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MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MUL TIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA
MAISA CAMPOS BELFORT
"' LEISHMANIOSE VISCERAL (CALAZAR) EM PERNAMBUCO: ESTUDO SOBRE A SUA 1 DISTRIBUIÇÃO NO PERÍODO DE 1995 A 1999.
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Monografia apresentada como requisito parcial a obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação latu-sensu do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva do Departamento de Saúde Coletiva/CPqAM/FIOCRUZ/MS, sob orientação da Professora Eduarda Cesse.
Recife 2001
MAISA CAMPOS BELFORT
LEISHMANIOSE VISCERAL (CALAZAR) EM PERNAMBUCO: ESTUDO SOBRE A SUA DISTRIBUIÇÃO NO PERÍODO DE 1995 A 1999.
Monografia aprovada como requisito parcial a obtenção do título de Especialista no Curso de PósGraduação latu-sensu do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva do Departamento de Saúde Coletiva/CPqAM/FIOCRUZ/MS, pela comissão formada pelos professores:
Orientador:
De batedor:
Prof. Eduarda Cesse- Nesc/FIOCRUZ/CPqAM
Denise Santos C. de Oliveira - FUSAM Mestre em Medicina Veterinária - UFRPE
Recife 2001
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----------------------------(Araquém de Alcântara, 1985.)
"0 espaço é a síntese sempre provisória, entre o conteúdo social e as formas espaciais. Mas a contradição principal é entre sociedade e espaço, entre um presente invasor e ubíquo que nunca se
realiza completamente e um presente, que também é passado objetivado nas formas sociais e nas formas geográficas encontradas
(Milton Santos, 1996)
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida, pela força e iluminação do meu caminho, ajudando-me a enfrentar
e vencer mais um desafio.
A Fernando, meu companheiro de todos os momentos, pelo amor, dedicação e pela
compreensão nos momentos de minha ausência.
A meus pais, Marconi e Odaisa, que não se contentam apenas em me dar carinho, amor e
apoio, mas, estando sempre presentes, não hesitam em se sacrificarem algumas vezes em favor dos
meus objetivos. Sou eternamente grata.
A Soraia e Samara, minhas queridas irmãs que, entre discussões "naturais" e a união
"sobrenatural", compartilham comigo mais uma realização.
À minha orientadora e amiga, Eduarda Cesse, pela amizade construída durante estes dois
anos e pela sábia orientação, guiando-me sempre com objetividade, simplicidade e competência
profissional.
Aos amigos da FUSAM/DIEVS, em especial Francisco Duarte e Vânia Benigno, que me
proporcionam ensinamentos, conhecimentos, novas práticas, sempre presentes durante a realização
do estágio. Obrigada por tudo.
A Denise Oliveira, por aceitar o convite para participar da banca, com grande
profissionalismo.
A Valdenilson Batista, pela grande contribuição e disponibilidade no levantamento dos
dados, e a Erlândia, pelo apoio no trabalho de digitação dos dados no Epilnfo.
Ao amigo George Dimech, pela valiosa contribuição na elaboração dos mapas.
Ao Professor Carlos Pontes, pela sinceridade, seriedade e compreensão demonstradas
durante o curso e nos momentos das nossas "inquietações", surgidas durante a construção deste
trabalho.
Às colegas da Residência, pela troca de saberes e informações em todos os momentos.
Às amigas Cristiane, Alessandra e Cláudia, pela amizade, companheirismo e cumplicidade
de experiências profissionais e pessoais, fortalecidos para além das ''paredes" da Instituição.
Ao grupo da pesquisa "Análise Situacional e Proposições para o processo de
Municipalização da Saúde em Pernambuco", pela oportunidade de novos conhecimentos e
experiências.
Enfim, expresso aqui os meus mais sinceros agradecimentos a todos aqueles que fazem parte
do NESC, entre funcionários e professores que, de certo modo, participam desta realização.
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APRESENTAÇÃO
O interesse em realizar um estudo acerca da ocorrência do leishmaniose visceral no
Estado de Pernambuco, surge durante o período de realização do estágio desenvolvido na
Secretaria Estadual de Saúde, com inserção na Divisão de Normas de Zoonoses da Diretoria
de Epidemiologia e Vigilância Sanitária- DIEVS, quando tenho a oportunidade de construir
um banco de dados sobre esta endemia através das fichas de registro da Coordenação
Regional/FUNASA/PE.
Este banco de dados tem como objetivo subsidiar os municípios envolvidos no "Projeto
de Descentralização de Endemias" proposto por esta Secretaria. Tais informações passam a
orientar as ações de controle da leishmaniose visceral em alguns municípios de Pernambuco.
Deste modo, toma-se necessário a execução de estudos que demonstrem a ocorrência
desta doença nos demais municípios do território pernambucano, com a finalidade de buscar
obter o controle almejado da leishmaniose visceral no referido Estado, visto que, corresponde
a uma das endemias que se apresenta em expansão, trazendo consequentemente inquietações
aos profissionais de saúde e a população, tendo em vista à sua magnitude e potencial de
urbanização.
Assim, espera-se que este estudo seja aproveitado no sentido de contribuir para uma
reorientação das ações e práticas sanitárias que vêm sendo realizadas para o controle desta
endemia, com a finalidade de reduzir o sofrimento das pessoas atingidas pelo calazar,
melhorando a qualidade de vida da população de áreas endêmicas.
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LISTAS DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AIDS - Síndrome da Imunode:ficiência Adquirida
BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
CENEPI- Centro Nacional de Epidemiologia
CCE- Critério Clínico Epidemiológico
CCEPL - Critério Clínico Epidemiológico e Laboratorial
CPqAM - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães
CRFNS - Coordenação Regional da Fundação Nacional de Saúde
DATASUS- Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
DDT - Diclorodifeniltricloroetano
DIRES -Diretoria Regional de Saúde
DIEVS -Diretoria de Epidemiologia e Vigilância Sanitária
FNS -Fundação Nacional de Saúde
FUNASA- Fundação Nacional de Saúde
FIOCRUZ- Fundação Oswaldo Cruz
FSESP - Fundação de Serviços de Saúde Pública
IBGE -Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ID - Intra-domicílio
ED -Extra-domicílio
NESC- Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva
P ACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PCDEN- Projeto de Controle de Endemias no Nordeste
PSF -Programa de Saúde da Família
PE- Pernambuco
SES - Secretaria Estadual de Saúde
SINAN - Sistema Nacional de Agravos de Notificação
SUCAM - Superintendência de Campanhas de Saúde Pública
SUS - Sistema Único de Saúde
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RELAÇÃO DE TABELAS, GRÁFICOS E MAPAS
TABELAS
TABELA 1 - Municípios mais atingidos com casos de leishmaniose visceral segundo Mesorregião. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
TABELA 2 - Leishmaniose Visceral. Casos confirmados segundo Critério Diagnóstico. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
TABELA 3 - Número e percentual de amostras de sangue coletadas, examinadas, positivas e n° de cães eliminados. PERNAMBUCO, 1995- 1999.
TABELA 4 - N° de flebótomos capturados no intra e extra domicílio. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
TABELA 5 - N° de localidades trabalhadas e unidades domiciliares pesquisadas para o Inquérito Entomológico. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Coeficiente de Detecção da leishmaniose visceral no Estado de PERNAMBUCO. 1985 a 1999.
GRÁFICO 2- Leishmaniose Visceral. Coeficiente de Detecção no Estado de PERNAMBUCO. 1995 a 1999.
GRÁFICO 3 - Leishmaniose Visceral. Comparação de notificação entre a Coordenação Nacional, Coordenação Regional e o SINAN. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
GRÁFICO 4 - Leishmaniose Visceral. Coeficiente de Detecção por Mesorregião no Estado de PERNAMBUC0.1995 a 1999.
GRÁFICO 5 - Leishmaniose Visceral. Distribuição percentual de casos humanos segundo faixa etária. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
GRÁFICO 6 - Leishmaniose Visceral. Distribuição percentual dos casos de humanos segundo sexo. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
GRÁFICO 7- Distribuição percentual dos casos de leishmaniose visceral segundo ocupação. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
GRÁFICO 8 - Distribuição percentual dos casos notificados de leishmaniose visceral segundo procedência urbano/rural. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
GRÁFICO 9- Leishmaniose Visceral. Distribuição percentual de positividade canina. PERNAMBUCO, 1996 a 1999
GRÁFICO 10- Leishmaniose Visceral. Soro-reatividade canina versus n° de casos humanos. PERNAMBUCO, 1996 a 1999.
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MAPAS
MAPA 1 - Coeficiente de Detecção da leishmaniose visceral em Pernambuco segundo mesorregião no ano de 1995.
MAPA 2 - Coeficiente de Detecção da leishmaniose visceral em Pernambuco segundo mesorregião no ano de 1996.
MAPA 3 - Coeficiente de Detecção da leishmaniose visceral em Pernambuco segundo mesorregião no ano de 1997.
MAPA 4 - Coeficiente de Detecção da leishmaniose visceral em Pernambuco segundo mesorregião no ano de 1998.
MAPA 5 - Coeficiente de Detecção da leishmaniose visceral em Pernambuco segund9 mesorregião no ano de 1999.
VIII
para regiões indenes, mas também, pela necessidade urgente de implementar mecanismos de
controle descentralizados (Brasil, 1996).
O presente trabalho tem por objetivo apresentar a distribuição da leishmaniose visceral no
Estado de Pernambuco, no período de 1995 a 1999, demonstrando os aspectos epidemiológicos
da doença na população, bem como, algumas considerações sobre o reservatório canino e o
vetor.
Este estudo é destinado a todos os profissionais de saúde, principalmente àqueles que
trabalham em áreas endêmicas da doença. Espera-se, dessa forma, contribuir com os serviços de
saúde do estado e municípios, no planejamento das ações de prevenção e controle ~esta endemia,
evitando, assim, possíveis epidemias urbanas.
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1. CONSIDERAÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS
A leishmaniose visceral é uma doença que ocorre nas Américas, Ásia, África e Europa,
sendo a região da Bengala na Índia uma das mais antigas áreas endêmicas. Na Grécia a
enfermidade é conhecida desde 1835, quando é denominadaponos ou hapoplinakon. Na Índia
recebe o nome de kala-azar (pele negra) ou de kala-jwar (febre negra). É corretamente
descrita em 1822 e seu agente etiológico identificado posteriormente, em 1903. Na maioria
das regiões tropicais e subtropicais do mundo esta enfermidade é própria de zonas rurais
(Marzochi et.al, 1981; Rey, 1991).
Deane & Deane, citados por Alencar (1958), relatam algumas características
epidemiológicas da leishmaniose visceral nas diferentes áreas do mundo: na Índia e Sudão
tem caráter endêmico-epidêmico, sendo o homem o único hospedeiro vertebrado conhecido.
Já no Mediterrâneo, a doença apresenta-se como uma zoonose de cães, atingindo
acidentalmente o homem, e na China o cão é o único reservatório importante, embora a
doença, às vezes, se apresente endêmica entre a população humana.
Nas Américas, a endemia é de maior ocorrência no Brasil, Venezuela e na Argentina,
com infeções isoladas no Paraguai, Bolívia, Peru, Colômbia, El Salvador, Honduras,
Guatemala e México (Neves, 1997).
De acordo com Marzochi & Marzochi (1997) e Alencar (1958), as características
epidemiológicas da doença no Brasil assemelham-se às do Mediterrâneo e da China,
localizando-se em regiões de secas periódicas. A maioria dos casos no Brasil está concentrada
no chamado ''polígono das secas".
Desde 1907 há indícios da existência da leishmaniose visceral no país, e, no período
entre 1911 e 1912, Carlos Chagas suspeita da sua presença em algumas regiões da Amazônia
(Marzochi et al, 1981; Monteiro, 1994; Costa, 1995).
O primeiro caso diagnosticado da doença é assinalado por Mignore, em 1913, na cidade
de Assunção, no Paragua~ através do exame de necropsia, como um possível caso
proveniente do Mato Grosso (Marzochi, 1981; Costa, 1995).
O Instituto Oswaldo Cruz desperta o interesse em estudar a leishmaniose visceral no
Brasil a partir das publicações dos achados de H. Penna, em 1934, que, ao examinar lâminas
de cortes histológicos de figado de indivíduos obtidos por viscerotomia, identifica o parasita
em 41 amostras dentre as 47 mil analisadas para o exame da Febre Amarela (Oliveira, 1960).
As bases epidemiológicas da leishmaniose visceral no Brasil são estabelecidas a partir
das publicações de Evandro Chagas, criadas pelo Instituto Oswaldo Cruz, em 1936, quando
constata o primeiro caso autóctone do país, em Aracaju. Neste período, a leishmaniose
visceral é investigada quanto ao seu aspecto topográfico, epidemiológico, clinico e
anatomopatológico, que a caracterizam epidemiologicamente como uma doença esporádica,
exclusivamente rural ou silvestre, acometendo o homem e o cão que vivem nestas áreas
(Oliveira, 1960).
A história da leishmaniose visceral tem início em Pernambuco no ano de 1932, quando
Pondé, Mangabeira e Jansen documentam o primeiro caso canino da doença no país.
Posteriormente, Tavares & Fonte, em 1940, informam o primeiro caso humano diagnosticado
"in vivo" proveniente daquele Estado (Huggins, 1973; Gonçalves et. al, apud Cesse, .1999).
Em 1953, o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERU) do Ministério da
Saúde cria a "Campanha contra a Leishmaniose Visceral" que, a partir das publicações de
inquéritos epidemiológicos, resulta no melhor conhecimento sobre a doença. Nesta época,
Pessoa chama a atenção para o processo de urbanização da doença e seu caráter epidêmico na
zona rural (Marzochi et al, 1981; Monteiro, 1994; Brasil, 1994; Costa, 1995).
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A partir de então, vários outros casos são diagnosticados em Sobral e municípios
vizinhos do Ceará, descobrindo, desta forma, um foco urbano importante, de uma doença tida
como "esporádica e exclusivamente rural ou silvestre" (Oliveira, 1960).
Atualmente, o perfll epidemiológico da leishmaniose visceral tem se modificado,
ocorrendo de forma diferente de anos atrás, apresentando um caráter de urbanização. Nos
últimos anos, ocorrem surtos epidêmicos urbanos no Rio de Janeiro/RJ, Santarém/P A,
Teresina/PI, São Luis/MA, Natal/RN, Fortaleza/CE, Camaçari/BA, sendo confrrmada a
ocorrência de casos autóctones em Belo Horizonte e Minas Gerais (Marzochi et ai, 1981;
Monteiro, 1994; Costa, 1995).
Sendo assim, vários fatores têm contribuído para o processo de urbanização desta
endemia, como a descontinuidade do serviço de entomologia e a redução das operações com
inseticida realizadas pela Fundação Nacional de Saúde - FNS, a partir de 1990 (Marzochi,
1997; Brasil, 1996 a).
Autores consideram que a urbanização da leishmaniose visceral está relacionada, ainda,
à acentuada migração de famílias que, provenientes de regiões endêmicas, onde ocorrem
secas periódicas, tendo alguns de seus membros acometidos pela doença ou acompanhados de
cães doentes, se instalam em áreas com recursos insuficientes, de desmatamento recente, em
zonas periurbanas onde já existe o flebotomíneo (Gonçalves et al., 1986 apud Cesse, 1999).
~ Os dados epidemiológicos dos últimos anos demonstram que no Brasil a leishmaniose
sceral ocorre em 19 estados, destacando-se a região do Nordeste, com quase 90% dos casos,
o sendo registrados casos na região Sul (Rey, 1990; Cesse, 2000).
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Em Pernambuco, municípios como Itamaracá, Paulista, Jaboatão dos Guararapes e
Petrolina, a leishmaniose visceral encontra-se em ascensão, com índices elevados da doença e
sinais de uma possível urbanização (Bezerra et. al., 1997; Saltos e Lopes, 1999; Cesse, 1999).
Costa (1999) afrrma que ''todos estes fatos sugerem uma eminente reavaliação da
"--)) situação epidemiológica desta enfermidade, assim como, das medidas de controle atualmente
propostas, em que devem ser revisados assuntos polêmicos como o real papel do vetor, do cão
e do homem na cadeia de transmissão da doença".
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AGENTE ETIOLÓGICO, VETOR E RESERV ATÓTIO
O agente etiológico da leishmaniose visceral é um protozoário da familia
Trypanosomatidae, gênero leishmania do complexo Leishmania donovani, em que várias
espécies ou subespécies estão incluídas, sendo o parasita responsável pela doença no Brasil
classificado como leishmania chagasi (Marzochi, 1981; Rey, 1991; Castro, 1996).
Autores como Evandro Chagas, Deane & Deane, e Alencar demonstram, através de
vários estudos, a doença no cão e no homem, incriminando a Lutzomyia longipalpis como o
único vetor da doença, como também, a importância do cão doméstico Canis familiaris e da
raposa Lycalopex vetulus como excelentes fontes de infeção e responsáveis pela manutenção
do ciclo da doença no ambiente domiciliar e silvestre respectivamente (Cunha & Chagas,
1937 citados por Neves, 1997).
Sendo assim, o cão é considerado o animal de maior importância epidemiológica,
sendo responsável pela transmissão do tipo urbano endêmico da leishmaniose visceral. Um
outro fato que eleva a condição de maior importância epidemiológica do cão. é o grande
número de animais assintomáticos albergando parasitas na derme. Os cães infectados podem
ou não desenvolver o quadro clínico da doença, cujos sinais são emagrecimento, queda de
pêlos, nódulos ou ulcerações mais freqüentes nos bordos das orelhas, hemorragias intestinais,
caquexia, entre outros. O reconhecimento das manifestações clínicas destes reservatórios é de
grande importância para a adoção das medidas de controle da doença. (Marzochi, 1981;
Marzochi et al., 1985; Rey, 1991).
O ciclo biológico da leishmania chagasi caracteriza-se por apresentar duas formas, uma
aflagelada ou amastigota, encontrada no interior das células dos vertebrados parasitando
principalmente os macrófagos, e outra promastigota ou flagelada, que se desenvolve no tubo
digestivo dos insetos vetores (Rey, 1991; Castro, 1996; Neves, 1997).
O principal mecanismo de transmissão ao homem e animais é através da picada da
fêmea do inseto vetor o flebótomo Lutzomia longipalpis. Apenas as fêmeas desta espécie são
hematófogas, necessitando de sangue para maturação dos ovos. O período de 30 a 90 dias
corresponde ao ciclo evolutivo do ovo ao adulto, em que estes têm uma vida média de 15 a 30
dias (Rey, 1991; Castro, 1996).
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Com relação à alimentação, as remeas possuem hábitos ecléticos podendo ser
encontradas fazendo repasto sangüíneo em várias espécies animais, não havendo evidências
quanto à preferência de uma fonte alimentar determinada (Neves, 1997).
Os flebótomos são pequenos insetos alados da família Psychodidae, subfamília
Phlebotominae, medindo 2 a 3 mm, cor de palha, grandes asas, seus vôos são curtos e baixos,
não superiores a 200 metros. São conhecidos popularmente, de acordo com a região, por
"pula-pula", devido ao seu comportamento saltitante, "mosquito palha", "cangalhinha",
"birigui", "asa dura", "asa branca", entre outras denominações. Têm hábitos crepusculares ou
noturnos e, atraídos pela luz, invadem os domicílios facilitando portanto o contato com a
população humana(Marzochi, 1981; Rey, 1991).
De acordo com Andrade (1996), uma pessoa ou animal pode ser picado por dezenas de
flebótomos em uma noite, porém, como a taxa de infecção é baixa, são necessárias muitas
picadas para infectar o hospedeiro.
A Lutzomyia longipalpis tem como habitat o domicílio e o peridomicílio, onde se
alimenta sobre numerosas espécies de mamíferos e aves, incluindo o homem, a raposa e o
cão. Estes insetos colonizam facilmente os boqueirões, pés-de-serra e vales estreitos, e se
adaptam bem às temperaturas elevadas e ao baixo grau de umidade, sendo a estação chuvosa
o período de maior transmissibilidade, quando o inseto atinge maior densidade populacional.
No ambiente peridomiciliar muitos focos de flebotomineos são mantidos próximos aos
galinheiros, tomando-se as galinhas alvo de repasto sanguíneo, mantendo aí o ciclo biológico
do inseto (Rey, 1991; Castro, 1996; Neves, 1997).
De ~cordo com Sherlock, (1996) citado por Cesse (1999), é importante destacar um I I
aspecto interessante observado na epidemiologia da leishmaniose víscera~ que consiste no
chamado "ciclo decenal", em que este intercala epidemias que duram três anos, a partir de
quando o número de casos começa a regredir até atingir níveis endêmicos. O gráfico a seguir
representa a evolução da leishmaniose visceral no Estado de Pernambuco mostrando este fato,
pois a curva da incidência demonstra os ciclos decenais de maior ocorrência nos de 1985 e
1995.
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Apesar de ser verificado no país, este fato não tem sido provado, tendo em vista a
qualidade das informações que são geradas nos serviços de saúde, que vão desde a
subnotificação até a notificações duplicadas de um mesmo caso.
GRÁFICO 1 -Leishmaniose Visceral. Coeficiente de Detecção no Estado de PERNAMBUCO no período de 1985 a 1999 .
.ci 3,5 as .c 3 o o ~ 2,5 ~ 2 õ ·a 1,5
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8 o 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99
Ano
Fonte: GT-FOCAIS/CCDIV/CENEPJIFUNASA/Coordenação Regional. Programa de Controle das Leisbmanioses/PE
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2. A CLÍNICA DALEISHMANIOSE VISCERAL
A leishmaniose visceral ou calazar é uma doença infeciosa generalizada que durante
muito tempo é confundida com outras endemias, tendo em vista sua semelhança com várias
outras moléstias de caráter febril e por não apresentar lesões facilmente visíveis. É conhecida
por várias outras denominações como esplenomegalia tropical; febre dundun; "mal da tábua";
"mal do duro do lado"; "mal da passarinha" e "mal da barriga grande" (Alencar, 1958; Rey,
1991).
Caracteriza-se clinicamente por febre com 2 ou 3 picos diários, hepatoesplenomegalia,
linfadenopatia, anemia, hipergamaglo bulinemia, edema, manifestações intestinais, fenômenos
hemorrágicos, emagrecimento, queda de cabelo e estado de debilidade progressivo, podendo
levar o paciente a óbito em 1 ou 2 anos após o aparecimento da sintomatologia, caso não seja
submetido ao tratamento específico (Marzochi, 1981; Rey, 1991; Neves, 1997). Um outro
fenômeno que pode ocorrer é a icterícia, sintoma considerado raro para alguns autores, que
surge apenas em casos de intenso parasitismo hepático. No entanto, Alencar afirma ser a
icterícia uma manifestação comum, como sinal de uma hepatite leishmaniótica (Huggins,
1973).
A leishmaniose visceral é dividida clínica e epidemiologicamente em cinco tipos:
Indiano, Mediterrâneo, Chinês, Africano I e li e Americano ou Neotropical, que são
resultantes de variados quadros ou de diferentes aspectos clínicos e epidemiológicos,
associados à diversidade dos agentes etiológicos, reservatórios, e à influência do ambiente
(Rey, 1991).
De acordo com sua sintomatologia, o calazar pode ser classificado da seguinte forma:
inaparente, quando a evolução é silenciosa; aguda (clássica), cuja evolução é rápida e fatal;
oligossintomática, de sintomatologia leve, e, por fim, a forma crônica que é a mais comum,
cuja evolução é lenta, podendo durar anos com fases de remissão e recaída, alternando-se por
períodos de semanas ou meses (Rey, 1991; Castro, 1996). Uma outra forma de leishmaniose,
que ocorre na Índia, África e Sudão em pacientes que não receberam tratamento, ou mesmo
naqueles que foram tratados, é a leishmaniose dérmica pós-calazar, que se desenvolve
quando os parasitos não são completamente eliminados do organismo, podendo ressurgir na
pele (Neves, 1997; Rey, 1991).
Quanto ao período de incubação da doença, este é muito variável, sendo dificil de ser
determinado. Na literatura mundial existem registros de casos cujo período de incubação varia
de 10 dias a 3 anos. De acordo com Rey (1991), o período de incubação da doença na maioria
dos casos varia de 2 a 4 meses.
As leishmanias, ao penetrarem no homem, através da picada do inseto vetor,
multiplicam-se na derme e se disseminam por via hematogênica ou linfática, atingindo com
maior intensidade o figado, baço, linfonodos e medula óssea (Castro, 1996; Neves, 1997; Rey,
1991).
A suscetibilidade é universal, atingindo pessoas de todas as idades e de ambos os sexos,
com maior prevalência no sexo masculino. A faixa etária mais acometida está entre O e 10
anos, sendo a idade média de crianças acometidas pela forma clássica da doença entre 3 e 4
anos. A incidência da moléstia em relação à idade varia com os ''tipos epidemiológicos"
(Marzochi, 1981; Cesse, 1999).
Esta predisposição pode ser explicada pela imunodepressão, causada pela desnutrição
em indivíduos desta faixa etária, em áreas endêmicas. A evolução da infeção parece estar
associada a vários fatores como estado nutricional, padrão alimentar do paciente, estado
imunitário e a coexistência de outras patologias associadas (Marzochi, 1981). A ocorrência de
casos de leishmaniose visceral em pacientes com AIDS (Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida) tem sido descrita recentemente (Bittencourt e Barrai-Neto, 1995 apud Cesse,
1999).
Em relação ao diagnóstico da doença, este pode ser realizado com base na sua
sintomatologia, associada às evidências epidemiológicas. No entanto, a confirmação só é feita
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a partir do exame laboratorial, pela demonstração do agente etiológico através da pesquisa da
leishmania em esfregaços de medula óssea, baço, figado ou linfonodos. Tendo em vista sua
maior simplicidade técnica, menor risco e elevado percentual de resultados positivos, a
punção da medula óssea é o método mais indicado (Marzochi, 1981; Neves, 1991).
Segundo Rey (1991), é considerada como critério de cura a negativação do exame
parasitológico (baço ou medula) durante duas ou oito semanas, de acordo com a rapidez da
resposta. Em doentes não tratados o prognóstico é reservado, chegando à letalidade de 75% a
85% nas crianças, e 90% a 95% entre adultos. Atualmente, com a introdução da
quimioterapia, estes índices estão reduzidos a 23%.
No tratamento da leishmaniose visceral, a linha de medicamentos utilizada é constituída
pelos antimoniais pentavalentes, utilizados pela primeira vez por Gaspar Viana, em 1912. A /
primeira droga de escolha utilizada no país é o antimoniato de N-metil glucamina,conhecido
como Glucantime. Devido à toxicidade da droga, a sua administração quase sempre requer
internação (Neves, 1997).
Apesar de serem raros os casos de resistência a esta droga, está indicado o uso do
Lomidini e a Anfotericina B. Após o tratamento a recuperação do paciente, em geral, é rápida,
com desaparecimento dos parasitos, regressão da febre e redução do volume do baço e figado
(Marzochi, 1981; Rey, 1991; Neves, 1997; Castro, 1998).
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3. A CATEGORIA ESPAÇO NO ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS ENDEMIAS
Desde a antiguidade a relação entre o homem e o meio geográfico já é estudada, sendo o
trabalho de Hipócrates, sob o título "Dos ares, Dos Mares e Dos lugares", considerado corno a
primeira obra a tratar de Geografia Médica ou Geornedicina (Ferreira, 1991).
Com o surgimento da Geografia Crítica, fundamentada na corrente marxista da
geografia, é que a epiderníologia se identifica para compreender a categoria espaço. Os
primeiros trabalhos sistemáticos da Geografia Médica, relacionados à descrição da
distribuição espacial das doenças, são resultantes da aproximação entre a geografia científica
e a epidemiologia (Ferreira, 1991).
Sendo assim, Silva (1997), citado por Cesse (1999), relata que, para a compreensão da
ocorrência e distribuição das doenças nas populações, a categoria espaço antecede à
epidemiologia, entendendo o espaço corno um conjunto de determinantes geralmente de
origem biológica ou natural.
O conceito de espaço é definido por Santos (1997) corno um conjunto indissociável de
coisas, onde participam de um lado objetos geográficos, naturais, sociais, e, de outro, a vida
que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento. Todos os espaços são
geográficos, porque são determinados pelo movimento da sociedade e da produção, em que a
modernização da agricultura e a dispersão industrial introduzem novas formas de organização
espacial.
Sabroza (1991) elabora o conceito de espaço socialmente organizado situando-se além
da noção de superfície e área geográfica, e, por ser o produto de transformações e
acumulações, incorpora natureza e sociedade. Este autor considera a categoria espaço,
enquanto um recurso capaz de apreender processos relativos à reprodução social para explicar
·",
a ocorrência e distribuição das doenças, sendo esta categoria conseqüência do trabalho
humano através de transformações e acumulações sobre o trabalho anterior, onde a sociedade
e natureza são unidades.
O espaço geográfico é um espaço mutável, diferenciado e utilizado pelos homens para
sua existência, cuja aparência visível consiste na paisagem, considerando sempre um espaço
recortado e subdividido. O espaço e a paisagem não são sinônimos, pois esta representa o
conjunto da distribuição de formas-objetos (Dollfus, 1991).
Segundo Silva (1990), é neste espaço geográfico que se procura visualizar a doença,
pois ela se integra a este espaço e se transforma à medida que o espaço se transforma. Deste
modo, o espaço não é estático, e encontra-se em constante mudança, o que implica que a
doença esteja também em constante mudança.
Já para W. Moore (1963), citado por Santos (1986), "o espaço é uma condição do
comportamento passivo, variando quando o comportamento humano também varia". Para este
autor, somente o tempo é intrinsecamente dinâmico e o espaço não teria qualidades dinâmicas
se não fossem as mudanças nos valores, interesses e técnicas sociais.
No que se refere aos movimentos migratórios, o aumento da população humana,
associado ao desenvolvimento sócio-econômico, tem contribuído para o crescimento da
mobilidade das pessoas, pois vários problemas de saúde estão diretamente relacionados a
estes movimentos, visto que os indivíduos trazem e levam consigo agentes e vetores de um
local para outro, influenciando na freqüência das doenças (Pereira, 1995).
Barreto (1967) e Costa (1982), citados por Saltos & Lopes (1999), assinalam que os
movimentos migratórios influenciam na disseminação das endemias na medida em que
doentes são introduzidos em áreas até então indenes, bem como, a introdução de indivíduos
sãos em áreas endêmicas ou em focos enzoóticos, criando, desta forma, condições favoráveis
para a proliferação de vetores.
Ao estudar várias epidemias em migrantes da União Soviética, Pavlovsky elabora o
conceito de foco natural de doenças, definindo as moléstias como naturalmente endêmicas,
14
visto que sua transmissão depende de algum agente específico ou fator pertencente à natureza,
como por exemplo a presença do inseto vetor (Sabroza, 1991).
Diante dessas considerações, destacamos a leishmaniose visceral, enfermidade de ampla
distribuição e com ocorrência de surtos epidêmicos em várias cidades nordestinas, cujo vetor
adaptado à transmissão domiciliar no interior das habitações e em locais de aglomeração
(espaço desorganizado) garante as condições para que a transmissão dos agentes infecciosos
se concretize (Saltos & Lopes, 1999).
15
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4. O PROCESSO DE DESCENTRALIZAÇÃO DASENDENITASNOESTADODEPERNAMBUCO
• Programa de Controle da Leishmaniose Visceral- marco histórico aos dias atuais.
Desde as décadas de 30 e 40, os programas de controle de endemias como malária,
dengue, febre amarela, esquistossomose, leishmaniose, entre outras, ficam sob a
responsabilidade e são desenvolvidos pelos serviços nacionais (Brasi~ 1985).
A primeira campanha sanitária realizada no país ocorre em 1961, na cidade do Recife,
para o controle da epidemia de febre amarela, comandada pelo Marquês de Montebelo,
governador do Estado de Pernambuco (Brasil, 1994).
Com relação a leishmaniose visceral, suas atividades de controle são interrompidas no
período de 1964 a 1980, quando o aumento do número de casos da doença em vários estados
volta a preocupar as autoridades sanitárias brasileiras, cabendo à SUCAM (Superintendência
da Campanha de Saúde Pública), retomar as ações de campo, com a participação crescente de
estados e municípios. (Monteiro et. al., 1994).
Em 1970 é criada a SUCAM representando a racionalização organizacional e
administrativa da lógica de intervenções verticais no combate às endemias, principalmente as
de transmissão vetorial como malária, esquistossomose, peste, leishmaniose, febre amarela e
fllariose (Brasil, 1985).
No que se refere às atividades desenvolvidas no programa de controle da leishmaniose
visceral, a luta contra a sua disseminação baseia-se em desenvolver ações em três pilares: o
tratamento específico de todos os casos humanos; a detecção e eliminação do reservatório
canino, e o combate ao vetor através do uso de inseticidas de ação residua~ como o DDT
(l
(Diclorodifeniltricloroetano ). Tais ações, segundo alguns autores, quando realizadas de forma
contínua e bem conduzidas, conferem excelentes resultados (Alencar, 1958; Neves, 1991;
Rey, 1997;)
A origem da FNS ocorre em 1991, a partir da fusão da SUCAM com a FSESP -
Fundação de Serviços de Saúde Pública e o Departamento de Informática do Sistema Único
__p- de Saúde- DATASUS, com a marca do centralismo. Sendo assim, este órgão passa a exercer
o controle das endemias, em particular da leishmaniose visceral, como também assume o
papel de, em conjunto com as Secretarias Estaduais de Saúde, repassar os conhecimentos
técnicos sobre o controle desta endemia para os municípios (Brasil, 1994; Monteiro, 1994;).
Em Pernambuco, apesar da existência de registros de casos de leishmaniose visceral em
anos anteriores, só a partir de 1984 é que esta endemia passa a ser considerada problema de
saúde pública para o Estado, quando são registrados casos humanos de leishmaniose visceral
em áreas do litoral. Nesta época se inicia a "Campanha de Controle do Calazar", pela
Fundação Nacional de Saúde, com prioridade para os municípios que apresentam maior
número de casos da doença (Brasil, 1985 e 1994).
Estas ações tomam maior impulso a partir de 1988, com os recursos provenientes do
PCDEN- Projeto de Controle das Doenças Endêmicas no Nordeste, que é viabilizado através
de um acordo de empréstimo entre o Banco do Brasil e o Banco Internacional para
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), tendo como ~!>ktiv_o-r-eforçar__o governo brasileiro
no controle das endemias, através da prevenção e controle da transmissão de doenças, ----------mobiliZãÇão comunitária, pesquisas operacionais e desenvolvimento institucional. Com este
projeto, a SUCAM e a FNS tentam readequar o controle das endemias a uma lógica de ações
descentralizadas (Brasil, 1985).
O convênio PCDEN é assinado pela SES/PE, em 1993, e até o momento de sua
fmalização, em( 1996, as ações para o controle desta endemia, que são desenvolvidas ----- --- ____________________________ _____,
principalmente nos estados da região Nordeste onde a doença é endêmica, não chegam a ·-------··------------i
im12actar os níveis de incidência da do ç_a_(~il, 1994; Cesse, 1999; MS/CENEPI, 2000). ----~
As primeiras discussões sobre o processo de descentraliz~~ das endemias em - - -- ~---~------'
Pernambuco, principalmente no que se refere ao controle das leishmanioses, ocorrem em
17
/\
1995, através do "I Seminário Estadual sobre Descentralização de Controle das
Leishmanioses", promovido pela Diretoria de Epidemiologia e Vigilância Sanitária da
SES/PE, com a participação de vários técnicos de diferentes instituições e resultando na
elaboração de propostas para a implementação do programa de controle das leishmanioses no
Estado (Holmes et. al, 1995).
Atualmente, a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco desenvolve o ''Projeto de
Controle de Endemias", no qual, além da leishmaniose visceral, estão incluídos outros
agravos como filariose, peste, chagas, tracoma, entre outros. O objetivo deste projeto consiste
em fortalecer a vigilância epidemiológica dos municípios envolvidos, através de ca2_acitações ~ -·--
realizadas pela SES/PE e FNS, que recentemente passou a ser denominada de FUNASA.
Com relação a leishmaniose visceral, estão incluídos neste projeto inicialmente vinte e
quatro municípios, selecionados de acordo com os dados epidemiológicos dos últimos anos,
sendo "contemplados" aqueles que apresentam os seguintes critérios: maior número de casos
humanos da doença; elevado índice de infestação flebotomínica e maior percentual de
morbidade canina. São eles: Agrestina; Araripina; Altinho; Brejo da Madre de Deus;
Bezerros; Caruaru; Frei Miguelinho; Goiana; Ipojuca; Itamar~cá.;_ Lagoa Grande; Paulista; ~
Parnamirim; Petrolina; Riacho das Almas; Salgueiro; São Caetano; Santa Maria do Cambucá;
Santa Cruz do Capibaribe; Serra Talhada; Tamandaré; Taquaritinga do Norte; Toritama;
Vertentes.
Para subsidiar este projeto, está sendo elaborado um banco de dados sobre esta endemia
dos últimos cinco anos, a partir das fichas de notificação da FUNASA. Os dados estão sendo
agrupados por município, localidade e faixa etária. A partir destas informações, os municípios
passam a executar as ações de controle da leishmaniose visceral, inicialmente nas áreas mais
atingidas pela doença e, posteriormente, sendo ampliadas para todo o seu território.
A Secretaria de Saúde tem a proposta de ampliar este projeto para os demais municípios
do Estado, na lógica da descentralização, ou seja, avaliando a reformulação dos programas de
controle das endemias, qe modo a conseguir sua adequação aos princípios, diretrizes e
fmalidades do Sistema Único de Saúde-SUS, fortalecendo a execução das ações no nível
local, principalmente naqueles municípios que se encontram na condição de gestão Plena do
Sistema, de acordo com a Norma Operacional Básica~B/96.
18
,..-...,
.---.,,
OBJETIVOS
Geral
Realizar um estudo epidemiológico descritivo e espacial da leishmaniose visceral no
Estado de Pernambuco e por mesorregião no período de 1995 a 1999, considerando os
casos humanos, a positividade canina e a presença vetorial.
Específicos
> Verificar o coeficiente de detecção de casos humanos de calazar no Estado e por
mesorregião, identificando os municípios mais atingidos;
> Verificar o perfil de morbidade humana da doença quanto ao sexo, faixa etária,
ocupação e critério de diagnóstico;
> Verificar a distribuição da doença quanto à procedência urbano/rural;
> Verificar a positividade canina no Estado e sua relação com o casos humanos;
> Verificar o número de flebótomos capturados no Estado;
ASPECTOS METODOLÓGICOS
1. Tipo de Estudo
Para o desenvolvimento deste trabalho, é feito um estudo epidemiológico de cunho
descritivo de corte transversal. O estudo é realizado no Estado de Pernambuco, a partir das
fichas de notificação de casos humanos de leishmaniose visceral da FUNASA, registrados no
período de 1995 a 1999.
De acordo com Rouquayrol (1992) e Pereira (1997), o estudo transversal, também
denominado de vertical, seccional ou de prevalência, é bastante utilizado na epideiniologia e
se caracteriza por investigar simultaneamente a relação exposição/doença em uma
determinada população, em um certo período de tempo. Constitui-se de um bom método para
detectar freqüências de doenças nas populações, onde fator e efeito são observados no mesmo
momento histórico.
Ainda segundo estes mesmos autores, as vantagens para a sua realização se dão pelo
baixo custo, maior simplicidade operacional, alto potencial descritivo e pela aplicação prática
no planejamento e administração dos serviços. No entanto, limita-se pelo baixo poder
analítico, inadequação para testar hipóteses causais e para o estudo de doenças raras.
Primeiramente faz-se a revisão bibliográfica, quando são consultados diversos livros,
periódicos, textos e artigos de diferentes autores relacionados ao tema em questão. Em
seguida, parte-se para a coleta e tratamento dos dados.
2. Caracterização da Área de Estudo
O Estado de Pernambuco é formado por 187 municípios com uma população residente
de 7.580.826 habitantes, sendo 3.202.018 na área urbana e 4.378.808 na área rural (IBGE,
1999), conferindo-lhe uma densidade demográfica de 84,4 habitantes por :kn?. Em todo o seu
território, a população não se distribui de maneira uniforme, concentrando-se na região litoral
- mata, com diminuição à medida em que avança em direção leste -oeste.
Apresenta uma superfície de 98.937,8 km2 , com uma configuração longitudinal dentro
do espaço nordestino. A linha de costa estende-se por 187 km e a porção mais larga no
sentido Norte-Su~ corresponde a 240 km. Assim, partindo do litoral na direção Oeste, o
território pernambucano se alonga por 748 km (CONDEPE, 1992).
O Estado de Pernambuco apresenta diferentes formas de divisão territoria~ dentre as
quais destacamos a divisão político-administrativa, que para a SES/PE corresponde às dez
(10) Diretorias Regionais de Saúde -DIRES, e a divisão regional adotada pelo IBGE, que
divide o Estado em cinco (05) mesorregiões geográficas: Mata, Metropolitana, Agreste,
Sertão e Sertão do São Francisco. No referido estudo utiliza-se a divisão adotada pelo IBGE,
descritas a seguir.
DESCRIÇÃO DAS MESORREGIÕES
A mesorregião da Mata apresenta uma área de 11.237,9 km2, correspondendo a 11,4%
do território pernambucano. Localizada na porção leste do Estado, apresenta clima tropical
úmido com chuvas predominantes no outono-inverno que não ultrapassam dois mil
milímetros. Muito devastada, a vegetação corresponde às espécies arbóreas remanescentes da
antiga mata existente nessa região, e quanto a rede hidrográfica esta se caracteriza por
extensas várzeas e rios sinuosos (IBGE, 1992).
Com relação ao desenvolvimento econômico desta região, seu crescimento deve-se à
expansão da agroindústria açucareira, com predominância do cultivo de cana-de-açúcar. As
diferentes fases vivenciadas por esta forma de produção estão presentes na paisagem regional
através dos engenhos, com seus aspectos sociais e culturais, sinalizando um passado colonial
(CONDEPE, 1992).
21
Metropolitana
A região Metropolitana corresponde à área de maior concentração populacional, e que
reúne as principais atividades do setor secundário, caracterizada pela integração entre os
núcleos urbanos, através da prestação de serviços e movimento da força de trabalho. Esta área
é banhada pelos baixos cursos dos rios, especialmente o Capibaribe e Beberibe, que drenam a
região. A organização desse espaço esta intimamente relacionada aos condicionantes naturais
de clima, solo, vegetação e hidrografia, que influenciam o estabelecimento e a localização dos
primeiros engenhos açucareiros (IBGE, 1992).
Agreste
Com uma superficie de 24.490 km2 , o Agreste corresponde a porção central do
território pernambucano, e representa a área de transição entre a faixa litorânea, com clima
tropical úmido, e vastos pediplanos sertanejos (caatingas) de clima semi-árido. Não constitui
uma paisagem homogênea, mas sim uma sucessão de diferentes formas de organização do
espaço, em função da variedade do seu quadro natural. Associadas às áreas de vegetação de
caatinga, surgem áreas com um tipo de vegetação mais densa, que são os chamados brejos,
onde há maior índice pluviométrico e temperaturas mais amenas. Aí domina intensa
policultura e se desenvolve a atividade pecuária (IBGE, 1992; CONDEPE, 1992).
Sertão
A mesorregião do Sertão, corresponde à maior parte do território estadual com 63.209,8
W , sendo identificada no contexto semi-árido do território pernambucano em sua porção
norte-ocidenta~ na divisa dos Estados da Paraíba, Ceará e Piauí. Sua umidade ambiental é
dada pelo clima semi-árido com temperaturas elevadas, chuvas escassas e mal distribuídas
durante o ano, vegetação xerófita e rios temporários (IBGE, 1992; CONDEPE, 1992).
Sertão do São Francisco
Por fim, tem o Sertão do São Francisco que corresponde à porção centro-sul do
território pernambucano, na divisa dos Estados de Alagoas, Bahia e Piauí. Suas características
econômicas e ambientais se diferenciam das demais regiões de Pernambuco. O clima é quente
22
~'
e seco, com chuvas escassas, mal distribuídas e concentradas durante quatro a seis meses por
ano; as temperaturas são elevadas; os rios são intermitentes e a caatinga constitui a vegetação
predominante (IBGE, 1992).
ORGANIZAÇÃO DA REDE DE SAÚDE DO ESTADO
A rede de saúde do Estado de Pernambuco está organizada por serviços hospitalares,
serviços de atenção básica, serviços de atenção a grupos especiais e pela rede laboratorial. A
rede hospitalar é composta por um total de 280 hospitais credenciados com o SUS e 18.372
leitos contratados, sendo um total de 3.539leitos na rede pública estadual. Dentre os hospitais
existentes no Estado, cinco estão sob gestão estadual (Barão de Lucena, Getúlio Vargas,
Restauração, Hospital de Areias, Otávio de Freitas, e Agamenon Magalhães), como também
os Hospitais Regionais, com exceção do Dom Malan do município de Petrolina, que já se
encontra em gestão municipal.
No tocante aos serviços de atenção básica, estes são prestados pelas Unidades de Saúde,
Programas de Agentes Comunitários de Saúde (PAC'S), Programa de Saúde da Família
(PSF); rede laboratorial e por unidades de atenção a grupos especiais (psiquiatria, geriatria,
centros de reabilitação e fisioterapia), que são gerenciados pelo município. Com relação aos
serviços de alta complexidade, estes ainda se encontram sob gestão estadual.
O número de PAC'S atualmente implantados no Estado é em tomo de 311, com um
total de 9.576 Agentes Comunitários de Saúde. Com relação ao PSF, em 1995 Pernambuco
conta com apenas 4 equipes atuando somente em Camaragibe, município este pioneiro na
implantação deste programa, enfrentando muitas dificuldades de captação de profissionais
capazes de desenvolver práticas de trabalho em equipe multiprofissional. No ano de 1998,
este número sobe para 242 equipes distribuídas em 71 municípios, cobrindo cerca de 14% da
população. Até o momento, já estão implantadas no estado 369 equipes de PSF, com a grande
perspectiva da ampliação deste número.
POPULAÇÃO DE ESTUDO
A população de estudo é constituída pelo universo de casos humanos de leishmaniose
víscera~ notificados pela Coordenação Regional!FUNASA no período de 1995 a 1999 no
23
/""'-,
Estado de Pernambuco, sendo esta população representada por um total de 903 casos. Este
estudo é subsidiado ainda por informações referentes ao reservatório canino e o transmissor.
3. Fonte e Processamento dos Dados
As diferentes etapas do referido estudo são realizadas no Departamento de Saúde
Coletiva- NESC, do Instituto de Pesquisa Aggeu Magalhães/CpqAm/FIOCRUZ, na Secretaria
de Saúde do Estado de Pernambuco e na Diretoria de Epidemiologia e Vigilância Sanitária -
DIEVS.
Para construção do universo de estudo são utilizados dados secundários, obtidos a partir
das fichas de notificações dos casos humanos de leishmaniose visceral residentes no Estado,
da Coordenação do Programa de Controle das Leishmarlibses/FUNASA no períbdo de 1995 a
i999, cotrto tatrlbém, iiiforhiações referetites ao itlctuerito caiiino e entomológico.
Pafà a seleção das variáveis sâo consideradas as informaçõ~~ contidas nas fichtis de
notificação (anexo 01), sendo seleciothtdas, para a análise dos casos humanos, as variáveis
sexo, faixa etária, ocupação, procedência (urbano/rural) e tipo diagnósticd; para o reservatório
canino utilizam-se as variáveis lo6atlUades trabalhadas; amostras de sangue coletadas,
examirladas e positivas, e número de Óâes eliminados; e para o vetor, o número de unidades
domici1iarês pesquisadas e flebótomó~ ea~turados intra e extra-domicíliáf (anexo 02).
íhlcialmente é elaborado um ciü~stionário (anexo 3) contendd todas as variáveis
selecioruidàs para o estudo, sendo poste~ormente digitado no programa bperacional Epilnfo
6.4., seiid.o os dados analisados atra~ês d~ freqüências simples. Para a totistrução de tabelas,
grâflbos e inapas utilizam-se os soAwir~~ Word, Excel, e Mapinfo, e~ para o cálculo das
ib.cidêft<!\iU~ usa-se como fonte de da~~~ ~bpulacionais o programa TÁ13\VtN.
24
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Aqui se apresenta o perfil da leishmaniose visceral no Estado de Pernambuco, a partir
das informações oriundas da Coordenação Regional/FUNASA/PE, no período de 1995 a
1999. Todos os dados são distribuídos em tabelas, quadros, gráficos e mapas temáticos, com a
finalidade de responder os objetivos propostos para este estudo.
Com relação ao objetivo específico 1, é apresentado, no Gráfico 2, o coeficiente de
detecção da leishmaniose visceral no Estado de Pernambuco, no período de 1995 a 1999.
Visualiza-se o pico da doença no ano de 1995, com declínio nos anos posteriores, e tendência
a ascensão em 1999.
GRÁFICO 2 -Leishmaniose Visceral. Coeficiente de Detecção no Estado de PERNAMBUCO no período de 1995 a 1999.
~ 30 111 ;; 25 Q
~ 20 Q
l:; 15 ~ ~ 10 'tJ
-3 5 ...: 8 o u
95 96 97
Ano
98 99
Fonte: FUNASA/Coordenação Regional do Estado de Pernambuco/Programa de Controle da Leishmaniose Visceral.
Para fins de comparação demonstram-se, no Gráfico 3, as notificações dos casos
humanos de leishmaniose visceral realizadas durante o mesmo período por três fontes
notificadoras: Coordenação Nacional, Coordenação Regional e o SINAN (Sistema de
Informação de Agravos de Notificação). Esta última passa a ser utilizada no país no início da
década de 90. Observa-se a divergência das informações entre as duas Coordenações nos anos
de 95, 96 e 99. O SINAN corresponde à fonte notificadora que mais se destaca quanto à
distorção das informações durante o período em questão.
GRÁFICO 3 - Comparação das notificações entre a Coordenação Nacional, Coordenação Regional e o SINAN. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
300 250
11) o 200 111 t\1 (,) 150 Gl 't)" 100 o z
50 o
95 96 97 98 99
Ano
l_._c.Nacional --11-C. Regional .. ~~,~--SINAN I
Fonte: SINAN/GT-FOCAIS/CCDIV/CENEPJ/FUNASA Coordenação Regional. Prog. de Controle das Leishmanioses/PE.
Quanto ao coeficiente de detecção dos casos de leishmaniose visceral por mesorregiões
do Estado, estes podem ser observados no Gráfico 4. Percebe-se que no Sertão do São
Francisco a endemia apresenta-se com índices elevados até 1997, enquanto que na região do
Sertão esta taxa diminui progressivamente. No entanto, apesar do declínio da taxa de detecção
da doença no Sertão do São Francisco, a partir do ano de 1998 a ascensão parece estar
presente, juntamente com as regiões do Agreste e Mata.
GRÁFICO 4. Leishmaniose Visceral. Coeficiente de Detecção por Mesorregião no Estado de PERNAMBUCO, 1995-1999.
14,00
.ci 12,00 111 = c· 10,00 c c c c 8,00 .... ~ .! 6,00 Gl 'g
Gl 4,00 'g
...: Gl
2,00 o u
0,00 95 96 97 98 99
Ano
I__._RM -li-Mata --~,...-Agreste -li-Sertão --11-S.Francisco I
Fonte: FUNASA/Coordenação Regional de Pernambuco. Programa de Controle das Leishmanioses/PE
Os mapas 1, 2, 3, 4, e 5 mostram a coeficiente de detecção da leishmaniose visceral em
Pernambuco, segundo mesorregião. Observa-se a sua expansão geográfica comparando-se os
anos de 95 e 99, principalmente na região do Agreste.
27
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MAPA1
PERNAMBUCO. COEFICIENTE DE DETECÇÃO DA LEISHMANIOSE VISCERAL POR MESORREGIÃ0.1995
COEFICIENTE DE DETECÇÃO /100.000 hab.
1o-1s • 6-1o 4-6 D 1-4 D o-1
ITANA
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MAPA2
PERNAMBUCO. COEFICIENTE DE DETECÇÃO DA LEISHMANIOSE VISCERAL POR MESORREGIÃ0.1996
COEFICIENTE DE DETECÇÃO /100.000 hab.
111o-1s 4-s D 1-4 D o-1
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MAPA3
PERNAMBUCO. COEFICIENTE DE DETECÇÃO DA LEISHMANIOSE VISCERAL POR MESORREGIÃ0.1997
COEFICIENTE DE DETECÇÃO /100.000 hab.
6-1o 4-6 CJ 1-4 D o-1
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MAPA4
PERNAMBUCO. COEFICIENTE DE DETECÇÃO DA LEISHMANIOSE VISCERAL POR MESORREGIÃ0.1998
COEFICIENTE DE DETECÇÃO /100.000 hab.
D 1-4 o 0-1
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w N
MAPAS
PERNAMBUCO. COEFICIENTE DE DETECÇÃO DA LEISHMANIOSE VISCERAL POR MESORREGIÃ0.1999
COEFICIENTE DE DETECÇÃO /100.000 hab.
6-1o 4-6 D 1-4 D o-1
ITANA
Na Tabela 1 estão identificados os municípios mais atingidos pela leishmaniose
visceral, segundo mesorregião, com ênfase naqueles municípios que apresentam mais de
cinco casos da doença. De acordo com a tabela abaixo, observa-se que o Agreste corresponde
à região que apresenta um maior número de municípios atingidos pela doença, principalmente
no ano de 1999.
TABELA 1 - Municípios mais atingidos com casos de leishmaniose visceral segundo Mesorregião. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
Agreste Altinho; Altinho; Agrestina; Altinho; Belas; Bom Caruaru; Altinho; Caruaru Altinho; Caruaru;
Conselho São Caetano; Caruaru; Sta. Maria do Sta. Cruzdo São Caetano Cambucá;Surubim Capibaribe Toritma; Vertentes;
São Caetano Sertão Araripina Serra Talhada Parnamirim;
Sertão do Petrolina Petrolina; Petrolina Petrolina
Programa de
Para responder ao objetivo específico dois, apresentam-se os Gráficos 5 e 6. Neles,
visualiza-se a distribuição dos casos de leishmaniose visceral segundo sexo e faixa etária
respectivamente. Destaca-se a sua predominância no sexo masculino e na faixa etária de O a 9
anos, em todo o período de estudo
GRÁFICO 5 - Leishmaniose Visceral. Distribuição percentual dos casos humanos segundo faixa etária. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
70,0 60,0
iu 50,0 40,0
~ 30,0 ';f!. 20,0
10,0 0,0
95
I •Ign
96 97
Ano
98 99
•o-9 anos El10-19 anos liil20 e+
Fonte: FUNASA/Coordenação Regional de Pernambuco. Programa de Controle das Leishmanioses.
r--,
GRÁFICO 6- Leishmaniose Visceral. Distribuição percentual dos casos humanos segundo sexo. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
70,00
60,00
8 50,00 0 40,00 cu (,)
Cl) 30,00 "C '$. 20,00
10,00
0,00 95 96 97 98 99
Ano
!•Masculino •Feminino I
Fonte: FUNASNCoordenação Regional de Pernambuco. Programa de Controle das Leishmanioses.
A partir do Gráfico 7 apresenta-se a distribuição percentual dos casos notificados,
segundo ocupação. Percebe-se que, na maioria dos casos, a informação referente a ocupação
não é registrada, tendo em vista o alto índice de "ignorados", variável esta que compromete o
estudo, dificultando portanto análise. Deste modo, excluindo-se esta última "categoria",
observa-se que o trabalhador rural é o mais acometido pelo leishmaniose visceral, durante o
período em estudo, principalmente no ano de 1998, com aproximadamente 20% dos casos
detectados.
GRÁFICO 7- Distribuição percentual dos casos de leishmaniose visceral segundo ocupação. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
95 96 97
ArD
98 99
I• T rab. Rural •O:lmést. li Estud. lillgn • Outros* I Fonte: FUNASNCoordenação Regional. Programa de Controle das Leishmanioses!PE * motorista. pescador, servente, pedreiro, carpinteiro, comerciário, marcineiro, aposentado, vaquaeiro etc ...
34
r\
i\
No que se refere aos critérios de diagnóstico utilizados para a confirmação dos casos
humanos de leishmaniose visceral, estes podem ser observados na Tabela 2. Nela, percebe-se
que, em sua maioria, os casos são confirmados pelo Critério Clínico Epidemiológico e
Laboratorial (CEPL), sendo os demais apenas pelo Critério Clínico Epidemiológico (CCE).
TABELA 2- Leishmaniose Visceral. Casos confirmados segundo critério diagnóstico. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
Quanto ao 3° objetivo específico, demonstra-se no Gráfico 8 o percentual de casos
humanos de leishmaniose visceral segundo procedência urbano/rural, sendo percebida sua
maior ocorrência na zona rural. No entanto, o registro de notificações na zona urbana se
mantém nos anos de 95 a 98, com uma redução em 1999.
GRÁFICO 8 -Distribuição percentual dos casos de leishmaniose visceral segundo procedência urbano/rural. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
UI o B Gl "C
~
95 96
IIUrb.
97 98 99
Ano
•Rural illng
Fonte: FUNASA/Coordenação Regional. Programa de Controle das Leisbmanioses/PE
Com relação ao reservatório canino, correspondente ao 4° objetivo específico, a Tabela
3 apresenta os resultados dos inquéritos sorológicos realizados no período de estudo,
relacionando o número de amostras de sangue coletadas, examinadas, positivas e número de
cães eliminados. Observa-se que em 1998 há um aumento na realização das ações para o
inquérito canino. Já em relação ao número de cães eliminados, observa-se que o ano 1997 é o
que elimina um maior número de animais, 3.179. Em 1999, observa-se uma redução no
desenvolvimento das ações de controle do reservatório canino, no entanto é maior percentual
de cães positivos.
TABELA 3 -Número e percentual de amostras de sangue coletadas, examinadas, positivas e número de cães eliminados, PERNAMBUCO, 1995- 1999.
O Gráfico 9 mostra o percentual de positividade canina em Pernambuco no período de
96 a 99. Nele, visualiza-se uma tendência crescente da doença nos cães no ano de 1999, com
3% de positividade. O ano de 1995 não é assinalado, tendo em vista a ausência de registros
referente aos testes sorológicos realizados neste período.
GRÁFICO 9 - Leishmaniose Visceral. Distribuição percentual da positividade canina. PERNAMBUCO, 1996 a 1999.
3,50 3,00
.w 2,50 "iii o 2,00 a. Cll 1,50
"1:1 ::.!! o 1,00
0,50
96 97 98 99
Ano
Fonte: Programa de Controle das Leishmanioses. Coordenação Regiona1/FUNASA/Pernambuco.
36
No Gráfico 1 O, a seguir, apresenta-se a relação entre o número de casos humanos de
leishmaniose visceral e o percentual de positividade canina. Percebe-se que não há uma
relação óbvia entre a soroprevalência do calazar canino e o registro de casos humanos. Este
fato pode ser explicado pelo tipo e qualidade das informações geradas pela FNS, sendo
possível que a positividade canina não esteja corretamente retratada.
GRÁFICO 10- Leishmaniose Visceral. Soro-reatividade canina versus casos humanos.
11) 3,50 o ~ 3,00 Cll 2,50 o Q. 2,00 11) Q) 1,50 ltU u 1,00 Q)
"tJ 0,50 '?ft
PERNAMBUCO, 1996a 1999.
96 97 98 99
Ano
1-Jl.il- Cães Positivos --+-Casos Humanos I
250
200 11) o 11) 11) o
150 ~ i 100 ~ § 50 z .c
o
Fonte: Programa de Controle das Leishmanioses. Coordenação Regional/FUNASA/Pernambuco
O objetivo específico 5, correspondente ao número de flebótomos capturados no intra e
no extra domicílio, está respondido na Tabela 4. É possível observar que a maioria dos
flebótomos estão presentes no extra domicílio (peridomicílio ). O ano de 1997 não é analisado,
tendo em vista a ausência de registros referente às ações de controle do vetor neste ano.
TABELA 4 -Número de flebótomos capturados no intra e extra domicílio. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
Apresenta-se, na Tabela 5, apenas para título de conhecimento, o número de
localidades trabalhadas e unidades domiciliares pesquisadas no desenvolvimento das ações de
37
""',
controle do vetor realizadas neste período. O ano de 1999 destaca-se por apresentar um
crescimento na realização dessas ações no Estado, com um total de 3.262 unidades
domiciliares pesquisadas. Já ano de 1997 não apresenta registros quanto ao desenvolvimento
dessas ações.
TABELA 5 - Número de localidades trabalhadas e unidades domiciliares pesquisadas para o Inquérito Entomológico. PERNAMBUCO, 1995 a 1999.
38
~,
"",
DISCUSSÃO
Como já descrito anteriormente, sendo a leishmaniose visceral considerada uma
endemia de ampla distribuição geográfica com tendência a expansão, atualmente constitui-se
num objeto de estudo de grande importância, na medida em que se encontra estabelecida em
dezenove estados brasileiros, com mais de 90% dos casos registrados no Brasil concentrados
na região Nordeste, uma das regiões de mais baixa qualidade de vida.
No que se refere à detecção da doença em Pernambuco, os resultados ora apresentados
apontam para o aumento de casos da doença, confirmando sua endemicidade e expansão no
referido Estado, sendo observado que na área rural a doença ainda é prevalente. Porém, nos
últimos anos há registros de casos em áreas urbanas e, alguns estudos já indicam estes fatos.
Andrade (1996), assinala que 44% dos casos de leishmaniose visceral da região do Sertão é
proveniente do município de Petrolina, sendo a maioria de origem urbana. Bezerra et. al.
(1997), Saltos & Lopes (1999) e, Cesse (1999) ao realizarem estudos em alguns municípios
de Pernambuco, como Itamaracá e Petrolina nos anos de 1997 e 1999 respectivamente,
também apontam a expansão dessa endemia para áreas urbanas.
No entanto, a partir das informações oriundas das fontes oficiais disponíveis é difícil
acompanhar tais transformações no perftl epidemiológico desta doença. As informações sobre
os casos humanos de leishmaniose visceral obtidas a partir das fichas de notificação da
Coordenação Regional/FUNASA, não coincidem com aquelas geradas pela Coordenação
Nacional e tão pouco com aquelas registradas pela Secretaria de Saúde (SINAN). Este fato
agrava o entendimento sobre a real situação da leishmaniose visceral no Estado, em virtude da
incompatibilidade dos dados gerados por essas fontes notificadoras, demonstrando a
necessidade urgente de reformular o sistema de vigilância epidemiológica, bem como,
demonstram a necessidade de investimentos em mais estudos e pesquisas científicas que
corroborem para a elucidação desses fatos.
Tal situação corrobora, ainda, para um melhor entendimento de um perfil clássico da
leishmaniose visceral, que é o seu ciclo decenal de picos epidêmicos, já relatado por Sherlock
Analisando a distribuição da leishmaniose visceral por mesorregião, constata-se mais
uma vez uma mudança do seu comportamento no estado. Já freqüente nas Regiões do Sertão e
Sertão do São Francisco, observamos mais recentemente uma expansão no Agreste, região
correspondente à porção central do território pernambucano, representando a área de transição
entre a faixa litorânea, com clima tropical úmido, e vastos pediplanos sertanejos (caatingas)
de clima semi-árido.
O Agreste corresponde à região com um maior número de municípios atingidos pela
leishmaniose visceral, merecendo destaque os municípios de Caruaru, São Caetano e Altinho,
com mais de dez casos da doença em quase todos os anos de estudo. Este fato talvez possa
estar relacionado com as características fisiográficas e climáticas da região.
Segundo Andrade (1996), em Pernambuco a quase totalidade dos municípios com casos
humanos de leishmaniose visceral têm clima semi-árido ou são vizinhos de municípios com
este tipo de clima. Fato semelhante é citado por outros estudos, quando é evidenciada a
ocorrência da doença em regiões assoladas por secas periódicas com temperaturas elevadas e
baixo grau de umidade, apresentando assim, condições favoráveis para a colonização e
permanência do vetor (Alencar, 1958; Rey, 1991; Condepe, 1992; Neve, 1997; Marzochi,
1997). No entanto, vale salientar, que o registro da variável município/localidade na ficha de
casos humanos é falho, uma vez que no local onde deve ser registrado o município/localidade,
consta o nome de rua, bairro ou até mesmo nenhum registro, dificultando uma análise mais
rigorosa.
No que conceme a faixa etária e ao sexo, o comportamento da doença segue o padrão
daquele descrito pela literatura revisada. Deste modo, predomina no sexo masculino e na faixa
etária de 0-9 anos, fato este atribuído por alguns autores à condição de imunodepressão
causada pela desnutrição, geralmente observada em indivíduos desse grupo populacional em
áreas endêmicas. É sabido que a leishmaniose visceral é uma doença social e que se dissemina
em regiões de baixo nível sócio econômico (Marzochi, 1981; Bittencourt, 1995 apud Cesse,
1999)
40
Quanto a ocupação, destaca-se novamente a dificuldade de utilizar os dados disponíveis,
pois esta variável não é preenchida corretamente, ou, às vezes, não existe o preenchimento
desta categoria, resultando em um percentual significativo de "ignorados" em todos os anos
do estudo, prejudicando mais uma vez uma análise mais apurada.
Porém, é importante destacar que a ocupação trabalhador rural corresponde a categoria
que é mais acometida pela doença. A ocupação doméstica também é referenciada e, isto pode
estar relacionado com a presença do vetor no peridomicílio, atingindo dessa forma uma
categoria de ocupação que permanece a maior parte do tempo em sua própria residência. A
este fato atribui-se a proximidades das residências a mata, "boqueirões e "pés-de-serra",
locais considerados de fácil colonização para o vetor, como também, a presença de vários
animais domésticos no peridomicílio, em particular o cão, que se constitui em fonte de
alimento para os flebótomos. Estes achados assemelham-se àqueles encontrados na literatura
consultada (Saltos & Lopes, 1999; Cesse, 1999).
Com relação aos critérios de diagnóstico para confirmação dos casos de leishmaniose
visceral, o critério clínico epidemiológico associado ao exame laboratorial foram os mais
utilizados, com um total de 565 casos encerrados por este tipo de critério. De acordo com a
literatura, a confirmação dos casos é feita através da pesquisa do parasita em esfregaços de
medula óssea, baço, figado ou linfonodos (Marzochi, 1981; Neves, 1991). Vários fatores
dificultam o diagnóstico precoce da leishmaniose visceral como, a ausência de laboratórios
adequados de apoio diagnóstico nos hospitais públicos, e o grande despreparo dos
profissionais de saúde, principalmente dos hospitais e postos de saúde do interior, sobre o
conhecimento da clínica da doença, levando muitas vezes indivíduos a óbito por falta de
assistência médica.
Quanto à procedência urbano/rural da doença, inicialmente procede-se a análise
identificando estas variáveis a partir das informações preenchidas. Quando no formulário tem
o nome sítio/fazenda, o caso é considerado como procedente de zona rural, e quando
apresenta o nome bairro/cidade, classifica-se como zona urbana, porém, esta tentativa de
classificação é muito dificil, pois os dados referentes ao endereço são preenchidos de forma
incompleta. Apesar dos resultados obtidos revelarem um maior percentual de casos em áreas
rurais, é crescente o número de notificações na área urbana, o que já vem sendo observado em
41
diversos estudos acerca da ocorrência de surtos epidêmicos urbanos no Rio de Janeiro, Piauí,
Teresina, Maranhão, Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, e em Pernambuco (Marzochi et al,
1981; Monteiro, 1994; Costa, 1995; Cesse, 1999).
Diante dessas considerações, pode-se atribuir o processo de urbanização da endemia a
vários fatores como a descontinuidade do serviço de entomologia, redução das operações com
inseticida realizadas pela FUNASA, domiciliação do vetor, e instalação da população
migrante em locais de poucos recursos, ocupando de forma desorganizada o espaço situado no
limite da cidade com a mata.
No que se refere ao controle do reservatório canino, observa-se que no período de
estudo há uma redução na realização dos testes sorológicos no ano de 1999, com uma
diferença de 50.000 amostras em relação ao ano anterior. Estes fatos podem ser explicados
pelo desmonte da FUNASA ocorrido nas últimas décadas, como também, o próprio processo
de descentralização que vem se dando de forma muito lenta e com grandes resistências. Desta
forma, enquanto os municípios não estiverem capacitados para desenvolver tais ações, esta
situação tende a se agravar.
Assim ao observar o percentual de positividade canina, é notório que o controle da sua
infeção não apresenta grande eficácia para reduzir os níveis de endemicidade humana no
Estado. Além disso, sabe-se que a sorologia canina não tem valor per si, mas sim associado
aos dados da distribuição do vetor. Por outro lado, este fato também pode ser explicado pelo
tipo e qualidade das informações que são geradas pela FNS, sendo possível que a positividade
canina não esteja corretamente retratada.
Por fim, os resultados obtidos sobre o inquétiro entomológico a partir da presença do
vetor no peridomicílio reforça a ocorrência da infeção nos canídeos e no homem. No entanto,
os dados obtidos não permitem uma análise quanto à distribuição flebotomínica no Estado ao
longo dos anos de estudo, o que seria crucial para auxiliar nas demais ações de controle, pois
segundo Andrade (1996) o conhecimento da distribuição da fauna :flebotomínica em uma
determinada área antecede a realização do inquérito canino. É importante mencionar a
inviabilidade de identificar quais municípios realizam inquérito entomológico no período,
pois as fichas de notificação são muito falhas quanto ao preenchimento das informações.
42
CONCLUSÕES
Após análise deste estudo, obtém-se as seguintes conclusões:
• No que se refere ao sistema de informação, são encontradas várias dificuldades nas
diferentes etapas da construção do estudo, principalmente no que conceme ao sub
registro, e má qualidade das informações geradas (preenchimento das fichas). Este fato
resulta na divergência das informações notificadas pela Coordenação Nacional, Regional e
o SINAN, impossibilitando desta forma, uma análise mais aprofundada do tema em
questão;
• Apesar das limitações encontradas, considera-se que as fontes pesquisadas apontam para
questões importantes que determinam uma aproximação com a realidade existente;
• Os dados consolidados neste estudo demonstram uma expansão da doença nas
mesorregiões e, mais recentemente, para região do Agreste, que também apresenta um
maior número de municípios atingidos pela leishmaniose visceral, em relação às demais
regiões;
• Os dados revelam que a leishmaniose visceral no Estado de Pernambuco, ainda é
prevalente na zona rura~ no entanto há registros da doença em áreas urbanas, fato este já
comprovado em alguns municípios;
• A leishmaniose visceral é predominante no sexo masculino e na faixa etária de 0-9 anos;
• Excluindo-se a categoria dos "ignorados", o trabalhador rural corresponde a ocupação
mais atingida pela doença;
• Quanto ao critério para diagnóstico dos casos, o clínico-epidemiológico associado ao
laboratorial é o mais utilizado;
• A positividade canina tende a aumentar nos últimos anos, principalmente em 1999;
• Os flebótomos são encontrados em maior densidade próximo ao peridomicílio, onde
existe criação de animais;
RECOMENDAÇÕES
• Recomenda-se a reformulação das fichas de coleta de dados, bem como a criação de um
sistema de informação ligado em rede, de maneira que as informações sejam similares em
todas as fontes notificadoras, capazes de proporcionar subsídios para o planejamento de
atividades, gerenciamento e controle efetivo;
• Sugere-se, também, que sejam realizados estudos e pesquisas sobre a distribuição
flebotomínica no Estado;
• Toma-se, imprescindível, o d~~eiJip:t!>ivúhento de um trabalho integrado com órgãos
federais e estaduais para o desettvttí.titnento de ações de combate a leishmaniose visceral,
com metas definidas a atingir.
44
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47
Ficha FUNASA/Notificação de casos humanos (Anexo OI)
M.S. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE COORDENAÇÃO REGIONAL PROGRAMA DE CONTROLE DAS LEISHMANIOSES
RELAÇÃO/NOTIFICAÇÃO DOS CASOS DE LEISHMANIOSE VISCERAL (CALAZAR)
N" DE NOME DO PACIENTE SEXO IDADE OCUPAÇAO DATADO UF LOCAL DE OCORRENCIA ORDEM RELACIONA COM INÍCIO DOS (PROVÁVEL
A TRANSMISSÃO SINTOMAS CONTÁGIO MUNICIPIO
TOTAL NOMES ACUMULADO NO ANO
CCE: Somcntc caractcristicas CHnica • Epidcmiológica. CEPL: Caractcristicas Clínica· Epidt:miológica + positividade;: laboratorial. ING: Ignorndo. EPD: Exame;: Parasitológico Direto. PS: Prova Sorológica
LOCAL DE
LOCALIDADE
NfÊS· BASE DE REGISTRO DO CASO CCE CCE+
CCEL
ANO· EXAMES OBS LABORATORIAIS
EPD PS OUTROS !
( c c c ( ( c ( ( ( ( c ( c c c ( ( c c ( c (. ( ( (.c c·( ( ( ( ( ·( ( ( ( ( c ( ( c ( ( .( ( c c (
· Ficha FUNASA/Ações de Controle e Profilaxia (Anexo 02)
. PROGRM1~Q~k~~_QAS LEISHMANIOSES: CAL AZAR D D
M.S. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE COORDENAÇÃO REGIONAL RELATÓRIO ESTATÍSTICO MENSAL ATIVIDADES DE LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO E PROFILAXINCONTROLE
No DE MUNICIPIO POR DISTRITO INQUERITO CANINO ORDEM
LOC. PRED. CASAS AMOSTRAS DE SANGUE P/ TRAB. VISIT. TRAB. EXAMES SOROLÓG!COS
CO L. EXAM. POS. %
. <;y;,:,·:: . :_{·· . ::•·!'·':
.J .~:;~~'i\C.···.
LTA
INQUERITO ENTO~OLOGICO (LEV. FLEBOTOMINICO) LOC. U.D. FLEB. CAPTU TRAB PESQ.
I.D. E.D.
PROFILAXINCONTROLE
CONTROLE RESR. OPERAÇAO INSETICIDA CANINO
TRAT. RESlD. TRAT. ESPACIAL
LOC. CAES LOC. u. D. LOC. U. D. TRAB. ELIM. TRAB. TRAB. TRAB . TRAB
c c c c c c < c c c c c c c c c c c c · c c c c ·c c c · c c ·c c c c . c ·c c c c c c c c c c c .c . c c c c
PLANO DE ANÁLISE (Anexo 03)
.. ~. 1. CASOS HUMANOS
e casos por mumctpto, por ano MUNICIPIO No de No de No de No de No de
casos/95 casos/96 casos/97 casos/98 casos/99
-·--
e casos por sexo, por ano. ANO SEXO
."\ 1995 FEM MASC 1996 1997 1998 1999
e casos por atxa-e ana, por ano. fi' t, . r"\ FAIXA ET ARIA No de No de No de No de No de
casos/95 casos/96 casos/97 casos/98 casos/99 O a09 10 a 19 20e+
------ ..
e casos por ocupaçao, por ano. OCUPAÇÃO No de No de ~ de No de No de
casos/95 casos/96 casos/97 casos/98 casos/99
-
.. . ..
2. INQUÉRITO CANINO
a) No de amostras de sangue coletadas~ por município. (ICSANGCOL) b) N° de amostras de sangue examinadas por município. (ICSANGEXAM) c) N° de amostras de sangue positivas por município. (ICAMOSPOS)
Município 1997 1998 1999 Amostras de Sangue Amostras de Sangue Amostras de Sangue
Colet. Exam. Postv. % Colet. Exam. Postv. % Colet. Exam. Postv. %