apostila arthropoda

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Unidade 9: Arthropoda I. Introdução II. Evolução de Arthropoda 1. Características básicas do filo 2. Adaptações dos artrópodes 3. Trilobitomorpha 4. Relações filogenéticas entre os artrópodes III. Classificação zoológica 1. Subfilo Chelicerata 2. Subfilo Crustacea 3. Subfilo Hexapoda 4. Subfilo Myriapoda IV. Caracteres gerais V. Importância econômica VI. Glossário

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Page 1: Apostila Arthropoda

Unidade 9: Arthropoda

I. Introdução

II. Evolução de Arthropoda

1. Características básicas do filo

2. Adaptações dos artrópodes

3. Trilobitomorpha

4. Relações filogenéticas entre os artrópodes

III. Classificação zoológica

1. Subfilo Chelicerata

2. Subfilo Crustacea

3. Subfilo Hexapoda

4. Subfilo Myriapoda

IV. Caracteres gerais

V. Importância econômica

VI. Glossário

Page 2: Apostila Arthropoda

Pense em TODOS os animais que você conhece...

Responda rapidamente:

Qual é o grupo animal com o maior número de espécies?

Qual o grupo reúne os animais mais admirados, temidos, e conhecidos do

homem?

E, quais são os animais encontrados em todos os cantos do planeta e com a

maior diversidade de formas e hábitos de vida???

Estamos falando dos ARTHROPODA, um dos mais fascinantes grupos de

animais, com os mais diversos sistemas morfológicos, fisiológicos e comportamentais!

As variações dos artrópodes, suas especializações e a maneira como estes caracteres

evoluíram e suas relações com os outros grupos de invertebrados são temas que ocupam

os zoólogos desde a época de Darwin, e muitas questões ainda permanecem obscuras...

Page 3: Apostila Arthropoda

I. Introdução

Há mais de 600 milhões de anos alguns animais invadiram os ambientes aquáticos e

terrestres, no período Pré-Cambriano. Estes animais passaram por uma enorme irradiação

evolutiva e atualmente ocupam todos os ambientes do planeta, com os mais diversos estilos de

vida e aparência. De minúsculos ácaros e crustáceos menores que 1mm de comprimento aos

caranguejos-gigantes do Japão com diâmetro de mais de 3m (com as pernas abertas), os

artrópodes são encontrados em todas as variações de tamanho, com um número estimado de

mais de um milhão de espécies descritas!

Das belas borboletas aos temidos aracnídeos, escorpiões, lacraias e marimbondos,

passando pelas saborosas lagostas, em qualquer lugar do planeta podemos encontrar artrópodes.

O nome tem origem grega, arthron=articulação e podos=pés, e significa a característica

que os diferenciou de invertebrados como anelídeos e nematóides, e permitiu a esses animais o

domínio do planeta: pés ou pernas articulados.

Os artrópodes são invertebrados protostômios1 celomados com organização interna bem

desenvolvida e metaméricos2.

Finalmente, artrópodes são os conhecidos, respeitados e úteis insetos, aracnídeos,

miriápodes e crustáceos, estes últimos de grande importância econômica para o homem, sendo

utilizados como alimento!

O texto irá a seguir irá abordar a evolução do filo, sua classificação zoológica,

características dos grupos viventes e a importância econômica e ambiental dos artrópodes.

Bem vindo ao mundo dos inventores do atletismo!

Page 4: Apostila Arthropoda

II. EVOLUÇÃO DE ARTHROPODA

Sobre a evolução dos artrópodes a afirmação corrente é que estes compartilham com os

anelídeos um ancestral comum, com características como a metamerização, encontrada nos dois

filos. Estudos recentes, incluindo resultados de biologia molecular indicam outra origem para os

artrópodes: os nematóides, ou ainda uma linhagem antiga semelhante aos atuais crustáceos.

Morfologicamente, os artrópodes são muito próximos aos animais dos filos Onycophora

e Tardigrada. Juntos, esses três filos (Figura 1) são agrupados como Panarthropoda3. Como

caracteres comuns aos Panarthropoda, podemos citar:

-A realização de ecdise (muda) mediada pelo hormônio ecdisona;

-O celoma reduzido em uma hemocele;

-Segmentação teloblástica;

-Expressão do gene engrailed (en) que define os limites

dos segmentos.

Os laços evolutivos íntimos entre esses quatro filos

(anelídeos, artrópodes, onicóforos e tradígrades), sugerem que

eles compartilham um clado derivado de um ancestral

segmentado comum originado no Pré-Cambriano (Figura 2).

Anelídeos e artrópodes têm metamerização do corpo,

desenvolvimento embrionário e arquitetura geral do sistema

nervoso similares, e estes filos se diferenciaram a partir do

aparecimento do exoesqueleto rígido dos artrópodes.

II.1 Algumas características básicas dos artrópodes:

-Bilaterais, triploblásticos, protostômios.

-Corpo segmentado interna e externamente, dividido em

no mínimo duas regiões, cabeça e tronco; tipicamente com um

escudo cefálico ou carapaça.

-Cutícula que forma um exoesqueleto bem

desenvolvido, geralmente com grossas placas esclerotizadas

(escleritos) consistindo em tergitos (dorsais), pleuritos (laterais)

e esternitos (ventrais); cutícula com quitina e proteínas com

vários graus de calcificação, sem colágeno.

-Cada segmento do corpo primitivamente com um par

de apêndices articulados, ligados na região ventral, com alta

gama de especialização entre os táxons.

-Cabeça com um par de olhos laterais facetados

(compostos) e com um a vários ocelos simples; alguns grupos

perderam os olhos compostos e/ou ocelos.

-Celoma reduzido às porções do sistema reprodutor e

excretor; a cavidade do corpo é uma hemocele aberta.

-Sistema circulatório aberto; o coração dorsal é uma

bomba muscular com óstios laterais para o retorno do sangue.

-Trato digestivo completo, complexo e bem

regionalizado, com um estomodeu e um proctodeu bem

desenvolvidos.

-Sistema nervoso com gânglios dorsais (cerebrais),

conectivos e cordões nervosos ventrais ganglionados pares que

se fundem até determinado ponto.

Onicóforos – Um grupo originado

há mais de 500Ma, inicialmente

marinhos, o filo Onycophora têm

espécies que invadiram com

sucesso o ambiente terrestre com

poucas modificações. As 110

espécies atuais são terrestres

vivendo em ambientes úmidos. São

segmentados como os anelídeos e

artrópodes, e apresentam caracteres

intermediários a esses grupos como

a cefalização discreta, a natureza

carnosa e não segmentada dos

apêndices da cabeça, a estrutura

das mandíbulas, o corpo coberto

por uma fina cutícula quitinosa que

realiza mudas, e o sistema nervoso

e órgãos dos sentidos.

Tardígrades - O filo Tardigrada

compreende animais conhecidos

como “ursos d’água”; foram

descobertos no século 18. A partir

daí 800 espécies foram descritas,

com poucos registros fósseis. A

maioria delas vive em hábitats

semi-aquáticos ou no solo e

serrapilheira das florestas. Outras

são encontradas em hábitats

marinhos e de água doce, de águas

profundas ou rasas, alimentando-se

do conteúdo de células vegetais,

detritos, partículas orgânicas, ou

podem ser ainda parasitas de

holotúrias ou cracas.

Compartilham com os onicóforos

caracteres como o corpo coberto

por uma cutícula fina não

calcificada que sofre ecdise

periodicamente, uma fraca

cefalização, e com os artrópodes o

celoma reduzido e a organização

do sistema nervoso; somente com

os artrópodes compartilham os

músculos estriados.

Page 5: Apostila Arthropoda

-Crescimento através de ecdises (mudas) mediadas por ecdisona.

-Maioria dióica com desenvolvimento direto, indireto ou misto; algumas espécies são

partenogenéticas.

Figura 1: Representantes do agrupamento Panarthropoda: (1) Onycophora, (2)

Tardigrada e (3)Arthropoda.

As sinapomorfias dos artrópodes são:

-Exoesqueleto duro e articulado subdividido em placas;

-Apêndices articulados;

-Olhos compostos laterais (um par no mínimo) formados por unidades fotorreceptoras

independentes, os omatídios;

-Com exceção dos espermatozóides de alguns grupos, as células são desprovidas de

cílios e flagelos.

Mollusca

Annelida

Onycophora

Tardigrada

Arthropoda

Figura 2: Relações fiogenéticas Panarthropoda e filos vizinhos

II.2 Como essas características atuaram na adaptação desse grupo de animais?

Diferentes dos anelídeos, com corpo mole, os artrópodes desenvolveram um

exoesqueleto4 rígido. O aparecimento deste caractere restringiu o crescimento do corpo e a

locomoção. Este problema foi resolvido pelo desenvolvimento de articulações do corpo e dos

apêndices e pela regionalização da musculatura. O resultado foi a perda da musculatura circular

e da cavidade celomática ancestral. Esta se tornou a hemocele ou câmara sanguínea, na qual os

órgãos ficam banhados diretamente dos fluidos corpóreos. Como era preciso movimentar o

sangue pelo corpo o vaso dorsal do tipo anelídeo permaneceu, tornando-se uma estrutura

altamente musculosa - o coração. Os órgãos excretores fecharam-se internamente para assegurar

a permanência do sangue no corpo.

A transmissão dos impulsos sensoriais até o sistema nervoso realiza-se agora a partir de

órgãos sensoriais diferenciados, e estruturas para trocas gasosas desenvolveram-se diversamente

para ultrapassar o limite imposto pelo exoesqueleto.

Panarthropoda

Euarticulata

Articulata

1 2 3

Page 6: Apostila Arthropoda

O crescimento agora não é mais gradual e para que este aconteça, um processo

complexo mediado por hormônios desenvolveu-se: é a ecdise, um caractere comum aos

Panarthropoda. O exoesqueleto é eliminado sistematicamente para que possa acontecer

crescimento corporal. O processo de eliminação do exoesqueleto é um fenômeno característico

de artrópodes e de poucos invertebrados que apresentam cutícula5.

Além desses eventos houve a invasão dos ambientes terrestres e dulcícolas6, que exigiu

diversas adaptações para o equilíbrio do estresse osmótico e iônico, da reprodução e de um

suporte estrutural.

A cutícula sofre um processo de endurecimento por esclerotização, que ocorre em todos

os artrópodes. Nos crustáceos acontece o fenômeno da mineralização, a deposição de carbonato

de cálcio numa das camadas da cutícula.

As modificações sofridas pelos apêndices foram um dos mais importantes passos na

evolução dos artrópodes. Alterações nos apêndices combinadas com a segmentação do corpo

significaram diferentes modos de locomoção e alimentação que ficaram disponíveis a esses

animais.

Primitivamente, cada segmento do corpo possuía um par de apêndices. Com a adaptação

de um corpo com exoesqueleto, os músculos tiveram de alterar sua organização para garantir as

funções de locomoção e sustentação nos artrópodes. Estes se organizaram em feixes curtos que

se estendem entre um segmento do corpo e o próximo, ou através das articulações dos apêndices

e outras regiões de articulação, nas áreas onde a cutícula é fina e flexível. Os artrópodes

desenvolveram diversos dispositivos para locomoção por terra, na água e no ar, e esses métodos

refletem a plasticidade evolutiva e qualidades adaptativas associadas à segmentação do corpo e

dos apêndices. A diversidade morfológica dos apêndices locomotores dos artrópodes pode ser

observada na figura 3.

Figura 3: Diversidade de apêndices locomotores dos artrópodes.

A evolução da fisiologia dos artrópodes pode ser assim resumida:

Sistema circulatório - O sistema de hemocele aberta é resultado da imposição do

exoesqueleto e da perda do celoma; daí a necessidade de um sistema circulatório aberto, assim

adaptado devido também à mudança da musculatura, que exigiu um sistema no qual o sangue

seja impulsionado até a hemocele, onde banha os órgãos internos. Esse é o cenário para o

aparecimento de um sistema circulatório aberto com um coração musculoso com óstios

(perfurações da parede cardíaca), vasos curtos e um seio pericárdico.

Page 7: Apostila Arthropoda

Trocas gasosas - A aquisição do exoesqueleto relativamente impermeável trouxe

problemas para os artrópodes terrestres como dificuldades para a realização de trocas gasosas e

na manutenção de água no organismo. O desafio é: romper a integridade do exoesqueleto de

maneira que as trocas gasosas possam se realizadas sem afetar a sobrevivência do animal.

As estruturas envolvidas nas trocas gasosas evoluíram de maneira diferente nos

artrópodes aquáticos e nos terrestres. Os aquáticos realizam as trocas gasosas através da

superfície geral do corpo ou em áreas de cutícula fina. Porém a maioria dos crustáceos

desenvolveu brânquias com morfologia variável em função do grupo.

Os mais bem-sucedidos artrópodes terrestres – insetos e aracnídeos- desenvolveram

estruturas para trocas gasosas na forma de invaginações da cutícula, ao invés das evaginações

dos crustáceos. Essas estruturas são os pulmões, traquéias e espiráculos.

Excreção - Diante da impossibilidade de drenar o sangue diretamente de uma hemocele

aberta para fora do corpo os artrópodes desenvolveram diversas estruturas excretoras muito

eficientes que compartilham uma mesma característica adaptativa que é a de ser fechada

internamente. Também houve uma redução no número total dessas estruturas. Os produtos são

compostos de 70-90% de amônia; o restante é excretado na forma de uréia, ácido úrico,

aminoácidos e outros compostos. Os artrópodes terrestres excretam predominantemente ácido

úrico, e conseguem conservar água; essa adaptação muito contribuiu para o seu sucesso no

ambiente terrestre. Para os crustáceos não houve mudanças nos produtos excretados; somente as

espécies terrestres (isópodes) mostram um ligeiro aumento na excreção do ácido úrico em

relação aos grupos marinhos.

Sistema nervoso e órgãos dos sentidos – O plano geral do sistema nervoso dos

artrópodes é muito semelhante ao dos anelídeos, com algumas homologias. Os artrópodes são

dotados de gânglios cerebrais PROTOCÉREBRO-anterior, DEUTOCÉREBRO-dorsal (nem sempre

presente) e TRITOCÉREBRO-posterior. Esse sistema forma conectivos em volta do esôfago em

direção ao gânglio ventral, e cada região do gânglio cerebral origina um par de nervos que vão

para os apêndices da cabeça. Assim existem: gânglios cerebrais, gânglio ventral, cordão nervoso

ventral e pares de nervos para os apêndices específicos. Os gânglios do cordão nervoso

apresentam vários graus de fusão linear em diferentes grupos de artrópodes, refletindo

internamente a tagmose7.

O exoesqueleto teve um efeito mais importante na natureza dos receptores sensoriais

que na estrutura do gânglio cerebral e do cordão nervoso. A maior parte dos mecano8 e

quimiorreceptores9 é externa, estes representam modificações de processos da cutícula e estão

todos ligados ao sistema nervoso central de maneira semelhante.

Os olhos compostos foram perdidos ou modificados por vários grupos, mas são

encontrados em todos os subfilos de artrópodes. São basicamente compostos de omatídios com

facetas e especialmente apropriados para detecção de movimento. Nas espécies subterrâneas,

naquelas de grandes profundidades oceânicas ou nas intersticiais a perda dos olhos compostos é

um caminho evolutivo comum.

Depois de uma visão sobre como as diversas características dos artrópodes evoluíram a

partir de adaptações às suas sinapomorfias e antes de discutir as relações filogenéticas entre os

artrópodes e grupos externos e dentro do filo, é necessário abrir um parêntese para falar de um

filo de artrópodes extinto, mas que deixou um legado que muito contribuiu para a compreensão

da evolução dos artrópodes: os Trilobitas.

Page 8: Apostila Arthropoda

II.3 Trilobitomorpha

O mais conhecido filo extinto, Trilobita, inclui quase 4000 espécies conhecidas apenas

do registro fóssil. Foram restritos aos mares do Paleozoico, dominaram o registro fóssil marinho

dos períodos Cambriano e Ordoviciano (440-550Ma) e foram importantes componentes da

fauna marinha até sua extinção em massa que ocorreu no Permiano-Triássico (250-290Ma) e

que marcou o final da era Paleozoica. Embora tenham sido exclusivamente marinhos,

exploraram uma variedade de hábitats e estilos de vida. O tamanho variava de 1-70cm de

comprimento. A maioria era detritívora, embora algumas espécies possam ter sido predadoras

que ficavam enterradas em sedimentos moles agarrando as presas que passavam por perto. O

corpo era oval e achatado dorso-ventralmente, com dois sulcos longitudinais dorsais dividindo o

corpo em um lobo mediano e dois lobos laterais-daí o nome “trilobita” (Figura 4). Dividido em

três tagmas: céfalo, tórax e pigídio, cada região do corpo tinha um determinado número de

apêndices. Através de mudas subseqüentes, o animal acabava tomando a forma de um trilobita

em miniatura e uma nova série de mudas transformava a larva de último estágio em juvenil

através da adição de segmentos e do aumento de tamanho.

Figura 4: Um fóssil de Trilobita. As setas indicam os tagmas ou divisões do corpo: 1-

cabeça; 2- tórax; 3- abdômen. Observe os apêndices articulados (4)

II.4 Relações filogenéticas entre os artrópodes

Das diversas árvores propostas nos últimos anos para a evolução dos artrópodes as

quatro mais populares são as seguintes:

Chelicerata Chelicerata

Crustacea Myriapoda

Myriapoda Crustacea

Hexapoda Hexapoda

Chelicerata Chelicerata

Myriapoda Crustacea

Crustacea Myriapoda

Hexapoda Hexapoda

Estas árvores apontam uma origem monofilética para os artrópodes, e uma posição

basal para os Chelicerata, com variações na evolução dos subfilos.

1

2 3

4

Page 9: Apostila Arthropoda

Com o aparecimento de novas informações resultantes de paleontologia, biologia

molecular, biologia do desenvolvimento e filogenia, uma nova árvore filogenética pode ser

proposta para os artrópodes. Essa árvore não está completa, nem há detalhes suficientes que

completem a história evolutiva do grupo, mas o modelo ilustrado na figura 5 é o que melhor

representa o pensamento atual.

Figura 5: Uma hipótese da evolução dos artrópodes,com todas as linhagens de artrópodes

surgindo de uma linhagem crustaceomorfa do Paleozóico (adaptado de Brusca & Brusca,

2007).

Essa quinta hipótese se diferencia das árvores anteriores principalmente por considerar

que todos os artrópodes surgiam de um ancestral crustaceomorfo no Paleozóico (290Ma), e

considera também o subfilo Crustacea parafilético. As árvores mostradas anteriormente

consideram os artrópodes monofiléticos e os subfilos Chelicerata, Myriapoda, Crustacea e

Arthropoda também monofiléticos, apresentando variações nos clados grupos-irmãos.

Nesse modelo, diversas criaturas com características de crustaceomorfo (corpo, olhos e

desenvolvimento típicos de crustáceos) estavam presentes no Pré-Cambriano e início do

Cambriano, quando essa linhagem originou os trilobitas. Estes sofreram irradiação tornando-se

os artrópodes mais abundantes nos mares do Paleozóico, mas desapareceram abruptamente

durante a extinção do Permiano-Triássico (290-250 Ma). Aparecem depois os Cheliceriformes

com formas marinhas gigantes. No Siluriano (439 Ma) os quelicerados invadem o ambiente

terrestre e começam a deixar um registro fóssil composto por aracnídeos terrestres. No final do

Ordoviciano e início do Siluriano (500-439 Ma) os primeiros miriápodes apareceram como

criaturas marinhas, e 15 milhões de anos mais tarde eles surgem no registro fóssil. O último

grupo de artrópodes a surgir foi provavelmente o dos hexápodes, durante o Devoniano (409 Ma)

irradiando-se rapidamente até dominar o mundo terrestre qualificando o Cenozóico (65 Ma)

como sendo a “era dos insetos”.

Page 10: Apostila Arthropoda

Este modelo é bem diferente das visões anteriores de evolução de artrópodes, e ainda

faltam muitos detalhes. De qualquer forma, muitas informações atuais suportam essa visão –

Crustacea como um agrupamento parafilético antigo, “mãe dos artrópodes modernos”.

Sobre a evolução dos Arthropoda: Considerações finais

Indiscutivelmente, o filo Arthropoda é o grupo animal mais bem-sucedido da Terra. As

espécies comportam uma impressionante diversidade estrutural e taxonômica, apresentam um

registro fóssil rico e são os animais preferidos para estudos sobre a biologia do

desenvolvimento, com diversos “sistemas-modelo” (Drosophila, por exemplo). Porém ainda

não é possível definir claramente como estes animais relacionam-se entre si, e só podemos

discutir acerca da evolução do filo a partir de modelos hipotéticos.

Sobre a diversidade dos artrópodes é possível afirmar:

*A superioridade numérica não é recente. Registros fósseis mostram que a

diversificação dos artrópodes começou provavelmente durante o Pré-Cambriano, e já no

Cambriano os artrópodes talvez fossem o filo mais diverso da Terra.

*Sua grande variação de tamanho os torna adaptáveis a uma grande variedade de nichos

ecológicos. Os artrópodes diminutos são encontrados em sedimentos marinhos, recifes de coral,

folhagem de algas, sobre musgos e sobre corpos de qualquer tipo de animal. Todos os

microhábitats terrestres são explorados por insetos e ácaros.

*A coevolução com as plantas no ambiente terrestre e com as algas nos aquáticos foi

uma força poderosa na irradiação dos artrópodes, com insetos e crustáceos envolvidos.

*A habilidade do voo nos insetos levou-os a nichos não explorados por outros

invertebrados.

A importância dos artrópodes pode ser medida também pelas contribuições biológicas

que esses animais trouxeram no seu processo evolutivo. Nunca é demais lembrar as seguintes

características, tão comuns hoje em diferentes grupos animais, que foram diferenciadas a partir

dos artrópodes:

- Cefalização pronunciada, os gânglios cerebrais se fundem e se tornam centralizados e

aparecem definitivamente os órgãos sensoriais na cabeça.

- Metâmeros mais especializados, com uma variedade de especialidades, definindo a

tagmose.

- Os apêndices articulados, o grande diferencial dos artrópodes, são pareados,

diversificados para cumprirem diversas funções, e são também responsáveis pela adaptação das

espécies do filo.

- A locomoção acontece através da musculatura extrínseca dos apêndices, ao contrário

da musculatura associada à parede do corpo típica dos anelídeos. Os músculos estriados

conferem rapidez aos movimentos.

- A quitina é bem desenvolvida entre os artrópodes e o exoesqueleto cuticular é A

INOVAÇÃO, permitindo uma gama de adaptações.

-As traqueias representam um mecanismo de respiração mais eficiente que o da maioria

dos invertebrados.

- O trato digestivo é muito especializado, com dentes quitinosos, compartimentos e

ossículos gástricos.

Page 11: Apostila Arthropoda

- Os artrópodes exibem padrões comportamentais extremamente complexos, quando

comparados com a maioria dos outros invertebrados, incluindo diversos casos de organização

social.

- As espécies deste filo desenvolveram mecanismos de proteção eficientes, como

coloração e padrão de imitação, características que se “repetiram” em vertebrados como

anfíbios e répteis.

Page 12: Apostila Arthropoda

III. CLASSIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE ARTHROPODA

Agrupados em 4 subfilos e 13 classes, os artrópodes representam o mais diverso filo de

animais, constituem 85% das espécies do reino animal com estimativas de 1.097. 289 espécies

viventes e entre 30-50 milhões de espécies não descritas. Estão agrupados aqui os camarões,

lagostas, escorpiões, centopeias, ácaros e insetos, entre outros grupos. Os artrópodes são

invertebrados protostômios celomados com organização interna bem desenvolvida e

metaméricos. Os grupos viventes são os seguintes:

Subfilo CHELICERATA

É um grupo antigo de artrópodes que inclui ácaros, aranhas, caranguejo ferradura,

opiliões, escorpiões, pseudoescorpiões e aranhas do mar, entre outros grupos (figura 6). São

caracterizados por possuírem seis pares de apêndices incluindo um par de quelíceras, um par de

pedipalpos e quatro pares de apêndices locomotores (exceção nos límulos: cinco pares de

apêndices locomotores). Não possuem mandíbulas nem antenas. A maioria suga alimento

líquido de suas presas. O corpo é geralmente dividido em cefalotórax (cabeça + tórax) e

abdômen. O primeiro par de apêndices é modificado em quelíceras, usados para alimentação.

Figura 6: Diversidade de Chelicerata. No sentido horário: Acari, Scorpionida,

Pycnogonida, Xiphosura e Araneae.

É composto pelas classes:

Classe Arachnida – Com a maioria das espécies terrestres, usualmente tem quatro

pares de pernas quando adultos. Estão agrupados aqui as aranhas, escorpiões, ácaros, carrapatos

e outros.

Classe Merostomata – Animais marinhos, representados atualmente pelos xifosuros,

conhecidos como caranguejo ferradura, do gênero Limulus.

Classe Pycnogonida – Abdômen reduzido, sem estruturas especiais para respiração e

excreção. Possuem 4-6 pares de pernas, e vivem em todos os oceanos. São as aranhas do mar.

Page 13: Apostila Arthropoda

Classe Arachnida: Com uma variedade anatômica maior que a dos insetos, os

aracnídeos formam um grupo com cerca de 70.000 espécies descritas. Estes foram os primeiros

artrópodes a colonizar a o ambiente terrestre, com fósseis conhecidos de escorpiões, aranhas e

ácaros datados de cerca de 400 milhões de anos atrás (Período Siluriano).

A maioria desses animais é inofensiva para os seres humanos, e muitos deles realizam

controle biológico, alimentando-se de insetos daninhos. Algumas espécies são especialmente

peçonhentas, como a aranha-marrom, aranha-armadeira, escorpiões. Também, ácaros e

carrapatos são transmissores de doenças e causam facilmente reações alérgicas e dolorosas.

Serão apresentadas aqui informações relativas a algumas das onze ordens conhecidas da

classe.

ORDEM ARANEAE: Cerca de 35.000 espécies, distribuídas em toda a Terra, representam

esta ordem de quelicerados. O corpo é dividido em duas partes: cefalotórax (prossomo) e

abdômen (opistossomo), não-segmentados e unidos por um fino pedicelo.

Os apêndices anteriores são um par de quelíceras que possuem garras terminais através

das quais passam os dutos provenientes das glândulas de peçonha, e um par de pedipalpos com

partes basais com as quais trituram os alimentos. Os quatro pares de pernas locomotoras

terminam em garras (figura 7).

Figura 7: Representação esquemática da morfologia externa de Araneae.

Todas as aranhas são predadoras, alimentando-se principalmente de insetos. Este é um

grupo de artrópodes que desenvolveu estratégias de caça muito eficientes, imobilizando as

presas através da peçonha liberada pelas garras de suas quelíceras. Algumas aranhas perseguem

as presas, outras caçam de tocaias, e muitas aprisionam suas presas em teias de seda. Depois de

imobilizadas, as presas têm seus tecidos liquefeitos pelo veneno e estes são sugados pelas

aranhas. As espécies que têm dentes na base das quelíceras quebram e trituram suas presas,

auxiliando a digestão efetuada pelas enzimas eliminadas pela boca.

A respiração é realizada por pulmões foliáceos, traqueias ou ambos. Estes consistem em

bolsas de ar paralelas que se estendem dentro de uma cavidade preenchida de sangue.

As aranhas possuem usualmente oito olhos simples, usados principalmente para a

percepção de objetos em movimento, e em algumas espécies podem formar imagem. A detecção

ambiental é feita por meio de cerdas sensoriais em forma de pêlos. As informações captadas são

correntes de ar, mudanças na tensão da teia, chegada de parceiro sexual.

A fecundação é interna. O macho, antes de acasalar, tece uma teia e libera uma gota de

esperma e armazena-o em cavidades localizadas no pedipalpo. Quando acasala, insere os

Page 14: Apostila Arthropoda

pedipalpos na abertura genital da fêmea para armazenar o esperma nos receptáculos seminais da

parceira. Antes do acasalamento há a realização de um comportamento de corte. Os ovos

fecundados são transportados pela fêmea numa ooteca13

, durante um período de

aproximadamente duas semanas. Antes de chegarem à fase adulta os jovens sofrem diversas

ecdises.

ORDEM SCORPIONIDA – Os escorpiões são animais discretos, que se escondem em tocas

ou abrigos durante o dia e saem para caçar durante a noite. Alimentam-se de insetos e aranhas,

que capturam com seus pedipalpos e dilaceram com as quelíceras.

Cerca de 2.000 espécies são descritas, encontradas mais comumente nas regiões

tropicais e subtropicais, com poucas espécies nas zonas temperadas. Apenas em alguns lugares

da Oceania e na Antártida não são encontradas espécies de escorpiões. Vivem em terrenos

arenosos e localizam suas presas sentindo as ondas da superfície geradas pelos movimentos dos

insetos sobre ou dentro da areia. Essas vibrações são captadas por estruturas sensoriais

localizadas na base das pernas. Um escorpião pode localizar uma barata enterrando-se a 50cm

de distância e alcançá-la através de três ou quatro movimentos rápidos de orientação.

Acredita-se que estes foram os primeiros artrópodes a conquistar o ambiente terrestre,

há cerca de 400 milhões de anos

Os tagmas incluem um cefalotórax bem curto, que apresenta os apêndices, um par de

olhos medianos grandes e de dois a cinco pares de olhos laterais pequenos; um pré-abdomen de

sete segmentos e um pós-abdômen longo e delgado, ou cauda, de cinco segmentos, que termina

em aguilhão. As quelíceras são pequenas e possuem três artículos; os pedipalpos são grandes,

em forma de pinça, e possuem seis artículos; os quatro pares de pernas locomotoras possuem

oito artículos (figura 8).

http://www.tolweb.org/Vaejovidae/6224

Figura 8: Scorpionida

1: Cefalotórax (Prossomo); 2: Pré-abdômen (Mesossomo); 3: Pós-abdômen (Metassomo);

4: Pedipalpos

O reconhecimento do substrato e do parceiro sexual é realizado pelo pécten, um órgão

tátil localizado na face ventral do abdômen. O aguilhão do último segmento consiste em uma

base bulbosa e um aponta curva que injeta a peçonha. A maior parte das espécies produz

peçonha inofensiva aos seres humanos, que provoca somente um inchaço doloroso. Porém

algumas espécies dos gêneros Adroctonus (África) e Centuroides (México) produzem peçonha

que pode ser fatal ao homem.

2

1

3

4

Page 15: Apostila Arthropoda

As espécies da ordem apresentam um complexo comportamento reprodutivo, com um

ritual de acasalamento que consiste numa dança: o macho segura os pedipalpos da fêmea

enquanto caminha para frente e para trás. Enquanto isso ele dá repetidos toques com seus

pedipalpos na área genital da fêmea e também dá picadas no pedipalpo da fêmea. Finalmente o

macho deposita um espermatóforo15

e puxa a fêmea para cima dele, enquanto a massa de

espermatozóides é capturada pelo orifício genital feminino. Os escorpiões podem ser

ovovivíparos ou verdadeiramente vivíparos. Nos dois casos os embriões se desenvolvem dentro

do trato reprodutor das fêmeas. O desenvolvimento dos jovens dura de vários meses a um ano, e

entre seis a noventa imagos emergem, dependendo da espécie. Os jovens, com apenas alguns

milímetros de comprimento, escalam a fêmea até atingir seu dorso, onde permanecem até depois

da primeira ecdise. Esse é um comportamento conhecido como cuidado parental, um início de

socialidade. Em aproximadamente um ano os jovens se tornam adultos, e tem longevidade que

pode alcançar vinte e cinco anos.

ORDEM ACARI – Está agrupado nesta ordem o grupo de aracnídeos com maior

importância médica e econômica. É também a ordem mais diversa, com aproximadamente

30.000 espécies descritas e uma estimativa que varia de 500.000 a um milhão de espécies!

São os conhecidos ácaros e carrapatos, que se distribuem em todos os cantos do planeta,

nos ambientes terrestres e aquáticos, com diversos estilos de vida, livre, parasitas temporários

ou obrigatórios. Esses últimos são ectoparasitos principalmente de humanos e animais

domésticos.

Os ácaros se diferenciam de todos os aracnídeos por apresentar uma fusão completa

entre o cefalotórax e o abdômen, sem nenhum sinal de segmentação (figura 9). Suas peças

bucais estão localizadas numa pequena projeção anterior, o capítulo, que consiste

principalmente em apêndices usados para a alimentação, posicionados em volta da boca. Em

cada lado da boca existe uma quelícera, que funciona para perfurar, dilacerar ou agarrar o

alimento. Os adultos possuem quatro pares de pernas, como a maioria dos aracnídeos. Os ácaros

de vida livre podem ser herbívoros ou escavadores.

Figura 9: Acari, vista frontal e ventral (http://www.tolweb.org)

A fecundação é interna, com a transferência de espermatozóides via direta ou por meio

de um espermatóforo. Do ovo eclode uma larva que possui seis pernas, seguida de um ou mais

estágios ninfais, com oito pernas, até atingir a idade adulta. As espécies que são ectoparasitas

obrigatórias copulam no hospedeiro.

Há espécies de vida livre ou parasitas, habitando ambientes terrestres, e até aquáticos,

marinhos ou de água doce (a maioria dos aquáticos).

Dentre os ácaros mais comuns podemos citar Demodex folliculorum, comum nos

folículos pilosos da maior parte dos leitores deste texto. Também Sarcoptes scabei, ectoparasito

Page 16: Apostila Arthropoda

de humanos; este ácaro cava túneis na epiderme humana, nos quais as fêmeas ovipositam cerca

de 20 ovos/dia. As secreções dos ácaros irritam a pele, e infecções são adquiridas pelo contato

com indivíduos afetados.

Classe Merostomata: Representada por euriptéridos, hoje extintos, e xifosuros, um

grupo antigo, também chamado de fósseis vivos.

Os xifosuros são marinhos, e apresentam a mesma forma do corpo desde o período

Triássico (figura 10). São três gêneros e cinco espécies atuais: Limulus, que vive em águas

rasas ao longo da América do Norte; Carcinoscorpius, ao longo da costa sul do Japão; e

Tachypleus, no leste das índias e ao longo da costa sul da Ásia. Podem atingir até 50cm.

Figura 10: Xiphosura, conhecidos como caranguejo-ferradura, representantes da

classe Merostomata.

Possuem uma carapaça não-segmentada em forma de ferradura (daí o nome vulgar,

caranguejo ferradura), e um abdômen largo, que termina num longo télson12

. O cefalotórax

possui cinco pares de pernas locomotoras e um par de quelíceras, e o abdômen possui seis pares

de apêndices largos e delgados fundidos na linha mediana do corpo (figura 10). Em alguns

apêndices abdominais aparecem brânquias foliáceas. Há dois pares de olhos: um par de olhos

compostos e um par de olhos simples. Os límulos nadam usando as placas abdominais e podem

caminhar usando as pernas locomotoras. Alimentam-se à noite de vermes e pequenos moluscos,

que capturam com as quelíceras.

Durante a época reprodutiva os límulos encaminham-se à costa durante a maré alta para

acasalar. A fêmea escava na areia onde deposita os ovos, enquanto um ou mais machos, de

tamanho menor, acompanham de perto para liberar seus espermatozóides no ninho antes que a

fêmea o cubra com areia: a fecundação é externa. Depois da eclosão as larvas retornam ao mar

durante a maré alta. Estas são morfologicamente semelhantes aos extintos trilobitas, com os

quais os xifosuros podem estar aparentados.

Page 17: Apostila Arthropoda

Classe Pycnogonida: Composta exclusivamente por artrópodes conhecidos como

aranhas do mar. Cerca de 1000 espécies distribuídas em 84 gêneros são descritas, com tamanho

variando de alguns milímetros até 75cm de envergadura (figura 11). O corpo é fino com quatro

pares de pernas locomotoras longas. Somente esses artrópodes (alguns grupos) possuem

metâmeros duplicados, o que lhes confere um ou dois pares de pernas a mais, diferentes dos

aracnídeos.

Alimentam-se de fluidos de cnidários e animais de corpo mole. A maioria das espécies

possui quatro olhos simples. O sistema circulatório limita-se a um coração dorsal simples, e os

sistemas excretor e respiratório estão ausentes, pois o corpo e as pernas estreitas e longas

promovem o surgimento de uma grande superfície, suficiente para a difusão de gases e excretas.

Ocorrem em todos os oceanos, mas são mais abundantes em águas polares.

Figura 11: Pycnogonnida, as aranhas do mar.

Page 18: Apostila Arthropoda

III.2 Subfilo CRUSTACEA: Caranguejos, camarões, lagostas, siris, pulgas d’água, etc.

Os crustáceos somam mais de 70.000 espécies descritas, são familiares aos humanos e são os

invertebrados dominantes nos meios aquáticos. Com exceção dos isópodes (tatuzinhos de

jardim) e caranguejos, todos os grupos são aquáticos. Os menores crustáceos têm

aproximadamente 100µm de comprimento e vivem nas antênulas de copépodos, e o maior é o

caranguejo gigante da Tasmânia, com 4m de comprimento, carapaça de 46 cm de diâmetro e até

20kg de peso. A diversidade do subfilo está ilustrada na figura 12.

Figura 12: Diversidade de Crustacea. No sentido horário: Isopoda, Branchiopoda,

Cirripedia e Malacostraca

O nome deriva do envoltório resistente que a maioria dos crustáceos apresenta (do

latim crusta = concha)

Os crustáceos diferem dos outros artrópodes em dois caracteres: eles têm dois pares

de antenas, enquanto os outros artrópodes possuem somente um ou nenhum, e possuem também

apêndices birremes, cada um deles consistindo de um segmento basal, o propodito com dois

ramos (forma de Y) presos.

São características gerais do subfilo:

-Corpo composto de cabeça c/5 segmentos, ou céfalo, e uma longa região póscefálica; tronco

dividido em dois ou mais tagmas distintos.

-Apêndices multiarticulados, unirremes ou birremes.

-Carapaça geralmente presente, reduzida em anostracos, amfípodes e isópodes.

-Mandíbulas usualmente multiarticuladas que funcionam quebrando, cortando ou mastigando,

com dentes.

-Trocas gasosas por difusão aquosa entre superfícies branquiais.

-Excreção por verdadeiras estruturas nefridiais (glândulas antenais, glândulas maxilares, etc).

-Olhos e ocelos simples e compostos ocorrem na maioria dos taxa (exceção Remipedia), ao

menos em um estágio do ciclo de vida; olhos compostos sempre elevados num pedúnculo.

-Intestino com ceco digestivo

Page 19: Apostila Arthropoda

-Desenvolvimento direto ou misto; larva náuplio10

.

A maioria dos crustáceos tem entre 16-20 somitos11

, mas algumas formas apresentam

60 ou mais segmentos. O maior grupo é a classe Malacostraca, que reúne lagostas, caranguejos,

camarões, tatuzinhos de jardim e outros. O plano corporal típico tem uma cabeça com cinco

segmentos fundidos, um tórax com oito somitos e um abdômen com seis. Na extremidade

anterior há um rostro não-segmentado e na posterior um télson não-segmentado, o qual constitui

um leque caudal de vários formatos, com o último segmento abdominal e seus urópodes.

São reconhecidas 10 classes, relacionadas na figura 13:

Figura 13: Classificação e relações filogenéticas do filo Crustacea (in: tolweb.org)

O corpo de um crustáceo é coberto por uma cutícula composta de quitina, proteína e

material calcário. As placas resistentes e mais duras dos crustáceos de grande porte são

particularmente ricas em depósitos calcários. Nas articulações as placas são moles e finas,

proporcionando flexibilidade aos somitos. A carapaça, se presente, cobre a maior parte ou todo

o cefalotórax. O abdômen termina em um télson, que não é considerado um somito, onde se

localiza o ânus.

Classe Remipedia – Derivado do latim remipedes = forma de remo. Carapaça

ausente. É representada por uma única espécie de crustáceos das Bahamas. Animais

transparentes, cavernícolas, que vivem em grutas nos mares. Pouco se conhece sobre as 11

espécies descritas. Possuem em média 3cm de comprimento,

Classe Cephalocarida – Do grego kephale = cabeça + karis = camarão. Pequenos

animais marinhos (2,5mm), sem carapaça, olhos compostos e apêndices abdominais. Somente

uma espécie é conhecida, da costa norte dos Estados Unidos, Hutchinsoniella macracantha. É

considerada a classe mais basal de crustáceos. Vivem nos fundos sedimentados ou nos

sedimentos superficiais dos mares. Alimentam-se por filtração das finas partículas do sedimento

onde habitam. São descritas 9 espécies.

Classe Branchiopoda – Do grego branchia = brânquias + pous, podos = pés.

Pertencem a esta classe os crustáceos conhecidos como pulgas d’água, muito utilizados commo

alimentos para peixes de aquário. São 934 espécies descritas com distribuição mundial,

agrupadas em quatro ordens bem distintas: Anostraca, Notostraca, Cladocera e

Conchostraca. O tamanho é variável: 3,5mm – 10cm. São animais típicos de água doce,

adaptados em meios temporários que podem suportar grandes variações de salinidae. Os ovos

são resistentes, suportando ressecamento, e só eclodindo quando o ambiente é favorável.

CRUSTACEA

Page 20: Apostila Arthropoda

Classe Maxillopoda – A diversidade dos táxons dessa classe sugere um

parafiletismo. A carapaça é reduzida, possuem tamanho variável de 0,3mm-2cm. Possuem

grande importância ecológica, devido à situação na cadeia alimentar marinha. São bentônicos ou

platônicos, encontrados nos ambientes dulcícolas, no húmus nos fundos oceânicos até 7000m de

profundidade. São descritas 15.214 espécies, a maior parte destas na subclasse Ostracoda.

Muitas espécies de são parasitas. As cracas são os representantes dessa classe mais conhecidos,

e estão classificados na subclasse Cirripedia.

Classe Malacostraca - O nome deriva do grego, malakos=mole + ostrakon=concha.

Essa é a Ordem que abriga os crustáceos mais conhecidos: caranguejos, camarões, lagostas,

todos são malacostracos. Todos esses crustáceos possuem um corpo estruturado em um

cefalotórax e abdômen. As espécies conquistarem todos os meios aquáticos possíveis. São

22.671, distribuídas nas ordens Amphipoda, Decapoda, Euphausica e Isopoda. As espécies

têm tamanho variando de 1cm- Esta última representa o grupo que foi bem sucedido na invasão

do ambiente terrestre. Os isópodes, conhecidos como tatuzinhos de jardim, junto com os outros

crustáceos terrestres, os caranguejos, desempenham um importante papel ecológico, pois muitas

espécies são detritívoras. Sem estes animais, as praias teriam um fedor insuportável.

Page 21: Apostila Arthropoda

III.3 Subfilo HEXAPODA: Este é o grupo que compreende o maior número de

organismos, provavelmente milhões de espécies. São os insetos, colêmbolos, proturos e

dipluros. Estão agrupados em duas classes:

Classe Entognatha (base das partes bucais dentro da cápsula cefálica);

Classe Insecta – considerada a mais diversa classe de organismos, dominantes nos

ambientes terrestres e aéreos. As relações filogenéticas entre os grupos estão expressas na

figura 14:

Figura 14: Classificação e Relações filogenéticas em Hexapoda (in: tolweb.org)

Os hexápodos conquistaram todos os ambientes terrestres. Alguns deles voltaram à

água, como algumas famílias de insetos. Sua biodiversidade é prodigiosa, e o número de

espécies ultrapassa nossa imaginação. Só para se ter uma ideia, existe hoje mais de 12.000

espécies de formigas descritas, apenas uma família de uma ordem!!

São considerados caracteres derivados exclusivos dos hexápodes:

A perda do segundo par de antenas;

A formação de um tórax;

Os três pares de pernas, daí o nome do subfilo;

O número de segmentos abdominais, limitados a um máximo de 11 segmentos;

A perda dos apêndices abdominais (algumas estruturas persistiram nos dipluros,

colêmbolos e as genitálias externas);

As traqueias, que formam um sistema capaz de realização de trocas gasosas;

A excreção por túbulos de Malpighi.

O desenvolvimento pode ser realizado de três maneiras diferentes: Nos ametábolos, o

animal se desenvolve sem mudar de forma. Os hemimetábolos se desenvolvem por meio de

uma metamorfose dita imperfeita: o jovem é muito parecido com adulto (o grilo, por

exemplo). Nos holometábolos as espécies apresentam uma ecologia completamente

diferente do adulto, ou imago (exemplos: moscas, besouros).

Existem hoje descritas cerca de 830.000 espécies de hexápodes, com distribuição

mundial.

Classe Collembola – Uma das três subclasses de hexápodes não insetos, os colêmbolos têm

a mais ampla distribuição dos hexápodes, ocorrendo inclusive na Antártida. São considerados

também como os mais abundantes, com cerca de 250 milhões de indivíduos por hectare

quadrado. São encontrados no solo, na serrapilheira17

, sob pedras, em cavernas, etc. São

conhecidas atualmente cerca de 6000 espécies.

HEXAPODA

Page 22: Apostila Arthropoda

O nome “Collembola” é derivado de colle=cola + embolon=pistão, e refere-se ao tubo

ventral que libera secreções com propriedades adesivas, funcionando como um muco colante.

Este tubo tem função primária de excreção e manutenção do balanço hídrico.

Classe Protura – Especialmente comuns no húmus e no subsolo. São conhecidas cerca

de 500 espécies, todas de hábitos alimentares fungívoros. O nome deriva do grego:

protos=primeiro + oura=cauda. Apresentam as seguintes características derivadas:

-Ausência de olhos;

-Ausência de antenas;

-Ausência de tentorium;

-Pernas posteriores alargadas, com muitas sensilas; pernas anteriores utilizadas como

antenas.

Além destas, outras características são:

-O tamanho é muito pequeno, são menores que 2mm, e o abdômen tem 12 segmentos

quando adultos. As partes bucais são entognatas, ou seja, são localizadas dentro da cápsula

cefálica. Não possuem cercos e as pernas têm cinco segmentos (figura 15).

Classe Diplura – Os dipluros são pequenos hexápodes não insetos, com cerca de 1000

espécies distribuídas em até 9 famílias. Seu tamanho varia de 2-5mm, no máximo de 50mm, não

têm pigmentação e são pouco esclerotizados. São cegos, e as antenas são longas, moniliformes e

multiarticuladas, pois são importantes órgãos dos sentidos. O desenvolvimento dos jovens é

epimórfico, ou seja, as mudas continuam por toda a vida. Algumas espécies são gregárias, e as

fêmeas podem cuidar dos ovos e dos jovens. Este é um grupo onívoro, alguns se alimentam de

vegetação viva e decomposta, enquanto outros são predadores (figura 16).

Classe Insecta - Considerados como o grupo dominante na Terra, os insetos têm sua

origem estimada em cerca de 350 milhões de anos. As estimativas do número de espécies de

insetos chegam a 30 milhões de espécies, a grande maioria delas ainda desconhecida, ou seja,

ainda há muito a ser descoberto!!

Como em outros animais, a evolução dos insetos teve períodos mais ativos que outros.

Em algumas épocas aconteceu uma explosão de novas espécies, provavelmente devido a

mudanças climáticas e ao avanço evolutivo de outros animais e também de plantas.

Um dos primeiros passos evolutivos nos insetos foi o desenvolvimento de olhos

compostos, com centenas e até milhares de facetas, cada uma destas com a face voltada para

uma posição diferente, e que juntas produzem uma imagem completa. Com exceção de alguns

grupos subterrâneos e espécies endoparasitas, a maior parte dos insetos possui um sistema

visual altamente desenvolvido.

Depois houve o aparecimento das asas. Estas apareceram bem “primitivas”, e eram

usadas inicialmente como aparato para saltos, cobrindo pequenas distâncias. Gradualmente estas

se tornaram maiores, com alguns grupos apresentando sofisticados movimentos como a

estabilidade no vôo (mecanismo copiado pelo helicóptero). Os insetos mais derivados têm asas

funcionais quando adultos, e todas as ordens tem ao menos uma espécie alada.

Outro fator que muito contribuiu para a evolução dos insetos foi a capacidade de

metamorfose, a transformação do corpo que leva a máxima adaptação ao ambiente, o que

explica como esse grupo de animais tornou-se tão bem sucedido no planeta. Com a muda, os

insetos apresentam formas diferentes durante o desenvolvimento, tornando-se capazes de

explorar diversos ambientes em cada fase de sua vida.

Page 23: Apostila Arthropoda

Todos os insetos são segmentados e possuem a esqueleto externo articulado

(exoesqueleto) característico dos Arthropoda. Os segmentos são agrupados em três unidades, a

cabeça, o tórax e o abdômen, nos quais as partes básicas destes podem ser mais ou menos

modificadas. As pernas são dispostas nos três segmentos torácicos. Os grupos são diferenciados

por várias modificações do exoesqueleto e dos apêndices, como partes bucais, pernas e

abdômen.

Insetos adultos geralmente têm asas, e essas estruturas podem diagnosticar uma ordem.

Alguns caracteres são determinantes para explicar o sucesso desta classe de artrópodes:

Cutícula

É o fator-chave para o sucesso da classe Insecta. A camada inerte oferece força para o

exoesqueleto e apódemas (suportes internos e junção de musculaturas) e atuam como uma

barreira entre os tecidos e o ambiente. Uma função crítica da cutícula é a restrição à perda de

água, vital para o sucesso dos insetos na terra.

Cabeça

A cabeça dos insetos é uma cápsula fortemente esclerotizada, ligada ao tórax por um

pescoço membranoso flexível. Nesta região os apêndices são modificados para os sentidos e a

alimentação. Aqui aparecem o aparato bucal que compreende o labro, as maxilas e o labium, e

também importantes órgãos dos sentidos como as antenas, os olhos compostos e os ocelos.

Também são encontrados olhos compostos e antenas. Em muitos insetos três ocelos

estão situados anteriormente, tipicamente arranjados em triângulo (figura 17).

As partes bucais são formadas de apêndices de todos os segmentos da cabeça.

Compõem o aparato bucal cinco componentes básicos: O labro, ou “lábio superior”; a

hipofaringe, uma estrutura em forma de língua; as mandíbulas; a maxila; e o labium, ou “lábio

inferior”.

As mais óbvias estruturas sensoriais dos insetos estão na cabeça: olhos, ocelos e

antenas (figura 17). Essas últimas são apêndices pares, móveis e segmentados, com diversos

órgãos sensoriais (ou sensilas) que funcionam como quimiorreceptores, mecanoreceptores,

termoreceptores e higrorreceptores. As antenas de machos tendem a ser mais elaboradas que as

das fêmeas correspondentes, o que aumenta a área de superfície utilizada para detecção de

feromônios sexuais masculinos. Em resumo, as antenas funcionam como órgãos sensitivos e são

os receptores primários de todos os insetos e têm também uma função tátil devido ao grande

número de sensilas que possuem.

São reconhecidas atualmente 30 ordens de insetos, relacionadas como mostra o anexo 1.

Algumas características que podem ilustrar a diversidade dessa classe são a seguir

comentadas:

A forma do aparelho bucal é determinada pela dieta, e basicamente, as peças bucais

dos insetos são classificadas em mastigadoras e sugadoras.

Nos insetos mastigadores as mandíbulas movem-se transversalmente, e o inseto é capaz

de cortar e mastigar o alimento sólido.

Mesmo nesse grupo, a morfologia das partes bucais varia entre as espécies. A superfície

cortante da mandíbula é diferenciada de acordo com a dieta da espécie. Por exemplo, nos

insetos carnívoros estas são armadas com fortes “dentes”; nos gafanhotos, que se alimentam de

vegetais, há uma série de “dentes pontudos”. Nas espécies que não se alimentam na fase adulta

as partes bucais são muito reduzidas sendo, às vezes, vestigiais ou ausentes (Ephemeroptera).

O aparato bucal de insetos que se alimentam de fluidos (sugadores) foi modificado para

formação de um tubo, através do qual o líquido pode ser sugado para dentro deste aparelho. A

musculatura da faringe é fortemente desenvolvida para formar uma bomba. Em Heteroptera e

Page 24: Apostila Arthropoda

muitos Díptera, que se alimentam de fluidos de plantas ou animais, alguns componentes das

partes bucais foram modificados num ferrão.

Nos Lepidoptera a probóscide é longa e enrolada. Esse tipo de aparelho bucal é

chamado de bomba-sifão, pois não há uma estrutura como o ferrão dos Hemiptera: nesse caso o

inseto simplesmente suga ou bombeia o líquido externo por meio da probóscide.

O tórax é a parte locomotora do corpo, apresentando as pernas e as asas. Divide-se em

três segmentos: Protórax, Mesotórax e Metatórax. O protórax é conectado à cabeça por meio do

cérvix, uma região membranosa, que funciona como um pescoço. Nesta parte do corpo também

são encontrados os espiráculos, aberturas responsáveis pelas trocas gasosas. A porção lateral do

tórax em insetos alados difere do abdômen no que diz respeito à esclerotização: o tórax dos

insetos alados é fortemente esclerotizado e muito rígido.

A morfologia dos três pares de pernas encontrados no tórax caracteriza o hábito dos

insetos:

-pernas saltatórias – Orthoptera (grilos, gafanhotos, esperanças);

-pernas raptoras – grupos que capturam presas;

-pernas cursoriais – insetos que correm (baratas);

-pernas natatórias – espécies que nadam (Coleoptera e Heteroptera aquáticos);

-pernas gressoriais – insetos que andam (formigas);

-pernas fossoriais – insetos que cavam (paquinhas).

O abdômen é composto por 11 segmentos. Nesta parte do corpo são encontrados o

aparelho reprodutor, digestivo e excretor e circulatório. A genitália dos insetos geralmente é

localizada nos segmentos abdominais 8 e 9. Os insetos Apterygotas (sem asas) e muitos insetos

aquáticos imaturos têm apêndices abdominais.

Os órgãos específicos relacionados ao acasalamento e oviposição são conhecidos como

genitália externa, cuja forma é muito diversa e tem considerável valor taxonômico, uma vez que

em muitos grupos de insetos a genitália masculina ajuda na distinção de espécies.

A terminália (porção ano-genital do abdômen) de fêmeas adultas inclui estruturas

internas utilizadas para o recebimento dos órgãos copulatórios masculinos e seus

espermatozóides e estruturas externas para a oviposição. A genitália externa feminina funciona

como um tubo para a postura de ovos, embora em alguns grupos estes sejam ausentes (Isoptera,

Phthiraptera, e a maior parte dos Ephemeroptera). Esses ovipositores podem ter duas formas:

a) O verdadeiro ovipositor, formado por apêndices dos segmentos abdominais;

b) O ovipositor substituto composto de segmentos abdominais posteriores extensíveis.

Page 25: Apostila Arthropoda

.

A-Setácea (Libélula); B-Filiforme (Besouro); C-Moniliforme (Besouro); D-Clavada (Besouro); E-Clavada (Besouro-joaninha); F-Capitada (Besouro); G-Serreada (Besouro); H-Pectinada (Besouro); I-Plumosa (Macho de mosquito); J-Aristada (Mosca das flores); K-Estilada (Moscas); L- Flabelada (Besouro); M-Lamelada (Besouro); N-Geniculada (Vespa, himenópteros em geral)

a)Pernas fossoriais – insetos que cavam

(paquinhas).

b)Pernas que agarram – Ectoparasitas

(Mallophaga e Anoplura)

c)Pernas que fazem limpeza – Hymenoptera.

d)Aparato das pernas que coletam pólen.

Page 26: Apostila Arthropoda

III.4 Subfilo MYRIAPODA (miríade= milhares; poda=pés): aqueles que têm muitos

pés - Quatro classes compõem esse grupo: Chilopoda, Diplopoda, Pauropoda e Symphila,

ilustradas na figura 10. Dentre elas as mais conhecidas são Chilopoda (centopéias, lacraias) e

Diplopoda (gongolos, que chegam a apresentar até 750 pernas!!). Inicialmente os miriápodes

eram agrupados nos unirremes, como os insetos. Porém, as filogenias estabelecidas a partir de

biologia molecular indicam a presença deste caractere nos dois grupos como uma convergência

correspondente à adaptação ao meio terrestre, nos insetos e nos miriápodes. São artrópodes com

um padrão corporal com dois tagmas (cabeça e tronco) com apêndices pareados em todos ou

quase todos os somitos do tronco.

Junto com os hexápodes, os miriápodes representam o triunfo terrestre dos artrópodes.

Esses dois grupos são chamados de mandibulados terrestres, e são os mais abundantes grupos de

animais terrestres.

Os miriápodes incluem membros das classes Diplopoda, Chilopoda, Pauropoda e

Symphyla, distribuídas em aproximadamente 12.050 espécies de distribuição mundial (figura

18).

Possuem como caracteres derivados exclusivos:

-Órgãos de Tömösvary: órgãos sensoriais particulares de função desconhecida, que

comportam grupos de células sensoriais epidérmicas enervadas pelo protocérebro.

-A perda de um ramo do apêndice birreme.

-A presença de traqueias, responsáveis pelas trocas gasosas, o que constitui uma

convergência com os hexápodes.

-Dois tubos de Malpighi realizam a excreção.

Classe Chilopoda – Membros da classe Chilopoda são os centípedes, geralmente

conhecidos como centopeias, lacraias, piolhos de cobra, etc. O nome tem origem grega: cheilos

=lábio, margem + podus=pés. A maioria dos centípedes tem hábitos noturnos e vivem nas

superfícies de troncos, rochas, ou nas camadas superiores dos solos de florestas. Possuem uma

epicutícula com uma camada de cera e precisam de habitats com entulhos. O corpo é achatado e

possuem um único par de pernas longas em cada uma dos 15 ou mais segmentos do tronco. O

último par de pernas é usualmente modificado em longos apêndices sensoriais. A cabeça tem

apêndices semelhantes aos insetos, com um par de antenas, um par de mandíbulas e u ou dois

pares de maxilas. O par de olhos que se localiza na face dorsal da cabeça é um grupo de ocelos

A reprodução envolve comportamento de corte, no qual o macho tece uma teia a partir

de glândulas no lado posterior do corpo. Ele coloca ali o espermatóforo, no qual a fêmea

introduz sua abertura genital. Os ovos são fertilizados quando são liberados. A fêmea apresenta

cuidado parental, guardando os ovos e circulando entre eles. Os jovens são semelhantes aos

adultos, exceto que têm poucas pernas e segmentos, que são adicionados a cada muda.

Quilópodes são ágeis predadores que se alimentam de pequenos artrópodes, minhocas e

lesmas; no entanto, algumas espécies se alimentam de sapos, roedores e até morcegos! Nestes

animais os apêndices do primeiro segmento corporal se transformaram em poderosas estruturas

de peçonha, os forcípulos que matam ou imobilizam a presa. A maioria das espécies sintetiza

peçonha inofensiva aos humanos, embora muitos tenham forcípulos que são comparáveis aos

ferrões das vespas; os acidentes mortais relatados aconteceram com grandes espécies tropicais.

Classe Diplopoda – Também chamados “mil-patas”, os diplópodos ou milípedes têm

seu nome de origem grega, que significa diploos = duas dobras + podus = pés, ou pés dobrados.

É uma classe com espécies distribuídas mundialmente, facilmente encontradas nas camadas

inferiores da serrapilheira, em húmus ou sob troncos caídos. Sua epicutícula contém muita cera;

por isso a escolha do habitat é importante para evitar dessecação. Todos têm muitas pernas, e se

Page 27: Apostila Arthropoda

alimentam de matéria vegetal caída mastigando ou rasgando com suas mandíbulas. Poucas

espécies têm partes bucais adaptadas para sugar secreções vegetais.

A cabeça apresenta dois grupos de olhos simples e um par de antenas, um de

mandíbulas e um de maxilas.

Na maioria das espécies os apêndices do sétimo somito são especializados como órgãos

copulatórios. Depois da cópula as fêmeas depositam seus ovos em um ninho e os guardam até a

eclosão. As formas larvais possum apenas um par de pernas em cada somito.

Os milípedes não são tão ativos como as centopéias, e se enrolam como uma bola

quando perturbados ou ameaçados de dessecação. Muitos possuem glândulas que produzem

substâncias repulsivas como cianeto de hidrogênio, repelente para outros animais.

Classe Pauropoda – Do grego pauros = pequeno + podus = pés). São artrópodes

terrestres, os menores miriápodes (menores que 5 mm), de corpo mole, esbranquiçados ou

amarelados, que são raramente encontrados por um observador casual. Superficialmente eles

parecem hexápodes como colêmbolos ou psocópteros, mas os adultos têm 11 (ou às vezes 12)

segmentos no corpo, e 9 (ou10-11) pares de pernas. Eles também possuem antena única

bifurcada e um padrão locomotor distinto caracterizado pelo movimento rápido e freqüente com

mudanças abruptas de direção. A maior parte dos paurópodes perdeu os olhos, o sistema

traqueal e o sistema circulatório.

Podem ser encontrados no solo, em madeira apodrecida, na serrapilheira e outros locais

úmidos. Cerca de 500 espécies já foram descritas, distribuídas em cinco famílias.

Classe Symphyla – Os representantes dessa classe são pequenos artrópodes com

tamanho variando de 2-10mm que ocupam o solo e folhas apodrecidas e são semelhantes a

centopéias. Estes organismos perderam os olhos, mas possuem antenas longas e não-ramificadas

e poros sensoriais na base das antenas; têm um tronco com 12 segmentos incluindo um par de

fiandeiras17

.

Alimentam-se de vegetação caída no solo, e algumas espécies são pragas agrícolas de

flores e vegetais. O nome tem origem grega: sym=mesmo, igual + phyllos=folha.

Figura 18: Diversidade de Myriapoda

Page 28: Apostila Arthropoda

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E AMBIENTAL DOS ARTRÓPODES

Embora sejam competidores com o homem por alimento e também sejam transmissores

de doenças, os artrópodes são animais essenciais na polinização de muitos vegetais usados na

utilização humana, servem de alimento, são utilizados como matéria-prima para drogas e

tinturas, e produzem produtos como a seda, o mel, própolis e a cera de abelha.

As espécies economicamente importantes do filo têm uso direto e indireto, com

impactos positivos e negativos, sendo utilizadas como recurso alimentar, indiretamente na

melhoria do solo para cultivos e como base para rações consumidas por diversas espécies de

animais; são utilizadas na indústria de jóias e pigmentos, têm importância agrícola e na saúde,

utilizados como terapias alternativas ou como vetores de microorganismos causadores de

doenças que afetam o homem e outros animais. As espécies de importância econômica são

encontradas nos seguintes grupos:

CRUSTACEA

BRANCHIOPODA (pulga d’água)

MALACOSTRACA (krill, camarões, caranguejos, lagostas, lagostins)

MAXILLOPODA (cracas)

HEXAPODA

INSECTA

CHELICERIFORMES

CHELICERATA (aranhas, ácaros, carrapatos)

A importância econômica será apresentada em relação aos aspectos positivos e

negativos. Dentro de cada um destes aspectos, o uso desses recursos será tratado como de uma

maneira direta ou indireta, na alimentação, indústria, agricultura, pecuária e saúde pública.

1.Utilização como Recurso alimentar

1.1 Uso direto: A importância dessas espécies utilizadas como alimento remonta a vários

séculos: desde a antiguidade diferentes culturas utilizavam crustáceos e insetos como

importantes itens alimentares.

a) Pesca:

As espécies pescadas exclusivamente para consumo humano são:

ARTHROPODA; CRUSTACEA; Classe MALACOSTRACA; ORDEM DECAPODA:

Família Penaeidae: Penaeus brasiliensis (camarão rosa), Xiphopenaeus kroyer (camarão

sete-barbas).

Famílias Gecarcinidae Cardisoma guanhumi (guaiamu), Ocypodidae (caranguejos),

Portunidae Callinectes sapidus (siris).

Famílias Palinuridae (lagostas), Astacidae (lagostins), Cambaridae (lagostim de água

doce).

b) Colheita em meio terrestre

A nível marginal existem espécies de artrópodes de importância econômica local,

usados na alimentação: abdômen de rainhas de saúvas (INSECTA; FORMICIDAE) consumidos na

América do Sul e Central; gafanhotos (INSECTA; ORTHOPTERA) consumidos no México, África

e China; larvas de escarabeídeos e passalídeos (INSECTA; COLEOPTERA), larvas de lepidópteros

(Insecta; Lepidoptera) consumidas por populações amerindianas, pigmeus africanos e

Page 29: Apostila Arthropoda

aborígenes australianos, larvas de vespas (Insecta; Hymenoptera) consumidas no Japão e nas

Ilhas Reunião.

c) Criação de recursos pesqueiros e terrestres:

ARTHROPODA – Carcinicultura (cultivo de camarões).

d) Produtos apícolas:

Abelhas melíferas produtoras de mel e outros produtos apícolas.

ARTHROPODA; INSECTA; HYMENOPTERA; APIDAE; Apis, Melipona,Tetragonisca. Os

dois últimos gêneros representam algumas espécies de abelhas sem ferrão ou indígenas.

1.2 Uso indireto

b) Alimentos para aquariofilia:

ARTHROPODA; CRUSTACEA; BRANCHIOPODA; DAPHINIIDAE; Daphnia spp. utilizado na dieta de

peixes de aquário como “comida viva”, cultivado comercialmente. O krill é pescado

comercialmente, sendo utilizado como ração para peixes, como isca, e também para consumo

humano (ARTHROPODA; CRUSTACEA; MALACOSTRACA).

2. Importância agrícola

2.1 Aspectos econômicos diretos

a) Aspectos benéficos da importância econômica: Engenheiros de ecossistema. São

organismos que modificam o ambiente ao transformarem materiais vivos ou não de um estado

físico para outro através de meios mecânicos ou outros meios. São considerados engenheiros de

ecossistema as minhocas os cupins e as formigas, num conceito definido por Patrick Lavelle,

que desenvolveu esse tema para a sustentabilidade de solos tropicais. Apesar de não ser um

artrópode, o papel dos anelídeos será discutido aqui para uma melhor abordagem do tema.

ARTHROPODA; INSECTA; ISOPTERA, HYMENOPTERA (FORMICIDAE).

As minhocas, com suas atividades mecânicas levam à criação de estruturas como

galerias e coprólitos que modificam as propriedades físicas dos solos onde vivem e a

disponibilidade de recursos para outros organismos. Os agregados do solo formados por essas

atividades podem proteger parte da matéria orgânica de uma mineralização rápida, e constituem

uma reserva de nutrientes disponíveis para as plantas, pois contribuem liberando oligoelementos

e NPK de forma assimilável para os vegetais. Os cupins digerem a celulose, e alteram a

estrutura dos ecossistemas por meio do seu comportamento construtor, promovendo um

aumento na porosidade do solo e no transporte de partículas minerais para a superfície e vice-

versa. Dessa maneira, eles influenciam a disponibilidade de recursos para organismos de cadeias

tróficas diferentes. As formigas atuam mecanicamente revolvendo o solo movimentando as

camadas em diferentes sentidos. Por serem organismos onipresentes nos ambientes, ajudam a

controlar a população de outros insetos e também contribuem dispersando sementes, enterrando

cadáveres e depositando em diferentes camadas do solo outros restos orgânicos.

b) Aspectos benéficos da importância econômica: Apicultura.

ARTHROPODA; INSECTA; HYMENOPTERA. APIDAE; Apis, Melipona, Tetragonisca.

Abelhas produtoras de mel (usado como item alimentar), própolis (terapia alternativa ao

uso de antibióticos), pólen e geléia real (complemento alimentar).

c) Aspectos benéficos da importância econômica: Polinização

ARTHROPODA; INSECTA; DIPTERA, HYMENOPTERA, LEPIDOPTERA.

Abelhas, lepidópteros e dípteros são conhecidos polinizadores. Dentre os artrópodes, as

abelhas são provavelmente aqueles que tem maior importância econômica como polinizadores,

Page 30: Apostila Arthropoda

as espécies do gênero Apis polinizando diversas fruteiras. Mais intensamente no Hemisfério

Norte existe um sofisticado e lucrativo sistema de criação massal de colméias para

arrendamentos a produtores de frutas na primavera. Este é um negócio que movimenta milhões

de dólares anuais: no início da primavera os proprietários das colméias as alugam e estas são

transportadas em caminhões até as fazendas produtoras, polinizando espécies de figos, mirtilos,

melão, laranja, e também legumes. Nas regiões tropicais são conhecidos os himenópteros

polinizadores de maracujá (gênero Xylocopa, abelhas conhecidas como mamangava).

e) Aspectos benéficos da importância econômica: Controle biológico.

ARTHROPODA; HEXAPODA (INSECTA; DIPTERA, HYMENOPTERA); CHELICERIFORMES

(CHELICERATA; ARACHNIDA; ACARI, ARANEAE).

Diversos artrópodes hexápodes e quelicerados são economicamente importantes por

serem utilizados como agentes de controle biológico, e muitos são criados em escala comercial.

O controle biológico baseia-se no estabelecimento (precedido de importação) de inimigos

naturais de pragas exóticas para que a praga seja controlada com pouca ajuda posterior. Esse

tipo de controle manipula uma população de organismos de forma a reduzir seus danos

econômicos usando organismos predadores ou patogênicos.

Como exemplos: aranhas são predadores diversos e eficientes; tradicionalmente são

mantidas em estábulos de criação de gado de leite para controle de moscas. Existem estudos

regionais ainda não publicados de uma família de aranha eficaz no controle da mosca-dos-

chifres (Diptera: Cuterebridae: Dermatobia irritans). Microhimenópteros parasitóides

(Encyrtidae: Apoanagyrus lopezi) utilizados no controle da cochonilha-da-mandioca

(Hemiptera: Homoptera: Phenacoccus manihoti) levando a um benefício anual estimado em

US$ 200 milhões. Ácaros predadores também são importantes e utilizados como inimigos

naturais de ácaros fitófagos. Ácaros também controlam populações de cochonilhas, gafanhotos e

pragas de grãos armazenados.

f) Aspectos negativos: Pragas agrícolas.

Outro aspecto da importância econômica agrícolas dos animais é quando estes se

tornam pragas, podendo causar graves prejuízos financeiros. O status de praga depende da

abundância dos indivíduos, e do tipo de incômodo que eles causam. Alguns conceitos devem ser

definidos para a determinação de uma praga. Dano é a perda mensurável de utilidade do

hospedeiro, como a qualidade ou quantidade da produção, ou da estética. Algumas vezes o dano

provocado por poucos indivíduos é inaceitável, como em frutos infestados por moscas-de-fruta.

Outras vezes é necessária uma alta densidade de indivíduos ou uma epidemia destes antes de se

tornarem pragas (ex: gafanhotos se alimentando nos pastos somente são considerados pragas

quando a população é muito grande!).

Entre os artrópodes existem pragas agrícolas e de grãos armazenados. São espécies do

subfilo HEXAPODA (INSECTA) e CHELICERATA (ACARI) de diversas ordens.

Como exemplos de artrópodes pragas de plantas cultivadas:

INSECTA; HEMIPTERA; HOMOPTERA; STENORRYNCHA; ALEYRODIDAE; Bemisia tabaci,

Bemisia argentifolii, popularmente chamadas de mosca-branca, atacam cultivos de caju, melão,

soja, tomate, plantas ornamentais, entre cerca de 500 espécies nas quais conseguem se

reproduzir.

Os insetos são das mais importantes pragas de grãos armazenados, agentes responsáveis

pelas perdas no período pós-colheita. Os principais insetos de grãos e subprodutos armazenados

pertencem a 28 famílias da ordem Coleoptera (gorgulhos ou carunchos) e seis espécies de

Page 31: Apostila Arthropoda

quatro famílias (Pyralidae, Tineidae, Oecophoridae e Gelechiidae) da ordem Lepidoptera

(traças).

Dentre os coleópteros alguns mais importantes são Lasioderma serricorne (F.), também

conhecido com "bicho-do-fumo" e Stegobium paniceum (L.) (gorgulho-da-farinha).

São exemplos de traças: Traça-das-amêndoas (Cadra cautella, Pyralidae), traça

mediterrânea-da-farinha (Ephestia kuehniella, Pyralidae), traça-do-fumo (E. elutella, Pyralidae),

traça-da-passa-de-uva (C. figulilella, Pyralidae), traça-indiana-das-farinhas (Plodia

interpunctella, Pyralidae) e traça-dos-grãos (Sitotroga cerealella, Gelechiidae).

3. Prejuízos a diversos sistemas produtivos.

3.1 Aspectos econômicos diretos

b) Importância veterinária

Na medicina veterinária espécies de artrópodes podem impor perdas significativas na

produção animal.

Os artrópodes que são de importância médico-veterinária pertencem às classes Acari e

Insecta. São carrapatos (Chelicerata; Acari-Parasitiformes), que causam prejuízos como

diminuição na produção animal, perdas no setor coureiro (carrapato-de-boi, Boophilus

microplus) com queda da qualidade do couro a ser comercializado, diversos dípteros (Diptera;

Brachycera, Nematocera) vetores de nematódeos e protozoários que causam doenças como

tripanossomoses e filarioses. Os dípteros pertencem às famílias Culicidae, Cuterebriidae

(Dermatobia, conhecida como berne), Psychodidae e Simuliidae. São também vetores de

importância médico-veterinária os hemípteros vulgarmente conhecidos como barbeiros

(Hemiptera; Heteroptera; Reduviidae; Triatoma infestans). Algumas ordens de insetos são

compostas de parasitas obrigatórios como Phithiraptera: Anoplura e Mallophaga (piolhos

sugadores e mastigadores) e Siphonaptera (pulgas).

4. Importância na saúde: Aspectos positivos e negativos na saúde pública

a) Efeito direto de aspectos positivos.

Os artrópodes também são utilizados em tratamentos de medicina alternativa: é

amplamente divulgado o uso de abelhas Apis mellifera na apiterapia, que é o tratamento por

picadas de abelhas, cujo veneno tem ação antibiótica.

b) Efeito direto de aspectos negativos

Artrópodes podem efetuar um impacto negativo na saúde pública por serem hospedeiros

de microorganismos transmissores de doenças aos animais incluindo o homem. Alguns

artrópodes são os maiores responsáveis pela transmissão de doenças nosocomiais, atuando em

ambientes como centros cirúrgicos e gabinetes dentários. Humanos podem ser infestados por

piolhos, pulgas (que transmitem a peste bubônica) e ácaros. São eficientes vetores de

microorganismos (formigas). Mosquitos dípteros da subclasse Nematocera são transmissores de

dengue, doenças-do-sono, febre amarela, filarioses, leishmaniose, malária, e oncocercoses, entre

outras doenças.

5. Manufaturas; matéria-prima.

Muitas espécies de artrópodes são também utilizados na manufatura de jóias, na

indústria cosmética e na fabricação de tintas.

Page 32: Apostila Arthropoda

Nos artrópodes, besouros das famílias Buprestidae e Scarabaeidae são utilizados como

matéria-prima na fabricação de jóias, na cultura andina. As cochonilhas (Hemiptera;

Homoptera; Dactylopius coccus) produzem o corante vermelho-carmim, usado nas indústrias

alimentícia e farmacêutica.

Page 33: Apostila Arthropoda

ALÉM DISSO..

O poder da regeneração

Os límulos possuem a rara habilidade de regenerar seus membros perdidos, de uma

forma similar ao que fazem asestrelas-do-mar. Estes animais são extremamente valiosos como

espécies para a comunidade de pesquisas médicas. Desde 1964 uma substância feita através do

sangue (que é azul) dos Límulos, chamada LAL (Limulus Amebocyte Lysate, em inglês) vem

sendo testada contra endotoxinasbacterianas e na cura de várias doenças causadas porbactérias.

Os animais podem ser devolvidos à água após a extração de uma certa quantidade de seu

sangue, fazendo com que essa busca não se torne um risco à sobrevivência destesartrópodes. A

vida de um único Límulo para extração sangüínea periódica pode valer até 2.500dólares. O

sangue destas criaturas é azul, o que é um resultado da alta concentração de hemocianina

cuprosa ao invés da hemoglobina ferrosa encontrada, por exemplo, nos humanos. O fato de os

Límulos terem evoluído tão pouco ao longo desses 300 ou 400 milhões de anos é uma das

razões que faz deste um animal tão diferente dos demais.

Sobre a teia das aranhas...

Diversos aracnídeos e também alguns insetos produzem seda, um hábito importante

para a vida das aranhas. Essas aranhas possuem estruturas especiais, fiandeiras14

, e as glândulas

sericígenas, localizadas no abdômen. Uma secreção protéica, líquida, endurece ao ser puxada

das fiandeiras e forma um fio de seda. Os fios de seda são mais fortes que fios de aço do mesmo

diâmetro, e só perdem em resistência para fibras de quartzo fundido. As teias mais comuns são

aquelas construídas para captura de insetos, mas esta pode variar entre as espécies. Os fios de

seda são utilizados também para revestir os abrigos, produzir ootecas, como fio guia, para

produzir pontes, fios de advertência, fios de muda, ou teias comunitárias para desenvolvimento

das crias.

As aranhas são comumente motivos de medo, repulsa ou nojo por parte dos seres

humanos. Relativamente poucas espécies são capazes de causar acidentes em humanos. Dentre

estas podemos citar a “viúva negra” (Latrodectus mactans), a “aranha marrom” Loxosceles

reclusa, “aranha armadeira”, espécies do gênero Phoneutria (estas muito agressivas, com uma

espécie endêmica ameaçada na região sul da Bahia, figura 19).

“Animais domésticos”

Conhecidas como animais símbolo do trabalho e da abnegação, as formigas, como a

maior parte dos insetos são considerados “pequenos animais que incomodam” e comumente, a

primeira pergunta feita a alguém que trabalha com formigas é: “Como eu faço para acabar com

as formigas do açucareiro?” ou então ouvimos afirmações do tipo: “Formigas são boas para a

vista!”

O que muitos desconhecem é que as formigas que passeiam nas residências,

consultórios médicos e hospitais NÃO são boas para a vista. São espécies exóticas, introduzidas

geralmente pela ação humana e, em muitos casos, vetores de microorganismos responsáveis por

uma alta freqüência de infecção hospitalar. Quanto às formigas do açúcar, também espécies

exóticas, na sua maioria, são difíceis de serem exterminadas pelo comportamento reprodutivo:

muitas espécies são poligínicas, ou seja, têm várias rainhas. Assim, quando é utilizado um

inseticida que atinge somente as operárias, a colônia, para se manter, se fragmenta, indo cada

um ou mais de uma rainha para outro local e assim fundando uma nova colônia: essa é a

Page 34: Apostila Arthropoda

RESISTÊNCIA A INSETICIDAS, que nada mais é do que o resultado de uma forma

inadequada de controle!

As sociedades

Não foi no homem que apareceu primeiro o cuidado com a prole, a adoção, a divisão de

trabalho como num exército e a sociedade matriarcal: todos esses comportamentos evoluíram e

atingiram a perfeição nos ARTRÓPODES!!!!

Socialidade significa tendência ou padrão de quem vive em sociedade, em grupos. No

reino animal há diversos exemplos de espécies que exibem diferentes padrões de vida social, de

invertebrados a vertebrados. O estudo desse comportamento é um tema que fascina

antropólogos, biólogos, matemáticos, psicólogos e sociólogos.

“Viver em sociedade” exige custos, porém apresenta benefícios que explicam o sucesso

evolutivo de diversos animais, entre eles o homem. Em invertebrados a socialidade, nos mais

variados graus, já foi observada em diversos grupos, mas é nos artrópodes que esta característica

atingiu o mais alto grau de complexidade: a eussocialidade.

Encontramos animais com algum grau de socialidade em aranhas, escorpiões,

pseudoescorpiões, camarões, insetos e miriápodes de diversas ordens com diferentes padrões de

socialidade. O apogeu da eussocialidade aparece nos insetos: cupins, abelhas, formigas e vespas

são os animais eussociais. Nestes grupos é possível observar uma complexa relação entre

parentes dos mais variados graus, pautada pela tolerância. Em nome da manutenção da espécie

algumas fêmeas abrem mão de reproduzirem-se, e cuidam da prole das suas irmãs, sobrinhas e

tias. Nessa sociedade matriarcal (com exceção dos cupins) as tarefas são bem definidas e, mais

importante, exemplarmente executadas!! Não há preguiça, mau humor ou desentendimentos: o

trabalho é bem realizado, a todos os imaturos os mesmos cuidados são dispensados, e um

objetivo maior une os companheiros de ninho: o bem estar da colônia e, por conseguinte, de

toso os seus componentes, que resultam no sucesso reprodutivo da espécie!

Tamanho é o grau de perfeição duma sociedade de insetos que o homem aplica esses

conceitos em diversas situações cotidianas. Entre alguns exemplos podemos citar uma das tribos

mais famosas, citadas no poema épico Ilíada de Homero: os mirmídones, uma tribo de homens

diligentes e trabalhadores, ávidos de ganhar e perseverantes na defesa do que têm!! O nome é

inspirado nas formigas, pois myrmex=formiga em grego.

Vai para o livro dos recordes!

Proporcionalmente ao tamanho do corpo, o salto de uma pulga seria equivalente a um

ser humano de 1,80m executar um salto em altura, sem corrida, de 180m...

O mais rápido movimento do reino animal é executado por uma formiga: espécies do

gênero Odontomachus, também conhecidas como formigas de estalo são capazes de abrir e

fechar as longas mandíbulas numa velocidade de 0,13 milésimos de segundo, 2.300 vezes mais

rápido que um piscar de olhos!! Com esse “estalo” essas formigas chegam a saltar distâncias de

cerca de 40cm. Num ser humano isso equivale a um homem de 1,68m saltar 13,5m de altura e

40m de distância...

Page 35: Apostila Arthropoda

Bibliografia consultada

Princípios de Zoologia