manual restauração haccp
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VOLUMEII-Avanado
HigieneeSegurana
Alimen
tarnaRestaura
o
Forviso - Consultoria em Formao Integrada, S.A.
Paulo Baptista / Christine Antunes
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ISBN972-99099-8-9 DEPSITO LEGAL 204910 / 03
Ttulo Higiene e Segurana Alimentar na Restaurao - Volume II - Avanado
Autor Paulo Baptista / Christine Antunes
Editor Forviso - Consultoria em Formao Integrada, S.A.
Largo Navarros de Andrade, n1, 3 Dir.
4800-160 Guimares
Tel. 253511904 / Fax 253415341
[email protected] / www.forvisao.pt
Projecto Grfico e Design Poeiras - Mkt, Comunicao e Design, Lda
Impresso e Acabamento
Forviso - Consultoria em Formao Integrada, S.A., 2005, 1 Edio, 300 Exemplares
ficha tcnica
Produo apoiada pelo Programa Operacional do Emprego, Formao e Desenvolvimento Social,
co-financiado pelo Estado Portugus e Unio Europeia, atravs do Fundo Social Europeu.
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INTRODUO
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Nos ltimos anos, diversos factores, tanto econmicos como scio-culturais determinaram alteraes substanciais
nos hbitos alimentares da populao, tendo os conceitos e as formas de restaurao evoludo, moldando-se aodesenvolvimento da sociedade. Entre os factores mais determinantes na mudana que tm conduzido a umaalterao de costumes alimentares, tanto na forma como no tipo de alimentos que a populao procura, incluem-se:
- O crescimento da populao residente em meios urbanos;
- A distncia e consequente tempo mdio de deslocao entre a residncia e o local de trabalho ou a escola;
- O aumento da percentagem de mulheres no mercado de trabalho;
- O aumento do poder de compra;
- As preocupaes dietticas.
Estas alteraes potenciam o crescimento do sector da restaurao. No entanto, estas tambm exigem a evoluo
das tcnicas de preparao, confeco, conservao e transporte, de modo a possibilitar s empresas de restauraoe cateringa oferta de alimentos que, para alm da qualidade microbiolgica (segurana), devem apresentarqualidade sensorial, nutritiva, funcional e de convenincia. Esta evoluo implica um crescente investimento por
parte dos empresrios do sector da restaurao em tecnologias de conservao, que garantam uma melhor e maiordurabilidade dos alimentos, em processos de regenerao e refrigerao mais rpidos, eficazes e seguros, ou emtcnicas de produo especializadas.
Actualmente, j no podemos considerar unicamente a restaurao tradicional sem contemplar a diferenciao
entre os vrios tipos de restaurao. Atendendo ao tipo de cliente, podem considerar-se dois grandes grupos:
- A restaurao comercial, ou seja, aquela na qual os estabelecimentos esto abertos a todo o tipo de clientes (e.g.restaurantes, sales de banquetes, restaurantes take-away) e na qual se podem incluir as empresas de catering
que, apesar de trabalharem com um nmero pr-fixo de centros e clientes, estes podem variar globalmente,modificando substancialmente o nmero total de servios e os pedidos cozinha central.
- A restaurao social, em que os clientes so fixos, tanto em quantidade como em frequncia (e.g. escolas, lares,etc.), ajustando a sua actividade, tipo de menus e quantidades ao tipo e volume de populao que cada um serve.
De salientar tambm as situaes que podem ser designadas de restaurao diferida, em que as refeies soelaboradas em cozinhas centrais, podendo dar-se a possibilidade de haver desfasamento tanto no espao como
no tempo, total ou parcial, do servio e do consumo, em relao ao momento da confeco.
O uso de matrias-primas semi-elaboradas tambm uma tendncia que se tem vindo a acentuar, na medida emque esta prtica possibilita uma diminuio significativa dos stocks, da manipulao e dos desperdcios. Entre estasincluem-se:
- Os produtos de 4 gama, tais como os produtos limpos pr-cozinhados e embalados, os vegetais frescos,acondicionados, embalados em atmosfera inerte ou os produtos desidratados no pr-cozinhados, cujo perodode conservao de 4 a 6 dias a 4C;
- Os produtos de 5 gama, como os pratos cozinhados que permitem, mediante a sua regenerao, compor um
prato em pouco tempo. Estes produtos esto acondicionados em atmosfera controlada e conservam-se normalmentea 3C num mximo de 6 dias.
Tambm ao nvel da tecnologia est-se a difundir o uso de tcnicas diversas com o objectivo de garantir uma melhorconservao dos alimentos e durante um maior perodo de tempo. O embalamento em vcuo de alimentos (e.g.
produtos crnicos, pescado) sem processamento prvio, e a cozinha a vcuo, em que produtos preparados, umavez embalados, e hermeticamente fechados em embalagens de plstico, so cozidos num forno a vapor hmido
ou num cozedor de banho-maria, constituem exemplos que, embora pouco difundidos em Portugal, comeam aemergir.
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A evoluo acima apresentada, conjugada com as crescentes exigncias dos consumidores e os requisitos legais
exigidos para o exerccio da actividade, exige uma cada vez maior ateno por parte das empresas do sector para
com as questes relacionadas com a segurana alimentar. imprescindvel que as empresas do sector compreendam
as mudanas e avaliem adequadamente a forma como desenvolvem a sua actividade, no sentido de estabelecer
medidas preventivas adequadas sua organizao e a cada uma das tecnologias que as caracterizam, a fim de
garantir a segurana alimentar.
neste enquadramento que, com este livro, se procura abordar alguns dos aspectos relacionados com a gesto
da higiene e segurana alimentar que so relevantes para: i) uma correcta identificao dos perigos do ponto de
vista de segurana alimentar e o estabelecimento de medidas de controlo e programas de monitorizao de pontos
crticos, ii) dar cumprimento legislao aplicvel, iii) estabelecer planos de controlo de pragas e planos de
higienizao e iv) definir e/ ou alterar as condies das infra-estruturas dos estabelecimentos quando necessrio,
por parte das pessoas que exercem funes ao nvel de gerncia e/ ou superviso nos estabelecimentos derestaurao.
Assim, este livro encontra-se organizado em seis seces:
i) Doenas associadas a Alimentos;
ii) Conservao de Alimentos na Restaurao;
iii) Anlise de Perigos (HACCP);
iv) Legislao;
v) Controlo de Pragas;
vi) Instalaes.
Atravs da abordagem destes temas, os objectivos gerais que se pretendem atingir so:
- Sensibilizar os gerentes de estabelecimentos alimentares para as principais doenas associadas a alimentos que
podem afectar os consumidores, identificando os respectivos sintomas, as condies de desenvolvimento dos
agentes causadores das doenas e respectivos mecanismos de preveno e/ ou eliminao.
- Apresentar os processos de conservao de alimentos e seus respectivos impactos, bem como as condies
ptimas de conservao dos alimentos.
- Apresentar os princpios e a metodologia HACCP e identificar um conjunto de boas prticas e controlos que devem
ser assegurados de forma a adequadamente suportar um sistema de segurana alimentar eficaz no sector da
restaurao.
- Apresentar a legislao aplicvel ao sector da restaurao, detalhando os principais requisitos legais relacionados
com a segurana alimentar.
- Sensibilizar para a problemtica das pragas em estabelecimentos de restaurao e descrever as principais prticas
de controlo e preveno das principais pragas que afectam os estabelecimentos de restaurao.
Sensibilizar para a importncia da concepo das instalaes na segurana alimentar e para os requisitos que
devero ser tomados em considerao aquando da concepo e construo dos estabelecimentos da restaurao.
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limentarnaRestaurao-VOL.II
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Doenas associadas a alimentos
1.1. Doenas transmitidas por alimentos
1.1.1. Definio1.1.2. Condies para a ocorrncia de doenas transmitidas por alimentos
1.1.3. Classificao de doenas transmitidas por alimentos
1.1.4. Caractersticas do crescimento dos microrganismos
1.1.5. Factores que condicionam o crescimento microbiano nos alimentos
1.1.6. Factores de risco mais frequentes na restaurao
1.2. Registos de ocorrncias em Portugal
1.2.1. Notificaes por agentes biolgicos
1.2.2. Notificaes por tipo de alimentos contaminados
1.2.3. Notificaes por local onde os alimentos foram consumidos ou adquiridos
1.3. Caracterizao das doenas causadas por microrganismos em alimentos
1.3.1. Caractersticas das principais doenas causadas por bactrias
1.3.2. Caractersticas das principais doenas causadas por parasitas
1.3.3. Caractersticas das principais doenas causadas por vrus
Objectivos do Captulo
: Apresentar as condies determinantes na ocorrncia de infeces e intoxicaes alimentares.
: Apresentar os factores de risco mais frequentes na restaurao.
: Discutir os dados relativos a notificaes de casos de doenas transmitidas por alimentos ocorridos em Portugal,nomeadamente no que se refere ao agente causador, ao tipo de alimento contaminado e ao local onde os alimentosforam consumidos.
: Caracterizar as principais doenas causadas por microrganismos em alimentos, nomeadamente por bactrias,parasitas e vrus, apresentando as principais caractersticas das doenas causadas, sintomas e os principaisalimentos associados.
1)
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As doenas causadas por alimentos contaminados (incluindo gua potvel) constituem um dos problemas de sade
mais comuns e so, por sua vez, uma importante causa na reduo da produtividade econmica. A maioria das
doenas alimentares causada por agentes biolgicos.
Um alimento pode causar doenas por diferentes motivos, nomeadamente por:
- Existirem nele microrganismos patognicos, que pela sua proliferao, pela produo de toxinas ou ambas as
situaes, podem ocasionar quadros clnicos de doena;
- Possuirem substncias qumicas presentes na sua composio;
- Terem sido contaminados, acidentalmente, com alguma substncia txica;
- Terem sido adicionadas substncias para modificar alguma das suas caractersticas, que possam tornar-se txicas
para o ser humano;
- Terem sido inadvertidamente introduzidos objectos estranhos que possam causar leses ao consumidor.
1.1.2. Condies para a ocorrncia de doenas transmitidaspor alimentos
Doenas associadas a alimentos
1.1. Doenas transmitidas por alimentos
O CDC Center for Disease Controlnos Estados Unidos, define como doena transmitida por alimentos, um
incidente em que duas ou mais pessoas apresentem os mesmos sintomas de doena, aps a ingesto de um
mesmo alimento, e as anlises epidemiolgicas apontem o alimento como a origem da doena. no entanto
possvel que, face gravidade de um agente, como por exemplo a ocorrncia de botulismo ou envenenamento
qumico, um nico caso possa ser suficiente para desencadear aces.
Os casos registados e notificados de doenas provocadas por alimentos constituem apenas uma pequena fracode todas as ocorrncias que ocorrem efectivamente. A probabilidade de que um caso seja reconhecido e notificado
pelas autoridades de sade depende, entre vrios factores, da participao por parte dos consumidores, do registo
por parte das autoridades mdicas e das aces desenvolvidas pelas entidades nacionais com responsabilidade
de vigilncia sanitria.
Os alimentos mais frequentemente associados a casos de intoxicao alimentar so os de origem animal. Em 48%
dos surtos ocorridos entre 1973 e 1987, nos EUA, em que se identificou o veculo, os produtos envolvidos eram
carne bovina, carne suna, frango, peru, ovos, pescado, moluscos, e produtos lcteos.
1.1.1. Definio
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Para que ocorra uma doena transmitida por alimentos, por via da aco de agentes biolgicos, o microrganismo
patognico ou a sua toxina ter de estar presente no alimento. No entanto, esta no condio suficiente, para
que a intoxicao ocorra necessrio igualmente que:
- O microrganismo patognico se encontre em quantidade suficiente para causar uma infeco ou para produzir
toxinas;
- O alimento seja capaz de sustentar o crescimento dos microrganismos patognicos;
- O alimento permanea na zona de perigo de temperatura por tempo suficiente para que o microrganismo se
multiplique e/ou produza toxina;
- Seja ingerida uma quantidade suficiente do alimento de modo a ultrapassar o limiar de susceptibilidade (doseinfectante) do indivduo que ingere o alimento.
No que respeita ao ltimo ponto de salientar que a susceptibilidade pode variar bastante de indivduo para
indivduo. Pessoas com um sistema imunitrio imaturo, como o caso das crianas diminudas pela idade, assim
como os idosos, ou perturbado por doenas, desnutrio, etc., sero afectados por uma dose infectante menor
que a necessria noutras pessoas. Especialmente em lares, hospitais, residenciais e colgios, cujos destinatrios
so crianas, idosos e doentes, deve ser prestada uma ateno especial pois, por exemplo, nas crianas, as
doenas diarreicas podem afectar o estado nutricional e o seu sistema imunitrio. Episdios repetidos levam a uma
perda de nutrientes devido a uma m absoro, que em casos extremos deriva em desnutrio, febre e uma
deteriorao da resistncia a outras infeces (geralmente respiratrias) levando a criana a um crculo vicioso
de m nutrio e infeco.
Os idosos e as pessoas imunodeficientes em geral so altamente susceptveis aos efeitos das doenas de origem
alimentar, como demonstram dados estatsticos que revelam que uma infeco com Salmonella significativamente
maior (at dez vezes) neste grupo populacional.
As doenas transmitidas por alimentos so classificadas em infeces, intoxicaes ou infeces mediadas por
toxina, dependendo do modo de actuao do agente causador da doena no tracto gastrointestinal.
Infeco transmitida por alimentos uma doena que resulta da ingesto de alimentos contendo microrganismos
vivos prejudiciais, como Salmonella, Shigella, Bacilus cereus, vrus da hepatite A e Trichinella spiralis.
As intoxicaes, podem ser causadas por alimentos quando as toxinas esto presentes no alimento ingerido,
mesmo que os microrganismos que lhes deram origem tenham sido eliminados. Essas toxinas, geralmente no
possuem odor ou sabor, no sendo detectvel organolepticamente a sua presena nos alimentos. Alguns exemplos
deste tipo de toxinas so a toxina produzida pelo Clostridium botulinum, a enterotoxina do Staphylococcus e as
micotoxinas.
1.1.3. Classificao de doenas transmitidas por alimentos
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No caso de infeces mediadas por toxinas, a produo da toxina d-se aps a ingesto do alimento, quando este
possui uma determinada quantidade de microrganismos patognicos, capazes de produzir ou de libertar toxinas
quando ingeridos. Entre os microrganismos que podem ocasionar este tipo de situaes inclui-se o Vibrio cholerae
e o Clostridium perfringens.
Nos microrganismos considerados mais frequentemente como causadores de doenas alimentares esto algumas
bactrias dos gneros Salmonella, Staphylococcus, Escherichia, Vibrio, Bacillus e Clostridium; vrus como o Norwalk
e o da Hepatite A e parasitas como a Taenia saginata e a Trichinella spiralis. Dentro dos microrganismos emergentes,
e que actualmente ocasionam um nmero cada vez maior de doenas, esto a Listeria e a Campilobacter. Entre
os alimentos que, com maior frequncia, se encontram implicados figuram as maioneses, os ovoprodutos, as
carnes, os queijos, o pescado, os moluscos e as conservas.
Figura 1.1 - Curva de crescimento microbiano
Os microrganismos tm uma forma de crescimento caracterstica, na qual se apresenta, uma primeira fase de
crescimento moderado, ou fase de latncia, na qual o microrganismo se adapta ao meio. Esta fase ser maior ou
menor segundo o meio se adapte mais ou menos s necessidades do microrganismo. A fase seguinte de
crescimento exponencial, na qual, os microrganismos se desenvolvem muito rapidamente, e que se manter
enquanto existirem os nutrientes necessrios ao seu crescimento, e as substncias residuais dos prprios
microrganismos no sejam txicas. Conforme os nutrientes se vo esgotando esta fase de crescimento abranda
at uma fase de crescimento estacionrio, na qual o nmero de microrganismos que nascem est em equilbrio
com o nmero de microrganismos que morrem. Estas fases diferenciam-se representando o logaritmo do nmero
de microrganismos em funo do tempo, como se observa na Figura 1.1.
1.1.4. Caractersticas do crescimento dos microrganismos
12
10
8
6
4
2
0
log N
Tempo
Fase delatncia
Fase de crescimentoexponencial
Faseestacionria
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A forma habitual de destruio microbiana utilizada na restaurao, so as altas temperaturas. No entanto
importante ter em considerao que o tratamento trmico nem sempre assegura a destruio de todos os
microrganismos. Um dos factores a ter em conta o nvel de contaminao inicial, pelo que importante partir de
matrias-primas com uma carga microbiana o mais baixa possvel, o que permitir efectuar tratamentos trmicos
com temperaturas menores e durante menos tempo.
Outro dos parmetros que influenciam a multiplicao microbiana, o tempo que estes permanecem em condies
favorveis para a sua proliferao. Considerando que, em termos mdios e a uma temperatura de 37C, uma
populao de bactrias se multiplica a cada 20 minutos, considera-se que num alimento que contivesse uma s
bactria, ao fim de 8 horas existiria uma populao microbiana de 16.777.216 UFC (unidades formadoras de
colnias) (Figura 1.2).
Figura 1.2 - Crescimento microbiano em funo do tempo, a uma temperatura de 37C
portanto, imprescindvel manter os alimentos perecveis em condies de frio adequado, assim como refrigerar
os alimentos rapidamente, de forma a reduzir a velocidade de crescimento microbiano. Caso contrrio, a populaobacteriana alcanaria nveis que poderiam tornar menos eficazes os tratamentos trmicos posteriores.
8
6
4
2
0
log
N
t (min)
0 20 40 60 120 180 240 300 360 420 480
0 0.30.6 0.9
1.8
2.7
3.6
4.5
5.4
6.3
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Doenas associadas a alimentos
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Os prprios alimentos tm na sua constituio caractersticas, prprias ou adicionadas, que fazem com que os
microrganismos cresam com maior ou menor dificuldade. As caractersticas que de forma geral se apresentam
num alimento e que podem contribuir para o crescimento de microrganismos so:
- A gua - todos os microrganismos tm necessidade de gua, em quantidades que diferem com o tipo de
microrganismo. A presena de gua varia muito dependendo do alimento em questo;
- O pH - os microrganismos s podem crescer em determinados intervalos de pH, pelo que este tambm ir
influenciar o desenvolvimento dos mesmos;
- Os nutrientes - os microrganismos, como os restantes seres vivos, necessitam de determinados nutrientes para
o seu desenvolvimento;
- O oxignio - os diferentes tipos de microrganismos tm variadas necessidades de oxignio. Alguns precisam de
oxignio, outros s se desenvolvem na sua ausncia. Outros ainda podem crescer quer na ausncia quer na
presena do oxignio;
- Aditivos alimentares - em alguns alimentos, podem estar presentes determinadas substncias, de forma natural
ou adicionadas, e que podem limitar o crescimento de certos microrganismos.
De igual forma, os microrganismos precisam de determinadas condies ambientais para se multiplicarem. De
entre estas destaca-se a temperatura. Existem microrganismos que podem crescer at temperaturas de -5C,
enquanto que acima dos 63C a generalidade dos microrganismos normalmente presentes nos alimentos podem
ser destrudos.
Actuando sobre estas variveis possvel limitar o crescimento dos microrganismos, ou provocar o crescimento
selectivo daqueles que possam interessar. Foi demonstrado que a actuao conjunta sobre estes factores actua
de maneira sinrgica limitando a proliferao microbiana, denominando-se este fenmeno de efeito barreira.
1.1.5. Factores que condicionam o crescimento microbianonos alimentos
Os problemas relacionados com a segurana alimentar adquiriram uma importncia global nas ltimas dcadas,
tendo-se verificado um aumento das doenas de origem alimentar. A vigilncia epidemiolgica tem evidenciado,
no s um aumento constante na prevalncia das referidas doenas, mas tambm a ocorrncia de graves surtos
de salmoneloses, clera, entre outros, tanto nos pases desenvolvidos como nos pases em desenvolvimento. Por
outro lado, a clera e outras infeces diarreicas, tradicionalmente propagadas atravs da gua ou por contacto
homem a homem, tm vindo a ter, cada vez mais, uma origem alimentar. Nos pases industrializados, mais de 10%
da populao sofre anualmente de problemas devidos a doenas com origem nos alimentos.
1.1.6. Factores de risco mais frequentes na restaurao
Doenas associadas a alimentos
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Na restaurao os factores de risco mais frequentes que possibilitam a multiplicao microbiana, e que contribuem
para a origem de doenas provocadas por alimentos, so:
- O binmio tempo/ temperatura inadequado;
- As preparaes com demasiada antecedncia;
- A manipulao incorrecta;
- A preparao de grandes quantidades de comida;
- O reaquecimento inadequado;
- A temperatura inadequada durante a manuteno a quente;
- A refrigerao inadequada (permanncia temperatura ambiente vrias horas; arrefecimentos lentos);
- A descongelao inadequada dos produtos congelados;
- O consumo de alimentos crus;
- A utilizao de sobras de comida;
- A contaminao cruzada;
- A insuficiente higienizao.
A variedade e extenso das doenas de origem alimentar tal que nenhum pas capaz de proporcionar dados
exactos sobre a sua incidncia ou prevalncia. , portanto, impossvel fazer uma estimativa global da magnitude
real do problema. Ainda que exista um sistema de informao adequado, s uma pequena proporo das doenas
de origem alimentar chega ao conhecimento das autoridades de sade pblica. Os casos notificados nos pases
industrializados alcanam provavelmente menos de 10% da incidncia real. Estima-se que a incidncia anual de
doenas alimentares na UE se situe entre 6 e 80 milhes de casos. Estudos realizados em pases industrializados
estimaram que cada 5 10 % da populao sofre de doenas devidas a alimentos. Ao contrrio de outros pasesEuropeus, Portugal no possui um sistema nacional de vigilncia e controlo de doenas de origem alimentar, pelo
que o nmero de ocorrncias registado muito limitado, evidenciando as lacunas do sistema de notificao no
pas. Nas Tabelas 1.1 e 1.2. apresentam-se os dados estatsticos relativos a ocorrncias de doenas de origem
alimentar registadas em Portugal de 1993 a 1998. Estes dados constam do 7 Relatrio da Organizao Mundial
de Sade (OMS) do Programa de Vigilncia e Controlo de Doenas de Origem Alimentar na Europa (WHO, 2000),
e tem como base a informao disponibilizada pelo Instituto Nacional de Sade.
1.2. Registos de ocorrncias em Portugal
Doenas associadas a alimentos
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Tabela 1.1 Notificaes de algumas doenas de origem alimentar em Portugal Perodo 1993 1998
As Tabelas 1.3 e 1.4 apresentam os surtos de doenas de origem alimentar, por agentes biolgicos causadores
da doena, notificados em Portugal, entre 1993 e1998, pelas delegaes do Instituto Nacional de Sade em Lisboa
e no Porto. Constata-se que, em aproximadamente metade dos casos notificados, no foi possvel identificar o
agente causador da doena. Para os casos em que foi possvel efectuar esta identificao, verificou-se que a
Salmonella enteritidis, o Staphylococcus aureus e Clostridium botulinum tipo B so responsveis por mais de 80%
das ocorrncias. De notar que, a identificao de agentes causadores de doenas restringe-se apenas a bactrias,
no existindo qualquer identificao positiva associada a vrus e a parasitas.
1.2.1. Notificaes por agentes biolgicos
Fonte: (Direco Geral de Sade)
Nota: Taxa de incidncia = nmero de casos por cada 100.000 habitantes.
Nmero de CasosDoena / Agente
Infeccioso
Salmonella
Taxa de Incidncia
BruceloseTaxa de Incidncia
Escherichia coli
Taxa de Incidncia
Shigella
Taxa de Incidncia
1993
5765,6
120211,7
50,0
150,1
1998
6436,2
8177,9
350,3
100,1
1997
4624,5
8668,4
440,4
120,1
1996
5475,3
8608,3
530,5
30,0
1995
6256,1
9158,9
390,4
1351,3
1994
5225,1
124312,1
280,3
190,2
Tabela 1.2 Surtos de doenas de origem alimentar em Portugal Perodo 1987 1998
Fonte: (Instituto Nacional de Sade Lisboa e Porto)
Ano N de Surtos N de CasosCasos
IsoladosPessoas
Hospitalizadas
1987
1988
19891990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
25
39
3430
35
29
43
49
45
60
60
47
215
994
1044187
694
798
1068
1051
885
786
1615
1411
2
4
11
6
3
7
10
16
9
12
24
72
73
14525
93
129
270
207
167
95
134
602
Doenas associadas a alimentos
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Tabela 1.3 Surtos de doenas de origem alimentar em Portugal, por agentes biolgicos causadores da doena, recolhidos
pelo Instituto Nacional de Sade na regio de Lisboa Perodo 1997 1998
Tabela 1.4 Surtos de doenas de origem alimentar, por agentes biolgicos causadores da doena, recolhidos pelo
Instituto Nacional de Sade na regio do Porto Perodo 1993 1998
Fonte: (Instituto Nacional de Sade Lisboa)
84111
-
---
24
39
Ano TotalAgente Causador
1997 1998 N. %
17---
1
1119
21
911111
1
11133
60
15,018,31,71,71,7
1,7
1,71,71,7
55,0
100,0
Salmonella enteritidis
Staphylococcus aureus
B. cereus
Y. enterocoliticaMicrorganismos aerbicosE. colienterotoxinogenico e
enterohemorrgicoS. enteritidis + S. aureus
S. enteritidis + S. aureus + B. cereus
S. aureus + B. cereus
Desconhecido
Total
Fonte: (Instituto Nacional de Sade Porto)
Ano
TotalAgente Causador
N. %
Clostridium botulinum tipo BClostridium botulinum tipo EClostridium botulinum tipo (B+E)Clostridium botulinum no tipificado
Salmonella
S. aureusB. cereus
Clostridium perfrigens
Salmonella + S. aureus
Salmonella + B. cereus
Salmonella + Y. enterocolticaS. aureus + B. cereus
C. perfrigens + L. monocytogenes
Desconhecido
Total
1993 - 1998
c) Salmonella heidelbergd) Salmonella spp.
1998
15--2
4(a)
231
2(a)1(a)
-
-20
50
1997
----
4(a)+1(b)
42---
1(a)11
19
33
1996
72--
6(a)
4--
1(c)1(a)
-
-18
39
1995
7---
3(a)
41-
3(a)--
-14
32
1994
4-1-
5(a)
3-----
-11
24
1993
4---
6(a)+2(d)
31-
1(a)--
-7
24
37212
31
207172111
89
202
18,31,00,51,0
15,3
9,93,50,53,51,00,50,50,5
44,1
100
a) Salmonella enteriditisb) Salmonella bareily
Doenas associadas a alimentos
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Tabela 1.5 Surtos de doenas de origem alimentar, por alimentos contaminados, na regio de Lisboa Perodo 1997 1998.
Tabela 1.6 Surtos de doenas de origem alimentar, por alimentos contaminados, na regio do Porto Perodo 1993 1998.
1.2.2. Notificaes por tipo de alimentos contaminadosAs Tabelas 1.5 e 1.6 apresentam os surtos de doenas de origem alimentar, por alimento contaminado, notificados
em Portugal entre 1993 e 1998 pelas delegaes do Instituto Nacional de Sade em Lisboa e no Porto.
Constata-se que bolos e produtos de pastelaria so responsveis por cerca de 25% das ocorrncias registadas.
Snacks, refeies mistas e produtos crneos so os outros grupos de alimentos com maior incidncia de ocorrncias.
Ovos e pescado estiveram, cada qual, na origem de apenas 6,4% dos casos registados.
Fonte: (Instituto Nacional de Sade Lisboa
Bolos / Pastelaria
Snacks
Refeies mistas
Queijo
Desconhecido
Total
Ano Total
Alimentos 1997 1998 1997 - 1998
N. %
9
3
4
-
23
39
23,1
7,7
10,3
-
58,9
100
N. %
5
3
3
1
9
21
23,8
14,3
14,3
4,7
42,9
100
N. %
23,3
10,0
11,7
1,7
53,3
100
14
6
7
1
32
60
Fonte: (Instituto Nacional de Sade Porto)
Ano Total
1993 - 1998Alimentos
Nmero de surtos
Ovos / MaioneseBolos / Pastelaria / Pr-misturas
Carne / AvesQueijoRefeies mistasSnacksPescado / MariscoSalsichasPresuntoPresunto curado cruOutros alimentos
Total
%
6,426,4
10,92,79,110,96,42,70,920,03,6
100
N.
729
1231012731224
110
1994
13
2--31--2-
12
1993
-5
21132--21
17
1995
17
--211--31
16
1996
16
311-1--7-
20
1997
43
312--21-2
18
1998
-5
2-4521-8-
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Doenas associadas a alimentos
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Tabela 1.7 Surtos de doenas de origem alimentar, por local onde os alimentos foram consumidos ou adquiridos, na
regio de Lisboa Perodo 1997 1998.
As Tabelas 1.7 e 1.8 apresentam os surtos de doenas de origem alimentar, por local onde os alimentos foram
consumidos ou adquiridos, notificados em Portugal entre 1993 e 1998 pelas delegaes do Instituto Nacional de
Sade em Lisboa e no Porto. possvel constatar que no existe uma predominncia significativa de qualquer
local onde os alimentos foram consumidos ou adquiridos, sendo que cantinas, restaurantes, domiclio, pastelarias,
escolas/infantrios e cateringso responsveis, cada qual, por mais de 10% das ocorrncias registadas. , no
entanto, necessrio ter em considerao que estes nmeros no reflectem a frequncia de consumo em cada local.
Se este factor for tomado em considerao, verificar-se-ia que a taxa de ocorrncia associada a consumo no
domiclio seria substancialmente inferior s outras. Na anlise destes dados tambm de salientar que o nmero
de ocorrncias em escolas e infantrios , em termos relativos, elevada, tendo em considerao que os consumidores
habituais nestes locais so crianas e que estas constituem um grupo de risco. A percentagem de ocorrncias
associadas a restaurantes provavelmente inferior real dada a dificuldade de estabelecer uma relao com o
local de consumo. Embora o nmero de consumidores num restaurante possa ser elevado, existe uma multiplicidade
de pratos que so servidos e os consumidores no se conhecem entre si, ao contrrio do que se passa em locais
de restaurao colectiva (e.g. cantinas, escolas, lares, infantrios).
1.2.3. Notificaes por local onde os alimentos foramconsumidos ou adquiridos
Fonte: (Instituto Nacional de Sade Lisboa)
Local
CantinasRestaurantesDominliosPastelariasCampos de friasOutros locais
Total
Ano
Total1997 1998
%
36,022,014,08,02,0
18,0
100
N.
18117419
50
%
41,9
3,2
19,4
12,9
22,6
100
N.
13164-7
31
%
26,3
52,6
5,3
5,3
10,5
100
N.
5101-12
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Doenas associadas a alimentos
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Tabela 1.8 Surtos de doenas de origem alimentar, por local onde os alimentos foram consumidos ou adquiridos, na
regio do Porto Perodo 1993 1998.
Fonte: (Instituto Nacional de Sade Porto)
Local
DomicliosRestaurantesCantinasEscolas / InfatriosFast-foodCateringPastelariasDesconhecido
Total
Ano
Total
Nmero de surtos
1998
5464-261
28
1997
74581121
29
1996
13-93-64-
35
1995
5-35-622
23
1994
93-1-23-
18
1993
5122-64-
20
%
28,87,8
16,315,00,7
15,013,72,6
100
N.
441225231
23214
153
Doenas associadas a alimentos
1.3. Caracterizao das doenas causadas pormicrorganismos em alimentos
O conhecimento das caractersticas das doenas, nomeadamente no que se refere aos sintomas e ao perodo de
incubao, importante pois permite efectuar uma identificao preliminar do agente causador da doena e, quando
necessrio, tomar medidas antes de se obter uma confirmao laboratorial.
Muitas so as espcies microbianas que podem originar surtos de origem alimentar. No caso da produo de
toxinas necessrio que o teor microbiano seja elevado, de modo a que se produza no alimento a quantidade de
toxina necessria para desencadear sintomas. Relativamente s infeces, so muito importantes as doses
infectantes ingeridas, as quais dependem, no s dos factores de virulncia do microrganismo, mas tambm da
susceptibilidade do hospedeiro, alm das caractersticas do prprio alimento.
Dose infectanteA dose infectante consiste no nmero mnimo de microrganismos necessrios para causar a doena. Na realidade,
a dose infectante pode variar de indivduo para indivduo, devendo-se ter em considerao a existncia de grupos
especiais de risco (e.g. crianas, idosos, mulheres grvidas e pessoas imunodeprimidas), que podem adoecer
quando expostas a um nmero menor de microrganismos patognicos do que o necessrio para causar doena
num adulto saudvel.
Dever ter-se ainda em considerao que existe um conjunto de factores de natureza fisiolgica que influenciam
o nvel da dose infectante mnima, tais como: o grau de acidez gstrica, contedo gstrico, a flora intestinal, o
estado imunolgico, nutricional e de stress do indivduo.
-
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Variveis do microrganismo ou parasitaEntre as variveis do microrganismo (ou do parasita) que so possveis de identificar incluem-se i) a variabilidade
de expresso dos diversos mecanismos patognicos, ii) o potencial do microrganismo para causar doena, iii) a
sensibilidade do microrganismo s caractersticas do produto alimentar e s condies ambientais envolventes
(e.g. pH, actividade da gua, concentrao de sal, temperatura) e iv) a natureza das interaces com outros
organismos.
A Tabela 1.9 apresenta de forma sistematizada as principais caractersticas das doenas associadas s principais
bactrias patognicas que podem estar presentes nos alimentos.
1.3.1. Caractersticas das principais doenas causadas por bactrias
Variveis do hospedeiro
Entre as variveis do hospedeiro que so possveis identificar incluem-se: i) a idade, ii) a condio fsica e estado
geral de sade (e.g. gravidez), iii) o nvel de doenas com impacto no sistema digestivo (e.g. alcoolismo, cirrose),
iv) O nvel de funcionamento do sistema digestivo, v) a variao da acidez gstrica (uso de anti-cidos, variaonatural), vi) o estado nutricional, vii) a natureza da actividade profissional, viii) natureza da medicao a que se
encontra sujeito, ix) a quantidade de alimentos consumidos e x) a existncia de distrbios genticos.
O conhecimento do alimento associado ocorrncia tambm importante, pois cada alimento, pelas suas
caractersticas prprias, tem associado um conjunto especfico de microrganismos que encontram nele condies
adequadas para se desenvolverem. As bactrias e os parasitas so os agentes biolgicos relativamente aos quais
existe um melhor conhecimento do seu impacto nos alimentos e das doenas que resultam do consumo de alimentos
contaminados.
Doenas associadas a alimentos
http://vol_1.pdf/http://vol_1.pdf/ -
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Tabel
a1.9Caractersticasdasprincipais
doenascausadasporbactriaspato
gnicasema
limentos
Bactrias
Perodode
incubao
S
intomas
Duraodos
sintomas
Alimentos
associados
Doena
causada
Salmonellatyphi
Salmonellaparatyphi
6a48h
Bacteremia(presena
debactriasnacorrente
sangunea),febretifide
Bacteremia,
febre
entrica
Febre,nuseas,vmitos,
doresabd
ominais,
diarreia,
dordecabea
1a2dias
Carnecrua,
frangoeperu,
leite
ederivados,pescado,camaro,
molhosetemperos,sobremesas
recheadascomc
remes,
manteigadeamendoim,gelatina,
chocolate
Esch
erichiacoli
enterohemorrgica
3a9dias
Colitehemorrgica
(desenvolvimento
posteriordesndrome
hemoltico-urmico)
Clicaintensa,
dores
abdomina
is,
diarreia
(inicialmenteaquosa,
tornando-sesanguinolenta).
Menosfre
quentemente,
vmitoef
ebrebaixa
8dias
Carnebovina,cruaoumal
passada,queijoeleitecru
Esc
herichiacoli
ente
roinvasiva
12a72h
Desinteria
Doresabd
ominais,
diarreia,
vmitos,febre,calafriose
malestar
generalizado
2a9dias
Queijo
Esc
herichiacoli
ente
ropatognica
12a36h
Diarreiainfantil
Diarreiaa
quosa,
desidrata
oedesequilbrio
electroltic
o
Leite,carneefrangoscrus
Esc
herichiacoli
ente
rotoxignica
12a36h
Gastroenterite.
Diarreia.
Saladasevegetaiscrus
Vibr
ioparahaemolyticus
2ha4dias
Gastroenterite
Diarreiap
rofusa,
dores
abdominais,nuseas,vmitos,
dordecab
ea,
febreecalafrios
Pescadocruoumariscos
contaminados
2diasemeio
Doenas associadas a alimentos
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Bactrias
Perodode
incubao
S
intomas
Duraodos
sintomas
Alimentos
associados
Doena
causada
Listeriamonocytogenes
3a70dias
Septicemia,meningite,
meningo-e
ncefalite,encefalite,
infecointra-uterinaou
cervicale
mg
estantes.
Os
primeiros
sintomasso
semelhantesaosdeumagripe
incluindo
febrepersistente.
Ema
lgun
scasos,nuseas,
vmitose
diarreia
Listeriose
Leite,queijos(principalmente
pastamole),gelados,vegetais,
frangocruecozido,carnescruas,
enchidos,pescadocruefumado
2diasemeio
Clos
tridiumb
otulinum
18a36h
Fadigaex
trema,
fraqueza,
tonturas,visodupla,
dificuldad
eprogressivaem
falareengolir,bocaseca,
perdade
conscincia,
paragem
respiratriae
cardaca
Botulismo
Ema
limentosenlatadose
embaladosemv
cuo,etc.
Milhoenlatado,pimenta,
feijo
verde,sopas,
beterraba,
espargos,cogumelos,azeitonas,
atum,
frango,
fgadodegalinha,
carnesfrias,presunto,
lagosta,
pescadosalgadoefumado
Bacilluscereus
Nuseas
evmitos
Diarreiap
rofusa,
dores
abdomina
isenuseas
Formaemtica
Formadiarreica
Alimentoscoma
mido(e.g.arroz,
batatas,
legumes,
feijo,
legumes
cozidos,purdebatata),arroze
massas
Carne,vegetais,pescadoesopas
15min.a5h
10a22h
24a48h
Clos
tridiump
erfringens
8a24h
Nuseas,
doresabdominais,
diarreiae
vmitoema
lguns
casos
Intoxicaoalimentar
Produtoscrnicos
24h
Doenas associadas a alimentos
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Fonte:(BaptistaeVenncio,2003;Adelbergetal.,1998)
Bactrias
Perodode
incubao
S
intomas
Duraodos
sintomas
Alimentos
associados
Doena
causada
Staphylococcusaureus
2a4h
Nuseas,vmitos,
dores
abdomina
is,prostraoe,em
algunsca
sos,
diarreia
Doresde
cabea,cibras,
alteraestemporriasda
pressoa
rterialedapulsao
(casosmaisgraves)
Intoxicao
estafiloccica
Carnesederivados,aves,ovos,
atum,saladas,
boloscomr
echeio,
natas,
leiteederivados
Doenas associadas a alimentos
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A Tabela 1.10 enumera os parasitas que mais frequentemente contaminam o homem, caracteriza os principais
sintomas associados s doenas causadas por estes e identifica os principais portadores e os alimentos em que
estes so normalmente encontrados.
Tabela 1.10 Identificao e caracterizao de parasitas que mais frequentemente contaminam o homem, sintomas,
portadores e alimentos associados
1.3.2. Caractersticas das principais doenas causadas por parasitas
Doenas associadas a alimentos
Parasitas Portadores SintomasAlimentos
associadosDoenacausada
Trichinella spiralis Sunos Sintomas gastro-intestinais,febre, dores musculares,fraqueza geral
Triquinose Carne de sunos
Toxoplasma gondii Gatos Fadiga, cefaleia, doresmusculares e dearticulaes.
Menos frequentementecausam febre e afectam aviso.
Na transmissotransplacentria podeconduzir a aborto ou mformao do feto.
Toxoplasmose Carne de sunos ouovinos ou de outrosanimais infectados,crua ou mal passada
Cryptosporidium parvum Diarreia aquosa
Tosse persistente, febrebaixa persistente, dorintestinal
Criptosporidiose Qualquer alimentotocado por ummanipuladorcontaminado, vegetaisem saladas
Bovinos,caprinos eovinos
Giardia lamblia Ces, gatos,castores,ursos
DiarreiaGiardose gua
Ascaris lumbricoides Complicaes em diversaspartes do corpo. Febre
Ascaridiose. Atravs das mos,objectos, alimentos
Diphyllobothrium spp. Distenso abdominal,flatulncia, clica abdominalintermitente e diarreia
Ursos ehomens
Pescado cru ou malcozido
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Doenas associadas a alimentos
Fonte: (Baptista e Venncio, 2003; Adelberg et al, 1998; Ferreira e Sousa, 2002)
Parasitas Portadores SintomasAlimentos
associadosDoenacausada
Entamoeba histolytica Homem eoutros primatas
Ausncia de sintomas; levedesconforto gastrointestinal;disenteria (com sangue emuco)
Dor, ulceraes e abcessose, raramente, obstruointestinal
Amebiose(disenteriaamebiana)
Contaminao fecal degua e alimentos,contacto directo commos e objectos sujose por contacto sexual
Taenia saginata Sintomas abdominaisleves, apendicite oucolangite
Teniase Carne crua oumal passada
Bovinos,homem
Taenia solium Passagem (passiva) deprogltides. Cisticercose
Cisticercose cerebral exibeas formas convulsiva,hipertensa oupseudotumoral e psquica
Carne crua oumal passada
Homem,macacos,sunos, hamster
FasciolaseFasciola heptica Dor abdominal,hepatomegalia, febre,vmito, diarreia, uticria eeosinofilia (fase aguda)
Sintomas mais discretos,obstruo biliar intermitentee inflamao (fase crnica)
Plantas de gua doce,principalmente o agrio
Vegetaoaqutica eoutra
A Tabela 1.11 enumera os vrus que mais frequentemente contaminam o homem, caracteriza os principais sintomas
associados, as doenas causadas por estes, identifica os principais portadores e os alimentos em que estes so
normalmente encontrados.
1.3.3. Caractersticas das principais doenas causadas por vrus
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Tabela 1.11 Principais caractersticas dos vrus associados gastroenterite aguda em humanos
Doenas associadas a alimentos
Fonte: (Adelberg, et al, 1998; Ferreira e Sousa, 2002)
Vrus Perodo deincubao
Transmisso Alimentosassociados
Epidemiologia
Rotavrus 1 a 3 dias Fecal-oralCausa de epidemias de doenadiarreica em lactentes, crianas eadultos
Saladas, frutase entradas
Vrus (tipo)Norwalk
16 a 48h Fecal-oralImportante causa de surtos dedoena com vmitos e diarreia em
crianas maiores e adultos, emfamlias, comunidades einstituies, normalmenteassociados ingesto dealimentos. Actualmente, nosEstados Unidos, acredita-se queestes microrganismos sejam osresponsveis pelo maior nmerode infeces intestinais
Mariscos e ingredientesde saladas
Vrus da Hepatite A 10 a 50 dias Fecal-oral comum a observao de surtosde hepatite A em aglomeradospopulacionais (e.g.
estabelecimentos militares,prisionais, creches). A doenaclnica manifesta-se, maisfrequentemente, em crianas eadultos jovens
Pescado, marisco,vegetais, saladas, guas,carnes fatiadas frias,
frutos e sumos de fruta,leite e derivados esandes
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HigieneeSeguranaA
limentarnaRestaurao-VOL.II
Conservao de alimentos na restaurao2)2.1. Introduo
2.2. Medidas de controlo de carcter geral na conservao de alimentos2.3. Os alimentos e a sua conservao
2.4. Processos de conservao de alimentos a baixas temperaturas
2.4.1. Conservao de alimentos refrigerados
2.4.2. Conservao de alimentos congelados
2.5. Conservao de alimentos temperatura ambiente
2.6. Conservao de alimentos em vcuo
Objectivos do Captulo
: Apresentar e discutir as medidas de controlo de carcter geral relevantes para a conservao de alimentos,nomeadamente ao nvel do controlo de matrias, das actividades de higienizao, da higiene pessoal, do controlode qualidade da gua, do controlo de pragas e da eliminao de resduos.
: Descrever e classificar os alimentos quanto sua susceptibilidade a alteraes decorrentes da aco microbiana.
: Apresentar e discutir os principais aspectos a ter em considerao na conservao de alimentos refrigerados.
: Apresentar e discutir os principais aspectos a ter em considerao na conservao de alimentos congelados.
: Apresentar e discutir os principais aspectos a ter em considerao na conservao de alimentos, temperatura
ambiente.
: Referenciar a utilizao da tcnica de embalamento em vcuo para a conservao de alimentos na restaurao.
27
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Conservao de alimentos na restaurao
2.2. Medidas de controlo de carcter geral naconservao de alimentosNa restaurao, semelhana de qualquer outro sector de actividade que envolva actividades relacionadas com
gneros alimentcios enumeradas no Decreto-Lei n 67/98, o sucesso dos diferentes processos de conservao
de alimentos depende da aplicao de uma srie de medidas de controlo das boas prticas das quais se destacam
a aquisio de matrias-primas, a higienizao das instalaes, dos equipamentos e dos utenslios, a higiene
pessoal, o controlo de pragas, a eliminao de resduos e o controlo de qualidade da gua. Estes constituem alguns
dos vulgarmente designados pr-requisitos de segurana alimentar.
2.1. IntroduoO modo de conservao dos alimentos fundamental na cadeia alimentar. As matrias-primas, os ingredientes,
os produtos intermdios e acabados susceptveis de permitir o crescimento de microrganismos patognicos ou a
formao de toxinas devem ser conservados a temperaturas de que no possam resultar riscos para a sade.
Desde que a segurana dos alimentos no seja afectada, so permitidos perodos limitados sem controlo de
temperatura sempre que for necessrio para permitir as operaes de preparao, transporte, armazenagem,
conservao e colocao venda ou disposio do pblico consumidor. Quando se destinarem a ser conservados
ou servidos frios, os gneros alimentcios devem ser arrefecidos o mais rapidamente possvel aps a fase final de
processamento pelo calor, ou aps a fase final de preparao, se este tipo de processamento no for utilizado,
at uma temperatura de que no resultem riscos para a sade (Decreto-Lei n 67/98, Artigo 22 Modo deconservao).
Os alimentos que forem manipulados, armazenados, embalados, transportados e expostos devem ser protegidos
de qualquer contaminao que os torne imprprios para o consumo humano ou perigosos para a sade e de
condies que impeam o seu consumo. Assim, estes devem ser protegidos de forma a reduzir ao mnimo qualquer
risco de contaminao, e devem tambm ser instalados processos adequados para controlo de pragas (e.g.
roedores, baratas).
Matrias-primasA recepo das matrias-primas reveste-se de enorme importncia pois a primeira oportunidade para separar
as matrias-primas conformes das no-conformes, sendo possvel evitar, logo entrada, que os produtos de m
qualidade sejam armazenados para conservao e posterior utilizao. A cuidada seleco e avaliao de
fornecedores, representa uma garantia adicional da qualidade dos produtos comprados que permitir reduzir a
probabilidade de ocorrncia de problemas com origem nas matrias-primas.
http://vol_1.pdf/http://vol_1.pdf/ -
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29
Na recepo deve-se proceder verificao das condies de higiene do veculo de transporte, dos requisitos da
embalagem (estado da embalagem, cdigos, rotulagem e prazos de validade), da temperatura de transporte (do
produto e do veculo), dos limites mximos permitidos de contaminantes fsicos, etc., rejeitando ou segregando
qualquer material danificado, inadequado ou contaminado. As empresas do sector da restaurao no devem
aceitar matrias-primas cujo grau de contaminao por parasitas, microrganismos patognicos ou substncias
txicas, substncias em decomposio ou corpos estranhos se saiba ou se possa razoavelmente suspeitar ser tal
que, aps processos normais de conservao, preparao ou transformao, higienicamente aplicados pelas
empresas do sector da restaurao, continuem a ser imprprios para o consumo humano.
As matrias-primas e ingredientes armazenados no estabelecimento devem ser conservados em condies
adequadas que evitem a sua deteriorao e os protejam de contaminao, (Decreto-Lei n 67/98).
Higienizao das instalaes, dos equipamentos e dos utenslios
As instalaes, os equipamentos e os utenslios devem ser higienizados com frequncia e utilizando os meios de
limpeza e desinfeco que permitam assegurar a conservao, preparao e confeco em condies adequadas
de higiene. Dever existir um plano de higienizao detalhando a frequncia de realizao das actividades de
limpeza e desinfeco. Dever tambm estar descrito quais os produtos, em que concentraes e de que modo
so realizadas estas actividades para cada um dos equipamentos (Baptista, P., 2003).
Higiene pessoal
Dever existir um cdigo de boas prticas que contemple os aspectos relevantes relativo higiene pessoal, que
seja conhecido e cumprido por todos os operadores. Mesmo que as matrias-primas e alimentos, sejam recebidosem ptimas condies de qualidade, se numa das fases posteriores da cadeia, for praticada alguma m prtica
de higiene pessoal, que origine a sua contaminao, poder colocar em risco a sade do consumidor, aquando o
seu consumo.
As empresas devero disponibilizar o equipamento pessoal adequado (e.g. vesturio, calado) para as tarefas a
desempenhar por cada operador no sentido de assegurar que estas so realizadas em adequadas condies
higinicas (Baptista, P. e Saraiva, J., 2003).
gua
A gua utilizada na preparao e confeco dos alimentos, na realizao das actividades de higienizao dasinstalaes, dos equipamentos e dos utenslios e nas actividades de higiene pessoal deve possuir caractersticas
de gua para consumo humano (potvel), as quais se encontram estabelecidas no Decreto-Lei n 243/2001.
tambm neste decreto-lei que se encontra estabelecida a frequncia para a realizao de anlises de controlo de
qualidade da gua.
Conservao de alimentos na restaurao
http://vol_1.pdf/http://vol_1.pdf/http://vol_1.pdf/http://vol_1.pdf/ -
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30
Controlo de pragas e eliminao de resduosOs estabelecimentos de restaurao devem estabelecer e implementar um plano de controlo de pragas capaz de
prevenir o aparecimento de pragas nas suas instalaes. Os produtos utilizados devero estar autorizados, devendo
a empresa assegurar a verificao do cumprimento do plano de controlo de pragas se este for realizado por uma
entidade contratada.
Os resduos devero ser colocados em caixotes do lixo fechados, de abertura no manual, devendo ser regularmente
removidos das reas de preparao e confeco dos alimentos de forma que a sua acumulao no constitua um
factor de risco para a segurana alimentar. Estes resduos podem constituir um factor de risco, se o seu tempo de
permanncia nas reas mencionadas, potenciasse o desenvolvimento microbiolgico e/ou a atraco de pragas.
2.3. Os alimentos e a sua conservaoO armazenamento/conservao de alimentos um dos pontos mais importantes a considerar para garantir a
segurana dos mesmos, o mtodo ou processo utilizado vai depender em grande parte da natureza e caractersticas
do alimento. Independentemente do armazenamento/ conservao ser temperatura ambiente ou a uma temperatura
regulada, ou at mesmo por acondicionamento em atmosfera modificada e/ou controlada, deve-se prestar especial
ateno para que esses factores sejam adequados para cada alimento. Igualmente essencial assegurar uma
adequada rotao de stocks, de maneira a que no sejam armazenados e utilizados produtos fora do prazo de
validade, com o risco inerente que poder comportar para a sade do consumidor. Deve-se verificar periodicamentea data de validade de todos os produtos inspeccionando as etiquetas onde figurem a data de validade ou de
consumo preferencial.
De uma forma geral, na conservao de alimentos, deve ser tida em considerao a avaliao de factores ambientais
que vo ter influncia sobre as caractersticas do alimento, podendo tambm influenciar as embalagens em que
estes se encontram armazenados. Nestes factores incluem-se:
- A temperatura;
- A humidade relativa do ar;
- As condies de circulao do ar em torno do produto;
- A possibilidade de transmisso de odores aos alimentos;
- A aco directa da luz solar.
A conservao dos alimentos e o mtodo mais adequado para essa mesma conservao depende igualmente, e
de forma significativa, de caractersticas intrnsecas ao prprio alimento, tais como:
- A gua disponvel (actividade da gua-aw);
- A acidez (pH);
- A composio qumica e a estrutura biolgica do alimento;
- Os Aditivos ou substncias anti-microbianas naturais presentes nos alimentos.
Conservao de alimentos na restaurao
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A importncia de conhecer e controlar as caractersticas do alimento e do ambiente em que este se encontra
armazenado/conservado, est relacionada com o facto dos microrganismos patognicos, dependerem, entre outros
factores, da temperatura, humidade, binmio tempo/temperatura, para se desenvolverem.
O incorrecto armazenamento/conservao dos alimentos afecta a qualidade sensorial e a segurana dos mesmos,
pois em alimentos inadequadamente armazenados, os microrganismos podero encontrar as condies necessrias
para se desenvolverem mais rapidamente e consequentemente causar problemas de sade no consumidor.
Em funo das suas caractersticas, os alimentos podem ser classificados em diferentes grupos, de acordo com
a sua resistncia aos processos de alterao, principalmente os de origem microbiana. Assim podero ser
classificados de acordo com a Figura 2.1.
Conservao de alimentos na restaurao
Classificao dos alimentos segundo a sua facilidade de alterao.
Perecveis
So difceis de conservar.Alteram-se em pouco tempo.
Semiperecveis
Devem ser submetidos atcnicas de conservao.
Estveis ouno perecveis
No so susceptiveis dealterao em condies
normais.
Conservas Semi-Conservas Congelados
Longo tempo deconservao
Mdio tempo deconservao
Figura 2.1 Classificao dos alimentos consoante a sua susceptibilidade a alteraes biolgicas
Fonte: (Rodrigues, M. H.; et al)
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Alimentos estveis ou no perecveisSo alimentos de consistncia seca, como arroz, massas, acar, farinhas, e feijo. A grande razo da capacidade
de conservao dos alimentos no perecveis, o seu baixo teor de gua. Apresentam menos dificuldades de
conservao, por perodos mais alargados. Recomenda-se no entanto o seu armazenamento em condies que
no favoream o desenvolvimento microbiano (e.g. resultante de condensaes superficiais) ou qualquer outra
forma de contaminao. Assim, devem ser armazenados em locais secos e frescos, longe de qualquer foco de
contaminao e da presena de insectos e roedores.
Alimentos semi-perecveis
Por alimentos semi-perecveis entende-se os alimentos que submetidos a um mtodo de conservao podem durarlargos perodos de tempo. Embora o seu tempo de vida seja prolongado significativamente, no significa que sejam
alimentos totalmente estveis por perodo ilimitado, devendo o prazo de validade aparecer na embalagem. Entre
estes incluem-se as conservas e as semi-conservas. Os alimentos semi-perecveis, mesmo tendo aprecivel
contedo lquido, apresentam estabilidade s alteraes, por causa da estreita ligao da gua neles contida, com
a polpa do alimento. Dada a importncia da embalagem na conservao destes produtos, qualquer anomalia na
mesma (e.g. latas) dever dar origem rejeio do produto. Entre os sinais mais evidentes de problemas ao nvel
da embalagem neste tipo de produtos destacam-se:
- Embalagens (latas) que apresentem golpes ou que estejam deformadas, oxidadas ou inchadas;
- Embalagens que ao abrir libertem odores ou apresentem alteraes visuais ou de sabor do contedo da mesma;
- Quando a lata est negra no seu interior.
As semi-conservas tm uma menor durabilidade e requerem certas normas para a sua conservao, at ao momento
de serem consumidas. Dentro deste grupo incluem-se determinados produtos que precisam de refrigerao, como
por exemplo as anchovas. Pertencem ainda ao grupo de alimentos semi-pereciveis, a beterraba, batata, cenoura,
nabo e algumas frutas maduras.
Alimentos perecveis
A sua principal caracterstica o facto de se deteriorarem facilmente. Pertencem a este grupo, o leite, as carnes
frescas, o pescado fresco, o espargo, o tomate, as frutas suculentas e relativamente moles (e.g. pssego). Neste
grupo esto muitos dos alimentos de maior consumo, utilizados diariamente na alimentao da generalidade dos
consumidores.
A sua deteriorao pode ter incio no acto da sua aquisio, ou mesmo antes, no prescindindo estes produtos
de serem conservados a baixas temperaturas. A facilidade com que se deterioram deve-se, em grande parte, ao
seu alto teor de gua e inexistncia de quaisquer outros factores intrnsecos a estes alimentos que sejam inibidores
do crescimento microbiano.
Conservao de alimentos na restaurao
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Conservao de alimentos na restaurao
medida que a temperatura desce, diminui a actividade dos microrganismos (e.g. bactrias), sendo que abaixo
dos 4C a maioria dos microrganismos deixam de se multiplicar ou crescem muito lentamente, apesar de no
morrerem. Mesmo abaixo dos 0C os microrganismos permanecem viveis durante muito tempo. Deste modo, os
alimentos que favorecem o crescimento bacteriano devem ser armazenados a baixas temperaturas, para assim
prolongar a sua vida til e assegurar a sua salubridade. Os processos de conservao a baixas temperaturas, mais
utilizados na restaurao, so o armazenamento em cmaras frigorficas, e em cmaras de conservao de
congelados.
Na conservao a baixas temperaturas, quer seja a temperatura de refrigerao quer seja a temperatura de
congelao, existe um conjunto comum de regras gerais que devem ser cumpridas:
- Posicionar as cmaras frigorificas ou de conservao de congelados em locais bem ventilados, de fcil acesso,
afastadas de fontes de calor (e.g. foges) e nunca em locais onde incida directamente a luz solar;
- Controlar e registar a temperatura das cmaras frigorficas ou de conservao de congelados pelo menos duas
vezes por dia, utilizando um termmetro calibrado que garanta que a leitura da temperatura das cmaras a
correcta;
- No interromper a cadeia de frio, mantendo os alimentos refrigerados e congelados sempre mesma temperatura,
assegurando o seu armazenamento, imediatamente aps a recepo, nas respectivas cmaras;
- Manter as portas das cmaras abertas o mnimo tempo possvel, verificando regularmente se as borrachas esto
em bom estado e se vedam eficientemente;
- No encher excessivamente as cmaras frigorificas ou de conservao de congelados de modo a permitir uma
adequada circulao do ar frio entre os alimentos. Assegurar que no ocorre contacto dos produtos com as paredes
das cmaras;
- Acondicionar adequadamente tapados (e.g. em embalagens com tampa ou cobertos com pelcula aderente) e
identificados os alimentos refrigerados e congelados de modo a reduzir o risco de contaminao cruzada e facilitar
a rotao dos produtos. Caso os alimentos estejam acondicionados em embalagens de materiais absorventes,
como por exemplo carto, estas devem ser previamente removidas;
- No armazenar os alimentos nas cmaras frigorficas ou de conservao de congelados dentro de latas, ou sacosopacos, devendo ser colocados no interior de sacos de plstico transparente, prprios para alimentos;
- No utilizar estrados de madeira em qualquer das cmaras;
- Verificar as validades ou etiquetar com a data de preparao ou validade todos os alimentos antes de serem
armazenados nas cmaras frigorficas ou de conservao de congelados. Assegurar a rotao dos stocks para
garantir que os alimentos mais antigos so os primeiros a ser consumidos, isto dentro do prazo de validade;
- Em caso de avaria do sistema de frio, evitar ao mximo a abertura das cmaras frigorficas ou de conservao
de congelados enquanto a avaria no for reparada. Caso ocorra a descongelao dos alimentos ou no seja
possvel reparar a avaria em tempo til ou transferir os produtos para outras cmaras, estes devem ser cozinhados
e consumidos;
2.4. Processos de conservao de alimentos abaixas temperaturas
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- Estabelecer e cumprir escrupulosamente os planos de higienizao estabelecidos, adequados s cmaras
frigorficas e s cmaras de conservao de congelados, sendo a frequncia das operaes de higienizao mais
elevada para as cmaras de refrigerao. Caso ocorram derrames, estes devem ser imediatamente limpos. Aps
a higienizao as cmaras devem ser eficazmente secas.
Tabela 2.1 Temperaturas de refrigerao recomendadas para diferentes categorias de produtos.
A refrigerao um processo de conservao de alimentos largamente utilizado ao nvel da restaurao. A eficcia
da refrigerao, deve-se basicamente reduo da actividade dos microrganismos presentes no alimento, que
conduz ao retardamento da degradao dos componentes dos alimentos e consequente aumento do tempo de
vida dos produtos. O tempo de vida depende da natureza do prprio alimento, mas depende tambm da contaminaoinicial que estes apresentem. Quanto menor a contaminao inicial no produto maior ser o seu tempo de vida em
idnticas condies de conservao.
A maioria dos alimentos, que necessitem de refrigerao, deve ser conservada preferencialmente a temperaturas
entre 1 e 4 C. No caso de existir mais do que uma cmara de refrigerao possvel ajustar as temperaturas de
refrigerao por categorias de produto, conforme sistematizado para os exemplos apresentados na Tabela 2.1.
2.4.1. Conservao de alimentos refrigerados
Peixe cru
Carne e produtos crnicos crus
Carne e peixe cozinhado
Frutas e verduras
Ovos
Produtos lcteos (leite, queijo, manteiga)
Presunto fatiado
1-4
1-7
1-4
7-10
3-4
1-8
1-5
AlimentoTemperatura
recomendada (C)
Conservao de alimentos na restaurao
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Para se assegurar uma adequada conservao dos alimentos refrigerados, para alm das regras gerais anteriormente
descritas deve ser observado um outro conjunto de regras especficas para este tipo de produtos:
- Nunca introduzir alimentos quentes na cmara frigorfica, pois conduzem ao aumento da temperatura interna do
frigorfico, ocorrendo a formao de condensao, que favorece a ocorrncia de contaminaes cruzadas e o
crescimento de bactrias e de bolores;
- Assegurar, preferencialmente, a existncia de pelo menos duas cmaras frigorficas, para os diferentes tipos de
produtos: uma para alimentos crus (e.g. peixe e carne) e outra para alimentos j cozinhados ou semi-preparados.
Caso exista apenas uma cmara frigorfica, os alimentos devem ser colocados pela seguinte ordem: os alimentos
cozinhados na prateleira superior; as carnes e os peixes crus nas prateleiras intermdias; os vegetais nas prateleiras
inferiores ou, caso existam, nas gavetas apropriadas e os produtos em fase de descongelao na parte inferior.
Cumprindo estas regras evita-se que sangue, lquidos de descongelao e partculas de terra caam sobre comida
pronta a ser consumida;
- Assegurar que os alimentos crus no entrem em contacto com os alimentos confeccionados;
- Ter em considerao as incompatibilidades existentes entre frutos e hortcolas que se encontrem na mesma
cmara de refrigerao, que possam pr em causa a sua conservao em boas condies;
- Nunca armazenar alimentos enlatados cuja embalagem j foi aberta, no interior das latas, em especial os alimentos
cidos, tal como, tomate, sumos ou frutas, dado que pode ocorrer contaminao qumica por migrao de
componentes da embalagem. Estes alimentos devem ser transferidos para embalagens de plstico, afixando nas
mesmas a data de validade do produto.
- Assegurar o arrefecimento rpido dos alimentos, devendo estes passar dos 70 aos 10C no mximo em 2 horas,
para evitar que a carga microbiana destes aumente demasiado.
O processo de conservao de alimentos congelados, consiste no seu armazenamento a temperaturas inferiores
a 0C, para que a gua presente nos alimentos se transforme em gelo, deixando de estar disponvel para o
desenvolvimento dos microrganismos.
A temperatura de eleio para a conservao de alimentos congelados de -18C, visto que a esta temperatura
ou a temperaturas inferiores o desenvolvimento das bactrias no ocorre. importante referir que, depois darefrigerao, a congelao dos processos que menos provoca alteraes nos alimentos.
Dependendo das caractersticas dos alimentos, o seu tempo de vida em congelao ser diferente. Em princpio
quanto maior for a qualidade inicial do alimento maior ser o seu tempo de vida comercial, conservado em
congelao.
O tempo de vida comercial, dos alimentos congelados, geralmente recomendado pelo produtor e vem indicado
na embalagem. Caso essas indicaes no estejam disponveis, podem ser seguidos os tempos recomendados
na Tabela 2.2.
2.4.2. Conservao de alimentos congelados
Conservao de alimentos na restaurao
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Tabela 2.2 Tempos de conservao recomendados para alimentos congelados a -18C.
Para se assegurar uma adequada conservao de alimentos congelados, para alm das regras gerais quer para
alimentos refrigerados quer para alimentos congelados anteriormente descritas, deve ser observado um outro
conjunto de regras especficas para este tipo de produtos:
- Assegurar que os alimentos congelados, armazenados em cmaras de congelados se encontrem a temperaturas
iguais ou inferiores a -18C;
- Descongelar com regularidade as cmaras, automaticamente ou seguindo as instrues do fabricante, de modo
a prevenir a formao de gelo no interior e consequente ineficincia no funcionamento da cmara que, no limite,poder pr em causa a qualidade e a segurana dos produtos a armazenados;
- Acondicionar os alimentos conservados em congelao em embalagens prprias de modo a prevenir a ocorrncia
de alteraes no produto, tais como a queimadura de congelao, que seca a superfcie do alimento formando
uma crosta esbranquiada, com consequente perda de nutrientes e diminuio da qualidade dos alimentos;
- Evitar a ocorrncia de flutuaes de temperatura, de modo a minimizar a formao de cristais de gelo no interior
das embalagens, que vo potenciar a degradao dos alimentos;
- Nunca voltar a congelar um alimento aps ter sido descongelado;
- Consumir ou cozinhar o mais rapidamente possvel os alimentos aps a sua descongelao de modo a minimizar
o desenvolvimento microbiolgico no alimento;
- Efectuar o processo de descongelao dos alimentos no frigorfico durante a noite ou entre perodos de preparao/
confeco de alimentos. Caso no seja possvel, procurar utilizar o microondas. Caso a descongelao seja
efectuada no microondas, dever retirar a embalagem ou pelcula que protege o produto, de modo a prevenir a
ocorrerncia de migrao de substncias qumicas presentes nas pelculas para o produto.
Marisco
Peixes gordos
Po e bolos
Peixes magros
Frango e aves de caa
Carnes de vaca
Hortalias
3
3
3
6
10
12
12
AlimentosTempo de vida
(meses)
Fonte: (Monteiro,V.; 1999)
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Conservao de alimentos na restaurao
2.5. Conservao de alimentos temperaturaambienteOs alimentos conservados desta forma so na sua maioria alimentos no perecveis. Para se assegurar umaadequada conservao de alimentos no perecveis temperatura ambiente deve ser observado um conjunto deregras especficas para este tipo de produtos:
- Agrupar por famlias os produtos conservados nestas condies, de modo a facilitar o acesso aos mesmos e evitara possibilidade de ocorrerem contaminaes cruzadas;
- Nunca colocar os produtos em contacto directo com o pavimento e estar de preferncia afastados da parede;
- Higienizar com a frequncia necessria a rea onde os alimentos se encontram armazenados/conservados porforma a garantir condies adequadas que previnam o desenvolvimento microbiano e a existncia de poeiras eoutras sujidades;
- Assegurar sempre uma adequada rotao de stocks, de forma que os produtos mais antigos, presentes noarmazm sejam os primeiros a ser utilizados. Para tal deve-se assegurar que todos os produtos possuem etiquetasindicando as respectivas datas de validade e sempre que possvel as datas de entrada no armazm;
- Manter as reas frescas, secas e bem ventiladas. Controlar a temperatura e a humidade regularmente;
- Implementar um adequado plano de controlo de pragas, e assegurar escrupulosamente o seu cumprimento;
- Garantir a integridade das embalagens destes produtos de forma a garantir a segurana dos mesmos (e.g. osalimentos enlatados apresentam um baixo risco de deteriorao durante o perodo de armazenamento/conservaose as embalagens que se apresentarem opadas, amolgadas, ferrugentas ou de outra forma danificadas);
- Utilizar estes armazns para armazenamento exclusivo de produtos alimentares. proibido o armazenamentode outros produtos no alimentares como por exemplo os produtos qumicos de higienizao;
- Caso sejam detectados produtos imprprios para consumo, ou se disso se suspeitar, proceder de imediato suaidentificao (e.g. atravs de etiquetas) e assegurar a eliminao destes produtos.
Entre as novas tendncias observadas nos estabelecimentos de restaurao, destaca-se o uso crescente doembalamento em vcuo, embora ainda tenha uma expresso muito limitada. Na realidade, dada a dimenso mdiados estabelecimentos de restaurao e a gastronomia tradicional seguida na maioria dos restaurantes de pequenae mdia dimenso, a entrada de novas tecnologias e sistemas de cozinhas, encontram barreiras sua penetrao(Baptista e Linhares, 2004).
Os principais usos do embalamento em vcuo no sector da restaurao so:
- A compra de matrias-primas embaladas, a vcuo como carnes e produtos crnicos;
- O embalamento de matrias-primas frescas para o seu armazenamento. Assim consegue-se que os produtos,armazenados em refrigerao ou em congelao, mantenham durante mais tempo as suas qualidades. Protegeigualmente os produtos congelados de efeitos adversos como a queimadura por frio.
- O embalamento de produtos elaborados ou semi-elaborados, sendo possvel manter um maior stock de pratoslistados para servir aps uma regenerao, nos casos em que esta seja necessria.
2.6. Conservao de alimentos em vcuo
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Anlise de perigos (HACCP)
Objectivos do Captulo
: Apresentar o conceito e os princpios do Sistema HACCP.
: Apresentar a metodologia geral de implementao de um Sistema HACCP, descrevendo detalhadamente ospassos inerentes a este processo.
: Ilustrar a metodologia de implementao de um Sistema HACCP no sector da restaurao apontando os principaiselementos a ter em considerao em cada um dos passos da implementao.
: Disponibilizar informao que permita sustentar a compreenso da metodologia do HACCP e facilitar a suaimplementao numa empresa, em particular nos passos relativos anlise de perigos, determinao de pontoscrticos de controlo, ao estabelecimento de limites crticos e ao estabelecimento do sistema de monitorizao.
: Apresentar exemplos modelos genricos de planos HACCP para facilitar a compreenso dos aspectos
relevantes relacionados com a definio de pontos crticos de controlo.
3)3.1. Introduo
3.2. A histria do Sistema HACCP3.3. Os benefcios do Sistema HACCP
3.4. A metodologia HACCP
3.4.1. Os princpios do HACCP
3.4.2. Os passos da metodologia HACCP
3.5. Medidas de suporte de segurana alimentar na restaurao
3.5.1. Controlo de matrias-primas
3.5.2. Higienizao
3.5.3. Higiene pessoal
3.5.4. Controlo de qualidade da gua
3.5.5. Controlo de pragas
3.5.6. Eliminao de resduos
3.6. Aplicao da metodologia HACCP na restaurao
3.6.1. Modelo genrico de HACCP para restaurantes
3.6.2. Modelo genrico de HACCP para cozinhas centrais
HigieneeSeguranaA
limentarnaRestaurao-VOL.II
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3.1. IntroduoTodos os intervenientes numa cadeia alimentar tm a responsabilidade de assegurar a segurana dos produtos
alimentares nas fases em que intervm, independentemente da natureza das actividades que desenvolvem. Ao
contrrio da ideia normalmente vulgarizada de que a segurana alimentar algo que deve ser assegurado apenas
pela indstria alimentar, a existncia de sistemas de segurana alimentar um requisito para todas as unidades,
industriais ou no, onde se proceda preparao, transformao, fabrico, embalamento, armazenagem, transporte,
distribuio, manuseamento e venda ou colocao disposio do consumidor de gneros alimentcios. Neste se
incluem naturalmente todos os estabelecimentos ligados ao sector da restaurao. A restaurao, do ponto de vista
higio-sanitrio um sector muito complexo, devido quantidade e variedade de alimentos que so manipulados.
semelhana de outros sectores alimentares, a aplicao de adequadas medidas prticas de higiene na manipulaode alimentos essencial. No entanto a garantia de segurana alimentar no se pode basear exclusivamente em
boas prticas. As boas prticas de higiene e as boas prticas de confeco devem estar integradas num programa
de segurana alimentar mais abrangente, baseado na Anlise de Perigos e Controlo de Pontos Crticos (HACCP).
De ter em conta a obrigatoriedade legal (segundo o Decreto-Lei n 67/98) de aplicar sistemas de segurana alimentar
(designados auto-controlo), baseados nos princpios do HACCP, em todas as empresas que preparem, fabriquem,
transformem, embalem, transportem, distribuam, manipulem ou vendam alimentos, independentemente da sua
natureza e dimenso.
O Sistema HACCP baseia-se em princpios e conceitos preventivos pretendendo-se, com uma abordagem sistemtica,
identificar pontos ou etapas onde se podem controlar os perigos e consequentemente controlar o processo de
produo atravs da aplicao de medidas que permitam assegurar a inocuidade dos alimentos.
O Sistema de Anlise de Perigos e Pontos Crticos de Controlo um sistema que comeou a ser aplicado pela
Agncia Espacial Norte Americana (NASA) nos anos 60, nos primeiros tempos do programa espacial tripulado dos
Estados Unidos. Surgiu como resultado da identificao de intoxicaes alimentares como uma das origens de
doenas que poderiam afectar os astronautas no decurso de uma misso espacial, e que poderiam comprometer
o sucesso da mesma. O sistema HACCP foi desenvolvido pela Pillsbury Company conjuntamente com os laboratrios
do exrcito norte-americano e a NASA no sentido de desenvolverem um programa para a produo de alimentosseguros para o programa espacial americano.
O Sistema HACCP foi apresentado pela primeira vez em 1971 numa conferncia sobre segurana alimentar, tendo
o primeiro documento detalhando a tcnica do Sistema HACCP sido publicado em 1973. Nos Estados Unidos, este
sistema serviu depois de base para a FDA (Food and Drugs Administration) desenvolver normas legais para a
produo de alimentos de baixa acidez, passando a ser utilizado como referncia para treino de inspectores da
FDA. Em 1985, a Academia Nacional de Cincias dos Estados Unidos, recomendou o uso do Sistema HACCP nos
programas de segurana alimentar. Em 1988, a Comisso Internacional para Especificaes Microbiolgicas em
Alimentos (ICMSF International Commission on Microbiological Specification for Foods) sugeriu a utilizao do
Sistema HACCP como a base para o controlo de qualidade, do ponto de vista higinico e microbiolgico.
3.2. A histria do sistema HACCP
Anlise de perigos (HACCP)
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A Comisso do Codex Alimentarius incorporou as Directrizes para aplicao do Sistema HACCP (ALINORM
93/13, Appendix II), na sua vigsima reunio, em Genebra, na Sua, de 28 de Junho a 7 de Julho de 1993. No
mesmo ano a Unio Europeia procedeu harmonizao das normas gerais aplicadas aos gneros alimentcios,
integrando os princpios do Sistema HACCP, atravs da adopo da Directiva n 93/43/CEE, do Conselho, de 14
de Junho de 1993. Esta foi transposta para a legislao Portuguesa pelo Decreto-Lei n 67/98.
A implementao do Sistema HACCP permite aumentar a confiana e a segurana do consumidor. A implementao
de um Sistema HACCP facilita o cumprimento de exigncias legais, e permite o uso mais eficiente de recursos na
resposta imediata a questes relacionadas com a inocuidade dos alimentos.
O sistema HACCP no deve ser entendido meramente como um facilitador do cumprimento de requisitos legais,
mas acima de tudo como uma ferramenta de gesto de segurana alimentar disposio das empresas e que
possui um conjunto de benefcios associados. Entre estes benefcios possvel destacar:
- O aumento da segurana do consumidor, decorrentes da abordagem sistemtica de identificao e anlise de
perigos que conduz minimizao da probabilidade de ocorrncia de situaes que possam pr em causa a
segurana do consumidor, aquando do consumo de produtos que so elaborados pelo estabelecimento;
- O reforo da qualidade, na medida em que na restaurao como na rea alimentar em geral no se pode dissociar
qualidade dos aspectos higio-sanitrios e de segurana alimentar associados aos produtos;
- A reduo de custos operacionais, diminuindo a necessidade de destruio ou o reprocessamento, por razesde segurana, do produto final;
- O reforo da imagem do estabelecimento junto dos clientes, na medida que esta metodologia transmite uma maior
confiana ao consumidor relativamente segurana alimentar dos produtos postos sua disposio;
- O proporcionar uma evidncia documentada do controlo dos processos no que se refere a segurana, permitindo
demonstrar o cumprimento das especificaes, cdigos de prticas e/ou legislao e ao mesmo tempo facilitar o
seguimento e rastreabilidade no caso de ocorrncia de um surto de intoxicao alimentar.
3.3. Os benefcios do sistema HACCP
3.4. A metodologia do HACCPA implementao prtica de um Sistema HACCP segue normalmente uma metodologia que se baseia nos 7
princpios fundamentais:
3.4.1. Os princpios do HACCP
Princpio 1 - Anlise de perigos
A realizao de uma anlise de perigos pressupe a identificao dos potenciais perigos associados a todas as
fases do processo, desde as matrias-primas at ao consumidor final. Inerente a esta anlise de perigos est a
avaliao da probabilidade de ocorrncia e da severidade do perigo identificado, bem como a anlise de eventuais
medidas preventivas estabelecidas para o seu controlo, no sentido de determinar a significncia dos mesmos.
Anlise de perigos (HACCP)
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Princpio 2 - Determinao dos pontos crticos de controlo (PCC)Baseia-se na determinao dos pontos crticos de controlo (PCC) que podem ser controlados para eliminar o perigo
ou minimizar a probabilidade da sua ocorrncia. Como ponto crtico de controlo entende-se um ponto, procedimento,
operao ou etapa no qual o controlo deve ser aplicado, sendo essencial para prevenir, reduzir a nveis aceitveis
ou eliminar um perigo relacionado com a inocuidade dos alimentos.
Princpio 3 - Estabelecimento de limites crticos
Consiste no estabelecimento dos limites crticos que devem ser assegurados de forma a garantir que cada PCC
se encontra controlado. Como limite crtico entende-se o valor ou critrio que diferencia a aceitao da no aceitao
do processo.
Princpio 4 - Estabelecimento de um sistema de monitorizao
Consiste no estabelecimento de um sistema de monitorizao para assegurar o controlo sistemtico dos PCC.
Como sistema de monitorizao entende-se a observao ou medio dos parmetros de controlo para avaliar
se um ponto crtico de controlo est dentro dos valores aceitveis.
Princpio 5 - Estabelecimento de aces correctivas
Pressupe o estabelecimento de aces correctivas a serem tomadas quando a monitorizao indicar que um
determinado PCC no est sob controlo. Como perda de controlo entende-se um desvio do limite crtico de controlo
de um PCC.
Princpio 6 - Estabelecimento de procedimentos de verificao
Fundamenta-se no estabelecimento dos procedimentos de verificao para confirmar a eficcia do Sistema HACCP.
Por verificao entende-se a aplicao de mtodos, procedimentos, testes e outras avaliaes que permitam
confirmar o cumprimento do Plano HACCP e a eficcia do Sistema HACCP.
Princpio 7 - Estabelecimento de documentao e registos
Assenta no estabelecimento da documentao sobre todos os procedimentos e dos registos apropriados a estes
princpios e sua aplicao. Os registos constituem a evidncia da realizao de actividades associadas
operacionalidade do Sistema HACCP.
Anlise de perigos (HACCP)
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Para uma adequada implementao do Sistema HACCP, muito importante compreender e interpretar adequadamente
o significado exacto destes princpios. Na realidade, existem 7 passos da metodologia de implementao do Sistema
HACCP que esto directamente relacionados com os 7 Princpios do HACCP. A esses, so adicionados 5 passos
preliminares que correspondem estruturao da equipa que vai desenvolver o estudo e planeamento do HACCP
e compilao de informao de suporte relevante para a realizao da anlise de perigos:
- Passo 1 - Constituio da Equipa HACCP;
- Passo 2 - Descrio do produto;
- Passo 3 - Identificao do uso pretendido;
- Passo 4 - Construo do fluxograma;
- Passo 5 - Confirmao do fluxograma no terreno;
- Passo 6 - Identificao e anlise de perigos, anlise e identificao de medidas preventivas para controlo dos
perigos identificados (princpio 1);
- Passo 7 - Determinao dos pontos crticos de controlo (princpio 2);
- Passo 8 - Estabelecimento dos limites crticos de controlo para cada PCC (princpio 3);
- Passo 9 - Estabelecimento do sistema de monitorizao para cada PCC (princpio 4);
- Passo 10 - Estabelecimento de aces correctivas (princpio 5);
- Passo 11 - Estabelecimento de procedimentos de verificao (princpio 6);
- Passo 12 - Estabelecimento de controlo de documentos e dados (princpio 7).
3.4.2. Os passos da metodologia HACCP
A Figura 3.1 apresenta a sequncia e a interaco dos passos da metodologia HACCP, e a identificao dos
Princpios do HACCP associados.
Anlise de perigos (HACCP)
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8/4/2019 Manual restaurao haccp
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Figura 3.1 A sequncia e a interaco dos passos da metodologia HACCP.
Fonte: (Baptista et al., 2003).
Passo 1 A Equipa HACCP
A realizao do estudo e planeamento do HACCP deve ser executado por uma equipa multi-disciplinar a Equipa
HACCP - que dever incluir pessoas com responsabilidades em diversas reas (aprovisionamentos, armazenamento,
preparao e confeco) seleccionadas tendo por base critrios como as suas responsabilidades,