o batuque nasce do coraÇÃo: uma reflexÃo sobre a …
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O BATUQUE NASCE DO CORAÇÃO: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONCEPÇÃO DE ESCOLA
PÚBLICA COMO ESCOLA DE SAMBA
THE DRUMBEAT IS BORN IN THE HEART: A REFLECTION ON THE CONCEPTION OF PUBLIC SCHOOL AS SAMBA SCHOOL
EL BATUQUE NACE DEL CORAZÓN: UNA REFLEXIÓN SOBRE EL CONCEPTO DE ESCUELA PÚBLICA COMO ESCUELA DE SAMBA
Tiago Lazzarin Ferreira
DOI: 10.11606/issn.2238-3999.v9i1p154-170
Do Lado de Fora do Teatro
Tiago Lazzarin FerreiraPós-doutorando pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
Revista Aspas | Vol. 9 | n. 1 | 2019
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Do Lado de Fora do Teatro ResumoO presente artigo possui o objetivo de desenvolver uma reflexão
sobre a concepção de escola pública análoga à ideia de escola de
samba, lugar onde o batuque é um privilégio e onde o samba nasce
do coração, tal como nos versos da letra da canção “Feitio de oração”
composta pelos sambistas Noel Rosa e Vadico. Esta concepção foi
desenvolvida a partir de uma pesquisa de doutorado realizada em uma
escola pública de São Paulo, a respeito do engajamento estético de
jovens estudantes do ensino médio. A pesquisa envolveu uma série de
práticas musicais percussivas baseadas nas linguagens dos gêneros
musicais do rap e do jazz. Com base nas proposições de Muniz
Sodré sobre o princípio da Arkhé, que designa um modo de pensar
segundo o todo, sugerimos uma concepção de escola como lugar do
engajamento estético, onde o sentido dos gestos é intrínseco, e não
exterior a si mesmo.
Palavras-chave: Coração, Arkhé, Batuque, Escola.
AbstractThis article aims to develop a reflection on the conception of public
school that carries a meaning akin to samba school, a place where
the drumbeat is a privilege and where samba is born in the heart, just
as said in the song called “Feitio de Oração”, composed by the samba
musicians Noel Rosa and Vadico. This conception was based on a
doctorate research conducted in a public high school in São Paulo,
about the aesthetical commitment of young high school students,
which involved musical activities related to rap and jazz music. The
principle of Arkhé as conceived by Muniz Sodré suggests an alternative
way of thinking about the relationship between the individual and the
community that promotes recognition and affection; therefore, we
suggest a concept of school as a place of aesthetical commitment,
where gestures meaning is intrinsic, and not external.
Keywords: Heart, Arkhé, Drumbeat, School.
O batuque nasce do coração
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ResumenEste artículo tiene el objetivo de reflexionar sobre la concepción de
una escuela pública análoga a la idea de escuela de samba, lugar
donde el batuque es un privilegio y donde el samba nace del corazón,
tal como en los versos de la letra de la canción “Feitio de Oração”,
compuesta por los sambistas Noel Rosa y Vadico. Esta concepción
fue desarrollada a partir de una investigación de doctorado realizada
en una escuela pública de São Paulo acerca del compromiso estético
de jóvenes estudiantes de la enseñanza media. La investigación
involucró una serie de prácticas musicales percusivas basadas en los
lenguajes de los géneros musicales del rap y del jazz. Sobre la base
de las propuestas de Muniz Sodré sobre el principio de arkhé, que
designa un modo de pensar según el todo, sugerimos una concepción
de escuela como lugar del compromiso estético, donde el sentido de
los gestos es intrínseco, y no exterior a sí mismo.
Palabras clave: Corazón, Arkhé, Batuque, Escuela.
No ano de 2015 realizei uma pesquisa de doutorado sobre o
engajamento estético1 de jovens do ensino médio em uma escola estadual
chamada Gualter da Silva, ou simplesmente Gualter como será chamada
daqui por diante, localizada no bairro do Moinho Velho (zona centro-sul de
São Paulo). Como professor de Sociologia da instituição, procurei a partir e
por meio desta pesquisa estabelecer vínculos com os estudantes ao som do
rap e do jazz: duas linguagens musicais que foram propostas como modelos
dialógicos de comunicação, em vista de seus elementos rítmicos que reme-
tem à diáspora do Atlântico Negro – entre os quais está incluído o jogo de
chamada e resposta ou antífona, de acordo com Paul Gilroy (2001).
Naquele ano em particular, o Gualter se encontrava em uma difícil situa-
ção que envolvia conflitos entre alunos, professores e gestores, reiterados por
uma série de dispositivos responsáveis pela estigmatização da comunidade
1. Trata-se da tese Rap e jazz na escola pública: um estudo sobre a formação cultural e o engajamento estético de jovens do ensino médio, defendida no ano de 2017 na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), com a orientação da Profa. Dra. Mônica G. T. do Amaral.
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escolar como, por exemplo, os baixos índices obtidos em avaliações institu-
cionais como o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São
Paulo (Idesp)2. Além disso, o contexto político era de acentuação do processo
de precarização da escola pública, empreendida por meio de projetos como
o da reorganização escolar3, que previa o fechamento de escolas e salas de
aula, com a consequente diminuição da oferta de vagas na rede estadual de
ensino, sobretudo para o período noturno e para estudantes adultos. Também
deve ser mencionada a desvalorização da carreira do magistério, com salá-
rios considerados baixos para profissões com ensino superior completo4.
Neste contexto, uma das propostas da pesquisa foi promover o enga-
jamento estético na arte musical do rap e do jazz, concebidos como moda-
lidades dialógicas que politizam as relações intersubjetivas. A noção de
engajamento estético é tributária da filosofia de Vilém Flusser (2011), para
quem a arte é responsável pela “mediação do imediato”, isto é, revela virtua-
lidades da cultura de modo a intervir concretamente na realidade efetiva,
na medida em que publica a experiência privada do artista. Nesse sentido,
a arte articula e expõe o conteúdo das relações em que o artista vive enre-
dado, de modo a conferir profundidade à superficialidade dos vínculos inter-
subjetivos na contemporaneidade.
2. O Idesp avalia o desempenho das escolas com base nas pontuações dos estudantes em provas do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar (Saresp), destinadas aos alunos dos últimos anos do ensino médio e fundamental. Para a composição da nota do Idesp, foram contabilizados os níveis de aprovação, transferência e evasão escolar, entre outros critérios.
3. Ainda em 2012 a Secretaria da Educação, presidida por Herman Voorwald, havia publi-cado um documento extenso intitulado Reorganização do Ensino Fundamental e Médio. Consta neste documento que um dos objetivos da reorganização foi elaborar “a forma mais adequada de organizar, nas escolas, os ciclos de aprendizagem, o tempo escolar, as áreas de ensino e sua distribuição na composição das matrizes curriculares de cada segmento do ensino, formas, espaços e modos de organização da recuperação dos alu-nos com dificuldades” (SÃO PAULO, 2012, p. 9). Assim, compreende-se que o projeto de reorganização em 2015 consistia apenas em uma das etapas de um amplo projeto já em andamento pelo menos desde 2012.
4. A política de bonificação por resultados consiste no pagamento de um determinado per-centual do salário que varia de acordo com os índices obtidos pela escola no Idesp. No caso da não obtenção da nota mínima do Idesp de acordo com a média geral das escolas, ou no caso de a escola não atingir a meta individual – conhecida no momento da publica-ção da nota do ano anterior –, os professores e funcionários não recebem o bônus, como ocorreu no Gualter durante sucessivos anos.
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Com base na noção de engajamento estético, foi proposta a abordagem
do rap e do jazz nas aulas de sociologia como linguagens que veiculam ele-
mentos dialógicos em suas músicas, tais como a improvisação, a antífona ou
jogo de chamado e resposta, e o suingue. Durante a pesquisa, os estudantes
realizaram gestos que produziram vínculos de reconhecimento e alteridade:
trouxeram de casa instrumentos musicais como o violão, gravaram músicas
em aparelhos celulares, que foram amplificadas por aparelhos de som, e
tocaram os instrumentos que antes estavam trancafiados em um depósito
na escola. Eu, como professor do Gualter e músico baterista de formação5,
trouxe meu instrumento musical para que ele fosse tocado no pátio da escola
em um conjunto de aulas chamado “coisa de bater”, que seria a tradução
literal de Schlagzeug, a bateria em alemão. Assim, constatamos o engaja-
mento estético por meio da percussão do rap e do jazz, na medida em que os
sons emitidos pela bateria reverberaram no espaço e tempo do Gualter como
música para o ouvido dos jovens estudantes e como ruído para o funciona-
mento autômato da instituição escolar.
Os gestos realizados pelos estudantes do Gualter despertaram o meu
interesse em compreender de modo aprofundado alguns dos princípios cons-
titutivos do engajamento estético. Por isso, o objetivo do presente artigo é
procurar por pistas que contribuam para elucidar o caráter dialógico de um
pensamento que possui raízes na ancestralidade africana e é manifesto no e
pelo rap e jazz. No entanto, em vez de procurarmos por essas pistas por meio
das respectivas linguagens musicais, que foram extensivamente abordadas
na tese e que aqui não serão comentadas, partiremos de um aspecto elemen-
tar compartilhado por diversos outros gêneros, especialmente o samba. Este
aspecto é o gesto de batucar. Tal reflexão pode ser encetada por um trecho
da letra da canção “Feitio de oração”, composta pelo poeta da Vila Noel Rosa
e pelo sambista paulistano Vadico.
Batuque é um privilégioNinguém aprende samba no colégio
5. Minha formação musical foi concluída em 2011 na antiga Universidade Livre de Música, atual Escola de Música do estado de São Paulo (Emesp Tom Jobim), no curso regular para adultos de bateria, como uma modalidade profissionalizante, embora sem o reconhe-cimento do Ministério da Educação.
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Sambar é chorar de alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia. (FEITIO…, 1933)
A letra desta canção, repleta de metáforas e imagens de afeto, suscita
algumas questões que podem ser assim enunciadas: Por que não se aprende
samba no colégio? O que é o privilégio do batuque? Evidentemente, por sua
própria natureza musical e poética, a letra da referida canção não provê maio-
res explicações para aquilo que afirma, e suas imagens simbólicas poderiam
ser interpretadas de maneiras diversas. Poderíamos, contudo, enfatizar alguns
dos elementos tematizados em “Feitio de oração” que parecem ser constituti-
vos de uma constelação de pensamento singular, vinculada à ancestralidade
da diáspora africana, a começar pela relação entre batuque e escola.
Para que possamos pensar o lugar do samba e do batuque no colégio, é
necessário definir um sentido preciso de escola: em qual escola não se aprende
a batucar? Seria na escola pública, universal e gratuita? Ou então, qual deve ser
a finalidade da escola? Os pesquisadores de filosofia da educação holandeses
Jan Masschelein e Maarten Simons (2013) problematizam a função social da
escola em um contexto democrático. Segundo os educadores, uma das inter-
pretações sobre o papel da escola inspirada na crítica de Hannah Arendt ao
modelo dos Estados Unidos é de que tal instituição deve ser primordialmente
um espaço mediador e de preparação para a vida pública na sociedade demo-
crática, ou então “uma arquitetura social que nós […] construímos e organiza-
mos especificamente para ‘estranhos e recém-chegados’” (Ibid., p. 173).
Com a palavra arquitetura, os autores pretendem enfatizar tanto o espaço
físico de prédios escolares quanto o caráter de regime disciplinar específico
que classifica os jovens de acordo com sua origem social, fixando-os em dife-
rentes posições de aprendizado. Isto significa que, de acordo com tal concep-
ção, a escola deve servir como mediação entre a vida privada e a vida pública
do jovem, formando-o de acordo com supostas competências e habilidades
atreladas ao lugar que ocupa na hierarquia social. Caberia à escola manter
os estudantes longe do perigo das ruas, como se os mesmos não dispuses-
sem de repertório e conhecimento suficientes na infância e adolescência para
atribuir sentido aos assuntos apresentados como componentes curriculares.
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Os educadores holandeses afirmam que essa arquitetura escolar carac-
terística dos Estados Unidos é projetada para ensinar uma língua compar-
tilhada aos não falantes (in-fantes), enquanto as pessoas detentoras de
autoridade sobre o conhecimento da linguagem (como os professores) con-
ferem arbitrariamente relevância para determinados conteúdos. Por isso, tal
escola é concebida como uma espécie de “portão de entrada para o mundo
público” (MASSCHELEIN; SIMONS, 2013, p. 180), que organiza o acesso do
jovem ao conhecimento das linguagens compartilhadas, pressupondo que
o não falante é potencialmente capaz de aprendê-la, embora “ainda não”
tenha se apropriado dela durante sua permanência no espaço escolar. Assim
sendo, a escola democrática possui um valor instrumental, sendo sua finali-
dade necessariamente exterior a ela mesma, ideia que pode ser sintetizada
pela expressão escola-como-passagem.
Nesse sentido, a meta da escola é instrumentalizar o jovem para viver
em uma sociedade democrática de modo a encontrar o seu devido lugar na
arquitetura da esfera pública, o qual é determinado por sua origem sociocul-
tural. Para que isso ocorra, é igualmente necessário o aprendizado de uma
língua comum, a qual é pressuposta como desconhecida pelos recém-che-
gados (as crianças e adolescentes). Ou seja, a premissa básica é de que o
jovem estudante é um estrangeiro e uma tábula rasa, e o aprendizado da lín-
gua comum, que presumimos ser as diferentes matérias do currículo, consiste
em uma espécie de passaporte para a cidadania.
A concepção de escola acima esboçada contrasta com os princípios
norteadores da pesquisa realizada no Gualter. Nela, os gestos dos estudan-
tes não foram comparados ou avaliados de acordo com uma expectativa
do que eles deveriam ser e ainda não são. Tais gestos, que consistiram em
batucadas e improvisações rítmicas em instrumentos de percussão disponí-
veis na escola, foram concebidos como significativos por si e em si próprios,
posto que são inerentes a experiências formativas diversas e igualmente
incomensuráveis. Para melhor compreendermos o sentido atribuído às prá-
ticas que envolveram a percussão dos ritmos de jazz e rap como forma de
engajamento estético, iremos retomar a letra de “Feitio de oração” e dedicar
nossa atenção para uma outra metáfora, que é a ideia de que o samba
“nasce do coração”.
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O samba na realidade
não vem do morro nem lá da cidade
e quem suportar uma paixão
sentirá que o samba então
nasce do coração. (FEITIO…, 1933)
A expressão “o samba nasce do coração” pode ser interpretada como
um complemento para os versos anteriores da letra de “Feitio de oração”, que
afirmam que o “privilégio do batuque” não se aprende “no colégio”. No artigo
ora apresentado, pretendemos sugerir que a ideia de que o batuque nasce do
coração não é incompatível com uma determinada concepção de escola, que
é a própria escola de samba.
A escola de samba nasce do coração
A expressão “escola de samba” possui uma curiosa história. O pesquisa-
dor e percussionista Oscar Luiz Werneck Pellon (2003, p. 54), também conhe-
cido como Oscar Bolão, em seu livro/método de ensino de ritmos de percussão
na música do Rio de Janeiro com o sugestivo nome Batuque é um privilégio,
comenta a respeito dessa origem. Diz o autor que a primeira escola de samba
“surgiu no bairro Estácio de Sá, Rio de Janeiro em 1928, com o nome Deixa
Falar”. O compositor Ismael Silva teria sido o responsável por sugerir o termo
“escola”, posto que, naquele bairro onde ele próprio residia, ficava localizada
a Escola Normal – um prédio que abrigava o antigo magistério. Em vista da
rivalidade com outros redutos do samba carioca, como a Mangueira, os sam-
bistas do Estácio provocavam os demais afirmando que eles próprios eram
os verdadeiros “professores” do samba. Isto significa que a ideia de escola de
samba não se baseia (ao menos inteiramente) no paradigma da “escola nor-
mal”, tratando-se de uma espécie de uso anedótico do termo.
Assim, é provável que este uso possua relação com uma cultura ainda
mais ampla, que remonta à ancestralidade da diáspora africana. De acordo
com o pesquisador dos ritmos do Rio de Janeiro e percussionista Pellon
(2003, p. 54): “a estrutura das escolas de samba é toda herdada dos ran-
chos carnavalescos. Abre-alas, alegorias, mestre-sala, porta-bandeira e até
mesmo a apresentação dos enredos são copiados dos ranchos”. Isto significa
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que a tradição das escolas de samba provém de agremiações denominadas
ranchos, as quais possuem estreita relação com elementos alegóricos, reli-
giosos e musicais vinculados a culturas diversas (africana, nordestina, nor-
tista e portuguesa). Tais elementos foram inspirados em tradições como a
Congada, cerimônia que recria a coroação de um rei do Congo, com danças,
cantos e jogos de caráter festivo e religioso.
Este breve comentário sobre a origem das escolas de samba faz alusão
à história não apenas da transmissão do conhecimento do samba, mas do
ensino do batuque em geral, ou, mais precisamente, do não ensino do batu-
que nas escolas públicas democráticas. Assim sendo, é necessário apresen-
tar alguns princípios e noções que se articulam com a concepção de escola
que possui como fundamento o ritmo produzido pelo som do batuque. O pes-
quisador e escritor brasileiro Muniz Sodré (2017, p. 88) oferece subsídios para
refletir a respeito da possibilidade de pensar “a toques de atabaques”6.
Ainda nos primeiros capítulos de seu livro intitulado Pensar Nagô, o
autor recupera a noção de coração, não como uma metáfora reivindicada por
toda uma tradição de filósofos europeus à maneira de uma marca distintiva
de sua cultura (uma idiossincrasia), mas como uma categoria compreensiva
que alude ao pensamento de povos e culturas as mais variadas. Dentre esses
povos, são particularmente ressaltadas pelo pesquisador as nações prove-
nientes do complexo cultural situado na Costa da Mina (que abrange Nigéria,
Togo e Benin), que são os grupos dos jejes e nagôs. Estes grupos foram
escravizados, espoliados e assassinados durante a diáspora do Atlântico no
final do século XVIII, quando desembarcaram no porto de Salvador, Bahia.
Tais modos de pensar possuem tanto analogias com sistemas filosóficos
hegemônicos quanto singularidades, além de se reportarem igualmente às
grandes questões do cosmo e de serem pertinentes às problematizações da
contemporaneidade. Assim, o escritor e pesquisador sugere que o pensa-
mento nagô se traduz como prática existencial, ou então, como pensar-vi-
vendo, em vez de viver-pensando.
Afirma Sodré (2017) a propósito de Hegel que o ilustre filósofo se refere
à ideia de coração como se esta fosse uma característica exclusiva da cultura
6. Esta expressão é também o título do segundo capítulo do livro Pensar Nagô (2017).
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alemã – uma idiossincrasia, portanto –, consistindo no modo invisível de
apreensão do mundo sensível, ou seja, naquilo que preside à percepção do
real, mas não é perceptível enquanto dado empírico. Tal noção encerra o
sentido do comum, compreendido como vínculos sociais não visíveis ou pal-
páveis, mas que são constitutivos de qualquer experiência individual a partir
da coletividade. Seria possível dizer igualmente que este conceito possui afi-
nidade com a ideia de presença de uma ausência, ou nas palavras do autor,
de uma “imanência despercebida”, ou ainda “tonalidade afetiva”, “sensível” e
“laço invisível”. Em resumo, coração pode ser concebido como uma instância
que transcende a dimensão empírica do real, sendo imanente à comunidade
onde todos os membros se banham. Trata-se, portanto, de um real, ainda que
esta corporeidade transcendental não possa ser apreendida ou represada.
O pesquisador brasileiro nos lembra que a ideia de coração está pre-
sente não só no pensamento hegeliano e na tradição filosófica dos gregos,
mas em muitas outras constelações de pensamento, incluindo a dos nagôs.
Portanto, não se trata de uma idiossincrasia. Em diversas regiões do globo,
desde o Ocidente até a África, o corpo (tanto o físico quanto o espiritual) seria
o microcosmo que guarda em si um virtual coração coletivo, “a partir do qual
falamos quando dizemos ou fazemos algo de essencial no grupo humano em
que vivemos e agimos como, por exemplo, pensar” (SODRÉ, 2017, p. 34).
Podemos concluir que a ideia de coração, por metafórica que possa ser,
diz respeito a algo bastante concreto que é o corpo comunitário (corporeidade
de acordo com o autor), se manifestando nas operações do sensível. Isto por-
que o coração é da ordem de um coletivo pré-individual. Ou seja, antes de
poder ser percebido como algo concreto em sua substancialidade, constitui
a condição sensível e inteligível do humano, uma vez que “não há sensação
dos sentidos mesmos”, pois a “faculdade sensitiva não está em ato, mas ape-
nas em potência” (AGAMBEN, 2007, p. 351-368 apud SODRÉ, 2017, p. 132).
Cabe ressaltar, ainda, que o samba “nasce do coração” e do Rio de
Janeiro, mas também da Bahia, de onde provinham as “tias baianas”, as anfi-
triãs das festas de samba na Cidade Nova desde os primeiros anos da década
de 1910. Embora exista uma série de controvérsias que envolve tanto pesquisa-
dores quanto sambistas a respeito da origem do samba (algo que aqui não nos
interessa), é provável que o batuque do samba, a partir das festas de Tia Ciata,
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possua raízes ancestrais nos ritmos africanos e nagôs. Em vista disso, pode-
mos supor que esse coração coletivo, como princípio dinâmico e potente, se
inscreve na temporalidade não cronológica atinente ao espaço geográfico, atra-
vessando sujeitos que manifestam sua pulsação por meio e a partir do gesto
do batuque.
Resta-nos pensar, ainda, a relação entre o “coração”, que banha a coleti-
vidade com sua lógica imperscrutável – como a lógica do coração [logique du
couer] de Blaise Pascal (SODRÉ, 2017) – e a escola pública estadual, onde,
por vezes, gestos como o batuque são desvalorizados porque não dizem res-
peito aos conteúdos curriculares e não correspondem às expectativas das auto-
ridades escolares.
É emblemático o caso do próprio pesquisador Oscar Pellon ou, como
é conhecido entre os batuqueiros, Oscar Bolão. Na parte final do método de
percussão de Bolão, o musicólogo Carlos Didier (2003, p. 147-148, grifos do
autor) escreve a biografia intitulada “Oscar Bolão, doutor em samba”, onde
narra os seguintes episódios da vida deste percussionista:
De repente, sem ordem do diretor, o repique executou o toque de cha-mada. Bolão, seguindo o falso comando, fez o surdo vibrar. Metade da bateria entrou, metade ficou de fora. Waldomiro [mestre da bateria da Mangueira] saiu de dentro do alto-falante. Furibundo, correndo desajei-tadamente, pois mancava de uma perna, aplicou ao músico do repique o castigo mangueirense: uma bordoada com a baqueta na cabeça do infrator […] em seguida, o mestre partiu em sua direção. Olhou bem dentro dos seus olhos: – Tudo bem, você tá certo, pode ficar aí […] Por dentro, todo com medo, por fora, cheio de moral. Com Waldomiro na banca examinadora, Oscar passou no teste do surdo. São diferentes os diplomas do samba.
Ainda que possa ser criticada a severidade da atitude do mestre da
bateria da Mangueira de “bater com a baqueta na cabeça do infrator”, simples-
mente porque este se antecipou ao tempo de entrada do repique, podemos
buscar outras formas de compreensão sobre o episódio narrado. Inicialmente,
chama a atenção o tom prosaico com que o ritual de diplomação do samba é
narrado. Constatamos que a entrega do certificado de graduação das escolas
de samba consiste no veredito do mestre de bateria que poderia ser traduzido
como algo do tipo: “sim, você está autorizado a tocar”.
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O que pode ser considerado significativo neste acontecimento não é
exatamente o que as palavras dizem por si próprias na frase “tudo bem, você
tá certo, pode ficar aí”, mas como sua enunciação é performativa7: a prova
final dos ritmistas da Mangueira é o olhar frente a frente com o mestre da
bateria. É a experiência – ambivalente de medo e moral (no sentido de cora-
gem, autoconfiança) – que serve ao ritmista como indício de que havia então
conquistado o equivalente ao diploma do samba, dispensando qualquer
prova formal que pudesse autorizá-lo como membro pertencente à escola.
Trata-se, portanto, de um diploma que não pode ser ostentado como um pas-
saporte, mas apenas realizado como gesto no instante mesmo em que é
solicitado. Um sábio ensinamento que a escola de samba – em seu sentido
poético – transmite à comunidade pode ser expresso, segundo a formulação
de Sodré (2017, p. 96, grifos do autor), a propósito do pensar nagô e da filoso-
fia em contexto africano como o Ubuntu, “o indivíduo é, sendo junto a Outro”.
Depreende-se do exposto que o sentido da escola de samba (conce-
bida a partir da poesia de Noel Rosa e Vadico e da versão sobre a biografia
de Oscar Bolão) é a continuidade do grupo, isto é, a escola de samba possui
finalidade em si mesma, diferentemente da escola-como-passagem descrita
por Masschelein e Simons. A ideia de coração, que aqui pressupomos ser
fundamental para a escola de samba, de acordo com o pesquisador e escritor
brasileiro possui afinidade com a noção de Arkhé, palavra de origem grega,
cujos significados possíveis são tanto origem quanto destino. No âmbito da
filosofia, este termo designa um modo de pensar “segundo o todo” que, por
sua vez, possui analogia com configurações simbólicas de outras partes do
mundo e, particularmente, com o pensamento nagô.
Arkhé, arquivo e repertório na escola
De acordo com Sodré (2017, p. 83), Arkhé consiste no princípio de expan-
são de uma origem, entendida não como um começo absoluto, cronológico,
7. Muniz Sodré se baseia na teoria dos atos de fala de J. L. Austin para abordar o conceito de per-formatividade, distinguindo enunciado performativo de enunciado constatativo. Diferentemente do enunciado constatativo, que visa descrever a realidade (de modo verdadeiro ou falso), o enunciado performativo ele mesmo produz um acontecimento. Deste modo, performatividade consiste na ideia de que o enunciado faz ou pretende fazer aquilo que enuncia.
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mas como “protodisposição originária do comum que engendra a unidade dos
sentidos e a conversão analógica (não dialética) de uns nos outros, desvelando
a conaturalidade ou o copertencimento entre corpo e mundo”. Desse modo, a
Arkhé deve ser compreendida como um princípio constitutivo da linguagem –
e, portanto, do pensamento – na qual origem e destino estão imbricados.
A fim de demonstrar a articulação entre Arkhé e categorias do pensa-
mento e da linguagem de povos como a nação nagô, o autor delineia uma
analogia com a figura da diátese média a partir da semiologia, distinguin-
do-a da diátese ativa, atinente ao pensamento hegemônico. O enunciante
da diátese ativa (voz ativa) se caracteriza como sujeito cujo processo verbal
se realiza de maneira exterior a ele próprio. A título de exemplo, o autor cita o
sacerdote que se sacrifica em nome de Deus. Na diátese média, por sua vez,
o processo verbal se realiza no próprio sujeito – o sujeito que sacrifica a si
próprio. Além disso, a diátese média não é reflexiva, pois a ação não é conce-
bida em termos de causalidade, onde o sujeito completa e sofre a ação, mas,
em vez disso, a ação é completada em si mesma. Outro exemplo evocado
pelo pesquisador brasileiro para elucidar o uso da diátese média na criação
literária é o de Flaubert. De acordo com Sodré (2017, p. 73), o ato criativo do
escritor francês foi enunciado nos seguintes termos pelo mesmo: “eu sou o
homem-pena, eu sinto por ela, por causa dela”.
A partir da ideia de diátese média, Sodré (2017, p. 81) afirma o seguinte:
para povos de diversas culturas – hindus, chineses, africanos – o processo
verbal de pensamento “perfaz-se no interior da pessoa, entendida em sua
unidade com a comunidade, o que solicita o corpo, tanto individual quanto
comunitário (a corporeidade) como âncora fundamental”. Disto se segue que a
diátese média da Arkhé conduz ao transbordamento das estruturas da repre-
sentação, recusando o pensamento binário e dualista. Pela potência deste
pensar que não se reduz meramente à fala e escrita, a Arkhé se faz sentir
como irradiação de uma potência que, em seus modos de comunhão, integra
vivos e mortos, ou mesmo pessoas e não pessoas (sujeito e objeto).
É necessário ressaltar, ainda, as afinidades e tensões que o conceito
de Arkhé, do modo como foi interpretado por Sodré, possui com o conceito
de arquivo: palavra que, como podemos supor, provém deste mesmo termo
grego. A concepção de arquivo como espaço privilegiado da memória coletiva
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no mundo ocidental – na forma de documentos, mapas, textos, restos arqueo-
lógicos etc. – é problematizada pela pesquisadora Diana Taylor (2013). A
autora põe em relevo a diferença entre as ideias de arquivo e repertório a
partir de debates sobre os múltiplos sentidos de performance que tem envol-
vido áreas do conhecimento diversas, tais como a Antropologia e as Artes
Cênicas, de modo a demonstrar as potencialidades metodológicas e cogni-
tivas implicadas em práticas daquilo que veio a ser o campo de estudos da
Performance. É com base em tais práticas e debates que Taylor (2013, p. 45)
sugere o conceito de performance no sentido de “um sistema de aprendiza-
gem, armazenamento e transmissão do conhecimento”.
Para compreender a diferenciação entre arquivo e repertório, Taylor
(2013) remonta ao período da colonização de países da América Latina (como
o Brasil), no qual a escrita havia sido legitimada em prejuízo de outros modos
de transmissão da memória, como rituais e “práticas sociais cotidianas incor-
poradas”. Práticas não verbais (como o batuque no nosso caso) não eram con-
sideradas formas válidas de conhecimento. Em alguns casos, essas práticas
eram até mesmo proibidas, por serem consideradas idólatras ou subversivas.
A pesquisadora procura demonstrar que a concepção vigente de arquivo
consiste na oposição entre memória arquival – de materiais supostamente
duradouros – e repertório, subentendido como efêmero (assim como a língua
falada). Enquanto a memória arquival separa fonte do conhecimento e conhe-
cedor no espaço-tempo, o repertório diz respeito à memória incorporada, isto
é, aos gestos e enunciações performativas que não dissociam conhecedor
e fonte de conhecimento – sendo estas ações, no entanto, efêmeras e não
reproduzíveis. O que não quer dizer que o arquivo pensado como memória
arquival consista no oposto do repertório. Afinal, como a pesquisadora dos
estudos da Performance nos lembra, há práticas incorporadas relativas ao
repertório que são arquivadas na forma de documentos, assim como há ele-
mentos do arquivo que podem ser deslocados de seu contexto em ações
performativas. Trata-se, sobretudo, de ênfases diferentes sobre o modo como
epistemologias distintas produzem estratégias e táticas singulares que con-
cernem à comunicação intergeracional.
Constatamos, portanto, certa afinidade entre as proposições de Taylor
(2013) e de Sodré (2017), no sentido de que a Arkhé consiste em um princípio
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fundamental de transmissão de uma memória coletiva incorporada nos atos
performativos que, por sua vez, não são armazenáveis ou separáveis no
tempo e espaço de quem os realiza. Por fim, cabe salientar que Sodré confere
ao ritmo uma importância fundamental para o princípio da Arkhé. Isto porque,
no pensamento nagô, a música e suas imagens sonoras auditivas e táteis
produzem um senso de orientação do sujeito inserido em uma coletividade
por seu caráter vibratório. Assim, o elemento musical rítmico (de modo mais
pronunciado que a melodia e a harmonia) é o responsável por capturar forças
sonoras, constituindo-se como uma espécie de operador da passagem de um
tempo-espaço a outro. Na medida em que o ritmo dispõe temporalmente sons
com qualidades distintas (que podem ou não ser alturas melódicas, como as
notas dó, ré etc.) em uma determinada sequência, promove a contenção e
ordenação quantitativa do movimento da música.
O ritmo, portanto, movimenta e é movimentado por uma medida interna
– em vez de externa, como no caso do metrônomo – sendo ele próprio um
espaço vazio e aberto a outras marcações. Por sua potência interna e dinâ-
mica, além de constituir um princípio real e não palpável de vinculação de ele-
mentos singulares que são os sons, o ritmo é o fundamento da Arkhé, assim
como o pulsar é o fundamento do coração. Daí a provável origem da popular
frase: “a bateria é o coração da escola de samba”. Pelo exposto, a Arkhé nos
proporciona pensar a memória da escola de samba como repertório, em
contraste com a ideia de memória arquival que separa conhecedor e objeto
do conhecimento. Isso porque a origem e o destino da escola de samba é
ela mesma, com seu ritmo pulsante da batucada.
O batuque na escola pública e o engajamento estético
Retornando ao exemplo do percussionista e pesquisador Oscar Bolão
e à letra de “Feitio de oração”, podemos inferir que o ser batuqueiro é meio
e finalidade da ação de batucar, e alguém só é batuqueiro sendo junto à
escola de samba. É no samba que se aprende a sambar, é no batuque que se
aprende a batucar. Isso porque o samba nasce e permanece no coração onde
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Tiago Lazzarin Ferreira
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mora como memória ancestral, como Arkhé. Deste modo, a escola também
pode ser concebida como origem e destino dos gestos.
A partir dos exemplos acima, pretendemos acentuar o fato de que a
escola de samba pode veicular o princípio da Arkhé, conforme se evidencia
na metáfora o samba (e o batuque) nasce do coração. De modo que pode-
mos não compactuar com a máxima de Noel e Vadico: “ninguém aprende
samba no colégio” somente se entendermos colégio e coração como coisas
distintas. É preciso, portanto, fazer o coração da escola pulsar, e este pulso
pode ser o ritmo do batuque.
A ideia de promover batucadas no Gualter tinha o propósito de des-
programar os gestos dos jovens do ensino médio. Isso porque a batucada é
concebida como gesto que nasce do coração, performado no aqui e agora,
significativo por si mesmo. O som que vibrava no e por meio dos instrumen-
tos de percussão era o estudante, era o professor, era cada pessoa singu-
lar – como na diátese média. Criou-se, assim, o “professor-que-batuca”, “o
estudante-que-bate-no-tambor”, de maneira que cada pessoa era reconhecida
mútua e igualmente em seus gestos.
Cada batuqueiro era uma passagem entre margens, como é o próprio
ritmo batucado, pensado como medida interna do tempo. Deste modo, foi evi-
denciado nas atividades propostas e gestos de alteridade mediante o ritmo,
como se ele pudesse nos orientar para um comum. O batuque, seja ele do
samba, do jazz ou do rap pulsa o ritmo do coração de uma memória coletiva
em cada gesto singular.
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Recebido em 15/02/2019
Aprovado em 24/05/2019
Publicado em 29/08/2019