metodologia científica

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros PIANA, MC. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 233 p. ISBN 978-85-7983-038-9. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org >. All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. A pesquisa de campo Maria Cristina Piana

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Tipos de pesquisa

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  • SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros

    PIANA, MC. A construo do perfil do assistente social no cenrio educacional [online]. So Paulo: Editora UNESP; So Paulo: Cultura Acadmica, 2009. 233 p. ISBN 978-85-7983-038-9. Available from SciELO Books .

    All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.

    Todo o contedo deste captulo, exceto quando houver ressalva, publicado sob a licena Creative Commons Atribuio - Uso No Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 No adaptada.

    Todo el contenido de este captulo, excepto donde se indique lo contrario, est bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

    A pesquisa de campo

    Maria Cristina Piana

  • 5A PESQUISA DE CAMPO

    A inteligncia de uma equipe maior do que a soma da inteligncia de seus membros.

    Peter Seng

    Percurso metodolgico

    A pesquisa de campo descrita neste captulo prope uma inte-grao dos dados obtidos pela pesquisa bibliogrfi ca, documental (apresentada no captulo 4) e de campo.

    Segundo Jos Filho (2006, p.64) o ato de pesquisar traz em si a necessidade do dilogo com a realidade a qual se pretende investi-gar e com o diferente, um dilogo dotado de crtica, canalizador de momentos criativos. A tentativa de conhecer qualquer fenmeno constituinte dessa realidade busca uma aproximao, visto sua com-plexidade e dinamicidade dialtica.

    Porm, no existe pesquisa sem o apoio de tcnicas e de instru-mentos metodolgicos adequados, que permitam a aproximao ao objeto de estudo.

    Nesse sentido, para Demo (2002, p.16),

  • 168 MARIA CRISTINA PIANA

    Em termos cotidianos, pesquisa no um ato isolado, intermi-tente, especial, mas atitude processual de investigao diante do desconhecido e dos limites que a natureza e a sociedade nos impem. [...] Faz parte do processo de informao, como instrumento essen-cial para a emancipao.

    Nesse contexto cientfi co, a pesquisa possui aspectos tericos, metodolgicos e prticos, transpondo o reducionismo do empirismo. A realidade interpretada a partir de um embasamento terico, sem a pretenso de desvendar integralmente o real e possui um caminho metodolgico a percorrer com instrumentos cientifi camente apro-priados (Jos Filho, 2006, p.65).

    A presente pesquisa traz como objeto de estudo o Servio Social na Educao Municipal de Barretos/SP.

    Dessa forma, visa compreender para explicar a importncia do Servio Social na Poltica Educacional.

    Com base em tais objetivos, optou-se por uma pesquisa quali-tativa que possibilita a leitura da realidade, pois, segundo Chizzotti (1995, p.79),

    A abordagem qualitativa parte do fundamento de que h uma relao dinmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdepen-dncia viva entre o sujeito e o objeto, um vnculo indissocivel entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conheci-mento no se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenmenos, atribuindo-lhes um signifi cado. O objeto no um dado inerte e neutro, est possudo de signifi cados e relaes que sujeitos concretos criam em suas aes.

    A pesquisa inicia-se pela fase exploratria, que consiste em uma caracterizao do problema, do objeto, dos pressupostos, das teorias e do percurso metodolgico. No busca resolver de imediato o pro-

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 169

    blema, mas caracteriz-lo a partir de uma viso geral, aproximativa do objeto pesquisado. Tal fase fez-se necessria por se tratar de um tema pouco explorado, tornando-se difcil sobre ele formular hip-teses precisas e operacionalizveis (Gil, 2000, p.43).

    Confi rma Gil que as pesquisas exploratrias tm como princi-pal fi nalidade desenvolver, esclarecer e modifi car conceitos e ideias, tendo em vista a formulao de problemas mais precisos ou hipteses pesquisveis para estudos posteriores (1999, p.43), ou seja, estabe-lecer maior familiaridade com o problema.

    Assim sendo, esse estudo envolveu um levantamento bibliogrfi -co que perpassou toda a elaborao deste trabalho, com o propsito de compreender para explicar a realidade estudada. Nesse sentido, foram utilizados diversos autores da educao, da sociologia, da fi lo-sofi a e especfi cos do Servio Social, na busca de conhecer a estrutura educacional imposta no Brasil, seus paradigmas atuais e o legado histrico da profi sso do Servio Social, sob o signo da alienao. Foi capaz de transpor os limites da conscincia histrica e de pac-tuar com a construo de um pas democrtico, com a ampliao da cidadania e a interveno por meio de polticas sociais includentes, especialmente a educao.

    A pesquisa de campo foi realizada na Secretaria Municipal de Educao do Municpio de Barretos, interior do estado de So Paulo.

    Segundo Gonsalves (2001, p.67),

    A pesquisa de campo o tipo de pesquisa que pretende buscar a informao diretamente com a populao pesquisada. Ela exige do pesquisador um encontro mais direto. Nesse caso, o pesquisador precisa ir ao espao onde o fenmeno ocorre, ou ocorreu e reunir um conjunto de informaes a serem documentadas [...].

    Tal pesquisa contou com uma amostra no probabilstica, inten-cionalmente constituda pelo Servio Social da Secretaria Municipal de Educao. A partir dessa amostra, foram defi nidos trs sujeitos, no universo estudado, conforme segue na tabela a seguir.

  • 170 MARIA CRISTINA PIANA

    Tabela 1 Amostra do universo e sujeitos da pesquisa

    Secretaria Municipal de Educao de

    Barretos/SPCargo Atual Sujeito

    1 Secretria Municipal de Educao Rosa

    2 Supervisora Geral de Educao Infantil Orqudea

    3 Assistente Social VioletaFonte: Investigao de campo realizada pela pesquisadora/2008

    A defi nio dos sujeitos da pesquisa foi realizada mediante crit-rios determinados pela pesquisadora e so os seguintes: profi ssionais que trabalham diretamente com a assistente social e respondem por cargo de chefi a e a profi ssional assistente social que atua na Secretaria da Educao. Vale ressaltar que a Secretaria da Educao no conta com nenhum departamento especfi co de Servio Social, somente o profi ssional atuando nos Centros Municipais de Educao Infantil Cemeis, tendo como chefi a direta a Secretria Municipal de Educao e a Supervisora Geral da Educao Infantil. A caracterizao dos sujeitos da pesquisa ser apresentada na Tabela 3.

    importante destacar que Barretos conta com um trabalho in-cipiente do Servio Social na Secretaria Municipal de Educao, atualmente somente um profi ssional assistente social desenvolve o trabalho nessa poltica social. Embora exista a presena desse profissional desde 2003, recorte temporal dessa investigao de 2003 a 2008, no possui uma estrutura necessria para um trabalho de qualidade, representativo e reconhecido na secretaria junto aos profi ssionais da educao.

    O relato abaixo confi rma a realidade:

    So 21 Cemeis, 2,8 mil crianas e realmente uma assistente social no d para fazer um acompanhamento de perto e a gente acaba atendendo aqueles casos com maior prioridade, maior urgncia, maior necessidade e que venha apresentar alguma distoro no comportamento, alguma alterao no comportamento, alguma di-fi culdade social, muitas vezes a gente at atende onde a professora encontra difi culdade e, muitas vezes pedaggico, mas a assistente social acaba infl uenciando ou interferindo, indo a pedido da diretora

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    e da prpria professora nesses casos [...] no existe equipe, mas um trabalho individualizado. (Violeta)

    Entretanto, caracteriza-se como um trabalho em construo, pois na viso dos sujeitos da pesquisa o trabalho precisa ser ampliado na Secretaria Municipal de Educao, onde atua a profi ssional. Conta ainda com uma parceria por meio de convnio com o curso de Servio Social do Centro Universitrio da Fundao Educacional de Barretos pelo estgio de campo supervisionado, tendo a pesquisadora como supervisora, desde 2007 e o trabalho de uma organizao no gover-namental de Barretos, cuja assistente social desenvolve um trabalho com as famlias, iniciado em 2008 e subsidiado fi nanceiramente com recursos desse municpio, a partir desse ano.

    Hoje ns temos parceria com a Unifeb, o curso de Servio Social que atua junto conosco e temos tido a felicidade de receber s elogios a esses trabalhos profi ssionais e estamos pensando, depois daquele Frum que participamos como poderamos trazer o Servio Social de maneira mais formal para a Educao Municipal de Barretos. Porque hoje temos a parceria, mas gostaramos de estender essa parceria e realmente ter funcionrios do Servio Social atuando dentro da educao [...] eu acho que teria que ter, deveria ter uma equipe de dez assistentes sociais, teramos um coordenador nessa equipe, acho que os profi ssionais teriam que fazer uma formao, porque tudo muito rpido, gira muito rpido, e o trabalho importante. (Rosa)

    Junto a essa realidade investigada, a pesquisadora buscou uma realidade que caracterizou como complementar: o trabalho do Ser-vio Social na Secretaria Municipal de Educao de Osasco/SP. O objetivo contribuir com novas propostas de atuao da profi sso de Servio Social na Educao de Barretos, uma vez que esse universo pesquisado conta com um nmero reduzido de assistentes sociais e busca uma ampliao dessa atuao por meio de uma nova viso e divulgao da profi sso de Servio Social. Com isso, nos anos de 2006 e 2007, foram realizadas as entrevistas com os profi ssionais da equipe interdisciplinar que trabalham com as unidades escolares de educao infantil e ensino fundamental de Osasco. Foram selecio-

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    nados os profi ssionais que possuem cargo de chefi a e que respondem pela poltica educacional no municpio: assistente social que a coordenadora da equipe interdisciplinar, a diretora do departamento das escolas de ensino bsico e a secretria municipal de educao.

    A experincia do Servio Social na Secretaria Municipal de Edu-cao do Municpio de Osasco, com aproximadamente oito anos de trabalho, contribuiu para uma transposio dessa experincia para o municpio de Barretos. Signifi cou um acrscimo ao conhecimento, podendo-se afi rmar que por meio da experincia de Osasco, ser pos-svel analisar e traar novas propostas, sugestes e perspectivas para a interveno do Servio Social na Educao Municipal de Barretos. importante considerar que no se trata de um trabalho fi nalizado, perfeito e prottipo de interveno profi ssional, porm, o municpio de Osasco, escolhido pela pesquisadora dentre vrios do estado de Saulo Paulo que desenvolvem um trabalho propositivo, criativo e diferenciado do Servio Social junto educao do Brasil, teve como proposta inicial do orientador que foi convidado pelo municpio para refl etir sobre a atuao do Servio Social na Educao.

    a vinda do Prof. Canas aqui em Osasco, na ocasio que proferiu a palestra, foi exatamente ajudar-nos a construir essa histria do Servi-o Social e aqui tambm temos essa preocupao com a efetividade do trabalho, a efi ccia, a importncia, acho que estamos tendo um fator muito positivo que aceitao nesse momento. Mas os profi ssionais no podem perder de vista que devem fazer um trabalho em conjunto e mostrarem a sua importncia. Na verdade aqui em Osasco o que mais nos preocupa, se o profi ssional vai dar conta disso, at respal-dar essa expectativa que existe. Ns estamos vivendo um momento mpar em Osasco. Nesse sentido acho que muito importante essa iniciativa e o objeto da tua tese, pois vai contribuir para a Academia e para ressaltar a importncia do Servio Social como um todo, que para mim muito relevante. Fico feliz com os saltos de qualidade da nossa rea do Servio Social. (Margarida)

    Os entrevistados foram denominados como profissionais da educao que contriburam no conhecimento com propostas para o

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    universo e o objeto de estudo pesquisados, segundo a Tabela 2. Suas falas sero acrescentas junto s falas dos sujeitos da pesquisa em todo o percurso da anlise.

    Como critrios de escolha, foram selecionados profi ssionais que ocupam cargos de chefi a e esto ligados diretamente ao profi ssional assistente social da educao municipal e o prprio assistente social na funo de coordenador da equipe interdisciplinar.

    As entrevistas foram agendadas com contatos prvios, por meio de ligaes telefnicas, em dias e horrios estabelecidos pelos pro-fi ssionais. Foram gravadas e transcritas segundo a autorizao dos pesquisados. A realizao ocorreu nos anos de 2006 e 2007. Foi utilizado o mesmo formulrio com questes semiestruturadas, em-pregado nas entrevistas dos sujeitos.

    Os sujeitos dessa pesquisa foram identifi cados por nomes de fl ores: Margarida, Girassol e Hortncia. Suas falas registradas nas anlises estaro sempre reconhecidas pela identifi cao do profi ssio-nal. Vale destacar que os profi ssionais so todos do sexo feminino.

    Segundo a tabela abaixo, foi traada a caracterizao dos pro-fi ssionais entrevistados que contriburam complementarmente na anlise desse estudo.

    Tabela 2 Caracterizao dos profi ssionais que contriburam no acrscimo da pesquisa

    Identifi cao Idade Escolaridade Ps-Graduao Cargo/TempoTempo de

    atuao profi ssional

    Margarida 39 Superior Completo/Assistente Social

    Especializao em Polticas Sociais

    Assistente Social/ 5 anosCoordenadora da Equipe Interdisciplinar/4 anos

    15 anos

    Girassol 55 Superior Completo/Pedagogia

    Psicopedagogia Secretria Municipal da Educao/2 anos

    30 anos

    Hortncia 52 Superior Completo/Pedagogia

    Psicopedagogia Coordenadora das Escolas de Ensino Fundamental/2 anos

    30 anos

    Fonte: Investigao de campo realizada pela pesquisadora/2007

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    Os dados da tabela acima revelam que os profi ssionais encon-tram-se diretamente ligados educao e qualifi caram-se profi s-sionalmente nas reas que possibilitam um maior conhecimento e envolvimento com o trabalho. Trata-se de uma grande experincia profi ssional, proporcional ao tempo de vida, agregando valores como a dedicao, o interesse e a realizao pessoal e profi ssional.

    O Prof. Canas sabe que sou apaixonada pelas questes sociais; tanto que tive diversos trabalhos, Febem, Penitenciria, sou muito suspeita, sou ansiosa, s vezes sou ingnua imaginando que a gente vai transformar esta realidade social. Ficamos felizes com esta pro-posta de pesquisa de vocs, porque precisamos comear a discutir essa rea, a educao, e revelar aos diversos profi ssionais, como importante para a atuao do assistente social [...]. (Margarida)

    Diante do exposto, importante refletir que o Servio Social ganhou destaque e relevncia como profisso de interveno na realidade social e humanista, reafi rmando a signifi cao social de uma profi sso cada vez mais interventiva e investigativa, ratifi cando a importncia de um projeto de formao profi ssional embasado na aquisio de novos conhecimentos tericos e metodolgicos em diferentes reas do conhecimento da humanidade.

    Caracterizao do campo de investigao

    O cenrio dessa investigao o municpio de Barretos, no estado de So Paulo, considerando em seu universo a Secretaria Municipal de Educao, este se reporta ao trabalho do profi ssional assistente social na educao. Dessa forma, revela-se o importante destaque neste estudo ao municpio.

    Busca-se ressaltar alguns aspectos relevantes integrados direta-mente ao objeto de estudo dessa investigao, no se pretendendo aprofundar nos dados histrico, social, econmico e cultural da cidade.

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    O municpio de Barretos1

    A fundao da cidade de Barretos data em 25 de agosto de 1854, sendo elevada a municpio em 10 de maro de 1855. O esprito desbravador dos herdeiros dos bandeirantes paulistas impulsio-nou, no incio do sculo XIX, a busca de novas terras, mais frteis e promissoras. A privilegiada localizao e os fartos recursos naturais motivaram a escolha do local para o incio de um povoado.

    Os fundadores de Barretos chegaram regio vindos, princi-palmente, do sul de Minas. Atravessaram o rio Pardo, na antiga Fazenda Santo Incio e, por volta de 1830, assentaram-se em dois ncleos: Fazenda dos Barretos e Fazenda dos Marques. A primeira desenvolveu-se a partir do local onde est o atual largo do Rosrio.

    Por volta de 1845, as duas famlias pioneiras resolveram delimitar uma rea comum que recebeu o sugestivo nome de Patrimnio do Esprito Santo. A mesma rea j vinha servindo como referncia e pousada para viajantes, particularmente comerciantes das mais di-versas e distantes localidades. A delimitao motivou a construo, logo a seguir, da primeira capela e as primeiras casas comearam a surgir. A Parquia da poca organizou a diviso do Patrimnio em quadras e datas, formando, assim, uma primeira planta da cidade.

    O povoado comeou a desenvolver-se lentamente. A densa mata que o circundava exigia sacrifcios sobre-humanos para ser removida. Um acidente natural, no rigoroso inverno de 1970, alterou substan-cialmente as condies de ocupao e desenvolvimento da regio. Aps forte geada, um grande incndio, destruiu signifi cativa rea de fl orestas. Foi o chamado Fogo de 70 que deixou calcinada enorme quantidade de terra. Com a chegada das chuvas, no lugar da antiga fl oresta surgiu uma rica e natural pastagem que criou condies ade-quadas para a criao e a engorda de gado. Inmeras fazendas foram

    1 Os dados desse item 2.1 foram retirados do site www.barretos.sp.org.br. Acesso em: 11 ago. 2008 e do livro: Zauith, Chamissi. Barretos: da origem ao ncleo histrico. Soares de Oliveira: Barretos, 1993.

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    se formando e a atividade pecuria progrediu rapidamente, em toda a regio, tornando Barretos um centro comercial vigoroso e prspero.

    No incio do sculo XX, importante atividade agrcola veio somar-se pecuria. A cultura do caf atingiu a regio. As mudanas vieram acompanhadas de um elemento historicamente ligado ao desenvol-vimento do Pas: o imigrante europeu.

    A vinda e a instalao dos europeus, particularmente italianos, alterou o ritmo de desenvolvimento, assim como o aspecto e a ar-quitetura da cidade. Um pouco mais tarde, chegaram os rabes e as atividades econmicas comearam a desenvolver-se tambm em seu aspecto urbano, unindo o aumento da produo agrcola ao crescente comrcio. Foram expresso de tais transformaes as novas tcnicas de construo e as fachadas de edifcios que passaram a ser artisticamente trabalhados. Um gnio da poca, o arquiteto Pagani, foi responsvel pela qualidade e beleza do conjunto urbanstico da antiga rea central.

    Em 1900 e 1916, dois acontecimentos marcaram a histria de Barretos e regio: a chegada da ferrovia e da Companhia Frigorfi ca Anglo Pastoril. A ferrovia, Companhia Paulista de Estrada de Ferro impulsionou a atividade produtiva, com transporte de cargas e de passageiros. A Anglo, de propriedade dos ingleses, gerou empregos e crescimento, tanto econmico como populacional, instalando, ao lado de suas dependncias industriais, a Vila Operria, um ncleo urbano.

    As duas grandes guerras mundiais ocorridas entre 1914 e 1945, marcaram, signifi cativamente, a evoluo econmica de Barretos com o aumento nas exportaes de carnes e enlatados. Naturalmen-te, os refl exos foram rapidamente sentidos em todos os setores da economia local. Entre os anos de 1940 e 1950, o progresso chegou decisivamente nos setores urbanos. Ocorreram a ampliao dos servios pblicos, pavimentaes, infraestrutura de saneamento, energia eltrica e telefonia.

    O comrcio local passou condio de polo do norte do estado, Tringulo Mineiro e sul de Gois. Com a implementao do aero-porto local e a pavimentao asfltica da rodovia de ligao com a capital consolidou-se, no fi nal de 1950, o esprito desenvolvimentista.

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 177

    Barretos uma cidade paulista de importante desenvolvimento no Brasil. Situa-se ao norte do estado, exatamente a 44 km da divisa com o estado de Minas Gerais e a 420 km de So Paulo (capital) com uma rea de 1.563,6 km2, Barretos est em uma altitude de 530 metros e tem clima tropical. Com uma populao de 103.874 habitantes, tem uma densidade demogrfi ca de 66,43 habitantes/km2 (IBGE, 1999).

    A cidade, hoje, apresenta bons indicadores sociais, sade, sane-amento, educao e moradia.

    No transporte intermunicipal vrias linhas ligam Barretos a to-das as cidades da regio, inclusive do Tringulo Mineiro e a outros centros mais distantes: So Paulo, Belo Horizonte, Goinia, Braslia, Cuiab, Campo Grande e Rio de Janeiro.

    A Ferroban liga Barretos a So Paulo por ferrovia, operando em 2001 apenas com trens especiais de transporte de soja, por meio de um convnio com a empresa Cutrale/Quintela.

    O Aeroporto Municipal suporta pousos e decolagens de jatos 707/737, inclusive noite.

    No setor de educao, a cidade possui nove escolas estaduais de 5 a 8 sries do Ensino Fundamental, vrias escolas particulares com cursos desde a pr-escola at o Ensino Mdio. Barretos tem uma unidade da Fundao Paula Souza com cursos profi ssionali-zantes, cursos supletivos, a Faculdade Integrada Soares de Oliveira com cursos de graduao e ps-graduao nas reas de Pedagogia, Cincias Contbeis e Processamento de Dados e outras, o Centro Universitrio da Fundao Educacional de Barretos com 22 cursos dentre eles, Engenharia Civil, Engenharia Eltrica com habilitaes em Eletrotcnica e Eletrnica, Engenharia de Alimentos, Odonto-logia, Administrao, Direito, Servio Social (desde 2003) e outros e o Polo da Universidade Aberta (UNB e UFSCAR) com os cursos: Educao Fsica, Msica, Teatro e outros.

    A principal empresa barretense foi o Frigorfico Anglo (hoje Friboi) e o Frigorfi co Minerva, responsveis pela grande produo de enlatados e abates.

    Na Zona de Uso Diversifi cado, instalaram-se primeiramente empresas benefi ciadoras de ltex, produtos derivados do couro, de

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    embalagens plsticas, plstico injetado, cutelaria e produtos de lida na fazenda, entre outros. Poucas empresas como as indstrias de Caf Paulista e Caf Rodeio fi caram no antigo Distrito I. Espalhadas pela cidade, existem indstrias de chapus, microempresas fabricantes de confeco, entre outras.

    O comrcio de Barretos sempre foi muito forte, constituindo-se em principal centro de compras da microrregio que se transformou na 13a Regio Administrativa do estado, composta por 18 munic-pios mais a sede, fomentando a instalao de um Shopping Center construdo pela So Carlos Empreendimentos, ligada ao Grupo Garantia e Lojas Americanas, posteriormente adquirido pelo Grupo Carrefour, hoje em reestruturao.

    Barretos continua sendo uma das regies mais importantes para a produo de gros do estado de So Paulo. Nos anos de 1970 e 1980, viveu uma fase de grande avano na citricultura, quando a maioria de pequenos e mdios produtores implantaram pomares em suas propriedades, que aos poucos foram sendo arrancados em funo da poltica de preo imposta pelas fbricas de suco, que passaram a deter grandes plantaes de laranja para uso prprio. A novidade fi cou por conta da heveacultura (cultivo de seringueiras) e atualmente, o mu-nicpio de Barretos um dos maiores produtores de borracha para be-nefi ciamento. A pecuria de leite continua sem muito destaque como sempre foi. Barretos continua sendo referncia em termos de insemi-nao artifi cial e, mais recentemente, em transferncia de embries.

    relevante ainda o trabalho realizado na implantao baseada no universo country e na fama da Festa do Peo de Boiadeiro, por atrair visitantes o ano todo, em consrcio com as atraes histricas e rurais do municpio.

    A Secretaria Municipal de Educao possui hoje aproximada-mente 55 unidades entre escolas, Centros Municipais de Educao Infantil e projetos socioeducativos de prticas pedaggicas em con-texto no escolar, fazendo parte da poltica educacional de perodo integral, segundo o artigo 34 da LDBEN, determina que o ensino fundamental seja progressivamente em tempo integral, a critrio dos sistemas de ensino.

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 179

    Nesse cenrio educacional, prope-se e busca-se explicar uma atuao educativa e pedaggica na construo de um perfi l do pro-fi ssional de Servio Social, o assistente social.

    Processo de coleta de dados

    Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestrutu-radas junto aos sujeitos, signifi cando um procedimento formal de se obter informaes por meio da fala dos atores sociais. Segundo Barros & Lehfeld (2000, p.58),

    a entrevista semiestruturada estabelece uma conversa amigvel com o entrevistado, busca levantar dados que possam ser utilizados em anlise qualitativa, selecionado-se os aspectos mais relevantes de um problema de pesquisa.

    As entrevistas com os sujeitos foram registradas com o uso de MP4 e/ou gravador, objetivando garantir a autenticidade dos de-poimentos representados pela fala dos entrevistados e transcritas conforme seu consentimento.

    A utilizao das entrevistas relevante por provocar ricas contri-buies dos sujeitos conforme afi rma Pdua (1997, p.64-65):

    a entrevista um procedimento mais usual no trabalho de campo. Por meio dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores. Ela no signifi ca uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeito-objetos da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que est sendo focalizada.

    As entrevistas expressam, segundo Chizzotti (1995, p.90), as representaes subjetivas dos participantes, possibilitando inter-venes do pesquisador em sua realidade ou aes transformadoras mediante questes problemticas.

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    Foram realizados vrios contatos telefnicos com os sujeitos para o agendamento das entrevistas. Todos optaram por realiz-las no local de trabalho, como primeira atividade da manh (no trabalho) em funo da falta de tempo em outro horrio. A partir da proxi-midade e do conhecimento da pesquisadora com os sujeitos, foi possvel estabelecer um relacionamento espontneo, comprometedor e verdadeiro durante o processo da entrevista, tornando possvel o aprofundamento das informaes obtidas.

    A realizao das entrevistas contou com a aplicao de um for-mulrio semiestruturado, com perguntas abertas e abrangentes. Teve a fi nalidade de obter o mximo de informaes ligadas ao objeto de estudo. Para Barros & Lehfeld (2000, p.90), o formulrio um instrumento mais usado para o levantamento de informaes. No est restrito a uma determinada quantidade de questes [...] e pode possuir perguntas fechadas e abertas e ainda a combinao dos dois tipos.

    Para as entrevistas com os sujeitos da pesquisa (educadoras e assistente social), as perguntas abordaram tpicos que nortearam o eixo principal das entrevistas, como: perfi l dos sujeitos (nome, idade, escolaridade, tempo de atuao no cargo atual e tempo de atuao profi ssional), a educao hoje, o trabalho em equipe interdisciplinar, o trabalho do assistente social e as possibilidades de uma interven-o propositiva do Servio Social na poltica educacional brasileira (Tabela 3).

    Assim, durante o processo de investigao, foi possvel utilizar, alm das entrevistas, a tcnica de observao como importante meio de coleta de dados realizada de forma simples e direta, possibilitando complementar as informaes, uma vez que alguns aspectos da rea-lidade apresentada fi cam evidenciados nas atitudes dos sujeitos no momento da entrevista. Confi rmam Barros & Lehfeld (2000, p.53) quando apresentam

    A observao como uma das tcnicas de coleta de dados impres-cindvel em toda pesquisa cientfi ca. Observar signifi ca aplicar aten-tamente o sentido a um objeto para dele adquirir um conhecimento

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 181

    claro e preciso. Da observao do cotidiano formulam-se problemas que merecem estudo. A observao constitui-se, portanto, a base das investigaes cientfi cas.

    Na pesquisa de campo, as tcnicas e mtodos de coleta de da-dos exigem ateno especial do pesquisador enquanto observador e tambm anotaes de campo, com o dirio de campo (Trivios, 1987, p.154) que foi utilizado pela pesquisadora, pois por meio do telefone obteve informaes dos sujeitos, do universo pesquisado e do trabalho desenvolvido pelos sujeitos.

    Caracterizao dos sujeitos da pesquisa

    A tabela abaixo defi ne o perfi l dos sujeitos da pesquisa.

    Tabela 3 Perfi l dos sujeitos investigados/2008

    Identifi cao Idade EscolaridadePs-

    GraduaoCargo/Tempo

    Tempo de atuao

    profi ssionalVioleta 53 Superior

    Completo/Assistente

    Social

    No possui Assistente Social/5 anos

    12 anos

    Rosa 41 Superior Completo/Pedagogia

    Psicopedagogia Secretria Municipal

    da Educao/

    4 meses

    20 anos

    Orqudea 62 Superior Completo/Pedagogia

    Psicopedagogia Supervisora Geral da

    Educao Infantil/

    4 anos

    40 anos

    Fonte: Investigao de campo realizada pela pesquisadora/2008

  • 182 MARIA CRISTINA PIANA

    Os sujeitos da pesquisa foram identifi cados por nomes fi ctcios de fl ores: Violeta, Rosa e Orqudea. Os relatos registrados nas anlises sero sempre acompanhados pela identifi cao do sujeito. Todos os sujeitos da pesquisa so 100% do sexo feminino e percebe-se que a grande maioria dos profi ssionais na educao so mulheres que vm se destacando com grande representatividade no cenrio educacional, ilustrado pela Figura 1:

    Figura 1: Gnero dos sujeitos da pesquisa

    A Figura 2 demonstra que os sujeitos esto na faixa etria entre 40 a 62 anos de idade. Observa-se que a idade proporcional ao tempo de experincia (67%), com exceo da Violeta que comeou a exercer sua profi sso depois de dez anos de graduao em ensino superior, mas acumula uma experincia profi ssional por ter trabalhado em vrios campos de atuao do Servio Social. Assim demonstra a fi gura abaixo:

    Figura 2: Faixa etria dos sujeitos

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 183

    notvel que essa relao idade e tempo de atuao no trabalho educacional revelam o acmulo de experincia, conhecimento, de-dicao, compromisso, realizao pessoal e profi ssional dos sujeitos da pesquisa.

    O que revela o relato abaixo:

    galguei todos os postos dentro da educao. Tenho longo percurso na educao. Comecei como professora rural, depois fui para So Paulo. Com mudanas no Estado em 1967, no havia a educao infantil no interior de So Paulo. Tive que fazer um exame de seleo para a educao infantil. Aps meu curso em So Paulo comecei a trabalhar no Estado como professora em educao infantil. Depois fui coordenadora do ciclo bsico, vice-diretora de uma escola Esta-dual de Barretos. Fiquei dois anos na direo quando o diretor foi secretrio de educao e em 1999 fi z o concurso pblico da prefeitura de Barretos. Aposentei do Estado e na prefeitura sou coordenadora pedaggica e atualmente nesta administrao fui convidada para designao de supervisora geral da educao infantil [...] educao para mim tudo. (Orqudea)

    Todos os sujeitos da pesquisa possuem formao em curso su-perior completo em diferentes reas do conhecimento, entretanto somente 67% possuem ps-graduao em nvel de especializao, (lato sensu), seguida de 33% que no realizaram curso algum de ps-graduao. Est visualizada na Figura 3.

    Figura 3: Formao profi ssional dos sujeitos

  • 184 MARIA CRISTINA PIANA

    E ainda revelam a importncia da formao continuada para todos profi ssionais da educao, segundo o relato:

    minha formao e atuao sempre foram na rea pedaggica. Tenho trabalhado muito na parte pedaggica e acompanhado a formao de nossos profi ssionais, acompanhado de perto a formao da equipe de suporte pedaggico. Eu acho que qualquer profi ssional hoje da educao, da rea de gesto e necessita se preparar constantemente. (Rosa)

    A educao, nos ltimos anos, avanou no mbito da formao dos profissionais, possibilitando aprimoramento, nova viso no ensino e aprendizagem. Com isso, as refl exes estendem-se para uma escola cidad, melhoria para qualidade de ensino, para prticas pedaggicas democrticas, para o respeito s diferenas e o prota-gonismo da criana, do adolescente e do jovem em seu processo de desenvolvimento educacional.

    Anlise e interpretao dos dados

    A partir da coleta de dados, buscou-se analisar e interpretar as informaes. O procedimento metodolgico utilizado na interpreta-o dos depoimentos baseou-se na anlise de contedo, que, segundo Bardin (1977, p.42), :

    Um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes visando obter, por procedimentos, sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens, indicadores (quantitativos ou no) que permitam a inferncia de conhecimentos relativos s condies de produo/recepo (variveis inferidas) destas mensagens.

    Essa tcnica teve origem nos Estados Unidos no incio do s-culo XX. Seus primeiros experimentos estavam voltados para a

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 185

    comunicao de massa. At os anos 1950 predominava o aspecto quantitativo da tcnica que se traduzia, em geral, pela contagem da frequncia da apario de caractersticas nos contedos das mensa-gens veiculadas (Gomes, 2001, p.74). Atualmente, compreendida como um conjunto de instrumentos metodolgicos, e assegura a objetividade, a sistematizao e a infl uncia aplicadas aos diver-sos discursos. E assim estudar e analisar o material qualitativo, buscando-se melhor compreenso de uma comunicao ou discurso, de aprofundar suas caractersticas gramaticais s ideolgicas e ou-tras, alm de extrair aspectos mais relevantes (Barros & Lehfeld, 2000, p.70).

    Segundo as autoras (2000, p.71), tal anlise tem como suporte instrumental qualquer tipo de mensagem e formas de expresso dos sujeitos sociais, resultando em um conhecimento no linear.

    Assim, essa metodologia de anlise e de interpretao permitiu compreender criticamente o sentido das falas dos sujeitos, o conte-do, o manifesto latente, os signifi cados explcitos ou ocultos.

    Como afi rma Chizzotti (1995, p.99),

    Esta tcnica procura reduzir o volume amplo de informaes contidas em uma comunicao a algumas caractersticas particu-lares ou categorias conceituais que permitam passar dos elementos descritivos interpretao ou investigar a compreenso dos atores sociais no contexto cultural em que produzem a informao ou, enfi m, verifi cando a infl uncia desse contexto no estilo, na forma e no contedo da comunicao.

    Mediante tal procedimento de anlise, os depoimentos dos sujei-tos foram classifi cados em categorias visando a uma anlise fi dedigna ao texto (Tabelas 4, 5, 6 e 7).

    As categorias estabelecidas antes do trabalho de campo, na fase exploratria da pesquisa exigiram uma fundamentao terica slida por meio dos captulos 1 a 4 desse estudo. So elas: Servio Social, Educao, Interdisciplinaridade e Perfi l Profi ssional.

  • 186 MARIA CRISTINA PIANA

    Segundo Barros & Lehfeld (2000, p.63-4), para que essas catego-rias na anlise dos dados sejam teis devem atender regras bsicas, assim defi nidas:

    a) O conjunto de categorias deve ser derivado em um nico princpio de classifi cao;

    b) O conjunto de categorias deve abranger toda e qualquer res-posta obtida. Deve ser exaustivo;

    c) As categorias devem ser mutuamente exclusivas, isto , no deve ser possvel colocar determinada resposta em mais de uma categoria de conjunto.

    Em seguida, as respostas fornecidas pelos sujeitos, receberam um tratamento adequado, tornou-se necessrio organiz-las em agru-pamentos denominados subcategorias. A partir delas, foi agregado um tratamento percentual, conforme se verifi ca nas tabelas a seguir.

    Tabela 4 Categoria e subcategorias das entrevistas com os sujeitos da pesquisa: Servio Social

    Categoria Subcategoria Freq. %Servio Social Trabalho restrito e desconhecido na

    Educao pelos profi ssionais da educao1 33

    Competncia e qualidade no trabalho desenvolvido

    3 100

    Importante nas equipes de profi ssionais 3 100

    Aes paliativas, assistencialista e imediatista

    3 100

    Mediador de confl itos emergenciais 3 100

    Chamada a opinar e sugerir 2 67

    Atuao do Servio Social na Poltica Educacional de Barretos

    2 67

    Necessidade do Assistente Social em todas as reas da educao

    1 33

    Atendimento aos casos crticos e um trabalho curativo

    3 100

    Fonte: Dados da Pesquisa. Entrevistas com os profi ssionais da Secretaria Municipal de Educao de Barretos/SP (2008)

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 187

    Tabela 5 Categoria e subcategorias das entrevistas com os sujeitos da pesquisa: Educao

    Categoria Subcategoria Freq. %Educao Educao tudo, do nascimento ao fim

    da vida1 33

    Educao uma ao simultnea entre as pessoas

    2 67

    Escola deve ser dinmica, contempornea e transmissora de valores

    3 100

    Escola tem a funo de desvendar um mundo diferente para pessoas diferentes

    2 67

    A famlia fundamental no espao escolar. 3 100

    Sentido amplo: intelectual, emocional, tico e esttico

    1 33

    Fonte: Dados da Pesquisa. Entrevistas com os profi ssionais da Secretaria Municipal de Educao de Barretos/SP (2008)

    Tabela 6 Categoria e subcategorias das entrevistas com os sujeitos da pesquisa: Interdisciplinaridade

    Categoria Subcategoria Freq. %Interdisciplinaridade Trabalho valorativo 3 100

    Importante e necessrio para a educao hoje

    3 100

    Atuao da equipe interdisciplinar dentro das unidades de ensino

    3 100

    Existe interdisciplinaridade quando favorece o trabalho educacional

    1 33

    importante a formao de uma equipe interdisciplinar nas escolas

    3 100

    Fonte: Dados da Pesquisa. Entrevistas com os profi ssionais da Secretaria Municipal de Educao de Barretos/SP (2008)

    Tabela 7 Categoria e subcategorias das entrevistas com os sujeitos da pesquisa: Perfi l Profi ssional

    Categoria Subcategoria Freq. %Perfi l Profi ssional Profi ssional cuidadoso, comprometido,

    competente e habilidoso2 67

    Profi ssional crtico e refl exivo 2 67

    Experincia no trabalho e dedicao 2 67Continua

  • 188 MARIA CRISTINA PIANA

    Tabela 7 Continuao

    Categoria Subcategoria Freq. %Perfi l Profi ssional Possui uma nova viso da realidade

    social, diferente de muitos profi ssionais da educao

    3 100

    um profi ssional valorizado 2 67

    Profi ssional que deve trabalhar diretamente com a populao

    3 100

    Trabalha confl itos e o emergencial 3 100

    Profi ssional calmo e que ajuda as pessoas

    2 67

    Atuao efi caz e responsvel 3 100

    Assistencialista e imediatista 3 100

    Orienta, informa e motiva 3 100Fonte: Dados da Pesquisa. Entrevistas com os profi ssionais da Secretaria Municipal de Educao de Barretos/SP (2008)

    Com base em tais categorias e subcategorias, procedeu-se trian-gulao dos dados referentes pesquisa de campo, bibliogrfi ca e documental que so apresentadas no prximo item.

    Resultados e discusses

    So apresentados, nesse item, os resultados da pesquisa de campo realizada com os profi ssionais da Secretaria Municipal de Educao de Barretos (sujeitos da pesquisa): Assistente Social, Supervisora Geral de Educao Infantil e Secretria Municipal de Educao, como tambm dos profi ssionais da Secretaria Municipal de Educao do Municpio de Osasco objetivando a apresentao do trabalho desenvolvido pelo Servio Social junto educao como proposta de interveno ao universo estudado.

    As Tabelas 4, 5, 6, 7 para a anlise de contedo com categorias e subcategorias, permitiram discutir e analisar o trabalho profi ssional do assistente social na educao municipal de Barretos e propor um perfi l profi ssional no cenrio educacional.

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 189

    A anlise das entrevistas revela que todos os sujeitos conhecem o trabalho do Servio Social e acreditam em sua importante ampliao na Secretaria Municipal de Barretos, bem como o aprimoramento e a qualidade no trabalho desenvolvido. As falas a seguir confi rmam tais afi rmaes:

    O trabalho do Servio Social poderia ser mais incrementado, alis at luto por isso[...]. Eu vejo muito positivo o trabalho da Assistente Social porque sem essa ajuda, alguns casos seriam impossvel de ter resoluo. Acho que o profi ssional do Servio Social tende a valorizar o trabalho de uma maneira geral. E em todas as esferas do Brasil necessrio essa posio, esse funcionrio. E nosso pas conforme ele vai se atualizando, ele vai tendo contato com outros pases, ele vai vendo a necessidade do profi ssional de Servio Social dentro de todos os ngulos. (Orqudea)

    hoje temos a parceria, mas gostaramos de estender essa parceria e realmente ter funcionrios do Servio Social atuando dentro da edu-cao. A gente v que pelo tempo da assistente social no conseguiria fazer mais, mas o tanto que ela faz, a gente v a importncia. Ela atua em muitos casos, prximos s famlias, mas como ns temos hoje mais de 12 mil alunos na rede, um profi ssional s humanamente impossvel. (Rosa)

    Vejo para Barretos, independente da administrao que teremos em 2009, a esperana que realmente o Servio Social se consolide na Secretaria da Educao. Acredito que realmente isso vai acontecer, independente de qual administrador ns tivermos, porque tanto um quanto o outro pensam no Servio Social como profi ssional que pode estar colaborando e muito. (Violeta)

    Para os profi ssionais de Osasco a mesma realidade se confi rma, pois todos os entrevistados conhecem o trabalho dos assistentes sociais. O trabalho est organizado por meio de uma equipe interdis-ciplinar formada por assistentes sociais, psiclogos e fonoaudilogos.

  • 190 MARIA CRISTINA PIANA

    Conta com 22 assistentes sociais nas escolas de educao bsica, uma assistente social nas duas escolas de educao especial com portadores de defi cincia auditiva e outras necessidades especiais e uma assistente social no Centro Diagnstico. Contudo, estudam a possibilidade de aumentar o nmero de assistentes sociais em decor-rncia das demandas sociais. Assim, segundo Hortncia, o trabalho das assistentes sociais tem revelado um avano nos trabalhos junto populao:

    Sempre existiu a viso de que a assistente social importante na estrutura da Secretaria da Educao, embora o trabalho especfi co do Assistente Social, na gesto anterior, no tinha sido sistematizado. Ento nesta gesto de 2005, esto tendo um olhar de maior impor-tncia sobre a equipe tcnica. Existia uma equipe tcnica trabalhando com as Cemeis Centros Municipais Educao Infantil, de 0 a 6 anos. Tem Assistentes Sociais nas creches, elas dividem-se por se-tores e trabalham com uma psicloga e uma fonoaudiloga. Hoje, encontra-se mais sistematizado o trabalho desta equipe interdisci-plinar. A nova gesto comeou avaliar o trabalho da equipe tcnica, porque na secretaria temos o Cedipo Centro de Diagnstico, para crianas com necessidades especiais. Essas profi ssionais trabalhavam somente com a formao dos profi ssionais, no trabalhavam dire-tamente com as famlias e crianas. Hoje ampliamos essa atuao. (Margarida)

    Observa-se, diante disso, que o profi ssional de Servio Social por meio de uma interveno educativa, competente e propositiva, no enfrentamento das demandas sociais, tem revelado um perfi l pro-fi ssional diferenciado, fundamental na educao e valorizado pelos gestores educacionais.

    No obstante a essa realidade de reconhecimento da profi sso diante dos dirigentes das secretarias, percebe-se que existe uma re-sistncia aos profi ssionais de Servio Social por parte dos educadores que compem o quadro de funcionrios da Secretaria da Educao de Barretos, diretores, professores e demais profi ssionais das unidades

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 191

    de ensino, visto que se observa um grande desconhecimento da pro-fi sso e uma viso distorcida, ou seja, refutam a proposta de atuao do assistente social, como profi ssional qualifi cado e competente para trabalhar as questes sociais que interferem na poltica educacional e refl etidas nas escolas, mesmo diante do despreparo desses educado-res em trabalhar com esses confl itos que se manifestam no processo ensino e aprendizagem do aluno.

    Teve muita resistncia do Servio Social na educao, princi-palmente quando colocou o estagirio de Servio Social, dentro do Cemei, acharam como interferncia, eles acharam tudo muito bo-nito, o Assistente Social dentro do Cemei, quando foi para resolver aquilo que eles queriam. Ento, se um problema que eles senti-ram e no conseguiram resolver e acreditaram que o Servio Social pode resolver, ento o Servio Social muito bem-vindo dentro do Cemei e na escola[...]. A maioria dos diretores de escola de ensino fundamental, eles realmente no aceitam o profi ssional de Servio Social, eles entendem que o profi ssional vai interferir e eles j tem diretores, eles tem supervisores, professores, coordenadores e no h necessidade de mais um profi ssional que vai estar passando a mozinha na cabea do aluno, na famlia desses alunos, eles podem estar desenvolvendo e eles mesmo vo fazer a visita. Eles tem ainda a ideia que o profi ssional de Servio Social aquele bonzinho, que vai fi car contra a escola, a favor da me, mesmo que ela esteja errada, e no mesmo assim, eles no entendem como sendo profi ssional que vai verifi car a questo social daquela famlia e tentar mexer na base, no que est provocando e eles acham que s o pedaggico o sufi ciente e a escola est s para o pedaggico e o social outro setor, outro lugar. (Violeta)

    O professor no assistente social, no psiclogo e no fo-noaudilogo. O que acontece que o professor pode perceber um problema no aluno que possivelmente seja um dado problema que no pode afi rmar porque no tcnico nisso, percebe um compor-tamento atpico e precisa de apoio. Ento quando falta este apoio

  • 192 MARIA CRISTINA PIANA

    ao professor na sala de aula e no tem, seu trabalho desestimulado e quando sabe que ter um respaldo, algum vai at mesmo para conversar, ele se sente leve para o trabalho, falo enquanto professora h vinte anos. (Hortncia)

    As falas acima demonstram dois aspectos fundamentais em discusso no Servio Social: o desconhecimento dessa profisso social por meio de sua trajetria histrica e propositiva nos diversos campos atuais de interveno no sistema capitalista e a concepo conservadora de uma profi sso assistencialista e executora de prticas caritativas e fi lantrpicas.

    Dessa forma, o Servio Social ainda visto na concepo dos sujeitos entrevistados como um trabalho assistencialista, paliativo, curativo e emergencial. Isso signifi ca que o profi ssional no con-quistou por meio de seu trabalho profi ssional tcnico-operativo e tico-poltico uma interveno propositiva, transformadora, criativa e qualifi cada, como caractersticas efetivas da profi sso.

    um trabalho assim, de formiguinha e que tem dado muito certo no atendimento s famlias dos nossos Centros de Educao Infantil[...] Eu sei que um trabalho difcil de ser atendido, no um trabalho de preveno, um trabalho de cuidar de alguns casos. Casos mais prementes, casos que se tornam impossveis de serem atendidos pela diretora, pelo pessoal que est envolvido com a criana, devido ao estudo, a disponibilidade de atendimento, ela procura ir ao encontro apenas naqueles casos que necessitam de uma compreenso maior, de uma maneira diferenciada de atendimento, ento est aqum dentro dos Centros Municipais de Educao Infantil. (Orqudea)

    Quando voc tem um nmero muito reduzido de profi ssionais voc acaba atendendo s aqueles casos crticos e num trabalho curati-vo [...]. Aqui em Barretos eu avalio assim pela nica assistente social que ns temos, excelente, mas eu avalio que est muito carente, porque ns temos uma profi ssional s. (Rosa)

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 193

    Onde houver uma questo que a diretora e o professor, educador ou professor no conseguiu resolver, a assistente social chamada para tentar intermediar esse confl ito que existiu, ou resolver a questo que foi aparecendo[...]. Dentro das escolas de Ensino Fundamental, de 1 ao 9 ano, ainda no desenvolvi nenhum trabalho, a no ser coisas espordicas que me chamaram para intermediar uma conversa diretora, vice-diretora, professora e a famlia, que seria apagar o fogo, apagar o incndio no momento, mas, fora isso, no foi desenvolvido nenhum trabalho. (Violeta)

    No obstante a essa realidade, consenso entre os profi ssionais de Osasco a importncia do Servio Social na Secretaria da Educa-o, assim como a valorizao externa dos demais profi ssionais e do prprio profi ssional social. Isso fi ca evidente nas expresses abaixo:

    Avalio que o trabalho da Assistente Social de extrema necessi-dade, ela tem uma viso diferenciada, faz uma abordagem diferente do problema, fora a questo do atendimento que faz do aluno, acho importante no a forma de tratar o problema, mas a preveno de como podem orientar os nossos profi ssionais, diretores, professores, funcionrios envolvidos com a criana. Por exemplo, a legislao que ampara a criana, as atitudes que tem que tomar nas situaes, a forma de dilogo e conversa com os pais, at na questo do preparo; ns somos profi ssionais de outra rea, acho que um conhecimento que soma na equipe, acho imprescindvel. (Hortncia)

    No trabalho de orientao famlia, visando a um processo educa-cional tranquilo e harmonioso da criana e no acompanhamento das equipes de profi ssionais nos centros de educao infantil, o assistente social tem se revelado como um profi ssional de suma importncia para o acompanhamento e o trabalho direto junto s diversas formas de organizao de famlia que se redesenham no cenrio nacional.

    importante a presena do assistente social para tranquilizar, dizer que importante que essa criana esteja no ncleo familiar, dispor

  • 194 MARIA CRISTINA PIANA

    populao o conhecimento que prprio do profi ssional Assis-tente Social. importante a atuao nesta informao dos direitos populao. Podemos em alguns casos visualizar a qualidade nos resultados, mas agora com a intensifi cao dos trabalhos teremos mais consistncias nos resultados. As equipes de creche, as profi s-sionais so mais prximas dos trabalhos vividos diariamente, no so arrogantes em relao ao trabalho intelectual e de atendimento populao, portanto, avalio que esto muito mais comprometidas com o interesse da populao escolar. Elas so mais prximas dentro da realidade, tem contato com os problemas dirios da creche, que um trabalho antigo, tanto que a equipe continua a mesma da ges-to anterior. A gente pensa muito em fazer alterao dessa equipe, porque est muito sintonizada com o trabalho, com os dirigentes, conhece as mes e a realidade das crianas. A equipe das Cemeis tem contato com os professores e dirigentes, existe um planejamento de Cemei que ser intensifi cado com o novo projeto de combate excluso social, dessa nova administrao. (Margarida)

    O acompanhamento da equipe dos profi ssionais da educao muito importante, inicialmente, pelo levantamento dos problemas sociais que afetam a educao hoje e o enfrentamento destes com toda a comunidade escolar, famlia e sociedade em geral.

    No temos um trabalho especfi co de assistncia social, temos um setor de assessoria interdisciplinar na qual a assistente social est includa, que assessora as unidades escolares, seus gestores, ou seus professores, funcionrios de apoio, na busca de solues para situaes relativamente localizadas, de crianas nas quais se detecta defi cincias ou difi culdades, que diferente, ou difi culdades de apren-dizado e tambm naquelas que conseguimos detectar uma situao mais de violncia familiar, violncia social, perigo, risco social, at mesmo violncia sexual, em que deve haver um grupo intersecretaria que acompanhe essas crianas. Mas ns, como disse, temos a tarefa na unidade escolar, produzir o assessoramento, para que a unidade escolar em sua complexidade busque atender da melhor forma pos-

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 195

    svel essas crianas. Feito por um setor de assessoria Institucional Educacional, esses profi ssionais, esses tcnicos que ns chamamos. Considero importante o trabalho interdisciplinar. (Girassol)

    A fala do profi ssional Girassol revela um desconhecimento com relao ao Servio Social e isso se deve a dois aspectos, segundo ela mesma: ter assumido recentemente (h 2 anos) a Secretaria da Edu-cao de Osasco e nunca ter trabalhado com profi ssionais assistentes sociais.

    Estou h pouco tempo na secretaria e eu ainda no me sinto em condies de precisar o trabalho que desenvolvido. Realmente no tenho essas informaes. no sentido de eu ignorar mais detalhes dessa atividade [...] Quando as creches vo para a educao e perdem a caracterstica assistencialista, as assistentes sociais perdem espaos para os pedagogos, alis nesta equipe tem pedagogos tambm. Elas perdem o espao para os pedagogos, deixam de ser o atendimento cuidar e passam a ser o cuidar educar, ento perdeu esse espao, no perdeu, compartilhou o espao, eu acho. Ento, os profi ssionais fi ca-ram meio soltos, sem terem muita funo, sem terem potencializado as possibilidades de colaborao, e a foi criado o ncleo de atendi-mento especializado. um espao organizado. Vieram para dentro da Secretaria de Educao junto com a equipe pedaggica da educao, porque eles tinham um espao separado. Como se fosse mesmo um recurso que a educao solicitava. Agora no, eles so a educao. En-to uma equipe que trabalha em harmonia com a diretoria de ensino da secretaria. Um exemplo, ns agora tivemos uma seleo de pajens, ns vamos reenquadr-las, e antes que fossem para as suas unidades de trabalho, esta equipe do Saei fez uma capacitao com elas, uma pequena formao. Cada uma das profi ssionais, das tcnicas, pode dizer seu lado do prisma no que compete s pajens. (Girassol)

    Trata-se de uma viso equivocada do Servio Social, pois no houve perda de espao, mas redimensionamento das competncias profi ssionais, desconhecidas at ento pela profi ssional acima citada.

  • 196 MARIA CRISTINA PIANA

    Nesse sentido, tal realidade refora-se com o depoimento do su-jeito da pesquisa, a Violeta, que apresenta os limites de seu trabalho profi ssional como burocrtico, restrito e mediador (minimizador) de confl itos de relacionamentos, pessoais e emergenciais, demonstrando, muitas vezes, o desvio de competncias profi ssionais, como afi rma:

    O meu trabalho basicamente com a educao infantil no agen-damento de crianas que precisam estar indo para vagas em creche, ento eu fao toda uma lista de espera, o atendimento da me ou do pai, aqui na secretaria, fao o agendamento, entra numa lista de espera para ser chamado posteriormente, caso no tenha vaga no momento [...] Em muitos casos, que devo ir no local, o descumprimento de regras e normas estabelecidos dentro dos Cemeis. Ento, as famlias no levam no horrio, ou no pegam no horrio, ou a criana est com piolho, no querem atender, ou querem que deem medicamento dentro do Cemei, o que no permitido, faltas sem justifi cativa, que a gente tem que verifi car e desentendimento verbal com a diretora. Por alguns destes problemas que a me no aceita e a diretora no tem o jogo de cintura ou habilidades necessrias, vamos colocar assim, para estar conversando, explicando a necessidade de cumprir aquelas regras. Ento, elas acabam medindo foras, a hora que uma quer ser mais poderosa que a outra, elas no chegam no acordo, quando o profi ssional de Servio Social chamado, justamente para entrar neste meio e quebrar esta fora e tentar balancear tudo isso e fazer cumprir a lei, mas vendo o que correto para os dois lados, o que um tem de direito e o que tem de dever tambm e o que o outro tem que ser ma-level e aceitar e entender a situao. Todos os casos foram resolvidos. Um ou dois casos no foram resolvidos num primeiro momento, mas na segunda conversa tambm j foram resolvidos. No fi cou nenhum pendente. Agora, a gente tem uns casos que eu sou chamada, de violncia domstica, desse caso, eu vou fao a visita, vejo o que est acontecendo realmente e chamo o Conselho Tutelar. (Violeta)

    Essa realidade diferencia-se do municpio de Osasco, onde os profi ssionais apresentam a relevncia do trabalho desenvolvido e

  • A CONSTRUO DO PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CENRIO EDUCACIONAL 197

    o reconhecimento do mesmo pelos profi ssionais que atuam direta e indiretamente com os assistentes sociais e so benefi ciados pelo trabalho da equipe interdisciplinar. destaque a forma como ocorreu no preparo e na aceitabilidade da equipe na Secretaria da Educao, como se evidencia nas falas abaixo:

    Foram feitas vrias reunies antes da circular, reunio de dire-o, em cursos para a equipe, foi preparado para receber a equipe interdisciplinar. Mas tambm foi uma solicitao dos prprios professores, eles tm o seu trabalho, e a escola vai adquirindo o exerccio do paternalismo excessivo e o profi ssional acaba assumindo responsabilidades que no so deles, a sua funo alfabetizar, tra-balhar as questes pedaggicas[...] Acredito que somos privilegiados no s porque temos a equipe interdisciplinar, mas porque temos profi ssionais extremamente competentes, as assistentes sociais so envolvidas, acredito que seja uma caracterstica prpria do profi s-sional porque lida com o social, esse compromisso que elas tm, so s mulheres, que at excessivo com o pblico e com a clientela que elas atendem tm uma responsabilidade muito grande. (Hortncia)

    Eu acho que sim, principalmente neste projeto de combate excluso social, discutimos a diversidade tnica em respeito LDB, entendemos que no s o professor na sala de aula, tambm o pro-fi ssional dando ateno a essas questes, respeitando essa diversidade tnica e aqui no municpio tem uma Coordenadoria de Gnero e de Raa e h momentos de reunio da equipe interdisciplinar com essa coordenadoria. H uma interface com outras Secretarias. A coorde-nadora das EMEFS confi rma uma excelente aceitao da rede para com a equipe interdisciplinar, aps o envio da circular. No setor dela muitos tem procurado como trabalha este ncleo interdisciplinar. Pedimos aos diretores que encaminhem a esse ncleo todos os casos de cada unidade. Avaliamos como muito positivo. (Margarida)

    relevante a formao da equipe interdisciplinar no trabalho da educao, segundo a fala dos sujeitos e profi ssionais, pois dessa

  • 198 MARIA CRISTINA PIANA

    forma possvel atender s diversas demandas dos alunos durante seu processo de desenvolvimento e de aprendizagem e, consequen-temente, de seus educadores.

    Foi muito importante a existncia desta equipe, o trabalho desta equipe. Como iniciamos o processo de incluso, desenvolvemos um programa de educao inclusiva, era razovel que o professor que no teve essa formao nem no seu ensino normal e nem na faculdade, se angustiasse diante de uma criana includa com defi cincias ou necessidades. Eu acho que num primeiro momento nem o professor sabia muito bem tratar com o problema social, seria a questo da violncia, de qualquer natureza, ento no havia esse recurso. Ento, acabamos matando dois coelhos com uma cajadada s. Ns consegui-mos sob a perspectiva da interdisciplinaridade como o fi sioterapeuta, terapeuta ocupacional, psiclogo, pedagogo e o assistente social dar uma assessoria, dar um suporte, dar uma orientao para o profes-sor, angustiado, que tinha recebido este aluno com PC ou com uma defi cincia motora, ou com problema de descontrole dos esfncteres, e tambm conseguimos ter esta equipe para acompanhar esses casos que detectados ou pelo Conselho Tutelar e se a escola no tivesse como ajudar. Ento, nesta equipe e na equipe a assistente social, eu acho, que foi muito importante, porque antes e como professora posso dizer isso, eu tive uma aluna que foi vtima de estupro, uma jovem admirvel, ento a escola, soubemos que tinha sido vtima de estupro. Mas, no havia um elo entre aquela famlia e ns, naquela circunstncia. Eu acho que o Saei, isso, pode ser amenizado. pos-svel estabelecer uma ponte, isto , incorporar a escola na vida e a vida na escola. Acho importante esta equipe. (Girassol)

    Nesse sentido, os sujeitos entrevistados so unnimes em afi rmar tambm que acreditam em um trabalho interdisciplinar (100%), embora o trabalho atual do Servio Social junto coordenao da educao infantil no caracterize interdisciplinaridade, por se tratar de um trabalho desenvolvido por uma assistente social, sem contar com a presena de profi ssionais de outras reas e quando ela neces-

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    sita consulta a chefi a (secretria da educao e supervisora geral) para a tomada de decises. Entretanto otimizada a concepo da importncia de uma equipe profi ssional com caractersticas inter-disciplinares e a busca na formao desta por parte dos dirigentes da Secretaria Municipal de Educao de Barretos.

    Eu acho importante a atuao interdisciplinar. Alis quando eu tento dar uma explicao a voc, eu penso no que ela desenvolve. Ela nunca faz um trabalho sozinha, de acordo com as orientaes que ela teve no curso que aprendeu, ela sempre faz um trabalho de equipe. Ela me comunica, ou ela conversa com a diretora, ou com a coorde-nadora que est no cotidiano com essa criana para saber detalhes. Quando tem um caso mais especfi co, sempre vamos juntas famlia, ento sempre um trabalho de equipe, no isolado. (Orqudea)

    Mesmo diante de alguns limites apresentados pelos sujeitos pes-quisados no trabalho da assistente social na educao, importante considerar que os sujeitos entrevistados so unnimes (100%) em afi rmar que o trabalho do Servio Social desenvolvido na Secretaria Municipal de Educao de Barretos e as demais parcerias que ela possui, so desenvolvidos com competncia e qualidade, destacando-se sua relevncia mediante os diversos profi ssionais das instituies envolvidas no trabalho.

    Hoje ns temos parceria com a FEB, do curso de Servio Social que atua junto conosco e temos tido a felicidade de receber s elogios a esses trabalhos profi ssionais[...] Ns temos uma outra parceria com uma entidade que tem um projeto conosco e a assistente social desenvolve um trabalho com famlias muito carentes das crianas da educao, o que muito importante e necessrio. (Rosa)

    Ainda no tocante importncia da interdisciplinaridade, os profi ssionais entrevistados afi rmam que fundamental um trabalho em nvel interdisciplinar, ou seja, preciso fomentar o dilogo, as trocas de saberes, a intersubjetividade situando-se total, concreta e

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    historicamente, para o xito de todos os trabalhos, pois depreende-se que no existe sucesso em qualquer trabalho social e/ou educacional sem a conjugao de esforos, conhecimentos, saberes, investimentos e aes diretas junto populao atendida e na implementao de projetos educacionais e sociais propostos.

    ento a presena das assistentes sociais s enriquecem nosso traba-lho. Eu acredito que esto capacitadas para um tipo de trabalho que outros no esto, cada profi ssional tem sua importncia. Assim como eu acredito que por exemplo, em determinadas situaes possam ter um pedagogo na rea da sade, se o objetivo uma criana que tem que entrar na escola e precisa da parte pedaggica e est no hospital, a presena de uma pedagoga pode ser necessria tambm. No questo de invadir a rea de ningum. Mas somar, dentro da sua rea voc fazer, elas fazem o que trabalho de uma Assistente Social dentro de uma Secretaria da Educao. ver um cidado como um todo. O mesmo aluno que tem difi culdades de portugus, matem-tica, o mesmo aluno que fi ca na rua, ajuda catar latinhas, fi ca sem ir escola porque a me tem vrios fi lhos e ele tem que cuidar do irmo menor. o mesmo aluno que o pai alcolatra, agressivo e que tem problemas de fono, problema mental e que discriminado por questes raciais e sociais. No d para dividir a pessoa, a a atuao da equipe interdisciplinar. Os questionamentos so que as escolas pblicas devem ter psiclogos, assistentes sociais, fi sioterapeutas, nas empresas, nos servios privados se tem e por que o pblico no pode ter? Por exemplo, eu enquanto pedagoga fao uma leitura da realidade da criana, mas somente na minha viso e quando junta outras profi ssionais, se tem uma viso ampla, e dentro da educao no podemos perder isso. Temos aprendido muito com as meninas, assistentes sociais. Acho que o que tem muito nelas organizao, o cronograma, organizao tcnica das coisas, de registro. Aprendi muito com a assistente social nisso. (Hortncia)

    Outro aspecto relevante observado entre os sujeitos da pesquisa que a iminncia de um trabalho interdisciplinar na Educao de

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    Barretos, com a atuao do Servio Social possibilitar a construo de uma nova viso da profi sso, de forma valorativa, superando a fragilidade do trabalho atual que se caracteriza como aes assisten-cialistas e imediatistas.

    Eu particularmente como profi ssional de Servio Social acredito muito no trabalho interdisciplinar e acho necessrio, mas outros profi ssionais da rea de educao, eles s valorizam essa interdis-ciplinaridade a partir do momento em que voc mostra resultado do seu trabalho; se voc foi l, fez um trabalho e eles viram que eles foram favorecidos com aquilo, eles aceitam, do contrrio eles acham que uma interferncia desnecessria[...] Mas, acredito que a partir de 2009 a gente vai ter um Departamento do Servio Social montado com mais assistentes sociais, mais profi ssionais, com estagirios, a parte administrativa e uma sala decente para a gente estar conver-sando sem muitas interferncias. Eu vejo, a cabea da secretria, o pensamento dela hoje com relao ao Servio Social nos leva a pensar que tudo isso vai estar acontecendo na prxima administrao, j existe uma base, um conhecimento do que o profi ssional pode estar realizando, da sua valorizao pelo gestor para que possa ser montado efetivamente esse setor a partir de 2009. (Violeta)

    A educao, apresentada como poltica social primordial ao cidado hoje, foi destaque na fala dos sujeitos e profi ssionais dessa investigao, pois demonstraram a urgente necessidade de investi-mentos, para uma possvel educao de qualidade, com valorizao e estimulao do potencial de seus sujeitos, por meio da contribuio de outros saberes e conhecimentos, do dilogo com outras cincias, visando rever os paradigmas que a educao sempre se pautou e a servio de quem esteve historicamente, como afi rmam os sujeitos pesquisados (100%):

    brigamos por uma educao de qualidade. Ento a educao hoje tem as caractersticas interdisciplinar e multidisciplinar, que aquilo que ns acreditamos como proposta pedaggica [...] (Hortncia)

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    a ideia tanto para o profi ssional do Servio Social que a gente est pensando e lutando para colocar esse profi ssional, como o profi s-sional psiclogo, que a gente pensou numa equipe multidisciplinar dentro das escolas, que seria um profi ssional de Servio Social, um psiclogo e uma fono tambm. Mas essa equipe para estar acompa-nhando junto com professores tambm, nessa proposta preventiva de acompanhamento e no curativa. (Rosa)

    Para mim educao desenvolver, fornecer a criana os conhe-cimentos historicamente acumulados, mas esse processo desenvolve nela a vontade do saber, para alm disso vejo a educao como um instrumento, um processo que visa a criana desenvolver a sua po-tencialidade de civilizao, de humanizao, de colaborao, mais ou tanto quanto de ensino propriamente dito. A educao o ensino, mas o carter que chamo civilizatrio, a adequao da natureza humana ao convvio salutar, humano, cooperativo, civilizatrio e de cidadania. (Girassol)

    A educao fundamental a todo cidado e como direito social adquirido, devem hoje os educadores segundo os sujeitos pesquisa-dos pautar suas aes na garantia de uma prtica educativa refl exiva, crtica, dialtica, dialgica.

    Escola faz parte da maneira de ns educarmos nossas crianas, ento ela tem que ser dinmica, contempornea, no esquecendo os valores, principalmente os valores daquele momento, os valores que nos so passados pelos nossos pais, pelo saber da humanidade e isso s se d atravs da escola. Eu acho essencial que essa escola fi que sempre nesse dinamismo procurando sempre uma maneira atual de educar. (Orqudea)

    o grande objetivo da escola preparar esse cidado considerando esses aspectos no s o intelectual, o afetivo, o tico, esttico. Hoje voc tem uma escola que prepara pessoas diferentes, para um mundo bastante diferente. (Rosa)

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    Para os profi ssionais entrevistados, a educao escolar hoje se re-vela como momento diferenciado no cenrio nacional, com propostas de novos mtodos educacionais e contedos para que a criana, o adolescente e o jovem saibam interpretar o mundo. Assim, demonstra a Tabela 5.

    Neste conceito, a escola o espao privilegiado para essa tarefa bsica da Secretaria da Educao enquanto servio pblico, e essa tarefa que a rigor de todos, da cidadania, mas no sentido do cidado o ser humano, pressupondo os direitos, mas anteriormente desen-volvendo essa caracterstica do ser humano. Ento, o espao onde voc tem que ter os recursos para o desenvolvimento de inteligncias, conhecimento, aprendizado e tambm o espao de convivncia, de confronto de ideias, adequao de comportamentos. A criana vai aprendendo tambm na escola, no s, mas l como espao privi-legiado, ela vai aprender se a sua ideia no for aceita pela maioria, se a sua compreenso no for a mesma da maioria, ela no adianta sair esperneando, brigando e quebrando no comportamento mais adequado. A escola tem essas funes do conhecimento e mais a da convivncia. (Girassol)

    Outro dado importante observado entre os profissionais que contriburam no acrscimo da pesquisa o trabalho que as assistentes sociais desenvolvem na Secretaria Municipal de Educao de Osasco.

    Segundo os profi ssionais, a estrutura da Secretaria da Educao est dividida em quatro ncleos, os seguintes: Ncleo Interdiscipli-nar, Ncleo de Educao Infantil, Ncleo de Educao Fundamental e Ncleo de Educao Especial.

    Temos a Secretria e ns da equipe tcnica estamos no Ncleo In-terdisciplinar. Um professor o coordenador do Ncleo e eu respon-do pela coordenao direta da equipe interdisciplinar. (Margarida)

    Todos eles possuem assistentes sociais atuando em equipes inter-disciplinares. O que se observa no municpio de Osasco a dinamici-

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    dade do trabalho junto educao bsica, os nveis: educao infantil e educao fundamental e um investimento e valorizao no desen-volvimento do trabalho nos ltimos anos, como diz a profi ssional:

    Quando o Secretrio assumiu esta pasta ele tinha um olhar muito ruim, havia sido informado que a equipe tcnica no trabalhava. Inicialmente pedimos uma reunio com ele e este documento fruto da histria da insero do Servio Social no municpio de Osas-co, ele fruto dessa nossa preocupao que existem profi ssionais srios, comprometidos com o trabalho e hoje com o Prof. V. e da confi ana do Secretrio, conseguiu conferir isso, a importncia dos profi ssionais, e esta leitura dessa nossa intencionalidade em mostrar seriedade. (Margarida)

    Assim, o Servio Social tem assumido um papel relevante na educao de Osasco, com grande responsabilidade, compromisso, tica e reconhecimento frente sociedade que benefi ciada com o trabalho profi ssional.

    Estamos avanando e com as assistentes sociais no teremos muita difi culdade para que consigamos responder a esse desafi o que est colocado, que reforar o Servio Social na Educao e da equipe interdisciplinar. No uma tarefa s do assistente social, mas acho que os assistentes sociais vo continuar saindo na frente, por conta da histria que tem, do perfi l de formao, do tipo de formao, do trabalho que prope a fazer que diferenciado. Acredito que a re-sistncia com esse profi ssional vai ser menor, ele sair novamente na frente dessa luta, que tambm uma briga. Nos exemplos aqui de arquitetos sociais, ocupando secretarias que gerenciam os projetos sociais, e isso uma preocupao nossa enquanto categoria, ou seja, profi ssionais que no esto instrumentalizados teoricamente para atuarem nas questes sociais e vo ocupando os espaos. Essa uma preocupao nossa. E neste aspecto, acho que o assistente social bem mais sensvel, mais tranquilo de se discutir e se comprometer com o trabalho. Ento temos essa tarefa institucionalmente que da

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    equipe interdisciplinar, acho que o assistente social sai na frente, ele avana mais nessas questes. (Margarida)

    O trabalho da equipe interdisciplinar, segundo os profi ssionais entrevistados, desenvolvido junto comunidade escolar, profi ssio-nais da educao, famlias dos alunos, rgos pblicos responsveis pelo bem-estar da populao infanto juvenil, jovens em situao de vulnerabilidade social, como prostituio infantil, trabalho infantil, violncia domstica, miserabilidade social, uso indevido de drogas e a populao em geral de forma preventiva e curativa.

    Eu tenho atendido vrios casos de violncia domstica [...] atravs do programa bolsa famlia, temos acesso ao ndice alto de evaso escolar[...] Temos o projeto de Combate Excluso, que prope a educao inclusiva que no envolve somente portadores de necessi-dades especiais e nem s formao de professores, mas sim os alunos que esto excludos pela questo da diversidade tnica, em situao de prostituio e trabalho infantil, violncia domstica, drogadio, enfi m, as linhas de trabalho que foram defi nidas naquele projeto[...] (Margarida)

    O professor orientado quando o aluno tem cinco faltas con-secutivas, sem comunicao da famlia, atestado mdico, nenhum aviso, ento a escola entra em contato com a famlia. O professor entra em contato com a secretaria da escola e esta comunica o pai, que notifi cado e caso no comparea convocado a comparecer na escola. E se o aluno continua faltando e o pai no comparece, a eles encaminham para c e temos essa cincia. E neste caso a assistente social diretamente ligada porque um caso social. Neste caso a assistente social, antes de encaminhar ao Conselho ou a Vara da Infncia ela tem todo um trabalho para conhecer a situao. Eu falo sempre que os pais tem um respeito com a fi gura da assistente social, ento uma conversa, orientao com a Assistente Social j resolve [...] S o fato de ser uma assistente social j coloca uma outra postura no pai. (Hortncia)

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    Segundo a fala desses profi ssionais, a educao do municpio de Osasco/SP desenvolve um projeto elaborado pela equipe deno-minado Combate Excluso. Foram mapeados todos os bairros perifricos do municpio (os quatro cantos da cidade), diagnosticados os problemas emergenciais (acima citados) e recebem a interveno da equipe no tratamento dos problemas e aes preventivas junto comunidade em geral. Tm-se notcias que, em meados do ano de 2008, a equipe interdisciplinar fez um trabalho de aes intensas junto s famlias no combate violncia domstica contra as crianas e os adolescentes.

    No que diz respeito proposta de um trabalho profi ssional que extrapole a interveno tradicional no espao escolar e junto po-pulao usuria, 67% dos sujeitos pesquisados afi rmam ser funda-mental a atuao do Servio Social na elaborao de uma poltica educacional, a fi m de contribuir para uma educao de qualidade, inclusiva e participativa.

    Quando eu falei da equipe dos profi ssionais, eu j penso numa certa relao com a construo e elaborao dessa poltica, na inser-o, porque para o gestor; quando eu falo do profi ssional dentro da escola, para ela estar trabalhando com os professores, com o diretor da escola, com o gestor, eu acho que como ns estamos hoje fazendo o Plano de Ao Articulada PAR, onde voc constri essa poltica educacional, a eu vejo que esse profi ssional estaria ajudando a cons-truir o projeto poltico pedaggico da escola, da Secretaria Municipal de Educao, que hoje o prprio plano da educao construdo pelos gestores, e esse profi ssional estaria junto, estaria atendendo com os gestores da escola, com o coordenador pedaggico e eventuais casos, ou casos necessrios da escola tambm, mas eu acho que impres-cindvel sim, ele atuar dentro da elaborao da poltica educacional do municpio e das escolas. (Rosa)

    Ns temos visto isso tanto na esfera do Pas, na esfera estadual, na esfera municipal, porque ns temos na promoo social algumas profi ssionais, na educao infantil infelizmente uma s. Mas cada vez

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    mais necessrio isso, esse tipo de atuao do profi ssional, porque o profi ssional tem uma nova viso que s vezes para a professora, ou na rea pedaggica, que ns estamos inseridos no aprender, isso s vezes passa despercebido. Ento, com essa ajuda, com essa nova viso, esse trabalho conjunto tende a crescer. (Orqudea)

    Com relao aos profi ssionais pesquisados, observam-se limites de propostas em conceber a atuao do profi ssional de Servio So-cial na proposio e na elaborao de polticas sociais, em especial a educao, a no ser na execuo e na implementao de aes j elaboradas. possvel que tal realidade ocorra por modelos histri-cos da profi sso em responder questo social gerada pelo sistema capitalista de forma paliativa, minimizadora de confl itos sociais e assistencialista. Na viso otimista da profi ssional Margarida, o Ser-vio Social tem se destacado no cenrio nacional e, possivelmente, ir encontrar brevemente caminhos de propostas transformadoras.

    Acho que a possibilidade das discusses dos direitos sociais novo nessa gesto. Nossa equipe tcnica est fazendo um curso de violncia domstica, promovido pelo Conselho Municipal dos Di-reitos da Criana e do Adolescente e tem como parceria a Secretaria Municipal de Educao. Ento, a preocupao com a formao do profi ssional, para poder atuar bem, tem sido evidente. Tudo isso para capacitar o tcnico para a populao. E na Conferncia Mu-nicipal de Assistente Social atravs do Frum de Discusso, com a participao da sociedade, tivemos um curso de diversidade tnica que continuar no segundo semestre. Temos avaliado como um sal-to de qualidade. E ns que estamos preocupados com as diretrizes polticas das questes sociais acho que fundamental para o nosso momento. (Margarida)

    Por outro lado, a profi ssional Girassol desconhece a profi sso de Servio Social e arrisca-se em emitir um parecer da ausncia de con-dies do profi ssional social em contribuir na elaborao de polticas educacionais que viabilizem uma educao de direito a todo cidado.

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    Eu no saberia dizer se o profi ssional tem uma contribuio es-pecfi ca na sua formao, para contribuir na elaborao da poltica educacional, no vejo de uma maneira to cortada assim. Eu acho que na questo da educao todos tem como contribuir. Evidentemente, que cada um focaliza sua lanterna, sua luz a partir da sua especia-lizao. Tem como contribuir na situao especfi ca do assistente social, me parece que o foco sero nas condies de sobrevivncia da famlia e como aquelas condies de sobrevivncia deteriora relaes e precisa ser recuperadas, o tecido social que precisa ser recomposto. E no vejo uma responsabilidade especial do assistente social, mas vejo uma responsabilidade na complexidade que o processo edu-cacional. (Girassol)

    Diante de todos esses depoimentos apresentados pelos sujei-tos da pesquisa e os profi ssionais que contriburam com a mesma, evidencia-se em suas falas a importante tarefa da construo do perfi l profi ssional no cenrio educacional que comea a ser redesenhado. Isso porque existe uma histria legitimada da interveno do Ser-vio Social na Poltica Educacional no Brasil, e hoje se apresenta com nuances diferenciadas e intensas propostas de ampliao e efetivao de um trabalho de qualidade, inovador, com perspectivas transformadoras.

    muito positiva a fala de todos os entrevistados (sujeitos e pro-fi ssionais) no que tange construo e presena de um perfi l profi s-sional na educao, pois revelam ser um profi ssional comprometido, competente, habilidoso, cuidadoso:

    ela uma pessoa muito calma, sabe o que faz. Tem uma fala muito calcada nos estudos que ela fez. Ento falo com tranquilidade para voc, nesses momentos em que ns temos a oportunidade de atuar juntos, eu cada vez aprendo mais. E para saber lidar melhor com outras pessoas at. (Orqudea)

    para ser um bom profi ssional depende muito do ser humano que ele . Isso em todas as profi sses que ns temos. Voc pode ter uma

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    formao, formao continuada, mas depende da cultura dele. Eu entendo que assim o profi ssional de Servio Social, tem que ver o compromisso desse profi ssional, a formao cultural dele. Eu acho importante a formao inicial desse profi ssional da rea social, acho que ele tem que ter uma base de formao, um ncleo comum para trabalhar, alm da especifi cidade da rea de Servio Social e como toda profi sso, a gente depende muito do profi ssional, e da cultura que ele tem, do que ele pode realmente estar colocando da profi sso dele. (Rosa)

    Caracteriza-se a profi sso de Servio Social por ser dinmica e buscar transpor os limites de sua conscincia histrica, compactu-ando com o novo e a busca da transformao social.

    o assistente social um profi ssional preparado para dar o encaminha-mento necessrio em diferentes casos, como ele conversa, dialoga, a forma como o assistente social aborda um pai, uma famlia, um usurio, a forma extremamente tcnica e acabam percebendo si-tuaes e evidncias que ns leigos no percebemos Ento, percebem atitudes que esto por trs da atitude do pai, da criana e da famlia. Por exemplo, tivemos um caso que a me no levava a criana no acompanhamento psicolgico. E todo mundo falava, a me no leva, a me no leva... Ento a Assistente Social viu que estava numa situao difcil fi nanceira, desemprego e no tinha condies de le-var. E neste dilogo com a assistente social foi percebido tudo isso. Foram tomados encaminhamentos juntamente com a Secretaria de Promoo Social e resolveu o problema, a criana est frequentando. (Hortncia)

    Segundo Pimenta (2002, p.19), a identidade profi ssional cons-tri-se a partir da signifi cao social da profi sso, da reviso constante dos signifi cados sociais da profi sso, da reviso das tradies. Nesse sentido, considera-se que a construo do perfi l profi ssional do as-sistente social no cenrio educacional est sendo realizada a partir do trabalho desenvolvido por este, no exerccio profi ssional dirio,

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    enfi m no compromisso tico-poltico, tcnico-operativo e terico-metodolgico assumido por ele.

    Destaca-se a importncia da atuao de um profi ssional crtico, tico, refl exivo, criativo, dinmico, na compreenso da realidade social e de contradies, no enfrentamento das diversas expresses da questo social (violncia, evaso escolar, fome, difi culdade no aprendizado e outras) que se manifestam no cotidiano escolar, com um sentido tico e poltico voltado para contribuir na luta pela igual-dade social, pela cidadania e pela efetivao da democracia.