universidade federal do cearÁ faculdade de economia, …€¦ · intensidade da comunicaÇÃo de...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA, CONTABILIDADE E
SECRETARIADO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO E CONTROLADORIA –
MESTRADO PROFISSIONAL
FERNANDA ROSALINA DA SILVA MEIRELES
INTENSIDADE DA COMUNICAÇÃO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
CORPORATIVA NA AMÉRICA LATINA: REFLEXOS DO AMBIENTE
INSTITUCIONAL
FORTALEZA
2014
FERNANDA ROSALINA DA SILVA MEIRELES
INTENSIDADE DA COMUNICAÇÃO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
CORPORATIVA NA AMÉRICA LATINA: REFLEXOS DO AMBIENTE
INSTITUCIONAL
Dissertação apresentada à Faculdade de Economia,
Administração, Atuária e Contabilidade da
Universidade Federal do Ceará, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestre em
Administração e Controladoria.
Área de Concentração: Estratégia e Sustentabilidade
Orientadora: Profª. Drª. Mônica Cavalcanti Sá de
Abreu.
FORTALEZA
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade
__________________________________________________________________________________________
M453i Meireles, Fernanda Rosalina da Silva.
Intensidade da comunicação de responsabilidade social corporativa na América Latina: reflexos do
ambiente institucional / Fernanda Rosalina da Silva Meireles – 2014.
116 f.: il.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Economia, Administração,
Atuária e Contabilidade, Programa de Pós-Graduação em Administração e Controladoria, Fortaleza,
2014.
Área de Concentração: Estratégia e Sustentabilidade.
Orientação: Profª. Drª. Mônica Cavalcanti Sá de Abreu.
1.Responsabilidade social da empresa - América Latina 2.Ambiente institucional I. Título.
CDD 658.408
FERNANDA ROSALINA DA SILVA MEIRELES
INTENSIDADE DA COMUNICAÇÃO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
CORPORATIVA NA AMÉRICA LATINA: REFLEXOS DO AMBIENTE
INSTITUCIONAL
Esta Dissertação foi submetida à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em
Administração e Controladoria – Profissional da Universidade Federal do Ceará, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Administração e Controladoria,
outorgado pela Universidade Federal do Ceará – UFC e encontra-se à disposição dos
interessados na Biblioteca da referida Universidade.
A citação de qualquer trecho deste projeto de dissertação é permitida desde que feita de
acordo com as normas da ética científica.
Aprovado em: _____/_____/________
BANCA EXAMINADORA:
________________________________________________
Profª. Drª. Mônica Cavalcanti Sá de Abreu (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará
________________________________________________
Prof. Dr. José Milton de Sousa Filho
Universidade de Fortaleza
______________________________________________
Profª. Drª Sílvia Maria Dias Pedro Rebouças
Universidade Federal do Ceará
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por sempre iluminar meus passos, me dar forças para lutar
pelos meus sonhos e pela família maravilhosa que tenho.
Agradeço a minha mãe, por seu imenso amor, dedicação, apoio e doação a mim
e meu irmão, sempre priorizando a nossa educação e felicidade. A minha tia-avó Juracy
(in memoriam), meu grande exemplo de superação e determinação. A minha tia-avó
Odaci, por sua dedicação total à família. Ao meu irmão Wallace, por seu
companheirismo, exemplo de dedicação e amor ao que faz. A todos da minha família
que contribuíram para a minha formação e que sempre trazem alegria aos meus dias.
Aos amigos Yara Barreto, Línnik Israel, João Felipe, Felipe Maia, João Victor,
Jamille Moura, Nádia Thatiana, Nadja Nara (in memoriam), Sheiliane Sales, Ísis
Albuquerque, Magda Vieira, Tereza Cristina, Adelaide Costa e Andreia Cavalcante.
Obrigada pelo apoio, carinho e confiança.
À Professora Drª Mônica Cavalcanti Sá de Abreu, pela orientação, confiança em
mim depositada, conhecimentos transmitidos e desafios propostos.
Agradeço aos professores José Milton de Sousa Filho e Sílvia Maria Dias Pedro
Rebouças, pela participação em minha banca examinadora, contribuindo para o
enriquecimento deste trabalho.
À turma MPAC 2012, pelas angústias divididas, conhecimentos partilhados e
alegrias somadas.
Agradeço ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará
(IFCE), pelo auxílio a mim concedido durante todo o Mestrado.
RESUMO
O presente estudo trata do impacto do ambiente institucional de Brasil, Chile, México e
Panamá sobre a intensidade de comunicação de RSC e se propõe a responder à seguinte
pergunta de pesquisa: Diferentes ambientes institucionais presentes nos países da
América Latina, em especial Brasil, Chile, México e Panamá, influenciam a intensidade
da comunicação de responsabilidade social corporativa de suas maiores empresas?
Brasil, Chile, México e Panamá apresentam contextos nacionais, históricos, sociais,
culturais, que contêm similaridades e diferenças, e formam distintos ambientes
institucionais, resultando em diferentes ações e práticas empresariais, tais como a
comunicação de RSC. A presente pesquisa trata-se de um estudo exploratório e
descritivo, com abordagem quantitativa, desenvolvida mediante análise de dados
secundários. As variáveis independentes utilizadas neste estudo, que representaram o
ambiente institucional dos países, foram o ambiente de governança (representado pela
soma dos indicadores do WGI), o desenvolvimento econômico (representado pelo PIB
per capita), a corrupção governamental (representada pelo índice CPI) e o nível
educacional (representado pela média de anos de escolaridade dos adultos). Tais
indicadores tiveram como fonte os bancos de dados do Worldwide Governance
Indicators (WGI), do World Bank, Transparency International (TI) e do United Nations
Development Programme (UNDP). A variável dependente da pesquisa, intensidade da
comunicação de RSC, foi mensurada através da metodologia desenvolvida por Maignan
e Ralston (2002), pesquisando-se nos relatórios anuais das organizações vinte e um itens
de comunicação de RSC. Os métodos quantitativos de análise foram estatística
descritiva, análise de variância (ANOVA), teste de confiabilidade das variáveis, e
modelo de dados em painel. Como resultado, apenas a variável nível educacional
mostrou impactar positivamente sobre a intensidade de comunicação de RSC. A
variável ambiente de governança impactou negativamente sobre a variável dependente,
e as outras variáveis não impactaram sobre a intensidade de comunicação de RSC. Ao
analisar a comunicação de RSC e sua relação com o ambiente institucional de países
emergentes, países latino-americanos, os resultados desta pesquisa ampliam a discussão
acerca da influência dos países sobre a comunicação de RSC.
Palavras-chave: Ambiente Institucional. Comunicação de Responsabilidade Social
Corporativa. América Latina. Brasil. Chile. México. Panamá.
ABSTRACT
The present study is about the impact of the institutional environment of Brazil, Chile,
Mexico and Panama on the intensity of CSR communication and aims to answer the
following research question: Different institutional environments present in Latin
America, particularly in Brazil, Chile, Mexico and Panama, influencing the intensity of
corporate social responsibility communication of its biggest companies? Brazil, Chile,
Mexico and Panama have national, historical, social, cultural contexts, which contains
similarities and differences, and form distinct institutional environments, resulting in
different actions and business practices, such as the communication of CSR. The
present research is an exploratory and descriptive study with a quantitative approach,
developed through analysis of secondary data. The independent variables used in this
study, which represented the institutional environment of the country, were the
governance environment (represented by the sum of the WGI indicators), economic
development (represented by GDP per capita), government corruption (represented by
the CPI index) and educational level (represented by average years of schooling of
adults). The dependent variable of the research, intensity of CSR communication, was
measured using the methodology developed by Maignan and Ralston (2002), by
searching in the annual reports of organizations twenty-one items of CSR
communication. Quantitative methods of analysis were descriptive statistics, analysis of
variance (ANOVA), reliability of test variables and panel data model. As a result, only
the educational level variable showed a positive impact on the intensity of CSR
communication. The variable governance environment impacted negatively on the
dependent variable, and the other variables did not impact on the intensity of CSR
communication. By analyzing the communication of CSR and its relation with the
institutional environment of Latin American countries, the results of this study extend
the discussion about the influence of the countries on the communication of CSR.
Key words: Institutional Environment. Corporate Social Responsibility
Communication. Latin America. Brazil. Chile. Mexico. Panama.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – RSC e o contexto institucional da corporação ...................................................... 36
Figura 02 – Framework da comunicação de RSC .................................................................... 40
Figura 03 – Framework da relação do ambiente institucional com a comunicação de
RSC. .......................................................................................................................................... 58
Figura 04 – Distribuição das empresas por países .................................................................... 69
Figura 05 – Distribuição das empresas por setores .................................................................. 70
Figura 06 – Índice de ambiente de governança da amostra no período de 2006 a 2012 .......... 72
Figura 07 – PIB per capita da amostra no período de 2006 a 2012 ......................................... 73
Figura 08 – CPI da amostra no período de 2006 a 2012 .......................................................... 74
Figura 09 – Indicador do nível educacional da amostra no período de 2006 a 2012 ............... 75
Figura 10 – Médias das variáveis independentes da amostra no período de 2006 a 2012 ....... 76
Figura 11 – Intensidade da comunicação de RSC da amostra no período de 2006 a 2012 ...... 78
Figura 12 – Princípios motivadores de RSC da amostra no período de 2006 a 2012. ............. 79
Figura 13 – Processos de RSC da amostra no período de 2006 a 2012. .................................. 80
Figura 14 – Questões dos stakeholders da amostra no período de 2006 a 2012. ..................... 81
Figura 15 – Médias da variável dependente e suas categorias no período de 2006 a
2012. ......................................................................................................................................... 82
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Ambiente Institucional de Brasil, Chile, México e Panamá ................................ 30
Quadro 02 - Comparação entre o Novo Institucionalismo e a Abordagem de Sistemas de
Negócios ................................................................................................................................... 35
Quadro 03 – Comparação entre os ambientes de governança rule-based e relation-
based.. ....................................................................................................................................... 52
Quadro 04 - Listagem das empresas pesquisadas ..................................................................... 61
Quadro 05 – Categorias de RSC pesquisadas nos relatórios .................................................... 63
Quadro 06 – Quadro-síntese das variáveis utilizadas na pesquisa ........................................... 65
Quadro 07 - Classificação dos países quanto ao seu ambiente institucional ............................ 76
Quadro 08 - Classificação da intensidade de comunicação de RSC e suas categorias ............ 83
Quadro 09 - Síntese dos resultados........................................................................................... 91
Quadro 10 - Síntese das conclusões ......................................................................................... 98
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Estatística descritiva das variáveis........................................................................ 71
Tabela 02 – Teste de homogeneidade das variâncias ............................................................... 83
Tabela 03 – Análise de variância em relação aos países .......................................................... 84
Tabela 04 – Teste robusto de igualdade de médias (teste de Welch) ....................................... 84
Tabela 05 – Alfa de Cronbach da intensidade da comunicação de RSC .................................. 85
Tabela 06 – Alfa de Cronbach da intensidade da comunicação de RSC com exclusão de
itens ........................................................................................................................................... 85
Tabela 07 – Alfa de Cronbach do ambiente de governança ..................................................... 86
Tabela 08 – Alfa de Cronbach do ambiente de governança com exclusão de itens ................. 87
Tabela 09 – Modelo de Efeitos Fixos I .................................................................................... 88
Tabela 10 – Modelo Efeitos Fixos II ........................................................................................ 89
Tabela 11 – Modelo Efeitos Fixos II - Efeito do Indivíduo .................................................... .89
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
CERES Coalizão para Economias Ambientalmente Responsáveis
CPI Corruption Perception Index
EIU Economist Intelligence Unit
EUA Estados Unidos da América
FEDERASUR Federação de Câmaras de Comércio e Indústria da América do
Sul
GRI Global Reporting Initiative
IDD-LAT Índice de Desenvolvimento Democrático da América Latina
ISEA Institute of Social and Ethical Accountability
ISO International Organization for Standardization
MBA Master of Business Administration
MS Master of Science
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OIT Organização Internacional do Trabalho
ONG Organização Não Governamental
ONU Organizações das Nações Unidas
PIB Produto Interno Bruto
PISA Programme for International Student Assessment
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
RSC Responsabilidade Social Corporativa
SA Social Accountability
TI Transparency International
UNDP United Nations Development Programme
WBCSD World Business Council for Sustainable Development
WGI Worldwide Governance Indicators
WJP World Justice Project
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12
1.1 Pergunta de pesquisa ....................................................................................................... 16
1.2 Objetivos ......................................................................................................................... 16
1.2.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 16
1.2.2 Objetivos específicos................................................................................................ 16
1.3 Justificativa ..................................................................................................................... 17
1.4 Estrutura do Trabalho ..................................................................................................... 19
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 20
2.1 A América Latina ............................................................................................................ 20
2.1.1 Brasil ........................................................................................................................ 23
2.1.2 Chile ......................................................................................................................... 24
2.1.3 México ...................................................................................................................... 26
2.1.4 Panamá ..................................................................................................................... 28
2.2 Teoria Institucional ......................................................................................................... 30
2.3 Comunicação de Responsabilidade Social Corporativa ................................................. 37
2.3.1 Abordagens da Comunicação de RSC ..................................................................... 41
2.3.2 Mensagem e Canais da Comunicação de RSC......................................................... 42
2.3.2.1 Relatórios de RSC ................................................................................................. 44
2.3.3 Eficácia da Comunicação de RSC ............................................................................ 48
2.4 Ambiente Institucional e Comunicação de RSC ............................................................. 50
2.4.1 Ambiente de Governança e Comunicação de RSC .................................................. 52
2.4.2 Desenvolvimento Econômico e Comunicação de RSC ........................................... 53
2.4.3 Corrupção e Comunicação de RSC .......................................................................... 55
2.4.4 Nível Educacional e Comunicação de RSC ............................................................. 56
3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 59
3.1 Caracterização da Pesquisa ............................................................................................. 59
3.2 Amostra e Critérios de Seleção ....................................................................................... 60
3.3 Definições das Variáveis Analisadas .............................................................................. 61
3.4 Técnicas de Análise dos Dados....................................................................................... 65
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................... 69
4.1 Análise Descritiva dos Dados ......................................................................................... 69
4.1.1 Análise Descritiva das Variáveis Independentes por País e Ano ............................. 72
4.1.2 Análise Descritiva da Variável Dependente por País e Ano .................................... 77
4.1.3 Análise de Variância ................................................................................................ 83
4.2 Teste de Confiabilidade das Variáveis Referentes à Comunicação de RSC e ao
Ambiente de Governança ...................................................................................................... 85
4.3 Análise de Dados em Painel ........................................................................................... 87
4.4 Análise das Hipóteses ..................................................................................................... 90
4.5 Discussão dos Resultados ............................................................................................... 91
5 CONCLUSÕES ................................................................................................................. 96
5.1 Atendimento aos Objetivos Propostos ............................................................................ 96
5.2 Contribuições da Pesquisa .............................................................................................. 99
5.3 Limitações da Pesquisa ................................................................................................... 99
5.4 Sugestões para Pesquisas Futuras ................................................................................. 100
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 101
ANEXO A – Dados do ambiente institucional de Brasil, Chile, México e Panamá por
ano ......................................................................................................................................... 113
APÊNDICE A – Script usado no programa R para a construção do modelo de dados em
painel ...................................................................................................................................... 114
APÊNDICE B – Intensidade da Comunicação de RSC das empresas ................................... 116
12
1 INTRODUÇÃO
A responsabilidade social corporativa (RSC) tem sido vista como resposta ao
principal problema contemporâneo da globalização, um sistema de governança global
sem governo global (BLOWFIELD; MURRAY, 2008). A RSC trata-se de ações de uma
empresa que têm consequências sociais e geram atenção pública, devendo, portanto, ser
publicamente transmitidas via comunicações corporativas (LI et al., 2010). São práticas
que fazem parte da estratégia corporativa, e que explicitamente procuram evitar danos e
promover o bem-estar de stakeholders através do cumprimento da lei, e voluntariamente
indo além dela (PEINADO-VARA, 2006).
O escopo da RSC expandiu-se a ponto dela infiltrar-se na consciência e cultura
corporativas, moldar a estratégia corporativa, enriquecer a qualidade de vida da
comunidade, ampliar a visão dos negócios, e procurar humanizar o empreendimento
econômico onde quer que seja encontrada (FREDERICK, 2008).
Destaca-se que não há um padrão universal de RSC a ser implementado, uma
vez que empresas internacionais operam em culturas, padrões normativos e
circunstâncias diversificados, que geram diferentes expectativas, oportunidades e
obstáculos às empresas (BIRD; SMUCKER, 2007). Blowfield e Murray (2008)
afirmam que não há uma teoria unificadora da RSC, mas várias teorias sociais e
econômicas que ajudam a explicar o papel das empresas na sociedade.
A RSC precisa ir além da abordagem de ‘tamanho único’, utilizando abordagens
mais contextualizadas (PRIETO-CARRÓN et al., 2006). Blowfield e Murray (2008)
afirmam que a RSC precisa levar em consideração as diferenças geográficas de região
para região, de país para país, e dentro dos próprios países.
Diante da definição de RSC de ir além das prioridades econômicas, fomentar as
relações com os stakeholders, e manter a transparência e o comportamento ético, a
comunicação torna-se uma prática fundamental para a RSC (CAPRIOTTI; MORENO,
2007).
Conforme Arvidsson (2010), os pedidos de transparência e prestação de contas
têm pressionado as empresas a colocar a comunicação de RSC em sua agenda, fazendo
com que esta área da informação receba maior atenção da comunicação corporativa.
Maignan e Ralston (2002) afirmam que muitas empresas buscam comunicar seus
princípios e processos de RSC a fim de transmitir uma imagem positiva de sua
13
identidade e ganhar legitimidade e apoio dos stakeholders. Assim, de acordo com
Chaudhri e Wang (2007), torna-se uma questão-chave obter uma comunicação
transparente e proativa de sua RSC.
Por não existir um quadro estabelecido de como comunicar a RSC de forma
consistente, problemas de comunicação surgem no estabelecimento do que e como as
informações de RSC devem ser comunicadas a fim de satisfazer as necessidades de
informação dos stakeholders e, portanto, legitimar os comportamentos da empresa
(ARVIDSSON, 2010). A comunicação de RSC, que não é obrigatória e vai além de
relatórios financeiros, é repleta de desafios de credibilidade e, a fim de evitar críticas, a
comunicação e as ações de RSC devem estar inter-relacionadas (CHAUDHRI; WANG,
2007).
Diferentes estudos sobre a RSC têm mostrado que a amplitude, o conteúdo e a
intensidade de comunicação da RSC diferem entre as empresas, as regiões e os países
(MAIGNAN; RALSTON, 2002; LATTEMANN et al., 2009; LI et al., 2010). Matten e
Moon (2008) asseveram que a responsabilidade social corporativa, seus significados e
as questões que trata, varia entre as diferentes nações, sendo a RSC reflexo dos
diferentes contextos sociais, institucionais, culturais, setoriais, nacionais e históricos.
Muitos destes estudos foram realizados em países industrializados. No entanto,
pouco se sabe acerca de como a prática de RSC se desenvolve nos países emergentes
(WANDERLEY et al., 2008; ALON et al., 2010; LI et al., 2010). Nesse contexto, a
América Latina é um caso interessante de como a comunicação de RSC das empresas
líderes é influenciada pelos diferentes ambientes institucionais.
O ambiente institucional das nações é constituído por quatro grandes tipos de
instituições: instituições políticas, instituições financeiras, instituições de educação e
trabalho e instituições culturais (MATTEN; MOON, 2008). As diferenças apresentadas
nestas instituições-chave traduzem-se em diferenças de práticas ao nível da empresa
(BROOKES; BREWSTER; WOOD, 2005). Consequentemente, as diferenças
encontradas entre as nações latino-americanas, constituídas por diferentes culturas,
políticas, economias, resultam em diferentes ações e práticas empresariais, tais como a
comunicação de RSC.
A América Latina trata-se de uma região da América em que são faladas línguas
latinas, e é composta por vinte países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
Costa Rica, Cuba, Haiti, Honduras, Guatemala, El Salvador, Equador, México,
Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela
(ORO; URETA, 2007).
14
A região tem uma área de, aproximadamente, 21.069.500 km², e em 2012, sua
população foi estimada em mais de 589 milhões, sendo o Brasil e o México os países
mais populosos, e que juntos representam mais de dois terços da economia da região,
estando entre as 13 maiores economias do mundo. Em 2011, o PIB combinado da
América Latina foi de US$ 3.350.725,7 milhões, tendo a distribuição deste valor uma
alta dispersão, o que contribui para tal região ser classificada pela Organização das
Nações Unidas (ONU) como a região mais desigual do mundo (CEPAL, 2013).
A RSC na América Latina, em seu âmbito institucional, é influenciada por
questões sociais, econômicas e ambientais que desafiam o continente, como a pobreza e
a desigualdade social. Em seu âmbito empresarial, é influenciada pelas crenças
religiosas dos fundadores das empresas da região, que levam à adoção das contribuições
sociais como parte de sua visão. Apesar das condições adversas, muitas empresas
latino-americanas são bem-sucedidas globalmente, com forte liderança e capacidades
como a agilidade na tomada de decisões e flexibilidade (CASANOVA; DUMAS, 2010).
A pesquisa estuda os países Brasil, Chile, México e Panamá. O Brasil, país de
maior economia da região, é utilizado como país referência, ao qual os outros países são
comparados. Os demais países representam todos os subcontinentes que fazem parte da
América Latina (América do Norte, América Central e América do Sul), sendo as
nações latino-americanas que mais se destacam dentro de cada um destes.
Dentro da América Latina, Brasil, Chile, México e Panamá destacam-se como as
nações de melhor nível de produtividade e competitividade, conforme Relatório de
Competitividade Global 2011-2012 da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria
da América do Sul - FEDERASUR (2013).
Brasil, México e Chile são países que se destacam também por suas dimensões
territoriais e pelo tamanho de suas populações, estando dentre as dez maiores e mais
populosas nações latino-americanas. Por sua vez, o Panamá caracteriza-se como o sexto
menor país e terceira nação menos populosa da América Latina. Esses quatro países
apresentam como tipo de governo a República e configuram-se como democracias
presidenciais.
Em termos econômicos, Brasil e México figuram entre as quinze maiores
economias mundiais. Em 2013, o Brasil assumiu o posto de 7ª maior economia do
mundo e o México assumiu o posto de 14ª maior economia. Por sua vez, o Chile
assumiu o posto de 37ª maior economia, e o Panamá logrou a 88ª colocação.
O ambiente institucional do Brasil é marcado por um desenvolvimento irregular
e desigual, bem como pela banalização da violência e destruição ecológica (GRIESSE,
15
2007). O país figura-se como uma das nações mais multiculturais do mundo, e tem
como religião predominante o catolicismo, constando como um dos países com maior
número de católicos.
O Chile trata-se de um país socialmente conservador e conta com grande número
de católicos, religião predominante no país. A cultura chilena reflete a população
relativamente homogênea, uma mistura de elementos culturais espanhóis e indígenas.
Conforme Beckman, Colwell e Cunningham (2009), embora o país tenha apresentado
um decréscimo da pobreza nos anos 2000, ainda apresenta alto nível de desigualdade
econômica. É um dos países mais estáveis e prósperos da América Latina, obtendo
melhores indicadores em termos de desenvolvimento humano, estabilidade política e
percepção de corrupção.
O ambiente institucional do México é fortemente influenciado pela Igreja
Católica. O país é marcado pelo clima de corrupção, pelos baixos salários e benefícios
aos trabalhadores, bem como por pobres sistemas educacionais e opções de cuidados de
saúde (BECKER-OLSER et al., 2011). Assim como outros países da América Latina, o
México apresenta desigualdade de distribuição de renda.
O Panamá apresenta uma população diversificada, resultante da mistura dos
grupos indígenas e da constante imigração ao longo dos últimos 500 anos. De acordo
com o jornal The Economist (2012), embora a economia do Panamá tenha apresentado
altas taxas de crescimento nos últimos seis anos, o país ainda enfrenta grandes
problemas, como desigualdade social, crescimento da taxa de homicídio e escassez de
escolas secundárias. A religião está profundamente ligada às tradições e expressões
culturais do país, sendo o catolicismo a religião predominante.
Brasil, Chile, México e Panamá são considerados países em desenvolvimento
com grandes desigualdades sociais e problemas institucionais. Essa problemática social
reflete-se nas taxas de alfabetização, nos coeficientes Gini e nos índices de percepção da
corrupção dos quatro países. Analisando as taxas de alfabetização dos países, do período
de 2007 a 2011, o Chile destaca-se por possuir uma taxa de alfabetização de cerca de
99%, o Panamá possui uma taxa de alfabetização de 94%, o México possui uma taxa de
93%, e o Brasil apresenta uma taxa de alfabetização de 90% (UNDATA, 2014).
Em 2006, o coeficiente Gini, que mede a desigualdade de renda no mundo, era
de 48,1 no México, de 51,8 no Chile, de 55,1 no Panamá, e de 56,8 no Brasil,
demonstrando o grande problema de distribuição de renda destes países. Em termos de
corrupção, em 2013, o Chile apresentou um índice de menor corrupção percebida
figurando em 22° lugar no ranking com 71 pontos, enquanto o Brasil figura em 72°
16
lugar com 42 pontos, o Panamá figura em 102º lugar com 35 pontos e o México figura
em 106º lugar com 34 pontos (CPI, 2014).
Visto essas semelhanças e diferenças entre Brasil, Chile, México e Panamá, este
estudo centra-se na necessidade de maior conhecimento acerca dos impactos do
ambiente institucional destes países sobre a intensidade da comunicação de RSC de suas
empresas.
1.1 Pergunta de Pesquisa
Diferentes ambientes institucionais presentes nos países da América Latina, em
especial Brasil, Chile, México e Panamá, influenciam a intensidade da comunicação de
responsabilidade social corporativa de suas maiores empresas?
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Analisar a influência do ambiente institucional de Brasil, Chile, México e
Panamá sobre a intensidade de comunicação de responsabilidade social corporativa das
maiores empresas desses países.
1.2.2 Objetivos específicos
a) Identificar as semelhanças e diferenças do Brasil em comparação ao Chile,
México e Panamá, em relação aos seus ambientes institucionais (características
econômicas e socioculturais);
b) Analisar a comunicação de responsabilidade social corporativa das maiores
empresas dos países estudados através de informações extraídas dos relatórios
destas organizações;
c) Identificar as semelhanças e diferenças do Brasil em comparação ao Chile,
México, e Panamá em relação à intensidade de comunicação de responsabilidade
social corporativa.
17
1.3 Justificativa
Diversos estudos têm apontado que a RSC varia entre os países (MAIGNAN;
RALSTON, 2002; GOLOB; BARTLETT, 2007; WANDERLEY et al., 2008;
LATTEMANN et al., 2009; ALON et al., 2010; LI et al., 2010, SOBCZAK;
MARTINS, 2010), demonstrando que os mecanismos do ambiente institucional
funcionam como propulsores da adoção de novas práticas por parte das empresas
(DIMAGGIO; POWELL, 1983; DACIN; GOODSTEIN; SCOTT, 2002). As
instituições moldam os processos sociais e políticos de como os interesses dos
stakeholders são "socialmente construídos" ou definidos, agregados e representados
com relação à empresa (AGUILERA; JACKSON, 2003). Dacin, Goodstein e Scoot
(2002) corroboram mostrando que novas formas institucionais interagem com arranjos
institucionais existentes para a criação de diversas "novas" estruturas e processos.
As diferenças de RSC podem ser melhor explicadas através da Teoria
Institucional, que de acordo com Zucker (1987), fornece uma visão rica e complexa das
organizações. Assume-se que as instituições formais - constituição, leis, políticas
governamentais - interagem com as instituições informais - normas sociais e modelos
mentais de análise - e organizações - sociedade civil, entidades empresariais,
organizações de trabalho - gerando quadros institucionais e culturais únicos, onde as
empresas atuarão (WILLIAMS; AGUILERA, 2008).
De acordo com Matten e Moon (2008), os quadros institucionais historicamente
enraizados de uma nação (seu sistema político, sistema de educação e trabalho, sistema
cultural e sistema financeiro), moldam os chamados sistemas de negócios nacionais,
estruturas estas que explicam os diferentes tipos de RSC encontrados entre as nações.
Assim, este estudo justifica-se pela busca do melhor entendimento da relação
entre a intensidade da comunicação de RSC e o ambiente institucional, representada
neste estudo pelas empresas e ambientes institucionais da América Latina. Justifica-se
também pela relevância do tema no contexto atual das organizações empresariais. Ao
analisar a comunicação de RSC sobre uma ótica da Teoria Institucional, esta pesquisa
contribui ao mostrar que o ambiente institucional de um país é uma força motriz
importante na intensidade das comunicações sobre RSC.
A escolha da América Latina justifica-se pelo crescimento econômico e
mudanças sociais que a região tem alcançado desde 2002. Conforme Casanova e Dumas
(2010), desde 2002 a América Latina tem apresentado forte crescimento econômico, o
que levou ao decréscimo do número de pobres e ao aumento do tamanho da classe
18
média em todos os países da região. No período entre 1990 e 2007, a taxa de pobreza
caiu 12% e a extrema pobreza 9,1%. Ainda assim, em 2008, a região ainda era o lar de
180 milhões de pessoas pobres, representando 34% da população total.
A América Latina saiu fortalecida da crise de 2008, com o reconhecimento
mundial do seu sucesso e uma nova confiança; e tal sucesso, segundo a Latin Trade
(2013), é resultado de: crescimento econômico da região, com pelo menos duas décadas
de reforma econômica, visando à criação de ambientes macroeconômicos estáveis e
baixa inflação, e à reconstrução de sistemas bancários; desenvolvimento social da
região, resultado de programas sociais bem-sucedidos que diminuíram a pobreza da
América Latina; e forte compromisso com os valores democráticos, com eleições
periódicas, livres e justas na maioria da região. Ainda com todo este sucesso, a América
Latina possui muitos desafios a superar, tendo que lidar com a educação, inovação,
infraestrutura, crime e diversificação das exportações.
Reficco e Ogliastri (2009) afirmam que, na América Latina, a importância da
RSC cresceu a partir dos anos oitenta, resultado de alguns fatores: a desregulamentação
econômica e a liberalização do comércio, que deram ao setor privado um papel de
protagonista no espaço público; e a desvalorização dos centros de legitimidade
tradicionais (Igreja e Estado), que levou ao surgimento de um novo ator, que passou a
ocupar um papel cada vez maior na formação da agenda pública: a sociedade civil.
De acordo com Ursini e Bruno (2005), as empresas latino-americanas têm,
historicamente, preocupado-se com a filantropia. O entendimento de RSC como uma
nova forma de gestão da empresa, que integre e trabalhe de maneira mais ampla com as
dimensões ambiental, econômica e social é, portanto, algo recente e realizado por um
pequeno número de empresas da região. Conforme Casanova e Dumas (2010), as
multinacionais da América Latina, bem como os governos e o público em geral,
enxergam na RSC uma forma de reduzir a pobreza, de aprimorar a sustentabilidade das
empresas e de lidar com outras questões sociais urgentes da região.
Por fim, ao analisar a América Latina, mais especificamente Brasil, Chile,
México e Panamá, este estudo contribui para o enriquecimento da RSC, haja visto que
poucos são os estudos que focam-se nas práticas de comunicação de RSC nos países
emergentes.
19
1.4 Estrutura do trabalho
Para a formulação teórica e empírica desta dissertação foi realizada uma divisão
em cinco capítulos.
No capítulo introdutório foram apresentadas considerações iniciais sobre a
temática explorada dentro de um contexto que envolve a comunicação de RSC e o papel
de destaque da América Latina. Demonstrou-se também o problema de pesquisa, os
objetivos do estudo e a justificativa do trabalho.
O capítulo seguinte aborda a fundamentação teórica do trabalho. Este capítulo é
composto por uma revisão bibliográfica sobre o ambiente institucional da América
Latina, em especial de Brasil, Chile, México e Panamá, da Teoria Institucional, e da
comunicação de RSC. São apresentados os conceitos chaves sobre os temas, permitindo
sua compreensão e a construção das hipóteses da pesquisa.
O capítulo três demonstra como o estudo foi desenhado a fim de atingir os
objetivos propostos. Nele apresenta-se a caracterização da pesquisa, a definição das
variáveis analisadas, a amostra e o critério de seleção e apresenta-se a técnica de análise
de dados a ser utilizada no estudo. Os elementos da pesquisa necessários para o alcance
dos objetivos propostos consistem em um universo que reúne indicadores de Brasil,
Chile, México e Panamá, no período de 2006 a 2012, e a técnica de análise de dados em
painel.
No capítulo quatro encontra-se a análise dos resultados e discussões. Nele
apresenta-se a análise descritiva da variável dependente, bem como das variáveis
independentes, análise de variância dos dados, análise de dados em painel, análise das
hipóteses e discussão dos resultados. Por fim, no capítulo cinco encontram-se as
considerações finais e limitações deste trabalho, trazendo suas contribuições.
20
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O presente capítulo trata da fundamentação teórica e das hipóteses da pesquisa.
Os conceitos teóricos abordados apresentam estreita relação com o problema e os
objetivos da pesquisa. Assim, são abordados os temas América Latina (seção 2.1),
Teoria Institucional (seção 2.2), Comunicação de Responsabilidade Social Corporativa
(seção 2.3), e Ambiente Institucional e Comunicação de RSC (seção 2.4), onde as
hipóteses da pesquisa são construídas.
2.1 A América Latina
A América Latina tem passado por grandes transformações nas últimas décadas.
Casanova e Dumas (2010) asseveram que a América Latina teve forte crescimento
econômico e tem alcançado mudanças sociais desde 2002. Observou-se o decréscimo do
número de pobres e o aumento do tamanho da classe média em todos os países da
região, tendo, do período entre 1990 e 2007, a taxa de pobreza da região caído 12% e a
de extrema pobreza 9,1%.
Castro (2008) afirma que a educação na região melhorou. No geral, nos últimos
30 anos, aumentou de forma significativa o acesso à escolarização básica, e também a
pressão social para que a obrigatoriedade do ensino fundamental fosse estendida à
educação infantil. Nos anos de 1990, houve um dos grandes avanços da educação da
região: a universalização da educação básica, especialmente no ensino fundamental.
Abrantes (2010) destaca que, nas duas últimas décadas, os padrões educacionais têm
aumentado consideravelmente na América Latina, matriculando quase todas as crianças,
a maioria dos adolescentes e um segmento crescente de jovens adultos.
De acordo com Castro (2008), o ensino médio e o ensino superior também
seguem aumentando. No entanto, um grande problema educacional da América Latina é
o índice de analfabetismo. E, apesar do pequeno acréscimo no percentual do PIB
investido em educação, bem como de alguns avanços conquistados na região, os países
da América Latina continuam a investir pouco em educação se compararmos com os
países europeus e da América do Norte, não tendo a educação ainda superado seus
problemas básicos. Abrantes (2010) complementa destacando que essa expansão na
educação ocorreu de forma lenta, contingencial e desigual, não beneficiando as regiões
e grupos sociais mais pobres.
21
Para Baquero (2008), nem mesmo o crescimento econômico da América Latina
nas décadas recentes tem sido suficiente para fortalecer os mercados de trabalho e
reduzir de modo satisfatório a incidência da pobreza, tendo a região uma distribuição de
bens, serviços e oportunidades básicas desequilibradas. Abrantes (2010) destaca que o
desemprego juvenil e o subemprego (empregos não qualificados, sem proteção social e
oportunidades de formação) têm crescido na América Latina. Embora na região haja
uma expansão educacional, ainda que lenta e desigual, a possibilidade de ficar
desempregado ou trabalhar em um emprego não qualificado, após finalizar o ensino
superior, é cada vez maior para os jovens latino-americanos. Portanto, na América
Latina, não necessariamente os jovens que têm maior nível de educação formal
conseguem um emprego.
Conceição, Dourado e Silva (2012) afirmam que a região é marcada por um
modelo econômico de maciça importação de bens de produção e tecnologia, intensa
produção agrícola e de commodities, baixa remuneração e reduzida qualificação de sua
mão de obra, intensa presença de empresas multinacionais, nacionalização de indústrias
estratégicas e por políticas de proteção dos mercados internos. Devido às mudanças
estruturais geradas pelo grande endividamento das nações da região na década de 1980
(políticas de liberalização de mercado, desoneração alfandegária, reforma tributária,
reforma financeira e privatização das empresas públicas), no início da década de 1990,
nos países da região, presenciou-se um contexto aparentemente bem sucedido, marcado,
no entanto, pelo crescimento da concentração de renda e da exclusão social dos seus
habitantes.
A pobreza, a exclusão social e a desigualdade político-econômica persistem na
América Latina. Em consequência, surgem barreiras ao progresso econômico e
desenvolvimento social da região: a falta de respeito pela lei, a corrupção e a ineficácia
dos governos na promoção de serviços essenciais básicos que proporcionem uma
melhor qualidade de vida (BAQUERO, 2008). A América Latina, segundo Conceição,
Dourado e Silva (2012), é constituída por países com problemas de distribuição de
renda e dificuldades de acesso a direitos sociais (condições de saúde, segurança,
educação, saneamento, etc.).
Conforme Baquero (2008), nota-se, em termos políticos da região, uma
incongruência entre estagnação social, avanços formais da democracia, e predisposições
e percepções negativas dos cidadãos em relação à democracia e suas instituições,
gerando um processo de desengajamento cívico. Na América Latina convive-se,
simultaneamente, com um regime democrático formal e elevados déficits sociais, que
22
comprometem o progresso econômico e o desenvolvimento social da região. Dada a
incapacidade das instituições formais para mediar a política e regular os conflitos
sociais, e buscando a ampliação da democracia representativa, o estabelecimento de
novas práticas e modelos políticos, a América Latina tem acompanhado o surgimento de
movimentos sociais.
Para Ribeiro (2011), nos países da América Latina, mesmo com o recente
reestabelecimento das liberdades civis e direitos políticos, nota-se o crescente
desencanto e desconfiança em relação às instituições, advindo das dificuldades dos
sucessivos governos em resolver os graves problemas socioeconômicos que atingem a
região como um todo. De modo geral, informa Schneider (2003), as democracias da
América Latina apresentam déficits em seu Estado de direito e legitimidade.
Moller (2010) assevera que, em termos culturais, a América Latina é marcada
pela grande diversidade de culturas que convivem juntas há muito tempo. No entanto,
ainda existe discriminação em diferentes níveis de intensidade contra negros, índios,
homossexuais, etc. Em termos religiosos, Oro e Ureta (2007) destacam que trata-se de
uma região profundamente cristã, ocupando a Igreja Católica uma importância
numérica, política e social na grande maioria dos países latino-americanos. No entanto,
nas últimas décadas, a América Latina tem acompanhado o aumento pentecostal, e uma
tendência de crescimento do número de indivíduos que se consideram sem religião.
Baquero (2008) afirma que, ainda que com suas diferenças culturais, históricas,
políticas e econômicas, a América Latina parece ter uma homogeneidade quando se
analisa sua situação socioeconômica. Ao se analisar a dimensão econômica da região,
nota-se o alto índice de desigualdade de renda, e exclusão social. Em termos da
dimensão política, percebem-se visíveis avanços institucionais, mas também é visível a
falta de respeito pela lei (tanto por parte das autoridades quanto dos cidadãos), o
aumento da corrupção em todos os níveis, a incapacidade ou ineficiência dos governos
de plantão em desenhar e implementar políticas públicas sociais redistributivas e a
violação dos direitos humanos.
Nas subseções abaixo podemos conhecer algumas das especificidades do
ambiente institucional de cada um dos países estudados (Brasil, Chile, México e
Panamá). A compreensão dos ambientes institucionais, quadros institucionais nacionais
historicamente cultivados na América Latina, mais especificamente no Brasil, Chile,
México e Panamá, faz-se necessária para entender a prática de comunicação de RSC nos
respectivos países.
23
2.1.1 Brasil
O Brasil é o país mais populoso, de maior economia e de maior extensão da
América Latina. De acordo com o ranking de 2012 do World Bank (2014), é
classificado como a 7ª maior economia mundial. Conforme Griesse (2007), nos últimos
anos, o Brasil tem sido classificado entre as dez nações mais ricas do mundo, em termos
de PIB. Entretanto, o país apresenta grande desigualdade econômica, social e de classe.
Abreu e Barlow (2013) destacam que o sistema político brasileiro foi moldado
por longo período de colonialismo, seguido por uma monarquia, uma república, uma
reforma populista, uma ditadura militar repressiva e, finalmente, a redemocratização e
reforma estrutural, que trouxe a liberalização do comércio e o decréscimo da
intervenção do Estado. Nota-se, ao longo de todo esse período, a presença persistente da
corrupção. Conforme Griesse (2007), o sistema político brasileiro teve uma turbulenta
evolução, que levou a grandes disparidades de renda e altos índices de pobreza da
população. Atualmente, o país apresenta como tipo de governo a República e configura-
se como democracia presidencial.
A educação do Brasil avançou consideravelmente na última década. Isso pode
ser demonstrado pela evolução do país na pesquisa feita pela OCDE, o Programa de
Avaliação Internacional de Estudantes (PISA). Em 2000, apenas metade das crianças
brasileiras tinham completado o ensino primário, três em cada quatro adultos eram
analfabetos funcionais, e mais de um em cada dez era totalmente analfabeto. Nesse
período, o Brasil ficou em última colocação. Em 2010, com a publicação do quarto
estudo PISA, o país obteve ganhos sólidos em todas as disciplinas avaliadas, e ficou em
53º lugar, entre os 65 países avaliados, em leitura e ciência. Apesar do avanço, o país
ainda apresenta baixo desempenho, figurando entre as últimas posições do ranking
mundial (THE ECONOMIST, 2010). No período de 2007 a 2011, o Brasil apresentou
taxa de alfabetização de 90% (UNDATA, 2014).
Conforme Okada (2010), dentre os países latino-americanos, o Brasil obteve
resultados melhores que a Colômbia (54º), a Argentina (55º), o Panamá (63º) e o Peru
(64º). Os países Chile (44º), Uruguai (48º) e México (50º) obtiveram melhor
desempenho que o Brasil. Entretanto, o progresso recente não deixa o Brasil numa boa
situação educacional. Por sua vez, na edição do exame de 2012, de acordo com a página
da Uol Educação (2012), o Brasil obteve um desempenho pior em leitura, ficando na 55ª
posição, e em ciências, ficando na 59º posição.
24
Cunha, Prates e Ferrari-Filho (2011) asseveram que o Brasil tem mostrado
resistência à crise financeira internacional de 2008, o que sugere que o país construiu
uma estrutura macroeconômica mais forte ao longo dos últimos anos. A redução dos
desequilíbrios externos e orçamentais levou à diminuição da vulnerabilidade do país a
choques externos. No entanto, entre o último trimestre de 2008 e o primeiro trimestre de
2009, a economia do país apresentou um decréscimo de 4,5% em seu PIB, efeito gerado
pela crise financeira internacional.
O país figura-se como uma das nações mais multiculturais do mundo, e consta
como um dos países com maior número de católicos, religião predominante no Brasil.
Abreu e Barlow (2013), ao comparar a RSC de empresas brasileiras e britânicas,
destacam que o Brasil tem um ambiente de governança muito mais informal e
relacional. Devido aos problemas sociais enfrentados pelo país, as empresas têm
desempenhado um papel na melhoria social, estando sua reputação fortemente
relacionada com sua atividade de RSC. Em sua pesquisa, Conceição, Dourado e Silva
(2012) demonstram que o Brasil, no contexto da América Latina, exerce um papel
relevante no processo de evidenciação do desempenho em sustentabilidade a partir da
publicação do relatório GRI, sendo responsável por mais de 50% dos informes
realizados na região.
2.1.2 Chile
O Chile tem 16,5 milhões de habitantes, e desenvolveu, a partir da década de
1980, sua estabilização econômica, com inflação controlada, baixa volatilidade cambial
e taxa de juros básica de um dígito, saindo assim na frente das economias vizinhas. O
país apresenta a política de comércio exterior mais pragmática da América Latina
(ANTUNES, 2009).
De acordo com Romero (2005), o país foi o primeiro da América Latina a
liberalizar seus mercados para a economia internacional, implementando, durante o
governo militar, medidas de desregulamentação e privatização de atividades produtivas
do setor público, adiantando-se cerca de 10 anos aos programas de ajuste estrutural do
continente (adoção da doutrina neoliberal pelas economias latino-americanas na década
de 1980). Conforme o ranking de 2012 do World Bank (2014), o Chile classifica-se
como a 37ª maior economia mundial.
O Chile apresenta como tipo de governo a República e configura-se como
democracia presidencial. Schneider (2003), em sua pesquisa, destaca que o Chile é um
25
dos países menos corruptos da América Latina, de acordo com a percepção dos chilenos
em relação a sua democracia. Conforme o ranking CPI (2014), em 2013, o Chile
figurou em 22° lugar no ranking, com 71 pontos, o 4º menor índice de corrupção
percebida da América Latina.
Budnik et al. (2011) afirmam que a educação pública no Chile é
tradicionalmente marcada pela participação dos atores sociais, sendo possível apontar
inúmeras experiências de participação do movimento social na política de educação na
história do país. Os autores também destacam a modificação da estrutura educacional do
Chile, gerada pela lei de financiamento do país, que trouxe como consequências a
segmentação e segregação do sistema escolar de acordo com a capacidade econômica
das famílias. Ainda assim, o país é reconhecido por ter a melhor educação da América
Latina (THE ECONOMIST, 2011c). No período de 2007 a 2011, o país apresentou taxa
de alfabetização de 99% (UNDATA, 2014).
Esse reconhecimento da qualidade educacional do Chile é demonstrado por
pesquisas como o PISA, sendo considerado o país latino-americano com melhor
pontuação no ranking. De acordo com matéria do Universia Chile (2013), o país não
registrou melhoras significativas, se comparado ao ano de 2009, mas ainda assim
continua na liderança, em matéria educacional, da América Latina. Considerando a
evolução do Chile no PISA, do período 2000-2012, o país pode ser considerado um dos
países de maior crescimento. No ano 2000, o país não encontrava-se em primeiro lugar
em nenhuma categoria (INFOBAE, 2013).
Em 2012, o Chile obteve 441 pontos em leitura, ficando na 47ª posição, e
obteve 445 pontos em ciências, ficando na 45ª posição. Mesmo obtendo os melhores
resultados da região, o Chile apresenta um grande déficit em relação aos países da
OCDE, apresentando o rendimento dentre os mais baixos destes (LATERCERA, 2013).
O Chile teve um rendimento equivalente a um ano a menos de escolaridade que
Espanha e Portugal, dois anos a menos do que a Suíça e 3 anos a menos do que
Cingapura. Não se pode ignorar também o baixo desempenho da América Latina em
relação ao resto do mundo: os oito países latino-americanos estão no terço inferior de
desempenho em leitura, matemática e ciências, entre 65 países medidos (INFOBAE,
2013).
A cultura chilena reflete a população relativamente homogênea, uma mistura de
elementos culturais espanhóis e indígenas. O Chile trata-se de um país socialmente
conservador e em grande parte católico. Devido à influência histórica da Igreja Católica
sobre as empresas chilenas, a história da RSC das empresas do país foi fortemente
26
marcada pela prática de diferentes formas de filantropia. Hoje, além da filantropia, a
RSC tem se relacionado com os processos de produção de cada empresa e seus
impactos sobre o meio ambiente e em uma multiplicidade de partes interessadas
(BROWNE, 2010).
Browne (2010), ao analisar a cobertura da imprensa sobre a RSC no Chile,
destaca que a filantropia continua a ocupar um espaço considerável no interior da
cobertura de RSC. Assim, os meios de comunicação do país, em grande parte,
continuam a tratar a RSC como o contributo das empresas à sociedade, ao invés de
investigar os múltiplos impactos sociais e ambientais gerados por essas organizações,
bem como a sua articulação com os stakeholders na busca do desenvolvimento
sustentável.
2.1.3 México
O México é o segundo maior país da América Latina e possui a segunda maior
população da região. O país figura-se como uma nação multicultural, sofrendo sua
cultura influência de elementos indígenas, espanhóis, africanos e asiáticos. Sua cultura
também é fortemente influenciada pela Igreja Católica.
Em termos educacionais, para os padrões da América Latina, conforme o The
Economist (2011a), as escolas do México são muito boas e, conforme estudo PISA (um
teste internacional de jovens de 15 anos com provas de leitura, matemática e ciências), o
México tem a segunda melhor educação para as crianças da região, ficando atrás
somente do Chile. No entanto, o México tem o que melhorar. Mesmo que a matrícula
dos jovens de 15 anos tenha subido de 52% em 2000, para 66% em 2009, o Brasil saltou
de 53% para 80% no mesmo período. E no âmbito da OCDE, o sistema de ensino
mexicano classifica-se em último.
A evolução do desempenho do México no PISA, no período de 2000 a 2012, é
marcada pela estagnação (INFOBAE, 2013). Dentre os países membros da OCDE, o
México apresentou, em 2012, o pior desempenho nas três provas do PISA (matemática,
leitura e ciências). O país figurou na 53ª colocação dentre os 65 países participantes da
prova, superando Montenegro, Uruguai, Costa Rica, Albânia, Brasil, Argentina,
Tunísia, Jordânia, Colômbia, Catar, Indonésia e Peru. Conforme dados da UNData
(2014), no período de 2007 a 2011, o país apresentou uma taxa de alfabetização de 93%.
Blasco e Zølner (2010) destacam que a economia mexicana tem um grande setor
informal e é composta, em grande parte (97%), por pequenas e médias empresas. O
27
México foi o país de toda a América a sofrer de forma mais acentuada com a crise
financeira de 2008. Sua economia encolheu 6,1% em 2009 e entre o terceiro trimestre
de 2008 e o segundo trimestre de 2009, 700 mil empregos foram perdidos. Ainda que
com esse decréscimo, o México vem se recuperando economicamente, e um dos fatores
positivos que vem gerando essa recuperação é o fato do país ser pouco burocrático. O
Banco Mundial classifica o México como o lugar da América Latina mais fácil para
fazer negócios. Outro fator é a classificação das escolas do México entre as melhores na
América Latina (THE ECONOMIST, 2011c). De acordo o ranking de 2012 do World
Bank (2014), o México classifica-se como a 14ª maior economia mundial.
Entretanto, o mercado de trabalho ainda precisa se recuperar da recessão. A taxa
oficial de desemprego, em 2009, foi de 6,4%. E, de modo geral, os novos empregos
conquistados não são tão bons como os que foram perdidos, tendo uma média de
pagamento, em 2010, 5% menor do que em 2008. Esse fator e o aumento dos preços dos
alimentos tem levado um número maior de mexicanos à pobreza - em 2010, 46,2% dos
mexicanos estavam abaixo da linha de pobreza, contra 44,5% em 2008 (THE
ECONOMIST, 2011c).
Tyburski (2012) destaca que o México sofreu uma recente transformação
política: após a crise econômica de 1988, iniciou a sua transição de um regime
autoritário de partido único para uma democracia federal, descentralizada, com três
principais partidos políticos, implementou políticas econômicas liberais, e aos poucos
abriu o sistema político. O México tem como tipo de governo a República, e configura-
se como democracia presidencial.
O país apresenta considerável variação de corrupção entre seus estados.
Conforme o ranking CPI (2014), em 2013, o México figurou na 106ª colocação, com 34
pontos, estando entre os dez maiores índices de corrupção percebida da América Latina.
Conforme Nieto (2013), a corrupção, como violação ao Estado de direito, tem uma
longa tradição na história do México, sendo uma verdadeira constante nos diferentes
momentos da história do país. A corrupção é considerada por muitos a base do sistema
político mexicano, que tem como bases os privilégios, influência, favores, lealdade,
discrição e silêncio. As nomeações políticas são vistas como uma oportunidade de
enriquecer e como recompensa pela fidelidade.
Meyskens e Paul (2010) destacam que o México tem uma cultura de negócios
formada por forte presença de empresas familiares, empresas governamentais e filiais de
grandes multinacionais, não tendo, nenhuma destas, forte inclinação para a divulgação
pública das práticas de negócios e seus impactos, como exigido por normas globais
28
como a GRI. Blasco e Zølner (2010) afirmam que o país tem uma tradição filantrópica
desde os tempos pré-coloniais, e que a responsabilidade pelo bem-estar social tem sido,
tradicionalmente, vista como algo do domínio da igreja.
Araya (2006) destaca que a consciência e a comunicação de RSC na América
Latina têm um atraso, mas nas empresas do Brasil, seguida pelas do México, os
relatórios não-financeiros estão ganhando uma posição significativa. Ainda assim, o
envolvimento das empresas no bem-estar social continua a ser escasso (BLASCO;
ZØLNER, 2010).
Meyskens e Paul (2010) asseveram que, no México, o governo desempenha um
papel mínimo sobre a divulgação de comunicação social. Em complemento, Blasco e
Zølner (2010) destacam que uma instituição normativa relevante no que diz respeito à
RSC no México é a opinião pública e as expectativas em relação à comunidade
empresarial. O México é um dos quatro países da América Latina, juntamente com
Argentina, Chile e Brasil, a ter mais esforços para promover a RSC.
2.1.4 Panamá
O Panamá tem se destacado por suas altas taxas de crescimento e declínio na
taxa de pobreza. Caracteriza-se também por ser o sexto menor país da América Latina, e
o terceiro país menos populoso da região. Pavoni (2013) assevera que o país destaca-se
por a sua localização geográfica favorável e pela estabilidade dos seus sistemas fiscal,
econômico e político. O Panamá é uma das economias que mais cresce na América
Latina, e em 2012 manteve sua expansão econômica de 10,6% em relação ao ano
anterior. Apresenta também a menor taxa de desemprego de todos os tempos, com uma
taxa de desemprego de 4,4% registrada em 2012. De acordo o ranking de 2012 do
World Bank (2014), o Panamá classifica-se como a 88ª maior economia mundial.
Conforme Araúz e Vasquez (2013), o governo panamenho tem apostado numa
política externa de divulgar o país, tendo como característica mais importante, em 2012,
a promoção do país como um espaço privilegiado para o investimento estrangeiro. No
entanto, o governo parece apenas preocupado em fazer negócios, sendo, essencialmente,
incapaz de se conectar com a necessidade de igualdade política e econômica do país que
ele governa. O Panamá apresenta como tipo de governo a República, e configura-se
como democracia presidencial.
Guadásegui (2010) destaca que o Panamá sofreu impactos da crise econômica
global de 2008, tais como o aumento do desemprego e da informalidade. Destaca-se
29
também que a falta de uma política governamental coerente contra a pobreza,
acompanhada de políticas fiscais inadequados, tem agravado a desigualdade na
distribuição da riqueza existente no Panamá.
Nas últimas décadas, agravou-se a desigualdade de renda entre os panamenhos.
Destaca-se também que, nos últimos 20 anos, os movimentos sociais aumentaram,
expressando as suas queixas nas ruas e nos campos, às quais os governos têm
respondido com mais leis e repressão (GUADÁSEGUI, 2010). Pavoni (2013) afirma
que a distribuição de renda e a inflação no Panamá são preocupantes. Outro desafio de
desenvolvimento crucial enfrentado pelo país é a escassez de trabalhadores qualificados,
afetando diretamente o setor de serviços e o imobiliário.
O Panamá participou do ranking PISA, Programa de Avaliação Internacional de
Estudantes realizado pela OCDE, somente no ano de 2009. O país figurou na 63ª
colocação, ficando à frente, dentre os países latino-americanos, somente do Peru, que
figurou na 64ª colocação, e figurando entre os três últimos colocados no ranking. Essa
colocação demonstrou o déficit dos estudantes panamenhos quanto à compreensão de
leitura e ao conhecimento em ciência e matemática (CRÍTICA, 2014). No período de
2007 a 2011, o país apresentou taxa de alfabetização de 94% (UNDATA, 2014).
A democracia no Panamá, de acordo com o Índice de Desenvolvimento
Democrático da América Latina (IDD-LAT), em 2012, foi a quarta mais avançada de
toda a região, atrás apenas de Costa Rica, Chile e Uruguai. A estabilidade política do
Panamá, conquistada através do respeito à vontade popular transmitido através do voto,
tornou o país um alvo de investimento privado nacional e estrangeiro. Entretanto, esta
estabilidade foi conseguida pela exclusão de grande parte da população de decisões
políticas através do sistema de representação, o que traz, eventualmente, abuso e
insatisfação dos excluídos (ARAÚZ; VASQUEZ, 2013).
O país possui instituições pouco desenvolvidas, não sendo classificado nem
mesmo como a nação menos corrupta na América Central, colocação esta ocupada por
Barbados. O Panamá é repreendido por ter funcionários públicos corruptíveis e falta de
independência judicial (THE ECONOMIST, 2011b). Conforme o ranking CPI (2014),
em 2013, o Panamá figura na 102ª colocação, com 35 pontos.
O Panamá apresenta uma população diversificada, resultante da mistura dos
grupos indígenas e da constante imigração ao longo dos últimos 500 anos. A religião
está profundamente ligada às tradições e expressões culturais do país, sendo o
catolicismo a religião predominante.
30
Um resumo das semelhanças e diferenças de Brasil, Chile, México e Panamá,
pode ser observado no Quadro 01, onde são apontados elementos do ambiente
institucional dos quatro países. A saber: política, economia, educação e cultura.
Quadro 01 - Ambiente Institucional de Brasil, Chile, México e Panamá. País Política Economia Educação Cultura
Brasil Democracia presidencialista
Forte presença de corrupção
- 72ª colocado no índice CPI
7ª maior
economia
mundial
5º Pior colocado da
América Latina no
PISA de 2009
Taxa de alfabetização
de 90%
Uma das nações mais
multiculturais do
mundo.
Chile Democracia presidencialista
Um dos países menos
corruptos da América Latina
– 22ª colocado no índice
CPI
37ª maior
economia
mundial
Melhor colocado da
América Latina no
PISA de 2009
Taxa de alfabetização
de 99%
Cultura relativamente
homogênea, resultante
da mistura de
elementos culturais
espanhóis e indígenas.
México Democracia presidencialista
Forte presença de corrupção
- 106ª colocado no índice
CPI
14ª maior
economia
mundial
2º Melhor colocado da
América Latina no
PISA de 2009
Taxa de alfabetização
de 93%
Nação multicultural,
com influência de
elementos indígenas,
espanhóis, africanos e
asiáticos.
Panamá Democracia presidencialista
Forte presença de corrupção
- 102ª colocado no índice
CPI
88ª maior
economia
mundial
2º Pior colocado da
América Latina no
PISA de 2009
Taxa de alfabetização
de 94%
Nação multicultura,
com influência de
elementos indígenas e
da constante imigração
ao país.
Fonte: Elaborado pela autora (2014).
Como demonstrado, Brasil, Chile, México e Panamá apresentam diferentes
contextos nacionais, históricos, culturais e institucionais, que podem influenciar as
empresas destes países, trazendo variações de práticas organizacionais. Buscando
estudar tais variações, Perez-Batres, Miller, Pisani (2011) asseveram que a Teoria
Institucional trata-se da teoria indicada para esse fim, pois reconhece que as influências
sociais afetam a estrutura das organizações.
2.2 Teoria Institucional
A Teoria Institucional, afirmam Matten e Moon (2008), permite que as
organizações sejam exploradas e comparadas dentro de seus contextos nacionais,
culturais e institucionais. Assim, como destacado por Campbell (2006), a maneira como
as empresas tratam os seus atores depende das instituições com as quais atuam.
As instituições podem ser definidas como a organização formal do governo e
corporações, e também como normas, incentivos e regras (MATTEN; MOON, 2008).
As instituições são relativamente resistentes a mudanças, tendem a ser transmitidas
31
entre gerações, e impõem restrições ao definir os limites morais, legais e culturais
(SCOTT, 2008).
A Teoria Institucional foca-se na influência do ambiente social ou cultural sobre
as organizações (SCOTT, 2008; DIMAGGIO; POWELL, 1983; ZUCKER, 1987). As
novas formas institucionais interagem com os arranjos institucionais existentes para a
criação de “novas" estruturas e processos variados (DACIN; GOODSTEIN; SCOTT,
2002). A estrutura social (nível macro) determina o comportamento dos indivíduos e de
pequenos grupos (nível micro) e existe independentemente deles. Ambos os níveis,
tanto o macro quanto o micro, estão intimamente interligados (ZUCKER, 1987).
De acordo com Tempel e Walgenbach (2007), a Teoria Institucional possui duas
tradições principais que focam-se na adaptação das organizações aos seus ambientes
institucionais: o Novo Institucionalismo e a Abordagem de Sistemas de Negócios.
No Novo Institucionalismo, as instituições são vistas como atores políticos e
tomadores de decisões (MARCH; OLSEN, 1984). O Novo Institucionalismo interessa-
se nas instituições como variáveis independentes, nas explicações cognitivas e culturais,
e nas propriedades de unidades análise supraindividuais que não podem ser reduzidas a
conjuntos ou a consequências diretas de atributos e motivos individuais (SELZNICK,
1996).
De acordo com Matten e Moon (2008), o Novo Institucionalismo foca-se na
homogeneização dos ambientes institucionais através das fronteiras nacionais,
indicando como processos regulatórios, normativos e cognitivos levam a práticas cada
vez mais padronizadas e racionalizadas em organizações de todos os setores e fronteiras
nacionais. O argumento fundamental é que as práticas organizacionais mudam e
tornam-se institucionalizadas, a fim de serem consideradas legítimas.
Perez-Batres, Miller e Pisani (2011) destacam que, ao aderir às instituições e às
práticas que elas englobam, as empresas adquirem legitimidade social. Conforme
Selznick (1996), o Novo Institucionalismo foca-se na legitimação como uma força
sustentada e dirigida aos atores organizacionais. A legitimidade é vista como um
"imperativo" da organização, agindo muitas vezes como fonte de inércia e como
justificativa para a adoção de determinadas formas e práticas. Através da adoção de
formas e práticas semelhantes, incentiva-se o mimetismo ou isomorfismo institucional,
demonstrando que as organizações são altamente sensíveis ao ambiente cultural em que
vivem.
Dimaggio e Powell (1983) afirmam que a estrutura macrossocial influencia as
organizações, fazendo com que elas se tornem cada vez mais homogêneas, processo
32
esse conhecido como isomorfismo institucional. O isomorfismo pode ser definido como
um processo restritivo que força uma unidade, em uma população, a assemelhar-se às
outras unidades que se defrontam com o mesmo conjunto de condições ambientais,
visando obter poder político, legitimidade institucional, adequação social e econômica.
Conforme Tempel e Walgenbach (2007), as organizações buscam cumprir as
expectativas de seu ambiente, a fim de garantir a sua sobrevivência, adotando assim
elementos institucionalizados, resultando em um isomorfismo de organização e
ambiente institucional.
Três mecanismos são responsáveis pela mudança isomórfica institucional
(DIMAGGIO; POWELL, 1983):
a) Isomorfismo coercitivo: advém da influência política (ambiente legal e
governo), de pressões formais e informais exercidas sobre as organizações por
outras organizações das quais elas são dependentes, e de expectativas culturais
da sociedade em que as organizações funcionam.
b) Isomorfismo mimético: resultante de respostas padrão a incerteza, encorajando
as organizações à imitação. As organizações tendem a imitar organizações
similares em seu campo que eles percebem ser mais legítimas ou bem-sucedidas.
c) Isomorfismo normativo: associado à profissionalização do setor ou de seus
membros (organizações sindicais), que gera padronização de através da
educação formal, e das redes profissionais que abrangem as organizações,
através das quais os novos modelos são rapidamente difundidos, e tenta-se
definir as condições e métodos de trabalho para legitimar sua autonomia
profissional.
Desta forma, afirmam Perez-Batres, Miller e Pisani (2011), as práticas
isomórficas emanam da decisão da organização de ser como as outras (isomorfismo
mimético), de fazer o profissionalmente correto (isomorfismo normativo), ou de
cumprir as regras aplicadas por forças externas (isomorfismo coercitivo). Brookes,
Brewster e Wood (2005) argumentam que o isomorfismo reflete a centralidade do poder
do Estado e estruturas regulatórias formais associadas, e o fato do processo de
socialização ser moldado não só por fenômenos culturais transnacionais, mas também
por padrões específicos formais e informais de comportamento a nível nacional.
Assim, os esforços de RSC de uma organização podem ser influenciados pelo
que é percebido como legítimo e aceitável pelos atores dos ambientes institucionais
relevantes para a empresa, independentemente de cálculos econômicos diretos
(GJØLBERG, 2009).
33
A Abordagem de Sistemas de Negócios destaca como a organização é
influenciada pelos quadros institucionais nacionais em que está inserida, expressando
assim dúvidas quanto ao fato da globalização realmente levar à convergência e
uniformização das práticas (TEMPEL; WALGENBACH, 2007). Conforme Matten e
Moon (2008), as instituições de uma sociedade constituem o chamado sistema nacional
de negócios. Diferentes sociedades desenvolveram diferentes sistemas de mercados,
refletindo as suas instituições, as suas éticas habituais, e suas relações sociais, gerando
diferenças nas formas em que as corporações expressam e perseguem suas
responsabilidades sociais entre diferentes sociedades.
Foss (1997) discorre que os sistemas de negócios estão inseridos em um
contexto institucional específico mais amplo (incluindo cultura nacional) para diferentes
nações e regiões, com o qual ele conjuntamente evolui e apresenta uma relação de
dependência ao longo de sua trajetória. Conforme Whitley (2007), para compreender a
importância dos tipos de sistemas de negócios para cada economia de mercado, é
necessário identificar as instituições-chave que governam a natureza da propriedade
privada, direitos, relações de confiança e autoridade, acesso financeiro, o
desenvolvimento de habilidades e conhecimento, e as relações de trabalho. Muitas
destas instituições-chave são nacionalmente específicas, variando muito entre os países.
Brookes, Brewster e Wood (2005) argumentam que a Abordagem de Sistemas
de Negócio defende que as nações estão interligadas a uma determinada trajetória de
desenvolvimento que reflete as diferentes configurações institucionais e ações sociais,
variações estas que influenciam o papel e a estruturação das empresas.
Matten e Moon (2008) asseveram que as diferenças nacionais em matéria de
RSC podem ser explicadas por quadros institucionais historicamente cultivados que
formam os sistemas nacionais de negócios. As mudanças desses quadros institucionais e
sistemas nacionais de negócios geram novos incentivos e oportunidades para as
empresas de se relacionar e posicionar com relação a sistemas mais amplos de
responsabilidade. Como destacado por Brookes, Brewster e Wood (2005), as diferenças
nos sistemas nacionais de negócios se traduzem em diferenças de práticas ao nível da
empresa.
Os quadros institucionais nacionais historicamente cultivados são formados por
quatro grandes tipos de instituições: instituições políticas, instituições financeiras,
instituições de educação e trabalho, e instituições culturais (MATTEN; MOON, 2008).
Essas características formam os sistemas de governança das nações, que são compostos
por uma combinação de atores públicos e privados (tais como órgãos públicos
34
reguladores, associações comerciais, sindicatos, associações profissionais e sistemas
judiciais) que utilizam uma combinação de controles regulatórios e normativos sobre as
atividades e os atores dentro do campo organizacional (SCOTT, 2008).
A Abordagem de Sistemas de Negócios procura explicar a relação entre o que as
empresas fazem e o contexto institucional maior. Busca explicar porque certos
conjuntos de práticas persistem em determinados contextos institucionais nacionais, e
também como as empresas e outros coletivos sociais interagem e competem dentro
deste contexto nacional-institucional (BROOKES; BREWSTER; WOOD, 2005).
Como destacado por Whitley (2003), a distinção e integração nacional dos
sistemas de negócios é muito dependente do quão padronizados e complementares são
as instituições que regem a constituição e o comportamento dos agentes econômicos
dentro de Estados-Nações, e em quanto eles divergem entre os países. Assim, os
sistemas de negócios e os tipos de empresas distinguem-se nacionalmente de acordo
com a medida em que as características dos Estados e instituições relacionadas são
complementares em suas implicações para as empresas e mercados, assim como da
estruturação ativa e coordenação de grupos de interesse e suas inter-relações com as
agências estatais.
Os Estados possuem um poder extraordinário de definir a capacidade, a natureza
e os direitos gozados pelos atores políticos e econômicos (SCOTT, 2008). Portanto,
variações nas estruturas e ações estatais geram consequências significativas na forma
como as empresas e os mercados organizam-se em diferentes países, bem como em
quão padronizadas e complementares são instituições fundamentais (WHITLEY, 2003).
Confrontando-se as duas vertentes da Teoria Institucional pode-se notar algumas
semelhanças e diferenças, observadas no Quadro 02. Tanto uma vertente do
institucionalismo quanto na outra apresentam limitações, podendo aprender uma com a
outra, obtendo uma visão mais ampla e rica do ambiente institucional.
De acordo com Tempel e Walgenbach (2007), o Novo Institucionalismo enfatiza
a difusão global de práticas e a adoção destas pelas organizações , dando pouca atenção
à forma como tais práticas são interpretadas ao viajar ao redor do mundo. Por outro
lado, a Abordagem de Sistemas de Negócios enfatiza como as organizações são
influenciadas pelos quadros institucionais nacionais em que estão inseridas, no entanto,
minimiza os efeitos dos desenvolvimentos transnacionais sobre os padrões nacionais de
organização econômica.
35
Quadro 02 - Comparação entre o Novo Institucionalismo e a Abordagem de Sistemas
de Negócios. Novo Institucionalismo Abordagem de Sistemas de
Negócios
Mecanismo de
adaptação
Difusão global de conceitos através do
isomorfismo.
Limitações – pouco claro se há difusão de
uma língua global comum, deixando
margem para a interpretação local, ou se os
próprios conceitos tornam-se mais
parecidos globalmente.
Reprodução de instituições e sistemas
de negócios intimamente ligados.
Limitações – não considera a
possibilidade de empresas adotarem
práticas divergentes e não fornece
nenhum mecanismo claro para
reconhecer o impacto dos
desenvolvimentos transnacionais.
Unidade de
Análise
Campo organizacional – fronteiras são
atraídas pelas fronteiras nacionais porque os
estudos empíricos focam-se na América do
Norte.
Limitações – dimensões transnacionais dos
campos organizações são negligenciadas.
Sistema de negócios - fronteiras são
equiparadas às fronteiras nacionais
devido à influência-chave das ações
estatais.
Limitações – efeito das atividades
internacionais sobre os sistemas de
negócios são minimizados.
Instituições
Instituições normativas e cognitivas -
padrões de pensamento e suposições tidas
como certas sobre as formas de organização
e práticas de gestão.
Limitações - não contém prescrições claras
de comportamento e são, portanto, abertas a
interpretação local.
Instituições estruturais-reguladoras: o
Estado, o sistema financeiro, o
desenvolvimento de habilidades e
sistema de controle, relações de
confiança e autoridade.
Limitações – minimizam a influência
das instituições supranacionais e a
difusão de conceitos normativos e
cognitivos dos atores globais.
Representação
das
organizações
Passiva: ênfase em fatores que fazem os
atores não reconhecerem ou agir em seu
interesse.
Limitações - retrato excessivamente
socializado dos atores, deixando pouca
margem de manobra para reconhecer o
importante papel que os atores
desempenham na interpretação local e
implementação de práticas globalmente
difundidas.
Passiva: estreita retroalimentação
entre os sistemas empresariais e
instituições.
Limitações - opõe-se a possibilidade
de reconhecer como atores podem
adotar estruturas organizacionais e
práticas de gestão divergentes.
Fonte: Tempel e Walgenbach (2007).
O Novo Institucionalismo pode aprender com a Abordagem de Sistemas de
Negócios a: ampliar as fronteiras de campos organizacionais por meio do engajamento
em pesquisa entre as nações, investigar o contexto institucional em que novas formas
organizacionais institucionalizadas e práticas de gestão são difundidas, pesquisar a
velocidade da difusão de conceitos de nova organização e gestão entre nações
(TEMPEL; WALGENBACH, 2007, p.11-14).
Por sua vez, a Abordagem de Sistemas de Negócios pode aprender com o Novo
Institucionalismo a: olhar para além das fronteiras nacionais, afrouxar a
retroalimentação entre os sistemas de negócios e as instituições, tratar a inserção de
diferentes características do sistema de negócios como uma variável (TEMPEL;
WALGENBACH, 2007, p.14-16).
36
A abordagem de Matten e Moon (2008) para explicar as diferenças de RSC,
demonstrada na Figura 01, une as duas abordagens da Teoria Institucional, o Novo
Institucionalismo, com a influência do campo organizacional, do isomorfismo; e a
Abordagem de Sistemas de Negócios, com a influência dos sistemas nacionais. Essas
duas vertentes da Teoria Institucional complementam-se, permitindo uma visão mais
rica dos fatores que influenciam as práticas e discursos das organizações, tendo,
respectivamente, uma visão micro e macro do ambiente. De acordo com os diferentes
sistemas nacionais de negócios e o campo organizacional da empresa, podem-se
identificar duas formas distintas de RSC, a explícita e a implícita.
Por "RSC explícita", referimo-nos às políticas corporativas que assumem e
articulam a responsabilidade para alguns interesses sociais, advindo a RSC explícita de
critério das empresas, e não da autoridade governamental ou instituições formais ou
informais mais amplas. A "RSC implícita" normalmente consiste em valores, normas e
regras que resultam em (obrigatórios e habituais) requisitos para as empresas para tratar
de questões de partes interessadas e que definem as obrigações próprias de atores
corporativos no coletivo, em vez de termos individuais (MATTEN; MOON, 2008).
Figura 01 - RSC e o contexto institucional da corporação.
Fonte: Matten e Moon (2008).
A união desses dois institucionalismos demonstra que, dentro de um país, as
práticas organizacionais tendem ao isomorfismo, e entre os países, dado a seus
37
diferentes sistemas de negócios nacionais, essas práticas tendem a diferenciar-se. De
acordo com Amaeshi e Amao (2009) apesar de suas diferenças sutis, o Novo
Institucionalismo e a Abordagem de Sistemas de Negócios argumentam que os
pensamentos e ações gerenciais não resultam somente da racionalidade gerencial, mas
ambos são condicionados pelos atributos contextuais dos ambientes institucionais em
que são criados e executados. Os atributos contextuais podem ser as normas sociais,
crenças, práticas, rotinas, redes, regulamentos e outras características e influências
institucionais.
Assim, onde ambientes institucionais a nível nacional são distintos, os processos
de isomorfismo buscam tornar as práticas mais semelhantes dentro do país, e diferente
entre os países (AGUILERA; JACKSON, 2003). Como destacado por Sobczak e
Martins (2010), as práticas e os discursos de RSC são formados por uma mistura
complexa de influências globais e tradições nacionais. Corroborando com o exposto,
Tang e Li (2009) afirmam que os contextos sociais e culturais específicos, muitas vezes,
relacionam-se com a forma em que a RSC é comunicada em diferentes partes do
mundo.
2.3 Comunicação de Responsabilidade Social Corporativa
Nos últimos anos, com o crescimento da importância da reputação, a
importância de comunicar a estratégia de RSC das organizações também cresceu. No
entanto, os vários exemplos de greenwashing e outras ações antiéticas geraram um
ceticismo em relação à comunicação de RSC das empresas.
As informações de RSC de uma empresa ganharam importância, pois como
afirmado por Du, Bhattacharya e Sen (2010), revelam aspectos da sua identidade
corporativa, que não só são fundamentais e duradouras, mas também muitas vezes
distintas em virtude de suas bases diferentes. Como exposto por Morsing e Schultz
(2006), hoje a atenção crítica dos stakeholders não está restrita a decisões e ações de
uma empresa, mas foca-se também sobre as decisões e ações de fornecedores,
consumidores e políticos, o que pode estimular a crítica no sentido de uma empresa.
Portanto, o engajamento de RSC das empresas hoje requer conscientização contínua de
seus stakeholders e estratégias mais sofisticadas de comunicação de RSC do que
anteriormente.
38
Assim, para ser considerada como socialmente responsável, a organização deve
tornar suas atividades de responsabilidade social visíveis e acessíveis aos stakeholders
internos e externos, o que é conseguido através da comunicação de RSC (MAIGNAN;
FERRELL; HULT, 1999). A comunicação de RSC, de modo geral, é definida por
Frostenson, Helin e Sandström (2011) como uma forma particular de retórica
corporativa que se refere a questões éticas, sociais, ambientais ou filantrópicas. Trata-se
de um processo complexo que envolve lidar amplamente com stakeholders externos,
tais como representantes da mídia.
Tang e Li (2009) argumentam que a comunicação de RSC trata-se de uma
prática padrão através da qual as empresas divulgam suas práticas no que diz respeito à
proteção ambiental, condições de trabalho, e outros aspectos que não estão diretamente
relacionadas com o seu desempenho financeiro. Complementando o exposto, Nielsen e
Thomsen (2009) destacam que a comunicação corporativa está interligada à visão e à
estratégia da empresa, tendo como seus pilares os stakeholders, a identidade, a
reputação e a gestão estratégica.
Apesar das definições existentes, Wang e Chaudhri (2009) afirmam que a
comunicação de RSC é uma tarefa complicada para a qual não existe uma fórmula
universal. E, conforme Tate, Ellram e Kirchoff (2010), há uma preocupação entre os
acadêmicos e profissionais da relação entre as declarações e relatórios de RSC
comparados ao real compromisso corporativo de abordar as questões sociais e
ambientais.
Portanto, Wanderley et al. (2008) asseveram que a comunicação é um aspecto
controverso na área de RSC, pois ao mesmo tempo em que as organizações desejam que
seus stakeholders estejam cientes de que elas são socialmente responsáveis, são
reticentes em comunicar suas ações, temendo criar muitas expectativas e também
temendo críticas. Morsing e Schultz (2006) tratam essa questão como paradoxo da
autopromoção: caso a empresa divulgue um perfil de RSC muito alto, pode ter perda em
sua credibilidade, o que pode ser contra produtivo. Devido à falta de confiança nas
organizações, quanto mais uma empresa apregoa sua responsabilidade corporativa
aberta e publicamente, menos probabilidade há de que seja considerada importante por
muitos stakeholders (WADDOCK; GOOGINS, 2011).
Bartlett e Devin (2011) afirmam que a quantidade de empresas que reportam
RSC, bem como a quantidade de informação publicada sobre RSC, cresceram
exponencialmente nos últimos quinze anos. No entanto, com os vários escândalos de
empresas que se diziam socialmente responsáveis, há uma solicitação por uma maior
39
transparência. Corroborando com o exposto, Tang e Li (2009) destacam que,
recentemente, há uma crescente pressão legal e institucional dos diferentes stakeholders
sobre as organizações, exigindo maior transparência sobre as dimensões sociais, éticas e
ambientais de suas práticas de negócios.
Em meio à ampla gama de demanda, dos mais diferentes stakeholders internos e
externos, por responsabilidade, transparência e prestação de contas de suas atividades,
as organizações têm respondido, em grande parte, através uma série de iniciativas de
responsabilidade corporativa voluntárias (WADDOCK; GOOGINS, 2011). Dado a esse
contexto de crescente desconfiança, as novas comunicações tornam-se um grande
desafio às empresas.
Arvidsson (2010) afirma que o aumento da comunicação de RSC é uma resposta
a uma necessidade identificada, às tendências de mercado e mudanças nas visões e
opiniões dos stakeholders, resultando em mais atenção e recursos sendo direcionados a
esta área. Como destacado por Jahdi e Acikdilli (2009), as organizações estão, cada vez
mais, focando-se na comunicação de RSC a fim de serem vistas como empresas 'boas'.
Também há uma pressão de diferentes stakeholders (acadêmicos, agentes corporativos,
grupos de pressão, os governos) para que as organizações adotem uma abordagem
orientada para a RSC em seus negócios. Destarte, a adoção políticas de RSC pela
organização requer comunicação com os stakeholders, não só para convencê-los de que
a empresa é séria em relação a suas estratégias de RSC, mas também para colher os
benefícios que surgem com tal imagem.
No entanto, a comunicação de RSC, muitas vezes, tem levantado ceticismo
sobre a organização, em vez de alcançar o seu objetivo pretendido de ilustrar a sua
contribuição para a sociedade (WADDOCK; GOOGINS, 2011). A comunicação de
RSC é um assunto muito delicado, e tem como um de seus principais desafios,
minimizar o ceticismo dos stakeholders e transmitir os motivos intrínsecos das
atividades de responsabilidade social de uma empresa (DU; BHATTACHARYA; SEN,
2010).
Ihlen (2011) assevera que dentre os vários desafios enfrentados pelas
organizações ao comunicarem sua RSC, o mais básico é encontrar uma forma de
convencer os stakeholders importantes de que seus esforços de RSC são mais do que
apenas uma fachada. A utilização de uma comunicação de RSC clara, transparente e
verificável pode reduzir esse ceticismo. Wagner, Lutz e Weitz (2009) afirmam que uma
das grandes razões da existência de uma lacuna de credibilidade em torno da RSC é a
chamada hipocrisia corporativa: lacuna entre o discurso da organização e o que ela
40
realmente pratica. A hipocrisia corporativa é uma consequência da inconsistência de
informações de RSC.
Assim, no atual contexto de desconfiança para com a retórica das organizações,
comunicar as atividades da organização é uma tarefa complicada, variando o nível de
confiança nas empresas entre países, setores e contextos específicos (WADDOCK;
GOOGINS, 2011). Eisenegger e Schranz (2011) afirmam que, de modo geral, a
comunicação de RSC tem um status maior em países com uma tradição mais forte de
política liberal do que em países com uma tradição mais forte de welfare state. Logo, há
um maior ceticismo em países de welfare state do que em países liberais.
Destaca-se que, dada à vasta literatura sobre RSC, ainda há pouca literatura
sobre comunicação de RSC, com relativamente pouca pesquisa interdisciplinar sobre o
tema. A importância dos estudos sobre comunicação está em entender como o
significado da RSC é construído, como ele é implementado nas organizações e usado
para atingir as metas organizacionais (IHLEN; BARTLETT; MAY, 2011).
Um framework da comunicação de RSC pode ser visualizado na Figura 02,
demonstrando as questões e fatores que influenciam essa comunicação. Bartlett e Devin
(2011) destacam que escolas têm desenvolvido estratégias, modelos, diretrizes e
frameworks de comunicação de RSC, sendo estes predominantemente descritivos.
Figura 02 - Framework da comunicação de RSC.
Fonte: Du, Bhattacharya e Sen (2010).
Como demonstrado na Figura 02, a comunicação de RSC envolve características
da organização e de seus stakeholders, revelando aspectos da sua identidade corporativa
41
que distinguem-se em virtude das especificidades de cada empresa (DU;
BHATTACHARYA; SEN, 2010). Todas estas características do ambiente da
organização (fatores contingenciais), bem como o conteúdo e o canal da mensagem
sobre RSC, influenciarão a eficácia da comunicação, diminuindo ou não o ceticismo dos
stakeholders. Esse diferentes aspectos da comunicação de RSC são discutidos a seguir.
2.3.1 Abordagens da Comunicação de RSC
As diferentes iniciativas de RSC focam-se em uma variedade de grupos de
stakeholders que operam em contextos e setores distintos. Logo, para comunicar-se com
esses diferentes grupos, fazem-se necessárias diferentes abordagens (WADDOCK;
GOOGINS, 2011). Frostenson, Helin e Sandström (2011) asseveram que uma mesma
empresa fala de forma diferente ou em quantidades variáveis dependendo de quem ela
visa atingir, adaptando seus conteúdos, canais e estruturas de comunicação ao contexto
e aos receptores das informações.
Basu e Palazzo (2008, p. 125) dividem o processo de construção de sentido da
RSC em três dimensões: a) cognitiva, que representa o que as empresas pensam
(orientação identidade e legitimidade); b) linguística, que representa o que as empresas
dizem (justificativa e transparência); c) conativo, que representa como as empresas
tendem a se comportar (postura, coerência e compromisso). Assim, para que as
comunicações de RSC sejam bem-sucedidas, é uma exigência dar devida atenção a
todas essas dimensões.
Bartlett e Devin (2011) destacam que dependendo da perspectiva da RSC
(normativa ou estratégica), a comunicação de RSC é vista de forma diferente. Numa
perspectiva normativa, a comunicação de responsabilidade social corporativa é vista
como uma contribuição para a construção social das normas de RSC, ou como uma
forma de comunicação contra as normas estabelecidas. Em uma perspectiva de
responsabilidade social corporativa como uma atividade estratégica, a comunicação é
vista como uma forma de construir relacionamentos com stakeholders estratégicos e
melhorar a reputação da empresa.
Há uma tensão entre as abordagens estratégica e normativa/ética da RSC e sua
comunicação, haja visto que a abordagem estratégica preocupa-se com a competição
entre as empresas e acesso a recursos, e a abordagem ética se preocupa com os
princípios em torno dos quais as organizações operam na sociedade (BARTLETT;
DEVIN, 2011).
42
De acordo com a perspectiva estratégica, Basu e Palazzo (2008) classificaram a
comunicação de RSC em duas categorias: balanceada – a empresa comunica tanto
resultados favoráveis como desfavoráveis; e tendenciosa – a empresa inclui resultados
favoráveis e omite os desfavoráveis. Por outro lado, Morsing e Schultz (2006)
classificam as estratégias de comunicação de RSC em três tipos: estratégia de
informação dos stakeholders, estratégia de resposta dos stakeholders e estratégia de
envolvimento dos stakeholders. Na estratégia de informação dos stakeholders, a
comunicação é sempre de sentido único, partindo das organizações em direção os
stakeholders, tendo como objetivo disseminar informações, não necessariamente com a
intenção persuasiva, mas para informar o público tão objetivamente quanto possível
sobre a organização.
A estratégia de resposta dos stakeholders é baseada na comunicação assimétrica
de duplo sentido, partindo tanto da organização como dos stakeholders, no entanto
existe um desequilíbrio dos efeitos de relações públicas em favor da empresa. A
organização tenta mudar as atitudes e o comportamento do público. Assim, a
comunicação é vista como um feedback em termos de descobrir o que o público vai
aceitar e tolerar. A estratégia de envolvimento dos stakeholders é baseada numa
comunicação sobre duplo sentido simétrica, assumindo um diálogo com os
stakeholders. Tanto a empresa quanto os stakeholders tentam persuadir um ao o outro a
mudar.
Nielsen e Thomsen (2007) afirmam que devido à falta de um entendimento
comum e terminologia na área de RSC, as organizações têm dificuldade em desenvolver
estratégias consistentes para a elaboração de seus relatórios de RSC em termos de
gêneros, mídia, estratégias retóricas, dentre outras.
2.3.2 Mensagem e Canais da Comunicação de RSC
Hartman, Rubin e Dhanda (2007, p.377) destacam que as organizações têm
várias opções de como comunicar a sua RSC de forma efetiva, variando esta forma
dependendo do público a quem a comunicação é dirigida. As mensagens transmitidas a
alguns ou a todos seus stakeholders podem ser:
a) a RSC é do interesse estratégico da empresa a longo prazo;
b) a RSC reduz o risco de impacto negativo na reputação de outros quadrantes de
atividades da empresa (responsabilidade legal, valor das ações diminuir devido à
publicidade negativa);
43
c) a RSC protege a reputação de uma empresa, sua imagem de marca;
d) a RSC pode permitir a empresa atrair e reter funcionários valiosos e manter o
moral alto;
e) a RSC reflete obrigação baseada em contrato social da empresa de “oferecer algo
de volta” para a comunidade em que atua;
f) a RSC é a coisa certa a fazer, de acordo com os valores universais, os valores
fundamentais de uma determinada rede social e/ou valores de uma determinada
corporação;
g) a RSC oferece uma troca entre a empresa e seus stakeholders, oferecendo aos
stakeholders apoio corporativo valioso (em uma variedade de formas) em troca de
permissão para operar e crescer em uma determinada comunidade.
Para Du, Bhattacharya e Sen (2010), na comunicação de RSC, a empresa pode
referir-se amplamente a uma causa social própria (sem ligação com a atividade da
empresa) ou ao envolvimento em uma causa social específica da empresa (interligada a
ela). Caso envolva-se numa causa social própria, a empresa deve enfatizar a importância
da questão social e comunicar a falta de interesse próprio na escolha desta, optando por
temas que não são logicamente relacionados aos negócios da empresa. Caso envolva-se
em uma causa social relacionada ao seu negócio, deve enfatizar a convergência de
interesses sociais e de negócio, reconhecendo que seus esforços de responsabilidade
social são benéficos tanto para a sociedade quanto para a própria empresa.
Os fatores que a empresa pode enfatizar em sua comunicação de RSC são: o seu
compromisso com uma causa, o impacto que esta causa social tem ou terá, o porquê de
se envolve em uma determinada iniciativa social (ou seja, motivos de RSC) e a
congruência entre a causa social e o negócio da empresa.
Quanto aos meios através dos quais a comunicação sobre a atividade de RSC
pode ser feita, Du, Bhattacharya e Sen (2010) destacam os seguintes canais: documentos
oficiais, como um relatório de responsabilidade corporativa anual ou de imprensa; seção
sobre RSC no site oficial das empresas; comerciais de TV, revistas ou outdoors com
propagandas; embalagens de produtos. Conforme Jahdi e Acikdilli (2009), a escolha da
mídia para divulgação de informações de RSC dependente do público-alvo.
Morsing e Schultz (2006) indicam a importância crescente de canais de
comunicação como relatórios anuais e websites, que tornaram-se meios preferidos de
comunicação RSC pelos stakeholders. Estes canais permitem uma flexibilidade máxima
e um forte foco no conteúdo. Wanderley et al. (2008) asseveram que a comunicação
com as partes interessadas através da internet tem se tornado, cada vez mais, uma das
44
principais ferramentas para a divulgação de informações sobre a RSC, uma vez que
permite às empresas divulgar mais informações de forma menos dispendiosa e mais
rápida. Outra vantagem deste canal é que a informação continua permanentemente
disponível na web, permitindo ao usuário da internet escolher quais assuntos que ele
quer acessar e as vezes que ele deseja. Em um único site a empresa pode ter várias
páginas, cada uma direcionada a um stakeholder diferente.
Para Perks et al. (2013), ainda que vários canais de comunicação de RSC sejam
utilizados pela empresa, pode-se dizer que os relatórios sociais, os sites e a publicidade
desempenham papel mais importante. Em comparação aos outros dois canais, a
publicidade tem maior eficácia de comunicação. No entanto, dentre os três canais, a
publicidade sobre RSC é a menos pesquisada. Du, Bhattacharya e Sen (2010) destacam
que os relatórios de responsabilidade corporativa ainda são o canal de comunicação de
RSC dominante.
Embora existam vários canais de comunicação de RSC controlados pela
empresa, é grande e crescente o número de comunicadores externos de RSC que não são
totalmente controlados pela empresa. Há uma espécie de trade-off entre o nível de
controle da empresa sobre o canal de comunicação e a credibilidade da comunicação de
RSC, sendo os canais menos controláveis os mais críveis, e vice-versa. A organização
também deve incentivar os canais de comunicação informais confiáveis, como boca-a-
boca dos stakeholders, como os empregados e os consumidores (DU;
BHATTACHARYA; SEN, 2010). Morsing (2006) assevera que comunicar as ações de
RSC através de stakeholders externos (boca-a-boca) é uma das mais poderosas
estratégias de comunicação disponíveis.
2.3.2.1 Relatórios de RSC
Segundo Frostenson, Helin e Sandström (2011), juntamente com o aumento
considerável na comunicação RSC, surgiu a necessidade de organizar e estruturar as
informações. Como ressaltado por Arvidsson (2010), devido a não existência de um
quadro estabelecido de como comunicar de forma consistente a RSC, os gestores das
organizações sentem-se confusos ao estabelecer quais e como as informações de RSC
devem ser comunicadas a fim de satisfazer as necessidades de informação dos
stakeholders e legitimar os comportamentos das empresas.
A fim de evitar confusão, que pode surgir com a falta de informação
comparável, tem-se buscado, ultimamente, estabelecer um framework global de
45
relatórios de RSC (GOLOB; BARTLETT, 2007). A literatura de RSC existente,
segundo Reynolds e Yuthas (2008), considera o relatório como um componente
necessário de prestação de contas da sociedade, tendo como foco principal a
comunicação das ações da empresa aos componentes da sociedade.
Golob e Bartlett (2007) destacam que os relatórios de RSC são uma ferramenta
essencial para a comunicação com os stakeholders sobre as atividades de
responsabilidade social de uma organização. São um caminho para as organizações
fornecerem informações para as diferentes partes interessadas em relação às questões
sociais e ambientais. Para Nielsen e Thomsen (2007) um marco é o surgimento de
relatórios não-financeiros, vistos como uma tentativa de aumentar a transparência em
relação aos atos societários relativos a questões sociais e ambientais, o que levou ao
surgimento de uma gama de certificados e procedimentos de auditoria, que vão além da
contabilidade financeira e incluem o desempenho social e ambiental.
Embora os relatórios de responsabilidade corporativa sejam tratados como uma
atividade emergente, Owen e O’Dwyer (2008) afirmam que o disclosure social através
de relatórios corporativos remonta ao início do século XX. Blowfield e Murray (2008)
asseveram que pesquisas da década de 1980 indicam que algumas empresas da Austrália
e dos EUA reportavam questões sociais antes da I Guerra Mundial; na década de 1970,
devido a vários escândalos e colapsos de empresas, as organizações passaram a incluir
mais informações não financeiras em seus relatórios anuais; em 1975, com a publicação
de Corporate Reporting, é enfatizado que o papel tradicional dos relatórios anuais pode
tornar-se mais relevante com a inclusão de informações sociais e ambientais.
Na década de 1980, devido às mudanças político-econômicas trazidas por
Thatcher e Reagan, as empresas focam-se em fatores macroeconômicos e há um
declínio dos relatórios sociais. Na década de 1990, com iniciativas pioneiras de
organizações como o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD),
Institute of Social and Ethical Accountability (ISEA), Council on Economic Priorites,
os relatórios sociais reemergem. Nessa década, afirmam Owen e D’wyer (2008), devido
ao elevado número de crítica às organizações, às catástrofes ambientais e ao aumento da
consciência pública dos potenciais impactos negativos da atividade econômica
empresarial sobre a qualidade de vida global, nota-se uma presença significativa de
relatórios ambientais. Emergem os relatórios de sustentabilidade, unindo as dimensões
ambientais, sociais e econômicas.
Golob e Bartlett (2007) classificam os relatórios de RSC em três tipos:
obrigatórios, solicitados e voluntários. Os defensores do relatório obrigatório acreditam
46
que este deve ser regulado pelo Estado, a fim de proteger os cidadãos e garantir que a
informação adequada seja fornecida. Em relação aos relatórios solicitados, o núcleo da
informação solicitada é a demanda por informações emitidas por um grupo de
stakeholders. Desenvolve novas formas, mais simétricas e dialógicas, de comunicação
que permitem aos stakeholders obter informações mais ricas, e em muitos casos,
melhores. Os relatórios voluntários são a forma mais reconhecida de relatórios. Tem
como principal característica sua forma e conteúdo voluntários, que podem levar as
empresas a utilizá-los para retratar sua imagem de forma favorável.
Conforme Golob e Bartlett (2007, p.4), existem três categorias distintas que
reforçam relatórios de RSC. São elas:
a) Códigos de conduta: Diretrizes da OCDE, a Declaração da OIT, etc.;
b) Normas de gestão: SA8000, ISO 14000, etc.;
c) Exames e classificações: Índice de Sustentabilidade Dow Jones, FTSE4Good.
Diferentes grupos criaram modelos ou frameworks para comunicar e verificar a
RSC das organizações, e dentre todos os modelos criados, destaca-se as diretrizes da
GRI. A Global Reporting Initiative (GRI), através do Conjunto de Diretrizes para
Relatórios de Sustentabilidade, criado em 1997 como um desdobramento da Coalizão
para Economias Ambientalmente Responsáveis (CERES), em parceria com o Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Golob e Bartlett (2007) afirmam
que a missão da GRI é desenvolver e disseminar as Diretrizes para Relatórios de
Sustentabilidade aplicáveis globalmente, através das quais as organizações relatam
voluntariamente suas atividades nas dimensões social, ambiental e econômico.
Conceição, Dourado e Silva (2012) destacam que os relatórios da GRI
estabelecem uma proposta que envolve as dimensões econômica, social e ambiental, o
chamado triple bottom line, ampliando o disclosure da empresa tanto para os
stakeholders internos quanto externos. As diretrizes GRI dividem-se em dois grupos: o
primeiro é formado princípios para definição de conteúdo, para assegurar a qualidade da
informação e orientações para definição dos limites do relatório; o segundo grupo de
informações é formado pelo conteúdo do relatório, perfil da organização, forma de
gestão e apresentação dos indicadores de desempenho.
Reynolds e Yuthas (2008) destacam que o relatório deve incluir o conteúdo:
"categorias" (agrupamentos de questões econômicas, ambientais e sociais de interesse
dos stakeholders); "aspectos" (tipos gerais de informações relacionadas a uma categoria
específica); e "indicadores" (medidas específicas de um aspecto individual que pode ser
usado para acompanhar e demonstrar o desempenho).
47
O conjunto de indicadores de desempenho é dividido nas categorias econômico,
ambiental, práticas trabalhistas e trabalho decente, direitos humanos, sociedade e
responsabilidade pelo produto (GRI, 2006).
Conforme Blowfield e Murray (2008), as diretrizes da GRI são consideradas os
conteúdos de relatórios mais relevantes. Conceição, Dourado e Silva (2012) asseveram
que o GRI, em termos de relatório de sustentabilidade, é a demonstração voluntária
mais utilizada do mundo, e tem como objetivo ser globalmente aplicável a qualquer
organização que deseja preparar estes documentos. Sua estrutura é continuamente
melhorada e revisada, contribuindo para que seja um instrumento relevante de
comunicação das práticas socioambientais das companhias.
Quanto ao processo avaliativo, as próprias organizações declaram o nível em
que aplicaram a estrutura de Relatório GRI por meio do sistema de chamados ‘Níveis de
Aplicação’. A autoclassificação pode ser feita em três níveis - A, B e C. Caso utilize-se
de verificação externa (auditoria), a organização pode classificar-se numa condição
diferenciada - A+, B+, C+ (GRI, 2006). A publicação de relatórios de acordo com as
diretrizes GRI possibilita comparações entre empresas e entre períodos de tempo.
Reynolds e Yuthas (2008) asseveram que, através do uso generalizado de
diferentes modelos de como reportar, tais como relatório GRI ou modelos criados pela
própria organização, e o consequente aumento da comunicação de RSC voluntária, as
organizações vêm reconhecendo a importância da comunicação com as partes
interessadas.
Chatterji e Levine (2006) destacam que as empresas têm utilizado uma grande
variedade de métricas de RSC, reportando de acordo com estas. Ao reportar utilizando
tais métricas, como por exemplo, as diretrizes da Global Reporting Initiative, pode-se
aumentar o nível da performance social da organização, maximizando seus lucros.
Ressaltam ainda que a proliferação de métricas pode beneficiar às organizações de baixa
performance de duas formas: as organizações de baixa performance podem projetar
suas próprias métricas de nomes chamativos e enganar os clientes ou outras partes
interessadas. Em segundo lugar, a proliferação confunde muitos consumidores e
investidores socialmente responsáveis, fazendo com que eles reduzam a importância
dada às métricas com alta validade.
Estudos realizados sobre a comunicação de RSC, desde os anos 1970, destacam
que as métricas dos relatórios de RSC são determinadas pelo tamanho, indústria, países
de operação, e rentabilidade da empresa, dentre outros fatores (TANG; LI, 2009).
Apesar de fornecer uma base para a comunicação de RSC e muitas vezes legitimarem as
48
atividades da organização, as métricas nem sempre significam conformidade. Nem
sempre as métricas, índices e diretrizes são consistentes em relação ao que elas medem,
e os critérios utilizados em cada um destes variam muito (PORTER; KRAMER, 2006).
De tal forma, Lindgreen e Swaen (2010) asseveram ser necessária uma revisão crítica
das escalas e indicadores existentes, ajudando a medir o impacto da RSC sobre as
diferentes dimensões da sociedade e da empresa. Faz-se necessário encontrar uma
fórmula de como se implementar e comunicar a RSC aos stakeholders (NIELSEN;
THOMSEN, 2007).
2.3.3 Eficácia da Comunicação de RSC
De acordo com Du, Bhattacharya e Sen (2010), em relação à eficácia da
comunicação de RSC, a literatura aborda dois fatores relativos à corporação que a
influenciam: a reputação corporativa e posicionamento de RSC. A reputação
corporativa abrange dimensões como a qualidade do produto, inovação, valor do
investimento, gestão de pessoas e responsabilidade social. Por servir, muitas vezes,
como um esquema pré-existente sobre o qual os stakeholders interpretam informações
ambíguas sobre a empresa, a reputação corporativa modera a eficácia da comunicação
RSC.
O posicionamento de RSC trata-se de como a empresa se baseia em suas
atividades de responsabilidade social para se posicionar, em relação à concorrência, nas
mentes dos consumidores. Ao ter um posicionamento de RSC relativamente incomum,
ao invés de engajar-se superficialmente em tais atividades, os stakeholders passam a
prestar mais atenção na mensagem de RSC da empresa, bem como acreditam na
autenticidade dos esforços de responsabilidade social da organização, resultando em
maior persuasão a favor da empresa (DU; BHATTACHARYA; SEN, 2010).
Simplesmente comunicar as ações de RSC aos stakeholders da organização não
é mais suficiente. Deve-se incorporá-los e engajá-los nos processos de RSC, decidindo-
se assim quais atividades de RSC devem ser desenvolvidas. Destaca-se que diferentes
stakeholders dão diferentes níveis de importâncias às várias atividades de RSC. Assim,
a comunicação de RSC deve ser dirigida a stakeholders específicos, e deve ser
constantemente reavaliada para certificar-se que as expectativas dos stakeholders estão
sendo correspondidas. Surge assim o desafio de entender o que comunicar, onde
comunicar e entender os diferentes fatores específicos que podem impactar na
efetividade da comunicação de RSC (BARTLETT; DEVIN, 2011).
49
Du, Bhattacharya e Sen (2010) destacam que algumas características dos
stakeholders, os destinatários da comunicação RSC, também moderam a eficácia da
comunicação de RSC. São elas:
a) Tipos de stakeholders: a comunicação de RSC tem diferentes públicos que
variam em termos de suas expectativas de negócios e necessidades de informação,
podendo estes responder de forma diferente aos vários canais de comunicação de RSC.
A empresa deve assim adaptar sua comunicação às necessidades específicas dos
diferentes grupos de interesse. Dawkins (2004) classifica os stakeholders em dois
grupos: líderes de opinião e público em geral. O primeiro grupo é formado por
legisladores, imprensa de negócios, investidores (institucionais, tradicionais e
comunidade de investimento socialmente responsável) e organizações não
governamentais (ONGs). Esse grupo é mais propenso a buscar proativamente as
informações de RSC sobre uma empresa, e a usar o relatório de RSC para obter uma
imagem completa do seu registro de RSC da organização, buscando indicadores
detalhados, pontos de referência, metas e tendências, bem como estudos de caso. O
público em geral é formado pelos consumidores e comunidades locais. Esse grupo,
muitas vezes, não procura proativamente informações sobre a RSC, mesmo no que diz
respeito a questões que consideram particularmente importantes. Para atingir
eficazmente o público em geral, as organizações devem usar uma variedade de canais de
comunicação ou, alternativamente, focar-se em um ou dois canais de grande relevância.
b) Apoio à questão: está relacionado à motivação dos atores para processar
informações sobre a RSC, refletindo as necessidades pessoais e valores das partes
interessadas, devendo as organizações explicar e comunicar a importância dos temas
focais de suas iniciativas sociais a fim de aumentar o apoio dos stakeholders ao
problema. Pode-se também aumentar o apoio à questão engajando ativamente os
stakeholders na iniciativa social, pedindo contribuições das partes interessadas na
seleção de qual questão social ou organização sem fins lucrativos apoiar. Deve-se
acompanhar quais são as questões consideradas prioritárias pelos principais
stakeholders da organização (DU; BHATTACHARYA; SEN, 2010). A fim de
conseguir maior apoio à questão social, a organização deve conscientizar e repassar
conhecimento acerca da questão social aos seus stakeholders (BHATTACHARYA;
SEN, 2004).
c) Orientação de valor social: está relacionada com a motivação dos stakeholders
para processar informações sobre a RSC, existindo três tipologias de orientação de valor
social - a pró-social, a individualista e a competitiva. Os pró-sociais tendem a buscar a
50
igualdade, maximizando os resultados para si e para os outros, e minimizando as
diferenças entre os resultados. Os individualistas, por sua vez, tendem a maximizar os
seus próprios resultados com pouca ou nenhuma consideração pelos resultados dos
outros. Os competidores tendem a maximizar seus próprios resultados em relação aos
resultados como forma de obter vantagem relativa sobre os outros. Essas tipologias de
orientação de valor social podem ser utilizadas para prever uma variedade de
comportamentos sociais (DU; BHATTACHARYA; SEN, 2010).
2.4 Ambiente Institucional e Comunicação de RSC
Amaeshi e Amo (2009) asseveram que, na última década, o interesse na
dimensão institucional das práticas de RSC começou a emergir. Conforme Aguilera e
Jackson (2003), a análise institucional comparativa permanece em sua infância, ainda
que haja um consenso crescente de que "as instituições importam". Para comparar e
explicar a diversidade entre as nações exige-se especificação sistemática de quais
instituições importam e como elas moldam as práticas organizacionais. Dacin,
Goodstein e Scott (2002) destacam que a ampla maioria da literatura institucional tende
a se concentrar nos níveis mais micro, em períodos de tempo mais curtos, e nos
processos de mudanças incrementais.
Wanderley et al. (2008), como conclusão de seu estudo com empresas de oito
países emergentes (África do Sul, Brasil, Chile, China, Índia, Indonésia, México e
Tailândia), afirmam que a divulgação de informações de RSC na web é profundamente
influenciada pelo país de origem da organização, recebendo também influência do setor
da indústria, tendo estes dois fatores influência diferente sobre tal divulgação.
Golob e Bartlett (2007), ao comparar a comunicação de RSC de Austrália e
Eslovênia, corroboram com o ponto de vista de Wanderley et al. (2008), adicionando
também o tamanho da indústria como outro fator a influenciar a comunicação de RSC.
A forma e conteúdo da comunicação dependem de elementos contextuais, como o
tamanho da empresa, os grupos específicos de interesse, a complexidade do problema, o
nível de ambição e a natureza do engajamento especificado pela empresa (NIELSEN;
THOMSEN, 2007).
Alon et al. (2010), ao comparar a comunicação de RSC de empresas do Brasil,
China, Índia e Rússia, asseveram que existem diferenças na forma como as empresas
dos respectivos países abordam e comunicam seus esforços de RSC, podendo essas
51
diferenças ser explicadas pelos diferentes ambientes institucionais e diferentes setores
representados.
Pode-se dizer que a amplitude, o conteúdo e a intensidade da comunicação de
RSC variam de acordo com as diferentes empresas, regiões e países (MAIGNAN;
RALSTON, 2002; LATTEMANN et al., 2009; LI et al., 2010). Wang e Chaudhri
(2009), ao pesquisar a RSC entre as empresas chinesas, sugerem que, na formação de
suas práticas e comunicação de RSC, a empresa considere seu contexto socioeconômico
e a interação complexa de fatores históricos, institucionais e globais.
Ao estudar as práticas de RSC no Brasil e na França, a pesquisa Sobczack e
Martins (2010) mostra que as tradições legais, culturais e socioeconômicas dos países
desempenham um papel importante na definição das relações entre as organizações e a
sociedade. Tate, Ellram e Kirchoff (2010) asseveram que a pressão institucional tem
maior valor de influência sobre a comunicação de RSC. Os resultados de sua pesquisa
indicam ainda que as empresas parecem utilizar os relatórios de RSC como um meio
para melhorar a reputação, comunicando suas contribuições sociais e ambientais
positivas.
Lattemann et al. (2009), ao estudar a intensidade de comunicação da RSC das
multinacionais chinesas e indianas, ressaltam que o ambiente institucional macro de um
país, assim como o setor ao qual a empresa pertence, afetam fortemente o
comportamento de RSC da empresa. O ambiente de governança (as instituições
políticas, econômicas e culturais que facilitam ou restringem o comportamento de
governança de uma empresa), a nível nacional, é um dos determinantes da adoção de
comunicações de RSC.
Corroborando com o exposto, Chapple e Moon (2005), ao analisar a divulgação
de relatórios de RSC nos websites de empresas de sete países asiáticos (Índia, Indonésia,
Malásia, Filipinas, Cingapura, Coréia do Sul e Tailândia), concluíram que a RSC varia
entre estes países em função dos diferentes sistemas nacionais de negócios.
Campbell (2006) destaca que alguns estudos descobriram que as atitudes
gerenciais em relação à RSC variam entre as nações. A regulação, a estrutura política e
as instituições normativas, variam entre os países, afetando o comportamento das
empresas. Como demonstrado pelas pesquisas acima, o ambiente que rodeia a empresa
influencia sua comunicação de RSC, destacando-se o ambiente de governança, o
desenvolvimento econômico, a corrupção governamental e o nível educacional presente
nos países.
52
2.4.1 Ambiente de Governança e Comunicação de RSC
As instituições políticas, econômicas e sociais dominantes em um país formam o
chamado ambiente de governança, que facilita ou restringe a escolha do mecanismo de
governança por organizações e indivíduos em uma sociedade. Li, Park e Li (2004)
afirmam que, de modo geral, o ambiente de governança dos países pode ser classificado
em baseado nas regras (rule-based) ou relacional (relation-based).
O ambiente de governança baseado nas regras é caracterizado por regras
públicas (leis e políticas estatais e regulamentações) transparentes, justas e
universalmente aplicadas; Estado capaz de cumprir as regras de forma imparcial (LI;
PARK; LI, 2004). Esse ambiente de governança é apoiado por uma infraestrutura bem
estabelecida de ordem pública (corpo de elaboração, interpretação e aplicação das leis)
e, para que ele funcione de forma eficiente, é necessária a existência um sistema de
informação pública de qualidade, com o mínimo de ruído, confiável e seguro (LI, 2013).
Por sua vez, o ambiente de governança de base relacional é caracterizado por
regras públicas injustas, sombrias; Estado incapaz de cumprir as regras de forma
imparcial, criando nas pessoas uma tendência a confiar em relações pessoais para
governar os seus interesses (LI; PARK; LI, 2004).
Li (2013) destaca que no ambiente de governança relation-based há uma ordem
pública ineficaz, com leis feitas sem um processo justo e representativo, e com tribunais
parciais. Consequentemente, as organizações e indivíduos, ao invés de seguirem as
regras públicas, tendem a recorrer a meios privados de proteção e resolução de
problemas, que podem incluir subornar funcionários do governo, contratar organizações
criminosas, ou desenvolver e unir redes privadas que podem, informalmente, fornecer
proteção e obtenção de recursos públicos. No Quadro 03 são apresentadas
características chave dos ambientes de governança rule-based e relation-based.
Quadro 03 - Comparação entre os ambientes de governança rule-based e relation-
based. Relation-based Rule-based
Baseia-se em informações privadas e locais Baseia-se em informações públicas
Acordos implícitos e não verificáveis Acordos explícitos e verificáveis por terceiros
Contratos específicos pessoais e intransferíveis Contratos públicos e transferíveis
Altas barreiras de saída e entrada Baixas barreiras de saída e entrada
Exige uma ordem social mínimo Exige uma infraestrutura legal bem desenvolvida
Baixos custos fixos para configurar o sistema Custos fixos elevados para configurar o sistema
Elevados e crescentes custos marginais de
manutenção
Baixos e decrescentes custos marginais de
manutenção
Eficaz em economias pequenas e emergentes Eficaz em economias grandes e avançadas
Fonte: Li, Park e Li (2004).
53
Como demonstrado no Quadro 03, outra característica central dos ambientes de
governança é a confiabilidade e publicidade da informação. No ambiente relation-
based, a informação é, em grande parte, local e privada, não podendo ser verificada por
um terceiro. No ambiente de governança baseado em regras, em grande parte, tem
informações públicas e publicamente verificáveis. Quanto à presença de barreiras de
entrada e saída, nota-se grande presença destas na governança de base relacional. Há
custos fixos baixos, altos custos marginais para a construção da reputação da empresa, e
um pequeno tamanho do mercado, implicando em elevadas barreiras à entrada,
características comuns em muitos países em desenvolvimento. As barreiras de saída
também são elevadas, devido aos grandes custos do desenvolvimento e à dificuldade em
desenvolver novas relações (LI; PARK; LI, 2004).
Os autores destacam que, de modo geral, em uma sociedade com ambiente de
governança de base relacional, você não é o que você é, mas quem você conhece.
Baseadas nisso, as empresas preferem contratar e promover pessoas com base na
reputação anterior. Por outro lado, a governança baseada em regras incentiva as
empresas a contratar e promover pessoas com base em seu espírito proativo e criativo.
Li, Park e Li (2004) pontuam que existem países com um híbrido dos dois sistemas de
governança, com regras e relações de ambos desempenhando um papel importante.
Li et al. (2010) argumentam que um ambiente de governança de base relacional,
que pode ser classificado como um tipo de regime não democrático, tende a ser menos
preocupado com as questões sociais. Isso deve-se ao contrapeso no sistema político, que
cria, nos cidadãos, uma tendência a menos voz ativa nas questões sociais e menos
capacidade de influenciar questões sociais. Portanto, as empresas enfrentam algumas
pressões do governo para se comportar de forma responsável. Argumenta-se que, nesse
ambiente institucional, as organizações não se sentem obrigadas a comunicar sobre
responsabilidade social (LATTEMANN et al., 2009; LI et al., 2010).
Dado o exposto, a primeira hipótese vincula-se ao ambiente de governança dos
países sendo assim definida:
H1: Países com ambiente de governança mais rule-based tendem a ter uma
maior intensidade de comunicação de RSC.
2.4.2 Desenvolvimento Econômico e Comunicação de RSC
Baughn, Body e McIntosh (2007) apontam para uma ligação positiva entre o
desenvolvimento econômico do país e o desenvolvimento de políticas de RSC. Diz-se
54
que níveis mais elevados de riqueza poderiam fornecer mais recursos e tecnologia para
iniciativas sociais e ambientais, e níveis mais elevados de riqueza per capita
permitiriam aos cidadãos de um país, sejam como consumidores e/ou como
funcionários, fazerem maiores exigências de responsabilidade corporativa. Li et al.
(2010) argumentam que vários estudos têm demonstrado a relação positiva entre o nível
de desenvolvimento econômico, muitas vezes medido pelo PIB per capita, e a RSC. O
relacionamento positivo dá-se devido a um maior nível de riqueza permitir ao cidadão
preocupar-se mais com o bem-estar não econômico da sociedade, pressionando as
empresas a serem mais socialmente responsáveis.
Confirmando o exposto, Welford (2005), ao realizar um estudo com 15 países na
Europa, América do Norte e Ásia, chegou à conclusão de que há uma relação entre o
desenvolvimento econômico e a RSC, uma vez que países mais desenvolvidos
economicamente, apresentam maior incidência de políticas de RSC.
Mahmood e Humphrey (2013) argumentam que o estágio de desenvolvimento
econômico de um país pode conduzir a uma diferente percepção dos stakeholders
quanto à importância das atividades de RSC. Assim, quando um país caminha em
direção a uma economia de mercado e à industrialização, há uma ênfase maior nos
benefícios econômicos que as empresas podem gerar para a sociedade, e não nas
questões ambientais e de direitos humanos.
Ellis e Bastin (2011) corroboram com esta proposição, destacando que em
tempos de recessão econômica, há um aumento implícito no foco das empresas sobre a
necessidade de todas as atividades empresariais contribuírem para a sua sustentabilidade
econômica, relegitimando a visão de que o papel das empresas é gerar um lucro e
sobreviver. Chega-se inclusive a modificar a linguagem utilizada pela mídia e por
agentes corporativos para se referir à RSC, passando a tratá-la por termos como
sustentabilidade e práticas de negócios sustentáveis, focando-se nos negócios como
meio de demonstrar a eficiência e se concentrar mais acentuadamente em sua
durabilidade e rentabilidade.
Baseado nas pesquisas expostas, a segunda hipótese vincula-se ao
desenvolvimento econômico dos países, sendo assim definida:
H2: Países mais desenvolvidos economicamente tendem a ter uma maior
intensidade de comunicação de RSC.
55
2.4.3 Corrupção e Comunicação de RSC
Fatores institucionais, tais como as agências governamentais, os grupos de
interesse e as estruturas regulatórias exercem um papel importante no incentivo às
atividades de RSC, pois ajudam a estabelecer as regras do jogo através das quais as
empresas ganham legitimidade na sociedade (BAUGHN; BODY; MCINTOSH, 2007).
No entanto, como destacado por Nwabuzor (2005), estas regras podem ser modificadas
e desviadas através da corrupção, do abuso do poder público em benefício privado, o
que pode drenar os ativos das empresas que poderiam ser usados para fins socialmente
produtivos. Por exemplo, pagamentos clandestinos podem ser usados para evitar a
necessidade de obedecer às restrições reguladoras.
A corrupção é mais comumente definida como o mau uso do poder público para
ganhos privados (RODRÍGUEZ et al., 2006). Conforme Rodríguez, Uhlenbruck e Eden
(2005), estudos apontam que a corrupção, embora ocorra em todos os lugares, é
particularmente difundida em economias menos desenvolvidas e em transição, e trata-se
de um grave obstáculo ao desenvolvimento econômico e à estabilidade destes países. Os
autores evidenciam que a corrupção tem uma natureza variável e que para combatê-la é
necessário adotar diferentes estratégias em diferentes mercados.
Rodríguez et al. (2006) apontam que, na última década, as pesquisas sobre
corrupção cresceram rapidamente. No entanto, pouco se sabe sobre estratégias para
evitar ou gerir a corrupção, bem como sobre quais gestores estão dispostos a
envolverem-se com a corrupção e o porquê. Doh et al. (2003) complementam o exposto
afirmando que muitos estudos detalham o impacto da corrupção sobre as economias
nacionais, e outros consideram a corrupção no contexto da ética e da responsabilidade
social, mas poucos preocupam-se em avaliar o impacto da corrupção sobre as empresas.
Os autores especificam em sua pesquisa custos diretos e indiretos da corrupção que
afetam a tomada de decisão de negócios, descrevendo-os e oferecendo um conjunto de
prescrições para a gestão em ambientes corruptos.
Pesquisas apontam que países com alto nível de corrupção e com um sistema
legal pobre tendem a ter padrões de contabilidade soltos em termos de regras de
divulgação (LI; FILER, 2007).
Através de pesquisa desenvolvida com uma amostra global de 140 países,
Baughn, Body e McIntosh (2007) concluíram que a corrupção do governo é o mais forte
preditor de ambas as formas de RSC (ambiental e social), destacando que a RSC está
significativamente relacionada a baixos níveis de corrupção.
56
Ao influenciar a responsabilidade social corporativa, a corrupção
governamental, consequentemente, influencia as questões às quais ela trata, seus
significados, suas práticas e estratégias. Atualmente, com as exigências por
transparência, uma das práticas fundamentais da RSC é a comunicação (CAPRIOTTI;
MORENO, 2007; ARVIDSSON, 2010). Logo, por tratar-se de uma extensão da RSC,
uma de suas práticas, pressupõe-se que a comunicação de RSC também sofre influência
da corrupção governamental.
De acordo com o exposto, a terceira hipótese vincula-se à corrupção
governamental dos países, sendo assim definida:
H3: Países com menor presença de corrupção governamental tendem a ter uma
maior intensidade de comunicação de RSC.
2.4.4 Nível Educacional e Comunicação de RSC
A educação, conforme Matten e Moon (2008), é uma área que, marcadamente,
demonstra as diferentes formas de RSC. O nível educacional do país demonstra a
capacidade dos cidadãos de entenderem os princípios de RSC (LIM; TSUTSUI, 2012).
Portanto, quanto maior for o nível educacional do país, melhor seus cidadãos
compreenderão a responsabilidade social corporativa, seus princípios e as questões das
quais ela trata.
Os trabalhos de Quazi (2003) e Huang (2013) corroboram com o exposto. Quazi
(2003) afirma que gestores com grau educacional mais elevado, especialmente com
diplomas universitários, desenvolvem uma percepção mais elaborada das implicações
de RSC, tanto para as suas empresas como para a sociedade. Estes gestores podem
orientar suas organizações na busca de uma maior consciência social. Huang (2013)
encontrou uma relação positiva entre a especialização educacional dos CEO e o
desempenho de RSC. Os resultados indicam que um CEO com MBA ou mestrado tem
uma melhor performance em RSC, sendo este o principal fator que influencia o
desempenho de RSC de uma empresa.
Sobczak, Debucquet e Havard (2006) demonstraram que o nível educacional e a
orientação educacional de diferentes tipos de instituições acadêmicas influenciam as
atitudes pessoais em relação a conceitos e ferramentas de RSC e percepção das
empresas de estudantes e jovens gestores.
Por sua vez, Cheah et al. (2011) constataram que o nível educacional afeta as
decisões de investidores quanto a procurarem investimentos socialmente responsáveis
57
ou não. Investidores com maior nível educacional tendem a ser mais conscientes e
preocupados com os impactos socioambientais das atividades das empresas, além de
serem mais céticos em relação aos relatórios anuais das empresas.
Conforme o trabalho de Pérez e Rodríguez del Bosque (2013), indivíduos com
altos níveis educacionais geralmente são clientes socialmente responsáveis. As
percepções de negócios dos clientes, bem como suas atitudes pessoais frente a conceitos
e instrumentos de RSC, sofrem também influencia da orientação educacional. Essa
relação foi constatada por Cai e Aguilar (2013) que, ao analisarem o comportamento
dos consumidores da indústria madeireira dos Estados Unidos e da China, verificaram
que consumidores que têm nível de ensino superior buscam comprar produtos de
empresas de melhor desempenho de RSC, tendo assim tais consumidores preferências
mais elevadas. Logo, o nível educacional dos consumidores influencia suas escolhas em
relação à de qual empresa comprar.
Tseng et al.(2010), ao estudarem as pequenas e médias empresas de Taiwan,
constataram que a educação tem papel fundamental na implementação da RSC nestas
organizações. Cursos de RSC, abordagens de ensino acerca deste tema e questões
ligadas à RSC influenciam positivamente a implementação de RSC em uma empresa e a
divulgação de relatórios de RSC. Tem-se a educação como um fator vital que pode
comunicar e persuadir funcionários e acionistas para apoiar a RSC.
Ao influenciar as decisões de consumidores e investidores quanto a RSC, a
implementação da RSC em pequenas e médias empresas, e as percepções dos gestores
quanto ao impacto da RSC, consequentemente, espera-se que o nível educacional afete
uma das principais questões da responsabilidade social corporativa, sua comunicação.
Face ao exposto, a quarta hipótese vincula-se ao nível educacional dos países, sendo
assim definida:
H4: Países com maior nível educacional tendem a ter uma maior intensidade de
comunicação de RSC.
Através da relação entre as variáveis do ambiente institucional utilizadas nessa
pesquisa (ambiente de governança, desenvolvimento econômico, corrupção
governamental e nível educacional) e a comunicação de RSC, demonstrada pelo
referencial teórico e exposta pelas hipóteses deste estudo, foi possível montar um
framework, demonstrado na Figura 03.
O ambiente institucional dos países forma os chamados sistemas nacionais de
negócios, que influenciam as organizações. Os sistemas nacionais de negócios são
58
constituídos pelo sistema político, sistema de educação e trabalho, sistema cultural e
sistema financeiro de cada país, sistemas estes representados nesta pesquisa pelo
ambiente de governança, nível educacional, corrupção governamental e
desenvolvimento econômico de Brasil, Chile, México e Panamá.
Como proposto na Figura 03, as organizações, aos sofrerem influência do
ambiente institucional e sistema nacional de negócios, tomam decisões quanto a
implementar ou não a RSC, suas políticas e características, decidindo também sobre a
comunicação de RSC.
Figura 03 - Framework da relação do ambiente institucional com a comunicação de
RSC.
Fonte: Elaborado pela autora (2014).
Como destacado por Gjølberg (2009), pode-se dizer que os esforços de RSC
estão relacionados a fatores estruturais, político-econômicas nos níveis nacional e
internacional, e não só com as características específicas da empresa. No entanto, vale
ressaltar que as mudanças institucionais tendem a ocorrer de forma lenta e fragmentada,
e mesmo quando as pressões internacionais levam a alterações semelhantes em um
domínio institucional, estes efeitos podem ser mediados pela ampla configuração das
instituições nacionais (AGUILERA; JACKSON, 2003). A mudança institucional pode
prosseguir a partir dos microníveis interpessoais e intraorganizacionais, aos níveis mais
macro da sociedade e global (DACIN; GOODSTEIN; SCOTT, 2002).
59
3 METODOLOGIA
Este capítulo trata da metodologia empregada na pesquisa. São abordados a
Caracterização da Pesquisa (seção 3.1), buscando trazer uma visão geral de como a
pesquisa foi desenvolvida; Amostra e Critérios de Seleção (seção 3.2), demonstrando a
composição da amostra e os critérios utilizados em sua seleção; Definição das Variáveis
Analisadas (seção 3.3), onde cada variável utilizada na pesquisa é explicada, mostrando
qual dimensão do ambiente institucional cada uma delas representa; por fim, Técnicas
de Análise dos Dados (seção 3.4), com foco na explanação sobre a análise de dados em
painel, principal ferramenta estatística utilizada na análise.
3.1 Caracterização da Pesquisa
Este estudo tem como objetivo analisar a influência do ambiente institucional de
Brasil, Chile, México e Panamá na intensidade de comunicação de responsabilidade
social corporativa. Caracteriza-se, quanto aos fins ou objetivo, como uma pesquisa
exploratória e descritiva. A pesquisa exploratória, de acordo com Sampieri, Collado e
Lucio (2006), examina um tema ou problema pouco estudado. Esta pesquisa assim se
enquadra pois, segundo Alon et al. (2010) e Li et al.(2010), poucos são os estudos que
focam-se nas práticas de comunicação de RSC nos países emergentes.
A pesquisa descritiva, conforme Gil (2002), tem como objetivo primordial a
descrição das características de determinadas populações ou fenômenos, descrevendo
características de grupos, e descobrindo a existência de associações entre variáveis.
Buscou-se, nesta pesquisa, descrever as características dos ambientes institucionais de
Brasil, Chile, México e Panamá, além de verificar a existência de associação destes
ambientes com a comunicação de RSC.
Em relação à natureza dos dados e à abordagem do problema, classifica-se como
quantitativa. O enfoque quantitativo, afirmam Sampieri, Collado e Lucio (2006), é
aquele que confia na medição numérica, fazendo uso, frequentemente, de técnicas
estatísticas para responder às questões de pesquisa e testar as hipóteses estabelecidas
previamente. A fim de testar as hipóteses da pesquisa, foi utilizada a técnica estatística
de modelo para dados em painel.
Quanto ao procedimento, a pesquisa classifica-se como bibliográfica e
documental. Bibliográfica, pois utilizou-se de revisão bibliográfica para identificação do
60
referencial teórico. Pesquisa documental, pois utilizou os relatórios anuais e/ou de
sustentabilidade e registros estatísticos como fontes de dados secundários. Gil (2002)
afirma que a pesquisa documental pode ser realizada através documentos “de primeira
mão”, ou seja, aqueles que não receberam tratamento analítico, ou documentos “de
segunda mão”, representados por relatórios de pesquisa, relatórios de empresas e tabelas
estatísticas.
Trata-se também de uma pesquisa longitudinal, pois analisou os indicadores
institucionais e de comunicação de responsabilidade social corporativa do período de
2006 a 2012. Tal período foi escolhido a fim de se trabalhar com indicadores de 2 anos
antes da crise econômica mundial de 2008, e indicadores até 2012. Kotz (2009) destaca
que a crise financeira desenvolveu-se, com notável velocidade, a partir do final do verão
de 2008, gerada devido a títulos relacionados com hipotecas que se espalharam pelos
EUA e pelo sistema financeiro global. Claessens et al. (2010) corroboram que tal crise
trata-se da mais grave crise financeira desde a Grande Depressão, tanto em termos de
custos econômicos como de alcance geográfico.
3.2 Amostra e Critérios de Seleção
O universo da pesquisa foi constituído pelos países Brasil, Chile, México e
Panamá. Os países da América Latina estudados foram selecionados de acordo com dois
requisitos: que o país apresentasse empresas que tivessem no ranking das 2000 maiores
empresas da Forbes no ano de 2007 (o ranking é feito de acordo com os dados do ano
de 2006); que o país fosse o de maior destaque em seu subcontinente (América do
Norte, América Central e América do Sul). O Brasil, país de maior economia da região,
foi utilizado como país referência, ao qual os outros países foram comparados. Foram
selecionados também: México, Panamá e Chile, representando, respectivamente a
América do Norte, América Central e América do Sul.
A fim de analisar a intensidade de comunicação de RSC destes países, buscou-
se avaliar os relatórios anuais e/ou de sustentabilidade das empresas de cada nação
presentes no ranking das 2000 maiores empresas da Forbes no ano de 2007, num total
de 47 organizações. No entanto, nem todas as organizações apresentaram relatórios em
seus websites, passando a ser analisados os relatórios de 32 empresas. As empresas
analisadas, bem como seus países e setores de atuação, podem ser visualizadas no
Quadro 04.
61
Quadro 04 - Listagem das empresas pesquisadas.
País Setor Empresa
Brasil
Energia Elétrica
Cemig
CPFL Energia
Eletrobrás
Financeiro Bradesco
Itaúsa
Mineração Vale
Operações de Óleo e Gás Petrobras
Produção de Celulose Aracruz Celulose/Fibria
Produção de Químicos e Petroquímicos Braskem
Siderurgia Gerdau
Telecomunicações e Serviços Tele Norte Leste
Transporte Aéreo Gol
Varejo CBD Brasil Distrib.
Chile
Financeiro Banco do Chile
BCI - Banco Créd.
Produção de Celulose CMPC
Varejo Cencosud
Falabella
México
Alimentação e Bebidas Femsa
Grupo Modelo
Financeiro Grupo Elektra
Inbursa
Holding Diversificada Alfa
Grupo Carso
Materiais de Construção Cemex
Mídia Grupo Televisa
Mineração Grupo México
Peñoles
Processamento de Alimentos Grupo Bimbo
Varejo Soriana
Panamá Construção McDermott
Viagens e Lazer Carnival
Fonte: Elaborado pela autora (2014).
Observou-se a presença de empresas de diversos setores, sendo as empresas do
setor financeiro (6) e as empresas de varejo (4), as que apresentaram o maior número de
representantes.
3.3 Definições das Variáveis Analisadas
Baseados nas hipóteses propostas, foram escolhidos os indicadores dos países da
América Latina utilizados neste trabalho. Forma eles: Worldwide Governance
Indicators, PIB per capita, Corruption Perception Index e porcentagem de matrículas
do ensino secundário. Esses indicadores foram considerados as variáveis independentes
deste estudo.
Para mensurar o ambiente de governança dos países (rule-based x relation-
based) foram utilizados indicadores do Worldwide Governance Indicators (WGI),
62
indicadores governança globais de 215 economias, do período de 1996 a 2012, e que
tratam de seis dimensões de governança que variam de 2,5 a -2,5. São elas: voz e
accountability, estabilidade política e ausência de violência, eficácia governamental,
qualidade da regulação, estado de direito, e controle da corrupção. Tais indicadores são
baseados em 30 fontes de dados individuais produzidos por institutos de pesquisa
institutos, ONG’s, organizações internacionais e empresas do setor privado. Os autores
têm apoio financeiro do Programa de Conhecimento para a Mudança do Banco Mundial
(WGI, 2013).
Conforme Li (2013), os indicadores do WGI podem ser utilizados como uma
medida para examinar os diferentes ambientes de governança. Haja visto que a presente
pesquisa contou com um indicador de corrupção, e que regulação é um dos fatores
considerados no indicador ‘estado de direito’, as dimensões ‘controle da corrupção’ e
‘qualidade da regulação’ não foram utilizadas como indicadores de governança. A
escolha dessas variáveis ocorreu após verificação da adequação de seus itens ao
referencial teórico. As outras quatro dimensões do WGI foram somadas, criando-se um
índice de governança que varia de 10 (interpretado como o mais rule-based) a -10
(interpretado como o menos rule-based).
Para mensurar o desenvolvimento econômico dos países foi utilizado o Produto
Interno Bruto (PIB) per capita. Tem-se que, quanto maior o PIB per capita do país,
maior o seu nível de desenvolvimento econômico. Li et al.(2010) destacam que vários
estudos documentam a relação positiva entre o nível de desenvolvimento econômico,
medido pelo PIB per capita, e a RSC. Parte-se do argumento que um maior nível de
riqueza permite aos cidadãos preocuparem-se mais com o bem-estar não econômico da
sociedade, pressionando as empresas a serem socialmente responsáveis. O indicador foi
retirado do site do Banco Mundial (World Bank) e é dado em dólares.
Para mensurar a corrupção governamental dos países foi utilizado o Corruption
Perception Index (CPI), índice criado em 1995, pela ONG Transparency International
(TI), que mede os níveis percebidos de corrupção no setor público, variando de 0
(altamente corrupto) a 10 (muito limpo). Baseia-se em fontes de dados de instituições
independentes especializadas em governança e análise de ambiente de negócios,
combinando dados do Banco Mundial, World Justice Project (WJP), Banco Africano de
Desenvolvimento, Economist Intelligence Unit (EIU), dentre outros. Trata-se do índice
de corrupção mais utilizado pelo mundo (CPI, 2013).
E, finalmente, para mensurar o nível educacional dos países, foi utilizada a
média de anos de escolaridade dos adultos, indicador calculado pelo United Nations
63
Development Programme (UNDP), que é medido pelo número médio de anos de
educação recebida por pessoas com idade a partir de 25 anos (UNDP, 2014). Conforme
Matten e Moon (2008), a educação é uma área na qual pode se demonstrar,
marcadamente, as diferentes formas de RSC.
Em relação às informações sobre a intensidade da comunicação de RSC das
maiores empresas de tais países, foram pesquisadas nos relatórios constantes nos sites
das próprias organizações. Com base na metodologia desenvolvida por Maignan e
Ralston (2002), foram pesquisados nos relatórios vinte e um itens de comunicação de
RSC, subdivididos em três categorias: princípios motivadores de RSC, processos de
RSC e questões dos stakeholders. No Quadro 05 podem ser visualizados todos os itens
da pesquisa.
Quadro 05 - Categorias de RSC pesquisadas nos relatórios.
PRINCÍPIOS QUE MOTIVAM À RSC
1. RSC MOTIVADA PELO VALOR AGREGADO
A RSC é apresentada como sendo parte da cultura da companhia, ou como uma expressão de seus valores
fundamentais.
2. RSC MOTIVADA PELO DESEMPENHO
A RSC é introduzida como parte da missão econômica da empresa, como um instrumento para melhorar
seu desempenho financeiro e postura competitiva.
3. RSC MOTIVADA PELO STAKEHOLDER
A RSC está presente como uma resposta às pressões e exame minucioso de um ou mais grupos de
stakeholder.
PROCESSOS DE RSC
4. PROGRAMAS FILANTRÓPICOS
A companhia apresenta um programa filantrópico formal com uma missão clara e procedimentos de
aplicação para alocar as doações e subsídios.
5.PATROCÍNIO
A companhia introduz o patrocínio como um tipo de iniciativa de responsabilidade para prestar
assistência financeira ou em espécie a uma causa ou caridade.
6. VOLUNTARISMO
A companhia apresenta programas que permitem aos funcionários trabalhar por uma boa causa durante as
horas de trabalho pagas.
7. CÓDIGO DE ÉTICA
A companhia discute o conteúdo e/ou a implementação de um código de ética ou conduta.
8. PROGRAMAS DE QUALIDADE
A companhia descreve um programa formal de qualidade do produto/serviço como uma forma de
iniciativa de responsabilidade.
9. PROGRAMAS DE SEGURANÇA E SAÚDE
A companhia introduz programas formais de saúde e segurança destinado a um ou mais grupos de
stakeholders como uma forma de iniciativa de responsabilidade.
10. GERENCIAMENTO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS
A companhia discute iniciativas destinadas a diminuir o impacto negativo das atividades de produtividade
no ambiente natural.
QUESTÕES DOS STAKEHOLDERS
COMUNIDADE
11. ARTES E CULTURA
A empresa discute o seu apoio às organizações, atividades, atores e objetos ligados às artes ou à cultura
nacional.
12. EDUCAÇÃO
A empresa apresenta o seu apoio a atividades destinadas a melhorar as oportunidades educacionais e da
qualidade da educação recebida pelas populações fora da empresa.
64 13. QUALIDADE DE VIDA
A empresa manifesta a sua dedicação para melhorar a qualidade de vida e bem-estar das comunidades em
que a empresa opera, ou da sociedade como um todo.
14. SEGURANÇA
A empresa mostra preocupação com a segurança das pessoas nas comunidades do entorno de suas
operações produtivas.
15. PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE
A empresa demonstra preocupação com a preservação do ambiente natural em geral ou nas comunidades
onde a empresa atua.
CLIENTES
16. QUALIDADE
A empresa apresenta a obtenção de alta qualidade do produto / serviço como parte de seu compromisso
com a responsabilidade social.
17. SEGURANÇA
A empresa mostra preocupação com a segurança de seus clientes em relação com suas atividades de
produção ou de produtos / serviços.
FUNCIONÁRIOS
18. IGUALDADE DE OPORTUNIDADES
A empresa manifesta o seu compromisso de oferecer as mesmas chances de recrutamento e promoção a
todos os empregados, independentemente de raça, sexo, idade ou deficiência.
19. SAÚDE E SEGURANÇA
A empresa manifesta a sua preocupação para proteger a segurança dos trabalhadores no local de trabalho,
juntamente com o seu nível de saúde geral.
20. ACIONISTAS
A empresa manifesta o seu compromisso com o envolvimento das partes interessadas na governança
corporativa e / ou à informação adequada dos acionistas.
21. FORNECEDORES
A empresa manifesta a sua dedicação para dar igualdade de oportunidades aos fornecedores em termos de
gênero, raça e tamanho, e / ou para garantir a segurança dos fornecedores.
Fonte: Maignan e Ralston (2002).
A categoria dos princípios representa os insumos motivacionais que
impulsionam o compromisso com a RSC. O primeiro tipo, RSC motivada pelo valor
agregado, traz uma visão de dever positivo, onde as empresas são automotivadas a gerar
um impacto positivo, independentemente das pressões sociais. O segundo tipo, RSC
motivado pelo desempenho, traz uma perspectiva utilitarista, onde a RSC é vista como
um instrumento útil para ajudar a organização a atingir seus objetivos. O terceiro tipo,
RSC motivada pelos stakeholders, traz uma visão de dever negativo, onde as empresas
são obrigadas a adotar iniciativas de RSC, a fim de estar em conformidade com as
normas.
A categoria dos processos representa os procedimentos gerenciais e instrumentos
utilizados pelas empresas para colocar em prática seus princípios motivacionais. A
terceira categoria representa como as questões dos stakeholders são abordadas nas
iniciativas de RSC. A categoria é subdividida de acordo com a classificação das partes
interessadas de Clarkson, que considera cinco itens como relevantes: a comunidade, os
clientes, os funcionários, os acionistas, e os fornecedores (MAIGNAN; RALSTON,
2002).
65
Para cada item constante no relatório da empresa, foi utilizado o código ‘1’.
Quando a empresa não apresentou o item, utilizou-se o código ‘0’. Assim, o escore de
cada organização variou de 0 a 21. O índice de cada país foi dado pela média dos
escores de todas as empresas do país. O índice de intensidade da comunicação de RSC
dos países foi considerado variável dependente desta pesquisa. Os dados obtidos foram
analisados através da técnica estatística de análise de dados em painel.
Uma síntese das variáveis (dependente e independentes) utilizadas na pesquisa é
demonstrada no Quadro 06, que contém também os indicadores utilizados para
representar cada variável e a fonte de origem desses indicadores.
Quadro 06 - Quadro-síntese das variáveis utilizadas na pesquisa.
Variável Classificação Índices Utilizados Fonte
Ambiente de
Governança
Independente Somatório dos índices: voz e
accountability, estabilidade política e
ausência de violência, eficácia
governamental e estado de direito
Worldwide
Governance
Indicators
Desenvolvimento
Econômico
Independente PIB per capita Banco Mundial
Corrupção
Governamental
Independente Corruption Perception Index Transparency
International (TI)
Nível Educacional Independente Média de anos de escolaridade dos
adultos
United Nations
Development
Programme
Intensidade da
Comunicação de
RSC
Dependente Índice calculado com base na
metodologia desenvolvida por Maignan e
Ralston (2002), composto de vinte e um
itens de comunicação de RSC.
Relatórios anuais
das empresas
pesquisadas
Fonte: Dados da pesquisa.
A seguir, é descrito o procedimento utilizado para analisar os dados e testar as
hipóteses, a técnica de análise de dados em painel. São apresentados o objetivo desse
tipo de análise, seus pressupostos básicos e seus modelos.
3.4 Técnicas de Análise de Dados
Na análise dos dados foram utilizadas técnicas estatísticas descritivas e técnicas
estatísticas para análise de dados em painel. Para verificação inicial dos dados foram
utilizadas estatísticas descritivas dos dados, calculando os valores mínimo, máximo,
média, desvio-padrão, variância, assimetria e curtose. A estatística descritiva foi feita
dos dados no geral e também subdividindo-os em variáveis independentes e variável
dependente.
66
Posteriormente, foi realizada a análise de variância (ANOVA), com a finalidade
de melhor comparar as médias das variáveis em relação aos países estudados. De acordo
com Stevenson (2001), a análise de variância aplica-se para determinar se as médias de
duas ou mais populações são iguais.
Foram realizados também testes para averiguar a confiabilidade dos construtos
intensidade de comunicação de RSC (formado por vinte e um itens) e ambiente de
governança (composto por quatro variáveis do WGI). A medida mais comum de
confiabilidade é o alfa de Cronbach (1951), apropriado quando os itens da escala são
somados para produzir um escore simples para aquela escala, caso observado nos dois
construtos analisados, pois seus escores foram gerados pela soma das variáveis que os
compõem. O coeficiente pode ser conceituado como a medida pela qual algum
constructo, conceito ou fator medido está presente em cada item (ROGERS; SCHMITT;
MULLINS, 2002).
Para o teste das hipóteses foram utilizadas as técnicas estatísticas para análise de
dados em painel. Conforme Duarte, Lamounier e Takamatsu (2007), os dados em painel
consistem em observações de entidades para dois ou mais períodos de tempo,
combinando assim características de séries temporais com dados em corte transversal.
Como principais vantagens da análise de dados em painel, tem-se: permite controlar os
efeitos das variáveis não observadas; permite o uso de mais observações, diminuindo
assim a colinearidade entre as variáveis explicativas; identifica e mensura efeitos que
não são detectados, isoladamente, por meio da análise de dados em corte transversal ou
de séries temporais.
Marques (2000) afirma que uma das vantagens de se utilizar a estimação com
dados em painel é que esta técnica sugere a existência de características diferenciadoras
dos indivíduos, características estas que podem ou não ser constantes ao longo do
tempo. Conforme Greene (2003), os modelos para dados em painel têm três principais
variações: efeitos fixos, efeitos aleatórios e regressão pooled.
A primeira variação é indicada para os casos em que se retiram amostras
exaustivas de uma população ou quando se pretende prever o comportamento
individual. A segunda pressupõe que o comportamento específico dos indivíduos e
períodos de tempo é desconhecido, não medido ou observado (MARQUES, 2010).
Daher (2004) afirma que o modelo pooled, também conhecido como modelo de
coeficientes constantes, pressupõe que tanto o intercepto quanto as inclinações não
variam. Portanto, tanto o efeito do tempo quanto o efeito individual não teriam qualquer
efeito sobre o modelo.
67
Greene (2003) destaca que o modelo de dados em painel tem a estrutura básica
de um modelo de regressão na seguinte forma:
Onde i e t denotam o indivíduo e o tempo; é a matriz de variáveis
explicativas que variam no tempo e entre as unidades de cross-section; capta a
heterogeneidade ou efeito individual, relacionando-se somente com cada unidade de
cross-section; e é o termo de erro aleatório relacionado a cada unidade do painel.
O modelo pooled ocorre quando zi contém apenas um termo constante, sendo por
isso o método dos mínimos quadrados ordinários o método indicado para fornecer
estimativas consistentes e eficientes do α comum e do vetor de coeficientes β
(GREENE, 2003).
No modelo de efeitos fixos, afirma Marques (2000), os coeficientes podem
variar de indivíduo para indivíduo ou no tempo, ainda assim permanecendo como
constantes fixas, logo, não aleatórias. Greene (2003) destaca que neste modelo supõe-se
que a constante varia de um indivíduo para outro, mas é constante no tempo, e os
parâmetros β são constantes para os indivíduos. Para este modelo, substitui o do
modelo geral, e denota o efeito fixo das unidades cross-section na regressão.
No modelo de efeitos aleatórios pressupõe-se que o comportamento específico
dos indivíduos e períodos de tempo é desconhecido, não podendo ser observado, nem
medido, tratando-se portanto de uma variável aleatória (MARQUES, 2000). A
abordagem de efeitos aleatórios tem seu modelo formulado como:
yit = β + E[
] + { - E[
]} + εit = β + α + ui + εit
Tem-se que ui é grupo específico de erros, semelhante ao εit, à exceção que, para
grupo, exista um termo comum em cada período (GREENE, 2003).
Para testar as hipóteses do estudo foi formulado o modelo a seguir, que trata da
influência do ambiente institucional dos países, representado pelas variáveis WGI, PIB
per capita, CPI e média de educação, sobre a variável dependente intensidade da
comunicação de RSC.
CRSCit = αi + WGIitβ1 + PIBitβ2 + CPIitβ3 + EDUCitβ4 + εit
Onde:
CRSC = Indicador da Intensidade de Comunicação de RSC. Variável
dependente do modelo.
WGI = Indicador do Ambiente Institucional. Variável independente do modelo.
68
PIB = Indicador do Desenvolvimento Econômico. Variável independente do
modelo.
CPI = Indicador de Corrupção Governamental. Variável independente do
modelo.
EDUC = Indicador do Nível Educacional. Variável independente do modelo.
it = Denotam o Indivíduo e o Tempo
= Erro Aleatório
β1,..., β4 = Parâmetros de Declividade
αi = Efeito Fixo das Unidades Cross-Section
Para a realização dos testes utilizaram-se os programas SPSS20® e R: A
language and environment for statistical computing (R CORE TEAM, 2014), versão
3.0.2.
69
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O presente capítulo trata dos resultados da pesquisa, e está dividido em quatro
partes: Análise Descritiva dos Dados (seção 4.1), que traz a análise descritiva das
variáveis independentes, da variável independente, bem como a análise de variância dos
dados; Teste de Confiabilidade das Variáveis (seção 4.2); Análise de Dados em Painel
(seção 4.3), que permitiu testar as hipóteses da pesquisa; Análise das Hipóteses (seção
4.4), demonstrando se as hipóteses da pesquisa foram aceitas ou refutadas; e a
Discussão dos Resultados (seção 4.5), onde os resultados das hipóteses são analisados, à
luz do referencial teórico, objetivando uma melhor compreensão do fenômeno estudado.
4.1 Análise Descritiva dos Dados
Esta seção tem como finalidade expor e analisar os dados do ambiente
institucional de Brasil, Chile, México e Panamá, bem como os dados de comunicação
de RSC das empresas desses países. Inicialmente, realiza-se a apresentação dos países
em relação às seguintes variáveis: quantidade de empresas, setores de atuação das
empresas, indicador do ambiente de governança (soma de indicadores WGI), indicador
de desenvolvimento econômico (PIB per capita), indicador de corrupção governamental
(CPI), indicador de nível educacional (média de anos de escolaridade dos adultos) e
indicador de intensidade de comunicação de RSC.
A população total da pesquisa foi formada por 32 empresas, cuja distribuição por
países é demonstrada na Figura 04.
Figura 04 - Distribuição das empresas por países.
Fonte: Dados da pesquisa.
13
5
12
2 Brasil
Chile
México
Panamá
70
O Brasil apresentou treze empresas, pulverizadas em dez diferentes setores:
energia elétrica (3), financeiro (2), mineração (1), operações de óleo e gás (1), produção
de celulose (1), produção de químicos e petroquímicos (1), siderurgia (1),
telecomunicações e serviços (1), transporte aéreo (1) e varejo (1).
O México, país que apresentou segundo maior número de empresas, doze no
total, as tem distribuídas em oito setores: alimentação e bebidas (2), financeiro (2),
holding diversificada (2), materiais de construção (1), mídia (1), mineração (2),
processamento de alimentos (1) e varejo (1).
O Chile apresentou cinco empresas, distribuídas em três diferentes setores:
financeiro (2), produção de celulose (1) e varejo (2). O Panamá apresentou duas
empresas, distribuídas no setor de construção (1) e no setor de viagens e lazer (1). A
distribuição das empresas por países e setores pode ser observada na Figura 05.
Figura 05 - Distribuição das empresas por setores.
Fonte: Dados da pesquisa.
Como demonstrado na Figura 05, o setor de maior predominância dentre as
empresas estudadas foi o setor financeiro, com seis empresas, seguido do setor de
varejo, com quatro empresas.
2
1
1
3
1
1
1
1
1
1
2
2
1
2
1
2
2
2
1
1
1
1
1
0 1 2 3 4 5 6 7
Financeiro
Varejo
Mineração
Energia Elétrica
Produção de Celulose
Alimentação e Bebidas
Holding Diversificada
Operações de Óleo e Gás
Telecomunicações e Serviços
Siderurgia
Transportes Aéreos
Produção de Químicos e Petroq.
Materiais de Construção
Mídia
Processamento de Alimentos
Viagens e Lazer
Construção
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
71
As estatísticas descritivas de cada uma das variáveis utilizadas na pesquisa, com
dados de mínimo, máximo, média, desvio-padrão, variância, assimetria e curtose podem
ser observadas na Tabela 01.
Tabela 01 - Estatística descritiva das variáveis.
Variável N Min
Máx.
Média
Desvio
Padrão
Variância Assimetria Curtose
Estatíst. Erro
padr.
Estatíst. Erro
padr.
Intensidade
da Comunic.
de RSC
28 7 16,7 12,4 2,61 6,82 0,21 0,44 -0,71 0,86
Ambiente de
Governança
28 -1,24 4,34 0,89 1,94 3,77 0,92 0,44 -0,76 0,86
PIB per
capita
28 4.998 15.452 9.301,4 2519,7 6348848 0,57 0,44 0,39 0,86
CPI 28 3,0 7,3 4,37 1,61 2,60 1,15 0,44 -0,58 0,86
Nível
Educacional
28 6,7 9,7 8,55 1,04 1,08 -0,57 0,44 -1,19 0,86
Fonte: Dados da pesquisa.
A variável dependente intensidade da comunicação de RSC tem um mínimo de 7
(33,3% do total de escores), máximo de 16,7 (79,6% do total de escores) e média de
12,4. Por sua vez, a variável independente ambiente de governança, que varia numa
escala de -10 a 10, tem como mínimo o valor de -1,24, máximo o valor de 4,34 e média
de 0,89, um valor baixo, que corresponde a menos de 10% do valor máximo da escala.
A variável independente CPI, que varia numa escala de 0 a 10, apresenta como média o
valor de 4,37, valor próximo à mediana da escala, que temo valor 5.
A variável nível educacional apresenta como valor máximo 9,7 anos, e mínimo
6,7 anos, apresentando o menor desvio padrão e menor variância dentre os variáveis
presentes na Tabela 01. A variável PIB per capita apresenta um mínimo de US$ 4.998,
máximo de US$ 15.542 e média de US$ 9.301,40.
As variáveis intensidade da comunicação de RSC, ambiente de governança e
PIB per capita apresentam uma assimetria positiva moderada. Por sua vez, a variável
nível educacional apresenta uma assimetria negativa moderada, e a variável CPI
apresenta uma assimetria forte. Conforme os coeficientes de curtoses encontrados,
pode-se dizer que as variáveis intensidade de comunicação de RSC, ambiente de
governança, CPI e nível educacional apresentam uma curva de distribuição mais aguda
em sua parte superior, mais fechada que a normal, classificada como leptocúrtica. A
variável PIB per capita apresenta uma curva de distribuição mais aberta que a normal e
mais achatada em sua parte superior, classificada como platicúrtica.
72
4.1.1 Análise Descritiva das Variáveis Independentes por País e Ano
Nesta subseção são expostas e analisadas as variáveis do ambiente institucional
de Brasil, Chile, México e Panamá, consideradas as variáveis independentes deste
trabalho. São elas: indicador do ambiente de governança (representada pela soma dos
indicadores WGI), indicador de desenvolvimento econômico (representado pelo PIB per
capita), indicador de corrupção governamental (representado pelo indicador CPI) e
indicador do nível educacional (representado pela média dos anos de escolaridade dos
adultos).
Em relação ao indicador de ambiente de governança utilizado na pesquisa,
composto pela soma de quatro indicadores do WGI, sua evolução no período de 2006 a
2012 pode ser observada na Figura 06. O Chile se destaca por apresentar os melhores
índices de ambiente de governança, apresentando o maior índice entre todos (4,34), no
ano de 2010. O país pode ser classificado como o mais rule-based dentre a amostra, fato
este que pode ser confirmado ao analisarmos as médias. O Chile, que tem como média o
valor 4,05, é o único país que apresenta média superior à média geral (0,89), e cujo
valor chega mais próximo a 10, interpretado como o mais rule-based.
Figura 06 - Índice de ambiente de governança da amostra no período de 2006 a 2012.
Fonte: WGI (2013).
Neste período, o México apresentou os menores índices de ambiente de
governança e, dentre os países estudados, pode ser considerado o mais relation-based.
-0,47 -0,52 -0,24
0,33 0,5 0,21 0,27
3,95 3,96 3,85 4,1
4,34 4,13 4,01
-0,83 -1,01 -1,24
-0,97 -1,03 -0,81 -0,82
0,42 0,49 0,39 0,63
0,44 0,56 0,38
-2
-1
0
1
2
3
4
5
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Ambiente de
Governança
Anos
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
73
O país apresenta, no ano de 2008, o menor índice dentre todos (-1,15). Ao analisarmos
as médias, o México apresenta o valor mais baixo (-1,24), valor mais próximo de -10,
interpretado como o mais relation-based.
O Brasil vem evoluindo nesse indicador, saindo de um índice negativo (-0,47)
em 2006, até chegar ao índice de 0,27 no ano de 2012, obtendo um crescimento de
157,45%. Por sua vez, o Panamá regrediu quanto ao seu desempenho no indicador de
ambiente de governança, apresentando um decréscimo de 9,52% se comparado o seu
índice de 2006 (0,42) ao seu índice de 2012 (0,38).
Apesar de sua evolução em relação ao ambiente de governança, o Brasil, dentro
da amostra, é o segundo país com menor média nesse indicador (0,01), ficando a frente
somente do México, que obteve a menor média (-0,96). O Chile destaca-se com a maior
média (4,05), e única acima da média geral (0,89), seguido pelo Panamá (0,47). O Chile
pode ser considerado, portanto, o único país rule-based da amostra, por obter média
superior à média geral desse indicador nos quatro países.
Quanto ao indicador de desenvolvimento econômico (PIB per capita), o
desempenho de Brasil, Chile, México e Panamá, no período de 2006 a 2012 pode ser
demonstrado na Figura 07.
Figura 07 - PIB per capita da amostra no período de 2006 a 2012.
Fonte: World Bank (2013).
O Chile apresenta o maior PIB per capita do período (US$ 15.452), no ano de
2012. O menor PIB per capita é apresenta em 2006 pelo Panamá (US$ 4.998). Como
5.788
7.194
8.623 8.373
10.978
12.576
11.340
9.371
10.383 10.672 10.120
12.685
14.513 15.452
8.618 9.191 9.560
7.691
8.885 9.717 9.749
4.998 5.670
6.473 6.683 7.229
8.373 9.534
0
4.000
8.000
12.000
16.000
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
PIB per capita
(U$)
Anos
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
74
demonstrado na Figura 07, no período estudado, todos os países estudados apresentaram
crescimento em seu PIB per capita, destacando-se positivamente o Brasil, que obteve
um crescimento de 95,2%, e negativamente o México, que obteve o menor crescimento,
13,1%.
Em termos de média de PIB per capita, dois países, México e Panamá,
apresentam médias menores que a média geral (US$ 9.301), podendo ser considerados
os países menos desenvolvidos economicamente da amostra. No outro extremo, Brasil e
Chile apresentam médias superiores à média geral, sendo considerados os países mais
desenvolvidos economicamente da amostra. O Chile destaca-se por apresentar o maior
PIB per capita médio, US$ 11.885.
Quanto ao indicador de corrupção governamental (CPI), o México apresenta em
2011 o menor índice CPI, configurando-se como o país mais corrupto dentre os
estudados. Os melhores índices CPI são encontrados no Chile, que apresentou em 2006
o valor de 7,3. Dentre os países da amostra, o Chile destaca-se como o menos corrupto.
Ainda assim, no período estudado, o Chile apresentou um decréscimo de 1,37%. O
Brasil mostrou a maior evolução, obtendo um crescimento de 30,3%. O desempenho de
Brasil, Chile, México e Panamá pode ser observado na Figura 08.
Figura 08 - CPI da amostra no período de 2006 a 2012.
Fonte: CPI (2013).
O indicador de corrupção governamental (CPI) indica que quanto mais próximo
a 10 é o índice CPI de um país, considerado menos corrupto, ou mais limpo, ele é. Em
3,3 3,5 3,5
3,7 3,7 3,8
4,3
7,3 7 6,9
6,7
7,2 7,2 7,2
3,3 3,5
3,6
3,3 3,1 3 3,4
3,1 3,2 3,4
3,4 3,6 3,3 3,8
0
1
2
3
4
5
6
7
8
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
CPI
Anos
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
75
relação a este indicador, o Chile apresenta a melhor média, no valor de 7,1, considerado
o país menos corrupto da amostra. No outro extremo, como país mais corrupto, da
amostra, apresenta-se o Panamá, com média 3,3, valor próximo à média do México, 3,4.
O Brasil apresenta uma média de 3,7, a segunda maior dentre amostra. No entanto,
possui média inferior a media geral (4,37), a qual é ultrapassada somente pelo Chile.
Quanto ao nível de educacional dos países, medido pela média dos anos de
escolaridade dos adultos, o Brasil apresenta os menores índices, variando de 6,7 a 7,2
anos. Todos os outros países não apresentam índices menores que 8 anos. O Chile
destaca-se positivamente por apresentar os maiores índices, variando de 9,4 a 9,7.
Apesar de apresentar os menores índices de nível educacional, o Brasil obteve o maior
percentual de crescimento do período, no valor de 7,46%. O menor crescimento foi
apresentado pelo Chile, 3,19%. A evolução da amostra ao longo de 2006 a 2012 é
demonstrada na Figura 09.
Figura 09 - Indicador do nível educacional da amostra no período de 2006 a 2012.
Fonte: UNDP (2014).
Ao analisar as médias do indicador de nível educacional, nota-se que o Brasil e
México apresentam médias inferiores à média geral, de 8,6 anos. O Brasil apresenta a
menor média, 7 anos, podendo ser considerado o país da amostra com menor nível
educacional. Por sua vez, Chile e Panamá, que apresentam médias próximas,
respectivamente de 9,6 e 9,3, têm as maiores médias de nível educacional, sendo o Chile
o país da amostra de maior nível educacional.
6,7 6,8 6,9 7,1 7,2 7,2 7,2
9,4 9,5 9,6 9,6 9,7 9,7 9,7
8 8,1 8,2 8,4 8,5 8,5 8,5 9,1 9,2 9,2 9,3 9,4 9,4 9,4
0
2
4
6
8
10
12
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Nível Educacional
Anos
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
76
Na Figura 10 são apresentadas as médias de Brasil, Chile, México e Panamá, em
relação a cada uma das variáveis independentes, bem como a média geral de cada uma
destas. Como discutido anteriormente, o único país a obter médias maiores que as
médias gerais de todos os indicadores foi o Chile, sendo, portanto, o país da amostra
que detém ambiente de governança mais rule-based, que possui maior desenvolvimento
econômico, país menos corrupto e com melhor nível educacional.
Figura 10 - Médias das variáveis independentes da amostra no período de 2006 a 2012.
Fonte: WGI (2013), World Bank (2013), CPI (2013) e UNDP (2014).
Ao considerar a variação das médias da amostra em cada indicador como critério
para classificar os países como obtendo alto, intermediário ou baixo desempenho em
cada variável, a amostra pode ser classificada conforme o Quadro 07. A variável
ambiente de governança pode ser classificada em rule-based e relation-based de acordo
com a média geral, sendo considerado rule-based o país que possuir média superior à
média geral.
Quadro 07 - Classificação dos países quanto ao seu ambiente institucional.
País Ambiente de
Governança
Desenvolvimento
Econômico
Corrupção
Governamental
Nível Educacional
Brasil Relation-based Desenvolvimento
econômico intermediário
Alto nível de
corrupção
Baixo nível
educacional
Chile Rule-based Alto desenvolvimento
econômico
Baixo nível de
corrupção
Alto nível
educacional
México Relation-based Desenvolvimento
econômico intermediário
Alto nível de
corrupção
Nível educacional
intermediário
Panamá Relation-based Baixo desenvolvimento
econômico
Alto nível de
corrupção
Alto nível
educacional
Fonte: Elaborado pela autora (2014).
0,01
9,27
3,69
7,01
4,05
11,89
7,07
9,60
-0,96
9,06
3,31
8,31
0,47
6,99
3,40
9,29
0,89
9,30
4,37
8,55
-2,00
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
WGI PIB (em
milhares)
CPI EDUC
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
MÉDIA GERAL
77
As outras três variáveis foram classificadas em três intervalos, que foram
encontrados através da variação entre a maior média e a menor. O Chile foi o único país
a apresentar a média de todas as variáveis como integrantes do intervalo de maior
pontuação. O Panamá apresentou a média do nível educacional como integrante do
intervalo de maior pontuação. Todas as outras variáveis do país (ambiente de
governança, desenvolvimento econômico e corrupção governamental) foram
classificadas como integrantes do intervalo de menor pontuação.
O México apresentou as médias das variáveis desenvolvimento econômico e
corrupção governamental como integrantes do intervalo intermediário, e as médias das
variáveis ambiente de governança e corrupção governamental como participantes do
intervalo de menor pontuação. Por sua vez, o Brasil, de modo geral, obteve o pior
desempenho em relação às variáveis independentes, representantes do ambiente
institucional. O país apresentou as variáveis ambiente de governança, corrupção
governamental e nível educacional como integrantes do menor intervalo de pontuação.
A variável desenvolvimento econômico foi classificada integrante do intervalo de
pontuação intermediária.
4.1.2 Análise Descritiva da Variável Dependente por País e Ano
Nesta subseção a variável dependente da pesquisa, índice de intensidade da
comunicação de RSC, bem como as três categorias que o formam (princípios
motivadores de RSC, processos de RSC, e questões dos stakeholders), são expostas e
analisadas. Os índices de intensidade da comunicação de RSC das empresas, que variam
de 0 a 21, podem ser observados na Figura 11.
Em relação à intensidade da comunicação de RSC, a amostra tem como mínimo
o valor 7 (33,3% do total de escores), observado no Panamá, em 2006, e máximo de
16,7 (79,6% do total de escores), observado no Brasil, em 2011. Dentre os países da
amostra, o Brasil destaca-se por apresentar os maiores percentuais de comunicação de
RSC. No entanto, o país foi o que apresentou o menor percentual de crescimento dentre
a amostra, crescendo 8,74% de 2006 a 2012. O Panamá foi o país que apresentou os
menores percentuais de comunicação de RSC, mas foi a nação que apresentou o maior
percentual de crescimento, crescendo 42,94% de 2006 a 2012.
78
Figura 11 - Intensidade da comunicação de RSC da amostra no período de 2006 a
2012.
Fonte: Dados da pesquisa.
Em termos de média de intensidade da comunicação de RSC, dois países,
México e Panamá, apresentam médias menores que a média geral (12,4), podendo ser
considerados os países, dentro da amostra, cujas empresas menos comunicam suas
atividades de RSC. No outro extremo, Brasil e Chile apresentam médias superiores à
média geral, sendo considerados os países da amostra cujas empresas mais comunicam
suas atividades de RSC. O Brasil destaca-se por apresentar a maior média de
intensidade da comunicação de RSC, 16,1.
Corroborando com o encontrado nesta pesquisa, Campos et al. (2013), ao
analisarem as publicações dos relatórios de sustentabilidade da GRI de 1999 a 2010,
afirmam que o Brasil é destaque mundial na publicação de relatórios, sendo o 4ª
colocado dentre os países que mais publicam, com uma porcentagem de 5,46%. O país
também destaca-se pela liderança dentre os países da América Latina, sendo
responsável, de 2000 a 2010, por 47,88% das publicações desta região. O Chile aparece
em segundo lugar, com aproximadamente 18% do total de relatórios publicados,
seguido do México, com 10% do total.
Em relação à categoria ‘princípios motivadores de RSC’, que varia de 0 a 3, o
desempenho das empresas de Brasil, Chile, México e Panamá pode ser observado na
Figura 12. A amostra tem como mínimo o valor 1 (33,3% do total de escores),
15,7 15,5 15,9 16,0 16,6 16,7 16,5
11,2
13,8 13,6
12 12,4 13 12,6
9,3 9,4 10,5
11,6 11,8 12,3
11,4
7,0
9,5 10,0
10,5 11,0 11,5
10,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
18,0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Intensidade da
Comunic. de RSC
Anos
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
79
observado no Panamá, em 2006 e 2012, e máximo de 2,6 (86,7% do total de escores),
observado no Chile, em 2007, 2008 e 2010.
Dentre os países da amostra, o Chile destaca-se por apresentar os escores da
categoria princípios motivadores de RSC. O país foi o que apresentou o maior
percentual de crescimento da amostra, crescendo 22,22% de 2006 a 2012. O Brasil
apresentou como percentual de crescimento, de 2006 a 2012, o valor de 7,5%.
Figura 12 - Princípios motivadores de RSC da amostra no período de 2006 a 2012.
Fonte: Dados da pesquisa.
Ao analisar a variação dos escores do Panamá de 2006 a 2012, observa-se que
nesses dois anos o país obteve escores iguais (1), não apresentando, portanto,
crescimento ou decréscimo. O país apresentou os menores escores da categoria nesses
dois anos. Por sua vez, o México apresentou os menores escores da categoria princípios
motivadores de RSC nos anos de 2007 a 2011.
Em termos de escores de princípios motivadores de RSC, dois países, México e
Panamá, apresentam médias menores que a média geral (1,97), podendo ser
considerados os países, dentro da amostra, cujas empresas menos apresentam princípios
motivacionais de RSC. No outro extremo, Brasil e Chile apresentam médias superiores
à média geral, sendo considerados os países da amostra cujas empresas mais apresentam
princípios motivadores de RSC. O Chile destaca-se por apresentar a maior média de
escores de princípios motivadores de RSC (2,4).
2
2,38 2,38 2,31 2,23 2,23
2,15
1,8
2,6 2,6 2,6
2,4
2,6
2,2
1,42 1,42 1,58 1,58
1,67 1,58
1,5
1
2 2 2 2 2
1
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Princípios
motivadores de
RSC
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
80
Em relação à categoria ‘processos de RSC’, que varia de 0 a 7, o desempenho
das empresas de Brasil, Chile, México e Panamá pode ser observado na Figura 13. A
amostra tem como mínimo o valor 2,8 (40% do total de escores), observado no Chile,
em 2006, e máximo de 5,69 (81,3% do total de escores), observado no Brasil, em 2012.
Dentre os países da amostra, o Brasil destaca-se por apresentar os escores da categoria
processos de RSC. No entanto, foi o país foi que apresentou o menor percentual de
crescimento da amostra, crescendo 1,61% de 2006 a 2012. O maior percentual de
crescimento foi apresentado pelas empresas do Panamá, que cresceram 66,67% de 2006
a 2012.
Figura 13 - Processos de RSC da amostra no período de 2006 a 2012.
Fonte: Dados da pesquisa.
As empresas do Chile apresentaram o pior desempenho na categoria ‘processos
de RSC’, obtendo os menores escores nos anos de 2006, 2009, 2010, 2011 e 2012. O
país obteve uma taxa de crescimento de 28,6%. Por sua vez, o México apresenta o
menor escore da categoria ‘processos de RSC’ no ano de 2007 e o Panamá apresenta o
menor escore no ano de 2008.
Em termos de média dos escores de processos de RSC, somente as empresas do
Brasil apresentam média superior à média geral (4,12), podendo ser considerado o país,
dentro da amostra, cujas empresas mais apresentam processos de RSC. No outro
extremo, Panamá, México e Chile apresentam médias inferiores à média geral, sendo
considerados os países da amostra cujas empresas menos apresentam processos de RSC,
ou seja, cujas empresas menos utilizam procedimentos gerenciais e instrumento para
5,6
5
5,46 5,23
5,38 5,62 5,69
2,8
3,8 4
3,2
3,8 3,8 3,6
3 3,17
3,75 3,83 4
4,25 4
3
3,5
3
4 4 4
5
0
1
2
3
4
5
6
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Processos de RSC
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
81
colocar em prática seus princípios de RSC. O Chile destaca-se por apresentar a menor
média de escores de processos de RSC (3,57).
Em relação à categoria ‘questões dos stakeholders’, que varia de 0 a 11, o
desempenho das empresas de Brasil, Chile, México e Panamá pode ser observado na
Figura 14.
Figura 14 - Questões dos stakeholders da amostra no período de 2006 a 2012.
Fonte: Dados da pesquisa.
A amostra tem como mínimo o valor 3 (27,3% do total de escores), observado
no Panamá, em 2006, e máximo de 9 (81,8% do total de escores), observado no Brasil,
em 2010. Dentre os países da amostra, o Brasil destaca-se por apresentar os maiores
escores da categoria ‘questões dos stakeholders’. No entanto, o país apresentou o
segundo menor percentual de crescimento da amostra, crescendo 6,68% de 2006 a 2012.
O menor percentual de crescimento foi apresentado pelo Chile, que, no período de 2006
a 2012, cresceu somente 3,03%. O maior percentual de crescimento foi apresentado
pelas empresas do Panamá, que cresceram 33,3% de 2006 a 2012. O país foi o que
apresentou os menores escores da categoria em todos os anos estudados.
Em termos de média dos escores de ‘questões dos stakeholders’, as empresas de
Brasil e Chile apresentam média superior à média geral (6,31), podendo ser
considerados os países, dentro da amostra, cujas empresas mais abordam questões dos
stakeholders em suas iniciativas de RSC. No outro extremo, México e Panamá
apresentam médias inferiores à média geral, sendo considerados os países da amostra
cujas empresas menos abordam questões dos stakeholders em suas iniciativas de RSC.
8,08 8,15 8,08 8,46
9 8,85 8,62
6,6
7,4 7
6,2 6,2 6,6 6,8
4,83 4,83 5,17
6,17 6,17 6,42
5,92
3
4
5 4,5 5 5,5
4
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Questões dos
stakeholders
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
82
O Brasil destaca-se por apresentar a maior média de escores de questões dos
stakeholders (8,46).
Na Figura 15 são apresentadas as médias das empresas de Brasil, Chile, México
e Panamá, em relação a cada à variável dependente (intensidade de comunicação de
RSC) e das três categorias que a formam, bem como a média geral de cada uma destas.
Figura 15 - Médias da variável dependente e suas categorias no período de 2006 a
2012.
Fonte: Dados da pesquisa.
Dentre os países da amostra, o único cujas empresas obtiveram médias maiores
que as médias gerais da variável dependente e de todas as suas categorias foi o Brasil,
sendo, portanto, o país cujas empresas possuem maior intensidade de comunicação de
RSC, dando atenção à todas as três categorias que a compõe: princípios motivadores de
RSC, processos de RSC e questões dos stakeholders.
Por sua vez, o Chile obteve médias superiores na intensidade de comunicação de
RSC e em suas categorias ‘princípios motivadores de RSC’ e ‘questões dos
stakeholders‘. México e Panamá apresentaram médias inferiores à média geral em todas
as categorias estudadas, assim como na variável dependente, preocupando-se, assim,
pouco com a problemática da comunicação de RSC.
Ao considerar a variação das médias da amostra em cada indicador como critério
para classificar os países como obtendo alto, intermediário ou baixo índice de
comunicação em relação à variável dependente e suas categorias, a amostra pode ser
classificada conforme o Quadro 08.
16,1
2,2
5,4
8,5
12,7
2,4 3,6
6,7
10,9
1,5
3,7
5,6
9,9
1,7
3,8 4,4
12,4
2,0
4,1
6,3
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
INTENSID. DE
COMUN. DE
RSC
PRINCÍPIOS
MOTIV. DE RSC
PROCESSOS DE
RSC
QUESTÕES DOS
STAKEH.
BRASIL
CHILE
MÉXICO
PANAMÁ
MÉDIA GERAL
83
As variáveis foram classificadas em três intervalos, que variam da maior média à
menor. O Brasil foi o único país a apresentar a média de todas as variáveis como
integrantes do intervalo de maior pontuação.
Quadro 08 - Classificação da intensidade de comunicação de RSC e suas categorias.
País
Intensidade de
Comunicação de RSC
Princípios
Motivadores de
RSC
Processos de RSC Questões dos
Stakeholders
Brasil Alto índice de
comunicação
Alto índice de
comunicação
Alto índice de
comunicação
Alto índice de
comunicação
Chile Índice intermediário de
comunicação
Alto índice de
comunicação
Baixo índice de
comunicação
Índice intermediário
de comunicação
México Baixo índice de
comunicação Baixo índice de
comunicação Baixo índice de
comunicação Baixo índice de
comunicação Panamá Baixo índice de
comunicação Baixo índice de
comunicação Baixo índice de
comunicação Baixo índice de
comunicação Fonte: Elaborado pela autora (2014).
Como demonstrado no Quadro 08, o Panamá e o México apresentaram a média
de todas as variáveis como integrantes do intervalo de menores escores. Por sua vez, o
Chile, de modo geral, obteve um desempenho intermediário, ficando a média da
categoria ‘princípios motivadores de RSC’ classificada como integrante do intervalo de
maiores escores, a variável intensidade de comunicação de RSC e a categorias ‘questões
dos stakeholders’ classificadas como integrantes do intervalor de pontuação
intermediária, e a categoria ‘processos de RSC’ classificada como integrante do
intervalo de menores escores.
4.1.3 Análise de Variância
A fim de melhor comparar as médias das variáveis em relação aos países
estudados, foi feito a análise de variância (ANOVA). A Tabela 02 mostra os resultados
do teste de Levene (1960), que testa a homogeneidade de variâncias entre os 4 países
nas variáveis presentes na tabela. Apresenta-se o valor observado da estatística de teste,
os respetivos graus de liberdade (gl) e o valor p.
Tabela 02 - Teste de homogeneidade das variâncias.
Variáveis Estatística de Levene gl1 gl2 Valor p
Intensidade da Comunicação de RSC 1,405 3 24 0,266
Ambiente de Governança 12,931 3 24 0,000
PIB per capita 4,560 3 24 0,012
CPI 0,183 3 24 0,907
Nível Educacional 4,207 3 24 0,016
Fonte: Dados da pesquisa.
84
A Tabela 02 demonstra que as variáveis ambiente de governança, PIB per capita
e nível educacional são significantes. Portanto, estas variáveis não apresentam
homogeneidade de variância, significando que não há uma similaridade de variância dos
indicadores ambiente de governança, PIB per capita e nível educacional entre os países
estudados (Brasil, Chile, México e Panamá). As médias dessas variáveis devem ser
testadas através do teste de Welch (1951).
A Tabela 03 apresenta os resultados do teste ANOVA, que foi realizado para as
variáveis que apresentam homogeneidade de variância.
Tabela 03 - Análise de variância em relação aos países.
Variáveis Somas de
Quadrados gl
Quadrados
Médios F Valor p
Intensidade da
Comunicação
de RSC
Entre Grupos 156,584 3 52,195 45,677 0,000
Dentro dos
Grupos 27,425 24 1,143
Total 184,008 27
CPI
Entre Grupos 68,750 3 22, 917 368,772 0,000
Dentro dos
Grupos 1,491 24 0,062
Total 70,241 27
Fonte: Dados da pesquisa.
Como demonstrando na Tabela 03, todas as variáveis são significantes. Portanto,
pode-se dizer que as médias das variáveis CPI e intensidade da comunicação de RSC,
quando comparadas em relação aos países estudados, são estatisticamente diferentes.
A Tabela 04 apresenta os resultados do teste robusto de Welch (1951), realizado
para testar a igualdade de médias das variáveis ambiente de governança, PIB per capita
e nível educacional.
Tabela 04 – Teste robusto de igualdade de médias (teste de Welch).
Variáveis Estatística (F assintoticamente distribuído) gl1 gl2 Valor p
Ambiente de Governança 1176,19 3 12,462 0,000
PIB per capita 6,639 3 11,840 0,007
Nível Educacional 277,12 3 12,936 0,000
Fonte: Dados da pesquisa.
Conforme demonstrando na Tabela 04, todas as variáveis são significantes a um
nível de 5%. Portanto, pode-se dizer que as médias das variáveis ambiente de
governança, PIB per capita e nível educacional, quando comparadas em relação aos
países estudados, são estatisticamente diferentes.
85
4.2 Teste de Confiabilidade das Variáveis Referentes à Comunicação de RSC e ao
Ambiente de Governança
Anteriormente à análise de dados em painel, procedeu-se a análise de
confiabilidade, através do alfa de Cronbach (1951), da variável intensidade de
comunicação de RSC, formado por vinte e um itens subdivididos em ‘princípios que
motivam a RSC’, ‘processos de RSC’ e ‘questões dos stakeholders’. A análise de
confiabilidade obteve um alfa de 0,879, e ao considerar o cálculo com os itens
padronizados o alfa obteve um valor de 0,871. De acordo com Hair et al. (2009), o valor
de alfa recomendando é de no mínimo 0,700, sendo considerado, desta forma, a variável
utilizada na pesquisa, confiável nos padrões recomendados pela literatura. A Tabela 05
apresenta o resultado do teste.
Tabela 05 - Alfa de Cronbach da intensidade da comunicação de RSC.
Estatísticas de Confiabilidade
Alfa de Cronbach Alfa de Cronbach baseado
em itens padronizados N de Itens
0,882 0,874 21
Fonte: Dados da pesquisa.
A confiabilidade da variável foi também observada através do teste de exclusão
de variáveis, onde um gerou-se novo alfa de Cronbach (1951) para toda a variável caso
um dos itens fosse excluído. O resultado desse teste pode ser visto na última coluna da
Tabela 06.
Tabela 06 - Alfa de Cronbach da intensidade da comunicação de RSC com exclusão de itens.
Item excluído
Média se o
item for
excluído
Variância se o
item for
excluído
Correlação
item-total
corrigida
Correlação
múltipla ao
quadrado
Alfa de
Cronbach se
o item for
excluído
RSC motivada pelo
valor agregado
12,982 23,846 0,343 - 0,881
RSC motivada pelo
desempenho
12,446 23,099 0,625 - 0,873
RSC motivada pelo
stakeholders
12,401 23,463 0,597 - 0,874
Programas
filantrópicos
12,703 23,232 0,435 - 0,878
Patrocínio 12,712 23,229 0,434 - 0,878
Voluntarismo 12,734 22,965 0,490 - 0,876
Código de Ética 12,46 24,078 0,342 - 0,880
Programas de
Qualidade
12,662 22,523 0,601 - 0,872
Programas de
Segurança e Saúde
12,703 22,409 0,618 - 0,862
Gerenciamento dos 12,487 23,093 0,575 - 0,874
86
Impactos
Ambientais
Artes e Cultura 12,68 22,716 0,553 - 0,874
Educação 12,532 23,092 0,535 - 0,875
Qualidade de Vida 12,865 23,611 0,358 - 0,881
Segurança –
Comunidade
13,113 24,779 0,182 - 0,884
Proteção do Meio
Ambiente
12,478 23,246 0,544 - 0,875
Qualidade 12,419 24,869 0,156 - 0,885
Segurança –
Clientes
12,739 23,370 0,401 - 0,879
Igualdade de
Oportunidades
12,725 22,227 0,655 - 0,870
Saúde e Segurança 12,563 22,175 0,737 - 0,868
Acionistas 12,275 25,558 -0,004 - 0,884
Fornecedores 12,64 22,204 0,683 - 0,870
Fonte: Dados da pesquisa.
De acordo com essa análise, o valor máximo que o alfa poderia atingir seria
0,885, com a exclusão da variável ‘qualidade’, ou 0,884 com a retirada das variáveis
‘segurança’ ou ‘acionistas’, todas da categoria ‘questões dos stakeholders’. No entanto,
o valor máximo não apresenta grande diferença do valor atingido no teste anterior, com
todas as variáveis incluídas, não se fazendo necessário excluir nenhuma das variáveis.
Em seguida, procedeu-se à análise de confiabilidade da variável ambiente de
governança, composto por quatro variáveis do WGI: voz e accountability, estabilidade
política e ausência de violência, eficácia governamental e estado de direito. A análise de
confiabilidade obteve um alfa de 0,933, e ao considerar o cálculo com os itens
padronizados o valor alfa aumentou para 0,960, sendo portanto a variável ambiente de
governança considerado confiável nos padrões recomendados pela literatura. A Tabela
07 apresenta o resultado do teste.
Tabela 07 - Alfa de Cronbach do ambiente de governança.
Estatísticas de Confiabilidade
Alfa de Cronbach Alfa de Cronbach baseado
em itens padronizados N de Itens
0,933 0,960 4
Fonte: Dados da pesquisa.
Posteriormente foi observado o teste de confiabilidade da variável ambiente de
governança com a exclusão de variáveis. O resultado desse teste pode ser visto na
última coluna da Tabela 08.
87 Tabela 08 - Alfa de Cronbach do ambiente de governança com exclusão de itens.
Item excluído
Média se o
item for
excluído
Variância se o
item for
excluído
Correlação
item-total
corrigida
Correlação
múltipla ao
quadrado
Alfa de
Cronbach se
o item for
excluído
Voz e
Accountability
0,3457 2,621 0,941 0,952 0,918
Estabilidade Política
e Ausência de
Violência
0,9929 2,368 0,867 0,937 0,911
Eficácia
Governamental
0,5343 2,206 0,824 0,916 0,919
Estado de Direito 0,8079 1,474 0,986 0,975 0,896
Fonte: Dados da pesquisa.
Conforme essa análise, o valor máximo que o alfa poderia atingir seria 0,919,
com a exclusão da variável ‘eficácia governamental’. No entanto, o valor máximo é
inferior ao valor atingido no teste anterior com todas as variáveis incluídas, não se
fazendo necessário excluir nenhuma das variáveis.
4.3 Análise de Dados em Painel
Com base nos indicadores do ambiente institucional e no índice de intensidade
da comunicação de RSC, procedeu-se à análise de dados em painel, com a finalidade de
testar as hipóteses da pesquisa. Os indicadores do ambiente institucional (ambiente de
governança, PIB per capita, CPI, e nível educacional) foram utilizados como variáveis
independentes do modelo, tendo como variável dependente o índice de intensidade da
comunicação de RSC.
Como existem três modelos para análise de dados em painel (POLS, Efeitos
Fixos e Efeitos Aleatórios), foram realizados testes para verificar o modelo que melhor
se adequa aos dados. Desta forma, compararam-se as estimativas do modelo Pooled
com o de Efeitos Fixos, de Pooled com o de Efeitos Aleatórios, e Efeitos Aleatórios
com Efeitos Fixos, utilizando-se o teste de Breusch-Pagan (1980), o teste F e o teste de
Hausman (1978). O teste de Breusch-Pagan (1980) foi feito entre o modelo Pooled e o
de Efeitos Aleatórios e teve como resultado valor p 0,356. Logo, aceita-se o modelo
Pooled como o melhor a ser aplicado. Em seguida foi feito o teste de F entre o modelo
Pooled e o de Efeitos Fixos, obtendo um valor p de 0,003, aceitando-se, portanto, o
modelo de Efeitos Fixos como o melhor a ser aplicado. O teste de Hausman (1978)
obteve um valor p 0,058E-04. Assim, com base nos testes aplicados, o modelo de
Efeitos Fixos mostrou-se o mais adequado.
88
O modelo inicial de efeitos fixos, que utilizou os efeitos do indivíduo e do
tempo, tem seu resultado apresentado na Tabela 09.
Tabela 09 - Modelo de Efeitos Fixos I.
Variáveis Coeficiente Erro padrão Estatística t Valor p
Ambiente de
Governança
-0,641 1,1893 -0,539 0,5984
PIB per capita -0,0003 0,0002 -1,2543 0,2303
CPI 0,3656 0,9165 0,3989 0,696
Nível Educacional 2,885 3,845 0,7505 0,4654
R² 0,2743
R² Ajustado 0,1372
Estatística F 1,3232
Valor p 0,3094
Fonte: Dados da pesquisa.
Conforme a Tabela 09, nenhuma das variáveis foi considerada significativa, não
influenciando assim o índice de intensidade da comunicação de RSC. Esse modelo
apresenta um R² ajustado de 13,72%. No entanto, o modelo apresenta um valor p de
0,309, considerado não significativo.
Para confirmar a significância ou não dos efeitos do tempo e do indivíduo foi
realizado o teste de Gourieroux, Holly e Monfort (1982), que resultou na não utilização
dos dois efeitos no modelo, pois o valor p foi 0,874. Neste contexto, se aceita a hipótese
nula de não significância desses efeitos. Assim, o modelo de efeitos fixos utilizado deve
conter somente os efeitos dos países ou os efeitos do tempo.
Consequentemente, foi realizado o teste de Gourieroux, Holly e Monfort (1982),
separadamente, para os efeitos do tempo e efeitos do indivíduo, com a finalidade de
confirmar qual efeito deveria ser utilizado no modelo. O modelo de efeitos fixos
utilizando somente os efeitos do tempo obteve o valor p de 0,604, considerado não
significante. Optou-se, portanto, pela utilização dos efeitos do indivíduo (país), que
apresentou um valor p de 0,180, significante ao nível de 20%. Posteriormente foi gerado
um novo modelo de efeitos fixos, utilizando somente os coeficientes dos países. A
Tabela 10 demonstra o resultado do novo modelo.
89 Tabela 10 - Modelo de Efeitos Fixos II.
Variáveis Coeficiente Erro padrão t-value p-value
Ambiente de Governança -1,5782 8,2953E-01 -1,9025 0,0716
PIB per capita -4,919E-05 1,326E-04 -0,3708 0,7147
CPI -3,587E-01 7,740E-01 -0,4633 0,6481
Nível Educacional 6,2437 1,3945 4,4775 0,00023
R-Squared 0,5893
Adj. R-Squared 0,4209
F-statistic 7,173
p-value 0,0009
Fonte: Dados da pesquisa.
Como demonstrado na Tabela 10, o novo modelo as variáveis de ambiente de
governança e nível educacional foram consideradas significantes, ao nível de 10%. O
modelo apresenta R² ajustado melhor que o do modelo anterior, com o valor de 42,09%.
Com a retirada do efeito do tempo, o modelo aumentou seu poder explanatório e teve as
variáveis ambiente de governança e nível educacional consideradas significativas no
modelo.
A partir do novo modelo foram analisadas as variáveis independentes,
observando a sua influência na intensidade da comunicação de RSC. Neste contexto, a
variável nível educacional apresenta uma influência positiva sobre o crescimento da
intensidade da comunicação de RSC. A variável ambiente de governança apresenta
uma influência negativa sobre a intensidade comunicação de RSC.
Observa-se que neste novo modelo de efeitos fixos, como demonstrado na
Tabela 11, todos os países são distintos em comparação ao Brasil, isto é, o modelo para
explanar as influências sobre a intensidade da comunicação de RSC difere nos países,
identificando uma heterogeneidade nos aspectos do país.
Tabela 11 - Modelo Efeito Fixo II – Efeito do Indivíduo.
Países Coeficiente Erro padrão p-value
Chile -11,904 4,5018 0,0082
México -15,0297 2,2995 6,313E-11
Panamá -19,871 3,1831 4,30E-10
Fonte: Dados da pesquisa.
90
Conforme Tabela 11, onde são apresentados os valores dos coeficientes dos
países, isto é, seu intercepto em relação ao Brasil, todos os países são considerados
significantes, apresentando, portanto, distinção entre os países.
4.4 Análise das Hipóteses
A hipótese 1 (H1) trata do impacto da variável ambiente de governança na
variável dependente intensidade da comunicação de RSC, tendo como enunciado:
“Países com ambiente de governança mais rule-based tendem a ter uma maior
intensidade da comunicação de RSC”.
A variável ambiente de governança foi formada pelo somatório dos indicadores
do WGI: voz e accountability, estabilidade política e ausência de violência, eficácia
governamental e estado de direito. Como demonstrado na seção 4.3, a variável ambiente
de governança (p = 0,0716) impactou a variável dependente, a um nível de significância
de 10%, visto que seu coeficiente se apresentou significativamente diferente de zero, e
coeficiente de -1,5782, tendo um impacto diferente daquele proposto na hipótese com
base na revisão teórica apresentada na subseção 2.4.1. Desta forma, pode-se afirmar que
H1 foi rejeitada, pois a variável apresenta uma relação negativa com a variável
dependente, resultado contrário ao proposto pela hipótese.
A hipótese 2 (H2) trata do impacto do desenvolvimento econômico do país na
variável dependente intensidade da comunicação de RSC, tendo como enunciado:
“Países mais desenvolvidos economicamente tendem a ter uma maior intensidade
comunicação de RSC”.
A variável PIB per capita (p = 0,7147), que representou o desenvolvimento
econômico, não apresentou, conforme demonstrado na seção 4.3, significância
estatística. Portanto, pode-se afirmar que H2 não foi suportada, pois a variável
independente não explica a variável dependente.
A hipótese 3 (H3) trata do impacto da corrupção governamental sobre a variável
dependente intensidade da comunicação de RSC, tendo como enunciado: “Países com
menor presença de corrupção governamental tendem a ter uma maior intensidade da
comunicação de RSC”.
A variável CPI (p = 0,6481), que representou o índice de corrupção
governamental do país, não apresentou, conforme demonstrado na seção 4.3,
significância estatística. Portanto, pode-se afirmar que H3 não foi suportada, pois a
variável independente CPI não explica a variável dependente.
91
A hipótese 4 (H4) trata do impacto do nível educacional sobre variável
dependente intensidade da comunicação de RSC, tendo como enunciado: “Países com
maior nível educacional tendem a ter uma maior intensidade da comunicação de RSC”.
A variável média de anos de escolaridade dos adultos, que representou a variável,
obteve significância estatística (p = 0,00023), e coeficiente de 6,2437, tendo impacto
sobre a intensidade da comunicação de RSC. Desta forma, pode-se afirmar que H4 foi
suportada, pois a variável apresenta a relação semelhante à proposta na hipótese com
base na revisão teórica apresentada na subseção 2.4.4.
No Quadro 09 os resultados da pesquisa são sintetizados, demonstrando quais
hipóteses foram suportadas e quais não foram pelo modelo.
Quadro 09 - Síntese dos resultados.
Hipóteses Variáveis Resultado
H1 – Ambiente de
Governança
Somatório das variáveis do WGI (significante): voz e
accountability, estabilidade política e ausência de violência,
eficácia governamental e estado de direito.
Não suportada
H2 – Desenvolvimento
Econômico
PIB per capita (não significante) Não suportada
H3 – Corrupção
Governamental
CPI (não significante) Não suportada
H4 – Nível
Educacional
Média de anos de escolaridade dos adultos (significante) Suportada
Fonte: Dados da pesquisa.
A influência do ambiente de governança e do nível educacional, dentre outros
achados, serão comentados na seção a seguir.
4.5 Discussão dos Resultados
Nesta seção serão discutidos os resultados, orientados pela resposta às hipóteses
e levando em consideração cada uma das variáveis. A partir da análise dos dados
constatou-se que a hipótese H4 foi suportada, enquanto as hipóteses H1, H2 e H3 não
foram suportadas, como mostrado na seção 4.4 e resumido no Quadro 09. Vale destacar
que o modelo de dados em painel de efeitos fixos utilizados não demonstrou efeitos do
tempo significantes.
Em termos da variável ambiente de governança, ainda que a variável tenha
obtido significância, a hipótese não pôde ser suportada, pois a variável apresentou
coeficiente contrário ao proposto, representando uma relação inversa entre o ambiente
de governança rule-based e a intensidade da comunicação de RSC. Estudos anteriores,
92
como o de Lattemann et al. (2009) e o de Li et al. (2010), encontraram uma relação
positiva entre o ambiente de governança rule-based e as práticas de RSC.
Lattemann et al. (2009), apesar de ter encontrado uma relação positiva entre
ambiente de governança rule-based e a comunicação de RSC, ao estudar a China e a
Índia, argumentam que economias do Leste Asiático obtiveram sucesso ao manter seu
ambiente de governança relation-based durante seus estágios emergentes. Conforme Li,
Park e Li (2004), o modelo relation-based é o mais indicado para economias que
possuem mercado pequeno, anti-competitivo, onde existe um pequeno número de
parceiros de transação e há pequeno alcance das atividades intra e interfirmas.
Li e Filer (2007) destacam que, embora a maioria das pesquisas classifique os
ambientes relation-based como pobres, ineficazes para proteger os direitos de
propriedade e prejudiciais ao investimento, esta visão é simplista, pois muitos países
com um sistema relation-based atraem uma quantidade significativa e crescente de
investimento estrangeiro, tais como a China e a Rússia. Isto significa que esses
investidores devem ter encontrado um ambiente relation-based eficiente e eficaz para
proteger o seu investimento. A governança deve ser considerada como um continuum
entre dois extremos, relation-based de um lado e rule-based na outra ponta, no qual
dificilmente se encontrará uma estrutura de governança em um dos extremos.
Assim, um motivos para que o impacto do ambiente de governança sobre a
intensidade da comunicação de RSC ter sido negativo pode ser o fato das economias
dos países estudados, apesar do crescimento e desenvolvimento conquistados nas
últimas décadas, ainda encontrarem-se em estágios de desenvolvimentos emergentes,
fase em que o ambiente relation-based torna-se mais eficiente que o rule-based, haja
visto que evita grandes investimentos no desenvolvimento da infraestrutura requerida
por um ambiente de governança rule-based.
Outra explicação para o fato do impacto negativo do ambiente de governança
sobre a intensidade de comunicação de RSC, é o fato do índice de intensidade de
comunicação de RSC ser dado pelo comportamento das empresas, organizações estas
que atuam em um mercado global, sofrendo influencia não só do seu país de origem,
mas de outros países onde atuam, do setor ao qual pertencem e do comportamento de
seus concorrentes. Lim e Tsutsui (2012) asseveram que as atividades de RSC sofrem
efeito do contexto nacional e internacional. Globalmente há uma crescente exigência
por transparência nas organizações (ARVIDSSON, 2010; BARTLETT; DEVIN, 2011),
fazendo com que as empresas preocupem-se em comunicar suas ações. Além disso,
destaca Robertson (2009), a proeminência da internet e outras formas de comunicação
93
global tornaram não mais possível para a RSC (ou a falta de RSC), em qualquer país,
permanecer escondida do resto do mundo. Este potencial de monitoração global tende a
levar a padronização das práticas de RSC.
Lim e Tsutsui (2012) afirmam que, neste cenário, as empresas dos países em
desenvolvimento, ao sofrerem pressões da sociedade internacional, passam um processo
mimético, juntando-se a estruturas globais de RSC. Tem-se assim um aumento do
isomorfismo nas estruturas, comportamentos e políticas de organizações locais em
vários contextos nacionais, adotando modelos legítimos na sociedade internacional.
Portanto, a intensidade da comunicação de RSC pode ser influenciada por pressões
globais, o que explica o fato desta aumentar ainda que o ambiente de governança do
país seja relation-based.
Em relação à variável desenvolvimento econômico, representado pela variável
PIB per capita, surpreendeu pelo fato de não apresentar impacto sobre a intensidade da
comunicação de RSC. Estudos anteriores, como o de Baughn, Body e McIntosh (2007)
e Li et al. (2010), apontam que um maior nível de riqueza permite ao cidadão
preocupar-se com o bem-estar não econômico da sociedade, pressionando as
organizações e fazendo maiores exigências de responsabilidade corporativa.
No entanto, a riqueza per capita (PIB per capita) não é o único indicador de
desenvolvimento econômico, devendo ser levados em consideração indicadores como o
controle do governo sobre a economia e a tipologia do sistema econômico. Estudos
como o de Chapple e Moon (2005) e o de Lim e Tsutsui (2012), sugerem utilizar os
investimentos diretos estrangeiros como medida de desenvolvimento econômico. O fato
de considerar somente o PIB per capita como medida de desenvolvimento econômico
pode ser um dos motivos desta variável não ter sido considerada significativa.
Como afirmado por Mahmood e Humphrey (2013), o estágio de
desenvolvimento econômico de um país pode conduzir a uma diferente percepção dos
stakeholders quanto à importância das atividades de RSC. Os países estudados podem
se encontrar em um estágio de desenvolvimento econômico no qual há maior ênfase nos
benefícios econômicos que as empresas podem gerar para a sociedade ao invés das suas
práticas de RSC.
A variável corrupção governamental, representada pela variável CPI, não
impactou a intensidade da comunicação de RSC. Rodríguez, Uhlenbruck e Eden (2005)
argumentam que, ao se comparar países, uma simples percepção do nível de corrupção é
insuficiente. Para que haja comparações significativas de corrupção entre os países, é
necessário avaliar a natureza da corrupção local, que é concebida como uma
94
combinação de duas características essenciais para se compreender a diferenciação de
corrupção entre países: difusão e arbitrariedade. A difusão capta o grau em que uma
empresa é obrigada a lidar com o comportamento corrupto. Arbitrariedade capta o grau
de ambiguidade associado com as transações corruptas em uma determinada nação ou
estado. Essa estrutura bidimensional para descrever corrupção local permite
compreender de forma significativa os desafios da corrupção em um determinado estado
e como eles diferem daquelas em outros estados, de modo a evitar ou explorá-los.
Portanto, as ações das empresas não sofrem somente influência da corrupção
governamental, mas também da natureza da corrupção (difusão e arbitrariedade). Essa
pode ser a principal explicação para a corrupção governamental não ter sido considerada
significativa, pois o estudo focou-se somente no nível da corrupção governamental. A
intensidade da comunicação de RSC pode sofrer também influência do tipo de
corrupção, ou junção do nível de corrupção e sua natureza. Outra explicação é que o
indicador escolhido, CPI, pode não ser a melhor representação da corrupção
governamental.
A variável independente nível educacional, considerada significante, corrobora
com a hipótese proposta. Tem-se que quanto maior é o nível educacional do país, maior
a intensidade da comunicação de RSC. Estudos anteriores de Quazi (2003), Sobczak,
Debucquet e Havard (2006), Tseng et al. (2010), Cheah et al. (2011), Huang (2013),
Pérez e Rodríguez del Bosque (2013) e Cai e Aguilar (2013), indicavam a importância
do nível educacional.
Quazi (2003) evidenciou o efeito positivo do nível educacional sobre a
percepção dos gestores em relação às implicações de RSC. Huang (2013) destaca que o
nível educacional dos CEO, particularmente a especialização educacional em cursos de
MBA (Master of Business Administration) e de MS (Master of Science), afetam
positivamente o desempenho de RSC das suas empresas. Conforme Sobczak,
Debucquet e Havard (2006), fatores como o nível educacional e a orientação
educacional também impactam positivamente sobre a percepção do negócio e atitudes
pessoais em relação a conceitos e ferramentas de RSC de estudantes e jovens gestores.
Pérez e Rodríguez del Bosque (2013) destacaram o efeito positivo de níveis
educacionais sobre o nível de consciência de responsabilidade social dos clientes. Cai e
Aguilar (2013), ao analisar o comportamento dos consumidores da indústria madeireira
dos Estados Unidos e da China, apontam que os níveis de escolaridade dos
consumidores influenciam suas escolhas em relação a de que empresas comprar. Os
95
entrevistados de nível de ensino superior, de ambos os países, possuem preferências
mais elevadas, buscando produtos de organizações de nível de RSC mais elevados.
Por sua vez, Tseng et al. (2010) argumentam que a educação tem papel
fundamental na implementação da RSC nas pequenas e médias empresas. A educação
tem papel vital na comunicação e persuasão dos funcionários e acionistas a apoiar a
RSC, ajudando a equipe a estabelecer e aprofundar ideias de RSC, treinar os
funcionários acerca da RSC e internalizar conceitos de responsabilidade social
corporativa.
Cheah et al. (2011) demonstram que, quanto maior o nível educacional dos
investidores, mais eles tendem a conscientes e preocupados com os impactos
socioambientais das atividades das empresas, sendo também mais céticos em relação
aos relatórios anuais das organizações.
Como destacado por Gao (2010), as questões educacionais são essenciais para o
progresso humano, o desenvolvimento da sociedade, e a criação de um ambiente
econômico saudável. A educação exerce um papel-chave como motor do bem-estar, a
longo prazo, dos países em desenvolvimento. E, como demonstrado pelas pesquisas
citadas acima, a educação também exerce papel importante em relação à RSC. Nessa
linha, o presente estudo amplia a importância do nível educacional, mostrando que este
também impacta de forma positiva na intensidade de comunicação de RSC.
96
5 CONCLUSÕES
O presente capítulo apresenta as conclusões do trabalho. Este capítulo está
dividido em quatro itens: Atendimento aos Objetivos Propostos (seção 5.1);
Contribuições da Pesquisa (seção 5.2); Limitações da Pesquisa (seção 5.3); Sugestões
para Pesquisas Futuras (seção 5.4).
5.1 Atendimento aos Objetivos Propostos
O presente estudo teve como objetivo analisar a influência do ambiente
institucional de Brasil, Chile, México e Panamá sobre a intensidade de comunicação de
responsabilidade social corporativa das maiores empresas desses países. Propôs-se a
responder à seguinte pergunta de pesquisa: Diferentes ambientes institucionais presentes
nos países da América Latina, em especial Brasil, Chile, México e Panamá, influenciam
a intensidade da comunicação de responsabilidade social corporativa de suas maiores
empresas?
Para responder tal pergunta foram necessários atingir os três objetivos
específicos propostos: a) identificar as semelhanças e diferenças do Brasil em
comparação ao Chile, México, e Panamá em relação aos seus ambientes institucionais
(características econômicas e socioculturais); b) analisar a comunicação de
responsabilidade social corporativa das maiores empresas dos países estudados através
de informações extraídas dos relatórios destas organizações; e c) identificar as
semelhanças e diferenças do Brasil em comparação ao Chile, México, e Panamá em
relação à intensidade de comunicação de responsabilidade social corporativa.
Através da análise dos dados, utilizando a técnica de análise de dados em painel,
demonstrou-se que as variáveis do ambiente institucional explicam cerca de 42,09% da
intensidade da comunicação de RSC. Dentre os modelos de efeitos fixos testados, o
modelo considerado significante utilizou os efeitos do indivíduo, não apresentando os
efeitos do tempo significância no modelo.
O modelo teve as variáveis ambiente de governança e nível educacional
consideradas significativas. A variável nível educacional apresentou uma influência
positiva sobre o crescimento da intensidade da comunicação de RSC, suportando assim
a quarta hipótese da pesquisa. A variável ambiente de governança apresentou uma
influência negativa sobre a intensidade da comunicação de RSC, demonstrando uma
97
relação diferente da proposta pela primeira hipótese da pesquisa e, portanto, refutando-
a. As variáveis de desenvolvimento econômico e da corrupção governamental não
mostraram-se significativas, não suportando assim à segunda e terceira hipóteses da
pesquisa.
Ao analisar a influência do ambiente de governança, encontrou-se uma relação
inversa entre o ambiente de governança rule-based e a intensidade da comunicação de
RSC. O resultado encontrado pode ser explicado pelo fato das economias dos países
estudados encontrarem-se em estágios de desenvolvimentos emergentes, fase em que o
ambiente relation-based torna-se mais eficiente. Outra explicação para o impacto
negativo do ambiente de governança sobre a intensidade da comunicação de RSC trata-
se da influência do contexto internacional, que tende a levar a padronização das práticas
de RSC globalmente.
Os resultados da pesquisa não encontraram relação significante entre o
desenvolvimento econômico do país e a intensidade da comunicação de RSC. Sugere-se
a inserção de outros indicadores econômicos, como o controle do governo sobre a
economia, a tipologia do sistema econômico e os investimentos diretos estrangeiros, que
podem trazer uma melhor perspectiva mais completa de desenvolvimento econômico do
país.
O fato da corrupção governamental não ter impactado sobre a intensidade da
comunicação de RSC pode ser explicado pelo fato do estudo não avaliar a natureza da
corrupção (difusão e arbitrariedade), característica essencial para se compreender a
diferenciação de corrupção entre países. Portanto, a intensidade da comunicação de
RSC pode sofrer também influência do tipo de corrupção, ou junção do nível de
corrupção e sua natureza. Outra possível para o resultado encontrado reside no fato do
indicador escolhido, CPI, talvez não ser a melhor representação da corrupção
governamental.
Por fim, a significância da variável nível educacional, corroborou com estudos
anteriores, como os de Quazi (2003) e Huang (2013), que demonstraram o efeito
positivo do nível educacional sobre a percepção dos gestores em relação às implicações
de RSC e sobre o desempenho de RSC de suas empresas; o estudo de Sobczak,
Debucquet e Havard (2006), que demonstrou a influência do nível educacional e da
orientação educacional sobre a percepção do negócio e atitudes pessoais em relação a
conceitos e ferramentas de RSC de estudantes e jovens gestores; os estudos de Pérez e
Rodríguez del Bosque (2013) e Cai e Aguilar (2013), que mostraram que os clientes
socialmente responsáveis são aqueles que tem maior nível educacional, possuindo
98
níveis de preferência mais elevados; o estudo de Tseng et al.(2010), que argumentam
que a educação tem papel fundamental na implementação da RSC nas pequenas e
médias empresas; e o estudo de Cheah et al. (2011), que demonstra que o nível
educacional influencia os investidores a serem mais preocupados com os impactos
socioambientais das empresas e a serem mais céticos em relação aos relatórios anuais
destas. O estudo contribuiu ao ampliar a importância do nível educacional,
evidenciando seu impacto sobre intensidade da comunicação de RSC.
O Quadro 10 relaciona as variáveis utilizadas na pesquisa com a síntese dos
resultados alcançados.
Quadro 10 - Síntese das conclusões.
Variáveis Resultados
Ambiente de
Governança
A variável influenciou negativamente a intensidade da comunicação de RSC.
Uma explicação pode ser o fato das economias dos países estudados ainda
encontrarem-se em estágios de desenvolvimentos emergentes, fase em que o
ambiente relation-based torna-se mais eficiente que o rule-base. Outra
explicação pode vir do fato do índice de comunicação de RSC ser obtido pelo
comportamento das empresas, organizações estas que atuam em um mercado
global, sofrendo pressões globais de padronização de práticas de RSC.
Desenvolvimento
Econômico
A variável não influenciou a intensidade da comunicação de RSC. Uma explicação
pode vir do fato do PIB per capita, indicador utilizado, não ser o único indicador
de desenvolvimento econômico, devendo ser levados em consideração indicadores
como o controle do governo sobre a economia e a tipologia do sistema econômico.
Corrupção
Governamental
A variável não influenciou a intensidade da comunicação de RSC. O estudo
considerou somente o nível de percepção da corrupção governamental, índice este
que pode não ser suficiente para demonstrar a variação da corrupção entre os
países. Rodríguez, Uhlenbruck e Eden (2005) argumentam que faz necessário
também avaliar a natureza da corrupção (difusão e arbitrariedade). Essa pode ser a
principal explicação para a corrupção governamental não ter sido considerada
significativa. Outra explicação é que o indicador escolhido, CPI, pode não ser a
melhor representação da corrupção governamental.
Nível Educacional A variável influenciou positivamente a intensidade da comunicação de RSC.
Estudos anteriores de Quazi (2003), Sobczak, Debucquet e Havard (2006), Huang
(2013), Pérez e Rodríguez del Bosque (2013), Cai e Aguilar (2013), Tseng et
al.(2010) e Cheah et al. (2011) evidenciavam a influência do nível educacional,
respectivamente, sobre a percepção e desempenho de gestores e estudantes em
relação às implicações, conceitos e ações de RSC, sobre a consciência de
responsabilidade social dos clientes, sobre a implementação da RSC em pequenas e
médias empresas, e sobre a preocupação dos investidores em relação aos impactos
socioambientais das empresas. Destaca-se também o papel-chave que a educação
exerce como motor do bem-estar, a longo prazo, dos países em desenvolvimento
(GAO, 2010). A presente pesquisa amplia a importância do nível educacional,
demonstrando sua influência sobre a intensidade de comunicação de RSC.
Fonte: Dados da pesquisa.
Assim, a partir dos resultados do presente estudo, pode-se afirmar que o nível
educacional e o ambiente de governança influenciam a comunicação de RSC das
organizações, merecendo estas variáveis maior atenção em futuros estudos.
99
5.2 Contribuições da Pesquisa
A pesquisa traz como contribuição para a RSC o fato de estudar a comunicação
de RSC e sua relação com o ambiente institucional de países emergente, países latino-
americanos, que foram poucos estudados nessa área. Deste modo, os resultados desta
pesquisa ampliam a discussão acerca da influência dos países sobre a comunicação de
RSC. Enriquece-se a literatura sobre a comunicação de RSC, que não possui uma
literatura extensa dentro das discussões de RSC.
Diferente de outros estudos, que utilizaram somente as empresas como unidade
de análise, o presente estudo utilizou os países, trazendo uma nova perspectiva de
análise da influência do ambiente institucional sobre a comunicação de RSC. Futuras
pesquisas podem ser feitas utilizando os países como unidade de análise.
Os indicadores utilizados para mensurar as variáveis independentes também
podem ser considerados uma contribuição. Até então, não foram encontrados estudos
que utilizassem o nível educacional como uma das variáveis do ambiente institucional, e
nem o índice de comunicação de RSC do país (calculado pela o índice de comunicação
de RSC das empresas do país), podendo ser utilizados em futuras pesquisas, pois
mostraram-se adequados à presente pesquisa.
A presente pesquisa contribui para ampliar os conhecimentos sobre o ambiente
institucional e sua influência sobre a comunicação de RSC ao demonstrar que algumas
variáveis do ambiente institucional (ambiente de governança e nível educacional) tem
poder de influenciar a intensidade de comunicação de RSC, tratando-se, portanto, de
uma contribuição relevante para a literatura. Futuros estudos poderão aprofundar o
impacto dessas variáveis de forma mais específica sobre a intensidade da comunicação
de RSC.
5.3 Limitações da Pesquisa
Como principais limitações, pode-se citar: a) o curto período de tempo estudado,
b) redução do tamanho da amostra, e c) dificuldade na disponibilidade de dados anuais
de nível educacional.
O período de tempo analisado foi limitado pela indisponibilidade de indicadores,
que não apresentam em suas bases índices referentes ao ano de 2013, e também pela não
disponibilidade de ranking das 2000 maiores empresas da Forbes de anos anteriores ao
de 2007. O curto período de tempo estudado (2006 a 2012) pode não ser suficiente para
100
capturar mudanças dentro do ambiente institucional, motivo este que resultou na não
utilização dos efeitos do tempo no modelo de dados em painel de efeitos fixos.
A amostra foi reduzida de mais de 47 empresas para 32 empresas, devido a não
disponibilidade de relatórios anuais ou de sustentabilidade nos websites das empresas.
Isso pode ter impactado no resultado final das estatísticas. Observou-se também que a
quantidade de empresas que tiveram seus relatórios analisados pode representar uma
amostra não representativa do universo dos países.
Outra limitação foi a dificuldade na disponibilidade de dados anuais de nível
educacional. Muitas das bases de dados disponíveis na internet, como a do Banco
Mundial, da Unesco, dentre outras, não apresentava dados completos dos quatro países
no período de 2006 a 2012. Isso pode ter impactado no resultado final das estatísticas,
uma vez que indicadores mais recomendados para representar o nível educacional não
puderam ser utilizados.
5.4 Sugestões para Pesquisas Futuras
Com base nos resultados obtidos e considerando a necessidade de contribuições
do trabalho realizado, apresentam-se como sugestões para a condução de próximos
trabalhos:
Replicar a presente pesquisa com uma amostra de dados de empresas de outros
países latino-americanos.
Replicar a presente pesquisa em um período de tempo superior ao utilizado neste
trabalho, podendo assim compreender melhor a dinâmica das mudanças
institucionais.
Pesquisar o impacto de outras variáveis do ambiente institucional sobre a
comunicação de RSC, como a taxa de desemprego, indicadores de investimentos
estrangeiros e o índice Gini, dentre outros.
Realizar pesquisa sobre comunicação de RSC utilizando as variáveis indústria e
tamanho da empresa como variáveis de controle, ou mesmo variáveis
independentes.
Realizar pesquisa sobre comunicação de RSC utilizando variáveis que representem
as pressões institucionais globais que levam as organizações à padronização.
101
REFERÊNCIAS
ABRANTES, P. Towards a new relation with education and work? Youth transitions in
Europe and in Latin America. CIES e-Working Papers, p.01-27, 2010.
ABREU, M. C. S.; BARLOW, C. A comparative picture of corporate social
responsibility approaches by leading companies in the United Kingdom and
Brazil. Social Responsibility Journal, v. 9, n.4, p.571-588, 2013.
AGUILERA, R. V.; JACKSON, G. The cross-national diversity of corporate
governance: dimensions and determinants. Academy of Management Review, v.28, n.
3, p.443-465, 2003.
ALON, I.; LATTEMANN, C.; FETSCHERIN, M.; LI, S.; SCHNEIDER, A-M. Usage
of public corporate communications of social responsibility in Brazil, Russia, India and
China (BRIC). International Journal of Emerging Markets, v.5, n.1, p.6-22, 2010.
AMAESHI, K.; AMAO, O. O. Corporate social responsibility in transnational spaces:
explore influences of varieties of capitalism on expression of corporate codes of conduct
in Nigeria. Journal of Business Ethics, v.86, n.2, p.225-239, 2009.
ANTUNES, L. A escalada global do Chile. Exame, edição 951, p.116-118, 03 de
setembro de 2009.
ARAÚZ, H. B; VASQUEZ, C. I. L. Panamá: el crecimiento económico a expensas de la
política. Revista de Ciência Política, v.33, n.1, p.287-301, 2013.
ARAYA, M. Exploring Terra Incognita: nonfinancial reporting in corporate Latin
America. Journal of Corporate Citizenship, v.21, p.25–39, 2006.
ARVIDSSON, S. Communication of corporate social responsibility: a study of views of
management teams in large companies. Journal of Business Ethics, v.96, n.3, p.339-
354, 2010.
BAQUERO, M. Quando a instabilidade se torna estável: poliarquia, desigualdade social
e cultura política na América Latina. Revista Debates, v.2, n.2, p.48-69, 2008.
BARTLETT, J. L.; DEVIN B. Management, communication, and corporate social
responsibility. In: IHLEN, O.; BARTLETT, J. L; MAY, S. (org.). The Handbook of
Communication and Corporate Social Responsibility. Oxford: Wiley-Blackwell, 2011,
p. 47-66.
BASU, K.; PALAZZO, G. Corporate social responsibility: a process model of
sensemarking. The Academy of Management Review, v.33, n.1, p.122-136, 2008.
BAUGHN, C.; BODIE, N.; MCINTOSH, J. Corporate social and environmental
responsibility in Asian countries and other geographical regions. Corporate Social
Responsibility and Environmental Management, v.14, n.4, p.189–205, 2007.
BHATTACHARYA, C. B.; SEN, S. Doing better at doing good: when, why and how
consumers respond to corporate social initiatives. California Management Review,
v.47, n.1, p.9-24, 2004.
102
BECKER-OLSEN, K. L.; TAYLOR, C. L.; HILL, R. P.; YALCINKAYA, G. A cross-
cultural examination of corporate social responsibility marketing communications in
Mexico and the United States: strategies for global brands. Journal of International
Marketing, v.19, n.2, p.30-44, 2011.
BECKMAN, T.; COLWELL, A.; CUNNINGHAM, P. H. The emergence of corporate
social responsibility in Chile: the importance of authenticity and social networks.
Journal of Business Ethics, v.86, n.2, p.191-206, 2009.
BIRD, F.; SMUCKER, J. The social responsibilities of international business firms in
developing areas. Journal of Business Ethics, v.73, n.1, p.1-9, 2007.
BLASCO, M.;ZØLNER, M. Corporate social responsibility in Mexico and France:
exploring the role of normative institutions. Business & Society, v. 49, n. 2, p.216-251,
2010.
BLOWFIELD, M.; MURRAY, A. Corporate responsibility: a critical introduction.
New York: Oxford University Press, 2008.
BREUSCH, T.; PAGAN, A. The LM test and its applications to model specification in
econometrics. Review of Economic Studies, v. 47, n.1, p. 239-253, 1980.
BROOKES, M.; BREWSTER, C.; WOOD, G. Social relations, firms and society: a
study of institutional embeddedness. International Sociology, v.20, n.4, p.403-426,
2005.
BROWNE, V. P. En la prensa escrita chilena: características de la cobertura informativa
de la responsabilidad social empresarial. Cuadernos de Información, v.27, n.2, p.123-
135, 2010.
BUDNIK, J. A.; CHÁVEZ, R.C.; LÓPEZ, J. G.; ROJO, J. R.; EDMONSON, R. S.;
MORALES, M. S. La empresa educativa chilena. Educação & Sociedade, v.32, n.115,
p.305-322, 2011.
CAI, Z.; AGUILAR, F. X. Consumer stated purchasing preferences and corporate social
responsibility in the wood products industry: A conjoint analysis in the U.S. and China.
Ecological Economics, v.95, n., p.118-127, 2013.
CAMPBELL, J. L. Institutional analysis and the paradox of corporate social
responsibility. American Behavioral Scientist, v.49, n.7, p.925-938, 2006.
CAMPOS, L. M. S.; SEHNEM, S.; OLIVEIRA, M. A. S.; ROSSETTO, A. M.;
COELHO, A. L. A. L.; DALFOVO, M. S. Relatório de sustentabilidade: perfil das
organizações brasileiras e estrangeiras segundo o padrão da Global Reporting Initiative.
Gestão & Produção, v.20, n.4, p.913-926, 2013.
CAPRIOTTI, P.; MORENO, A. Corporate citizenship and public relations: the
importance and interactivity of social responsibility issues on corporate websites.
Public Relations Review, v.33, n.1, p.84-91, 2007.
103
CASANOVA, L.; DUMAS, A. Corporate social responsibility and Latin American
multinationals: is poverty a business issue? Universia Business Review, n.25, p.132-
145, 2010.
CASTRO, M. L. S. A educação na América Latina: antigos dilemas em novo contexto.
Educação, v.31, n.2, p.182-188, 2008.
CEPAL. Anuario Estadístico de América Latina y el Caribe 2012. Disponível em:
<http://interwp.cepal.org/anuario_estadistico/anuario_2012/es/contents_es.asp>. Acesso
em: 14 de abril de 2013.
CHAPPLE, W.; MOON, J. Corporate Social Responsibility (CSR) in Asia: A Seven-
Country Study of CSR Web Site Reporting. Business & Society, v.44, n.4, p.415-441,
2005.
CHATTERJI, A.; LEVINE D. Breaking down the wall of codes: evaluating non-
financial performance measurement. California Management Review, v.48, n.2, p.29-
51, 2006.
CHAUDHRI, V.; WANG, J. Communicating corporate social responsibility on the
internet: a case study of top 100 information technology companies in India.
Management Communication Quartely, v.21, n.2, p.232-247, 2007.
CHEAH, E.-T.; JAMALI, D.; JOHNSON, J.E.V.; SUNG, M.-C. Drivers of corporate
social responsibility attitudes: the demography of socially responsible investors. British
Journal of Management, v.22, n.2, p.305-323, 2011.
CLAESSENS, S.; DELL’ARICCIA, G.; IGAN, D.; LAEVEN, L. Cross-country
experiences and policy implications from the global financial crisis. Economic Policy,
v.25, n.62, p. 267-293, 2010.
CONCEIÇÃO, S. H.; DOURADO, G. B.; SILVA, S. F. Global reporting initiative
(GRI) – um estudo exploratório da prática de evidenciação em sustentabilidade
empresarial na América Latina. Revista Gestão, Finanças e Contabilidade, v.2, n.3,
p.17-38, 2012.
CPI. Corruption Perception Index. Disponível em: < http://www.transparency.org/research/cpi/overview>. Acesso em: 14 de abril de 2013.
___. Corruption Perception Index 2013. Disponível em: < http://cpi.transparency.org/cpi2013/results/>. Acesso em: 24 de maio de 2014.
CRÍTICA. Panamá realizará prueba PISA en el 2015. Disponível em: < http://www.critica.com.pa/notas/1390378-panama-realizara-prueba-pisa-en-el-2015>.
Acesso em: 26 de maio de 2014.
CRONBACH, L. J. Coefficient alpha and the internal structure of tests.
Psychometrika, v.16, n.8, p.297-334, 1951.
CUNHA, A. M.; PRATES, D. M.; FERRARI-FILHO, F. Brazil responses to the
international financial crisis: a successful example of keynesian policies?
Panoeconomicus, v.5, edição especial, p. 693-714, 2011.
104
DACIN, T. M.; GOODSTEIN, J.; SCOTT, W. R. Institutional theory and institutional
change: introduction to the special research forum. Academy of Management Journal,
v.45, n. 1, p.45-57, 2002.
DAHER, C. E. Testes empíricos de teorias alternativas sobre a determinação da
estrutura de capital das empresas brasileiras. Dissertação de Mestrado. Universidade
de Brasília, Brasília, 2004.
DAWKINS, J. Corporate responsibility: the communication challenge. Journal of
Communication Management, v.9, n.2, p.108-119, 2004.
DIMAGGIO, P. J.; POWELL, W. W. The iron cage revisited: institucional
isomorphism and collective rationality in organizational fields. American Sociological
Review, v.48, n.2, p.147-160, 1983.
DOH, J. P.; RODRÍGUEZ, P.; UHLENBRUCK, K.; COLLINS, J.; EDEN, L. Coping
with corruption in foreign markets. Academy of Management Executive, v.17, n.3,
p.114-129, 2003.
DU, S.; BHATTACHARYA, C. B.; SEN, S. Maximizing business returns to corporate
social responsibility (CSR): the role of CSR communication. International Journal of
Management Reviews, v.12, n.1, p.8-19, 2010.
DUARTE, P.C.; LAMOUNIER, W.M.; TAKAMATSU, R.T. Modelos econométricos
para dados em painel: aspectos teóricos e exemplos de aplicação à pesquisa em
contabilidade e finanças. In: Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade,
4.,2007, São Paulo, Anais... São Paulo: FEA/USP, 2007.
EISENEGGER, M.; SCHRANZ, M. Reputation management and corporate social
responsibility. In: IHLEN, O.; BARTLETT, J. L; MAY, S. (org.). The Handbook of
Communication and Corporate Social Responsibility. Oxford: Wiley-Blackwell, 2011,
p. 128-146.
ELLIS, L.; BASTIN, C. Corporate Social Responsibility in Times of Recession:
Changing Discourses and Implications for Policy and Practice. Corporate Social
Responsibility and Environmental Management, v.18, n.5, p.294-305, 2011.
FEDERASUR. Chile, Panamá, Brasil e México: melhores índices de produtividade
e competitividade na América Latina. Disponível em: <
http://federasur.org.br/2012/05/01/chile-panama-brasil-mexico-melhores-indices-de-
produtividade-competitividade-na-america-latina/>. Acesso em: 30 de abril de 2013.
FOSS, N. J. Understanding business systems: an essay on the economics and sociology
of economic organization. DRUID (Danish Research Unit for Industrial Dynamics)
Working Paper, 1997. Disponível em:
<http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.199.9108&rep=rep1&type=
pdf>. Acesso em: 03 de outubro de 2013.
FREDERICK, W. C. Corporate social responsibility: deep roots, flourishing
growth, promising future. In: CRANE, A.; MCWILLIAMS, A.; MATTEN, D.;
105
MOON, J. (org). The Oxford Handbook of Corporate Social Responsibility. New York:
Oxford University Press, 2008, p. 522-531.
FROSTENSON, M.; HELIN, S.; SANDSTRÖM, J. Organising corporate responsibility
communication through filtration: a study of web communication patterns in Swedish
retail. Journal of Business Ethics, v.100, n.1, p.31-43, 2011.
GAO, R. Education and Corporate Social Responsibility. Social Business/Enterprise
and Poverty Certificate Project, HEC Paris, 2010. Disponível em: < http://www.hec.edu/Media/Files/FR/Social-Business-Chair/memoire-Rong-Gao>.
Acesso em: 27 de maio de 2014.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
GJØLBERG, M. The origin of corporate social responsibility: global forces or national
legacies? Socio-Economic Review, v.7, n.4, p.605-637, 2009.
GOLOB, U.; BARTLETT, J. L. Communicating about corporate social responsibility:
A comparative study of CSR reporting in Australia and Slovenia. Public Relations
Review, v.33, n.1, p.1-9, 2007.
GOURIEROUX, C.; HOLLY, A.; MONFORT, A. Likelihood ratio test, Wald test, and
Kuhn-Tucker test in linear models with inequality constraints on the regression
parameters. Econometria, v.50, n.1, p.63-80, 1982.
GREENE, W. H. Econometric analysis. 5 ed. New Jersey: Prentice Hall, 2003.
GRI (Global Reporting Initiative). Diretrizes para a elaboração de relatório de
sustentabilidade. São Paulo, dez, 2006. Disponível em: <
https://www.globalreporting.org/resourcelibrary/Brazil-Portuguese-G3-Reporting-
Guidelines.pdf>. Acesso em: 04 de novembro de 2013.
GRIESSE, M. A. The geographic, political, and economic context for corporate social
responsibility in Brazil. Journal of Business Ethics, v.73, n.1, p.21-37, 2007.
GUADÁSEGUI, M. A. Panamá 2009: elecciones, crisis mundial y movimentos
sociales. Revista de Ciencia Política, v.30, n.2, p.419-437, 2010.
HAIR, J. F., TATHAM, R. L., ANDERSON, R. E.; BLACK, W. Análise multivariada
de dados. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.
HARTMAN, L. P.; RUBIN, R. S.; DHANDA, K. K. The communication of corporate
social responsibility: United State and European Union Multinational Corporations.
Journal of Business Ethics, v.74, n.4, p.373-389, 2007.
HAUSMAN, J. Specification tests in econometrics. Econometrica, v. 46, n.6, p.1251-
1271, 1978.
HUANG, S. K. The Impact of CEO Characteristics on Corporate Sustainable
Development. Corporate Social Responsibility and Environmental Management,
v.20, n.4, p.234-244, 2013.
106
IHLEN, O.; BARTLETT, J. L; MAY, S. Corporate social responsibility and
communication. In: IHLEN, O.; BARTLETT, J. L; MAY, S. (org.). The Handbook of
Communication and Corporate Social Responsibility. Oxford: Wiley-Blackwell, 2011,
p. 3-22.
_________. Rhetoric and corporate social responsibility. In: IHLEN, O.; BARTLETT,
J. L; MAY, S. (org.). The Handbook of Communication and Corporate Social
Responsibility. Oxford: Wiley-Blackwell, 2011, p. 147-166.
INFOBAE. Chile, el país con mejor educación de América Latina. Infobae, 08 de
dezembro de 2013. Disponível em: <http://www.infobae.com/2013/12/08/1529225-
chile-el-pais-mejor-educacion-america-latina>. Acesso em: 21 de maio de 2014.
JAHDI, K. S.; ACIKDILLI, G. Marketing communications on corporate social
responsibility (CSR): marriage of convenience or shotgun wedding? Journal of
Business Ethics, v.88, n.1, p.103-113,2009.
KOTZ, D. M. The financial and economic crisis of 2008: a systemic crisis of neoliberal
capitalism. Review of Radical Political Economics, v.41, n.3, p.305-317, 2009.
LATERCERA. Prueba Pisa: Chile sube dos puntos en Matemática, pero sus resultados
se estancan. Latercera, 03 de dezembro de 2013. Disponível em:
<http://www.latercera.com/noticia/nacional/2013/12/680-554492-9-prueba-pisa-chile-
sube-dos-puntos-en-matematicas-pero-sus-resultados-se-estancan.shtml>. Acesso em:
21 de maio de 2014.
LATIN TRADE. Latin America: the real deal. Disponível em:
<http://go.galegroup.com/ps/i.do?id=GALE%7CA254825880&v=2.1&u=capes58&it=r
&p=AONE&sw=w>. Acesso em: 18 de abril de 2013.
LATTEMANN, C.; FETSCHERIN, M.; ALON, I.; LI, S., SCHNEIDER, A-M. CSR
communication intensity in Chinese and Indian multinational companies. Corporate
Governance: an International Review, v.17, n.4, p.426-442, 2009.
LEVENE, H. Robust tests for equality of variances. In: OLKIN, I.; GHURYE, S. G.;
HOEFFDING, W.; MADOW, W. G.; MANN, H.B (org.). Contributions to Probability
and Statistics: Essays in Honor of Harold Hotelling. Menlo Park: Stanford University
Press, 1960, p. 278–292.
LI, S; PARK, S. H.; LI, S. The transition from relation-based governance to rule-based
governance. Organizational Dynamics, v.33, n.1, p.63–78, 2004.
____.; FILER, L. The effects of the governance environment on the choice of
investment mode and the strategic implications. Journal of World Business, v.42, n.1,
p.80–98, 2007.
____.; FETSCHERIN, M.; ALON, I.; LATTEMANN, C.; YEH, K. Corporate social
responsibility in emerging markets – the importance of the governance environment.
Management International Review,v.50, n.5, p.635-654, 2010.
107
____. China’s (painful) transition from relation-based to rule-based governance: when
and how, not if and why. Corporate Governance: An International Review, v.21,
n.6, p.567–576, 2013.
LIM, A.; TSUTSUI, K. Globalization and commitment in corporate social
responsibility: cross-national analyses of institutional and political-economy effects.
American Sociological Review, v.77, n.1, p.69-98, 2012.
LINDGREEN, A.; SWAEN, V. Corporate social responsibility. International Journal
of Management Review, v.12, n,1, p.1-7, 2010.
MAHMOOD, M.; HUMPHREY, J. Stakeholder Expectation of Corporate Social
Responsibility Practices: A Study on Local and Multinational Corporations in
Kazakhstan. Corporate Social Responsibility and Environmental Management,
v.20, n.3, p.168-181, 2013.
MAIGNAN, I.; FERRELL, O. C.; HULT, G. T. M. Corporate citizenship: cultural
antecedents and business benefits. Journal of the Academy of Marketing Science,
v.27, n.4, p.455-469, 1999.
____________.; RALSTON, D. A. Corporate social responsibility in Europe and U.S.:
insights from businesses’ self-presentations. Journal of International Business
Studies, v.33, n.3, p.497–514, 2002.
MARCH; J. G.; OLSEN, J. P. The new institutionalism: organizational factors in
political life. The American Political Science Review, v.78, n.3, p.734-749, 1984.
MARQUES, L.D. Modelos dinâmicos com dados em painel: revisão de literatura.
Dissertação de Mestrado - Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Portugal,
2000.
MATTEN, D.; MOON, J. “Implicit” and “explicit” CSR: a conceptual framework for a
comparative understanding of corporate social responsibility. Academy of
Management Review, v.33, n.2, p.404-424, 2008.
MEYSKENS, M.; PAUL, K. The evolution of corporate social reporting practices in
Mexico. Journal of Business Ethics, v.85, n.2, p.211-227, 2010.
MOLLER, R. Principios de desarollo sostenible para América Latina. Revista Escuela
Ingeniería de Recursos Naturales y del Ambiente, v.9, p.101-110, 2010.
MORSING, M. Corporate social responsibility as strategic auto-communication: on the
role of external stakeholders for member identification. Business Ethics: A European
Review, v.15, n.2, p.171-182, 2006.
_________, M.; SCHULTZ, M. Corporate social responsibility communication:
stakeholder information, response, and involvement strategies. Business Ethics: A
European Review, v.15, n.4, p.323-338, 2006.
NIELSEN, E.; THOMSEN, C. Reporting CSR – what and how to say it? Corporate
Communication: an International Journal, v.12, n.1, p.25-40, 2007.
108
________________________. Investigating CSR communication in SMEs: a case study
among Danish middle managers. Business Ethics: a European Review, v.18, n.1,
p.83-93, 2009.
NIETO, N. La corrupción política en México: del pasado a la transición democrática.
OBETS - Revista de Ciencias Sociales, v.8, n.1, p.127-145, 2013.
NWABUZOR, A. Corruption and development: new initiatives in economic openness
and strengthened rule of law. Journal of Business Ethics, v.59, n.1-2 ,p.121–138,
2005.
OKADA, A. Pisa 2009: Veja ranking de países em ciências; Brasil está em 53º. Uol
Educação, 07 de dezembro de 2010. Disponível em: < http://educacao.uol.com.br/noticias/2010/12/07/pisa-2009-veja-ranking-de-paises-em-
ciencias-brasil-esta-em-53.htm>. Acesso em: 20 de maio de 2014.
ORO, A. P.; URETA, M. Religião e política na América Latina: uma análise da
legislação dos países. Horizontes Antropológicos, v.13, n.27, p.281-310, 2007.
OWEN, D. L.; O’DWYER, B. Corporate social responsibility: the reporting and
assurance dimension. In: CRANE, A.; MCWILLIAMS, A.; MATTEN, D.; MOON, J.
(org). The Oxford Handbook of Corporate Social Responsibility. New York: Oxford
University Press, 2008, p. 384-409.
PAVONI, S. Americas: Panama - Economy - Panama's passage to growth. The
Banker, 1 de junho de 2013. Disponível em:
<http://go.galegroup.com/ps/i.do?id=GALE%7CA333553070&v=2.1&u=capes58&it=r
&p=AONE&sw=w&asid=798ad7baaad8a2010f24d5f5bc803758>. Acesso em: 02 de
novembro de 2013.
PEINADO-VARA, E. Corporate social responsibility in Latin America. Journal of
Corporate Citizenship, spring, n.21, p.61-69, 2006.
PÉREZ, A; RODRÍGUEZ DEL BOSQUE, I. Measuring CSR Image: Three Studies to
Develop and to Validate a Reliable Measurement Tool. Journal of Business Ethics,
v.118, n.2, p.265-286, 2013.
PEREZ-BATRES, L. A.; MILLER, V. V.; PISANI, M. J. Institutionalizing
sustainability: an empirical study of corporate registration and commitment to the
United Nations global compact guidelines. Journal of Cleaner Production, v.19, n.8,
p.843-851, 2011.
PERKS, K. J.; FARACHE, F.; SHUKLA, P.; BERRY, A. Communicating
responsibility-practicing irresponsibility in CSR advertisements. Journal of Business
Research, v.66, n., p.1881-1888, 2013.
PORTER, M. E.; KRAMER, M. R. Strategy and society: the link between competitive
advantage and corporate social responsibility. Harvard Business Review, v.84, n.12,
p.78-92, 2006.
109
PRIETO-CARRÓN, M.; LUND-THOMSEN, P.; CHAN, A.; MURO, A.; BHUSHAN,
C. Critical perspectives on CSR and development: what we know, what we don’t know,
and what we need to know. International Affair, v.82, n.5, p.977-987, 2006.
QUAZI, A. M. Identifying the determinants of corporate managers perceived social
obligations. Management Decision, v.41, n.9, p.822–831, 2003.
R CORE TEAM. R: A language and environment for statistical computing. R
Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria, 2014. Disponível em:
<http://www.R-project.org/>.
REFICCO, E.; OGLIASTRI, E. Empresa y sociedad en América Latina: una
introducción. Revista Latinoamericana de Administrácion, n.43, p.1-25, 2009.
REYNOLDS, M. A.; YUTHAS, K. Moral discourse and corporate social responsibility
reporting. Journal of Business Ethics, v.78, n.1-2, p.47-64, 2008.
RIBEIRO, E. A. Confiança política na América Latina: evolução recente e
determinantes individuais. Revista de Sociologia e Política, v.19, n.39, p.167-182,
2011.
ROBERTSON, D. C. Corporate social responsibility and different stages of cconomic
development: Singapore, Turkey, and Ethiopia. Journal of Business Ethics, v.88, n.4,
p.617-633, 2009.
RODRÍGUEZ, P.; UHLENBRUCK, K.; EDEN, L. Government corruption and the
entry Strategies of multinationals. Academy of Management Review, v.30, n.2, p.383-
396, 2005.
______________.; SIEGEL, D. S.; HILLMAN, A.; EDEN, L. Three lenses on the
multinational enterprise: politics, corruption, and corporate social responsibility.
Journal of International Business Studies, v.37, n.6, p.733-746, 2006.
ROGERS, W. M.; SCHMITT, N.; MULLINS, M. E. Correction for unreliability of
multifactor measures: comparison of Alpha and parallel forms approaches.
Organizational Research Methods, v. 5, n.2, p.184-199, 2002.
ROMERO, A. V. Los conflitos ambientales en una sociedad mundializada. Algunos
antecedentes y consideraciones para Chile. Revista Lider, v.13, p.193-214, 2005.
SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, P. B. Metodologia de pesquisa. 3 ed.,
São Paulo: McGraw-Hill, 2006.
SCHNEIDER, C. Q. Prospects for the consolidation of Latin American democracies:
rethinking the role of corruption and institutional trust. Sociologia, Problemas e
Práticas, n.42, p.65-90, 2003.
SELZNICK, P. Institutionalism “old” and “new”. Administrative Science Quarterly,
v.41, n.2, p.270-277, 1996.
SCOTT, W. R. Institutions and organizations: ideas and interests. 3 ed.,Thousand
Oaks: Sage Publications, 2008.
110
SOBCZAK, A.; DEBUCQUET, G.; HAVARD, C. The impact of higher education on
students’ and young managers’ perception of companies and CSR: an exploratory
analysis. Corporate Governance, v.6, n.4, p.463-474, 2006.
_____________.; MARTINS, L. C. The impact of interplay of national and global CSR
discourse: insights from France and Brazil. Corporate Governance, v.10, n.4, p.445-
455, 2010.
STEVENSON, W. J. Estatística aplicada à administração. São Paulo: Harbra, 2001.
TANG, L.; LI, H. Corporate social responsibility communication of Chinese and global
corporations in China. Public Relations Review, v.35, p.199-212, 2009.
TATE, W. L.; ELLRAM, L. M.; KIRCHOFF, J. F. Corporate social responsibility
reports: a thematic analysis related to supply chain management. Journal of Supply
Chain Management, v.46, n.1, p.19-44, 2010.
TEMPEL, A.; WALGENBACH, P. Global standardization of organizational forms and
management practices? What new institutionalism and the business-systems approach
can learn from each other. Journal of Management Studies, v.44, n.1, p.1-24, 2007.
THE ECONOMIST. No longer bottom of the class; Education in Brazil. The
Economist, 11 de dezembro de 2010. Disponível em:
<http://go.galegroup.com/ps/i.do?id=GALE%7CA243895010&v=2.1&u=capes58&it=r
&p=AONE&sw=w&asid=67f7809932672037f5ebbe335a22bb4e>. Acesso em: 13 de
novembro de 2013.
_______________. Schooling the whole family; education in Mexico. The
Economist, 14 de maio de 2011a. Disponível em: < http://go.galegroup.com.ez11.periodicos.capes.gov.br/ps/i.do?id=GALE%7CA2562040
24&v=2.1&u=capes58&it=r&p=AONE&sw=w&asid=9b168937f2cea19a9cb9a93ffc5b
694a>. Acesso em: 11 de novembro de 2013.
_______________. A Singapore for Central America? Panama's economy. The
Economist, 16 de julho de 2011b. Disponível em: < http://go.galegroup.com.ez11.periodicos.capes.gov.br/ps/i.do?id=GALE%7CA2613469
98&v=2.1&u=capes58&it=r&p=AONE&sw=w&asid=f8d46081f21e77c97cc26e7fa228
ccd7>. Acesso em: 02 de novembro de 2013.
_________________. Making the desert bloom; Mexico's economy. The
Economist, 27 de agosto de 2011c. Disponível em: < http://go.galegroup.com/ps/i.do?id=GALE%7CA265222381&v=2.1&u=capes58&it=r&
p=AONE&sw=w&asid=24bd1238444b24ee86eac3052dc2176f>. Acesso em: 11 de
novembro de 2013.
_________________. The earthbound bite back; Angry Panama. The Economist, 24 de
novembro de 2012. Disponível em: <
http://go.galegroup.com/ps/i.do?id=GALE%7CA309552850&v=2.1&u=capes58&it=r&
p=AONE&sw=w>. Acesso em: 18 de abril de 2013.
111
TSENG, Y. F.; WU, Y-C. J.; WU, W-H.; CHEN, C-Y. Exploring corporate social
responsibility education: The small and medium-sized enterprise viewpoint.
Management Decision, v.48, n.10, p.1514-1528, 2010.
TYBURSKI, M. D. The resource curse reversed? Remittances and corruption in
Mexico. International Studies Quartely, v.56, n.2, p.339-350, 2012.
UNDATA. Adult literacy rate. Disponível em: < http://data.un.org/Data.aspx?d=SOWC&f=inID%3A74>. Acesso em: 23 de maio de
2014.
UNDP. Mean years of schooling (of adults) (years). Disponível em: < https://data.undp.org/dataset/Mean-years-of-schooling-of-adults-years-/m67k-vi5c>.
Acesso em: 26 de janeiro de 2014.
UNIVERSIA CHILE. Provas Pisa: Chile continua à cabeça da região. Universia Chile,
06 de dezembro de 2013. Disponível em: <http://noticias.universia.cl/translate/es-pt/en-
portada/noticia/2013/12/06/1067984/pruebas-pisa-chile-continua-cabeza-region.html>.
Acesso em: 21 de maio de 2014.
UOL EDUCAÇÃO. Pisa: desempenho do Brasil piora em leitura e 'empaca' em
ciências. Uol Educação, 03 de dezembro de 2012. Disponível em:
<http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/12/03/pisa-desempenho-do-brasil-piora-em-
leitura-e-empaca-em-ciencias.htm>. Acesso em: 20 de maio de 2014.
URSINI, T.; BRUNO, G. Un panorama de la responsabilidad social empresarial em
América Latina. Revista TN Projetos Sociais, n.5, p.66-68, 2005. Disponível em:
<http://www.uniethos.org.br/_Uniethos/Documents/Proj_Soc_5-
ESPAN_panorama.pdf>. Acesso em: 24 de maio de 2014.
WADDOCK, S.; GOOGINS, B. K. The paradoxes of communicating corporate social
responsibility. In: IHLEN, O.; BARTLETT, J. L; MAY, S. (org.). The Handbook of
Communication and Corporate Social Responsibility. Oxford: Wiley-Blackwell, 2011,
p. 23-43.
WAGNER, T.; LUTZ, R. J.; WEITZ, B. A. Corporate hypocrisy: overcoming the threat
of inconsistent corporate social responsibility perceptions. Journal of Marketing, v.
73, n.6, p. 77-91, 2009.
WANDERLEY, L. S. O.; LUCIAN, R.; FARACHE, F.; SOUSA FILHO, J. M. CSR
information disclosure on the web: a context-based approach analyzing the influence of
country of origin and industry sector. Journal of Business Ethics, v.82, n.2, p.369-378,
2008.
WANG, J.; CHAUDHRI, V. Corporate social responsibility engagement and
communication by Chinese companies. Public Relations Review, v.35, n.3, p.247-250,
2009.
WELCH, B. L. On the comparison of several mean values: an alternative approach.
Biometrika, v.38, n.3/4, p.330-336, 1951.
WELFORD, R. Corporate social responsibility in Europe, North America and Asia.
Journal of Corporate Citizenship, n.17, p.33–52, 2005.
112
WGI. The worldwide governance indicators (WGI) project. Disponível em:
<http://info.worldbank.org/governance/wgi/index.asp>. Acesso em: 14 de abril de
2013.
WILLIAMS, C. A.; AGUILERA, R. V. Corporate social responsibility in a
comparative perspective. In: CRANE, A.; MCWILLIAMS, A.; MATTEN, D.;
MOON, J. (org). The Oxford Handbook of Corporate Social Responsibility. New York:
Oxford University Press, 2008, p. 452-472.
WHITLEY, R. How national are business systems? The role of different state types and
complementary institutions in constructing homogenous systems of economic
coordination and control. Workshop on National Business Systems in the New Global
Context, Oslo, 2003.
____________. Business systems and organizational capabilities. New York: Oxford
University Press, 2007.
WORLD BANK. GDP per capita (current US$). Disponível em: <
http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.PCAP.CD?page=1>. Acesso em: 14 de
abril de 2013.
________________. Gross domestic product 2012. Disponível em: < http://databank.worldbank.org/data/download/GDP.pdf>. Acesso em: 26 de maio de
2014.
ZUCKER, L. G. Institutional theories of organization. Annual Review of Sociology,
v.13, p. 443-464, 1987.
113
ANEXO A – Dados do ambiente institucional de Brasil, Chile, México e Panamá
por ano
País Ano
Ambiente de
Governança
– WGI
Desenvolvimento
Econômico - PIB
per capita (US$)
Corrupção
Governamental
- CPI
Nível Educacional
– Média de Anos de
Escolaridade dos
Adultos
Brasil 2006 -0,47 5.788 3,3 6,7
Brasil 2007 -0,52 7.194 3,5 6,8
Brasil 2008 -0,24 8.623 3,5 6,9
Brasil 2009 0,33 8.373 3,7 7,1
Brasil 2010 0,50 10.978 3,7 7,2
Brasil 2011 0,21 12.576 3,8 7,2
Brasil 2012 0,27 11.340 4,3 7,2
Chile 2006 3,95 9.371 7,3 9,4
Chile 2007 3,96 10.383 7 9,5
Chile 2008 3,85 10.672 6,9 9,6
Chile 2009 4,10 10.120 6,7 9,6
Chile 2010 4,34 12.685 7,2 9,7
Chile 2011 4,13 14. 513 7,2 9,7
Chile 2012 4,01 15.452 7,2 9,7
México 2006 -0,83 8.618 3,3 8
México 2007 -1,01 9.191 3,5 8,1
México 2008 -1,24 9.560 3,6 8,2
México 2009 -0,97 7.691 3,3 8,4
México 2010 -1,03 8.885 3,1 8,5
México 2011 -0,81 9.717 3 8,5
México 2012 -0,82 9.749 3,4 8,5
Panamá 2006 0,42 4.998 3,1 9,1
Panamá 2007 0,49 5.670 3,2 9,2
Panamá 2008 0,39 6.473 3,4 9,2
Panamá 2009 0,63 6.683 3,4 9,3
Panamá 2010 0,44 7.229 3,6 9,4
Panamá 2011 0,56 8.373 3,3 9,4
Panamá 2012 0,38 9.534 3,8 9,4
Fonte: CPI (2013), UNDP (2014), WGI (2013) e World Bank (2013).
114
APÊNDICE A – Script usado no programa R para a construção do modelo de
dados em painel
library(plm)
library(car)
#Dados
painel<-read.table('C:/Users/Fernanda Meireles/Testes/Dados em painel.txt',head=T)
painel
summary(painel)
#Teste para Efeitos individuais e de tempo
g<-plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="pooling")
plmtest(g,effect="twoways",type="ghm")
plmtest(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,effect="twoways",
type="ghm")
gw<-
plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,effect="twoways",mo
del="within")
gp<-
plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="pooling")
pFtest(gw,gp)
pFtest(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,effect="time")
#Teste de Hausman
painel.fe<-
plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="within")
painel.re<-
plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="random")
phtest(painel.fe,painel.re)
#Estimação dos Modelos
# Efeitos fixos
painel.fe<-
plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="within")
fixef(painel.fe,type='dfirst')
summary(fixef(painel.fe,type='dfirst'))
painel.twfe<-
plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="within",effec
t="twoways")
fixef(painel.twfe,effect="time")
summary(fixef(painel.twfe,effect="time"))
summary(fixef(painel.twfe,effect="individual",type="dfirst"))
summary(painel.twfe)
summary(painel.fe)
painel.ind<-
plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="within",effec
t="individual")
painel.ind
summary(painel.ind)
115
#Teste para Efeitos individuais e de tempo => bp entre pooled e efeito aleatório
g<-plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="pooling")
plmtest(g,effect="twoways",type="bp")
plmtest(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,effect="twoways",
type="bp")
=> Tabela países efeito fixo países
library(plm)
summary(painel.fe)
painel.ind<-
plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="within",effec
t="individual")
painel.ind
summary(painel.ind)
#Painel com os países
painel.fe<-
plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="within")
fixef(painel.fe,type='dfirst')
summary(fixef(painel.fe,type='dfirst'))
painel.fe<-
plm(RSC~WGI+PIBPERCAPIT+CPI+EDUCAÇÃO,data=painel,model="within")
fixef(painel.fe,type='dfirst')
summary(fixef(painel.fe,type='dfirst'))
116
APÊNDICE B – Intensidade da Comunicação de RSC das empresas
País Ano
Categorias da Intensidade de Comunicação de
RSC
Intensidade de Comunicação de RSC Princípios
motivadores de
RSC
Processos
de RSC
Questões dos
Stakeholders
Brasil 2006 2 5,6 8,08 15,69
Brasil 2007 2,38 5 8,15 15,54
Brasil 2008 2,38 5,46 8,08 15,92
Brasil 2009 2,31 5,23 8,46 16,00
Brasil 2010 2,23 5,38 9 16,62
Brasil 2011 2,23 5,62 8,85 16,69
Brasil 2012 2,15 5,69 8,62 16,46
Chile 2006 1,8 2,8 6,6 11,20
Chile 2007 2,6 3,8 7,4 13,80
Chile 2008 2,6 4 7 13,60
Chile 2009 2,6 3,2 6,2 12,00
Chile 2010 2,4 3,8 6,2 12,40
Chile 2011 2,6 3,8 6,6 13,00
Chile 2012 2,2 3,6 6,8 12,60
México 2006 1,42 3 4,83 9,25
México 2007 1,42 3,17 4,83 9,42
México 2008 1,58 3,75 5,17 10,50
México 2009 1,58 3,83 6,17 11,58
México 2010 1,67 4 6,17 11,83
México 2011 1,58 4,25 6,42 12,25
México 2012 1,5 4 5,92 11,42
Panamá 2006 1 3 3 7,00
Panamá 2007 2 3,5 4 9,50
Panamá 2008 2 3 5 10,00
Panamá 2009 2 4 4,5 10,50
Panamá 2010 2 4 5 11,00
Panamá 2011 2 4 5,5 11,50
Panamá 2012 1 5 4 10,00
Fonte: Dados da pesquisa.