brasil observer #22 - portuguese version

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WWW.BRASILOBSERVER.CO.UK FREE LONDON EDITION ISSN 2055-4826 #0022 NOVEMBER READ IN ENGLISH DILMA ROUSSEFF REELEITA WORLD TRAVEL MARKET Os desafios da presidenta no segundo mandato Brasil mostra seus melhores destinos em Londres BRASIL OBSERVER PERSPECTIVA GLOBAL EXCLUSIVO: EMBAIXADOR ROBERTO JAGUARIBE RESPONDE SOBRE A POSIÇÃO DO BRASIL NO MUNDO LETICIA FADDUL CADU GOMES DIVULGAÇÃO

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Embaixador Roberto Jaguaribe responde sobre a posição do Brasil no mundo

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Page 1: Brasil Observer #22 - Portuguese Version

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dilMa ROUssEFF REElEiTa WORld TRaVEl MaRKETOs desafios da presidenta no segundo mandato Brasil mostra seus melhores destinos em londres

B R A S I LO B S E R V E R

PERSPECTIVA GLOBAL EXClUsiVO: embaixaDor roberTo Jaguaribe respoNDe sobre a posição Do brasil No muNDo

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SUMÁRIO4

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21242630

AnA ToledoDiretora de Operações

[email protected]

Guilherme reisDiretor de Redação

[email protected]

roberTA schwAmbAchDiretora Financeira

[email protected]

ediTorA em inGlêsKate Rintoul

[email protected]

desiGn e diAGrAmAçãoJean Peixe

[email protected]

colAborAdoresAlec Herron, Bianca Brunow, Franko Figueiredo, Gabriela

Lobianco, Leticia Faddul, Marielle Machado, Michael

Landon, Nathália Braga, Ricardo Somera, Rômulo

Seitenfus, Rosa Bittencourt, Shaun Cumming, Tiago Lobo,

Wagner de Alcântara Aragão

impressãoIliffe Print Cambridge Ltd.

disTribuiçãoEmblem Group Ltd.

pArA AnunciAr [email protected]

020 3015 5043

pArA [email protected]

pArA suGerir pAuTA e colAborAr

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colunisTA conVidAdoTiago Lobo discorre sobre a prática do jornalismo

coneXão br-uK Cooperação entre cientistas brasileiros e britânicos

perFilDaniel Ribeiro, diretor de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

conecTAndoEm Curitiba, mobilização popular colhe primeiros frutos

em FocoEmpresas brasileiras se encontram no Reino Unido

brAsiliAnceOs desafios do segundo mandato de Dilma Rousseff

brAsil GlobAlEntrevista exclusiva com Embaixador Roberto Jaguaribe

GuiABrasil mostra seus destinos na World Travel Market

dicAs culTurAis

colunisTAs

ViAGem

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É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:

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B R A S I LO B S E R V E R

SE D I T O R I A L

Sejamos claros sobre a vitória de Dil-ma Rousseff na eleição presidencial do Brasil. O resultado das urnas é, antes de tudo, emblemático, pois, apesar do sentimento de mudança absorvido por parcela significati-va do eleitorado – que de fato tem inúmeras razões para querer que as coisas mudem no país –, a maioria dos brasileiros preferiu confiar, mais uma vez, nas propostas de avanço do campo progressista representado pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Propostas que, se analisadas pela perspectiva da afirmação de um mo-delo neodesenvolvimentista, com-prometido programaticamente com o crescimento da economia e com a redistribuição de renda, apontam para a superação de um esquema neolibe-ral pautado quase que exclusivamente pelos antídotos apregoados pelo mer-cado financeiro e pelos interesses das economias mais desenvolvidas.

Não é pouca coisa. Diante de uma conjuntura externa de baixo cresci-mento que adota a receita da austeri-dade e da diminuição dos benefícios sociais – refletindo, entre outras coi-sas, no fortalecimento de uma extre-ma direita isolacionista e preconcei-tuosa, representada no Reino Unido pelo partido UKIP –, a quarta vitória progressista confirma a possibilidade de construção de um caminho sobe-rano não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, que, afinal, se encontra mais ou menos no mesmo patamar de desenvolvimento.

O Brasil Observer acredita que, com Dilma, o país estará mais capaci-tado para que a população tenha, ao menos, a esperança de construir uma democracia social. E enfrentar o maior e mais urgente desafio nacional: dimi-nuir a desigualdade que mantém in-tactos os privilégios que sustentam as estruturas da casa-grande e da senzala.

Não há, porém, espaço para ilu-sões. Nos próximos quatro anos, para não sofrer as consequências de-sastrosas que um país dividido pode proporcionar, Dilma terá que, por um lado, cumprir as promessas de avanço aceitas por aqueles que nela votaram; por outro, compreender e encaminhar as demandas daque-les que não lhe deram o voto. Isso vai exigir foco prioritário em duas questões fundamentais: a reforma do sistema político e o direcionamento rumo à travessia para um novo ciclo de desenvolvimento econômico.

Não é tarefa fácil. A reforma polí-tica depende basicamente do diálogo que o governo conseguir empenhar junto ao Congresso Nacional – que nos dias seguintes às eleições apro-vou um projeto que enterra a pro-posta de Dilma pela criação de uma política de participação social. Se o os deputados federais não aceitam um maior protagonismo da popu-lação nas decisões nacionais, como acreditar que irão mudar as regras do jogo ouvindo aqueles que lhe de-ram a condição de representantes do povo? Essa é a primeira equação a ser resolvida.

Dilma defendeu durante a cam-panha a realização de um plebiscito para a criação de uma assembleia constituinte exclusiva e soberana do sistema político. Tal posicionamen-to já havia sido expresso durante as manifestações de junho do ano pas-sado, quando os brasileiros saíram às ruas para exigir, entre outras coisas, maior participação nos rumos do país. É o que se vê não apenas no Brasil, mas em todo mundo. Há uma demanda crescente por participa-ção direta na política, mas não pelos meios tradicionais, ou seja, por meio dos partidos. É claro que os partidos não devem ser demonizados – afinal,

sem partidos, o que resta é o autori-tarismo –, mas também não pode ser rechaçada a legitimidade do engaja-mento popular.

Quem tem medo do povo? Certa-mente aqueles que não estão interes-sados no desenvolvimento democrá-tico do país. E este desenvolvimento passa, por exemplo, pela necessidade de se acabar com o financiamento privado de campanhas políticas – que é um dos pontos essenciais da reforma defendida por Dilma. Tal ponto, aliás, é defendido inclusive por quem tem uma visão mais con-servadora. Afinal, empresas não vo-tam, e a partir do momento em que influenciam diretamente o pleito financiando candidatos e exigindo contrapartidas, deturpam o siste-ma que tem em sua raiz o conceito de “uma pessoa, um voto”. Se Dilma conseguir aprovar ao menos essa de-manda, o Brasil conseguirá ter um avanço sem precedentes.

Na área econômica – na qual o interesse internacional é muito maior – os desafios são problemáti-cos pelo fato de representarem para o governo o risco de adotar o pro-grama derrotado nas urnas e, con-sequentemente, perder credibilidade dentro da correlação de forças nacio-nais. Dilma passou a campanha di-zendo que seu adversário faria com que os juros aumentassem – e que isso seria um risco para o país. Mas, para a surpresa do próprio mercado, o Banco Central decidiu aumentar os juros na última semana de outubro. Além disso, antes do fechamento desta edição, corria a informação de que o governo preparava um pacote de redução dos gastos públicos – o que também foi dito que não seria feito pela presidente Dilma.

São exemplos. Independentemen-te deles, o governo federal precisa en-

contrar uma forma de balancear as contas públicas deficitárias e reduzir a inflação sem comprometer os in-vestimentos e o próprio crescimento que já está em patamares baixos. As desonerações aos empresários reali-zadas por Dilma no âmbito do Plano Brasil Maior não foram suficientes para elevar os investimentos privados – que poderiam ser mais estimulados se os investimentos públicos aumen-tassem, melhorando a infraestrutura e elevando a demanda.

Além disso, mesmo que o gover-no tema parecer contraditório, não é prudente tratar os investimentos estrangeiros como ameaças. Neces-sário é ampliar ainda mais o diálo-go com aqueles que compreendem mais amplamente o processo de de-senvolvimento. Ou seja, aqueles que entendem que um mercado interno aquecido, com empregos, salários e conquistas sociais, é a contrapar-tida indissociável de vendas, lucros e investimentos. E que a defesa do desenvolvimento, da competência e da competitividade nacional está no centro do projeto vitorioso nas urnas de outubro no Brasil.

EM TEMPO

O Brasil Observer completa um ano de vida neste mês de novembro. A certeza da relevância de nosso tra-balho durante esse período nos fez desenvolver algumas mudanças que podem ser conferidas nesta nova edição – com mais páginas, editorias e colaboradores, além de um novo projeto gráfico. Assim, reafirmamos nosso compromisso de trazer aos leitores um produto jornalístico de qualidade, com discernimento críti-co e fiel à verdade dos fatos. Agrade-cemos imensamente a todos nossos colaboradores e leitores. Obrigado!

MaiS quatro anoS pela frente

Page 4: Brasil Observer #22 - Portuguese Version

4 brasilobserver.co.uk | November 2014

COLUNISTA CONVIDADO

Jornalismo e as folhas outonais

Estou convicto de que nós, jornalistas, não sabemos nada. Ou, sendo generoso, muito menos do que acreditamos saber

Por Tiago Lobo

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5brasilobserver.co.uk | November 2014

RRecebi mil palavras para contar uma histó-ria para vocês. E até aqui, podem conferir, já gastei dezesseis. A metade do tempo mé-dio, em minutos, que dura um cigarro, ou meu copo de Whiskye. São dezesseis pala-vras e uns oito minutos que retratam um período intrínseco da reportagem.

Acompanhe: escrever duas frases não tomam mais do que a metade do tempo acima. É simples. Por vezes automático. Mas pensar em como escrevê-las quan-do se pretende contar uma boa história leva muito mais tempo do que o leitor possa imaginar. Como o jornalismo é uma espécie de “quase literatura feita com pressa”, e tem o péssimo costume de ceder a pressões industriais, torna-se frio e efêmero. Tão passageiro quanto uma folha despercebida pegando carona no vento do outono. Quando isso acontece deixa-se de contar uma história e ofere-ce-se ao leitor um relatório burocrático e natimorto. Deixa-se de perceber a beleza, o sutil e o não dito da atmosfera daquele ser que não mais receberá o alimento da árvore que o gerou. E a folha se despren-de. Sem vida, em um voo poético de en-contro à morte.

A árvore, que sacrifica suas belas criaturas em prol da sobrevivência, pois precisa economizar energia, poderia em-prestar sua poesia para uma reportagem sobre sustentabilidade. Como uma per-feita analogia sobre a maior preocupação do homo-sapiens no século XXI.

E se alguém possui dúvidas sobre isso, basta procurar os textos do jornalista norte-americano Joseph Mitchell, que resolveu contar a história de um pica-pau martelan-do o tronco de uma árvore. Ela caiu e a re-portagem de Mitchell tornou-se uma peça jornalística clássica e imortal, eternizada nas páginas da New Yorker.

É o pensamento, e o tempo dedicado a ele, que torna um jornalista capaz de quebrar as barreiras desta literatura feita com pressa. Fugir da pressão do tempo e do espaço, e criar uma peça jornalística em sua essência. É assim que se atinge a nobreza da reportagem. Dessa forma, se garante o dom da permanência a uma história. Todo este processo é pautado por um ímpeto bárdico de contar e com-partilhar fatos sobre a história humana. É a alma do homem da imprensa.

Quando se fala em jornalismo, hoje em dia, sinto pessoas pensando no con-sumo imediato de notícias. Um verdadei-ro fast food caótico de informações mal verificadas, desencontradas e levianas. Aqui, sou obrigado, a título de honra, a lembrar de Spyros Makridakis, um guru da administração que faria muito bem à imprensa. Ele defende, em um dos seus textos, que crescemos em uma cultura onde aceitamos determinadas afirma-ções como verdade, embora elas possam não ser. Uma delas é de que quanto mais informação tivermos, mais precisas serão

nossas decisões. Segundo Makridakis, sob uma ótica empírica, as informações disponíveis em geral são redundantes e oferecem pouco valor adicional.

Se analisarmos o jornalismo brasilei-ro, ele tem sua razão. E é surpreendente-mente fácil imaginar os principais jornais diários do país tornando-se o mesmo ve-ículo, em termos de conteúdo. Afinal, as manchetes são as mesmas, as notícias se repetem e são tratadas da mesma forma. O que muda é algum destaque regional.

Então, pergunto: seu tempo é mais bem investido consumindo várias repor-tagens feitas com pressa, meias notícias, ou focando em reportagens que vão lhe explicar, com análise e profundidade, os fatos que lhe interessam?

É muito comum jornalistas pensa-rem. O problema é que eles pensam que entendem. Pensam que sabem. E vão morrer acreditando que compre-endem o que você, leitor, quer ler. E pior: como você quer ler.

Já tem alguns que juram que desco-briram que vocês não querem ler, mas apenas ver. Aí pulam infográficos, cores, fotos que não precisavam ter aquela di-mensão e dados, como relatórios e balan-ços financeiros, que transformam a vida humana em estatísticas gélidas.

Estou convicto de que nós, jornalis-tas, não sabemos nada. Ou, sendo ge-neroso, muito menos do que acredita-mos saber. Até podemos ter uma ideia, chegar perto do que você espera, mas é a utópica cauda longa do contador de histórias. E essa ciência da dúvida é um combustível potente para alimentar a qualidade do nosso trabalho.

Talvez, por essa arrogância disfarçada de expertise bon vivant, que o jornalismo viva o seu mais intenso outono. A cada segundo, na rua, onde é lugar de repórter, aquelas folhas despencam sobre os olhos das pessoas, tentando ser vistas, ouvidas e respeitadas. Os jornalistas, dentro das suas redações refrigeradas, estão cegos para a poesia da vida e reproduzem a atmosfera morta e sem brilho dos seus escritórios digitais. Tentam traduzi-las através de pulsos elétricos e códigos bi-nários. Vivem empoleirados no telefone e grudados com os olhos no computador – sua janela artificial para a vida huma-na. Pode ser por isso que temas extremos como assassinato, pobreza, corrupção, desastres e a vida em sociedade sejam ti-dos como clichês tão banais.

A individualidade dos fatos, sua at-mosfera, e a própria individualidade humana sempre irá procurar a lufada de vento para navegar pelo mundo. Cabe aos jornalistas prestarem mais atenção. O escritor argentino Mempo Giardineli dizia que “as pessoas jamais deixarão de se interessar por histórias bem conta-das”. Que os jornalistas entendam isso antes do próximo inverno.

g Tiago Lobo é jornalista freelancer, editor da Revista Pensamento

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6 brasilobserver.co.uk | November 2014

O Brasil não está virando uma Venezuela, nem uma Argentina. O PT não é um partido socialista, é na verdade um partido social democrata e pró-business

Evento organizado pela UK Trade & Investment reuniu no final de outubro, em Londres, empresas brasileiras que já estão ou pretendem se estabelecer no Reino Unido, além de outras companhias com interesses no Brasil. Batizado de Meet Brazil in the UK, o encontro contou com a recepção do Consul Britânico de São Paulo e diretor do UKTI Brazil, Richard Tuner, e da Gerente de Investimentos da UKTI Brazil, Raquel Kibrit, e teve como objetivo a troca de experiências e geração de novas oportunidades de negócios.

Único representante da mídia brasi-leira produzida no Reino Unido, o Brasil Observer teve a chance de conhecer ini-ciativas interessantes de brasileiros que buscam, em Londres, internacionalizar seus negócios.

Um dos destaques ficou por conta da plataforma Bliive, uma rede colabora-tiva de troca de tempo. A diretora Ana Beatriz Schwanck Fernandes e o desen-volvedor Fernando Gielow, que estão baseados em Glasgow, na Escócia, apre-sentaram o conceito. E o funcionamento é bastante simples: primeiro, o usuário da rede oferece uma experiência, como, por exemplo, uma aula de guitarra du-rante uma hora; pela hora oferecida, recebe-se um TimeMoney, a moeda de

troca da rede; depois, o TimeMoney pode ser trocado pelo o que o usuário quiser. A iniciativa recebe financiamen-to do Sirius Programme, que oferece oportunidades para empreendedores do mundo todo conseguirem estabelecer seus negócios no Reino Unido.

Entre as empresas que ainda não es-tão no Reino Unido, mas que pretendem chegar ao mercado britânico, o Brasil Observer pôde conhecer a Multi Farmas, um comparador online de preços de me-dicamentos e remédios entre farmácias e drogarias. O fundador Carlos Matos, que estava em Londres pela primeira vez, dis-se que já havia feito estudos de viabilida-de, mas que só saberia com certeza após conhecer melhor o “terreno”, o que ele esperava que acontecesse com durante a Innovate UK, no início de novembro.

Outra empresa brasileira que pre-tende chegar ao Reino Unido chama-se Sankhya, representada pelo Gerente de Produtos Lucas Menezes. Baseada em Uberlândia, Minas Gerais, a companhia oferece soluções em gestão empresarial utilizando a tecnologia da informação. Já entre as empresas brasileiras estabele-cidas no mercado britânico estavam, en-tre outras, Qualitin, HUB, Nabas Legal e Asc Accountants.

EMPRESAS BRASILEIRAS SE ENCONTRAM EM LONDRES

EM FOCO

Anthony Pereira, diretor do King’s Brazil Institute, durante debate organizado pela Canning House sobre a eleição presidencial no Brasil

g 11 de novembroEm seminário organizado pelo King’s Brazil Institute, o Dr. Jewellord Nem Singh, professor da University of Sheffield, analisa como os Estados constroem suas capacidades de desenvolvi-mento dentro do contexto da globalização econômica, examinando especificamente os casos do Brasil e do Chile.

g 13 de novembroA Embaixada do Brasil em Londres realiza a quarta edição do Brazil-UK Oil & Gas Meeting, o maior e mais importante evento sobre o setor brasileiro de óleo e gás na Europa. O encontro promove oportunidades de negócios no Brasil e contará com a participação de diversos es-pecialistas brasileiros e britânicos.

g 14 de novembroSeminário internacional organizado pela London School of Economics e pela UNESCO reúne múltiplas vozes do Brasil e do Reino Unido para debater como experiências de desenvolvi-mento social interagem e influenciam as políticas públicas governamentais e tomadores de decisões na implementação de ações práticas.

g 19 de novembroCâmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha promove debate sobre o que significa o re-sultado da eleição presidencial no Brasil para as empresas de advocacia britânicas.

g 25 de novembroO King’s Brazil Institute recebe a professora e pesquisadora Simone Maria Hüning, da Univer-sidade Federal de Alagoas (UFAL), que apresenta seus estudos sobre temas relacionados à governança biopolítica da vida nos espaços urbanos.

NA AGENDA

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8 brasilobserver.co.uk | November 2014

PERFIL

Diretor do filme ‘Hoje Eu Quero Voltar Sozinho’, em cartaz no Reino Unido desde outubro, fala da desco-

berta da sexualidade na adolescência, dos avanços alcançados pela comunidade LGBT e se define como

um otimista: “para tudo que há de negativo no mundo, existem muito mais coisas positivas”

Por Guilherme Reis

Estamos finalmente deixando a

hipocrisia de lado no Brasil,

aquela que finge que não tem

racismo, que não tem homofobia.

Está muito claro que existe e

agora temos que enfrentar

Daniel RibeiRo não

vai voltaR sozinho

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9brasilobserver.co.uk | November 2014

OO ano de 2014 certamente ficará mar-cado como um dos mais especiais da promissora carreira do diretor bra-sileiro Daniel Ribeiro. Afinal, já são quase seis meses rodando o mundo para apresentar seu primeiro longa-metragem, Hoje Eu Quero Voltar So-zinho (The Way He Looks, em inglês), que, além de receber uma série de prê-mios no Festival de Cinema de Ber-lim, foi escolhido para ser o candidato do Brasil ao Oscar 2015 na categoria de melhor filme estrangeiro.

No final de outubro, o filme es-treou nos cinemas do Reino Unido, por onde Daniel esteve para participar de festivais e conversar com o público sobre seu trabalho – inclusive no BFI London Film Festival. Um dia antes de embarcar para Bélgica para mais uma série de compromissos, recebeu a equipe do Brasil Observer no hotel em que estava hospedado para uma entrevista exclusiva. A ideia era traçar o perfil do diretor, entender suas mo-tivações e formas de ver o mundo.

Mas, antes de começar, vale a pena abrir parênteses para quem ainda não sabe sobre o que se trata o filme. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho segue a tra-jetória do protagonista Léo (Guilher-me Lobo), um adolescente cego que se descobre gay ao se apaixonar por Gabriel (Fábio Audi), colega recém-chegado à escola. Em volta deste en-contro e da descoberta da sexualidade se desenrolam outras questões, como a relação com a melhor amiga Giova-na (Tess Amorim) e a busca pela inde-pendência dos pais superprotetores.

Como para a maioria das pessoas que escolhem uma carreira na área da comunicação – ainda mais se liga-da às artes –, o que motivou Daniel a ingressar no curso de audiovisual na Universidade de São Paulo foi uma necessidade de se expressar, de encon-trar maneiras de dizer aquilo que ele julga importante para a construção da sociedade. “A questão gay sempre foi muito importante para mim. Foi um dos fatores mais fortes que me leva-ram a estudar cinema”, explicou.

“Quando eu tinha 16 anos sentia que não havia filmes ou personagens gays com os quais eu pudesse me identificar. Isso era e ainda é muito ruim, principalmente para adolescen-tes gays que estão crescendo e não têm referência de quem eles podem ser, de como eles podem ser, se podem ser felizes ou não nessa sociedade violen-ta”, argumentou Daniel. “Mas não só”, continuou, “outras questões sociais que nós vivemos no Brasil também me incomodam muito. Temas como aborto, drogas e racismo me instigam e me fazem desenvolver essa vontade de abordá-los através do cinema”.

A natureza militante de Daniel não faz com que ele pareça bitolado em uma única ideia. Apesar de tratar dos temas relacionados aos direitos da comunida-de LGBT com frequência, carrega em seu tom de voz uma leveza necessária para que se possa enxergar, além dos problemas, as virtudes e oportunidades de cada momento histórico.

“Vejo tudo de forma positiva. Acho que evoluímos muito no Brasil e não dá para sentir que estamos atra-sados porque a visibilidade ficou mui-to grande nos últimos dez anos. Hoje temos personagens gays em quase to-das as novelas. Isso para mim é uma evolução”, opinou Daniel. “Não pode-mos ignorar isso e ficar pensando só nos Felicianos da vida [referência a Marco Feliciano, pastor evangélico e deputado federal que milita contra os direitos da comunidade LGBT]. São reflexos da nossa visibilidade. O tanto que aparecemos passou a incomodar essa gente. Aí saíram eles do armário, todos os reacionários, para combater o que eles acham que é um problema”.

Para Daniel, “estamos finalmente deixando a hipocrisia de lado no Bra-sil, aquela que finge que não tem ra-cismo, que não tem homofobia. Está muito claro que existe e agora temos que enfrentar isso. O brasileiro é tole-rante, somos um povo que aceita dife-renças, apesar do racismo e da homo-fobia. Quanto mais nos conhecemos, menos preconceituosos somos. É mais fácil ser tolerante quando certos temas deixam de ser tabu na socieda-de. Então sou otimista”.

Ao falar especificamente sobre o filme, Daniel revelou que a ideia prin-cipal era refletir sobre de onde vem a sexualidade. “Muitos pensam que a pessoa escolhe ser gay. Mas todo gay diz que nasceu gay. Então quando você pega um personagem cego, que nunca viu uma mulher ou um homem e acaba se apaixonando por alguém do mesmo sexo, você questiona isso”, afirmou. “O sexo e a sexualidade estão muito ligados à visão. Assim como o preconceito, pois muitos dizem que aceitam os gays, mas não querem ver. Quando você tira a visão do persona-gem, você começa a ver a homossexu-alidade de uma forma diferente, mas delicada e natural. É um filme de gay para hétero. Não há nada que possa incomodar”, completou o diretor.

A delicadeza e a naturalidade com as quais o filme aborda o tema da homos-sexualidade são reveladoras de outro traço importante da personalidade de Daniel. Ele viveu um período de desco-berta muito parecido com o que é retra-tado em Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, o que lhe garantiu uma aceitação não conflituosa do próprio ser.

“De certa forma, sempre fui muito bem resolvido. É claro que quando se é muito novo, tem 12 ou 13 anos, você não entende o que está acontecendo, se questiona muito e não tem com quem falar. Mas para mim, mesmo naquela época dos anos 1990, quan-do não havia muitas referências, foi tudo muito tranquilo. Com 16 anos eu também tinha uma melhor amiga, e chegou um menino novo na escola com quem eu comecei a namorar. Ele foi fundamental para eu me entender, e eu para ele. Ali acelerou minha acei-tação”, contou Daniel.

“Eu não aceitava ser infeliz, não aceitava fingir que não era gay. Eu acho que nenhum adolescente gay deve se questionar. Os heterossexuais crescem e namoram sem nenhum tipo de pro-blema, por que os gays tem que passar por esse processo?”, questionou.

E concluiu: “A adolescência é um momento muito curto da vida e é muito injusto que um adolescente gay perca esse momento de estar excita-do com uma nova paixão. As paixões gays do passado, na maioria, não se concretizavam. Eram paixões platô-nicas que não se realizavam quando você era jovem. A gente não pode privar os adolescentes gays de terem esses momentos. Eu tive a oportuni-dade de estar apaixonado aos 15 anos de idade. Os gays merecem isso”.

A maneira como Daniel enxerga e retrata o mundo ao seu redor não lhe garante, porém, apenas elogios. Algu-mas das críticas em relação ao filme di-zem que se trata de uma representação utópica da realidade, principalmente em um Brasil onde muitos homosse-xuais morrem diariamente vítimas de violência. Mesmo assim, Daniel parece carregar um otimismo inabalável, mui-to mais do que inocente.

“Os conflitos que existem me estimulam a lutar mais. A briga vai ser difícil, mas vai dar certo. Acre-dito nas pessoas, nos seres huma-nos. Para tudo que há de negativo no mundo, existem muito mais coi-sas positivas. Há muito mais histó-rias hoje em dia de gays felizes do que de gays que são espancados nas ruas. Apesar da violência existir, o amor é maior. Os dois lados são im-portantes de serem mostrados!”

Durante o mês de novembro, Da-niel Ribeiro estará nos Estados Uni-dos divulgando seu filme, participan-do de eventos e sendo visto e ouvido por um número cada vez maior de pessoas. Independentemente do re-sultado do Oscar 2015, certo é que, quando Daniel voltar ao Brasil, não estará sozinho em sua forma de levar a vida e enfrentar as pequenas neuro-ses sociais contemporâneas.

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Daniel Ribeiro durante gravação do longa-metragem

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10 brasilobserver.co.uk | November 2014

BRASIL GLOBAL

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11brasilobserver.co.uk | November 2014

AA percepção internacional em rela-ção ao Brasil – e a forma como o país se posiciona diante dos interesses que regem o processo de globaliza-ção – teve em 2014 um ano repleto de acontecimentos que conduziram à formação de um amplo leque de in-terpretações. Da capacidade do país para sediar a Copa do Mundo à es-colha do novo Presidente da Repú-blica, não faltaram argumentos que apontassem os melhores caminhos a serem seguidos rumo ao desenvol-vimento da sétima maior economia do mundo. Economia que, diante de um quadro de baixo crescimento externo, encontra-se diante do risco da estagnação, embora mantenha ín-dices invejáveis se comparados com os mesmos de países desenvolvidos – como são os casos do nível de em-

prego, do aumento dos salários e da redução da desigualdade.

Para uma maior compreensão sobre o papel que o Brasil desem-penha no mundo hoje, e para que haja um maior diálogo com todos aqueles que enxergam no país uma vasta carteira de oportunidades, o Brasil Observer entrevistou com ex-clusividade o embaixador do Brasil no Reino Unido, Roberto Jaguaribe. Conduzida antes do segundo turno da eleição que reelegeu a presiden-ta Dilma Rousseff para mais quatro anos de mandato, a conversa girou em torno das relações bilaterais en-tre brasileiros e britânicos, passando pelos desafios do desenvolvimento nos países emergentes e a integração latino-americana. Confira a seguir os melhores trechos da entrevista.

BrAsil está no mercAdo pArA se

desenvolverPara o Embaixador

do Brasil no Reino Unido,

Roberto Jaguaribe, “investimento

externo tem que gerar desenvolvimento

nacional, competência e emprego”, elevando

as capacidades tecnológicas e

produtivas do país

Por Guilherme Reis

Segue >>

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12 brasilobserver.co.uk | November 2014

Qual o foco da Embaixada Brasi-leira em Londres?

Como qualquer Embaixada do Brasil no mundo, temos alguns objeti-vos permanentes. O mais evidente para nós é ampliar, reforçar e aprofundar os laços bilaterais com o Reino Unido. Então, não podemos perder de vista alguns elementos. Em primeiro lugar, a relevância da relação bilateral. Em segundo, o entendimento da Inglaterra como um grande ator global. Em ter-ceiro, as múltiplas facetas que Londres apresenta e que não estão necessária e diretamente ligadas ao governo inglês, pois tem dimensão própria.

Evidentemente que este ano para o Brasil é diferente, então tivemos focos diferentes. Tivemos em primeiro lugar a realização da Copa do Mundo, que gerou expectativas enormes e muita tensão em relação ao que ia acontecer. A embaixada se dedicou muito a bus-car racionalizar esse debate e mostrar que havia um preparo mais que sufi-ciente para realização do evento. Em segundo lugar é ano de eleições, que geram demandas e questionamentos diferenciados.

De que maneira as eleições interfe-rem no seu trabalho?

Na verdade elas criam uma deman-da interna de coordenação de uma sé-rie de elementos e também uma expec-tativa de conhecimento e compreensão maior do Brasil. Você precisa esclarecer pontos. Evidentemente que a Embai-xada não está aqui para marcar uma ação política específica, mas para mos-trar e esclarecer elementos em relação ao Brasil, que ganha mais visibilidade por conta das eleições.

Mas eu queria falar sobre a inserção do Brasil no mundo. Eu acho que isso é uma questão fundamental e é preciso entender que a inserção de um país no mundo só é eficaz se ela for consequen-te e coerente. Consequente com política externa confiável, estabelecida e sólida. Coerente com a projeção interna do seu próprio país, como é que ele funciona. Política externa de qualquer país não pode ter uma dissonância muito acen-tuada entre o que o país é: sua cultura, sua vocação, sua natureza, sua dimen-são, seus problemas, seus desafios... Tudo isso tem que se projetar também na política externa.

O Brasil é um país incorporador. Seja visitante de pouco tempo ou imi-grante de longo prazo, todos são ab-sorvidos e integrados. Dentro desse panorama multicultural, temos uma tradição ocidental importante que faz nos sentirmos à vontade no diálogo com nossos vizinhos e parceiros tradicionais,

como Europa e Estados Unidos. Por outro lado, o Brasil é um país

em desenvolvimento, um país emer-gente que encontra inúmeros desafios e problemas pela frente. Isso nos coloca em uma posição de enorme compreen-são em relação aos problemas e desafios que outros países emergentes também têm. Portanto, junto com esse outro grupo de países, nós compartilhamos uma série de interesses e vontades. En-tão nos colocamos, simultaneamente, nesses dois universos, dos países ociden-tais tradicionais e dos emergentes. Eu não vejo nisso qualquer contradição. Nossos desafios de desenvolvimento são muito similares aos que encontramos em nossos vizinhos, particularmente, mas também nos países africanos, nos países da Ásia e de outros lugares do mundo. Então nós criamos condições de termos de afinidade, proximidade e entendimento com um grupo muito grande de países.

Um terceiro elemento é que há muitos anos o Brasil desenvolve uma política externa independente, voltada para priorizar os objetivos do Brasil. Não vamos, automaticamente, aderir à posição de nenhum outro país. O Bra-sil não tem aliados, o Brasil tem ami-gos. Então o Brasil cria afinidades com grande parte dos países e tenta gerar uma política de aproximação, sempre com independência. E dentro dessa ló-gica é preciso manter certo padrão para ganhar confiabilidade.

Há um consenso de que para o Bra-sil entrar em um novo ciclo de de-senvolvimento é preciso aumentar significativamente os investimentos, inclusive com captação de capital externo. Você acha que o país está fazendo o suficiente nesse sentido?

O Brasil é um país de grande atrati-vidade para o investimento externo. E, independentemente de certas variações cíclicas, continua sendo atraente. Tan-to é assim que nos últimos anos o flu-xo de investimentos no Brasil tem sido muito importante, o que não quer dizer que nós não temos problemas. O nível de investimento interno da economia brasileira está baixo, próximo de 16%, e historicamente já tivemos níveis mais elevados. Mas o Brasil continua sendo atraente para os investimentos e cer-tamente é função da embaixada pro-mover atratividades para atrair esses investimentos. Esteve aqui a então Mi-nistra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, fazendo um road show para apresentar pacotes de investimentos em infraes-trutura. Esteve aqui o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para a questão da tecnologia 4G. Fazemos frequentemente reuniões menores sobre

diversos tipos de investimentos. E tam-bém todos os anos fazemos um grande evento para a atração de investimentos na área de petróleo e gás, que é certa-mente o setor que está mais desenvol-vido.

O que o investidor precisa para ser bem sucedido no Brasil?

O Brasil é um país aberto ao inves-timento e com retornos importantes ao investidor externo há muitos anos. Então é preciso primeiro um conheci-mento do Brasil. Eu acho importan-te estabelecer parcerias adequadas e criar um esquema de construção no país. O que eu quero dizer com isso? O Brasil não está no mercado para ficar fazendo compras puras; está no mercado global para se capacitar e se desenvolver. Capacitar significa absor-ção de tecnologia; aumentar a capaci-dade industrial e de produção. Então não é exclusivamente uma compra de atacado, e sim uma questão de formar a base de produção e competitividade do país. É preciso entender que é esse o objetivo do investimento que nós de-sejamos. O investimento externo tem que gerar desenvolvimento nacional, competência e emprego.

O caminho inverso também é importante para o país, ou seja, a internacionalização de empresas brasileiras...

Certamente. Um dado interessan-te é que o Brasil foi o segundo maior investidor externo na União Europeia em 2013, atrás apenas dos Estados Unidos. Existem empresas brasileiras que são cada vez mais globais na área de energia, mineração, aço e siderur-gia, alimentação, distribuição, serviços, informática... Há um crescente número de empresas brasileiras buscando espaço global. E a verdade é que hoje, para ser competitivo em casa, é preciso ser com-petitivo no exterior. É natural que se faça assim e o Brasil tem feito isso bastante.

Mesmo assim há muita reclamação no Brasil no sentido de a competi-tividade das empresas brasileiras ser muito baixa...

Existem elementos que precisam ser atacados, e que estão sendo ataca-dos, mas que ainda precisam de muito esforço interno para que sejam supe-rados e melhorar a competitividade de certos setores produtivos no Brasil. Nós temos o famoso custo Brasil, re-lacionado à burocracia, desperdício, deficiência de infraestrutura... São muitos elementos que requerem um esforço de superação relevante.

Há um embate desnecessário entre Estado e mercado?

Isso acontece em todos os países do mundo. A percepção hoje é mais importante que a realidade, porque ela passou a ser a realidade. Então é importante você transmitir um si-nal de receptividade, de interesse, para garantir a reciprocidade. O Brasil tem um histórico muito anti-go de absorção de capital estrangei-ro, mas a relação mudou. Primeiro porque a dimensão do país mudou e o Brasil não é mais um país que pretende comprar pacotes prontos. O Brasil pretende se capacitar, pre-tende que os investimentos tenham convergência no sentido de produ-ção interna, geração de emprego, competência e competitividade, ca-pacidade produtiva. Isso é um pro-cesso que muitas empresas já estão fazendo e que vai continuar.

A crise financeira prejudicou a percepção externa do Brasil?

A crise financeira gerou formas diferenciadas de avaliação e de in-vestimentos, uma cautela maior. Hoje os investidores estão cautelosos no mundo inteiro, segurando um pouco mais suas capacidades de in-vestimento. Há uma aversão maior ao risco. Mas eu não tenho a menor dúvida de que, examinando a ques-tão da forma necessária, com uma visão de longo prazo, o Brasil é um dos mais atraentes países do mundo. Temos uma demografia favorável, recursos naturais favoráveis, um ambiente democrático estável, uma solidificação institucional impor-tante, uma capacidade produtiva no setor agroindustrial extraordinária, uma matriz energética limpa, uma disponibilidade de fontes diversas de energia, ou seja, todos os elementos de longo prazo indicam grande atra-tividade do Brasil.

Quais riscos o Brasil apresenta?

O risco é a falta de crescimento. No Brasil, há entendimento de que crescimento baseado exclusivamente na capacidade de ampliação do con-sumo das classes ascendentes não é mais suficiente. Isso vai continuar e é importante que continue, mas é pre-ciso que seja ampliado para outras vertentes, pois por si só não será su-ficiente para sustentar o crescimento e a própria ascensão social mais ple-na. Há também preocupações com as questões inflacionárias, mas o Banco Central tem atuado para evitar que a inflação escape da meta.

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13brasilobserver.co.uk | November 2014

A atenção maior que o Brasil vem dando aos países que formam o cha-mado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tem tirado a integração sul-americana do foco?

Não acho que isso seja verdade. A prioridade número um da política externa brasileira é com a nossa vi-zinhança, o que eu acho correto e na-tural. O progresso do Brasil tem que ser o progresso dos nossos vizinhos e vice-versa. Mas o Brasil é um país de uma dimensão tão grande que acaba se transformando em um natural ator global. Então a criação de outros gru-pos que nos fortalecem no cenário in-ternacional é de grande relevância, e o BRICS é um deles.

O que o Brasil tem de fazer para encaminhar de vez o acordo comercial que se costura entre Mercosul e União Europeia?

O problema de fazer um acordo entre dois blocos que congregam mais de 30 países é que se precisa do apoio de todos eles. Não é um processo que se resolve de um dia para o outro. É cla-ro que isso está se arrastando há muito tempo, com alegações de que a Argenti-na arrastava o pé, de que o próprio Bra-sil não estava encorajado, mas a ver-dade é que o Brasil está determinado, o setor industrial brasileiro tem muito interesse nisso e o governo certamente também tem. Não podemos fazer um acordo só porque é um acordo. É preci-so um acordo com real significado, que traga conquistas importantes, benefí-cios palpáveis. Eu não tenho dúvida que esse acordo vai sair.

No ambiente latino-americano, o que é preciso para superar as apa-rentes divergências entre Aliança do Pacífico e Mercosul?

O Mercosul é uma realidade insti-tucional efetiva. A Aliança do Pacífico é uma projeção de países que sequer têm fronteiras entre si, que não têm uma integração física natural imediata, mas que têm certa unidade de propósitos que eu acho louvável. Não vejo incompati-bilidade entre os dois blocos. Acho que a aproximação entre ambos é natural. São formas de acelerar convergências, alcançar objetivos e não vejo necessida-de nenhuma de disputa entre os dois.

Na opinião do diplomata esta-dunidense Arturo Valenzuela, o Mercosul seria mais uma união de costumes, enquanto a Aliança do Pacífico seria mais voltada ao mercado...

Evidentemente isso é uma opinião pessoal. O mesmo poderia se dizer da Aliança do Pacífico, que é uma alian-ça de vertente ideológica de países que buscam uma postura mais libe-ral. Mas eu não acredito que seja isso. Acredito que seja um interesse genu-íno de convergência, para aprimorar a participação desses países no mun-do. O Mercosul é muito mais do que a Aliança do Pacífico em termos de construção e em termos de realidade. Mas não vejo que haja necessidade de se manter um afastamento. O Brasil tem uma noção de que a integração da América do Sul é o objetivo maior. Nosso objetivo central de integração é pelo fortalecimento da Unasul.

g Em 2013, o Reino Unido foi 12º parcei-ro comercial do Brasil em termos de exportações e 15º em termos de im-portações. De 2003 a 2013, as expor-tações brasileiras para o Reino Unido cresceram quase 120%. As importa-ções brasileiras também mostraram grandes aumentos nos últimos anos, sendo que em 2013 aumentaram pou-co mais de 7%. A balança comercial apresentou um superávit para o Brasil, no ano passado, de US$ 487 milhões – com comércio bilateral total de US$ 7,7 bilhões, quase 4% menor em rela-ção a 2012. As exportações brasileiras para o Reino Unido são diversificadas, embora as matérias-primas e produ-tos semimanufaturados tenham maior destaque. Já as importações brasileiras provenientes do Reino Unido estão mais centradas em fatores de produ-ção e bens de capital.

g O Brasil registrou um aumento de 8% no fluxo de Investimento Estrangeiro Direto (IED) entre janeiro e agosto de 2014, alcançando assim mais de US$ 42 bilhões, informou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Estimativas oficiais indicam que a receita anual do Brasil neste ano será semelhante à regis-trada no ano anterior, que encerrou 2013 com mais de US$ 64 bilhões. Tal crescimento aconteceu em um período de baixa na região como um todo. O fluxo de IED em 13 países da América Latina e do Caribe caiu 23% durante o primeiro semestre de 2014 em relação ao mesmo período de 2013, alcançando apenas um total de US$ 84 bilhões. Ou seja, o Brasil em 2014 recebeu metade do valor total de IED nesses países da Améri-ca Latina e do Caribe.

g A internacionalização das empresas brasileiras cresceu 1,6% em 2013, se-gundo levantamento elaborado pela Fundação Dom Cabral. O ranking re-presenta uma amostra de multinacio-nais brasileiras que concordaram em participar da pesquisa. O levantamento é feito anualmente e leva em consi-deração os dados de ativos, receitas e funcionários dessas companhias no exterior. O levantamento mostrou que 65,1% das empresas pretendem ex-pandir suas operações nos mercados em que já atuam no exterior. Outras 44,4% planejam entrar em novos paí-ses em 2014, números que vêm se re-petindo nos levantamentos anteriores. A América do Sul lidera com 75,8% das multinacionais brasileiras com presen-ça física na região, seguida da América do Norte (66,7%) e Europa (54,6%).

g O Brasil foi o segundo maior inves-tidor na União Europeia em 2013, atrás apenas dos Estados Unidos. A lista conta com uma ampla lideran-ça dos EUA (€ 313 bilhões), seguido por Brasil (€ 21 bilhões), Suíça (€ 18 bilhões), Japão (€ 10 bilhões), Hong Kong e Rússia (ambos com € 8 bi-lhões). Em 2013, o principal destino dos investimentos da União Europeia também foi os Estados Unidos (€ 159 bilhões), seguido pelos centros financeiros Offshore (€ 40 mil bi-lhões), Brasil (€ 36 bilhões), Suíça (€ 24 bilhões), Hong Kong (€ 10 bilhões) e China (€ 8 bilhões). No quadro ge-ral, o investimento estrangeiro dire-to dos 28 países da União Europeia (EU28) para o resto do mundo che-gou a € 341 bilhões no ano passado, enquanto o investimento do resto do mundo no EU28 foi de € 327 bilhões.

g Em julho de 2014, os governos do Bra-sil, Rússia, Índia, China e África do Sul assinaram o acordo que criou o Ban-co de Desenvolvimento dos BRICS, instituição que irá financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimen-to. A nova instituição financeira terá capital inicial autorizado de US$ 100 bilhões. Também foi criado o Arran-jo Contingente de Reservas, com um montante inicial de outros US$ 100 bilhões. O arranjo funcionará como um “colchão de proteção” e será um mecanismo adicional a outros que já existem, como FMI (Fundo Monetá-rio Internacional). Juntos, os cinco países dos BRICS representam 46% da população mundial e 18% do PIB do mundo. Em dez anos, o comércio entre eles aumentou 922%, de US$ 27 bilhões em 2002 para US$ 276 bi-lhões em 2012.

g Em 2013, os países membros da Aliança do Pacífico (México, Peru, Chile, Colômbia e Costa Rica) tive-ram um crescimento econômico combinado de 5%, com o comér-cio entre eles crescendo 1,3% em relação ao ano anterior. Já o Mer-cosul (Brasil, Argentina, Venezuela, Uruguai e Paraguai) teve um cres-cimento combinado de 2,9%, com uma redução do comércio entre seus países membros na ordem de 9,4%. Para 2014, de acordo com pesquisa do banco de investimen-to estadunidense Morgan Stanley, a previsão é de que o crescimento do PIB da Aliança do Pacífico seja de 4,25%; do Mercosul, alta de 1,9%. A Aliança do Pacífico repre-senta hoje metade das exporta-ções da região, apesar de um PIB.

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Entrevista foi realizada em Londres antes do segundo turno da eleição que reelegeu a presidenta Dilma Rousseff

NOTAS E INFORMAÇÕES

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OO Conselho Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) firmaram em outubro três acordos de cooperação com o Reino Unido por meio do Fundo Newton, iniciativa britânica de fomento a pesquisa e inovação em países emergentes.

A solenidade de assinatura dos acordos aconteceu durante a 11ª Se-mana Nacional de Ciência e Tecno-logia, encerrada dia 19 de outubro, no Pavilhão de Exposições do Par-que da Cidade, em Brasília.

Anunciado em abril deste ano pelo ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, o Fundo Newton vai destinar ao Brasil 27 milhões de Libras (cerca de R$ 94 milhões) até 2017. O montante será investido em programas que contemplem capacitação, mobi-lidade acadêmica e pesquisa bilateral. As instituições locais se comprometem a investir recursos equivalentes como contrapartida.

O presidente do CNPq, Glaucius Oliva, assinou dois memorandos, um com o diretor adjunto do Conselho Britânico, Eric Klug, e o presidente do Confap, Sergio Gargioni, e outro com o embaixador do Reino Uni-do, Alex Ellis. Klug firmou o terceiro documento com o presidente da Ca-pes, Jorge Guimarães. O secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tec-nologia e Inovação (MCTI), Oswaldo Duarte Filho, participou da solenida-de, como anfitrião da Semana Nacio-nal de Ciência e Tecnologia de 2014.

Intercâmbio

De acordo com Oliva, duas das atividades iniciais na parceria do Fundo Newton envolvem o CNPq. A primeira é a realização de uma série de 10 workshops. “Quando se quer promover a interação entre cientistas do Brasil e do Reino Unido, uma boa maneira é escolher um tema, reali-

FundO newtOn prOmOve cOOperaçãO entre cientistas brasileirOs e britânicOsPara o embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, país caminha para se transformar em superpotência científica

Por MCTI

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CONEXÃO BR-UK

zar um encontro e reunir lideranças naquele tema, para que as pessoas contem o que estão fazendo”, disse. “E, a partir daí, encontrar interesses comuns entre esses os pesquisado-res para depois se desenvolverem em pesquisas conjuntas”, completou.

Financiada por CNPq, Confap e Conselho Britânico por meio do Fundo Newton, a série deve aproxi-mar as comunidades científicas em áreas como agricultura, biocombus-tíveis, biotecnologia industrial, doen-ças negligenciadas, fármacos, recur-sos hídricos e segurança alimentar.

O outro acordo diz respeito a um programa de trabalho partilhado, com chamadas públicas. “O objeti-vo é identificar pesquisadores dos dois países que estejam interessados em fazer pesquisa conjunta”, expli-cou Oliva. “O primeiro documento estimula o encontro dessas pessoas enquanto o segundo serve para re-almente dar apoio aos pesquisadores para promover o intercâmbio entre seus laboratórios”.

Relevância

Na solenidade de assinatura dos acordos, o embaixador britânico no Brasil, Alex Ellis, destacou que o Rei-no Unido é uma “superpotência cien-tífica”, com 76 prêmios Nobel, 16% dos artigos científicos mais citados do mundo e quatro das seis melho-res universidades do planeta. “Mas, quando cheguei aqui, descobri que o Brasil está no caminho, se já não é também uma superpotência científi-ca”, apontou. “É impressionante o au-mento de investimento e do retorno desse investimento nas últimas déca-das da história do país”, completou.

Na visão de Ellis, Brasil e Reino Unido costumam ser melhores quan-do trabalham juntos. “A internacio-nalização da ciência é essencial para superar desafios sociais, que todos te-mos”, afirmou. “A Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], por exemplo, fruto de investimento brasileiro, hoje está trabalhando com o governo britânico nos países mais

pobres do mundo para tentar resol-ver problemas sociais”, destacou o embaixador britânico.

Capes e Confap

De acordo com Sergio Gargioni, o Confap assinou o terceiro instrumento operacional no contexto do Fundo New-ton. “Um deles é uma chamada pública, com projetos tanto na Inglaterra como no Brasil. O segundo foi assinado recen-temente em Londres, para apoiar a mobi-lidade acadêmica. Esse de hoje permitirá a realização de 10 workshops, em parceria com o CNPq, como já disse o Oliva”, disse.

O presidente da Capes informou que o documento assinado com o Con-selho Britânico complementa ações conjuntas de projetos de pesquisa e for-mação de recursos humanos. Segundo Jorge Guimarães, há interesse mútuo em trabalhar na descoberta de fárma-cos, junto à Universidade de Nottin-gham, além de áreas como agricultura, água e meio ambiente, com outras ins-tituições parceiras.

Embaixador Alex Ellis

fala sobre os acordos

g Para mais informações sobre o Newton Fund acesse o site www.britishcouncil.org/education/science/newton

Page 15: Brasil Observer #22 - Portuguese Version

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Page 16: Brasil Observer #22 - Portuguese Version

16 brasilobserver.co.uk | November 2014

RReeleita com o voto de mais de 54,5 milhões de eleitores, a presidenta Dil-ma Rousseff (PT) assumiu, em seu primeiro pronunciamento público de-pois do fechamento das urnas, a mis-são de enfrentar desafios históricos do Brasil. Reconheceu que algumas correções de rumo devem ser toma-das em seu governo e se comprome-teu a tomar as medidas cabíveis para as alterações necessárias. Na avaliação dela, o recado das eleições foi claro: os brasileiros necessitam de mudanças e, em sua maioria, deram mais um voto de confiança na atual presidenta para liderar esse processo.

Depois de um processo eleitoral acirrado – o mais disputado desde as eleições de 1989 –, o primeiro desafio da presidenta é cicatrizar feridas abertas na disputa. No pronunciamento de 26 de outubro, tão logo se confirmou a vitória, Dilma convocou os brasileiros à união.

“Conclamo, sem exceção, a todas as brasileiras e a todos os brasileiros para nos unirmos em favor do fu-turo de nossa pátria. Não acredito que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Creio que elas mo-bilizaram ideias e emoções às vezes contraditórias, mas movidas por um sentimento comum: a busca por um futuro melhor”, declarou Dilma, para na sequência afirmar que estará aberta ao diálogo. “Minhas primei-ras palavras são de união. Democra-cia madura e união não significam necessariamente unidade de ideias nem ação monolítica conjunta, mas, em primeiro lugar, disposição para o diálogo. Esta presidente está disposta ao diálogo”, ressaltou.

Reforma política

Conforme as palavras de Dilma, a reforma prioritária a ser empreendi-da pelo Brasil é a política. Durante o próprio período eleitoral, movimen-tos sociais das mais diferentes áreas promoveram, entre os dias 1º e 7 de setembro, o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Sobe-rana do Sistema Político. Quase 8 milhões de brasileiros votaram e 97% deles disseram “sim” à proposta de se eleger uma Assembleia Constituinte que fique responsável por elaborar um projeto de reforma política na-cional. Durante a campanha, Dilma recebeu lideranças dos movimentos sociais e se comprometeu a encampar um processo pró-reforma.

Reeleita, Dilma frisou que, confor-me estabelece a Constituição, cabe ao Congresso Nacional elaborar o projeto de reforma. Reiterou, porém, o com-promisso de liderar um movimento que faça a reforma política vingar. A presidenta defendeu a convocação de um plebiscito para que a população defina pontos cruciais a serem altera-dos. Não deixou claro, por enquanto, como seria esse plebiscito nem o que exatamente estaria contido nele. Mas, a julgar pelo que declarou em debates, o fim do financiamento empresarial das campanhas, o fim das coligações em eleições para o Legislativo e a implanta-ção de segundo turno para esses cargos devem ser defendidos pelo governo.

Combate à corrupção

A reforma política é, por sinal, de-terminante para outro desafio posto à presidenta reeleita: o combate à cor-rupção. O tema esteve entre os mais debatidos no processo eleitoral deste ano, sendo bastante explorado princi-palmente pelas candidaturas de oposi-ção no primeiro turno (Aécio Neves, do PSDB, e Marina Silva, do PSB) e reiterado pela campanha de Aécio no segundo. De um lado, os oposicionis-tas tentaram colocar na legenda da presidenta, o Partido dos Trabalhado-res (PT), a pecha de “partido de cor-ruptos”. De outro, Dilma se defendeu dizendo que, justamente nos 12 anos dos governos do PT é que os casos de corrupção foram investigados.

Dilma repetiu, depois de reeleita, a promessa de campanha para o próximo mandato: apresentar ao Congresso Na-cional projetos que endureçam a puni-ção para os corruptos (tanto detentores de cargos eletivos como servidores de carreira) e corruptores. Para ela, a im-punidade é a “protetora” da corrupção e dos corruptos. Tornar crime a prática de “caixa dois” no financiamento das campanhas e o enriquecimento injusti-ficado de agentes públicos, assim como a fixação de regras que acelerem a tra-mitação de processos judiciais, estão entre pontos defendidos pela presiden-ta durante a campanha.

Congresso

Tanto para o desafio da reforma política como para o combate à cor-rupção, Dilma vai ter de encarar ou-tro obstáculo: o relacionamento com o Congresso Nacional. Embora tenha

perdido cadeiras tanto na Câmara dos Deputados como no Senado, a coliga-ção de partidos que apoia o governo segue como maioria no Legislativo. Contudo, tanto os opositores como os eleitos pelos partidos teoricamente aliados têm perfil mais conservador. Se nos últimos quatro anos Dilma teve apertos na relação com os parlamen-tares, os próximos quatro devem ser ainda mais difíceis.

De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Asses-soria Parlamentar (Diap), que desde 1983 monitora e analisa a atividade do Legislativo nacional, o Congresso eleito em outubro é o mais conservador dos últimos tempos. A bancada ruralista do agronegócio, por exemplo, conse-guiu reeleger 139 dos 191 deputados existentes e, mais que isso, terá o acrés-cimo de 118 estreantes ligados ao setor. O bloco poderá chegar a 257 dos 513 deputados. Também haverá ingresso expressivo de militares da reserva e ex-policiais que pregam medidas drás-ticas na área de segurança pública. O grupo, que já está sendo chamado de “bancada da segurança”, terá pelo me-nos 20 deputados, segundo o Diap.

Em contrapartida, caiu pela me-tade a representação direta dos traba-lhadores. A bancada sindicalista dimi-nuirá dos atuais 83 representantes para 46, a partir do ano que vem. “Esse será o Congresso mais conservador desde a redemocratização”, disse o analista político do Diap, Antônio Augus-to Queiroz. “Algumas conquistas do processo civilizatório, como a garan-tia dos direitos humanos, podem ser interrompidas com a eleição de uma bancada extremamente conservadora. É preocupante, especialmente num ambiente de forte investida patronal sobre os direitos trabalhistas, sindi-cais e previdenciários no Congresso”, acrescentou o analista.

Na Câmara dos Deputados, logo no início da legislatura de 2015, o go-verno Dilma poderá enfrentar proble-mas com o principal partido aliado, o PMDB do vice-presidente Michel Temer. O PT e o PMDB possuem o maior número de cadeiras na Câma-ra e, conforme a tradição nos últimos anos, têm se alternado na presidên-cia da Casa, atualmente ocupada por um peemedebista – o deputado fede-ral Henrique Alves (RN). Para o ano que vem, portanto, o natural seria um acordo da coaligação que conduzisse um petista ao posto.

O que muda cOm dilma ReeleitaReforma política,

retomada do crescimento

econômico e combate à

corrupção estão entre as

prioridades do novo governo da

presidenta, que não terá vida fácil no

Congresso

Por Wagner de Alcântara Aragão

BRASILIANCE

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17brasilobserver.co.uk | November 2014

Dilma Rousseff (PT) foi reeleita com 51,64% dos votos válidos, contra 48,36% de Aécio Neves (PSDB)

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g O que reformar na política?O que precisa ser modificado? Quem vai definir as mudanças: o atual Con-gresso eleito em outubro ou uma Assembleia Constituinte exclusiva? Quais pontos poderão ser levados à consulta popular?De parte dos movimentos sociais reuni-dos no Plebiscito Popular realizado em setembro passado, a chave da reforma é acabar com o financiamento empre-sarial das campanhas. Candidatos cus-teados por empreiteiras, bancos, mul-tinacionais do agronegócio e outros empreendimentos se tornam reféns dos interesses do poder econômico. Ao mesmo tempo, nas atuais regras, po-lítico que abre mão do financiamento empresarial raríssima chance tem de se eleger – afinal, compete com cam-panhas irrigadas de recursos privados.As despesas de campanha seriam, as-sim, custeadas pelo fundo partidário – fonte de recursos pública. Evidente-mente, as campanhas teriam gastos bem inferiores às milionárias de hoje em dia. Há posicionamentos radicais que defendem exclusivamente o fi-nanciamento público. Outros conside-ram tolerável liberar o financiamento privado de pessoa física, desde que com limites. O tema é polêmico, tal qual é a discus-são em torno da forma de representa-ção na Câmara dos Deputados. Parti-dos de centro-direita tendem a apoiar o chamado voto distrital, ou seja, cada Estado seria dividido em distritos e desses distritos sairiam os respecti-vos eleitos. Os críticos desse formato alertam que a Câmara perderia sua função de casa de representação dos mais diversos segmentos da socieda-de e se tornaria um espaço de repre-sentação de zonas eleitorais.

g Reindustrialização, uma necessidadeDesde a década de 1990, com a abertura da economia brasileira, a indústria nacional vive um processo de esfacelamento. Há exceções em alguns setores e em alguns períodos – a indústria naval foi recuperada nos últimos dez anos, assim como a auto-mobilística e a da construção civil, que também passaram por ‘boons’ impor-tantes. Em regra, todavia, a indústria tem perdido força no PIB brasileiro.No desafio de reaquecer a economia, a presidenta Dilma Rousseff tem na reindustrialização uma necessidade. Os dados do PIB mais recentes, dispo-níveis até o fechamento desta edição, mostram que a atividade industrial de-cresce. No primeiro semestre de 2014, a queda do PIB da indústria foi de 1,4% sobre o mesmo período de 2013.

JOGO RÁPIDO

No entanto, um nome pode des-ponta como candidato a melar essa al-ternância: o deputado federal Eduardo Cunha (RJ), o parlamentar do PMDB que mais recebeu votos nestas eleições (232.708). Atual líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha se destacou durante o governo Dilma justamente por se opor e complicar a aprovação de projetos importantes enviados pelo Palácio do Planalto. A reformulação no marco regulatório dos portos bra-sileiros e a criação do marco civil da internet são dois exemplos de projetos que contaram com enorme resistência do peemedebista fluminense.

Economia

Além de se preocupar com as ne-gociações político-partidárias entre Executivo e Legislativo, a presidenta reeleita tem outra dor de cabeça neste

final de primeiro mandato e início de segundo: reaquecer a economia. Em que pese indicadores importantes na geração de empregos e na renda das famílias, em outros pontos como pro-dução industrial e o crescimento do próprio Produto Interno Bruto (PIB) os resultados são desfavoráveis. A in-flação que oscila muito perto do teto da meta também desgastou o governo Dilma de 2013 para cá.

No pronunciamento pós-reelei-ção, Dilma incluiu a recuperação da economia entre os desafios eminentes para o novo mandato. “Promoverei ações localizadas para retomarmos nosso ritmo de crescimento, conti-nuar garantindo os níveis altos de emprego e assegurando também a valorização dos salários. Vamos dar mais impulso à atividade econômica e aos setores, em especial o setor in-dustrial. Seguirei combatendo com

rigor a inflação e avançando no ter-reno da responsabilidade fiscal”, afir-mou a presidenta, citando novamente a disposição para o “diálogo”. “Vou estimular o mais o diálogo e a parce-ria com todas as forças produtivas do país. Antes do início do meu próximo governo, eu prosseguirei nesta tarefa.”

Dilma disse que sai do processo eleitoral renovada e ciente da “res-ponsabilidade que pesa sobre seus ombros”; demonstrou que espera do respaldo popular alcançado nas urnas a energia para enfrentar os de-safios para os quais foi delegada. “O carinho, o afeto e o amor que recebi nesta campanha me dão energia para seguir em frente com muito mais de-dicação. Hoje, estou muito mais for-te, mais serena, mais madura para a tarefa que vocês me delegaram. Bra-sil, mais uma vez, esta filha tua não fugirá da luta”, finalizou.

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AApesar da fama de cidade mode-lo e inovadora construída ao longo dos anos por Curitiba, a capital do Estado do Paraná e maior cidade da região sul do Brasil convive com os mesmos problemas de qualquer grande metrópole. O adensamento dos centros urbanos, além de sufocar o meio ambiente, acaba desestimu-lando a socialização. Mas uma re-cente iniciativa de cicloativistas curi-tibanos deu um importante passo na direção oposta e demonstrou que o potencial inovador também está pre-sente nas iniciativas populares.

Tudo começou com o movi-mento da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (Cicloiguaçu), que percebeu o potencial de reutilização

de um espaço de 128 metros qua-drados localizado na região central da cidade, ao lado da Bicicletaria Cultural. O terreno, de propriedade da Prefeitura de Curitiba, foi pleite-ado para a construção de uma praça para os ciclistas, que viria a ser ba-tizada posteriormente de Praça de Bolso do Ciclista. O nome, inspira-do no conceito dos “pocket parks”, teve seu significado ampliado desde o seu processo de construção.

Mais que um símbolo exclusivo do cicloativismo, o local agora marca a vitória do público sobre o privado. Essa discussão, aliás, não poderia ter surgido em uma época mais propícia para o Brasil, que acabou de viver as tensões da disputa presidencial

mais acirrada de sua curta história democrática. Diferentemente dos agressivos confrontos gerados pela política partidária, que infelizmente tem sucitado vergonhosos discursos de ódio por todo o país, a política ci-dadã da Cicloiguaçu é orientada pela união entre as pessoas.

Foi justamente a partir dessa união que o projeto ganhou força e energia para deixar de ser apenas uma possibilidade e virar história co-letiva. Após o acordo com a prefeitu-ra, que garantiu o espaço e recursos materiais para a construção da praça, foi preciso um trabalho conjunto de diversos voluntários. Um grupo fixo de 20 pessoas, auxiliado por outras dezenas de colaboradores esporádi-

cos, conseguiu construir a primeira obra pública de Curitiba realizada em uma parceria do poder público diretamente com os cidadãos.

Desde 22 de setembro, qualquer pessoa em Curitiba pode conhecer a praça, que fica localizada no coração do centro histórico da capital, na es-quina da Rua São Francisco, uma das mais antigas da cidade. Um dos ob-jetivos dos envolvidos, aliás, é exten-der o “espaço social” da praça para a quadra inteira, com o fechamen-to da via para os carros. A próxima evolução, contudo, depende de um processo de conscientização sobre a importância de se construir uma cidade mais amigável e receptiva aos seus próprios moradores e visitantes.

PolíticA cidAdã inovAdorAPraça construída no centro de Curitiba vira símbolo da capacidade

de mobilização popular pelo direito à cidade

Por Guilherme Santos – de Curitiba, Paraná g

CONECTANDO

Curitiba/PR

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Para muitos, a reserva de um es-paço público destinado à interação, ao lazer e à cultura pode ser vista simploriamente como um obstácu-lo que causa transtornos para quem tem dificuldades de enxergar a vida em sociedade. São situações que já foram vividas recentemente por São Paulo, onde as ciclovias têm ganhando cada vez mais espaço. A iniciativa, ainda que bem recebida pela maioria, sofreu forte resistência entre aqueles que se sentiram indi-vidualmente prejudicados. Alheios às polêmicas na capital paulista, os frequentadores da praça curitibana colheram mais de 800 assinaturas fa-voráveis a transformação da quadra em via para pedestres.

A Praça de Bolso parece ter agra-dado inclusive os comerciantes da região, que perceberam no espaço uma mudança que só tende a benefi-ciar a cidade como um todo. O apoio e a repercussão do trabalho recebeu inclusive uma contribuição artística que ajudou a completar a vocação cultural da praça. Entre os tons de cinza que contrastam com os grafi-tes das paredes do local, o destaque é para uma obra da artista plástica suíça Mona Caron. Feita durante o III Fórum Mundial da Bicicleta na cidade, em fevereiro deste ano, uma enorme tulipa em tons de amarelo e laranja, de onde “nasce” uma bicicle-ta, ajudam a dar mais vida a praça e seus frequentadores.

Capital social

Tão ou mais importante que o valor simbólico que a mais nova praça curitibana representa é o seu valor como gerador de capital social. O sucesso da área como novo espaço de interação e socialização já gera novos frutos. A união e o ativismo que estiveram presentes durante todo o processo de construção da Praça de Bolso agora ajudam a flo-rescer outras iniciativas benéficas para a população.

Entre as iniciativas está a organização de mutirões duran-te os fins de semana sobre temas diversos, como compostagem, bioconstrução e hortas comunitá-

rias. O cultivo urbano, aliás, virou uma ação fixa dos frequentado-res, que começaram a utilizar o terreno ocioso localizado ao lado da praça para a criação de uma “horta coletiva”.

Outro complemento do espa-ço, ainda em andamento, é a ins-talação de uma bomba de ar para que os ciclistas possam encher os pneus das bicicletas. A ideia é re-forçar a importância do cicloati-vismo na praça, que já se tornou um ponto de encontro de quem vê nas bikes não apenas um meio de locomoção, mas também um esti-lo de vida.

Segue >>

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Grafiteiros, poetas, músicos e outros tantos artistas se reúnem semanalmente na Praça de Bolso do Ciclista em Curitiba para produzir, trocar e disseminar cultura

gEsta matéria foi produzida por Guilherme Santos, estudante do quarto ano do curso de Jornalismo da FacBrasil (Faculdades Integradas do Brasil), em parceria com o Projeto CONECTANDO, desenvolvido pelo Brasil Observer junto a universidades brasileiras e europeias. Para participar e ter seu texto publicado neste jornal, escreva para [email protected]

Arte e ativismo

Mesmo as pessoas menos ligadas à rotina das pedaladas podem usufruir livremente do espaço. Até o momento, a breve história da praça vem sendo construída por meio de escritas artísticas. São gra-fiteiros, poetas, músicos e ou-tros tantos artistas reunidos semanalmente para produzi-rem, trocarem e dissemina-rem cultura.

O intercâmbio também já começou a envolver a academia. Em uma parce-ria da Bicicletaria Cultural com alunos do curso de Design de Moda da Ponti-fícia Universidade Católica (PUC-PR), foram desenvol-vidos acessórios persona-lizados para os diferentes estilos de ciclistas. O proje-to ganhou forma e resultou em uma exposição pública de alguns produtos selecio-nados, como cestos estili-zados, bolsas adaptadas às curvas das bikes e mochilas com capa de chuva.

O potencial cultural da praça é ainda mais reforçado com a promoção de eventos que atraem um público con-siderável, como shows musi-cais e sessões abertas de cine-ma. Sem dúvidas, este é um espaço que transpira cultura. É o ambiente ideal para o surgimento de novas iniciati-vas que levem a humanidade como preceito básico.

Resta a esperança de que espaços como a Praça de Bolso do Ciclista se multipli-quem por toda a Curitiba, da mesma maneira que multi-plicam-se iniciativas sociais em prol do coletivo. É um movimento que começa a se espalhar pelo Brasil, relem-brando que as cidades, afinal, são constituídas essencial-mente por e para pessoas.

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GUIA

Brasil apresenta em londres seus melhores destinos

Ministro do Turismo, Vinícius Lages, diz ao Brasil Observer que “a World Travel Market é uma excelente oportunidade para ampliar o conhecimento dos países presentes sobre a

diversidade cultural e os atrativos brasileiros”

Por Gabriela Lobianco

Um dos principais encontros de turismo do mundo, a feira World Travel Market (WTM), realizada todos os anos em Londres, tem sua 35ª edição entre 3 e 6 de novem-bro. A programação, destinada a turistas, operadores e empresas do setor, apresenta mais de cem even-tos, com palestras, treinamentos e debates em torno do que a in-dústria de viagens tem de melhor para oferecer. Responsável pela di-vulgação do turismo brasileiro no exterior, a Embratur participa pela 19ª vez, este ano com a presença de 46 co-expositores.

Se em 2013 o principal mote da Embratur era a Copa do Mundo, em 2014, após o sucesso do Mun-dial, o foco é a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro. Durante o even-to futebolístico, segundo dados do Ministério do Turismo, os mais de um milhão de visitantes estrangei-ros que estiveram no país se espa-lharam por 491 municípios. Destes turistas, 95% manifestaram inten-ção de retornar ao país e aponta-ram os Jogos Olímpicos como o motivo principal.

“Temos ótimas expectativas com relação aos Jogos Olímpicos, sobretudo se soubermos aproveitar a oportunidade para tornar 2016 o ano olímpico do turismo brasilei-ro. Isso significa aproveitar os 365 dias do ano em torno desse espírito olímpico. Todo o país ganha quan-do planejamos eventos temáticos, feiras e atrações turísticas volta-das aos temas da saúde, esportes, bem estar, tecnologias ligadas aos esportes, etc. O Brasil é um grande produtor de alimentos e pode as-sociar esportes, saúde e bem estar a esta estratégia”, afirmou ao Brasil Observer o Ministro do Turismo, Vinícius Lages.

O ministro defende, contudo, que feiras como a WTM, isolada-mente, não resolvem toda a estra-tégia de posicionamento do desti-no Brasil no mundo, nem são os únicos canais de relações com o mercado, apesar de ocuparem um espaço relevante. “A World Travel Market é uma das mais importan-tes feiras de turismo do mundo e com a qual temos uma profícua parceria. Tanto que o Brasil foi o país escolhido para sediar a WTM Latin America, que terá sua tercei-ra edição, em São Paulo, em abril de 2015. Este ano, o evento gerou expectativas de negócios de apro-ximadamente US$ 340 milhões”, comentou.

Dados do Ministério do Tu-rismo apontam que a realização da Copa do Mundo foi um gran-de negócio para o setor turístico do Brasil, pois acelerou uma série de investimentos em mobilidade urbana (R$ 8 bilhões), aeropor-tos (R$ 6,28 bilhões), portos (R$ 587 milhões), segurança e teleco-municações. Somente os projetos realizados nas cidades-sede do Mundial, que incluíram o Rio de Janeiro, onde será realizada os Jo-gos Olímpicos de 2016, somaram R$ 25,6 bilhões.

Em relação aos trabalhos especí-ficos para a Olimpíada no Rio, são 27 projetos com orçamento da or-dem de R$ 24,1 bilhões, o que inclui a revitalização da zona portuária, ampliação do metrô, implantação do VLT, saneamento, centros de treina-mento, laboratórios, entre outros. No que diz respeito ao turismo, somen-te para dotar a cidade de sinalização turística bilíngue, de acordo com pa-drões internacionais, os investimen-tos do Ministério do Turismo são de R$ 14,5 milhões.

Vinícius Lages concluiu dizen-do que “a World Travel Market é uma excelente oportunidade para ampliar o conhecimento dos pa-íses presentes sobre a diversidade cultural e os atrativos brasileiros”.

Destaques

Levando em consideração que o Brasil foi eleito entre os melho-res destinos do mundo em 2014 pela rede social especializada Mi-nube, é promissora a perspectiva de promover ainda mais o turis-mo nacional antes da Olimpíada. Tarefa um pouco mais árdua do que durante o Mundial, já que não se trata de um evento em todo o país. Com inúmeras cidades-se-des, como foi a Copa do Mundo, a diversidade para divulgar e pro-mover regiões mais afastadas do evento principal e o turismo de exploração foi mais evidente. As-sim, a estratégia até o momento concentra-se principalmente em atrair visitantes ao Rio de Janeiro ou para destinos que sediarão os jogos de futebol, caso de Brasília, Belo Horizonte, Salvador e São Paulo. Com essa premissa, a pa-lestra “Brazil: the ongoing mega events legacy” será conduzida na WTM. O intuito é delinear o im-pacto e benefícios que a Copa do Mundo trouxe ao país e quais são as metas para a Olimpíada.

Ao todo, 51 estandes represen-tam o Brasil na feira. Os exposito-res oferecem pacotes variados de cruzeiros e expedições na Floresta Amazônica, Fernando de Noronha e até mesmo destinos próximos ao Rio de Janeiro, como Angras dos Reis. Praia, ecoturismo, cultura, esporte e negócios são os temas principais para atrair os turistas.

g Confira nas páginas 30 e 31 o guia que o Brasil Observer preparou sobre Foz do Iguaçu, um dos principais destinos do país

Page 23: Brasil Observer #22 - Portuguese Version

23brasilobserver.co.uk | November 2014

US$ 5,4 bilhõeS US$ 2,4 bilhõeS 53.854 foram gastos por turistas estrangeiros no Brasil de janeiro a setembro de 2014, número 7,76% maior do que o registrado nos primeiros nove

meses do ano passado.

foram gastos por turistas brasileiros no exterior em setembro de 2014, valor 11,1% maior ante

o mesmo mês em 2013.

foi a oferta de voos internacionais no Brasil no acumulado de janeiro a outubro de 2014, um aumento de 4,92% na comparação com o

mesmo período do ano passado.

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Responsável pela divulgação do turismo brasileiro no exterior, a Embratur participa pela 19ª vez da World Travel Market, este ano

com a presença de 46 co-expositores

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DICAS CULTURAIS

LIVROS EXPOSIÇÕES

Nowhere PeoplePaulo Scott

The Mystical Rose: Selected PoemsAdelia Prado

Observations in BrazilSir Benjamin Stone

Porto Alegre, 1989. Depois de ter vivido a euforia e as promessas de abertura política no Brasil, Paulo sente-se desiludido com a militância política no Partido dos Trabalhadores. Desencantado com a vida, é incapaz de manter relacionamentos estáveis, e o seu trabalho no escritório de advogados oprime-o. O acaso leva-o a cruzar-se com Maína, uma adolescente índia para-da à beira da estrada, que imediatamente chama a sua atenção. De jornais e revistas apertados contra o peito, debaixo de uma forte chuva, Maína parece estar à espera de alguma coisa. Quando Paulo decide dar-lhe carona, a vida ganha contornos inesperados, abre-se diante dele uma alternativa. Este é o ponto de partida de Nowhere People (Habitante Irreal, em Português), romance do escritor brasileiro Paulo Scott que acaba de ser lançado no Reino Unido pela editora And Other Stories, com tradução de Daniel Hahn. Publicado no Brasil em 2011, ganhou o prestigiado Prêmio Machado de Assis de literatura no ano seguinte. A partir do encontro entre Paulo e Maína, o liv-ro acompanha a emancipação do Brasil diante da ditadura, aborda o problema mal resolvido da herança indígena, mostra a realidade de um imigrante ilegal em Londres e revela que a pos-sibilidade de um futuro promissor pode não ser suficiente para controlar nossas vidas.Nascido em Porto Alegre em 1966, Paulo Scott já publicou quatro livros, sendo dois de ficção e outros dois de poesia. Em Outubro passado, esteve no Re-ino Unido para o lançamento de Nowhere People e para participar da segunda edição da FlipSide Festi-val, versão britânica da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). Na ocasião, durante uma das mesas de debate, Scott afirmou que seu livro “é o primeiro na literatura brasileira a dar voz aos indígenas”.

Adélia Prado é uma das mais reconhecidas po-etisas do Brasil. Premiada com o Griffin Lifetime Achievement Award de 2014, ela faz neste mês de novembro sua primeira viagem pelo Reino Unido, na ocasião do lançamento de seu pri-meiro livro em terras britânicas, The Mystical Rose: Selected Poems. Com traduções de Ellen Doré Watson, a coletânea chega às lojas pela ed-itora Bloodaxe Books. Em Londres, Adélia partic-ipa de uma sessão de leitura no Kings Place, dia 10, junto ao poeta estadunidense Thomas Lux, que também está lançando sua coleção de poe-mas, batizada de Selected Poems. Nascida em 1935 na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais, Adélia Prado tinha 40 anos de idade quando passou a escrever poesia a sério. Seu tra-balho combina paixão e inteligência, sagacidade e instinto, com poemas que abordam preocupações humanas, principalmente ligadas às mulheres. En-tre suas principais características como poetisa es-tão a espiritualidade e a crença nas qualidades tran-scendentes de objetos e experiências do cotidiano. “Descoberta” pelo poeta modernista brasileiro Carlos Drummond de Andrade, que caracter-izou seus poemas como “fenomenais”, Adélia Prado publicou sua primeira coleção de 1976, Bagagem. Desde lá, sete coleções subsequentes foram publicadas. Mas, apesar do sucesso quase que imediato e contínuo, ela prefere perman-ecer longe dos holofotes, viajando para o Rio de Janeiro e São Paulo ocasionalmente para partici-par de eventos literários e lançamentos. Nas palavras do poeta estadunidense Robert Hass sobre Adélia Prado, “o Brasil produziu algo que pare-cia ser impossível: uma poetisa verdadeiramente sensual, e ao mesmo tempo mística e católica”.

Últimos dias para apreciar uma rara coleção de 50 fotografias tiradas por Sir Benjamin Stone du-rante uma expedição ao Brasil no final do século 19. Parte integrante do arquivo da Livraria de Bir-mingham, esta coleção está sendo exposta pela primeira vez, graças à parceria entre a Embaixa-da do Brasil em Londres e a Lucid-ly Productions.Com curadoria de Rodrigo Orrantia e Pete James, as fotografias foram tiradas durante uma expedição da Royal Astronomical Society organizada para obser-var um eclipse solar completo na Amazônia brasilei-ra em 1893. Stone também registrou sua jornada de navio ao país, fotografando pessoas e lugares que descobriu desde a chegada.A exibição revela alguns dos brasileiros que na época estavam se esforçando na construção de uma nação independente. Aguçado observador dos indivíduos e dos costumes na Inglaterra, Stone capturou ima-gens que retratam diferentes perspectivas de uma sociedade brasileira já muito diversa naquele final de século: escravos de origem africana recém-lib-ertados, tribos indígenas da Amazônia e imigrantes europeus de todos os estratos sociais que cruzaram o Oceano Atlântico em busca de uma vida melhor. Em muitas das fotografias, o olhar interrogativo dos fotografados sugere que Stone estava tanto no pa-pel de observador como de observado.A coleção de Stone convida o expectador a viajar no tempo e testemunhar uma nação em busca da modernização, balanceando contrastes como a vida selvagem e intocada da floresta amazônica e a in-dustrialização da capital Manaus, centro da comer-cialização da borracha. Muitos daqueles contrastes ainda persistem e nos ajudam a formar uma interpre-tação mais fiel da conjuntura contemporânea.\\ Embaixada do Brasil até 7 de novembro

Mudança Doméstica e Internacional

Armazenagem e Empacotamento

Importação e Exportação de Frete Comercial

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EXPOSIÇÕES SHOWS

PlotJosé Damasceno

Stefano Bollani & Hamilton de Holanda Metá Metá

Existente primeiramente na visão periférica dos usuários regulares da Livraria de Holborn, a exposição Plot atrai os espectadores para uma jornada mais profunda e até desorientadora ao longo do edifício.As obras são encontradas em diferentes partes da área pública do prédio, dividindo os mesmos espaços usados para leitura e pesquisa, e levando a uma série de conexões até o último andar, onde havia um au-ditório que não está mais em uso. Esta jornada não é diferente daquela na qual embarcamos através da literatura clássica, para terras imaginárias e locais de alegoria e sátira, mudando nossa perspectiva, trans-formando a expressão familiar em algo estranho.Inspirada pela pesquisa do artista a respeito da arquitetura de Londres, com influências que vão de Jonathan Swift a Hammer Horror, a exposição de José Damasceno transforma a Livraria de Hol-born em ponto de partida para uma excursão por meio de um reino onde duas dimensões se tor-nam três e o tempo se transforma. José Damasceno nasceu em 1968 no Rio de Janei-ro, onde continua vivendo e trabalhando. Plot é sua primeira exibição solo no Reino Unido, e vem em seguida da exposição Integrated Circuit, que aconte-ceu na Thomas Dane Gallery em 2010. Damasceno representou o Brasil na Bienal de Veneza em 2007 e foi convidado a criar instalações em diversos espaços públicos do Museu Rainha Sofia de Madri, expostas em 2008 sob o título Coordenadas y Apariciones.Sobre o trabalho de Damasceno, o crítico Ge-rardo Mosquera afirmou que ele oferece “uma sucessão de aventuras e surpresas”. Sua aborda-gem versátil abrange escultura, desenho e cola-gem, criando uma interação rica entre os méto-dos que formam suas instalações.\\ Holborn Library até 23 de novembro

A dupla formada pelo pianista italiano Stefano Bollani e o brasileiro Hamilton de Holanda – considerado o Jimi Hendrix do bandolim – irra-dia entusiasmo irresistível com um repertório de sambas canções e tango. No Barbican, dia 20 de novembro, ambos se apresentam em conjunto após concerto do trompetista po-lonês Tomasz Stanko.Considerado um virtuoso dentro da música brasileira e com reconhecimento internacio-nal, Hamilton de Holanda tem suas origens musicais dentro do choro, mas desde o lança-mento de seu primeiro álbum, Destroçando a Macaxeira, de 1977, vem experimentando novas maneiras de tocar, passando pelo jazz, samba, rock, pop, lundu e o próprio choro. Sua principal inovação foi acrescentar duas cordas extras ao bandolim – somando 10 no total –, o que reinventou o instrumento e lhe rendeu o apelido de Jimi Hendrix do bandolim pela imprensa dos Estados Unidos, graças à velocidade de seus solos.Em 2012, junto com o pianista Stefano Bollani, Hamilton de Holanda gravou o disco O Que Será, gravado ao vivo na Bélgica e lançado pela gra-vadora ECM. Para o crítico Thom Jurek, o álbum traz um intenso diálogo entre dois músicos que entendem a música como uma aventura: “eles se entregam completamente e trazem uma so-noridade cheia de calor e intimidade”. O álbum, certamente, significou um ponto alto da carreira dos dois músicos, que em Londres terão a opor-tunidade de mostrar mais uma vez por que for-mam uma parceria digna da música global que eles representam.\\ Barbican (20/11)

Diante do som improvisado da guitarra e do sax, uma voz feminina grita para Exu, o guardião da religião afro-brasileira Can-domblé. Este é o som da banda Afro-punk Metá Metá, formada pela vocalista Juçara Marçal, pelo saxofonista Thiago França e pelo guitarrista Kiko Dinucci. O trio de São Paulo representa o que tem de mais inovador na música brasileira contemporânea e vem a Londres para apresentação única, que terá a participação do DJ Lewis Robinson.O segundo álbum da banda – que é o pri-meiro a ser lançado no Reino Unido pela Mais Um Discos –, MetaL MetaL, parte dos antigos cânticos dos orixás para uma forma de samba psicodélico, por meio do jazz e do Afro-punk. Todos os integrantes são adeptos do Candomblé, mas não usam os orixás para pregar suas crenças, e sim como guias para contar uma estória através dos sons e da música. Em MetaL MetaL, o grupo mistura esses fun-damentos espirituais e rítmicos com influên-cias que vão do Afro-beat aos Afro-sambas, criando uma sonoridade de vanguarda, exper-imental e psicodélica. Como diz a própria descrição da banda, “o trio trabalha com a diversidade de gêneros music-ais brasileiros, utilizando arranjos econômicos que ressaltam elementos melódicos e signos da música de influência africana no mundo, explorando o silêncio e o contraponto, fugin-do de ideias convencionais, seja nas carac-terísticas estéticas ou no modo alternativo de compartilhar sua arte”.\\ Cafe OTO (1/12)

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COLUNISTAS

FRANKO FIGUEIREDO

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O teatro não é só uma ativida-de lúdica, divertida e extremamente agradável, mas oferece também uma base para inúmeras outras profissões. Além da área de arte e cultura, o te-atro amplia, potencializa e desenvolve habilidades criativas e de imaginação; ensina a conviver, a dialogar, a desco-brir o outro e a discernir criticamente; promove debates democráticos e re-vela um conhecimento enriquecedor e valioso para toda a vida. O teatro, e toda cultura em geral, é a porta para todo conhecimento e sabedoria.

A primeira coisa que se nota nos países desenvolvidos é o en-gajamento cultural da população. Pesquisa realizada recentemente no Reino Unido a pedido do Natio-nal Theatre e da Society of London Theatre mostra que existem 541 te-atros profissionais no país e mais de 1.000 companhias de teatro e dança registradas no British Performing Arts Yearbook (2012/2013). Só em Londres, são 241 teatros profissio-nais com mais 110.000 cadeiras e um público de 22 milhões de pesso-as. Comparando com o público de 13 milhões dos jogos da liga inglesa de futebol, nota-se que a sociedade do país, sem distinção de classes (muitos tem acesso livre a ingres-sos), tem mesmo o hábito e o prazer de buscar, ver, compartilhar, discu-tir e fazer parte das artes e do teatro mais do que em outros países.

Se você compara países desen-volvidos com países em desenvolvi-mento, como o Brasil, percebe que tanto o apoio governamental como o engajamento cultural é muito menor dentro do segundo grupo.

Pesquisa feito pelo PISA (que avalia os sistemas de educação pelo mundo) em 2012 mostra que o Brasil ocupa o 53º lugar em educação esco-lar. Mas, ao meu ver, educação não é só um dever escolar e sim um dever cívico de toda uma sociedade/comu-nidade. Temos que, como indivíduos e comunidades, abraçar a responsa-bilidade de educar crianças, jovens e adultos! São em nossas atitudes diárias – nas filas, nos supermerca-

dos, nos parques, nos inúmeros ‘sho-ppings’, nos restaurantes, no convívio com os vizinhos, no respeito ao outro – que se começa a verdadeira educa-ção. A escola é só uma continuação desse ensino. E o teatro e as artes são instrumentos sócio-culturais impor-tantíssimos para o nosso desenvolvi-mento enquanto indivíduos: as artes provocam auto-avaliação, aprendiza-gem e desenvolvimento.

No teatro, compartilhamos um espaço social com um grupo de pes-soas. Neste convívio social, já se cria um acordo e, dentro deste acordo, um diálogo. Aí temos, no ato de ver e ouvir com paciência ao outro, e de-pois poder falar, o começo da cons-trução de um verdadeiro e contínuo espaço democrático, onde diálogo não é uma afirmação simplista de nossa posição, nem é convencer os outros a seu ponto de vista.

Recentemente estive na Bahia, convidado para participar da 7ª Edi-ção do Fenatifs - Festival Nacional de Teatro Infanto-Juvenil de Feira de Santana. Foram mais de 50 apresen-tações teatrais e atividades formati-vas nos teatros e espaços alternativos da cidade e região. De 1° a 12 de ou-tubro, apresentaram-se espetáculos infantis e juvenis de oito Estados do país. Também se apresentaram gru-pos de teatro formados por jovens, comunidades, assim como uma mostra do teatro que se tem feito no grande interior baiano.

Durante o festival, notei que o disparo de celulares e de câmeras fotográficas eram quase constantes. Mesmo que o pedido de desligar os aparelhos tivesse sido feito antes do início de cada peça, chegou-se ao ponto de alguns artistas saírem do papel e parar a apresentação para su-plicar a certos membros da plateia o respeito às regras. O respeito às re-gras me pareceu um grande proble-ma de muitas das plateias – o que re-flete o convívio social geral no Brasil, onde muitas das regras sociais são desrespeitadas. Falta de educação? Temos que nos questionar.

Vi também como todo o trabalho

teatral feito pela Cia Cuca de Teatro, incluindo o festival, é de imprescin-dível valor para uma região e uma cidade como Feira de Santana, que está em pleno desenvolvimento eco-nômico, mas onde o ambiente só-cio-cultural ainda tem que avançar muito para acompanhar o progresso financeiro. O trabalho de desenvolvi-mento cultural feito pela companhia é um exemplo que precisa ser multi-plicado pelo país.

Modelos como esse trazem o outro lado da educação. No Fenati-fs vi como as crianças precisam de uma educação mais lúdica que não seja presa à sala de aula, à televisão e ao computador. O teatro infantil tem uma parte muito importante no processo de fomento da criati-vidade e do pensamento crítico da criança, desde como se comportar em público, conquistar a palavra e desenvolver o diálogo até o desco-brimento da responsabilidade de cada um como cidadão.

A companhia tem também o pro-grama Domingo Tem Teatro, no qual pais e filhos descobrem mundos e es-tórias juntos. A iniciativa tem mais de dez anos e está formando uma nova geração. As crianças que iam ao encontro dez anos atrás cresceram e hoje pedem mais teatro na sua cate-goria. A demanda foi criada. Espero que o governo, a secretaria do Estado da Bahia e o Ministério da Cultura vejam o verdadeiro valor do modelo que a Cia Cuca propõe. São projetos com forte engajamento e que forma-rão nossa sociedade do futuro.

É no teatro que vemos estórias sobre os outros e nós mesmos. No teatro você tem vozes diversas, lo-cais que servem como um espelho para a comunidade. Uma popula-ção sem espelho é uma população que não se enxerga, não se desen-volve, não busca o crescimento – fica perdido no consumismo, com valores que só enaltecem diferenças e divisões. Como escreveu Thomas Kidd em A Tragédia Espanhola: “onde as palavras não prevalecem, a violência prevalece”.

No ato de ver e ouvir com paci-ência ao outro, e depois poder

falar, estamos começando a construção de um verdadeiro e

contínuo espaço democrático

g Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Cia de

Teatro StoneCrabs

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SHAUN CUMMING

EStoU dE voltA Ao BrASIl. AS CoISAS MUdArAM por AqUI...

Há exatos quatro anos eu estava morando no Brasil. E agora estou de volta! Voltei ao meu primeiro amor brasileiro – Vitória, Espírito San-to – com minha esposa capixaba. É um sentimento maravilhoso estar de novo cercado por velhos amigos e fa-miliares nesta linda cidade.

A última vez que visitei o Bra-sil foi durante as eleições de 2010, quando Dilma Rousseff se elegeu pela primeira vez. Lembro-me do relativamente baixo engajamen-to do eleitorado em geral; parecia inevitável que Dilma iria se eleger, então faltou certa paixão. Afinal, o Brasil estava surfando a onda da prosperidade econômica deixada pelo presidente Lula. Além disso, a Copa do Mundo estava longe.

Temos agora altos níveis de engajamento político. Amigos e familiares ainda estão debatendo sobre quem deveria liderar o país. Posso entender por que foi uma decisão tão difícil nas urnas. A es-colha estava entre Dilma Rousseff, que apresenta altos índices de re-dução da pobreza, mas baixo de-sempenho econômico, e Aécio Ne-ves, que tem uma visão econômica mais ortodoxa, mas que poderia significar um passo atrás na luta contra a desigualdade.

A corrupção foi um tema per-manente nos últimos dias antes da votação. Dilma, eu acredito, tem seu coração no lugar certo neste quesito, por isso duvido muitíssi-mo que ela tenha qualquer envol-vimento com ações corruptas. No entanto, o PT que ela representa está envolvido em muitos escânda-los – muitos deles recorrentes. Do

outro lado, Aécio, como indivíduo, tem algumas marcas negativas. Por isso, compreendo que, consideran-do os dois lados, é muito difícil to-mar uma decisão baseada apenas neste tema.

O que eu acho é que, no final das contas, o voto foi baseado no bem estar social. Dos diversos de-safios que o Brasil tem pela frente, o maior e mais urgente é o comba-te à pobreza. É excelente ver como milhões de pessoas estão saindo da linha da miséria – e isso se deve principalmente aos governos de Lula e Dilma. Considero pertinen-te permitir que esses governantes continuem a garantir que as polí-ticas sociais não sejam interrom-pidas em qualquer circunstância. Alguns brasileiros de classe média alta estão agora reclamando sobre a porcentagem de seus impostos que são transferidos aos pobres. Alguns chegam a dizer que vão deixar o país porque o Brasil está virando um país socialista, como supostamente seriam a Venezuela e a Argentina.

Isso é um absoluto absurdo, pois em qualquer país desenvolvi-do para onde essas pessoas preten-dem ir é muito provável que haja um sistema de bem estar social muito mais avançado – que trans-ferem uma maior proporção dos impostos, como o Reino Unido.

Também entendo que Dilma teve quatro anos desastrosos na condução da política econômica. Ela precisa corrigir isso, evitando a todo custo políticas protecionis-tas. Não é à toa que investidores estrangeiros não ficaram satisfei-

tos com sua reeleição. Os investi-dores não têm uma aversão natural ao PT – e isso se prova pelo fato de a maioria deles ter gostado bas-tante do governo Lula. O que eles têm aversão é à perda de dinheiro, e eles perderam muito nos últimos quatro anos. Dilma tem que recon-quistar a credibilidade.

Reconciliar a população será uma tarefa difícil para Dilma, e é essencial que ela evite protestos do tamanho dos que aconteceram em 2013. Dilma tem que considerar que uma parcela substancial dos brasileiros discorda de muitas de suas políticas, e trabalhar para que haja mudanças para todos os bra-sileiros. Isso inclui a continuidade das políticas que beneficiam aque-les mais necessitados, a estabiliza-ção econômica, o encorajamento do crescimento, a redução da bu-rocracia e o absoluto compromisso com o combate à corrupção.

Chegar a Vitória foi magnífico. Os amigos e parentes da minha esposa prepararam uma surpresa para a nossa chegada. Havia carta-zes e faixas nos esperando no ae-roporto – o que não acontece em Londres. Depois teve uma grande festa. Enquanto entrávamos na cidade, percebi que tudo parecia novo. Prédios imensos e calçadas pavimentadas, tudo parecendo o mais acolhedor possível. E olha que a cidade não esteve na Copa do Mundo – então é bom constatar que mudanças positivas também ocorrem fora dos grandes centros.

Brasil – minha nova casa e pri-meiro amor -, é bom te ver nova-mente. Viva a democracia!

Vejo agora um alto nível de

engajamento político. Amigos e

familiares ainda estão debatendo

sobre quem deveria liderar o país.

Posso entender por que foi uma

decisão tão difiícil

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COLUNISTAS

BIANCA BRUNOW & MARIELLE MACHADO

DIA DE fLOR As flores alegram meu dia de vá-

rias formas. Além de deixarem a casa mais bonita e de me fazerem desligar do dia quente enquanto eu compu-nha os arranjos, também me inspi-ram na hora de me vestir.

Moro no meio da cidade e tudo o que eu vejo, na maior parte do tempo, são ruas de asfalto e carros passando, sem contar uma obra que parece que não acaba nunca! Então me resta tentar trazer um pouco da paisagem que admi-ro para dentro de casa e da minha vida.

Às quintas-feiras, aqui pertinho da minha casa, as duas primeiras barra-quinhas da feira livre são como vitrines das lojas mais bonitas do mundo. Me jogo como uma criança na piscina de bolinhas, sem medo. Assim, com essa bagunça mais do que gostosa, compen-so o carinho que a minha casa tem co-migo dando carinho de volta a ela.

Hoje (entenda ‘hoje’ como o dia

em que escrevo estas palavras), a feira estava meio vazia – tanto de barracas quanto de pessoas. É na barraca da Iêda que eu acho as flores maravilhosas que enfeitam minhas semanas. Como cliente assídua, ela já conhece minhas preferências. Por vezes sou surpreen-dida por raminhos com cores não con-vencionais de cravos, cravíneas e outras qualidades de flores que costumam ser rejeitadas pelos habituais compradores. A escolha foi um ramo de hortênsias verdes, cravos em um tom laranja-pas-tel e alguns ramos de Rainha Margari-da em branco, azul claro e pêssego.

Não costumo fazer muitos ar-ranjos nesses tons, mas confesso que fiquei orgulhosa. Passei o dia sob a influência dessa combinação de co-res. Como resultado, uma roupa, maquiagem e acessórios com tons combinantes. Pode isso? Se “pode”, eu não sei, mas me diverti! g Essa conversa continua lá no www.musicaparavestir.com.br

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29brasilobserver.co.uk | November 2014

RICARDO SOMERA

FéRIAS CInEMAtOgRáFICAS

Os cinéfilos brasileiros não tive-ram do que reclamar no mês de outu-bro. Bem, nem todos os brasileiros, é verdade. Mas quem esteve no Rio de Janeiro ou em São Paulo no mês pas-sado pôde aproveitar as respectivas mostras internacionais de cinema de cada cidade. No meu caso, a 38ª Mos-tra Internacional de Cinema de São Paulo teve um sabor ainda mais es-pecial, pois eu estava de férias! Nada como poder ir de um filme a outro no meio da tarde, sem ter na cabeça aque-las típicas preocupações que... Ah, dei-xa isso tudo para lá!

Aproveitei meu tempo para ver alguns dos 330 filmes em exibição, saber como o mundo está se vendo e também para enxergar a realidade

pelos olhos dos clássicos e dos novos diretores. O cineasta homenageado foi o espanhol Pedro Almodóvar, que ganhou uma retrospectiva com 15 fil-mes. Mas os filmes que mais me cha-maram a atenção foram o documentá-rio norueguês Ballet Boys, de Kenneth Elvebakk, e o brasileiro A Despedida, do diretor Marcelo Galvão.

A princípio, Ballet Boys é um do-cumentário que segue três garotos noruegueses que pretendem se tornar bailarinos profissionais. Mas, no de-senrolar da estória, acaba chegando muito além. Retrata um momento pre-coce de responsabilidade, cercado por dúvidas sobre o futuro em um ambien-te que ainda é predominantemente fe-minino. O objetivo de Lukas Bjørne-

boe Brændsrød, Syvert Lorenz Garcia e Torgeir Lund é entrar no Royal Ballet de Londres. Sugestivo, não?

Já o nacional A Despedida entrou pra minha lista de ótimos olhares bra-sileiros. O longa-metragem conta a estória de Almirante, interpretado por Nelson Xavier, que tem 92 anos e sente que o fim está próximo. Por isso, ele decide se despedir-se do mundo e des-frutar um último momento de prazer com sua amante Fátima, interpretado por Juliana Paes. Sem dúvidas é um dos melhores filmes que vi esse ano. Vale a pena ficar de olho, pois não me surpreenderia se o filme fosse exibido nas salas do Reino Unido... Tomara!

Além desses dois destaques, reco-mendo para os cinéfilos que me acom-

panham o grego A Fuga (A Blast), de Syllas Tzoumerkas, e os norte-ameri-canos Algum Lugar Belo (Somewhere Beautiful), de Albert Kodagolian, e A Noite Acalmou (Night Has Settled), de Steve Clark.

Para terminar, devo lembrar que os ingleses e brasileiros vivendo em Londres também não tem do que re-clamar! Afinal, mês passado rolou o BFI London Film Festival, que é sempre um grande acontecimento na cidade, com as pré-estreias mais aguardadas do mundo e com o tapete vermelho cheio de famosos. Você as-sistiu a algum filme do festival? Conta pra mim como foi pelo @souricardo e dê sua recomendação pelo Twitter do Brasil Observer (@brasilobserver).

Aproveitei a 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo para me inteirar de como o mundo está se vendo; aqui trago minhas recomendações para os cinéfilos de plantão

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VIAGEM

Foz do IguaçuMeMórIas para uMa vIda toda

Por Kate Rintoul e Michael Landon

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31brasilobserver.co.uk | November 2014

Abrangendo a fronteira entre Brasil e Argentina, as Cataratas do Iguaçu são uma das maravilhas natu-rais mais deslumbrantes do mundo, tanto visual quanto acusticamente. Mais altas e duas vezes maiores do que as Cataratas do Niágara, as ca-choeiras surgem quando as águas do Rio Iguaçu, com quase três quilôme-tros de largura, caem verticalmente por aproximadamente 80 metros em uma série de cataratas, produzindo uma vasta fumaça aquática.

O curso do rio, cujo nome na língua indígena tupi-guarani sig-nifica “água grande”, forma uma grande curva no formato de ferra-dura – compartilhada entre o Par-que Nacional do Iguaçu e seu irmão argentino, o Parque Nacional Igua-zú – e depois de 25 quilômetros de-ságua no poderoso Rio Paraná, que termina no Rio da Prata.

Para aproveitar essa experiência inesquecível, os visitantes podem testemunhar o incrível poder das ca-taratas perto da Garganta do Diabo, ou desfrutar de uma visão mais pa-norâmica das cachoeiras e da floresta subtropical que rodeia toda a região em caminhadas pelas plataformas posicionadas estrategicamente ao longo do parque.

ONDE FICAR

Ainda que o Design Concept Hos-tel tenha aberto suas portas há menos de um ano, já está ganhando fãs de vários cantos do mundo. O design in-terior, com quartos variados e móveis lisos, dá ao local uma originalidade ímpar. Acrescente ainda uma cozinha altamente moderna, uma atraente pis-cina e um bem equipado bar (com ex-celentes cervejas e vinhos). É, sem dú-vida, um ótimo lugar para se hospedar e descansar depois de passar o dia ao redor das cataratas.

ONDE COMER

A cidade fronteiriça de Foz do Iguaçu é um caldeirão de diferentes culturas e influências. Uma das me-lhores formas de experimentar essa diversidade é pelas comidas. Com uma população de mais de 20.000 li-baneses, Foz tem alguns encantado-res restaurantes que servem comida árabe, sendo o Castelo Libanês um dos melhores. Entre os destaques es-tão os pães árabes, kibes e mini es-fihas de cordeiro. Verdadeiramente autêntico em seu cardápio, o restau-rante cumpre a jurisprudência islâ-mica e não serve bebidas alcoólicas. Em vez disso, servem deliciosos su-cos frescos, café turco e chá.

Mas, se você é daqueles que prefe-rem a tradição local, então precisa ir para a melhor churrascaria brasileira da cidade: Buffalo Branco. Com um rodízio de diferentes carnes e cortes, é um ótimo lugar para desfrutar aquilo pelo o qual o Brasil é mundialmente conhecido. O extenso buffet de sa-ladas é um gabinete de beleza única, com incríveis pratos de inspiração lo-cal, incluindo tabule, sushi e legumes.

COISAS PARA FAZER

O incrível Parque Nacional do Iguaçu oferece muitas maneiras de ver e experimentar as cataratas; aqui estão nossas melhores escolhas.

- Passeio de bicicleta: Com acesso limitado de carro, o único meio de entrada ao parque é um dos encan-tadores ônibus elétricos de design personalizado ou bicicletas que po-dem ser alugadas no local. Ao en-trar pedalando, se tem uma ótima primeira impressão – as ondulantes colinas e os caminhos tranquilos fazem você realmente se conectar com o local e chegar às cataratas com muita energia.

- Trilhas: Existem várias trilhas ao longo do parque, todas com distân-cias, intensidades e vistas diferentes. A trilha com início no Cataratas Hotel é a mais popular, pois não é muito desgastante e tem uma das vistas mais impressionantes. Com caminhos que levam você direto para as quedas, as plataformas são perfeitas para tirar fotos estilo “sel-fie” com o cenário deslumbrante da água caindo ao fundo.

- Macuco Safari: Esta é a forma mais extraordinária de experimentar o espetáculo das quedas de perto. A viagem de três partes começa com um safari pela floresta via jipe, se-guido por uma trilha curta até a beira da água e termina com uma viagem diretamente para uma das cataratas - incrível diversão, mas não um para os tímidos!

- Ter uma refeição para relembrar: Com a maioria de nós acostuma-dos a cozinhar em casa, às vezes exigimos mais de um jantar fora. O restaurante Porto do Canoas certa-mente proporciona uma atmosfera cinematográfica. A varanda e a sala de jantar com vista panorâmica das cataratas, sem dúvida, oferecem uma das melhores vistas de restau-rantes do mundo. O buffet abun-dante significa que todos podem comer o que gostam – ótimo se você

estiver viajando com a família e o serviço é rápido e discreto.

- Passeio de helicóptero: Esta é a me-lhor forma de apreciar plenamente a dimensão da floresta do parque nacional e ver a extensão comple-ta das cachoeiras. Oferecido pela Hellisul (a mesma empresa que ofe-rece passeios de helicóptero no Rio de Janeiro), os voos de 20 minutos são uma experiência emocionante, pois os pilotos muito bem treinados posicionam o helicóptero de modo que você possa obter alguns pontos de vista de cair o queixo.

- Parque das Aves: As florestas do par-que nacional são tão densas que são impenetrável, então você pode ima-ginar a variedade de espécies de aves que vivem por lá. Felizmente, o Par-que das Aves lhe dá a chance de ver de perto uma incrível variedade de pás-saros tropicais, incluindo flamingos, papagaios e três espécies de tucanos.

OUTRAS ATRAÇÕES

Como é lar de tantas culturas, Foz do Iguaçu tem uma impressionante mesquita para a população islâmica e também um templo budista com uma coleção de estátuas gigantescas em seu jardim - bem cuidado e com vista para Ciudad del Este, no Paraguai.

Além de ver uma das maiores ma-ravilhas naturais do mundo, uma vi-sita a Foz também significa que você pode experimentar uma das sete ma-ravilhas modernas feitas pelo homem: a Usina de Itaipu.

A construção aproveita o poder do Rio Paraná, que divide o Brasil e o Paraguai. Levando mais de 30 anos para ser concluída, é uma das maiores estruturas feitas pelo homem na terra e produz energia suficiente para aten-der 17% das necessidades do Brasil e 90% do Paraguai. Mesmo que você não dê muita atenção à hidroeletrici-dade, a escala e a ambição deste pro-jeto humano são tão impressionantes que vale a pena aprender sobre em um passeio pelo local.

Enquanto a barragem tem gerado algumas controvérsias, principalmen-te por causa da destruição das quedas do Guaíra, a Usina de Itaipu busca ati-vamente fazer melhorias sociais para a região e mantém-se focada na res-ponsabilidade social para com a área circundante. O centro de tecnologia criado no espaço da usina dá acesso livre aos estudantes e a Universidade Federal da Integração Latino-Ameri-cana (ou UNILA), projetada por Os-car Niemayer, faz da Itaipu um farol do “softpower” brasileiro.

Design Concept Hostel

Restaurante Buffalo Branco

Trilhas próximas às cataratas

Parque das Aves

Usina de Itaipú

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