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Artigo de Revisão
Benefícios da mobilização precoce em pacientes críticos na unidade de
terapia intensiva
Benefits of Early Mobilization in Critical Care Patients
Francielle Oliveira Balduino1 Giulliano Gardenghi2
Resumo
Introdução: Durante muito tempo preconizou-se o repouso absoluto no leito como sendo obrigatório no tratamento de pacientes internados. No entanto, nas últimas décadas, os avanços tecnológicos, avanço das pesquisas e o aumento do conhecimento científico acerca do tema permitiram a constatação de que a imobilidade no leito é um fator contribuinte para o retardo na recuperação desses pacientes. Objetivo: Descrever os benefícios da mobilização precoce em pacientes críticos na unidade de terapia intensiva. Métodos: Revisão de literatura sobre os benefícios da mobilização precoce em pacientes críticos na unidade de terapia intensiva, utilizando bases de dados: MEDLINE, LILACS, SCIELO, PUBMED e GOOGLE ACADÊMICO. Resultados/Conclusão: O uso da mobilização precoce em pacientes críticos no ambiente de UTI foi relacionada ao aumento de força muscular em geral, melhora na capacidade funcional respiratória, diminuição no tempo de desmame da VM, redução do tempo de internação hospitalar e melhora na capacidade de realização das atividades de vida diária. Descritores: Mobilização Precoce; Unidade de Terapia Intensiva; Fisioterapia.
Abstract
Introduction: For a long time absolute rest in the bed was recommended as being mandatory in the treatment of hospitalized patients. However, in recent decades, technological advances, advances in research and the increase of scientific knowledge about the subject have allowed the finding that immobility in the bed is a contributing factor to the delay in the recovery of these patients. Objective: To describe the benefits of early mobilization in critically ill patients in the intensive care unit. Methods: Literature review on the benefits of early mobilization in critical patients in the intensive care unit, using databases: MEDLINE, LILACS, SCIELO, PUBMED and ACADEMIC GOOGLE. Results / Conclusion: The use of early mobilization in critically ill patients in the ICU environment was related to increased muscle strength in general, improvement in respiratory functional capacity, decreased weaning time of MV, reduced hospital stay and improved capacity activities. Key words: Early Mobilization; Intensive Care Unit; Physiotherapy.
1. Fisioterapeuta; Pós graduanda em Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva pelo CEAFI Pós-graduação, Goiânia/Goiás – Brasil.
2. Fisioterapeuta, Doutor em Ciências pela FMUSP, Coordenador Científico do Serviço de Fisioterapia do Hospital ENCORE/GO, Coordenador Científico do CEAFI Pós-graduação/GO e Coordenador do Curso de Pós-graduação em Fisioterapia Hospitalar do Hospital e Maternidade São Cristóvão, São Paulo/SP – Brasil.
2
Introdução
Durante muito tempo preconizou-se o repouso absoluto no leito como
sendo obrigatório no tratamento de pacientes internados. No entanto, nas últimas
décadas, os avanços tecnológicos, avanço das pesquisas e o aumento do
conhecimento científico acerca do tema permitiram a constatação de que a
imobilidade no leito é um fator contribuinte para o retardo na recuperação desses
pacientes. Dos pacientes internados na unidade de terapia intensiva (UTI) cerca
de 30% a 60% desenvolve fraqueza generalizada relacionada ao imobilismo¹. São
necessários somente sete dias de repouso no leito para reduzir a força muscular
em 30%, com uma perda adicional de 20% da força restante a cada semana2.
Várias condições clínicas submetem o paciente ao decúbito
prolongado no leito. Mas, independente de qual seja essa condição, entende-se
que o imobilismo no leito é diretamente proporcional às graves complicações que
o paciente pode apresentar, acometendo os sistemas musculoesquelético,
cardiorrespiratório, metabólico, gastrointestinais, geniturinários, cutâneo, entre
outros. O que contribui para a redução na capacidade funcional e maior
dependência das atividades de vida diária (AVD’s), prolongamento do tempo de
internação, aumento dos custos hospitalares, e aparecimento de fraqueza da
musculatura periférica e respiratória ³ 4 5.
A assistência fisioterapêutica no cuidado do paciente crítico pode
auxiliar na identificação precoce de problemas cinéticos-funcionais, sendo o
programa de reabilitação recomendado como prática fundamental e segura para
recuperação desses pacientes6. A mobilização precoce na UTI é de extrema
importância, pois com ela pretende-se manter ou aumentar a força muscular e a
função física do paciente. Incluindo atividades terapêuticas progressivas como
exercícios de mobilidade no leito, mudanças de decúbito, sedestação beira leito,
ortostatismo, transferência para uma poltrona e a deambulação7. Diante do
exposto, este estudo tem como objetivo descrever os benefícios da mobilização
precoce em pacientes críticos na unidade de terapia intensiva.
3
Metodologia
O estudo consiste em uma revisão de literatura sobre os benefícios
da mobilização precoce em pacientes críticos na UTI. Esta revisão foi
conduzida por meio de informações obtidas nas bases de dados: MEDLINE,
LILACS, SCIELO, PUBMED e GOOGLE ACADÊMICO. Sendo selecionados
artigos publicados entre 2006 e 2017, em português ou inglês, sendo utilizadas
as seguintes palavras-chaves: mobilização precoce, imobilismo, fisioterapia,
paciente crítico, UTI. Objetivou-se chegar a um artigo de revisão de literatura,
que incluísse revisões sistemáticas e ensaios clínicos, randomizados ou não,
que pudessem refletir a melhor evidência disponível na literatura. Para tanto,
buscou se padronizar, tanto a maneira como a revisão bibliográfica foi
realizada, como a forma de apresentar seus resultados. Dos 22 artigos
encontrados, 14 foram selecionados segundo os critérios de inclusão. Os quais
consistiam em considerar artigos que abordassem sobre pacientes críticos com
admissão em ambiente de UTI, e foram excluídos estudos que tratavam da
mobilização precoce fora do ambiente da UTI.
Resultados
Na tabela 1 estão expressos os resultados encontrados referentes a
mobilização precoce no paciente crítico, mostrando os objetivos e principais
achados dos diversos estudos selecionados. Os estudos em geral apontam a
recuperação do grau de força muscular pela mobilização precoce, e também
relacionavam a força à função e ao impacto positivo na qualidade de vida
desses pacientes. Também podemos observar nos estudos que o tempo de
duração das terapias eram de no máximo 60 minutos, com sessões de um a
sete dias por semana, os autores tinham como principal foco o ganho ou a
recuperação da força muscular, ndependência funcional, e o desmame
precoce da ventilação mecânica (VM).
Tabela 1 – Resultados da busca de artigos relacionados a mobilização precoce em pacientes críticos na UTI.
4
Autor
(es) /
Ano
Objetivos Métodos Principais
achados
Bailey P et al., 2007.
Estabelecer se a
atividade precoce é
viável em pacientes com
insuficiência respiratória
internados na UTI.
103 pacientes
participaram do
estudo, os mesmos
tinham que sentar-se
na cama e na cadeira
e deambular dentro da
UTI por um período de
2 horas por dia.
Concluiram que
a atividade
inicial é viável e
segura em
pacientes com
insuficiência
respiratória. A
maioria dos
sobreviventes
(69%) foram
capazes de
ambular > 100
pés durante sua
permanência na
UTI.
Morris P. et al., 2008.
Avaliar os efeitos da
mobilização precoce na
UTI, no tratamento da
insuficiência respiratória
aguda.
330 pacientes,
realizaram exercícios
assistidos e ativo-
assistidos,
sedestação, e
exercícios
respiratórios, com
sessões diárias até a
alta da UTI.
Observaram que
os pacientes que
receberam o
protocolo de
mobilização
precoce mais
cedo foram
associados com
a diminuição de
tempo de
internação em
UTIs em
comparação
com pacientes
que receberam o
tratamento
tradicional.
Hodgin K. et al., 2009.
Estipular a utilização da
fisioterapia hospitalar
para pacientes em
recuperação de doença
crítica.
482 fisioterapeutas
aplicaram as técnicas
(sem quantidade
específica de
pacientes e idade dos
mesmos), no qual
realizaram sessões de
três a cinco vezes por
semana, com
exercícios
respiratórios,
mobilização articular
passiva global,
posicionamento ativo
assistido e ativo
resistido,
Os pacientes em
VM que
iniciaram a
terapia após a
intubação
demonstraram
uma maior
independência
funcional e
redução na
duração da
ventilação
mecânica.
5
propriocepção, e
deambulação.
Burtin C. et al., 2009
Descobrir se uma
sessão de exercício
diário com o
cicloergômetro é seguro
e eficaz na prevenção
da diminuição da
funcionalidade, estado
funcional e da força
muscular do quadríceps
associada a
permanência
prolongada em uma
UTI.
Pacientes
encontrados em UTI
por 7 dias ou mais,
com um grupo
controle
(n=45) e intervenção
(n=45). Na sessão era
realizada a
Fisioterapia
respiratória,
mobilizações passivas
ou ativas de MMSS e
MMII em ambos os
grupos.
Adicionalmente, uso
de cicloergômetro de
MMII com
duração média de 20
min. ao
grupo intervenção.
Houve um
aumento da
força de
quadríceps,
melhora da
funcionalidade e
do status
funcional
percebido pelo
próprio paciente
no grupo
intervenção.
Soares T. et al., 2010.
Relatar a frequência de
retirada do leito em
pacientes submetidos à
ventilação mecânica e
sua repercussão na
mortalidade e no tempo
de permanência na
unidade de terapia
intensiva.
Pacientes submetidos
a ventilação
mecânica, realizaram
sedestação com
membros inferiores
(MMII) pendentes,
sedestação na
poltrona, marcha
estacionária e
deambulação.
Observou-se
que os pacientes
retirados do leito
apresentaram
menor
mortalidade.
Brahmbhatt N. et al., 2010.
Avaliar a eficácia da
associação da
interrupção diária da
sedação com a
fisioterapia e terapia
ocupacional sobre os
resultados funcionais
em pacientes que
ficaram em VM na
unidade de terapia
intensiva.
Pacientes realizavam
mobilização precoce e
terapia ocupacional
nos períodos de
interrupção diária de
sedação.
Os pacientes
retornaram mais
rápido ao seu
estado funcional
realizando 6
atividades de
vida
diária e
deambulação.
6
Dantas C. et al., 2012.
Avaliar os efeitos de um
protocolo de
mobilização precoce na
musculatura respiratória
e periférica de pacientes
na UTI para ajudar na
construção de diretrizes
ao tratamento.
48 pacientes de
ambos os sexos
divididos em grupo
controle com
fisioterapia
convencional e grupo
de mobilização
precoce que recebeu
um protocolo
sistemático de
mobilização precoce
que estavam sob VM.
Com sessões diárias
cinco vezes na
semana. No grupo
controle eram
realizados a
mobilização passiva
nos quatro membros
evoluindo para
exercícios ativo-
assisitidos, e no grupo
de mobilização
precoce um protocolo
de mobilização
precoce
sistematizado, duas
vezes ao dia, todos os
dias da semana.
Os pacientes
que foram
submetidos a
um protocolo de
mobilização
precoce
apresentaram
ganho de força
muscular
inspiratória e
periférica. Ainda
diminuiu o
tempo de
ventilação
mecânica e de
permanência na
Unidade de
Terapia
Intensiva.
Feliciano V. et al., 2012.
Avaliar a eficácia de um
protocolo de
mobilização precoce no
tempo de internação na
UTI, e analisar a força
muscular respiratória e
periférica nesses
pacientes.
48 pacientes,
realizaram sessões
diárias durante o
tempo médio de 17
dias de internação na
uti. Realizaram
mobilização passiva
dos quatros membros
evoluindo para
exercícios ativo-
assistido e ativo-
resistido, sedestação
beira leito e
cicloergometria para
MMII.
Os pacientes
que foram
submetidos ao
protocolo de
mobilização
precoce e
sistematizado
evoluíram com
ganho de força
da força
muscular
inspiratória e
força muscular
periférica e
ainda tiveram
alta precoce da
Unidade de
Terapia
Intensiva.
7
Neto P. et al., 2013.
Investigar as alterações
cardiorrespiratórias de
pacientes durante o
exercício ativo com
cicloergômetro e
analisar a aceitação dos
pacientes para realizar
esse tipo de atividade.
15 pacientes,
realizaram o exercício
para MMII utilizando o
cicloergômetro, cinco
vezes por semana,
durante seis semanas.
Observaram
pequenas
alterações
cardiorrespiratóri
as durante o
exercício e uma
boa aceitação
dos pacientes
com a atividade.
Carvalho
T. et al.,
2013.
Avaliar a funcionalidade
e independência de
pacientes que
realizaram a saída do
leito
precocemente na
Unidade de Terapia
Intensiva.
Pacientes internados
na Unidade de
Terapia Intensiva com
prescrição médica de
fisioterapia que
realizaram, divididos
em grupo de
fisioterapia
convencional (grupo
controle) e o grupo
intervenção, que
realizou o protocolo de
mobilização precoce
com mudanças de
decúbito, mobilização
passiva, ativo-
assistida, e resistidas
de MMSS e MMII,
diagonais funcionais,
e alongamento.
Os pacientes
apresentaram
melhor taxa de
funcionalidade
após a alta da
UTI, menor
tempo de
internação, e
também menor
tempo de
hospitalização.
Heidi J. et
al., 2013.
Reduzir o número de
pacientes e o tempo de
permanência dos
pacientes internados na
Unidade de Terapia
intensiva.
Pacientes receberam
um programa de
mobilização precoce
nas primeiras 48
horas de internação
na UTI.
Pacientes sedados
recebiam:
mobilização passiva
global.
Pacientes sem
sedação recebiam:
exercícios ativos de
MMII e MMSS, sentar
beira leito, sentar na
poltrona, treino de
ortostatismo e
deambulação.
Observou-se
que o programa
de mobilização
precoce teve
resultados e
melhorias na
clinica dos
pacientes, como
por exemplo no
tempo de
internação.
Cordeiro
L. et al.,
2015.
Avaliar o impacto da
deambulação precoce
na duração da
permanência em
49 pacientes,
realizaram o exercício
de deambulação
estimulada após a
Pode-se concluir
que a
deambulação
precoce não
8
unidade de terapia
intensiva (UTI) nos
pacientes submetidos a
cirurgia cardíaca.
cirurgia cardíaca. influenciou na
duração da
permanência
desses
pacientes na
UTI.
Murakami F. et al., 2015.
Avaliar a evolução
funcional dos pacientes
submetidos ao protocolo
de reabilitação precoce
desde a admissão até a
alta da UTI.
463 pacientes foram
submetidos ao
protocolo de
reabilitação precoce
com um tempo
mínimo de 30 minutos
e máximo 60 minutos
de cada sessão,
foram divididos em
planos de intervenção
conforme seu status
funcional.
A manutenção
e/ou melhora do
status funcional
admissional es-
teve associada
com menor
tempo de in-
ternação na UTI.
Chiang L. et al., 2016.
Investigar os efeitos do
treinamento físico sobre
o estado funcional em
pacientes com VM
prolongada.
32 pacientes,
realizaram exercícios
de fortalecimento
muscular de MMSS e
MMII, sedestação
beira leito,
deambulação e
exercícios
diafragmáticos, cinco
vezes por semana,
durante seis semanas.
Oservou-se
melhoria na
força muscular e
tempo fora da
ventilação após
os pacientes que
necessitam de
VM prolongada
praticarem
treinamento
físico em seis
semanas.
Siqueira N. 2017.
Avaliar as alterações no
sistema respiratório,
hemodinâmico, nível de
consciência e no
comportamento dos
pacientes submetidos
ao ortostatismo passivo
através do uso da
prancha ortostática.
Pacientes restritos ao
leito e incapazes de
realizar o ortostatismo
ativo dentro da UTI,
aonde realizaram a
progressão dos
ângulos na prancha
ortostática de 10 em
10 minutos, uma vez
ao dia durante cinco
dias consecutivos.
O treino de
ortostase
proporcionou um
aumento
significativo e
proprioceptivo
nas alterações
hemodinâmicas
e respiratórias, o
uso da prancha
ortostática
auxilia
indiretamente na
redução do
tempo de
internação, das
complicações
secundárias e
sequelas
decorrentes ao
imobilismo,
resultando na
melhora da
qualidade de
vida.
9
Nos protocolos aplicados, não houve predomínio na utilização de
qual técnica deveria ser aplicada junto aos pacientes. Porém verificou-se um
consenso entre os autores em utilizar exercícios com uma intensidade capaz
de gerar uma contração visível no músculo alvo. Grande parte dos estudos
evidenciaram recuperação de força muscular, menor tempo de internação
hospitalar, maior independência funcional, e o desmame precoce da VM com o
uso da mobilização precoce.
Discussão
Imobilidade, descondicionamento, fraqueza, podem contribuir para
hospitalização prolongada, diminuição do estado funcional e a qualidade de
vida do paciente. Uma crescente literatura demonstra que os sobreviventes da
doença crítica tratada em UTI têm significativas e prolongadas complicações
neuromusculares que prejudicam sua função física e qualidade de vida após a
alta hospitalar 17.
A imobilidade é um problema frequente em pacientes em VM e pode
contribuir no aumento de tempo de internação hospitalar e o aparecimento de
fraqueza muscular respiratória e periférica, prejudicando assim as suas funções
e a qualidade de vida do paciente. A debilidade generalizada é uma
complicação comum em pacientes internados na UTI. Diversos fatores podem
contribuir essa condição, dentre eles destacamos a VM e a imobilidade
prolongada que aumenta o índice de mortalidade, complicações e o tempo de
internação interferindo na vida do paciente até anos depois de sua alta
hospitalar 15.
Nos últimos 20 anos, ocorreram avanços na terapia intensiva bem
como na VM, o que resultou no aumento da sobrevida dos pacientes críticos.
Porém, alguns pacientes desenvolvem a necessidade de VM prolongada,
mostrando-se frequentemente descondicionados devido a insuficiência
respiratória precipitada pela doença subjacente, efeitos adversos das
medicações e período de imobilização prolongado 14. Apesar das evidências de
muitos anos que a VM e o imobilismo prolongado no leito resultam em
descondicionamento físico e respiratório; estudos investigando a eficácia da
mobilização precoce para pacientes críticos numa UTI só começaram a
aparecer na literatura nos últimos 10 a 15 anos 22.
10
Estudos eletrofisiológicos dos membros revelam anormalidades
neuromusculares difusas em 50% dos pacientes internados na UTI após 5 a 7
dias de VM, tendo como principal sinal clínico o descondicionamento físico,
devido à fraqueza muscular 14. Por esse motivo, a introdução da mobilização
precoce torna-se importante para evitar a perda significativa das habilidades
diárias do paciente.
O imobilismo prolongado pode desempenhar um papel importante
no desenvolvimento de anomalias neuromusculares, em exemplo a
polineuropatia e a miopatia, complicando o estado clínico dos pacientes críticos
8. Os estudos com pacientes críticos em VM, demonstram que estas doenças
estão associadas ao aumento do tempo de permanência na UTI podendo
causar aumento no índice na taxa de mortalidade, fraqueza muscular, paralisia,
prolongar o tempo de suporte ventilatório de duas a sete vezes, prejudicando
em até 100% a reabilitação dos pacientes internados 23.
A falta de uma abordagem sistemática sobre o desmame da VM e
sobre a sedação prolongada podem ocasionar ausência completa ou parcial da
atividade neural e da mecânica muscular, contribuindo para a intolerância aos
exercícios 9 13. O estudo de Brahmbhatt et al 13, descreveram que pacientes em
VM com uso médio de dois dias de sedação, sendo analisado o estado
funcional do paciente para descontinuação da sedação, tiveram menor duração
do delirium e mais dias livres da VM; proporcionando maior alcance no status
funcional independente, maior ganho nas atividades de vida diária e a
deambulação. Cordeiro et al 19 investigaram o impacto da deambulação
precoce na duração da permanência em UTI nos 49 pacientes submetidos a
cirurgia cardíaca e pode-se concluir que a deambulação precoce não
influenciou na duração da permanência desses pacientes na UTI.
Hodgin et al 10 mostraram em seu estudo que doentes críticos
submetidos a VM e que iniciaram a terapia após a intubação demonstrou
redução na duração da ventilação mecânica e maior independência funcional.
Nos estudos de Bailey et al 8, foram evidenciados que a atividade quando
realizada mais cedo (após 24 horas de admissão na UTI), observando a
estabilização fisiológica do paciente, pode melhorar a função física do doente
crítico, gerando uma maior possibilidade de deambulação precoce, onde 69,4%
dos pacientes analisados deambularam 100 pés. Chiang et al 21, também
11
mostraram em seu estudo que 53% dos pacientes submetidos a um
treinamento físico de seis semanas recuperaram a deambulação. Também
analisaram que 87% dos pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC) após uma média de sete semanas de reabilitação recuperaram de um
episódio de insuficiência respiratória aguda.
Corroborando aos estudos sobre os benefícios do exercício para a
mecânica respiratória, Dantas et al 14 em sua pesquisa com 48 pacientes
internado em uma UTI e submetidos a VM, revelaram que após um protocolo
de mobilização precoce apresentaram ganho de força muscular inspiratória, de
força muscular periférica e ainda diminuiu o tempo de VM e de permanência na
UTI.
O uso do cicloergômetro também, como auxílio na mobilização
precoce em pacientes críticos, numa frequência de quatro sessões por semana
com 20 minutos e ajuste da intensidade conforme força muscular do paciente,
promoveu uma melhora na fraqueza muscular, na tolerância ao treinamento
físico, na dispneia e dessaturação; assim diminuindo o tempo de internação
destes pacientes na UTI 11. No estudo realizado por Neto et al 16, observaram
que o uso do cicloergômetro realizado uma vez durante a internação do doente
crítico por cinco minutos teve boa aceitação dos pacientes e poucas alterações
na hemodinâmica funcional, justificando que o uso do cicloergômetro pode
auxiliar na melhora da força muscular destes doentes.
Heidi et al 18 em seu estudo com pacientes que receberam um
programa de mobilização precoce nas primeiras 48 horas de internação na UTI,
observaram que com o mesmo obteve-se resultados e melhorias na clinica do
paciente, como por exemplo no tempo de internação. Nos estudos de
Murakami et al 20 tiveram como objetivo avaliar a evolução funcional dos 463
pacientes submetidos ao protocolo de reabilitação precoce desde a admissão
até a alta da UTI, no qual a manutenção e/ou melhora do status funcional
admissional esteve associada com menor tempo de internação na UTI. Por isso
a mobilização precoce iniciada imediatamente após a estabilização fisiológica
do paciente juntamente com uma equipe multidisciplinar é necessária como
parte das rotinas diárias na UTI 24 25.
Siqueira 26 mostrou em seu estudo que a prancha ortostática além
de ser pouco usada como um recurso fisioterapêutico em ambientes
12
hospitalares, ela tem atuação benéfica, sendo capaz de proporcionar e
contribuir para um bom trabalho de mobilização precoce, um aumento
proprioceptivo nas alterações hemodinâmicas e respiratórias além de aumentar
o nível de consciência significativamente, contribuindo assim para um bom
prognóstico de pacientes, consequência esta redução de complicações
secundárias e sequelas decorrentes ao imobilismo, auxiliando indiretamente e
minimizando o tempo de internação, resultando em melhora na qualidade de
vida destes pacientes vítimas da imobilização prolongada.
Estudos evidenciam a necessidade de se iniciar o mais
precocemente um programa de reabilitação no doente crítico, afim de evitar os
fatores de riscos para o desenvolvimento da imobilidade, que geram perda da
função muscular e aumentam as complicações respiratórias. Além disso,
ressalta-se ainda que a mobilização precoce diminui o tempo do paciente na
VM e melhora a qualidade das atividades diárias do paciente pós alta-
hospitalar.
Conclusão
Estudos evidenciam a necessidade de se iniciar o mais
precocemente um programa de reabilitação no doente crítico, afim de evitar os
fatores de riscos para o desenvolvimento da imobilidade, que geram perda da
função muscular e aumentam as complicações respiratórias. Além disso,
ressalta-se ainda que a mobilização precoce diminui o tempo do paciente na
VM e melhora a qualidade das atividades diárias do paciente pós alta-
hospitalar.
Conclui-se que o uso da mobilização precoce em pacientes críticos
na UTI foi associada a melhora na capacidade funcional respiratória, ao
aumento de força muscular e periférica, diminuição no tempo de VM e do
tempo de internação hospitalar e evolução na realização das atividades de vida
diária, apesar de que não haja uniformidade quanto à maneira de aplicação das
técnicas, nos estudos aqui apresentados.
Referências
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