implementação de estratégias - barreiras e facilitadores

21
PROFUTURO: PROGRAMA DE ESTUDOS DO FUTURO Editor científico: James Terence Coulter Wright Avaliação: Doublé Blind Review pelo SEER/OJS Revisão: Gramatical, normativa e de formatação Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 São Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011 38 IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS: BARREIRAS E FACILITADORES EVIDENCIADOS NA LITERATURA BRASILEIRA ESPECIALIZADA Diego Iturriet Dias Canhada Universidade Federal do Paraná [email protected] Natália Rese Universidade Federal do Paraná, [email protected] RESUMO Nesse artigo busca-se reunir as evidências empíricas das principais barreiras e facilitadores da implementação de diferentes estratégias nas organizações no Brasil. Trata-se de um ensaio teórico que parte da corrente de estudos que concebe a estratégia como uma prática social, com conclusões baseadas em pesquisas nas principais publicações brasileiras de 2000 a 2007. A intenção é de responder simultaneamente a três questões colocadas pelos estudiosos de estratégia no Brasil: a publicação de estudos teóricos tem diminuído consideravelmente nos encontros especializados em nosso país, podendo cair em um empirismo sem grandes reflexões teóricas; a área possui posição colonizada frente aos estudos anglo-saxônicos e; há uma carência de estudos sobre os processos de implementação de estratégias, já que o foco de pesquisas é em relação a formulação de estratégias. Não se descarta reflexões e consultas a literatura internacional nesse estudo, em especial nos aportes teóricos da estratégia como prática, mas busca-se reunir conhecimento nacional que ilustre a realidade das organizações brasileiras sobre o assunto. No artigo conclui-se que alguns fatores que facilitam a efetiva implementação de estratégias podem se constituir em barreiras, dependendo como a estratégia é realizada pelos indivíduos e grupos em constante interação nas organizações. Palavras-Chave: Implementação de estratégia. Estratégia como prática. Estratégia no Brasil.

Upload: aiude

Post on 22-Nov-2015

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • PROFUTURO: PROGRAMA DE ESTUDOS DO FUTURO Editor cientfico: James Terence Coulter Wright Avaliao: Doubl Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de formatao

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    38

    IMPLEMENTAO DE ESTRATGIAS: BARREIRAS E FACILITADORES

    EVIDENCIADOS NA LITERATURA BRASILEIRA ESPECIALIZADA

    Diego Iturriet Dias Canhada

    Universidade Federal do Paran

    [email protected]

    Natlia Rese

    Universidade Federal do Paran,

    [email protected]

    RESUMO

    Nesse artigo busca-se reunir as evidncias empricas das principais

    barreiras e facilitadores da implementao de diferentes estratgias nas

    organizaes no Brasil. Trata-se de um ensaio terico que parte da

    corrente de estudos que concebe a estratgia como uma prtica social,

    com concluses baseadas em pesquisas nas principais publicaes

    brasileiras de 2000 a 2007. A inteno de responder simultaneamente

    a trs questes colocadas pelos estudiosos de estratgia no Brasil: a

    publicao de estudos tericos tem diminudo consideravelmente nos

    encontros especializados em nosso pas, podendo cair em um empirismo

    sem grandes reflexes tericas; a rea possui posio colonizada frente

    aos estudos anglo-saxnicos e; h uma carncia de estudos sobre os

    processos de implementao de estratgias, j que o foco de pesquisas

    em relao a formulao de estratgias. No se descarta reflexes e

    consultas a literatura internacional nesse estudo, em especial nos aportes

    tericos da estratgia como prtica, mas busca-se reunir conhecimento

    nacional que ilustre a realidade das organizaes brasileiras sobre o

    assunto. No artigo conclui-se que alguns fatores que facilitam a efetiva

    implementao de estratgias podem se constituir em barreiras,

    dependendo como a estratgia realizada pelos indivduos e grupos em

    constante interao nas organizaes.

    Palavras-Chave: Implementao de estratgia. Estratgia como prtica.

    Estratgia no Brasil.

  • PROFUTURO: PROGRAMA DE ESTUDOS DO FUTURO Editor cientfico: James Terence Coulter Wright Avaliao: Doubl Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de formatao

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    39

    IMPLEMENTATION STRATEGY: BARRIERS AND FACILITATORS

    HIGHLIGHTED SPECIALIZES IN BRAZILIAN LITERATURE

    ABSTRACT

    In this article we seek to gather empirical evidence of the main barriers

    and facilitators of the implementation of different strategies in

    organizations in Brazil. This is a paper that part of the current study that

    sees the strategy as a social practice, with conclusions based on research

    in the main Brazilian publications from 2000 to 2007. At work we seek to

    respond simultaneously to three questions posed by scholars of strategy

    in Brazil: the publication of theoretical studies has decreased

    considerably in specialized meetings in our country and may well fall into

    an empiricism without major theoretical reflections, the area has settled

    forward position studies and Anglo-Saxon, there is a lack of studies on

    the processes of implementation strategies, since the focus of research is

    predominant in relation to strategy formulation. Do not rule out

    discussions and consultations with the international literature in this

    study, particularly in the theoretical framework of the strategy as

    practice, but seeks to bring together national knowledge that illustrates

    the reality of Brazilian organizations on the subject. In the article

    concludes that some factors that facilitate the effective implementation of

    strategies can constitute barriers, depending on how the strategy is

    realized in practice by individuals and groups in constant interaction in

    organizations.

    Key words: Strategy implementation. Strategy as practice. Strategy in

    Brazil.

  • Diego Iturriet Dias Canhada & Natlia Rese

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    40

    1 INTRODUO

    Os estudos em estratgia organizacional tm um foco de pesquisas e

    estudos muito mais abrangente nas questes de formao e formulao de

    estratgias. O famoso livro escrito por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000),

    Safri de Estratgia, um exemplo dessa afirmao, j que os autores dividem

    e organizam o conhecimento sobre o assunto em 10 escolas de formao e

    formulao de estratgia, mas pouca nfase dada aos processos de

    implementao (GALAS, 2004). A questo de como essas estratgias so

    implementadas na prtica, suas principais dificuldades, facilitadores e

    complexidades envolvidas, esto relegadas ao segundo plano, no s no livro

    citado, mas no conjunto de conhecimento produzido na rea. Isso tem sido

    colocado por alguns autores, como sendo uma grande fraqueza da rea, j que

    pouco se sabe ainda a esse respeito (WALDERSSE e SHEATER, 1996). Mesmo

    com o grande crescimento de correntes tericas que desafiam os pressupostos

    racionalistas das trs escolas prescritivas de estratgia (MINTZBERG,

    AHLSTRAND e LAMPEL, 2000), escolas essas que estudam a estratgia como um

    projeto organizacional (ANDREWS, 2006), um plano a ser seguido (ANSOFF,

    1990) ou mesmo um posicionamento no mercado a ser atingido (PORTER, 1986),

    a nfase ainda muito pequena nos processos organizacionais de

    implementao de estratgias. Esse artigo rene as evidncias empricas das

    principais barreiras e facilitadores da implementao de diferentes estratgias

    nas organizaes do Brasil.

    Alm da carncia de pesquisas e estudos sobre esse tema, nos eventos

    cientficos no Brasil, a rea de estratgia vem sofrendo uma diminuio

    significativa de reflexes tericas, j que o foco dos pesquisadores tm sido

    estudos de carter predominantemente empricos, conforme pesquisa realizada

    por Rossoni, Guarido Filho, Francisconi e Albuquerque Filho (2007). Se isso pode

    ser reflexo de amadurecimento da academia brasileira, pode tambm significar

    uma pobreza conceitual para esse campo de pesquisa, bem como correr o risco

    de cair em um forte empirismo sem grandes reflexes tericas (Rossoni, Guarido

    Filho, Francisconi e ALbuquerque Filho, 2007). Pelo fato da

  • Implementation strategy: barriers and facilitators highlighted specializes in Brazilian Literature

    Implementao de estratgia: barreiras e facilitadores evidenciados na Literatura Brasileira especializada

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    41

    estratgia ser melhor entendida como uma prtica social (WHITTINGTON, 1996)

    levada a cabo pelas pessoas em interaes nas diferentes organizaes que

    compem a sociedade, e sabendo que essas estratgias tm consequncias para

    os inmeros aspectos do sistema social e econmico em que est inserido

    (WHITTINGTON, 2004), essa diminuio de ensaios tericos deve ser vista com

    cuidado pelos acadmicos da rea. No basta apenas verificar o que os dados

    empricos nos mostram, mas elaborar reflexes intelectuais em cima dos

    mesmos a partir de diferentes perspectivas tericas e mesmo epistemolgicas.

    Um caminho que entendemos ser essencial para uma maior riqueza do

    conhecimento produzido na rea, respeitando a coerncia dos diversos

    pressupostos de cada corrente de pensamento, dando voz e fornecendo

    legitimidade a diversidade de paradigmas fornecidos pela filosofia e pelas

    cincias sociais que contribuem para os estudos em estratgia.

    Pesquisa realizada por Bignetti e Paiva (2002) mostra que na rea de

    estratgia no Brasil, adota-se uma posio colonizada pelos estudiosos, em que

    os aportes tericos e evidncias empricas advindas de pesquisas em nossa

    realidade so desconsideradas em detrimento do conhecimento produzido nos

    pases de origem anglo-saxnica. Esses trs fatores citados carncia de

    pesquisas sobre implementao de estratgias, diminuio de ensaios tericos

    nos eventos especializados no Brasil e posio colonizada de nossos

    pesquisadores - so os motivos que justificaram os autores desse trabalho a

    sistematizar o conhecimento produzido e publicado nos principais eventos e

    revistas do Brasil em relao a implementao de estratgias. Aliado a isso, est

    o fato da vigorosa contribuio trazida pelos pesquisadores que estudam a

    estratgia como uma prtica social, que foi a perspectiva terica de anlise

    adotada nesse trabalho de modo predominante. Foi o paradigma utilizado por ser

    entendido como a corrente de pensamento em estratgia mais adequada para

    explicao e reflexo sobre o tema em questo.

    Esta pesquisa foi realizada nos principais peridicos, revistas

    especializadas e eventos cientficos na rea de estratgia organizacional no

    Brasil, em um corte temporal de 2000 a 2007, tempo que foi considerado

    suficiente para sistematizao do conhecimento brasileiro sobre o tema. As

  • Diego Iturriet Dias Canhada & Natlia Rese

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    42

    revistas consultadas foram: Revista de Administrao Contempornea (RAC);

    Revista de Administrao Contempornea em formato eletrnico (RAC

    Eletrnica); Revista Organizaes e Sociedade (O & S); Revista de Administrao

    de Empresas (RAE FGV); Revista de Administrao Pblica (RAP-FGV) e;

    Revista de Administrao da USP (RA-USP). Os anais de eventos cientficos

    pesquisados foram do Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisa e

    Ps-Graduao em Administrao (ENANPAD), na rea temtica de Estratgia

    em Organizaes e do Encontro de Estudos em Estratgia (EEE), ambos

    organizados pela ANPAD. A escolha desses peridicos, revistas e eventos, se deu

    pela qualidade dos mesmos e pela legitimidade que os mesmos possuem na

    academia brasileira, todos sendo considerados como de alto nvel em relao a

    produo intelectual nacional.

    A posio adotada nesse trabalho no pretende ser xenofbica, inclusive

    isso fica constatado no fato da perspectiva que serve de pano de fundo desse

    estudo, a estratgia como prtica, ser desenvolvida principalmente na Europa.

    Mas conforme indicam os principais autores dessa corrente, de que a estratgia

    influenciada pelo contexto nacional em que est inserida, procuramos nos ater

    ao que as pesquisas brasileiras, sobre organizaes atuando em solo nacional,

    encontram no momento de implementar suas estratgias. A nfase so nos

    fatores que se constituem como barreiras e como facilitadores nesse processo.

    Para isso, esse artigo est organizado em cinco partes, incluindo essa

    introduo. A segunda parte um quadro terico de referncia sobre

    implementao de estratgias embasado primordialmente na perspectiva da

    estratgia como prtica social. A terceira parte inicia a apresentao dos

    resultados da pesquisa e est reservada a uma discusso sobre as principais

    barreiras encontradas na implementao de estratgias. Aps essa discusso,

    sero evidenciados os fatores facilitadores na quarta seo. Na quinta parte,

    reservada s concluses finais, apresentamos as principais reflexes da pesquisa

    realizada.

  • Implementation strategy: barriers and facilitators highlighted specializes in Brazilian Literature

    Implementao de estratgia: barreiras e facilitadores evidenciados na Literatura Brasileira especializada

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    43

    2 ESTRATGIA COMO PRTICA E IMPLEMENTAO DE ESTRATGIAS

    Em 1996, Richard Whittington, atual professor da Oxford Said Business

    School, publica artigo seminal com o nome de Strategy as Practice, no Long

    Range Planning, peridico ingls que divulga pesquisas sobre estratgia

    organizacional. Desde ento, a perspectiva da estratgia como prtica social

    proporcionou vigorosa contribuio terica ao pensamento em estratgia. Dando

    espao para diferentes metodologias de pesquisa, contribuindo para aumento da

    legitimidade de metodologias qualitativas em profundidade e agregando

    pesquisadores de diferentes perspectivas tericas e disciplinares, contribuem na

    consolidao de uma escola de pensamento em estratgia muito frutfera em

    ensaios tericos, pesquisas empricas e idias inovadoras. Atualmente, h uma

    comunidade virtual criada por Whittington e seus colegas, com site na internet

    (http://sap-in.org) para discusses e disponibilizao de artigos com foco amplo

    em estudos que tenham por interesse o fazer estratgia, estratgias intencionais

    e emergentes, a mudana estratgica e as mltiplas relaes que isso possui

    com resultados organizacionais e sociais. A comunidade virtual possui mais de

    2.000 participantes no mundo todo.

    No artigo publicado em 96, sugere que a estratgia deve ser tratada

    como uma prtica social e que embora a perspectiva processual tenha dado

    grandes contribuies aos estudos em estratgia, o interesse das pesquisas

    continua sendo na organizao como um todo. Whittington afirma que preciso

    mudar nosso foco de pesquisas para como os praticantes fazem a estratgia.

    Precisamos saber mais a respeito do strategizing, ou seja, do processo constante

    de se fazer a estratgia em uma organizao. Para isso, precisa-se descer no

    nvel dos praticantes e estud-los, ver como agem e interagem na organizao,

    quais suas habilidades, destrezas e desempenhos (WHITTINGTON, 1996).

    Embora o campo dos estudos organizacionais seja interdisciplinar h

    longa data, especificamente no que diz respeito aos estudos em estratgia, a

    disciplina que historicamente guiou as pesquisas e forneceu os principais

    elementos conceituais foi a economia (WHITTINGTON, 2006). Sendo a disciplina

    central que direcionou a rea de estratgia, por um lado propiciou significativas

    contribuies ao campo, por outro limitou a viso dos pesquisadores e estudiosos

    em aspectos no estudados tradicionalmente pelos economistas. Aos poucos, os

  • Diego Iturriet Dias Canhada & Natlia Rese

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    44

    estudos em estratgia foram sendo enriquecidos com aportes tericos de outras

    disciplinas no mbito das cincias sociais (MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL,

    2000), mas apenas na perspectiva terica conhecida por estratgia como

    prtica social, que a teoria social contempornea, em especial a sociologia, foi

    incorporada definitivamente aos estudos da rea (WILSON e JARZABKOWSKI,

    2004; WHITTINGTON, 2004). Esse fato propiciou vigorosa contribuio aos

    pesquisadores do campo, j que a riqueza da sociologia contempornea com seu

    foco nas prticas sociais auxiliou muito para um melhor entendimento dos

    processos institucionais, organizacionais e estratgicos que eram

    desconsiderados ou secundarizados por outras escolas de pensamento em

    estratgia.

    A estratgia sendo entendida como uma prtica social, sem

    desconsiderar as contribuies de outras disciplinas e correntes tericas do

    campo de estudos, tenta relacionar as microatividades realizadas pelos

    indivduos com seus resultados organizacionais e sociais (WHITTINGTON,

    JOHNSON e MELIN, 2004). Entende-se que essas microatividades e prticas so

    realizadas em interao e que os indivduos em uma organizao, no seu

    processo constante de fazer estratgia (strategizing), esto envolvidos em

    complexas relaes de poder e significados compartilhados na organizao.

    Assim, um foco na prtica social pretende ficar entre a sociologia estrutural e o

    individualismo metodolgico (GIDDENS, 2003; CHIA, 2007), no olhando apenas

    para questes macroestruturais (sejam elas econmicas, culturais ou sociais),

    nem apenas para uma coleo de aes individuais desenraizados de seu meio,

    mas tentando articular um espao social como legtimo. Prticas essas que no

    se constituem como uma simples sntese entre contribuies macroscpicas e

    microscpicas, mas um espao legtimo que tem sua prpria especificidade,

    embora receba contribuies de outros nveis de anlise.

    Aliado ao foco de anlise, os tericos dessa corrente, muito influenciados

    pela teoria institucional de base sociolgica, evidenciaram o fato de que a

    estratgia deve ser melhor entendida dentro de um contexto scio-cultural

    especfico, j que as ferramentas utilizadas pelos atores organizacionais so

    tomadas de seu meio atravs das instituies e de processos de socializao

    (BERGER e LUCKMANN, 2003; MEYER e ROWAN, 1977; DIMAGGIO e POWELL,

    1983; SCOTT, 2001, 2003), como por exemplo: escolas de negcios, empresas

  • Implementation strategy: barriers and facilitators highlighted specializes in Brazilian Literature

    Implementao de estratgia: barreiras e facilitadores evidenciados na Literatura Brasileira especializada

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    45

    de consultoria e editoras de livros de administrao. Mais do que apenas usar

    determinadas ferramentas de forma totalmente pr-estabelecida, os atores

    organizacionais atribuem certos significados a modelos, tcnicas e teorias para

    coloc-las na prtica de um modo especfico, modo que tambm afetado pelas

    relaes de poder existentes na organizao. Assim, a perspectiva prtica em

    estratgia busca relacionar atividades e prticas realizadas pelos indivduos na

    organizao com seu contexto ambiental em uma anlise vertical, bem como

    relaciona essas atividades (processos) com seus resultados (contedo), em uma

    anlise horizontal (WHITTINGTON, 1996, 2002a, 2002b, 2004, 2006;

    WHITTINGTON, JOHNSON e MELIN, 2004; WILSON e JARZABKOWSKI, 2004;

    JOHNSON, LANGLEY, MELIN e WHITTINGTON, 2007), sendo esses resultados no

    estudados com o enfoque apenas financeiro.

    A partir dessas evidncias apresentadas, simples entender porque um

    mesmo modelo de estratgia, nas suas tentativas de implementao, pode

    contribuir para atingir os objetivos de uma organizao e no ter funcionalidade

    alguma em outra, um empecilho ao desempenho organizacional. O contexto em

    que a organizao est inserida - as interpretaes que os atores organizacionais

    possuem dos modelos ou bem como as interaes pessoais, relaes de poder e

    limitaes de recursos que condicionam o uso desses modelos - sero os

    determinantes da maneira como esse modelo implementado na prtica. O

    sucesso ou fracasso de uma organizao no pode ser atribudo apenas aos

    modelos, teorias ou s tcnicas em si, mas no uso que so feitos dos mesmos,

    ou seja, no modo em que so implementados na prtica. Da mesma forma que

    uma regra, em sua formulao aberta, assume vrias qualificaes especficas

    (GIDDENS, 2003) e o significado de uma palavra s entendido a partir do seu

    uso na linguagem (WITTGENSTEIN, 1994; MARCONDES, 1997; MATTOS, 2003;

    AMNCIO e GONALVES, 2007), um modelo de estratgia ser melhor

    compreendido a partir da prtica social que ele condiciona, j que assume certa

    especificidade em cada organizao que o utiliza e s pode ser entendido a partir

    do contexto prtico em que ele ocorre. Mesmo que os praticantes estejam

    dissociando totalmente um modelo de suas bases tericas, importante estudar

    os modelos que esto sendo usados e, particularmente, como so usados

    (JARZABKOWSKI, 2003; WHITTINGTON, 2002c) e os resultados atingidos com os

    mesmos.

  • Diego Iturriet Dias Canhada & Natlia Rese

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    46

    Embora haja avanos significativos nas teorias em estratgia que tratam

    a formulao e implementao como um processo nico (MINTZBERG,

    AHLSTRAND e LAMPEL, 2000), evidncias na literatura internacional mostram

    que a maioria das estratgias sucumbem na sua implementao a despeito da

    qualidade da sua formulao (WALDERSSE e SHEATER, 1996; ALLIO, 2005;

    SCHAAP, 2006). Mariotto (2003) mostra que no s as estratgias intencionais

    devem ser implementadas, mas tambm as estratgias emergentes

    (MINTZBERG, 2006) devem ser mobilizadas a fim de tornarem-se

    comportamento estratgico efetivo. A partir dessas reflexes, apresentamos na

    prxima seo, algumas evidncias disponveis na literatura nacional

    especializada, sobre as principais barreiras encontradas na implementao de

    diferentes estratgias organizacionais no Brasil. Na seo posterior,

    apresentamos os fatores que facilitam a implementao de estratgias em

    organizaes em solo nacional.

    3 BARREIRAS ENCONTRADAS NA IMPLEMENTAO DE ESTRATGIAS

    Embora a pesquisa sobre o tema ainda seja incipiente, foram

    encontradas algumas barreiras na implementao de diferentes estratgias em

    organizaes no Brasil. Mesmo no sendo muito grande o nmero de pesquisas

    que demonstram quais so as barreiras enfrentadas nos processos de

    implementao de estratgias, existe uma grande variedade de estratgias a

    serem implementadas, bem como diversidade de perfil das organizaes.

    Optamos por apresentar apenas os trabalhos que mencionavam claramente

    quais foram as principais barreiras encontradas em suas pesquisas empricas,

    independente da estratgia a ser implementada e do tipo de organizao

    estudada. No foi considerado nessa apresentao dos resultados, que um fator

    mais importante do que outro. O que se mostrou surpreendente que embora

    haja diversidade na estratgia e na organizao, muitas barreiras so similares,

    como demonstram os resultados abaixo:

    1) Falta de consenso, entendimento e transparncia no significado da misso e

    viso da empresa

    Silva (2001), com base em estudo de Kaplan e Norton (1997), encontrou

  • Implementation strategy: barriers and facilitators highlighted specializes in Brazilian Literature

    Implementao de estratgia: barreiras e facilitadores evidenciados na Literatura Brasileira especializada

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    47

    essa barreira na implementao do planejamento estratgico na empresa

    paranaense de energia eltrica da COPEL. Essa uma dentre as quatro j

    evidenciadas por Kaplan e Norton (1997) na implementao de estratgias, em

    especial do sistema Balanced Scorecard. Silva (2000) j tinha apresentado esse

    em ensaio terico, mas encontrou evidncias empricas em estudo posterior na

    COPEL (SILVA, 2001). Essa barreira faz com que os diferentes grupos que

    compem a organizao, seguem agendas distintas em virtude da sua prpria

    interpretao da misso, viso e objetivos da organizao. Conforme coloca o

    autor, sus iniciativas no son integradas ni acumulativas, ya que no estn

    asociadas de forma coerente a una estrategia global (SILVA, 2000, p.4).

    2) Falta de relao entre contedo estratgico e processo estratgico

    Com base em Kaplan e Norton (1997), tambm foi estudado

    teoricamente (SILVA, 2000) e posteriormente apresentado aps ter sido

    encontrado em pesquisa emprica na implementao do planejamento

    estratgico na COPEL (SILVA, 2001). Essa barreira faz com que a posio

    estratgica almejada, aps uma anlise de seu ambiente econmico, no est

    sendo traduzida em metas e objetivos para os diferentes setores,

    departamentos, equipes e indivduos que compem a organizao. Com isso, h

    uma falta de relao entre o processo e o contedo estratgico (SILVA, 2000).

    3) Falta de coerncia entre planejamento estratgico e a destinao de recursos

    Juntamente com as duas barreiras apresentadas acima, essa foi a

    terceira encontrada no processo de implementao de estratgias da COPEL, de

    acordo com Silva (2001). Neste caso, o planejamento estratgico da organizao

    no est alinhado com disponibilidade de recursos financeiros, muitas vezes

    ocorrendo dois tipos de planos sem a devida integrao (SILVA, 2000), em uma

    pesquisa realizada por Rosseto, Orth e Rosseto (2004), na implementao de um

    sistema de informaes gerenciais (SIG) na Prefeitura Municipal de Blumenau

    (SC), tambm evidenciou esse aspecto. Por falta de sintonia entre os

    cronogramas de desembolso financeiro e de implementao do projeto,

    observaram-se falta de recursos fsicos para a efetiva implantao do SIG

    (ROSSETO, ORTH e ROSSETO, 2004). Vale a ressalva que a falta de recursos

    financeiros na prefeitura estudada deveu-se mais ao corte de oramentos

  • Diego Iturriet Dias Canhada & Natlia Rese

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    48

    ocasionados mais por fatores polticos do que por fatores tcnicos. De qualquer

    modo, isso no invalida as evidncias dessa barreira encontrada nos processos

    de implementao de estratgias.

    4) Falta de feedback estratgico

    A ltima barreira apresentada por Silva (2000) com base nos estudos de

    Kaplan e Norton (1997). Apresentada tambm em ensaio terico em 2000 e

    encontrada na pesquisa de campo em 2001 na COPEL (SILVA, 2000, 2001).

    Como a maioria dos indicadores utilizados pelas empresas so indicadores

    financeiros (KAPLAN e NORTON, 1997), que so indicadores de resultados

    (MEYER, 2000), os gestores no conseguem mensurar o quanto a organizao

    est conseguindo atingir seus objetivos. Para isso, necessrio agregar a esses

    indicadores de resultados, indicadores de processos (KAPLAN e NORTON, 1997;

    MEYER, 2000) para obterem feedback sobre a sua estratgia (SILVA, 2000,

    2001). Quando isso no acontece, geralmente encontra-se a barreira da falta de

    feedback estratgico.

    Estudo realizado por Galas (2004) na EMBRAPA, em que objetivava

    mensurar os fatores que interferiam na implementao de um modelo de gesto

    estratgica baseado no Balanced Scorecard, tambm evidenciou a presena

    dessa barreira. Com base em pesquisa quantitativa, foi encontrado uma

    correlao positiva (0,550387) entre o nmero de reunies de acompanhamento

    do modelo nas unidades da organizao estudada e a fase de implementao do

    modelo, ou seja, as unidades que melhor acompanhavam a implantao do

    modelo, estavam mais adiantadas no processo (GALAS, 2004).

    5) Estrutura formal pouco flexvel em virtude da tecnologia da informao (TI)

    No estudo realizado no hospital de Porto Alegre-RS, Jacques (2006)

    encontrou barreiras organizacionais na implementao de protocolos mdicos-

    assistenciais. Para o autor, a construo e efetiva implementao desses

    protocolos diferenciam uma organizao hospitalar de outra, gerando assim

    vantagem competitiva. Na abordagem conhecida como Viso Baseada em

    Recursos (BARNEY, 1991), que a perspectiva terica que guia Jacques em seu

    estudo, os recursos da organizao so todos ativos que habilitam-na a conceber

    e implementar estratgias que melhorem sua eficincia e efetividade (BARNEY,

  • Implementation strategy: barriers and facilitators highlighted specializes in Brazilian Literature

    Implementao de estratgia: barreiras e facilitadores evidenciados na Literatura Brasileira especializada

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    49

    1991). Nesse sentido, o autor entende que esses protocolos so recursos

    estratgicos de importncia fundamental para a gesto organizacional do

    hospital estudado (JACQUES, 2006).

    Na implementao desses protocolos, foi visto que a estrutura formal do

    hospital era pouco flexvel a processos de inovao e mudana, sendo a

    tecnologia da informao a principal responsvel por essa barreira. Isso foi

    evidenciado pela falta de agilidade da TI em acompanhar a mudana nos

    processos organizacionais necessrios para implementao dos protocolos

    mdicos-assistenciais (JACQUES, 2006). Tambm se confirma na pesquisa em

    mltiplos estudos de caso realizada por Brodbeck e Hoppen (2003), a

    importncia da promoo do alinhamento estratgico entre reas de negcio e

    de TI para auxiliar a gesto corporativa e influenciar no desempenho

    organizacional.

    6) Pouco envolvimento do quadro gerencial da organizao

    No mesmo estudo citado acima, Jacques (2006) encontrou grandes

    problemas na implementao dos protocolos mdicos-assistenciais, em virtude

    da falta de participao e envolvimento da alta direo nesse processo. O autor

    afirma que isso no foi evidenciado no seu referencial terico, mas ficou ntido

    em sua pesquisa emprica. Havia pouco interesse da alta direo do hospital com

    as necessidades das reas de especialidade mdica no sentido de explorar a

    gesto dos protocolos mdicos-assistenciais como recursos estratgicos

    inquestionveis (JACQUES, 2006, p.13).

    Pesquisa realizada por Galas (2004) na EMBRAPA, tambm encontrou

    uma correlao positiva (0,586816) entre o grau de envolvimento/participao

    da alta direo e fase de implementao do modelo de gesto estratgica. Na

    mesma pesquisa, foi encontrada uma correlao altssima (0,960943) entre o

    fato da alta direo participar da implementao do modelo e de crer que o

    mesmo importante para sua unidade atingir os objetivos organizacionais

    (GALAS, 2004). Aliado a isso, o mesmo autor encontrou que o

    envolvimento/apoio da chefia era o segundo fator, juntamente com mais dois

    fatores com igual pontuao, que mais influenciava negativamente no sucesso de

    implementao de um modelo de gesto estratgica. Nas concluses de seu

    trabalho, Galas (2004, p.14) afirma que:

  • Diego Iturriet Dias Canhada & Natlia Rese

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    50

    Pde-se perceber que existem muitas barreiras

    implantao de uma metodologia de gesto baseada no

    balanced scorecard, principalmente se no existir na

    empresa uma cultura de gesto estratgica no quadro

    gerencial. Verificou-se que os fatores que mais interferiram

    tanto positiva como negativamente, na implantao do

    Modelo de Gesto Estratgica na Embrapa esto

    relacionados ao quadro gerencial em todos os nveis, seja da

    alta direo da empresa, na chefia da Unidade, no gerente

    do modelo ou nos gerentes de objetivos estratgicos.

    7) Utilizao de modelos no adequados realidade organizacional

    Macedo-Soares e Neves dos Santos (2001) realizaram estudo

    exploratrio para verificar as metodologias utilizadas por 21 grandes hospitais no

    Brasil para implementao de estratgias de melhoria da qualidade voltadas ao

    cliente. Descobriram que o principal motivo que fazia com que cada hospital

    tivesse uma metodologia prpria era uma incompatibilidade entre as

    metodologias disponveis e a cultura do hospital. Concluram que a metodologia

    no deveria ser genrica, mas especfica ao contexto do hospital (MACEDO-

    SOARES e NEVES DOS SANTOS, 2001, p.14). Com isso, elaboraram um projeto

    de modelo genrico para que os hospitais implementassem suas estratgias de

    melhoria da qualidade de acordo com sua realidade especfica. Isso vai de acordo

    com afirmao realizada por Goldsmidt (2003), que referindo-se a

    implementao de Balanced Scorecard, diz que um dos pontos centrais no

    modelo sua adaptao s caractersticas especficas da estratgia de cada

    organizao. Whittington (2006), tambm concorda quando referindo-se a

    perspectiva sistmica em estratgia, que a perspectiva ao qual seu trabalho

    est vinculado, desafia a universalidade de qualquer modelo estratgico.

    4 FACILITADORES ENCONTRADOS NA IMPLEMENTAO DE

    ESTRATGIAS

    No que tange aos fatores facilitadores da implementao de estratgias,

    nos baseamos primordialmente em Monteiro de Barros e Fischmann (2007), para

  • Implementation strategy: barriers and facilitators highlighted specializes in Brazilian Literature

    Implementao de estratgia: barreiras e facilitadores evidenciados na Literatura Brasileira especializada

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    51

    ento agregar aos resultados obtidos, outros fatores que foram evidenciados na

    literatura pesquisada. Isso deve-se ao fato de que o estudo realizado pelos

    autores citados, o estudo mais abrangente no pas sobre o tema. Se estudos

    em relao as barreiras j eram incipientes, no caso dos fatores que facilitem a

    eficcia na implementao de estratgias, so nfimos. O estudo de Monteiro de

    Barros e Fischmann (2007) o nico encontrado que trata especificamente sobre

    o tema. Seus resultados foram baseados em pesquisa emprica realizada com

    153 principais executivos das mil maiores organizaes brasileiras. uma

    pesquisa quantitativa que se utilizou de questionrios como instrumento de

    coleta de dados e anlises estatsticas com tcnicas essencialmente

    multivariadas. Para que no seja necessrio repetir as citaes a todo momento,

    deixamos claro que todos os resultados abaixo so retirados da pesquisa

    mencionada, com exceo dos ltimos dois facilitadores encontrados. Outros

    fatores que no sejam do estudo citado ou fatores que tambm foram

    encontrados por outros pesquisadores sero devidamente observados e

    referenciados. Novamente vale ressaltar que os nmeros no indicam uma

    ordem de importncia.

    Uma ressalva que deve ser feita nos resultados abaixo em relao a

    estudo feito por Silva (2002). O autor discorre no seu referencial terico sobre o

    sistema de crenas como uma forma de facilitar a implementao de

    estratgias, mas no chega a posies conclusivas em sua pesquisa de campo na

    empresa paranaense de energia eltrica COPEL. O autor afirma nas concluses

    de seu estudo, que esse um fator que influi de modo mdio, mas no

    especificamente para facilitar a implementao de estratgias, e sim para

    impedir que surjam tipos de barreiras implementao. Optamos por no

    colocar esse como um fator encontrado, at porque mesmo que o autor chegasse

    a posies conclusivas, esse um fator to amplo que estaria contemplado nos

    fatores apresentados abaixo, o que no interfere nos resultados da pesquisa

    realizada.

    1) Estrutura organizacional adequada s exigncias das suas estratgias globais

    Macedo-Soares e Neves dos Santos (2001) tambm concluram que, em

    um projeto de implementao de estratgia de melhoria ao cliente realizado em

    um hospital, a criao de uma estrutura ad hoc especfica para a gesto de

  • Diego Iturriet Dias Canhada & Natlia Rese

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    52

    mudanas associada a esse projeto proporcionou seu sucesso. Interessante notar

    que os resultados da famosa pesquisa de Alfred Chandler (1962) sobre a relao

    da estratgia organizacional com a estrutura em grandes empresas americanas,

    o autor chega concluso que deve haver um alinhamento entre a estratgia e a

    estrutura, continua vlida e recebendo suporte emprico. Whittington (2002a)

    tambm alerta para a necessidade de reciprocidade entre estratgia e estrutura

    em seus estudos.

    2) Lealdade e compromisso dos subordinados para com os processos

    estratgicos

    Para os autores consultados (SCHAAP, 2006; WEISINGERA e BLACK,

    2006), a implementao efetiva de estratgias determinada por decises

    lgicas e aes de todos empregados, no s das lideranas que definem a

    estratgia. Se os lderes so os responsveis pela direo da organizao, todos

    outros so fundamentais na implementao das estratgias. Aliado a isso,

    pesquisas mostram que quando as pessoas entendem os objetivos do plano

    corrente da companhia, mais comprometidas ficaro com o sucesso do plano

    (SCHAAP, 2006).

    3) Recursos e capacidades necessrias para o devido suporte s estratgias

    organizacionais

    Elemento evidenciado que est tambm de acordo com a viso baseada

    em recursos (BARNEY, 1991) e com evidncias empricas encontradas na

    pesquisa realizada por Rosseto, Orth e Rosseto (2004, p.125), em que os

    autores deixam claro que se houvesse recursos disponveis, a implementao do

    projeto estudado no estaria parada e levantam a hiptese de que se forem

    criado mecanismos que garantam a sincronia entre os cronogramas de

    desembolso financeiro e o de implantao do projeto, a probabilidade de sucesso

    na implantao aumenta. Wilson e Jarzabkowski (2004) afirmam que ao se

    mover na direo de suas projees, os estrategistas devem se basear nos

    recursos existentes na organizao.

    4) Competncias necessrias para oferecer respostas rpidas e adequadas s

  • Implementation strategy: barriers and facilitators highlighted specializes in Brazilian Literature

    Implementao de estratgia: barreiras e facilitadores evidenciados na Literatura Brasileira especializada

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    53

    mudanas ambientais

    Tambm encontrado no campo emprico e que est de acordo com a

    literatura a respeito, em especial na viso baseada em recursos (BARNEY, 1991)

    e com ensaio a respeito do capital social como recurso estratgico (WEISINGERA

    e BLACK, 2006). Como os ativos intangveis so fundamentais para o

    desempenho organizacional e esses so recursos estratgicos e socialmente

    construdos, uma organizao que possua competncias necessrias para

    oferecer respostas rpidas e adequadas s mudanas ambientais, ter mais

    efetividade na implementao de estratgias: so os indivduos que interpretam

    o ambiente organizacional e colocam novas estratgias em prtica a partir

    dessas mudanas.

    5) Capacidade de adaptao s novas situaes promovidas pela implementao

    de novas estratgias

    Uma das concluses de Jacques (2006) sobre seu estudo em

    implementao de protocolos mdicos-assistenciais em hospital pode ser

    enquadrada nesse fator. O autor sugere que para melhorar o processo de

    implementao pesquisado, teria que haver mais agilidade na TI, ou seja, que a

    tecnologia da informao utilizada pela organizao teria que adaptar-se mais

    rpido a essa nova situao promovida pela implementao dos protocolos.

    6) Controles estratgicos necessrios para a implementao das suas estratgias

    Macedo-Soares e Neves dos Santos (2001), em sua pesquisa realizada

    em um hospital, tambm deram grande nfase ao processo de medio do

    desempenho da implementao de estratgia de melhoria voltada ao cliente,

    como fator determinante de sucesso. Confirmam pesquisas realizadas por Kaplan

    e Norton (1997, p.21), que o que no medido, no gerenciado. Silva

    (2001) concorda quando afirma que com controles estratgicos se pode reduzir

    as possveis barreiras que surgem na implementao de estratgias.

    7) Envolvimento do quadro gerencial e alta direo

    No foi encontrado na pesquisa realizada por Monteiro de Barros e

    Fischmann (2007), mas foi apresentado nas concluses do trabalho de Jacques

  • Diego Iturriet Dias Canhada & Natlia Rese

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    54

    (2006), em que afirma que esse um fator inequvoco de melhoria do processo

    estratgico estudado. Macedo-Soares e Neves dos Santos (2001, p.16) vo no

    mesmo sentido quando afirmam que um ponto positivo na aplicao de um

    modelo que viria a ajudar na implementao de estratgias de melhoria ao

    cliente foi o comprometimento da diretoria do hospital. Goldszmidt (2003), em

    ensaio terico sobre os fatores crticos na implementao do Balanced Scorecard,

    coloca o apoio da alta direo como um dos fatores mais importantes no

    processo, Galas (2004) verificou que o fator que mais interferiu positivamente na

    implementao de um Balanced Scorecard na EMBRAPA foi o envolvimento do

    quadro gerencial em todos os nveis, incluindo a alta direo.

    8) Formas de promover de modo mais eficaz o compartilhamento das

    idealizaes das equipes internas

    Tambm no foi encontrado na pesquisa realizada por Monteiro de Barros

    e Fischmann (2007), mas foi apresentado nas concluses do trabalho de Jacques

    (2006), em relao a equipes mdicos-assistenciais. Isso tambm confirma

    estudos de Mariotto (2001, 2003), que no s as estratgias intencionais devem

    ser mobilizadas a fim de tornarem-se comportamento estratgico eficaz, mas

    tambm as estratgias emergentes, que so aquelas que podem surgir de

    qualquer nvel hierrquico e no so deliberadas (MINTZBERG, 2006), que o

    caso aqui tratado.

    5 CONSIDERAES FINAIS

    Neste trabalho apresentaram-se as evidncias empricas das principais

    barreiras e facilitadores encontrados na implementao de estratgias em

    organizaes atuando em solo nacional. Embora a pesquisa seja incipiente sobre

    o tema, h considerveis resultados a respeito, ainda mais em um tema to

    importante para os estudos em estratgia e que necessita de esforos por parte

    de pesquisadores. A estratgia foi concebida como uma prtica social, levada a

    cabo pelos indivduos nas organizaes em processo constante de interao. Para

    os resultados apresentados, buscou-se na literatura nacional e internacional,

    suporte para os achados de modo a verificar analiticamente o poder explicativo

    das abordagens utilizadas. A estratgia entendida como prtica social norteou

  • Implementation strategy: barriers and facilitators highlighted specializes in Brazilian Literature

    Implementao de estratgia: barreiras e facilitadores evidenciados na Literatura Brasileira especializada

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    55

    esse estudo, embora consideraes e conceitos elaborados por outros autores e

    correntes foram de grande apoio s evidncias encontradas, demonstrando que

    possuem grande valor para o campo da estratgia e no sendo incompatveis

    com a corrente que predominou nos estudos efetuados.

    Surpreendente que pesquisas em organizaes to diferentes, com

    estratgias to distintas e utilizando-se de vrias abordagens tericas e

    metodolgicas, muitas barreiras e facilitadores encontrados so os mesmos. A

    limitao desse estudo que os resultados apresentados no so passveis de

    generalizao, mas podem servir como hipteses para futuros estudos.

    Interessante notar que alguns fatores que so barreiras em algumas estratgias

    organizacionais, se constituem como facilitadores em outras. Isso apenas d

    mais nfase a perspectiva terica adotada nesse trabalho. A estratgia uma

    prtica social realizada nas organizaes dentro de um contexto social e

    realizada por indivduos em interao nas suas atividades e prticas dirias. Com

    isso, dependendo do modo como a estratgia implementada na prtica,

    facilitadores em uma organizao podem se constituir em barreiras, dependendo

    do modo como as prticas estratgicas e suas atividades so realizadas em cada

    organizao. A efetividade dos modelos, ferramentas e mesmo das estruturas

    organizacionais depender da prtica social contextualizada em que so

    utilizados. Essas so questes intrigantes, mas que podem ajudar-nos a

    entender um pouco melhor a complexidade que implementar estratgias nas

    organizaes em nosso pas.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALLIO, M. K. A short, practical guide to implementing strategy. The Journal of Business Strategy, v.26, n.4, p12-21, 2005.

    ANDREWS, K. R. O conceito de estratgia corporativa. In: MINTZBERG, H.; LAMPEL, J.; QUINN, J. B.; GHOSHA, S. (Orgs.) O processo da estratgia. So Paulo: Bookman, 2006.

    AMNCIO, J. A.; GONALVES, C. A. Uma Proposta Pragmtica para se Pensar o Ensino na Administrao. In: I Encontro de Ensino e Pesquisa em Administrao e Contabilidade. Recife Anais. Recife, ANPAD-ANGRAD, 2007.

    ANSOFF, I. A nova estratgia empresarial. So Paulo: Atlas, 1997.

  • Diego Iturriet Dias Canhada & Natlia Rese

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    56

    BARNEY, J. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, v.17, n.1, 1991.

    BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. A construo social da realidade. Petrpolis: Vozes, 2003.

    BIGNETTI, L. P.; PAIVA, E.L. Ora (direis) ouvir estrelas!: estudo das citaes de autores de estratgia na produo acadmica brasileira. Revista de Administrao Contempornea, v.6, n.1, jan./abr., p.105-125, 2002.

    BRODBECK, A.F.; HOPPEN, N. Alinhamento estratgico entre os planos de negcio e de tecnologia da informao: um modelo operacional para implementao. Revista de Administrao Contempornea, v.7, n.3, jul./set., p.9-33, 2003.

    CHANDLER, A.D. Strategy and structure: chapters in the history of the industrial enterprise. Cambridge, MA: MIT Press, 1962.

    CHIA, Robert; MacKay, Brad. Post-processual challenges for the emerging strategy-as-practice perspective: Discovering strategy in the logic of practice. Human Relations, v. 60, n. 1, p. 217-242, 2007.

    DIMAGGIO, P. J.; POWELL, W. W. The iron cage revisited: institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields. American Sociological Review, v.48, n.2, p.147-160, 1983.

    GALAS, E. S. Fatores que interferem na implantao de um modelo de gesto estratgica baseado no Balanced Scorecard: estudo de caso em uma instituio pblica. In: Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Administrao. Curitiba Anais. Curitiba, ANPAD, 2004.

    GIDDENS, A. A constituio da sociedade. So Paulo: Martins Fontes, 2003.

    GOLDSZMIDT, R. G. B. Uma reviso de literatura dos fatores crticos para a implementao e uso do Balanced Scorecard. In: Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Administrao. Salvador Anais. Salvador, ANPAD, 2003.

    JACQUES, J.E. A importncia da anlise do contexto organizacional durante a construo e implementao de recursos assistenciais na gesto da criao do conhecimento: uma contribuio para o processo estratgico nas organizaes hospitalares. In: Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Administrao. Salvador Anais. Salvador, ANPAD, 2006.

    JARZABKOWSKI, P. Relevance in theory & relevance in practice: strategy theory in practice. In: 19 ? EGOS Colloquium, Copenhagen, 3-5 July, 2003.

    JOHNSON, Gerry; LANGLEY, Ann; MELIN, Leif; WHITTINGTON, Richard. Strategy as practice: research directions and resources. London: Cambridge, 2007.

  • Implementation strategy: barriers and facilitators highlighted specializes in Brazilian Literature

    Implementao de estratgia: barreiras e facilitadores evidenciados na Literatura Brasileira especializada

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    57

    KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. A estratgia em ao Balanced Scorecard. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

    MACEDO-SOARES, T. D. L. V. A. DE; NEVES DOS SANTOS, J. A. Gesto da mudana estratgica na sade no Brasil: um modelo para iniciar a implementao de estratgias de qualidade orientadas para o cliente. Revista de Administrao Pblica., v.35, n.1, p. 07-27, 2001.

    MARCONDES, Danilo. Iniciao Histria da Filosofia: Dos Pr-Socrticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

    MARIOTTO, F. L. Mobilizando estratgias emergentes. Revista de Administrao de Empresas. v. 44, n.2, p. 78-93, abr. /jun., 2003.

    MATTOS, Pedro Lincoln C. L. de. Teoria Administrativa e Pragmtica da Linguagem: Perspectivas para Problemas que Afligem as Relaes entre Acadmicos e Consultores, Educadores e Educandos. Revista de Administrao Contempornea, v.7, n. 2, p. 35-55, 2003.

    MEYER, C. Como os Indicadores Adequados Contribuem para a Excelncia das Equipes. In: Medindo o Desempenho Empresarial (Measuring Corporate Performance) Harvard Business Review. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

    MEYER, J.; ROWAN, B. Institutionalized organizations: formal structure as myth and ceremony. American Journal of Sociology, v.83, n.2, p. 340-363, 1977.

    MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safri de estratgia: um roteiro pela selva do planejamento estratgico. Porto Alegre: Bookman, 2000.

    MINTZBERG, H. Cinco P`s para estratgia. In: MINTZBERG, H.; LAMPEL, J.; QUINN, J.B.; GHOSHA, S. (Orgs.) O Processo da estratgia. So Paulo: Bookman, 2006.

    MONTEIRO DE BARROS, L. A.; FISCHMANN, A. A. Eficcia na implementao de estratgias. In: Encontro Nacional de Estudos em Estratgia. So Paulo Anais. So Paulo, ANPAD, 2007.

    PORTER, M. P. Estratgia competitiva: tcnicas para anlise de indstrias e da concorrncia. Rio de Janeiro: Campus, 1986.

    SCOTT, R. W. Institutions and organizations. Thousand Oaks, CA: Sage Publications, 2001.

    SCOTT, R. W. Organizations: rational, natural and open systens. Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall, 2003.

    SCHAAP, J.I. Toward strategy implementation sucess: an empirical study of the role of senior-level leaders in the Nevada game industry. UNLV Gaming Research & Review Journal. v.10, n.2, p.13-37, 2006.

    ROSSETO, A. M.; ORTH, D.; ROSSETO, C. R. Implicaes de variveis organizacionais na adoo de inovaes tecnolgicas em organizaes pblicas: estudo de caso de

  • Diego Iturriet Dias Canhada & Natlia Rese

    Future Studies Research Journal ISSN 2175-5825 So Paulo, v. 3, n. 1, pp. 38 - 58, Jan./Jul. 2011

    58

    implantao de sistema de informaes geogrficas em prefeituras de mdio porte. Revista de Administrao Pblica, v.38, n.1, p. 109-136, 2004.

    ROSSONI, L.; GUARIDO FILHO, E.R.; FRANCISCONI, K.; ALBUQUERQUE FILHO, J.B. Estratgia em organizaes: a produo cientfica em eventos nacionais entre 2001 a 2006. In: Encontro Nacional de Estudos em Estratgia. So Paulo Anais. So Paulo, ANPAD, 2007.

    SILVA, E. D. La implementacin de la estrategia y el control estrategico: un anlisis integrado. In: Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Administrao. Florianpolis Anais. Florianpolis, ANPAD, 2000.

    SILVA, E. D. Barreras a la implementacin estratgica: el caso Copel. In: Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Administrao. Campinas Anais. Campinas, ANPAD, 2001.

    SILVA, E. D. Sistemas de creencias: uma forma de facilitar la implementacin estratgica. In: Encontro Nacional da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Administrao. Campinas Anais. Campinas, ANPAD, 2002.

    WALDERSEE, R.; SHEATER, S. The effects of strategy type on strategy implementation actions. Human Relations, v.49, n.1, p.105-122, 1996.

    WEISINGERA, J. Y.; BLACK, J.A. Strategic resources and social capital. Irish Journal of Management. v. 27, n.1, p. 145-170, 2006.

    WHITTINGTON, R. Strategy as practice. Long Range Planning, v.29, n.5, p.731-735, 1996.

    WHITTINGTON, R. Corporate structure: from policy to practice. In: PETTIGREW, A.; THOMAS, H.; WHITTINGTON, R. (Orgs.) Handbook of strategy and management. London: SAGE Publications, 2002a.

    WHITTINGTON, R. Practice perspectives on strategy: unifying and developing a fied. In: Best Paper Proceedings Academy og Management, Denever, 2002b.

    WHITTINGTON, R. The work of strategizing and organizing: for a practice perspective. In: So!ap box. Editorial essays. London: SAGE publications, 2002c.

    WHITTINGTON, R. Estratgia aps o modernismo: recuperando a prtica. Revista de Administrao de Empresas, v.44, n.4, p. 44-53, 2004.

    WHITTINGTON, R. O que estratgia. So Paulo: Thomson Learning, 2006.

    WHITTINGTON, R.; JOHNSON, G.; MELIN, L. The emerging field of strategy practice: some links, a trap, a choice and a confusion. In: EGOS Colloquium, Slovenia, 2004.

    WILSON, D. C.; JARZABKOWSKI, P. Pensando e agindo estrategicamente: novos desafios para a anlise estratgica. Revista de Administrao de Empresas, v.44, n.4, p. 11-20, 2004.

    WITTGENSTEIN, L. Investigaes Filosficas. Petrpolis: Vozes, 1994.