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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECNCAVO DA BAHIA CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS AMBIENTAIS E BIOLGICAS CCA-034 : BIOLOGIA DO SOLO AULA No 02 TEMA:
CICLO DO CARBONO PROF. MARIA DE FTIMA DA SILVA PINTO PEIXOTO
MARO DE 2008
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Transformaes do Carbono no Ambiente 1. Aspectos gerais 2. Principais converses no ambiente 3. A matria orgnica e suas fraes 4. Cintica da Decomposio da matria orgnica 5. A relao C/N 6. Processo de Humificao 1. Aspectos gerais
O carbono um dos principais elementos para os seres vivos, pois, o
componente fundamental das molculas orgnicas. Os teores de carbono total
da biomassa variam de 50 a 55% com base na sua matria seca. Tomando-se
a bactria Escherichia coli como um referencial da composio de biomassa
microbiana, podemos observar que a sua composio elementar com base no
peso da sua matria seca mostra aproximadamente 50% carbono, 20%
oxignio, 14% nitrognio, 8% hidrognio, 3% fsforo, 1% enxofre e 2,75% de
outros elementos tais como potssio, clcio, magnsio, cloro, ferro e de
microelementos incluindo mangans, cobalto, cobre, zinco e molibdnio. A
figura abaixo representa graficamente esta composio.
A distribuio do carbono na superfcie terrestre (Biosfera) e em
profundidades de at 16 km (Quadro 8), reflete um delicado equilbrio entre os
Composio (%) da Biomassa Bacteriana
50%
20%15%
8% 3%
1%
2%
1%
7%
Carbono (C)
Oxigenio (O)
Nitrogenio (N)
Hidrogenio (H)
Fosforo (P)
Enxfre S
Potssio K
Ca,Cl, Mg,Fe,Micro
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diversos reservatrios considerados. Pode-se observar que a quantidade de
carbono no solo, em termos de matria orgnica, excede a quantidade
encontrada em todos os reservatrios superficiais combinados. Entretanto, este
reservatrio de carbono do solo pequeno quando comparado com o carbono
total contido nas formaes sedimentares. A tabela seguinte ilustra as
dimenses dos reservatrios de carbono na biosfera e em profundidades at
16 km:
Reservatrio de C [C] x 1011 ton % Total Biosfera (100)
Atmosfera 7,0 9.7 Biomassa 4,8 6.3 guas continentais 2,5 3.5 Marinho 5,0 a 8,0 11.0 Mat. Orgnica do solo 30 a 50 70,0
Profundidade ( ate 16 Km) (100) Detritos orgnicos (Mar.) 30 0,00037 Petrleo 100 0,00050
Marinho (abissal) 345 0,00170 Sedimentos 200.000 99,763
Assim, a maior parte do carbono no est em circulao mas, em
sedimentos inorgnicos e produtos de armazenamento tais como: carbonatos
em rochas e compostos orgnicos contidos no carvo e petrleo. O carbonato
solvel pode ser precipitado pela ao de vrios organismos, tais como corais,
crustceos e moluscos com esqueletos carbonceos. As algas podem,
tambm, precipitar o carbonato durante a fotossntese.
O carbono encontrado na atmosfera na forma de CO2 representa apenas
uma pequena frao (9,7%) do carbono em circulao na biosfera. A
quantidade de carbono contida na biomassa (6,3 %) menor que aquele
contido na atmosfera. Entretanto, os teores de carbono contido na biomassa
variam de 40 a 55%, diferindo substancialmente dos teores de carbono (CO2)
encontrados na atmosfera (0,03% por volume). Isto evidencia a operao de
mecanismos altamente concentradores de carbono em determinadas fraes
de biomassa. Estes mecanismos concentradores de carbono so
representados pelos processos autotrficos da fotossntese e quimiossntese,
realizados tanto por plantas quanto microrganismos. Deste modo, estes
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processos representam, numa primeira etapa, uma imobilizao do carbono
atravs do CO2. Por outro lado, o carbono est sendo continuamente devolvido
atmosfera atravs da oxidao da matria orgnica, representados elos
processos de respirao e combusto, processos estes denominados de
mineralizao da matria orgnica. Assim, os teores de carbono total na
atmosfera e da superfcie terrestre, dependem de um delicado equilbrio
entre processos de imobilizao (reduo) e mineralizao (oxidao) do
carbono.
O equilbrio entre os processos de imobilizao e mineralizao do
carbono vem sendo alterado desde o advento da revoluo industrial no sculo
XIX. Desde aquela poca, os teores de CO2 na atmosfera vem aumentando
significativamente, provenientes, principalmente, da queima de combustveis
fsseis. Parte do CO2 assim produzido pode ser absorvido pelos oceanos como
HCO3 e/ou fixado na biomassa de plantas. Entretanto, a capacidade
tamponante limitada de CO2 dos oceanos juntamente com o desmatamento
sem a devida reposio de culturas, vem criando as condies para o
surgimento do efeito de estufa, resultando em alteraes sazonais
significativas na superfcie terrestre, devido ao acmulo crescente de CO2 e
CH4 na atmosfera.
O QUE O CICLO DO CARBONO?
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This carbon cycle diagram shows the storage and yearly changes of the carbon
between the atmosphere, hydrosphere and geosphere in Gigatons - or billion tons - of
Carbon (GtC). Humanity adds about 5.5 billion tons of carbon dioxide per year, most of
which goes directly into the atmosphere.
Diagram of the carbon cycle. The black numbers indicate how much carbon is
stored in various reservoirs, in billions of tons ("GtC" stands for GigaTons of Carbon).
The blue numbers indicate how much carbon moves between reservoirs each year.
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The Carbon Cycle is a complex series of processes through which all of the carbon
atoms in existence rotate.
Plants, animals, and soil interact to make up the basic cycles of nature. In the
carbon cycle, plants absorb carbon dioxide from the atmosphere and use it, combined
with water they get from the soil, to make the substances they need for growth. The
process of photosynthesis incorporates the carbon atoms from carbon dioxide into
sugars. Animals, such as the rabbit pictured here, eat the plants and use the carbon to
build their own tissues. Other animals, such as the fox, eat the rabbit and then use the
carbon for their own needs. These animals return carbon dioxide into the air when they
breathe, and when they die, since the carbon is returned to the soil during
decomposition. The carbon atoms in soil may then be used in a new plant or small
microorganisms. Ultimately, the same carbon atom can move through many organisms
and even end in the same place where it began. Herein lies the fascination of the carbon
cycle; the same atoms can be recycled for millennia!
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Resumo das principais converses do carbono no ambiente
A frao orgnica
Na biosfera o carbono encontrado na forma orgnica, caracterizada na
forma de CH ou CHO com ligao covalente C-C onde a energia luminosa ou
qumica armazenada. Os principais compostos orgnicos naturais, so
aqueles encontrados na biomassa tanto de plantas como de animais. As
plantas e microrganismos fotoautotrficos responsveis pela produo primria
nos diversos ecossistemas constituem os principais fornecedores de matria
prima para a formao da matria orgnica no ambiente.
Principais constituintes orgnicos de plantas:
Constituinte % Peso mateira seca Celulose 15 a 60 Hemiceluloses 10 a 30 Lignina 5 a 25 Frao solvel gua (Aucares simples, aminoacidos, cidos orgnicos)
1 a 5
Frao solvel lcool ( Gorduras, leos, graxas, resinas, pigmentos)
1 a 10
Protenas 1 a 8 Substancias de reserva (Amido) 1 a 30
Sob a denominao genrica de matria orgnica incluem-se uma grande diversidade de materiais e compostos, sendo a maior parte originria de material vegetal na forma de biomassa, resduo orgnicos ou simplesmente material orgnico que incorporados ao ambiente so processados pela
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microbiota at a sua estabilizao na forma de compostos hmicos complexados. Assim, alguns termos utilizados devem ser aqui discutidos:
Biomassa refere-se material biolgico fresco ou com vida derivado de qualquer ser vivo, como por exemplo uma rvore recm cortada, folhas recm colhidas, insetos ou microrganismos.
Resduo orgnico natural, refere-se principalmente biomassa j morta ou em incio de decomposio. Geralmente muito difcil a separao fsica ntida entre biomassa e resduo.
Material orgnico natural, geralmente refere-se aos a um tipo especfico de resduo ou, tambm, aos componentes orgnicos presentes na biomassa ou resduos orgnicos, tais como amido, celulose, hemiceluloses, quitina, etc.
Matria Orgnica Resduos ou material orgnico j processado e complexado no ambiente. Geralmente tomado como sinnimo de Hmus, no seu estgio de processamento final e j estabilizado.
Xenobitico refere-se a compostos orgnicos artificialmente produzidos e que podem constituir uma frao do resduo orgnico presente em um ambiente.
Recalcitrncia o termo que descreve a resistncia a transformaes ou decomposio de uma determinada molcula ou resduo orgnico.
Transformaes da matria orgnica: O Ciclo da matria Orgnica
Nos diversos ambientes as transformaes do carbono seguem os
princpios gerais que regem a construo de uma cadeia alimentar. Os
produtores primrios, so, principalmente, plantas superiores, cianobactrias e
algas. As bactrias fotossintticas e os microrganismos quimioautotrficos
contribuem muito pouco para a fixao global do carbono, embora possam
apresentar contribuies significativas em determinados ambientes ou habitat
especficos. Os microrganismos consumidores so representados pelos
protozorios, bactrias, fungos e actinomicetos que apresentam atividade
predominantemente heterotrfica.
Qualquer resduo orgnico natural constitudo por uma frao orgnica
e outra inorgnica. A frao orgnica, pode ser determinada pelo mtodo da
incinerao em mufla, onde uma determinada alquota da matria seca do
resduo pesada e em seguida incinerada. As cinzas representam a frao
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mineral ou inorgnica enquanto a diferena (Matria seca original cinzas)
representa a frao orgnica do resduo. A determinao do carbono orgnico
(C-org) total desta frao orgnica pode ser realizada pela seguinte
transformao (utilizando o valor mdio de contedo de C na frao orgnica
de aprox. 58 % = 1/1.724) :
O Carbono orgnico (C-org) representa a maior parte do carbono no
ambiente, podendo ser dividido basicamente em trs componentes:
Carbono disponvel (C-disp)
Carbono recalcitrante (C-rec)
Frao hmica.
O carbono disponvel (C-disp) aquele que representa a principal
fonte de carbono para a microbiota ambiental, como o amido, celulose,
hemiceluloses, aminoacidos etc. Se considerarmos somente a frao orgnica
de um resduo, o carbono disponvel deve representar em torno de 40% da sua
massa seca, ou seja: (58% contedo mdio de C da frao orgnica x 70%
frao disponvel do C org total). O Carbono Recalcitrante representa aquela
frao que no pode ser imediatamente utilizada como fonte de carbono pela
microbiota e que tende a permanecer mais tempo no ambiente, representado
principalmente pela lignina, pigmentos, resinas e ceras (carbono insolvel em
gua). A frao hmica resultante de transformaes complexas desse
carbono recalcitrante formando o que se denomina genericamente de hmus.
Esta frao hmica tende a permanecer mais tempo no ambiente e, no caso
especfico do solo, a principal componente da matria orgnica do solo
(MOS).
Geralmente, o carbono disponvel C (C-disp) est na forma de polmeros
que, para a sua utilizao, devem sofrer um processo de hidrlise por enzimas
at a formao de unidades moleculares menores (oligmeros) para sua
Corg (%) = Frao orgnica (%) / 1,724
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assimilao pela microbiota decompositora. Este processo realizado
basicamente com dois propsitos:
Produo de energia (C oxidvel)
Formao de nova biomassa, (Carbono
imobilizado)
A produo de energia realizada por meio da respirao aerbio ou
fermentao anaerbia e pode ser quantificada por meio da produo de CO2
ou CH4 no meio. A formao de biomassa realizada pela assimilao ou
imobilizao das molculas orgnicas em novas clulas. No caso do
metabolismo microbiano, existe uma proporo mais ou menos definida para
estas atividades, sendo caracterizada como 65% do carbono assimilado
utilizado para a produo de energia e 35% para a produo de nova
biomassa.
Resumo das Principais Transformaes de Resduos Orgnicos no Ambiente.
1. Hidrlise enzimtica
2. Assimilao e converso em
energia/biomassa.
3. Recalcitrancia e Humificao
4. Utilizao da matria ognica
(Rota Lenta)
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1. TRANSFORMAES DE SUBSTRATOS ESPECFICOS
Celulose
A celulose o principal constituinte estrutural das clulas vegetais
variando de 40 a 90% da sua composio. o peso molecular pode variar de 220
A 330 kD. . um polmero de D-glicose, contendo aproximadamente 1400 a
10000 resduos, combinadas em ligao B-14 e de forma linear (filiforme),
formando micelas de aproximadamente 60 molculas. A estabilidade entre
estas micelas de celulose so conferida pelas pontes de hidrognio, tronando-a
bastante estvel.
A decomposio da molcula de clula realizada por um complexo
enzimtico denominado sistema celulase. Em um primeiro estgio na ruptura
enzimtica observa-se a formao de cadeia lineares de celobiose (1). Uma
Segunda enzima, B1,4 gluconase (2) hidrolisa estas cadeia, produzindo
molculas de celobiose que so hidrolisadas por meio de B-glucosidases (3)
at a formao de glicose livre:
1 2 3
Celulose nativa formas lineares celobiose
glicose
Hemiceluloses
As hemiceluloses ocorrem em menor quantidade que a celulose,
perfazendo cerca de 12 da serapilheira de florestas temperadas e 10 a 12% da
madeira. So polissacardeos de alto peso molecular (>150 KD) constitudos
dos aucares arabinose, galactose, manose, xilose e cidos urnicos.
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Lignina
A lignina forma de 20 a 30% da madeira e tem uma estrutura bem mais
complexa que a celulose e hemiceluloses. um polmero complexo com
unidades ou blocos de fenil-propano, unidas por ligaes tipo ster e carbono-
carbono formando arranjos complexos como os exemplos seguintes:
A degradao da lignina realizada principalmente por fungos que
apresentam um sistema complexo de enzimas denominado ligninases que
atuam principalmente nos grupos metoxi (-OCH3) e ster (-C-O-C) causando
uma degradao parcial da sua estrutura e formao de produtos mais
solveis. A etapa final deve envolver a ruptura do anel aromtico que
realizado em vrias etapas e por enzimas mais especializadas. Esta
complexidade do ataque e produtos de degradao uma das razes da
recalcitrncia da molcula de lignina.
2. CINTICA DA DECOMPOSIO DA MATRIA ORGNICA
O processo de decomposio pode ser estudado avaliando-se:
a) A respirao atravs da liberao do CO2 aps a adio de resduos
com ou sem marcadores, como por exemplo o 14C;
b) Efetuando-se medidas diretas do material orgnico adicionado, atravs
de anlises qumicas ou com base na diminuio do peso do material e;
c) Observao do desaparecimento de constituintes especficos, tais como
celulose, hemicelulose e lignina.
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a) Respirao induzida com substrato
a metodologia mais utilizada de se avaliar a decomposio de
resduos ou materiais orgnicos incorporados ao ambiente, consistindo na
medida da produo de CO2 decorrente dessa incorporao ao ambiente,
conforme esquema seguinte:
Neste processo, a amostra ambiental incubada com o resduo em
estudo. Aps esta incubao, avalia-se o CO2 produzido/tempo, utilizando-se
um fluxo de ar sem CO2 sob a amostra e um sistema de captura que pode ser
de hidrxidos, condutividade eltrica ou sensores infravermelhos calibrados
com a resposta de CO2. O sistema requer a utilizao de controles das
amostras ambientais sem a adio do resduo. A elevao ou diminuio da
produo de CO2 em relao ao controle indica o potencial de decomposio
ou biodegradabilidade do resduo.
mg CO2
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b) Avaliao da perda de peso do material remanescente
Neste procedimento, a amostra em estudo, geralmente de folhas,
serapilheira de floresta e outros resduos ntegros so pesadas
acondicionadas em sacos ou bolsas plsticas (litter bag) contendo uma malha
especfica, de modo a permitir uma interface de contato do resduo com o
ambiente. Aps incubao pelos perodos de tempo previamente programados,
realiza-se a anlise do material remanescente, geralmente por pesagem
(matria seca). A compilao dos dados, geralmente produzem dados com
uma curva de decaimento em trs fases, conforme o grfico a seguinte:
A anlise dos dados deste grfico nos permite inferir que o resduo B
apresenta maior recalcitrncia, ou seja demora mais para se decompor em
relao residuo A. Pode-se separar estas curvas em trs fases (1, 2, 3):
1. Decomposio rpida, onde 50% do material remanescente perdido
em poucas semanas.
2. Intermediria onde o processo de decomposio comea a diminuir
3. Recalcitrncia, aps 20 semanas, onde predomina os compostos de
decomposio mais dificil.
0
20
40
60
80
100
0 20 40 60
Resduo A
Resduo B
% Material
Remanescente
Semanas
1
2 3
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Este padro de decaimento pode ser explicado pela composio diferenciada
dos resduos, onde se boserva uma mistura de polmeros e aucares
facilmente degradveis (1), polmeros mais difceis de degradao tal como a
celulose (2) e substratos recalcitrantes (3).
c) Avaliao do desaparecimento de substratos especficos
O processo de decomposio pode, alternativamente, ser avaliado por meio do
desaparecimento de substratos especficos, tais como celulose, lignina, quitina
e outros substratos componentes da biomassa especfica que se quer avaliar.
O procedimento experimental muito similar ao anterior, porm sem a
necessidade de sacos ou bolsas plsticas, pois o substrato pode ser
incorporado diretamente no ambiente sob estudo. As amostragens realizam-se
periodicamente para se traar o desaparecimento especificamente daquele
substrato.
Cintica do Processo de Decomposio : Avaliao das taxas e
constantes de decomposio ambientais.
Tentativa tem sido feitas para se estabelecer constantes de decomposio
caractersticas de determinados ecossistemas especialmente os ecossistemas
florestais. Neste caso, a quantidade de serapilheira ou liteira que se acumula
na superfcie de solos minerais depende do balano entre a taxa de produo
da serapilheira e da velocidade com que decomposta no solo. Se X
representa a quantidade de serapilheira acumulada superficialmente e L a
quantidade de novo material orgnico adicionado a cada ano, a taxa de
variao de X dada pela expresso:
dX/dt = L kX (1)
Onde X a quantidade de material orgnico presente, L a adio em certo
tempo, t o tempo e k uma constante de decomposio.
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Em um ecossistema em equilbrio, X constante, isto , dX/dt = 0.
Assim a equao (1) pode ser expressa:
L = kX ou k = L / X (2)
A constante de decomposio pode, assim, ser estimada pelas medidas de L
(adio de material em um certo perodo) e X (quantidade de material orgnico
ou serapilheira inicialmente presente) em uma comunidade vegetal que esteja
em equilbrio. Considerando-se o valor mdio de 50% para a taxa
transformao dos resduos orgnicos em carbono orgnico (C-org), podemos
calcular as taxas de decomposio (k) especfica para determinados ambientes
ou ecossistemas. Para isto necessrio estimar o valor de L (geralmente em
termos de C-org) e do valor d de X (C-org) presente originalmente no ambiente.
A seguinte tabela apresenta alguns dados compilados de Sanchez (1985)
mostrando os clculos e comparando o valor de k para diversos ambientes:
Ambiente
A= adio de
matria
organica
(Ton/ha/ano)
L =
Adio de
C-org
(Ton/ha/
ano)
X = contedo
de C-org
original e em
equilbrio
(Ton/ha/ano)
K= Taxa de
Decomposio
ambiental
(%)
Tropical 1 5,28 2,64 106 2,5
Tropical 2 6,05 3.03 55 5,5
Temperado 1,65 0,85 86 0,9
Cerrado 0,44 0,22 16 1,4
Cultivo Agric. 5,0 2,5 35 7,1
Os valores de k observados diferiram significativamente para os diversos
ambientes considerados. Geralmente, quanto maior o valor de k, maior a
velocidade de decomposio observada, ou seja, menor o tempo de residncia
dos resduos orgnicos no solo. Com relao s diferenas observadas nos
ambientes tropicais 1 e 2, uma possvel explicao reside na textura do solo
considerado. No solo tropical 1 h predominncia de argila e de carter mais
cido, enquanto no solo tropical 2 h predominncia de textura arenosa com
pH ligeiramente mais elevado.
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Em resumo, no seu aspecto dinmico, a matria orgnica no solo
consiste, basicamente, em trs fraes principais: a) resduos de plantas e a
biomassa associada que apresentam uma taxa de reciclagem rpida (1 a 4
anos); b) metablitos microbianos e constituintes de parede celular com um
tempo de residncia mdio em torno de 5 a 25 anos; c) fraes mais
resistentes a decomposio, com cerca de 250 a 2500 anos.
EFEITO DA RELAO C/N NO PROCESSO DE DECOMPOSIO
A velocidade do processo de decomposio de um resduo orgnico
incorporado ao solo dependente de fatores ambientais e da prpria natureza
do resduo. Dentre os fatores ambientais, podemos destacar a temperatura,
suprimento de oxignio, umidade, pH e nutrientes inorgnicos. Com relao
queles fatores pertinentes natureza do resduo podemos destacar a idade
do resduo, tipo de substrato e a sua relao do contedo de carbono em
relao aos teores de nitrognio, ou seja, a relao C/N.
Os tecidos de vegetais e a microbiota do solo apresentam um contedo
% mdio de carbono de aproximadamente 50 a 58% do peso da matria seca.
O contedo de nitrognio nestes tecidos variam, conforme o grupo e o tecido
considerado, de aproximadamente 0,1 a 5,5 % do peso desta mesma matria
seca. Considerando que a frao orgnica nos diversos tecidos e clulas
variam substancialmente, os teores % de carbono orgnico (Corg) podem ser
obtidos atravs da seguinte relao:
Corg (%) = (% matria orgnica / 1,724)
Se o teor % de nitrognio do resduo conhecido, a relao C/N pode ser
assim estabelecida:
C/N = % Corg / % N
O nitrognio refere-se ao nitrognio total determinado usualmente atravs do
mtodo de Kjeldhal. A tabela seguinte ilustra algumas destas variveis em
resduos agrcolas.
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Tabela \ - Composio de alguns resduos
Residuo MO(%) N(%) C/N Amoreira (Folhas) 86,08 3,77 13/1 Bagaco de Cana 71,44 1,10 37/1 Capim coloniao 91,03 1,87 27/1 Casca de arroz 54,55 0,78 39/1 Crotalaria 91,42 1,95 26/1 Esterco Bovino 67,11 1,67 19/1 Esterco de galinha 64,00 3,04 10/1 Mandioca (Folhas) 91,64 4,35 12/1 Mucuna-preta 91,64 4,36 12/1 Palha de caf 93,99 1,65 31/1 Palha de feijao 94,68 1,63 32/1 Palha de milho 96,75 0,48 112/1 Serragem de madeira 93,45 0,06 865/1 Torta de mamona 92,20 5,44 10/1 Turfa 39,89 0,39 57/1
A determinao da relao C/N do material orgnico importante na
medida que se pode prever a velocidade de decomposio do resduo e os
ganhos ou perdas potenciais de nitrognio para o solo. Para que a
decomposio se processe necessrio a construo de biomassa, ou seja,
clulas que passam a produzir enzimas necessrias ao processo. A construo
de biomassa demanda, entre outros nutrientes, carbono e nitrognio em
determinadas propores. A relao C/N da microbiota do solo se situa na
faixa de 5 a 10/1. Assim, para cada 5 a 10 partes de carbono assimilado,
necessita-se 1 parte de nitrognio para a constituio do protoplasma
microbiano. Como regra geral, aqueles materiais com relao C/N mais estreita
(abaixo de 30/1) tendem a liberar o nitrognio para o meio, apresentando,
portanto, uma maior velocidade de decomposio. Aqueles materiais com
relao C/N mais larga (acima de 40/1) requerem um adicional de nitrognio
para a sua decomposio. Este nitrognio adicional pode ser suprido pelo solo.
Caso o solo apresente baixos nveis de nitrognio disponvel para a microbiota,
este resduo orgnico com relao C/N mais larga ter sua decomposio
comprometida.
Durante a decomposio do resduo, cerca de 70% do carbono total est
disponvel em certo tempo, sendo os outros 30% parte integrante da frao
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recalcitrante. Aproximadamente 65% do carbono disponvel utilizado para o
metabolismo energtico, gerando assim, o CO2 que escapa para a atmosfera.
Os 35% restantes do carbono disponvel so utilizados para converso em
biomassa microbiana que apresenta uma relao C/N variando de
Bactrias 3 a 5:1 e Fungos 10- a 12:1. Considerando-se uma
decomposio por microbiota mista, pode-se trabalhar com uma C/N da
microbiota de 7:1 Geralmente a C/N do resduo em decomposio tende a se
estabilizar em torno de 10:1, qaue a relao mdia do material humificado.
Para demonstrar estas relaes durante o processo de decomposio
da matria orgnica no solo, podemos tomar como exemplo a decomposio
de 100 kg de palha de milho incorporada ao solo, assumindo que o material foi
inteiramente seco. Conforme dados do quadro ( ), este material apresenta
96,75% de matria orgnica e 0,48% de nitrognio, originando assim, uma
relao C/N de 112/1. Deste modo, nos 100kg de palha de milho temos aprox.
54 kg de carbono. Assumindo que 70% deste carbono estar disponvel em 6
meses, pode-se concluir que aprox. 38 kg de carbono estaro disponveis para
decomposio. Cerca de 35% deste carbono, ou seja, aprox. 14 kg, so
utilizados para construo de biomassa microbiana. Se a relao C/N da
biomassa microbiana de 5 a 10/1, a utilizao dos 14 kg de carbono
demandam aprox. 2,0 kg de nitrognio. Os 100 kg do resduo apresentam
apenas 0,48 kg de nitrognio, gerando assim, um dficit de 1,5 kg de
nitrognio que devem ser suplementados pelo solo ou adicionados ao resduo
para que a decomposio ocorra a plena velocidade. A soluo mais prtica
neste caso, se combinar este resduo como outros resduos de relao C/N
mais estreita, na tentativa de se equilibrar o dficit de nitrognio, atravs da
tcnica de compostagem. Em resumo:
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2.2.2.2. O PROCESSO DE FORMAO DAS SUBSTNCIAS HMICAS
Apesar dos inmeros estudos j realizados sobre natureza
qumica e o processo de formao das substncias hmicas, pouco se
conhece sobre esta frao orgnica no diversos ambientes. Os principais
componetes j identificados da frao hmica so os cidos hmicos, cidos
flvicos e humina, isolados nos processos de separao qumica do hmus.
O que se considera como hmus, constitui em realidade, um polmero
resultante das combinaes destas fraes de acidos e humina, muitos deles
ligados entre si ao acaso, tornando-se prticamente impossvel a represntao
da sua estrutura exata. Esta , talvez, uma possvel explicao para a extrema
resistividade decomposio do hmus, pois a existncia desses polmeros
com ligaes extremamente variveis, impedem a atuao de enzimas
especficas para a sua hidrlise.
A teoria clssica de formao do hmus foi proposta por S.
Waksman (1932) enfatizando a origem do hmus atravs de modificaes da
lignina. Entretanto, estudos mais recentes tm mostrado a importncia de
outras substancias, tais como quinonas, compostos aminados e polifenois, na
formao do material humificado. Atualmente, consideram-se quatro rotas
principais (1 a 4) na formao do hmus, as quais devem ser consideradas
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conjuntamente. Estas rotas biossintticas esto esquematizadas na figura
seguinte:
Alguns detalhes destas rotas podem ser sumarizadas:
I. A noo de que o hmus derivado de acares vem dos primrdios da
investigao da qumica do hmus. De acordo com este conceito, os
acares redutores e aminocidos gerados como subprodutos do
metabolismo, poderiam sofrer polimerizaes no enzimticas at a
formao de produtos nitrogenados de cor escura. Algumas evidencias
para esta hiptese vem do fato de que durante a desidratao de certos
produtos orgnicos (alimentos) observa-se um certo escurecimento da
matria orgnica presente. Alm disto, atravs de estudos com carbono
marcado, verificou-se que grande parte do carbono (30-50%) de
monossacardeos adicionados ao solo podem ser incorporados
fraes hmicas.
II. Considera-se que as substncias hmicas poderiam ser geradas atravs
da formao de polifenis e quinonas como produtos intermedirios.
Este polifenis so sintetizados pelos microrganismos de fontes de
carbono no-lignnicas, tal como a celulose. Os polifenis so, logo em
seguida, oxidados no enzimaticamente at quinonas que seriam
convertidas at substncias hmicas.
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III. Nesta rota biossinttica, considera-se a lignina como a principal fonte de
carbono para o hmus atravs da formao de produtos de
decomposio da lignina que poderiam ser convertidos em quinonas.
Esta via biossinttica similar a anterior (II) enfantizando apenas que a
fonte de carbono para o hmus provem da lignina.
IV. Esta rota a proposta clssica da formao do hmus, * de acordo com
esta teoria, a lignina incompletamente utilizada pelos microrganismo e
a parte recalcitrante residum torna-se parte do hmus do solo. As
principais modificaes na lignina incluem a perda do radical metoxyl (--
OCH3) com a gerao de hidroxifenis e cadeias laterais alifticas com
formao de grupos --COOH. Este material modificado pode ento
sofrer alteraes desconhecidas produzindo inicialmente cido hmicos
e em seguida cidos flvicos.
As rotas biossintticas propostas em I e II formam as bases da teoria do
polifenol. Ao contrrio da teoria lignnica, matria prima consiste de compostos
orgnicos de baixo peso molecular, dos quais, so gerados as molculas
maiores atravs de condensaes e polimerizaes. Devemos ressaltar que,
talvez no exista uma nica teoria de formao do hmus, sendo bastante
razovel supor que estas quatro vias biossintticas postuladas, podem operar
em diferentes condies ambientais, variando apenas a intensidade de cada
uma delas.
Ciclo do Carbono
O carbono o elemento fundamental na constituio das molculas orgnicas. O carbono utilizado primariamente pelos seres vivos est presente no ambiente, combinado ao oxignio e formando as molculas de gs carbnico presentes na atmosfera ou dissolvidas nas guas dos mares, rios e lagos. O carbono passa a fazer parte da biomassa atravs do processo da fotossntese. Os seres fotossintetizantes incorporam o gs carbnico atmosfrico, transformando-se em molculas orgnicas. Os passos mais importantes do ciclo do carbono so:
O dixido de carbono na atmosfera absorvido pelas plantas e convertido em acar, pelo processo de fotossntese.
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Os animais comem as plantas e ao decomporem os acares liberam carbono na atmosfera, oceanos e solo.
Outros organismos se decompem, como as plantas e os animais, devolvendo carbono ao meio ambiente.
O carbono tambm trocado entre os oceanos e a atmosfera. Isto acontece em ambos os sentidos na interao entre o ar e a gua.
A importncia do ciclo do carbono na natureza pode ser melhor evidenciado pela estimativa de que todo o CO2 presente no ar, caso no houvesse reposio, seria completamente exaurido em menos de 20 anos, tendo em vista a fotossntese atual.
Nos processos de mineralizao das substncias carbonadas, com a conseqente reposio do CO2 atmosfera, tm revelante papel os microorganismos heterotrficos. Outra grande contribuio destes no ciclo de carbono o suprimento de CO2 ao solo, onde este gs funciona como um eficiente solvente na preparao de alimentos inorgnicos para as plantas, a partir de substncias minerais do solo.
O carbono absorvido pelas plantas, consideradas os produtores da cadeia trfica. Uma vez incorporado s molculas orgnicas dos produtores, poder seguir dois caminhos: ou ser liberado novamente para a atmosfera na forma de CO2, como resultado da degradao das molculas orgnicas no processo respiratrio, ou ser transferido na forma de molculas orgnicas aos animais herbvoros quando estes comerem os produtores (uma parte ser transferida para os decompositores que liberaro o carbono novamente para a atmosfera, degradando as molculas orgnicas presentes na parte que lhes coube).
Os animais atravs da respirao liberam atmosfera parte do carbono assimilado, na forma de CO2. Parte do carbono contido nos herbvoros ser transferida para os nveis trficos seguintes e outra parte caber aos decompositores e, assim, sucessivamente, at que todo o carbono fixado pela fotossntese retorne novamente atmosfera na forma de CO2.
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Emisso de Carbono na Atmosfera
O gs carbnico existente na atmosfera essencialmente originado pelo processo de respirao (79%). Pode ser gerado ainda pela queima de materiais orgnicos, combustveis fsseis (gasolina, querosene, leo diesel, xisto, etc) ou no (lcool, leos vegetais). Pode ainda ser resultado da atividade vulcnica.
Os solos ricos em matria orgnica em decomposio (pntanos) apresentam grande concentrao de CO2. O gs carbnico presente na atmosfera importante componente do efeito estufa, um fenmeno atmosfrico natural, que ocorre porque gases como o gs carbnico (CO2), vapor de gua (H2O), metano (CH4), oznio (O3) e xido nitroso (N2O) so transparentes e deixam passar a luz solar em direo superfcie da Terra. Esses gases porm, so praticamente impermeveis ao calor emitido pela superfcie terrestre aquecida (radiao terrestre). Esse fenmeno faz com que a atmosfera permanea aquecida aps o pr-do-sol, resfriando-se lentamente durante a noite. Em funo dessa propriedade fsica, a temperatura mdia global do ar prximo superfcie de 15C. Na sua ausncia, seria de 18C abaixo de zero. Portanto, o efeito estufa benfico vida no planeta Terra como hoje esta conhecida.
Desse modo, a questo preocupante a intensificao do efeito estufa em relao aos nveis atuais. Quanto maior a concentrao de gases estufa na atmosfera, maior ser a capacidade de aprisionar a radiao terrestre (calor) e maior ser a temperatura da Terra. O principal gs estufa o vapor de gua, porm sua concentrao muito varivel no tempo e espao. O CO2, segundo gs em importncia, tem causado polmica quanto quantidade emitida e principais locais e fontes de emisso, alm da necessidade de controle de emisses. Isso ocorre devido ao aumento de sua concentrao na atmosfera (cerca de 0,5% ao ano) e seu tempo de vida na atmosfera, que de at 200 anos. A necessidade de estabelecimento de protocolos de controle de emisses de gases estufa incontestvel (Protocolo de Kyoto, por exemplo), pois testar a hiptese do efeito estufa intensificado em um experimento com prprio Globo seria bastante arriscado.
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Floresta, Ciclo do Carbono e Alteraes Climticas
A concentrao de gases causadores do efeito de estufa aumentou
significativamente nos ltimos 200 anos. A minimizao deste problema
planetrio passa pela concertao de aces internacionais e, em boa medida,
por medidas de interveno florestal.
A humanidade expandiu-se na Terra durante o ltimo e mais recente
perodo da era quaternria - o Holoceno - em especial aps a ltima glaciao.
Quanto ao impacto na natureza, a presena do Homem distingue-se dos outros
animais pela capacidade de alterar o espao sua volta. O mundo, tal como o
conhecemos hoje, o resultado de milhares de anos de evoluo do
pensamento do Homo sapiens sapiens.
1.1. Importncia do problema - o efeito de estufa
As alteraes do clima so acontecimentos naturais que ocorrem desde
sempre. Durante o ltimo sculo, contudo, as alteraes registadas tm sido
mais pronunciadas do que em qualquer perodo registado at ao momento.
Uma das concluses do relatrio do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate
Change) de 1995 indica que estas alteraes so resultado de intensas
intervenes humanas sobre o meio natural com repercusses no clima e que
se reflectem a uma escala regional e global. Este organismo prev que as
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temperaturas mdias globais aumentem entre 1 e 3.5C at 2100 e que o nvel
mdio das guas do mar aumente entre 15 e 95 cm.
O aumento da concentrao dos gases de estufa na atmosfera, principalmente
o dixido de carbono, tem sido apontado como uma das principais causas
destas alteraes no clima, que tero impactes directos negativos sobre os
ecossistemas terrestres, nos diversos sectores socio-econmicos mundiais, na
sade pblica e na qualidade de vida das pessoas em geral. A camada
protectora da Terra, constituda por vapor de gua e gases de estufa como o
metano (CH4), o xido nitroso (N2O) e principalmente o dixido de carbono
(CO2), reflecte a radiao infravermelha emitida pela superfcie da terra
impedindo que parte desta seja perdida para o espao, tal como uma parede
de vidro numa estufa. Como consequncia d-se o aquecimento da superfcie
da troposfera.
Sendo um processo essencial para a manuteno de vida no planeta, o
efeito de estufa que ocorre naturalmente, impede que a superfcie da Terra se
torne excessivamente fria (cerca de 30C mais fria). O aumento da
concentrao de CO2 atmosfrico tem ocorrido de forma gradual desde a
ltima glaciao mas os fluxos de carbono aps a revoluo industrial tm
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vindo a aumentar a uma taxa nunca antes presenciada durante os ltimos mil
anos. O CO2 resulta da queima de matria orgnica e da respirao dos
animais e plantas. O grande aumento de CO2 na atmosfera resulta do facto
das emisses deste gs resultantes das actividades humanas (por exemplo, a
queima de combustveis fsseis - petrleo, carvo) no serem totalmente
compensadas pela assimilao fotossinttica do carbono na biosfera.
O cilco global do carbono
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A questo do efeito de estufa est portanto relacionada com as emisses
antropognicas (i.e. que resultam das aces humanas) de gases de estufa
(segundo o relatrio do IPCC de 1995) e tem preocupado a comunidade
cientfica, os governos e a opinio pblica, pelas repercusses directas e
indirectas nas sociedades e na economia mundial. Dada a incerteza na
definio de cenrios futuros, a comunidade cientfica tem investigado as
causas e consequncias do aumento destes gases no funcionamento do
sistema climtico. Tendo sido claramente demonstrado o aumento do CO2 na
atmosfera, tem havido um grande interesse no melhor conhecimento do ciclo
global do carbono. O carbono na Terra est essencialmente na forma de
compostos orgnicos e carbonatos ou sob a forma de gs (CO2) na atmosfera.
O ciclo do carbono consiste na transferncia deste elemento (via queima,
respirao, reaces qumicas) para a atmosfera ou para o mar e a sua
reintegrao na matria orgnica via assimilao fotossinttica. Na era pr-
industrial a concentrao de CO2 na atmosfera manteve-se estvel em
resultado do equilbrio entre as emisses e a assimilao. No entanto, durante
os ltimos 200 anos cerca de 405 +/- 30 gigatoneladas (gigatoneladas, 1012
kg) de Carbono foram libertadas para a atmosfera como resultado de :
- Queima de combustveis fsseis (carvo, petrleo e gs natural) e produo
de cimento (70%)
- Alteraes no uso do solo, principalmente destruio das florestas (30%)
Estas emisses adicionaram-se s que ocorriam naturalmente e, por no
serem compensadas totalmente pela assimilao fotossinttica, levaram ao
aumento da concentrao de CO2 na atmosfera. Em comparao com o
perodo pr-industrial, este aumento foi de cerca de 30%.
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.4. Stocks de Carbono na terra - armazenamento no curto e longo prazo
O oceano, a vegetao e o solo so importantes reservatrios que
trocam activamente Carbono com a atmosfera. A concentrao de Carbono na
atmosfera de 775 Gt. O oceano contm 50 vezes mais carbono do que a
atmosfera e a vegetao e o solo cerca de 3 vezes e meia mais.
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A dinmica do ciclo de Carbono muito varivel, quer no espao quer
no tempo. As emisses de carbono so influenciados por factores de origem
humana e natural. Por exemplo, uma erupo vulcnica de grandes dimenses
pode fazer aumentar temporariamente a concentrao de Carbono na
atmosfera. muito importante ter presente que apesar de alguns sistemas
naturais constiturem grandes reservatrios de Carbono (como o oceano), a
dinmica do seu ciclo sobretudo controlada pelos sistemas que tm
capacidade de o trocar activamente com a atmosfera, como o caso da
vegetao e do solo. J o oceano tem baixa capacidade de sumidouro porque
a molcula de CO2 no se dissolve facilmente na gua e grande parte dos
oceanos tem uma baixa produtividade de matria orgnica (isto , as plantas
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que a vivem, por exemplo algas, so poucas e com a fotossntese limitada
pela falta de nutrientes e pela fraca penetrao da luz). Por outro lado, a
fotossntese que ocorre nas plantas terrestres responsvel pela reteno de
carbono atmosfrico no material vegetal e, eventualmente, na matria orgnica
no solo. Assim, claro que ecossistemas com grande biomassa e com o solo
pouco perturbado, como as florestas, retm o carbono numa escala temporal
muito maior, na ordem de dcadas e sculos.
Esta capacidade de reteno e armazenamento do Carbono pelas florestas a
longo prazo, representa um dos pontos importantes no debate no ciclo global
do Carbono e nos impactes das alteraes climticas, de tal forma que est
previsto no Protocolo de Quioto. O artigo 3.3 e 3.4 do Protocolo de Quioto
(UNFCCC) considera que as fontes e os sumidouros de Carbono
(nomeadamente as florestas) podem ser contabilizadas para cumprir os
objectivos a que os pases signatrios se comprometem no perodo de 2008-
2012.
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1.5. Importncia do problema - o sector agro-florestal (Fontes e
Sumidouros)
Como vimos, para alm das emisses de CO2 pela indstria e pelo sistema de
transportes, as alteraes de uso do solo, nomeadamente a transformao de
florestas em zonas agrcolas, constituem uma fonte lquida de CO2 para as
atmosfera a nvel global. Estima-se que cerca de 20% da floresta desapareceu
durante os ltimos 140 anos em resultado da converso de floresta em
agricultura, para satisfazer as necessidades alimentares de uma populao em
crescimento (na ordem do bilio por dcada). A explorao intensiva de
culturas agrcolas, que tm uma baixa taxa de reteno de Carbono, a que se
junta o crescente uso de fertilizantes, so tambm responsveis pelo aumento
dos gases de estufa CH4 e NO2 na atmosfera. A floresta, em contrapartida,
pode acumular, a longo prazo, grandes quantidades de Carbono, quer no
material vegetal, quer na matria orgnica do solo. As florestas so assim, em
larga medida, o reservatrio de Carbono mais importante da biosfera em
termos globais. Uma reduo global da rea destes ecossistemas naturais ter
impactes negativos sobre a capacidade de sumidouro da biosfera.
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2. Algumas questes pertinentes: Incertezas do futuro.
O aumento das emisses de gases de estufa e respectivas consequncias
sobre as alteraes globais do clima so questes recentes que preocupam a
sociedade e a comunidade cientfica. Predominam incertezas associadas
modelao do sistema climtico, na definio de padres de alterao no
espao e no tempo. H poucas dvidas quanto ocorrncia de alteraes
climticas. Os modelos climticos que existem actualmente s conseguem
prever padres de alterao escala continental. As consequncias prticas
do aquecimento global para um pas ou regio em particular ainda
permanecem uma incgnita.
As incertezas que persistem tm gerado divergncias de opinies entre os
pases, principalmente no que diz respeito definio e adopo de estratgias
de adaptao e mitigao. Algumas questes permanecem em aberto:
- PROBLEMA DO "EFEITO DE RUDO"
Um dos principais problemas com que se debatem os cientistas o facto de
no existir uma forma directa de observar o que teria acontecido ao clima se
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no tivessem ocorrido influncias da aco humana. Desta forma, no existe
maneira de comparar as presentes alteraes verificadas, com um possvel
"efeito de rudo" causado por uma variabilidade climtica natural.
"SOURCES" E "SINKS" TERRESTRES : COMPORTAMENTO NO ESPAO E
NO TEMPO
Dada a dificuldade de previso do comportamento das fontes e
sumidouros (sources e sinks) dos ecossistemas da Terra num espao temporal
de 100 anos, pode especular-se sobre vrios cenrios para o ciclo de carbono
terrestre. contudo difcil prever, com margem de erro razovel, o que ir de
facto acontecer. Como iro reagir as principais fontes e sumidouros de carbono
face s alteraes climticas? Sabe-se, por exemplo, que as florestas no s
representam o principal reservatrio de carbono como respondem
positivamente ao aumento de concentrao de CO2 atmosfrico, atravs de
aumentos nas taxas de crescimento (veja-se o que tem acontecido nas
florestas do norte e centro da Europa, com aumentos substanciais de
produtividade em consequncia do aumento de CO2, aquecimento e deposio
de azoto). Mas, at que ponto o aumento da rea e da produtividade florestais
pode compensar o aumento nas emisses antropognicas de CO2? Sem
dvida que as aces de florestao/reflorestao tero que respeitar outros
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princpios inerentes qualidade ambiental (por exemplo, manuteno dos
recursos hdricos e da biodiversidade).
- CRESCIMENTO DA POPULAO E ECONOMIA MUNDIAL vs
ESTRATGIAS DE ADAPTAO E MITIGAO
As alteraes da composio da atmosfera e dos ciclos biogeoqumicos, como
o do carbono, esto muito dependentes do crescimento da populao e do
desenvolvimento econmico e tecnolgico. Face ao crescimento demogrfico e
expanso da economia mundial, necessrio adoptar medidas no que
respeita eficincia de utilizao da energia, e proceder a alteraes noutros
sectores da economia, de modo a limitar as emisses de CO2 e a aumentar a
capacidade de sumidouro da biosfera atravs da preservao e aumento das
reas florestais. Por outro lado, parece necessrio desenvolver
simultaneamente estratgias de adaptao s alteraes climticas e de
cooperao na investigao cientfica. Redues significativas nas emisses
lquidas de gases de estufa so tecnicamente possveis, usando um conjunto
de polticas e medidas que acelerem o desenvolvimento e a transferncia de
tecnologia. A ratificao do protocolo de Quioto que dever ocorrer, na melhor
das hipteses, em 2002 representar certamente um progresso na reduo das
emisses. Se algum dia ele for posto em prtica !.
Perda de carbono causar aumeto da temperatura da Terra, diz estudo
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Um dos piores pesadelos dos climatologistas que o aquecimento
global cause a liberao dos imensos estoques de carbono guardados nos
solos, o que provocaria um aumento acelerado das temperaturas do planeta.
Pois bem: isso j est acontecendo, revela hoje um estudo britnico.
A maior e mais detalhada medio do contedo de carbono dos solos,
realizada entre 1978 e 2003 na Inglaterra e no Pas de Gales, mostra que s
nesse perodo o cho do Reino Unido perdeu, em mdia, 13 milhes de
toneladas de carbono por ano.
Como o efeito independe do tipo de uso do solo -quer dizer, ele foi verificado
tanto em terras usadas para a agricultura quanto em pntanos, florestas e
campos naturais-, os autores do estudo atribuem a emisso ao aquecimento
global. No ltimo sculo, a temperatura mdia global subiu 0,7C. No Reino
Unido, esse aumento foi de 0,5C.
"Os micrbios no solo ficam mais ativos em temperaturas mais altas. medida
que a temperatura sobe, o ciclo do carbono no solo acelera", disse Guy Kirk,
pesquisador da Universidade de Cranfield, na Inglaterra. Ele co-autor do
estudo, publicado hoje no peridico cientfico "Nature" (www.nature.com).
Kirk e seus colegas dizem no saber o destino final do carbono que
estava contido no solo. Mas a maior parte, afirmam os cientistas,
provavelmente foi para a atmosfera em forma de dixido de carbono (CO2),
gs que o principal causador do efeito estufa.
O dado preocupante, por vrias razes. Primeiro, os solos so um
reservatrio imenso de CO2: estima-se que eles armazenem 2 trilhes de
toneladas de carbono, ou 300 vezes a quantidade lanada no ar todos os anos
por atividades humanas como o desmatamento e a queima de combustveis
fsseis. A ltima coisa que algum iria querer seria "destampar" esse
reservatrio, pois isso significaria muito mais dixido de carbono na atmosfera -
o que, por sua vez, significaria temperaturas ainda mais altas, que causariam a
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liberao de ainda mais CO2 e assim por diante. Esse mecanismo tem o nome
de "feedback" positivo, e causa arrepios nos cientistas.
Efeito global
Depois, os dados de Kirk e seus colegas de Cranfield
derrubam uma srie de mitos sobre a estabilidade do chamado carbono
orgnico do solo (SOC, na sigla em ingls). "Perdas consistentes de SOC
ocorreram independentemente das propriedades do solo, o que desafia nosso
conhecimento sobre a estabilidade do SOC", escrevem Detelf Schulze e
Annette Freibauer, do Instituto Max-Planck de Biogeoqumica (Alemanha), em
comentrio ao estudo na mesma edio da "Nature".
A situao fica ainda pior considerando que muitos cientistas achavam
que os solos podiam servir como "ralos" ou sorvedouros para o gs carbnico
em excesso produzido pela humanidade.
Por fim, nada indica que o vazamento desse reservatrio de carbono seja um
fenmeno restrito s ilhas britnicas. "Nossos achados mostram que perdas de
carbono pelos solos no Reino Unido e, por inferncia, em outras regies
temperadas, esto provavelmente compensando a absoro por sorvedouros
terrestres", escreveram os autores.
Kyoto inutilizado
O estudo envolveu um trabalho penoso de colher amostras de solo em
milhares de pontos do Reino Unido e analisar seu teor de carbono. A
amostragem foi repetida trs vezes, para que as tendncias pudessem ser
estabelecidas.
As implicaes polticas da pesquisa so diversas, e comeam em casa.
Primeiro, o fator solo joga literalmente por terra todo o esforo britnico de
reduzir suas emisses de gases-estufa em relao aos nveis de 1990, como o
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pas se comprometei a fazer pelo Protocolo de Kyoto. De 1990 a 2002, as
redues britnicas chegaram a 12,7 milhes de toneladas de CO2 por ano.
Segundo Shulze e Freibauer, isso "pe o sucesso do Reino Unido em reduzir
emisses sob uma perspectiva diferente".
Depois, a prpria contabilidade das emisses globais de gases de efeito
estufa deve precisar mudar -e para patamares de reduo muito mais
elevados- j que, por Kyoto, nenhum pas obrigado a contabilizar as
mudanas no estoque de carbono do solo.
Soja a planta que mais causa emisso de carbono na agricultura
A principal fonte de poluio da atmosfera a queima de combustveis
fsseis, responsvel por mais de 60% da emisses de dixico de carbono
(CO), substncia responsvel por danos ambientais como o aquecimento
global e problemas respiratrios. Em segundo lugar na emisso de CO est a
agricultura, tanto pelo uso de combustveis na mecanizao quanto pelas
tcnicas de manejo do solo.
Neste contexto, a soja uma das culturas que mais dependem da
concentrao de carbono no solo, ao mesmo tempo em que aparece como a
maior causa de emisso de CO na agricultura. A informao foi divulgada pelo
pesquisador do Departamento de Agricultura Americano (Usda), Don Reicosky,
na VII Conferncia Mundial da Soja que termina amanh, em Foz do Iguau
(PR).
O carbono (C) um nutriente natural do solo, cuja funo garantir a
ciclagem dos componentes fsicos, qumicos e biolgicos que servem de
alimento s plantas durante todo o desenvolvimento vegetativo. A conservao
do carbono no solo garante uma menor demanda por insumos, maior reteno
da gua e menor compactao. "O carbono funciona como uma esponja que
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minimiza os impactos na compactao. A estrutura do solo sofre a presso,
mas volta ao seu estado normal em pouco tempo", avalia Don Reicosky.
No processo de fotossntese das plantas, o oxignio (O) chega ao solo,
aumentando a atividade microbiana. A unio C + O resulta na produo de
CO, substncia eliminada gradativamente na decomposio das plantas.
Contudo, a sincronia perfeita da natureza na sustentabilidade do sistema
afetada pela interveno do homem, usando tcnicas agrcolas que aceleram a
emisso de CO. "Na revirada do solo para descompactao e plantio,
procedimento comum na agricultura convencional, h uma decomposio muito
rpida da matria orgnica (restos culturais que ficaram na ltima colheita). A
emisso de CO durante o revolvimento do solo semelhante queima pelo
fogo, com alta poluio atmosfrica, s que de maneira no visvel. O carbono
no algo palpvel como a gua, e essa uma das restries ao
reconhecimento da importncia deste problema" , diz Reicosky.
Segundo ele, a soja causa efeitos dramticos no solo, j que se decompe
mais rapidamente do que qualquer outra cultura. "Na remoo do solo, a soja
representa um valor 24 vezes maior de perda de carbono. No solo sem plantio,
a perda de carbono e emisso de CO fica em 100%; no trigo, de 196%, mas
na soja, essa perda representa 264% ", contabiliza Reicosky. Sem carbono no
solo, preciso investir em insumos. Nos clculos do pesquisador, so
necessrias 10 unidades de carbono para produzir uma unidade de nitrognio
(N), e para gerar uma unidade de fsforo (P), so consumidas 60 unidades de
carbono. "O carbono muito importante para manter a biodiversidade e a
fertilidade do solo".
Como se no bastasse, a soja ainda tem menor capacidade de infiltrao
de gua em relao a outras culturas, gerando uma eroso de 778 quilos de
solo por hectare ao ano (no milho de 350 kg/ha). "Estudos mostram que a
perda de carbono implica na reduo de gua no solo, prejudicando o
desenvolvimento da soja", diz Don Reicosky.
Para Don Reicosky, os solos brasileiros so muito deficientes em
nutrientes, com os produtores mais preocupao em manter os benefcios do
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carbono no solo do que com a questo ambiental da emisso de CO. "Os
produtores brasileiros no esto mais conscientes da conservao do que os
norte-amercianos. O que existe a necessidade de cuidados especiais, j que
nos pases tropicais chove mais, resultando na lixiviao dos nutrientes do
solo". (Ascom Embrapa)