de sua mãe, cabelo comprido, ombro

rebaixado. Eu disse que ao final iria ver todas as obras e que elas poderiam ver as obras das

outras. Elas começaram pegar as massinhas, meio que com medo, com delicadeza, olhando para

as cores. Algumas fizeram de uma cor só, outras usaram três cores. Elas sorriam entre si,

comentavam: nossa, mas como é fazer isso? Umas disseram que não tinha jeito para arte.

Complementei dizendo que o importante era participar e aprender, não a sua perfeição. Todas

fizeram: algumas foram vaginas pequenas e outras enormes. Todas caminharam olhando as

vaginas, sorrisos e comparações. “Olha essa, que grande”. As que usaram cores foram

convidadas para explicar cada parte da sua vagina segundo a cor. Colocaram todas as vaginas

em uma mesinha e foram feitas fotografias. Terminada as observações em grupo, foi feito uma

roda de conversa com um slide ao fundo com uma vagina com todas as partes deste órgão. Foi

questionado se faltava alguma parte da vagina no trabalho delas. Todas observaram e duas

disseram faltar o clitóris e riram novamente. Discutimos sobre a da função básica do órgão

sexual, sua fase reprodutiva e sinal. Métodos contraceptivos, doenças transmissíveis, como

prevenir? Discutimos as outras funções do seu órgão sexual, sobre a diferença entre uretra e

vagina. Diante de olhares a pesquisadora interviu: “para que serve cada coisa, a gente as vezes

não sabe né?”. Rimos. O prazer sexual foi um fator que a pesquisadora teve que chamar atenção,

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mas não aprofundamos neste momento. Após discussão, com a figura ainda na tela, apontei

todas as partes da vagina falando seu devido nome. Em seguida questionei as mães: Como

utilizar o que já sabemos até agora com nossos filhos pequenos e adolescentes? Vieram à tona

a idades de casamentos, roupas de núpcias daquela época, suas avós, gravidez antes do

casamento, regras, sexo proibido “que era mais prazeroso”, riram. Nós enquanto filhas e o

jovem de hoje, as informações que chegam rápido e nem sempre corretas, como fazer se as

relações mudaram? A pesquisadora questionou as mães sobre: Nossos filhos hoje fazem sexo?

Discutimos a importância da comunicação aqui e os papéis dos pais. A maioria das mães

compreendeu, mas duas mães não concordaram, diziam: “na nossa igreja o sexo é para depois

do casamento”. Discutimos sobre esta realidade da qual não podemos fugir: os filhos vivem em

grupos. “Pois é”, disseram. O próximo tópico foi a sexualidade infantil e adolescente. Pedi que

formassem dois grupos de mães: Mães de crianças e mães de adolescentes. As questões

norteadoras foram sobre se a criança ou adolescente: toca ou esfrega os genitais? Explora

diferenças? Curiosidade de ver pessoas nuas? Faz perguntas sobre diferenças sexuais? Tem

ereções? Quer privacidade? Piadas? Beijos na boca? Foi solicitado que escrevessem em uma

cartolina tudo o que pensassem a respeito de cada questão proposta. Discutiam e escreviam a

resposta que achavam a certa de acordo com a idade da criança. Tinham que pensar sobre as

diferenças. A reflexão era sobre o que era natural e esperado, gera preocupação e quando devo

procurar ajuda. As participantes se questionaram, falaram, davam exemplos de seus filhos com

idade diferentes e sobre o falar conforme sua idade. Surgiu um incômodo, uma grande

preocupação em como tocar a criança? Tudo parece abuso! Enfatizei que isto era um

conhecimento adquirido, não que isso aconteça a todo momento. Foi discutido como lidar com

a masturbação nas diferentes idades e como explicar para criança sobre e onde se pode fazer

isso. Elas perguntavam:

“Como fazer para falar?” “Como agir?”“Brigo?”

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Para trabalhar esta questão, foi solicitado que uma mãe interpretasse o papel de uma

criança que estava acariciando os órgãos genitais e foi demonstrado às participantes que é

possível reagir desviando o foco, ofertando outra coisa para distração, um livro ou uma

brincadeira. Mudar o foco da criança sobre aquilo sem gritar ou brigar. Mas, se por várias vezes

a mãe tentar fazer este movimento propondo esta troca e a criança não cessar, aí sim, existiria

a preocupação para procurar um profissional para a criança. Com essa preocupação relativa a

toques, para aprofundar a explicação a pesquisadora pegou a Nina e mostrou no corpinho dela

o que seria um bom toque ou um mal toque colando corações com a letra S ou N (sim ou não)

nas partes do corpo de Nina. Este auxílio visual chamou a atenção das mães, era assim que elas

podiam fazer com os pequenos, mostrando suas partes do corpo que era só delas. Em seguida,

foram apresentados slides com comparações de comportamentos esperados para crianças e para

adolescentes. Em virtude de ser um quadro muito extenso para ser trabalhados todos os

aspectos, foram abordadas as questões mais relevantes, e contratado com as participantes o

envio do quadro para o whatsapp ou email delas para que tivessem acesso a todo este material.

Durante este encontro uma participante relatou ter vivenciado uma tentativa de abuso, mas que

conseguiu fugir e comunicar a sua mãe. O grupo discutiu a importância de ensinar os filhos.

Foi realizado encerramento da oficina com distribuição de brindes, um café e agendamento do

encontro da próxima semana. Refletindo sobre o tema trabalhado e pesquisadora teve a ideia

de solicitar doações de livros que tratassem sobre o assunto que auxiliassem essas mães.

Questionei a orientadora que sugeriu tentar. O retorno foi positivo.

4º Encontro: segredo, autoproteção e comunicação

Conforme acordo, esta oficina teve início às 17h com oito mães. Neste encontro as

auxiliares decidiram colaborar e trouxeram um bolo confeitado, salgadinhos e doces.

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Os livros cedidos já estavam com a pesquisadora e havia outros livros pertinentes que

faziam parte da literatura da pesquisadora. Neste encontro a pesquisadora mostrou a literatura

disponível. Explicando quais seriam os sorteados. As mães olharam todos e gostaram. Comentei

que se não ganhassem, eu poderia indicar a livraria X. Em seguida, voltando ao cronograma,

foi proposta a leitura da História da Rosinha e que neste encontro seria feito um teatro. Leu-se

a história pausadamente e em voz alta. As mães demonstraram curiosidade a respeito da

história. No slide havia algumas bonecas como pano de fundo. Os personagens da história eram:

Rosinha 12 anos, pai e mãe de 35 anos, irmão de 9 anos e o tio de 40 anos. Eram 8 mães

divididas em dois grupos. A dramatização foi proposta e elas disseram que tinha 5 integrantes

na história. A pesquisadora respondeu questionando: como fazer? Elas improvisaram. Foi

interessante, o papel do pai esteve ausente. A consigna era: O que a Rosinha precisa saber e

fazer para não ser abusada pelo tio? Ambas dramatizações causaram emoção a quem assistia,

sendo possível ver a dinâmica delas enquanto postura do grupo, elas discutiram e decidiram um

final. No primeiro grupo Rosinha realmente sofreria o abuso pelo tio, o segundo grupo

conseguiu mudar a história da Rosinha proporcionando comunicação mãe e filha. Ambos os

grupos se olharam, afinal mudaram a perspectiva do final. A encenação proporcionou a vivência

do tema e discutimos a vida da Rosinha enquanto adolescente: o ensinar a criança conforme sua

idade, o abuso intrafamiliar, como era aquela família? pessoa confiável e o confiar na criança.

Como ser a pessoa confiável? E como ser a mãe confiável? Em seguida foi mostrado um vídeo

chamado: O segredo. Este vídeo despertou mais emoção nas mães que não tiravam o olho da

tela. Algumas choraram, outras ficaram paralisadas e outras seguraram o choro. A trama trazia

a dor de uma criança em forma de diálogo interno que estava sofrendo abuso e que precisava

guardar o segredo, pois para ela era sua culpa. As formas utilizadas para guardar o segredo, que

ao mesmo tempo queria ser contado através de dores no corpo, notas baixas na escola, o

isolamento, um medo constante. O abusador era um tio que morava no sótão, seu caminhar

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fazia tremer o corpo da menina incluindo o fato deste tio ser amigo dos pais: “sendo amigo

causava preocupação?” Novas reflexões em grupo, mas não conseguiram falar. Respiramos em

conjunto. Discutimos um pouco sobre o vídeo e novamente aconteceram relatos pessoais de

identificação junto com o conteúdo que já apreendido. Este vídeo foi enviado às mães que

faltaram a este encontro. Ao final, um slide relembra o que foi discutido: comunicação, segredo

bom e ruim, mentiras e autoproteção. Perguntei se havia alguma dúvida, se fez um silêncio. Foi

enfatizada a finalidade do quinto encontro, em que seria discutido como realizar a denúncia,

uma dúvida que já havia sido apresentada em encontros anteriores. Tomamos nosso café e

realizamos o sorteio. Aproveitamos para discutir a possibilidade de um lanche comunitário no

sexto e último encontro. Nos despedimos. As mães comentaram que: “foi muito bom! Uma pena

as mães perderem esse conteúdo.”

5º Encontro: Consequências, rede de apoio e prevenção

Neste encontro acolhemos uma nova integrante, uma mãe/avó solicitou participar da

oficina em virtude de estar entrando na justiça pela guarda de sua neta. Segundo ela, a criança

estava sendo abusada pelo pai, ambos os pais eram usuários de drogas. Ela veio buscar auxílio

sobre o que fazer com isso. Foi realizada a sua inscrição e documentação. Desta vez a

pesquisadora solicitou que o questionário fosse respondido em casa, sendo entregue na semana

seguinte. Ela foi convidada a participar do grupo controle que começaria na semana seguinte.

Foi dado início às atividades falando sobre as consequências do abuso, aproveitando a história

da Rosinha e o vídeo segredo bom e ruim que haviam sido trabalhos na semana anterior. Assim,

discutimos os sinais indicativos de abuso: transtornos, condutas desafiadoras (adolescente

rebelde), depressão, uso de drogas, tabagismo, alcoolismo, automutilação “escondidas” como

por exemplo, usar blusa de gola alta e manga comprida em dia de muito calor. Abordado a

necessidade de atenção para os sinais, sendo que uma das participantes ficou preocupada em

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saber se todo adolescente mal-educado e que batia nas pessoas de casa era porque estava

sofrendo abuso. A pesquisadora deu orientações a este respeito e informou que cada caso é um

caso, mas que algumas vezes a rebeldia é um sinal de que algo está acontecendo. Seria

necessária uma avaliação. Ao abordar a temática da revitimização quando adultas, algumas

participantes perguntaram:

“Como isso acontece?” “Por que?”

Foram dadas orientações a respeito e algumas trouxeram experiências vividas em

relacionamentos abusivos que tiveram no passado, mas que agora conseguiram perceber. Em

seguida, a pesquisadora entrou no tema a rede de apoio com as perguntas básicas: “se o abuso

acontecer o que eu devo fazer? Ir ao médico? Notificar onde? O que a escola pode fazer? Existe

número para ligar? Foi proposto discussão em grupo, debates e apresentação de respostas. O

que chamou bastante a atenção das mães foi quando expliquei que a creche não deve a chamar

a família. No lugar, a creche deve chamar o conselho tutelar, ou ligar para o disque 100 e receber

orientações. Elas acreditavam que a creche poderia chamar os pais se observassem algo

estranho na criança ou se a mãe pedisse para creche resolver a questão. Abordamos o aspecto

da rede de proteção e da participação de cada um nesta rede: a escola, o posto de saúde e o

hospital, todos podem notificar um abuso. Foi informado e explicado sobre os três hospitais de

referência para situações de abuso com a criança ou adolescente. Foi oferecida inclusive uma

breve explicação a respeito do papel do Conselho Tutelar dentro desta rede protetiva, e do

Nucria enquanto delegacia da infância e juventude que tem como diferencial um profissional

de Psicologia para atender as crianças. As participantes acreditavam que poderiam ir a qualquer

delegacia. Foi apresentado vídeo falando do disque 100 enquanto ligação anônima. E por fim,

foi falado a respeito do Ministério Público que é um órgão fiscalizador que elas podem recorrer

no caso de não serem atendidas em seus direitos. A nova integrante estava interessada nestes

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aspectos legais, pois estava enfrentando uma situação muito complicada. Isso foi enfatizado no

grupo, com conhecimento acerca de direitos e deveres é possível fazer cumprir a lei. As mães

afirmaram sentir-se bem melhor em termos do que fazer. Uma revisão geral foi proposta,

seguida de sorteio de brindes e café. Nos três encontros que se iniciaram 17h as crianças saíam

de suas salas e vinham pegar biscoito e pirulitos para ir embora com as mães.

6º Encontro: Encerramento

Para as participantes presentes foi falado brevemente sobre todos os conteúdos

comtemplados nas oficinas e conforme combinado que preenchessem novamente o

questionário. Em seguida foi solicitado que elas fizessem uma avaliação escrita do programa

das oficinas. Foram entregues folhas de papel para que cada uma fizesse sua contribuição. Não

precisava colocar o nome. Foi questionado se fizeram amizades (neste momento algumas

olharam e pegaram na mão da outra), como foi participar do grupo, sugestões, importância da

oficina, se indicavam o trabalho e o assunto mais importante para elas. A pesquisadora guardou

as respostas em um envelope. Disseram ter feito amizades, gostaram de participar daquele

grupo, que o assunto era muito importante, que queriam mais encontros e que indicariam sim.

Foi realizado o último sorteio de brindes, foram entregues certificados de participação e

finalizado o programa de intervenção.

Havia sido combinado no primeiro encontro que tanto as participantes do grupo

intervenção, quanto as participantes do grupo controle deveriam comparecer a este encontro

para responderem à segunda aplicação do questionário. Entretanto as participantes do grupo

Controle não compareceram. Isso gerou um grande problema, visto que as férias escolares iriam

começar. Foi necessário a realização de inúmeros contatos via Whats ou ligação telefônica para

que elas comparecessem em outra data ou que a pesquisadora levasse o questionário na sua

residência. Algumas não queriam responder novamente, explicando sua falta de tempo, me

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mudei, arrumei um emprego, estuda e não tem tempo e porque o questionário era grande. Outra

forma foi deixar alguns questionários aos cuidados da direção da creche, na sequência a

pesquisadora se dirigia a creche para pegar os questionários respondidos.

Após o último encontro, que ocorreu no dia 06 de junho, a pesquisadora deu

continuidade as oficinas com algumas mães que foram somente no primeiro encontro, outras

que souberam depois, outras que vieram indicadas por alguma professora da creche, inclusive

a participação de algumas professoras para obter certificado para horas complementares. Para

isso, a pesquisadora contou com o apoio da diretora da creche em várias situações: primeiro

avisando por whats quando do retorno dos questionários solicitados anteriormente para as mães

do grupo Controle; segundo deixando o espaço anteriormente reservado para dois períodos na

semana, incluindo dois sábados. Aos sábados a diretora abria o portão e retornava ao término

das oficinas quando a pesquisadora chamava por whats. Como o portão não podia ficar aberto

sem alguém cuidando e a creche não tinha como pagar horas extras para as funcionárias, a

pesquisadora levou alguns familiares para ficarem no portão recebendo mães que se atrasavam.

Esse processo aconteceu até o dia 14 de julho, data limite para creche entrar de férias. Esta

continuidade possibilitou ajuda para a mãe C que havia participado somente do primeiro

encontro. Com esta extensão e remanejamento dos dias e horários do curso, ela pôde participar.

No dia 11 de julho, C se comunicou por whats. A pesquisadora ofereceu ajuda psicológica,

porém, devido as férias, o início da ajuda psicológica seria possível somente no início de agosto.

Ela disse que sim, mas em seguida conseguiu emprego. A pesquisadora recebeu essa mensagem

da mãe C:

“Bom dia . ENTAO SOBRE OQUE EU QUERIA FALAR COM VC MEU PAI ABUSAVA DE MIM QUANDO EU ERA CRIANÇA TENHO 5 IRMÃO HOMENS E SÓ EU DE MULHER . SÓ FUI ENTENDER ISSO DEPOIS QUE COMPLETEI 9 ANOS .E nunca mais quis sair com ele e me afastei . SÓ QUE EU NÃO LEMBRO QUASE NADA DA MINHA VIDA ANTES DOS SETE ANOS Agora ele é falecido E não consigo sentir falta dele

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Minha família acha que eu não tenho CORAÇÃO. Minha mãe não sabe disso E não tenho coragem de falar. Tentei tocar no assunto.mas ele sempre falava que meu pai nunca nem viu Minha piriquita . E eu hj em dia ficou com receio de tudo Agora que ele morreu me sinto aliviada Deus que me perdoe mas é o que sinto Até mesmo pelas netas Eu me afastei deles quando vim embora tinha 15 anos hoje tenho 30 e só fui ver MINJA mãe 2 vezes até hj Eu fui morar com uma moça quando fiz nove anos aí entendi que o que ele fazia era errado Mas não demorou muito eles foram me buscar E toda vez que ele se aproximava eu dizia que ia falar pra minha mãe ele parou Eu queria falar com vc pessoalmente sobre isso.mas não na creche Porque não consigo falar Meu marido tbm não sabe disso é nem quero falar Porque tenho vergonha Só tem uma amiga q sabe disso Mas obrigada Graças a vc consegui conversar com meu marido e ele entendeu porque eu não queria nem ir no enterro do meu pai Porque até então achavam que era porque eu não tenho sentimento Agradeço muito mesmo”. (sic).

4.2 Intervenções no Colégio

1º Encontro: apresentação geral, TCLE e questionários

Conforme convite enviado para as participantes, foram realizadas duas oficinas no

mesmo dia da semana. O início das oficinas foi dia 21 de agosto de 2018, sendo um grupo às

16:00 e a outro às 19:00 horas. Haviam sido enviados 900 convites, destes, somente 40 foram

devolvidos e 31 mães participaram da primeira oficina. Os encontros seriam realizados em salas

de aula contendo diversas carteiras enfileiradas. A televisão e o computador eram trancados

com chave. A pedido da diretora o responsável pelos aparelhos estava sempre de prontidão com

sorriso no rosto incluindo a moça do café. O colégio contava com uma cozinha grande, onde

eram feitos lanches a todos os alunos, inclusive os do período noturno. A pesquisadora

trabalhou sozinha, assim, organizou o material sistematicamente. As cadeiras não puderam ser

colocadas em círculo. Era muito trabalho, pois ao final da oficina, tudo tinha que estar no

mesmo lugar para a aula no dia seguinte. As mães das 16h foram chegando, assinando a lista

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de presença e juntamente era explicado o TCLE com a entrega do questionário. Era um grupo

misto, mães de alunos, algumas professoras e algumas auxiliares de limpeza. Me apresentei

para o grupo, agradecendo a presença de todas. Expliquei a necessidade do questionário antes

e depois, do certificado e do meu contato via whats. Iniciei apresentado slides sobre o conteúdo

de cada semana; as datas dos próximos 5 encontros e da divisão dos grupos: intervenção e

controle. Não pude falar sobre os brindes, todos já haviam sido sorteados na creche. Mas tinha

como opção os três livros da editora, e um livro infantil doado por uma livraria. Após explicação

do programa, algumas professoras e auxiliares de limpeza desistiram de participar. Porém,

disseram que iriam colaborar como grupo controle. Desta forma não foi realizado sorteio, elas

mesmas se dividiram tranquilamente. Dei início as oficinas com o contrato entre mulheres,

mães e professoras de forma similar ao da creche, porém, era um grupo de mães com filhos

adolescentes. Falamos do contrato, das situações que poderiam aparecer ou retornar, as dores

disso e do apoio de todas com respeito mútuo. Foi oferecido acompanhamento psicológico na

Universidade. O contrato trazia reflexões, falamos da possibilidade de algumas terem passado

por situações abusivas, ou algum familiar ou alguma amiga. Apresentei a boneca Nina com sua

história de menina feliz para menina “desobediente e brava”. Começamos a discutir os dados

estatísticos no Brasil onde denúncias são em sua maioria ASI. Sobre a negligência como porta

de entrada para violência. Uma das mães contou sobre uma vizinha. Falamos sobre o número

de pessoas que nos relacionamos hoje em dia, sobre os direitos e apresentadas algumas

preocupações diante dos muitos amigos para se relacionar. Puderam entender que todo

conhecimento podia auxiliar no trabalho, em casa, na família ampla, e mudar crenças por meio

de atualidades. Sobre a revitimização perguntaram como isso aconteceria numa relação. A

sexualidade neste grupo foi mais enfatizada enquanto pré-adolescentes e adolescentes com o

objetivo de maior comunicação com os filhos jovens. Todas essas questões foram discutidas

brevemente para dar o início na semana seguinte. Tomamos um café, as mães fizeram uma roda

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de conversa, queriam falar mais. A pesquisadora teve que se despedir, estas mães eram bem

receptivas. Em seguida nos despedimos, com até semana que vem.

Às 19h iniciou o encontro com o segundo grupo. Foram realizadas as mesmas ações que

com o grupo do primeiro horário. Neste grupo noturno tínhamos uma mãe deficiente física que

aproveitou a oportunidade pedindo ao filho de 12 anos que a esperasse enquanto brincava no

colégio para irem para casa juntos. Havia também uma mãe com mais idade que de forma

equivalente pedia para que o filho a aguardasse para irem para casa juntos. Neste grupo o lidar

com histórias mexeu com as participantes e a mãe mais madura começou a contar sua história

de quando ela era pequena, que era nordestina, contou sobre seus relacionamentos e que só

engravidada a cada 12 anos. Todas riram, acharam muito bom e que ela era privilegiada. Duas

mães se mostravam cansadas. Uma delas pouco falava, se mexia lentamente e se mostrava

estagnada. A outra era evangélica, e no início se posicionou religiosamente. Neste momento a

pesquisadora explicou que compreendia o ponto de vista religioso desta mãe, mas que existiam

diferenças, por isso não íamos discutir religião. Ela passou uns minutos em silencio. Outra mãe

também evangélica, de uns 20 anos, disse que viu o trabalho com oportunidade para as irmãs

da igreja e que iria convidar essas irmãs. Encerramos o primeiro encontro, tomamos um café

com a mãe mais velha falando que cozinhava muita coisa boa.

2º Encontro: Iniciando o tema, identificação de tipos de abuso e sintomas

Neste encontro (16h), após assinaturas, a pesquisadora apresentou algumas perguntas

no slide e distribuiu cartolinas coloridas solicitando que o grupo se dividisse em dois grupos.

Um com 5 participantes e outro com 4. Utilizando giz de cera, após lerem as questões, discutiam

em grupo e uma escrevia no cartaz. Elas liam alto, mas não perguntavam nada para

pesquisadora. As perguntas norteadoras eram relacionadas ao ASI, como acontece? Os sinais,

onde pode acontecer e como a criança aprende sobre o certo e o errado? Após cartazes prontos,

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a pesquisadora começou a explicação com dados científicos. Mas antes leu novamente as

questões para discussão geral. O conceito de abuso foi ampliado nesta discussão, achavam que

toques não era considerado abuso e surgiu a preocupação enquanto pai abusador ou padrasto.

Na parte sobre o abuso na comunidade uma das mães também professora disse que ela via pouca

situação na comunidade, mas que tinham muitas notícias. Sobre ensinar, algumas achavam que

a escola podia fazer este papel, com filho adolescente é mais difícil diziam as mães. A

professora R. deu seu depoimento dizendo que quando trabalha o corpo humano ela fica aberta

para qualquer questão sobre isso. Contou inclusive que dava aula para uma adolescente que era

abusada pelo pai fazia dois anos. Quando a professora oportunizou a aluna conseguiu contar.

Ela disse que não sabia o que fazer com isso em mãos e na época junto com coordenadores e

pedagogos decidiram chamar os pais, a menina “sumiu” da escola e eles se mudaram. Disse

que hoje entende o grande erro cometido. Um clima tenso surgiu, acalmei as mães e professoras

dizendo que falaríamos sobre tudo, inclusive sobre o papel da escola. Terminamos a dinâmica

e fomos para o chá e marcamos o próximo encontro.

O grupo das 19:00 horas tinha duas mães um pouco mais difíceis de lidar. A mãe

evangélica faltou. Senti a falta dela. Discutimos todo conteúdo igual ao das 16h. As percepções

eram parecidas. Mas em relação a idade para o abuso elas ficaram perplexas quando falei que

bebês também poderiam ser abusados. Tomamos chá e fizemos uma roda de conversa. A mãe

mais velha falava bastante, não deixava silêncio. Isso era interessante. Ela sempre trazia que na

sua época não era assim, a mãe dava a ordem e pronto! Suas opiniões eram fixas, não havia

possibilidade de mudar o que ela pensava. Foram embora e todo esquema de saída da sala foi

realizado, entregando ao final a chave para a recepção.

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3º Encontro: Sexualidade

Primeiro grupo: 16h. Desta vez me ofereceram outra sala, porém sem telão e os slides

forma projetados no quadro verde. Avisei em seguida as mães via whats. As mães já tinham um

ritmo, chegavam, sentavam e eu passava a lista de chamada. Uma das professoras trocava os

horários algumas vezes, mas avisava sempre. Coloquei no quadro a proposta de trabalho, antes

avaliamos o que ficou da semana passada. No slide mostrei uma rosa bem aberta sem cor e

perguntei a elas o que significava: a maioria acertou a ideia do tema: o órgão sexual feminino.

Começamos as artes. Neste grupo, as mães pegavam massinhas de várias cores e se divertiam

enquanto fazia as vaginas, sorriam o tempo todo, olhavam para o lado, falavam que sua vagina

estava feia, que estava grande. A professora R. era a que mais fazia confusão no grupo. Sua

filha ficava quietinha na carteira atrás de sua mãe fazendo a arte dela. Terminadas as vaginas,

passeamos por todas as obras de arte. Algumas mães explicavam as partes de sua vagina. As

que fizeram bem coloridas apontavam para cada parte. Em seguida colocamos todas numa

carteira e fotografamos. Com a figura de vagina completa no slide, perguntei se na vagina delas

faltava alguma coisa: Não sei, o que seria? Uma disse: “o clitóris”, era a mãe mais nova que

fez sua vagina com clitóris, ela sentiu-se bem neste momento. Foi o momento de falarmos em

ser mulher e de nossas necessidades, inclusive o prazer durante o sexo, que deixamos de lado

para atender a família, o marido e os desejos do marido. Questionei: Quando nós pensamos em

nós mesmas? Um silencio breve. Vieram questões de casamento que na época delas aconteciam

com 16 ou 18 anos, se passasse depois dos 25 eram chamadas de titias. O ponto forte foi a

descoberta da uretra e da vagina. Algumas mães não sabiam que existia “dois buracos lá

embaixo. Eu nunca olho! Disse uma delas. Discutimos para que fazer sexo então? Só para

gravidez? A mulher não sente prazer? E nossas filhas adolescentes sentem prazer? Vamos

proibir? Vieram as preocupações com as filhas sobre gravidez, namoro em casa, e voltamos ao

passado para discutir o que a gente sabia naquela época e o que nos era explicado. Descobrimos

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juntas que não era ensinado nada, você tinha que aprender a cuidar da casa. Praticamente um

grande tabu nos lares. Isso atrapalhou muito. E que ainda é assim. Era vergonha falar com as

nossas mães, então entravam as dicas de amigas sobre remédios e fórmulas abortivas. A

gravidez para elas ainda era um considerado um problema. Enfatizei a possibilidade de seus

filhos contraírem doenças sexualmente transmissíveis, como fazer? Como prevenir?

Como ensinar? Quem pode ensinar? Compreenderam a necessidade de diálogo e

comunicação. E também levar as filhas no posto ou ginecologista. Para finalizar, comecei

explicando a primeira parte do quadro de comportamentos normal, preocupante e quando

procurar ajuda. Enviei para todas via whats. Neste grupo a privacidade foi citada, pois eram

adolescentes, elas compreendiam que eles necessitavam de espaço e também sobre a

masturbação adolescente como algo natural.

No grupo das 19h, começamos a trabalhar as massas. Eu havia entrado em contato

individualmente com a mãe Evangélica D. para saber o motivo de sua falta na semana anterior.

Ela respondeu da seguinte forma no whats:

“Oi Boa tarde. Eu fiquei bem abalada com aquelas perguntas.e não estou conseguindo lidar com isso. Para mim foi um tormento ter que responder aquele questionário.e me recordar de tantas coisas que não foram legais para mim. Passei a semana bem triste com estas lembranças que eu achava ter se apagado da minha memória. Não estou sabendo lidar com isso. Me desculpa. Isso foi de mais. Da um nó na garganta. Eu não estou conseguindo nem dormir. Vishi tudo de Novo. Que foi a cabeça a garganta parece que vai fechar.” (sic).

Conversamos muito pelo celular, expliquei a ela o motivo do retorno de suas lembranças

da possibilidade de diálogo meia hora antes da intervenção. Ela veio, sentiu confiança e

continuou nos encontros. Enquanto discutíamos sobre a vagina pude notar seu rosto pensativo

e a concentração da mãe mais velha. A mãe deficiente sempre falava do filho e das situações

que se passavam com ele. Contou que o filho lhe disse que um dia ele teve que ficar trancado

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numa casinha do colégio, era “coisa da turma”. Esta mãe ao ouvir isso, foi até a escola e

dialogou com a professora e com a diretora. O resultado foi que o menino começou a ser

perseguido pelos colegas no colégio e rezava para a mãe não fazer mais aquilo. Trouxe também

que dormiam juntos. A pesquisadora orientou que esta mãe para que arranjasse uma forma de

separar as camas. Ela dizia que era um quarto só, sem espaço. A pesquisadora sugeriu um

beliche e as mães apoiavam, dando ideias de como falar com ele. Para finalizar, entramos com

o quadro de comportamentos normal, preocupante e procurar ajuda. Expliquei como nos outros

grupos a primeira parte e enviei por whats o quadro completo. Enfiar coisas no ânus preocupou

as mães. Terminamos, pegamos um copo de chá e comidas. Os dois adolescentes apareciam ao

final e pegavam um bom conteúdo de comida dentro de um copo e em seguida, iam embora. O

material foi enviado por WhatsApp.

4º Encontro: Segredo, autoproteção e comunicação

Primeiro grupo, 16h: Após revisar alguns conteúdos abordados no encontro anterior a

pesquisadora propôs a leitura da História da Rosinha, e que em seguida elas teriam que

dramatizar, isto é, fazer um teatro para continuar a história. A mãe professora adorou, disse que

amava teatro. Na tela havia algumas bonecas como pano de fundo. Os personagens eram:

Rosinha 12 anos, pai e mãe de 35 anos, irmão de 9 anos e o tio de 40 anos. A solicitação era a

seguinte após a leitura: _O que a Rosinha precisa saber e fazer para não ser abusada pelo tio?

A dramatização foi feita em ambos os grupos de mães. Em um dos grupos quem fez o papel de

tio agiu de forma “bem agressiva”, esse tio “seduzia” a mãe/adolescente. O segundo grupo

seguiu a mesma perspectiva, Rosinha não teria saída. Desta forma, a pesquisadora teve que

sugerir uma saída melhor para Rosinha: fazendo-as repensar o que podia acontecer para que

Rosinha não fosse abusada? Perguntei firmemente. Refizeram as dramatizações, desta vez a

mãe saiu do trabalho e veio ver os filhos ou chegou em casa e ouviu a filha, confiou nela,

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chamou a polícia e o tio foi preso. Houve uma discussão preocupante para com o abusador,

sobre dispensar o trabalho deste tio e ir para casa atender as crianças, o que o tio ia pensar? Ele

ia desconfiar? Ele ia ficar nervoso? Ele podia ir até a casa delas. Outras mães disseram que não,

tinha que pensar assim, era agir e nem pensar nele. A dinâmica destas mães foi evidenciada

enquanto medo do agressor e agressor intrafamiliar. A dramatização foi vivenciada, a mãe que

foi colocada como filha no primeiro grupo saiu cabisbaixa. Olhava (brincando) com medo para

a mãe que fez o papal de tio abusador. Passado algum tempo, o vídeo o segredo foi mostrado.

As mães que estavam sentadas atrás vieram para frente. Algumas carregaram a cadeira e se

sentaram ao meu lado. Elas queriam ver melhor o conteúdo. Lagrimas saíram dos olhos delas.

Acharam o vídeo forte, discutimos os conteúdos mostrados nas cenas. Surgiu a preocupação

em como o Colégio pode denunciar o abuso. A professora X contou que tiveram um caso, que

resultou em dúvidas entre elas e a pedagoga e decidiram chamar a família. Depois souberam

que a família se mudou. Expliquei que esta não é a forma adequada e que eu falaria disso na

semana seguinte. Que não faltassem, pois era bem importante. Tomamos o chá e nos

despedimos.

Em seguida chegou o grupo das 19h. Os mesmos procedimentos de leitura e

dramatização. Neste dia, faltaram duas mães, assim somente um grupo realizou a cena. Elas

chegaram a um final positivo, onde a mãe ouviria a filha e encontraria outra forma de serem

cuidados. Em seguida o vídeo foi passado. Os comportamentos foram os mesmos, pegaram as

cadeiras e chegavam perto. O problema era o tamanho da tela naquele dia. Acharam forte,

falaram que carregar aquela dor é terrível, a tremedeira da menina foi um ponto evidente,

juntamente com o despedaçar da criança como um quebra cabeça. O banho para se livrar da dor

também foi trazido pelas mães. Importante salientar que neste grupo eu tinha duas mães com

histórico de abuso. Nos despedimos e tomamos o chá. Em casa enviei o vídeo para todas.

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5º Encontro: Consequências, rede de apoio e prevenção

Penúltimo encontro com as mães, no lugar do café, suco de abacaxi. Lista assinada e

relembramos o encontro anterior da história da Rosinha e começamos a falar um pouco dos

sinais. Uma das professoras que ajuda no recreio comentou sobre o comportamento sexual

inapropriado para a idade. Ela disse que neste intervalo tem que tomar muito cuidado porque

algumas vezes saem brincadeiras pesadas e ela e outras auxiliares têm que intervir, trata-se de

alunos mais velhos abusando de alunos menores, uma “brincadeira dizem”. Novamente, a mãe

deficiente traz que o filho está grande e que à noite se mexe bastante. Intervi neste momento,

explicando que se tratava de um pré-adolescente e que eles estão na fase de masturbação,

sonhos, namoricos, sendo complicado para ele ficar ao lado da mãe com esta idade. Sugeri

diálogos com o filho sobre o seu tamanho. Quando o filho entrou na sala ao final da oficina, as

mães falaram: realmente mãe R., seu filho cresceu! Está bonito! Quase um homem formado já!

Ele esticou o corpo e caminhou na sala. Entrando na polivitimização, as mães se preocuparam

com a cura. Em seguida o slide sobre: se acontecer a situação abusiva com seu filho o que você

faria? Onde devemos procurar ajuda? Existe uma rede que apoio? Quem é? Onde ir primeiro

hospital, delegacia, pedir para escola ajudar? Tem como fazer denúncia sem dar o nosso nome?

A questão do papel da escola foi a pergunta chave para as duas professoras presentes. O fato de

chamar as famílias já estava fora de cogitação, mas queriam saber como proceder se surgissem

mais situações em que precisassem agir: A pesquisadora enfatizou que seria melhor a instituição

fazer a denúncia consultando o conselho tutelar. Em caso muito grave deveriam levar a criança

para o hospital Evangélico (acima de 12 anos), para procedimentos médicos, e atualmente o

próprio hospital chama o IML, em seguida encaminha a responsável para a delegacia para fazer

o boletim de ocorrência. Em seguida, seguem-se os processos. Discutimos também o disque

100, como serviço anônimo. A mãe R, contou se sentir preocupada diante de uma situação na

vizinhança que fez com que fosse ao conselho tutelar, entrando em um papel de mentirosa,

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sentindo-se revoltada com o sistema. Não adiantava mais fazer nada! Duas mães também

contaram que pediram ajuda para crianças abusadas, não disseram quais. Naquela época elas

foram numa delegacia. Segundo elas o atendente disse: “Para que registrar o caso? Se era

normal isso acontecer e que ela fosse para casa.” Ela ficou muito revoltada, mas não sabia o

que fazer. Em outra delegacia uma outra mãe procurou ajuda e o atendente olhou para esta mãe

e disse: que roupa a menina estava usando, a mãe foi embora. Neste momento enfatizei a

importância de conhecermos as leis, sabemos que nem tudo é perfeito como está escrito no

papel, mas conhecendo nossos direitos é possível tentar mudar esse quadro, não vai ser um

“volte para casa” que vai encerrar o caso. Expliquei a existência do Ministério Público e dos

hospitais de referência. O hospital Pequeno Príncipe abriu outra discussão: expliquei que após

12 anos alguns procedimentos só podem ser feitos com mais estrutura e que, em casos onde se

passaram mais 72h deveria ir até a UBS local. Evidenciando a importância de atendimento

rápido para evitar perda de material que pode levar até o agressor. Tomamos chá, comemos,

conversamos sobre o próximo encontro enquanto finalização e decidimos fazer um lanche

comunitário. Uma das professoras disse que ia cozinhar, as outras disseram que iam ver.

Esclareci que era pouca coisa, afinal o grupo era pequeno.

Às 19h as mães estavam chegando, assinavam a lista de presença, sentavam-se e

ficavam conversando até chegarem as outras mães. Sentei-me com elas e a conversa era sobre

dores. Uma delas estava com dor nas costas, outra estava com problema na bexiga, neste

momento a mãe mais madura (nordestina) ensinou uma receita curativa para bexiga, era coca

cola com abacaxi. Fervia tudo e ia tomando, um milagre, eu me curei, disse. Depois essa mãe

trouxe que não vai mais ao médico. Ela disse: é tudo uma porcaria e não faço mais exames.

Vai seguir as receitas da família dela a qual ela sente saudades. A mãe evangélica D. apareceu

bem arrumada, vestido, cabelo preso, sapato de salto médio. Ela disse que se arrumou para estar

ali. Eu elogiei, eu disse que ela estava muito bonita e ela agradeceu. Todo grupo de mães tinha

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mudado levemente seu padrão, elas pareciam mais confiantes e mais unidas. Ficavam em pé

para desfilar. Retornamos a história da Rosinha para falar dos sinais, das consequências, da

revitimização e do padrão mental. Uma das mães, ficou bem interessada, contou que queria

fazer psicologia na faculdade Dom Bosco. Aplaudimos, ela nos contou que já é também

cuidadora de idosos. Continuamos, a rebeldia também foi citada, porque uma das mães

apanhava do filho. Essa revelação silenciou o grupo. Era uma violência a qual ela não podia

fazer nada, é meu filho, disse a mãe. A pesquisadora se posicionou de forma carinhosa,

explicando a mãe que a amar um filho não é permitir este tipo de abuso e que infelizmente seria

necessário fazer a denúncia na delegacia do menor infrator. Ela não sabia o que dizer.

Continuamos: se o abuso acontecer, onde devo ir? Onde fazer a denúncia? Discutimos toda a

rede de proteção e que dali em diante elas seriam “mãe capacitadas para analisar e ensinar outras

mães”. Elas disseram que sim, que iriam contribuir desta forma. Discutimos o lanche

comunitário. A mãe nordestina explicou como iria fazer o seu bolo: disse que ia comprar milho,

ralar e fazer bolo de milho para nós. Outra ia fazer maria mole, outra traria empadão. Nos

despedimos esperando encontro final. Elas reclamaram que não queriam terminar com os

encontros, a mãe nordestina nos considerava como amigas. Organizei a sala e avisei o diretor.

6º Encontro: Encerramento

Chegando no colégio a diretora solicitou uma capacitação para todos os professores do

colégio na semana seguinte. Se tratava de uma semana direcionada a cursos para os mestres e

uma discussão com os alunos sobre a prevenção do suicídio. As mães começaram a chegar, foi

muito alegre este encontro. Elas traziam os pratos feitos por elas, colocavam na mesa, abriam

e se sentavam. Comecei relembrando com todas tudo que falamos e discutimos até aquele

momento. Agradeci muito o apoio delas, e que precisava que elas preenchessem o questionário

novamente “para eu saber depois se elas aprenderam”. Todas responderam, sem reclamar de

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nada. Esqueci de passar as mesmas perguntas da creche para avaliação pessoal, mas realizei

algumas perguntas de forma oral. Elas entregaram os questionários, comemos, bebemos,

falamos bastante. Em seguida com ajuda do adolescente, fizemos o sorteio. Entreguei os

certificados e algumas precisavam de certificado oficial. Tiramos foto de todas com os livros

nas mãos. Agradeci muito e ficamos de nos encontrar em breve. Das 18 as 18:45h as mães do

grupo Controle trouxeram os questionários faltantes, conforme combinado. Alguns

questionários foram deixados na mesa da diretora para que a pesquisadora recolhesse depois.

As 19 horas começaram o segundo grupo de mães. A mãe nordestina trouxe o bolo de

milho, outra trouxe duas embalagens de empadão de frango e outras coisas muito gostosas.

Relembramos tudo que foi falado e com este grupo também não consegui aplicar as perguntas,

mas discutimos de forma oral. Elas preencheram o questionário novamente com boa vontade.

Entregaram tudo. Sorteamos duas mães para os livros e quem entregou foi o filho da mãe

nordestina. Ao final, entreguei os certificados. Esse grupo era diferente, a mãe nordestina pediu

para continuar o grupo no whats e que as mães gravassem as mensagens ao invés de escrever,

ela não sabia ler e ouvir para ela era mais fácil. Fizemos em grupo este acordo. Nos abraçamos,

marcamos até encontro em breve na casa de uma delas. Agradeci muito as mães por sua ajuda,

participação e colaboração, nos abraçamos e todas foram embora.

4.3 Avaliação do Processo

A avaliação do processo se faz necessária, pois somente a análise dos questionários pré

e pós intervenção não traz a escuta revelada na interação das mães com a pesquisadora durante

o processo interventivo. Diante de todas as possibilidades relacionais, Guareschi (1996)

enfatiza que existe a necessidade de instrumentos de pesquisa que incluam além de

questionários, a observação que foi realizada pela pesquisadora em busca de algumas

características desta comunidade. O objetivo foi que, com o uso destes instrumentos, se revele

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a vida construída nas e pelas relações, considerando as dinâmicas e constantes possibilidades

de transformação nas e com as mães (Costa, 2015; Freitas, 1996; Lane, 1996; Pereira, 2008).

A formação de grupos (Lane, 1996) de mães e o contrato autêntico realizado no primeiro

encontro permitiu um bom vínculo entre pesquisadora e mães e entre as mães que levou a

formação de amizades. Este envolvimento permitiu a expressão de sentimentos e emoções,

incluindo o acolhimento realizado por parte da pesquisadora em momentos que eram

necessárias reorganizações diante dos casos de abuso relatados nas oficinas e das emoções

geradas (Gonçalves Filho, 2005; Lane, 1996; Nasciutti, 1996).

As discussões e ressignificações grupais são apresentadas no Capítulo 4 (Descrição das

Intervenções). Desta forma, algumas serão pontuadas, pois se referem ao contexto de práxis em

duas instituições de ensino no bairro alto na cidade de Curitiba, Paraná (Martins & Lacerda Jr.,

2014).

Enquanto processo, todas as oficinas foram de grande importância, contribuindo com o

desenvolver e aumentar o conhecimento sobre determinados temas. As mães trouxeram

aspectos a serem trabalhados e que foram ressignificados em conjunto. Tanto na creche como

no colégio, três oficinas causaram maior impacto e transformação que foram observados pela

pesquisadora no momento do desenvolver de cada oficina, tema e dinâmica. Foram a terceira,

a quarta e a quinta oficina. A terceira com o tema sexualidade permitiu de forma descontraída

evidenciar um desconhecimento geral acerca das partes que compõe o órgão sexual feminino e

sobre o papel desta mãe envolvidos em seus contextos relacionais.

A quarta oficina incluía a realização de uma dramatização espontânea em pequenos

grupos divididos aleatoriamente durante a oficina. A encenação mostrou expressões faciais

tristes e com postura corporal rebaixada. Prevaleceu no momento, um sentimento geral de

incômodo diante das encenações que representavam a possibilidade de um abuso, a falta de

credibilidade e o medo das reações da mãe. Para resolução da dramatização, predominou

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infelizmente a manutenção do abuso ou tentar sair da dinâmica (Hohendorff et al., 2014), que

implica que as mães ainda consideram o abuso sexual infanto-juvenil como um problema

comum (Alzoubi et al., 2018), A solicitação por parte da pesquisadora para que as mães

encontrassem uma resolução (saída) diferente e positiva ressignificou o papel da mãe enquanto

pessoa de confiança da criança e que pode contribuir para o fim da dinâmica abusiva dentro de

casa naquela encenação (Johnson & Whiffen, 2012).

A quinta oficina, que tratou da rede de proteção, evidenciou através dos relatos a

dificuldade encontrada no momento da realização da denúncia em uma delegacia. Este fato fez

com que algumas mães retrocedessem o processo. A desconfiança ou o abuso realizado, não

foram denunciadas as entidades competentes. Nos diálogos apareceram a falta de credibilidade

no sistema/rede de apoio e proteção que teve que ser ressignificado no grupo. Esse fato

evidencia uma falha na dimensão programática que colabora para que o crime continue em

silêncio, sem punição e sem o atendimento para a vítima (Ayres et al. , 2012). Cabe salientar

que intervenções preventivas primárias não conseguem funcionar de forma efetiva sem a

participação dos órgãos de defesa e direitos infanto-juvenis, para garantias e responsabilização

do agressor (Pereira Junior, 2012). Como resultado da avaliação do processo, apresentou-se a

avaliação do contexto desta pesquisa interventiva.

Particularmente, em relação a creche, a avaliação do processo a partir do primeiro

encontro, quando se iniciaram os questionamentos das mães, o movimento da diretora foi sair

da sala. Na visão da pesquisadora, com esta ação, foi perdida uma grande oportunidade de

conscientização do grupo. Em relação as mães, estas falavam individualmente e ao mesmo

tempo no grupo, predominando confrontos individuais repetitivos, com ausência de consciência

crítica perante a oportunidade relacional oferecida e o espaço para conhecimento. O não

envolvimento assegurava uma posição do não saber e não fazer, uma posição sujeito-objeto,

uma alienação. Foram propostas adequações, mas infelizmente o reclamar servia somente para

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justificar suas impossibilidades. O interesse, o direito e o grupo estavam comprometidos, o não

se envolver com questões referentes a vida institucional e familiar da criança pode ser analisado

pelo viés da negligência (Brasil, 2017; Vasgotello, 2002). A equipe seguiu conforme planejado,

marcando a próxima oficina.

A partir do segundo encontro/oficina, as mães presentes se encontravam atentas em

relação a temática. Assim, seguem considerações em forma de pontuações que apareceram

durante as próximas cinco oficinas: Começando com a terceira oficina- sexualidade que revelou

que os diálogos maternos sobre sexualidade e prevenção de abuso sexual estavam

comprometidos pela presença de antigos tabus, desconhecimento, normas e regras da família

de origem. Apenas a título de informação, as regras religiosas também dificultam o diálogo em

casa, pois, o sexo segundo as mães, a relação sexual só pode acontecer após o casamento.

O que se nota é que algumas mães não sabem diferenciar o termo educação sexual e a prática

da sexualidade de seus filhos. Na quarta oficina, com o tema segredo, oportunizou relatos de

identificação atualizando em algumas os sentimentos de sentimento de culpa, dores no corpo,

isolamento, medo, lembranças, como a revitimização (Andreotti, 2012).

A quinta oficina, mostrou o medo presente nas mães e nas professoras. O clima envolvia

a ansiedade diante da ação errônea: “dialogar com os pais” sobre alguma negligência ou

situação estranha como ação protetiva. Mostrou que tanto as mães como a escola não tinham

conhecimento sobre o que fazer no caso de uma situação abusiva. Sobre notificar o abuso, o

movimento de algumas mães evidenciou o colocar a instituição como responsável pela ação

diante do crime; enquanto rede de delegacias, não sabiam que existia uma delegacia específica

para atender crianças.

Em relação avaliação do processo no colégio, a proposta interventiva foi vista como

positiva e fez surgir outras demandas institucionais como: a capacitação de professores, oficinas

com adolescentes e a semana de prevenção ao suicídio. Sobre os adolescentes, foi realizado um

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acordo verbal para que a intervenção se realize no próximo ano. Trata-se de uma instituição que

flexibiliza, se envolve, aberta ao diálogo e às trocas de conhecimento.

A partir da segunda oficina foram pontuadas as relevâncias do processo. O grupo era

misto (mães de alunos, professoras e auxiliares de limpeza mães) e mostrava entendimento

sobre a relevância do trabalho. Neste encontro associaram os dados da negligência aos meninos

de rua e demostravam uma preocupação excessiva com os adolescentes. Algumas mães

tentaram fugir das oficinas faltando em alguns encontros. Questionadas pela pesquisadora sobre

sua falta, apontaram a lembrança de seu abuso na infância (revitimização) e a religião como

fator que dificultava o entendimento (Andreotti, 2012).

Na terceira oficina, demonstraram desconhecimento quantos aos sinais de abuso em

adolescentes e achavam mais fácil colocar a escola no papel de educadores sexuais de seus

filhos adolescentes. Descobriram que, além de ser mães, são mulheres e assim foram revisitados

tabus como: a privacidade, a adolescência e a masturbação.

Na quarta oficina, na dramatização predominou a dinâmica abusiva apresentando

agressividade ou sedução, aliadas a preocupação e medo em relação ao abusador (Hohendorff

et al., 2014).

No quinto encontro sobre a rede de apoio e denúncia, uma professora relatou que o

colégio desconhecia o procedimento a ser feito. As mães relataram suas dificuldades com o

Disque 100 em relação a seus vizinhos e indignação quanto ao Conselho Tutelar e delegacias

que não oferecem apoio. Foram expostas a questionamentos na delegacia como: “que roupa

você ou a menina usava?” ou “precisa mesmo fazer a denúncia?” que colocam em dúvida a

posição ativa da mulher em denunciar, um reforço constante e persistente perante o não acesso

ao sistema de garantia dos direitos. Mantem desta forma, o silêncio, a impunidade, o medo e a

vergonha. A realização do Boletim de ocorrência (B.O.) é um dos primeiros passos para que a

vítima possa ser atendida e para a coibição de tais práticas criminosas. É uma comunicação à

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sociedade de que houve um crime e de quem suspostamente cometeu (Santos & Dell’Aglio,

2014).

As oficinas compreenderam dois grupos distintos de mães (mães de bebês e crianças

(creche) e adolescentes (colégio), e suas preocupações estavam definidas e perceptíveis. Em

ambas instituições aconteceram a identificação com os conteúdos, porém na creche houve a

necessidade de se trabalhar de forma breve “a mãe criança interior” e o sentimento de culpa.

Eram mães que se encontravam machucadas e precisavam compreender o seu processo do

abuso, da negligência, do papel de sua mãe e do social. No colégio, as preocupações estavam

muito voltadas ao desenvolvimento dos filhos que se encontravam na pré ou na adolescência e

que exige dos pais certa flexibilização. A pesquisadora observou nos comportamentos e

diálogos certa dependência na relação mãe filho, discutida de forma breve oficina enquanto

consequências para os filhos. É possível ainda, chamar a atenção para algumas considerações:

a negligência na creche foi entendida como possível de ser vista na interação mãe-criança-pai.

No colégio, a negligência foi relacionada às crianças de rua, um fato externo a realidade delas.

Em relação a ensinar ao filho sobre comportamentos preventivos sobre abuso sexual, tanto na

creche como no colégio, as mães gostariam que a escola fizesse esse papel.

Na creche houve atrasos para dar início as oficinas. A pesquisadora entrava em contato

constantemente com a diretora através do whatsapp para saber como estavam as devoluções

dos convites que tinham prazo para entrega via agenda. Em relação a vínculos e aproximações,

as mães da creche eram pouco receptivas. Mesmo com o andamento das oficinas, mães que não

estavam participando, mas que buscavam seus filhos paravam e olhavam a porta da sala, mas

não se aproximavam para questionar. Na hora da saída, seus filhos queriam entrar na sala de

atividades. Eles caminhavam em direção à porta/sala das oficinas. Porém, a mãe pegava na mão

dos filhos, faziam a volta e saíam. A pesquisadora e a diretora realizavam pequenas reuniões e

nestas conversas a diretora afirmava a falta o desinteresse das mães (faltas) em participar de

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reuniões e encontros. Outra dificuldade era em relação aos horários: O horário máximo

permitido para finalizar as oficinas era 17:30h, e infelizmente, segundo as mães, a maioria não

podia neste intervalo e após este horário a creche estava fechada.

No Colégio em relação aos convites, a diretora enviava as fotos por whatsapp para que

a pesquisadora desse início a divisão de grupos (depois foram entregues em mãos). Sobre os

vínculos, o colégio como um todo era uma comunidade e as mães eram bem receptivas. A

pesquisadora e a diretora realizavam pequenas reuniões onde a diretora enfatizava o seu apoio,

questionando como poderia colaborar para que se completasse o número de mães necessárias.

Sobre a presença da comunidade de mães, a diretora achava complicado. Conta que o Colégio

oportunizou vários cursos, mas que poucas famílias se interessam. A sala para realização das

oficinas obedecia a certa flexibilidade: de acordo com as turmas e cursos do colégio. Esse fato

fazia com que a cada encontro o recurso do whatsapp fosse utilizado para localização da sala

onde seria realizada a oficina. O horário máximo permitido para finalizar cada oficina era 22h

e isso era um facilitador para o desenvolvimento das atividades. Em relação ao pouco número

de mães presentes, na terceira oficina a pesquisadora descobriu o motivo destas faltas: uma das

mães contou que os adolescentes não entregaram os convites em casa, eles pensaram que o

assunto era relacionado a eles. A pesquisadora sorriu e se lembrou que se tratava de

adolescentes, e desta forma talvez fosse interessante antes deste tipo de pesquisa realizar uma

visita prévia nas salas dos adolescentes para explicar a programação para que se sintam seguros.

Considerando o comportamento e os diálogos das mães, incluindo suas vestimentas,

corte de cabelo, sapatos, suas ressignificações, o comportamento grupal e a amizade, notou-se

o desprendimento e o avanço do grupo de mães do colégio. No quinto e sexto encontro, estas

mães compareciam as oficinas bem arrumadas e de salto (comparadas ao início do processo).

Os cabelos estavam soltos, com posicionamento no grupo, liberdade nas interações e construção

de amizades que se estendem até o momento atual. Um movimento de autonomia individual e

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grupal era perceptível. Na creche o envolvimento foi bom, mas a relação não se estendeu fora

da sala.

Desta forma, compreenderam nas oficinas que a autonomia vai exigir ações grupais

oferecidas na interação que foi construída naquele ambiente escolar. Aconteceu um relato de

mãe que apanhava de filho (indicação da delegacia do menor infrator). Ao final, no último

encontro, questionadas, diziam se sentir “mães capacitadas” para ensinar seus filhos e outras

mães. Estas observações contribuem no resultado do impacto e para implementação de

pesquisas futuras.

4.3.1 Avaliação das oficinas na perspectiva das mães

Na sexta oficina, a pesquisadora queria saber como as mães de ambas as instituições

(creche e colégio) perceberam os encontros e o que havia ficado de suas aprendizagens. Desta

forma, no último encontro solicitou uma avaliação individual (qualitativa) simples (anônima).

As perguntas básicas foram:

a) Fizeram amizades?

b) Como foi participar do grupo?

c) Sugestões; a importância; indicação do trabalho preventivo em outras escolas;

d) Qual assunto foi mais importante para você?

No momento da leitura das perguntas, algumas mães se entreolharam e pegaram na mão

uma da outra. As avaliações individuais de ambos os grupos se mostraram muito positivas. As

mães afirmaram sentir-se bem com o conteúdo, sabendo o que fazer e como fazer diante da

suspeita ou situação de ASI; indicariam o “curso” para outras mães e outras escolas;

agradeceram o lidar e dividir o passado que esteve presente; concluíram que todas as

informações e encontros foram pertinentes e necessários e lamentaram a ausência de outras

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mães. Algumas mães da creche gostariam de mais encontros, no colégio todas as mães

gostariam de mais encontros e criaram um grupo no whatsapp para comunicação.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da primeira aplicação do questionário, do conhecimento das mães sobre

ASI e a ocorrência de ter sido vítima de abuso sexual estão sumarizados nas Tabelas 2 e 3,

respectivamente.

Apesar de ter sido realizada uma amostragem por conveniência e a separação das

participantes nos respectivos grupos não ter sido aleatória, a maioria das questões não tiveram

diferenças estatisticamente significativas entre o grupo controle e o grupo intervenção.

Tabela 2. Conhecimento prévio sobre ASI.

Variável Intervenção (n = 34)

Controle (n = 33)

Total (67)

Já ouviu falar em casos de abuso sexual? 34 (100%) 33 (100%) 67 (100%) Participou de algum programa preventivo de abuso sexual? 8 (23,6%) 7 (21,2%) 15 (22,4%) Um de seus filhos participou na escola de um programa preventivo de abuso sexual? 6 (17,7%) 7 (21,2%) 13 (19,4%)

Recebeu folhetos informativos sobre abuso sexual? 16 (47,1%) 15 (45,4%) 31 (46,3%) Conversou com suas amigas sobre abuso sexual? 22 (64,7%) 24 (72,7%) 46 (68,7%) Algum médico falou sobre abuso sexual? 5 (14,7%) 7 (21,2%) 12 (17,9%) Na sua igreja ou local religioso que você frequenta, ocorreu alguma palestra sobre abuso sexual? 10 (29,4%) 15 (45,4%) 25 (37,3%)

Procurou informações sobre abuso sexual na Internet? 15 (44,1%) 13 (39,4%) 28 (41,8%) Obteve alguma informação sobre ASI na televisão? 26 (76,5%) 27 (81,8%) 53 (79,1%)

Conforme apresentado na Tabela 2, apesar de todas as participantes dos grupos

pesquisados já terem ouvido falar sobre o tema abuso sexual com crianças e adolescentes,

observa-se que apenas 22,4% já participou de programas de prevenção do ASI. Quando

questionado sobre a participação de seus filhos em algum programa de prevenção ao abuso

infantil realizado no seu ambiente escolar, 19,4% referem que eles participaram.

De acordo com Sanberk, Emen e Kabakç (2017) e com Lam, Zwart, Chahal, Lane e

Cummings, (2018) é benéfica a oferta de treinamentos sobre prevenção de ASI para mães no

espaço escolar para envolver os pais nas programações preventivas contra o ASI. Em relação

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a temática Alzoubi, Ali, Flah e Alnatour (2018) afirmam que todo conteúdo que envolve o

abuso sexual infanto-juvenil deveria ser incluído no currículo escolar. Em contrapartida,

Tremblay & Bégin, (2000) enfatizam que, informar as crianças a respeito do ASI, não substitui

a necessidade de realizar a conscientização dos pais

Observa-se que 79,1% do total das participantes afirmou ter recebido informações

sobre o abuso sexual infanto-juvenil pela televisão. Para Alzoubi, Ali, Flah e Alnatour

(2018), a televisão pode ser um importante veículo de informação a respeito da rede de atenção

às crianças vítimas de ASI.

A segunda forma mais utilizada para a aquisição de informações sobre ASI foi a

troca de informações com amigas (68,7%). Observa-se 46,3% do total das participantes

buscaram informações em folhetos e 41,8% na Internet. Este dado é similar ao estudo de

Nickerson, Livingston e Kamper-DeMarco (2017). Estes autores acreditam que é possível

ampliar a eficiência das intervenções presenciais com recursos externos como internet e vídeos

educativos. Nesse estudo, foi realizada uma amostra de 438 pais, sendo 301 mães, e foi

demonstrado o aumento na motivação dos pais para conversarem sobre ASI com seus filhos,

após assistirem vídeos que abordavam o tema, disponibilizados pela internet.

O quinto lugar na busca de informações sobre ASI, foram as instituições religiosas

(37,3%), seguidos da busca de informações com algum médico (17,9%).

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Tabela 3. Vítima de abuso sexual

Variável Intervenção (n = 13)

Controle (n = 8)

Total (21)

Situações que ocorreram contra sua vontade Fui acariciada em meus órgãos sexuais 7 (53,8%) 3 (37,5%) 10 (47,6%) Fui obrigada a assistir filmes pornográficos 2 (15,4%) 0 (0,0%) 2 (9,5%) Fui obrigada a assistir relações sexuais 1 (7,7%) 1 (12,5%) 2 (9,5%) Fui obrigada a praticar sexo anal 1 (7,7%) 0 (0,0%) 1 (4,8%) Fui obrigada a praticar sexo oral 1 (7,7%) 2 (25%) 3 (14,3%) Fui obrigada a praticar sexo vaginal 1 (7,7%) 2 (25%) 3 (14,3%)

Idade em que sofreu abuso sexual 9,4 (4,1) 1 10,2 (2,3) 1 10,1 (4,0) 1 Pessoa que abusou de você 91 51 141

Pai 1 (11,1%) 0 (0,0%) 1 (7,2%) Mãe 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) Parente 2 (22,2%) 3 (60,0%) 5 (35,8%) Amigo da família 1 (11,1%) 1 (20,0%) 2 (14,2%) Outro 5 (55,6%) 1 (20,0%) 6 (42,8%)

Duração do abuso (em meses) 4 (5) 2 - 3 4 (5) 2 Contou para alguém? 3 (23,1%) 2 (25,0%) 5 (23,8%) Para quem você contou?

Pai 1 (33,3%) 0 (0,0%) 1 (20,0%) Amigo da família 1 (33,3%) 1 (50,0%) 2 (40,0%) Outro 1 (33,3%) 1 (50,0%) 2 (40,0%)

Soube de algum caso de Abuso Sexual em sua família?4

Sim 10 (29,4%) 3 (9,0%) 13 (19,4%) Não sabe 3 (8,8%) 5 (15,0%) 8 (11,9%)

Suspeita que seu(sua) filho(a) tenha sofrido abuso?4 1 (2,9%) 1 (3,0%) 2 (3,0%)

1 Do total de mães que afirmaram terem sofrido abuso, o valor indicado é das que identificaram o abusador. 2 O valor indicado é a média das respostas válidas com o valor do desvio padrão entre parêntesis. 3 Não houve respostas. 4 Este total se refere ao total de 67 mães.

Das 67 participantes, 21 mães afirmaram que foram vítimas de abuso sexual infantil,

(31,3%), com uma média de idade de 10,1 anos. Esses resultados se assemelham ao estudo

realizado por Platt, Back, Hauschild e Guedert (2018), que apresentaram dados com uma

prevalência de abuso sexual contra crianças e adolescentes vítimas na faixa dos 9 a 12 anos.

As situações apresentadas neste estudo são consideradas violência sexual: ser tocada

nos órgãos genitais (47,6%), ser obrigada a assistir filmes pornográficos (9,5%), ser obrigada a

presenciar relações sexuais (9,5%), ser obrigada a praticar sexo oral (14,3%), anal (4,8%) e

vaginal (14,3%).

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Observa-se que a prevalência de abusadores é de pessoas que pertencem ao contexto

familiar (parentes e amigos) apresentando neste estudo 57,2% dos casos, dados esses que

conferem e refletem a realidade brasileira (Brasil, 2018). Um estudo foi realizado utilizando

como base 489 casos notificados em um serviço de referência por suspeita ou ocorrência de

ASI entre os anos de 2008 e 2014. Este estudo evidencia a prevalência para abusadores do sexo

masculino que em 66,5% dos casos, eram “conhecidos das vítimas” (Platt et. al, 2018).

Em relação ao conhecimento de algum caso de abuso na família, 13 mães afirmaram

que sabiam da ocorrência (19,4%). Dentre estas, duas mães (3,0%) relataram suspeitar que seus

filhos tenham sofrido alguma forma de abuso sexual.

Dentre as 21 mães que sofreram ASI quando crianças ou adolescentes, apenas cinco

(23,8%) relataram o abuso ocorrido, sendo citados amigos da família ou pessoas de fora do

convívio familiar como suas pessoas de confiança. Apesar de mães representarem um

importante papel na denúncia do abuso sexual infantil e serem apontadas como a principal

confidente de seus filhos (Santos et al., 2010), este trabalho destaca que nenhuma das

entrevistadas que se identificaram como vítimas de ASI afirmou ter contado sobre a sua situação

abusiva para suas mães.

Sobre este dado, o estudo realizado por Alzoubi, Ali, Flah e Alnatour (2018) relativo ao

conhecimento e percepção das mães em relação ao ASI, revelou que existe uma necessidade

urgente de se educar as mães sobre a importância de estabelecer uma relação de confiança com

seus filhos. Este vínculo fortalecido poderia encorajar as crianças no momento que precisasse

revelar o seu episódio de ASI. Desta forma, a mãe assumiria uma posição preventiva com suas

crianças. Sobre relatar o incidente abusivo, um estudo realizado por Zhang (2013), com crianças

chinesas trouxe como resultado que poucas crianças sabiam que deveriam revelar seu incidente

abusivo mesmo que o abusador pedisse segredo. Esta relutância em revelar seu abuso, pode ser

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devida a cultura de “piedade filial” que ensina a obediência e o adiar das palavras que deveriam

ser dirigidas aos adultos.

Outras dificuldades em relação a revelação se referem ao fato do crime ser geralmente

cometido por alguém de confiança e que tem livre acesso à criança. Caso haja uma notificação,

esta pode repercutir em rompimento de vínculos, culpabilização da vítima e perda de

suporte financeiro (Santos & Dell’Aglio, 2010). O processo abusivo dinâmico progride e

se aprofunda com a utilização da dissociação temporal que culmina com a fase denominada

como Síndrome do Segredo. Esta fase inverte os papéis familiares, quando neste estágio a

criança começa a sentir e se tornar responsável pela homeostase e estrutura familiar. Desta

forma, o segredo se mantém e o abusador continua próximo da criança (Hohendorff, Habigzang

& Koller, 2014).

Ao avaliar o impacto das intervenções, através da análise dos questionários depois

da participação nas oficinas, foi possível verificar um aumento estatisticamente significativo

no conhecimento das mães do grupo intervenção em relação as seguintes questões: onde ir em

caso de abuso (questão 31); concepções acerca do ASI (questão 32 e 33); rede de apoio

(questão 36); sinais e indicadores de abuso sexual (questão 37).

No que tange a saber onde ir em caso de abuso (questão 31), a taxa de acerto aumentou

significativamente. No pré-teste, 18 mães do grupo de intervenção afirmaram saber, sendo que

destas, 13 (72,2%) responderam corretamente. No pós-teste, houve um aumento significativo

no número de mães que afirmaram saber (29) sendo que 28 (96,6%) acertaram. No grupo

controle, não houve variação significativa, sendo que 18 mães acertaram no pré-teste e 20 no

pós-teste.

Com relação às questões 32 a 37 que se referem a concepções e fatores acerca do ASI,

mitos e crenças, rede de apoio e sinais e indicadores relacionados a abuso sexual, as tabelas a

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seguir apresentam as médias, desvios padrão e medianas de cada variável avaliada de acordo

com os grupos e momentos com a respectiva avaliação entre grupos e entre momentos.

As diferenças estatisticamente relevantes, se presentes, estão indicadas em negrito nas

respectivas tabelas.

Os resultados com relação às concepções acerca do ASI (questão 32) estão presentes na

Tabela 4, em que não se percebe diferença estatisticamente significativa entre os grupos e entre

os momentos. Um detalhe importante acerca desta questão é que esta não obteve um bom índice

de confiabilidade (Cronbach), indicando que as questões apresentadas não avaliam de forma

consistente o conhecimento sobre abuso sexual.

Tabela 4. Comparação dos escores de Concepções acerca do ASI (questão 32)

Grupo Pré Pós p*

M dp md m dp md Intervenção Controle

126,3 122,8

9,2 9,2

127 125

123,8 122,3

9,1 8,4

127 122

.217

.080 p** .250 .143 m=média; dp=desvio padrão; md=mediana; *p-valor entre grupos em cada momento (teste de Wilcoxom) **p-valor entre momentos em cada grupo (teste U de Mann-Withney)

Ao se analisar os itens isoladamente é possível perceber que há diferença

estatisticamente significativa para os itens 15, 23, 28, 30 e 37 apresentados na Tabela 5. Com

relação ao item 15, houve uma diminuição na média no grupo intervenção entre o pré e o pós-

teste indicando perda de conhecimento. Contudo, nos itens 23, 28, 30 e 37 houve aumento na

média, caracterizando melhoria no conhecimento em concepções acerca do ASI. A eficiência

das intervenções preventivas na mudança de concepções também pode ser verificada no

trabalho de Brum (2011). A autora identificou mudanças estatisticamente relevantes nas

concepções de profissionais da área de saúde, sobretudo a respeito da atuação dos profissionais

de saúde primária na detecção de vítimas de violência doméstica e quanto ao método de trabalho

com estas vítimas.

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Tabela 5. Comparação dos escores por item de Concepções acerca do ASI (questão 32)

Questão Grupo n Pré Pós p*

m dp md m dp md 32.15. roupas curtas, exibindo o corpo,

podem ser causas de abuso sexual. Interv Contr

34 31

1.85 1.74

1.13 0.99

1 1

1.44 1.62

0.82 0.90

1 1

.028

32.23. uma pessoa que sofreu abuso sexual na infância sente culpa e vergonha do que aconteceu.

Interv Contr

33 33

3.64 3.48

0.65 0.61

4 4

3.94 3.63

0.23 0.48

4 4

.013

32.28. o abusador sexual pode ter sido uma vítima de abuso na infância.

Interv Contr

34 31

2.82 2.68

0.90 0.97

3 3

3.20 2.51

0.68 1.03

3 3

.015

32.30. o abusador sexual pratica o abuso porque não tem caráter.

Interv Contr

33 31

3.06 3.16

0.96 1.01

3 3

3,50 3.09

0.82 1.05

4 3

.010

32.37. os adultos deveriam conversar mais sobre abuso sexual para evitarem que isso ocorra com as crianças.

Interv Contr

34 32

3.79 3.78

0.47 0.42

4 4

3.97 3.54

0.17 0.79

4 4

.034

m=média; dp=desvio padrão; md=mediana; *p-valor entre grupos em cada momento (teste de Wilcoxom)

Os resultados com relação aos fatores relacionados ao abuso sexual (questão 33) estão

presentes na Tabela 6. Houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos pós-

intervenção (p = 0,021). A questão 33 foi significativamente maior no grupo intervenção do

que no grupo controle, indicando que houve diferenciação no conhecimento entre os grupos

após a participação das mães nas oficinas. De forma semelhante, houve diferença

estatisticamente significativa entre os momentos (pré e pós oficinas) no grupo intervenção

(p < 0,001), o conhecimento sobre os fatores relacionados ao abuso sexual aumentou

significativamente entre as mães que participaram das oficinas.

Tabela 6. Comparação dos escores de Fatores relacionados ao abuso sexual (questão 33)

Grupo Pré Pós p*

m dp md m dp md Intervenção Controle

52,8 53,2

4,3 3,4

55 54

56,4 54,1

2,2 4,1

56 54

<.001 .299

p** .591 .021 m=média; dp=desvio padrão; md=mediana; *p-valor entre grupos em cada momento (teste de Wilcoxom) **p-valor entre momentos em cada grupo (teste U de Mann-Withney)

Cumpre destacar que os itens 2, 3 e 4 da questão 33, apresentaram isoladamente

diferença estatisticamente relevante, conforme Tabela 7. Para estes itens, percebe-se aumento

na média no grupo intervenção entre o pré e o pós-teste, indicando melhoria nos fatores

relacionados ao ASI.

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Tabela 7. Comparação dos escores de itens relevantes estatisticamente a Fatores relacionados ao abuso sexual (questão 33)

Questão Grupo n Pré Pós p*

m dp md m dp md 33.02. se uma criança ou adolescente relata

uma situação de abuso sexual intrafamiliar, eu acredito.

Interv Contr

34 32

3.53 3.47

0.57 0.67

4 4

3.79 3.66

0.41 0.47

4 4

.007

33.03. existem serviços de apoio e proteção às vítimas de abuso sexual.

Interv Contr

33 32

3.67 3.81

0.54 0.59

4 4

3.91 3.90

0.28 0.29

4 4

.033

33.04. os abusadores costumam enganar as crianças e adolescentes com falsas promessas.

Interv Contr

34 33

3.68 3.82

0.68 0.58

4 4

4.00 3.75

0 0.43

4 4

.008

m=média; dp=desvio padrão; md=mediana; *p-valor entre grupos em cada momento (teste de Wilcoxom)

Com relação a mitos e crenças acerca de abuso sexual (questão 34), os resultados estão

na Tabela 8. Não houve diferença estatisticamente relevante. O valor de alpha foi 0.83,

indicando uma boa confiabilidade, porém os escores obtidos pelo grupo foram altos, indicando

que os participantes já apresentavam conhecimento acerca dos aspectos avaliados.

Tabela 8. Comparação dos escores de Mitos e Crenças acerca de abuso sexual (questão 34)

Grupo Pré Pós p* Alpha***

m dp md m dp md Intervenção Controle

63,4 64,1

10,4 10,1

63 66

66,4 62,3

7,2 12,4

67 65

.554

.824 .831

p** .463 .434 m=média; dp=desvio padrão; md=mediana; *p-valor entre grupos em cada momento (teste de Wilcoxom) **p-valor entre momentos em cada grupo (teste U de Mann-Withney) *** - alpha de Cronbach

A questão 36 diz respeito à rede de apoio e o seu resultado consta na Tabela 9. Houve

diferença estatisticamente significativa entre os grupos no pós (p<0,001). Ou seja, esta questão

foi significativamente maior no grupo intervenção do que no grupo controle após as oficinas.

Houve, também, diferença estatisticamente significativa entre os momentos no grupo

intervenção (p < 0,001). Esse resultado indica que o grupo intervenção adquiriu mais

conhecimento sobre a rede de apoio depois que participou das oficinas, quando comparado ao

grupo controle.

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Tabela 9. Comparação dos escores de Rede de apoio (questão 36)

Grupo Pré Pós p*

m dp md m dp md Intervenção Controle

19,2 19,2

4,4 5,1

20 21

23,2 21,2

3,3 2,1

22 21

< .001 .081

p** .793 < .001 m=média; dp=desvio padrão; md=mediana; *p-valor entre grupos em cada momento (teste de Wilcoxom) **p-valor entre momentos em cada grupo (teste U de Mann-Withney)

A Tabela 10 apresenta o resultado da análise em relação a sinais e indicadores de abuso

sexual (questão 37). O valor do alpha foi de 0.981, demonstrando boa consistência interna dos

itens. Houve diferença estatisticamente significativa entre os escores dos questionários

aplicados antes e após as oficinas, do grupo intervenção (p = 0,009). Ou seja, o resultado da

questão 37 foi significativamente maior após a intervenção, indicando um aumento de

conhecimento sobre os sinais e indicadores de abuso sexual entre as mães que participaram das

oficinas.

Tabela 10. Comparação dos escores de Sinais e indicadores de abuso sexual (questão 37)

Grupo Pré Pós p* Alpha***

m dp md m dp md Intervenção Controle

100,0 104,2

44,3 38,7

119 119

121,8 108,8

44,9 41,6

136 121

.009

.079 .981

p** .938 .160 m=média; dp=desvio padrão; md=mediana; *p-valor entre grupos em cada momento (teste de Wilcoxom) **p-valor entre momentos em cada grupo (teste U de Mann-Withney) *** - alpha de Cronbach

Para analisar se a classe social e o nível de instrução interferem no conhecimento sobre

abuso, os dados da classificação ABEP (questão 17) e a questão 19 (escolaridade) foram

utilizadas em comparação com os resultados obtidos nas questões 32, 33, 34 e 37.

As tabelas 11 a 18 (Apêndice 4) apresentam os resultados da análise. É possível perceber que

não houve nenhuma diferença estatisticamente significativa nesta comparação, demonstrando

que para esta amostra não foi possível encontrar relação entre classe social e nível de instrução,

com conhecimento das mães sobre ASI.

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Apesar dos resultados acima, os trabalhos de Sanberk, Emen e Kabakç (2017) em um

estudo realizado pela comparação de resultados qualitativos entre dois grupos separados por

condição socioeconômica, constataram que o grupo socialmente desfavorecido, obteve os

maiores benefícios após a intervenção. Estes benefícios foram medidos pela diferença

apresentada no pré e pós-teste, da quantidade de conteúdos adquiridos sobre ASI.

Diversos estudos revelam a crescente preocupação mundial sobre o abuso sexual contra

crianças e adolescentes diante da produção teórica e das práticas preventivas realizadas com

foco na mãe ou em ambos os pais. Dentre estes estão os estudos de Sanberk, Emen e Kabakç

(2017); Pillhofer, Spangler, Benschen, Kuenster, Gabler, Fallon, Fegert e Ziegenhain (2015);

Alzoubi et.al (2018); Tremblay e Bégin (2000); Lam et.al (2018); Nickerson, Livingston e

Kamper-DeMarco (2017); Bartlett, Raskin, Kotake, Nearing e Easterbrooks (2014);

Chaiyachati, Gaither, Hughes, Foley-Schain e Leventhal (2018).

Estes autores apresentam resultados relevantes diante de diferentes métodos e técnicas

interventivas de prevenção que tem demonstrado efetividade entre as mais diversas culturas,

sobretudo tratando-se de intervenções longitudinais e sua eficiência na conscientização de mães

e de pais sobre o abuso sexual infanto-juvenil.

Os dados dos estudos de Bartlett et. al (2014) foram extraídos do programa Healthy

Families Massachusetts que é a reprodução do programa Healthy Families America,

projetado para prevenir o abuso e negligência infantil, baseado no apoio positivo e na

maternidade eficaz com 704 mães de primeira viagem. Realizado nos EUA, o programa

encontrou dentre as 383 crianças estudadas, 63 crianças (16%) que referiram ter sofrido

pelo menos um caso de negligência por parte dos pais. Segundo os autores estes números

são conservadores devido a limitações encontradas nos dados, acreditando-se que a

realidade seja bem mais drástica (Bartlett et al, 2014).

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Outro programa implantado nos EUA é o programa de visitas domiciliares realizado

com 10. 489 famílias no qual técnicos, enfermeiros e voluntários treinados em prevenção

de ASI já atenderam cerca de dois milhões de famílias, considerando-se as somas dos

atendimentos das iniciativas federais com as estaduais. Este tipo de programa quando

avaliado em seu impacto em linhas gerais, apresentou números não conclusivos para a

redução da violência familiar, por limitações com relação a variabilidade dos dados

obtidos, porém apresentou claras reduções no número de crianças expulsas de casa,

diminuindo inclusive os índices de negligência contra crianças. (Chaiyachati et.al, 2018).

Pillhofer, Spangler, Benschen, Kuenster, Gabler, Fallon, Fegert e Ziegenhain, (2015)

demonstraram num estudo feito na Alemanha, a eficiência de intervenções de curto prazo, no

aumento da sensibilidade das 83 mães de alto risco e no desenvolvimento afetivo das crianças.

Para tal foi utilizado o modelo de Ulm que para os autores é um modelo viável para implantação

por iniciativas de patrocínio governamentais.

Em pesquisa realizada por Lam, et.al (2018) com 835 progenitores no SriLanka. Deste

total, 547 eram mães. Este estudo apresentou correlações entre a participação em programa

preventivo realizado pela escola e melhorias na percepção destes pais em diversos aspectos que

abrangem a temática do ASI, sobretudo aqueles que dizem respeito a segurança infantil na

escola e comunidade.

Na Turquia, Sanberk, Emen e Kabakç (2017), confirmam a eficiência de suas

intervenções, para tanto registram que das 16 mães de crianças de fase pré-escolar, 16 obtiveram

melhoria de conhecimento, e 15 consideraram o método e as informações recebidas suficientes.

Em contrapartida, está a revelação de números neste trabalho que apontam a

discrepância entre quem ouviu falar de casos de ASI (100%) e de quem participou de

programas preventivos sobre o assunto (22,4%), revelando que existe muito trabalho a ser

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realizado com mães em ambiente escolar que busquem a conscientização diante de fatores

preocupantes que foram apresentados.

Nos últimos seis anos (2011-2017), considerando a existência de subnotificações, o

número de registros de violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil aponta

para o número exorbitante de 58.063 casos. Deve-se considerar que se tratando de violência

sexual contra crianças e adolescentes o percentual de subnotificações tem um índice

superior a demais violências, haja vista a presença de algumas crenças que incluem o fato

da realização da denúncia associada a exposição possa causar mais prejuízos para a criança

vítima. Desta forma, inúmeros casos, não são denunciados permanecendo “invisíveis” aos

registros oficiais e na relação e dinâmica familiar.

Constatou-se neste estudo que a negligência se confirma como porta de entrada para

a ocorrência de abuso sexual infanto-juvenil. Ela se apresenta sutilmente desde a

participação das mães no grupo de intervenção até o nível de conhecimento sobre o que é

o abuso sexual infanto-juvenil antes da realização das oficinas. Desta maneira, o grau da

ameaça e da necessidade de busca de ajuda na rede de apoio acaba por evidenciar estes

comportamentos como sinais de negligência por parte das mães. Corrobora com esta

afirmação Bartlett, Raskin, Kotake, Nearing e Easterbrooks (2014), que sugerem que a forma

mais comum de violência e maus tratos aos menores é a negligência, e apontam diversos

fatores de risco, que podem indicar a probabilidade de um caso de negligência acontecer.

Para estes autores existe a necessidade de uma política de prevenção que inclua a

negligência por parte dos pais, como uma ferramenta de combate às várias formas de

violência contra a população infanto-juvenil.

Apesar das evidências remeterem a necessidade de conscientização por parte das mães

diante das negligências dirigida aos seus filhos, também é importante admitir que existem

outros papéis sociais que estão sendo negligenciados, sobretudo papéis que podem ser decisivos

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na diminuição ou na redução deste problema social, sendo neste caso o papel das políticas

sociais diante deste crime.

O baixo nível geral de conhecimento sobre a temática do ASI, pode ser evidenciado no

trabalho de Sanberk, Emen e Kabakç (2017) que constataram que todas as mães entrevistadas

com filhos em fase pré-escolar possuíam crenças distorcidas quanto à precocidade com que

deveriam abordar sobre o assunto com seus filhos. Dentre as circunstâncias relacionadas,

algumas mães achavam que era cedo demais para expor seus filhos a tal temática e, de forma

mais grave, nos casos de mães de situação econômica desfavorecida, a crença difundida entre

as mães de forma unânime, era a de que só precisariam dialogar sobre abuso sexual infantil com

seus filhos, a partir da fase de desenvolvimento denominada puberdade. Outro fator relevante

deste estudo foi que, entre o grupo das mães desfavorecidas a grande maioria não conseguiu

conceituar ou definir o termo abuso sexual infanto-juvenil.

No presente trabalho, levando em consideração a ordem decrescente em relação a canais

de busca de informações sobre o ASI os resultados apontaram a televisão como principal canal

para obtenção de conhecimento que chegam às mães de maneira superficial e imprecisa. Como

consequência transparece a propagação de mitos e estereótipos que comprometem o

conhecimento das mães e que são repassadas nas gerações. De acordo com Sanberk, Emen e

Kabakç (2017) as informações insuficientes e superficiais encontradas entre as mães estudadas,

podem ser ressignificadas efetivamente após uma pequena intervenção.

Nos estudos de Sanberk, Emen e Kabakç (2017) as mães entrevistadas atribuíam a

responsabilidade da conscientização de crianças sobre ASI aos pais (no caso de meninos) e às

mães (no caso de meninas) e ainda aos professores e médicos.

Apesar dos dados quantitativos do presente trabalho demonstrar que não existe neste

grupo influência das variáveis níveis de instrução e classe social sobre o nível de conhecimento

das mães sobre ASI, tais resultados se apresentam de forma oposta diante dos estudos de

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Sanberk, Emen e Kabakç (2017) que tiveram como resultado que suas intervenções foram mais

conclusivas entre mães participantes socialmente desfavorecidas.

De forma distinta, o estudo de Alzoubi, Ali, Flah e Alnatour (2018) afirmam maior

obtenção de conhecimento sobre a temática do abuso sexual infantil entre famílias de maior

renda. Para estes autores, famílias com maior renda propicia maior acesso aos canais de

informação não gratuitos que como consequência eleva os níveis educacionais e informativos.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A psicologia tem contribuído para desvendar as diversas faces, formas e tipos de abuso

sexual infanto-juvenil. Casos de abusos são denunciados diariamente e contemplam diversas

situações de violência contra as crianças e adolescentes. Como não se trata, infelizmente, de

um problema contemporâneo, abarca ampla conceituação e possui uma dinâmica extremamente

complexa. O abuso sexual infanto-juvenil engloba todo e qualquer ato ou jogo sexual entre um

adulto com o envolvimento de uma criança ou adolescente de forma inapropriada, podendo ser

com um ou mais adultos, sendo que a atividade sexual se destina a gratificação e prazer sexual

do adulto.

Algumas considerações foram mencionadas nos capítulos de avaliação do processo e da

contribuição da psicologia social comunitária. Porém, cabe enfatizar que as práticas devem ter

como meta trabalhar com as potencialidades de todos os envolvidos, visando a transformação

social. Neste estudo, observou-se que as mães estavam comprometidas com uma prática

colaborativa, que responsabilizava e não excluía. Desta forma, aproximou quem mais podia

contribuir para a pesquisa e para o grupo: aquelas que sofreram alguma forma de abuso. Juntas

aprenderam que o conhecimento e o fortalecimento não se produzem sozinhos.

O método utilizado foi a pesquisa ação, realizada com grupos de mães sob a ótica da

prevenção, atenta aos fatores de risco e proteção. Foram elaboradas oficinas que permitiram

discutir e compreender em cada encontro a dinâmica do abuso sexual, atentando para a

legislação, para o sistema de garantia de direitos e para a dimensão programática enquanto

política pública de estrutura social.

Os objetivos desta pesquisa foram concluídos enquanto o desenvolver e avaliar oficinas

de prevenção primária de abuso sexual com mães de crianças e adolescentes. Assim, identificar,

no contexto de duas escolas públicas na cidade de Curitiba, o nível de conhecimento sobre

abuso sexual infanto-juvenil das mães e o impacto após a finalização destes encontros.

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A intenção em realizar oficinas preventivas com mães se deu em função do grande

número de casos de abusos que atinge em maior parte o sexo feminino, com crianças nas idades

de 1 a 5 anos, dentro de casa e perpetrado por membros da família. Durante as intervenções, as

mães tiveram liberdade e oportunidade para discutir o tema principal, mas também temas

inerentes à própria sexualidade e à sexualidade infanto-juvenil, para que juntas pudessem

compreender as dinâmicas envolvidas que afetam amplamente o desenvolvimento de seu

filho(a). Assim, a psicologia encontrou espaço enquanto ação educativa para mães, dentro das

duas instituições de ensino, para o enfrentamento do abuso sexual, que compromete o amplo

desenvolvimento infanto-juvenil. O contrato antes das oficinas tinha como objetivo promover

o abrir da “caixinha de segredos” e, segundo a avaliação do processo, foi possível em muitos

momentos acessar algo mais profundo que trouxesse a verdadeira compreensão das formas que

permitem o “acorr6encia de um abuso sexual”. As mães falaram de suas mães, assim,

apareceram dores de uma mãe que “deixou” o abuso acontecer, uma falta de vínculo materno,

de uma mãe que não ouviu, de sinais que não foram vistos, da falta de diálogos, de perguntas

sem repostas, de abusos que aconteceram dentro de casa por pais ou familiares, com dinâmicas

já relatadas cientificamente como afirmam os dados. Estas experiências desacreditadas não

foram denunciadas na época em que aconteceu o abuso sexual e esses foram os impeditivos

abertos pelas intervenções na escola. Com esta abertura, ressignificamos todo seu papel

maternal e de cuidado. A práxis foi efetiva para aumentar o conhecimento sobre o abuso sexual,

sobre suas consequências, sobre a credibilidade do relato de uma criança, sobre a existência da

sexualidade infantil, sobre a síndrome do segredo, sobre as leis, sobre os sinais e os sintomas

do abuso sexual. Desta forma, as intervenções realizadas demonstraram serem efetivas para

promover a conscientização e o conhecimento. Em relação aos questionários aplicados,

percebe-se que as mães já tinham algum conhecimento prévio sobre o tema, mas durante as

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oficinas esses conceitos foram ampliados, através das dinâmicas realizadas. Após as oficinas,

houve aumento significativo no nível de conhecimento.

Este estudo tem a limitação de ter sido realizado com uma amostra de conveniência,

com um delineamento quase-experimental. Não é fácil realizar estudos longitudinais no Brasil,

especialmente sem nenhuma fonte de financiamento e realizado em um curto espaço de tempo.

É difícil manter um grupo participativo ao longo do tempo, de forma a não comprometer o

poder de estatístico para extrapolar os dados desta pesquisa. Sugere-se que novos estudos sejam

realizados, com amostras maiores. Apesar da limitação do estudo, as oficinas demonstraram ter

um efeito significativo no conhecimento sobre o abuso sexual. Este é um importante indicador

para que ações programáticas sejam desenvolvidas, de forma a se estabelecerem políticas

públicas visando o desenvolvimento de programas de prevenção ao abuso sexual. O salto no

conhecimento exige a continuidade do trabalho do pesquisador e da comunidade cientifica. É

perceptível a importância da temática no contexto social atual.

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APÊNDICES

Apêndice 1 - Questionário

Apêndice 2 - Declaração de Infraestrutura e Autorização Para o seu uso

Apêndice 3 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE

Apêndice 4 – Tabelas 11 a 18 Classe Social e Nível do Instrução

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APÊNDICE 1

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Universidade Tuiuti do Paraná

CURSO DE PSICOLOGIA

Cara colaboradora:

Sua participação é muito importante neste estudo. Seja bem vindo! Nesse projeto vamos

avaliar uma proposta de trabalho que ajudará outras pessoas a fazerem programas de prevenção

em abuso sexual mais eficientes, tratando questões sobre sexualidade e abuso sexual.

Lembre-se: as suas respostas serão mantidas como estritamente confidenciais. Haverá

somente um número no questionário que o identificará, mas apenas a pesquisadora, Sandra

Mara A. Rodrigues e a orientadora desta pesquisa, Maria Cristina Antunes, terão acesso. Como

psicólogas e pesquisadoras, a lei nos permite guardar segredo mesmo sob requisição da justiça.

Portanto, não haverá nenhum nome grudado ao seu questionário, apenas um número que o

identificará. Nesta folha, colocaremos seu nome e número do questionário, pois iremos

comparar os resultados no final da pesquisa. Os dados obtidos, com a sua colaboração, serão

usados apenas em porcentagens, números e comentários gerais.

A sua honestidade e sinceridade nas respostas é muito, muito importante! A nós não

interessa julgar, dar qualquer opinião sobre o que as pessoas fazem ou deixam de fazer.

Lembre-se: não se preocupe em dar a resposta socialmente correta. Procure responder

sempre o que de fato você faz ou como faz, e não o que você acha certo fazer, deveria fazer

ou gostaria de fazer. Seja verdadeiro, ok?

Muito obrigada!

Sandra Mara A. Rodrigues e Maria Cristina Antunes

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Coloque seu nome aqui:

_______________________________________________________________

Quest. Nº: __________

Data: ______/___________/___________ Quest. Nº.: __________

1) Sua idade: _____________

2) Local de nascimento: ____________________/________________(Cidade/Estado)

3) Bairro onde mora: _________________________________________________

4) Quantos filhos você tem? _________________

5) Qual seu estado civil?

1.�Solteira 2.� Casada 3.�Vive junto 4.�Divorciada 5.�Viúvo(a)

6) Você mora em:

1.�casa própria 2.�casa alugada 3.�casa emprestada

7) Quantas pessoas moram na sua casa contando com você? ______________________

8) Quantas peças tem sua casa? _____________________________________________

9) Você se considera:

1.� Branca 2.� Negra 3.� Amarela 4.�Parda 5.�Indígena

10) Qual a sua religião?

1.�Católica 2.� Evangélico 3.�Espírita 4.�Umbandista/Candomblé

5.�Não tenho religião 6.�Outra: ____________________

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11) Qual importância dá aos cultos aos cultos religiosos?

1.� muito importante

2.�importante

3.� sem muita importância

4.�nada importante

12) Você trabalha atualmente? 1.� Sim 2.�Não

13) Qual a sua profissão? ___________________________________

14) Qual seu salário atual? __________________________________

15) Alguém mais trabalha na sua casa? 1.� Sim 2.�Não

16) Somando todos os salários da sua casa, quanto dá o total? __________________

17. Orçamento Familiar

Seguem abaixo algumas perguntas sobre itens eletroeletrônicos que DEVEM estar funcionando

na sua casa, incluindo aqueles que estão guardados. Caso você tenha alguns aparelhos

estragados, MAS que você pretende consertar em até seis (6) meses você pode marcar que tem

este aparelho.

Na sua casa tem? Responda abaixo:

Quantidade que

possui

Itens de conforto Não Possui

1 2 3 4

1. Carros de passeio de uso particular

2. Empregados (as) mensalistas (mais de 5 dias na semana)

3. Máquinas de lavar roupa (menos tanquinho)

4. Quantidade de banheiros na sua casa

5. Dvd, qualquer aparelho que leia dvd (no carro não conta)

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Quantidade que

possui

6. Quantidade de geladeiras na sua casa

7. Quantidade de freezers ou geladeiras duplex

8. Quantidade de computadores considerando somente computadores de de mesa, laptops, notebooks.

9. Quantidade de lava louças

10. Quantidade de fornos de micro-ondas

11. Quantidade de motociclcetas (moto para trabalho não conta)

12. Quantidade de máquinas secadora de roupas (só a que seca roupas)

13. A água utilizada na sua casa é proveniente de?

1 ( ) Rede de distribuição

2 ( ) Poço ou nascente

3 ( ) Outro meio

18. Considere o (a) chefe (a) da família aquele (a) que contribui com a maior parte da renda

na sua casa. Na sua casa quem é o chefe(a) da família?

Resposta: _______________________________________________________

19. Qual é o grau de instrução do(a) chefe (a) da família?

1. ( ) Analfabeto/fundamental 1 incompleto

2. ( ) Fundamental I completo/ Fundamental II incompleto

3. ( ) Fundamental Completo/Médio Incompleto

4. ( ) Médio completo/superior incompleto

5. ( ) Superior Completo

20. Já ouviu falar em casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes?

1.� Sim 2.� Não

14. Considerando o trecho da rua da sua casa, você diria que a rua é? 1 ( ) Asfaltada/pavimentada 2 ( ) Terra/cascalho

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21. Alguma dessas situações já ocorreu com você?

1. □ Fui acariciada em meus órgãos sexuais contra minha vontade.

2. □ Fui obrigada a assistir filmes pornográficos contra minha vontade.

3. □ Fui obrigada a observar (assistir) relações sexuais contra minha vontade.

4. □ Fui obrigada ou coagida a praticar sexo anal contra minha vontade.

5. □ Fui obrigada ou coagida a praticar sexo oral contra minha vontade.

6. □ Fui obrigada ou coagida a praticar sexo vaginal contra minha vontade.

Abuso sexual é qualquer contato sexual, com ou sem o uso de violência, onde o abusador (a) seduz ou força uma pessoa a ter contatos sexuais. O abuso sexual caracteriza-se por: contato sexual com ou sem penetração; passar a mão; o abusador (a) pede para tocar nos seus órgãos sexuais ou exibe seus órgãos sexuais; esfregar os órgãos sexuais e mostrar material pornográfico para a criança ou adolescente. O abuso sexual também pode ocorrer entre colegas, crianças ou adolescentes de uma mesma idade, mas só é abuso quando uma das crianças/adolescentes é forçado a alguma dessas práticas descritas acima.

22. Já aconteceu algum caso de abuso sexual em sua família?

1.� Sim 2.� Não 3.� Não sei

23. Você suspeita que seu filho(a) tenha sofrido abuso sexual?

1.� Sim 2.� Não (Se você respondeu NÃO, pule para a questão 25)

24. Você procurou ajuda?

1.� Sim Onde? ______________________________________________

2.� Não

25. Você sofreu algum tipo de abuso sexual?

1.� Sim 2.�Não (se você respondeu NÃO, pule para a questão 31)

26. Com que idade você sofreu o abuso sexual? _________________

27. A pessoa que abusou de você era seu:

1. □Pai 2. □Mãe 3. □Parente 4. □Amigo da família 5. □Professor

6. □Chefe 7. □Outro:____________________

28. Quanto tempo durou o abuso sexual com você?____________________(meses)

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29. Você contou para alguém?

1.� Sim 2.�Não

30. Para quem você contou?

1. □Pai 2. □Mãe 3. □Parente 4. □Amigo da família

5. □Professor 6. □ Chefe 7. □Outro: ____________________________

31. Você sabe o lugar que se deve procurar no caso de abuso sexual? Em caso afirmativo, escreva

onde:

1.� Sim /onde? ___________________________

2.�Não

32. Responda o quanto você CONCORDA ou DISCORDA com as afirmações abaixo:

Discordo Totalmente

Discordo em parte

Concordo em parte

Concordo totalmente

1- O abuso sexual é somente a situação na qual um adulto tem relação sexual completa, com uma criança ou adolescente.

1.� 2.� 3.� 4.�

2- O abuso sexual é praticado por apenas pessoas desconhecidas da vítima.

1.� 2.� 3.� 4.�

3- O abuso sexual, contra criança e adolescente é considerado crime para a lei brasileira.

1.� 2.� 3.� 4.�

4- Toda situação de abuso sexual envolve necessariamente o contato físico entre o abusador e a vítima.

1.� 2.� 3.� 4.�

5- O abuso sexual é praticado sempre com violência física contra a vítima sendo pega a força.

1.� 2.� 3.� 4.�

6- Mostrar filmes ou revistas pornográficas para criança pode ser considerado abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

7-Não se deve falar sobre abuso sexual com crianças. 1.� 2.� 3.� 4.� 8-O abuso sexual pode ocorrer dentro de uma família, entre pais e filhos, tios e sobrinhos, irmãos ou irmãs, avós e netos, padrastos e enteados.

1.� 2.� 3.� 4.�

9-O adulto que passa a mão nos órgãos sexuais da criança para ficar sexualmente excitado ou deixá-la sexualmente excitada está praticando abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

10-A criança não consegue se defender do abuso sexual porque é envolvida pelo adulto.

1.� 2.� 3.� 4.�

11-Falar sobre abuso sexual com criança vai despertar a sua curiosidade e vai levá-la a procurar se relacionar sexualmente com alguém.

1.� 2.� 3.� 4.�

12-Para envolver a criança ou adolescente no abuso sexual, o abusador pode usar mentiras, sedução ou ameaças.

1.� 2.� 3.� 4.�

13-De maneira geral, as pessoas não têm informação sobre o abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

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135

Discordo Totalmente

Discordo em parte

Concordo em parte

Concordo totalmente

14-Uma criança ou adolescente é envolvido num abuso sexual porque quer.

1.� 2.� 3.� 4.�

15-Roupas curtas, exibindo o corpo, podem ser causas de abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

16-As crianças deveriam ser educadas pelos pais sobre os riscos de abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

17-As crianças deveriam ser educadas pela escola sobre os riscos de abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

18-Quando uma criança é abusada sexualmente, fica traumatizada para toda vida.

1.� 2.� 3.� 4.�

19-O abuso sexual praticado por pessoas de dentro da família é mais grave para a vítima do que o abuso praticado por pessoas que não são da família.

1.� 2.� 3.� 4.�

20-Uma criança abusada sexualmente dentro da família pode fugir de casa, e entrar para prostituição na adolescência.

1.� 2.� 3.� 4.�

21-Quando um pai ou padrasto abusa sexualmente de uma filha ou filho, é porque a mãe não consegue perceber que está acontecendo.

1.� 2.� 3.� 4.�

22-Quando as pessoas sabem de um caso de abuso sexual, em geral elas denunciam.

1.� 2.� 3.� 4.�

23-Uma pessoa que sofreu abuso sexual na infância sente culpa e vergonha do que aconteceu.

1.� 2.� 3.� 4.�

24-Apenas homens praticam abuso sexual com crianças ou adolescentes.

1.� 2.� 3.� 4.�

25-O abuso sexual acontece por causa da pobreza e do desemprego.

1.� 2.� 3.� 4.�

26-O abusador sexual pode ter qualquer nível de escolaridade, pode ou não ter estudado.

1.� 2.� 3.� 4.�

27-O abuso sexual ocorre porque o abusador usa drogas ou álcool.

1.� 2.� 3.� 4.�

28-O abusador sexual pode ter sido uma vítima de abuso na infância.

1.� 2.� 3.� 4.�

29-Quando as pessoas não denunciam casos de abuso sexual é porque ficaram com medo de ameaças ou de vingança.

1.� 2.� 3.� 4.�

30-O abusador sexual pratica o abuso porque não tem caráter.

1.� 2.� 3.� 4.�

31-O abuso sexual ocorre em qualquer classe social. 1.� 2.� 3.� 4.�

32-A criança que sofreu abuso sexual pode apresentar comportamentos sexualmente avançados para sua idade.

1.� 2.� 3.� 4.�

33-Apenas crianças ou adolescentes do sexo feminino são vítimas de abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

34-O abusador sexual deve ser denunciado aos órgãos competentes.

1.� 2.� 3.� 4.�

35-O abusador sexual deveria fazer tratamento psicológico.

1.� 2.� 3.� 4.�

36-Quando um abusador sexual é pego, a comunidade deve fazer justiça com suas próprias mãos.

1.� 2.� 3.� 4.�

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136

Discordo Totalmente

Discordo em parte

Concordo em parte

Concordo totalmente

37-Os adultos deveriam conversar mais sobre abuso sexual para evitarem que isso ocorra com as crianças.

1.� 2.� 3.� 4.�

33. Responda o quanto você CONCORDA ou DISCORDA com as afirmações abaixo:

Discordo Totalmente

Discordo em parte

Concordo em parte

Concordo totalmente

1-Quando fico sabendo de um caso de abuso sexual de criança, isso me abala emocionalmente

1.� 2.� 3.� 4.�

2-Se uma criança ou adolescente relata uma situação de abuso sexual intrafamiliar, eu acredito.

1.� 2.� 3.� 4.�

3-Existem serviços de apoio e proteção às vítimas de abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

4-Os abusadores costumam enganar as crianças e adolescentes com falsas promessas.

1.� 2.� 3.� 4.�

5-Todas as crianças e adolescentes sabem se defender de agressores sexuais.

1.� 2.� 3.� 4.�

6-Quando um adulto se aproximar de uma criança ou adolescente para abusar sexualmente, ela(e)deve ficar quieta(o), pois o adulto pode bater.

1.� 2.� 3.� 4.�

7-Adolescentes (homens ou mulheres) também podem ser agressores sexuais.

1.� 2.� 3.� 4.�

8-A criança ou adolescente tem culpa de ter sofrido abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

9-O adulto que pratica abuso sexual tenta fazer a criança ou adolescente se sentir culpada(o) por ter participado.

1.� 2.� 3.� 4.�

10-Se a criança ou adolescente contar para algum colega sobre o abuso que sofreu, o adulto que abusou pode fazer alguma coisa contra ela (ele) ou contra alguém da sua família.

1.� 2.� 3.� 4.�

11-Se um adulto desconhecido se aproxima da criança tentando dar abraços e beijos, a criança deve sair correndo do local e contar para uma pessoa de confiança.

1.� 2.� 3.� 4.�

12-e uma criança ou adolescente esteve em uma situação que poderia ter sido vítima de abuso sexual, ela deve contar para algum adulto de confiança.

1.� 2.� 3.� 4.�

13-É importante a participação de mães em programas que ajudem a conhecer e prevenir situações abusivas contra crianças e adolescentes.

1.� 2.� 3.� 4.�

14-Uma criança ou adolescente que tenha sofrido abuso não deve contar para ninguém.

1.� 2.� 3.� 4.�

15-Quando as pessoas não denunciam casos de abuso sexual é porque ficaram com medo de ameaça ou vingança.

1.� 2.� 3.� 4.�

16-Minha família está protegida e meus filhos não correm o risco de sofrer abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

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137

Discordo Totalmente

Discordo em parte

Concordo em parte

Concordo totalmente

17-O abusador sexual é um estranho e fácil de ser reconhecido.

1.� 2.� 3.� 4.�

18-Fazer carícias sexuais sem penetração é abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

19-Você se sente capaz de falar sobre abuso sexual com seus filhos (as).

1.� 2.� 3.� 4.�

20-Se sua filha (o) sofresse abuso sexual hoje você se sente capaz de buscar ajuda.

1.� 2.� 3.� 4.�

21-Se você percebesse que algum familiar está praticando abuso sexual dentro da sua casa você se sente capaz de buscar ajuda.

1.� 2.� 3.� 4.�

22-Quando fico sabendo de um caso de abuso sexual de criança, isso me abala emocionalmente

1.� 2.� 3.� 4.�

23-Se uma criança ou adolescente relata uma situação de abuso sexual intrafamiliar, eu acredito.

1.� 2.� 3.� 4.�

24-Existem serviços de apoio eproteção às vítimas de abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

25-Os abusadores costumam enganar as crianças e adolescentes com falsas promessas.

1.� 2.� 3.� 4.�

26-Todas as crianças e adolescentes sabem se defender de agressores sexuais.

1.� 2.� 3.� 4.�

27-Quando um adulto se aproximar de uma criança ou adolescente para abusar sexualmente, ela(e)deve ficar quieta(o), pois o adulto pode bater.

1.� 2.� 3.� 4.�

28-Adolescentes (homens ou mulheres) também podem ser agressores sexuais.

1.� 2.� 3.� 4.�

29-A criança ou adolescente tem culpa de ter sofrido abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

30-O adulto que pratica abuso sexual tenta fazer a criança ou adolescente se sentir culpada(o) por ter participado.

1.� 2.� 3.� 4.�

31-Se a criança ou adolescente contar para algum colega sobre o abuso que sofreu, o adulto que abusou pode fazer alguma coisa contra ela (ele) ou contra alguém da sua família.

1.� 2.� 3.� 4.�

32-Se um adulto desconhecido se aproxima da criança tentando dar abraços e beijos, a criança deve sair correndo do local e contar para uma pessoa de confiança.

1.� 2.� 3.� 4.�

33-Se uma criança ou adolescente esteve em uma situação que poderia ter sido vítima de abuso sexual, ela deve contar para algum adulto de confiança.

1.� 2.� 3.� 4.�

34-É importante a participação de mães em programas que ajudem a conhecer e prevenir situações abusivas contra crianças e adolescentes.

1.� 2.� 3.� 4.�

35-Uma criança ou adolescente que tenha sofrido abuso não deve contar para ninguém.

1.� 2.� 3.� 4.�

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Discordo Totalmente

Discordo em parte

Concordo em parte

Concordo totalmente

36-Quando as pessoas não denunciam casos de abuso sexual é porque ficaram com medo de ameaça ou vingança.

1.� 2.� 3.� 4.�

37-Minha família está protegida e meus filhos não correm o risco de sofrer abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

38-O abusador sexual é um estranho e fácil de ser reconhecido.

1.� 2.� 3.� 4.�

39-Fazer carícias sexuais sem penetração é abuso sexual.

1.� 2.� 3.� 4.�

40-Você se sente capaz de falar sobre abuso sexual com seus filhos (as).

1.� 2.� 3.� 4.�

41-Se sua filha (o) sofresse abuso sexual hoje você se sente capaz de buscar ajuda.

1.� 2.� 3.� 4.�

42-Se você percebesse que algum familiar está praticando abuso sexual dentro da sua casa você se sente capaz de buscar ajuda.

1.� 2.� 3.� 4.�

34. Responda o quanto você CONCORDA ou DISCORDA com as afirmações abaixo:

Concordo Totalmente

Concordo em parte

Nem concordo

nem discordo

Discordo em parte

Discordo totalmente

1) O contato sexual entre um adulto e uma criança, que é desejado e fisicamente prazeroso para a criança, não pode ser descrito como “abusivo”.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

2) O contato sexual com um adulto pode contribuir favoravelmente ao subsequente desenvolvimento psicossexual da criança.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

3) Muitas crianças são sexualmente abusadas por estranhos ou por homens que são pouco conhecidos da criança.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

4) Crianças que agem de maneira sedutora devem ser vistas como parcialmente culpadas se um adulto responder de forma sexual.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

5) O contato sexual entre um adulto e uma criança, que não envolva força ou coerção e que não envolva tentativa ou consumação de penetração sexual, é improvável que tenha sérias consequências psicológicas para a criança

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

6) Uma mulher que não satisfaz sexualmente seu parceiro deve assumir parte da responsabilidade se ele se sentir frustrado e buscar satisfação sexual os filhos(as) dela.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

7) O ASI ocorre geralmente em famílias pobres, desorganizadas e instáveis.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

8) Não é o contato sexual com adultos que é prejudicial para as crianças. O que realmente causa dano para a criança é o estigma social que é resultado da revelação do “segredo”.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

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Concordo Totalmente

Concordo em parte

Nem concordo

nem discordo

Discordo em parte

Discordo totalmente

9) Muitas crianças têm um desejo inconsciente de serem sexualmente envolvidas pelo pai ou mãe, que faz com que inconscientemente comportem-se de forma a tornar o abuso sexual pelo pai ou mãe mais provável.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

10) Garotas adolescentes que se vestem com roupas curtas estão pedindo para serem sexualmente abusadas.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

11) Crianças criadas por casais gays ou lésbicas apresentam um risco maior de serem sexualmente abusadas do que crianças criadas por casais heterossexuais.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

12) É mais provável que meninos gostem do contato sexual com um adulto do que meninas e, portanto, eles são menos suscetíveis a ficarem emocionalmente traumatizados pela experiência.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

13) O ASI é provocado por problemas sociais tais como desemprego, pobreza e abuso de álcool.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

14) Crianças que não relatam o abuso sexual em andamento devem querer que o contato sexual continue.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

15) Crianças mais velhas, que tem um melhor entendimento de questões sexuais, tem a responsabilidade de resistir ativamente aos avanços sexuais feitos por adultos.

1.� 2.� 3.� 4.� 5.�

35. Lugares que você obtém informações sobre o abuso sexual:

Sim Não 1- Você participou de algum programa preventivo de abuso sexual? 1. � 2. � 2- Um de seus filhos participou na escola de um programa preventivo de abuso

sexual? 1. � 2. �

3- Você recebeu folhetos informativos sobre abuso sexual? 1. � 2. � 4- Você já conversou com suas amigas sobre abuso sexual? 1. � 2. � 5- Algum médico falou sobre abuso sexual com você? 1. � 2. � 6- Na sua igreja ou local religioso que você frequenta, ocorreu alguma palestra

sobre abuso sexual. 1. � 2. �

7- Você já procurou informações sobre abuso sexual na internet? 1. � 2. � 8- Você já obteve alguma informação sobre ASI na televisão? 1. � 2. �

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36. Analise as questões abaixo e marque com X as questões que você achar correta: Discordo

Totalmente Discordo em parte

Concordo em parte

Concordo totalmente

1- Devo procurar o Conselho Tutelar em caso de suspeita de abuso sexual do meu filho(a).

1.� 2.� 3.� 4.�

2- Em caso de suspeita de abuso sexual vou falar com a creche do meu filho(a).

1.� 2.� 3.� 4.�

3- Acho perigoso ir ao Conselho Tutelar pois posso perder a guarda do meu filho(a)

1.� 2.� 3.� 4.�

4- Devo procurar o Hospital Infantil Pequeno Príncipe em caso de suspeita de abuso sexual de meu filho(a).

1.� 2.� 3.� 4.�

5- Devo procurar o NUCRIA (Núcleo de Proteção à Criança e Adolescente) em caso de suspeita de abuso sexual de meu filho(a).

1.� 2.� 3.� 4.�

6- Devo procurar ajuda no posto de Saúde do Bairro, em caso de suspeita de abuso sexual de meu filho(a).

1.� 2.� 3.� 4.�

7- É possível fazer uma denúncia anônima de suspeita de ASI, pelo Disque 100.

1.� 2.� 3.� 4.�

37) A lista abaixo contém diversos itens na forma de sinais e sintomas de abuso sexual contra crianças e adolescentes. Alguns destes sinais podem ser observados em sala de aula, outros podem ser relatados pelo próprio sujeito, ou mesmo por familiares e professores. Alguns destes sinais são muitos específicos, ou seja, são fortes indicativos de que o abuso possa ter ocorrido ou estar ocorrendo. Outros sinais são pouco específicos, ou seja, não indicam que o abuso sexual possa ter ocorrido ou estar ocorrendo. Atribua, a cada item, um valor entre 1 (um) e 5 (cinco), de forma que quanto maior o valor atribuído, mais indicativo de abuso sexual será o item. Por exemplo, caso você considere o item “comportamento sedutor” como um indicador muito forte de que o abuso sexual possa ter ocorrido ou estar ocorrendo, marque o número 5 (cinco) como segue:

Comportamento sedutor 1 2 3 4 5

Importante: marque apenas uma resposta em cada item!

1 2 3 4 5

01) Curiosidade sexual excessiva

02) Auto –conceito negativo

03) Lavar as mãos compulsivamente

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1 2 3 4 5

04) Tentativa e/ou comportamento suicida

05) Raiva e/ou hostilidade

06) Ansiedade

07) Masturbação excessiva ou pública

08) Repetir o que outras pessoas verbalizam

09) Sentimento de vergonha e/ou culpa

10) Baixa auto-estima

11) Medos

12) Pesadelos e dificuldades para dormir

13) Ansiedade relacionadas a temas sexuais

14) Tocar e/ou coçar os genitais

15) Excitabilidade aumentada (hipervigilância ou dificuldade

de concentração

16) Falta de competência social com pares

17) Agressividade sexual

18) Colocar objetos no ânus ou vagina

19) Fuga de casa

20) Brincar com brinquedos do sexo oposto

21) Requisitar estimulação sexual de outras pessoas

22) Envolvimento em atos ilegais

23) Brinquedos e/ou jogos sexualizados

24) Conhecimento sexual inapropriado para a idade

25) Delinquência

26) Evitação a determinadas pessoas e lugares

27) Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem verbal

28) Agressão física

29) Exposição frequente dos genitais

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1 2 3 4 5

30) Comportamento regressivo

31) Atos de auto-agressão

32) Retraimento e/ou isolamento

33) Tiques motores múltiplos

34) Transtornos alimentares (anorexia e/ou bulimia)

35) Comportamento impulsiv e/ou hiperativo

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APÊNDICE 2

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Declaração de Infraestrutura e Autorização Para o seu Uso

Ao Comitê de Ética em Pesquisa – CEP

Universidade Tuiuti do Paraná – UTP

Declaro, conforme a Resolução CNS 466/2012 a fim de viabilizar a execução da

pesquisa intitulada, “PREVENÇÃO PRIMÁRIA DE ASI”, sob a responsabilidade da

pesquisadora SANDRA MARA DE ALMEIDA RODRIGUES, no COLÉGIO ESTADUAL

PILAR MATURANA EFM e EJA conta com toda a infraestrutura necessária para a

realização e que a pesquisadora acima citada está autorizada a utilizá-la, tão logo o projeto seja

aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Tuiuti do Paraná.

De acordo e ciente,

Curitiba, ___ de _____________ de 20___.

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APÊNDICE 3

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu Sandra Mara de Almeida Rodrigues aluna da pós-graduaçãoda Universidade Tuiuti

do Paraná, convido você _____________________________________________

______________________________________________, a participar de um estudo intitulado

“Prevenção primária de ASI”. Este estudo é importante porque trará para você, mãe, um maior

conhecimento sobre o tema, a construção de uma rede social e ajuda para identificar e aonde ir

caso exista necessidade.

a) O objetivo desta pesquisa é saber o que vocês sabem sobre o abuso sexual na infância. b) Caso você participe da pesquisa, será necessário assinar esse documento que garantirá

a você sigilo sobre seu nome e dados. Você irá participar responder um questionário

antes e um questionário ao final dos encontros.

c) Para tanto você deverá comparecer na creche de seu filho Rua Paulo Friebe, 13 para

responder o questionário e participar das dinâmicas de grupo com mulheres mães.

A previsão de encontros é de 6 uma vez a cada semana com duração aproximada de 2h

cada encontro.

d) Talvez você experimente algum desconforto em alguma etapa da pesquisa, se isso

acontecer, avise a pesquisadora que iremos auxilia-la da melhor forma possível pois,

contamos com um serviço de psicologia em nossa universidade.

e) Os benefícios esperados com essa pesquisa são um maior conhecimento sobre o tema

que pode acontecer com nossas crianças e adolescentes, ou com alguma pessoa

conhecida e como e onde buscar ajuda que você vai conhecer.

f) A pesquisadora Sandra Mara de Almeida Rodrigues é aluna da pós-graduação,

responsável por este estudo poderá ser localizada na Universidade Tuiuti do Paraná, na

Rua Sydney Antônio Rangel Santos, 238, bairro Santo Inácio, telefone: 3331-7700 de

segundas e terças feiras das 9:00 às 17h. O e-mail é: [email protected] que

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pode ser usado para esclarecer eventuais dúvidas que você possa ter e fornecer-lhe as

informações que queira, antes, durante ou depois de encerrado o estudo.

g) A sua participação neste estudo é voluntária e se você não quiser mais fazer parte da

pesquisa poderá desistir a qualquer momento. Este documento será assinado em duas

vias, uma ficará com a pesquisadora e outra com você.

h) As informações relacionadas ao estudo poderão ser conhecidas por pessoas autorizadas

como médicos, psicólogos ou autoridade. No entanto, se precisar colocar seu nome na

pesquisa isso será de forma anônima de forma que seu nome será codificado por meio

de uma letra por exemplo.

i) O material obtido, no caso seu questionário preenchido antes e depois será utilizado

unicamente para essa pesquisa e será destruído, isto é, queimado ao término da pesquisa.

j) Para realização desta pesquisa você não precisará pagar nada e também não receberá

nenhum valor por sua participação.

k) Quando os resultados forem publicados, não aparecerá seu nome, e sim um código, ou

serão apresentados apenas dados gerais de todos participantes da pesquisa.

l) Se você tiver dúvidas sobre seus direitos como participante de pesquisa, você pode

contatar também o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Tuiuti do

Paraná, pelo telefone (041) 3331-7668. Rua: Sidnei Antônio Rangel Santos,238 Sala

328 Bloco C. Horário de atendimento das 13:30 às 17:30.

Eu,__________________________________________________________________

___________________________ li esse Termo de Consentimento e compreendi a natureza e

objetivo do estudo do qual concordei em participar. A explicação que recebi menciona os riscos

e benefícios. Eu entendi que sou livre para interromper minha participação a qualquer momento

sem justificar minha decisão e sem qualquer prejuízo para mim.

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Eu receberei uma via assinada e datada deste documento.

Eu concordo voluntariamente em participar deste estudo.

Local, _____ de ______________ de 2018.

_________________________________________________________

Assinatura da Participante de Pesquisa

_________________________________________________________

Sandra Mara de Almeida Rodrigues – CRP 08/21463

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Tabela 11. Comparação dos escores de Concepções acerca do abuso sexual (questão 32) em relação à classe social

Questão 32 Pré p-valor entre categorias** n m md dp

B1 1 124 124 * .293 B2 13 124 126 8 Faixa CRBR C1 15 125 126 8 C2 18 125 126 7 D 7 129 131 6 E 6 130 134 9 *não avaliado; m=média; md=mediana; dp=desvio padrão; **teste de Kruskall-Wallys Tabela 12. Comparação dos escores de Fatores relacionados ao abuso sexual (questão 33) em relação à classe social Questão 33 Pré p-valor entre categorias** n m md dp

B1 1 56 56 * .587 B2 13 54 55 3 Faixa CRBR C1 15 52 53 5 C2 18 54 55 3 D 7 54 55 2 E 6 53 56 7 *não avaliado; m=média; md=mediana; dp=desvio padrão; **teste de Kruskall-Wallys Tabela 13. Comparação dos escores de Mitos e crenças acerca do abuso sexual (questão 34) em relação à classe social Questão 34 Pré p-valor entre categorias** n m md dp

B1 1 1 52 52 .207 B2 13 56 60 14 Faixa CRBR C1 15 65 66 5 C2 18 63 65 12 D 7 64 65 5 E 6 67 70 8 *não avaliado; m=média; md=mediana; dp=desvio padrão; **teste de Kruskall-Wallys

Tabela 14. Comparação dos escores de Sinais e indicadores de abuso sexual (questão 37) em relação à classe social Questão 37 Pré p-valor entre categorias** n m md dp

B1 1 * * * .261 B2 13 118 133 45

Faixa CRBR C1 15 103 125 53 C2 18 96 110 35 D 7 95 81 36 E 6 130 129 12 *não avaliado; m=média; md=mediana; dp=desvio padrão; **teste de Kruskall-Wallys

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Tabela 15. Comparação dos escores de Concepções acerca do abuso sexual (questão 32) em relação à escolaridade

Questão 32 Pré p-valor entre categorias* n m md dp

Analfabeto/fundamental I incompleto 5 119 126 13 .516 Fundamental I completo/ II incompleto 7 127 128 6

Fundamental completo/Médio incompleto 10 129 131 6 Médio completo/superior incompleto 17 125 125 8 Superior Completo 25 125 126 9 m=média; md=mediana; dp=desvio padrão; *teste de Kruskall-Wallys Tabela 16. Comparação dos escores de Fatores relacionados ao abuso sexual (questão 33) em relação à escolaridade

Questão 33 Pré p-valor entre categorias* n m md dp

Analfabeto/fundamental I incompleto 5 54 54 2 .600 Fundamental I completo/ II incompleto 7 55 55 3

Fundamental completo/Médio incompleto 10 55 55 3 Médio completo/superior incompleto 17 53 55 3 Superior Completo 25 52 54 5 m=média; md=mediana; dp=desvio padrão; *teste de Kruskall-Wallys Tabela 17. Comparação dos escores de Mitos e crenças acerca do abuso sexual (questão 34) em relação à escolaridade

Questão 34 Pré p-valor entre categorias* n m md dp

Analfabeto/fundamental I incompleto 5 55 56 3 .127 Fundamental I completo/ II incompleto 7 63 63 2

Fundamental completo/Médio incompleto 10 65 66 7 Médio completo/superior incompleto 17 61 65 12 Superior Completo 25 64 67 12 m=média; md=mediana; dp=desvio padrão; *teste de Kruskall-Wallys Tabela 18. Comparação dos escores de Sinais e indicadores de abuso sexual (questão 37) em relação à escolaridade

Questão 37 Pré p-valor entre categorias* n m md dp

Analfabeto/fundamental I incompleto 5 54 55 3 .212 Fundamental I completo/ II incompleto 7 75 75 50

Fundamental completo/Médio incompleto 10 105 109 40 Médio completo/superior incompleto 17 121 130 34 Superior Completo 25 99 119 41 m=média; md=mediana; dp=desvio padrão; *teste de Kruskall-Wallys

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ANEXOS

Anexo 1 - Comportamentos relacionados a sexo e sexualidade em crianças pré- escolares Anexo 2 - A História de Rosinha

Anexo 3 - Material cedido pelo NUCRIA para distribuição/colaboração no trabalho preventivo com as mães Anexo 4 - Convite Café com as Mães

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ANEXO 1

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Comportamentos relacionados a sexo e sexualidade em crianças pré-escolares. Natural e esperado Gera preocupação Procurar ajuda profissional

Toca ou esfrega os próprios genitais quando está sendo trocado, ou quando está para dormir, quando está tenso, excitado ou com medo.

Continua tocando ou esfregando os genitais em público, mesmo que tenha sido dito, várias vezes, para não fazê-lo.

Toca ou esfrega genitais em público ou sozinho, excluindo as possibilidades de outras brincadeiras.

Explora diferenças entre masculino e feminino.

Questiona continuamente sobre diferenças genitais após todas as questões terem sido respondidas.

Brinca de papéis femininos ou masculinos de maneira raivosa, triste ou agressiva. Odeia seu próprio sexo ou o de outros.

Toca genitais, seios de adultos familiares e crianças.

Toca genitais ou seios de adultos não familiares. Pede para ser tocado.

Toca adultos furtivamente. Leva outros a tocarem, pede para ser tocado.

Tira vantagem de oportunidades para ver pessoas nuas.

Olha fixamente para pessoas nuas mesmo após ter visto muitas pessoas nuas.

Pede para as pessoas tirarem suas roupas. Tenta despir os outros forçadamente.

Pergunta sobre genitais, seios, intercurso, bebês.

Continuas perguntando às pessoas mesmo depois que os pais responderam questões apropriadas à sua idade.

Pergunta a estranhos depois que os pais responderam. Conhecimento sexual avançado para a idade.

Ereções. Ereções contínuas. Ereções dolorosas.

Gosta de ficar nu. Pode mostrar aos outros seus genitais.

Quer ficar nu em público depois que os pais dizem que não.

Recusa colocar suas roupas. Mostra-se secretamente em público depois de muitas repreensões.

Interessado em ver pessoas fazendo higiene no banheiro.

Interesse em ver pessoas no banheiro não decresce em dias ou semanas.

Recusa-se a deixar as pessoas sozinhas no banheiro, força a entrada.

Interessado em ter um bebê. Interesse dos meninos não decresce após vários dias ou semanas de brincar sobre bebês.

Mostra medo ou raiva sobre bebês, nascimentos ou intercurso.

Usa palavrões para situações de banheiro ou sexuais.

Continua a usar palavrões em casa depois que os pais disseram que não.

Usa palavrões em público ou em casa, mesmo após várias repreensões.

Interessado nas próprias fezes. Lambuza as paredes ou chão com fezes mais do que uma vez.

Repetidamente brinca ou lambuza com fezes após ser repreendido.

Brinca de médico, inspecionando o corpo de outra pessoa.

Freqüentemente brinca de médico após lhe terem dito que não.

Força outras crianças a brincarem de médico, a tirarem suas roupas.

Coloca alguma coisa nos genitais ou reto devido à curiosidade ou explorações.

Coloca alguma coisa nos próprios genitais ou reto ou de outra criança, após lhe terem dito que não.

Usa coerção ou força para colocar alguma coisa nos genitais ou reto de outra criança.

Brinca de casinha, atos ou papéis de mamãe e papai.

Enche outras crianças de roupas, simulando curvas.

Intercurso simulado ou real sem roupas, sexo oral.

Adaptado de Cavanagh-Johnson e Friend (1995)

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Comportamentos relacionados a sexo e sexualidade em crianças pré-escolares até a puberdade. Natural e esperado Gera preocupação Procurar ajuda profissional

Pergunta sobre genitais, seios, intercurso, bebês.

Mostra medo ou ansiedade sobre tópicos sexuais.

Perguntas sem fim sobre sexo. Conhecimento sexual muito grande para a idade.

Interessado em olhar pessoas usando o banheiro.

É pego olhando pessoas usando o banheiro.

Recusa-se a deixar pessoas sozinhas no banheiro.

Usa palavrões para funções do banheiro, genitais ou sexo.

Continua a usar palavrões com adultos depois que os pais dizem que não e o punem.

Continua a usar palavrões mesmo após ser retirado da escola ou atividades.

Brinca de médico, inspecionando o corpo alheio.

Freqüentemente brinca de médico e é pego depois de lhe terem dito que não.

Forçar outras crianças a brincarem de médico, a tirarem as roupas.

Meninos e meninas mostram interesse em terem bebês.

O interesse persiste após vários meses.

Mostra medo ou raiva sobre bebês ou intercurso.

Mostra para os outros os genitais. Quer permanecer nu em público depois que os pais disseram que não e o puniram.

Recusa colocar roupas. Expõe-se em público mesmo após várias repreensões.

Interesse em urina e defecação. Brinca com as fezes. Urina de propósito fora do vaso sanitário.

Repetidamente brinca ou se lambuza com fezes ou urina na mobília.

Toca ou esfrega seus genitais quando vai dormir, quando está tenso, excitado ou com medo.

Continua tocando ou esfregando genitais em público depois de lhe dizerem que não. Masturba-se na mobília ou com objetos.

Toca ou esfrega-se em público ou sozinho, excluindo atividades normais infantis. Masturba-se nas pessoas.

Brinca de casinha, atos ou papéis de mamãe e papai.

Enche outras crianças de roupas, simulando curvas. Imita comportamento sexual com bonecas.

Intercurso com outra criança. Força sexo com outra criança.

Pensa que outras crianças são avantajadas sexualmente.

Usa palavrões quando outras crianças realmente reclamam.

Usa linguagem maldosa sobre a família de outra criança. Machuca sexualmente outras crianças.

Fala sobre sexo com amigos. Fala sobre ter namorado/a.

Falar sobre sexo deixa a criança preocupada. Romantiza todos os relacionamentos.

Fala muito sobre sexo e atos sexuais. Repetidamente tem problemas por causa do comportamento sexual.

Quer privacidade quando está no banheiro ou se trocando.

Torna-se muito aborrecido quando é observado trocando as roupas.

Agressivo ou raivoso quando quer privacidade.

Gosta de ouvir ou contar piadas sujas.

É constantemente pego contando piadas sujas. Imita sons sexuais, como gemidos.

Conta piadas sujas, mesmo quando excluído das atividades escolares.

Olha fotos de nus. Continua fascinado por fotos de nus.

Quer se masturbar com fotos de nus ou fica mostrando-as.

Brinca de jogos relacionados a sexo ou sexualidade com crianças da mesma idade.

Quer brincar de jogos relacionados a sexo ou sexualidade com crianças mais velhas ou mais novas.

Força outros a brincar de jogos sexuais. Um grupo de crianças força uma criança a brincar.

Desenha genitais na figura humana.

Desenha genitais em uma figura e não em outra. O tamanho dos genitais é desproporcional ao corpo.

Genitais são proeminentes no desenho. Desenha intercurso ou sexo em grupo.

Adaptado de Cavanagh-Johnson e Friend (1995)

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Comportamentos relacionados a sexo e sexualidade em crianças pré-escolares até a puberdade. (continuação). Natural e esperado Gera preocupação Procurar ajuda profissional

Explora diferenças entre masculino e feminino, entre meninos e meninas.

Confuso sobre as diferenças entre masculino e feminino depois de todas as questões terem sido respondidas.

Brinca de papéis masculino ou feminino de maneira triste, agressiva ou raivosa. Odeia o próprio sexo.

Tirar vantagem de oportunidades de ver adultos ou crianças nuas.

Permanece vendo pessoas nuas, mesmo depois de ter visto várias.

Pede às pessoas para tirarem as roupas. Tenta despi-las à força.

Finge ser de outro sexo. Quer ser de outro sexo. Odeia ser do próprio sexo. Odeia os próprios genitais.

Quer comparar os genitais com os de outras crianças da mesma idade.

Quer comparar os genitais com os de outras crianças muito mais novas ou muito mais velhas ou com adultos.

Quer ver os genitais, seios, nádegas de crianças ou adultos.

Interessado em tocar genitais, seios, nádegas de outras crianças da mesma idade, ou quer ser tocado.

Continuamente quer tocar genitais, seios, nádegas de outras crianças. Tenta se engajar em sexo oral, anal ou vaginal.

Manipula ou força outra criança a tocar seios nádegas, genitais. Sexo oral, vaginal ou anal, mútuo ou forçado.

Beija adultos da família e crianças.

Beijos de língua. fala de maneira sexualizada com outros. Medo de beijos e abraços de adultos. Fica aborrecido com manifestações públicas de afeto.

Abertamente familiar com estranhos. Fala ou age de maneira sexualizada com adultos desconhecidos. Contato físico com adultos causa extrema agitação.

Olha para genitais, seios e nádegas de adultos.

Toca genitais, seios e nádegas de adultos. Pede para o adulto tocá-lo.

Sorrateiramente toca genitais, seios e nádegas do adulto. Tenta manipular adultos para ser tocado.

Ereções. Ereções contínuas. Ereções dolorosas.

Coloca coisas nos próprios genitais ou reto fora da curiosidade ou exploração.

Coloca coisas nos próprios genitais ou reto quando se sente desconfortável. Coloca coisas nos genitais ou reto de outra criança.

Usa coerção para colocar coisas nos genitais ou reto de outra criança. Intercurso anal ou vaginal. Causa danos aos genitais ou reto de outra pessoa.

Interessado no comportamento sexual de animais.

Toca genitais de animais. Comportamento sexual com animais.

Adaptado de Cavanagh-Johnson e Friend (1995)

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ANEXO 2

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A História de Rosinha

Versão utilizada modificada pela autora (Padilha, 2001)

Personagem principal: Rosinha 12 anos; mãe de 35 anos; irmão Alvinho de 9 anos e o

tio de 40 anos. Rosinha gostava de brincar com seu irmão Alvinho. A mãe deles trabalhava de dia numa

loja e o pai trabalhava em uma empresa de segurança. Rosinha e Alvinho iam para escola de manhã e à tarde ficavam em casa. Como os pais tinham que trabalhar, pediam para o tio, irmão do pai, para cuidar de Rosinha e de Alvinho. As vezes o tio ia fazer alguma coisa de casa, e as vezes ficava no sofá vendo televisão ou comendo. Rosinha e Alvinho tinham que fazer algumas tarefas de casa, pois a mãe só chegava às seis e o pai só chegava às oito da noite. O tio saia às cinco e meia para ir para casa. Rosinha era uma menina bem bonitinha que já estava meio que ficando mocinha, isto é, seu corpo estava se desenvolvendo, pois estava entrando na puberdade. Mesmo assim gostava muito de brincar com seu irmão Alvinho.

Numa tarde, o tio disse a Rosinha e Alvinho que não estava se sentindo muito bem e pediu que Alvinho pegasse o ônibus e fosse até a farmácia de um conhecido deles que ficava em outro bairro, pois o tio não tinha dinheiro para o remédio e queria comprar fiado.

Alvinho obedeceu ao tio e foi. Enquanto isso, Rosinha tratava de fazer um chá que o tio lhe pediu. Ele estava na cama e Rosinha foi levar o chá para ele. Eles conversaram durante mais ou menos meia hora. Mas de repente ele pediu que ela se aproximasse e deitasse ali na cama com ele, pois estava com frio. Ela se deitou e disse para o tio que logo o Alvinho chegaria com o remédio e então ele ficaria melhor.

Ele aproximou-se dela e começou a fazer carinho. Ela achou esquisito, mas como ele estava doente, não ligou. Os carinhos tomaram uma forma diferente, ele começou a acariciar suas coxas por cima da saia.

Disse que ela estava ficando uma moça muito bonita e que gostaria de lhe dar um beijo. Rosinha continuou achando estranho, mas lembrou que ele era seu tio e não iria fazer nada de errado com ela. Já que ele estava doente, não viu problema algum em um beijinho.

O tio se aproximou, colocou uma de suas pernas sobre as coxas de Rosinha e sem avisar começou a beijá-la na boca. Rosinha ficou completamente sem ação, tentou livrar-se daquele beijo, mas quanto mais ela tentava sair da situação, mas ele a segurava. Ficou muito assustada, não sabia o que iria acontece, mas mesmo assim não conseguia se livrar.

Não conseguia de duas formas: uma era porque não tinha força para empurrar o tio para que ele saísse de cima dela; outra era porque se sentia fraca por dentro, sentia uma moleza que não sabia explicar; sentia que ao mesmo tempo que não deveria estar naquela situação, deveria também obedecer o tio – afinal, ele que tinha mandado ela deitar ali. Nesse momento escutaram o portão bater, era Alvinho que tinha voltado. O tio rapidamente ordenou que Rosinha não contasse nada daquilo para ninguém!

O tio deitou-se ao seu lado e Rosinha saiu correndo do quarto. Trancou-se no banheiro e começou a chorar, não conseguia entender o que estava acontecendo. De uma coisa tinha certeza: aquilo não estava certo.

Alvinho chegou com o remédio e foi ao quarto onde estava o tio. Saiu do banheiro e o irmão lhe disse que o tio estava dormindo e que era melhor não o incomodar. Rosinha, então, ficou quita e foi para seu quarto. No final da tarde, o tio acordou, arrumou-se e foi embora. Como de costume, despediu-se de Rosinha e Alvinho e mandou que eles se comportassem.

Quando a mãe chegou do trabalho, Alvinho lhe contou que o tio tinha estado doente, mas que pelo jeito tinha melhorado, pois nem tomou o remédio que Alvinho foi comprar. Rosinha estava sentada na frente da TV vendo a novela, quando a mãe a chamou para ajudar

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com o lanche. A mãe achou Rosinha meio esquisita e perguntou se tinha brigado de novo com o irmão. Rosinha disse que não, que não era nada. A mãe lhe disse que achava que ela estava aprontando alguma, mentindo, para variar. Rosinha deixou cair um copo e a mãe gritou com ela, que saiu correndo e chorando. Logo o pai chegou.

Alvinho, o pai e a mãe foram fazer o lanche e Rosinha se trancou no quarto, chorando e sentindo-se cada vez mais confusa. Naquela noite teve pesadelos, mas não contou a ninguém no dia seguinte.

Os dias se seguiram, a vida continuou em sua rotina normal. Dali a uma semana, o tio mandou Alvinho até uma loja de autopeças para comprar uma peça do amortecedor do carro que estava quebrado e a peça tinha que ser trocada. Logo que Alvinho saiu, o tio foi para o quarto e chamou Rosinha....

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ANEXO 3

Material cedido pelo NUCRIA para distribuição/colaboração no trabalho preventivo com as

mães.

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ANEXO 4

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CONVITE CAFÉ COM AS MÃES

Dicas preventivas diante dos desafios na criação dos filhos

É com prazer que convidamos você para participar do nosso Café com as mães aqui na

creche! Vamos falar de tudo um pouco e ajudá-la na tarefa de educação de seu filho (a).

Venha fazer a diferença!! Traga sua dúvida e juntas

vamos buscar soluções para alguns temas difíceis de lidar!

Não tem custo!! Será um evento gratuito!!

Qual período é melhor para você mãe?

Marque e DEVOLVA para creche.

Avisamos quando iniciar pela agenda de seu filho (a)!

8 às 10 pela manhã ( )

15 às 17 pela tarde ( )

Dia início abril de 2018.

Local: Creche Irmã Clementina

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Reafirmando o convite:

Café com todas as Mamães da Creche!

Data: 02/05/2018

Horário: 15 horas

Local: Creche de seu filho (a).

Dicas preventivas diante dos desafios na criação dos filhos!!

Nos organizamos aqui! Teremos também sorteio de brindes para as mamães que

estiverem conosco!!

*Participação gratuita!

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CONVITE PARA MÃES

PREVENÇÃO DO ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE

Mães/mulheres: Vamos juntas tomar um café e discutir algumas coisas sobre seu filho

pequeno ou adolescente? Como lidar com a sexualidade deles/comportamentos

normais/anormais? Como ensinar? Chame sua amiga, a avó e venham participar!

SOU PSICÓLOGA e quero trazer este conteúdo para vocês! Curso GRÁTIS e com

certificado! Começa em agosto aqui na ESCOLA. Celular: 99630-1749 (Sandra).

DEVOLVA ESTE CONVITE ATÉ DIA 09 DE AGOSTO - PARA organizarmos

SEU dia e horário!!

Marque um X no melhor dia e horário para você:

( ) das 16h às 18 horas ou ( ) terças ou

( ) das 19h às 21h ( ) quartas

DEIXE SEU NOME:

______________________________________________________

SEU TELEFONE:

________________________________________________________

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Reconvite para início (reafirmando encontro)

PREVENÇÃO DO ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE início 21-08

Espero você mulher, mãe, avó, cuidadora para tomar nosso cafezinho! Venha tirar suas

dúvidas sobre seus filhos, vai ser um prazer estar com vocês!

Aqui na escola Pilar dia 21 de agosto -terça-feira– teremos dois horários para facilitar

(escolha um deles para vir).

Início 16 horas OU 19 horas

Qualquer dúvida entre em contato: Celular: 99630-1749 (Sandra).