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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Revista Eletrônica Debates em Educação Científica e Tecnológica, ISSN: 2236-2150 - V. 04, N. 02, p. 28 - 50, Dezembro, 2014 28 EDUCAÇÃO : VIVENCIANDO OS CINCO PASSOS DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA PATRIMONIAL EDUCATION: EXPERIENCING TH FIVE STEPS OF THE HISTORIC-CRITICAL PEDAGOGY Michele Pires Carvalho*, Eduardo Augusto Moscon Oliveira** Instituto Federal do Espírito Santo (*) E-mail: [email protected] Universidade Federal do Espírito Santo (**) E-mail: [email protected] Resumo Este trabalho descreve uma sequência didática de educação patrimonial aplicada no ensino fundamental, para alunos dos 9ºs anos da escola Pública “Pedro Herkenhoff”, localizada no município de Vila Velha, Espírito Santo, Brasil, fundamentando-se nos cinco passos da pedagogia histórico-crítica: prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse e prática social final, onde os alunos se apropriam criticamente do conhecimento científico. Foram realizadas como ação pedagógica: exposição oral e apresentação de slides, debates, jogos, confecção de fantoches, teatros, confecção de miniaturas de casacas, aulas de campo, relatórios, produção de vídeos e edição de jornal. A atividade permitiu uma reflexão sobre uma educação cidadã partindo das informações prévias dos alunos sobre Patrimônio e da realidade local. Possibilitou a construção de um sentimento positivo de valorização local de forma a agir de forma crítica e responsável diante do patrimônio público socialmente compartilhado. Palavras-chave: educação patrimonial. pedagogia histórico-crítica. sequência didática. Interdisciplinaridade. educação não-formal. Abstract This paper aims to describe a didatic sequence to study patrimonial education in elementary school. The Teaching Sequence was developed with students of 9º s years of Public School " Pedro Herkenhoff ", located in the municipality of Vila Velha, Espírito Santo , Brasil, basing himself on the five steps of pedagogy historical-critical: early social practice, questioning , instrumentalization, catharsis and final social practice , where students critically appropriating scientific knowledge. Were performed as pedagogical action : oral presentation and slideshow , debates , games, making puppets, theaters , making miniature jackets, field classes, reports, video production and editing newspaper. The activity allows a reflection on the civic education of the students' previous starting on Heritage and the local reality information. Possible to build a positive sense of place value in order to act critically and socially responsible to the shared public assets form. Keywords: patrimonial education. historic-critical pedagogy. didatic sequence. Interdisciplinarity. non-formal education.

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  • EDUCAO PATRIMONIAL ENSINO DE CINCIAS E MATEMTICA

    Revista Eletrnica Debates em Educao Cientfica e Tecnolgica, ISSN: 2236-2150 - V. 04, N. 02, p. 28 - 50, Dezembro, 2014

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    EDUCAO : VIVENCIANDO OS CINCO PASSOS DA PEDAGOGIA HISTRICO-CRTICA

    PATRIMONIAL EDUCATION: EXPERIENCING TH FIVE STEPS OF THE HISTORIC -CRITICAL PEDAGOGY Michele Pires Carvalho*, Eduardo Augusto Moscon Oliveira**

    Instituto Federal do Esprito Santo (*) E-mail: [email protected] Universidade Federal do Esprito Santo (**) E-mail: [email protected]

    Resumo Este trabalho descreve uma sequncia didtica de educao patrimonial aplicada no ensino fundamental, para alunos dos 9s anos da escola Pblica Pedro Herkenhoff, localizada no municpio de Vila Velha, Esprito Santo, Brasil, fundamentando-se nos cinco passos da pedagogia histrico-crtica: prtica social inicial, problematizao, instrumentalizao, catarse e prtica social final, onde os alunos se apropriam criticamente do conhecimento cientfico. Foram realizadas como ao pedaggica: exposio oral e apresentao de slides, debates, jogos, confeco de fantoches, teatros, confeco de miniaturas de casacas, aulas de campo, relatrios, produo de vdeos e edio de jornal. A atividade permitiu uma reflexo sobre uma educao cidad partindo das informaes prvias dos alunos sobre Patrimnio e da realidade local. Possibilitou a construo de um sentimento positivo de valorizao local de forma a agir de forma crtica e responsvel diante do patrimnio pblico socialmente compartilhado. Palavras-chave: educao patrimonial. pedagogia histrico-crtica. sequncia didtica. Interdisciplinaridade. educao no-formal.

    Abstract This paper aims to describe a didatic sequence to study patrimonial education in elementary school. The Teaching Sequence was developed with students of 9 s years of Public School " Pedro Herkenhoff ", located in the municipality of Vila Velha, Esprito Santo , Brasil, basing himself on the five steps of pedagogy historical-critical: early social practice, questioning , instrumentalization, catharsis and final social practice , where students critically appropriating scientific knowledge. Were performed as pedagogical action : oral presentation and slideshow , debates , games, making puppets, theaters , making miniature jackets, field classes, reports, video production and editing newspaper. The activity allows a reflection on the civic education of the students' previous starting on Heritage and the local reality information. Possible to build a positive sense of place value in order to act critically and socially responsible to the shared public assets form. Keywords: patrimonial education. historic-critical pedagogy. didatic sequence. Interdisciplinarity. non-formal education.

  • EDUCAO PATRIMONIAL ENSINO DE CINCIAS E MATEMTICA

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    1. INTRODUO

    A expresso Educao Patrimonial representa a difuso de prticas desenvolvidas em diferentes

    contextos e locais com uma nova viso do Patrimnio Cultural Brasileiro, reconhecendo sua

    diversidade de manifestaes culturais, tangveis (patrimnio material, como paisagens naturais,

    objetos, edifcios, monumentos e documentos) e intangveis (patrimnio imaterial, relacionados

    aos saberes, s habilidades, s crenas, s prticas, aos modos de ser das pessoas), como

    instrumento de motivao para a prtica da cidadania, resgate de autoestima dos grupos culturais

    e estabelecimento de um dilogo enriquecedor entre as geraes (HORTA et al, 1999).

    A Educao Patrimonial configura-se como um trabalho educacional realizado a partir de

    experincias e contato com evidncias e manifestaes da cultura, buscando a valorizao desta

    herana, capacitando o cidado para melhor usufruto dos bens, proporcionando a produo de

    novos conhecimentos relacionados cultura (HORTA et al, 1999). A Educao Patrimonial objetiva

    motivar a prtica da cidadania, diante disso, foi elaborada uma sequncia didtica mediada pela

    Pedagogia Histrico-Crtica, visto que, este mtodo de ensino favorece o dilogo entre alunos e

    professor, valorizando tambm o dilogo crtico com a cultura acumulada historicamente.

    A Pedagogia Histrico-Crtica, fundamenta-se no compromisso da educao em transformar a

    realidade do aluno, com o objetivo de tornar a educao uma prtica para formar alunos cidados

    crticos e comprometidos com uma sociedade justa e democrtica (SAVIANI, 2008). O autor situa a

    especificidade de educao se referindo aos conhecimentos, ideias, conceitos, valores, atitudes,

    hbitos, smbolos sob o aspecto de elementos necessrios formao da humanidade em cada

    indivduo singular, na forma de uma segunda natureza, que se produz, deliberada e

    intencionalmente, atravs de relaes pedaggicas historicamente determinadas que se travam

    entre os homens, destacando que:

    [...] o saber que diretamente interessa educao aquele que emerge como resultado

    do processo de aprendizagem, como resultado do trabalho educativo. Entretanto para

    chegar a esse resultado a educao tem que partir, tem que tomar como referncia, como

    matria prima de sua atividade, o saber objetivo produzido historicamente [...] (SAVIANI,

    2008, p.7).

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    A sequncia didtica proposta objetiva vivenciar os cinco passos da Pedagogia Histrico-Crtica de

    Saviani: a prtica social inicial, a problematizao, a instrumentalizao, a catarse e a prtica social

    final, chamando a ateno para o carter dialtico da proposta.

    Gasparin prope uma didtica para a pedagogia histrico-crtica que implica trabalhar contedos

    de forma contextualizada em todas as reas do conhecimento humano, ou seja, em vrias

    dimenses (conceituais, cientficas, histricas, econmicas, ideolgicas, polticas, culturais,

    educacionais), que devem ser explicitadas e aprendidas no processo de ensino-aprendizagem. A

    leitura crtica da realidade social possibilita um novo pensar e agir pedaggicos, tornando possvel

    um rico processo dialtico (GASPARIN, 2012).

    2. PERCURSO METODOLGICO

    A Sequncia Didtica foi desenvolvida com os alunos dos 9s anos C e D da Escola Municipal de

    Ensino Fundamental Pedro Herkenhoff, localizada no municpio de Vila Velha-ES, participaram das

    atividades todos os 40 alunos que compe as duas turmas no turno vespertino.

    A elaborao do Projeto de Trabalho Docente-Discente na Perspectiva Histrico-Crtica seguiu as

    orientaes do livro Uma Didtica para a Pedagogia Histrico-Crtica de Joo Luiz Gasparin, dando

    nfase aos objetivos, contedos, procedimentos de ensino e avaliao conforme quadro abaixo,

    que so procedimentos para a organizao e planejamento, onde o professor deve explicitar aes

    para que o aluno ponha em prtica o contedo, no Quadro 1.

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    Quadro 1. Projeto de Trabalho Docente-Discente na Perspectiva Histrico-Crtica (GASPARIN, 2012).

    PROJETO DE TRABALHO DOCENTE-DISCENTE NA PESRPECTIVA HISTRICO-CRTICA

    Instituio: UMEF Pedro Herkenhoff Professora: Michele Pires Carvalho Disciplina: Cincias Unidade: Educao Patrimonial Ano letivo: 2013 Trimestre: 1 Srie: 9s anos Turmas: C e D H/a: 3 aulas por semana

    PRTICA Nvel de desenvolvimento

    atual

    TEORIA Zona de desenvolvimento imediato

    PRTICA Novo nvel de desenvolvimento

    atual

    Prtica Social Inicial do Contedo

    Problematizao

    Instrumentalizao

    Catarse

    Prtica Social Final do

    Contedo

    -Unidade de contedo: Educao Patrimonial -Objetivo Geral: 1-Listagem do Contedo e Objetivos Especficos: 2- Vivncia Cotidiana do Contedo

    a) O que o aluno j sabe: b) Desafio (o que os alunos

    gostariam de saber a mais):

    1-Discusso sobre os principais problemas relacionados aos patrimnios 2- Dimenses do contedo a serem trabalhadas *Conceitual: *Histrica: *Social: *Econmica: *Poltica: *Legal: *Religiosa: *Cultural: *Educacional:

    1-Aes didtico-pedaggicas 2-Recursos humanos e materiais

    1- Sntese mental do aluno 2- Expresso da sntese

    Intenes do aluno.

    Manifestao da nova postura prtica.

    Aes do aluno. Nova prtica

    social do contedo, em

    funo da transformao

    social.

    3. RESULTADOS E DISCUSSES

    Fundados nos pressupostos tericos de Joo Luiz Gasparin, elaboramos as seguintes atividades

    afim de contemplar os cinco passos da pedagogia histrico-crtica.

    3.1. Pratica Social Inicial

    O primeiro passo deste mtodo o contato inicial com o tema a ser estudado, sendo assim, o

    professor deve se apoderar dos conhecimentos prvios que os alunos detm sobre o tema e listar

    os contedos que sero estudados. Neste momento, atravs do dilogo o aluno expressa suas

    concepes e vivncias sobre o contedo, inicialmente a percepo do senso comum e emprica

    um tanto confusa, uma viso sincrtica, que no correspondem muita das vezes com o conceito

    cientfico do tema estudado. A partir da o professor traa os principais objetivos que se pretende

    alcanar levando em conta duas dimenses bsicas: O que aprender? Para que aprender? Esses

    conhecimentos devem ligar-se s necessidades dos alunos e a realidade sociocultural como um

    todo, contribuindo para a formao de cidados conscientes, crticos e participativos (GASPARIN,

    2012).

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    O objetivo geral foi conscientizar o educando sobre a importncia da preservao dos Patrimnios,

    contribuindo para a construo da cidadania e valorizao dos patrimnios culturais do Municpio

    e os especficos discriminados abaixo conforme relao do contedo trabalhado:

    a) O que Patrimnio - Conceituar o que patrimnio, apresentando as diferenas entre o

    patrimnio material, imaterial e ambiental.

    b) Patrimnio Material - Conhecer os patrimnios locais, buscando identificar sua importncia

    social, cultural, econmica e histrica para o Municpio.

    c) Patrimnio Imaterial - Conhecer as manifestaes culturais ressaltando que a diversidade

    cultural compe a identidade dos alunos.

    d) Patrimnio Natural - conhecer as influncias do comportamento das pessoas nestes ambientes,

    compreendendo o processo de degradao do mesmo e reconhecer o valor do Patrimnio

    Ambiental, promovendo a conscincia de sustentabilidade.

    No momento da prtica social inicial a pergunta o que patrimnio foi lanada aos alunos e os

    mesmos responderam que se tratava de igrejas, escola, praas, monumentos, edificaes, casas,

    ou seja, os alunos desconhecem os outros tipos de patrimnio (imaterial e ambiental), em seguida

    os alunos perguntam tudo o que gostariam de saber sobre o assunto (desafio), esse o momento

    de contextualizao do contedo a ser estudado, a vivncia individual e coletiva do contedo

    social que passa a ser reconstruda pelo aluno de forma sistematizada.

    No momento de desafio onde os alunos expressaram os que mais gostariam de saber sobre o

    assunto, surgiram as seguintes questes: Por que os indivduos historicamente situados no

    preservam seu patrimnio? Para que preservar os patrimnios do municpio? Quais so os

    patrimnios do municpio? Qual a importncia desses patrimnios para o Municpio? Existe leis de

    proteo patrimonial? Essas leis so cumpridas? Por que o congo e a moqueca capixaba so

    considerados patrimnios e devem ser valorizados? Qual a importncia dos patrimnios

    ambientais? O que tombamento? Pra que serve? O congo macumba? Folclore?

    3.2. Problematizao

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    O momento da Problematizao representa o elemento-chave na transio entre a prtica e a

    teoria. Na problematizao, o professor elabora questes para debate, so levantadas situaes

    problemas que estimulam o raciocnio do aluno. A problematizao deve estar relacionada aos

    principais problemas postos pela prtica social, problemas que precisam ser resolvidos no s pela

    escola, mas no mbito da sociedade. Todo o contedo listado na prtica social inicial deve ser

    transformado em perguntas e/ou questes problematizadoras classificando-as nas diversas

    dimenses, tais como: conceituais, cientficas, histricas, econmicas, ideolgicas, polticas,

    culturais, educacionais, religiosas, estticas, filosficas, psicolgicas etc. O importante que os

    alunos nesse momento se conscientizem de que problematizar significa questionar a realidade e

    neste momento que se inicia a tomada de conscincia crtica (GASPARIN, 2012). A problematizao

    foi realizada conforme exposto abaixo:

    Qual a importncia econmica, cultural e social dos patrimnios de Vila Velha e o que eles

    retratam para a sociedade? Por que devemos preservar as representaes culturais do municpio,

    como o carnaval de congo, as festas religiosas, a culinria e os trabalhos artesanais? Qual a

    importncia de se preservar os rios e a mata atlntica do Municpio? Quais so as razes do

    desmatamento e da poluio dos rios? O que ameaa esses patrimnios no Municpio? De que

    forma os patrimnios envolvem a sensao de pertencimento, identidade e memria social?

    Desta forma, as dimenses problematizadas na sequncia didtica encontram-se abaixo listadas,

    tendo em vista as questes que se apresentaram durante o trabalho:

    a) Conceitual: O que patrimnio?

    b) Histrica: Como foram construdos esses patrimnios? Ao longo da histria o homem

    destruiu ou modificou os patrimnios do municpio?

    c) Social: Por que necessrio o equilbrio do homem com os patrimnios locais? Como o

    homem interage com estes patrimnios?

    d) Econmica: De que forma esses patrimnios contribuem com a renda da populao e traz

    lucros para o municpio?

    e) Poltica: O que a prefeitura e o estado tm feito para preservar esses patrimnios?

    f) Legal: Quais so as leis de proteo patrimonial?

    g) Religiosa: De que forma a igreja tem influncia sobre estes patrimnios?

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    h) Cultural: Quais as manifestaes culturais do municpio e qual sua importncia na

    construo da identidade dos moradores da regio?

    i) Educacional: Qual o papel da escola na preservao dos patrimnios?

    Apesar da lista de dimenses estabelecidas acima, algumas das problematizaes sofreram

    modificaes e foram adaptadas a realidade do aluno no decorrer da aplicao da sequncia

    didtica.

    3.3. Instrumentalizao

    Nessa fase as perguntas da problematizao so respondidas. De acordo com Saviani (1999)

    consiste na apreenso dos instrumentos tericos e prticos necessrios para a resoluo dos

    problemas detectados na prtica social inicial e que foram considerados fundamentais na fase da

    problematizao.

    A instrumentalizao o centro do processo pedaggico, o professor desenvolve aes didtico-

    pedaggicas para construo do conhecimento, os alunos refazem suas concepes dos conceitos

    cotidianos se apropriando dos conceitos cientficos e a aprendizagem se efetiva (GASPARIN, 2012).

    Na fase da instrumentalizao foram realizadas como ao pedaggica: exposio oral e

    apresentao de slides sobre o que Patrimnio especificando o conceito e os tipos de patrimnio

    material, imaterial e ambiental (figura 1), alm disso, debates, jogos (figura 2), confeco de

    fantoches, teatros com fantoches, confeco de casacas e tambores de argila em miniaturas, aulas

    de campo nos patrimnios, produo de relatrios das aulas de campo e vdeos.

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    Figura 1: Exposio do Contedo.

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Figura 2: Jogo Trilha dos Patrimnios de Vila Velha.

    Fonte: Dados da pesquisa.

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    Na instrumentalizao foi atribudo grande valor as aulas de campo, visto que so consideradas

    caminhos alternativos para se construir o conhecimento. O pr-campo, o campo e o ps-campo

    so de suma importncia para a compreenso dos alunos, uma vez que a todo o momento

    relaciona-se teoria e prtica, pois o trabalho de campo objetiva trazer ao aluno um olhar crtico

    sobre a realidade e a teoria compreendendo-a dialeticamente (SILVA et al, 2010).

    Os autores acima reforam que as aulas de campo do sentido as aulas tericas e o aluno deixa de

    ser mero observador e assume o papel de investigador. Desta forma, cabe ao professor estimular a

    curiosidade e a criticidade dos alunos, fazendo-os enxergar as ideias, teorias e a realidade por um

    ngulo nunca visto anteriormente. So necessrias trs etapas para se programar um trabalho de

    campo:

    1 - Pr-campo: Etapa considerada fundamental para situar o aluno com apresentao de

    roteiros, objetivos da aula e finalidade daquele estudo.

    2 - Campo: No pode ser visto pelos alunos como um passeio turstico, deve ser visto

    como um lugar de discusso de ideias e um lugar que possibilita a compreenso da importncia da

    prtica relacionada as teorias discutidas em sala de aula. Nessa etapa o professor deve estimular a

    curiosidade dos alunos, para que os mesmos possam construir suas aprendizagens, instigando-os a

    pensar, construir e conceituar. A afetividade, o respeito de opinies, a percepo e os debates em

    grupo tambm so trabalhados na aula de campo.

    3 - Ps-Campo: Pode ser realizado de diversas maneiras desde que se faa uma leitura

    crtica do espao observado, sendo assim, pode-se extrair o conhecimento dos alunos atravs de

    produo de relatrios, feiras culturais, teatros, construo de maquetes, mesas redondas ou

    diversas outras.

    O aprendizado gerado e compartilhado na educao em espaos no formais no espontneo

    porque os processos que o produz tm intencionalidades e propostas, a mesma voltada para a

    formao do ser humano como um todo, cidado do mundo contextualizado, sendo de suma

    importncia para a educao. O ideal que a educao no formal seja um complemento no

    sentido de desenvolver os campos de aprendizagens e saberes que lhes so especficos,

    proporcionando ao aluno, uma relao entre a teoria e a prtica, atuando em conjunto com a

    escola (GOHN, 2010).

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    As aulas de campo foram realizadas nos dias 20 e 24 de abril de 2013, com a participao dos 40

    alunos, com autorizao prvia da direo da escola e dos responsveis pelos mesmos. A aula de

    campo teve como objetivo promover a vivncia dos alunos sobre o contedo desenvolvido na sala

    de aula, reforando a aprendizagem. Foram realizadas em dois dias, em trs espaos prximos

    escola e no horrio de aula dos alunos. No primeiro dia os alunos puderam conhecer o Patrimnio

    Imaterial da regio, ou seja, a manifestao cultural e a histria do Congo da Barra do Jucu. No

    segundo dia conheceram os Patrimnios Materiais da Prainha, dentre eles a Gruta do Frei Pedro

    Palcio, o Museu Homero Massena, a Casa da Memria, a Igreja do Rosrio, podendo tambm

    contemplar no alto do morro localizado na Prainha o Convento da Penha, objetivando resgatar a

    histria de cada Patrimnio, se apropriando de conhecimentos sobre os mesmos e por fim o

    Patrimnio Ambiental situado no Parque do Morro da Manteigueira para deteno de

    conhecimentos sobre a fauna e flora local. As aulas de campo possibilitaram a reflexo dos alunos

    sobre as ameaas a estes patrimnios, promovendo a criticidade e o questionamento sobre o que

    podemos fazer para preserv-los. As programaes das aulas de campo foram realizadas da

    seguinte forma:

    a) Patrimnio Imaterial

    08:00h Sada da escola.

    08:15h Recepo na Barra do Jucu e encontro com o mestre de congo da banda da Barra do

    Jucu (Buchecha) e sua esposa.

    09:00h Ateli Cleber Galvea (conhecer a histria e as obras do artista capixaba)

    10:00h Casa de Dona Dorinha, matriarca do congo da Barra, banda tambor de Jacarenema,

    para conhecer os tipos de tambores, a casaca e o mastro.

    10:30h Mestre Daniel (fotos da fincada do mastro).

    11:00h Fbrica de tambor (conhecer como esses instrumentos so produzidos) e ouvir banda

    de congo do mestre Onrio tocar.

    12:00h Fim do campo e retorno escola

    A figura 3 mostra os diferentes tipos de casacas e a figura 4 retrata a apresentao da banda de

    congo, com os principais instrumentos que so o tambor e a casaca.

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    Figura 3: Fbrica de casaca e tambor.

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Figura 4: Roda de congo.

    Fonte: Dados da pesquisa.

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    A UNESCO (2009) define Patrimnio Imaterial como expresses de vida e tradies das

    comunidades e/ou grupos de indivduos, que em todas as partes do mundo recebem de seus

    ancestrais e transmitem a seus descendentes. A valorizao dos aspectos de um povo, como as

    lnguas, os instrumentos de comunicao, as relaes sociais, os ritos, as cerimnias, os

    comportamentos coletivos, os sistemas de valores e crenas devem ser vistos como referncias

    culturais dos grupos humanos, so signos que definem as culturas e tambm necessitavam ser

    preservados (ZANIRATO, 2006). O Congo da Barra do Jucu foi um patrimnio selecionado para a

    sequncia didtica, devido s dificuldades encontradas (religiosas, econmicas) em sua

    manuteno e conservao.

    A visita na fbrica de casacas (instrumento musical tradicional local) e tambores permitiu o

    conhecimento das tcnicas utilizadas na confeco destes instrumentos, destacando os materiais

    utilizados antes e os materiais utilizados hoje, retratando a influncia das novas tecnologias. Neste

    momento ressalta-se a importncia da Educao Cientfica que est aliada ao movimento CTSA.

    Este um movimento que surge como uma crtica s consequncias da guerra e do perodo

    industrial, que trouxeram inmeros impactos na qualidade de vida das pessoas, pois a crescente

    dependncia tecnolgica alterou as relaes sociais e o ambiente (FAGUNDES, 2009).

    Os estudantes devem alcanar uma certa compreenso e apreciao global da cincia e tecnologia

    que continuam a ser parte da cultura, o professor deve proporcionar ao aluno oportunidades para

    que o mesmo analise os problemas globais e considere possveis solues (CACHAPUZ, 2011). Em

    contrapartida o cidado cientificamente alfabetizado tem a capacidade de influenciar e tomar

    decises relacionadas com a cincia e a tecnologia, os iletrados no que toca a interao da cincia,

    tecnologia e sociedade, esto condenados a viverem isolados da cultura que os rodeia

    (AIKENHEAD, 2009).

    Desta forma, quando relacionamos a educao patrimonial ao enfoque CTSA, o dilogo com a

    cultura acumulada historicamente ser valorizado, o professor ir relacionar a teoria e a prtica,

    indo alm dos mtodos tradicionais de ensino e por fim valorizar o contexto social do aluno e o

    saber produzido historicamente.

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    b) Patrimnio Material e Ambiental

    13:00h Sada em frente a escola.

    13:15h Chegada na Prainha e Gruta do Frei Pedro Palcio.

    13:30h Museu Homero Massena.

    14:20h Casa da Memria e Igreja do Rosrio; Diviso dos grupos para as filmagens.

    15:00h Parque do Morro da Manteigueira, Palestra (40 minutos). Trilha Ecolgica - mata

    atlntica, fauna e flora local (vegetao arbustiva, cactos, de manguezal, mamferos, aves,

    rpteis, crustceos e outros).

    17:30h - Fim do campo e retorno escola.

    Durante as aulas de campo os alunos visitaram os patrimnios materiais, dentre eles os ilustrados

    nas figuras 5 e 7 e o patrimnio ambiental localizado no parque na Manteigueira, figura 8. Os

    alunos produziram vdeos e fotografias sobre os patrimnios (figura 6), responderam o

    questionrio proposto no pr-campo e produziram relatrio. A produo dos vdeos promoveu

    uma aprendizagem significativa, e ainda, mostrou a interpretao dos alunos diante do que

    presenciaram e sentiram.

    Figura 5. Igreja do Rosrio.

    Fonte: Dados da pesquisa.

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    Figura 6. Registro da gravao de vdeo sobre a importncia da fauna e flora.

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Figura 7: Museu Homero Massena.

    Fonte: Dados da pesquisa.

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    Figura 8: Trilha do Parque do Morro da Manteigueira.

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Os Patrimnios Materiais Histricos do municpio permitiram que os alunos pudessem realizar

    uma anlise da situao de descaso para com o patrimnio histrico e a pouca visibilidade da

    tradio local, que correm o risco de perder-se pois no h envolvimento dos jovens para a cultura

    tradicional do municpio. Os monumentos, as estruturas arquitetnicas, obras de arte e outros,

    constituem importantes marcos na transmisso do conhecimento retratando a histria local e suas

    contradies. So importantes na construo da identidade de uma populao como forma de

    fortalecimento identitrio. Afinal no existe identidade sem memria (FUNARI, 2001). A

    preocupao com o patrimnio ambiental est diretamente ligada aos recursos naturais do

    planeta, visto que o uso desses recursos essencial para a garantia de uma vida digna para a

    populao humana. Alm disso, outros interesses so identificados na conservao do patrimnio

    natural, como por exemplo, a manuteno da biodiversidade destes locais (ZANIRATO, 2006).

    3.4. Catarse

    Na Catarse o educando sistematiza e manifesta que assimilou a si mesmo e os mtodos de

    trabalho usados na fase anterior. Nesta fase o aluno traduz oralmente ou por escrito o

    compreendido em todo o processo do trabalho, a sntese do cotidiano e do cientfico, do terico

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    e do prtico, significa a concluso, o resumo, ou seja, o novo ponto terico de chegada, a

    manifestao do novo conceito adquirido, neste momento ele manifesta seu novo nvel de

    aprendizagem. Este o ponto culminando do processo educativo onde o aluno passa da sncrese

    sntese, o educando percebe que no s aprendeu o contedo, mas aprendeu algo que tem

    significado na sua vida, algo que lhe exige o compromisso de atuar na transformao social

    (GASPARIN, 2012).

    O autor supra destaca ainda que para conhecer a concluso do aluno o professor deve criar

    condies para que o aluno mostre o que aprendeu, deve se ressaltar que esse tipo de avaliao

    no ocorre somente nessa fase, mas durante todas as atividades. Essa avaliao pode ocorrer de

    forma informal, onde o aluno expressa de maneira espontnea o que incorporou do contedo, ou

    formal, atravs de questes e instrumentos propostas pelo professor. Na sequncia didtica desta

    proposta os alunos expressaram a sntese de forma informal e tambm formal atravs da

    confeco e realizao dos jogos (figura 9 e 10), criao dos fantoches e produo do teatro (figura

    11 e 12), da autoavaliao e produo de relatrios embasados nos roteiros das aulas de campo

    realizadas nos patrimnios da Prainha, na Barra do Jucu (congo) e no Parque da Manteigueira.

    Figura 9: Confeco do jogo de memria (Patrimnio Material Imaterial e Natural).

    Fonte: Dados da pesquisa.

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    Figura 10: Jogo de memria.

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Figura 11: Confeco dos fantoches.

    Fonte: Dados da pesquisa.

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    Figura 12: Fantoches de material reciclvel utilizados no teatro.

    Fonte: Dados da pesquisa.

    A confeco dos jogos educativos e dos fantoches despertou a essncia artstica dos alunos

    estimulando a aprendizagem, as imagens escolhidas por eles puderam expressar a compreenso

    dos mesmos.

    Nessa etapa os alunos concluram que Patrimnio o termo utilizado para designar o conjunto de

    bens individuais ou de uma coletividade, sejam eles naturais, materiais ou imateriais (dimenso

    conceitual). A cidade de Vila velha - Vila do Esprito Santo, a mais antiga do Estado do Esprito

    Santo, foi fundada em 23 de maio de 1535, pelo portugus Vasco Fernando Coutinho, a partir da

    todos os patrimnios foram aos poucos sendo construdos (dimenso histrica). Muitos turistas

    so atrados por estes patrimnios que se tornaram cartes postais.

    O homem modificou a natureza para atender seus interesses (dimenso econmica e social). Cada

    grupo social possui valores diferentes e por isso possuem expresses culturais diversificadas que

    precisam ser resgatadas e valorizadas (dimenso cultural). H leis de proteo destes bens

    (dimenso legal). Princpios religiosos tambm esto envolvidos nestes patrimnios, seja no

    carnaval de congo, na festa da penha ou com os peregrinos que visitam o convento da Penha para

    oraes, pedidos pessoais e romarias (dimenso religiosa). Todos somos responsveis pela

    preservao destes patrimnios (dimenso educacional).

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    Durante as aulas de campo os alunos puderam observar que o municpio de Vila Velha cresce cada

    vez mais economicamente gerando cenrios globalizados, nos quais as caractersticas locais vo

    perdendo espao para os grandes empreendimentos, detectando que muitas pessoas no tm

    acesso informao ao ponto de entender a importncia dos patrimnios de seu municpio, e por

    isso, no comungam da necessidade de sua conservao.

    3.5. Prtica Social Final

    O ponto de chegada do processo pedaggico da Pedagogia Histrico-Crtica o retorno prtica

    social e nesta fase lcito concluir que a prtica social dos alunos alterou qualitativamente. Na

    Prtica Social Final o aluno compreende a realidade e posiciona-se nela, manifestando sua nova

    postura, o momento da ao consciente na perspectiva da transformao social, retornando a

    Prtica Social Inicial, agora modificada pela aprendizagem (GASPARIN, 2012).

    O impacto do consumismo e a globalizao tem reduzido o interesse dos jovens pelos patrimnios

    locais, principalmente o patrimnio imaterial (o congo), devido a ligao ao mundo do consumo,

    com as msicas importadas. Existe uma certa rejeio cultura do municpio, devido aos meios de

    comunicao que acabam por diminurem as tradies coletivas locais. Segue abaixo quadro com

    as intenes e aes dos alunos, expressando a nova postura do aluno:

    Com a finalidade de difundir o contedo aprendido, os alunos produziram e elaboraram um jornal

    para conscientizar os demais alunos da escola (Figura 13). A sequncia didtica pode integrar

    diferentes disciplinas e alm disso, possibilitou uma grande socializao de conhecimentos entre

    escola e comunidade local. Depois de aplicada a sequncia didtica foi submetida validao

    posteriori por pares. A validao foi realizada com o diretor, a pedagoga, a coordenadora e com

    professores da escola.

    De acordo com Guimares e Giordan (2011) a validao permite uma melhor adaptao do plano

    de ensino, das teorias e das prticas educativas. Alm de melhorar a proposta, tambm permite

    que o professor reelabore os seus saberes profissionais. Zabala (1999) refora esse pensamento

    dizendo que a avaliao das sequncias didticas deve estar presente no planejamento de ensino.

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    Quadro 2. Intenes e Aes dos Alunos, adaptado do Projeto de Trabalho Docente-Discente na

    Perspectiva Histrico-Crtica (GASPARIN, 2012).

    Intenes do aluno

    Manifestao da nova postura

    prtica.

    Aes do aluno

    Nova prtica social do contedo,

    em funo da transformao social.

    1- Preservar os patrimnios locais.

    1-No depredar os patrimnios, inclusive o

    patrimnio escolar, no jogar lixo nos rios e em

    terrenos baldios

    2- Conhecer mais sobre a regio

    onde mora.

    2- Entrevista com os mestres de congo e

    compreender o incio dessa manifestao cultural.

    - Aplicao de questionrio na casa da memria e

    museu Homero Massena sobre a histria e

    importncia destes patrimnios.

    3- Aprofundar conhecimentos.

    3- Ler sobre os patrimnios da regio.

    4- Difundir o contedo, valorizando

    a identidade local.

    4- Produzir vdeos sobre os patrimnios e

    apresentar para as outras turmas

    5- Conscientizar os outros alunos da

    escola sobre a preservao dos

    patrimnios.

    5- Escrever e divulgar o jornal da Educao

    Patrimonial

    - Expor fotos, vdeos e relatar as experincias

    vivenciadas durante o projeto.

    Fonte: Dados da pesquisa.

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    Figura 13: Elaborao do Jornal no laboratrio de Informtica.

    Fonte: Dados da pesquisa.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    A Sequncia Didtica embasada na Pedagogia Histrico-Crtica repercutiu em uma aprendizagem

    satisfatria, onde os resultados mostraram motivao dos alunos com o processo de ensino-

    aprendizagem. Foi perceptvel a participao e interao dos alunos dando as respostas nos

    momentos de interveno. O bom resultado apresentado pelos alunos na Sequncia Didtica

    partiu do conhecimento prvio dos alunos at uma aprendizagem e construo de conhecimento,

    numa perspectiva que compreende prtica-teoria-prtica. importante destacar a importncia da

    insero deste tema no currculo escolar de forma interdisciplinar, pois envolveu contedos

    relevantes das disciplinas de Arte, Geografia, Histria, Cincias, Informtica e Portugus.

    A estratgia proposta permitiu uma reflexo sobre uma educao cidad partindo das informaes

    prvias dos alunos sobre o estudo do Patrimnio girando em torno da realidade do aluno, levando

    o desenvolvimento do esprito crtico dos educandos e a construo de valores e aes que sero

    empregadas no seu cotidiano. A Educao Patrimonial se faz importante no que diz respeito o

    despertar de uma conscincia crtica, possibilitando que o aluno mude suas atitudes no ambiente

    escolar e na comunidade, construindo um sentimento positivo de valorizao de sua regio, agindo

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    com responsabilidade diante das questes patrimoniais, agindo de forma a garantir a

    sustentabilidade dos mesmos.

    O objetivo principal foi conscientizar o educando sobre a importncia da preservao dos

    Patrimnios de Vila Velha, contribuindo para a construo da cidadania e valorizao dos

    patrimnios culturais do Municpio. Diante disso, os alunos detectaram a situao de descaso para

    com o patrimnio histrico e a pouca visibilidade da tradio local, que correm o risco de perder-

    se pois no h envolvimento dos jovens com a cultura do municpio. Os jovens hoje so

    influenciados pelo capitalismo e vivem num mundo individualista em meio as tecnologias. Pode-se

    perceber que s haver envolvimento e comprometimento com o patrimnio quando os alunos

    passarem a se identificar com ele, portanto, a Educao Patrimonial que propomos, diferente da

    tradicional, no visa ocorrer de forma forada e incorporar, por meios impositivos, o patrimnio na

    identidade local. Para que se alcance uma educao progressista, todos os envolvidos devem ser

    entendidos como sujeitos histricos, deixando de lado o papel de expectador.

    Ficou claro que no Municpio de Vila Velha existe certa dificuldade em incorporar uma conscincia

    que permita valorizar os patrimnios que retratam a memria da regio, pois, o foco se d nas

    edificaes e manifestaes de carter pblico, vinculado ao Estado e aos grupos dominantes,

    rejeitando outras tradies ou valores. Esse fato reafirma a necessidade de polticas pblicas que

    visem reverter esse quadro atravs da Educao Patrimonial crtica, que supera aquilo que

    tradicionalmente se convencionou a denominar de patrimnio, valorizando tambm o espao do

    indivduo, favorecendo a diversidade de possibilidade de entendimento acerca do patrimnio. Para

    isso, preciso desprivatizar o patrimnio e a cultura local, adequando perspectivas e

    vislumbrando possibilidades de participao de todos.

    REFERNCIAS

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