litostratigrafia das séries de meio marinho interno do jurássico

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Comunicações Geológicas, 2008, t. 95, pp. 27-49 Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico Médio da região de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal) Lithostratigraphy of the Middle Jurassic shallow-water limestone units from the region of Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal) J. M. MARTINS 1 Palavras-chave: Litostratigrafia, calcários, meio marinho interno, Jurássico Médio, Condeixa-Sicó-Alvaiázere, Portugal. Resumo: Apresentam-se formalmente as unidades litostratigráficas do Jurássico Médio, traduzidas maioritariamente por calcários de pequena profundidade, de meio marinho interno, depositadas em ambiente de rampa carbonatada (dominantemente em rampa interna), para as regiões de Condeixa-a-Nova, Sicó (Pombal) e Alvaiázere. Justificam-se as unidades através de uma definição estratigráfica e de uma caracterização sedimentar de acordo com os Guias Internacionais de Nomenclatura Estratigráfica. São consideradas as seguintes unidades: Formação de Degracias (Bajociano inferior a superior), Formação de Sra. da Estrela (Bajociano superior-Batoniano inferior), Formação de Sicó (Batoniano inferior-Caloviano (?)) e Formação de Vale de Couda (Bajociano superior-Batoniano inferior). Considera-se também a subunidade Membro de Corte (Batoniano inferior), intercalada no seio da Formação de Sicó. Keywords: Lithostratigraphy, shallow-water limestones, Middle Jurassic, Condeixa-Sicó-Alvaiázere, Portugal. Abstrac: Formal lithostratigraphic units for the Middle Jurassic predominantly shallow-water limestones from the Condeixa-a-Nova, Sicó (Pombal) and Alvaiázere regions are presented. These limestones were formed in a carbonate ramp depositional system (mostly inner ramp). The units are justified by a stratigraphic definition and a sedimentary characterization according to the International Stratigraphic Guide. The following units are considered: Formação de Degracias (Lower-Upper Bajocian), Formação de Sra. da Estrela (Upper Bajocian-Lower Bathonian), Formação de Sicó (Lower Bathonian-Callovian (?)) and Formação de Vale de Couda (Upper Bajocian-Lower Bathonian). It is also considered the subunit Membro de Corte (Lower Bathonian), within the Formação de Sicó. 1. INTRODUÇÃO (a sudeste de Sicó), aqui designados no conjunto por Maciços de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (M.C.S.A.). Na região entre Condeixa-a-Nova e a Serra de Sicó, e É sobre estas séries carbonatadas que incidiu o estudo um pouco mais a Sul-Sudeste, na região de Alvaiázere aqui apresentado, o qual tem como objectivo a proposta (Fig. 1), afloram séries carbonatadas do Jurássico Médio. formal das unidades litostratigráficas individualizadas na Estes calcários traduzem, predominantemente, uma de- região e a sua breve comparação com as séries da mesma posição em meio marinho interno, similarmente às séries idade e características que afloram a sul, noutros sectores carbonatadas da mesma idade que existem a sul, nomea- da Bacia Lusitânica. damente no Maciço Calcário Estremenho (M.C.E.) – estas últimas interpretadas como tendo sido formadas num sistema deposicional de rampa carbonatada (AZERÊDO, 1.1. Principais trabalhos anteriores 1988a, 1993, 1998; WATKINSON, 1989). Na região a norte do M.C.E., estas séries definem pequenos maciços, desde Segundo RUGET -PERROT (1961), os primeiros trabalhos a Serra do Circo (a Norte de Sicó), à Serra de Alvaiázere geológicos envolvendo a região estudada terão sido ini- 1 Divisão para a Pesquisa e Exploração de Petróleo da Direcção-Geral de Energia e Geologia, Av. da República, 45-5º, 1250-173 Lisboa, Portugal e Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, Centro de Geologia, Campo Grande, Ed. C6, 1749-016, Lisboa, Portugal. E-mail: [email protected] © INETI 2008. Todos os direitos reservados.

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Page 1: Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico

Comunicações Geológicas, 2008, t. 95, pp. 27-49

Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico Médio da região de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal)

Lithostratigraphy of the Middle Jurassic shallow-water limestone units from the region of Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal)

J. M. MARTINS1

Palavras-chave: Litostratigrafia, calcários, meio marinho interno, Jurássico Médio, Condeixa-Sicó-Alvaiázere, Portugal.

Resumo: Apresentam-se formalmente as unidades litostratigráficas do Jurássico Médio, traduzidas maioritariamente por calcários de pequena profundidade, de meio marinho interno, depositadas em ambiente de rampa carbonatada (dominantemente em rampa interna), para as regiões de Condeixa-a-Nova, Sicó (Pombal) e Alvaiázere. Justificam-se as unidades através de uma definição estratigráfica e de uma caracterização sedimentar de acordo com os Guias Internacionais de Nomenclatura Estratigráfica. São consideradas as seguintes unidades: Formação de Degracias (Bajociano inferior a superior), Formação de Sra. da Estrela (Bajociano superior-Batoniano inferior), Formação de Sicó (Batoniano inferior-Caloviano (?)) e Formação de Vale de Couda (Bajociano superior-Batoniano inferior). Considera-se também a subunidade Membro de Corte (Batoniano inferior), intercalada no seio da Formação de Sicó.

Keywords: Lithostratigraphy, shallow-water limestones, Middle Jurassic, Condeixa-Sicó-Alvaiázere, Portugal.

Abstrac: Formal lithostratigraphic units for the Middle Jurassic predominantly shallow-water limestones from the Condeixa-a-Nova, Sicó (Pombal) and Alvaiázere regions are presented. These limestones were formed in a carbonate ramp depositional system (mostly inner ramp). The units are justified by a stratigraphic definition and a sedimentary characterization according to the International Stratigraphic Guide. The following units are considered: Formação de Degracias (Lower-Upper Bajocian), Formação de Sra. da Estrela (Upper Bajocian-Lower Bathonian), Formação de Sicó (Lower Bathonian-Callovian (?)) and Formação de Vale de Couda (Upper Bajocian-Lower Bathonian). It is also considered the subunit Membro de Corte (Lower Bathonian), within the Formação de Sicó.

1. INTRODUÇÃO (a sudeste de Sicó), aqui designados no conjunto por Maciços de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (M.C.S.A.).

Na região entre Condeixa-a-Nova e a Serra de Sicó, e É sobre estas séries carbonatadas que incidiu o estudo um pouco mais a Sul-Sudeste, na região de Alvaiázere aqui apresentado, o qual tem como objectivo a proposta (Fig. 1), afloram séries carbonatadas do Jurássico Médio. formal das unidades litostratigráficas individualizadas na Estes calcários traduzem, predominantemente, uma de- região e a sua breve comparação com as séries da mesma posição em meio marinho interno, similarmente às séries idade e características que afloram a sul, noutros sectores carbonatadas da mesma idade que existem a sul, nomea- da Bacia Lusitânica. damente no Maciço Calcário Estremenho (M.C.E.) – estas últimas interpretadas como tendo sido formadas num sistema deposicional de rampa carbonatada (AZERÊDO, 1.1. Principais trabalhos anteriores 1988a, 1993, 1998; WATKINSON, 1989). Na região a norte do M.C.E., estas séries definem pequenos maciços, desde Segundo RUGET-PERROT (1961), os primeiros trabalhos a Serra do Circo (a Norte de Sicó), à Serra de Alvaiázere geológicos envolvendo a região estudada terão sido ini-

1 Divisão para a Pesquisa e Exploração de Petróleo da Direcção-Geral de Energia e Geologia, Av. da República, 45-5º, 1250-173 Lisboa, Portugal e Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, Centro de Geologia, Campo Grande, Ed. C6, 1749-016, Lisboa, Portugal. E-mail: [email protected]

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Fig. 1 – Mapa de localização da área de estudo, na Bacia Lusitânica (M.C.S.A. – Maciços de Condeixa-Sicó-Alvaiázere), distinguindo-se igualmente o Maciço Calcário Estremenho (M.C.E.) a Sul.

– Location map of the studied area, within the Lusitanian Basin (M.C.S.A. – Maciços de Condeixa-Sicó-Alvaiázere). The Maciço Calcário Estremenho (M.C.E.), to the south, is also indicated.

ciados ainda no século XIX, com as primeiras referências geológicas precisas às cadeias que se estendem de Pom-bal a Condeixa-a-Nova (SHARPE, 1850). Após a criação dos Serviços Geológicos do Reino, em 1857, surgem os primeiros trabalhos importantes de CHOFFAT (1880, 1908) sobre os terrenos dos Jurássico Inferior e Médio a Norte do Tejo e na região de Tomar e a obra (1927), do mesmo autor, “Cartas e cortes geológicos nos distritos de Coimbra e Leiria”.

Dos anos 30 aos anos 60, vários investigadores e equi-pas começaram a desenvolver trabalhos importantes sobre esta região, mas não incluindo o registo sedimentar do

Jurássico Médio. Os trabalhos referem-se às regiões de Tomar-Ansião-Alvaiázere (ROBBINS, 1950; DURENSOY, 1961, DUPLAN, 1963 e BAILLEAU, 1965).

RUGET-PERROT (1955) estudou o Jurássico Médio a Norte do Tejo, nomeadamente a região de Rabaçal, mas só em 1961 (RUGET-PERROT, 1961) apresenta a obra, ainda hoje uma referência indispensável, onde exaustivamente abordou o que designou por “Affleurements Orientaux” - destacam-se os cortes de Degracias, Estrada Pombal aAnsião e da região de Tomar (Alvaiázere).

Nos anos de 1961 e 1962, a então Companhia de Petró-leos de Portugal (C.P.P.) abordou a região de Pombal e

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sul do Mondego com o intuito de avaliar o seu potencial petrolífero. Destacam-se os trabalhos de SEIFERT (1961), GOMES (1962) e AGUIAR & RICHE (1962). Nos dois últimos, apresentaram-se cortes geológicos na região de Pombal, respectivamente, na zona de Barrocal e zona de Covão da Silva.

MOUTERDE & RUGET (1967) abordaram o Jurássico Inferior da região de Alvaiázere mas não particulariza-ram o Jurássico Médio, limitando-se a referir a existência de “...calcários bioclásticos ou oolíticos de tipo Dogger”.

É com a equipa de A. F. Soares que se iniciam as pri-meiras tentativas de sintetizar os dados de modo a esta-belecer a sedimentação jurássica da Orla meso-cenozóica ocidental e, mais especificamente, na zona de Coimbra--Pombal e o estabelecimento de uma nomenclatura estra-tigráfica para as formações encontradas e definidas – SOARES et al. (1985, 1986, 1988) – bem como o uso do termo “Calcários de Sicó”, para as séries de rampa interna. SOARES et al. (1993 a,b) sintetizam um quadro importante das formações no sector setentrional da Bacia Lusitânica.

Em projecto comunitário (MILUPOBAS), ROCHA et al. (1996) propõem, pela primeira vez, designações mais específicas para as formações do Jurássico Médio, indi-vidualizadas no Norte e Centro da região a que se refere este trabalho. A mesma nomenclatura é retomada em KULLBERG et al. (2006), da base para o topo: “Formação de Sra. da Estrela”, “Formação de Corte” e “Formação do Sabugueiro”.

MACHADO & MANUPPELLA (1998) apresentam também uma primeira correlação entre as formações do Jurássico Médio no Maciço Calcário Estremenho e as formações preliminarmente estabelecidas para a região estudada; propuseram assim a separação dos “Calcários de Sicó” em três membros, da base para o topo: “Calcários com nódulos de sílex de Degracias”, “Calcários de Vale de Couda-Ramalhais” e “Calcários de Sicó”.

DUARTE (1991, 1994, 1995, 1997) e DUARTE et al. (2001) caracterizaram os terrenos do Toarciano, em toda a Bacia Lusitânica, com destaque para a região abordada neste trabalho; destacam-se ainda os trabalhos biostratigráficos de HENRIQUES (1992, 1995) para os andares Aaleniano--Bajociano da região.

Mais recentemente, AZERÊDO et al. (2000), no âmbito de um projecto PRAXIS XXI, abordaram a passagem Jurássico Médio-Jurássico Superior na Bacia Lusitânica, reavaliando parte da série do Barrocal (Pombal), com re-ferências ao Caloviano. Destacam-se ainda os trabalhos mais recentes de MARTINS et al. (2001), sobre estruturas organo-sedimentares e de MARTINS et al. (2003, 2004),

sobre os depósitos de natureza pedogénica, ambos presen-tes nas séries do Jurássico Médio da região em apreço.

Destaca-se também o trabalho de AZERÊDO et al. (2003), onde se aborda a estratigrafia do Triásico e Jurássico Inferior a Médio nas Bacias Lusitânica e do Algarve. Nesse trabalho, são propostas as designações de “Forma-ção de Degracias” e “Formação de Sicó” para as séries de rampa interna do Bajociano superior ao Caloviano, na região de Sicó-Pombal, correlacionáveis, respectivamente, com a “Formação de Chão das Pias” e com as “Formação de Serra de Aire” e “Formação de Sto. António-Cande-eiros”, no M.C.E..

Em MARTINS (2007), são propostas unidades litostra-tigráficas informais para as séries de meio marinho interno do Jurássico Médio dos M.C.S.A., unidades apresentadas formalmente neste trabalho.

Finalmente, SOARES et al. (2007), na Notícia Explica-tiva da Carta Geológica na escala 1:50 000, folha 19-D (Coimbra-Lousã), descrevem formalmente a Formação de Sra. da Estrela, de idade Bajociano superior-Batoniano inferior, mantendo a nomenclatura informal para as uni-dades suprajacentes, nomeadamente “formação de Corte” e “Formação do Sabugueiro”.

2. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO

As unidades calcárias do Jurássico Médio que consti-tuem os Maciços de Condeixa-Sicó-Alvaiázere encon-tram-se nas regiões que SOARES & ROCHA (1984) citaram como Norte e Central da Bacia Lusitânica. Esta bacia pertence a um grupo de bacias meso-cenozóicas da Pe-nínsula Ibérica formadas pelos processos geodinâmicos que conduziram à abertura do Atlântico-Norte; algumas estão também relacionadas com o domínio tétisiano e so-freram, por isso, influências directas deste.

A Bacia Lusitânica está localizada ao longo da mar-gem Oeste da Península Ibérica, cobrindo de 22.000 a 23.000 km2. O registo sedimentar apresenta-se alongado segundo NNE-SSW (eixo de máxima subsidência), com cerca de 250-300 km de comprimento e 100-150 km de largura, incluindo a sua parte imersa e a sua espessura máxima situa-se entre 4 a 5 km (RIBEIRO et al., 1979, 1996; WILSON et al., 1989; ROCHA et al., 1996; AZERÊDO

et al., 2003; KULLBERG et al., 2006). Os sedimentos com-preendem o intervalo Triásico-Cretácico, com cobertura terciária (Fig. 1).

A evolução estrutural da Bacia Lusitânica foi descrita por numerosos autores (RIBEIRO et al., 1979, 1990, 1996;

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GUERY et al., 1986; WILSON et al., 1989; WILSON & LEINFELDER, 1990, PINHEIRO et al., 1996; WILSON et al., 1996; RIBEIRO et al., 1996; ROCHA et al., 1996; RASMUSSEN et al., 1998; KULLBERG, 2000; KULLBERG et al., 2006) e re-sultou de fases de rifting seguidas pelos movimentos de inversão cenozóica devidos à colisão alpina.

No que respeita às unidades morfo-estruturais, a re-gião estudada corresponde, grosseiramente, ao alinha-mento dos maciços calcários do Jurássico Médio, que constituem as maiores elevações. O limite setentrional da região estudada corresponde ao vértice geodésico da Sra. do Circo e o limite meridional ao vértice geodésico de Alvaiázere (Fig. 2).

Em MARTINS (2007), as séries de meio marinho interno do Jurássico Médio, que constituem as unidades litostra-tigráficas formais aqui propostas, foram objecto de estudo sedimentológico e micropaleontológico, destacando-se a realização de cerca de 50 cortes geológicos sistemáticos, os estudos de afloramentos e de uma sondagem e a reali-zação de mais de um milhar de lâminas delgadas para estu-dos petrográfico e micropaleontológico.

Nesse estudo foram feitos o reconhecimento, a identi-ficação e a caracterização das litofácies presentes e modo como estas se associam vertical e lateralmente. Foram assim reconhecidas e identificadas onze litofácies, duas delas com subtipos: 1) Calcários compactos com nódulos de sílex e “filamentos”; 2) Grainstones e Packstones de equinóides e “ninhos” de braquiópodes; 3) Wackestones, Packstones e Grainstones bioclásticos; 4) Packstones e Grainstones oopelóidicos e intrapelóidicos; 5) Rudstones e Grainstones intra-oncolíticos; 6) Biolititos de coraliários, espongiários e algas; 7) Wackestones/Floatstones oncolíticos a intra-onco-líticos e Rudstones oncolíticos; 8) Wackestones bioclásticos e Lumachelas; 9) Mudstones e Wackestones, por vezes fenestrados e laminitos; 10) Brechas e conglomerados pedogénicos; 11) Calcários dolomíticos e dolomitos.

Foi feito igualmente o estudo sistemático da micropa-leontologia, principalmente no que diz respeito aos fora-miníferos bentónicos e às algas calcárias.

Foi proposto o paleossistema deposicional e a carac-terização do mesmo através do reconhecimento de sub-ambientes e sua dinâmica evolutiva, que, por sua vez, foram definidos através da tipologia e organização das litofá-cies. A integração das diferentes associações de fácies permitiu assim inferir um ambiente sedimentar de ilhas--barreira que, em linhas gerais, é similar ao proposto por WATKINSON (1989) e AZERÊDO (1993, 1998) para as áreas a sul desta região, nomeadamente do Planalto de Fátima e restante M.C.E..

J. M. MARTINS

Os subambientes de ante-praia/praia-de-barreira, laguna e planície de maré instalaram-se sobre fácies de meio marinho aberto, a partir do Bajociano superior. Essa deposição foi feita segundo uma superfície de declive muito suave, ideal para o desenvolvimento de ilhas-bar-reira. A topografia suave foi o reflexo da constituição de uma rampa carbonatada, com inclinação para oeste/noro-este (AZERÊDO, 1988a,b, 1993, 1998; WATKINSON, 1989; SOARES et al., 1993a; AZERÊDO et al., 2003). Admite-se, também, que essa rampa terá sido quase sempre homoclinal. No entanto, a presença de depósitos de fluxo de massa no Cabo Mondego durante o Bajociano (WATKINSON, 1989), nas regiões do Baleal (AZERÊDO, 1988b, 1993; AZERÊDO

et al., 2003) e de Condeixa-a-Nova-Pombal (ROCHA et al., 1996; MARTINS, 2007), durante o Bajociano superior, pressupõe localmente a existência de aumento de declive distal.

Na Fig. 3, apresenta-se o modelo deposicional inferi-do, de rampa carbonatada, com os respectivos subam-bientes litorais. Trata-se de um sistema deposicional do-minantemente influenciado por um regime de correntes paralelas ao litoral, ondulação e tempestades. É, por outro lado, caracterizado por um regime micromareal – por exemplo, registam-se fracas evidências de canais-de-maré mas a dominância de depósitos de galgamento. Formou-se sob um clima sub-húmido – por exemplo, não-observa-ção de evaporitos e paleocarsos (MARTINS, 2007).

3. LITOSTRATIGRAFIA

Propõe-se, neste trabalho, uma nomenclatura formal para as unidades litostratigráficas das séries calcárias de meio marinho interno do Jurássico Médio para a região estudada, que tenta integrar as propostas referidas ante-riormente com os dados resultantes do estudo obtido em MARTINS (2007). Esta interpretação baseia-se também na articulação global ilustrada na Fig. 10. Chama-se a aten-ção de que a nomenclatura proposta teve igualmente como pressuposto a aplicação das unidades individualizadas à cartografia geológica da região, bem como a integração das mesmas unidades nas linhas gerais de evolução ad-mitidas durante o preenchimento da Bacia Lusitânica, no Jurássico Médio.

Relativamente aos depósitos de rampa interna, verifi-ca-se alguma complexidade, traduzida no Bajociano su-perior-base do Batoniano inferior por fácies calciclásti-cas nos sectores Norte, Central e Sul estudados e por fácies dominantemente perimareais no sector oriental (Vale de

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31 Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico Médio da região de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal)

Fig. 2 – Mapa representativo da “mancha” de calcários do Jurássico Médio que constituem o alinhamento dos maciços calcários, respectivas povoações e marcos geodésicos, cortes (perfis geológicos) sistemáticos, afloramentos e sectores estudados (adaptado de MARTINS, 2007).

– Map representing the Middle Jurassic limestone outcrops that constitute the alignment of the limestone hills, the main villages and geodesic marks and the systematic geologic sections (lithological profiles), outcrops and studied sectors (adapted from MARTINS, 2007).

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Fig. 3 – A: Modelo interpretativo do sistema deposicional de rampa carbonatada para as séries carbonatadas estudadas (região de Condeixa-Sicó--Alvaiázere). 1- Zona de transição offshore-Face-de-praia inferior; 2- Face-de-praia; 3- Praia intermareal; 4- Ante-praia-interna; 5-Laguna/faixa submareal; 6- faixa intermareal; 7- faixa supramareal. B: Legenda com a atribuição das litofácies a cada subambiente.

– A: Interpreted carbonate ramp depositional system model for the studied successions (Condeixa-Sicó-Alvaiázere region). 1- Offshore-lower shoreface; 2-Shoreface; 3-Foreshore; 4-Back-shore; 5-Lagoon/subtidal; 6- Intertidal; 7-Supratidal. B: Legend with the assignment of the lithofacies to each sub-environment.

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33 Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico Médio da região de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal)

Couda e Alvaiázere). A partir do Batoniano inferior até ao Batoniano superior/Caloviano (?), as fácies traduzem-se, maioritariamente, por depósitos lagunares e perimareais e só raramente por fácies de barreira (Sra. do Circo e Ca-beça da Corte). Devido à separação geográfica entre os afloramentos ocidentais de rampa interna (desde a Serra do Circo até ao Maciço de Sicó) e o mesmo tipo de afloramentos a oriente (região de Alvaiázere), e devido ao forte controlo tectónico, considerar-se-á uma nomen-clatura distinta, porém correlacionável.

3.1. Afloramentos Ocidentais

3.1.1. Formação de Degracias

Relativamente aos depósitos de rampa externa e in-termédia (calcários margosos com nódulos de sílex), es-sencialmente do Bajociano inferior a superior, propõe-se

a manutenção de parte da nomenclatura proposta por MACHADO & MANUPPELLA (1998) e também adoptada por AZERÊDO et al. (2003) e por SOARES et al. (1993a, 2007).

Origem do nome: área de Degracias, região de Redinha-Pombal.

Designações equivalentes: Calcários com nódulos de sílex de Degracias (MACHADO & MANUPPELLA, 1998), Formação de Degracias (AZERÊDO et al., 2003), Forma-ção de Casmilo (KULLBERG et al., 2006), Formação de Degracias (SOARES et al., 2007) e Formação de Degra-cias (MARTINS, 2007) (Veja-se a Fig. 4).

Corte-tipo: perfil de Vale de Poio, localizado no vale abrupto situado entre os vértices geodésicos de Estrela e Corte, a SE da povoação de Poios e a Este de Anços (Figs. 2 e 6; a legenda dos perfis apresentados encontra-se na Fig. 5).

Fig. 4 – Quadro sintético de comparação entre as várias designações, essencialmente informais, utilizadas pelos diferentes autores e as consideradas no presente trabalho.

– Synthetic chart for comparison of the names of the mainly informal units used by the different authors and the units considered in this work.

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Fig. 5 – Legenda dos perfis apresentados nas figuras 6, 7, 8 e 9.

– Legend of the logs presented in the figures 6, 7, 8 and 9.

Outros cortes alternativos: Casmilo, a este-sudeste Descrição: é na área de Degracias que se observa a dos afloramentos da Serra do Circo; Vale da Grota, adja- maior extensão desta unidade. Nos sectores Norte e Central, cente a Casmilo; pedreiras em laboração na área de De- é em perfis como o de Casmilo e Vale de Poio que esta uni-gracias, a sudeste de Condeixa-a-Nova. dade pode ser bem observada, bem como em grandes pe-

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35 Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico Médio da região de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal)

Fig. 6 – Perfil esquemático da Formação de Degracias no Vale de Poio. Legenda na figura 5.

– Summary stratigraphic log for the Degracias Formation in the Vale de Poio section. Legend in figure 5.

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dreiras a sul de Condeixa-a-Nova. Corresponde fundamen-talmente à ocorrência da litofácies Calcários compactos com nódulos de sílex e “filamentos” de MARTINS (2007). Consiste em pelintramicrites e pelmicrites, em camadas geralmente da ordem dos 20 a 40 cm de espessura na base, tornando-se mais espessas para o topo. Nota-se igualmente uma tendência carbonatada crescente para o topo. Para o topo da unidade, observam-se nódulos botrioidais siliciosos.

A fauna observada compreende amonóides e mais raros belemnóides, frequentes braquiópodes, “filamen-tos” atribuídos a bivalves pseudo-planctónicos, espículas de espongiários e mais raros fragmentos de equinóides (MARTINS, 2007). Foram detectados amonóides por RUGET-PERROT (1961) e por HENRIQUES (1992).

A espessura da formação é da ordem de 100 a 150 metros (MACHADO & MANUPPELLA, 1998).

Idade: a parte inferior desta formação foi datada com amo-nóides do Bajociano inferior (in MACHADO & MANUPPELLA, 1998, identificação devida a HENRIQUES, 1992). O topo desta formação é provavelmente de idade Bajociano superior, zona de Laeviuscula (in SOARES et al., 2007, identificação devida a HENRIQUES, 1992), encontrando-se subjacente à Formação de Sra. da Estrela (adiante descrita).

Limites: esta formação assenta em descontinuidade sobre a Formação de Póvoa da Lomba (SOARES et al., 2007). O limite superior é marcado por uma variação gradual de fácies, de carácter cada vez mais calciclástico, como pode ser observado no perfil de Vale de Poio. As primeiras camadas da Formação de Sra. da Estrela carac-terizam-se já por calcários biopelóidicos, relativamente grosseiros, com equinóides (incluindo cidarídeos).

Correlação: esta formação é correlacionável com a For-mação de Chão das Pias (AZERÊDO et al., 2003; AZERÊDO, 2007), no M.C.E. (ver Fig. 11, para comparação); MACHADO

& MANUPPELLA (1998) mencionaram igualmente a cor-relação dos Calcários com nódulos de Sílex de Degracias com os Calcários com nódulos de sílex de Chão das Pias.

3.1.2. Formação de Sra. da Estrela

Origem do nome: referida aos afloramentos da es-carpa de falha, junto à capela da Sra. da Estrela.

Designações equivalentes: equivalente a parte infe-rior dos Calcários de Sicó (SOARES et al., 1993a,b), a parte dos Calcários de Vale de Couda-Ramalhais (MANUPPELLA

& MACHADO, 1998), a parte inferior da Formação de Sicó (AZERÊDO et al., 2003), equivalente à Formação de Sra.

J. M. MARTINS

da Estrela de MARTINS (2007) e à Formação de Sra. da Es-trela de SOARES et al. (2007) (Fig. 4).

Corte-tipo: parte superior dos afloramentos ao longo da estrada que sobe da povoação de Poios (a SE de Redinha) em direcção à capela da Sra. da Estrela, cons-tituído o perfil ao longo da escarpa de falha (Figs. 2 e 7).

Outros cortes alternativos: Cabeça da Corte (perfil a Oeste da povoação com o mesmo nome), perfil do topo da Serra de Sicó e perfis nos afloramentos de base do flanco NE da Serra de Sicó, incluindo Cabeço do Nacreal.

Descrição: trata-se de uma formação de natureza calci-clástica. A base desta unidade corresponde aos primeiros depósitos calciclásticos finos – pelmicrosparites a pelbios-parites - correspondentes à litofácies 2 de MARTINS (2007), bem observáveis no perfil de Sra. da Estrela. No sector de Sicó, a base desta unidade pode ser reconhecida nos afloramentos a Norte-Nordeste de Sicó, nomeadamente na zona do Cabeço do Nacreal, onde se compõe também de pelmicrosparitos a pelbiosparitos, ricos em fragmentos de equinóides.

Para o topo, esta formação adquire um carácter cada vez mais grosseiro, constituindo, nos sectores Norte e Central estudados – por exemplo, no perfil da Sra. da Es-trela - pel-oosparitos, pel-intrasparitos e intra-oo-biospa-ritos, por vezes constituindo pares tempestíticos, e onde se observam laminação paralela horizontal, estratificação oblíqua planar, de ângulo variável e pequena escala e estratificação oblíqua de tipo swaley. Nas regiões a sul, nomeadamente nos perfis de Vértice de Sicó e no flanco SE da Serra de Sicó, dominam intra-oosparitos (litofácies 4 de MARTINS , 2007) e biosparitos (litofácies 3 de MARTINS, 2007). Estes calcários ocorrem em estratificação maciça; em estratificação e/ou laminação oblíquas planares, de ângulo variável, de pequena a média escala; em estratifi-cação em-espinha de média escala; em pares de base grosseira e topo fino ou constituem pares com grano-se-lecções positivas e/ou negativas.

Na parte intermédia a superior desta formação, nos sectores Norte e Central, surgem biostromas e bioermas de coraliários, compostos essencialmente por coraliários fas-ciculares (Sra. da Estrela). Para o topo da formação, os mesmos calcários bioconstruídos (litofácies 6 de MARTINS, 2007) constituem, quer nos sectores a Norte quer a Sul (perfis de Cabeça da Corte e Vértice de Sicó, por exemplo), biostromas de coraliários, interestratificados com calcários calciclásticos, onde os coraliários apresentam morfologia dominantemente maciça, em forma de doma ou placa.

Esta formação traduz uma deposição em barreira oolítica/bancos oolíticos, fortemente influenciada por

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37 Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico Médio da região de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal)

Fig. 7 – Perfil esquemático da Formação de Sra. da Estrela na Sra. da Estrela. Legenda na figura 5.

– Summary stratigraphic log for the Sra. da Estrela Formation in the Sra. da Estrela section. Legend in figure 5.

Page 12: Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico

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correntes, ondulação e tempestades. Nos sectores Norte e Central, desde a região de Sra. do Circo até à região de Cabeça da Corte, a deposição dos calcários calciclásticos terá ocorrido sobretudo nos subambientes de face-de-praia inferior/face-de-praia superior. Para sul, para a re-gião de Sicó, dominam os calcários de face-de-praia su-perior/praia-de-barreira (Fig. 10).

A espessura aproximada desta formação é superior a 80 metros, estimada sobretudo nas imediações de Srª da Estrela. O topo da formação varia de intrasparitos no per-fil de Cabeça da Corte a intra-oosparitos no perfil do Vértice de Sicó.

Os calcários estudados são ricos em bivalves (pecti-nídeos, ostreídeos, megalodontídeos e outros) e gastró-podes, em equinodermes (cidarídeos e equinóides), em braquiópodes, em serpulídeos (em “novelos”) e em cora-liários e formas afins. Quanto ao conteúdo micropaleon-tológico refere-se a presença de:

– foraminíferos bentónicos: Protopeneroplis striata WEYNSCHENK, Haplophragmoides sp., Valvuli-na lugeoni SEPTFONTAINE, Siphovalvulina sp., Neotrocholina sp., Trocholina sp., Placopsilina sp., Lenticulina sp., Mesoendothyra croatica GUSIC, Nautiloculina oolithica MOHLER, lituolídeos gros-seiros indeterminados, nubeculariídeos;

– Porostromata abundantes a frequentes; – Thaumatoporella parvovesiculifera (RAINERI), Litho-

codium aggregatum ELLIOT e Bacinella irregularis RADOICIC;

– Aeolisaccus sp. e outros incertae sedis.

Em termos das comunidades recifais, não foi possível determinar a idade exacta dos coraliários e formas afins (MARTINS, 2007). Os seguintes organismos, de idade Bajociano superior/Batoniano, foram classificados pela equipa de Winfred Werner (Universidade de Munique) e por Bernard Lathuilière (Universidade de Nancy), atra-vés de uma colaboração inicial (MARTINS, 2007):

1. Coraliários: Thamnasteria sp. (?) (ou formas simi-lares a Stephanastrea/Actinastrea), Thecosmilia sp. e Complexastrea sp., frequente Stylosmilia sp. (S. cf. tenuis (KOBY, 1889)), Cladophyllia sp., Mi-crosolena sp., outros microssolenídeos (Latomeandri-dae), coraliários stilinídeos ou eu-heliídeos (géne-ros possíveis Enallhelia, Goniocora ou Stylina) e coraliários de estrutura cerióide;

2. Esponjas calcárias, briozoários (similares a Berini-cia sp.) e estromatoporídeos.

J. M. MARTINS

Idade: o conteúdo fossilífero não é determinante quanto à idade da formação. Não obstante, trata-se de uma formação suprajacente à Formação de Degracias (de idade Bajociano inferior a superior) e infrajacente à Formação de Sicó (agora proposta), de idade Batoniano inferior-Batoniano supe-rior/Caloviano (?). Admite-se assim idade do Bajociano su-perior-Batoniano inferior para esta formação, correlacioná-vel, em parte, com a Formação de Vale de Couda, no sector oriental (região de Alvaiázere), adiante discutida.

Limites: esta formação assenta sobre a Formação de Degracias, considerando-se o seu limite inferior transi-cional e marcado por variação gradual de fácies. O limite superior é marcado por variação drástica de fácies; é mar-cado assim pelas últimas camadas bioclásticas, às quais sucedem, em concordância, camadas de calcários micrí-ticos a pelmicríticos, já da unidade seguinte (Formação de Sicó, adiante descrita). No perfil de Vértice de Sicó, por exemplo, uma camada de microconglomerado pedo-génico (já interpretado como constituinte da Formação de Sicó) assenta, em concordância, sobre as últimas cama-das calciclásticas desta formação.

Correlações: relativamente à correlação com as for-mações estabelecidas a sul, no M.C.E., esta formação é correlacionável com parte (inferior) da Formação de Sto. António-Candeeiros (AZERÊDO et al., 2003; AZERÊDO, 2007) (ver Fig. 11, para comparação).

3.1.3. Formação de Sicó

Origem do nome: é na área da Serra de Sicó e ime-diações que esta formação atinge maior espessura e onde está geograficamente melhor representada.

Designações equivalentes: equivalente aos Calcários de Sicó (MANUPPELLA & MACHADO, 1998), à parte supe-rior dos Calcários de Sicó (SOARES et al., 1993a,b), à parte superior da Formação de Sicó (AZERÊDO et al., 2003), ao conjunto das Formação de Corte e parte inferior da Formação de Sabugueiro (SOARES et al., 2007) e à Formação de Sicó (MARTINS, 2007).

Corte-tipo: perfil composto pelos afloramentos da parte superior da escarpa de falha da Serra de Sicó (perfil do Flanco NE de Sicó) e pelos afloramentos na base da Serra de Sicó, a sudoeste do vértice geodésico de Ouro e a sudeste da povoação de Barrocal, junto à Pedreira da Iberobrita (perfil de Encosta Sul à Pedreira) (Figs. 2 e 8). Foi estimada em mais de 120 metros, a espessura conjunta.

Page 13: Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico

39 Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico Médio da região de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal)

Fig. 8 – Perfis esquemáticos da Formação de Sicó no Flanco NE de Sicó e na Encosta Sul à Pedreira da Iberobrita. Legenda na figura 5.

– Summary stratigraphic logs for the Sicó Formation in the “Flanco NE de Sicó” and “Encosta Sul à Pedreira da Iberobrita” sections. Legend in figure 5.

Page 14: Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico

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Outros cortes alternativos: Portela do Zambujal, Lomba, Cabeço da Corte, Cabeço da Pena Redonda, Sabu-gueiro, Sra. do Circo, pedreira abandonada nas imediações de Melriça, Pedreira da Iberobrita, Ramalhais, Barrocal.

Descrição: trata-se de uma formação dominantemente caracterizada por calcários micríticos a pelmicríticos (mi-crites e pelmicrites), por vezes fenestrados e laminados (litofácies 9 de MARTINS, 2007) e por calcários oncolíti-cos (oncomicrites) (litofácies 7 de MARTINS, 2007). Inter-calados encontram-se igualmente calcários biomicríticos e lumachelas de gastrópodes e/ou bivalves (incluindo megalodontídeos) (litofácies 8 de MARTINS, 2007)). Nos sectores Norte e Central, observam-se espessuras apre-ciáveis de calcários de natureza calciclástica intercala-dos, tendo sido adoptado o termo Membro de Corte para estas ocorrências (ver à frente).

Na base da formação, os calcários micríticos fenestra-dos e laminados dominam, nos quais se intercalam depó-sitos pedogénicos, frequentemente sem continuidade la-teral. Estes depósitos pedogénicos (litofácies 10 - Brechas e conglomerados pedogénicos – de MARTINS, 2007) apre-sentam características muito particulares consoante o local de formação. Se bem que lateralmente correlacionáveis, apresentam-se sob a forma de brechas e microbrechas em perfis como o de Melriça e como conglomerados pedo-génicos em perfis como o da Pedreira da Iberobrita.

No perfil de Vértice de Sicó, a base da Formação de Sicó faz-se pelo aparecimento de uma camada de micro-conglomerado com clastos negros (sublitofácies 10d – Microconglomerados pedogénicos – de MARTINS, 2007), com continuidade lateral, sobre os depósitos clásticos da Formação de Sra. da Estrela. Noutros sectores a Norte, essa transição é feita pelo aparecimento dos primeiros calcários micríticos, após a série calciclástica que consti-tui a formação infrajacente (por exemplo, perfil de Cabeça da Corte).

Nas partes intermédias, esta formação é constituída por calcários micríticos fenestrados, por calcários micríticos, relativamente homogéneos, e por calcários oncolíticos.

Para o topo, passam novamente a dominar os calcá-rios micríticos fenestrados, por vezes laminados, onde frequentemente surgem intercalações de calcários pedo-génicos, sem continuidade lateral (por exemplo, nos per-fis de Mata e de Cabeço da Pena Redonda). Intercalados entre os calcários micríticos fenestrados, ocorrem tam-bém pequenas camadas (até 50 cm de espessura), de cal-cários calciclásticos, pel-oomicrosparitos a oosparitos, interpretados como pequenos depósitos de galgamento

J. M. MARTINS

e/ou pequenos bancos periféricos costeiros (por exemplo, no perfil da Encosta Sul à Pedreira).

Apenas nas áreas mais a sul-sudoeste, ainda no sector Sul (por exemplo, em Aroeiras, Barrocal e Covão da Silva), são observados calcários calciclásticos mais persistentes no topo da formação – intra-oosparites e intra-biosparites – ricos em Trocholina sp. (Trocholina gr. palastiniensis-alpina, T. palastiniensis “high-variety” HENSON, T. gigantea PÉLISSIÉ & PEYBERNÈS), sugerindo a existências de bancos periféricos costeiros transgressivos.

O conteúdo fossilífero é bastante rico, tendo sido ob-servados frequentes bivalves (incluindo megalodontí-deos), gastrópodes (incluindo nerinídeos), frequentes a abundantes ostracodos e mais raros equinóides e coraliá-rios solitários. Nos foraminíferos destacam-se: valvuliní-deos e hauraniídeos; Alzonella cuvillieri BERNIER & NEUMANN; Meyendorffina bathonica AUROUZE & BIZON; Pseudocyclammina maynci HOTTINGER; Praekurnubia crusei REDMOND; Amijiella amiji (HENSON); Haurania sp. e Haurania gr. deserta HENSON; Spiraloconulus gi-ganteus CHERCHI & SCHROEDER e Spiraloconulus aff. giganteus; formas de passagem Valvulina-Paraval-vulina e Pfenderina-Kilianina; Paravalvulina complicata SEPTFONTAINE e Paravalvulina sp.; Paleopfenderina sp.; Kilianina sp., Pseudoegerella cf. elongata; P. striata; V. lugeoni; Siphovalvulina sp.; M. croatica; N. oolithica; Neotrocholina sp.; “Conicospirillina” basiliensis (MOHLER); entre outros (MARTINS, 2007).

Nas algas calcárias dominam as Porostromata, por vezes constituindo texturas bafflestone; ocorrem ocasio-nalmente níveis com girogónitos de carófitas, associados a ostracodos de carapaça lisa. Observaram-se também ra-ras dasicladáceas. São frequentes algas incertae sedis, como T. parvovesiculifera, B. irregularis, L. aggregatum e Koskinobulina socialis CHERCHI & SCHROEDER. Outros incertae sedis incluem calcisferas, Aeolisaccus sp. e A. cf. inconstans RADOICIC (MARTINS, 2007).

O tipo de calcários dominantes, na base da formação, sugere a deposição preferencialmente em ambiente perimareal, com exposição subaérea recorrente. Este tipo de ambiente alterna com o ambiente lagunar a submareal para as partes intermédias da formação. Para o topo, do-mina novamente o ambiente perimareal. Este tipo de de-posição coaduna-se com a evolução geral da rampa carbo-natada durante o Batoniano inferior-Caloviano (AZERÊDO, 1993; AZERÊDO, 1998; MARTINS, 2007) (Fig. 10).

Idade: relativamente à idade da formação, no perfil do Flanco NE de Sicó, com cerca de 80 metros de espes-

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41 Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico Médio da região de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal)

sura, verificou-se a presença frequente de A. cuvillieri para a parte intermédia e no topo. A sua presença sugere idade do Batoniano inferior (MANUPPELLA et al., 1985; AZERÊDO, 1993, 1999; MARTINS, 1998a,b, 2007; AZERÊDO, 2007), pelo menos para os primeiros 80 metros da forma-ção. No perfil de Encosta Sul à Pedreira, em continuidade ao perfil acima mencionado, observou-se M. bathonica, associada a P. maynci e a P. crusei. Considera-se que a pri-meira espécie, nos calcários de rampa interna do Jurássico Médio, é indicadora do Batoniano superior (MANUPPELLA

et al., 1985; AZERÊDO, 1993, 1999; MARTINS 1998a,b, 2007; AZERÊDO et al., 2003).

É também no topo do perfil da Encosta Sul à Pedreira (em continuidade com os calcários da pedreira da Ibero-brita) que os calcários micríticos do Batoniano superior se encontram, em discordância angular, com os calcários do Jurássico Superior, estes últimos constituídos por cal-cários oncomicríticos, ligeiramente argilosos, por vezes muito grosseiros, com clastos negros e cianólitos (cor-relacionáveis com os descritos por MARTINS et al., 2001 na área de Aroeiras, base da Serra de Sicó). É apenas nas áreas de Aroeiras, Barrocal e Covão da Silva, a sudoeste da região estudada, que a presença de calcários calciclás-ticos com formas de foraminíferos de trocospira elevada, do género Trocholina sp. (MANUPPELA et al., 1985; AZERÊDO, 1993, 1999; MARTINS 1998a,b, 2007) pode já datar o topo da formação como do provável Caloviano (?).

No sector central (Fig. 10), os calcários micríticos, por vezes fenestrados, que constituem o topo da forma-ção aqui descrita (por exemplo, na base do perfil de Sa-bugueiro, junto à povoação de Sabugueiro), registaram a presença de frequente A. amiji. Apesar de este foraminí-fero ser referido como ocorrente até ao topo do Batoniano (BASSOULET, 1997; MATOS & WALKDEN, 2000), AZERÊDO

(1999) considera que em Portugal aquela espécie não ul-trapassa o topo do Batoniano inferior. Refere-se ainda que, no perfil de Mata de Cima, a nordeste da povoação de Sabugueiro, e correlacionável com os calcários do per-fil de Sabugueiro, foi registada a presença de Amijiella cf. amiji, uma forma muito similar a A.amiji mas de estrutura interna mais complexa. Estes factos permitem admitir como idade mais recente da formação não mais do que o Batoniano superior (MARTINS, 2007). Estes cal-cários micríticos fenestrados são correlacionáveis com aqueles que constituem a unidade com designação infor-mal de “formação de Sabugueiro” (SOARES et al., 2007).

Parece assim evidente que é apenas na área de Sicó, a sul-sudoeste, que esta formação atinge a sua maior espes-sura e representatividade, do Batoniano inferior ao Calo-

viano (?). A sua espessura varia de cerca de 80-90 metros nos sectores Norte e Sul, a mais de 120 metros no sector Sul.

Limites: esta formação assenta em concordância sobre a Formação de Sra. da Estrela, sendo o limite inferior traduzido por variação nítida de fácies. Contacta supe-riormente, no sector Sul, através de discordância angular, com calcários de idade Jurássico Superior. No sector Cen-tral, sobre o topo da formação, ocorrem depósitos do Cre-tácico, em discordância.

Correlações: no que respeita à correlação desta for-mação com as séries do Jurássico Médio que afloram mais a sul (no M.C.E.), é possível correlacioná-la, em parte, com as Formação de Serra de Aire e Formação de Sto. António-Candeeiros (AZERÊDO et al., 2003; AZERÊDO, 2007) (Fig. 11); não está, contudo, na região aqui aborda-da, representada grande parte do Caloviano.

3.1.3.1. Membro de Corte

Origem do nome: nos sectores Norte e Central, res-pectivamente no topo do perfil de Sra. do Circo (no flanco sudoeste da Serra do Circo) e no perfil de Cabeça da Corte (este último a NE da povoação com o mesmo nome) (Fig. 10), foram observados calcários calciclásticos grosseiros, intra-oncosparitos e intrabiosparitos. Estes constituem a maior espessura (superior a 15 metros) no perfil de Cabeço da Corte, daí a nomenclatura utilizada.

Descrição: são calcários grosseiros, com frequentes oncóides (até 8 cm de diâmetro) e clastos remobilizados, em estratificação maciça a oblíqua de baixo ângulo. O conteúdo fossilífero macroscópico consiste em frequentes gastrópodes (incluindo nerinídeos), bivalves de concha espessa e raros equinóides. O conteúdo micropaleontológi-co consiste em foraminíferos (P. striata, Siphovalvulina sp., V. lugeoni, formas de passagem Valvulina-Pfenderina, frequentes valvulinídeos e raros lituolídeos grosseiros), algas calcárias e afins (Porostromata) e raros ostracodos (MARTINS, 2007).

Estes calcários encontram-se intercalados, e em con-cordância, no seio de calcários micríticos, de origem sub-mareal a lagunar no perfil de Cabeço da Corte. Este tipo de depósitos calciclásticos grosseiros (litofácies 4 e 5 de MARTINS (2007)) não foi reconhecido nas áreas mais a sul-sudoeste, na Serra de Sicó.

Representariam depósitos de natureza calciclástica, cir-cunscritos aos sectores Norte e Central, depositados em am-biente de barreira transgressiva, em subambiente de face-de-

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-praia-superior (MARTINS, 2007). Note-se que este ambiente não persistiu para o topo da formação, mesmo nestes sectores.

Idade: o conteúdo fossilífero não permite uma datação adequada para esta subunidade mas o facto de estar supra-jacente a calcários com S. giganteus (observado nos calcários micríticos infrajacentes no perfil de Cabeça da Corte) e infra-jacente a calcários micríticos fenestrados (observados, em continuidade, no perfil de Sabugueiro) com A.amiji, permite estabelecer uma datação provável do Batoniano inferior.

3.2. Afloramentos Orientais

3.2.1. Formação de Vale de Couda

Origem do nome: região de Alvaiázere, nos afloramen-tos observados na estrada que vai das povoações de Casal da Rainha-Vale da Couda (a Este de Almoster) a Marzugueira (a Oeste de Maçãs de Caminho) e que flanqueiam, a Norte e a Sul, um extenso vale. Adopta-se a nomenclatura de For-mação de Vale de Couda, em detrimento de Calcários de Vale de Couda-Ramalhais de MANUPPELLA & MACHADO

(1998). Esta adopção baseia-se no facto de que, junto à po-voação de Ramalhais, o que se observam são calcários mi-críticos, por vezes fenestrados, constituindo parte da For-mação de Sicó (por exemplo, bem representados no perfil de Ramalhais). É em direcção ao topo da Serra de Sicó (Flanco SE) que se observam os calcários calciclásticos com coraliários mas já afastados da própria povoação.

É uma série formada numa região mais interna relati-vamente ao sistema deposicional – série calcária deposi-tada em ambiente mais interno, perimareal a submareal, contrastando com a deposição calciclástica em ambiente de barreira oolítica que caracteriza a Formação de Sra. da Estrela. Do mesmo modo, o sector Oriental encontra-se separado dos sectores ocidentais por séries calcárias de ambiente mais externo (de rampa externa a intermé-dia) (MARTINS, 2007), tendo havido um forte controlo tec-tónico. A litostratigrafia é, por sua vez, distinta da obser-vada na Formação de Sra. da Estrela.

Designações informais equivalentes: equivalente a parte dos Calcários de Vale de Couda-Ramalhais de MANUPPELLA

& MACHADO (1998) e à formação de Vale de Couda (MARTINS, 2007) (Fig. 4).

Corte-tipo: perfil de Alvaiázere, nos afloramentos do flanco oeste da Serra de Alvaiázere, a este do sistema de falhas que separa geomorfologicamente a “Serra Pequena” da Serra de Alvaiázere (Fig. 9).

J. M. MARTINS

Outros cortes alternativos: imediações da povoação do Bofinho e área de Vale da Couda.

Descrição: é composta por calcários micríticos fenestra-dos e calcários oncomicríticos, muitas vezes dolomitizados, e dolomitos intercalados, em série relativamente espessa (cerca de 120 metros de espessura), cuja maior representação pode ser observada em afloramentos de Vale da Couda, no perfil de Alvaiázere (no flanco Oeste da Serra de Alvaiázere) ou na região do Bofinho, a Sul (MARTINS, 1998a,b).

O conteúdo fossilífero macroscópico consiste em gastrópodes, bivalves, equinóides e coraliários fragmen-tados mais raros. No que se refere à micropaleontologia, são abundantes as Porostromata, associadas a T. parvove-siculifera, B. irregularis e L. aggregatum. Nos foraminí-feros destacam-se S. giganteus, V. lugeoni, Siphovalvulina sp., Placopsilina sp. e Egerella sp..

Limites: a base da formação é de difícil observação, já que, no flanco Oeste da Serra de Alvaiázere – onde se observa em maior continuidade - a transição de calcários pelóidicos finos, mais ou menos argilosos, com abundantes equinóides, para os primeiros calcários francamente micríticos, é marcada pela presença de abundante vegetação. Crê-se, no entanto, que corresponderá a uma transição de fácies relativamente gradual.

Relativamente ao topo da formação, no perfil de Bo-finho (MARTINS, 1998a) observa-se uma transição brusca (provavelmente controlada tectonicamente) de calcários micríticos fenestrados, brancos a rosados para calcários micríticos amarelados, homogéneos, com A. cuvillieri. Estes últimos calcários não apresentam qualquer dolomitização, característica inerente à Formação de Vale de Couda.

Idade: MACHADO & MANUPPELLA (1998) adoptaram uma nomenclatura para esta série calcária – Calcários de Vale de Couda-Ramalhais -, sugerindo uma correlação cronostratigráfica entre os calcários calciclásticos, ricos em coraliários e formas afins, que ocorrem no flanco Su-deste de Sicó, um pouco a Noroeste da povoação de Ra-malhais e os calcários micríticos, oncolíticos e dolomitos, presentes no sector Oriental aqui estudado. Essa correla-ção cronostratigráfica (do Bajociano superior ao Batonia-no inferior) é confirmada pela presença de S. giganteus no perfil de Alvaiázere (MARTINS, 1998a,b, 2007) e pela posição infrajacente desta série em relação à série calcá-ria da Serra Pequena, constituída, por sua vez, por calcá-rios micríticos lagunares, relativamente homogéneos, do Batoniano inferior, ricos em A.cuvillieri (MARTINS, 1998a). Estabelece-se assim, uma idade do Bajociano superior--Batoniano inferior para esta unidade.

Page 17: Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico

43 Litostratigrafia das séries de meio marinho interno do Jurássico Médio da região de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Portugal)

Fig. 9 – Perfil esquemático da Formação de Vale de Couda em Alvaiázere. Legenda na figura 5.

– Summary stratigraphic log for the Vale de Couda Formation in Alvaiázere section. Legend in figure 5.

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44

4. INTEGRAÇÃO DAS UNIDADES LITOSTRATIGRÁFICAS NA EVOLUÇÃO DO MODELO DEPOSICIONAL E NO CONTEXTO DA BACIA LUSITÂNICA

Durante o Jurássico Inferior a Médio, um substracto carbonatado regular de baixo gradiente ocorria em toda a Bacia Lusitânica, tendo o relevo sin-rift sido aplanado du-rante o Sinemuriano. Ocorrem excepções localizadas de influxos siliciclásticos interpretados como tempestitos/tur-biditos no Toarciano inferior (DUARTE, 1997) e interpre-tados como turbiditos no Toarciano-Aaleniano (WRIGHT

& WILSON, 1984). Na região estudada, observam-se flu-xos de massa, do tipo slumping, expressos em depósitos com deformação sin-sedimentar, a partir do Bajociano inferior, sugerindo-se, para esta área, alguma instabilidade tectónica, provavelmente induzida por movimentos salí-feros relacionados com os depósitos evaporíticos da For-mação de Dagorda (ROCHA et al., 1996) ou geometria de rampa carbonatada com declive distal.

Ocorria também uma subida generalizada do nível do mar, quer eustático (HALLAM, 1978, 2001) quer relativo (devido à subsidência), iniciado no Sinemuriano e esten-dendo-se até ao final do Jurássico Médio.

No Bajociano superior ocorre a primeira fase progra-dativa do sistema de rampa interna, que foi despoletada por um decréscimo no espaço de acomodação relacionado com uma redução da taxa de subida relativa do nível do mar. Na passagem Bajociano-Batoniano é reconhecida uma queda do nível do mar nas curvas globais (HAQ et al., 1987; HALLAM, 1981, 2001; HARDENBOL et al., 1998), mas o não reconhecimento de uma descontinuidade ou superfície de exposição subaérea durante esta passagem, na Bacia Lusitânica, permitem admitir que uma queda eustática não foi a responsável directa por esta tendência regressiva das fácies (WATKINSON, 1989; AZERÊDO, 1998). Aquela fase está representada na transição da Formação de Degracias para a Formação de Sra. da Estrela. A causa possível pode estar, então, relacionada com a menor sub-sidência térmica devido ao relaxamento litosférico após o cessar da(s) fase(s) de rifting anterior(es) (WILSON et al., 1989; AZERÊDO, 1998).

Durante o Batoniano, as taxas elevadas de sedimenta-ção encontravam-se em equilíbrio com a taxa de subida relativa do nível do mar, subida lenta e progressiva que se vai registar até ao Caloviano inferior. Este mecanismo permitiu o aumento da agradação e o contínuo desenvol-vimento de corpos arenosos “empilhados”, por contínuo e gradual aumento do espaço de acomodação (AZERÊDO,

J. M. MARTINS

1993, 1998) (catch-up e keep-up phases de KENDALL & SCHLAGER, 1981) – topo da Formação de Sra. da Estrela – bem como o desenvolvimento de sedimentos ante-bar-reira – fácies lagunares e perimareais – Formação de Sicó (AZERÊDO et al., 2003) e Formação de Vale de Couda. Uma relativa progradação das fácies de barreira e lagu-nares/perimareais terá persistido, ajudando a manter uma geometria de rampa carbonatada, aliada à redistribuição de material por fluxos de tempestades (AZERÊDO, 1998).

Na região estudada, durante a parte inicial do Bato-niano, destaca-se a maior proliferação de fácies coralíferas do que no M.C.E. e a continuação do “empilhamento” dos corpos arenosos (fácies de ante-praia/praia de bar-reira) - Formação de Sra. da Estrela. No sector Oriental (Alvaiázere), mais interno, as fácies correlativas são já de ambiente perimareal – Formação de Vale de Couda. Para a parte média do andar, e para os sectores ocidentais, é nítida a progradação das fácies margino-litorais para Oeste, o que está de acordo com uma possível menor taxa de subsidência – deposição da Formação de Sicó. É tam-bém verificada uma maior abundância de depósitos pe-dogénicos em relação ao observado nos sectores a Sul, da mesma idade. Enquanto no M.C.E. o “empilhamento” sucessivo dos corpos arenosos é registado durante prati-camente todo o Batoniano (WATKINSON, 1989; AZERÊDO, 1993, 1998; AZERÊDO et al., 2003), apenas nos sectores Norte e Central da região estudada (Sra. do Circo e Cabeça da Corte), ocorrem ainda, no topo do Batoniano inferior, fácies de barreira (transgressivas), que não chegam a constatar-se no sector Sul – Membro de Corte. No sector Sul desenvolvem-se fácies perimareais e lagunares. É também possível que o referido “empilhamento”, na re-gião estudada, e observável no Batoniano no M.C.E., es-tivesse a ocorrer para oeste. O grande acidente de falha que constitui a escarpa da Sra. da Estrela e que se prolon-ga para Sul pode também ter sido responsável pela “obli-teração” destes depósitos de maior energia.

Na base do Batoniano superior apenas se observam sedimentos nos sectores Central e Sul aqui delimitados, onde abundam as fácies perimareais progradantes (Fig. 10). No Batoniano superior, apenas no sector Sul se observam fácies perimareais, nas quais se interstratificam camadas de calcários clásticos (litofácies 4 de MARTINS, 2007), inter-pretados como corpos transgressivos constituindo pequenos bancos periféricos (shoals de READ, 1985) (MARTINS, 2007).

A partir do início do Caloviano, verifica-se a retrogra-dação generalizada das fácies de rampa interna que, no M.C.E. estão representadas por fácies de barreira comabundante material retrabalhado e derivado da erosão da

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face-de-praia e da praia-intermareal, aos quais se sobre- CONCLUSÕES põem carbonatos de zona de transição-offshore e de rampa externa, com bioturbação, braquiópodes, “filamentos”, São apresentadas formalmente neste trabalho três belemnites e amonites (AZERÊDO, 1993, 1998; AZERÊDO unidades e uma subunidade para as regiões de Condeixa-et al., 2003; AZERÊDO, 2007). Esta fase transgressiva é a-Nova-Sicó (sectores Norte, Central e Sul estudados): claramente evidenciada também noutros locais da Bacia – Formação de Degracias: unidade depositada empor outros autores (e.g., RUGET-PERROT, 1961; MOUTERDE meio de rampa externa a intermédia, de naturezaet al., 1979). predominantemente calco-margosa, de idade Bajo-

Na região estudada, no Batoniano superior/possível ciano inferior a superior e com uma espessura deCaloviano inferior, e apenas no Sector Sul, observam-se 100 a 150 metros;fácies de praia-intermareal e face-de-praia-superior, bio-clásticas e oointraclásticas, respectivamente – topo da – Formação de Sra. da Estrela: depositada em meio de Formação de Sicó. Contudo, esta ocorrência não é sufi- rampa intermédia a interna, de natureza predominan-ciente para comprovar a retrogradação evidenciada nessa temente calciclástica, de idade Bajociano superior-Ba-altura no M.C.E. (MARTINS, 2007). toniano inferior e com espessura superior a 80 metros;

Fig. 11 – Unidades formais propostas no presente trabalho para os Maciços de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (M.C.S.A.), para o intervalo Bajociano inferior-Caloviano, e comparação com as unidades formais propostas no M.C.E. por AZERÊDO (2007), para o mesmo intervalo de tempo. Os esquemas não estão à mesma escala vertical não sendo, por isso, directamente correlacionáveis.

– Formal units proposed in the present work for the Maciços de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (M.C.S.A.), for the interval Lower Bajocian--Callovian, and comparison with the formal units proposed in the M.C.E. by AZERÊDO (2007), for the same period of time. The schemes are not at the same vertical scale, therefore are not directly correlatable.

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– Formação de Sicó: depositada em meio de rampa interna, dominada por depósitos de natureza lagu-nar e perimareal, de idade Batoniano inferior a Caloviano (?) e com espessura superior a 120 metros;

– Membro de Corte, interestratificado na Formação de Sicó, de repartição geográfica mais restrita, de natureza calciclástica, de idade Batoniano inferior e com espessura superior a 15 metros.

Para a região de Alvaiázere, no sector Oriental estu-dado, é proposta a unidade Formação de Vale de Couda, caracterizada por depósitos dominantemente lagunares e perimareais, depositados em meio de rampa interna, de idade Bajociano superior e com espessura de cerca de 120 metros.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito de uma tese de doutoramento (MARTINS, 2007), tese que só se tornou possível graças à orientação e apoio da Prof. Dra. Ana Cristina Azerêdo, da Faculdade de Ciências da Universi-dade de Lisboa e do Prof. Dr. Luís Vitor Duarte, da Facul-dade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coim-bra, para os quais vão os mais sinceros agradecimentos.

Agradece-se aos Prof. Winfred Werner, da Universi-dade de Munique, e Prof. Bernard Lathuilière, da Univer-sidade de Nancy, pela colaboração na classificação dos coraliários e organismos associados.

Este trabalho beneficiou igualmente dos apoios do Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Univer-sidade de Lisboa e do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

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Artigo recebido em Novembro de 2008 Aceite em Dezembro de 2008