capitulo 13

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CAPÍTULO 13 EVOLUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL Prof. Alfredo Fonceca Peris 1 Prof. Eliezio Goulart Braga 2 1 Docente do Curso de Ciências Econômicas da UNIOESTE-Campus de Cascavel. 2 Docente do Curso de Ciências Econômicas da UNIOESTE-Campus de Cascavel.

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  • CAPTULO 13

    EVOLUO E CARACTERIZAO DO

    SISTEMA EDUCACIONAL

    Prof. Alfredo Fonceca Peris1 Prof. Eliezio Goulart Braga2

    1 Docente do Curso de Cincias Econmicas da UNIOESTE-Campus de Cascavel. 2 Docente do Curso de Cincias Econmicas da UNIOESTE-Campus de Cascavel.

  • 419

    13.1 INTRODUO

    Este captulo trata da educao na Regio Oeste do Paran, desde as primeiras

    iniciativas at os dias atuais. Como o processo educacional de uma regio no ocorre de

    forma desvinculada do contexto estadual e nacional onde ela est inserida, necessrio se faz,

    em primeiro lugar, compreender como iniciou e evoluiu a educao, no Brasil, desde a

    chegada dos primeiros educadores, contemplando a filosofia sobre a qual estava

    fundamentada esta instruo, at nossos dias.

    Na Contextualizao da educao, no Brasil, foi resgatada a histria da instruo

    oferecida aos brasileiros, a comear pelas primeiras aulas dadas pelos Jesutas aos indgenas,

    passando pelos perodos da histria relevantes ao desenvolvimento da educao,

    contemplando como surgiram e a quem se destinavam as primeiras escolas, qual a

    participao do setor pblico no oferecimento desta instruo e a quais classes sociais esta

    educao beneficiou, ao longo do tempo, at hoje. Alm disso, foi demonstrado para quais

    objetivos se orientava a educao nos diferentes perodos histricos.

    Em segundo lugar, se fez necessrio compreender o processo educacional,

    inicialmente da Provncia do Paran e, posteriormente, do Estado do Paran, passando,

    inclusive, pelo perodo que antecedeu criao da Provncia do Paran, em 1853. Nesta parte,

    a anlise feita passou pelos mesmos pontos trabalhados na questo da educao nacional,

    focalizando os perodos marcantes, as partes interessadas neste processo educacional, quais os

    benefcios e beneficiados por este processo e como o poder pblico atuou na rea educacional.

    Nesta parte do trabalho, especificamente, foi identificada onde surgiram as primeiras

    escolas e como elas se desenvolveram. Qual era a participao do poder e de que forma era

    trabalhada e avaliada a instruo pelo Estado, mostrando a presena dos supervisores de

    ensino que, desde o incio do processo educacional, no Estado do Paran, j percorriam as

    casas escolares verificando as reais condies da instruo oferecida populao paranaense.

    Ressaltou-se, tambm, a importncia do surgimento das escolas dos colonos, descendentes de

    imigrantes europeus, que se instalaram no Paran, focalizando a sua influncia para a

    educao no Estado e sua relao com o poder pblico.

  • 420

    Tratando, especificamente, do objetivo deste trabalho: a educao na Regio Oeste do

    Paran, a discusso foi mais longa e, basicamente, realizada sobre a Tese de Mestrado do

    professor Ivo Oss Emer, um dos poucos autores a abordarem a questo da educao na Regio

    Oeste do Paran, desde as primeiras iniciativas at o fim da primeira metade da dcada de

    1980.

    A discusso comeou com as primeiras experincias na rea educacional, em Foz do

    Iguau, que se constituiu no primeiro ponto de ocupao desta Regio. E prosseguiu com o

    surgimento e desenvolvimento das atividades educacionais nos demais pontos de ocupao

    existentes na Regio, poca.

    Com a chegada dos descendentes de imigrantes europeus, na Regio Oeste do Paran,

    no final da dcada de 1950 e incio da dcada de 1960, surgiu uma nova modalidade de

    escolarizao: a escola dos colonos, que no esperavam pelo poder pblico, mas, sim,

    construam a escola e contratavam o professor.

    Analisou-se, tambm, de que forma esta modalidade de escolarizao foi substituda e

    como evoluiu a educao na Regio Oeste do Paran, baseado nas reivindicaes da

    populao por uma educao de qualidade. Assim, demonstrou-se a evoluo da educao at

    o fim da primeira metade da dcada de 1980. A partir do incio da segunda metade da dcada

    de 1980, at os dias atuais, a anlise foi efetuada com base nos levantamentos realizados,

    incluindo as entrevistas realizadas durante a pesquisa.

    Com base nos dados sobre a educao na Regio Oeste do Paran e nas entrevistas

    feitas com docentes, diretores de escolas, secretrios municipais de educao, entre outros, foi

    realizado o diagnstico sobre a situao atual da educao, em nvel regional, desde a pr-

    escola at o ensino superior. Estes dados foram levantados junto aos rgos responsveis pela

    educao, tais como: SEED, instituies de ensino superior, CEFET, Secretarias Municipais

    de Educao, FUNDEPAR, INEP, NRE, MEC, entre outros.

  • 421

    13.2 CONTEXTUALIZAO DA EDUCAO

    13.2.1 NO BRASIL

    A educao, no Brasil, comeou com os jesutas, poucas dcadas aps o

    descobrimento. Eles tinham como objetivo inicial catequizar os ndios e, mais tarde,

    estenderam essa instruo aos brancos e mestios.

    Segundo XAVIER (1980), nos dois primeiros sculos de colonizao brasileira os

    Jesutas foram os nicos educadores que existiam na colnia. Preocupados com a difuso da

    f e com a educao de uma elite religiosa criaram, no Brasil Colnia, um sistema

    educacional que, em ltima instncia, fornecia aos elementos das classes dominantes uma

    educao clssica e humanista, como era o ideal europeu da poca.

    De acordo com os estudos de BERGER (1980), a educao fornecida pelos Jesutas

    buscava transplantar de Portugal para a colnia a cultura dominante da poca. O Brasil

    colonial contou com esse sistema educacional organizado pelos Jesutas at 1759, quando sob

    influncia do iluminismo europeu, o ministro portugus Marques de Pombal expulsou os

    Jesutas de Portugal e de suas provncias ultramarinas, encerrando a educao por eles

    oferecida.

    A expulso dos Jesutas acarretou a paralisao total das atividades educacionais at

    ento desenvolvidas. Ao contrrio do que se poderia esperar, essa expulso no foi sucedida

    por uma reforma do ensino, que contemplasse um novo sistema educacional. O que ocorreu

    sim, foi uma interrupo temporria de todo o sistema educacional at ento desenvolvido. Os

    bens dos Jesutas foram confiscados e suas escolas foram fechadas.

    Com o financiamento e a administrao a cargo do governo metropolitano, a educao

    colonial ficou restrita a algumas poucas Escolas e Aulas Rgias, insignificantes em nmero,

    qualidade e resultados. Estas funcionavam mal, valendo-se de professores inaptos e sem

    currculo regular, segundo XAVIER (1980).

  • 422

    De acordo com BERGER (1980), as conseqncias dessa poltica foram desastrosas

    para o Brasil, que no pode beneficiar-se da modernizao do sistema educacional visado por

    essa poltica, pois, a metrpole no dispunha de meios eficientes para orientar e fiscalizar as

    novas escolas a serem criadas na colnia. Somente depois de uma dcada foram criadas as

    primeiras Escolas e Aulas Rgias nas maiores cidades, lecionando Latim, Grego e Retrica.

    A introduo da figura do Diretor de Estudos, na colnia, foi mais uma tentativa

    implementada pela metrpole para instituir um sistema educacional mais eficiente, mas que

    tambm no proporcionou bons resultados. Em suma, o estado fracassou ao tentar substituir o

    sistema educacional jesutico. Em parte isso ocorreu por no existir interesse em equipar a

    colnia com um sistema educacional eficiente.

    Com a transferncia da Corte Portuguesa, em 1808, ocorreu um novo perodo na

    histria educacional do Brasil. Ocorreu a instalao da primeira imprensa e a abertura das

    bibliotecas pblicas. Algumas escolas tcnicas foram abertas. Surgiu, neste perodo, a

    primeira escola vocacional, transformando um pouco a paisagem escolstica do sistema

    educacional brasileiro.

    Mesmo assim, de acordo com XAVIER (1980), o Brasil estava, por ocasio da

    independncia, destitudo de qualquer forma organizada de educao escolar. Somente aps a

    Proclamao da Independncia, em 1822, iniciou-se uma nova fase de debates e projetos que

    visavam a estruturao de um sistema nacional de educao.

    D. Pedro I reconheceu a necessidade de uma legislao especfica sobre a instruo

    pblica. Assim sendo, convocou a Assemblia Constituinte e Legislativa de 1823. Muito se

    discutiu a respeito, mas pouco se fez concretamente pela educao dos jovens brasileiros, pois

    a Assemblia foi destituda antes mesmo da aprovao das leis, segundo XAVIER (1980).

    Na Constituio de 1823, outorgada por D. Pedro I, que vigorou durante os 65 anos do

    Imprio, ficou estabelecido que: a instruo primria deveria ser gratuita para todos os

    cidados e previa a existncia de colgios e universidades. Mas no garantiu a prestao

    deste servio por parte do Estado. Desta forma, garantiu-se a dominao das oligarquias rurais

  • 423

    que tinham acesso educao e davam sustentao ao Estado, excluindo os demais segmentos

    da sociedade, de acordo com EMER (1991).

    Segundo BERGER (1980), a lei sobre a escola primria gratuita foi um fracasso por

    falta de meios tcnicos e financeiros. A criao das faculdades destinava-se a colocar

    disposio dos nobres uma instituio de educao elitista.

    De acordo com EMER (1991), essa foi a primeira legislao que disps sobre

    instruo pblica no Brasil. Esta se manteve at 1930, como nica lei nacional sobre

    educao, sofrendo apenas algumas alteraes no decorrer do perodo. Na poca em que foi

    promulgada a Constituio Imperial (1823), o modo de produo dominante era a agricultura

    cafeeira baseada no sistema escravista, em que a sociedade era dominada pelos Bares do

    caf. Esses bares detinham o poder e atravs de seus bacharis aprovavam as leis de seus

    interesses, mantendo, assim, o sistema de produo e dominao, no se interessando pela

    educao do povo, em geral.

    Segundo XAVIER (1980), a educao pblica e a legislao posterior Independncia

    do Brasil, se transformaram num eficiente instrumento de manuteno da estrutura colonial

    dependente, pois estava impregnada com a cultura dos pases dominantes, aos quais no

    interessava a autonomia econmica e cultural do Brasil.

    Conforme EMER (1991), um modesto projeto de lei sobre educao foi aprovado em

    1827. Esse projeto propunha apenas a criao de Escolas de Primeiras Letras, aqum das

    Escolas Primrias, previstas na Constituio. Nem o Estado, nem a oligarquia rural

    dominante estavam interessados em implantar um sistema nacional de ensino para uma

    sociedade rural e escravista. Foram criadas escolas secundrias somente onde existiam escolas

    de nvel superior, s quais, com raras excees, somente os filhos dos bares tinham acesso.

    Segundo WACHOWICZ (1984), a educao escolar, no Brasil, passou a ter sua

    estruturao como um encargo do Estado, num perodo histrico em que a sociedade

    brasileira manifestava caractersticas de transformao em seu modelo econmico, em

    meados do sculo XIX. As relaes de produo da vida social ainda se realizavam

    predominantemente num contexto agrrio e comercial, enquanto que, nas primeiras dcadas

  • 424

    do sculo XX, observavam-se manifestaes modernizadoras na sociedade brasileira,

    especialmente a partir da dcada de 1920, na direo de um capitalismo cujas foras de

    produo vieram a exigir relaes que se realizaram, predominantemente, num contexto

    urbano-industrial.

    Segundo BERGER (1980), a partir de 1934, atravs do Ato Adicional, as provncias

    passaram a ser responsveis pela escola primria e secundria, ficando a escola de nvel

    superior a cargo do governo central.

    O Ato Adicional, de 1934, atribuiu s Assemblias Legislativas Provinciais, legislar

    sobre o ensino primrio e secundrio, em seus territrios, reservando ao Governo Federal,

    apenas a responsabilidade sobre o ensino superior.

    Mas a falta de preparo e de recursos tcnicos, financeiros e humanos por parte das

    provncias, para assumir esse encargo, provocaram mais uma estagnao do sistema

    educacional brasileiro.

    At o incio do sculo XX, apenas alguns segmentos da sociedade civil demonstravam

    preocupao com a educao, como a igreja, por exemplo. A partir da industrializao,

    surgiram os sindicatos de trabalhadores, que buscavam na educao uma oportunidade de

    melhorar sua qualificao em busca de uma melhor colocao no mercado de trabalho.

    Aproveitando-se desta situao de abandono do sistema educacional pelo Estado, a

    iniciativa privada, entre 1860 e 1890, atingiu o primeiro auge nas escolas secundrias. Dentre

    essas escolas encontravam-se os Jesutas, que haviam retornado em 1842. Surgiram outros

    internatos para rapazes, as primeiras escolas para meninas, escolas protestantes metodistas e

    presbiterianas, que colocaram pela primeira vez em uma mesma sala meninas e meninos.

    Essas escolas difundiram pelo Brasil os ideais pedaggicos americanos, segundo BERGER

    (1980).

    BERGER (1980), diz que a reforma educacional de 1889 tinha um contedo

    positivista e pela primeira vez as cincias naturais passaram a integrar o currculo obrigatrio

    da escola primria. Iniciou-se o estudo da lgebra, da geometria e da fsica nas escolas

  • 425

    secundrias. Em 1901, essa reforma foi absorvida por outra, que transformou a escola

    secundria, simplesmente, em curso preparatrio para a escola superior. Isto vigorou por dez

    anos, quando outra reforma concedeu s escolas secundarias e superiores, autonomia quase

    que ilimitada. Todavia, esta reforma foi invalidada por outra, quatro anos mais tarde.

    O autor afirma, ainda, que a Unio era responsvel pela educao superior. Os Estados

    eram responsveis pela educao normal e tcnica e os municpios eram responsveis pela

    educao primria. Para administrar as questes educacionais, em 1890, o estado criou o

    Ministrio de Educao e Correios e Telgrafos. Este ministrio foi extinto menos de um ano

    depois, repassando para o Ministrio da Justia os assuntos educacionais.

    Com a Proclamao da Repblica, em 1889, uma nova constituio foi elaborada.

    Segundo EMER (1991), a primeira Constituio Republicana, de 1891, foi omissa em relao

    ao ensino e educao.

    A ltima reforma deste perodo ocorreu em 1925, com o objetivo de reformular a

    fiscalizao escolar e fixar a centralizao administrativa do sistema escolar brasileiro. No

    perodo entre 1889 e 1930, o sistema educacional no passou de uma seqncia frustrada de

    experincias reformistas.

    No perodo que se seguiu, o sistema educacional brasileiro foi influenciado

    diretamente por fatores como industrializao, urbanizao, populismo, despertar nacional,

    Revoluo de 1930 e, pela primeira vez na histria brasileira, o incipiente processo de

    democratizao trouxe consigo uma abertura das chances educacionais para camadas

    populacionais mais amplas, segundo BERGER (1980).

    De acordo com EMER (1991), a Constituio Republicana, de 1934, reconheceu a

    educao como direito de todos, mas relutava em transform-la em dever do Estado. Delegava

    s indstrias e s empresas agrcolas a tarefa de proporcionar ensino primrio gratuito a seus

    empregados analfabetos. Estabelecendo, ainda, que a educao seria ministrada pela famlia e

    pelos poderes pblicos.

  • 426

    Segundo BERGER (1980), com a redemocratizao do Brasil, em 1945 e, com a nova

    Constituio, de 1946, reiniciou-se os debates em torno da teoria e da poltica educacional, no

    Brasil. Simultaneamente, discutiu-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional,

    prevista na Constituio de 1934. Este clima de discusso durou at 1961. Na primeira fase,

    as discusses giraram em torno da centralizao ou descentralizao do sistema educacional.

    A segunda fase concentrou os debates no problema do monoplio educacional estatal ou

    privado.

    Para BERGER (1980), a escola que se desenvolveu neste perodo no satisfazia a nova

    realidade resultante da rpida urbanizao e industrializao da dcada de 1950, pois a

    educao continuava desvinculada dos problemas prticos, sem referncia ao mundo do

    trabalho.

    Embora a lei aprovada em 1961 no tenha correspondido s necessidades do Pas,

    pode-se constatar que os longos debates e discusses desempenharam um papel

    conscientizador muito importante e a educao deixou de ser preocupao de um grupo

    restrito de especialistas, para tornar-se, tambm, uma preocupao do povo. Ento, a oferta

    educacional tornou-se um tema poltico e, desta forma, escolas foram construdas em muitos

    pontos do Pas. Contudo, no existiu a preocupao com a qualidade do ensino oferecido, com

    a formao dos professores e com os meios para financiar a educao.

    Segundo BERGER (1980), no perodo entre 1946 e 1961, o sistema escolar e

    educacional nacional sofreu transformaes tanto formalmente quanto em seu contedo, tais

    como: a equiparao dos cursos de nvel mdio, a federalizao de todas as universidades

    estatais, as fundaes de organizaes de fomento pesquisa (CNPq) e de preparo formao

    de cientistas (CAPES). Expandiu-se, quantitativamente, de forma mais significativa, o ensino

    mdio. Mas este ensino continuava atendendo aos interesses das camadas superiores, sem se

    preocupar com as reformas indispensveis.

    Os estudos de BERGER (1980), apontaram que, finalmente, em 1961, foi assinada a

    Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Com a crise poltica e econmica do incio

    da dcada de 1960, a situao do sistema educacional, tambm, era explosiva. Partidos

    polticos, sindicatos e estudantes exigiam uma reforma de base na educao brasileira.

  • 427

    Trabalhou-se, efetivamente, na reforma universitria. Iniciou-se uma campanha contra o

    analfabetismo e, em torno de Paulo Freire, se formaram grupos de trabalho que

    desenvolveram um novo mtodo de alfabetizao, adaptado s necessidades da populao

    brasileira.

    Estas medidas sofreram uma interrupo com o golpe militar de 1964. O Governo

    Militar assumiu o poder e afastou, ideologicamente, todas as tentativas e projetos anteriores,

    usando, inclusive, o uso da fora em alguns casos, dando novos rumos ao sistema

    educacional. Guardadas suas peculiaridades, todos os Governos Militares deram certa

    prioridade ao sistema educacional, conforme ser visto a seguir.

    De acordo com BERGER (1980), foi realizado o primeiro Censo Escolar, em 1964,

    com todas as crianas que nasceram entre 1950 e 1964, fornecendo base factual e segura para

    o planejamento de um programa de alfabetizao. Em 1967, foi criada a Fundao Mobral

    que deveria programar, orientar e financiar uma campanha intensa de alfabetizao de

    adultos. Criou-se um grupo de trabalho para adaptar a escola de nvel mdio s exigncias

    econmicas do Pas, criando o ginsio polivalente, atravs da introduo de disciplinas

    voltadas prtica.

    Transformou-se o sistema escolar, de forma que a escola primria fosse completada,

    estruturalmente, pelo primeiro ciclo da escola de nvel mdio. A durao da escola de 1 grau

    passou para 8 anos, dos quais os quatro ltimos anos deveriam propiciar uma viso terica e

    prtica do mundo das ocupaes. A escola de 2 grau deveria, a partir desse momento,

    dedicar-se formao profissional de seus educandos.

    O planejamento oficial, para o perodo de 1972 a 1976, coincidindo com o I e II

    Programa Nacional de Desenvolvimento (PND), demonstrou, claramente, os fins que a

    educao deveria atingir. Pois ela passou a se constituir numa das prioridades no campo

    social, alm de ser entendida como fator de aumento de produtividade dos recursos humanos,

    de acordo com os estudos de HOFF (1991).

  • 428

    Para SCHRADER (1973), o sistema escolar espelha as condies de vida da

    populao na qual nasce, para qual existe e um espelho da situao geogrfica, poltica,

    econmica e social desse povo.

    No perodo de 1950 a 1980, pode-se verificar uma melhora considervel nos ndices

    de alfabetizao, em conseqncia das mudanas ocorridas em nvel macroeconmico e

    social, contemplando a expanso das atividades industriais, crescimento econmico e

    urbanizao acelerada e, em parte, por aes especficas, destinadas a reduzir as taxas de

    analfabetismo atravs do MOBRAL - na dcada de 1950, reduzindo de 25%, em 1970, para

    16%, em 1980, o ndice de analfabetismo entre a populao com idade entre 15 e 24 anos,

    segundo o Ministrio da Educao e Cultura (1991).

    13.2.2 NO PARAN

    A histria da educao, no Paran, comeou com a criao da Provncia do Paran, em

    1853. A partir deste ano, coube Provncia implantar suas escolas e desenvolver a educao.

    As escolas primitivas espelhavam as relaes sociais impostas pela oligarquia campeira que

    detinha a hegemonia poltica, no perodo provincial.

    Segundo WACHOWICZ (1984), quando o Paran foi elevado categoria de

    provncia, a populao era diminuta e rarefeita, com 52.069 habitantes livres e 10.189

    escravos, totalizando 62.258 pessoas. Como os escravos eram proibidos de freqentarem a

    escola e o limite de idade para matrcula era entre 06 e 14 anos, existia 5.676 meninos e 4.709

    meninas em idade escolar, sendo que apenas 12,3% dos meninos e cerca de 5,4% das meninas

    recebia algum tipo de instruo, nmero muito baixo, at mesmo para os padres da poca.

    Em 1854, foi instituda a obrigatoriedade do ensino. Os pais ou tutores deveriam

    enviar as crianas escola. Caso no o fizessem, receberiam multas. Ficavam isentas, porm,

    aquelas crianas que residissem a mais de uma lgua da escola, que comprovassem receber

    instruo na prpria residncia ou em escolas particulares.

  • 429

    Segundo EMER (1991), o primeiro sistema escolar adotado pela Provncia do Paran

    foi o das Casas Escolares, onde o Governo Provincial contratava e remunerava o professor,

    cabendo a este alugar uma casa ou sala e formar a classe de alunos de primeiras letras. Em

    1854, foi estabelecida, na Provncia, a obrigatoriedade da instruo s crianas com idade

    entre 06 e 14 anos de idade, residentes a menos de uma lgua da casa escolar.

    Em muitas localidades, constatava-se que o professor no cumpria com as exigncias

    do Governo Provincial, que enviava inspetores para averiguar as reais condies de instruo.

    Nas regies mais afastadas da capital a situao era muito difcil. Tanto os locais quanto a

    instruo oferecida nestas escolas eram de baixa qualidade. Isto provocava a desistncia dos

    alunos, que eram, em sua maioria, matriculados pelos pais apenas para no receberem multa

    do Governo, mas que, efetivamente, no compareciam sala de aula. Com isto, muitas

    escolas encontravam-se fechadas, em 1854.

    A reforma eleitoral do Imprio, em 1882, exigiu que, ao votar, o eleitor deveria deixar

    registrada sua assinatura. Descobriu-se, ento, que 80% dos eleitores eram analfabetos.

    De acordo com os estudos de WACHOWICZ (1984), na medida em que o regime se

    apoiava no voto, aumentou-se, consideravelmente, o nmero de escolas criadas pelo poder

    pblico, em barganhas com os eleitores. Porm, muitas delas permaneciam fechadas por falta

    de professores. No incio da Repblica, a metade das escolas estava sem professores.

    Ao final do imprio, a Provncia estava endividada, mas o novo governo, republicano,

    deu nfase instruo pblica, no nvel do discurso e na prtica. E encaminhou, em 1891, um

    projeto que regulamentou os pagamentos dos professores que deveriam ser efetuados

    mediante comprovao da freqncia dos alunos escola. Ao contrrio do que ocorria no

    Imprio, onde o professor precisava apenas comprovar a sua presena no trabalho,

    WACHOWICZ (1984).

    O Governo Republicano se articulou em torno de dois pontos da instruo pblica. Os

    professores deveriam, compulsoriamente, freqentar a escola normal e os municpios assumir

    as questes da instruo pblica, ficando claro que a instruo pblica era de fundamental

  • 430

    importncia para o novo regime poltico e o professor era o ponto decisivo para o

    funcionamento das escolas.

    A partir de 1914, foram implantados os grupos escolares, pelo poder pblico, nos

    principais centros urbanos. Esses grupos caracterizavam-se pela diviso do ensino em quatro

    sries com contedo progressivo, com um professor para cada srie, coordenados por um

    diretor de grupo. Neste perodo, iniciou-se uma campanha de profissionalizao dos

    professores. Foi repassada aos municpios a responsabilidade pela instruo pblica

    elementar.

    Segundo WACHOWICZ (1984), o Censo realizado, em 1916, mostrou que dos 50

    municpios existentes no Paran, naquela poca, apenas 18 investiam parte de suas receitas na

    instruo pblica.

    A instabilidade poltica, que prevalecia no Paran at o final do sculo XIX, quando os

    presidentes se sucediam no cargo, prejudicavam a escolarizao. Isto porque, normas criadas

    por um governo, eram revogadas por outro, no havendo um processo contnuo no

    fornecimento de instruo ao pblico.

    De acordo com EMER (1991), os imigrantes europeus, estabelecidos no Paran,

    reuniam grupos de crianas em casa de membros da comunidade com disposio de ensinar.

    Posteriormente, no final do sculo XIX e incio do sculo XX, estas comunidades coloniais de

    imigrantes passaram a construir suas escolas e a contratar seus professores.

    Estas escolas assumiram significao e atraram as atenes do Poder Pblico. Estas

    escolas no se desenvolveram mais porque, desde 1901, o Estado passou a subvencionar os

    professores que ensinavam em lngua portuguesa.

    Segundo EMER (1991), os imigrantes queriam manter sua nacionalidade e ensinavam

    em seu idioma de origem, mantendo, assim, as noes de nacionalidade s novas geraes.

    Assim, medida que o portugus era introduzido nestas escolas os imigrantes retiravam seus

    filhos da escola e criavam novas escolas particulares. Isto evidencia o conflito de interesse

    existente na questo da educao.

  • 431

    O Estado pretendia que a educao desempenhasse o papel de instrumento de

    nacionalizao da populao paranaense, pela eliminao da heterogeneidade de lnguas,

    enquanto os imigrantes pretendiam manter os traos de sua nacionalidade.

    Em 1914, o Estado passou a vigiar e fechar as escolas que no ensinassem em

    portugus. Esta medida foi reforada, em 1917, por um decreto federal que determinou o

    fechamento destas escolas.

    A competio entre escola pblica do governo e a escola dos imigrantes continuou at

    1925, quando o governo estadual percebeu que o esforo para fechar as escolas dos

    imigrantes, substituindo-as por escolas pblicas, havia deixado sem atendimento escolar

    milhares de crianas filhas de caboclos que viviam nas reas rurais no interior de extensos

    municpios, segundo EMER (1991).

    As camadas subalternas da populao passaram a exigir a escolarizao a partir do

    momento em que perceberam que as foras produtivas exigiam novas relaes de produo e

    a instruo era a condio necessria para ter acesso a melhores colocaes no mercado de

    trabalho, em transformao.

    Para o Estado, a escola deveria ser apenas criadora de possibilidades, mediante o

    esforo das camadas subalternas de atingirem nveis para viver na sociedade delineada pelo

    Poder Pblico. Enquanto isso, as camadas populares subalternas lutavam pela competncia

    tcnica da escola, capaz de produzir o saber indispensvel s relaes sociais, pelo trabalho do

    professor.

    De acordo com EMER (1991), no Paran, desde 1917, a demanda por educao

    aumentou, assim como o descontentamento popular em relao competncia tcnica da

    escola. A qualificao do professor e seu bom trabalho produzem essa competncia tcnica

    desejada. Embora existisse, desde 1876, uma Escola Normal em Curitiba, esta permaneceu

    fechada um longo perodo, por falta de alunos interessados no magistrio.

    Para EMER (1991), ao Estado interessava dominar a sociedade e adequar as massas ao

    seu projeto poltico, respondendo s reivindicaes da sociedade apenas com melhorias

  • 432

    tcnicas da escola, em alguns centros urbanos mais expressivos. As escolas pblicas, desses

    centros, passaram a ter seriao e magistrio profissional. As demais escolas, do interior e

    rurais, eram atendidas a partir das possibilidades da populao, com magistrio improvisado.

    A qualificao do professor j era entendida como fator preponderante na conquista da

    funo tcnica da escola. Passou a fazer parte das reivindicaes dos centros urbanos em

    formao, no interior do Estado. A partir de 1929, Guarapuava, plo urbano mais a oeste na

    poca, passou a contar com a denominada Escola Normal Complementar, para formao de

    profissionais de ensino. Compunha-se de Ginasial acrescido de algumas disciplinas

    pedaggicas e prticas de ensino.

    De acordo com HOFF (1991), em 1962, foi institudo o Fundo Estadual de Ensino,

    bem como a Fundao Educacional do Paran FUNDEPAR, para gerir os recursos do

    Fundo Estadual de Ensino. A educao passou a ter a funo de capital humano,

    possibilitando que a populao se atualizasse para servir aos propsitos do sistema capitalista.

    O ensino mdio (secundrio, normal, comercial, industrial e agrcola) foi reforado

    com verbas provenientes do Plano de Aplicao dos Recursos do Plano Trienal de Educao

    1964. A situao do Paran, em 1964, no ensino mdio, era a seguinte: o ensino mdio era

    ministrado em 173 dos municpios do Estado, com 468 estabelecimentos de ensino, dos quais

    368 eram estaduais, 94 particulares, quatro municipais e dois federais, com cerca de 105.165

    alunos matriculados. Com esses nmeros o Paran, naquela poca, era o estado brasileiro com

    maior rede de ensino mdio, na maioria mantida pelo setor pblico estadual, segundo HOFF

    (1991).

    De acordo com os apontamentos de HOFF (1991), os anos de 1965 e 1966 viram

    nascer um grande nmero de faculdades estaduais isoladas no Paran, tais como a de

    Jacarezinho, a de Paranagu, a de Londrina, a de Unio da Vitria, a de Apucarana e a de

    Cornlio Procpio, que haviam sido transformadas em autarquias, em 5 de dezembro de 1964

    e a de Paranava, em 1966, e, ainda, as de Mandaguari e Jandaia do Sul, em 1967.

    Ento, o Governo de Paulo Pimentel transformou trs dessas faculdades isoladas em

    universidades estaduais. Assim, foram criadas as Universidades Estaduais de Londrina, de

  • 433

    Maring e de Ponta Grossa. Segundo Paulo Pimentel, a populao deveria ser educada para se

    tornar condizente com o desenvolvimento do Pas, afirmou HOFF (1991).

    Em outubro de 1969, foi aprovado, segundo HOFF (1991), o Estatuto do Magistrio,

    que veio ao encontro da velha reivindicao dos professores. Neste estatuto ficou definido um

    aumento salarial, alm de permitir o acesso qualificao.

    Em 1973, foi criado um Plano Estadual de Educao. Por esse plano, a educao

    deveria aprimorar o processo de democratizao, com a finalidade de responder s

    necessidades de desenvolvimento. Com objetivos tcnicos, tais como: ampliao da rede

    escolar, escolarizao de primeiro grau, oferta de matrcula de segundo grau e do ensino

    supletivo, alm da implantao de um sistema de planejamento para acelerar a produtividade

    do sistema educacional e implantar os servios de superviso escolar.

    Segundo HOFF (1991), em 1974, o quadro j era melhor. Nos principais municpios

    do Estado, a quantidade de professores leigos havia cado de cerca de 50%, para 20%. O

    planejamento oficial para o perodo 1972 a 1976, correspondendo ao I e ao II Programa

    Nacional de Desenvolvimento demonstrava, claramente, os fins da educao e do controle

    social. A educao passou a ser vista como um dos instrumentos de aumento dos padres de

    vida da populao e a tecnologia como uma soluo para os problemas educacionais.

    Segundo HOFF (1991), o Plano Estadual de Educao do Paran, de 1973 a 1976,

    tinha como objetivo:

    A implementao de um sistema educacional eficiente e a correo de suas distores;

    A acelerao de sua produtividade;

    A reordenao da rede escolar e a reconstruo do currculo, adequando-o s novas

    imposies scio-econmica-culturais e;

    O incremento da produtividade do sistema.

    Atualmente, de acordo com o relatrio da Secretaria de Estado da Educao, existem

    no Paran 2.160 escolas estaduais e 5.600 escolas municipais, com cerca de 50.000

    professores e cerca de 75.000 funcionrios, atendendo 1,6 milho de alunos. Tendo ocorrido

    nos ltimos anos uma expanso das matriculas devido s polticas de universalizao do

  • 434

    ensino fundamental e da Correo do Fluxo Escolar, adequando a idade do aluno srie

    cursada.

    De acordo com este relatrio, o ndice de evaso escolar, em 1996, era de 14%

    enquanto, em 1998, caiu para 8%. E a taxa de aprovao subiu de 72% para 86%, no mesmo

    perodo. Quanto s taxas de analfabetismo no Estado, que era de 16% em 1991, baixou para

    11% da populao do Estado, em 1996. Sendo mais significativa na populao jovem. Entre

    as pessoas de 20 a 24 anos a taxa de analfabetismo caiu de 6% para 3% e entre as de 25 a 29

    anos houve uma reduo de 7% para 4%.

    Foi criado o Programa de Expanso, Melhoria e Inovaes do Ensino Mdio do Paran

    (PROEM), com objetivo de dar suporte ao plano de ao da Secretaria de Estado da

    Educao, doravante denominada apenas SEED, em relao ao departamento de Ensino

    Mdio, para modernizar e adequar o ensino mdio s necessidades da sociedade atual.

    13.2.3 NA REGIO OESTE DO PARAN

    13.2.3.1 Do Incio da Colonizao At a Primeira Metade da Dcada de 1980

    A educao na Regio Oeste do Paran esteve condicionada aos elementos scio-

    econmico-culturais da populao que aqui se instalou.

    Para compreender como surgiu o sistema educacional regional, ser necessrio

    analisar como foi gestada e como evoluiu a escola a partir do interior dos ncleos de ocupao

    e colonizao pioneiros desta Regio.

    A educao que aqui se desenvolveu teve seus fundamentos a partir de aspectos

    sociais, da presena ou ausncia do Poder Pblico ou dos nveis de satisfao da populao

    em relao qualidade tcnica da escola pblica. Assim, sempre que a sociedade percebia que

    o nvel de instruo estava aqum de suas expectativas, uma nova escola particular surgia.

  • 435

    Mas antes de iniciar as discusses a respeito do nascimento da educao na Regio

    Oeste do Paran, preciso definir os termos que identifiquem as formas de escolarizao e

    modalidades de escola e suas prticas surgidas do interior dos grupos sociais pioneiros, que

    segundo EMER (1991), foram as seguintes.

    A primeira distino a prtica da escolarizao ou, simplesmente, instruo sem

    instituio escolar, para crianas na faixa etria de escolarizao, exercida por algum do

    grupo social estabelecido, com disponibilidade e condies mnimas de ensinar, sem nenhum

    ato oficial e sem regulamentao.

    Uma segunda distino a casa escolar, construda e mantida pelo grupo social

    pioneiro. A casa era construda para ser o local de instruo e para ampliar a capacidade de

    atendimento, que seria impossvel atravs da pratica de escolarizao domiciliar semelhante

    escola das colnias de imigrantes. No se esperava pela ao do Poder Pblico. O prprio

    grupo social construa a escola, contratava o professor e produzia sua educao, mesmo que

    fosse apenas nas primeiras letras.

    A terceira distino a casa escolar pblica dos ncleos urbanos. Esta modalidade

    escolar, criada por ato oficial do Poder Pblico Municipal, assumia a casa escolar existente ou

    construa uma casa, onde esta no existisse e, em ambos os casos, pagavam o professor.

    Por fim, a quarta distino, o grupo escolar. Esta modalidade educacional distinguia-

    se, fundamentalmente, por ser um tipo de escola construda em ncleos de povoamento mais

    desenvolvidos e pela forma de funcionamento. O grupo escolar passou a cobrar

    conhecimentos dos contedos oferecidos ao final dos quatro anos. Estes contedos eram

    determinados pelo sistema educacional e oferecia um certificado aos aprovados. O trabalho do

    professor foi dividido em sries e o aluno comprovaria a escolarizao primria aps a

    aprovao nos exames da ltima srie.

    Segundo EMER (1991), em Foz do Iguau, cidade de fronteira, ncleo pioneiro da

    ocupao regional, desde a criao da Colnia Militar (1889), existiu por parte dos militares e

    funcionrios do fisco, a preocupao com a escolarizao de seus filhos. Esses segmentos

    sociais resolveram o problema da instruo a partir de seu prprio grupo social.

  • 436

    Esta instruo, na modalidade de escolarizao particular domiciliar, era

    quantitativamente muito restrita e somente para os filhos de funcionrios de postos mais

    importantes. At a extino da Colnia Militar, em 1912, no existiu escola ou casa escolar

    em Foz do Iguau.

    A partir de 1914, com a criao do Municpio de Foz do Iguau e com a deciso do

    Governo Federal de aumentar o nmero de agentes do fisco, para combater o contrabando,

    cresceu a necessidade de se criar uma casa escolar, pois a modalidade de instruo particular

    domiciliar tornou-se invivel, conforme indica os estudos de EMER (1991).

    EMER (1991), concluiu que, entre os anos de 1915 e 1916, passou a existir uma casa

    escolar em Foz do Iguau, construda e mantida pelo Municpio, como ocorria nas demais

    regies do Estado. A instruo produzida na casa escolar de Foz do Iguau era extremamente

    precria e possibilitou a coexistncia da modalidade de instruo particular domiciliar. At

    que, em 1928, foi instalado um grupo escolar. Este grupo estava sob direo da Igreja

    Catlica, que recebeu subvenes do Governo para estabelecer uma parquia em Foz do

    Iguau e, em contrapartida, ofereceria educao naquele Municpio.

    Em 1928, passou a funcionar o grupo escolar, em prdio novo, sob a direo do

    Monsenhor Guilherme, com dois professores (padres) e duas professoras, escolhidas pelos

    padres entre membros da populao de Foz do Iguau. Em 1930, o grupo passou para a

    administrao estadual, sob direo de professores nomeados e pagos pelo Estado.

    Segundo COLODEL (1988), concomitante ao que ocorria em Foz do Iguau, em Santa

    Helena, comprovadamente, existiu apenas a instruo familiar. Os pais alfabetizados

    utilizavam carvo e tbuas ou lpis e papel de embrulho, substituindo o quadro e o giz, para

    ensinar as primeiras letras a seus filhos, de forma espordica e no sistematizada.

    Em 1929, as primeiras aulas foram ministradas para um grupo de crianas de Santa

    Helena, pelo padre Winks, no salo de festas, onde ensinava as primeiras letras e um pouco de

    aritmtica bsica, alm do ensino religioso. Mas esta instruo durou pouco. Alguns meses

    depois, devido a no instalao de uma igreja em Santa Helena, o padre Winks foi chamado

    de volta a Foz do Iguau, interrompendo as aulas.

  • 437

    De acordo com EMER (1991), Santa Helena conseguiu a escola somente em 1956,

    num contexto histrico diferente de suas lutas anteriores. Mas existiu escolarizao antes

    disso. Os colonos assentados na dcada de 1950 tinham condies, tanto econmicas quanto

    culturais, diferenciadas dos pioneiros, sendo que muitos deles foram alfabetizados em Santa

    Catarina e no Rio Grande do Sul, de onde migraram para Santa Helena.

    Este novo grupo de imigrantes tinha uma forma diferente de se relacionar. Seus

    relacionamentos davam-se por meio de travesses, por onde eram abertas as estradas, que

    interligavam glebas e lotes rurais. Nascia entre as famlias um sentido de comunidade e

    buscavam solues coletivas para seus problemas comuns.

    Nos travesses de Santa Helena foram construdas capelas em pontos de acesso

    favorvel maioria da populao, que serviram, tambm, como locais de escolarizao das

    crianas moradoras das proximidades. Esta escola era informal, mantida pelo prprio grupo

    colonial, que coletivamente construiu a capela. As professoras eram, geralmente, adolescentes

    do grupo colonial razoavelmente escolarizada, que instrua as crianas, utilizando papelo e

    carvo.

    De acordo com COLODEL (1988), na dcada de 1950, a principal colonizadora de

    Santa Helena reservou e planejou a rea urbana e a foi instalada a primeira escola oficial, o

    Grupo Escolar Estadual. Somente com a emancipao do Municpio foram criadas as escolas

    rurais municipais, sendo grande parte delas no mesmo local onde j existia a escola de

    travesso dos colonos.

    Conforme EMER (1991), o Municpio de Guara tem sua histria ligada Companhia

    Mate Laranjeira. A essa companhia, Guara deve sua fundao, em 1909, e seu

    desenvolvimento inicial nas dcadas seguintes. H indcios de que a escolarizao em Guara

    teve incio na dcada de 1920, com regime de escolarizao domiciliar particular incentivado

    por diretores da Companhia Mate Laranjeira, que sentiam a carncia de mo-de-obra

    especializada.

    Mas, possivelmente, esta prtica de escolarizao foi considerada insuficiente para

    suprir a necessidade de mo-de-obra. Assim, em 1928, Francisco Mendes Gonalves, um dos

  • 438

    diretores brasileiros da Companhia Mate Laranjeira, determinou a construo de uma casa

    escolar em Guara e foi contratada, em Curitiba, uma professora formada. Porm, essa

    professora no permaneceu muito tempo em Guara. Foi substituda por Marina Marcondes

    Suares, moradora da cidade e que foi considerada a primeira professora de Guara.

    Em 1942, ainda sob responsabilidade de manuteno da Companhia Mate Laranjeira,

    a casa escolar foi transformada em grupo escolar. Ocorreram muitas queixas da populao

    quanto ao nvel tcnico da escolarizao produzida pela casa escolar. A transformao em

    grupo escolar pode ter sido uma tentativa de melhorar as condies da escola.

    Conforme EMER (1991), com a criao do Territrio Federal do Iguau, o grupo

    passou para a administrao federal. Posteriormente, com a extino do Territrio Federal do

    Iguau, a administrao passou para o Municpio de Foz do Iguau e, finalmente, em 1951,

    com a criao do Municpio de Guara, o grupo escolar foi estadualizado.

    Segundo EMER (1991), em Catanduvas, embora se tenha estabelecido populao

    desde a poca da criao do posto de abastecimento dos militares, fundadores da Colnia

    Militar de Foz do Iguau, em 1889, s passou a existir escola no final da dcada de 1920, com

    peculiaridades, at certo ponto inditas, em toda a Regio Oeste do Paran. A populao que

    ali se estabeleceu, por razes histrico-culturais, no reivindicavam educao.

    Segundo COLODEL (1988), a maioria da populao era constituda de caboclos

    vindos das proximidades de Guarapuava, que no se interessavam pela educao e por

    fazendeiros que mandavam os filhos estudarem em Guarapuava.

    Apenas no final da dcada de 1920 ocorreu alterao na realidade social de

    Catanduvas, que levou criao de uma Clula de Ao Integralista, como alternativa

    encontrada para o problema da escolarizao. Esta Clula foi constituda por uns poucos

    fazendeiros e por alguns funcionrios pblicos e comerciantes, com o objetivo de atender

    demanda por educao dos filhos de funcionrios dos telgrafos e outros servios pblicos

    instalados no Municpio.

  • 439

    De acordo com EMER (1991), essa Clula de Ao Integralista construiu a casa

    escolar, fornecia material escolar de boa qualidade, mas exigia que as datas cvicas fossem

    comemoradas, cantando o hino nacional. E, ainda, supervisionava a educao fsica, ensinava

    marcha e remunerava a professora.

    Em 1929, contando com a casa escolar bem construda e uma professora formada na

    Escola Normal Regional de Guarapuava, foi iniciada a educao escolar em Catanduvas.

    Segundo EMER (1991), esta escola teve vida curta. A professora decidiu morar com

    os pais na fazenda, abandonando as atividades na escola, em 1931. No ano seguinte, j no

    havia mais escola em Catanduvas. A desativao da escola no foi apenas por falta de

    professora, mas, principalmente, em razo do novo traado da estrada construda na poca,

    deixando Catanduvas afastada da rodovia.

    As perspectivas de desenvolvimento tornaram-se maiores em Cascavel, h cerca de 50

    km a oeste de Catanduvas. Em decorrncia disto, os servios pblicos foram transferidos para

    Cascavel. Quem pretendia se dedicar s atividades urbanas tratou de se transferir, tambm,

    para Cascavel. Assim, a escola foi interrompida porque quem se interessava pela educao e

    seus filhos, se mudaram para Cascavel.

    No perodo 1932 a 1943 Catanduvas contou com alguma forma de escolarizao

    particular domiciliar. Em 1943, estava concluda a construo do Grupo Escolar Anita Ribas,

    mantido pelo Estado.

    De acordo com EMER (1991), diferentemente das outras localidades da Regio Oeste

    do Paran, que s tiveram escola muito tempo depois da ocupao, Cascavel passou a contar

    com escola apenas dois anos aps a fixao dos primeiros moradores. Isso se deveu,

    especialmente, s caractersticas humanas culturais de sua populao. O grupo de pioneiros

    era constitudo de comerciantes com suas famlias, caboclos e descendentes de imigrantes

    poloneses.

    Tanto os comerciantes quanto os descendentes de imigrantes poloneses valorizavam a

    educao. Em 1932, a capela passou a ser utilizada para escolarizao das crianas, na

  • 440

    modalidade de casa escolar, sem ato oficial. Nos primeiros trs anos a escola foi mantida pela

    populao local. Os professores tinham ligaes com a comisso de estradas ou exerciam

    funes pblicas.

    De acordo com EMER (1991), a partir de 1935 os professores passaram a ser

    remunerados pelo Municpio de Foz do Iguau. Em 1935, aps Cascavel ser elevada a

    categoria de Distrito administrativo de Foz do Iguau, foi criada a casa escolar oficial pblica.

    Em 1947, a casa escolar foi transformada em grupo escolar, o Estado passou a manter a escola

    e a pagar os professores.

    A partir dessas informaes e constataes possvel concluir que no perodo de

    ocupao da Regio Oeste do Paran, os ncleos populacionais pioneiros buscaram

    alternativas para o problema da escolarizao, constituram suas escolas a partir de seu

    prprio contexto social.

    Segundo EMER (1991), o contexto social revela que a educao no era um problema

    igual para todos. A escola gestada no interior dos ncleos populacionais pioneiros da Regio

    Oeste do Paran no era uma escola para todos. Originou-se de um segmento e a ele se

    destinava. A ampliao do atendimento a esse segmento social que deu origem casa

    escolar que, a partir de uma maior presena do Poder Pblico, passou a ser pblica.

    Mas a escola s nasceu quando o processo histrico abriu espao de trabalho s

    pessoas que exerciam seus papis a partir da habilitao produzida pela escolarizao.

    A escolarizao particular domiciliar nasceu do interior do processo histrico de

    dilatao das fronteiras econmicas, de ampliao das foras produtivas e dos primitivos

    servios pblicos, inicialmente, em alguns pontos regionais.

    Por outro lado, a criao das casas escolares, um espao fsico construdo com a

    finalidade especfica de escolarizao, revela uma outra vertente do processo histrico.

    Embora nem toda a populao em idade escolar tivesse acesso casa escolar, se ampliavam

    as condies de atendimento educacional.

  • 441

    De acordo com EMER (1991), numa etapa posterior, com o crescimento dos ncleos

    populacionais e sua produo, o Estado transformou as casas escolares em grupos escolares e

    assumiu os encargos. A criao desses grupos escolares estaduais est relacionada ao

    desenvolvimento material dessas localidades. Eles foram criados juntos ou em perodos

    anteriores, prximos criao de novos municpios.

    Com a intensificao da colonizao da Regio Oeste do Paran, na dcada de 1950,

    comeou a chegar Regio migrantes de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, em sua

    maioria, descendentes de imigrantes europeus, preferidos pelas companhias colonizadoras,

    por serem mais responsveis e honrarem seus compromissos com as colonizadoras, alm de

    vrias outras caractersticas. Mas para este trabalho a caracterstica mais importante era o

    interesse dessas pessoas pela escola e pela escolarizao de seus filhos.

    De acordo com COLODEL (1988), na dcada de 1950, era de interesse do governo

    subdividir administrativamente o Estado, criando novos municpios. Na Regio Oeste do

    Paran existia apenas o Municpio de Foz do Iguau, criado em 1914. Ento, aps uma

    viagem do Governador Regio Oeste do Paran, foram criados, em 1951, os Municpios de

    Guaraniau, Cascavel, Toledo e Guara. A partir deste momento, foram ampliadas as

    condies de luta dos colonos pela escolarizao de seus filhos.

    Apesar da crescente diviso social do trabalho exigir a crescente presena do setor

    pblico para suprir as demandas sociais, isto no aconteceu no perodo 1950-60. Pelo

    contrrio, os colonos tiveram de encontrar solues dentro da prpria colnia e sustentaram

    uma ntima relao entre educao-escola com capela ou templo, como tinham feito seus

    antepassados nas antigas colnias.

    Segundo EMER (1991), quando Alfredo Ruaro, descendente de italiano e catlico foi

    o diretor da Colonizadora Marip, este procurou atrair colonos italianos e catlicos para

    Toledo e proximidades. Quando a direo passou para Willy Barth, descendente de alemes e,

    luterano, o mesmo procurou atrair colonos descendentes de alemes e luteranos para as

    proximidades de Marechal Cndido Rondon.

  • 442

    Na perspectiva da cultura colonial alem, o escalonamento de prioridades era, ao lado

    de cada escola um templo, enquanto para os descendentes de italianos era, ao lado de cada

    igreja, uma escola.

    De qualquer modo, a educao estava em posio de destaque entre as prioridades que

    eles coletivamente deveriam resolver. dentro desta lgica etno-cultural que poder ser

    analisada a questo da escola na Regio Oeste do Paran.

    De acordo com EMER (1991), em 1946, a Colonizadora Marip convidou o padre

    Patu de Foz do Iguau, para ir para Toledo junto com os colonos italianos. Este aceitou o

    convite e dois anos mais tarde convenceu trs religiosas, de Curitiba, a se transferir para

    Toledo e fundar a primeira escola na rea da Colonizadora Marip, que no incio funcionou na

    igreja, mas no mesmo ano foi construda a casa escolar pelos prprios colonos, com material

    da colonizadora.

    Na construo da escola dos colonos e da escola regional, em Marechal Cndido

    Rondon, observou-se caractersticas singulares. A construo da casa escolar fez parte das

    primeiras construes na rea destinada pela colonizadora futura vila, com material por ela

    cedido e mo-de-obra dos colonos.

    Segundo COLODEL (1988), mesmo aps a aquisio das terras, a transferncia das

    famlias descendentes de alemes estava condicionada existncia de escola, que era vista

    como um elemento necessrio s suas vidas.

    Segundo EMER (1991), nas reas colonizadas por descendentes de italianos e outros

    grupos tnicos havia, indistintamente, professores e professoras. Nas reas colonizadas por

    descendentes de alemes, na dcada de 1950, havia somente professores. Essa predominncia

    se manteve durante vrios anos da dcada seguinte. Depois, com a criao das escolas de

    nvel Ginasial, os cargos de direo continuaram sendo exclusivamente dos homens.

    A comunidade que tinha construdo a escola escolhia o professor. Esta escolha

    envolvia uma srie de critrios importantes para o grupo. Deveria ser uma pessoa responsvel,

    que soubesse ministrar aulas, deveria ensinar tudo o que soubesse, ter autoridade moral, fazer-

  • 443

    se respeitar pelos alunos e ser uma pessoa de bem. O escolhido passava a ser visto como

    algum especial para cada uma das famlias.

    Segundo COLODEL (1988), durante a dcada de 1950, houve a criao da escola

    primria dos colonos e, tambm, dos grupos escolares estaduais, nas sedes dos primeiros

    municpios da Regio. O grupo escolar particular ou municipal era o tipo de escola que

    permitia o mais elevado nvel de escolaridade na Regio, com exceo de Foz do Iguau, que

    j contava com Ginasial, desde 1950.

    Conforme EMER (1991), o crescimento populacional urbano, ao final da dcada de

    1950, passou a exigir escolarizao ulterior ao primrio. Alm disto, o crescimento dos novos

    ncleos coloniais, no interior, demandava mais escolarizao. Como tudo estava em

    construo e os municpios novos no dispunham de recursos financeiros, a soluo

    encontrada manteve-se semelhante aos primeiros tempos.

    Antes do final da dcada de 1950, a modalidade de escola dos colonos comeou a

    entrar em crise, pois no conseguia professores com a qualificao exigida pelos colonos.

    Alm disto, a heterogeneidade dos novos ncleos dificultava o consenso sobre o professor a

    ser contratado. Ento, apelou-se para o Municpio que, tambm, no dispunha de pessoal

    habilitado e qualificado. Assim sendo, designava algum para assumir a escola, gerando

    novamente o descontentamento entre os colonos quanto ao ensino desejado para seus filhos.

    A tentativa de recuperao da escola dos colonos ocorreu no perodo do processo

    histrico regional de ampliao das relaes sociais desencadeadas pelo aumento

    populacional determinado pela expanso da produo econmica, especialmente as atividades

    comerciais. A escola pblica passou a ser escola dos comerciantes e de outros segmentos

    urbanos. Os colonos no se opunham existncia da escola pblica, apenas queriam ter a sua

    escola com ensino voltado para seus interesses.

    Segundo EMER (1991), na tentativa de recuperar sua escola, via formao de seus

    professores, no final da dcada de 1950, foram criadas escolas Normais Regionais, algumas

    delas com internato para formao de filhos de colonos que residiam longe da sede.

  • 444

    Alm da existncia da Escola Normal Regional de Foz do Iguau, de religiosas e com

    internato, desde 1951, passou a existir a Escola Normal Regional Luterana e com internato, de

    Marechal Cndido Rondon, em 1958. Cascavel somente externato e pblico, em 1959. Mas

    essa tentativa foi incua, pois os professores que vinham de outros centros urbanos no

    estavam adequados s concepes culturais dos colonos.

    De acordo com EMER (1991), mesmo diante das dificuldades para recuperao de sua

    escola os colonos no desistiram. E mobilizaram-se para construir inmeros colgios

    confessionais, que teriam professores de seus prprios quadros. Grande nmero de colgios

    de religiosos e de outros grupos confessionais foi fundado, entre 1955 e 1965.

    Alguns iniciaram apenas com ensino primrio e mais tarde passaram a oferecer o

    ginasial. Outras j iniciaram com primrio, ginasial comercial, mais tarde se transformam em

    contabilidade, como o caso do Marista e do Lassalista.

    Em 1957, o Colgio das Irms, de Foz do Iguau, implantou a Escola Normal

    Colegial, primeiro estabelecimento da Regio Oeste do Paran a ofertar esse nvel de

    escolarizao.

    As tentativas de recuperao da escola dos colonos demonstraram-se inviveis, em

    razo das rpidas transformaes ocorridas na Regio. medida que os municpios foram

    emancipando-se, na dcada de 1950, os grupos escolares passaram para as mos do Estado, e

    se transformaram nos primeiros ginsios estaduais da dcada de 1960, produzindo um efeito

    desmobilizador da luta pela escola do colono.

    No processo de estadualizao, o Estado aproveitou apenas os professores locais

    qualificados, completando o quadro com professores vindos de outras regies.

    Conforme EMER (1991), a dcada de 1960 foi marcada pela demanda de ensino

    ginasial, mas o atendimento s foi estendido pelo Poder Pblico Estadual, na segunda metade

    ou no final da dcada. A demora no oferecimento desta escolarizao deveu-se, em parte,

    falta de professores habilitados. Somente no final da dcada o Estado promoveu concursos

    pblicos para suprir a demanda de professores.

  • 445

    No final da dcada de 1960, as congregaes entraram em crise, pela evaso de

    religiosos, reduzindo a quantidade de profissionais habilitados e disponveis ao magistrio,

    impossibilitando o provimento de professores s escolas religiosas.

    Em contrapartida, nesta poca, chegava a Regio professores com nvel superior, em

    nmeros considerveis. A maioria era composta por ex-religiosos e ex-seminaristas, que

    passaram a atuar nos estabelecimentos de ensino j existentes e viabilizaram a criao de

    outros nos municpios novos que ainda no contavam com escolas de nvel ginasial.

    Segundo EMER (1991), possvel afirmar que na dcada de 1960, a Regio Oeste do

    Paran comeou a tomar corpo e definir sua estrutura educacional. Alm dos 18 ncleos

    urbanos, sede de municpios, com escolas confessionais, estaduais e grupos escolares

    municipais, nas principais vilas do interior, a populao urbana passou a reivindicar outros

    nveis de escolarizao.

    A tentativa dos colonos de recuperarem sua escola por meio da formao de seus

    professores em escolas normais no teve xito. Primeiro, porque esta formao demoraria

    quatro anos, tempo demais, considerada a velocidade das transformaes sociais ocorridas na

    Regio Oeste do Paran. Segundo, porque a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional,

    de 1961, determinava que habilitao para o ensino primrio deveria ser dada pela Escola

    Normal Colegial. Os professores no habilitados continuaram lecionando a ttulo precrio e,

    por ltimo, o descontentamento dos colonos, com a qualidade das escolas primrias, deixou

    de ser uma questo fundamental, visto que, se seus filhos no se apropriassem do saber

    considerado necessrio para as relaes sociais, atravs do ensino primrio, teriam agora

    condies de freqentar o nvel ginasial particular ou pblico, com a finalidade de obter este

    aprendizado.

    Com a criao do ginsio estadual e particular, na dcada de 1960, a escola normal foi

    extinta ou substituda por escolas normais colegiais estaduais, criadas com o objetivo poltico

    de suprir as carncias de professores habilitados para os grupos escolares pblicos.

  • 446

    No final da dcada de 1960, as principais cidades regionais contavam com escolas

    normais colegiais pblicas e privadas e outras modalidades de segundo ciclo, especialmente,

    escolas de contabilidade e curso cientfico.

    Segundo EMER (1991), naquela poca, as famlias em melhores condies

    econmicas mandavam seus filhos para outras cidades, onde recebiam educao de qualidade

    e que garantia o acesso ao nvel superior. Aos demais restava reivindicar a escolarizao

    necessria para o trabalho, no comrcio, em bancos e no servio pblico, que eram as

    melhores opes de trabalho, com melhor remunerao e que possibilitava maior expresso

    poltica e conceituao social.

    A maior demanda era por escolas de contabilidade, que no foi atendida pelo Poder

    Pblico, mas, sim, pela iniciativa privada. Especialmente o Colgio Marista, o Colgio

    Lassalista e organizaes particulares. Somente no final da dcada de 1960, o Poder Pblico

    atendeu s reivindicaes do curso cientfico, apenas para algumas cidades da Regio.

    Como o Tcnico em Contabilidade era um profissional de grande procura regional, em

    decorrncia do desenvolvimento das atividades econmicas e apenas algumas cidades tinham

    escolas que forneciam este curso, foram utilizados expedientes apenas legais para criar novas

    escolas sob o manto geral da Companhia Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC).

    Expediente tambm utilizado para criar o nvel ginasial em pequenas cidades da Regio. Isso

    continuou at a dcada de 1990, como forma de criao de diversos cursos em nvel de 2

    grau em sedes de distritos e lugarejos aos quais o Poder Pblico recusava-se a atender, por

    no existirem as condies mnimas de funcionamento.

    Segundo EMER (1991), na dcada de 1960, diversas pequenas cidades regionais

    apelaram para este expediente. Estabelecia-se um convnio com o CNEC - Sucursal Curitiba,

    via prefeitura municipal, que doava o terreno e com a participao dos interessados era

    construdo o prdio escolar, que passava para domnio do CNEC.

    O mais comum era, por meio desses convnios, a CNEC ocupar escolas pblicas

    existentes e mobiliadas. Esta soluo foi encontrada pela populao de um considervel

    nmero de pequenas cidades que j tinham nvel ginasial e pretendiam continuar a

  • 447

    escolarizao. Ento, foram criadas escolas de Contabilidade e cursos de segundo grau,

    mediante convnio com a CNEC.

    Fica claro que na dcada de 1960, as conquistas alcanadas na luta por mais educao

    ocorreram nos centros urbanos mais expressivos. A escola era agora da cidade ou a elas se

    subordinava. Esta nova realidade da escola espelhava a supremacia da cidade sobre o campo.

    No final da dcada de 1960, embora insuficiente, j existia na Regio Oeste do Paran

    uma considervel estrutura educacional pblica municipal e estadual e privada no nvel

    primrio, primeiro e segundo ciclos.

    De acordo com WACHOWICZ (1984), buscando a qualidade do ensino, desde antes

    de 1930, j existia, no Paran, a figura do Inspetor Escolar, que observava, especialmente,

    aspectos administrativos da escola, tais como as condies do Prdio, a freqncia dos alunos

    e dos professores. Em 1950, no Paran, foi identificada a necessidade de transformao da

    inspeo administrativa em inspeo tcnico-pedaggica, buscando a melhoria da qualidade

    do ensino.

    Ao final da dcada de 1950, em algumas cidades plo da Regio Oeste do Paran, j

    existiam as chamadas sub-inspetoria de ensino, transformadas, na dcada de 1960, em

    Inspetorias Regionais de Ensino, com jurisdio sobre algumas cidades prximas.

    O Estado ampliou a assistncia tcnica pedaggica, mediante planejamento

    centralizado na SEED e curso de treinamento aos professores. Isto afastou, ainda mais, a

    sociedade da escola. A questo educacional passou a ser centralizada na SEED, que definia o

    currculo, os contedos e outros aspectos tcnicos, via treinamento de como trabalhar o

    contedo.

    O carter tecnicista da educao nacional da poca passou a ter presena, tambm, na

    Regio Oeste do Paran. Em decorrncia do autoritarismo poltico da poca, as reivindicaes

    sociais passaram a ser reduzidas, bem como foram silenciados os movimentos sociais mais

    amplos.

  • 448

    Segundo EMER (1991), a partir dos ltimos anos da dcada de 1960, a mais

    significante mudana interna da Regio, ocorreu em seus aspectos antropolgicos. Alm do

    vertiginoso crescimento populacional, ocorreu uma heterogeneizao da populao, tanto nos

    usos e costumes, como nas perspectivas de vida e no sistema produtivo. Estes fatores

    influenciaram de forma significativa a escola e as condies da educao.

    Segundo EMER (1991), a chegada dos mineiros e nordestinos, que se embrenharam na

    mata, longe das linhas onde j estavam estabelecidos os colonos descendentes de europeus,

    forou os municpios a construir novas escolas. Porm, isso s ocorria naquelas reas onde

    havia um nmero mnimo de crianas em idade escolar. As crianas que viviam mais

    afastadas continuaram sem escolas.

    A maioria das prefeituras era incapaz de atender toda a populao em idade escolar.

    Isto era agravado pelas conseqncias da substituio do sistema produtivo, at ento vigente,

    pela mecanizao da agricultura. A populao no proprietria rural tinha grande mobilidade

    e, onde justificava uma escola, em menos de um ano j no se justificava mais. Isto levou a

    educao ao primeiro colapso regional.

    Grande parte desta populao agricultora, de origem nortista, cultivava feijo e

    algodo. No perodo da safra a famlia toda ia para o campo efetuar a colheita. Em geral,

    durante as safras ocorria um elevado ndice de evaso e de ausncia escolar.

    De acordo com EMER (1991), onde existiam as escolas municipais rurais, estas eram

    precrias. Os perodos eram multi-seriados e os professores eram escolhidos entre a populao

    local. Quando muito, tinham escolaridade primria. Em muitos casos, incompleta. Estas

    escolas,, de modo geral, atendiam pela manha as 3 e 4 sries e tarde, as 1 e 2 sries. O

    mesmo professor atendia os dois turnos e as duas sries, ao mesmo tempo. Alm da

    insuficincia na qualificao dos professores e das condies precrias de trabalho, havia

    carncia e inadequao do material didtico. Apenas nos povoados e vilas as salas no eram

    multi-seriadas e os professores tinham melhor qualificao.

    Para contornar este problema, as prefeituras da Regio montaram uma equipe, junto

    secretria ou Departamento de Educao, que centralizava o planejamento curricular, o

  • 449

    desenvolvimento dos contedos e a avaliao, realizando visitas peridicas s escolas,

    desempenhando funes tcnico-pedaggicas.

    Promoviam encontros de professores municipais com supervisores para treinamentos,

    dentro de uma perspectiva tecnicista, onde os professores estudavam os currculos, manuais

    editados pela SEED, um volume por srie de ensino primrio, com sugestes e exerccios

    sobre o contedo a ser desenvolvido em sala de aula.

    Segundo EMER (1991), os currculos permaneceram por muitos anos como nico

    material de apoio aos professores das escolas rurais municipais. Alm disso, serviam de base

    para formulao das avaliaes aplicadas pelas equipes de superviso. Em suas visitas

    aplicavam exerccios aos alunos: leitura, ditado, tabuada. E ainda esclareciam eventuais

    dvidas dos professores.

    Com o incio da modernizao da agricultura, as terras adequadas mecanizao

    tiveram seus preos elevados. Aos pequenos produtores rurais restaram poucas alternativas.

    Comprar terras imprprias mecanizao ou continuar na reduzida propriedade, at a

    inviabilizao definitiva do seu sistema de produo.

    Segundo EMER (1991), neste contexto, milhares de crianas da Regio ficaram sem

    escola ou a ela tiveram acesso por alguns meses e nem sempre retornaram mais tarde,

    elevando os nveis de evaso, reprovao e repetncia, ao longo das dcadas de 1970 e 1980.

    Fica claro que o primeiro colapso regional da educao recaiu sobre determinados segmentos

    sociais menos favorecidos.

    Alm deste contexto de transio, ocorrido nos ltimos anos da dcada de 1960 e

    primeiros anos da dcada de 1970, em que um elevado percentual da populao no

    proprietria deslocou-se no interior da rea rural, iniciou-se, tambm, um movimento

    populacional da rea rural para a rea urbana e para fora da Regio, criando novas

    dificuldades de acesso escolarizao, tanto nas reas rurais quanto nas periferias urbanas.

    Esses fatos geraram novas condies sociais e um novo conceito de escolarizao.

  • 450

    Segundo EMER (1991), foi a partir das discusses sobre a educao e seus problemas,

    que foram atingidos alguns objetivos para melhoria do ensino e capacitao da populao. A

    primeira delas foi a partir da mobilizao social em Cascavel e nos municpios prximos para

    a criao dos primeiros cursos de nvel superior, em 1972; a segunda, a partir de 1974, pela

    implantao, na Regio, da reforma de ensino determinada pela Lei 5.692/71; a terceira, pela

    implantao, em 1975, do projeto Especial Multinacional de Educao do Ministrio da

    Educao e Cultura e da Organizao das Naes Unidas, doravante denominado Projeto

    MEC/OEA; a quarta, a criao, em 1980, sucedendo esse projeto, da Associao Educacional

    do Oeste do Paran - ASSOESTE, doravante denominada apenas ASSOESTE, que em

    decorrncia de suas aes, mantm articulada uma permanente discusso da educao na

    Regio, constituindo uma das caractersticas marcantes da Regio Oeste do Paran, ou seja,

    uma forma prpria de resolver os problemas do acesso escolarizao e educao.

    EMER (1991), afirma que medida que os servios urbanos passaram a exigir maior

    grau de escolarizao, se intensificaram as reivindicaes por mais escolaridade, por parte dos

    que j tinham conquistado espaos de trabalho, especialmente, nos servios pblicos. As

    novas relaes sociais, determinadas pela mudana do sistema produtivo, desencadearam

    ampla demanda por educao em todos os graus e nveis, como forma de rearticulao da

    fora de trabalho no interior do novo espao econmico. A luta pela conquista da escolaridade

    requerida pelas novas condies de trabalho fez da dcada de 1970, a dcada da construo ou

    ampliao das redes escolares da Regio Oeste do Paran.

    No contexto de insegurana e ameaa, imposta pela rpida transformao da Regio,

    uma parte significativa da sociedade, com apenas alguns anos de escolaridade, passaram a

    exigir mais escolaridade. Com isso, elevou-se o nmero de alunos nos cursos supletivos

    noturnos, para se firmarem no espao econmico j conquistado.

    J existiam discusses dos diversos agentes educacionais, mesmo antes da

    implantao da lei da reforma do ensino, quanto s alternativas possveis para o problema do

    ensino.

    Havia descontentamento das prefeituras municipais com o Governo Estadual, que no

    estava construindo escolas em nmero suficiente para atender crescente demanda. Para

  • 451

    resolver este problema, as prefeituras cediam o terreno e a mo-de-obra e o Governo Estadual

    enviava os recursos para aquisio do material de construo e, posteriormente, para

    pagamento dos professores. Nas periferias, as prefeituras construram e mantiveram as

    escolas, mesmo quando passaram a oferecer todas as sries de primeiro grau.

    De acordo com EMER (1991), na dcada de 1970, na Regio Oeste do Paran, houve

    um excepcional crescimento da rede escolar, mesmo assim, insuficiente. Estas requeriam um

    considervel aumento do nmero de professores qualificados para o exerccio do magistrio.

    Na dcada de 1980, apenas as escolas maiores foram estadualizadas.

    Da mesma forma que ocorria com outros segmentos sociais, os professores no

    titulados estavam permanentemente ameaados de perder seu espao de trabalho para

    professores licenciados ou concursados, que chegavam constantemente de outras cidades ou

    regies. Neste contexto, a demanda por mais educao ultrapassava a perspectiva anterior e

    deixava transparecer que tinha se transformado em campo de disputa de espao scio-

    econmico.

    Desta disputa surgiu a idia de criar cursos superiores que passou a ter condies de

    mobilizao e apoio poltico reivindicao, em Cascavel.

    De acordo com EMER (1991), estas condies determinaram a escolha dos primeiros

    cursos de graduao da Regio Oeste do Paran, que pretendiam suprir a carncia de

    profissionais da educao. Assim, surgiram os quatros primeiros cursos de graduao da

    Faculdade de Educao, Cincias e Letras de Cascavel FECIVEL, a primeira instituio de

    ensino superior da Regio Oeste do Paran, autorizada a funcionar em maio de 1972. Oferecia

    apenas cursos de licenciatura.

    A educao na Regio precisava ser pensada e administrada. O processo pedaggico

    precisava ser orientado. Assim, se criou o curso de Pedagogia, com duas habilitaes:

    Administrao escolar e Orientao educacional. Na poca, j existiam diversos cursos de

    segundo grau e o ensino da matemtica, da fsica, da qumica e da biologia era entregue a

    profissionais no licenciados. Havia, tambm, a carncia de professores de lngua estrangeira

    moderna. Assim, foram implantadas as Licenciaturas em Matemtica, Cincias e Letras.

  • 452

    As primeiras turmas eram constitudas, quase que exclusivamente, por trabalhadores

    do ensino que buscavam na graduao a garantia do espao de trabalho conquistado.

    Segundo EMER (1991), os cursos superiores implantados em Foz do Iguau, em 1979

    e em Toledo e Marechal Cndido Rondon, em 1980, buscaram resolver outros problemas. Na

    formao de professores, foram poucos os novos cursos (Letras, Filosofia e Educao Fsica).

    Em razo da crise econmica e da dificuldade de encontrar alternativas de gerao de renda

    para a Regio, os novos cursos criados pelas Faculdades seguiram na perspectiva da

    Economia, da Administrao de empresas, das Cincias Contbeis, da Engenharia Agrcola,

    da Enfermagem, entre outros. Estes cursos mostram a busca da qualificao para a conquista

    de novos campos de trabalho, por parte da populao jovem.

    Segundo COLODEL (1988), enquanto alguns segmentos sociais buscavam

    rearticulaes no interior do processo econmico, via ampliao da escolarizao, outra parte

    da sociedade, concentrada nas periferias dos centros urbanos, ficaram apenas com o

    subemprego ou trabalho ocasional, geralmente, trabalho braal e mal remunerado. Esse

    segundo segmento s teve atendimento escolar ampliado no final da dcada de 1970.

    Por diferentes razes, a populao abandonou o campo em busca dos centros urbanos.

    Os proprietrios de terras foram para os centros das cidades onde os terrenos eram mais

    valorizados e tiveram fcil acesso s escolas. Os no proprietrios de terras, com renda baixa,

    no tinham condies de adquirirem terrenos nos centros das cidades. Tiveram de se instalar

    nas periferias, onde o preo do terreno era mais baixo, no tendo acesso facilitado escola.

    Segundo EMER (1991), os filhos dos proprietrios de terras tiveram acesso

    escolarizao rural. Quando se urbanizaram, passaram a residir nos centros, prximos s

    escolas j existentes. Estas pessoas que retomaram aos estudos, aps a urbanizao, passaram

    a disputar os espaos de trabalho urbano (comrcio e servios). Os expulsos do campo, pela

    modernizao da agricultura, que foram para as periferias das cidades, continuaram sem

    escola.

    De acordo com EMER (1991), o Projeto Especial de Educao MEC/OEA, foi

    implantado na Regio Oeste do Paran como um esforo internacional para diminuir os

  • 453

    impactos e problemas sociais gerados pelas transformaes econmicas e construes de

    grandes obras. Na poca, j havia se iniciado a construo da Usina Hidreltrica de Itaipu, que

    gerou novos impactos e transformaes sociais na Regio. A implantao deste projeto tinha

    o objetivo de fortalecer a infra-estrutura educacional na Regio, criando condies de superar

    os novos e variados problemas gerados pelas transformaes scio-econmicas e culturais,

    propondo a renovao dos sistemas educacionais e o desenvolvimento do potencial educativo

    da Regio.

    EMER (1991), afirma que, para a implantao do projeto e o desenvolvimento de seus

    planos de aes, era necessria uma ampla articulao dos rgos educacionais municipais,

    estaduais e federais. O projeto tinha uma coordenao no MEC e uma coordenao de rea.

    Antes de implantar o projeto foi realizado um amplo diagnstico scio-econmico,

    educacional e cultural nas trs principais cidades plos da Regio: Cascavel, Foz do Iguau e

    Toledo.

    Este estudo revelou as condies da educao regional. Com isso, retomaram-se as

    discusses envolvendo diversas organizaes regionais como Associao dos Municpios do

    Oeste do Paran (AMOP), doravante denominada apenas AMOP, as cooperativas

    agropecurias e sua central de cooperativas COTRIGUAU, os cursos superiores de

    educao, educadores e a sociedade regional, em geral.

    Este estudo mostrou, tambm, que em alguns anos, os ndices de evaso e repetncia

    nas primeiras sries do ensino de primeiro grau chegavam a 65% dos alunos. Nos outros anos,

    embora menores os percentuais, estiveram prximos a 65%. Estes fatores, associados ao

    tardio ingresso na escola (22% dos alunos), geraram uma defasagem entre aluno-srie-idade.

    De acordo com EMER (1991), as causas internas escola, que contriburam para a

    conformao desse quadro, apontada pelo diagnstico, foram: falta de professores habilitados

    e qualificados para o magistrio (54% na rea urbana e 80% na rea rural) em escolas

    primrias; falta de domnio e metodologia de ensino, gerando dificuldades de aprendizagem e,

    conseqentemente, abandono e repetncia dos alunos. A mobilidade populacional (xodo

    rural e migrao para outras regies) no perodo, onde cerca de 20% dos professores

    interrompiam a ao pedaggica, para acompanhar sua famlia que se mudava para outros

  • 454

    lugares, um exemplo. A substituio do professor era muito demorada e, geralmente, feita

    por algum inexperiente e sem habilitao. Alm disso, o material pedaggico era caro e

    inadequado realidade scio-cultural da Regio.

    Alm disso, ainda existiam outros fatores que contriburam para o diagnstico

    verificado, tais como: deficincia de sade na populao escolar, (verminose, 94% dos alunos

    na rea rural e 54% nas periferias urbanas); deficincia visual e auditiva; distncia da escola;

    necessidade de trabalhar nos perodos de limpa e colheita agrcola; escolas mal localizadas;

    falta de material de apoio; insuficincia de salas de aula e turnos intermedirios.

    Segundo EMER (1991), a reforma do ensino estabelecida pela Lei n 5.692/71, foi

    implantada paulatinamente, aps planejamento centralizado na SEED. Por essa lei, ficou

    estabelecido que nas maiores cidades do Estado ocorreriam os cursos de reciclagem para

    professores. Foram, assim, desencadeadas amplas discusses sobre a educao. A publicao

    dos primeiros dados do diagnstico ampliou as discusses preexistentes e mobilizou os

    poderes pblicos na busca de solues para a educao regional.

    Foi elaborada a Chamada Escolar e as crianas em idade escolar foram convocadas

    atravs dos meios de comunicao. Os pais deveriam matricular seus filhos nas escolas mais

    prximas. Isso provocou uma grande contingncia de alunos na primeira srie. Esses alunos

    foram atendidos em sales de festas alugados, igrejas e em outros locais disponveis at a

    construo de escolas em nmero suficiente para atender toda a demanda. Novos cursos

    foram oferecidos aos professores alfabetizadores e se produziu o material didtico, seguindo

    um mtodo de alfabetizao desenvolvido pelo Professor Erasmo Pilotto.

    Em sua tese de mestrado, EMER (1991), diz que este mtodo de alfabetizao

    desenvolveu-se, especialmente, por exigir poucos conhecimentos tericos de domnio

    especfico de professores habilitados. A primeira experincia de treinamento ocorreu em

    Toledo, em 1976, com resultados animadores. Em 1982, j haviam sido treinados 6.778

    professores na Regio Oeste do Paran. O mtodo de alfabetizao Erasmo Pilotto foi

    transformado em cartilha de alfabetizao pela professora Isolda Peixoto Ruoso.

  • 455

    O Projeto MEC/OEA tinha prazo determinado para acabar, mas os estudos sobre a

    educao precisavam de continuidade. Para sanar este problema foi criada a ASSOESTE, em

    1980, com o objetivo de desenvolver e articular aes bsicas na programao do

    desenvolvimento educacional em todos os graus e nveis, produzir e experimentar novos

    materiais didticos, produzir ou solicitar novas metodologias de ensino e desenvolver recursos

    humanos para a educao. De acordo com EMER (1991), foram produzidas e distribudas

    mais de 40 mil cartilhas, gratuitamente nas escolas rurais, em 1981.

    Nascida do projeto MEC/OEA, a ASSOESTE teve seu primeiro momento de grande

    importncia nas discusses sobre educao regional no ano de 1981, quando foram pensadas

    diferentes alternativas para melhoria da qualidade do ensino nas demais sries iniciais. Era

    clara a desvinculao do material didtico com a cultura regional. Ento, estabelecer maiores

    vnculos entre a realidade vivida e o processo educacional passou a ser tema de estudos e

    debates, alm de tentar recuperar valores culturais dos colonos e das camadas populares que

    estavam sendo destrudas no interior das relaes sociais impostas pela modernizao da

    economia regional.

    Assim, segundo EMER (1991), um grupo de professores da ASSOESTE, com esses

    ideais passou a discutir estas questes com outras instituies e buscou-se a assessoria de

    professores pesquisadores da atual Unijui, que j desenvolvia uma metodologia de ensino,

    semelhante ao desejado para a Regio.

    Com isso, iniciou-se um programa de pesquisa histrica tcnico-pedaggica

    assessorada por tcnicos da Unijui, na Regio, com o Projeto Memria. Com base nesses

    estudos, foram produzidos mais de 2.500 textos didticos, dos quais foram selecionados 52,

    dentre eles encontra-se o livro Repensando o Oeste do Paran.

    Segundo EMER (1991), o Projeto Memria, foi o programa que mais movimentou as

    discusses da educao regional e, tambm, o que mais sofreu restries de segmentos sociais

    que temiam a reviso histrica da Regio. Foram censurados, principalmente, os textos que

    tratavam dos conflitos de terras, de questes fundirias e dos colonos expulsos do campo por

    jagunos contratados pelas indstrias madeireiras.

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    O segundo grande momento da ASSOESTE ocorreu, tambm, no ano de 1981, quando

    passou a refletir sobre questes do ensino superior na Regio Oeste do Paran. Na tentativa de

    construir os recursos humanos necessrios foram programados dois cursos de ps-graduao

    latu sensu. Um em Lngua Portuguesa, com um grupo de professores da Universidade

    Estadual de Campinas - UNICAMP, e outro em Planejamento e Administrao da Educao,

    com professores do Instituto de Estudos Avanados e Educao IESAE Fundao Getlio

    Vargas Rio de Janeiro.

    Estes cursos estimularam os professores das faculdades regionais a realizarem cursos

    de ps-graduao, em nvel de mestrado, contribuindo para a melhoria da formao de

    professores e/ou a pensar a educao com perspectivas tericas mais consistentes, superando

    as perspectivas tecnicistas.

    Enquanto isso, na SEED, se estudava um novo rumo para a educao. Este consistia

    no ciclo bsico, centrado na alfabetizao, que superava o mtodo do Prof. Erasmo Pilotto, ao

    agregar perspectivas de globalizao.

    Segundo EMER (1991), a partir de 1983, a ASSOESTE props o desenvolvimento dos

    ensinos da Matemtica e de Iniciao s Cincias, reas em que estavam defasadas as

    metodologias de ensino e seus programas educacionais. Ento, com base em experincias

    isoladas, foi criado um mtodo para o ensino da matemtica, articulando as prticas sociais de

    ensino e utilizando tcnicas de ensino e manuseio de material concreto, facilitando o

    aprendizado.

    Em 1984, um novo governo tomou posse. A relao de intercmbio entre a

    ASSOESTE e o Departamento de Ensino de 1 Grau se intensificou. Muitos projetos foram

    aprovados neste perodo. Por motivos polticos, o Governador afastou o Diretor do

    Departamento de Ensino de 1 Grau.

    A partir desse momento as aes educacionais da ASSOESTE passaram a sofrer srias

    restries e seus projetos s seriam analisados se passassem pelos Ncleos Regionais de

    Educao, na rea de abrangncia onde seriam desenvolvidos os cursos ou outras atividades

    com os professores. Aumentou, consideravelmente, o processo burocrtico para

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    implementao dos projetos. Essa foi uma forma encontrada pelo Governo do Estado para

    subordinar e controlar as aes da ASSOESTE SEED, segundo EMER (1991).

    Desta forma, a ASSOESTE manteve-se mais no atendimento ao ensino pblico

    municipal, escola rural, s escolas das periferias urbanas e seus professores, salvaguardando

    sua autonomia.

    Durante a dcada de 1980, as escolas municipais continuaram a sofrer transformaes.

    Aps a modernizao da agricultura e expulso de grande parte da populao, do campo,

    muitas escolas rurais foram fechadas e os alunos foram transferidos para as escolas maiores,

    onde a educao era centralizada.

    Segundo EMER (1991), outro momento significativo da ASSOESTE foi um estudo

    sobre as faculdades regionais. Foi percebido que as instituies mantidas por fundaes

    municipais no teriam condies de se expandir e garantir a qualidade nos seus cursos de

    graduao. Essa qualidade era exigida para superar os estrangulamentos regionais, tanto na

    educao quanto na busca de novas alternativas de desenvolvimento scio-econmico-

    cultural.

    Em 1984, a ASSOESTE comandou uma intensa mobilizao com o objetivo de

    aproximar as faculdades isoladas. Promoveu encontros de estudos, envolvendo diferentes

    segmentos sociais e seus rgos representativos, polticos, rgos e representantes do

    Governo do Estado. Esses debates levaram a criao da Federao de Faculdades do Oeste do

    Paran, em 1987. Nesta primeira etapa, o Estado assumiu a folha de pagamento das

    instituies regionais, depois de interminveis barganhas. Em 1988, a Federao foi

    transformada em Fundao, dando origem FUNIOESTE e, somente em 1995, ocorreu a

    criao da UNIOESTE, uma universidade estadual multicampi, com campus nas cidades de

    Toledo, Foz do Iguau, Marechal Cndido Rondon e Cascavel, sendo que nesta ltima passou

    a funcionar tambm a Reitoria da UNIOESTE. Atualmente, a UNIOESTE mantm, ainda, um

    campus em Francisco Beltro, na Regio Sudoeste do Paran, alm das extenses em

    Palotina, Santa Helena e Medianeira.

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    Portanto, pode se dizer que a escola gestada no interior da sociedade e a educao

    produzida na Regio Oeste do Paran foram condicionadas pelas lutas sociais e pelas

    alternativas encontradas para atingir nveis de qualidade desejados pela sociedade, que

    especfica da Regio Oeste do Paran, inexistentes em outras regies do Pas.

    Os caminhos encontrados para superar os problemas da educao seguiram as mesmas

    alternativas buscadas para superar outros problemas vitais, como subsistncia, produo de

    excedente e a comercializao da produo, via associativismo, que se iniciou em um ponto

    especfico da Regio e alastrou-se para todos os municpios. Assim, ocorreu com as

    cooperativas dos colonos, com as cooperativas da modernizao agrcola que se integraram

    numa central, com o projeto MEC/OEA que se transformou na ASSOESTE, com as

    faculdades municipais transformadas em Federao de Faculdades, mais tarde em Fundao e,

    finalmente, em UNIOESTE, uma universidade multicampi, sediada em Cascavel e com

    campus nas principais cidades da regio, Toledo, Foz