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04 - Editorial: João Aguiar Campos06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião: D. José Cordeiro22 - Opinião: LOC/MTC24 - Semana de.. Henrique Matos26 - Dossier Vida Consagrada

28 - Entrevista Carlos Liz58 - Multimédia60- Estante62 - Concílio Vaticano II64- Agenda66 - Por estes dias68 - Programação Religiosa69- Minuto Positivo70 - Liturgia72 - Jubileu da Misericórdia74 - Fundação AIS76 - Lusofonias

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Exortação pós-sinodal a caminho[ver+]

Mensagem doPapa paraQuaresma[ver+]

Respostas para aVida Consagrada[ver+]

D. José Cordeiro | João AguiarCampos| LOC/MTC | CNISP |Manuel Barbosa | Paulo Aido | TonyNeves | Fernando Cassola Marques| Henrique Matos

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Perguntas e silêncios

João Aguiar Campos Secretariado Nacional das ComunicaçõesSociais

Conclui-se, no próximo dia 2 de Fevereiro, o Anoda Vida Consagrada iniciado, por vontade doPapa Francisco, em 29 de Novembro de 2014.Não quero – nem sou capaz –de fazer o balançodeste ano entre nós. Mas partilho com gostoalgumas notas retiradas de um dossiê deimprensa estes dias disponibilizado pelaConferência Episcopal Francesa.No dossiê atraiu-me especial atenção o resultadode uma sondagem intitulada “A vida religiosa emFrança e os jovens” – sondagem acompanhadapor um estudo efetuado junto dos consagradoscom menos de 40 anos de idade: “Ocompromisso na vida religiosa”.Sobre o olhar dos jovens, alguns sublinhados:metade dos jovens franceses acredita naexistência de Deus e 15% deles já alguma vez seconfrontaram com um eventual compromisso navida religiosa. O estudo mostra mesmo que é,afinal, o grupo etário 50-65 anos o maissecularizado; o que os analistas explicam com osefeitos do Maio de 68.Segundo os mesmos comentadores dasondagem, esta mostra que “estamos a viverhoje na era da pós-secularização, sendo os maisjovens os primeiros atores e portadores de umanova sede espiritual e de uma nova visão doreligioso”. Certamente, uma visão marcada pornovas formas e práticas “menos institucionais esacramentais”, mas indubitavelmentevalorizáveis.Sobre a vida religiosa, afirma-se uma imagem

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positiva. De facto, apenas 28% dosfranceses consideram estar peranteum non-sens – sendo de referir queé no grupo 18-24 anos que é maiselevado o pareço: 74%.Boas notícias, pois. Ou seja: háterreno arável e campo disponívelpara a sementeira da propostamediante o testemunho!..Como?... Pessoalmente penso queo testemunho exige a alegria vividano dia a adia da consagração. Masao encontro deste ponto de vistavem a opinião dos jovens religiososinquiridos no segundo estudo quereferi: quase todos (99%)consideram o seu compromissocomo um caminho de felicidade –ainda que, de facto, nem todosvejam os religiosos felizes…Simultaneamente, revela-se muitoelevado o número dos jovensconsagrados que se dizemincompreendidos pela família oupelos amigos. Pedem, por isso,acompanhamento mais próximo edesejam uma rede de relações maisrica e diversificada e uma maiorpresença da comunidade crente.Nada de insólito, como se lê naEvangelii Gaudium,107, onde sevaloriza

a presença da comunidade cristã nogerminar das vocações, assim comoformação dos que são chamados ena perseverança dos que acolheramo apelo.Iniciei este texto confessando-meincapaz de fazer o balanço do Anoda Vida Consagrada. Mas encontrona Carta Apostólica em que omesmo foi anunciado os parâmetrospara fazermos o nosso exame deconsciência. Façamos as perguntase oiçamo-nos no silêncio:1.Ao longo deste ano, olhámos opassado com gratidão?2. Vivemos o presente com paixão?3.Abraçamos o futuro comesperança? Passados estes meses,a - Descobrimo-nos portadores daalegria?b- Mantemos vivas as utopias?c- Estamos disponíveis para asperiferias existenciais?d- Estamos à escuta dos apelos deDeus e da humanidade? Faço silêncio para ouvir as minhaspróprias respostas…

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«António Costa diz que tem “bonsargumentos” para convencer Bruxelas e aComissão Europeia também terá os seus.O ideal seria encontrarem-se a meiocaminho» (In: Jornal «Público», editorial de28 de janeiro de 2016) «Quando uma religião se torna política,como acontece agora com algumascorrentes do Islão, como outrora com oCristianismo, deixa de ser verdadeiramentereligiosa» (In: Jornal «Voz Portucalense»,Rui Osório, 27 de janeiro de 2016) «O diálogo ecuménico faz-se naconvivência e desenvolvimento de projetoscomuns das diferentes comunidades, nodiálogo e discernimento das comissõesteológicas e nos gestos emblemáticos doslíderes que estimulem a preocupação e ospassos concretos do caminho da unidade»(In: Jornal «Correio do Vouga», QuerubimSilva, 27 de janeiro de 2016). «Não sou fã de nenhum partido. Masgostaria de ver este país seguir outrocaminho com garantia de que ao fechar osolhos o deixaria melhor do que oencontrei» (In: Jornal «A Defesa», editorialde 27 de janeiro de 2016).

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Exortação apostólica do Papa sobrea Família vai ser publicada até março

A exortação apostólica do PapaFrancisco sobre o Sínodo dosBispos dedicado à Família vai serpublicada até ao próximo mês demarço. A informação foi avançada àAgência ECCLESIA pelo presidentedo Conselho Pontifício para aFamília, D. Vicenzo Paglia, duranteas jornadas de atualização do cleroda Província

Eclesiástica do Sul, que decorreramem Albufeira.O arcebispo italiano mostrou-seconvencido de que o documento doPapa mostrará uma Igreja Católica“em saída” e próxima das famíliasem todos os momentos da vida.“Estou convencido que a exortaçãoserá um hino ao amor, a um amorque quer

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zelar pelo bem das crianças, quesabe estar perto das famílias feridaspara lhes levar força, que quer estarjunto dos mais idosos, a um amorque toda a humanidade precisa”,salientou.Subordinadas ao tema “Família:Centralidade, Renovação eContinuidade”, as jornadas deatualização do clero da ProvínciaEclesiástica do Sul têm este anocomo pano de fundo o últimoSínodo dos Bispos dedicado àFamília.A iniciativa conta com cerca de umacentena de sacerdotes inscritos, erespetivos bispos, vindos dasdioceses do Algarve, Beja, Évora e,pela primeira vez, da diocese deSetúbal.Na sua reflexão, D. Vicenzo Pagliadestacou a importância dascomunidades católicas serem maisinterventivas junto dos problemas edos desafios das famílias, sobretudodaquelas que estão a começar asua caminhada, os jovens casais.“Hoje infelizmente, vemos umagrande brecha entre a família e aparóquia: as famílias são muitopouco eclesiais, já que se voltamfacilmente, para si mesmas, e asparóquias são pouco familiares,porque se encontram abafadas pelopeso da burocracia, ouenvelhecidas pelo funcionalismo.

Há pouco calor, pouco acolhimento,pouco acompanhamento”,sublinhou.Sobre a atuação da Igreja perantecasos como o das pessoasdivorciadas, recasadas ou quevivem em união de facto, questãoque mereceu largo destaquemediático durante o Sínodo, oresponsável do Vaticano frisou quetodas estas pessoas podem edevem ser integradas na vida dacomunidade.“O desafio dos cristãos é estar aolado deles, não rotulando, nãocriticando (…) a Igreja tem de falarpara mudar. Teria sido dramático seJesus não tivesse falado com asamaritana. Esta é a atitude doPapa Francisco, estar ao lado, nãocondenar, procurar o lado positivoda questão e fazê-lo crescer”,referiu.D. Vicenzo Paglia lembrou ainda asmuitas famílias que vivem hojemomentos “dramáticos” por causada guerra, da pobreza, dodesemprego ou da instabilidadesocial, especialmente as que foramobrigadas a viver na condição derefugiadas. “Muitos governos nãotêm uma política familiar e isso égravíssimo”, acusou o arcebispoitaliano, recordando que “a solidezde uma sociedade está na família”.

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5 mil jovens portugueses na JMJ2016As jornadas mundiais da juventudedeste ano, em Cracóvia, na Polónia,vão contar com pelo menos 5 miljovens portugueses, emrepresentação de todas as diocesesem Portugal. Este número foiadiantado à Agência ECCLESIA pelodiretor do Departamento Nacionalda Pastoral Juvenil, durante oConselho Nacional do setor quedecorreu em Fátima.“Prevemos contar com mais decinco mil jovens a participar nasjornadas mundiais da juventude.Todas as dioceses estão aparticipar e todos os movimentosestão a envolver-se”, salientou opadre Eduardo Novo.O sacerdote destacou também o“empenho” que os mais novos têmcolocado na participação epreparação do evento. Apesar das“dificuldades que as famílias, que ospróprios jovens atravessam, na faltade emprego, de disponibilidade, nointenso horário e ritmo de trabalhoque têm, mesmo assim há estapreparação, esta motivação”.“Os jovens estão a envolver-se emcada paróquia não apenas narecolha de fundos mas também nadifusão daquilo que é esteencontro”, enalteceu o padreEduardo Novo.As jornadas mundiais da juventude

2016 vão decorrer entre 26 e 31 dejulho, subordinadas ao tema “Felizesos misericordiosos porquealcançarão misericórdia”. Para odiretor do DNPJ, o facto de estainiciativa acontecer em pleno AnoSanto da Misericórdia, e até pelatemática que estará em cima damesa, representa um grandedesafio para os mais novos.“Para que toda a sua vida seja umabusca de identidade, decompromisso e de missão”, apontouaquele responsável, considerandoque cabe aos jovens serem“protagonistas de mudança” nomundo.O Conselho Nacional da PastoralJuvenil decorreu em Fátima, com aparticipação do bispo auxiliar deLisboa, D. Joaquim Mendes,membro da Comissão Episcopalpara o Laicado e Família.

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Formação para os valores na UCPO próximo Dia Nacional daUniversidade Católica Portuguesa(UCP), a 7 de fevereiro, vai serinspirado na encíclica “Laudato si”,em que o Papa destaca o contributoda Educação para a difusão de “umnovo modelo” de vida e de “relaçãocom a natureza”. Na mensagempara esta celebração, a reitora daUCP, Maria da Glória Garcia, frisaque responder ao repto deFrancisco “é assumir genuinamente,na especificidade da vidauniversitária, a construção de umaEcologia integral”.“Formando no conhecimento e emvalores credíveis, cruzandometodologias disciplinares esaberes, alargando fronteiras defuturo na pesquisa científica dasdiversas áreas, cimentando aexcelência, dando força e corpo àsrazões de esperança”, pode ler-seno texto enviado à AgênciaECCLESIA.Para a reitora da UCP, Franciscoveio desafiar a sociedade, em todosos seus campos, também no setoracadémico, a “arregaçar as mangase viver” com “renovado dinamismo”aquilo que o Papa definiu com a“feliz imagem de uma Igreja emsaída”. “Ora, esta visãocomprometida da educaçãopodemos dizer que está no ADN deuma Universidade Católica”,

realça Maria da Glória Garcia.Neste sentido, o tema escolhidopara o Dia Nacional da UniversidadeCatólica Portuguesa em 2016,‘Cultivar a Ecologia dos Saberes’,será uma forma de mostrar oempenho da UCP neste campo, “deforma direta”, conclui aquelaresponsável.O Dia Nacional da UniversidadeCatólica Portuguesa é assinaladocomo habitualmente no primeirodomingo de fevereiro. Antes disso, aocasião vai ser marcada por umasessão académica na sexta-feira, 5de fevereiro, às 16h30, no AuditórioCardeal Medeiros, em Lisboa.O peditório deste ano para o DiaNacional da UCP foi destinado paraa criação de bolsas de estudo paraa Faculdade de Teologia, “cujoserviço à Igreja portuguesa,inclusive na formação dos seussacerdotes e das suas liderançaslaicais” deve ser “acarinhado portodos”, aponta Maria da GlóriaGarcia.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Fátima: Santuário evoca escultora Graça Costa Cabral

Escolas de perdão e a JMJ 2016

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O roteiro do Papa para a Quaresma2016

O Papa Francisco alerta na suamensagem para a Quaresma 2016,divulgada hoje, para o “delírio deomnipotência” do ser humano, queo leva a ignorar quem sofre eesquecer Deus. “Tal delírio podeassumir também formas sociais epolíticas, como mostraram ostotalitarismos do século XX emostram hoje as ideologias dopensamento único e da tecnociênciaque pretendem

tornar Deus irrelevante e reduzir ohomem a uma massa possível deinstrumentalizar”, escreve.A mensagem intitulada «‘Prefiro amisericórdia ao sacrifício’. As obrasde misericórdia no caminho jubilar»aponta o dedo a “estruturas depecado” ligadas a um modelo de“falso desenvolvimento fundado naidolatria do dinheiro”. Este modelotorna as pessoas e as sociedades

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mais ricas “indiferentes ao destinodos pobres”, recusando-se “mesmoa vê-los”.Segundo o Papa, apenas o amor deDeus pode dar resposta à “sede defelicidade e amor” de cada um, algoque “o homem se ilude de podercolmar mediante os ídolos do saber,do poder e do possuir”. “O pobremais miserável é aquele que nãoaceita reconhecer-se como tal.Pensa que é rico, mas na realidadeé o mais pobre dos pobres”,adverte.A mensagem realça o “perigo” de ossoberbos, os ricos “acabem por secondenar” ao manter o coraçãofechado “a Cristo, que, no pobre,continua a bater à porta”. Franciscosustenta que estas pessoas são“escravas” do pecado que as leva autilizar riqueza e poder “não paraservir Deus e os outros, mas parasufocar em si mesmo a consciênciaprofunda de ser nada mais do queum pobre mendigo”.A mensagem coloca a celebraçãoda Quaresma de 2016 no quadro doano santo extraordinário, o Jubileuda Misericórdia, que o Papaconsidera um tempo favorável paraque

todos possam “sair da própriaalienação existencial, graças àescuta da Palavra e às obras demisericórdia”.Nesse sentido, evoca aquilo que atradição da Igreja chama as obrasde misericórdia corporal e espiritual.“Estas recordam nos que a nossa fése traduz em atos concretos equotidianos, destinados a ajudar onosso próximo no corpo e noespírito e sobre os quais havemosde ser julgados: alimentá-lo, visitá-lo, confortá-lo, educá-lo”, precisa.Francisco recorda em particular “oirmão ou a irmã em Cristo que sofrepor causa da sua fé” e refere queno tempo da Quaresma vai enviaros “Missionários da Misericórdia” afim de “serem, para todos, um sinalconcreto da proximidade e doperdão de Deus”.A Quaresma que se inicia com acelebração de Cinzas (10 defevereiro, em 2016), é um períodode 40 dias, excetuando osdomingos, marcado por apelos aojejum, partilha e penitência, queserve de preparação para a Páscoa,a principal festa do calendáriocristão.

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Por uma comunicação plenamentehumanaPapa Francisco defende na suamensagem para o Dia Mundial dasComunicações Sociais 2016 que acomunicação nas redes sociais e nomundo digital pode ser “autêntica” e“humana”. “Emails, SMS, redessociais, chats podem ser formas decomunicação plenamente humanas.Não é a tecnologia que determinase a comunicação é autêntica ounão, mas o coração do homem e asua capacidade de fazer bom usodos meios ao seu dispor”, escreve,num texto intitulado ‘Comunicação eMisericórdia: um encontro fecundo’.O Dia Mundial das ComunicaçõesSociais é celebrado desde 1966 nodomingo anterior à festa doPentecostes, que este ano seassinala a 8 de maio.Depois de assinalar que as redessociais são capazes de “favoreceras relações e promover o bem dasociedade” e de ajudar naconstrução de “uma verdadeiracidadania”, o Papa deixa alertas emrelação a uma possível “maiorpolarização e divisão entre aspessoas e os grupos”. “O ambientedigital é uma praça, um lugar deencontro, onde é possível acariciarou ferir, realizar uma discussãoproveitosa ou um linchamentomoral”, precisa.

A celebração de 2016 é colocada nocontexto do ano santo extraordinário(dezembro de 2015-novembro de2016), o Jubileu da Misericórdiaconvocado pelo Papa, deixandovotos de que todos consigam ser“mais abertos ao diálogo”.“Comunicar com misericórdiasignifica contribuir para a boa, livree solidária proximidade entre osfilhos de Deus e irmãos emhumanidade”, pode ler-se namensagem pontifícia.O Papa volta a afirmar que acomunicação e a internet são um“dom de Deus”, que implicam uma“grande responsabilidade”. “Gostode definir este poder dacomunicação como ‘proximidade’. Oencontro entre a comunicação e amisericórdia é fecundo na medidaem que gerar uma proximidade quecuida, conforta, cura, acompanha efaz festa”, explica.

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Perdão entre Igrejas após erros dopassadoO Papa Francisco presidiu emRoma a uma celebração de oraçãocom representantes de todas asIgrejas e comunidades cristãs dacapital italiana, convidando todos ao“perdão” recíproco. “Peçamos,antes de mais, perdão pelo pecadodas nossas divisões, que são umaferida aberta no Corpo de Cristo.Como bispo de Roma e pastor daIgreja Católica, quero invocarmisericórdia e perdão peloscomportamentos não evangélicosque católicos tiveram em relação acristãos de outras Igrejas”, disse, naBasílica de São Paulo fora demuros, durante a tradicional oraçãode vésperas na solenidade daconversão de São Paulo, dia emque se conclui a Semana de Oraçãopela Unidade dos Cristãos.O pontífice argentino convidoudepois os católicos a “perdoar, sehoje ou no passado, sofreramofensas de outros cristãos”. “Nãopodemos eliminar o que se passou,mas não queremos permitir que opeso das culpas passadas continuea inquinar as nossas relações”,acrescentou.Depois de ter rezado diante dotúmulo de São Paulo, juntamentecom representantes da IgrejaOrtodoxa e da Igreja Anglicana, oPapa evocou todos os que, tal comoo apóstolo, perderam a vida por

causa da sua fé, falando num"ecumenismo de sangue". “A nossahumilde prece é sustentada pelaintercessão da multidão dos mártirescristãos de ontem e de hoje”,realçou.A assembleia foi convidada a rezarpelos cristãos “vítimas deperseguições”, pedindo que estespossam sentir “a solidariedade detodos os homens e sobretudo dosseus irmãos na fé”.O Papa recordou que a IgrejaCatólica celebra o terceiro anosanto extraordinário da sua história,o Jubileu da Misericórdia (dezembrode 2015-novembro de 2016),pedindo que este tempo ajude alembrar que “não há uma autênticabusca da unidade dos cristãos semconfiar-se plenamente àmisericórdia” de Deus.No final da celebração, Franciscoconvidou para junto de si osrepresentantes das Igrejas Ortodoxae Anglicana, para concederem abênção em conjunto.

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Papa recebeu presidente do Irão

Missão da Igreja é “evangelizar os pobres”

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Das Obras de Misericórdiaà Misericórdia das Obras

D. José Cordeiro Bispo de Bragança Miranda

A passagem das obras de Misericórdia àMisericórdia das obras, ou seja, a passagem dofazer ao ser em Deus Rico de misericórdia, é ogrande desafio, especialmente apresentado noAno santo da Misericórdia. Como nos deixouescrito S. Paulo: «Deus, que é rico emmisericórdia, pelo amor imenso com que nosamou, precisamente a nós que estávamos mortospelas nossas faltas, deu-nos a vida com Cristo -é pela graça que vós estais salvos - com Ele nosressuscitou e nos sentou no alto do Céu, emCristo. Pela bondade que tem para connosco, emCristo Jesus, quis assim mostrar, nos temposfuturos, a extraordinária riqueza da sua graça»(Ef 2, 4-7).Hoje, precisamos todos de reaprender agramática elementar da Misericórdia.Recordemos as 14 obras de Misericórdia:As sete obras de misericórdia corporal: 1.Dar de comer a quem tem fome 2. Dar de bebera quem tem sede 3. Vestir os nus 4. Dar pousadaaos peregrinos 5. Visitar os enfermos 6. Visitaros presos 7. Enterrar os mortos. As sete obras de misericórdia espiritual: 1.Dar bons conselhos 2. Ensinar os ignorantes 3.Corrigir os que erram 4. Consolar os tristes 5.Perdoar as injúrias 6. Suportar com paciência asfraquezas do nosso próximo 7. Rezar a Deus porvivos e defuntos. Nestes tempos difíceis, recordar a tradição dasobras de misericórdia significa apreender acaridade e a misericórdia como arte doencontro, como arte da relação, como arte deviver, mas significa

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sobretudo novo impulso dehumanidade, para não permitir queo cinismo, a corrupção, a mentira, aambição do poder e do domíniosobre os outros, a barbárie e aindiferença levem a melhor.S. Bento, o padroeiro da Europa eda Diocese de Bragança-Miranda,na sua Regra, desenvolveu oelenco das 14 obras de misericórdiano capítulo IV, a que intitulou: osinstrumentos das boas obras. E, aoconcluir afirmou: «Orar, no amor deCristo, pelos inimigos. Voltar à paz,antes do pôr do sol, com aquelescom quem teve desavença. E nuncadesesperar da misericórdia deDeus».É esforço diário a superação daauto-referencialidade, do egoísmo edo orgulho. Hoje temos tantasformas de pobreza: a económica ematerial, a cultural e social, aespiritual e afetiva. Todavia, amisericórdia não se pode limitar àpobreza material, sobretudo emtempos de crise. O nossocompromisso tem de ser integral,para salvar o todo da pessoa e todaa pessoa que mais precisa da nossaajuda.Às vezes abusa-se da misericórdia eda religião, porque a misericórdia ea religião aparecem como umaespécie de amaciador para a moralcristã. Hoje, parece que tudo semascara.O afeto com os nossos pais, osnossos avós, os mais idosos, ascrianças, os jovens, os adultos, fazda nossa

comunidade uma família de famílias.Na saúde e na doença, na alegria ena tristeza, no trabalho e nodescanso, a Misericórdia vem aoencontro da nossa miséria.O Papa Francisco surpreendeu-nospela proclamação de um Jubileuextraordinário, dedicado àMisericórdia: «decidi convocar umJubileu extraordinário centralizadona misericórdia de Deus. Será umAno Santo da Misericórdia.Queremos vivê-lo à luz da palavrado Senhor: “Sede misericordiososcomo o vosso Pai” (cfr Lc 6, 36)”. Afinalidade é tornar mais evidenteque a missão da Igreja é a de “sertestemunha da misericórdia”.«Ninguém pode ser excluído damisericórdia de Deus – dizFrancisco; todos conhecem ocaminho para ter acesso a ela e aIgreja é a casa que todos acolhe e aninguém rejeita. Suas portaspermanecem escancaradas, a fimde que aqueles que foram tocadospela graça possam encontrar acerteza do perdão. Maior é opecado e maior deve ser o amorque a Igreja expressa para comaqueles que se convertem».Nunca nos rendamos ao mal. O malnão pode ter nunca a última palavra.Como o salmista possamos viver amisericórdia e rezar com a vida:«cantarei eternamente asmisericórdias do Senhor» (Sl 89,2).A Misericórdia é o modo de amar deDeus, ou melhor a Misericórdia é oautêntico nome de Deus!

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Emprego cada vez mais precário

LOC/MTC Movimento de trabalhadores Cristãos

Segundo o Boletim informativo da OIT(Organização Internacional do Trabalho)intitulado: “Prespectivas Sociais e de Empregono Mundo”, de Maio de 2015, o emprego é cadavez mais precário e inseguro e está a afastar-secada vez mais do modelo existente: Trabalhadorassalariado dependente do empregador, comtrabalho estável e a tempo inteiro. No mundo, 3em cada 4 trabalhadores estão empregados comcontratos a prazo, de curta duração, emempregos informais, com frequência semcontrato, como trabalhadores por conta própriaou em empresas familiares sem remuneração.Este modelo de emprego estável nunca existiunas economias mais pobres e está deixando deser também o modelo das economias mais ricas.E nas economias emergentes as relações deemprego são baseadas em contratos muitasvezes informais, de curta duração com horáriosde trabalho irregulares.A OIT sublinha que esta crescente insegurança eprecaridade do emprego têm consequências noaumento do empobrecimento e desigualdade,para além de gerar grandes problemas naeconomia. Além de que os salários crescemmuito abaixo da produtividade.Como responder à insegurança destas pessoascada vez mais distantes de um modelo estável deemprego?Novos desafios se colocam às políticas sociais eà legislação laboral para proteger efetivamenteestes trabalhadores e trabalhadoras. Mas hácaminhos já percorridos, especialmente naEuropa, que não conduzem a nada de digno doser humano.

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Neste sentido, a OIT assinala que,nos últimos anos, alguns paísesEuropeus introduziram mudançaslaborais que reduziram o nível deproteção dos trabalhadores, com oobjetivo, diziam, de estimular ocrescimento e o emprego. Noentanto, a experiência mostra que aredução da proteção dostrabalhadores não trouxe umaredução do desemprego, bem pelocontrário, aumentou-o, precarizou-oe tornou mais inseguro o emprego. Como Igreja e como Movimento deTrabalhadores Cristãos queremosacompanhar os trabalhadores(mesmo estando desempregados),especialmente os mais jovens.Acompanhar não apenas asestatísticas mas as pessoas,desenvolver, com elas, redes desolidariedade, “grupos de encontro”.Às pessoas que se veem nacondição

duríssima do desemprego oude trabalho precário e emdificuldades graves em caminharcomo pessoas, queremosacompanhá-las e recordar-lhes quecontinuam a ser pessoas dignas,que não são “sobras”. Propomo-nosajudá-las a descobrir o que as podehumanizar, indicando Jesus Cristocomo proposta de vida. N’Ele,podemos encontrar uma novahumanidade e o modo como seconstrói. N’Ele, podemos encontrarforças para mudar as instituiçõespúblicas e coloca-las ao serviço daspessoas, especialmente dos maispobres. O ser humano também écapaz de cooperar, renunciar aalguns privilégios, estabelecercompromissos, ser solidário (e nãosó produzir e consumir). Por isso umnovo modelo económico e laboral épossível, baseado na cultura doencontro, da cooperação e docompromisso.

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A quarta Revolução Industrial

Henrique Matos Agência ECCLESIA

A humanidade só atrapalha… A tecnologia digitalvai produzir a riqueza do mundo que seráarrecadada por 1% da população. Que fazer a99% de inúteis?De forma simples, é esta a equação que resultada cimeira de Davos. O Fórum EconómicoMundial voltou ao cenário de paraíso, nasmontanhas brancas da Suíça, mas o que por alise discutiu tinha uma tonalidade bem mais negra.Dizem os donos do dinheiro que a tecnologiaestá prestes a ser inteligente e quando issoacontecer em larga escala, o circuito produtivovai dispensar mão de obra em escala idêntica.Vão perder-se muitos postos de trabalho com asconsequências sociais que já todos conhecemos.Anuncia-se a quarta revolução industrial,marcada pela velocidade da computação, pelainteligência artificial com os algoritmos aacelerarem o raciocínio e o cálculo.Tudo começou com a água e o carvão, depoisveio a eletricidade, seguiu-se a eletrónica e aautomação. Agora chegámos a um ponto defusão tecnológica em que se esbate a fronteiraentre o biológico e o digital.A imagem do homem que comanda a máquinapara o auxiliar no trabalho mais duro, começa aser uma “velha imagem”. Hoje vivemos “ligados”,não damos um passo, não fazemos uma compra,não nos deslocamos, sem que tudo fiqueregistado em locais que não controlamos. A caixamultibanco, a via verde, o telemóvel com gps, odrone, a rede social… Já não temos privacidadee é quase impossível “desligar-mo-nos”.Também

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ganhámos em produtividade,velocidade de comunicação, atecnologia democratizou-se etornou-se acessível.Mas este Fórum Económico Mundialdisse-nos que, a nova revoluçãoindustrial vai precisar de menospessoas e as que interessamresumem-se um pequeno númerode técnicos altamente qualificados.Klaus Schwab, Fundador eChairman Executivo do FórumEconómico Mundial afirma que, nofuturo, o talento, mais do que ocapital, vai ser o fator determinanteda produção. Mas tambémreconhece que isto vai gerar ummercado de trabalho ainda maissegregado entre altascompetências/altas remunerações ebaixas qualificações/baixos salários.Klaus Schwab também não duvidaque a mudança vai incrementar atensão social e a exclusão.

Dirão que é o avanço imparável daciência e do progresso mas, aintranquilidade aumenta seassociarmos esta tendência aofosso cada vez maior entre ricos epobres. Desde a segunda revoluçãoindustrial que ele se agrava. Noinício da edição deste ano do Fórumde Davos ficámos a saber que ariqueza do mundo está no bolso de1% da população. 62 pessoas têmum património igual a metade dapopulação mundial. Isto também éuma dinâmica imparável doprogresso? Ou será antes uma açãoconsciente e concertada daganância?Lembra-mo-nos de ter estudado ascorrentes teocêntricas eantropocêntricas, também muito sedebateu na história o heliocentrismopor oposição ao geocentrismo. Hojejá não restam dúvidas, no centroestá a economia, a humanidade éum empecilho.

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ANO DA VIDA CONSAGRADAO Ano da Vida Consagrada convocado pelo Papa Francisco está achegar ao fim e o Semanário ECCLESIA apresenta nesta ediçãouma série de reflexões sobre as várias iniciativas que forampromovidas em Portugal e os desafios que se colocam para ofuturo dos institutos religiosos e seculares no país. Em particular,destaque para a análise ao inquérito promovido durante esteperíodo pela empresa Ipsos APEME, que realizou mensalmente150 entrevistas online a jovens adultos portugueses.

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O que pensam os jovens portuguesesda Vida Consagrada? A Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal pediu à empresa IPSOSAPEME um estudo de mercado para conhecer a opinião dos jovens perantea Vida Consagrada, bem como, a simpatia pela Igreja e o Papa Francisco. Ocoordenador do estudo, Carlos Liz, em entrevista à Agência ECCLESIA,deixa as linhas principais dos inquéritos e algumas conclusões que exigemação

Entrevista conduzida por Sónia Neves Agência ECCLESIA (AE) – Queestudo é este que lança questõesaos jovens sobre a VidaConsagrada?Carlos Liz (CL) – É um estudo queos responsáveis pela VidaConsagrada em Portugalentenderam que fazia sentidodurante um ano em que este tema eesta linguagem aparece com maisvisibilidade no conjunto do sistemamediático e da Igreja. Julgo ser umato muito saudável da parte dequem entende que nunca é demaisseguir de perto o que a realidadeestá a dizer sobre um tipo depúblico extremamente importante eao mesmo tempo difícil, quiçá ingrato ou incompreendido pela Igreja e pela vida Consagrada emparticular, que são os jovensadultos.

AE – Porque é que foi escolhidaesta faixa etária?CL – Precisamente porque o Ano daVida Consagrada, comoo compreendo, é portador de umaideia de futuro. É algo que nãoserve apenas para celebrar opassado, apesar de sabermos quehá muito a celebrar e que tambémfaz parte dos objetivos deste anomas, como tudo o que tem a vercom a Igreja, assim penso e sinto,ou melhor quero pensar eu, tem deter a ver com o futuro, com ascoisas que vão sendo lançadas àviabilidade e darão fruto. Por isso,jovens dos 18 aos 34 anos, de todoo país que, têm posições diferentesface ao fenómeno do religioso e daIgreja, é uma amostra representativada população. Os jovens foramconvidados durante um ano apronunciar-se sobre aspetos que

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tenham a ver com a imagem daIgreja e dos seus atores principais eao mesmo tempo foramconfrontados com notícias que,naquele mês, tiveram origem emfenómenos variados da vida daIgreja e a quem era perguntadocomo reagiam a essas notícias.A razão fundamental deste target,deste público-alvo, é pensar que aVida Consagrada vale e valerá apena na razão direta em que forcapaz de compreender e, portanto,preparar-se para servir melhor aspessoas que estão a fazer as suasvidas. São jovens adultos, não sãojovenzinhos, não são adultosinstalados, e creio que este é umpúblico com muito potencial e difícilde perceber.

AE – Como é que foram feitos essesinquéritos? E como chegaram àpopulação jovem?CL – A metodologia da recolha dedados é a mais atual neste tipo deprojetos, usamos a metodologiaonline, fizemos inquéritos online;onde existe afinidade com esta faixaetária, é ali que eles respondem. Oque fizemos foi durante esses 12meses criar uma amostra, 150entrevistas, a partir de um painel demuitos milhares de pessoas que asempresas têm, como é o caso daIPSOS que fez este estudo. Aspessoas são convidadas apronunciar-se sobre estes temascuja única preocupação é encontrarum equilíbrio do ponto de vista degénero, feminino e masculino,

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de região do país e quandochegávamos às 150 entrevistas,bem preenchidas, estava fechado oinquérito desse mês. No mêsseguinte fazia-se o mesmoprocedimento junto de outraspessoas. AE – Depois de serem lançados osinquéritos mês a mês durante o Anoda Vida Consagrada (de janeiro adezembro de 2015) chega-se ao fimdeste estudo. Que conclusões há?CL – Para perceber melhor asconclusões, começo por dizer quecada inquérito mensal tinha umnúmero de questões fixas, isto é,questões ligadas com a imagem daIgreja e tentávamos perceber se iamhavendo alterações nessesindicadores. A outra parte doinquérito, sempre diferente, eram asnotícias do mês. Temos assim duasabordagens que trazem dois tiposde ensinamento.

As conclusões do ponto de vista darelação destes jovens adultosportugueses com estas temáticasligadas a Igreja, talvez a primeira,muito interessante e consistente aolongo do ano e que constitui umenorme desafio para osresponsáveis da Pastoral Juvenil,em geral e para os responsáveis daVida Consagrada em particular, sejao interesse. Quando questionamosestes jovens “concretamentenormais” em que medida lhesinteressa os temas do religioso oudo espiritual e o resultado era cercade 72% que dizem que seinteressam muito ou relativamentepor estes temas. Isto quer dizer quehá aqui uma predisposição, umaprocura, uma vontade de ouvir, verou, quiçá, experimentar coisas quetêm a ver com isso do espiritual e doreligioso. Esta é uma primeiraconclusão que eu diria muitoimportante.

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CL - Uma segunda conclusão tem aver com um exercício arriscado quenós fizemos: perguntámos a estesjovens como é que olhavam paratrês níveis

de aquilo que é a face visível daIgreja, como instituição, o PapaFrancisco e os padres e freiras.Perguntávamos a partir de trêsindicadores, a simpatia,

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mais previsível, outra é o interessedo que dizem e a terceira aconcordância com o que é dito.O raciocínio foi tentar usar uma

bateria de três níveis de relaçãocom estes atores relevantes daIgreja e ver como é que eles secomportavam.O Papa Francisco bate todos osrecords, isto é, põe a Igreja numlugar muito modesto em qualqueruma das variáveis, simpatia,interesse e concordância. Franciscoé manifestamente um fenómeno quedá muito que pensar sobretudo deuma maneira operativa, isto é, o quese pode aprender enquanto ofenómeno está com toda estaatividade. Fenómenos destes nãosão eternos e aqui a questãointeressante é como é que se tira omaior partido duma capacidade deentrar com temas inequivocamenteda Igreja, de Deus, do religioso apartir de uma audiência que estámuito interessada em saber o quedali vem.Nos resultados em relaçãoa Francisco temos uma simpatia daordem dos 70%, muito consistenteao longo dos meses. E talvez o maisimportante seja o interesse acima de50%, uma maioria absoluta, e umaconcordância, numa boa parte doque ele diz, na ordem dos 57%.Estamos perante um fenómeno degrande potencial para abrir portas,para falar de coisas da Igreja, temosaqui um elemento extremamenterelevante, um abridor de portas.

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AE – Já a Igreja não encerra tantasimpatia…CL – Bem, eu nem queria fazercomparações mas é claro. A Igrejaanda, pela simpatia, na ordem dos26%, depois a concordância einteresse também pelos 20%;curiosamente os padres e freirastêm um bocadinho menos, o quenão deixa de ser um elemento dereflexão, humilde naturalmente, paraa própria Vida Consagrada, ou paraa Igreja em geral.Há aqui uma décalage que tem deser pensada e depois há um temaao qual dou muita importância: otema tem muitas leituras possíveismas eu arrisco uma. Ao longo doano perguntamos “quando ouvefalar em Vida Consagrada, isso oque é?”Creio que não nos admiraríamos sehouvesse uma percentagemsignificativa que dissesse ‘não façoideia’ e, realmente, 30% diz que nãosabe o que é. Depois existe 10%que dizem coisas ao lado e que sepercebe que não estão por dentro efazem exercícios intelectuais sobre osignificado de tal coisa.Há depois ainda duas coisas muitosignificativas, para mim a maisimportante de todas é que,

somando as percentagens epensando nas sobreposições, 25%da amostra ao longo do ano vaidizendo coisas que suspeita quesão a Vida Consagrada. Dizem quedevem ter uma maior intensidade deadoração a Deus; esta era umapergunta aberta.Estes jovens adultos, em 25% doscasos, andam por uma zona quetem a ver com esta maiorintensidade na relação com osagrado, com Deus, numa coisamuito importante, a ideia de queserão pessoas que têm uma vidafeliz, realizada, que estão bemconsigo próprios e ainda há umapercentagem que explicita que seráuma vida com paz interior, comtranquilidade, que tem a ver com aconsistência da personalidade.Depois temos o resto da amostraque anda pelos lados da associaçãoda ideia de Vida Consagrada comosendo um dos mecanismos, ou umadas formas de ser Igrejainstitucional, mas há aqui 25% queeu vejo como sendo um potencialinteressante de poder enriquecer aideia da Igreja no seu todo a partirda identidade e especificidade daVida Consagrada definida por estalogica de maior proximidade,intensidade e interiorização. É muitocurioso

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pensar num elemento muitoimportante que diz que a VidaConsagrada enquanto expressãomais intensa de Igreja é uma vida nofeminino e no masculino, um dadoque dá para pensar,manifestamente igreja diocesana,padres das paróquias, somentehomens; mas quando se chega àVida Consagrada este novoelemento traz um novo encanto aosjovens relativamente à ideia queestamos perante uma realidademais completa do ponto de vistahumano, mais rica, mais capaz desurpreender, mais capaz deaproximação afetiva/emocional emais capaz de ter outro tipo de

sabedoria menos racional que,habitualmente, se atribui aomasculino. Na Vida Consagrada também estáesta aquisição de elevado potencial,do masculino e do feminino, juntos,no verdadeiro termo organizacionalcomo Igreja ao serviço dos outros.

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AE – A questão do género foi umfator surpresa no estudo?CL – Para mim foi porque aspalavras contam muito, já Heideggerdizia que a “linguagem é a casa doser” e a expressão VidaConsagrada tem muito que se lhediga. Para o comum dos mortais, emesmo para o jovem adulto com asua agenda muito diversificada soa-lhe a qualquer coisa

que não é habitual e nosingredientes está esta maiorharmonia interior que as pessoasimaginam de muitas maneiras, nosconventos, no serviço aos outros,enfim. AE – Esta era uma resposta aberta?CL – Sim, a resposta aberta permiteperceber isso. A Vida Consagradatem “qualquer coisa” de muito

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interessante, que apetece percebermelhor, porque é composta por esta“desrotina”, disponibilidade que aspessoas vão percebendo. Há ainda a ideia que também areconhece muito que é uma ideiaainda romântica das missões, a totalpartida e despojamento, isto sãocontributos muito significativos doque a Vida Consagrada pode dar acelebrar o seu ano à Igreja no seutodo. Falamos de uma forma de sere viver a religião que tem um outroencanto; há aqui alguma evidênciaempírica que apenas 4% dos jovensinquiridos diz coisas negativas daideia que tem sobre a VidaConsagrada. Os restantes jovensestão no desconhecimento, algoque é trabalhável, e entre estasconfigurações de uma parte daIgreja mais intensa e viva, maiscompleta. AE – Falava do desconhecimentopor um lado, do encantamento pelaVida Consagrada, por outro. Na suaopinião o que precisam osconsagrados de fazer para sedarem a conhecer e cativar?CL – A segunda parte do inquéritoprende-se com isso, a parte denotícias que são apresentadas eque os inquiridos já conheciam,70%

tinham visto na televisão, o meiomais comum e poderoso. As notíciasque são mais memoráveis, asreações positivas que tiveram e umamudança de imagem da Igrejaquase sempre têm grandes históriaspor trás, ou seja, histórias contadaspor um emissor qualificado, o PapaFrancisco. Ou então as históriasque passam, que mexem comigo,são as histórias de vida, osacontecimentos, as ações, não sãodiscursos doutrinários. As coisasmais interessantes ligadas comFrancisco ou com a Igreja local sãohistórias que acontecem comrefugiados, pobres ou com coisasque têm a ver diretamente com avida das pessoas, a família porexemplo, temas muito concretos.

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CL - De facto, o grande tema que asconsagradas e os consagrados, jáque 90% estão no feminino e isso équase uma notícia e a umarealidade importantíssima, têm umacoisa muito boa dentro de si: é quetêm imensas histórias que viveram ese se dispuserem, se houverenquadramento e aprendizagem nosentido da comunicação, para queessas histórias possam serpartilhadas de maneira significativapara um público interessado, volto alembrar os 72% interessados,estamos a criar uma ligação muitointeressante em o que há para dizere o que há para ouvir. AE – Que histórias são essas?Testemunhos, episódios ouexperiências?CL – Estamos a falar deexperiência, diria eu. A experiência éaberta e pode ‘ter dado para otorto’, pode não ter sido uma delíciade histórias cor-de-rosa, e atécaímos muitas vezes nessatentação. As histórias tradicionaisaté acabam sempre bem e estesjovens atuais, nova geração, émuito consciente da complexidade,não um mundo de ingénuos, pelocontrário é um mundo cheio de

mundividências e de gente viajadano real e no virtual. ‘Já não pegamhistórias da Carochinha’ e, mais doque testemunho, não faz mal contarhistórias de interpretação aberta.Agora a grande questão é: hácoisas para contar ou não há? E ocurioso na Vida Consagrada é quehá! Há muitas… Por exemplo umadas grandes lições que tiramosdeste estudo é a força dapersonalidade, Francisco é umapessoa concreta, que vem do fim domundo, que é tão natural que“deseja bom almoço a todos”, algoque não lembrava a ninguém…Ora o que é mais curioso é que aVida Consagrada só apareceuporque houve mulheres e homensespeciais, os que fundaram osInstitutos de Vida Consagrada, queforam contra o seu tempo, tiveramde convencer os poderes para dizerque ali estava uma proposta devalor, uma ideia, uma experiência.Todos os Institutos têm uma coisaque eles gostam de dizer masdepois não atuam em conformidadeque são os carismas, coisaspoderosíssimas, porque sãohistórias únicas, de gente única queexistiu mesmo. Claro que contadas

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à maneira habitual, cheias desantidade, de linguagemultrapassada, é evidente “que nãopassa”… Mulheres muito ricas quederam tudo, homens poderosos queforam mudar de vida, essasmetanoias, essas grandesdiferenças estão por contar… Ogrande problema é se nãotivéssemos nada para dizer, mas aVida Consagrada tem!E vale a pena tirar o máximo partidodeste estudo e insisto que a piorcoisa que pode acontecer é eu terum tema para dizer e ninguémquerer saber,

mas esta juventude quer. E depoisa pior coisa que pode acontecer aseguir é os jovens quererem, euquerer dizer e não ter conteúdo,mas aqui há. É uma combinação defatores única muito interessante,deste ponto de vista espero que oAno da Vida Consagrada não fecheagora as suas portasadministrativamente e que se passea outro como o Ano da Misericórdiae arquive-se a vida Consagrada,seria lamentável, anti evangélico eanti apostolado.

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Ano da Vida Consagradaajudou a retomar o essencial O delegado da ConferênciaEpiscopal Portuguesa para odiálogo com os Institutos de VidaConsagrada faz um balanço positivodo Ano da Vida Consagrada que vaiterminar a 2 de fevereiro. Ementrevista à Agência ECCLESIA, D.Manuel Quintas destaca “um anomuito rico” que ajudou cadacongregação religiosa do país a“retomar o essencial da sua vida”em linha com o “carisma” e as“opções próprias do seu instituto”.“Houve várias iniciativas para acelebração deste ano em queprocurei estar presente, sempre queera solicitado (…) fizeram-seprogramas, propostas celebrativas,de convívio, até ao nível temático,de aprofundamento, penso que foium ano que temos de dar graças aDeus por ele”, salienta o bispo doAlgarve.No lançamento do Ano da VidaConsagrada, no final de 2014, oPapa destacava três pilares quedeviam animar a Igreja e todos osreligiosos: o testemunho, a profeciae a fraternidade. Para D. ManuelQuintas, “aquelas palavras iniciais”de Francisco ajudaram a reforçar asbases da pretendida renovação daVida Consagrada.

Despertaram as comunidadesreligiosas a crescer num“testemunho que atrai”, pois “oreligioso e a Igreja em geral devemcrescer por contágio, mais do queatravés da doutrina que também énecessária”.A trabalhar também a dimensão daprofecia, que “segundo o Papa estána linha do anúncio do Evangelho,do seguimento de Cristo, o coraçãoda Vida Consagrada”. “Osconsagrados têm esta missão dequase abanar, despertar quem estáassim adormecido, entorpecido ouanestesiado pela vida”, aponta oprelado.O delegado da CEP para o diálogocom este setor sublinha ainda odesafio do Papa argentino para que,ao longo do último ano, osconsagrados trabalhassem adimensão da fraternidade. Sendoque os religiosos podem dar umsinal muito importante num mundoque caminha “ao sabor” do“individualismo, do isolamento”.“Um sinal que pode ser respostapara aquilo que o mundo procura,que é esta dimensão de família dospovos, das nações. Nós nascermospara vivermos com os outros e aoserviço dos outros, e não contra os

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outros, é isto que nos realiza”, frisao responsável católico.Sobre a situação da VidaConsagrada na Diocese do Algarve,D. Manuel Quintas admite que arealidade das congregações não éfácil, pois só “nos últimos 10 anosfecharam várias comunidades, umas7 ou 8”. No entanto, mais do que“lamentar aqueles que saíram”, e“não se pode contrariar a realidadee a verdade desses institutos”,muitos deles envelhecidos, épreciso dar graças pelos “quecontinuam” e pelo “testemunho quecontinuam a dar”.D. Manuel Quintas, ele próprioconsagrado pela congregação dosSacerdotes do Coração de Jesus(Dehonianos), enaltece ainda o

contributo dos irmãos carmelitas naregião algarvia. “A sua oração e otestemunho que dão são fonte debênção para toda a diocese”, frisa oprelado.No próximo domingo, a Diocese doAlgarve vai concentrar todos osconsagrados do território naParóquia de Silves para uma grandecelebração comemorativa pelosdons recebidos ao longo deste Anoda Vida Consagrada. “Será tambémuma ocasião para partilharmos aalegria que nos anima emprosseguir a nossa consagração e anossa vivência do Evangelho, noseguimento de Cristo, com asdificuldades de todos”, conclui D.Manuel Quintas.

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A Vida Consagrada no mapa daspreocupações durante um anoO presidente da Conferência dosInstitutos Religiosos de Portugal(CIRP) afirmou à Agência ECCLESIAque o Ano da Vida Consagrada deu“visibilidade” aos religiosos e àsreligiosas de Portugal, colocando-osno “mapa das preocupaçõesdurante um ano”.Para o padre José Vieira, superiorprovincial dos MissionáriosCombonianos, as inciaciativas daCIRP, a nível nacional e regional,colocaram “no mapa daspreocupações a Vida Consagradadurante um ano”

“A vida religiosa em Portugal émuito fecunda em trabalhosconcretos, que vão desde aeducação, a saúde, aevangelização, a animaçãomissionária, o jornalismo”, referiu opresidente da CIRP, garantindo queem “todas as áreas da vida humanahá religiosos a trabalhar, não porespírito profissional, mas para serviras pessoas, sobretudo nos nichosmais necessitados da sociedade”.A vice-presidente da CIRP, irmãMaria do Sameiro, faz uma avaliação

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positiva do Ano da VidaConsagrada, referindo que foi umaoportunidade para “olhar o passadocom gratidão, abraçar o futuro comesperança e viver o presente compaixão”, como sugeriu o PapaFrancisco ao lançar esta iniciativa.“Foram dimensões que estiveramsempre muito presentes”, sustentoua provincial das Irmãs Hospitaleirasdo Coração de Jesus.Para a Irmã Maria o Ano da VidaConsagrada acrescença“esperança” ao “grande desafio” decontinuar o “processo derevitalização” nas diferentescongregações religiosas.O padre José Vieira, sublinha anecessidade de olhar o futuro aconcentrar energias no“desenvolvimento do carisma” e nãocom preocupações de

“autopreservação”Os consagrados em Portugal sãocerca de 6100, seculares 450, há99 congregações femininas, 33masculinas, 19 institutos seculares e419 pessoas em formação”, referiuo presidente da CIPR.“Não é muito, mas é um fermento.Nós não vamos morrer pelo menosnesta geração”, adiantou.O secretario da ConferênciaEpiscopal Portuguesa, padreManuel Barbosa, o Ano da VidaConsagrada é “para ser continuado”uma vez que a “paixão pelopresente e futuro” de um itineráriode consagração “é um caminho aseguir”.A Conferência Episcopal Portuguesavai assinalar o encerramento do Anoda Vida Consagrada no dia 7 defevereiro, em Fátima.

CIRP dá 23 bolsas de estudos no CongoA Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal apadrinhou aformação de 23 líderes pastorais na República Democrática do Congo,assinalando o Ano da Vida Consagrada paraUm exemplo: os institutos apadrinharam 23 leigos na repúblicademocrática do congoAtravés da CIRP, os institutos religiosos em Portugal fizeram 23 bolsas deestudos para 11 irmãs, 5 irmãos e 7 leigos para os preparar para a vidapastoral

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Ano da Vida consagrada

Na hora de fazer o balanço desteano, que por vontade do PapaFrancisco, foi dedicado à vidaconsagrada, devo dizer que foi umaoportunidade feliz para agradecer,refontalizar, conhecer/cooperar esair.No que aos Institutos Seculares dizrespeito, vivemos o anúncio desteano com uma esperança enormeque se pudesse deixar de identificarvida consagrada com vida religiosa.Infelizmente isso não se verificou.!Os meios de comunicação emgeral,

e até mesmo a liturgia, continuam aidentificar vida consagrada com vidareligiosa. Em tempo privilegiadopara a vivência da Misericórdia,propomo-nos “sofrer com paciênciaas fraquezas do nosso próximo”.O prefeito da Congregação para osInstitutos de Vida Consagrada e asSociedades de Vida Apostólica, oCardeal João Braz de Aviz, noCongresso Mundial de Assis, de2012, afirmou: “uma das primeiraspreocupações que me foram

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apresentadas como Prefeito, nosencontros com os InstitutosSeculares, foi: dentro da Igrejasomos pouco conhecidos ou malconhecidos”. Hoje, e passado esteano, esta afirmação ainda temfundamento. Penso que na Igreja,como no mundo em geral, sofremosde um problema que é o deconfundir o ser com o fazer.Identificamos a vida com asatividades da vida! Essa será umarazão, na minha modesta opinião,para esse desconhecimento querasa até a falta de interesse poresta vocação. A especificidade daconsagração secular, passa muitomais pelo que se é (pelo ser), doque por aquilo que se faz, (pelofazer). Embora, a finalidade davocação-missão não estejafundamentalmente na linha do fazer,mas na linha do ser: sou padre, souleigo, sou religioso(a), sou profeta,sou missionário... sou leiga/oconsagrada/o, dá-se muito relevo àsobras, ao que se faz!!! Asecularidade consagradacaracteriza-se pela simplicidade deuma relação com Deus e com osoutros, muito discreta massignificativa, porque

fundamentada na fé. Esta vocaçãoque nasce e cresce em ambiente deresposta da Igreja à secularizaçãodo mundo, afirma a força salvadorado Evangelho para a humanizaçãodeste mundo. Queremos atuardentro do mundo na base da fé emJesus Cristo para, à maneira defermento, sal e luz, potenciar quenele se rasguem os novoshorizontes próprios dos valores doReino: justiça, verdade, paz,liberdade, dignidade…No final deste ano dedicado à vidaconsagrada sintetizo a nossa missãocom uma imagem: a ponte; umaideia: a vocação do leigoconsagrado é do nosso tempo epara o nosso tempo e necessita dehomens e mulheres comprometidosa viver no mundo, unindo fé ehistória, temporal e eterno, graça enatureza, aproximando fé ecultura; um sentimento – a gratidãopor ter sido alcançada por JesusCristo, na Sua bondade, ternura,proximidade e encanto.

Maria do Rosário da Cruz Virgílio,Presidente da Conferência Nacionaldos Institutos Seculares em Portugal

(CNISP)

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Gramática da Proximidadeentre jovens e religiososOs religiosos portuguesesconheceram esta semana osresultados de um estudo feito ajovens adultos, o qual revela queentre “72 a 75% está disponívelpara ouvir”, tendo abertura para oreligioso e espiritual. A empresaIpsos APEME realizou mensalmente150 entrevistas online a jovensadultos portugueses dos 18 aos 34anos.Frei Fernando Cabecinhas,provincial dos frades Capuchinhosrevelou que ouviu a exposição“comovido e inquieto” porque senteque deve “mudar um pouco” a partirprópria realidade. “Achoparticularmente interessante olharestas realidades não só como avemos mas como as veem aquelesa quem Deus nos envia a anunciara alegria do Evangelho”, observa.Ver como podem chegar “mais aosseus corações e às suas vidas”estando “mais próximo das suasrealidades concretas”, é agora odesafio, bem como “as causasassumidas, acentua-se muito aslinguagens das novas tecnologias” eaté refletir sobre os conventos”:“Onde os temos, onde os devíamoster”.

Já a irmã Célia Faria, religiosa deMaria Imaculada, considerou osresultados do inquérito aos jovensadultos portugueses “importantes”porque “são muito interpeladores” eprovocaram “várias reações” pelas“novidades” que descobriu.“Provocou-me mais esperança aover que há um grande potencial quemuitas vezes podemos estar adesvalorizar e a não darimportância. Ajuda sobretudo aconhecer mais estes jovens queestão à nossa volta, a repensar anossa forma de falar, estar com elese das nossas propostas”,acrescentou a religiosa.Célia Faria confidencia ainda que“contar histórias não parece tãodifícil” mas “muitas vezes” não assabe aproveitar e analisa: “Na minhaeducação também este contarhistórias foi-me apresentado masnão com esta força como agora.Quando tento transmitir conteúdosmais abstratos noto que os perco,começa a criar-se distância”.O estudo divulgado em Fátimacontemplou também quatroincursões etnográficas trimestraiscom consagrados a contextos ondese

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encontram os jovens paraobservarem que carateriza ajuventude. Uma destas saídas foi aum bar no Cais do Sodré, emLisboa, para conversar, tomar umabebida e assistir a um concerto de“música alternativa” e, no fim, “maisuma conversinha”, com jovensadultos, “pessoas licenciadas, atrabalhar, com 30 e poucos anos”,que não sabiam que estavam napresença de duas freiras.“Acabou por ser uma conversainteressante de amigos que seencontram à noite. Conversamos

sobre expetativas das vidas deles,o que pensam da sociedade, dareligião, que colocou-se mais para ofim da noite para não quebrar logo aconversa”, explica a irmã MafaldaLeitão, destacando as “expetativasinteressantes e profundas de vida”dos três interlocutores.A religiosa das Servas de NossaSenhora de Fátima, que vive noBairro Alto, revela que o encontro“ajudou a abrir um bocadinho ohorizonte” para uma realidade que éfamiliar mas “sem conseguirdialogar”.

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Caminhos acontecem, vozeschamam

Aconteceu um ano de vidaconsagrada como acontecem ascaminhadas dos consagrados peloscaminhos deste mundo e as vozesque chamam.Mil apelos para iremao encontro de quem é voz.Percorrem caminhos iguais a tantosoutros. Na família, no mundo, nasigrejas, escolas e locais de trabalho.Percorrem veredas, estradas,terras, mares e ares como tantosoutros, todos: crianças, jovens,adultos e idosos, doentes

e sãos, ricos e pobres. E algunscaminham de modo diferente rumo àconsagração de quem os consagra.Uns e outros passam por muitasencruzilhadas, algumas sem sinaisvisíveis, outras com sinaisenganosos; é uma graça quandoencontram sinais de sentido pleno.Olham inquiridores, atentos aosopro da brisa e o sinal de graçapode animar a prosseguir por aquiou por ali. Ouvem vozes sem conta.A estas respondem

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àquelas passam adiante. Ouvemvezes sem fim, vozes de vida planae vozes de vocação alta. Uns eoutros, todos, crianças e adultos,por entre brumas e nevoeiros, porentre réstias de luz percorremcaminhos e veredas. Uns e outroshesitam e duvidam, como toda agente. Ora decididos ora perplexostomam o rumo do nascente, do sulou do norte, segundo acertam ocoração pela bússola de uma voz.Um dia dizem sim a uma direção, aum sentido de vida, visão e ordemde valores que lhes acena. A vozclara chama a ser e agir comdiferenças ricas de consagrados eseguem essa voz, visão, outra luz. Oseu guia escrito de rota diz que sãochamados a ser diferença, a fazerdiferença, a ser sal onde não hásabor nem sabedoria sensata nosconsumos, uns fartos, outros comfome; a serem luz onde há nevoeiro,escuridão da noite e do dia; a sersinaleiros onde há perplexidades eangústias de estar perdido. Não sãoo alvo, só sinaleiros. E dizem sim aessa missão. Pretensão? Orgulho?Não. Resposta a uma visão e umaousadia que lhe é emprestada.Seguem um guia vivo que lhespassa sinais, palavras e convites eo torna diferentes: sigam e não seperderão e não serão cegos a guiaroutros cegos.

As vidas consagradas são vidasiguais às dos que percorremcaminhos e veredas; e diferentedoutras vidas devido ao único quefaz a diferença; são uma visão destemundo e do que está para alémdele, igual e diferente de tantasoutras. Vida para ser igual bondadee dar fruto, mas ser e dar fruto commais seiva e semelhanças com umHomem que se apresentou ser oCaminho, a Verdade e a Vida.Foi este guia o celebrado neste Anode Vida Consagrada; celebrado poraqueles que o seguem peloscaminhos da vida e do mundo cheiode encruzilhadas, de perplexidadese de enganos, como toda a gente;celebrado por aqueles que nessasencruzilhadas vêm uma luz diferentee ouvem uma voz diferente achamar: vinde por aqui. E vão, e setornam vozes a dizer, também: nãoqueres vir connosco e com Ele?Pelo caminho dele, a verdade dele ea vida dele?

Aires GameiroOrdem Hospitaleira

de São João de Deus

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Cantar a alegria da vida religiosa

A Irmã Maria Amélia, religiosa daCongregação das IrmãsFranciscanas Hospitaleiras daImaculada Conceição (CONFHIC),tem-se dedicado à evangelizaçãoatravés da música há mais de 35anos, com nove álbuns já editados.No final do Ano da VidaConsagrada, destaca o trabalhorealizado no país, acontecimentosque se destacaram não pela suadimensão, mas por terem sidomomentos

“com significado, comprofundidade e com proximidadecomo tanto pede o Papa”.Em conversa com a ECCLESIA, areligiosa afirma que Colocar osjovens a visitar as comunidades foi“muito importante”, da mesmamaneira que foram as caminhadasdos jovens com os religiosos pelacidade.“Havia muita gente que não se tinhaapercebido de que estávamos noAno

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da Vida Consagrada”, admite.Das experiências de “evangelizaçãode passagem” pelas ruas ficou coma convicção de que “as pessoas têmuma necessidade imperiosa deserem escutadas”.Para a irmã Maria Amélia, foiimportante dar a conhecer a vidareligiosa durante este ano especial,convocado por Francisco. “O Papateve uma boa pedagogia em fazer oano da família e o da vidaconsagrada em paralelo, porquenão há vida consagrada semfamília. São vocações que seimpõem, em que uma vem da outrae bebe da outra”, refere.O início de um ano santoextraordinário é visto como “umalerta muito grande” para quefamílias religiosas sejam “uma porta

de esperança”, numa novaatmosfera, para enfrentar com amisericórdia “a superviolência domundo e a barbaridade a que seassiste diariamente”.A religiosa sublinha a tónica da“alegria” e da felicidade na vidareligiosa que tem sido sublinhadapelo Papa Francisco.

Dizer a felicidade«Dizer a felicidade» foi a música da Irmã Maria Amélia Costa criada com ointuito de servir como meio evangelizador para o Ano da VidaConsagrada. Esta foi a grande motivação da religiosa, quando compôsesta música e coordenou a sua interpretação.“O que tentei fazer foi pegar numa canção que tivesse a ver não só coma vida consagrada mas também com qualquer vocação”, explica.O acolhimento entre os mais jovens tem sido muito bom, segundo areligiosa. “Noto que a canção da vida consagrada está por aí”.

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Entre 5 mil jovens “ninguém eraestranho”

Nuno Pacheco e Daniel Kuoubo sãojovens seminaristas daCongregação dos SacerdotesCoração de Jesus (Dehonianos) eno mês de setembro viveram aexperiência de estar em Roma, pelaprimeira vez, no CongressoInternacional de JovensConsagrados. Dias de formação,encontro e convívio que ficaramguardados na memória dos doisjovens seminaristas.A pronúncia denota a origem e aboa disposição é uma maneira deestar de Nuno Pacheco, oriundo deSão Miguel, nos Açores. Viveusempre em contacto com ossacerdotes dehonianos e a vocação“surgiu naturalmente” dando umacambalhota na sua vida.

“Vivia ao lado da casa dos padresdehonianos, vi a casa crescer, eeles tomavam conta da minhaparóquia; nunca coloquei a hipótesede outra experiência longe dosdehonianos e se não me tivessecruzado com eles, provavelmente,tinha seguido o negócio da família eestaria agora nas pastagens”,recorda o jovem entre risos. Está no 5º ano do seminário e a idaa Roma para o congressointernacional foi uma surpresa e aconcretização de um sonho.“Era uma das viagens de sonho quepretendia fazer e ir lá neste ano daVida Consagrada foi um gosto.

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Estar em Roma no meio de 5 miljovens religiosos mexeu comigo, deiconta que não sou o único, vi quemuitos outros se sentiram chamadose ali estavam no seu sim diário.”Foi num ambiente de fraternidade eamizade, onde “ninguém eraestranho”, que Nuno Pachecoparticipou no momento alto, oencontro com o Papa que, ludibriouos jovens ao entrar por outra portae a todos fez sorrir.“Impressionou-me a atitude dedeixar de lado o discurso e falar deimproviso, e o diálogo simples doPapa com os jovens; depois outromomento que recordo foi o caminhodos Mártires, celebrámos a suamemória, ali onde muitos cristãosderam a vida, foi uma experiênciamuito forte”.As noites eram de “descontraçãoentre pizzas e gelados” e comojovens que são, a animação eraconstante, “que muitos italianospassavam e faziam perguntas emrelação à vocação e vida religiosa,uma forma diferente deconseguirmos dar testemunho”,salienta o jovem açoriano.Por seu lado Daniel Kuoubo, naturaldos Camarões, perguntava a simesmo “o que fazer da vida” e foijunto da Congregação doSacerdotes do Coração de Jesusque foi encontrando resposta. “O primeiro contacto com umacomunidade dehoniana ainda melembro… Não esqueço mais o

acolhimento que senti naquelacasa, por uma pessoa que nãoconhecia, isso mexeu comigo. Edepois o padre Dehon foi-meapresentado de forma simples masque me cativou”, partilhava de olharsereno.Recordando o congressointernacional o jovem de 29 anoslevava o encontro com o Papa nasua expetativa mas, estando aoserviço, viveu e sentiu de outraforma.“Fui solicitado para ir fazer astraduções de Francês paraPortuguês e assim vivi o encontrocom o Papa, tive de estar nascabines; mas a emoção permaneceuporque estar a traduzir em diretomostrou-me o que é adisponibilidade para as pessoas,presente no nosso carisma, estavaali disponível para dar o melhor quetemos”, explica.Mesmo das cabines de traduçãoDaniel Kuoubo não esquece que oque mais o tocou no encontro com oPapa “foi o facto de ele mostrar umamor paterno pelos jovensconsagrados”. Outro momento importantedestacado pelo jovem camaronês,foi a via-sacra, “que mostrou o pesoda presença da Vida Consagradana Igreja e na sociedadecontemporânea”, comomanifestação pública da fé e ondeos religiosos não passamdespercebidos.Momentos marcantes que fizeramrenovar a vocação e que, decerto,ficam na memória por muitos anosdestes dois jovens seminaristasdehonianos. 55

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dehonianos.

" MEU DEUS E MEU TUDO " from Alberto Pereira films

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Um olhar à mensagem do PapaFrancisco para o Dia Mundial dasComunicações Sociais de 2016 (parte 1)Irei, esta semana e na seguinte,apresentar uma leitura à mensagemque o Papa Francisco publicou parao dia mundial das comunicaçõessociais intitulada “Comunicação eMisericórdia: um encontro fecundo“,que este ano se celebra a 8 demaio. Quase todos os parágrafossão dignos de serem destacados erefletidos ponto por ponto. Foi esteexercício que fiz e que passo aapresentar. É meu objetivo que estareflexão sirva para melhoraprofundar a riqueza

do texto lançado no dia 22 dejaneiro.A mensagem começa logo porapresentar a justificação de se falarsobre misericórdia num texto queeminentemente aborda a questãoda comunicação. E a razão é muitosimples: estamos a viver o AnoSanto da Misericórdia que nosconvida “a refletir sobre a relaçãoentre a comunicação e amisericórdia”! Por isso tudo “aquiloque dizemos e o modo como odizemos, cada palavra e cada gestodeveria poder expressar acompaixão, a ternura e o perdão deDeus para todos”. Se estacompaixão é sinal de amor, então “oamor, por sua natureza, écomunicação: leva a abrir-se, nãose isolando”. Mais forte ainda setorna essa nossa comunicação, “seo nosso coração e os nossos gestosforem animados pela caridade, peloamor divino”.De seguida, somos chamados acomunicar com todos sem exceção,pois “como filhos de Deus, somos

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chamados a comunicar com todos,sem exclusão” (…) “para que Jesusseja conhecido e amado”.Por outro lado o papa Franciscochama a atenção para o poder dacomunicação, à semelhança do quejá fez em mensagens anteriores.Pois as “palavras e ações hão-deser tais que nos ajudem a sair doscírculos viciosos de condenações evinganças que mantêm prisioneirosos indivíduos e as nações,expressando-se através demensagens de ódio”. E é aqui élançada a primeira ponte para ocontexto digital, quando é afirmadoque “isto acontece tanto noambiente físico como no digital”,sendo que “a palavra do cristão visafazer crescer a comunhão e, mesmoquando deve com firmeza condenaro mal, procura não romper jamais orelacionamento e a comunicação”.Um facto interessante e que mechamou a atenção particularmentefoi a frase de Shakespeare que écitada: «A misericórdia não é umaobrigação. Desce do céu como orefrigério da chuva sobre a terra. Éuma dupla bênção: abençoa quem adá e quem a recebe» (O mercadorde Veneza, Acto IV, Cena I).Portanto ” a misericórdia

é capaz de implementar um novomodo de falar e dialogar”.No início do sexto parágrafo échamada a atenção para o poder dacomunicação e é-nos pedido quenunca se deve expressar “orgulhosoberbo do triunfo sobre uminimigo”, nem humilhar “aqueles quea mentalidade do mundo consideraperdedores e descartáveis”.Portanto a forma e o estilo da nossacomunicação deve ser “capaz desuperar a lógica que separanitidamente os pecadores dosjustos”. Sendo certo que “podemose devemos julgar situações depecado – violência, corrupção,exploração, etc. –, mas nãopodemos julgar as pessoas, porquesó Deus pode ler profundamente nocoração delas”. Porque “só palavraspronunciadas com amor eacompanhadas por mansidão emisericórdia tocam os nossoscorações de pecadores. Palavras egestos duros ou moralistas correm orisco de alienar ainda mais aquelesque queríamos levar à conversão eà liberdade, reforçando o seusentido de negação e defesa”.

Fernando Cassola [email protected]

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A memória de D. Albino Cleto

O cardeal-patriarca de Lisboa, D.Manuel Clemente apresentou o livro“D. Albino Cleto – Memórias de UmaVida Plena”, assinado pelo jornalistaJosé António Santos e publicadopela Paulinas Editora.Os nove capítulos da obra revelammuitos detalhes, até agoradesconhecidos, da vida, açãoapostólica e espiritualidade doprelado, que foi bispo auxiliar deLisboa durante 15 anos – de 1983

a 1997 – e bispo de Coimbra entre2001 e 2011, além de terdesempenhado vários cargos naConferência Episcopal Portuguesa,de que foi secretário e porta-voz.A investigação de José AntónioSantos remonta a 1895 para situaras origens, família e o despertar davocação de D. Albino Cleto,prosseguindo com a sua passagempelos seminários, a ordenaçãosacerdotal e as missões que lheforam confiadas, entre

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as quais a de responsável pelaparóquia de Nossa Senhora daLapa (Basílica da Estrela), emLisboa.As mais de 550 páginas destevolume, que incluem uma centenade fotografias, abrangem tambémas responsabilidades que assumiuapós ter sido ordenado bispo,primeiro em Lisboa e depois emCoimbra, terminando com umacoletânea de textos em que se destacam os temas da arte,património, inculturação da fé,liturgia e diálogo inter-religioso.O traço mais destacado da vida doprelado não será, todavia, oitinerário repleto de ocupaçõesmultifacetadas ao serviço da Igreja,mas a sua humanidade simples,serena e humilde, como sublinha oatual bispo de Coimbra, no prefáciodo livro: «Na tentativa de definir otraço fundamental da pessoa de D.Albino Cleto, ocorre-me a expressãobíblica “passou pelo mundo fazendoo bem”».«De entre as pessoas que conheci,algumas caracterizam-se pelasrealizações que protagonizaram,outras pelas palavras queproferiram ou pelas obras materiaisque perpetuam no tempo o seunome. Mais raro é encontrarem-sepessoas que deixam atrás de si umrasto de bondade que permanecena memória daqueles com quempartilharam a

grandeza do seu coração», escreveD. Virgílio Antunes.D. Albino Cleto «dedicou a minúciada sua atenção a cada um, ocuidado paterno com todos comose, efetivamente, de filhos setratasse, a sentida preocupaçãocom os sofredores e a alegriapartilhada com os mais felizes, orasto da sua genuína bondade»,salienta o bispo de Coimbra.«A publicação desta biografia, noAno Santo da Misericórdia, é umafeliz coincidência, a que tambémpodemos apelidar de sinal indicadorda sua figura como exemplo etestemunha da misericórdia de Deusencarnada na vida do homem, docristão e do bispo. A sua palavra, oseu gesto e o seu modo de ser narelação próxima e amiga deixaramindelevelmente impressos em muitosos vestígios da misericórdia do Pai»,declara D. Virgílio Antunes, quesucedeu a D. Albino Cleto.

Paulinas Editora

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II Concílio do Vaticano: CardealCerejeira «informava» OliveiraSalazar

Durante o II Concílio do Vaticano (1962-1965), ocardeal Manuel Gonçalves Cerejeira escreveu váriasmissivas ao chefe de governo da altura, António deOliveira Salazar, sobre a magna assembleia quemarcou a vida da igreja no último século. Logo em1962, o bispo de Lisboa agradeceu a presença deMário de Figueiredo, na qualidade de presidente daAssembleia Nacional, que chefiou a delegaçãoportuguesa presente na abertura do concílio.“Quanto à instalação dos prelados, foi nossa intençãodesde a primeira hora instalarmo-nos todos juntos.Por falta de quartos no Colégio Português, teve de serecorrer também à Casa das HospitaleirasPortuguesas. Apenas o de Portalegre [D. AgostinhoMoura] e o do Porto [D. António Ferreira Gomes]ficavam de fora, o de Portalegre na casa da suaCongregação do Espírito Santo”. (In: Rita Almeida deCarvalho; «António de Oliveira Salazar – ManuelGonçalves Cerejeira – Correspondência 1928-1968»;Lisboa, Temas e Debates – Círculo de Leitores; pág292)Ao longo desses anos, a correspondência entre oPatriarca de Lisboa e António de Oliveira Salazar foiabundante e versou diversas temáticas: desde apolítica nacional a assuntos mais de âmbito eclesial.Numa missiva enviada a 15 de novembro de 1963, ocardeal português confessa que escrever sobre o IIConcílio do Vaticano “exigiria muito espaço”, mas “nãote oculto as preocupações causadas por certasintervenções e sobretudo pela exploração feita porcerta imprensa”. Na mesma carta, o cardeal Cerejeirainformou que

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o Papa Paulo VI iria visitar a Igrejade Santo António dos portugueses(17 de novembro de 1963) e quetinha “sido muito amável para comPortugal”. (Obra citadaanteriormente, pág 295).Após a visita do Papa Montini àreferida igreja, António OliveiraSalazar escreveu um telegrama aocardeal Cerejeira onde consideraque foi uma “grande honra para anação portuguesa”. No mesmodocumento, António de OliveiraSalazar deseja as melhoras ao seuamigo porque este lhe confessouque iria extrair “pólipo ulcerado norecto” na Clínica

Salvator Mundi (Roma). A operaçãonão decorreu na capital italiana,mas em Lisboa, no Hospital deJesus.Depois do anúncio da «polémica»visita do Papa Paulo VI aoCongresso de Bombaim, assuntoque o cardeal Cerejeira informou,numa extensa carta de 16 deoutubro de 1964, Oliveira Salazar, opatriarca de Lisboa escreveu novamissiva (18 de outubro) ondeescreveu que “este facto contrista-nos a todos nós portugueses”.Documentos históricos durante operíodo conciliar.

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janeiro 2016 30 de janeiro. Lisboa -Jornadas Corais de MúsicaSacra promovidas pela EscolaDiocesana de Música Sacra doPatriarcado de Lisboa . Portalegre - Jornadas Diocesanasda Família subordinadas ao tema«Família e Misericórdia – DesafiosAtuais» . Évora - Igreja do Salvador -Encerramento da exposição depresépios «Nasceu Jesus» deDelfim Manuel . Algarve -Jubileu dos Catequistas ecelebração do Dia Diocesano dosCatequistas . Braga - Centro Apostólico doSameiro - Retiro sobre «Recebe eoferece a Misericórdia» destinado aagentes da Educação Cristã eorientado pelo padre Manuel Morujão . Braga – Famalicão - Encontroarciprestal de catequistas emFamalicão com o tema «Catequista:Missão e Misericórdia»

. Leiria – Biblioteca - Encerramento da exposição deartes plásticas sobre o movimentoescutista católico e o seu contributopara a educação das crianças ejovens da região de Leiria . Coimbra - Seminário dosDehonianos, 10h00 - Ação deformação de animadoresvocacionais promovido peloSecretariado Diocesano dasVocações . Aveiro - Seminário de Aveiro,15h00 - Workshop sobre «Leituraorante da Bíblia» orientado pelopadre João Alves . Beja - Da Igreja do Seminário àIgreja de Santa Maria, 15h00 - Peregrinação jubilar da VidaConsagrada . Leiria - Marinha Grande (Igreja dePicassinos) 19h00 - Mostra desopas a favor da remodelação dailuminação da Igreja de Picassinos . Lisboa - Sintra (Centro Comunitárioda Paróquia do Algueirão), 21h00 - Encontro sobre «Chamados aproclamar os altos feitos do Senhor»no contexto do Oitavário de oraçãopelos cristãos

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31 de janeiro. Dia Mundial dos Leprosos . Lisboa - (Museu de Lisboa - SantoAntónio) - Encerramento da mostrade presépios tradicionaisportugueses com estrutura emescada . Algarve - Jubileu dos Consagrados . Évora - Igreja do Carmo, 09h00 - Bênção das pastas dos finalistas deenfermagem por D. José Alves,arcebispo de Évora . Aveiro - Salão das Florinhas doVouga, 15h00 - Encerramento doAno da Vida Consagradacom conferência sobre «Viver aMisericórdia» proferida pelo padreCarlos Carneiro . Viseu – Sé, 16h00 - Ordenação episcopal de D. Nuno Almeida . Porto - Salesianos do Porto, 16h00- Lançamento do livro «Aprender aperdoar» da autoria do padre RuiAlberto e Sofia Fonseca comapresentação de D. Carlos XimenesBelo

01 de fevereiro. Porto – UCP - Jornadas deTeologia sobre «Do Deus damisericórdia à misericórdia deDeus» (até 04 de fevereiro) . Fátima - Casa Domus Carmeli - Ação de formação sobre «Pintura eIconografia» promovida peloSecretariado Nacional dos BensCulturais . Aveiro - Tomada de posse dadireção da Cáritas Diocesana deAveiro com a presença de D.António Moiteiro . Lisboa - Capela do Rato, 18h15 - Sessão do ciclo «Os filósofostambém falam de Deus» dedicada aSanto Agostinho e orientada porHenrique Noronha de Galvão . Lisboa - Igreja do SagradoCoração de Jesus, 21h00 - Vigíliade oração pela Vida Consagrada 02 de fevereiro. Santa Sé - Extração do númerovencedor da «lotaria» debeneficência . Fátima - Reabertura da Basílica deNossa Senhora do Rosário deFátima

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O novo auxiliar da Arquidiocese de Braga, D. NunoAlmeida, vai ser ordenado bispo este domingo, pelas16h00, na Sé de Viseu. A nomeação do PapaFrancisco foi anunciada a 21 de novembro. A 31 de janeiro assinala-se o Dia Mundial dosLeprosos. A Igreja Católica apresenta estacelebração como uma boa ocasião para a práticada caridade junto dos doentes e necessitados. No dia 1 de Fevereiro vai decorrer a 2ª sessão daAção de Formação "Inventário de Bens Culturais daIgreja: análise, identificação e classificação". Dedicadaao tema "Pintura e Iconografia", os respetivos módulosserão lecionados pelos professores Nuno Saldanha eMarco Daniel Duarte. O núcleo regional do Porto da Faculdade deTeologia da Universidade Católica Portuguesavai debater a misericórdia, numa perspetivateológico-pastoral, nas suas jornadas, entre 1 a 4de fevereiro, no campus Foz. A Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima,vai reabrir ao culto no próximo dia 2 de fevereiro, às11h00, numa Eucaristia presidida pelo Bispodiocesano, D. António Marto, que incluirá a dedicaçãodo altar.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 13h30Domingo, 31 de janeiro - Aoserviço das famílias. O projetode monsenhor Alves Brás nosdias de hoje RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 01 -Entrevista sobre o Ano daVida Consagrada com a irmãMaria do Sameiro e o padreJosé Vieira Terça-feira, dia 02 -Informação e entrevista sobreo Dia do Consagrado com o padre Manuel Barbosa Quarta-feira, dia 03 - Entrevista ao reitor do Quinta-feira, dia 04 - Informação e entrevista sobreos Bens Culturais da Igreja com Sandra Saldanha Sexta-feira, dia 05 - Entrevista de análise à liturgiade domingo com o cónego António Rego e padre VitorGonçalves. Antena 1Domingo, dia 31 de janeiro - 06h00 - Dia Mundialdos Leprosos - APARF e Mãos Unidas Segunda a sexta-feira, 01 a 05 de fevereiro - 22h45 - Vida Consagrada: o estudo com Carlos Liz;Consagrados da diocese de Setúbal; seminaristadehoniano Nuno Pacheco; Irmã Maria Amélia Costa e ohino do ano; seminarista dehoniano Daniel Kuoubo

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Ano C – 4.º Domingo do TempoComum Sem caridade,que somosnós?

A Palavra de Deus neste quarto domingo do tempocomum convida-nos a refletir sobre o caminho doprofeta: caminho de sofrimento, solidão e risco, mastambém caminho de paz e esperança, porque é umcaminho onde Deus está. Na peregrinação da vidacristã, que só pode ser na fé e na caridade, vale paranós a mesma presença de Deus em relação aJeremias: «não temas, porque Eu estou contigo parate salvar». Deus forma Jeremias desde o ventrematerno, escolhe-o e consagra-o como profeta. NoEvangelho, Jesus aparece como o grande profeta,desprezado pelos seus, mas que «passou pelo meiodeles e seguiu o seu caminho». É o mesmo caminhodo Pai, que nos ama e quer salvar.A segunda leitura parece desenquadrada destatemática: fala da caridade ou do amor, desinteressadoe gratuito, apresentando-o como a essência da vidacristã. Parece desenquadrada, mas não é bem assim,porque o profeta só pode ser guiado pelo amor enunca pelo próprio interesse. Só assim a sua missãofará sentido.Fiquemos uns instantes neste belíssimo texto dePaulo, tão conhecido como hino ao amor ou àcaridade. É uma das suas páginas mais célebres, emque o apóstolo nos indica «um caminho superior atodos os outros»: não o caminho do amor-paixão nemdo amor-amizade, mas o caminho do amor-caridade,da agapè. Para falar deste amor, em vez de dardefinições, Paulo utiliza 15 verbos de ação: terpaciência, servir, não invejar, não se vangloriar, não seorgulhar, etc. Este hino só pode elevar-nos, mesmoinflamar-nos. São 15 dinamismos ou atitudes de vidano amor.Procuremos ler todo o texto, isto é, a forma longa

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proposta na liturgia. Muitas vezes,na proclamação das leituras,ficamo-nos pelas formas breves. Secalhar para ganhar tempo. Masdepois estica-se o tempo emextensas homilias, por vezes fora detom, e em exaustivos avisosparoquiais. E corta-se o tempo daPalavra. Oxalá que isso nãoaconteça, sobretudo na leitura dehoje. Se ficarmos pela forma breve,acolhemos o essencial: se não tiveramor, nada sou! Mas perdemos odesenvolvimento da mesmaessência: como não deve ser ecomo deve ser a caridade, que é omáximo de tudo, mesmo acima da fée da esperança. A

fé é prioritária, mas a caridade tem aprimazia. Afinal, sem amor,que somos nós? Sem caridade,nada somos!Uma sugestão final: podemos reler ocapítulo 13 da Primeira Carta aosCoríntios, substituindo «caridade»por «Cristo». Deste modo, podemosver como anda em concreto o nossocaminho profético centrado no amorde Cristo. Que somos nós, semcaridade? Mas sem Cristo, quesomos nós?

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Um jubileu de reconciliação entreirmãos

O Papa apelou no Vaticano àreconciliação entre irmãosdesavindos, como um sinal davivência do ano santo extraordinárioda Misericórdia, no qual pedetambém atenção a quem é oprimidoou perseguido. “Penso nos muitosirmãos que se afastaram numafamília e não se falam. Bem, esteAno da Misericórdia é uma boaocasião para reencontrar-se,abraçar-se e perdoar-se, sim?Esquecer as coisas más”, disse,perante milhares de pessoasreunidas na Praça de São Pedro, naaudiência geral.Prosseguindo o ciclo de catequesessobre a misericórdia na Bíblica,

Francisco comentava umapassagem do livro do Êxodo, sobrea experiência dos israelitas no Egito.“A misericórdia não pode ficarindiferente perante o sofrimento dosoprimidos, o grito de quem ésubmetido à violência, reduzido àescravidão, condenado à morte. Éuma dolorosa realidade que afligetodas as épocas, incluindo a nossa,e que nos faz sentir impotentes,muitas vezes”, assinalou.O Papa afirmou que “o Deus demisericórdia” não desvia o olhar dosofrimento humano e toma conta“dos pobres, dos que gritam o seudesespero”.Nesse sentido, convidou os católicos

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a ser “mediadores de misericórdia”no ano santo extraordinário(dezembro de 2015-novembro de2016), “para se aproximarem, paradar alívio, para fazer unidade”. “Amisericórdia de Deus age semprepara salvar. Completamente aocontrário da obra dos que agemsempre para matar, por exemplo osque fazem as guerras”,acrescentou.No final da catequese, Franciscoconvidou todos a “abrir o coração”para chegar a quem precisa “comas obras de misericórdia”.Já nas saudações aos peregrinos, oPapa saudou os de língua árabe,em particular vindos do Iraque e doMédio Oriente. “Deus não fica emsilencia diante do sofrimento e dogrito dos seus filhos, diante da

injustiça e das perseguições, masintervém e oferece, com a suamisericórdia, a salvação e osocorro”, afirmou.Francisco cumprimentou também osperegrinos de língua portuguesa,especialmente os fiéis de Brasília eSão José dos Campos. “Que nadanem ninguém possam impedir-vosde viver e crescer na amizade deDeus Pai; mas deixai que o seuamor vos regenere sempre comofilhos e vos reconcilie com Ele e comos irmãos”, desejou.O Papa vai voltar à Praça de SãoPedro este sábado para a primeiradas audiências públicasextraordinárias que vão decorrermensalmente por ocasião do Jubileuda Misericórdia.

Roteiro para a QuaresmaA Diocese de Viana do Castelo divulgou o roteiro para a Quaresma de2016, no qual convida a ‘Abrir a Porta da Misericórdia!’ às Obras deMisericórdia, que vão ser refletidas em cada domingo, em família ecomunidade, e promovidas na “prática da vida.”

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Cristão condenado a trabalhos forçados na Coreia doNorte

O preso “036”Natural do Canadá, Hyeon SooLim foi preso na Coreia do Nortequando desenvolvia trabalhohumanitário. Acusado deconspirar contra o regime, foiagora condenado a prisãoperpétua com trabalhosforçados. Isolado de todos, nema Bíblia pode ler. A vida mudou completamente paraHyeon Soo Lim. No início do anopassado, a família perdeu ocontacto com ele, depois de SooLim ter iniciado mais uma viagematé à Coreia do Norte, ondedesenvolvia regularmente trabalhohumanitário em nome da IgrejaPresbiteriana da Coreia. A ausênciade notícias não augurava nada debom e o pior veio mesmo a revelar-se apenas algumas semanas maistarde: Hyeon estava detido. Masporquê? Algo de estranho se teriapassado. Afinal, este cristão, de 60anos de idade, nascido na Coreiado Sul mas com cidadaniacanadiana, ia com algumafrequência ao mais hermético paísdo mundo onde a sua Igreja eraresponsável pela construção de umorfanato e de lares para idosos.Acusado de “actos

contra o Estado”, foi condenado aprisão perpétua com trabalhosforçados. IncomunicávelAgora, sabe-se, o preso “036” éobrigado a abrir buracos nosterrenos do campo de concentraçãoonde se encontra, durante oitohoras por dia. Está incomunicável enem um exemplar da Bíblia – quepediu às autoridades – lhe deramainda. Desconhece-se quantoscristãos estão presos na Coreia doNorte. Considerados como“inimigos” do Estado, os Cristãosnão podem, em momento algum,revelar qualquer prática religiosa,sob risco de poderem ser presos deimediato. No entanto, há sinais,embora ténues, de que o povoCoreano não esqueceu as suasraízes cristãs, apesar da tenebrosaperseguição de que é alvo. Umrelatório recente do Governo dosEUA dá conta da existência de“inúmeros casos de membros deIgrejas clandestinas presos,maltratados, torturados ou mortosdevido às suascrenças religiosas”. AFundação AIS também temdenunciado isso nos

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seus relatórios, colocando a Coreiado Norte como o país do mundoonde é mais arriscado alguémassumir a sua fé em Jesus. Haverá,actualmente, talvez 200 mil presosem campos de concentração doregime de Pyongyang. Alguns, unsmilhares, são cristãos. A descobertade um simples exemplar da Bíbliaem casa é suficiente para que todaa família seja deportada para umdesses campos de concentração. Igreja clandestina?O regime é impenetrável. Eminquéritos realizados junto derefugiados que conseguiramescapar do país, há indícios de que,na região fronteiriça com a China,haverá uma Igreja clandestina.Hyeon Soo Lim não é o único cristãoestrangeiro preso pelo regime dePyongyang. Nos últimos dias omundo ficou a saber também dadetenção de Kim Dong Chul, umnorte-americano, assim como depelo menos mais dois cidadãos sul-coreanos, presos sob a acusaçãode espionagem. Um deles, Kim Kuk-gi, de 60 anos, foi detido por“espalhar propaganda religiosa emigreja clandestina”. A Coreia doNorte tem igualmente nas suasprisões o missionário sul-coreanoKim Jeong-wook, condenado emOutubro de 2013 a trabalhosforçados quando

procurava dar abrigo e alimentos anorte-coreanos que tentavamabandonar o país pela fronteira coma China. Verdadeira razãoTalvez esta seja a verdadeira razãopara a prisão perpétua de HyeonSoo Lim. Nunca se saberárealmente. Mas é bem provável quenas suas muitas viagens até àCoreia do Norte este missionáriotenha procurado ajudar ascomunidades cristãs que, emboraclandestinamente, continuam amanter viva a chama da fé. Soo Limestá agora preso num campo deconcentração. É obrigado atrabalhar arduamente durante oitohoras por dia, apesar da sua débilcondição física. Ninguém sabe comoele está. No entanto, seguramente,o preso “036” não tem dúvidas deque no mundo inteiro há milhares depessoas que rezam por ele. Etambém por todos os norte-coreanos que arriscam a vida só porse manterem fiéis a Cristo.

Paulo Aidowww.fundacao-ais.pt

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Espiral de violência

Tony Neves Espiritano

Todos os dias ouço pais e filhos a queixar-se dotão falado ‘bullying’, essa violência que tira dosério quem quer um ambiente social e escolar deserenidade.Mas, a verdade é que tudo no mundo parececheirar a violência. Se abrimos um jornal (ouolhamos a primeira página), lá aparece a notíciade um atentado, de roubos, violações, mortes àfacada, ameaças de bomba. Se ligamos qualquercanal televisivo em hora de telejornal, lá vêm asnotícias da mesma qualidade, calibre e temática.Se consultamos um site, o panorama é igual. Sedecidimos fazer um jogo de computador, rarossão os que não metem uns tiros, unsbombardeamentos, uns murros, uns choquesentre carros ou aviões.Claro que, o ambiente real ou virtual onde nosmexemos está carregado de violência. Querqueiramos quer não, este dado revela queninguém passa ao lado de uma mentalidademarcada pelo conflito, pelo choque, pelo ataque,pelo desrespeito pelos outros. Estas situaçõestêm lugar nos estádios de futebol, nas ruas, nasempresas e escritórios, nos espaços comerciais,nas famílias e nas escolas.A violência que acontece no seio das famílias édramática, porque acontece à porta fechada.Muitas vezes, os familiares atingidos por outrosfamiliares preferem remeter-se ao silêncio comvergonha ou medo de represálias. É uma dasrealidades mais dolorosas da vida de muita gentepor esse mundo além e as autoridades têm muitadificuldade de intervir no quadro legal para pôrfim a esta barbárie.

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Nas escolas, há um aumentoacentuado de casos de violência,envolvendo alunos, professores,funcionários, pais e outras pessoasque circulam dentro da área dasescolas ou nas suas imediações.Apontam-se muitas razões, mastodas elas carecem de qualquerlógica. Entre alunos, há sinaispreocupantes de aumento deviolência, sendo o ‘bullying’ umaexpressão muito utilizada paraexprimir as ameaças e agressõespraticadas por quem se sente maisforte e, de forma indigna, humilha eviolenta colegas que ficammarcados, física epsicologicamente,

para longos tempos. Por vezes, asmarcas ficam para o resto da vida,levando mesmo á depressão e aosuicídio.A gravidade destas e doutrasformas de violência levantaquestões de educação que éimportante tomar a sério. Ocompromisso por mais respeitopelas pessoas e seus direitos deveconstituir preocupação dasautoridades, instituições e famílias.Há que investir nas relaçõessaudáveis em todas as escolas eespaços onde o objetivo é crescerna dignidade, no conhecimento e nacidadania responsável.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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