comportamento antipredatório

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Comportamento anti-predatório entre espécies, ecologia

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  • Captulo 13

    Comportamento antipredatrio

  • Captulo 13: Comportamento antipredatrio

    I. Ocultao.......................................................................................3 A. EVITANDO A DETECO PELAS CORES E MARCAS ...................................... 3

    1. Quebrando os contornos........................................................................................... 3 2. Contra-sombreamento .............................................................................................. 3 3. Transparncia ........................................................................................................... 4 4. Mudanas de cor ...................................................................................................... 5 5. Polimorfismo de cores.............................................................................................. 6

    B. EVITANDO A DETECO PELO COMPORTAMENTO....................................... 8 1. A mariposa pintada: um caso exemplar ................................................................... 8 2. Seleo do fundo apropriado.................................................................................. 10 3. Movimento e a ausncia de movimento................................................................. 12 4. Modificao do ambiente....................................................................................... 13

    C. OUTRAS FUNES DA COR................................................................................. 14 II. Polimorfismo como defesa ........................................................15 III. Colorao de alerta ................................................................18 IV. Mimetismo Batesiano................................................................20 V. Colorao, estruturas e comportamento despistadores ..........24

    A. OLHOS ...................................................................................................................... 24 B. CABEAS FALSAS.................................................................................................. 24 C. AUTOTOMIA............................................................................................................ 25 D. FINGINDO FERIMENTO OU MORTE................................................................... 28

    VI. Anncio da vigilncia.............................................................30 VII. Mecanismos de susto................................................................32 VIII. A intimidao e o revide .....................................................34

    A. A ACENTUAO DO TAMANHO CORPORAL E A EXIBIO DE ARMAS. 34 B. REPELENTES QUMICOS....................................................................................... 35

    IX. Defesa grupal.............................................................................36 A. SINAIS DE ALARME............................................................................................... 37 B. DETECO APRIMORADA................................................................................... 38 C. EFEITO DILUIO .................................................................................................. 40 D. BANDO EGOSTA ................................................................................................... 42 E. EFEITO CONFUSO................................................................................................ 43 F. ATAQUE GRUPAL (MOBBING) ......................................................................... 44

    X. Sumrio .......................................................................................45

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 1

    Os animais nunca esto a salvo dos predadores e as borboletas monarca (Danaus

    plexippus) no so nenhuma exceo disso, pois so vtimas de aves e pequenos

    mamferos. Frente constante ameaa de predao essas borboletas desenvolveram uma

    variedade impressionante de dispositivos para superarem a astcia de seus inimigos, e sua

    estratgia protetora parece funcionar pelo menos parte do tempo.

    Assim como muitos animais as borboletas monarca podem usar uma combinao

    de padres de cores e comportamentos para evitar serem comidos. Seu padro laranja,

    preto e branco das asas avisa os potenciais predadores que elas tem gosto ruim. Sua

    impalatabilidade devida assimilao de substncias nocivas das plantas que comem. Em

    especfico as larvas das monarca se alimentam de um capim leitoso (Asclepiadaceas) e

    incorporam as toxinas denominadas glicosdeos cardacos nos seus prprios tecidos

    (Brower e col. 1968). Aves predatrias que comem um desses insetos, mesmo quando

    adultos, tem vmitos severos e tendem a evitar borboletas semelhantes no futuro. No

    entanto, pode-se pensar, qual a vantagem de estar cheio de toxinas nocivas se o indivduo

    tem que ser comido antes do veneno funcionar. A vantagem que os predadores libertam

    ilesas as presas muito coloridas e com gosto ruim. Venenos, roubados das plantas, podem

    ento deter alguns predadores. No entanto, nem todas as plantas leitosas possuem os

    glicosdeos cardacos. Borboletas criadas em plantas que no contm essa substncia so

    bastante palatveis, mesmo assim so evitadas por alguns predadores que experimentaram

    os membros nocivos da espcie. At mesmo as borboletas de outras espcies tentam se

    aproveitar do sistema de defesa das D. plexyppus. Por se parecerem com a freqentemente

    impalatvel monarca, membros de outras espcies enganam os predadores que as evitam.

    Tais enganos so componentes comuns das estratgias antipredador.

    Nenhum sistema de defesa funciona o tempo todo. Mesmo com a borboleta

    monarca a efetividade de estratgias reprodutivas freqentemente varia com a espcie de

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 2

    predador, estao do ano e contexto do encontro presa-predador. A cada outono as

    borboletas monarca migram para as montanhas do centro do Mxico onde passam os

    invernos nas aglomeraes densamente compactadas de dezenas de milhes de indivduos.

    Os meses passados no Mxico no entanto, esto longe de serem frias de vero (figura

    13.1). Duas espcies de aves, os orioles da costa preta (Icterus galbula abeillei) e o bicudo

    da cabea preta (Pheuctitus melanocephalus) penetraram na defesa qumica da borboleta

    monarca. Essas duas espcies comem cerca de 4550 a 34300 borboletas por dia em

    algumas colnias de inverno (Brower e Calvert 1985). O orieole seletivamente retira as

    pores palatveis do corpo da borboleta (por exemplo, seus msculos torcicos e

    contedo abdominal) e o bicudo parece ser insensvel aos glicosdeos cardacos (Fink e

    Brower 1981). No entanto, nem tudo est perdido para a monarca. A cada inverno, com a

    perspectiva de uma festa alimentar, as borboletas reforam seu sistema antipredatrio

    surgindo em grandes nmeros (Calvert, Hedrick e Brower 1979), Formando agregaes

    densas o risco de predao de um nico indivduo dramaticamente diludo.

    Adicionalmente, como a predao mais intensa nas bordas da colnia as posies centrais

    so muito procuradas e rapidamente assumidas pelos primeiros indivduos que surgem. Na

    vida da borboleta monarca no vantajoso chegar tarde aos locais de inverno.

    Como a predao um tema predominante no concurso da vida, podemos perguntar

    como outros animais lidam com sua ameaa constante. Que dispositivos auxiliam na

    deteco de um predador (mecanismo primrio de defesa) e quais funcionam uma vez que

    o animal foi detectado e a captura se torna iminente (mecanismo secundrio de defesa)? A

    participao num grupo sempre traz privilgios antipredatrios?

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 3

    I. Ocultao

    Animais camuflados para se confundirem com o ambiente so chamados crpticos;

    a mensagem da espcie crptica no estou aqui. A ocultao pode variar desde uma

    simples marca que quebra o contorno do corpo, at dispositivos que tornam o animal

    invisvel. Existem muitos exemplos bastante conhecidos de ocultao, que incluem

    pssaros que se aninham no capim de mangues, que permanecem imveis com os bicos

    para cima, mariposas que parecem desaparecer na casca das rvores e rs quase invisveis

    contra as folhas do cho da floresta (figura 13.2). Combinando com o fundo esses animais

    podem escapar do olho do predador em caa.

    A. EVITANDO A DETECO PELAS CORES E MARCAS

    1. Quebrando os contornos

    Muitos animais evitam ser vistos simplesmente se igualando cor do fundo, mas s

    vezes tal colorao no o suficiente porque predadores que caam visualmente podem

    reconhecer a presa pelos seus contornos. Alguns animais quebram esse contorno

    desenvolvendo projees bizarras que ocultam esses contornos. Outras espcies possuem

    marcas distintas que quebram o delineamento do corpo. Chamadas descoloraes

    disjuntivas, esse dispositivo antipredatrio talvez seja melhor ilustrado nas listras verticais

    da zebra (figura 13.3).

    2. Contra-sombreamento

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 4

    O contra-sombreamento outra opo para evitar a ateno indesejvel por parte

    dos predadores. Como a luz normalmente vem de cima, a superfcie ventral do corpo

    tipicamente est na sombra e os predadores podem se orientar pelos ventres escurecidos.

    Muitos animais parecem obscurecer a sombra ventral sendo mais plidos no ventre e mais

    escuros no dorso (figura 13.4). Esperaramos o padro contrrio de cores nos animais que

    descansam de costas. Isso , a superfcie dorsal seria mais plida e a superfcie ventral mais

    escura.

    As evidencias diretas do contra-sombreamento como uma adaptao crptica so

    vergonhosamente poucas. At que tais evidencias sejam obtidas, no podemos descontar a

    possibilidade de que a combinao de costas escuras e ventres mais claros seja totalmente

    desvinculada da ocultao, e que outras funes biolgicas como a regulao trmica ou a

    proteo contra a radiao ultravioleta (Kiltie 1988).

    3. Transparncia

    Alguns animais so crpticos simplesmente por serem transparentes. Mesmo que

    nenhum animal seja completamente transparente, organismos como os cnidarianos (por

    exemplo, hidras e guas vivas), ctenforos e vrios peixes ocenicos na sua fase larval,

    conseguem a quase-transparncia por meio do contedo de gua nos seus tecidos, seu

    pequeno tamanho e nmero reduzido de molculas que absorvem luz ou pigmentos

    (McFall-Ngai 1990).

    Freqentemente negligenciados nas discusses sobre ocultao a transparncia

    provavelmente a forma dominante de ocultao nos ambientes aquticos. mais comum

    nos ambientes aquticos do que nos terrestres por duas razes. A primeira baseada nos

    ndices de refrao (o ngulo pelo qual a luz se dobra quando passa de um meio para outro)

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 5

    da gua e do ar. Como os corpos animais so em grande parte compostos de gua, quando a

    luz passa da gua que os cerca para os tecidos o ngulo da luz praticamente no muda; e na

    ausncia de elementos que absorvem a luz, o animal parece transparente (a gua

    basicamente passa de gua para gua). Em contraste, num ambiente terrestre, a luz deve

    passar do ar para os tecidos cheios de gua dos animais. A diferena nos ndices refratrios

    do ar e dos tecidos dos animais terrestres criam um claro delineamento do corpo que

    diminui a transparncia. A segunda razo pela qual a transparncia raramente usada como

    mecanismo de camuflagem pelos animais terrestres tem a haver com os efeitos deletrios

    da radiao ultravioleta na terra. Nos ambientes aquticos muita da radiao ultravioleta

    filtrada a poucos metros da superfcie da gua. Assim, os animais os animais que vivem

    abaixo disso no esto sujeitos aos mesmos danos de radiao que os animais terrestres.

    4. Mudanas de cor

    Normalmente os animais crpticos so camuflados em alguns ambientes mas no

    em outros, assim sua ocorrncia freqentemente restrita quelas reas particulares onde

    esto mais ocultas. Uma forma pela qual algumas espcies contornam essas restries

    pela mudana de cor medida que o fundo muda. Mesmo que o camaleo talvez seja o

    exemplo mais familiar disso, a siba (Sepia officinalis) o verdadeiro mestre da mudana de

    cor. (a lula um molusco cefalpode aparentado a criaturas como o polvo, a lula e o

    nutilo. Talvez voc j tenha visto parte do suporte esqueltico branco desse animal

    pendurado dentro de uma gaiola de passarinho. Tambm chamados de sibas, esse material

    no um verdadeiro osso mas ajuda os periquitos e outras aves a manter seus bicos

    afiados). Entre os naturalistas a siba melhor conhecida pela velocidade com que muda de

    cor para combinar com o fundo, cada padro o tornando virtualmente invisvel, tanto para o

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 6

    predador quanto para a presa. William Holmes (1940) trabalhando no laboratrio na

    Inglaterra, documentou as mudanas magnficas de cor e padro (figura 13.5). De acordo

    com Holmes, a siba em nado adota uma colorao marrom e branca semelhante da zebra

    em forma. No entanto, quando est descansando no fundo, os sibas ajustam sua cor do

    substrato. Numa questo de segundos a cor dorsal pode mudar de marrom escuro para

    quase branco, quando a siba se acomoda em um ou outro fundo. Sem surpresa, a siba

    tambm exibe o contra-sombreamento. Tipicamente mais escura no dorso do que no ventre

    a siba obscurece a sombra ventral criada pela luz que vem de cima. Quando virado de

    costas na gua sua superfcie ventral escurece e a dorsal clareia.

    5. Polimorfismo de cores

    Muitos insetos possuem a habilidade de mudar de cor. Tipicamente, a transio de

    uma cor para outra no ocorre instantaneamente enquanto o indivduo se move de um

    fundo para o outro (como a siba), mas em momentos especficos de sua histria natural,

    com na troca de pelo. Joy Grayson e Malcolm Edmunds (1989) examinaram as causas das

    cores e das mudanas de cores em lagartas da mariposa (Laothoe populi), uma espcie que

    normalmente passa por quatro estgios larvais. Lagartas dessa espcie no estgio final

    podem sem amarelo esverdeado, verde fosco ou branco. A cor verde fosco determinada

    geneticamente enquanto o amarelo esverdeado e o branco so polimorfismos determinados

    pelo ambiente (i.e, diferentes formas ou morfos cujas cores dependem do ambiente

    imediato). Aparentemente, o principal fator que determina se a lagarta fica branca ou

    amarela esverdeada a superfcie sobre a qual ela descansa e se alimenta durante os dois

    ou trs primeiros estgios. Nem a cor (comprimento de onda de luz) nem as qualidades

    nutritivas da folha so crticas. Ao invs disso, a intensidade da luz refletida da folha e

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    percebida pela jovem lagarta: se a larva v branco, se torna branca; mas se vir verde, cinza

    ou preto, se torna amarelo-esverdeado.

    Polimorfismos na colorao corporal induzidos pelo ambiente tambm ocorrem em

    grilos que habitam as savanas da frica (Hocking 1964). Incndios, quer naturais ou postos

    pelos humanos, varrem essas reas anualmente e s vezes a cada dois ou trs anos. Depois

    de um incndio alguns grilos mudam de cor em uma questo de dias para se misturarem

    com o fundo enegrecido da vegetao. Outros grilos lidam com as queimas peridicas da

    vegetao usando duas formas de cores, uma verde e uma preta, cada uma das quais busca

    seu fundo queimado ou no.

    Uma situao semelhante tem sido relatada para os esquilos raposa (Sciurus niger)

    no leste dos Estados Unidos. Esquilos raposa tem sido descrito como os mamferos norte-

    americanos que mais variam de cor (e.g., Cahalane 1961). As cores variam tanto dentro

    quanto entre as populaes. A colorao dorsal pode variar de cinza ou bronze at preto, e

    a colorao da cabea e regio da orelha freqentemente distintas (figura 13.6). Mesmo

    dentro de uma mesma ninhada pode-se encontrar filhotes melansticos (pretos) e no

    melansticos. Intrigados pela variao na colorao da pelagem dos esquilos raposa,

    Richard Kiltie (1989) examinou cerca de 2000 espcimes de museus. Ele determinou o

    percentual de preto dorsal para cada pele e compilou informaes sobre a ocorrncia de

    incndios no leste dos Estados Unidos. Os dados de incndios e colorao de pelugem

    juntos mostram que a incidncia de indivduos melansticos se correlaciona com a

    freqncia de incndios ao longo da rea de ocorrncia total da espcie. Tanto os esquilos

    melansticos quanto os incndios so mais comuns no sudeste dos Estados Unidos (figura

    13.7).

    Nos esquilos raposa o polimorfismo melanstico na cor da pelagem deve ento ser

    mantido pelo escurecimento peridico do solo ou pores inferiores dos troncos inferiores

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 8

    pelos incndios. Devera-se imaginar que esquilos escuros so menos conspcuos para os

    gavies do que os indivduos claros ou com cores variadas contra o fundo escuro. A

    vantagem no entanto no permanece com os esquilos escuros por muito tempo. medida

    que as chuvas e o crescimento da vegetao transformam uma rea enegrecida num

    substrato menos uniformemente negro, os esquilos com variaes e padres de colorao

    dorsal estariam mais crpticos do que indivduos uniformemente negros contra os pontos de

    fundo claro e escuro. Finalmente, quando o perodo de crescimento dos pinheiros e

    carvalhos est quase completo a vantagem pode virar a favor dos esquilos com colorao

    mais uniformemente clara. Assim, a pelagem de colorao mais variada poderia resultar da

    superioridade crptica alternante entre indivduos claros e escuros num ambiente que

    periodicamente se queima e se regenera. O desenvolvimento de uma colorao negra em

    resposta ao fogo chamada de malanismo.

    B. EVITANDO A DETECO PELO COMPORTAMENTO

    A grande maioria dos animais no possui a habilidade de ajustarem as cores e os

    padres rapidamente ao ambiente. Como os indivduos que no podem mudar de cor sero

    mais conspcuos se descansarem no local errado, a seleo do fundo apropriado e a

    orientao correta naquele fundo so crticas.

    1. A mariposa pintada: um caso exemplar

    Na Europa a mariposa pintada (Biston betularia) surge nas formas tpica e

    melnicas (figura 13.8). A forma tpica (conhecida como typica) cinza clara salpicada de

    manchas pretas e se torna crptica quando est descansando em rvores cobertas de liquens.

    A forma melnica mais extrema, conhecida como carbonaria, quase completamente

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 9

    negra quando se oculta na casca de rvores escuras. Antes de 1850 menos de um porcento

    das mariposas apimentadas ao redor de Manchester, Inglaterra, eram melnicas, mas em

    1895 as mariposas melnicas formavam 98 porcento da populao de Manchester

    (Howlett e Majerus 1987).

    O incrvel sucesso da forma preta e a relativamente fraca apario da forma branca

    tem sido correlacionadas com a extrema industrializao da Inglaterra. Em meados da

    dcada de 1880 na Inglaterra, que se convertia numa economia industrial, comeava-se a

    queimar carvo nas indstrias. Os liquens que cobriam os troncos das rvores foram

    destrudos e o verde da zona rural inglesa silenciosamente submetido a uma camada de

    fuligem. A mesa virou, agora as mariposas melnicas se escondiam na vegetao coberta

    de fuligem e a forma tpica se tornou conspcua aos predadores.

    A predao pelas aves foi a fora seletiva mais forte na mudana da populao da

    forma clara para a forma escura. Isso foi demonstrado por uma srie de experimentos

    conduzidos por H.B.D. Kettlewell (1955, 1956). Num local muito poludo e num local

    menos poludo ele marcou indivduos escuros e claros, soltou-os e depois recapturou os

    sobreviventes, registrando o nmero de sobreviventes de cada tipo. Kettlewell tambm

    observou o comportamento de aves insetvoras que se alimentavam nas rvores onde as

    mariposas haviam sido libertadas. Os resultados, resumidos na tabela 13.1, demonstram

    que as formas pretas sobreviveram melhor no local muito poludo enquanto a forma clara

    se deu melhor no local menos poludo. Aparentemente, quando colocados no tronco das

    rvores cobertas de fuligem as formas escuras so menos conspcuas s aves do que as

    formas claras e sofrem menos predao. O inverso verdadeiro nas reas livres de

    poluio, onde as formas claras so quase invisveis contra a casca das rvores cobertas de

    lquen.

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 10

    Ao longo dos anos, medida que a zona rural Inglesa voltou a uma condio menos

    poluda, muitos pesquisadores tem tentado prever mudanas na freqncia dos tipos escuro

    e claro utilizando modelos de computador. Na maioria das vezes a freqncia de mariposas

    observada no estava de acordo com as previses; o tipo escuro era mais comum nas reas

    pouco poludas do que o modelo previa. Acontece que Biston betularia normalmente no

    descansa em locais expostos do tronco das rvores, mas em locais mais ocultos na parte

    posterior dos galhos (Howlett e Majerus 1987). Dada a sua aparncia escura, a forma

    melnica aparentemente tem uma vantagem ao descansar nas sombras das juntas dos

    galhos do que a forma tpica com aparncia salpicada. Assim, a sobrevivncia da B.

    betularia depende no s da cor mas tambm do comportamento, a escolha do lugar na

    rvore.

    2. Seleo do fundo apropriado

    Muitos animais parecem selecionar o fundo correto e, uma vez no local, exibem o

    comportamento que maximiza sua ocultao. A r da perna amarela (Rana muscosa) habita

    cursos rpidos de gua nas florestas do sul da Califrnia. As pedras de granito cinza claro

    que forram os crregos parece um lugar conspcuo para a r de perna amarela. No entanto,

    sob a gua as mesmas rochas so cobertas por uma alga marrom amarelada. Num instante a

    r salta para dentro da gua e permanece imvel no fundo com o qual se confunde

    perfeitamente (Norris e Lowe 1964).

    Mesmo que o mecanismo de equiparao de cor entre os animais mais crpticos

    tenha sido amplamente inexplorado. Atravs de experimentos com insetos parece que para

    algumas espcies a escolha do fundo resulta de uma resposta comportamental de

    comparao (i.., os animais comparam certas partes do corpo com o fundo; Sargent 1968).

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 11

    Lembre-se que os animais crpticos no s selecionam fundos de cor apropriada, mas

    tambm assumem posies que maximizam a efetividade da sua ocultao. Por exemplo,

    as mariposas que exibem uma imitao de casca se orientam nos troncos das rvores de

    forma que suas marcas se alinham com a direo das linhas e ranhuras da casca (figura

    13.9). Embora algumas espcies de mariposas paream usar indicadores tteis associados

    com o substrato imediato para determinar a posio adequada de descanso, outras espcies

    adotam atitudes de descanso com base em indicadores, como a gravidade, que so

    independentes da casca (Sargent 1969). Agora que temos alguma idia sobre como a

    seleo de fundo ocorre em pelo menos duas espcies, nos concentramos em testar o

    porque isso ocorre.

    A combinao de colorao crptica e seleo de fundo adaptativa? Se for as

    presas deveriam experienciar menos predao quando estiverem sobre os substratos que

    tendem a escolher para descanso do que quando estiverem sobre outras superfcies. Blair

    Feltmate e D. Dudley Williams (1989) testaram essa idia usando trutas arco-ris (Salmo

    gairdneri) como predadores e ninfas de moscas (Paragnetina media) como presa. A

    preferencia de fundo das moscas, insetos de guas correntes, de colorao marrom escura

    ou preto, foi primeiro testada colocando cada uma das 24 ninfas no aqurio junto com uma

    cermica marrom clara e uma cinza clara no fundo. As ninfas foram permitidas 24 horas

    para se assentarem, a ento s 14:00 horas os pesquisadores registravam se a ninfa estava

    no substrato marrom escuro ou no cinza claro. O experimento era ento repetido

    registrando-se a posio da ninfa s 02:00, 06:00, 08:00 e 21:00 horas, para testar se a

    seleo do substrato variou em funo do tamanho do dia (as luzes do laboratrio estavam

    temporizados e as luzes se desligavam das 19:00 s 07:00 horas). Assim, replicaes

    independentes do experimento foram realizadas em cinco horrios diferentes do dia, trs no

    escuro (21:00, 02:00 e 06:00) e dois de dia (08:00 e 14:00). Os resultados na figura 13.10

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 12

    demonstram que essas moscas selecionavam o substrato marrom escuro ao invs do cinza

    claro s 08:00, 14:00 e 21:00. Nenhuma seleo foi feita s 02:00 ou 06:00 horas. Mesmo

    que as ninfas das moscas selecionaram a superfcie escura ao invs da clara, essa seleo

    cessou aproximadamente 2 horas depois que as luzes do laboratrio se apagaram e

    retornaram uma hora depois que as luzes foram desligadas.

    No prximo experimento Feltman e Williams examinaram se as moscas que

    descansavam no substrato mais claro era mais vulnerveis a predao pela truta. Da mesma

    forma que antes, cada mosca foi introduzida no aqurio. Dessa vez, no entanto, continha

    apenas ladrilhos claros ou escuros. Uma truta foi libertada em cada tanque depois que as

    ninfas tiveram duas horas para se ajustarem ao seu novo ambiente. Vinte e quatro horas

    depois de haverem solto as ninfas os autores registraram o nmero de moscas consumidas

    nos tanques com fundo claro e escuro. O consumo das ninfas pelas trutas foi menor nos

    tanques que continham o substrato mais escuro (comeram 3 de 24 ninfas) do que nos que

    continham o substrato mais claro (19 de 24). Esses dados sugerem que a seleo de locais

    escuros para descanso evoluiu , pelo menos em parte, como meio de reduzir o risco de ser

    encontrado e comido por peixes que caam visualmente. A quebra da seleo de fundo

    durante as horas de escurido tambm liga a predao visual distribuio de ninfas.

    Afinal, os animais s precisam ser crpticos durante o tempo em que esto mais vulnerveis

    predao por caadores visuais (Endler 1978), A escolha do substrato pelas moscas

    tambm funciona para ocult-las de suas prprias presas, como mostrado para outro inseto

    aqutico (Moum e Baker 1990).

    3. Movimento e a ausncia de movimento

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 13

    O movimento, e em alguns casos a falta de movimento, um componente

    importante da ocultao. Uma vez corretamente orientados no fundo apropriado, muitos

    animais crpticos permanecem imveis a maior parte do tempo e, quando se movem o

    fazem to lentamente para atrair o mnimo possvel de ateno. Em outros casos,

    movimentos rpidos seguidos de uma parada sbita contribuem para a ocultao. O

    comportamento de fuga das cobras do norte recm-nascidas (Natrix sipedon) ilustra esse

    ponto. Mesmo que adultos dessa espcie sejam uniformemente coloridos os jovens

    possuem um padro listrado e parecem crpticos quando permanecem imveis na

    vegetao. No entanto, quando perturbados, os recm-nascidos deslizam pelo cho e param

    completamente. O movimento rpido ofusca as listras fazendo a cobra parecer possuir uma

    nica cor (figura 13.11). Essa iluso e a transio abrupta entre movimento e permanecer

    parado combinam, levando o observador (e presumivelmente o predador) a procurar a

    cobra mais frente do que sua posio verdadeira pois os olhos do observador tendem a

    seguir a trajetria do objeto mesmo que este tenha parado (Fough 1976). Nesse caso a

    resposta comportamental combinada com a colorao crptica maximiza a camuflagem.

    4. Modificao do ambiente

    Alguns animais melhoram suas chances de sobrevivncia modificando o fundo no

    qual normalmente descansam. A aranha (Tetragnatha foliferens) se esconde sob as folhas

    que dobra em forma de um tubo e prende o meio sua teia (Hingston, 1927a). Desse ponto

    estratgico a aranha no s inconspcua para os predadores mas est na melhor posio

    para ganhar acesso rpido s presas enroscadas na sua teia.

    Pssaros insetvoros parecem utilizar os danos s folhas como indicadores da

    localizao da lagarta crptica (Heinrich e Collins 1983). Assim, no deveria ser nenhuma

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 14

    surpresa que algumas espcies de lagartas palatveis evitam atrair pssaros derrubando as

    folhas parcialmente comidas quando terminam de comer (Heinrich 1979). As lagartas da

    mariposa Catocala cerogama comem as folhas da tlia americana e sua colorao dorsal se

    assemelha cor dos gravetos da tilia. No final da alimentao noturna um indivduo desta

    espcie sai da folha onde esteve comendo come o talo da folha, se vira, e enquanto a folha

    comida cai ao solo se coloca sobre um graveto, onde permanecer durante os perodo de

    claridade. O galho onde a lagarta se alimentava parece intocado. Mesmo que as lagartas

    Catocala cerogama sejam cripticamente coloridas elas acentuam suas chances de

    sobrevivncia pela remoo das evidencias de sua presena (em contraste as lagartas no

    palatveis - aquelas que queimam ou com glicosdeos txicos - exibem um comportamento

    alimentar bastante bvio, se alimentando tanto de dia quanto de noite e sem demonstrar

    nenhum padro de comportamento de ocultao das folhas utilizadas). Finalmente, alguns

    animais se tornam crpticos carregando partes do ambiente consigo. Muitas espcies de

    caranguejos aranha (famlia da Majidae) se decoram com algas, bzios, esponjas e outros

    objetos se tornando virtualmente indistintos do solo do oceano (figura 13.12). De acordo

    com Mary Wicksten (1980),que estudou a camuflagem nesses caranguejos, mesmo um

    naturalista marinho experimentado pode ficar horas por cima de um caranguejo decorado

    antes de perceber que ele est l.

    C. OUTRAS FUNES DA COR

    A evaso se predadores no a nica funo do padro de cores dos animais. A cor

    afeta o equilbrio trmico, exercendo um papel na termorregulao. A cor e o padro

    tambm so importantes em muitos aspectos da comunicao, incluindo o reconhecimento

    de parceiros, cortejo, competio entre machos e defesa territorial.

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 15

    As vrias funes das cores e dos padres dos animais podem agir juntos ou em

    oposio. Consideremos o caso de agirem em oposio. Assumindo que a cor e o padro

    so ajustados para a termorregulao, como podem os animais se comunicar efetivamente

    com seus parceiros e competidores e ao mesmo tempo ser inconspcuo para os predadores?

    Mesmo que alguns animais cripticamente coloridos tenham evoludo meios de troca de

    informao (por exemplo, sinais olfativos e auditivos para se comunicar com

    coespecficos) muitos ainda se baseiam em indicadores visuais. Como veremos, o padro

    de cores exibido por um animal em particular pode ser uma troca entre fatores que

    favorecem a ocultao e fatores que favorecem a conspicuidade.

    O trabalho de John Endler (1978) com guppies (Poecilia reticulata) selvagens no

    norte da Venezuela e Trinidad nos fornece um excelente exemplo de como os padres de

    cor podem representar um equilbrio entre a aquisio de parceiros e a ocultao. Enquanto

    a escolha feminina de parceiros e a competio entre os machos favorecer as cores mais

    brilhantes e os padres mais visveis nos guppies, a seleo pelos predadores visuais

    diurnos (pelo menos seis espcies de peixes e uma pitu) favorecem padres menos

    conspcuos e menos colorido. interessante que o risco de predao aumenta em diferentes

    comunidades, as cores dos guppies e seu padro se tornam menos bvios por (1) mudanas

    para cores menos conspcuas, (2) reduo do nmero de manchas, (3) reduo do tamanho

    das manchas e (4) ligeira reduo na diversidade de cores e padres (figura 13.13). Em

    reas onde os guppies encontram baixa presso de predao, no entanto, as cores e os

    padres se tornam mais conspcuos.

    II. Polimorfismo como defesa

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 16

    Como a maioria das coisas, a colorao crptica no infalvel. Mesmo que os

    indivduos de espcies cripticamente coloridas se confundam bem com o ambiente, os

    predadores numa determinada rea podem desenvolver uma imagem de busca para aquela

    espcie em particular (captulo 12) e sistematicamente buscar e consumir os indivduos

    remanescentes. Se os indivduos da espcie presa so largamente espaados, no entanto, os

    predadores raramente os encontraro e logo esquecero a imagem de busca. De fato,

    indivduos de muitas espcies crpticas ocorrem em locais amplamente espalhados pelo

    ambiente.

    Outras espcies crpticas contornam o problema da formao de imagens de busca

    por parte dos predadores por ocorrerem em vrias formas e/ou cores diferentes, isto ,

    sendo polimrficos (poli significa muitos e morfos significa forma). J discutimos alguns

    exemplos de polimorfismo com respeito ao melanismo industrial da mariposa e o

    melanismo de fogo dos esquilos raposa e dos grilos. Em alguns casos, no entanto, as

    espcies polimrficas no so cripticamente coloridas e dependem somente da diversidade

    de sua aparncia para evitarem a deteco por parte dos predadores. Crpticos ou no,

    sendo diferentes os indivduos de espcies presas podem ocorrer em densidades mais altas

    sem sofrer um aumento de mortalidade por parte dos predadores que buscam indivduos

    com um aparncia especfica. Algumas espcies que ocorrem em altas densidades exibem

    um polimorfismo extremo, tornando quase impossvel encontrar dois indivduos parecidos

    (figura 13.14).

    Gairdner Moment (1962) descreveu o fenmeno onde membros de uma populao

    parecem to pouco uns com os outros que quanto possvel. Nessas populaes a

    probabilidade de um indivduo ter uma determinada aparncia inversamente relacionada

    ao nmero de outros indivduos na populao que tem aquela aparncia. Se uma forma

    mais comum do que outra numa populao polimrfica os predadores so capazes de

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 17

    desenvolver uma imagem de busca para a forma mais comum, ao invs da mais rara. O

    resultado final que os predadores pegam mais da forma comum em relao sua

    freqncia na populao. Assim, quando duas formas so igualmente crpticas e expostas

    aos predadores que usam a imagem de busca quando caam, a forma rara ter uma

    vantagem seletiva sobre a forma mais comum. Esse tipo de seleo dependente da

    freqncia tem sido chamado de seleo aposttica (Clarke 1969) ou seleo reflexiva

    (Moment 1962). A fora da seleo aposttica varia em funo de fatores como densidade,

    palatabilidade e conspicuidade da presa (Allen 1988). Mais ainda, Greenwood (1984)

    indica que os predadores no precisam caar usando as imagens de caa para produzirem

    seleo aposttica. Alguns predadores por exemplo, podem simplesmente ter uma averso

    a presas raras ou no familiares.

    Que evidncias experimentais temos de que ser diferente vale a pena? Croze

    (1970), trabalhando numa pennsula arenosa da Inglaterra, colocou 27 bzios coloridos no

    cho com um pedao de carne debaixo e os exps predao por um corvo (Corvus

    corone). Em algumas das 14 tentativas os bzios eram monomrficos enquanto em outras

    eram trimrficos (9 vermelhos, 9 amarelos e 9 pretos). Os resultados resumidos na tabela

    13.2 mostram que os corvos pegavam menos presas trimrficas do que monomrficas. O

    percentual de sobrevivncia de cada um dos trs tipos na populao trimrfica era entre

    duas e trs vezes maior do que na populao monomrfica. Assim as formas tiveram uma

    vantagem seletiva duas ou trs vezes maior quando partes de uma populao polimrfica.

    Os resultados de Croze demonstram que quando as populaes de presas ocorrem na

    mesma densidade, os indivduos nas populaes polimrficas experienciam menos

    predao do que nas populaes monomrficas.

    Antes de deixarmos o assunto polimorfismo devemos abordar dois assuntos.

    Primeiro, ao longo da nossa discusso de colorao crptica e divergente temos enfocado os

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 18

    predadores que caam visualmente e ignorado os predadores que detectam as presas pelo

    cheiro; a formao de imagens olfativas de busca parece bastante razovel. No caso de

    presas caadas com base nos indicadores olfativos poderamos imaginar animais que so

    crpticos por serem inodoros ou com odores semelhantes aos do fundo, ou at populaes

    onde existe o polimorfismo odorfero (Edmunds 1974).

    Segundo, mesmo que o fato de ser diferente para evitar ser comido seja a

    explicao primria para o polimorfismo numa populao, talvez seja menos importante ou

    totalmente sem importncia em outra. Populaes do caramujo listrado (Cepaea nemoralis)

    so notoriamente polimrficas na cor e no padro e explicaes para seu polimorfismo

    freqentemente tem focalizado a proteo contra aves predadoras atravs de sua colorao

    crptica e diversa. No entanto, em algumas localidades existem diferenas fisiolgicas entre

    as vrias formas relacionadas resistncia ao calor e tais diferenas parecem ser mais

    importantes do que a predao na determinao da freqncia de cada forma - apenas um

    lembrete de que pode haver mais para a cor e o padro do animal do que parece.

    III. Colorao de alerta

    Muitos animais que possuem atributos perigosos ou desagradveis anunciam isso

    com cores fortes e padres contrastantes. Marcas, tipicamente em branco, preto, vermelho e

    amarelo, avisam os predadores do mecanismo secundrio de defesa da presa e assim

    desencorajam o ataque. O fenmeno chamado aposematismo e existem muitos exemplos

    familiares disso. As marcas preto e branco das jaritatacas listradas e pintadas (Spilogale e

    Mephitis) so verdadeiramente excepcionais dentre os mamferos de colorao marrom. As

    marcas servem, em parte, para avisar o predador do repelente de cheiro horrvel que pode

    ser liberado das glndulas de cheiro da jaratataca se a provocao continuar. Muitos

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 19

    insetos, como as vespas sociais (Vespula) tem um padro corporal amarelo e preto para

    avisar da sua picada dolorosa. As cores fortes de vrias espcies de borboletas avisar sobre

    sua impalatabilidade. Rs do gnero Dendrobates e especialmente do gnero Phyllobates,

    produzem secrees txicas pela pele. Um nico indivduo da espcie Phyllobates

    terribilis possui toxina suficiente na pele para matar cerca de 20.000 camundongos

    domsticos ou vrios humanos adultos. Os ndios Choco do oeste da Colmbia, fazem

    armas mortais simplesmente passando os dardos de suas zarabatanas nas costas de uma

    dessas rs (Myers e Daly 1983). No de surpreender que as rs que possuem essas

    secrees sejam aposemticas para avisar os predadores de que melhor que as deixem em

    paz. Alm das cores conspcuas, rudos caractersticos (por exemplo, zumbidos) e odores

    fortes tambm podem alertar o predador. Sternotherus odoratus, indelicada mas

    precisamente chamado de pote fedorento, uma tartaruga almiscarada do leste dos

    Estados Unidos que ejeta uma secreo odorfera quando perturbada. Pensa-se que o fedor

    seja um sinal aposemtico que alerta os predadores sobre sua carne ruim, disposio

    pugnaz e mordida dolorosa (Eisner e col. 1977).

    Animais coloridos dessa forma freqentemente acentuam sua conspicuosidade com

    comportamentos. Muitos so ativos durante o dia e indivduos de algumas espcies formam

    agregaes densas e bvias. Mesmo que formas aposemticas raras de animais sejam

    tipicamente contra-selecionados (os predadores no estaro to familiarizados com as

    formas raras quanto esto com as formas comuns), elas esto numa desvantagem menor

    quando ocorrem em aglomerados (Greenwood, Cotton e Wilson 1989). Assim,

    aglomeraes densas de presas aposemticas no s enfatizam o aviso como tambm

    funcionam como reas onde as formas raras podem surgir e sobreviver.

    A resposta dos predadores colorao aposemtica pode ser aprendida ou inata. No

    primeiro caso os predadores amostram algumas das presas, descobrem sua impalatabilidade

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 20

    e aprendem a evitar animais de aparncia semelhante quando procuram refeies

    subsequentes. Os animais parecem aprender a evitar presas de cores conspcuas e gosto

    ruim mais rapidamente do que aprendem a evitar presas de cores crpticas e gosto ruim

    (Gittleman e Harvey 1980; figura 13.15).

    Algumas vezes duas espcies de cores alertadoras se parecem. Aparentemente, duas

    espcies nocivas podem beneficiar de um padro comum porque os predadores consomem

    menos de cada uma no processo de aprender a evitar todos os animais com aquela

    aparncia. Esse fenmeno chamado mimetismo Mulleriano. Mesmo que algumas

    espcies aprendam a evitar presas aposemticas por aprendizagem, outras exibem uma

    esquiva inata. Uma resposta inata a coloraes de alerta pode ser favorecida em relao a

    uma resposta aprendida quando a defesa secundria da presa possui o potencial de ser fatal

    para o predador. A aprendizagem no momento da morte no tem valor.

    Algumas vezes, como os conselhos, a colorao de aviso ignorada. Um predador

    faminto pode pegar uma presa nociva que normalmente no pegaria em tempos melhores.

    Os lobos atacaro tanto jaritatacas quanto porcos-espinhos quando outras presas esto

    escassas. Alm disso, alguns predadores so especialistas e capazes de comer certos

    animais aposemticos, ou pelo menos parte deles, como vimos com o bicudo de cabea

    preta e o oriole da costa preta, que predam as impalatveis borboletas monarca. Outros

    (como os artrpodes) so atrados pelos padres acentuados e os movimentos dos animais

    de cores fortes, mas so incapazes de fazer uma conexo entre cor e impalatabilidade,

    continuando a atacar. No entanto, enquanto o dispositivo antipredador trouxer uma

    vantagem lquida em termos de sobrevivncia e reproduo, continuar na populao.

    IV. Mimetismo Batesiano

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 21

    O mimetismo Batesiano foi nomeado em homenagem ao naturalista ingls do

    sculo dezenove, Henry Walters Bates, e se refere a uma espcie palatvel adotando as

    caractersticas de alerta de uma espcie nociva ou perigosa. A espcie inofensiva

    chamada a mmica e a nociva o modelo. Se parecendo com a espcie nociva a mmica

    ganha a proteo contra predadores. O grau preciso de proteo experienciado pela mmica

    varia em funo de vrios fatores, incluindo a proporo entre mmicos e modelos,

    nocividade do modelo, memria do predador, disponibilidade de presas alternativas e se os

    mmicos e os modelos so encontrados simultaneamente ou em separado. Mesmo que em

    algumas situaes a semelhana entre o modelo e o mmico parea exata, ela no precisa

    necessariamente ser perfeita porque os predadores parecem generalizar as caractersticas

    conspcuas das presas nocivas. Os exemplos mais conhecidos de mimetismo so visuais,

    provavelmente refletindo o fato de que ns humanos somos criaturas visualmente

    orientadas. Outros animais dependem do cheiro e da audio mais do que da viso e assim

    o mimetismo auditivo e olfativo pode ser bastante comum.

    Muitos exemplos fascinantes de mimetismo Batesiano podem ser encontrados entre

    os insetos e aranhas. Algumas moscas perfeitamente inofensivas imitam as bandas pretas e

    amarelas ou o zumbido caracterstico das abelhas ou vespas. Os predadores, familiarizados

    com a dolorosa picada das abelhas e vespas, podem deixar as moscas em paz. As formigas

    tipicamente so evitadas pelos predadores insetvoros por causa de sua ferroada e gosto

    ruim (o cido frmico lhes d o gosto ruim). No deve portanto ser nenhuma surpresa que

    as formigas possuem muitos mmicos e a semelhana pode ser em caractersticas como cor,

    morfologia e comportamento. O major R. W. G. Hingston (1927b) registrou vrias

    ocorrncias de aranhas imitando espcies de formigas na ndia. Uma espcie de aranha

    observada por Hingston se assemelhava muito grande formiga preta da ndia,

    Camponotus compressus. A aranha era do tamanho de uma operria Camponotus e possua

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 22

    a colorao preta uniforme, o formato alongado e as pernas finas da operria. Como as

    formigas possuem trs pares de pernas e a aranha quatro, a aranha usava as duas pernas

    dianteiras para simular as antenas da formiga. As pernas eram colocadas para frente e as

    pontas movimentadas continuamente imitando os movimentos metdicos caractersticos

    das antenas da formiga.

    Numa segunda espcie de formigas estudadas por Hingston os indivduos

    arrastavam as operrias de outras espcies para seu ninho, decapitavam suas vtimas e

    jogavam suas cabeas num depsito de lixo. Hingston (1927b) relatou que uma espcie de

    aranha se encolhia formando uma bola imvel, com sua cabea e pernas enfiadas sob seu

    abdmen em forma de pra (figura 13.16) e permanecia entre as cabeas descartadas.

    Imitando um fragmento da espcie nociva (e se associado a uma espcie ainda mais

    formidvel) essas aranhas pareciam obter a proteo contra predadores, sendo tambm

    crpticas para suas prprias presas. Assim, o mimetismo pode servir tanto funes

    defensivas quanto de forrageio.

    Numa variao do tema mimetismo, alguns indivduos perfeitamente palatveis no

    parecem comestveis por se parecerem com objetos inanimados. Uma lagarta pode parecer

    com um graveto quebrado num galho e assim parecer ser algo de pouco interesse para o

    predador. Certos pulges tropicais possuem asas parecidas com folhas, at com veias e

    pequenos buracos causados por ataques de insetos. Algumas rs e lagartas se agacham

    nas folhas imitando fezes de aves. Mesmo que alguma discusso do sistema de mimetismo

    inclua a semelhana com objetos inanimados como sendo parte do mimetismo Batesiano

    (por exemplo, Edmunds 1974), outros consideram tal semelhana um exemplo de

    ocultao (por exemplo, Pough 1988).

    Apesar da diversidade de semelhanas mimticas encontradas na literatura, apenas

    alguns estudos demonstram que os mmicos de fato obtm alguma proteo contra seus

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 23

    inimigos naturais. T. E. Reimchen (1989) primeiro descreveu um sistema de mimetismo

    Batesiano que envolvia o estgio juvenil de uma lesma (a mmica) e os tubos da minhoca

    polychaete (o modelo) e depois forneceu evidencias de que a semelhana de fato conferiu

    algum grau de proteo para as jovens lesmas. A lesma, Littorina mariae, vive nas zonas

    de entre mars do Atlntico norte. As cascas de alguns juvenis so de um espiral branco

    conspcuo enquanto as de outros possuem as cascas amarelas ou marrons. Quando adultas

    as lesmas so amarelas ou marrons e o espiral branco que algumas possuam visvel

    apenas como uma mancha branca no pice da casca. As massas de ovos dessas lesmas so

    depositadas diretamente em aglomeraes de algas e uma vez que os juvenis eclodem se

    dispersam nessas algas. Lesmas de colorao branca s foram encontradas em locais com

    as minhocas polychaetes (Spirolis). Nesses ambientes as lesmas brancas na fase juvenil

    eram virtualmente indistingiveis dos tubos das Spirolis grudadas s algas (figura 13.17).

    Reimchen coletou peixes Blennius pholis, um importante predador da lesma juvenil e

    conduziu experimentos sobre predao em aqurios no laboratrio. Mesmo que os tubos de

    polychaetes no sejam nocivos para os peixes, eles representam um investimento

    substancial de tempo e energia, por serem difceis de serem removidos do substrato e, uma

    vez removidos, podem estar vazios. Nos experimentos um peixes era alojado em cada

    aqurio e uma lesma juvenil lhe era apresentada, ou nas algas com tubos de polychaetes ou

    nas algas sem os tubos. A cada apresentao trs lesmas juvenis (uma com espiral, uma

    amarela e uma marrom) foram randomicamente posicionados nas algas e as algas foram

    baixadas at o fundo do tanque. Uma vez que os peixes detectavam as lesmas as

    arrancavam das algas e as engoliam inteiras. Reimchen registrou a primeira lesma retirada

    em cada teste. Em geral, as lesmas brancas espiraladas sofreram o menor nmero de

    ataques e a reduo de ataques era maior nas algas com tubos de polychaetes (9.4%) do que

    nas algas sem os tubos (22.9%). Assim, nesse sistema incomum de mimetismo entre as

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 24

    lesmas a as minhocas polychaetes, a semelhana com o modelo no parece trazer nenhuma

    vantagem para o mmico em termos de proteo.

    V. Colorao, estruturas e comportamento despistadores

    Um grande nmero de animais tem evoludo cores, estruturas e padres de

    comportamento que parecem servir para desviar a ateno do predador enquanto eles ou,

    em alguns casos, seus filhotes, escapam sem danos. Enquanto a ocultao, a colorao

    diversa, a colorao de alerta e o mimetismo Batesiano funcionam ajudando a presa a

    evitar um encontro com o predador, dispositivos de distrao podem atuar uma vez que a

    presa animal tenha sido descoberta, ou quando a descoberta parece iminente. Assim, agora

    comeamos nossa discusso dos mecanismo secundrios de defesa, isto , aqueles

    mecanismos que operam durante um encontro com o predador.

    A. OLHOS

    Os olhos (na verdade, manchas que se assemelham a olhos) podem servir duas

    funes defensivas (Owen 1980). Primeiro, se os olhos forem grandes, pouco numerosos,

    de colorao forte e exibidos repentinamente, podem assustar o predador. Segundo,

    manchas pequenas e menos conspcuas podem, ao contrrio, servirem de alvo para desviar

    o ataque do predador. Tais olhos so tipicamente localizados em pores no vitais do

    corpo e assim as presas podem escapar com poucos danos.

    B. CABEAS FALSAS

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 25

    Muitos predadores direcionam seus ataques iniciais para a cabea da presa.

    Algumas espcies de presas tem tirado vantagem desse tendncia evoluindo falsas cabeas,

    localizadas na regio posterior, a uma distncia segura das cabeas verdadeiras. Borboletas

    Licandeas (Lepidoptera: Lycaenidae) exibem padres de cor, estrutura e comportamento

    consistentes com a atrao do ataque do predador para a cabea falsa (por exemplo,

    Robbins 1981). Indivduos da espcie Thecla togarna, por exemplo, possuem uma falsa

    cabea, completa com antenas falsas, nas pontas de suas asas (figura 13.18). Essas

    borboletas acentuam a iluso estrutural da cabea na sua poro posterior executando duas

    exibies comportamentais bastante convincentes . Primeiro, quando pousam as borboletas

    puxa rapidamente suas asas, movimentando as antenas para cima e para baixo, enquanto

    mantm as antenas verdadeiras paradas. O segundo comportamento da Thecla togarna

    ocorre no instante do pouso, quando a borboleta se vira rapidamente de forma que sua

    cabea falsa aponte na direo do vo prvio. Um predador que se aproxima ento se

    depara com uma presa que sai voando na direo oposta ao esperado. Testes experimentais

    tem demonstrado que marcas associadas com cabeas falsas desviam os ataques de aves

    predadoras e aumentam a possibilidade de fuga se a presa for capturada (Wourms e

    Wasserman 1985).

    C. AUTOTOMIA

    Ao invs de simplesmente desviarem o ataque do predador para uma poro no

    vital de sua anatomia, algumas presas entregam partes descartveis do seu corpo para o

    atacante, quase como um prmio de consolao. A autotomia, a habilidade de retirar partes

    do corpo quando atacado, tem evoludo como mecanismo de defesa contra predadores em

    vertebrados e invertebrados. A autotomia da cauda nos calangos, por exemplo, um relato

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 26

    comum. Isso tambm observado em salamandras, la-gartixas, algumas espcies de cobras

    e at alguns roedores. Uma autotomia mais dramtica, no entanto, encontrada nos

    pepinos do mar (membros do filo Echinodermata), que quando atacados expelem suas

    vsceras atravs de uma ruptura na regio cloacal da parede corporal. O predador pode

    ento se alimentam da oferta do pepino enquanto esse faz um fuga lenta. Na maioria dos

    casos de autotomia a parte dispensvel do corpo se regenera subseqentemente. Como

    exemplo desse fenmeno enfocaremos a autotomia da cauda dos calangos.

    A autotomia da cauda dos calangos o beneficia de duas maneiras: Primeiro permite

    que o calango se liberte do atacante e segundo, se a cauda continua a se mover o atacante se

    distrai enquanto o calango foge (Arnold 1988). (Mesmo que o vigor e a durao dos

    movimentos da cauda ps-autotomia variem entre espcies, em algumas espcies de

    calangos a cauda pode continuar se mexendo por at cinco minutos) A efetividade da

    autotomia da cauda reafirmada pela presena de caudas nos estmagos de predadores e a

    ocorrncia de calangos sem cauda e calangos com caudas regeneradas nas populaes

    naturais.

    Evidencias experimentais diretas da importncia da autotomia da cauda como um

    dispositivo antipredao vem de um estudo de laboratrio feito por Benjamin Dial e Lloyd

    Fitzpatrick (1983). Esses pesquisadores testaram a efetividade da autotomia e dos

    movimentos da cauda ps-autotomia na fuga dos calangos frente a predadores mamferos e

    cobras. No primeiro estudo eles confrontaram gatos vira-latas (Felis catus) com duas

    espcies de calangos, Scincella lateralis (uma espcie com movimentos ps-autotmicos

    vigorosos da cauda) e Anolis carolinensis (uma espcie com movimentos ps-autotmicos

    menos violentos). Dial e Fitzpatrick registraram as reaes dos gatos frente aos calangos

    das duas espcies em duas condies: (1) testes das caudas em movimento - os calangos e

    suas caudas autotomizadas foram colocados defronte o gato imediatamente aps a

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 27

    autotomia e (2) testes da cauda exausta - deixava-se as caudas se movimentarem at a

    exausto e depois os calangos e suas caudas autotomizadas eram colocados defronte ao

    gato. Nos dois tipos de testes a autotomia era induzida pelo experimentador, que agarrava a

    cauda do calango no plano de fratura caudal com um frceps (em muitas espcies de

    calangos a quebra da cauda ocorre em reas fracas pr-formadas). Os resultados, resumidos

    na tabela 13.3, mostram que os movimentos ps-autotmicos da cauda de S. lateralis

    uma ttica efetiva de fuga enquanto os movimentos mais fracos de A. carolinensis no so.

    Note que em todos os testes da cauda em movimento com S. lateralis o gato atacou a cauda

    e no o calango e em todos os casos o calango escapou. Em 100 porcento dos testes de

    cauda exausta, no entanto, o gato atacou e capturou o calango. Os resultados de A.

    carolinensis foram diferentes; o gato atacou o calango e ignorou as caudas em todas os

    testes.

    Num segundo experimento, Dial e Fitzpatrick (1983) examinaram o efeito da

    autotomia da cauda no tempo de manuseio por parte do predador. Os autores provocaram

    encontros entre S. lateralis e cobras Lampropeltis triangulum, novamente utilizando

    caudas autotomizadas que se moviam ou que estavam exaustas. Em mdia as cobras

    precisavam de 37 segundos a mais para manusear as caudas em movimento, dando mais

    tempo para o calango fugir. Assim, para o calango Scincella lateralis, os movimentos ps-

    autotmicos da cauda suplementam um mecanismo simples de libertao das garras do

    predador e, dependendo do tipo de predador, ou atrai a ateno do predador (no caso do

    gato) ou aumenta o tempo disponvel de manuseio da cauda (no caso da cobra). De

    qualquer forma os movimentos ps-autotmicos da cauda acentuam a oportunidade de fuga

    por parte do calango.

    At aqui temos enfocado os benefcios da autotomia da cauda sem mencionar os

    custos em potencial. Dependendo da espcie de calango a perda da cauda pode levar a uma

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 28

    reduo da velocidade, equilbrio, habilidade de escalar e nadar e, quando a cauda usada

    como exibio, uma queda na escala social (Fox e Rostker 1982). Mais ainda, a

    regenerao da cauda certamente leva a custos energticos e materiais. Afinal, muitos

    calangos possuem depsito de gordura na cauda, que so perdidos junto com ela. Um

    possvel recurso ao custo de deixar reservas energticas para trs foi sugerido por Donald

    R. Clark (1971) depois que ele observou que os movimentos ps-autotmicos da cauda de

    S. lateralis ocultam a cauda nas folhas secas. Ele sugeriu que tais movimentos levam a

    cauda para fora da vista do predador, facilitando sua recuperao posterior por parte do

    dono, que ingeriria os depsitos de gordura. H alguns relatos de calangos ingerindo suas

    prprias caudas autotomizadas (Judd 1955, descrevendo a captura de um calango que havia

    escapado do laboratrio relatou, quando tentamos recaptur-lo o danado soltou a polegada

    da ponta da cauda e fugiu. No entanto, ele imediatamente se virou e, agarrando a cauda na

    parte mais estreita, engoliu-a inteira). No entanto, Dial e Fitzpatrick (1983) viram que

    quando as cobras agarravam as caudas de S. lateralis elas subseqentemente perdiam a

    presa. Ento, a questo de que se os calangos rotineiramente perdem suas caudas e depois

    as comem permanece sem resposta.

    D. FINGINDO FERIMENTO OU MORTE

    Pais de aves que aninham no solo, como Charadrius vociferus, podem fingir

    ferimentos, numa tentativa elaborada de distrair a ateno de um predador que se aproxima,

    afastando-o do ninho e dos filhotes, particularmente logo aps a ecloso, quando os

    filhotes esto mais vulnerveis (Brunton 1990). Quando avista um predador o adulto pode

    repentinamente comear a arrastar a asa enquanto se debate se afastando do ninho. O

    predador segue e medida que se aproxima a ave subitamente se recupera e voa para longe

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 29

    dando um piado alto. Se tudo sair como planejado o predador continuar seu caminho e ir

    embora.

    Alguns animais no dependem apenas do desvio da ateno do predador mas

    tambm de fazer o predador perder o interesse. Como muitos predadores s matam quando

    sua presa est se movendo, a presa que finge estar morta pode deixar de liberar os

    comportamentos de matar e, com sorte, o predador perder o interesse indo procurar uma

    vtima mais viva. Talvez o mais famoso fingidor de morto seja o gamb Didelphis

    virginiana, figura 13.19). Mesmo que seu desempenho seja menos publicado do que o do

    gamb caims juvenis (Caiman crocodilus) reagem agressivamente contra humanos

    quando esses se aproximam na terra firme, mas quando manuseados dentro da gua se

    fingem de mortos (Gorzula 1978). A resposta de um indivduo a um predador em particular

    pode ento variar em funo de seu contedo e animais presa tipicamente possuem vrios

    dispositivos antipredao ao seu dispor.

    Cobras nariz de porco (Heterodon platirhinos) exibem um repertrio complexo de

    mecanismos antipredatrios e uma opo o fingimento. Essas grandes cobras no

    venenosas ou ligeiramente venenosas, ocorrem em hbitats arenosos do leste dos Estados

    Unidos. Quando perturbados o nariz de porco opta por blefar para o predador - ele achata e

    expande o tero anterior do seu corpo e cabea formando um capuz que o faz parecer

    maior. Depois se enrola numa forma exagerada de S e chia, ocasionalmente dando botes

    falsos ao provocador. Quando provocado mais, no entanto, ele abandona o blefe e comea

    a se contorcer violentamente e a defecar. Depois disso se vira de barriga para cima com a

    boca aberta e lngua para fora. Se o predador perder o interesse no cadver e for embora a

    cobra lentamente se ajeita e se vai.

    O repertrio completo de mecanismos antipredatrios ocorre nas jovens cobras

    nariz de porco e Gordon Burghardt e Harry Greene (1988) tem demonstrado que cobras

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 30

    recm-nascidas so capazes de fazer exames sutis do grau de perigo exibido por um

    determinado predador. Os pesquisadores conduziram dois experimentos onde monitoravam

    a recuperao do fingimento de morte (isto , sair rastejando) em jovens cobras sob

    diferentes condies. No experimento 1 a recuperao das cobras foi monitorada na

    presena ou ausncia de uma coruja empalhada (Otus asio) montada num trip a um metro

    da cobra com a barriga para cima. No experimento 2 a cobra se recuperava (1) na presena

    de um humano que fitava a cobra de uma distncia de um metro, (2) na presena da mesma

    pessoa, no mesmo local mas com o olhar desviado e (3) numa condio controle onde

    nenhum humano era visvel. Tanto a presena da coruja (experimento 1) quando o olhar

    direto do humano (experimento 2) resultaram em tempos mais longos de recuperao em

    relao s condies respectivas de controle (figura 13.20). Quando o humano desviava o

    olhar o tempo de recuperao era intermedirio. Assim, jovens cobras so capazes de usar

    indicadores sutis para ajustar seu comportamento antipredatrio.

    VI. Anncio da vigilncia

    Algumas presas parecem informar ao predador que foram vistos. A vantagem pode

    ser de desencorajar o predador que agora se confrontaria com uma presa alerta e vigilante.

    Predadores sorrateiros, por exemplo, podem abandonar a caa quando recebem o sinal de

    que foram detectados. Um salto de pernas esticadas, com todas as quatro patas no ar

    simultaneamente, aparentemente feito por vrias espcies de veados, corsas e antlopes

    como um sinal desse tipo. Essa exibio tem atrado a ateno de vrios pesquisadores e a

    deteco do predador uma das provveis funes envolvidas no teste de previses de

    diversas hipteses. Pelo menos 11 hipteses tem sido propostas para a funo desse saltito

    (Caro 1986a, tabela 13.4). Mesmo no sendo mutuamente exclusivas, as hipteses variam

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 31

    da interpretao do saltito como um sinal dado pelo animal caado ou para um predador ou

    um membro da prpria espcie, at a interpretao de que o saltito no tem nenhum valor

    de sinal e simplesmente uma forma de brincadeira e alternativamente uma forma de

    monitorar visualmente o caminho de fuga do predador. No primeiro esforo verdadeiro de

    distinguir entre as duas hipteses Tim Caro (1986b) registrou a resposta de gazelas de

    Thomson (Gazella thomsoni) ocorrncia de predadores naturais, normalmente chitas

    (Acinonyx jubatus) no parque nacional do Serengeti na Tanznia. Ele analisou o

    comportamento das presas, das chitas e o resultado das caadas descobrindo que havia

    mais probabilidade das chitas abandonarem suas caadas quando suas presas haviam

    saltitado do que quando no o faziam (tabela 13.5). Esses resultados, combinados com

    outros dados que refutam muitas das hipteses remanescentes, sugerem que o saltito

    tipicamente funciona para informar ao predador que ele foi detectado. Duas outras funes

    do saltito foram sustentadas pelas observaes de Caro. Primeiro, as mes podem saltitar

    para distrair o predador quando esto com crias, uma funo parecida com a exibio da

    asa quebrada descrita para o maarico. Segundo, os filhotes parecem saltitar para informar

    suas mes de que foram perturbados no esconderijo.

    Um estudo mais recente sugere que o contexto do encontro entre a chita e a gazela e

    a idade da gazela no so os nicos fatores que influenciam a funo do saltito. O tipo de

    predador outra varivel. Quando est sendo caado por perseguio, ao invs de

    aproximao lenta, a gazela utiliza o saltito como um sinal honesto de sua capacidade de

    fuga do predador (FitzGibbon e Fanshawe 1988). Predadores que perseguem, como os ces

    selvagens africanos (Lycaon pictus) concentram suas perseguies nos indivduos do grupo

    que saltitam mais lentamente e parecem utilizar a informao do saltito para selecionar sua

    presa. No estudo de FitzGibbon e Fanshawe a razo mdia de saltitos das gazelas

    perseguidas foi de 1.64 saltitos por segundo e o das gazelas no perseguidas foi de 1.86

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 32

    saltitos por segundo. Sinalizando sua habilidade de fuga no incio da caada as gazelas

    mais energticas ou velozes no precisam provar essa capacidade fugindo dos ces em

    perseguies longas, exaustivas e potencialmente perigosas. Se a funo do saltito varia

    com a espcie de predador ento no seria surpresa que estudos futuros revelassem que a

    funo varia tambm com a espcie da presa. Finalmente, mesmo que freqentemente

    realizado na presena de predadores, o saltito tambm ocorre durante confrontos

    intrespecficos e s podemos adivinhar a sua funo nessas circunstncias.

    VII. Mecanismos de susto

    s vezes at mesmo um segundo ou dois a mais o tempo que o animal leva para

    fugir do que parece ser a morte certa. Em alguns casos, uma presa pode escapar se assustar

    o predador, atrasando-o por alguns instantes. Esses mecanismos de susto, chamados

    exibies deimticas por Edmunds (1974), envolvem mudanas sbitas na aparncia ou no

    comportamento que podem produzir confuso ou alarme no predador. A apresentao

    sbita de um estmulo visual (como um grande olho) ou auditivo (como um chiado, um

    grito ou um chocalho) pode assustar o predador de forma que ele se retire ou hesite o

    suficiente para que a presa fuja.

    Muitos insetos fazem exibies deimticas que envolvem a exposio sbita de

    cores ou padres que esto ocultos quando esto em repouso. Mariposas do gnero

    Catocala so palatveis para as aves predadoras e possuem asas anteriores crpticas que se

    assemelham casca da rvore, encobrindo asas posteriores com elaborados padres

    (aparentemente a palavra catocala derivada das palavras gregas kato e kalos, que

    significam traseiro bonito, Sargent 1976). Quando a ocultao falha e as mariposas so

    perturbadas por um predador, subitamente exibem suas asas posteriores elaboradas. As asas

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 33

    posteriores da Catocala servem para assustar? Debra Schlenoff (1985) investigou essa

    possibilidade examinando a resposta de gaios azuis (Cianocitta cristata) mantidos em

    avirios a modelos das mariposas Catocala. Ela construiu mariposas artificiais de cartolina

    cinza, com corpos de pinho (uma iguaria para os gaios) e adicionou asas bastante

    coloridas que apareciam quando o modelo era retirado do quadro pela ave (figura 13.22).

    Durante a fase de treinamento os gaios foram ensinados a capturar e a comer mariposas

    artificiais com asas posteriores uniformes. Durante a fase de teste do experimento foram

    apresentados aos gaios sete mariposas com asas posteriores cinza e um com asas

    posteriores coloridas (padro Catocala) colocada randomicamente na seqncia. Quando

    os gaios pegavam as mariposas com o padro de Catocala levantavam as crinas e davam

    um alarme, s vezes deixando cair o modelo e voando embora.

    Estmulos auditivos tambm podem ser assustadores para os predadores. Algumas

    espcies de mariposas arctiideas estalam em resposta ao som ou ao toque. Normalmente

    essas mariposas tem gosto ruim e quando provocadas emitem um repelente do seu trax. O

    estalido de perturbao dado pelas mariposas freqentemente faz com que os morcegos

    abandonem uma perseguio predatria. Esses estalidos dados pelas mariposas so de fato

    dispositivos para assustar ou avisos de gosto ruim? Grandes morcegos marrons (Eptesicus

    fuscus) treinados a voar at uma plataforma onde s vezes recebiam uma minhoca como

    recompensa, se desviavam da plataforma quando os estalidos dos arctdeos foram

    apresentados (Bates e Fenton 1990). Morcegos individuais, no entanto, se habituavam

    rapidamente aos filhotes e logo no respondiam mais ao som evitando a plataforma. Num

    segundo experimento quando os estalidos apresentados foram emparelhados com minhocas

    injetadas com sulfato de quinino, os morcegos rapidamente aprenderam a associar os

    estalidos com o gosto ruim da minhocas. Assim, no caso dos morcegos e das mariposas

    arctdeas, os estalidos podem tanto servir como dispositivos de aviso quanto de susto,

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 34

    dependendo da experincia do predador - morcegos inexperientes se assustam com os

    estalidos mas os morcegos experientes reconhecem os estalidos como avisos de presas de

    gosto ruim.

    VIII. A intimidao e o revide

    As presas podem possuir muitas formas de comunicar eu sou formidvel para o

    predador. Presumivelmente, quando um predador encontra uma presa grande, ameaadora

    e bem armada, continuar sua busca por uma refeio menos desafiadora.

    A. A ACENTUAO DO TAMANHO CORPORAL E A EXIBIO DE ARMAS

    Ao lidar com predadores em potencial alguns animais empregam o princpio da

    maximizao do tamanho. O gato arqueia as costas e eria o plo na presena de um co.

    Alguns sapos e peixes se inflam quando perturbados. Em cada caso o animal aumenta de

    tamanho parecendo mais perigoso, ou impossvel de ser engolido, como nos dois exemplos

    dados. Vrias exibies ou intimidaes pelo aumento do tamanho so mostradas na figura

    13.23 mas a maximizao da ameaa no precisa sempre ser visual. Chamados altos,

    chiados e grunhidos emitidos por presas podem fazer com que o predador procure sua

    refeio em outro local.

    Algumas vezes os olhos podem ser ameaadores. Vrias espcies de animais tem

    utilizado a relao entre os olhos e a ameaa, desenvolvendo manchas que se parecem com

    olhos para repelir os predadores. Esses olhos normalmente parecem grandes, arregalados e

    fitam diretamente o oponente, enquanto na verdade so apenas manchas nas asas de

    inofensivos insetos ou nas costas de um sapo (figura 13.24). Lembre-se que esses olhos

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 35

    tambm podem funcionar para assustar o predador ou desviar seu ataque. Finalmente,

    alguns animais exibem suas armas quando confrontam um predador. Ungulados

    freqentemente exibem seus chifres para o predador e cavam o cho, talvez para chamar a

    ateno para seus cascos. Ourios eriam seus espinhos e os gatos mostram seus dentes.

    Todas essas posturas provavelmente so para intimidar o predador.

    B. REPELENTES QUMICOS

    Uma grande variedade de insetos pode disparar qumicas nocivas quando

    capturados. Algumas dessas substncias so toxinas poderosas ou irritantes e, em algumas

    espcies, podem ser disparadas com preciso em vrias direes. O besouro assassino

    (Platymeris rhadamantus) reage s perturbaes cuspindo grandes quantidades de fluido na

    direo do atacante. A saliva rica em enzimas e provoca dor local intensa quando entra

    em contato com as membranas do nariz ou dos olhos.

    Outros mestres da guerra qumica so os besouros bombardeiros, que detm

    predadores emitindo um jato defensivo que contm substncias armazenadas em duas

    glndulas que se abrem na base do abdmen (Dean e col. 1990, Eisner 1958). Como a

    ponta do abdmen age como um cano flexvel o esguicho pode ser apontado para vrias

    direes (figura 13.25). Os reagentes qumicos das duas glndulas se misturam antes de

    serem descartados, produzindo um sbito aumento na temperatura da mistura. O esguicho

    quente ejetado, acompanhado de estalos audveis, em pulsos rpidos. O efeito tem sido

    comparado ao da bomba alem V-1 da segunda guerra mundial (Dean e col. 1990).

    Detentores qumicos no se limitam apenas aos artrpodes, como qualquer pessoa

    cujo co tenha tido o azar de mexer com uma jaritataca j sabe. Mesmo que a resposta

    defensiva do calango de chifres (Phrynosoma cornutum) seja menos conhecida que a da

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 36

    jaritataca, no menos espetacular. Quando perturbado esse pequeno lagarto coberto de

    espinhos pode cuspir um jato de sangue ejetado dos olhos no seu atacante (Lambert e

    Ferguson 1985). Na virada do sculo Charles Holder (1901) examinou esse comportamento

    e sugeriu, com base em testes onde um fox terrier se passava por predador, que o sangue

    ejetado continha substncias nocivas. Aparentemente o contato entre o sangue ejetado e a

    membrana nasal do cachorro era particularmente irritante e era necessrio apenas um

    encontro para produzir um profundo arrependimento no atormentador do lagarto. Se esse

    sangue realmente contm componentes nocivos e, se contm, quais so, ainda est por ser

    determinado.

    IX. Defesa grupal

    At agora temos quase que exclusivamente enfocado as estratgias empregadas por

    indivduos para evitar serem comidos. Alguns animais, no entanto, so sociais e a

    participao num grupo torna uma srie de tticas antipredatrias possveis. Geralmente os

    predadores so menos bem sucedidos quando caam presas em grupo ao invs de solitrias

    devido a uma habilidade superior dos grupos detectarem, confundirem e repelirem os

    predadores. Alm disso, um indivduo dentro do grupo tem uma probabilidade menor de

    ser selecionado durante um ataque por parte de um predador. Agora consideraremos alguns

    exemplos de como os animais sociais lidam com predadores. Tenham em mente que a vida

    em grupo tem muitas vantagens, incluindo aquelas totalmente no relacionadas proteo

    contra predadores (ver o captulo 16).

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 37

    A. SINAIS DE ALARME

    Quando um predador se aproxima de um grupo de presas um ou mais indivduos

    dentro dessa aglomerao podem dar o sinal que alerta outros membros do grupo para

    presena do predador. Sinais de alarme podem ser visuais, auditivos ou qumicos (ver o

    captulo 17 para uma discusso geral dos meios de comunicao de alarmes) e

    freqentemente servem para solicitar apoio no confronto a um atacante ou inspirar uma

    retirada para um local seguro. Em alguns casos o alarme pode ajudar o sinalizador ou seus

    parentes, em outros casos o alarme parece beneficiar todos aqueles expostos ao sinal,

    permitindo que os membros do grupo escapem de forma coordenada. A vantagem seletiva

    de dar o alarme tratada no captulo 19. Aqui discutiremos os sistemas de alarme qumico

    de alguns peixes e anfbios.

    Algumas espcies de peixes exibem respostas de fuga para estmulos qumicos de

    coespecficos feridos. Por exemplo, se a pele de um vairo (peixe fluvial) for ferido uma

    substncia alarmante, chamada Schreckstoff, liberada das clulas da pele. Membros da

    espcie que cheiram a substncia respondem com movimentos rpidos seguidos de

    ocultao e atividade reduzida. Mesmo que antes se pensasse que isso era peculiar dos

    vaires e seus parentes, um sistema anlogo de alarme tem sido relatado para outros grupos

    de peixes, incluindo os gobies e percas (Smith 1982, 1989). Na maioria dos casos a

    resposta de alarme exibida por peixes que formam cardumes.

    Mesmo que a presumida funo da liberao de Schreckstoff seja de alertar outros

    peixes do cardume sobre o perigo de um ataque, existe pouca evidencia experimental de

    sua efetividade como mecanismo antipredatrio. Tais evidencias esto no entanto

    disponveis para as substncias de alarme produzidas por girinos feridos (Bufo boreas).

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 38

    Indivduos dessa espcie vivem em lagos e lagoas no oeste da Amrica do Norte, onde os

    girinos formam densas agregaes. Diana Hews (1988) documentou a resposta dos girinos

    liberao da substncia alarme e depois testou se os girinos alertados pela substncia

    sobreviviam mais do que os que no foram expostos. Dois predadores naturais dos girinos

    foram usados, as baratas dgua gigantes (Lethocerus americanus) e larvas de liblulas

    (Aeshna umbrosa). Quando testados em aqurios os girinos aumentavam sua atividade e

    evitavam o lado do tanque que continha a barata dgua comendo um girino (num

    recipiente visualmente isolado mas conectado). Os girinos no aumentavam sua atividade

    ou evitavam o lado do tanque com o predador quando a barata dgua se alimentava de um

    girino de outra espcie. importante notar que os girinos alertados pela substncia alarme

    da espcie estavam menos vulnerveis predao. As larvas de liblulas faziam menos

    capturas por teste nos tanques onde os girinos foram expostos ao extrato contento a

    substncia alarme do que nos tanques contendo girinos expostos substncia controle

    (gua, figura 13.26). Alm de alertar os membros da espcie a substncia alarme de B.

    boreas pode funcionar diretamente na deteno de predadores. Muitos sapos adultos e

    larvais tem gosto ruim para os predadores por causa das toxinas na sua pele, e essas

    bufotoxinas provavelmente so componentes da substncia alarme. Novamente, um dado

    mecanismo de defesa pode ter mais de uma funo.

    B. DETECO APRIMORADA

    A deteco precoce de um predador pode freqentemente representar a fuga da

    presa. Nesse caso, grupos tipicamente so superiores a animais solitrios na sua habilidade

    de deteco destes. O aumento do nmero de membros de um grupo (e no nmero de

    olhos, ouvidos, narizes etc.) freqentemente resulta no aumento da imediaticidade pela

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 39

    qual predadores que se aproximam so detectados. Mais ainda, como resultado de

    vigilncia acentuada associada aos grupos, um dado membro do grupo pode passar mais

    tempo forrageando e menos tempo vigiando.

    Os benefcios do aumento da habilidade de detectar predadores pode ocorrer para

    os membros de um grupo composto da mesma espcie ou de espcies diferentes. Os gaios

    da Flrida (Aphelocoma coerulescens) formam grupos da mesma espcie que normalmente

    so compostos de dois a oito membros de uma famlia. Como essas aves vivem em grupos

    pequenos e permanentes de composio estvel (ver o captulo 19 para uma discusso da

    reproduo comunitria e ajuda no ninho pelos gaios da Flrida) possvel para esses

    indivduos coordenar sua vigilncia num sistema altamente estruturado de sentinela

    (McGowan e Woolfenden 1989). Tipicamente, apenas um membro da famlia se coloca

    num poleiro exposto e continuamente monitora o ambiente em busca de predadores. Se um

    predador for localizado o sentinela d o alarme e os membros da famlia respondem

    atacando o predador terrestre ou fogem monitorando os movimentos de um atacante areo.

    Trocas peridicas entre os membros da famlia ocorrem para poupar os sentinelas. Esse

    sistema de sentinelas tambm tem sido relatado em mamferos como o mangusto ano

    Helogale undulata rufula, (Rasa 1986) e Suricata suricata (Moran 1984), duas espcies

    que vivem em grupos sociais com uma base familiar.

    O benefcio da vigilncia aprimorada se aplica a membros de grupos mistos na

    condio de ambas espcies estarem vigilantes pelo mesmo tipo de predador e que sejam

    capazes de comunicar a deteco do predador. Adicionalmente, alguns membros de grupos

    heterespecficos se beneficiam se os predadores exibirem uma preferncia por indivduos

    da outra espcie no grupo. Por exemplo, as gazelas de Thomson (Gazella thomsoni), uma

    espcie familiar pela nossa discusso do saltitar, e as gazelas de Grant (G. granti)

    freqentemente formam grupos mistos no parque nacional do Serengeti, na Tanznia

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 40

    (FitzGibbon 1990). Quando comparadas s gazelas que ficaram em grupos pequenos de

    coespecficos, as gazelas de Thomson que se juntaram s gazelas de Grant para formar um

    bando maior, eram menos vulnerveis s chitas. As gazelas de Grant, por outro lado, se

    beneficiavam da associao devido a uma preferncia das chitas pelas gazelas de Thomson.

    C. EFEITO DILUIO

    Indivduos dentro do grupo esto mais seguros no s por causa da sua acentuada

    habilidade de detectar predadores mas tambm porque cada indivduo tem uma chance

    menor de se tornar a prxima vtima. Essa vantagem, o efeito diluio, opera se o predador

    encontra indivduos solitrios ou em pequenos grupos com a mesma freqncia com que

    encontra grandes grupos e se houver um limite para o nmero de presas mortas a cada

    encontro. medida que o tamanho do grupo aumenta o efeito diluio se torna mais

    eficiente e a vigilncia aprimorada parece trazer menos benefcios (Dehn 1990).

    Mesmo que essa noo de segurana nos nmeros seja intuitivamente interessante,

    em alguns casos os predadores se congregam em rea onde h abundncia de presas. Como

    resultado dessa aglomerao de predadores algumas presas agrupadas podem de fato sofrer

    mais predao. Num exame do equilbrio entre as foras do efeito diluio e a aglomerao

    de predadores , Turchin e Kareiva (1989) estudaram o agrupamento nos pulges (Aphis

    varians). Esses pequenos insetos formam densas aglomeraes nas eflorescncias do

    capim-fogo e aqui so predados pelas joaninhas , tipicamente Hippodamia convergens.

    Num experimento os pesquisadores quantificaram as razes de crescimento per capita (uma

    medida de sobrevivncia individual) dos pulges que viviam isolados e dos que viviam em

    colnias com mais de 1000 indivduos e encontraram que os pulges se beneficiavam da

    formao de grupos. No entanto, o agrupamento s era vantajoso na presena de

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 41

    predadores; quando as joaninhas foram eliminadas do capim-fogo a sobrevivncia

    individual dos pulges no aumentou com o tamanho da colnia.

    A prxima pergunta ento como as joaninhas respondem ao agrupamento de suas

    presas. Turchin e Kareiva descobriram que as joaninhas exibiram uma forte resposta de

    agregao: mais de quatro vezes mais joaninhas eram encontradas nas colnias de pulges

    com mais de 1000 indivduos quando comparadas s colnias pequenas e mdias (figura

    13.27). Alm de se aglomerarem em grandes colnias as joaninhas tambm aumentaram

    sua razo de alimentao medida que a densidade de pulges aumentava. Em mdia os

    pulges consumiam 0.9 pulges por 10 minutos em colnias com 10 indivduos,

    comparado com 2.4 pulges por 10 minutos em colnias com mais de 1000 indivduos.

    Assim, o tamanho do grupo nos pulges parece afetar a razo de crescimento per capita da

    colnia de pulges, o nmero de predadores atrados para a colnia e a razo de

    alimentao pelos predadores. Dados todos esses fatores, o agrupamento reduz o risco de

    predao nos pulges? Aparentemente sim. Quando os pesquisadores calcularam o risco

    instantneo de predao de um pulgo num perodo de 10 minutos observaram valores de

    0.05 para colnias de 10 e 0.008 para colnias de 1000 ou mais. Assim, no sistema pulgo-

    joaninha o efeito diluio ainda ocorre, apesar da forte tendncia dos predadores de

    aglomerarem nas grandes colnias de presas. No entanto, Turchin e Kareiva apontam

    rapidamente que os predadores no so os nicos inimigos dos pulges. Parasitides e

    Patgenos podem aumentar rapidamente em grandes grupos de pulges, podendo afetar

    profundamente a mortalidade, talvez eliminando as vantagens antipredatrias do efeito

    diluio.

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 42

    D. BANDO EGOSTA

    Na maioria dos grupos, como vimos com a borboleta monarca, animais localizados

    no centro parecem estar mais seguros do que os nas bordas. Obtendo a posio central os

    animais podem diminuir as chances de serem atacados e aumentar a probabilidade de que

    um de seus colegas mais perifricos seja comido ao invs dele. Esse mecanismo

    antipredatrio, freqentemente chamado de bando egosta (Hamilton 1971), enfatiza que

    mesmo que um grupo parea consistir de membros que coordenam seus esforos de fuga,

    cada um tenta colocar o maior nmero possvel de outros indivduos entre si e o predador.

    Pode-se perguntar: os locais centrais do grupo so melhores? A resposta no. De fato, um

    estudo das vantagens antipredatrias de nadar em cardumes sugere que o centro s vezes

    o lugar mais perigoso. Quando surge uma perca marinha predadora (Centropristis striata),

    os aterinos (Menidia menidia) no centro do cardume sofrem a maior parte dos ataques

    (Parrish 1989). Ao invs de atacarem as bordas as percas nadam rumo ao centro do

    cardume, dividem o cardume em dois grupos e depois atacam a parte posterior de um deles,

    onde agora se encontram os indivduos que estavam no centro do grupo grande. A

    segurana relativa de uma posio dentro do grupo depende do mtodo de ataque do

    predador. Como cardumes sem dvida lidam com vrios tipos de predadores, cada um

    potencialmente usando uma estratgia diferente de ataque, a vantagem relativa da periferia

    e do centro pode mudar. Alm disso, fatores como a eficincia do forrageio (os da frente

    vem o alimento primeiro) e a energtica da locomoo (os peixes da frente enfrentam a

    maior resistncia da gua) provavelmente tambm influenciam as posies timas dentro

    do cardume.

  • Captulo 13 / Comportamento antipredatrio / pgina 43

    E. EFEITO CONFUSO

    Predadores que dirigem seu ataque para um nico animal dentro do grupo hesitam

    ou se confundem quando se deparam com vrias refeies em potencial ao mesmo tempo.

    No importando a brevidade, qualquer atraso no ataque voltar a favor da presa. O

    chamado efeito confuso foi primeiro descrito por Robert Miller (1922) para bandos de

    pequenos pssaros na presena de gavies. Ele notou que ao detectar um gavio que se

    aproxima, indivduos do bando permaneciam imveis na folhagem e todos produziam uma

    nota aguda e tremula, chama