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344976PISTOLAS'SELECTAS
D E
JERONYMOTRADUZIDAS NA LlNGUA VULOAR
POR HUM THEOLOGO PORTUGUEZ.
LISBOANa OF. Patr. de FRANClSCO LUIZ AMENO*
M. DCC. LXXXV.
Com \\cenqa da Real Mefa Ccnforla.
Vende-fe na loja de Joao BaptiRa Reicend, e*
Companhia, mercadores de livros no largo?4q Calharu eoiLisboa,
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cS. J E RON YMO.EPISTOLA I;/ A Heliodoro.
ARGUMENTO.TEndofe retirado S. Jeronymo parao
Ermo , intentou conferi>ar em fu& rom-panbia (como elle certijica em outra parte)aHeliodoro , companheiro amantijjimo
,que
por obfequio o/ora acompanbar : o que uaopodendo confeguir
,efcrevendo>the , o ex-
horta para ajbciedade da
-
a. Epistolasultimamente
, for tnodo de epjlogo , cngran*dece ajelicidade da ^uida remitica , e poemd wijia o terror do ^ttitp /upremo.
Meu coragao,
participante do2$ n0^ mutuo affedo , reconhece?^Jv-.42 com q uamo amor , e amizade
eu me tenho empenhado paraaiUilirnjos no Ermo junt^mente. Eftas mef-inas letras_, que vfcs de lagrimas falpic%-das, fao tertimunhas com que prantos ,
1
com quedor, com que gemidos te acom-panho a*ifeme. Mastu , cpnao infante de-licado
,por meio das" caricias o defprezo
de quem te fupplicava fomentafte. Poreineu inadvert!do ignorava o que nefTa occa-fiao fize(Te. Deveria calar-me ? Pojemqueria-te com vehemencia : nao podia comtudo temperadamente dislar^ar-me. Rp^^-ria com maior efficacia ? Porm tu naoAequererias ouyir > porque por fimilhantemodo nao amavas. O amor defprezado fcz,o que unjcamente pode , bufca remoio aquem ja
-
DE S. J E R O Tf Y M O*treitas ^ami^ades. O Ermo ama os pobres.Nao quero que da peregrinajao extenfa teatemorize a '^irKculdade. Tu quc crfcs emGhrifto , acredita juntamente as fuas vozes:Bnfcai o reino de Deo* primeiramente , etodas ettas coufas *vos feraS aprefentadas.N/to dweis tomar o currao , nem o cajado.
Chrifto he pobre. Porm que fa90 ? Segun-da vez incauto rogo ? Cetfem as preces
,
retirenvfe os affagos. Irritar-fe deve o amorefcandalizado. Tu que como fupplkanreme defprezaras
,como reprehenfor me ou-
viras acafo. Que fazes em cafa de teu pai,
Soldado affeminado ? Onde efta a trinchei-ra t Onde o fofTo ? Onde o Iriverno com oreparo das pelles fupportado ? Eifque doCeo a trombeta entoa : Ahi faheJobre asnuruens para conquiflar o mundo o Impera-dor armado, Eifque a efpada fahindo da bo-ea do Rei de ambos os fios amolada , quaes-qner coufas que encontra , \lla decepa. Etn fahes-me da camera para o efquadraoatmado ? da fombra parao Sol i O cdrp6coltumado as tunicas nao foffre bem o pe-zo da couraja. A cabe^a com o lenpo delinho refguardada antoja o capacete. Oafpero punho da efpada empoila a maocom ocjo amaciada. Ouve a propoA^aodo teu *Rei : Quem ejld contramim
,nao
eila comigo ; e o~que (omigo naocolhe ,def-per*
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4 . Ep istol a>s (tperdi$a. Lembra-te do dia de teu novida-db , em que fepultado no pBaptifmo paraChrirto
,nas palavras do Sacramento tu
jurafte,que a favor do feu nome nao ha-
via teu pai , ou mai fer para comtigo inrdemne. Eifque o adverfario intenta matara Chrifto no teu peito. Ao foldc
,que pa?-
ra haver de militar tu receberas , anhelaoos acampamentos inimigos. Aindaque doceu coilo pendente efteja o pequeno neto ;aindaque a mai com os vefiidos rafgados
,
c o cabello defgrenhado te moftre os pei-tos , com que tc nutrira ; aindaque o paiproftrado eileja no iiminar da porta ; cotnos olhos enxutos paiTa fobre o pai , ainda*-que efm:igado ; ao eftendar-te da Cruz ve-lozmente corre. Ser cruel nefta acao he ounico genero de piedade. Chegara , che-gara depois aquelle dia
,em que vifl:orio-
fo volres para a patria , em aue caminhespela Jeruialem celefte coroado como va-rao forre. Entao receberas o foro de Cida-dao com Paulo. Entao pediras para teuspais o direito da mefma Cidade. Tambementao rogaras por mim
,que te incitei pa-
ra a viftoria. Com tudo nao ignoro com3ue grilhoes dizes que te vhs embarapa-o. Nao tenho eu corapao de ferro , entra-
nhas impenetraveis. Nao me nutrirao osTigres da Hircania
,como fe nafcido fo-
fc de hum penhaCco. Tambem nos pelos
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DE/S. JEBON YM O. fmefmos tranHtos paAamos. Na prefente
viuva com ieus tenros* brap;os : agora hequete dizem os crioilofinhos , com quempa(fafte a mocidade : a quem deixas noff&efcra
-
6 Epistolaspara que a Jerufalem fe nao encaminhaf-fe
,refpondeo Paulo : Que fa\eis cboran-
do , e magoando meu cora$ao ? Pors eunao fo para fer prez.o; mas tambem paramorrer pelo nome de nolTo Senhor JefuChriAo, eftou difpofto.iEfte vaivem d^t pie-dade
,com que a fe fe combare , ha de
fer rebatido com o muro do Evangelho.Minha mai , e meus irmaos fao todos oscjue fazem a vontadc de meu Pai que eftat\os Ccos. Se crem em Chrifto
,favore-
ieu nnme. Se nao crem , os de/untos enter*rem fius dejuntos. Mas iflo dizes tu a ref-peito do martyrio ? Erras , irmao
,cnga-
na$-te,
fe juJgas que o Chrifta6 ja maisdeixa de padecer pcrGegui^ao. Entao prin-cipalmente es adalrado
,quando duvidas
ieres combatido. O no(Tb adverfario gy-ra procuranda devorar alguem , como okao que brama ; e tu julgas ifto por focego ? Rtpoufa c)!e com os ricos nas embof-cadas
,para occultamente macar os inno-
centes. Os feus olhos ao pobre fe dirigem,
como lcao na fua cova , arma filadas nolugar occulto , arma trai^oes para apanharo pobre > %e tu fua preza protegido com albmbra' da frondofa arvore contrahes ofomno para te fer fuave ? Dcfta parrc aJuxuria me pcrfegue ; daquciia pertende avareza acoraectcr-mc : datti o mcu ventre
quando houver de peleijar pelo
em
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r> E J EKONT.M 0# fem lugar de Chrifto quer para mim. ferDeos : combate-me o appetite deshoneftopara defterrar o fanto Efpirito
,que me
aflifte,
profanando o feu Templo. Perfe*gue-me
,como digo , o inimigo
,que mil
nomes tem,mil artes de prejudkar $ e eu
infeliz julgarme-hei vencedor 9< em quantofou maniatado -> Irmao cariHimo
,nao
quero que examinada a gravidade dosde-li&os
,imagines que o que temos dito fe-
jao cuJpas menores que as da Idolatria.Antes pondera aquella Jentenya do Apof+tolo
,que diz : Na *verdade rejleitindo co*
nhecei,que todb o Jornicario
,immundo
,
a*varento,ou enganador , o que tudo he
dos idolos apti
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8 / EpistolASentornado do copo fobrc a taja. Neguecjue a avareza feja idolatria aquelle
,que
a yender. o Senhor por trinca dinheiros featreve chainar juftica. Negue fer facrile-gio aquelle
,que efta de a(Tento na torpe-
za,que os membros de Chrifto , e a Hof-
tia viva a Deos agradavel,profanou com
as viHmas das publicas torpezas na facri-lega enxurrada. Nao confefle que o en-gano feja idolatria , fimilhante aouelles
,
3ue nos Atos dos Apoftolos reiervandoo feu patrimonio parte do pagamento ,com o caftigo a vifta perecerao. Adyerte ,Irmao
,que nao te he licico refervar aual-
quer coufa das tuas pofles : Todo ( diz oSenhor) aquelle
,que nao rtnunciar a to-
das as coujas, que pojjue , nao pdde fermeu difcipulo. Porque es Chrifta6 com ani-mo receofo i Olha com Pedro para a redeabandonada. Olha para o Publicano le-vantando-fe da Alfandega em continentefeito Apoftolo. Nao tem onde recline acabe^a o Tilho do homem ; e tu edificasamplos porticos , e efpa$ofos ambitos decafas. Tu
,
que refpeitas a heran^a do fe-culo , nao poderas ler de Chritto coherdeirro. Interpt-eta a palavra de Monge , eftehe o teu nome. Tu
,que es fo
,que fazes
entre a muitidao de gente ? Eu tambemifto recomendo , nao como fe tivera.a nko ,e carregapoes ipta&as, nem como fe fora
in-
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DE S jE.KO:Nt^O. f
inexpjeno dastprmentas ; mas.com voz tre-mula
,como ha pouco arrojado a praia
com o naufragio,aosque hao denavegar
annuncio jfto mefmo. Naquellas ondatiubmerge a ialvafa6 a Carybde da torpe-za. Ahi Scylla con\ virginal afpedp
,como
brilhante kfcivia , nos atrahc para fupppr-tar o naufragio da pureza. Aqui o barba-ro porro fe defcobre
,aqui o diabo como
piraca com feus focios traz as ligaduraspara os que hao de ler maniatados. Naocjueirais confiar-vos , nao queirais dar-Vospor feguros. Ainda que o mar efpraiado amaneira de tanque iifonjee ; ainda que afuperior fuperficie do mar pacifico apenagcpm ieve virac;a6 fe enrugue
, efta plani-cie referva grandes montes. 0 perigo laefta mettido dentro ; o inimigo efta dentrode r?ferva. Expedi os calabres
,19.11 as v-
las,
arfixe-fe a Cruz na frenre das anten-nas , tormenra he tal ferenidade. Porm fetu acafo me diiTeres : Logo que ? Nao faoChriftaos todos os que afliftem na Cidade iNao he a tua a mefma caufa quc a dosoutros : efcuta o Senhor que efta dizendo
:
Retirjtte, fe queresfer perjeito , a *vender
0 que tens,
e da-lo aos pobres, e torna
em meu alcance. Porm tu promerrefte quehavias fer perfeito: pois quando deteftado '
o vio,pelo reino dos Ceps te reformafte
,
quc outra coufa do quc a vida perfeita ad-qui-
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10 EPISTOIyA*qtririfte ? E o fcrvo de Chritto que hc per-fciro
,ourra coufa na6 poiTue mais que a
Chrifto; ou pCrfcito nao he , fe outra cou-fa poffue mais que a Chrifto. E fe nao hcperfeito
,diante de Deos meritio
,quhn-
do a Deos prometteo haver de fer perfei*ro. Mas a boca que mente
,fere a aima.
Logo , em cone!ufao , fe es perfeito ; por-que appeteces os paternos bens i O Senhorenganafte , fe nao cs perfcito. O Evange-lho atros com as divinas exprefsoes : Naopodeis obedeccr a dois fenhores : e atreve-fe qualquer fazer a Chrifto mentirbfo
,
obedecendo a riqueza , e ao Senhor. Mui-tas ve2cs a aicas vozes elle diz : Se al-guem defeja para mim a propria con-fcieneia baftara. Nen> cfla mefma procura-
va
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U.j J E K O K ff M O. IJtva o Senhor
., como qucm fagio , para Kentre as rujrbas nao fer eicicp Rei. Mas *hiha defprezo
., aonde quer quenaohaeftirmacao. Apnde ha defprezo , ahi fe da in-iuria, fuccefliva. E aonde ha injuria , ahila de haver irritayao. Aondc a irritajrao
,
ahi nao havera foccgo algum. Aonde napha focegp
,muitas vezcs 4o propofito f?
affafta a inrcn^ap : e apnde do intento fediminue alguma coufa peJa dirtrac^ao 9com menos eiRcacia obra p que fe abre-viou. E apnde ha menos , na5 fc pode di-_zer que ha perSei^ap. Deitecalculo fe de?duz aquelle fundamento
,que o Mong^
nao, pode fer perfeito na fua patria : E naoquerer fcr ^perJeito. ,he delinquir. Defj-perfuadido dQ
:
>prefente.eftado,aos Cleri-
gos tal vez recorrsras. Por yentura atre-verme-hei a dtzer alguma coufa deftes
,
quc nas Ajas Qidades reddem fem queftap JLonge va dp mim que aiguma coufa e#pronra ma daquelles
,que fuccedendp na
dignidade Apottolica,confagrao o cerpp
de Chrifto com fua facra boca , e porcu-jo meio tambem nos fomos Chrirtaos , eque de certp modo antes do dia do Juizpnos julgao
,tendo as chaves do reino do
Ceo em feu poder , e que com aurtera caP-tidade confervao a efpofa do Senhor. Po-rm hum he o inftituro dos Monges , ou*tro o do Cieio , comp toqnei. Os Cle-.
rigos
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it Em st o 1,31 9rrgos apafcentao 'as ovelhas^ - fdiT&apafcentado : eites vivm do jiWr^ a nriinlporm
,corria a arvore efteril , fc applica
o machado jurito da rate ,~ fe a olterendanao condugo ao A,lrar
,nem quarido p St-
nhor no Evangelho louva a idofa viuva :,
que no gazofilacio lan^ou os dois dinhei-tbs, que unicamenre poffuia?, a- minhajpobreza polTo pretextar. Nao mehe licitoaffentar-me na prefertja do Presbyrero : &elle fe perrhitte entregar-me a SatanaSat me tirar a vida temporal para
-
DE S. JRRONYMO. ljdejlote. enuriciadas todas as coufas
,que
daqui fe feguem,nao poz menos diligen-
cia na terceira dignidade,dizendo que os
Diaconos do tnefmo modo de*vemfer pudi-cos
, nao enganadores , nem dados a tnuito
-
14 r Epist O LASboa dlgnidadcj ailim do Carpo , e Sari-gue do Senhor fe fara reo , o que fe che*ga ao Caliz do Senhor indignamente. Nemrodos os Bifp6s fao Bifpos* Se attendes aPedro , olha para Judas juntamente : ad*miras a Eftevao ; mas olha para Nicoiaoao mefmo tempo , a quem o Senhor con*demna no Apocaiypfe por fua ^enten^aque tao torpes , e nefandas coufas inveriTtou ; que defte principio nafceo a Herefiados Nicolaitas. Examine-fe cada ouai , ca efla proporyao fe augmence. Niao fazChrifta6s a dignidade EccleGallica. O Cenrturio Cornelio
,quando
f pagao , he puri-iicado com cl dom do Eipiriro Santo :.
-
D E S. Je* ONt rto. ide daf tio dia do Juizo conra della ; alenide q*e a palavra affrontdfa cctarra noiTosirmabs f tem por peccado ddhomicidio.Eftar ^ho- ltlgar de Paulo , e ter a dignida-de d Pedro
,que ja reinao com Chrido
,
naS he facil ; para que acafo hao venha oAnjo que? r&fgue o vco do teu templo , eque do feti liigar te remova d candieiro.Havendo l de erigir torre , faze computodos gattos da futura obra. O fal embora-do para nada prefta,'fenao para fe lan-pr fora
,e fer pizado pelos porcos. O
Monge , ffc c^ahir,rog&ra por elle o Sacer-
dore. Pek^ueda do Sacerdore ^uem po*dera rogar ? Mas ja que 'a nolTa faila have-gou dbs pefHgofos prdmorttotrios , e potchrre os rochedos
,que atvejko com aron*
das efpumofas , a fragil embarcac;a5 fe en-golfour pclo mar alto ; as vlas fehaodealargar aos ventos , e vadeados os cacho*pos das qucftoes ; deve-fe entoar o mariti-mo applaufo- do epilogo a maneira do*alegres. navegantefc : O' deferto de Chrif-
i
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%6 Epist o l a s.nao fei cjue maior luz divifo. Voar aodiafano do .ai[ puro
,arrojado o pezo dp
corpo,a mim me agrada. Receas^a po*
breza ? Mas aos pobres chjwia Chriftobemaventurados. AFfliges-te com o traba-lho ? Mas nenhum athleta fem (uorhe co-roado. Pcnfas do alimento Mas a fe naoteme a forpe. Temes macerar fpbre a ter-Snua os membros confumidos doi jejuns !
as o Senhpr comrigo efta deitado. Ate-moriza-te o inculto cabello da c^abe^a femprnato ? Mas Chriftp h? tua cabe^a pro-pria. A infinita vaftidao dp i^rjnotenor-
tendimenro. Por:tancp tempo do ErCmp te
acharjis diftante: ,
por cjuantp la fubir.escom o pcnfamentp., A pelle
,che?
gara aquelle dia,em qtie efta corr^ipjap 3
e mortalidade , fe yijia da incarrupfao eda immortalklade : Bemwenturado enta#p /cwo , 4 quem o Senhor acbar 4*fp*rtof
Af-
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DE S. JERONYMO. 17Aflbmbrarfe-ba a terra com feus povos *c cu entao,-a voz d& trombeta tolgaras.Hayendo o Senhor de julgar , o mundochorara fenridamente. As tribus a vifta deoutra trlbu ferirao feus peitos. Os Reisantigamente os mais poderoios , com ocorpo nu palpitarao convulfos. Sahira apublico Venus com fua defcendencia : omcendido Jupirer fera ne(Te tempo condu-2ido ^^o nefcio Platao com feus difcipu-Ios : nio aproveitarao os argumeruos deAriftotele$. Enrao riras , e exulraras tualdeao , e tu mendigo , cdiras : Eis alliomeu Deos crucirlcado : eis alli o Juiz
,que
no prefepio chorou emrolto em pannos. Ef-re he aquelle filho do orEcial , e da fendo Debsfugio de hum homem para Egypto : cftede purpura veftido , efte coroado de efpi-nhos : eft Magico
,que tem demonio , e
Jie Samaritano- Olha,judeo
,aquellas
rnaos,que tu pregaras : olha , Romano
,
o Jado que tu penetraras ; *vfcde fc he porverirura aquellc o mefmo corpo
,que di-
aieis que de noite as efcondidas os dtfcipu-Jos roubarao. O teu amor , Irmao , me in-duzio , a que eftas coufas te diflefle , paraque entao fucceda ertarmos entre aquellasdelicias, pelas quaes agora cuftofo he otrabjUhO.
B ii EPIS*
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;epistolA n.
A Nepociano',
A refpeito da
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DE S. JeKONYMO. 19ccrtte idade retreWa , efcrevi a teu tio He-liodoro , varao jutto , huma carta cxhor*tatoria cheia de lagrimas , e queixas , quemoftrava o afFeto de hum companheiroabandonado. Nefla obra porcm , e nefletempo, dando iugara idade , rloreei , e ef-tando ainda quentes os eftudos , e rhcto-ricas inAruc^oes
,algumas coufas com flo-
Jts efcholaftieas ornei. Agora encanecidaa cabe^a
, e de mgas a frewe femeada , ependemes do queixo as papadas a maneiracas dos bois
, 0 fdnguefriofe me conjlipaao redor do coraqaS. Donde procede , co-mo o mefmo Poeta diz em outro lugar
:
Tudo diff\pa a idade , eainda 6 animo con-fome. E hum pouco depots : Tantos wr^osjd agord me efquecerao ; que ainda efta nH>\,Meris me ejcapou. Mas para que nao pare-ja
,que (o da literatura Gentilica fymo a
minha allegayao ; dos Liyros fagrados ouveos myrterios eom atten^ao. David fendoja de Tetenta annos
,varao militar no tem-
po antigo,pela velhice resfriada nao po-
dia cobrar calor. Bufcafe-lhe por efle mo-tivo de todos os confins de Ifrael a donzel-la Abifac Sunamitis, que dormiAe com oRei , e feu corpo ja velho lhe aquentafle.Nao te pareee por venrura , fe ao fentidoobvio recorres
, 0^1 que he ficfao de diver*timencc*
, ou chocarrice das Attelanas fa-bulas ? Envplve*fe hum velho frio nos vef-
tidos
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20 Epistola^stidos , e fcm o a.bfajo de hutna mocanaoaguece. Bethfabee ainda vivia
,Abigail
cftava sa , e falva , como tambem as ou-tras fuas mulheres , e concubinas , qu afagrada Efcriptura nos relata. Todas faopreteridas como frias , e no abrajro dehu-ma fo manceba efte veIho aquece. Abra-ham foi muico mais velho que David , ecom tudo nao conheceo outra mulher , vi-vendo Sara. Ifaac teve dobrados annos deDavid
, e com Rebeca ja velha nunca ar-refeceo. Nao falio dos varoes primitivosantes do Diluvio
,quetlepois de novecen-
tos annos,eftando os piembros , nao digo
ja velhos,porem quafi carunchofos , nun-;
ca procurarao abrajros feminjs, MoyfesCapirao do povo Ifraelitico , certamcmetinha cento e vinte hum annos , e nuncatrocou Sephora por outra mulher. Quemhe iogo efta Sunamitis cafada , e donzellatao callida
,que aquecia a quem eftava
deftituido de calor ? Tao fanta,quenao
provocava hum callido a lafcivia? Expo-nha o fapknciffimo Salomao as dciicias derfeu Pai , e hum paciiico nos nai re os abra-$:ps de hum varao conquiftador. Voffu* &Jabedoria. Poffue a intelligencia. NaS te ef-que$*$
,nem das palawas da minha boca
te depvies 1 nao a abandones , e tambemella ie affociard ; ama-a , e te confervard :0 principio ia fabtdori4 , bt * jabedoria
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DE S. JROWYMO. lfpoJfuir : t tnirt todas as tuas po(fes poJfut Sintelligencia : abra$a-d , e te exaltard : />on-
, e fe abracara , e fobre a cabe$a huina coroa de gra$as te pord : e tambem hu*tna coroa de delicias te protegera. Quafi to*das as virtudes do corpo oos velbo9 (ttranftornao , e augmentarido-le a (abedo*ria fo , as mais virtudes dos jejuns
,vigi*
lias, efmolas , dormir rio chao' , as digref-
soes para humas, e outras partes , a hofpe
dagem dos peregrinos , a protec^ao dogpobres
, a inftancia na orayao , a pcrfe*veran^a
,a vifita dos enfermos , o traoalhct
das maos, coro que fe adquirem as efmo-las dos pobres
,perdem o feu vigor, E
para nao dilatar mais a pratica ; tudo oque por intervenfao do corpo fe eicercita,enfraquecido o corpo , fe reduz a menos,Nem ifto digo
,porque a Yabedoria fe res-
frie nos mancebos, e que ainda fao de
mais vigorofa idade ; daquelles fomenteue com trabalho , e fervorofiflimo eftu-o
,juntamente com a fantidadeda vida
,
e frequencia da orayao a noflb Senhor ]efuChriAo
,a fciencia confeguirao , a qual
com a idade na rhaior parte dos velhos feenfraquece : mas porqu* a mocidade fup-porta muitas hottilidaides do corpo , e en-tre os tncentivos dos vicio$
, e a irritayaoda carne
, como fogo na lenha verde , fefufibca de t^ forte a que produzir o feu
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%t ,Ep htolas/ cfplendor nao pode. Mas alcm difto a rc-
Ihicc daquelle$,quc em artes honeftasa
fua adolelcencia exercitarao , e na lei doSenhor de- dia , e noice meditarao
,faz-fe
com a idade mais robufta , com o ufomais trivial , com o decurfo do tempo maisfabia
, e dos antigos eltudos fruh>s dul-ciffimos recolhe. Donde rambem Themif-tocles
,aquelle (abio varao da Grccia,
quando vip que iporria,completos cento
e Tete annos de idade , diz-fe que diflera ,que fe laftimava
,porque entaa fe aparta-
va da vida, quando a faber alguma coufacomofava. Efcrevendo morreo Platao aosGitenta e hum annos de idade. Ifocrates -no trabalho de enfinar , e efcrever noven-ta e nove annos completou. Nao fallo dosmai$ Filofofos Pythagoras
,Democritoj,
Xenocrate$,Zeno , Cleantes
,que na ida-
rde & creCcida nos ertudos da fabedoria flo-jecerap. Volto agora aosPoetas, Hom^-r6
,Hedodo ,Sjmonides
,SteGchoro
,qtrfc
de grai\de idade nao fei que melodia deCifne
, e mais doce do coftume com a mor-te vifinha enroarao. Sofocles
,quando por
leus Jilhbs foi accufado de demencia , tan-to peja nimi? velhice
,como pela negU-
^encia do fuftem;o da cafa,
recitou aos'juizes a fabula de Oedipo
,qye ha pouco
compozera : e t^o grande proya deo de fa-bedoria na idade ja debilijada
,que redu-
ZiQ
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DB S. jERONYMO. 2Jzio a feveridade do tribunal emi celebrida-*de do cheatro. Nem he de admirar
,qiun-
do Catao Ccnforino da gera^ao Roma^ao mais difcreto , tambem quando ja ve-lho, nem fe envergonhou , nem deixoude efperar aprender as letras Gregas. Hc-mero affirma de cerro
,queda lingua do'
velho Neftor , e quafi ja decrepito , hu-roa perfbafao mais doce que o mel fe dif-fundia. Tambem o myfterio defte nomeAbifac annuncia por mais ampla a fabedo-ria dos velhos ; porque a fua interprcta^aahe : Jlicu pai fuperfiuo > ou bramido denteu pai. A palavra fuperfiuo he amfi-bologica : mas no prefente lugar da indicidde virtude ; porque nos velhos ha maisampla virtude
,exuberante, e copiofa :
ainda que em ootro qualquer lugar a pala-vra fuperfiuo por nao neceffario fe accorao-da. Mas AbiTac , ifto he , bramido , pro-priamence aflim fe chama ; porque beracomo a agua do mar retumba ; e ( paraque affim diga) hum bramido fe ouve co-mo que vem do mar. Donde fe prova qtienos velhos ha hum trovao da div!na pala-vra muito mais aburidante do que a voznumana* Alem difto Sunamitis diz-fe rubicunda no no(To idioma
,para fignificar que
a fabedoria aquece , e com a divina lipadferve ; ppr quanto ainda que inculca o Sa~cramcnto do Sangue do Scnhor ; com tu-
do
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24 E * I S T O Li sdo rambem indica o fervor da fabedoria.Donde igualmenre aquella parceira men-cionada no Genelis ara o efcarlate na maode Fares
,que por iffo mefmo
,que divi-
dira a parede,que dances os dous povos
ieparava,alcanjrou o nome de Fares , ifto
he de Di(alva
,
quando cahiite Jerico. Donde tambcm etnoutro lugar a Efcriprura de var5es Santosfaz men^ao. Eftes fao os que vierao do ca-lor da cafa do Pai Recbab : e nofTo Senhotno Evangelho diz : Vim crazer fogo a ter-ra
,que quero qu'e arda ; o qual ateado
nos coracoes dos Drfcipulos,os obrigava
a dizer: Por
-
D1'9. Jerohtmuperpctua virgindade
, e que ,1 como quoti
-
^6 E r i s * o l A]S -mc
,esforce-fe para fer b or iffo mefmo fc chamao Cleri-gos; ou pofque fao da fortedo Senhor
;
;
qu poraue a forre,
ifto he,parte dos Cle*
rigos, ne o njefmo Senhor. Par tanto a-quelle que ou he parte do Senhor , ouco*mo paite poffu$ ao Senhor , xlcve moftrar-fe tal
, que elle mefmo poiTuaao Senhor re feja polTuido do Senhor. Quem poATue o>5enhor,.e diz com oProfeta: O Senborhe parte minba , nada pode poATuir mais
-
D E?.S. jRO N-Y M O. 27qtre quando a fer Clerigo comeyatte , c fttc diga : as poflef$6es dos Cierigos nao Ihesaproveuarao. Porque alguns ha mars ricosquando Monges , do que tiahao fid6 quatf-de Seculares : c Clerigos ,-que debaixo dkmilicia de Chrifto pobre pottbcm as'riqu6-zas
,qtie cm^poder do diabo rico , c en-
ganador nao pottuirao: dc Torte que co*mo ricos lamenra a Igreja aqucllcs,
,que
-dantes o mundo poAuio raendrgos. Rnco-nhe^ao pois a tua mefazinha os pobres , cpcregrinos *c Cbritto junUmente com eliesconyidado : ioge como de pefte , do Cieri*go negociante j que de pobrc veio a fer-rihco
,pompofo dc abacido. As pcffimas c&>
munica^oes damnao os bons coAumes. Sedefprezas oouro
,outro o ama^ fe pizasas
riquezas, aquelleas procura : fe amas orfi*lencro
,9 fmnfidao, afolida&; aqueUc a
loquaxrid&de-to
-
28 E v i s t o t X~scsbulhou da fua poAeATao o novo povoa-dtor do Paraifo terreal. Eftando doente
,
aflifta-te algum Frade pcxfeuo , e tua ir-mi , ou tua mat , ou qualquer. outra deapprovada reputapao para eom*odos. Mase nao houverem pciToas de Rmilhance pa-rentefco , c caftidade ; muitat velhas ali-menta a Igreja
,qu cumprao efte minif-
terio, e recebao a retribuipao do feu fer*
viyo,para cjue tambem a tua,infermida~
de,
configa o fru&o da piedade. Algunsiei que coiwaieicerao no corpo , e que co-itieparao a cnfcrmar na alma, Arrifcada-meiue te ferve aquella, paca cujo roftofrcqrjentememe olhas. Se pbr razao do0ificto de Clerigo alguma viuva
,ou
donzel!a he vtfitada por ti , nunca entrtsem cafa defacompanhado. Toma.por com-panheiros
,taes.;fujeitos,, cot cuja, compi-
nhia nunca fe)as infamado. Se algttm Lei-6r, Acolytar, ou Cantor teacompanhar,nao fe dittingua pelo vefttdo , mas peloscoftumes ; ncmcom o fetr6 encrefpem ds.cabcllos ; mas pelo trage tndiquen aJpure-*a. S6 com defacompanhada nao. te aiTcn-tes em fecreto , e fem arbttro , ou tcfti-unha* Se It houyer de tratnr alguma cou-fa mais pwttticularmente ; a.cafa tera amade leite mais idofa , ou aJguma donzella ,*oaviuva , ou cafadart nap iera ella de taomab genio, quc ntngucm tenha mais que
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DB SJTeKON YMO. Zpa ti de qucmwfic. Evita tod*s as fufpeireas, e tudo o que provavelmente fingir fcpode
,e para que fe na5 finja de ti
, acabr
'
rella-o antccipadamente. O amor fantona6 admitte repetidos prcfentes, como lerirfos para o fuor
, humas pcquenas ^ntas*
como rambem lenjros para allpar,manja*
res exquifitos, canas atta&jyas , e agra-
davcjs. Nas coraedias envergp^h$mo-nos,
nos homens do feculo deteftamos as ex-prefsoe$, de meu mel
, mm olbos y tnhiba.Jaudade
, todos os mimos, p g^lantarias ^
como tambem as urbanidades dignas dei.ejtodas as mais, loucqrajs dos aipan*
te$; quantp mais ei>tre os Monges , e Cler
rigps, cujo S^cerdocio fe adorna com opropofito
,e p pippojTuo ^ojn^ o acerdo-
sio \ Nao diga ifto j/po^e ^ecee efta[$cojjfas em tur pu cnt}e os varoes juftificardos: mas pprquc>rojto^ o^c^no ^en*tpda a dignidajde
,e fe^p /fe a^ao bon^ #
e maos,
e /^pndemna^ap do$ fnps he
-
30 -v E P I S T O L A SCaurerid : mas para que he a ferida , fe ddtauterio hei de necellicar ? Providente , e
, fevera he a precau^ao da lei ; e cbm tudbneni affim: a 1 avareza fe poem fim. Pelascbmmifsoes
,de que nos encarregamos , iK
ludimos das leis , e q.uafi lememos y quefejao mais feveros bs ettetutos dos Impe-Tadores , do que as leis de Chritto. Hajaherdeirb ; mas feja : & maf dos filhos ; iftohe , do feu rebanKb a Igreja
,que ge-
tou \ alhtttrtou, e fuftentou os feus. P&-ra que nbs iruromttembs entre a Mii , eos Slhos? A gloria de 4mfn Bifp6 he darj*rov*fdertcitf 4' heceAidade do$ potoes: Aignortiinia def todos os Sacerdotes he ad-
bte cafa y e eni ruttica choupana , e pordeiido apenas faciar o ventre Aatuleiuo demilho
,e pao de rala ; agora aomel, e
rolao tenhb faftio. Conhe^o tanto o$ gene^ros , como os pomes dos peixes. Sei pet*feitamente em cjue praia foi colhida a oftta.PWo fabor diftingo a* provirtcias das aves;e a raridiade dos^ manj&res , comoopro*prio diTpendib ultimamente me delcitaoiAlm difto etr 0U90 o fordido fervi90 dealguns em obfequio de ve!hos , e yelhas-ique nao tem hos. Applicao-lhe o oafi*nol
,certa6-Ihe o leito : a rtiatesria
-
DE S. jERONTldO jldico fe foobrao , e com os beicos tremu-.los, fe a melhora fe augmenta , lhe perguivtao : e fe o velho eftiver hum pouco maiscfperto
,fruftra-fe o trabaiho ; e com hu-
ma alegria (imttlada , fe acormenta o ava-ro animo interiormente ; porque tememvir a perder o feu minifterio j e a idadede Mathufalem comparao o vividoiro ve-lho.
para que quando fallares na Igreja , te nao.iefponda la comfigo alguem : Pois porqutraipo nao executas tu e(fas mefmas coufasque injihuas ? Fraco mertre he o que di(pu-tl dos jejuns com o vencre iarto* Tambem.
C huj^
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3* Epistolashum ladrao jpode declamar contra a avare-za. A boca , entendimento , e maos doSacerdote de Chrifto entre fi concordem.Sujeita-te ao teu Bi{po , e olha-o cemo apai da tua alma. O amar , he dos filhos ;o temer , dos fqrvos : Se eufou Pdi > ( dizo Senhor) aonde efla a honra
,que me
compete i Se eu fou Senhor , aonde ejld otemor
,que.Je.-me de
-
DE S. jE*ONt^Q. 3jpropria: nao como quem intperiofamentedomina o Clero , mas feiros hunu ibriMde rpbanho por amor; para:que quandaapparecer o Paftor principal , recebkrs.hu*ma cgroa de gloria nao caa^ica.;Peffinn>;coftome he em algumas Igrejas callarem^fe os Clerigos, tr nao fallarem na prefen-ca dos Bifpos , como fe lhes tiyeuem in-veja, ou fe nao dignaflem.de os ouyir. Efe a outro eftando aiTentadp ( diz ocApQf->tolo S. Paulo) algama cpufa far: reyela-*da, cale-fe o prlmeiro .rpowjae porcad*hum de vos podei? profetizar
,pafa tjub
todos aprendao , e todos fejao comoiados ,pois o efpirico dos Profetas efti fujeitb ao*Profetas : por quanto Deos nao hc de dtf-cordia, mas de paz. A gloria do Pai he oo filho iabio. Folgue o Bifpo da fua opi-niao
,quando para ChriAo eieger taes Sa-
cerdotes. Prgando tu. na Igreja , nao feexcite a acciamayao do povo ; mas os ge-midos , e lagcimas dos ouvinces fejaS osteus louvores. A linguagem do Presbyte*ro com a iifao das efcripturas fe tempcre*Nao ce quero declamador , e rabula , efallador iem difcernimento : mas inceili-gente dos Myrterios , e nos Sacramentosde teu Deos inftruidiffimo. Prdprio he doshomens nefcios. amontoar palawas , e fa-zer ottema^ao de fi entic o povo imperitocom a veloiidade.de faliar. Ohomem ferxj
V: C ii pe-
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34 E V I S T O L A spejo muiras vezes incerpreta o que nao fr?be , e depois de perluadir os oucros , faztambem de Tciencia ottenta^ao. GregorioNazianzeno meu Meftre ancigamente
, ro-
gado por mim para que declaralfe,
c]ueqoeriao Cgnificar em S. Lucas as palavras~Sabbatum deuteroproton , lindamentc gra-cejou dizendo : Na Igreja fobre ejla ma~Uria te injlruirei , aonde applaudtndo-meo pomo todo
,ferd$ obrigado a Jaber con-
tra e em oucro iugar a Socrates dif-putando encre fi
,cujas idades fabemos quc
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d e S. Jerontjio* jjrforao diftantes nao fo por annos , mas porJdcules? quamos applaufos , e clamoreselle move, ^ocque tem muitos eondifd-J>ulos no tbeatro , que nao aprendcrao asetras juntamenre^ vitaxu igualraente osveftidos funebres co&io os elegantes. Deigual modo le devem evitar os omarosr,como a forticie ; porque huma coufa def-
Digno he de louvar que fe naoande fem*eftido de lcnho : mas quc junranlcnre fefiao podua o preyo dos veftiJos.de linha:de oucra "Toneiie ridlculo , e contra a iion*ra gloriares^te de ter a bolfaprovida
,por-
que nao rens lenjo , nem nelogio. Algunsha que di^tribucrrt coufa pouca peios po-
lesto cfmola ptocurao as riquezas
-
%6 Efi*rorLAsolho ; outro lingua ; outro mao ; oturb peuvido
,ventre, &c, Lfc na Eptrtola de
-Paulo aos Corinthios como do que a eloqiiencia ef-^candaU>fay Muitosr cdiitcao as paredes ,> *\efigem rr* colomnas da Jgr?ja : alvejao os-inarmores v brilha6 com o/ oumos forros
,
-diftinguevfe o Altar pelas pedras pf$cio-^fas; e fo dos Miniftros
-
D E S. J E R OBNY M titkjulgamos? Que inquiriibos , e amarrics ;quando Pedro glorioiam^nte cenifica naoter nada ? Se pelo contrario fegwimos fo aletra
,e aTmiules hiftoria no ouro , e nas
riquezas' nos aeleita ;~
juntamente tom oouro obfervemos as mais coufaSi Os Prela?dos de Chrifto recebao por mulheres asdonzellas. Ainda que bom juizo confervequem tiver cicatriz , fe por i(b he*feio fprive-fe do Sacerdocio. Anteponhaife *lepra do corpo aos vicios da alma. Cre-jramos
, e tnuttipliquemo-nps , *e,cncba-mc^ toda a tetra ; nem facrifiquemos oCordeiro
,nem a itoy{tertofa Pafchoa cele^
bremos : porque eftas coufas fem Templopela lei fe pwhtbe que fe Ea^ao. Eirme-mo& no fe|nimo mez o Tabernaculo : conta buzina facamos fpar o jejum folemne*Mas fe conrrorttando efpiritualidades coi^ifcfpiritualidades ; e Cabendo comPaulo qjuehe efpiritijal a lei , e cantando com Daviflas feguintes palavras : Abri meus olhos , econfiderarei as maravilhas da tua lei : domefmo modo as ^ntendemos , bem comoas entendeo noffo Senhor ^ e como inter-pretou o Sabbado ; ou repudieraos o ouroom-as mais Aiperlti^oes Judaicas : ou feagrada o ouro, os Judeos tambem agra-dem
,os quaes nos he necefTarii> , ou ap-
provar, ou reprovar com o, euro. Evitem-
-
^8 E M S T O L A S 'cipalmence daqtieUes
,que com honras fe
enrumecem. Torpeza he que fafao fentinelia os Soldados
,e Li&ores dos Gonfu-
ies as. portas do Sacerdote de Chriftq cru-cificado e pobre ,^5 que jumamente fe fuf-tentava do alimento alhcio : e queoMi-tiiftro da proyincia melhor fe banqueteeem tua cafa
,do que em hum palacio.
Mas fe pretexcas fazer cftas coufas , comopara ter occaiiao de rogar pelos miferaveise teus fubditos ; o juiz do feculo mats de-fcre ao Clerigo cafto , do que, ao rico
;
mais refpcitara tua fantidade,que as ri-
quezas. E fe elle he tal,que nao ouve os
Cierigos a favor de quaesquer atribulados,fenao entre redomas t garrafas ; de boayontade carecerei de (imilhante beneficio j
ct foccorrcr do que o ]uiz t porque ttielhorhe confiar no Senhor , do que no homem
:
melhor he efpeTar no Sennor , do que ef-perar nos Principes. Nunca cheires a vi~nho
,para que nao ou^as^a^UiHo do Fiio-
fofo : Nao he ifto dar ofcul^ ma$ fim dar-*ne 4 beber que pode embriagar j ou elr
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i>e S. Jekonymo* 39la fe fac;a de qualquer grao , ou do c;umo>da fruta ; ou quando fe cozem os favos pa-ra compor bebida doce , e barbara ; ouquando para licor fe eipreme o fru&o daspalmeiras
, e coaidos os fru&os , a aguamais efpeffa fe torna corada. Foge de tu-do o que embebeda como vinho , e trans-torna o eftado do entendimento. Nem iftodigo
,porque a creatura de Deos por mim
baja de fer cenfurada ; vifto que tambemo Senhor por bebedor de vinho foi intitu-lado i e huraa limitada porpao de vinho>foi difpjenfada a Timotheo
,quando do
*ftomago fe queixava ; mas na bebida con-forme a qualidade dos annos , da doen^a,e dos corposliuma mediania procuramos:pois fe fem vinho me abrazo na mocida-de
, e me inAammo com o calor do fai?gue
, e fou de corpo raufculoio , e forte ;de motu proprio me abfterei da bebida
,
na qual ha fufpeita de veneno. Bellamea-te fe diz enrre os Gregos , e nao fei fe en-tre nos igualmente foa
,que o ventre grof-
fo nao ^era entendimento delicado. Cin-ge-te a hutna tal maneira de jejuns
,quan-
to poffa fofFrer a tua natureza. Sejao ellesfem defeito
,cartos , Anceros , moderados,
e nao fuperfticiofos. Que aproveita nao foalimentar de oleo , e bufcar de propofircialgumas efquipafj5es , e raridades de man-jares
, como figos padados, a pimenta,no-
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40 E*I"STOLASnozes
,amendoas
,flor da f*rinha
,mel /
nozes de Alexandria. Toda a cultura dashortas fe atropella
,
para nao comermosdo pao ordinario ; e em quamo pefquiza*mos as delicias
,do Reino dos Ceos anda-
mos alongados. Arrti difto 6uto,que al-
guns contra a ordem das coUias,
e doshomens na6 bebm agua,nem pa6 coriiem ij>orm cjue bebem nao por copo
,tnas p6r
concha caldinhos' delicados,
"e hortaiigaimacerada e gumo de varias bagas. OHpejo ! nao nos ttWergonharrtos dteftas par-Voices i nern lefta fuperftic;a6 nos enfaftia-mos? E fobre tudo ainda btifeamos famade abjlinencia entre delicias. O mais rigo-*ofo jcjunt h pao e ag
-
DE S. JEK ONYMO. 41a trifteza : NaS 0 moletta de dia 0 Sol , ede noite a Lua. Nao quizera eu que ii-zefles orajao nos angulos das ruas
,para
-
4% E V I S T O L A Spedras preciofas tanro fe ce convertem enlefcudos para a defeza ; quanto juntamen-te fao para ti de ornato. Cuida rambemm nao teres lingua
,e ouvidos comicho-
fos : venho a dizer,que nem tu digas mal
dos outros ; nem a eiTourros ou^as mur-mifrando. De a(fento ( diz David > contrateu irmao /alla^as , e interpunbas contra ojilbo de tua mefma mai o ejcandalo : ittofij(fle 9 e eu fiquei calado. Penfafte tnal
,
fe cuidas que hei de fer teu {imithante. Eute arguireL, e porei na tua cara tuas mef-mas iniquidades.
-
de S. Jeronymo* 43que ao murmurador os ouvidos patentea iPor canto vifitar os enfermos condi^ao hdpropria do teu officio j reconhecer as f**milias dasmatronas, e o fegredo guardarranto o de feus Hlhos , como o dos varoednobres. Da tua obrigayao he confervar caf*tos nao fo os olhos , como cambem a lin*gua. Nunca *dt(putes da fifionomia dasmuUieres ; nenhuma por tua via faiba
,
o que fe faz em cafa de qualquer outra.Hypocrates
,antes que enune , feys difci*
pulos obriga a juramento , e a jurar naftfuas palavras os compelle : excorque-iheso (ilencio com o juramento : as palayras
,
os paATos, os trages , e coftumes lhes pref-
crcve. Quanto mais nos , a quem foi cona-mettida a adminiAracao das almas de to-dos os Chrirtaos , amar devemos as fami-lias como proprias? Conhe^ao nos antescomo confoladores nas funs af8icf6e$ ; doJue como convidados nas profperidadcsacilmente he aborrecido o Cierigo
,que
fendo convidado , nao recufa ir ao banquc-te muirts vezes. Aceitemos nunca rogan-do; rogados, poucas vczes
-
44 Epistolasprega continencia
,nao ajuftex:afamentosrf
Qucm lfc o Apoftolo,que diz : Retia que
ts que tem mulberes de talfortefe portem ,como fe na3 as tweJTem. Porque razao a ca-far obriga a donzella i Quem depois dchuma vez oafado he Sacerdotc:, para que4tconfciha a viuva a que Tegunda vez fccafc i Os Procuradores , e Mordomos dascafas, e quintas alheias como podem ferClerigos
,vifto que fao mandados defpre-
zar as proprias taculdades i Roubar algu-ma coufa ao amigo , he funo : defraudara Igreja
,facrilegio. Tomar o que fe dcve
diftribuir pelos pobres , e fendo muicos o$famintos querer fcr acautellado , ou tirni-do ; e , o que he muito mais manifeft*maldade
,furtar-ihes alguma coufa , excc-
de de todos os ladroesa crueldade. Eu ef-talo de fome
,e tu cs o que julgas
,quan-
10 bafta a minha neceHIdade i Ou diftri-bue com diligencia o que recebefte ; oufe cs timido mordomo folta o bemfeitor
,
para que clie dittribua as fuas coufas. Naoquero que a meu refpeito fe avulte a tuabolfa. Nirjguem melhor do que eu podeguardar as minhas proprias coufas. Heoptimo difpenfeiro o que nada para fi re-ferva. Tu , amantiHimo Nepociano , mebrigafte
,apedrejado ja o iivrinho da vir-
gtndade,que cm Roma eu efcrevera
-
DE S. JeKONYMO. 45Tnos em Belem fegunda vez eu declamaf-fe, e quc para fer aiTeteado pelas linguasde todos me entregaiTe. Pbr quanto, ounada fe havia dt efcrever
,para naoen-
contrar o juizo dos homens , o que tu naoqtrizefte que eu fizefle j ou efcrevendo , virno conhecimento
,que contra mim fe ha-
viao volcar as lan^as dos maldizentes to-dos
,aos quies rogo
,que fe pacifiquem
,
c defiftao tambem de maldizerme ; por-J[ue nao efcrevemos como ajnimigos , maslm como a no(fos alTociados : nem hosagaftamos contra aquelles que peccao ; masos exhortamos a que nao peccaiTem. Nempara com elles fomente ; mas tambem pa-fa comnofco mefmo fomos juize$ feveros ye querendo do olho de outrem tirar o ar-guciro
,primeiro a ho(fa trave removemos.
nha cicriptura foi (inalado o nomc. A nin^guem cm pai ticular impugnarao as minhasvozes. Geral foi a difputa fobre os vicios.Quem quizer irritar-fe contra mim
,ello
primcuo confeffara de fi fer outro tai,
offendi : de ningucm pela mn
EPISt
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46
EPISTOLA IIL
Prefcrtve a SuSlico 4 norms de tnruer^ dos Monges.
ARGUMENTO.TjNjina a Ruttico
,Monge Prance^, dt
que modo cowvettha ordenar a
-
w Si Jeronymo; 47gOy bo)? ettarascomigo no Paraifo. Juda$da eminencia do Apoilolado cahe n& abifcmo da aleivofa entrega : e nem com a farmiliaridade dp banquete., nem com mo-Jhar o pao oo prato , nem icom o beneficiodo ofculo fe refrea, para que deixe decntregar a feu Senhor
,qije. pp* fiiho de
Deos reconhecera. Que cpi^mais. vU que 7a Samaritana? Pois nao X6 eHa, cr$o
, edepois de. feis maridos a' ignprando-0x> povo dos Judeos , ella junto da fpntppor Meffia$, reconheceo j mas da ^ahra^aode muitos foj auihora
, c occupados, osApoftolos em eomprar comcr r slla refaza fome do Senhor , e d^ can^ado o fazjeclinar. Quem mais fabio que $alpma6 >Com tudo elle fe enfari5a com amores mu-lheris. Bom he o fal , nem fem fua falpi-cadura fe intenta facrificio algum : pel^que o Aportolo recommcnda Sempre jferja temperada cam d graqa do fal a
-
48 fS P I S T O L X* Seminencias , e que quem piza os irtcemi--vos da adolefcencia , ou ainda da puber*dade
,chega fem duyida ao grao de huma
1>erfeita idade : mas tambem digo que heubricb o caminho por onde ertrras ; e quedepois da Lvi&oria fe nao confcgue ranragloria
,. Ja fubi/te ao te&o , e eirado com o"Apbftolo S. Pedro , o qual faminco entre-os Judeos , com a fe de Cornelio fe facia*,
-
D E S. jEfc OtiYMO. 49te , como qucm te leva pela mJo ; o quecomo navegame prarico depoisde muitosnaufragios intento- enfmir-te
,piloto tifo
hho , vem a fer: Quc conhegas emquepraia o pirata da eaftidade tenha airellden*cia , ' aonde triore Caribdis , e a avarezaraiz de todos os rriales, aonde os ladrado-res eaes.de Scila : dos quaes diz o Aporto-!o: Para que n&o *vos mordtndo com slter-nm*va
,
-
fe o Oceino,pelo qual ; apenas T/e chegj
a tadia em hum anno- fy Eu fei que hei de aggravaxa muitos
,,quc attribucta a affronta fua a
d fputa dos vicios emgerai , e em quantoic agaiUp cpncra . mim , abrao a confciea-
cia>
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D*fe "S. 1J E * O N Y & O. 1cii
,e julgarao muito peior de*ft , "do que
de mim : pelo que eu a ninguem nomea-rei
,hem pela Hberdade da comedia anti*
ga deftinarei determinadas peAToas paranaver de reprehender. Do varao pruden*te
,e das mulheres enterididas he o dis*
farcar,ou talvez emendar^o qtje entende*
rem proferido a feu refpeito , e mais d-prelTa contra G fe irtitar
,
que contra mim,
e fobre o admdettador artiontoar as maldicoes, o qu*l ainda que nos mefmos cri*mes feja convencido , cenrameme de me*-Ihor condi^ao efta nefta parte
,
dou a Roma,fem perdoar a gaftos , e que
fupportava a aufencia do ttiho com a^etperan^a dos futuros accrefcentamentos
,pa*
ra que a gravidade Romana temperaATe xabundancia da Frana , e^O^ imjtador dafua lin^uagem : e qoe para comttgo na&ufava de efporas
,mas de freio , o que
eertaraente lemos nos difcretiffimos varoesda Grecia
,que a inchacao Aiiana com o
fal Attico defecavao a e as vinnasexub&-rantes de folha$ com a fouce 66% aybuteBdecotavao
,para que os* iagares da tl&r
quencia na6 tr*5bor4lifftm. dasjipairrastdas
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jTi E P I S T T L.-* rS>alavras ; mas das^emenyas , como fe fp?cm exprefsoes das uvas. A efta reveren-tea como mai , ama-a como alimejiTado-ra , venera-a como fanta : nem imircs os
exemplos daquelles,
que abandona5 asfuas, e apperecem as alheas ; a infaniia dos e dc barba comprida ,4jue nao podcm apartar-fe das muJhercs
,
quc vivem dentro da mefma cafa,que cm
congreiTo celebrao fcus banquetes,
quc
Iara miniftrar tem efcravas mg^as , e naoavendo palavra de calamenro , todas as
acpoes fao de matrimonio. Nem efta cul-ya he do nome de Chrirtao i porquanto0 Kypaciita da religiao heo culp^do : an--
- *
" tes
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ds S. Jeronymo. 5:5tcs he confufao do Geotilifro que as Jgji^jas defagrada aquiIlo
,que a ncnhum dos
bons conrenta. Porem ru , fc na realidad*queres fer Monge , c nao parecello tcn*vigilancia , nao dos bens dpmeftiqos
,
cjue renunciando o comejatte a fer ; m*fda tua alraa. Os veftido$ rojados fejao rnrdicioS da candura daalma a pobre tut^-ca dh documento do defpreao dp fpci)lp t fmas de tal forre
,
que nem ^o animo fc*$tfoberbefa
,nem o habito ,-e a ijnguage^i
defconcordem. Nao procutc a jrcgaio dp*banho*
,qu$m com p foc> do?jejur* deC^
ja extinguir o calor do corpo,,os quae$com effeito fcjao moderados
,
para ^ucnimios nao debilirem o ettomago , e res-Ucrendo refeifa6 em maior quanticUre
,remarem em crueza
,que hc mSji
dos lafcivos appetiteS;. O alimento mqdifco
,e; remperado a carne , e ao ejTpirrijtg
he de utilidade. De tal fone contemplar*tua mai
,que por ell,a te nao vejas otrir
gado a conremplar outras imagens^ no tey.corapao fe imprimao
,e no peito perfev-
*re a chaga foiapa^a. Suppoem,que w
efcravas que fao para feu'obfequio,pa$#
ti fao embofcada$; porque quanto de m$-rtos apre^o he a fua corjtdigao , tanto a,rL^na te he mais facil. Tambern t^v? S* Jp^upBaptifta huma mai fanta , e elle 1$ A^hpdo Ponrificc a e com tudp oew jo/n /flf
-
$4 E P I S T O L A S Tdo da maJ , nem com a$ riquezas do paife conyencia para viver em cafa dos mef-Hios pais com perigb da c*ftidade. No Er-ino vivla
,e defejando feus blhos ver z
Ghritto,nao tinha por bem oihar para
roais nada. O afpero veftido , o crnro depelles, p manjar da lagorta , e o mel fil-veftre
,ttido para a fiia virtude , e con-
tihericia efteve a ponto. Os rilhos dos Pro-fetas ( que rmos fer Monges no Teftamen-tb Veiho ) junto das correntes do Jordaofedificavap para li choupanas , e deixadasas turbas das Cidades , "ebm farinha detevada , e hervas agreftes a vida fuftenta-Va5. Em quanro eftas na nia patria
,pot
faraifo repura a tua cella,colhe os diffe-
renres pomoS das Efcripmras , ufa deftasi^elicias
,goza do feu abrajro. Se o olho
,
p, a m5o te efcandaliza , deita-o fora.IA' ninguem perdoes
,parfc perdoar unica-
trtente a alma : Quem cu-
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DE S, J l RONYMO. ^cuja boca Chrifto refoava
,caftiga o fou
corpo,fujeitao ao trabalho , c com tudo
vfc,que o natural cftimulo da carne re-
pugna ao feu di&ame,para o obrigar a
fazcr o mefmo que nao quer : e como quempadece violencia
,altamente gtita , e diz 2
Homem fou eu mifera
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5*6 Epistolasdos
,para que apperecemos 6 bullicio das
Cidades ? Moyfes para governar o povodos Judeos
,no deferro por 'quarenra an-
nos fe inftrue ; de Pattor de ovelhas fe fezPartor dos homens : os ApoftoIos da pefcaria de Genezarcrh a pefcaria dos ho-mens fe paffarao. EiTes que entao tinhaopai , rede
,embarca^ao
,feguindo ao Se-
nhor,tudo iiTo deixarao fcm demora
,tra-
zendo fobre fi a fua cruz guotidianamcn-te
,nem ainda rendo em iuas maoscaja-
do. Ifto re digo,
para que, vifto que odefejo do Clericato iaudofamenre re def-perta
,aprendas o que poffas enfinar , e a
Chrifto offoregas a racionavel hoftia,para
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de S. JeuonyiMo. 57panhia de outros i A mim agrada-roe comeffeito que tcnhas companhia de Santos ;nem aprendas de ti , e fem Mcftre comerres o caminho
,por onde nunca andarte
,
e que logo hajas de declinar para a parteoppofta , e te exponhas a erro , e andetmais ou menos do que he neceAarib
,pa-
ra que,ou correndo te nao cances , ou
detendo-te nao durmas. Sabe que a fober-ba emra folapadamenre no deferto. E fepor hum pouco tem jejuado* , e nao vfc ou-tro homem
,cuida
-
$2 Epistolaspara fe virem a fazer os primelros de to*dos ; a quem em tempo aJgum nao torgaa rome , ou a farmra
,que com a pobre-
za fe alegrem ; cujo habito,
Iinguagem,
afpe&o , condu&a feja exemp!ar de virm-des ; que nao fabem fingir visoes dc de-monios ; que remettem contta eiles
,fegur>
do o fentir de alguns homens nefcios,pa-
ra fufcitarem a admira^io de fi mefmdsentre os ignorantes , e homens do povo
,
c colherem daqui utilidades. Pouco haque vimos , e choramos
,que fe acharao
na morre cte hum dettes as riquezas deCreiTo
, e que as efmolas da Cidade , co-mo fe foffetn ajuntadas para ufo dospo-bres, forao deixadas a filhos, e a herdei-ros. Enrao fubio acima da agua o ferro
,
que fe achava no fundo,e entre os ra-
mos das palmas fe achou da myrrha o a-margor. Nem he para admirar
,pois teve
fimilhante focio , e mettre , que fez que afome cfos rieceAitados viefle a fer as fuasriquezas, e refetvou para miTeria fua ocue foi dei*ado para s miferaveis
,cujo
clamor por fim chegou ao Ceo , e pene-trou os pacientiAimos ouvidos de Deos deforre
,que o Anjo peffimo que lhe foi
mand.ido,como Nabal a Carmelo , lhe
dtzta : Louco,ettanoite a tua alma de tl
apartarao; e o que grartgeajie dequem h&dcfer e Por tanto , e pelas caufas y que ji
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DE S. JEKONYMO. S9acinja expuz^ defejo que nao habites coratua mai ; e principalmente
,para que ou
a nap entriiic^as rejeitando as delicada*yiandas
,que te aprefentar : ou fe as aceir
tares , deites oleo no fo^o , e entre a tur-ba de mo^as de dia vejas p que de noiteTonhas. Nuoca o liypo fc aparte da mao
,
ou dos teus olhos : litteraimente o Pfalte-rio fe decore ; fem inteirompimento feja aora^ao
,vigilante o fentido , nem exppfto
a vasconfideraQes. Corpo,e alma igual-
meme fe dirijao ao Senhor. Vcnce com apaciencia a ira \ ama a iciencia das Efcri-pturas
,e nao ellimaras os vicios da carne.
Nen\ o reu entendimento vaguee entirevarias perturbayccs
,que fe no corajao fe
aATcntarem,
te dominataoatc te rcduziremao mais ex:ecrando crime. Faze algumaobra
,paj4 qije o diabo te acbe fempre oc-
cupado. Se os Apodolos tcndo permiATaode viver do Evangelho
,crabalhavao cora
.as fuas maos, para ninguem rnoleftarcm,
e aliiviavao outros pelas efpiritualidades,dos quaes deviao colhr as temporalida-des i porquc razao nao has de prcparar tu,p que em tua utilidade h.a de redundar*Ou tece huma ceftinha de junco
,ou de
ientos vimes arquea hum caoidrel : fache-fe a terra
,ou fe dividao os canreiros ei^
compaiTo igiial ,"nos quacs quando fe lan-jfas , ou por
or-
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6o Epistola$ordem as plantas fe pozerem , fe lhe dlf-tribuao as regadoras aguas ; para que co*mo cfpe&ador deftes celeberrimos verfos,alii allillas.
*
. . . .Eis que d altura
Do fragofo camiaho faz vir agua ;Ella cahmdo pelos lifos feixos
; Move hum mutmurio rouco, e os capos feccos. Co's borbolhoes tempera d'agua fria.
Lem. C*Jl. Ecl. i. Vlrg.
Enxertem-fe as aryores efterfcis , ou comgomos , ou garfos , para que depois depouco tempo do teu trabalho colhas do-ces pomos. Fabrica cortijos das abelhas ,para onde de Saiomao os Proverbios teconvidao , e aprende naquelles pequenoscorpos o govcrno dos M6fteiros , e a dif-
ciplina egregia. Armao-fe rpfdcs para pef-
car peixes ;*cfcrevao fe livros, para qucas maos ganhem o comer ; o gnimo da It-yao fe farte. Vive todo o ociofo entre de-Tejos. Os Mofteiros dos Egypcios obfervaocfte coftumc, que fem exercicio de algit-tna arte a ninguem aceitao , nao fo pelanecelhdade do fuftento
,
quanto pela fau-
de da alma,
pata que o entendimento nao
Vaguee por cogiia^oes perniciofas , e a ma-
neira de Jerulalem adultera para todo o
que paffa os feu* pes alargue. Oyando euera
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DE S. Jeron ym o. 6icra 111090 , e da folidao os defertos meoc-cultavao
,nao podia fofFrer os eftimulos
dos vicios,e o ardor da natureza , o qual
ainda que com frequentes jejuns eu que-bramaAe
,com tudo em penfamentos o \nr
terior fe me inflamava : c parao domar,me entreguei por difcipulo a humirmao^ue dos Hebreos fe conyertera
,para que
epois das agudezas de Quintiiiano,da
profufa6 de Cicero,
da gravidade derronto
,da fuavidade de Piinio
,aprea-
deiTe o alphabeto, e as aiperas , e brai*-
das palavras meditaiTe. Que trabalho euahi emprendelTe
,que diiHculdade fuppor-
ta(Te,quantas vezes perdeATe as cfperan-
yas , e quamas vezes defifti(Te, c com
iicaz defejo de fabcr novamcnce me appli-ca.Te ; tanco he teftimunha a minha confci-cncia
,que o foiiri
,quanto a daquelles,
que comigo viverao jumamcnte : c dou?;ra9as ao Senhor
,porque colho doces
ru&os da Temente amarga das letras. Ou-cra coufa contarei
,
que adyeiti no Egy-pto. A c depois de co-
met-
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62 Epistolas 'niettida a injuria
,fofle ille o primeiro
Oi ! ( refpondeo )^nao me he licito viver ; e hade-mc agra-dar a fornicafao? Se efte perfiftiiTe ioli-cario
,com que ajudador ficaria
,fuperior
a fua inclinayao : Os Filofofos do ieculocom hum amor novo
,como hura prego
com outro prego,coftumao expellir o an-
rigo amor , o que a EJRei Affuero fizeraofete Principes dos Perfas
,que a faudade
da Rainha Vafthi com o amor de outrasmo^as apagarao. Aquelles curao hum vi-cio com outro vicio ; hum peccado comoutro peccado : nos com o amor das vir-tudes os vicios dcftcrremos. Aparta-re (diz
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DE S. JERONYMO. 63mal. Para evitar a guerra , fe deve procu-rar a paz. Nem bafta procuraila , fe comroda a efficacia a nao feguirmos
,quando
nos vai fogindo depois de achada ; viftoque e^cede toda a noda idea', como emquem efta a habirapao de Deos , dizertdt>por iflb o Profeta : E na pa^fe a(fentou aJuamorada* E bellamcnte fe diz feguimen-to da pa^ conforme aquiIlo do Apofto-lo : Ide /eguindo a hojpitalidade ; na5para convidar com palavras fuperficiaes , etriviaes os hofpedes r e fo ( para que affimdiga ) com a extremidade dos bei^os 5 masdetendo-os com todo o affefto do animo
,
como fe ells fe nos offerecefTem para nof-fo lucro , e conveniencia. Nenhuma arteie aprende fem Meftre totalmente. Aindaos mudos animaes, e rebanhos das ferasfeguem a feus proprios condu&ores. Reisha entre as abelhas : os grous feguem humfo voando m figura de huma lctra. O Im*perador nao tem companheiro ; hum fo heo Juiz em qualquer Provincia. Roma tan-to que (e tundou
,na5 pode ter dous
Reis irmaos ao mefmo tempo , e com of>arricidio fe confagral Efau , e Jacob pe-eijara5 no ventre de fua mai Rebeca. OsBifpos de cada huma das Igrejas, cadahura dos Arcebifpos , cada hum dos Diaco-nos
, e toda a Ecclefiaftica Jerarchia fetyndamcntc cm feus Reuprcs. Na nao ref*
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64 Epistolaspeita-fc hum piloto , na cafa hum fo do-no, e o mandamenco de hum fo em qual-quer exercito : e para nao cau(ar faftio aoleitor repetindo muitas coufas ; por todascftas a minha propofipao a ifto ie dirige
,
a enfinarte, que nao te has de fcparar porteu arbitrio ; mas que viver deves no Mo{-teiro
,debaixo da diTciplina dc hum fo Su-
perior , em companhia de muitos,para
que de hum aprendas a humildade , de ou-tro a p^ciencia ; eftc te enfine o (rlencio faquelle a man{idao ; nao fapas o que que-res ; comas o que fores mandado ; viftas oque receberes; concluas a tarefa'do teutrabalho ; te (ujeites a quem nao queres
;
fta cama te deites fatigado,padeando dor-
mites,c nao fatisfeico ainda de fomho , a
erguer-te fejas obrigado : para que entoesno teu corapao os Pfalmos , em que fe naorequer a melodia da voz , mas o affetoda alma , di2endo por i(Tb c Apoftolo :Vfa\mearei com e/pirito
,pfalmearei com o *
entendimento. rofetti cantando ao Se-tibor hos wo/os cora$oes\ porquc lido ti-nba aquelle preceito : Cantai f&biamentc.Servifas alli a teusirmaos; lavaras os pesdos hofpedes , recebendo injuria ficaras ca-lado : refpeitaras como a Deos o Preladodo Mofteiro , amalo-has como Pai ; tudoo que elle te mandar , acredita quc he pa-ra faiva$ao : nern julgu^s fobre o parecer
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PE S. Jer ow ym o. 6fdos maiores , como que da tua obrigacaohe obedecer
,e execurar o que te fof man-
dado,
dizendo por iiTo Moyfs : OwveJfrael
, e cala-te. Com tantos negocios oc-cupado
, a nenhuns penfamenros eftarasociofo ; e em quanto palTas de huma cou-fa a outra , e huma. obra fuccede a outraobra
,ifto fomente teras no penfamento
,
concluir aquillo,
a que eftas obrigado.Alguns tenho eu vifto
,que depois que
renunciarao o feculo com os veftidos fo-mente
, e com a profifTao de palavra , enao com as accoes , nada da antiga com-municacao mudarao. Os bens domefticosmais fe augmentarao , do que fe trocarao,a mefma frequencia de fervos , de con-vite o mefmo apparato. Em vidro , e pra-tos de barro fe come alli todo o gcnerade preciolidade ; e entrc turbas , e enxa-mes de minilirantes , tomao para fi o no-me de iolitarios. E os que fao mais po-bres , e de menos poWibilidades , e fe re-putao labios , fahem a publico Cmilhan-tes as andas dos triunfos
,para exercira-
rem a fua canina eloquencia. Outros corrios hombros fenhorilmente entrinchcirados,e nao fci que *ntte dentes murmurando
,
com os olhos eftupidos cm terra , vko pe-zando palavras arrogantes de tal modo
,
que fe hum pregoeiro ao congreATo accref-cemarcs P jrjlgaras que vai p^A^inilo o go-
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66 Epistolasvcrno da Cidade. Ha outros
,que com a
humidade das cellas, e demadados je-
juns,tedio da folidao
,e nimia leitura
,
em quanto d6 dia , e de noite lhe fufur-rao aos ouyidos , defcahem em melanco-lia
,e mais dos medicamentos de Hypo-
crates,que dos noflbs confelhos neceAitao.
Muitos nao podem carecer das artes , enegocia^oes antigas
, e mudados os nomesdos negociantes , exerckao as mefmas mer-cancias
,rtao procurando o fuftento
, e
veftida , conforme o que o Apoftolo rcco-menda
, mas emolumentos maiores doque oshomensdo feculo procurao
,quan-
do ainda no primitivo tempo era punidaaambijrao deftes comercianres pclos Edilcs
,
a quem os Gregos chamao Agoranomous 9nem tal peccado ficava fem caftigo. Ago-Ta porcm com o titulo de religiao exerci-tao-fe ncgocios in)uftos
,eahojuadono-
me de Chrifta5 mais enganos commette
,
do quc fofFre ; e, C o que mais me peja
diz&-lo ; mas he neceffario,para que ao
menos defte modo nos envcrgonhemos avifta ck> noflb viruperio ) eftendendo asmaos publicamente
,encobrimos o ouro
com remendos ; e cheios os no(fos faccoscontra o pareccr dc todos , morrcmos ri-cos nos mefmos
,que temos vivido como
pobres. Quando no Mofteiro eftivercs 9nao te fera 1/cito fazer cftas ci)ufas : e
crcf-
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i*e S. Jeronymo7 67icrefcetodo o coftume pouco a pouco , ct>meyaras a appetecer o que ao principiocras conttrangido
,e te deleitara o tcu tra-
balho,e efquecido do paiTado
,fempre
abra^aras o que fe te offerecer primeiro,nao confiderando o mal que os oucros fa-2em
, mas o bera que tu fazer deyes. Nerapor certo te deixes convencer da multidaodos delinquentes
,nem a multidao dos que
vao padando te inquiete,para argumen-
tares eomtigo mefmajnteriormente : Que iLogo fe hao de pei^er todps , os que re-fidem nas Cidades? Eis alli aquelles quedos feus bens eftao gozando
,miniftrao as
Igrejas,
frequentao os banhos , nao dcf-prezao tomeara^oes , e com tudo vivemno app!aufo de todos : ao que ja dantesrefpondi
,e agora brevemcnte refporido
que no prefente opufculo nao difjputo axefpeito dos Clerigos ; mas que doutrinohumMonge. SantoS fao os Clerigos, elouvavei Jie a vida de todos. Obra pois detal forte
, e affim vive no Mofteiro , quemereyas fer Clerigo
,para que com ne-
nbuma ibrdicie raacules tua ado!efcencia>para que ao ; Altar de Chritto. te encami-nhes , como a yirgem do thalamo , e te-nhas boa reputa^ao com os de fora, e asmulheres teu nome reconheyao
,e tua
Pre^en^a ignorem. Quando chcgares a per- *leita idade , fe a vida ce perfevew , e ou
o
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8 ESISTOLASo povo , ou o Bifpo da Cidade por ,Cle-go te eleger
,executa o que he projrrio de
Clerigo, e ainda entre efles mefmos os
melhores fcguiras : porque ena todooef-rado
,e digntdade as optimas virttides pef-
fimos yicios fe cortumao incorporar. Nemtt aprefTcs logo a cfcrever , nem a dei.w-te ievar de prefumpc;&o va : aprende mu$-to tempo primeiro o que depois has de eh-finar : nao acredites teus aduiadores ; 011para melhor dtzer nao dis ouyidos de boavontade aos irrifores jque quando com fu$s2ifonjas te attrahirem , e dc hum.certo mo-do demente te fizerem , fe para traz olha-xes de repente
, ou acharas que por deJtraz de ti fe arqueao pefcopos decegonhas,ou com as maos fe agitao oreihas de ju-jnento
,ou que lingua fequiofa de cao fe
edende pela boca f6ra. Nao taurmures deJiinguem
,ncm, fc os outro* infamas, cui-
des que nirto te conilitues homem de puracon/cicncia. Muitas vezes difcretos concranos mefmbs arguimos aquillo que faze-mos ; e ajuizando mudos depois de elo-quentes
,os noiTos mefmos viios ceofura-
mos. Com lento,e vagarofo paffo fahia
Grunnio a fallar t e entre aiguns interval-los apenas proferia poucas palayras , deforte que te capacitarias que anecs (olu-5rava , do que profcria vozes : depoii doqnt ionio poftp a vift bum montao de li-v- vros
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- deS. Jeronymo. 6 queria , e que do con-grelTo dos Doutores o excluia. Efte ainda
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70 / E P I S T 0 L A Sfao as fuas armas , * fetas. E cm omroiugar :. As fuas palawas fao mais lubricasque o a2fite ; tnas ellasfao fetas juntamen-te. E mais claramente no Ecclefiaftico :JBem como a ferpente morde infenfi-velmen-te ; aff\m aquelle , que ds efcondidas defeuirmao detrabe. Mas talvcz me diras : Naofou eu o que murmuro : mas que po(Tbeu fazer
,eftando os mais fallando ? Po-
mos por dianre efta$efcufas,para pretex-
tar no(Tos peccados. Chrifto nao fe enga--xia por artificio. Nao he minha efta fen*ten^a ; mas do Apoftolo : NaS queiraiserrar ; a Deos naS feengana: ellenos
- DE S. JERONYMO.provm dizer o mefmo>Sabio : Ndo te mif-tures ( diz ) com os detra&ores ; porque derepente
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7* Epistolastos
,e ignorando-o eu , maltratas a ou-
tro com ds mcus peccados, ou talvez com
as tuas murmura^oes,
dizendo-o de talforte a cada hum
,como fe a ninguem o
tiveras communicado i Nao he ifto emen-dar-me ; mas farisfazer a teu proprio vi-cio. Aianda o Senhor
,que os que peccad
fejao reprehendidos em fua pre^en^a ot-cultamente, ou diante de huma teftimu-nha ; e fe nao quizerem ouvir
,que fejao
acculados a Igreja, e que os obftmado!s no
Jeccado fejao tidos por Ethnitos , e Pu-licanos. Ifto te digo com maior clareza
,
para te livrar,meu mancebo
,para te li-
vrar da comichao da lingua , e doe ouvi-dos , eomo regenerado em Chrifto
,para
te moftrar ao publico fem ruga , e macu-la, como honefta virgem tao pura na alma,
f6 no nome, e apagada a alampada iem o
oleo das boas obras , fe fepare de feu ef-Fofo. Ahi tens o doutiHimo Pontifice S.roculo
,que de viva
,e prefente Voz ex-
cedera minhas inftrucf6es , e com quoti-dianas didertagoes aplaneo teu caminho ;nem confinta
,que declinando tu para ou-
tra part;,
largues a e/trada real,
pelaqual correndo Ifrael para a terra da pro-mifla6
,prometteo que Jiavia de pa(Tar. E
prouvera Deos que fe ouvira a voz dalgreja excl*mando : Swhor , dd-nos a tuit
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d e S. Je^onymo. 73fa\ , ji tjue nos dejle tudo o mais. Prazaa Deos que renunciar ao fecuJo feja von-tade
,nao preciTao ; e a pobreza vo,lunta-
riamente procurada obrenha a gloria ; einvoluntaria nao encontre a condemna^ao.A refpeito porem das miferias defte tem-po
,e das guerras
,que pbr toda a parte fe
enfurecem,
affaz he rico o que nao necef-fira de pao , mui rico he o que fe nao v&obrigado ,a fervir. Santo Exupcrio ^ Bifpode Tolofa
,imitador da viuva de Sarepta,
faminto farta os outtos , e com p rofto pal-lido dos jejuns mortifica-fe com a fomealheia, e as entranhas de Chrirto toda afua riqueza cometteo. Ninguem mais ricoque aquelle, que no cefto de vime traz oCorpo do Sennor, no vidro o Sanguc ique defterrou a avareza do Templo ,* clerri ajoutre
,e reprehenfao derriboi* as ca-
deiras dos que vendiao pombas ; ifto he,
os dons do Efpirito Santo , e didipou asmezas do contrato
, e os dinheiros dosCambiadores
,paTa que a Cafa de Deos
fe chame Cafa de ora^ao , e naocova d$ladroes. Segue ru dt perto os veftigios dci^te
,e dos mais, que as fuas yirtudes fe
alTemelhao,a cracm o Sacerdocio conftn
rae mais humildes, e pobres : ou fe afpti
ras k perfeifao , fahe corn Abratao da pa>tria
,e da tiia gerayao
, e vai para ondeigaoras. Se tens bens
,vend-os, e da-os
aos
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74 Epistolasaos pobres : fe nao os tens
,Iivre eftas
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DE S. Jekonymo. 75Tre
,e vifirafte a Chritto. A ncceAidade do
irmao Heliodoro,que por ti foi favorcci-
da,pode fazer fallar ainda aos mefmos
mudos. Com que agradecimeatos , comque pregoes elle referia que por ti fora fa-vorecido na incommodidade da fua pere-grina^ao ! E de tal Jorte
,que eu aquellc
pezadiffimo velho,
a quem huma intole?ravel enfermidade anguilia
, com azas nospes ( como fe coftumadizr) certamentecom amor , e affe&o te vou a faudar , eainda abja^ar. Por tanro eu te dou o agra-decimento
,c rogo a Deos
,que fe digne
de alTbciar efta amizade,que come;a a
nafcer. E porque o irmao Rufino,que
fe diz vlera com Santa Melania do Egy-pto a Jcrufalerti , efta unido comigo cominfeparavel amor de irmao ; te rogo nao reeftimules de lhe entregar a minna Cartajunta com efta tua. Nao queiras tu julgar*me fimilhante as fuas virtudes : nejle def-cobriras manifeftos finaes de fantidade eeu que fou cinza
,c do po a porcao mais
abatida,c em quanto ja me reiolvo em
tenue fatfca,tenho por bartante fe a debi-
lidade da minha vifta pode foffrer o efplen-dor de feus coftumes. Elle ha pouco fe re-generou
,e pcrmanece limpo
,e alvo co-
mo a neve : eu immundo com toda a for-dicie dos peccados
,de dia
,e de noitc ef-
ipu e/pcrando com tremor dar conra dout*
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7^ Epjstolasultimo real. Mas como o Senhorfolta otque eftao prezos com grilhces, e defcan-ja fobrc o humilde
,e que teme as fuas
vozes; talvez tambem me diga a mim fub-mcrfo no fepulchro das iniquidades : 3?e-ronymo fabe cd Jora. O fanto SacerdoteEvagrio te envia muito faudar ; e ao ir-mao Martinho tambem com obfequio infe-paravel faudamos , a quem eu defejandover, fou reiardado com o grilhaodaen-fermidade.
EPISTOLA V.A Florencio
,
A R G U M E N T O.Tj1 Sta Epijlola hefamiliar , nem necejjita
de argnmento, na qual exborta a //o-
rencio feu amici(ftmo,para que ambos com
reciprocas Epijlolas de hmna , e outrapar-U Jbmentem as amiipdes come$adas
,que
com a uniao de Cbrifiofe tinbao conciltado.
ENtregue me foi o efcripto do teuamor
,habitando nerta parte do
Ermo,que junto a Syria confina
com os Sarracenos. Lido o qual , taqto fcmc toraou a abrazar o dcfejo de me parttc
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de S. Jehonymo. 77pira Jerufalem ; que quafi fe oppoz aomeu propofito o mefmo que a caridade a-proveitou. Agora porm em lugar da mi-nha pefiba
,por efcripto tc fignifico , co-
mo paflb de faude , e ainda que aufentecom o corpo , com amor , e eTpirito mecondu*o
,rogando com cfficacia
,que nem
a longitude do tempo , ou dos Jugares fe-pare as no(Tas amizades comepadas
,que
com a uniao de Chrirto comecrarao a flo-recer: mas que antcs corn reciprocas Epif-tolas as fomentemos entre nos. Ellas en-tre nos cori;a6 : ellas fe alcancem , ella*comnofco fallem. Nao perdera muito a ca-ridade , fe com ella em tal linguagem fefallar. Mas o irmao Rufino
,conforme
me efcreves . ainda nao chegou ; e aindaque tenha chegado
,pouco aproveitara a
minha faude , em razao de que ja o naohei de ver ; porque tao feparado efta poraquella grande diftancia
,que para .aqui
nao pode declinar,quanto eu eftou remo-
to nos efpac:os defta minha opporrana fo-lidao
, de forte que ja principiou a nao feme pcrmittir p que intentci. Por i(To eulhe rogo , e a ti iupplico
,que efficazmen-
te Ihe pepas,que de boa vontade te con-
ceda os Commentarios do bemaventuradoReticio Bifpo Auguftudinenfe
,para os
trasladar,nos quaes elle em mais /ublime
eltilo o Cantico cfos Camicos declarou.Tam?
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78 EpistolasTambem certo velho por nome Paulb damefma patria do fobredito irmao Rufinome efcreveo
,que o feu livro de Tertullia-
no eftava em poder delle , e o pede etfi-cazmente : e por ifTo te rogo
,que aquel-
les livros,que e(Te meu pequeno fubdito
te infinuar r qae eu naotenho, procuresque fe copiem por Amanuenle em perga-minho. Igualmelne te pe^o que me reme-ras a interpreta^ao dos Pfaimos de David
,
e hum grande livro dos Synodas de SantoHilariao
,que u mefmo na Cidade de
Trevir Ihe trasladara de minha propriamo. Bem fabes tu
,que efte he o pafto da
alma Chrifta, fe de dia , e de noite fe me-
ditar na lei do Senhor. Aos outrosagafa-lhasna hofpedagem
,amimas com confo-
la^ao,ajudas com teu difpendio : a mim
liberalmeme me tens dado tudo,
fe meconeederes o que te pedi. E ja que porliberalidade do Senhor tenho abundantecopia de muitos livros da fagrada Biblio-theca ; manda-me pedir em rccompenfa , ete remetterei o que quizeres : nem cuidesquc he para mim molefto
,fe affim mo
determinares. Eu tenho aiTalariados,que
fe excrcita6 em indagar antiguidades ; nemcertamente intento pedir-te retribui^o poraquillo que te prometto. O irmao Helio-doro me fignificou que procuravas muitascpufas fobrt as Efcripturas , e que tan*
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de S. Jeronymo. 79 'bem nao as achavas : ou fe as tens todas
,
come^a a caiidade a appececctimans , e apedir mais. Alem difto , eftando eu aindaem Anciochia , varias vezes o SacerdotcEvagrio na minha preTen^a reprehendeoo Meftre do teu fervo ( a refpeit6 do qualte dignafte efcrever-me
,como de quem
nao k duvida fer delle Occdltador:) ao
qual elle refpondeo : Eu nada temo. y Pois*pie di\ auefora defpedtdo fotft* Sehhot,tfe he de *vcfffb agrado , ell aqui etta
,
mandaho para' onde qui2ftd^ Niftojulgoque nao pecco , fe nae cotilimo em queh\m homem *vatfbundo fliia park maiordiftancia. Peio que
,ja que eu j>or ettar
conrtituido nefte Ermo,nao po(lo fazer o
que me determinafte,roguei o meu amam-
tiHimo Evagrio>que contirme dla dili-
gencia tanto a refpeito de ti , como dcmim.uwvvi! \ .-\ v/S v- \\ '>
.
i^"
",\ ; , .-. . -. ' >-V- .....
>,
\ . '.\ ; * y . . \
* P EWS.
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26
EPISTOLA VI. " A Leca
,; ,
, Sokn x> enjino defuafilba. it
; : G U > M Bi N T O.TfJChorM\ 4. LetA 9 para qne injiwt (#4
des\da tytnthice na piedad? cmjr%
ta K e l#gq ams que fe mficii crefcid*>Ae
-
DE.S.Jekonym& 8talgurna mutber tem marido tnjiel > e e8eperfrvera em babitar com ella + nao defpe~\a o marido :. pdr/jue o maridolinjiel fe juftijiea na mulher Jitl ; e no marido Jiel feJantijica a mulher injiel. De outra fortewUos.jilhos naoferiaS puros r camo agora,fao. Sc a alguem atc agora acafo pareciaomui laiTos os viaculos da doutrina
, co*
nio tambem inconiiderada a clemericia dorMeftre
,traga a memoria a cafa de teu
Pai, yarao rta yerdade illuftrtffimo , .c eccn
ditiUimo *, mas ainda pcrTevei[ante. nas tr-vas do Gentilifmo
,e entendera que o eon-
felho do Apodolo fe dirigio ta.compenfato amargdr da raiz com a do^ura do fYuto
,
em ordem a que M vergonteas de poucaeftima fualTem preciofo baiftmo. Tu nafccefte ,de Tnatrrmonio dellgual ; e de ti , edo meq Toxocio foi gerada tu^ filfia Pau-la. Quem talpmria
,que a neta do Ponti-
fice Albino havia naTcer da firme prpmeiTada Mai ? pfefente , e gozofo a Avo,a pequenina lingua ainda balbuciente en-toaria o Aileluia de Chriito ? Qiic ,o ver-Iho no feu greinio nuiriiia a yisgem deDeo&i Bcai j .i :felizmente efperei r eu: 4,finta, e. fiel, c^tta/ fantifica o ^arao infiel.Ja he
, pcrtendorrce da Fe aq aellc , a quemrodeia humsmuiridao de rilhos, c rretos.Eufoii o qlie iui&o qne o meftno Jupicer , fetal pac^npcfco TwlSr^ ;qae 'puderacccr em
F ii Chri-
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$1 E Y I S T O L A sChrifto. Ainda que elie zombe , e efcar-ne^a da minha EpiftoIa, e aalrasvozesme chame louco , e nefcio , tambcm feugenro fazia ifto antes que chegaiTe a crer.Os Chriftaos fazem-fe , nao nafcem. O Ca-pitolio ainda que dourado , efta immun-ido : todos os Templos de Roma eftaocheios de teas de aranha , c de p6. Move-fe a Cidade de feus artemos , e a chufmado povo corre a face dos arminados Tem-plos a fretyres. Se a prudencia nao extorque a f rtire-a porTor^a ao menos a vergonha. Ifto,Leta , iilha: relJgiofiffima em Chrifto , tefod dito poT.mim
,para nao defefperare$
da falva9ao de teuPar, e para que corn aroefma t com que temefte
,abraces a fi
lha,e o Pat , e gozes da felicidade de to-
da a cafa , fabendo oue efla foi a promef*fa do Senhor. O que he impofiivel aos ho^mens, polfivel he aDeos. Nuritahef6rade tempo a converfao. O ladrao paiTou dopatibulo ao Paraifo. Nabucodonofor Reida Babylonia depols da Jereza do corpo
,
e do cora^ao , e do alimento das fcras noErrao . recobrou juizo ! de homem. E naofallando em antiguidade*
,que talvez pa-
recerao mui fahulofas ao$4ncredulos,pou*-
cos annos ha que tu pitrente Graccho 9indicando pelo nome a nobreza Patricia
,
cxcrcend9 g Prefeftr /urbana, porven-i wr4
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d e S* Jeionymo. S3tnra nao arrazou 9 defpedaou , demolioa eftatua de Mithra , e todos os mais ido3-los portentofos, ccm que fe deiricao Co-rax
,Nipho
,Mylax
,Leao , Perfes , He-
lios , e Bromio o Pai ; e com eftes comorefeps, e anrecipadas premilTas , naoim-perrou o baptifmo de Chrifto? Tambemo Gentilifmo foffre na Cidade a folidao.Os Deofcs antigamente das najoes com osmochos , e curujas nos folitarios cumesdos montes repouiarao. Os ettendarres dosfoldados fao as infignias da Cruz. A pin-tura do faluiifero Patibulo condecora aspurpuras , e brilhantes pedras das Coroasdos Reis. Ji o idolo Serapis do Egypto fefez Chrifta6. O idolo Marnas chota cncar-cerado
, e contirruamenre reme do Tem-plo a deftruia6. Continpameme eltamosrecebendo auantidade grande de Mongesda India , Perila
,Ethiopia, O Armenio
depoz as aljayas. Os Hunnos aprendem oPfalterio de David. Os regelos da Scy-thia fervem com os calores da Fe. O ar-genrado
, e dourado exercito dos Getas ,conduzem em giro os acampamentos dasIgrejas , e talvez por i(To combatem contracom exercito igual, porque confiao em igualreligiao. Quafi me tenho divertido paradirTerente alTumpto
, e correndo a roda
,
em cjuanto intenta fazer hum jarro , for-margo as maos huraa talha : porque o meu
in-
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#4 E f I S T O L A Sintcnto era
,provocado dos rogos de San*
ta*Marcella, e dos teus,
dirifcir a Mai
,
iftb he a ti a rainha pratjc, e inftrtjir-te
no modo,com que deves enfinar tua filha
KPaula , a qual pritneiro foi confagrada
a
Chrifto,do que gerada , e a quem pri-
:meiro corfcebefte nos defejos,que ne venf
tre. Alguma coufa neftes nodos tempos te-nho vifto dos llvros dos Profetas. Anna^ompenfou a efterilidade doieu ventre pe-la fecundidadc : tu commi]tafte a lu&uofatecundidade por filhos viventes. FaIlo co-mo quem preTenciou
,que nao deixaras de
conceber filhos,ja que corifagratte ao Se*
nhor o primeiro feto. Eftes lao o$ primo-genitos, que na lei fe oiferecem. Affim-nafceo Samuel
,affim nafceo Sanfa6 , af-
iim S; Joao Baptifta exultou , k pulou aoJngrefTo de Maria : porque ouvia as pala-vras do Senhor
,que fallava pela boca da
.Virgem, e do ventre de fiia Mai de(ejavafahir-lhe diligente ao encontro. PoTtantoa que nafccd de prometTa , tenha a inftruc-yao dos Pars digna do feu nafcimento. Sa-muel cria-fe no Templo \ S. Jo*6 difpoem-fe no Ermo. Aquelle he veneravel com ofagrado cabello ; nao bebeo vinho puro ,ou contrafeito ; prarica com o Senhor quan-,do raenino : efte foge das Cidades
,cinge-
fe com cinto de pelles , fuftenta-fe de ga-ianhotos, e mel filveftrc; c para exem*
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plar de prcgar penitencia,
vcfte-fc com *pelle do animal mais dotado de cotovel-los. AHirn ff deve preparar aalma , qupha de fer Templo de Deos- Kenhumaou-rra coufa fe coltume a ouvir
, 4nada fallar{
9fenao,o cju.e ao teraor de Deos pertencer.Nao entenda palayras torpes
,ignore a$
cantigas do feculo : fua tenra lingua emberba-fe nos doees Pfalmos : muito diftant*efteja a idade lafciva dos rapazes : as mef-rnas meninas , e criadas de acompanh^r feretirem dos fecularis conforcios
,para que
o que aprepderao mal nao o venhao a en-finar peior. Fa9a6(Vlhc humas letras oy.de buxo
,ou de iparfim , e nomeemfe-lhe
pelos feus nomes i. nellas fe divirta cje for^te, que o mefmd brinco feja a fua erudi^-pao : e nao fomente retenha a fcrie das le-tras de forte que a lcmbran^a dos nomesfe converta emcantillena ; mas rambem amefma re&a ferier entre fi fe milhire muirtas vezes
,e as ukimas fe con/undao com
as medias, as medias com as primeiras,de forte que nao (o as conhejra pela prornuncia y mas juntamente pela vifta. Qpanrdo porem comec^ar com a tremuja map ^cbnduzir o pon^teir^o psla cera ; ou fe lh?dirijao as junta$ dos dedos ppr mao de ou-trem fobrepofta a fua levpmeme ;. ou ielhe ri(quem ,as letras em huma taboinha ^para que poi entre qs mfifo& du&os S$
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16 J&iistbhisclebujrem os veftigids inchiidos eritre a$niargens
,para q-ue tiib poiTao fahir fora :
ajunce as lyllabas avifta db premib ; ej>rovoq\ie-fe comas dadivas :
,cbm qrje a-
quella idade pode affeic;oar-ft. Naftlaap-plica^ao tehha companheiras, a cjum con-ferve emulajao , e com ctajds louvdres feenraivfcpa : na6 ffc deve' reprehender
,fc
for roais vagarofa ; mas cbm louvores fclhe deve Cxcitar o engenho
,para que com
ter exccdido a$ outras , fe dctyanepa ; e fi-cando vencida
,fe mortifique. O que mais
fe ha de precaver he,
que nao aborreya ocxercicio
,para que o feti tidio adquirido
xia infancia nao palTe alem dos tehrosan-tios. Os mefrhQs nomes, pelos quas coftu-ma pouco a pouco foletrar, e coordinaras palavtas
,nao fejao 2dvehticios
,po-
rem cerros?e ajrjntadbs de propofito
,co-
mo v. g. , dosProfetas, dos Apoftoios , etoda a ferie dbs Patriarchas des de Adao federive de S. Mattheus, e S. Lucas
,|>ara
que em quanto faz alguma coufa , fe dif-ponha para o que lhe deve lembrar para onituro. Devefe4he procurar Meftre de boaidade
,yida
,& (rudipao : nm julgo^uc
fe envergonh*ra algurn dbuto de' fazer a*refpeito da ftia parcnta , ou donzella no-bre, o que ATiftoteles fez com o filhb deFilippe ; crue tlle mefrrib com a hrjmilda-de de copHta Ibc cnfinava o* primeiros
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DE S. J E K O1
tffM O. tjclementos das letras. Na5 fe dcvem def*prezar por pequenas as cou&s , fem a*quaes nao podem fubfiftir as grandes. Omefmo fom das letras , e o primeiro enA*no dos preceitos de hum modo fahem datboca do erudito ; de outro , da boca ddhum ruftico. Donde
,tambem deves acau-
telar,que com mimos carinhofos das mu-
lheres nao aprenda tua fifha a proferir a-tnetade das palayras , a' revolver-fe eiriouro, e purpura
, a primeira das quae*coufas damnifica a lingua ; a outra , o$coftumes : nao aprcnda na irifancia , o quedcpois ha de defaprender na prove&fr ida*de. Efcreve-fe que a linguagem de fuaMai aproveitara muito a eloquencia dosGracchos des da meninicer A eIoquenciade Hortenfio fomentou-fe no paterno rtf-gajro. Com difficuldade fe defvanece , oquc os animos pueris embeberao. Quemreduzira a primeira candura 4 purpura daslas ? A talha feira de frefco por muiro tem*po confervara aflim o fabor , como o chei-to do que foi eftreada. Diz a hiAoriaiGrega
,que o potentiHima Rei Alexan*
dre,
Conquiftador do mundo,em feu$
coftumes,c movimentos nao podra care-
cer dos vicios de Leonides,fcu pedago-
go, dos quaes ainda menino fora enxer-
tado : por quanto facil he a Jmitajao dossnios; c btevememe fe imitao os vicio
da-
-
88 E:*r*'S T O L A Stdaquelles, cojas yirtudes fe naa poderaconfeguir. A mefma ama de leke nao fejaamiga de vinho
,nem lafciva , nem pal-
reira. Procuraras para fua condu&ora hu-ma mulher modefta ; para Aio , hum va-rao grave : quando aviftar o Av6
,palTe a
reclinarfe-lhe no ipeito ; penda do feu pef*C090 > cante-lhe Alieluia , ainda que naogofte. A Av6 a tpme ao coilo; a (eu Pai ap-plauda com rifadas ; para todos feja ama*vcl , e roda a parentalha folgue $e rer naf-cido entre fi huma Hmilhante rofa. Cenhc-5a immediatamente que outra Av6 tenha
,
que putra Tia ; para que Imperador , pa-ra que milicia o fcu cenro tirocinio fe def-tine. Aquellas religiofas defeje \ para ellaste amcace que. ha de fugir : o mefmo tra-ge , e veftido a enfine , a quem efteja pro-mettida em defpoforio. Abftem-te de nirarfuas orelhas ; nem pintes com alvaiade , ecarmim o rolto da que efta confagrada aCbrifto : nem com perolas , e ouro feqpefcofo mortifiques : ticm de preciofas pe-dras a cabeya* Ihe carregues ; nem lhe ri-ce$ o cabeltp > para que do fogo do Infervro Ihe nao prognoftiques alguma coufa.Tenha ella outras precioiidades , com asquaes Vendidas comprara depois a maispreciofa margarita. Pretextata , mulher an-tigamente mutto ^obre
,por indnuacao de
feu niarido Hymecio 9 que foi tio da Vir^gem
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BE S. JEBONTM O. 89gem Euftochio , mudou-lhe o veftido , ctrage
, e lhe pcnteou ao cortume munda-
0 propoiiro da Virgem , coma o defejo deftu Mai. Eis
-
9 Emstol AS pelo contrario , da mulher fe diz
,que
pcla gerayao dos filhos fera falva y fe eftespermanecerem emie
,caridade , e fantifi*
cayao com honeftidade. Se o defeito d*idade adulta., e emancipada ia fe imputaaos Pais ; quanto mais a idade fragil queatnda mama , a qual conforme a ^entenpado Senhor nao diftingue a direita , e ef-3uerda
,ifto he
,a differem;a do bem , e
o mal. Se cuidadofa evitas,que tua fi-
lha nao feja mordida por huma vibora ;por.que razao com a mefma diligencia naoprocuras qu nao feja ferida com o martel-lo de toda a cerra ? Que nao beba pclo copode ouro da Rabylonia i Que nao faia af>afleio com Dina , nem queira ver as fi-has de regiao eftranha ? Que nao brinquecom os pes ? Que nao arratte a cauda doveftido ? Nao fe da veneno , fenao disfar-yado com a doyura ; e os vicios nao enga-n*o, fenao corri efpecie , e fombTa de virtu-des. Mas como ailim ( me diras ) ? Os pec-cados dos Pais nao fe imputao aos filhos
,
nem os dos rllhos aos Pais ; mas fomemeha de fer caftigada aquella alma que pec-car. Iflo fe diz a refpetto daquelies quepddem ter conhecimento , dos quaes eftacfcripto no Evangelho : Tem idade ; logorefponda per fi. Por quanro o oue he pe-qu,eno
,fabe como pequeno ate que cne-
gue aos annos do conhecimento , e a le-tra
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DE S. Jek onymo. 91tra Y dePithagoras o condoza aos doiiscaminhos ; e ate efle tcmpo tanto os feusbons , como maos coftumes fe imputao aosPais. Se acafo nao julgas cjueos filhos dosChrittaos
,fe -nao receberem o Bapttifmo 5
que fo elles fao reos do peccado ; e que kculpa fe nao eftende aquelles
,quelhonao
quizrao miniltrar,maiormente naquclie
tempo, eio que os que o haviao recebei- *
nao podiao repugnar,bem como a falri-
ao dos infantes provciiiente da religtaoe intcreiTe
,e utilidade de feus maiores
^
e fuperiores. Livre arbitrio foi teu con&-grar ou nao rua filha a Deos ( ainda quea tua condi^ao he muito mais rcftri&a^pols a confagrafte antes dc a conceber }Mas para que depois de offerecida nad *abandones, rodo o rifco fcrateu. H^rcode iacrilegio todo aquelle^ ;que offferecera vidima c6*a
, manca , ou defeituoftteam outra qudquer impreza : quancomais fera punido aquelle
-
92 E P I S T O L A Sdo feculo entre as turbas j e companhjade feus parentes
, e cm nenhyma outraparte a achem
,fenao no recondito das
Efcripturas,cpnfultando os Profetas
,e A-
pollolos a refpcito dasnupci&s e/pirituaes;Imite a Maria
, a quem S. Gabriel achoufo jio feu cubiculo , e talvez que por i(Toclla fe. enche(fe de temor ; por chegar aolharpara varao
,que nao coftumava ver.
Jmite aquella de quem fe diz ; Toda M>gldria da jilha do Rei procede do interior.jBlla mefma penetrada dos eftimulos doaraor diga ao feu dile&o : Nofeu cubiculovk- introdmjo * Rei. Nunca faia fora
,pa-
jravcjufc vnao . a achem os que toirneao a Ci*
dade , e nao a matem