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Profª. Luzia Tofalini (UEM)

Prof. Willian André (UNESPAR)

literaturasuicidio.wordpress.com

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Primeira parte_________________________

segunda-feira, 25/09, a partir das 18h30 (bloco H35, auditório do CCH)

SOBRE SUICÍDIO E LITERATURA: POSSÍVEIS OPERADORES DE LEITURA Willian André (UNESPAR) Ainda que o tema do autoaniquilamento possua presença constante em manifestações literárias de autores e períodos diversos, parece não haver, em estudos sobre literatura, um histórico correspondente de pesquisas acerca do assunto. Falta de opções não é a justificativa: além da quantidade expressiva de obras e autores que de alguma forma lidam com a morte voluntária, as possibilidades de abordagem também se revelam múltiplas. Partindo dessa constatação, este trabalho visa a oferecer alguns possíveis operadores de leitura para análises que pretendam se embrenhar pelo “mundo fechado do suicídio” (Alvarez, 1999), na tentativa de contribuir para a sistematização desse tipo de conhecimento em estudos literários. A apresentação se divide em duas partes principais. Em um primeiro momento, oferecemos alguns direcionamentos para análises: a questão da “re-presentação” do suicído em obras literárias; a influência do ato derradeiro sobre a imaginação criativa; possíveis entrelaçamentos entre o tratamento literário do assunto e o dado biográfico em obras de autores que cometeram suicídio; interpretações do autoaniquilamento na matéria literária enquanto fuga, performance, espetáculo, afirmação da liberdade individual ou de outros princípios; as reações e perspectivas de terceiros que precisam lidar com o atentado violento contra a própria vida por parte daqueles que lhes são próximos; aproximações e distanciamentos entre a abordagem do tema a partir dos estudos literários e de outras áreas que também se debruçam sobre ele, como a filosofia, a sociologia, a psicanálise, e a teologia; diálogos entre o suicídio na literatura e em outras manifestações artísticas, tais como pintura, cinema e música; a composição de mapeamentos; e confluências entre o tema da morte voluntária e outros temas afins na matéria literária, como a depressão, o trauma, o vazio, o silêncio, a angústia ou a melancolia. Em um segundo momento, tentamos inventariar alguns estudos que podem servir como suporte teórico-crítico para análises desse tipo. Para tanto, além de trabalhos pertencentes mais especificamente à área da literatura, recorremos a autores e obras de outras áreas do conhecimento, como

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filosofia, teologia, antropologia, sociologia e psicologia. Todas as possibilidades de abordagem e materiais aqui reunidos limitam-se ao âmbito da sugestão, e, da mesma forma, a proposta em questão não pretende ignorar que, esporadicamente, afloram em nosso meio estudos profícuos contemplando a questão do autoaniquilamento na literatura: nosso objetivo é muito mais o de trabalhar na consolidação de uma cultura consistente de abordagens semelhantes. Palavras-chave: Literatura e suicídio; operadores de leitura; possibilidades de abordagem. O SUICÍDIO DE JUDAS ISCARIOTES: REPRESENTAÇÕES BÍBLICAS DA MORTE Thaize Soares Oliveira (UFGD) O pensamento ocidental, tal como vemos hoje, parece ter sofrido certa influência da Bíblia. Apesar do distanciamento histórico, é perceptível a presença de “ecos” dos textos bíblicos em outros textos no decorrer dos séculos, isso nas mais diversas áreas do conhecimento. A Bíblia, apesar de ser foco conhecido da teologia, também traz possibilidades de análise que envolvam a literatura, a sociologia, a filosofia e outras. Isso se deve a sua “harmonização altamente heterogênea de códigos, dispositivos e propriedades lingüísticas” como corrobora Robert Alter e Frank Kermode (1997), e ainda outros fatores como estilo, estrutura e organização temática também colaboram para que este texto seja objeto de estudo de outras áreas. Northop Frye em seu livro O Código dos códigos: A Bíblia e a Literatura (2004) afirma que a Bíblia pode ser considerada uma pequena biblioteca, isso devido as mais variadas fontes, épocas e contextos que ela trata. Sabendo dessa amplitude, tem-se aqui o objetivo de tratar o texto bíblico pelo viés literário e as possíveis re-presentações que este traz em relação a morte, mais precisamente o suicídio. Para tanto, focaremos no personagem Judas Iscariotes, que é uma das personalidades mais repudiadas na história do Cristianismo, seja pela sua conduta como discípulo e traição, como também pela sua morte, o suicídio, narrado no Novo Testamento em Mateus 27:1-5 e Atos 1:16-19. Destarte, é sabido que são vários os escritores dos livros da Bíblia, e que cada um, a sua maneira, retrata os episódios com sua própria lente. Nesse sentido, o nosso desafio é refletir sobre as lentes dos escritores que se encontram no Novo Testamento, dentre eles os que escreveram os Evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), como também o do livro de João, e verificar de que forma eles detalham ou não, o mesmo episódio com tons diferentes. Sendo assim, é possível eu haja várias visões e representações do personagem Judas Iscariotes e essas

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interpretações podem expor um panorama sobre a temática do suicídio naquela sociedade. Também é válida a própria caracterização do personagem, suas motivações, seus sentimentos que culminaram no seu suicídio. Para tanto, é necessário apontar algumas considerações a respeito dos narradores presentes nesses textos, e também, algumas particularidades literárias do texto bíblico, onde serão válidas as colaborações de Robert Alter (1997; 2007), Frank Kermode (2007), Erich Auerbach (1976), e quanto às questões sociológicas relativas ao suicídio Émile Durkheim (2014). Palavras-chave: Bíblia; Literatura; Judas; Suicídio. TEMAS POLÊMICOS NA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL: PERCEPÇÕES SOBRE O SUICÍDIO EM CRIANÇAS E JOVENS Pedro Afonso Barth (UEM) O suicídio é um tema tabu que apresenta reverberações e conseqüências na vida de todos os envolvidos. Como é algo presente na vida concreta, é natural que crianças e adolescentes possam se deparar com situações em que o suicídio acontece. Por isso, é natural que obras para crianças e jovens lidem com essas questões. Entretanto, a questão que visamos compreender e responder: quando o suicídio é retratado em obras infantis/juvenis temos o olhar moralizador do adulto ou são as impressões de crianças e jovens e suas reações ao ponto principal das narrativas? Uma das principais características da Literatura Infantil e Juvenil de Qualidade é quando acontece o rompimento da assimetria: quando o mundo a criança e/ou do adolescente é retratado, sem o olhar moralizador e padronizador do adulto. Porém, durante muito tempo era comum e esperado que obras direcionadas para crianças e jovens evitassem determinadas temáticas como morte, doenças como AIDS, câncer e principalmente o suicídio. Percebe-se que essa barreira invisível vem sendo rompida. Em meados da década de 2010 observou-se um fenômeno mercadológico denominado como Sick-Lit, obras direcionadas para adolescentes que tratam de temas polêmicos como personagens depressivos, doenças terminais e tendências suicidas. São exemplos dessa tendência “A culpa é das estrelas”, de John Green, “As vantagens de ser invisível”, de autoria de Stephen Chbosky e “Os trezes porquês” de Jay Asher. Entretanto, ao falar da abordagem de temas polêmicos não podemos deixar de citar a obra da brasileira Ligia Bojunga, que durante décadas trouxe para a literatura infantil e juvenil o enfoque nesses temas polêmicos, como em “O Abraço”, que trata de estupro e “Meu Amigo Pintor” que retrata o suicídio. O presente trabalho tem o objetivo de discutir e refletir sobre o tratamento de temas polêmicos como o suicídio na Literatura Infantil e Juvenil refletindo sobre o modo que os

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personagens adolescentes e crianças lidam com o suicídio, especialmente nas obras anteriormente citadas. Para tanto, vamos articular tanto pesquisas sobre Literatura Infantil e Juvenil como as desenvolvidas por Loterman (2006), Zilberman (2003), Martha (2009), como reflexões sobre o suicídio com em Alvarez (1999) e Schopenhauer (1951). Não é possível ter conclusões absolutas sobre um tema tão amplo e polêmico, mas é possível apontar em cada uma das obras se há a articulação do olhar da criança e do adolescente sobre a questão do suicídio ou apenas o aproveitamento do tema como um mero chamariz para venda de produtos literários. Palavras-chave: Literatura Infantil; Literatura Juvenil; Suicídio; Sick-Lit; Assimetria. VAZIO E SUICÍDIO EM JERUSALÉM, DE GONÇALO M. TAVARES

Victor Matheus dos Santos (UEM) Orientadora: Luzia Tofalini (UEM)

Essa comunicação é fruto de uma pesquisa que faz parte do projeto Representações do vazio na literatura de Gonçalo M. Tavares,

vinculado à Universidade Estadual de Maringá. A metodologia do trabalho conjuga os métodos indutivo e dedutivo. Trata-se de um estudo que visa ao detalhamento das experiências de vazio realizadas pela personagem de nome Ernst, no livro intitulado Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares. Focaliza-se principalmente a tentativa de suicídio de uma das personagens e os possíveis motivos que a levaram a esse gesto extremo. Os principais objetivos consistem em: aprofundar conhecimentos relacionados à literatura; levantar elementos teóricos acerca do suicídio; discutir de que modo o suicídio é representado no texto literário. No intuito de alcancar tais objetivos, estabeleceu-se uma ordem de análise, levando em conta cronologia, acontecimentos e relevância das informações para a formação da personagem. O primeiro foco de análise e pesquisa prende-se à relação entre Ernst e o hospital Georg Rosenberg – o hospício onde Ernst viveu por um tempo – levando-se em conta que determinados eventos ocorridos ali são de extrema importância para a compreensão das ações da personagem. Dentre eles o encontro com Mylia e as repressões sofridas por Gomperz. O segundo ponto para estudo consiste nas relações entre Ernst e as experiências amorosas sofridas por ele. Dessa forma, será contextualizado desde seu envolvimento com Mylia até os acontecimentos após sua liberação (alta) do Georg Rosenberg. Em terceiro lugar será analisado o vazio da relação entre Ernst e seu filho Kaas. Apoiando-se na ideia de que Ernst é impedido de ter contato com o filho durante toda sua vida, prorar-se-á demonstrar os males que a falta dessa espécie de contato proporciona à

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personagem e como essa falta ajuda a aumentar a sensação de vazio sentido por Ernst. Um quarto ponto de análise é o fato de Ernst, após ser liberado do hospital Georg Rosenberg, não conseguir se encaixar em lugar nenhum. Após sua liberação, Ernst, por fatores como sua doença e seu histórico de internação não consegue se reinserir na sociedade. Levando em conta a relevância da exclusão social para os seres humanos, será explorado como isso ajuda a aumentar o vazio da personagem. Por fim, o último foco fica a cargo da relação entre Ernst e a morte, sendo ela abordada desde a tentativa de suicídio, momento em que conhecemos a personagem, até a presença da morte em várias cenas e falas da personagem Ernest. Estudos de autores como Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Émile Durkheim, Sigmund Freud estão entre aqueles que dão suporte a essa comunicação. Assim, por meio de uma pesquisa orientada visa-se a investigar e demonstrar modos pelos quais o suicídio é representado na literatura de Gonçalo M. Tavares. Palavras-chave: literatura, suicídio. Jerusalém, Gonçalo M. Tavares. O CARÁTER NA OBRA JERUSALÉM, DE GONÇALO M. TAVARES

Juliana A. B. Menezes (UNESP-ASSIS) O artigo, em questão, visa a construir um olhar reflexivo sobre a formação do caráter na obra Jerusalém (2004), de Gonçalo M. Tavares compreendendo ser este um espaço que caracteriza, de fato, o encontro entre leitor e autor via texto. Desse modo, quando o leitor aceita o jogo do autor e trilha as pistas deixadas pelo mesmo é que os sentidos são construídos no ato da leitura. O narrador, o enredo, as personagens são diferentes pontos de vista, ou melhor, perspectivas dentro da tessitura textual, em que o leitor decide em quem vai confiar ou acreditar. A relevância do tema faz-se necessário em um cenário dito "Pós-Moderno" em que a sensação é a de que nada mais é sólido, como disse Berman (1998). Nesse sentido, o grande problema parece ser o fato de alguns valores, sendo classificados como "bons" ou "maus", do ponto-de-vista do caráter, serem questionados. Como definir o que é ética, por exemplo, nesse novo modelo de pensar-viver. Respeito? Honestidade? Como as personagens de Gonçalo Tavares, em Jerusalém são construídas? Como o enredo, o espaço, o tempo contribuem para a construção de uma visão do sujeito pós-moderno? Como o caráter desses personagens é entrelaçado no texto? Desse modo, repensarmos sobre a formação do julgamento feito aos personagens desse romance poderia nos levar `a compreensão de uma liberdade questionável do ponto de vista moral. A pós-modernidade é composta pela fusão do mundo material (político, econômico, social) e espiritual (formado

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pelos imperativos artísticos e intelectuais autônomos). Um mundo oco, viciado, vazio que não raras vezes leva o sujeito ao ato extremo do suicídio. O sujeito pós-moderno é aquele que está imerso na cidade e alheio a ela. O constante paradoxo entre a ideia do progresso vinda das conquistas econômicas, culturais, políticas, tecnológicas, do tempo, do espaço, do conjunto de experiências que prometem aventura, conhecimento, novidade, em contrapartida ao isolamento do homem na sociedade e sua angústia. As personagens de Jerusalém são profundas, carregadas da dramaticidade peculiar aos que vivem em ambientes tensos e violentos. O silêncio é imposto aos personagens, logo a solidão e o sofrimento são frutos da angústia de ter consciência da falta de perspectiva de qualquer tipo de mudança ou ruptura. Nesse contexto, como avaliar condutas? Como julgar comportamentos? Como compreender o narcisismo de Gomperz e de Theodor Busbeck? Como avaliar o desespero de Ernest e a sua tentativa de suicídio? Palavras-chave: Jerusalém, Gonçalo Tavares, Caráter, Vazio, Suicídio. ENTRE A VIDA E A MORTE EM A DESUMANIZAÇÃO, DE VALTER HUGO MÃE Marco Antonio Hruschka Teles (UEM) Orientadora: Luzia Tofalini (UEM) Émile Durkheim, em O suicídio: estudo de sociologia (1973), atribui fatores sociais ao ato de dar cabo à sua própria vida. Segundo o sociólogo francês, quanto mais envolvido socialmente um indivíduo está, seja com relação à família, a grupo de amigos, à religião ou ao trabalho, menores as chances de cometer um suicídio. Ou seja, eliminando a possibilidade de um gene suicida no indivíduo, o motivo que o impulsionará ao ato derradeiro será sempre de cunho social. Por outro lado, Albert Camus, em O mito de Sísifo, trata da relação entre o pensamento individual e o suicídio. De acordo com o escritor argelino, “um ato desses se prepara no silêncio do coração” (2009, p. 18). Julgando que o sentido da vida é a mais importante das indagações, afirma que o único problema sério na filosofia é justamente o do suicídio. Camus, apropriando-se da célebre máxima de Shakespeare e utilizando-a a seu modo diria “Suicidar-se ou não se suicidar: eis a questão”. O presente trabalho aborda a questão do suicídio como uma possibilidade existencial, levando em consideração o ato como uma tentativa de encontro com um ideal de autenticidade. Em A

desumanização, de Valter Hugo Mãe, a narradora, Halla, é assolada pela ideia da morte e, em determinados momentos, o suicídio é uma possibilidade libertadora. Entre fiordes islandeses e outras

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paisagens não menos insólitas e recônditas, como as do âmago do Ser, Halla narra a sua jornada, que consiste na superação da perda de sua irmã gêmea. Após a morte de Sigridur, Halla vaga como um fantasma à procura de sua completude. A ideia do suicídio é vista como uma possibilidade ontológica pela menina, uma vez que somente se sentiria realizada ao lado da irmã. A sua existência só faria sentido se crescesse e compartilhasse as experiências no mundo na companhia daquela que simboliza o seu ponto de equilíbrio vital. Morte, assassinato e suicídio são palavras-chave desse romance que desestabiliza o leitor pela singeleza da trama, pelo teor poético da linguagem e pelas reflexões acerca do mistério que envolve o universo. Como suportar a existência quando a sua irmã gêmea, ainda criança, morre? Como lidar com a ausência de alguém que representa uma parte inestimável do seu próprio ser? Ao final da história, percebe-se que, como num inevitável ciclo, a morte (ou o matar) pode ser a porta de entrada para uma nova existência, a partir de então mais equilibrada pois que purificada pelo ritual de morte/renascimento. Palavras-chave: A desumanização; Valter Hugo Mãe; morte; suicídio. A ARENA INFERNAL DE STAVRÓGUIN: SUICÍDIO E DIALOGISMO N’OS DEMÔNIOS DE DOSTOIÉVSKI Thaís Figueiredo Chaves (UnB) O romance Os Demônios, de Fiódor Dostoiévski, foi publicado em 1872. A narrativa se desenvolve a partir de um grupo social existente na sociedade russa da época, a intelligentsia. O círculo é retratado como altamente influenciado pelas ideias europeias, afastado dos ideais do povo e dos valores religiosos. Para Dostoiévski, a Rússia ocidentalizada estava se tornando frívola e caótica. O protagonista, Nikolai Stavróguin, entediado e melancólico, encontrava-se perdido e desorientado nesta conjuntura. O aristocrata não possuía qualquer ideal verdadeiro, mas em cada diálogo que participava, conseguia convencer algum personagem de um ponto de vista diferente. Dono de personalidade niilista e descrente, o jovem não conseguia se expressar sozinho e necessitava de outras vozes para conferir sentido à sua autoconsciência cambiante. O poder de influência de Stavróguin era tóxico: provocou assassinatos, mortes e suicídios. Ao final do romance, quando todas as outras vozes do diálogo foram consumidas e silenciadas pelas chamas do seu inferno pessoal, Stavróguin também se mata. Para ele, diálogo significava vestígio de contato com o mundo exterior, portanto, enquanto conversou e ouviu as próprias ideias em voz alta, viveu. Ao esgotar as possibilidades discursivas exteriores e voltar-se para tipos de expressão

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ensimesmadas, começou a morrer. Prova disso é que nas três vezes que se dispôs a escrever, aproximou-se radicalmente do abismo existencial. Ato pessoal, a escrita o obrigou a lidar com o eu interior fragmentado e reconhecer-se exaurido, sem nada mais a expressar ou realizar. O presente trabalho analisará o autoaniquilamento do protagonista não como ação instantânea, mas como processo desenvolvido em múltiplas fases, fruto do esvaziamento da “arena de Stavróguin”. Conversas, cartas, gestos, bilhetes e outras formas de expressão pessoal emitidas pelo protagonista na busca pela própria voz serão analisadas. Tais comunicações expressavam instâncias de sua autoconsciência despedaçada, nunca um ponto de vista imutável. O trabalho partirá do ponto de vista do teórico Mikhail Bakhtin, segundo o qual a morte, em Dostoiévski, é sempre vivenciada pelo outro, e não pelo ser que morre. Portanto, haverá foco nas relações destrutivas construídas entre três personagens, através dos quais é possível perceber as nuances religiosas, sociopolíticas e filosóficas do suicídio de Stavróguin. Palavras-chave: Dostoievski; suicídio; Os demônios; dialogismo; polifonia. ASSIM NA VIDA COMO NA FICÇÃO: A LITERATURA COMO FORMA DE EXPRESSÃO DA ANGÚSTIA EXISTENCIAL NA OBRA DE HORACIO QUIROGA

Valeria Maria Lima Campos (UNEAL/UEM) Orientadora: Evely Vânia Libanori (UEM)

O suicídio é tabu em várias culturas e é um assunto debatido em várias disciplinas. Filosofia, sociologia, psicologia e literatura são apenas algumas delas. Segundo Camus (2010), este seria o único tema merecedor de discussão filosófica. Segundo a Organização Mundial de Saúde, de agora até 2020, 1,5 milhão de pessoas terão cometido suicídio, tendo esse ato se tornado questão de saúde pública. Angerami (1997), pondera que o estresse causado pelo estilo de vida agitado das grandes metrópoles, acaba por gerar sentimentos de abandono, solidão e desespero, gerando a angústia existencial em milhares de pessoas. Muitas sendo diagnosticadas com depressão e outras sem nenhum diagnóstico médico, sendo relatado apenas um vazio existencial. Esse vazio, essa angústia, torna-se, então, tão insuportável que para o indivíduo a morte torna-se uma alternativa à vida, solução para os problemas, alívio da dor, a dor de existir. Sendo, portanto, não o desejo de acabar com a vida, mas com o sofrimento causado por esta que levaria o indivíduo a suicidar-se. Porém, por vezes, os acometidos por essa angústia existencial buscam a fuga dessa realidade dolorosa

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através de realidades alternativas e as estampa nas páginas de seus livros. E, dessa forma, nascem obras cercadas de morte, de um pesar tão grande que chega a tocar os leitores de um jeito tão profundo que é como se o próprio estivesse repartindo a dor com as personagens do romance. Não é de se estranhar que muitas obras, grandes obras, estão repletas de terrores que atormentavam seus mestres criadores. Muitos são os exemplos na literatura mundial. Neste trabalho, abordaremos especificamente a obra de Horacio Quiroga, considerado um mestre da Literatura Fantástica, o Allan Poe latino-americano. Ao contrário dos dias atuais, Quiroga viveu numa época onde as 24 horas do dia não eram ainda consideradas insuficientes para viver adequadamente cada dia. Os ponteiros do relógio pareciam andar mais devagar, os afazeres eram menores, o tempo ou a falta deste não havia se transformado ainda no inimigo diário dos cidadãos pós-modernos, causando um estresse maior do que muitos podem suportar. Porém, a morte era algo constante desde seu nascimento. Essa sombra parecia pairar ao seu redor desde sempre. Tendo tido várias mortes na família; sendo a maior parte destas através do suicídio. Quiroga foi criado como cristão e o suicídio é considerado o maior pecado que um homem pode cometer, segundo a visão religiosa hebraico-cristã, o que não o impediu de tirar a própria vida. Nos países eslavos, o suicídio promoveu histórias tão macabras que assombram seus povos até os dias atuais. Já para outras culturas, como a nórdica, mais especificamente a viking, a morte em batalha significava a entrada para o reino de Valhalla, o equivalente ao paraíso. Já para muitos povos orientais, como os nipônicos, a morte é a solução para preservar a família do suicida da vergonha pelo fracasso deste. Na cultura judaica, a morte tem nome e forma, é conhecido por Azazel, o anjo da morte. Sendo a morte um anjo, portanto, não seria algo ruim, mas apenas mais uma das etapas da jornada do ser humano, uma que todos, sem exceção irão passar. Já na cultura ocidental, o tema da morte é algo evitado, é um tabu. Todos morrerão, mas não é necessário falar a respeito. Porém, alguns autores fazem questão de fazer deste o tema principal de sua escrita, como o fez Quiroga. Este trabalho tem, portanto, o objetivo de mostrar como a angústia existencial do autor diante de um contato familiar tão íntimo com a morte impregnou sua obra, moldando seu estilo e transformando-o no maior representante da Literatura Fantástica da América Latina. Eternizando-o como um grande escritor e aumentando a aura de mistério em torno de si ao colocar fim à própria angustia através do suicídio. Para fundamentar nosso trabalho, fizemos um levantamento da obra de Quiroga, separando algumas personagens que refletem o próprio autor, para fazer uma análise sob um viés existencialista, utilizando Sartre (2007) e Haidegger

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(2006), e demonstrando ainda que a morte, para Quiroga, era seu modo de vida, transformando sua angústia existencial diante do inevitável em literatura, através de sua obra. Palavras-chave: Angústia existencial; Morte; Suicídio; Literatura; Horacio Quiroga. O “SUICÍDIO FALHO” EM THE BELL JAR, DE SYLVIA PLATH

Lara Luiza Oliveira Amaral (UEM) Orientadora: Luzia Tofalini (UEM)

No romance The Bell Jar (1963), de Sylvia Plath, a personagem Esther Greenwood nos faz mergulhar no mundo suicida que a aprisiona. Asfixiada em sua própria redoma, seja na cidade pequena em que vive, seja em Nova York e seus milhares de caminhos e opções, Greenwood conta-nos uma parte de sua história. Após uma estadia em Nova York por ter ganhado uma bolsa de estudos da universidade, a personagem retorna para a cidade pequena em que morava com sua mãe. A volta para casa é um dos fatores que a levarão à depressão, culminando no seu internamento em uma clínica psiquiátrica. A personagem joga o tema do suicídio em sua narrativa através de reportagens, reflexões sobre o ato e até mesmo algumas “tentativas falhas”. Essas tentativas, que mais parecem “ensaios” por meio dos quais ela parece se acostumar aos poucos com a ideia de colocar um fim na própria vida, envolvem afogamentos, uso de gilete e enforcamento. Perto do final do romance, é descrita sua “tentativa quase não falha” (já que Esther a realiza, porém, sobrevive), por ingestão de pílulas, que a leva ao internamento. O autor A. Alvarez aborda, em O Deus Selvagem: um estudo do suicídio (1971), algumas falácias relacionadas ao suicídio, como, por exemplo, a falácia de que aqueles que ameaçam se matar na verdade nunca se matam, ou que aqueles que já tentaram alguma vez nunca tentarão novamente. A partir dessas reflexões, propomos uma relação entre as seis falácias citadas por Alvarez e o romance The Bell Jar. No prólogo de seu estudo, Alvarez discorre sobre o suicídio de Sylvia Plath, mostrando como o tema da morte e suicídio está presente em sua vida, e como esse tema pode refletir em sua obra. The Bell Jar é o único romance publicado por Plath, entretanto, em sua obra poética, vemos frequentemente o tema ser abordado (“Lady Lazarus”, “Morte & Co”, “O caçador”, poemas publicados no livro Ariel, 1965). Em A Poética do suicídio em

Sylvia Plath (2003), de Ana Cecília Carvalho, a escrita de Plath é colocada em foco, e a “poética do suicídio” seria uma forma de demonstrar como a melancolia atua em sua produção poética e ficcional. Além desses dois teóricos principais, abordaremos o estudo de Andrew Solomon, The Noonday Demon: an atlas of

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depression (2001), para fundamentar nossa discussão. Ao comentar sobre a depressão, o autor acaba por apontar para algumas “falácias” sobre o tema, assim como faz Alvarez. Manteremos o foco na relação que Solomon apresenta entre depressão e suicídio. No romance The Bell Jar, após sua tentativa de suicídio por ingestão de pílulas, Esther é internada em uma clínica e diagnosticada com depressão. Entretanto, antes do diagnóstico médico, o leitor já está ciente do problema, pelo modo como a narradora nos insere em sua própria redoma, nos deixando presos em seu ar viciado e denso. Palavras-chave: The Bell Jar; Sylvia Plath; literatura e suicídio. ARTAUD E A FABRICAÇÃO DA LOUCURA E DO SUICÍDIO

Renan Pavini (UEM/PUCPR) O Dictionnaire de psyquiatrie (1993), dirigido por Jacques Postel, define o suicídio como o “ato de se dar, a si mesmo, a morte”. Este ato pode ser tanto racionalmente, em função de considerações religiosas, filosóficas ou morais, quanto um ato patológico, devido a uma evolução de diversas afecções mentais. Nenhuma dessas causas foi o motivo de Van Gogh se matar, segundo Artaud. Diversamente, “Van Gogh não morreu em um estado de delírio próprio”, escreve, “ele não se suicidou num gesto de loucura”, mas “a sociedade, para puni-lo por se ter desvencilhado dela, o suicidou”. Artaud, em Van Gogh, le suicidé de la société (1947), somado a dois outros textos de seu período surrealista, que trazem a temática do suicídio de forma explícita (Sur le suicide (1925) e Le suicide est-il une solution? (1925)), acusa as instituições de tentarem impedir que homens de gênio – como Van Gogh, Nerval, Rimbaud, Poe, Lautréamont, Nietzsche – venham a revelar verdades que a própria sociedade não estaria pronta a escutar. Neste sentido, Artaud já antecipa alguns traços que virão nas profundas análises no pensamento de Foucault, as instituições disciplinares que têm como finalidade gerar corpos dóceis e, no limite, matáveis. Esta docilidade é contraposta com intensidade do viver artístico e, portanto, para conter este, a própria medicina e a psiquiatria tiveram que tratar a intensidade como um critério de doença (cf. O normal e o patológico de Canguilhem). Dessa forma, mostraremos que se o suicídio se tornou uma patologia no campo da psiquiatria, só o pôde por ser, no fundo, um engodo, uma ferramenta para dar fim a seres considerados perigosos para a sociedade que tem todo o interesse nestas mortes. Como pôr fim a esses seres considerados um perigo para a sociedade? Fazê-los se matarem. Como justificar esses suicidas? Tomando-os por loucos. É por esse mesmo motivo que tomaram Artaud por louco, segundo a argumentação de seu pensamento, é por isso que a sociedade criou

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instituições que selecionam seus loucos. “Certamente já morri faz tempo, já me suicidei. Me suicidaram, quero dizer”, escreve Artaud, “mas o que achariam de um suicídio anterior, de um suicídio que nos fizesse dar a volta, porém para o outro lado da existência, não para o lado da morte?” Assim, Artaud pensou não somente num suicídio arranjado, cometido pela assassina sociedade, mas um suicídio poético e é justamente por causa deste que a sociedade não consegue suportar mentes brilhantes: “Se eu me mato, não será para me destruir, mas para me reconstituir, o suicídio não será para mim senão um meio de me reconquistar violentamente, de irromper ritualmente em meu ser, de antecipar o avanço incerto de Deus”. Palavras-chave: Artaud; Suicídio; loucura; sociedade. O AMOR SUICIDA E A PALAVRA POÉTICA NO ROMANTISMO

Gabriel Pinezi (UTFPR) O vínculo entre amor, morte e literatura aparece na cultura ocidental desde a antiguidade, em torno do mito de Orfeu, poeta melancólico que desceu ao Hades em busca de sua amada morta. O canto de amor está necessariamente relacionado, neste mito, ao próprio vínculo humano entre linguagem, desejo e morte, pois cantar é manifestar a “presença da ausência” do ser amado – isto é, transformá-lo, pela força da poesia, em “signo”. Por isso, a lírica é, desde os gregos, pensada em sua relação com amor e a morte: trata-se de um modo de extrair, da própria palavra, um prazer mortal. Com o poder de sua lira, Orfeu busca ressuscitar em seu canto a Euridice amada, trazendo-a de volta da morte; mas, para isso, ele mesmo precisa descer ao reino de Hades, numa travessia de morte e ressurreição. O mito já ilustra que é na linguagem, portanto, que os mortos sobrevivem e, ao mesmo tempo, os vivos experimentam a própria mortalidade. Que nós, enquanto seres humanos, possamos amar aqueles a quem pesa a sombra da morte e, nesse amor, dilacerarmo-nos – isso é o que torna a poesia de amor possível. O objetivo dessa exposição é demonstrar que o tão antigo vínculo órfico entre o poeta de gênio e a melancolia, que perpassa o ocidente da antiguidade ao Romantismo, pode ser pensado em torno de uma “erótica da palavra”, em que se imbricam os temas da fantasia, do amor e da morte. Tentaremos demonstrar como a relação desses temas se apresenta no romantismo devido à herança histórica de uma certa compreensão medieval do “amor hereos” enquanto uma doença mortal que atormentava escritores e poetas. Segundo Agamben, em Estâncias, pode-se demonstrar a existência de uma teoria da poesia e da linguagem no fim do medievo, que, partindo dessa acepção erótica da melancolia, faz do amor uma

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experiência intrínseca à própria linguagem. A poesia é, nesse sentido, uma experiência erótica por si mesma, na qual o poeta extrai do canto a felicidade da impossível posse da mulher amada. A hipótese que gostaríamos de demonstrar é que esta acepção do gênio melancólico medieval em sua vinculação com uma certa compreensão do erotismo da palavra poética perpassa obras modernas em que a realização máxima do amor se dá no gesto suicida – como em Romeu e Julieta, de Shakespeare, Os sofrimentos do Jovem

Werther, de Goethe, os Hinos à noite, de Novalis, e Tristão e Isolda, de Richard Wagner. No entanto, ao contrário da experiência do amor cortês, que faz da ausência da amada na palavra poética a própria razão de viver e o antídoto contra esta “doença mortal” que é o amor hereos, os românticos elevam a “autodestruição” dos amantes como destino trágico e inevitável da paixão. Se o suicídio é a única forma de realizar a paixão romântica, é porque o amor é, em si mesmo, uma experiência mortal, para além de toda apreensão pela palavra. Palavras-chave: amor; suicídio; melancolia; gênio; romantismo.

Segunda parte_________________________

terça-feira, 26/09, a partir das 18h30 (bloco H35, auditório do CCH)

DAS EXPERIÊNCIAS DE VAZIO À TENTAÇÃO DO SUICÍDIO: JERUSALÉM DE GONÇALO M. TAVARES

Luzia Aparecida Berloffa Tofalini (UEM) Essa comunicação focaliza a problemática do vazio na literatura e a possibilidade de suicídio decorrente dela. A sensação de vazio tem como consequência uma profunda angústia que nasce na interioridade do ser. Os vazios são quase sempre incompreensíveis, uma vez que, emborao sujeito detecte a falta de algo, essa percepção ocorre de maneira difusa, obscura e confusa, impedindo-o de conseguir perceber nitidamente o que seja. Não raro a dor interior provocada pela sensação de vazio se torna insuportável, podendo levar o indivíduo à consumação do ato de tirar a própria vida. Há diversas espécies de vazio. Entre elas se podem contar o vazio místico, o vazio metafísico, o vazio existencial, o vazio virtual e o vazio de fundo psicanalítico. Se a tais elementos for ainda somada a individualidade do sujeito – com suas características próprias (de pensamento, de cultura, de história,

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de vida etc.) –, não é de estranhar que cada um tenha suas próprias experiências de vazio. O objetivo geral desse estudo consiste em analisar as experiências de vazio e o modo como elas se relacionam com a possibilidade de suicídio. O corpus escolhido como base das análises é o romance Jerusalém, do escritor português Gonçalo M. Tavares. O texto tem como protagonistas as personagens Mylia, Theodor e Ernest. Theodor Busbeck, um conceituado médico psiquiatra, casa-se e, mais tarde, divorcia-se de Mylia – portadora de problemas mentais. Ernest Spengler é um sujeito com transtornos mentais (esquizofrênico), também interno do Hospital Georg Rosenberg, que se apaixona por Mylia. As personagens sentem um profundo vazio do qual não conseguem se desvencilhar. Partindo de uma experiência de estresse pós-traumático, passando pela esquizofrenia e chegando à tentativa de suicídio, o romance cria uma realidade na qual os vazios – artisticamente construídos –, exercem papel importantíssimo para que se possa compreender o ser humano. De fato, as experiências de vazio vividas pelas personagens levam-nas a cometerem atos repulsivos. Como suporte teórico são convocados estudos sobre o vazio e/ou sobre o suicídio realizados por Zigmunt Bauman, Manuel Castells, Sigmund Freud, Émile Durkheim, Edgar Morin, Abrão Slavutzky, Humberto Correa e Sergio Perez Barreiro, entre outros. Espera-se contribuir com a discussão envolvendo tanto a problemática do vazio quanto do suicídio, bem como engrossar a fortuna crítica do escritor português. Palavras-chave: Vazio; Suicídio; Jerusalém; Gonçalo M. Tavares. PSICANALISANDO A LITERATURA: A IDEAÇÃO SUICIDA DE ERNST NO ROMANCE JERUSALÉM

Alessandro José Berloffa Tofalini (EPPM) Este trabalho examina a articulação entre a ideação suicida do personagem Ernst, do romance Jerusalém, de autoria de Gonçalo Manuel de Albuquerque Tavares – o corpus – e o arsenal teórico psicanalítico, principalmente no que se refere à obra Luto e

melancolia do fundador da psicanálise Sigmund Freud. Este estudo foi delineado a partir da hipótese de que diante do sentimento avassalador de vazio, o personagem Ernst, considera a possibilidade de recorrer ao suicídio para se livrar do desespero, da dor e da angústia diante do estado de desamparo psíquico que o domina em determinado momento do desenrolar da história. O presente trabalho justifica-se principalmente pela temática do suicídio que vem se tornando cada vez mais frequente no seio de nossa sociedade e, consequentemente, sendo cada vez mais debatida nos círculos psicanalíticos e nos centros de atenção à saúde

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mental. Além disso, o trabalho pretende engrossar a fortuna crítica relacionada à obra de Gonçalo M. Tavares, escritore português considerado “um abalo sísmico” nas letras lusas contemporâneas. Para a consecução do presente trabalho realiza-se uma pesquisa bibliográfica na qual se busca vincular alguns conceitos psicanalíticos ao romance Jerusalém, principalmente no que concerne à ideação suicida do personagem Ernst, constante já no início da obra. É necessário destacar que os métodos dedutivo e indutivo serão utilizados concomitantemente para a formulação das hipóteses acerca da ideação suicida de Ernst. A pesquisa teórica para a realização deste trabalho inclui as obras completas de Sigmund Freud, destacando-se o texto Luto e melancolia, escrito em 1915 e publicado pela primeira vez em 1917; o texto O medo do colapso constante no livro Explorações psicanalíticas, redigido em 1963 pelo pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott, além de outros autores que tenham abordado a temática do suicídio desde o ponto de vista psicanalítico. Espera-se, com este trabalho, contribuir para a discussão acerca da temática do suicídio, perpassada pelo ponto de vista psicanalítico, por meio de formulação de hipóteses que se acerquem ao referencial teórico da psicanálise, articulando-o às obras de artes literárias. Do diálogo entre o referencial teórico psicanalítico e a obra artístico-literário podem resultar esclarecimentos dos conceitos psicanalíticos e apreensões acerca de elementos contidos na obra. Palavras-chave: Literatura; Teoria Psicanalítica; suicídio; Jerusalém; Gonçalo M. Tavares. JERUSALÉM, DE GONÇALO M. TAVARES: O VAZIO E O SUICÍDIO MESCLADO DE LOUCURA E SANIDADE

Roberto Araújo da Silva (UEM) Essa comunicação visa a investigar o romance Jerusalém, do escritor português Gonçalo M. Tavares sob o vies do vazio e da possibilidade de suicídio. A obra traz à tona aquilo que o autor tem de mais próximo como visão da sociedade moderna, o que pode impactar o leitor, ao mergulhar em textos que o leva a refletir a respeito da loucura e da sanidade, que se tornam homogêneas, induzindo-o até mesmo a se confundir entre um e outro, podendo remeter a um questionamento já levantado por Álvaro de Campos no poema “Tabacaria”: “Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?” (PESSOA, 2007). Visto que já não sabemos até quais aspectos da realidade moderna podem ser considerados afetados por um grau de loucura ou sanidade ou, até que ponto é possível desresponsabilizar o ser por seus atos, visto que há um

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grau de anormalidade psíquica presente nele. O vazio torna-se essencial na composição dessa obra, uma consequência da vulnerabilidade profunda do ser humano, o qual muitas vezes, tem como características inerentes o medo, a debilidade, deficiência, angustias e traumas, que atingem de forma diferente cada individuo, porém com o vazio presente em todos. Tavares nos apresenta pessoas visivelmente em dependência à miséria da vida, já desgraçadas e deterioradas psicologicamente, nos põe de frente com a realidade quando traz à tona reflexão sobre o valor do ser humano, que compõe sua personalidade do fruto da deterioração do sofrimento psíquico, um ponto fundamental para a compreensão do desenvolvimento do enredo e de seus personagens. É esse vazio intrínseco ao ser humano que permite ser preenchido pela dor e pela loucura, muitas vezes fruto das mazelas morais, físicas e existenciais. A obra transcende a representação da visão que o autor tem da sociedade, se transforma em uma criação de um universo, com múltiplos sentimentos, como a dor, suicídio, medo da vida, amar e tendo o sofrimento e a violência como aspectos indispensáveis. O sofrimento é uma característica inconstante inerente ao homem, que só alcança a estabilidade com a morte, o que faz, muitas vezes, o ser ter apenas a fé a quem recorrer. Jerusalém traz uma complexidade capaz de trabalhar a interdisciplinaridade da literatura com a sociologia, psicologia e filosofia. Com esse trabalho, esperamos aprofundar conhecimentos relacionados à obra desse escritor, bem como contribuir para dar visibilidade a ela. Palavras-chave: Vazio; Loucura; Jerusalém; Gonçalo M. Tavares. A POÉTICA DO VAZIO EM JERUSALÉM, DE GONÇALO TAVARES

Vanessa Ferreira dos Santos Valles Leal (UEM) Orientadora: Luzia Tofalini (UEM)

A presente comunicação expõe de que forma o vazio existencial manifesta-se nas personagens de Jerusalém, um romance do escritor português Gonçalo M. Tavares. Sabendo que a literatura pode ser “[...] lida essencial e constantemente com a imagem do homem, com a forma e o estímulo da conduta humana.” (STEINER, 1988, p. 22) e que o enredo do romance está inserido no pós-guerra, no pós-holocausto, podemos inferir que as personagens tavarianas configuram-se como sujeitos fragmentados, integrantes da pós-modernidade (HALL, 2006) e da fase líquida (BAUMAN, 2007). As caracterizações e as relações existentes entre os personagens Mylia, Ernst Spengler, Theodor Busbeck, Kaas Busbeck, Hanna e Hinnerk Obst sugerem que suas existências são permeadas de vazio. É pelo crivo da poesia que compreenderemos o íntimo do ser,

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lembrando que “A arte poética nos estimula a questionar regimes políticos, valores sociais e religiosos, que geram guerras, injustiças sociais, crises existenciais, a infelicidade, enfim.” (D’ONÓFRIO, 2007, 11). Para tanto, será necessário interpretar a expressividade e a significação do silêncio – uma vez que “A poesia nasce no silêncio e no balbucio, no não poder dizer, mas aspira irresistivelmente a recuperar a linguagem como uma realidade total. O poeta transforma em palavra tudo o que toca, sem excluir o silêncio e os brancos do texto. (PAZ, 2012, p.288)” –, bem como a própria linguagem literária do escritor. Além disso, a representação do sujeito dos séculos XX e XXI na obra revela-nos o quão importantes têm sido as contribuições de outras áreas do conhecimento, como por exemplo a Filosofia e a Sociologia, para as interpretações literárias. A apresentação, enveredaremos especificamente nos estudos de Bauman e Sartre, este para compreender o sujeito em si e aquele para compreender a sociedade em geral. A análise da presença do vazio na literatura ajuda-nos a entender não só a personagem de ficção, mas também ao ser humano, ainda que de forma enviesada. Somente a poesia é capaz de identificar o vazio na literatura: “Conviver com a poesia, permite-nos estar de olhos mais abertos, olhando além do que se vê, percebendo outros detalhes dentro dos contornos visíveis. (PAIXÃO, 1982, p. 95)”, no entanto, atualmente, a sociedade confere a ela pouca importância (PAIXÃO, 1982). Quando captarmos a linguagem poética e aquilo que ela transmite, seremos sujeitos mais conscientes e menos fragmentados. Palavras-chave: Poesia, Vazio existencial, Jerusalém, Gonçalo M. Tavares. ANGÚSTIA/SUICÍDIO EM JERUSALÉM

Gabriela Fujimori da Silva (UEM) Orientadora: Luzia Tofalini (UEM)

Em Jerusalém, obra do escritor português Gonçalo M. Tavares, o tema da morte evidencia-se em suas diferentes facetas. Em um período pós-guerra, evidenciado como pano de fundo da sintaxe narrativa, a morte está nas atrocidades cometidas na Segunda Grande Guerra, um dos maiores assassínios em massa, bem como é constante na vida conturbada das personagens que compõe o enredo. As memórias do Holocausto da década de 1940 vão sendo resgatadas e há interferência na vida das personagens, que se revelam em situações-limite, acometidas pela angústia, dor e loucura. Neste trabalho o objetivo é analisar em especial o suicídio que se atrela à Ernest Spengler, homem esquizofrênico e que se coloca diante da opção da morte voluntária. Ernest, assim como outras

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personagens, é atormentado por lembranças, por circunstâncias de maus-tratos e indiferença que o levam ao desespero existencial. Nesse sentido, o suicídio aparece-lhe como única opção diante de uma vida fadada à tristeza e a uma existência violada. Se a abordagem da morte é questão normalmente polêmica e indesejável, tratar da morte voluntária parece ser um assunto ainda mais abominoso. Ao longo da história muito se discutiu em termos de se pensar o suicídio como um ato de covardia, comportamento antinatural ou mesmo um crime contra a sociedade e a honra. A busca pela compreensão da finitude é complexa, principalmente quando se discute sobre a morte que foi escolhida, motivada, como uma opção própria que abrevia a vida. Sendo de interesse de estudiosos de diferentes áreas, tais como a filosofia, sociologia, medicina, psicanálise, os literatos também se debruçam sobre o fenômeno. Da mesma forma que a ficção representa a vida, também a nega, A literatura, dada sua capacidade plurissignificativa, aborda temas de relevância universal, tal qual a morte e, assim, o suicídio, como uma de suas faces. O espaço literário permite o registro, transfigurado e/ou representativo da realidade, muitas das vezes, experiências de sobremaneira negativas. Em Jerusalém, o suicídio é uma das faces da morte e atrela-se ao sentimento de angústia de Ernest, desencadeada pela vivência no Hospício, onde era dia a dia hostilizado pelo superior Gomperz e à solidão obscura dentro de si, que o levaram a enxergar na janela de seu sótão uma abertura que o levaria ao escape de toda a existência amargurada. O aporte teórico deste trabalho envolve principalmente os estudos de Durkheim, O Suicídio: estudo de sociologia (2000); Marx, Sobre o suicídio (2000) e, Heidegger, Ser e tempo (2005). Palavras-chave: literatura, angústia, suicídio, Jerusalém. O VAZIO EXISTENCIAL E A MORTE EM UM HOMEM: KLAUS KLUMP, DE GONÇALO M. TAVARES

Alessandra Regina de Carvalho (UEM) Orientadora: Luzia Tofalini (UEM)

O ser humano sente medo, insegurança e desespero frente à existência, gerando em si angústia pela fragilidade das relações de natureza líquida, que se dissolvem muito mais rápido do que o tempo destinado a construí-las. O ser vê-se fragmentado, diluído, solitário, o que gera em si sentimento de vazio, angústia, melancolia e desespero que o remete ao vazio existencial. Esse vazio se constrói pela relação entre o ser que vive, e o todo disponível para ser escolhido viver ou não. A escolha em si já é motivo suficiente para o sofrimento gerado. A filosofia apresenta algumas causas para o vazio existencial. A primeira está na ideia

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de que Deus não existe, ou ainda, havendo a possibilidade de Deus existir, Este, necessariamente não atenderia às vontades humanas, o que não preencheria o vazio existencial. Outra forma deste vazio está na ideia de que a razão humana e a ciência são o único caminho para buscar a possibilidade de uma verdade, sendo o ser humano considerado apenas um ser biológico, que chegaria ao fim com a morte física. O vazio toma forma, e se constrói a agonia da alma. Em casos extremos, a angústia gerada leva o ser humano a uma dor dilacerante que conduz ao desespero, fazendo com que ele busque saídas não legitimadas, como o suicídio. De tudo o que se tem conhecimento sobre a vida, a única certeza é a morte. Se morrer é fato, o que fazer da vida? Deus existe? Pensar na morte gera no ser humano sentimentos antagônicos como fascínio e medo. A Literatura entra em cena para corroborar com a filosofia, sociologia, psicanálise, teologia, e demais áreas que estudam o ser humano e suas relações, contribuindo, assim, de forma a apresentar as várias representações do vazio. Temas recorrentes como trauma, depressão, silêncio, solidão, melancolia, desespero, morte e suicídio demonstram as possíveis causas do vazio existencial. Nesse sentido, o presente artigo pretende traçar um estudo acerca do vazio, da angústia, do desespero e da morte dentro da literatura. A obra escolhida é Um homem: Klaus Klump de Gonçalo M. Tavares. A análise será feita à luz de algumas teorias da confluência Literatura-Psicanálise, Literatura-Filosofia e Literatura-Sociologia. Assim, convocam-se os estudos de Sigmund Freud, Martin Heidegger, Jean Paul Sartre, Zygmunt Bauman, Eni Orlandi, David Émile Durkheim, Viktor E. Frankl, Gilles Lipovetsky, Philippe Árie, Rollo May. Palavras-chave: Vazio; Angústia; Desespero; Morte; Gonçalo M. Tavares. A NEGAÇÃO DO VAZIO NO CONTO: SOBRE AS ORIGENS (POUCO VISÍVEIS) DE UM SUICÍDIO, DE GONÇALO M. TAVARES

Ibrahim Alisson Yamakawa (UEM) Orientadora: Luzia Tofalini (UEM)

O presente artigo, fundamentado no conceito de silêncio primordial e na noção de vazio, pretende analisar o conto intitulado Sobre as origens (pouco visíveis) de um suicídio de Gonçalo M. Tavares à luz da obra de Santiago Kovadloff Silêncio Primordial (2003). A ideia é compreender os limites da representação do silêncio primordial e do vazio em sua relação com o suicídio representado nesse conto tavariano. O silêncio primordial, entendido como um vazio inevitável ou uma ausência originária, intrínseco a qualquer sujeito, corrobora a ideia de que o vazio é inerente ao sujeito.

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Assim, o vazio originário do silêncio primordial é condição à constituição do homem. Há uma ideia de vazio, no entanto, que escapa a essa condição fundamental. Trata-se da ideia de vazio que é o nada que falta à palavra, o vazio como ausência e negatividade dos sentidos. Trata-se da noção de esvaziamento do sujeito que o coloca diante de um campo vazio onde os sentidos são a priori impossíveis. Se por um lado existe um vazio enquanto presença inalienável, propiciador da existência de sentidos, há, por outro lado, um vazio que é a causa da perda do sentido da vida. A noção de vazio como negatividade dos sentidos, assim, se mostra inversamente à noção de vazio oriunda do Silêncio Primordial, e partindo dessa oposição é que esse artigo pretende discorrer sobre a relação entre vazio e o suicídio. Ao partir da hipótese de que o vazio enquanto negatividade de sentido cumpre um papel fundamental para a compreensão das origens do suicídio representado no conto Sobre as origens (pouco visíveis) de um suicídio é necessário recorrer, inicialmente, ao conceito de silêncio primordial que acresce potência à linguagem e ilustra a fragilidade das palavras, para poder entender as origens não ditas desse suicídio narrado nesse conto tavariano. Acredita-se que só por meio do silêncio primordial é possível alcançar suas origens indizíveis. Para tanto, o aporte teórico necessário para orientar e fundamentar as discussões sobre silêncio primordial, vazio e suicídio fica a cargo de estudos realizados por Santiago Kovadloff (2003), David Le Breton (1999), Maria Lúcia Homem (2005), Alain Badiou (1996); (2008), entre outros. Espera-se aprofundar conhecimentos teóricos e críticos relacionados ao texto literário, além de contribuir para a ampliação da fortuna crítica do escritor em questão. Palavras-chave: Vazio; Silêncio Primordial; Gonçalo M. Tavares. A MORTE (ANTES DE MORRER) EM LAST DAYS, DE GUS VAN SANT

Roberta Shizuko Takamatsu (UEL) Rodrigo Souza Grota (UEL)

Este trabalho tem como objetivo analisar a composição do texto dramático e da narrativa sonora e visual do longa-metragem ficcional Last Days (2005), dirigido pelo realizador norte-americano Gus Van Sant. Inspirado no imaginário em torno do cantor e compositor de rock Kurt Cobain (1967-1994) que se suicidou aos 27 anos, o filme acompanha os últimos dias do músico Blake, personagem explicitamente inspirado em Cobain, e que se expressa por uma linguagem minimalista, composta por grunhidos, frases incompletas e movimentos corporais sem sentido. A morte que irá acometer Blake nos minutos finais se configura desde o início do filme por meio de uma série de procedimentos estilísticos,

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incluindo desde o prolongamento temporal de situações dramáticas (a partir da utilização sistemática de uma série de longos planos-sequências), até mesmo o deslocamento espacial permanente, expresso por movimentos de câmeras fluídos e contínuos (por meio de travellings que duram alguns minutos). A estética empregada a este filme parece ter como objetivo reconstruir uma espécie de beleza diante da morte, como se a não-ação do personagem principal, misturada ao seu constante movimento/conflito interior, resultassem na expressão mais exata dessa não-vida em vida, ou, em outras palavras, nesta morte antes da morte. Van Sant adota uma estética não-realista, recusando uma lógica aristotélica, escapando de uma linguagem causal mediada por certa unidade de ação, tempo e espaço. O próprio conceito de personagem é problematizado a partir da criação de um personagem vazio (sob um viés psicológico), aparentemente assexuado (a partir de sua composição visual andrógina e mesclada), e que não apresenta em momento algum a expressão de um desejo ou a ressonância de algum conflito dramático mais explícito. Van Sant opera em uma abordagem mais fluida, em que tanto o universo exterior quanto o interior se integram para a composição do personagem Blake, uma referência direta ao poeta e pintor inglês William Blake (1757-1827), mas também uma releitura do mito Cobain, associada a figuras malditas do passado, como Rimbaud e Verlaine, por exemplo. O filme é esculpido em uma ambiência de delírio permanente, em que apenas Blake parece estar conectado com uma outra realidade, uma dimensão interna e inacessível pelos demais personagens. A sequência final, que mostra a alma de Blake se dissociando do corpo do músico, aspira a uma certa transcendência direta presente em filmes de cineastas como o japonês Carl Theodor Dreyer e o francês Robert Bresson, atribuindo a esta fábula um caráter místico, porém não religioso. Isto porque desde a primeira sequência do filme Blake se mostra como um ente isolado, fechado em si mesmo, porém sempre conectado a uma natureza não-mundana, algo que está muito próximo do personagem e que no entanto resiste em se esconder/ocultar para nós espectadores. É como se Blake sempre fosse um espectro, e a morte/suicídio apenas tornasse esse tom espectral algo mais concreto e invisível. Palavras-chave: Last Days; Gus Van Sant; Cinema Contemporâneo; suicídio; rock and roll, Kurt Cobain.

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OS LUSÍADAS E MENSAGEM: UM ESTUDO COMPARATISTA Vitor Penteado (UEM)

Orientadora: Luzia Tofalini (UEM) Esse estudo visa a comparar textos do livro Mensagem, de Fernando Nogueira Pessoa, com trechos da epopeia Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. Trata-se de uma comunicação que parte do pressuposto de que a literatura de Camões encontra ressonância na produção literária de Fernando Pessoa sob diversos aspectos, especialmente no que se refere a momentos nos quais os eus líricos, das duas obras se mostram depressivos frente aos acontecimentos que ferem os brios da pátria portuguesa. Por outro lado, ambos os eus líricos também sabem que a glória pessoal ou coletiva é passageira e que a morte é inexorável: Essa consciência da efemeridade da vida e das honrarias nubla, com uma nuvem de tristeza, os momentos que deveriam ser de pura alegria, como se pode constatar, por exemplo, nos versos, a seguir, do poema “Grande Império”, escrito por Fernando Pessoa (s.d. p. 13): “Triste de quem é feliz! / Vive porque a vida dura / Nada na alma lhe diz / Mais que a lição da raiz / Ter por vida a sepultura”. Sem a pretensão de esgotar o tema e, antes, visando a contribuir com outros trabalhos, de caráter comparatista ou não, acerca da literatura portuguesa, esse estudo se propõe, então, a demonstrar, ao menos em parte, o diálogo existente entre essas duas obras, bem como aproximações ou distanciamentos inerentes ao conteúdo das literaturas camoniana e pessoana. A fim de perseguir o objetivo primeiro – que consiste em cotejar textos de tão alta literatura –, esse trabalho contemplará, também, a análise dos períodos históricos nos quais Camões e Pessoa são comumente inseridos, mais especificamente o Classicismo e o Modernismo. Nessa ordem e somando a isso características encontradas no cerne das composições poéticas desses textos, como a alma e o peito lusitano, o nacionalismo, os feitos heroicos, o amor pelas terras de Portugal e, sobretudo, as notas depressivas que sugerem reflexões acerca da morte e do morrer. Estudos como História social da literatura portuguesa, de Benjamin Abdala Júnior, A poesia lírica, de Salete de Almeida Cara, Teoria do Texto, de Salvatore D’Onófrio, Camões: temas e motivos da obra lírica, de Cristiano Martins, entre outros, dão suporte teórico à discussão. Esses estudos mencionados aqui constam da bibliografia do trabalho. Espera-se – além de aprofundar estudos referentes à literatura portuguesa, tanto da era renascentista quanto da era modernista – contribuir para a disseminação do saber e engrossar a fortuna crítica dos dois poetas em questão.

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V CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 25, 26 e 27 de setembro de 2017

ISSN: 1981-8211

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Palavras-chave: Literatura portuguesa, Os Lusíadas, Mensagem, Luís de Camões, Fernando Pessoa. A AUTOBIOGRAFIA E AS MEMÓRIAS EM “O OLHO DE VIDRO MEU AVÔ”, DE BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS

Camila Yuemi P. Takashina (UEM) Orientador: Pedro Barth (UEM)

Este artigo tem como objetivo analisar os aspectos memorialísticos e autobiográficos presentes na obra “O olho de vidro do meu avô”, de Bartolomeu Campos de Queirós, com base na teoria memorialista e em estudos sobre autobiografia. Para isso, são apresentadas características que comprovem a inserção da teoria autobiográfica e memorialista na obra: o pacto autobiográfico e as memórias propriamente ditas. O memorialismo, apresentado como lembrança edificadora de mitos pessoais e monumentos de auto reconhecimento, é um trabalho com a subjetividade, de modo que as memórias estão estritamente relacionadas à autobiografia. A autobiografia, por sua vez, em sua definição mais simples de “escrita do eu”, apresenta, normalmente, um pacto autobiográfico, que é o engajamento do autor em contar diretamente sua vida, por meio da construção textual ou paratextual. Uma forma bastante comum em que o pacto autobiográfico se constrói no meio literário é quando narrador, personagem e autor possuem o mesmo nome, fazendo relação à mesma pessoa. Assim, o pacto autobiográfico se dá a partir de um contrato de identidade. “O olho de vidro do meu avô” é uma autobiografia memorialista por dizer respeito à escrita das lembranças da infância do narrador-personagem, e, embora não haja uma relação explícita entre o nome do autor e do narrador-personagem, o pacto autobiográfico acontece em uma obra anterior de Queirós com a qual esta dialoga, na qual o autor revela-se como sendo a mesma pessoa que o narrador-personagem. Mas é possível analisar outros aspectos presentes no livro que podem comprovar que a obra é uma autobiografia, como a dedicatória que Queirós faz em paratexto: “Para Maria das Graças”, pois esse nome faz relação com a mãe da personagem, que também chama-se Maria. Além disso, outro aspecto é o espaço em que se passa a história, que diz respeito a um lugar real, localizado em Minas Gerais. Sendo assim, conclui-se que “O olho de vidro do meu avô” apresenta-se como uma obra memorialista de caráter autobiográfico por conta de fatores como a intertextualidade com outras obras autobiográficas de Queirós, que comprovam que o autor, o narrador e o personagem da obra são a mesma pessoa; e os pactos autobiográficos, que fazem relação com nomes e espaços que fazem parte da vida do autor empírico. Por fim, a importância desse trabalho está em contribuir

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V CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação

Múltiplos Olhares 25, 26 e 27 de setembro de 2017

ISSN: 1981-8211

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para uma reflexão sobre a relação da vida de Queirós com seu fazer literário, além do estudo mais aprofundado de uma das poucas autobiografias brasileiras direcionadas ao público jovem, que rompe com a assimetria, por tratar das lembranças de infância do autor, e que não possui caráter pedagogizante. Palavras-chave: Autobiografia; Memorialismo; Queirós; Literatura Juvenil.

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