andre lemos - a comunicação das coisas

23
A Comunicação das Coisas. Internet das Coisas e Teoria Ator-Rede. Etiquetas de Radiofrequência em Uniformes Escolares na Bahia. André Lemos 1 The Internet of Things; imagine a world where everything can be both analogue and digitally approached - reformulates our relationship with objects - things - as well as the objects themselves. Any object that carries an RFID tag relates not only to you, but also through being read by a RFID reader nearby, to other objects, relations or values in a database. In this world, you are no longer alone, anywhere. De Wall, et alli. (2012) Introdução Este artigo tem como objetivo investigar o campo de desenvolvimento da "Internet das Coisas” (Internet of Things - IOT). A Internet das coisas é, de acordo com CERP 2009 (Cluster of European Research Projects on the Internet of Things), uma infraestrutura de rede global dinâmica, baseada em protocolos de comunicação onde “coisas” físicas e virtuais têm identidades, atributos físicos e personalidades virtuais, utilizando interfaces inteligentes e integrados às redes telemáticas. As coisas/objetos tornam-se capazes de interagir e de comunicar entre si e com o meio ambiente através do intercâmbio de dados. As coisas reagem de forma autônoma aos eventos do "mundo real / físico" e podem influenciá-los por processos sem intervenção humana direta. O novo campo da IoT reúne questões técnicas e sociais. Durante o ano de 2008, o número de coisas ligadas à Internet excedeu o número de pessoas no planeta. Estima-se que haja mais de seis objetos por pessoa conectados no mundo hoje. Por ser um arranjo econômico, social, político, comunicacional, a IoT é um campo privilegiado para a aplicação da Teoria Ator-Rede (TAR). A TAR busca identificar as mediações que se estabelecem na associação entre atores humanos e não-humanos. Para a TAR, o social é o que resulta destas associações. O objetivo aqui é compreender as consequências morais, éticas e políticas dessa "comunicação das coisas" em curso com os projetos de IoT, a partir da análise de uma experiência com RFID (identificação por radiofrequência) em escolas na Bahia. Na primeira parte desse artigo vamos discutir a essência dos objetos e suas qualidades quando os mesmos passam a ter nova funcionalidade: a infocomunicacional. Na segunda parte, apresentamos os principais conceitos, 1 Apresentado no SimSocial, 2012. Salvador, Bahia, outubro. Professor Associado da Faculdade de Comunicação da UFBA. Pesquisador 1 do CNPq. http://andrelemos.info

Upload: atila00

Post on 19-Oct-2015

834 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

  • A Comunicao das Coisas. Internet das Coisas e Teoria Ator-Rede.

    Etiquetas de Radiofrequncia em Uniformes Escolares na Bahia.

    Andr Lemos1

    The Internet of Things; imagine a world where everything can be both analogue and digitally approached - reformulates our relationship with objects - things - as well as the objects themselves. Any object that carries an RFID tag relates not only to you, but also through being read by a RFID reader nearby, to other objects, relations or values in a database. In this world, you are no longer alone, anywhere.

    De Wall, et alli. (2012)

    Introduo

    Este artigo tem como objetivo investigar o campo de desenvolvimento da "Internet das

    Coisas (Internet of Things - IOT). A Internet das coisas , de acordo com CERP 2009 (Cluster of

    European Research Projects on the Internet of Things), uma infraestrutura de rede global dinmica,

    baseada em protocolos de comunicao onde coisas fsicas e virtuais tm identidades, atributos

    fsicos e personalidades virtuais, utilizando interfaces inteligentes e integrados s redes telemticas.

    As coisas/objetos tornam-se capazes de interagir e de comunicar entre si e com o meio ambiente

    atravs do intercmbio de dados. As coisas reagem de forma autnoma aos eventos do "mundo

    real / fsico" e podem influenci-los por processos sem interveno humana direta. O novo campo

    da IoT rene questes tcnicas e sociais. Durante o ano de 2008, o nmero de coisas ligadas

    Internet excedeu o nmero de pessoas no planeta. Estima-se que haja mais de seis objetos por

    pessoa conectados no mundo hoje.

    Por ser um arranjo econmico, social, poltico, comunicacional, a IoT um campo privilegiado para

    a aplicao da Teoria Ator-Rede (TAR). A TAR busca identificar as mediaes que se estabelecem

    na associao entre atores humanos e no-humanos. Para a TAR, o social o que resulta destas

    associaes. O objetivo aqui compreender as consequncias morais, ticas e polticas dessa

    "comunicao das coisas" em curso com os projetos de IoT, a partir da anlise de uma experincia

    com RFID (identificao por radiofrequncia) em escolas na Bahia. Na primeira parte desse artigo

    vamos discutir a essncia dos objetos e suas qualidades quando os mesmos passam a ter nova

    funcionalidade: a infocomunicacional. Na segunda parte, apresentamos os principais conceitos,

    1 Apresentado no SimSocial, 2012. Salvador, Bahia, outubro. Professor Associado da Faculdade de Comunicao da UFBA. Pesquisador 1 do CNPq. http://andrelemos.info

    Andre LemosArtigo no Prelo (a ser publicado em livro do Museu do Vale -ES, 2013)

    Andre Lemos

    Andre Lemos

  • tipos e caractersticas da IoT. Na terceira parte mostramos como a TAR pode ser uma tima escolha

    terica para analisar projetos de IoT. Por ltimo, faremos uma anlise do projeto de implementao

    de etiquetas de radiofrequncia no escudo dos uniformes dos alunos em uma escola municipal em

    Vitria da Conquista, Bahia, mostrando como uma nova qualidade dos objetos traz baila questes

    tcnicas, mas tambm sociais, pedaggicas, policiais, alterando regimes de sociabilidade. Um

    objeto sensual com novas qualidades sensuais nos convoca a repensarmos suas qualidades reais.

    1. Coisas e Objetos

    Os segredos dos objetos2 nunca so revelados. S podemos ver trajetrias e compreend-las nas

    associaes. Objetos so sempre mltiplos, portadores de funcionalidades, de affordances, de

    agncias, mas tambm de memrias, comportamentos, sentimentos... A sua existncia s em parte

    percebida pela nossa experincia, pelos nossos sentimentos, pelo pathos. Objetos esto sempre

    associados a outros objetos e outros componentes que formam a sua estabilidade enquanto caixa-

    preta. Uma xcara, um computador, ou uma caneta Bic so objetos compostos de muitos outros

    objetos remetendo a funes e experincias diversas. Eles se estabilizam em uma unidade

    (ponctualization). Mas basta um problema acontecer para que as suas redes tornem-se visveis e os

    pedaos revelem outros objetos vinculados a outros objetos. Olhem para os objetos ao seu redor e

    tentem visualizar, abrindo as suas redes associativas, onde eles comeam ou terminam. Podemos at

    identificar fronteiras, mas elas so permeveis por questes polticas, sociais, ambientais, culturais,

    tcnicas, entrelaando-se e impedindo que possamos apreend-los em sua totalidade. O objeto real

    inescrutvel!

    No livro The Quadruple Object (HARMAN, 2011), o filsofo americano Graham Harman sustenta

    que os objetos (para ele tudo o que existe: coisas, pessoas, nutrons, seres imaginrios) s podem

    ser compreendidos por uma dimenso qudrupla que produz tenses fundamentais: o objeto

    sensual, a qualidade sensual, o objeto real e a qualidade real. nesse quadrante (influenciado pela

    estrutura de Heidegger, das Geviert) que podemos compreender os objetos e fundar uma Ontologia

    Orientada a Objetos (OOO). Para Harman, o objeto sensual aquele que percebido pela nossa

    conscincia, o objeto real o que se retira de qualquer percepo e que jamais podemos conhecer,

    2

    2 Como prope Harman, no vou diferenciar, como faz Heidegger, coisa de objeto. O objeto uma coisa natural, uma pedra no caminho, ou um peso de papel confeccionado pelo homem com essa mesma pedra. O objeto assim, ao mesmo tempo, objeto natural e objeto tcnico. Heidegger valoriza o primeiro em detrimento do segundo que teria uma conotao negativa. Aqui vou tratar objeto sinnimo de coisa e vice-versa.

  • a qualidade sensual aquela que percebemos pelos sentidos e a qualidade real s nos

    acessvel atravs do intelecto. Apreendemos os objetos pelas suas qualidades sensuais quando os

    experienciamos, e pelas suas qualidades reais pelo intelecto. Nunca chegamos a desvelar o segredo

    do objeto real.

    Harman constri sua filosofia orientada a objeto a partir desse quadrante. As tenses entre os tipos

    de objetos e os tipos de qualidades geram as principais questes da filosofia. A primeira tenso o

    tempo, aquela entre o objeto sensual ou intencional e suas qualidades sensuais. a tenso

    que percebemos ao observar que, pelas associaes do objeto com outros, algo vai mudando (a

    oxidao do ferro, a deteriorao da casca de banana jogada no cho...). O objeto percebido pela

    conscincia na experincia muda em relao sua qualidade sensual. A segunda tenso o espao,

    a tenso entre um objeto real e suas qualidades sensuais atravs das quais ele acessvel

    differently (HARMAN, 2009, p.128). o que se aproxima e se distancia do que percebemos e do

    que falta no objeto, daquilo que no exaurido pela nossa experincia j que esse objeto real

    sempre velado. A terceira tenso o que Harman chama de essncia, a relao entre o objeto

    real e a qualidade real, ou seja, a tenso entre o objeto que se retira da experincia e a

    qualidade que apreendida do objeto pelo intelecto. A quarta tenso o eidos (aquilo que se v, a

    aparncia, ideia, tipo, forma, a natureza do objeto), o que emerge da relao entre o objeto

    sensual e suas qualidades reais, do que apreendido pela experincia e sua qualidade

    intelectualmente inferida.

    3

  • Estrutura Qudrupla dos Objetos (HARMAN, 2011, p. 50)

    Isso vale para todos os objetos. Olhe para uma xcara. Vemos aqui todas as tenses o seu

    envelhecimento (tempo), como a relao entre sua objetividade e sua qualidade sensual; o que ela

    (essncia) na tenso entre o que ela aparenta para a nossa experincia e o que dela se retrai (o objeto

    sensual e real); o espao como distenso entre aquele objeto em sua realidade inescrutvel e sua

    qualidade sensvel (o que se afasta do que percebemos); e, por fim, sua aparncia (eidos), a relao

    entre a sua qualidade real, conter lquidos, e sua percepo sensvel (objeto sensvel).

    A questo importante que a IoT traz essa. Ou pelo menos essa que quero destacar. Como pensar

    ento os dois tipos de objetos (sensuais e reais) bem como suas qualidades (sensuais e reais) a partir

    do momento em que esses passam a ganhar uma capacidade indita: potncia infocomunicacional

    em rede, comunicao e a agncia distncia; uma comunicao das coisas em regime de redes

    telemticas planetrias gerando aes, por delegao, a humanos e no-humanos? Como

    compreender que essa xcara que agora est na minha mesa muda (enquanto objeto sensvel e suas

    qualidades) ao ganhar poderes (vitalismo, animismo?) infocomunicativos? Imagine que agora, ao

    ser esvaziada do seu lquido, ela pode solicitar a uma cafeteira em outro lugar a produo de mais

    caf. Esta mquina de caf pode me avisar por Twitter ou SMS assim que o novo caf estiver pronto

    ou pedir ao mercadinho ao lado para trazer mais gros de caf para a triturao. Aqui a xcara uma

    xcara, mas tambm mais que uma xcara!

    Mais questes emergem: como identificar, em meio a uma crescente hiperconectividade de coisas

    internet, se um objeto est enviando ou no informaes (mediando outros humanos e no-

    humanos) e tomando decises (delegao dos humanos e no-humanos) se essas caractersticas so

    invisveis e ainda fora da histria do hbito desses objetos? Como poderia, ao ver a xcara sobre a

    mesa, saber que por trs desse objeto e qualidades sensuais (objeto com certa cor, forma, peso,

    funo) e real (a xcara um objeto para conter lquidos) , outra funo aparece? O objeto e suas

    qualidades reais mudam essa coisa fala e comanda outras; ela contm lquidos e comunica com

    outros objetos de forma informacional. Essa visibilidade (ou invisibilidade) infocomunicacional e

    essa potncia da ao distncia (delegao e mediao importantes como veremos com o exemplo

    das etiquetas RFID) s aparecem ou pela histria do objeto (o uso e seu hbito) ou pelos rastros

    eletrnicos que eles deixam. A est uma dimenso tica/moral da mudana do eidos (objeto

    sensual em tenso com a qualidade real).

    4

  • Jamais saberemos o que essa xcara real (o objeto real), mas o objeto sensual e suas qualidades

    sensuais mudam com a IoT. Esse recipiente para lquidos passa a ser uma xcara que se comunica

    por redes telemticas e fazem outros objetos fazerem outras coisas. Muda a sua qualidade real (a

    xcara agora tambm uma mdia) enquanto o objeto sensual permanece o mesmo. O eidos muda, o

    que poderia reforar a ideia de que s podemos compreender a trajetria dos objetos (xcara) e no

    sua essncia (Harman no concordaria com essa afirmao). Como o objeto sensual e real da xcara

    se redefinem com essa nova qualidade infocomuncacional, poderamos dizer que a essncia mudou?

    Na IoT, a xcara continua a sua trajetria, ampliando de forma infocomunicacional a sua ao sobre

    outros agentes humanos e no- humanos.

    Todo objeto comunica de alguma forma, troca e se associa. Por exemplo, a passagem do tempo

    essa forma comunicava de troca com outros objetos do ambiente e, por isso, ela vai envelhecendo (a

    relao entre o objeto sensual e sua qualidade sensual). Mas, com a IoT, trata-se agora de outra

    forma de comunicao das coisas: uma comunicao informacional em rede por protocolos de

    conexo seguindo a algoritmos e performances criando delegaes, mediaes, intermediaes e

    estabilizaes nas associaes.

    Essa me parece ser uma das questes centrais da discusso sobre a internet das coisas: como

    compreender as novas qualidades dos objetos, seu novo eidos, j que essa mudana acarreta

    consequncias importantes nas relaes sociais (tcnicas, conversacionais, culturais, pedaggicas,

    ambientais): melhoria da eficincia de gesto de coisas (questes de logstica e automatismo

    industrial), de pessoas (questes de mobilidade, aes e perfis), de comportamentos (vigilncia,

    controle, privacidade) e do ambiente (monitoramento das condies climticas). Em todos os casos

    de IoT (reais e em implementao) o que vemos so objetos sensuais (um parafuso, uma placa de

    carro, uma camiseta, um sapato...) dotados de novas qualidades (no imediatamente perceptveis na

    experincia, mas performticos) com impactos importantes nas formas de associao entre humanos

    e no-humanos. J que no podemos revelar os segredos dos objetos (sua dimenso real), nos

    caberia ento problematizar suas qualidades reais, seu eidos e pensar nas associaes propostas em

    suas dimenses polticas, morais, ticas. Esse , a meu ver, o terreno de discusso da IoT.

    5

  • 2. Internet das Coisas.

    A expresso Internet das Coisas 3 parece ter surgido em 1999 quando, em uma palestra, Kevin Ashton explicava o potencial de uso das etiquetas de radiofrequncia, RFID, em 1999. Dez anos

    depois ele afirmava (ASHTON, 2009):

    But what I meant, and still mean, is this: Today computersand, therefore, the Internetare almost wholly dependent on human beings for information. Nearly all of the roughly 50 petabytes (a petabyte is 1,024 terabytes) of data available on the Internet were first captured and created by human beingsby typing, pressing a record button, taking a digital picture or scanning a bar code. Conventional diagrams of the Internet include servers and routers and so on, but they leave out the most numerous and important routers of all: people. The problem is, people have limited time, attention and accuracyall of which means they are not very good at capturing data about things in the real world.

    Essa reao muito interessante pelo privilgio dado ao ator humano no processo, mesmo que o

    autor entre em contradio e traia o seu pensamento ao reconhecer a relao hbrida entre humanos

    e no-humanos: typing, pressing a record button, taking a digital picture or scanning a bar code...

    include servers and routers and so on. Ora, uma ao puramente humana nesse, e em quase todos

    os domnios , mais um desejo em busca de uma essncia humana pura e natural do que uma

    realidade antropolgica e emprica. O domnio da IoT o da mediao e da agncia, da delegao

    6

    3 interessante notar como a frase utiliza, em outras lnguas, tanto os termos objetos como coisas. Os franceses chamam de Internet des Objets (http://fr.wikipedia.org/wiki/Internet_des_objets), os espanhis de Internet de las Cosas (http://es.wikipedia.org/wiki/Internet_de_las_cosas) e os italianos usam as duas expresses: Internet delle cose ou Internet degli oggetti (http://it.wikipedia.org/wiki/Internet_delle_cose)

  • de no-humanos a outro no-humanos mediando a ao humana. O que Ashton quer fazer

    politizar a IoT colocando o humano em evidncia. interessante, mas essa purificao (do hbrido)

    aqui o seu pecado.

    Swisscom veut les millions de linternet des machines (M2M)4

    Vejamos definies mais tcnicas. Para o CERP (2009):

    Internet of Things (IoT) is an integrated part of Future Internet and could be defined as a dynamic global network infrastructure with self configuring capabilities based on standard and interoperable communication protocols where physical and virtual things have identities, physical attributes, and virtual personalities and use intelligent interfaces, and are seamlessly integrated into the information network. In the IoT, things are expected to become active participants in business, information and social processes where they are enabled to interact and communicate among themselves and with the environment by exchanging data and information sensed about the environment, while reacting autonomously to the real/physical world events and influencing it by running processes that trigger actions and create services with or without direct human intervention. Interfaces in the form of services facilitate interactions with these smart things over the Internet, query and change their state and any information associated with them, taking into account security and privacy issues. (CERP IoT, 2009, p. 6)

    The Internet of Things allows people and things to be connected Anytime, Anyplace, with Anything and Anyone, ideally using Any path/network and Any service. This implies addressing elements such as Convergence, Content, Collections (Repositories), Computing, Communication, and Connectivity in the context where there is seamless interconnection between people and things and/or between things and things so the A and C elements are present and addressed. (CERP IoT, 2009, p. 8)

    7

    4 http://www.xavierstuder.com/2012/02/05/swisscom-veut-les-millions-de-linternet-des-machines/

  • Aqui vemos claramente como o termo faz referncia a objetos reais e virtuais (o que,

    filosoficamente falando, podemos chamar de objetos fsicos e eletrnicos com qualidades sensuais e

    reais) que mediam (por delegao) outros objetos produzindo aes em diversos campos sociais.

    Eles tm uma funcionamento inteligente (smart) na medida em que mudam a sua prpria ao e a

    de outros nessa relao, independente de uma ao humana direta. Assim, a IoT permite que

    humanos e no-humanos esteja em permanente conexo de tudo e todos: os A e os C (Anytime,

    Anyplace, with Anything and Anyone, ideally using Any path/network and Any service;

    Convergence, Content, Collections (Repositories), Computing, Communication, and Connectivity.)

    CERP IoT, 2009, p. 8

    Yang et alli (2010) apontam que para a Comisso Europeia que discute o assunto, a IoT aquela na

    qual "things having identities and virtual personalities operating in smart spaces using intelligent

    interfaces to connect and communicate within social, environmental, and user contexts" (p. 360). A

    IoT uma adaptao do IP a qualquer objeto fazendo com que o mesmo possa ser acessvel e

    execute ou comande aes de qualquer local. Isso mostra como a qualidade (sensual e real) do

    objeto passa a adquirir novos contornos comunicacionais. Essa potncia infocomunicativa amplia a

    8

  • sua ao sobre o mundo e deste sobre ele, de qualquer lugar. Isso produz uma modificao no seu

    prprio comportamento a partir dessa relao5. O objeto ganha, por assim dizer, vida.

    Atzori et alli (2010) afirmam esse carter comunicacional e vivo das coisas. O carter pervasivo de

    ao dos objetos sobre eles mesmos e sobre os humanos na vida quotidiana que oferece essa

    sensao de objetos vivos, ativos, mediando as aes sociais em busca de objetivos e metas

    precisos. Talvez por isso a tentativa de resgate do humano por parte de Ashton, como vimos. Para

    Atzori et alli (2010, p. 1):

    The Internet of Things (IoT) is a novel paradigm that is rapidly gaining ground in the scenario of modern wireless telecommunications. The basic idea of this concept is the pervasive presence around us of a variety of things or objects such as Radio-Frequency IDentification (RFID) tags, sensors, actuators, mobile phones, etc. which, through unique addressing schemes, are able to interact with each other and cooperate with their neighbors to reach common goals.

    Abaixo uma tipologia de aplicaes proposta pelos autores. Vemos que os campos de desenvolvimento da IoT so bastante amplos, cobrindo diversas reas.

    (ATZORI, 2010, p.8)

    J Kranenburg et alli (2011) consideram a IoT como um conjunto de objetos identificveis por

    meios eletromagnticos que a partir da executam comportamentos e semnticas especficas.

    9

    5 Para exemplos emergentes interessante observar os projeto em andamento no site http://postscapes.com/internet-of-things-and-kickstarter

  • Interessante ver como esses objetos no so apenas identificados pelos suas caractersticas sensuais

    tradicionais (uma xcara sempre uma xcara), mas o que vai caracterizar a IoT realmente a

    criao de nova qualidade magntico-informacional do objeto (a xcara-mdia), alterando seu

    comportamento e semntica. A questo, mais uma vez, da insero da ao humana nesse

    conjunto, como se agora estivssemos em um domnio de delegao total e de mediao exclusiva

    dos no-humanos. A inteno de politizar o debate e retir-lo da esfera meramente mercadolgica

    importante e louvvel. No entanto, como vamos ver adiante, o prprio do social produzir hbridos.

    Devemos compreend-los para revelar as associaes que so produzidas entre objetos, processos

    comunicativos e humanos. Por isso a TAR interessante para pensar a IoT. Voltarei a isso na

    terceira parte deste artigo. Para os autores (2011, p.5):

    Besides smart objects, there is an emerging question if human users included in the definition, as hypothesized by the European Research Cluster on the IoT (IERC). A pan-European consumer group wishes that the IoT be called the Internet of People, so as to emphasize the human element (BEUC/ANEC, 2008) or the Internet of Everyone in a recent report published in 2011 funded by Accenture. IETF however states that the IoT as a concept refers to the usage of standard Internet protocols to allow for human-to-thing or thing-to-thing communication (Garcia-Morchon, 2011), hence, including the human element in the very definition.

    Em outro artigo, Kranenburg (2012) mostra seis fatores importantes para o desenvolvimento da IoT.

    Esses fatores so responsveis pela sua expanso6. O primeiro fator o surgimento dos cdigos de

    barra ubquos em 1974, mostrando um padro de uso. O segundo fator foi o surgimento de etiquetas

    RFID, que hoje se confundem com a prpria internet das coisas. O terceiro fator o barateamento

    do armazenamento de dados. O quarto o protocolo IPV6 que amplia as possibilidade de atribuio

    de endereos na internet fazendo com que qualquer coisa possa ter um endereo nico, um cdigo

    de identificao nico na rede. Assim, afirma Kranenburg, we can expect internet addresses in

    anything that has software in it: your toothbrush, coffee machine, fridge, washing machine.

    Technologically thus IoT is an ecology of barcodes, QR codes, RFID, NFC, active sensors, wifi and

    Ipv6. O quinto fator a concretizao da computao verdadeiramente ubqua, como sonhada por

    Weiser em 1991. IoT, menos tangvel que os hardwares, trazem vida aos objetos. Essa vida

    justamente a nova qualidade sensvel dos objetos. O sexto fator so os atores humanos que

    embarcam dispositivos informacionais de forma explcita e que cada vez mais embarcaro objetos

    comuns dotados dessas qualidades. Hoje humanos acoplados a no-humanos comunicacionais so

    os novos hbridos: celulares, iPads, redes sociais... Para Kranenburg (2012):

    10

    6 Um dos entraves ainda a falta de padres que permitam a livre comunicao entre dispositivos e protocolos. Para saber sobre esse tema ver Fitchard (2012)

  • We can not deny that as a species the drive is towards more connectivity, more awareness of where people and objects are and an ever-growing synergy between all the different applications and services, none of which can survive on its own any more. [] the challenge we are facing today is not how can we stop or guide this process, as it is going so fast. No, the challenge is how can we make sure that this process that is inevitable is inclusive and open.

    Uckelmann et alli (2011) ressaltam a relao com a ubiquidade e a pervasividade da atual fase da

    computao, mas diferenciam a IoT desse domnio (o que eles chamam de Internet of People). Mais

    uma vez a expresso refora diferenas e polarizaes que devem ser superadas para o

    entendimento do social enquanto associao entre humanos e no-humanos. Pensar na internet das

    coisas e dos humanos no ajuda a compreender os novos objetos, nem esse novo campo de

    desenvolvimento industrial. Na realidade, no h uma internet de pessoas assim como no h uma

    internet das coisas. S h uma internet hbrida, formada por mediaes, delegaes, estabilizaes

    as mais diversas entre humanos e no-humanos. O social isso. O que chamamos de IoT nada mais

    do que uma forma de comunicao eletrnica entre objetos, dotando-os de capacidade

    performativa infocomunicacional. No a novidade da ao que deve ser destacada aqui, mas a sua

    qualidade. No o aparecimento de objetos mediando humanos, mas antigos objetos como novas

    qualidades, produzindo novas associaes e revelando novas qualidades reais desses novos/velhos

    objetos e associaes. Essa a questo. Como afirmam Uckelmann et all (2011, p. 8):

    The future Internet of Things links uniquely identifiable things to their virtual representations in the Internet containing or linking to additional information on their identity, status, location or any other business, social or privately relevant information at a financial or non-financial pay-off that exceeds the efforts of information provisioning and offers information access to non-predefined participants. The provided accurate and appropriate information may be accessed in the right quantity and condition, at the right time and place at the right price. The Internet of Things is not synonymous with ubiquitous / pervasive computing, the Internet Protocol (IP), communication technology, embedded devices, its applications, the Internet of People or the Intranet / Extranet of Things, yet it combines aspects and technologies of all of these approaches.

    Giglio e Koo (2011) apresentam tambm categorizaes interessantes que nos permitem pensar as

    qualidades desses novos/velhos objetos: os servios de identificao (Identity Related Services),

    acoplar um identificador eletromagntico (como uma etiqueta RFID) a um objeto e um leitor; os

    servios de informao agregada (Information Aggregation Services) que so processos de captao

    de dados de vrios sensores, processando e transmitindo essa informao pela rede para um

    aplicativo; os servios atentos colaborao (Collaborative-Aware Services), usando dados

    agregados para tomada de deciso e a partir dessa deciso efetuar uma ao; e servios ubquos

    11

  • (Ubiquitous Services), sendo o eptome da IoT, atentos s coisas e pessoas a qualquer lugar e

    momento.

    Essa caracterstica ambiental da IoT, onde h ao de objetos independente da ao humana,

    mediando e executando tarefas, o que Greenfield chama de Everyware (2006) e Sterling de Spime

    (2005). Objetos e sistemas que mediam de forma independente a ao humana, comunicando e

    retroagindo sobre eles mesmos em aes em um espao tempo ampliao (espao global das redes e

    tempo real imediato de trocas). Como afirma Greenfield (2006, p. 16):

    It involves diverse ecology of devices and platforms, most of which have nothing to do with "computers" as we've understood them. It's a distributed phenomenon: The power and meaning we ascribe to it are more a property of the network than of any single node, and that network is effectively invisible. It permeates places and pursuits that we've never before thought of in technical terms. And it is something that happens out there in the world, amid the bustle, the traffic, the lattes, the gossip: a social activity shaped by, and in its turn shaping, our relationship with the people around us.

    O mesmo pensado por Bliss (2012), como um ambiente:

    The Internet of Things is comprised of networked objects with sensors and actuators. These objects observe their environment and share the data they collect with each other, Internet servers and people. This data is analyzed and the results are used to make decisions and affect change. Change may come from a connected object making adjustments in the environment, or it may come after the collected information is analyzed further by a person.

    3. Teoria Ator-Rede.

    Social is not a place, a thing, a domain, or a kind of stuff but a provisional movement of new associations.

    Latour, 2005, p.238

    Uma teoria que pressupe uma ontologia plana, ou seja, considerar para anlise do social as aes

    como hierarquicamente equivalente entre humanos e no-humanos e que torna aparente as diversas

    associaes entre esses atores revelando suas redes, parece ser muito oportuna para pensar a fase

    atual da IoT. Precisamos de uma teoria do social que pense o hbrido, as mediaes, as tradues, as

    purificaes e as estabilizaes para compreender, fora de estruturas ou frames explicativos a

    priori, a atual cultura digital. Penso que uma teoria social das associaes entre humanos e no-

    humanos, associada a uma filosofia orientada a objeto requerida para pensar a IoT em todas as

    suas facetas (hibridismo, automatismo, eficincia comunicativa, vigilncia e controle). Essa teoria

    12

  • a teoria ator-rede (TAR). Infelizmente no tenho tempo aqui para uma anlise exaustiva da TAR e

    vou me ater a alguns pressupostos e conceitos que serviro para o nosso debate. Aps essa

    explicao, analiso o uso de etiquetas de radiofrequncia em uniformes de alunos em uma escola da

    Bahia a partir da TAR.

    A TAR nasceu nos Estudos de Cincia e Tecnologia (Science and Tecnology Studies, STS) nos anos

    1990 por Latour, Callon, Law, Bijker. O objetivo era mostrar os limites da sociologia da cincia

    (escola de Edimburgo) e da sociologia do social, de herana estruturalista e durkheimiana. Os

    pressupostos da TAR esto relacionados aos trabalhos de Serres, Tarde, Stengers, Greimas e

    Garfinkel. Para os estudos de cibercultura, a TAR pode ajudar a revelar associaes em fenmenos

    to dispares quanto a sociabilidade online, anlise dos rastros digitais deixados em diversas aes

    na internet, as mdias locativas, o corpo e a subjetividade, as interfaces e interaes nos dispositivos

    mveis, a arte, o ciberativismo, o governo eletrnico, os games, a incluso digital e a IoT. Por ser

    um campo privilegiado de anlise da relao de mediadores humanos e no-humanos, e por suas

    aes deixarem rastros (digitais, materiais) cada vez mais visveis, a cibercultura uma rea de

    interesse para a TAR.

    A TAR chamada de sociologia das associaes ou sociologia da traduo, colocando o acento

    sobre a construo social das inovaes tcnicas. Hoje ela aplicada nos mais diversos campos do

    saber (LAW, HASSARD, 1999; AKRICH, CALLON, LATOUR, 1988, 2006). A TAR identifica

    redes, mediadores e intermedirios que atuam em uma determinada associao. O objetivo

    descrever os atores envolvidos nas associaes e revelar suas caractersticas. O social assim o que

    resulta das associaes e no uma coisa que explicaria as associaes. A diferena parece sutil, mas

    importante. Esses mediadores, ou actantes (termo da semitica greimasiana), tudo aquilo que

    produz ao sobre outros, podendo ser tanto humanos como no-humanos. Eles compem as redes

    e so eles mesmos redes, mnadas, partes e todo ao mesmo tempo. Cada actante sempre fruto de

    outras associaes e cada associao age tambm como um actante. Ele pode ser um mediador ou

    cessar essa atividade transformando-se em um intermedirio. No h essncia nos objetos: s

    associaes.

    Mediao ou traduo o que faz um actante agir transformando a si mesmo e o outro. H sempre

    abstrao nesse processo (de um no outro) e proposies (as ocasies desses encontros)

    (HARMAN, 2009). A mediao/traduo (CALLON, 1986) a capacidade de um actante manter

    13

  • outro envolvido, modificando-se e reinterpretando seus interesses. Ela comunicao, produo de

    sentido, percepo, interpretao e apropriao. A noo de delegao implica estender a ao a

    outro actante, comprometendo-se e confiando no seu funcionamento, como por exemplo um cinto

    de segurana, um quebra-molas, um termostato ou um sistema automtico de SMS da minha xcara!

    A ao social se realiza na mediao e na delegao entre actantes. O engajamento dos actantes gera

    redes que buscam estabilidade. A estabilidade a caixa-preta, entidades (dispositivos, conceitos,

    leis etc.) criadas quando os elementos de um processo agem como se fossem um s e so taken for

    granted. Todo actante uma caixa-preta e toda caixa-preta pode e deve ser aberta para revelar

    conexes, articulaes, redes.

    A rede assim o que se forma nas mediaes. Ela mobilidade das associaes e se faz e se desfaz

    a todo momento. Ela no , portanto, a grade, a malha ou o tecido por onde passam coisas, mas

    justamente o que se forma da relao entre esses objetos. Sendo assim, a rede no infraestrutura e

    est sempre se fazendo e se desfazendo, sendo mvel, rizomtica, sempre aberta. Se pensarmos na

    internet ela tem as duas dimenses de rede. Uma a de rede como infraestrutura (um espao),

    criando sempre utopias e possibilidades emancipadoras (o ecumenismo presente nos correios,

    telgrafo, estrada de ferro, autoestrada, telefonia, eletricidade, rdio, TV... e hoje na internet). Essa

    rede, enquanto infraestrutura, o lugar da utopia, se ouso brincar com os termos. A outra dimenso

    a rede enquanto associao de humanos e no-humanos e que se realiza efetivamente, que deixa

    rastros: o que se atualiza. Trata-se aqui do que as pessoas e coisas realizam na internet. Isso permite

    dizer que o Twitter, por exemplo, pode ser revolucionrio em um determinado contexto, e no ser

    em outro, pois no h essncia do objeto, mas associaes especficas que se produzem em

    determinados espaos-tempo. Nesse caso, no se trata de utopia, mas de realizao do movimento

    dos actantes. A rede enquanto associao a dimenso valorizada na expresso ator-rede.

    Da a ideia de que a rede o que faz o social. Que social faz a rede (as associaes) entre objetos

    modificados pela IoT e outros no-humanos e humanos? So as diversas associaes que compem

    o social que criam as redes entre seus elementos. Por isso, observar o social cartografar as

    associaes, as redes. Nesse sentido, poderamos afirmar que a TAR a verdadeira sociologia da

    mobilidade, no da mobilidade de coisas (transporte) ou informao (comunicao) mas a

    mobilidade das associaes que compem o social em uma determinada ao. Por isso a TAR visa

    descrever aes que esto em movimento, as controvrsias (como veremos adiante), antes que seus

    atores assumam posies estveis, resolvam suas polmicas e terminem em encaixapretamento.

    14

  • Como vemos, as noes de actantes, redes, mediao ou traduo, intermedirios, caixas-pretas,

    controvrsia e cartografias so fundamentais para inibir uma anlise insiste na purificao dos

    hbridos (separao sujeito - objeto, natureza - cultura, humano - no-humano), uma abordagem

    essencialista dos objetos e dos fatos ou uma viso estruturalista do social que amarra as associaes

    em frames explicativos. No caso da IoT, essa abordagem fundamental para revelar o social que

    est se construindo nessas associaes.

    na descrio atenta dos mediadores (actantes), dos intermedirios (que transportam, mas no

    mudam nada), das redes que se formam e se desfazem e nas estabilizaes (caixas-pretas) que a

    relao entre agncia e estrutura se forma na dinmica social. Estas no so e no devem ser

    categorias explicativas, mas possveis resultados da constituio das redes. A boa descrio s pode

    ser feita por mltiplos pontos de vista. Vimos que cada objeto denso, complexo, um conjunto de

    redes nele mesmo, eventos atravessados por fluxos em permanente associao entre qualidades

    sensveis e reais. A objetividade (do objeto) e a subjetividade (do sujeito) devem ser pensadas como

    erros de perspectiva, como solues artificiosas e temporrias exercidas pela grande diviso

    pretendida pela constituio moderna (Latour, 1994). Pensar sujeito e objeto separados, ou pensar

    sujeitos sem objetos e objetos sem sujeito, ou pensar internet das pessoas ou das coisas s pode ser

    uma forma artificiosa, mgica, de purificar os hbridos e pensar de forma simplista o social. Isso

    no nos ajuda a compreender as diversas facetas da IoT.

    De fato s h aquilo que produzido por mltiplos olhares, diferentes vises, pontos de vista que

    emergem do objeto - sujeito, do sujeito - objeto, ou dos quasi - objetos ou quasi - sujeitos (Michel

    Serres (apud Latour, 2005). Assim, o objetivo no o que est do lado do objeto, assim como o

    subjetivo no o que est do lado do sujeito. No h sujeito sem objeto, nem objeto sem sujeito e

    quanto mais temos um, mais temos o outro. A descrio (do sujeito) emerge do objetivo do objeto e

    assim se deve desenrolar a controvrsia, identificar os rastros e apontar os mediadores e

    intermedirios. Internet das coisas internet das pessoas, por mais que queiramos dirigir essa

    associao e assim pensar na poltica da IoT nesse novo parlamento das coisas. O papel do

    cientista social abrir as caixas-pretas, traar as associaes e reagrupar o social (LATOUR, 2005).

    No caso da IoT, devemos pensar essa nova relao entre objetos que ganham qualidades

    comunicacionais e performatividade sobre outros objetos e pessoas distncia e como eles esto

    configurando o social enquanto associaes hbridas, gerando problemas com dimenses polticas,

    tica, morais e comunicacionais importantes. Com a IoT, um objeto adquire novas funes

    15

  • infocomunicacionais e continua a sua trajetria aberta pelas novas associaes. Cabe ao analista

    cartografar esses rastros e identificar as controvrsias que da emergem.

    3. RFID em Uniformes Escolares na Bahia.

    No semestre 2012.1, ofereci uma disciplina para alunos de graduao em comunicao tendo como

    tema a cartografia de controvrsias. O objetivo era, como lhes dizia, vacin-los contra a grande

    sociologia e as explicaes estruturalistas que vo encontrar na Faculdade. Buscava apresentar a

    TAR e o mtodo de identificao do social em formao que a cartografia de suas controvrsias.

    Dizia aos alunos que o trabalho da TAR em muito se assemelha ao jornalismo investigativo, no qual

    o reprter deve seguir os atores, registrar suas marcas e integrar o texto em seus mltiplos aspectos.

    Achava assim que s faria bem apresentar uma teoria sociolgica alternativa, apresentar e testar

    uma metodologia, situ-la prxima do jornalismo (investigativo) e, por fim, fazer os alunos

    testarem isso em questes quentes, atuais e locais. Os resultados da disciplina7 foram produzidos

    em formas de blogs onde cada grupo aplicou a metodologia da cartografia das controvrsias

    (VENTURINI, 2010, 2012) em questes como: Proibio de pr-campanha no Twitter8, O AI-5 da

    Copa do Mundo9, Exigncia do diploma de jornalista10, Lei de Imprensa na Argentina11, a Lei

    16

    7 http://cartografiadecontroversias.wordpress.com

    8 http://tweetingcontroversies.wordpress.com

    9 http://cartografiadacopa.wordpress.com

    10 http://controversiadodiploma.wordpress.com/

    11 http://leydemedios.wordpress.com

  • Antibaixaria na Bahia12 e Etiquetas RFID em uniformes escolares na Bahia13. Para o que interessa a

    esse artigo, vou fazer uma anlise a partir das discusses e do trabalho dessa ltima controvrsia: o

    uso de etiquetas RFID em uniformes em uma escola.

    O projeto, inovador no Brasil, tem como objetivo controlar a entrada e a sada de alunos do Centro

    Municipal de Educao Prof. Paulo Freire (CAIC), em Vitria da Conquista, Bahia. A prefeitura

    investiu cerca 1,2 milho de reais no projeto. Este deve atender 25 escolas e mais de 20 mil alunos

    da rede municipal da cidade ainda em 2012. O objetivo que, em 2013, todos os 43 mil estudantes

    da rede pblica da cidade, entre 4 e 14 anos, j possuam uniformes com a tecnologia RFID. O

    projeto suscitou diversas controvrsias entre pedagogos, psiclogos, jornalista, intelectuais, pais e

    alunos. Esse caso de aplicao de IoT interessante para mostrar como as controvrsias expressam

    o magma social, isto , o social antes de estabilizaes e caixas-pretas. Para a TAR, importante

    aproveitar esse momento. O objetivo da TAR justamente "descriptar" (descrever mesmo!) e

    revelar as redes que compem o social.

    Toda etiqueta RFID possui um cdigo universal. Ela cadastrada no sistema da instituio com os

    dados do estudante e o nmero do telefone celular de seus pais ou responsveis. Um leitor foi

    instalado na portaria da escola. Quando o aluno vestindo o uniforme passa pela portaria, o leitor

    ativa a etiqueta nesse exato momento, produzindo uma informao (entrada e sada de aluno).

    Como cada etiqueta tem um nmero, esse associado a um aluno especfico. Assim, ao detectar a

    entrada e sada do aluno X, o sistema envia, automaticamente, um SMS para o telefone cadastrado

    dos responsveis desse aluno. Todos os alunos matriculados nesse Centro j receberam,

    gratuitamente, duas peas do uniforme inteligente.

    Podemos dizer que muitos actantes se envolvem nessa controvrsias. Esquematicamente, separamos

    em humanos (a diretora geral do Centro, a secretria de educao de Vitria da Conquista, o

    coordenador do projeto, os alunos do Centro, os pais e mes de alunos, o prefeito de Vitria da

    Conquista) e os no-humanos (a empresa DCosta RFID, a Prefeitura de Vitria da Conquista, as

    etiquetas de radiofrequncia, os uniformes escolares, o escudo, o Centro Municipal de Educao

    Professor Paulo Freire, os leitores de RFID, o sistema informatizado, as redes de telecomunicao,

    a operadora de telefonia, os celulares, a lei de regulao). As suas relaes se estabelecem durante

    17

    12 http://antibaixaria.wordpress.com

    13 http://educacaoradiofrequenciada.wordpress.com

  • um perodo de tempo de forma polmica e controversa. Hoje parece estar estabilizada, embora

    novos actantes possam criar desestabilizaes (o uso mostrar essas novas polmicas).

    Esse sistema (automtico, gratuito e compulsrio) traz ao debate a relao entre dimenses legais,

    polticas, educacionais e tecnolgicas da IoT. No um problema apenas tcnico, ou social, ou

    cultural, ou policial, ou poltico. Ele revela questes que tocam todas essas esferas. Na controvrsia

    aqui suscitada, o uso de etiquetas RFID se d com um artefato tcnico atuando como mediador das

    relaes entre alunos, pais e professores. O escudo na camisa, onde a etiqueta RFID foi implantada,

    aqui um objeto mediador da relao entre os diversos actantes, cuja delegao (ao chip e ao

    sistema) institui formas morais e ticas no script do sistema (Bijker, Law, 1994).

    Interessante perceber no discurso da coordenadora do CAIC que tudo no passa de uma questo de

    controle, reforando esteretipos tanto do determinismo tecnolgico, como da falta de segurana

    pblica. Esses foram os argumentos fortes para a implementao do sistema. Em entrevista aos

    alunos14 a coordenadora pedaggica afirmou:

    uma questo de controle dos alunos. Como a escola muito grande e temos, aqui, somente alunos do ensino fundamental, que demandam uma maior responsabilidade, achamos importante ter esse maior controle atravs da tecnologia. Haviam tambm muitos casos de alunos que saiam da escola e no iam pra casa, e sim para outros lugares, deixando os pais preocupados. Com os uniformes inteligentes, pais e mes ficam mais tranquilos ao saber o horrio que seus filhos saem da escola.

    Agora, ns temos um maior domnio de quantos alunos vm escola todos os dias. E tambm podemos deixar os pais mais cientes da vida escolar dos seus filhos.

    Eles (os pais) gostaram bastante da medida. H, porm, reclamaes a respeito das operadoras de celular. Algumas operadoras, como a Oi, por exemplo, no tm um bom sinal aqui em Vitria da Conquista e as mensagens demoram pra chegar.

    No, eles (os alunos) aceitaram numa boa. Alguns ficaram surpresos com a adoo dos uniformes, mas no chegaram a se manifestar contra.

    O objeto (escudo do uniforme) ganha propriedades infocomunicacionais (e tambm, sempre, morais

    e ticas) servindo como mediador de formas de vigilncia, controle, monitoramento e comunicao

    entre alunos, pais e professores. Aqui, o objeto sensual o mesmo (o escudo/uniforme) e sua

    qualidade sensual s percebida se houver a visualizao dos rastros digitais deixados ou a

    publicizao dessa nova funo. Muda o eidos do objeto. Um estudante desavisado poderia usar o

    uniforme sem detectar essa nova caracterstica do objeto. Essa invisibilidade j um problema

    18

    14 14 http://educacaoradiofrequenciada.wordpress.com

  • moral ou no mnimo tico. A ao deve estar no script do sistema: explicao para todos das novas

    qualidades do objeto revelando questes de segurana e transparncia do uso desses chips

    espies (Albrecht, McIntyre, 2006)15. Para a eficincia do sistema o mesmo totalmente

    automatizado (sem interferncia de actante humanos), compulsrio (no h escolha por parte do

    aluno ou da famlia) e gratuito (no h desculpas para no se usar o uniforme inteligente).

    Podemos pensar sobre a qualidade real desse objetos, em sua nova trajetria: o uniforme agora um

    objeto infocomunicacional, um actante importante na relao entre humanos (pais, alunos,

    professores) e no-humanos (a escola, a operadora, a RFID...). Notem que esconder no escudo a sua

    funo performativa transformar o conjunto escudo - camisa - RFID em uma caixa preta,

    neutralizando e colocando a sua visibilidade no fundo16. Ele s aparece na controvrsia ou se

    houver falhas (sociais, tcnicas, polticas...) no sistema. A visibilidade / invisibilidade uma questo

    poltica e pedaggica.

    As etiquetas RFID alteram a relao dos objetos, ganhando novas qualidades que podem passar

    despercebidas, ou no serem discutidas (o script moral e tico que falava anteriormente). O

    microchip foi instalado sob o escudo da instituio, onde podemos ler a frase do educador Paulo

    Freire: A educao no transforma o mundo. Educao muda as pessoas. Pessoas transformam o

    mundo. O lema no escudo refora a viso humanista do educador e mais uma vez insiste no

    privilgio do humano sobre o no-humano, esquecendo que a sala de aula uma artefato construdo

    para abrigar esse tipo de discurso (o escolar), e que sem essa estrutura fsica, e outros objetos, o

    professor ou a pessoa no existem. Pessoas - objetos transformam o mundo. As pessoas e os

    objetos so a educao.

    O ambiente escolar um hbrido de instrumentos pedaggicos e disciplinares desde sempre (salas,

    laboratrios, equipamentos, regras de conduta, rituais quotidianos e filas, cadernetas escolares e

    boletins de notas...). Um boletim um boletim, uma caderneta uma caderneta, uma sala de aula

    uma sala de aula... Todos esses objetos tm uma qualidade que se esgota (em parte) na sua

    materialidade e na histria de seus hbitos de uso. No caso da IoT, em geral, e das RFIDs nos

    19

    15 Para mais ver o site Spychips: http://www.spychips.com

    16 Veja que a questo bem atual e escolas no EUA esto adotando o mesmo procedimentos em braceletes. Mas aqui a funo bracelete a de ser um instrumento de monitoramento. Aqui o objeto revela a sua funo. O objeto sensual est bem ajustado sua qualidade sensual. Ver a matria do NYT, Student IDs That Track the Students, in http://www.nytimes.com/2012/10/07/us/in-texas-schools-use-ids-to-track-students.html?_r=2&hp, acesso em 10 de outubro de 2012.

  • escudos do uniforme, em particular, o que temos uma nova trajetria do objeto uniforme que faz

    com que sua qualidade (sensual e real) seja ampliada para performances infocomunicacionais (que

    podem ser invisveis e no percebidas) trazendo assim questes ticas, morais, pedaggicas dessa

    delegao e mediao. O mesmo pode acontecer com todo e qualquer objeto.

    Varias perguntas emergem dessa mediao. Podemos perguntar que projeto pedaggico est por trs

    desse sistema. Seria esse o sistema mais eficiente para resgatar o dilogo entre pais, alunos e

    educadores ao transferir (delegar) a um sistema automtico essa relao? Como esse sistema se

    relaciona com aquilo que oferecido pela escola (alimentao, transportes, bons professores,

    ambiente laboratorial, convivialidade...)? A comunicao entre pais e escola no deve ser feita pela

    mediao a partir do dilogo mais recorrente, complexo e menos automatizado? A simples

    delegao ao sistema dessa conversao no seria um esvaziamento da questo social, cultural,

    poltica e pedaggica da escola? No caberia, antes de qualquer disparo automtico de uma

    informao, discutir com o aluno o porque da sua ausncia ou do seu afastamento em um

    determinado momento? A informao sem contextualizao no seria uma simples burocratizao

    das relaes e simplificao das suas causas e consequncias? A relao entre comunicao e

    controle deveria ser contextualizada e no apenas delegada a um sistema de IoT. Essa suposta

    transparncia no estaria escondendo mais do que revelando (insatisfao com os professores, com

    a escola, bullying, falta de estrutura...)?

    No por mero acaso que o escudo, com esse slogan, tenha sido escolhido como o lugar mesmo de

    comunicao do objeto com outros objetos agindo sobre a moral e a tica escolar, comunicando a

    pais e professores de forma automtica as aes e movimentos dos alunos. bastante questionvel

    que um sistema automatize o que deveria ser motivo de conversao e de entendimento entre as

    partes envolvidas. A IoT aqui toma o lugar do dilogo e da negociao mediando a ao entre

    humanos e no-humanos com delegaes precisas da ao. A escola passa assim a informatizar o

    sistema de conversao pelo sistema que: detecta o movimento, checa o sistema, envia o SMS,

    finaliza a sua misso, lavando as mos. Ser essa uma funo da escola?

    Concluso

    Buscamos aqui apontar para uma transformao nas qualidades real e sensual dos objetos. A

    transformao do objeto sensual bem menos visvel. Na atual fase da IoT, objetos do quotidiano,

    20

  • como uma xcara, ganham capacidades infocomunicacionais. A qualidade real do objeto, como

    aquela que percebemos intelectualmente, muda a partir dessa discusso e do novo objeto sensual.

    Muda a eidos, a forma, a natureza, o tipo do objeto. Se muda o tipo do objeto muda a relao entre

    sujeitos e objetos, as associaes e, portanto, o social. Assim, um parlamento das coisas (Latour),

    como discusso de causas, se estabelece (ou deve se estabelecer)! A mudana da eidos tem

    implicaes polticas, sociais, culturais e pedaggicas, como vimos. Mostramos que os objetos

    seguem sua trajetria nas associaes e que agora, objetos comuns da vida quotidiana esto

    ganhando capacidades performativas inditas. No se trata do ineditismo da comunicao das coisas

    j que os objetos esto sempre em associaes. Mas de chamar a ateno para uma nova forma de

    relao entre objetos e humanos a partir da atual trajetria informacional das coisas. Uma etiqueta

    RFID em um escudo escolar altera em muito a relao que a se estabelece. E os outros projetos?

    Mostramos como a TAR pode ser de grande ajuda para a compreenso desse fenmeno j que ela

    parte da hiptese inicial de que no h essncia e que tudo se define pelas associaes. Para a TAR,

    humanos e no-humanos no so hierarquicamente diferentes, cabendo ao analista distinguir as

    formas de delegao, mediao e intermediao que se estabelecem em cada associao. Assim

    podemos analisar os fenmenos da cultura digital tendo como ponto de partida o hibridismo entre

    humanos e no-humanos e a definio de suas funes apenas pelas associaes que se

    estabelecem em um determinado momento, e que podem no mais se estabelecer no futuro. Essas

    associaes tendem estabilizao formando caixas-pretas. As controvrsias so sempre momento

    de abertura das caixas-pretas e, por isso, um momento privilegiado para analisar o social e mostras

    de suas redes associativas.

    Um momento de abertura de caixa preta a controvrsia envolvendo a IoT e particularmente o uso

    de etiquetas de radiofrequncia em uniformes de alunos do CAIC, na Bahia. Essa controvrsia

    revela as tenses nas associaes onde questes emergem com as novas qualidades dos objetos.

    Tentamos mostrar como a TAR pode ajudar a revelar essas redes associativas exibindo esteretipos,

    crenas e vises polarizadas envolvendo a tecnologia, a educao, as relaes sociais, a educao e

    a comunicao.

    REFERNCIAS

    AKRICH, M., CALLON, M., LATOUR, B. (1988), A quoi tient le succs des innovations. Premier pisode : l'art de l'intressement, Annales des Mines: Grer et comprendre, juin, p.4-17.

    21

  • AKRICH, M., CALLON, M., LATOUR, B. (2006), Sociologie de la traduction. Textes fondateurs. Collection Sciences Sociales, Ecole des mines de Paris.

    ALBRECHT, K., McINTYRE, L., Spychips: How Major Corporations and Government Plan to Track Your Every Purchase and Watch Your Every Move., Plume (Penguin), 2006.

    ASHTON, K. (2012). That 'Internet of Things' Thing. in RFID Journal, disponvel em http://www.rfidjournal.com/article/view/4986, acesso em 8 de outubro de 2012.

    ATZORI, L.; IERA, A.; MORABITO, G. (2010). The Internet of Things: a survey. Computer Networks, v. 54, n. 15, p. 2787-2805.

    BIJKER, W. E., LAW, J. (1994), Shaping Technology/Building Society. Studies in Sociotechnical Change. Cambridge, MIT Press.

    BLISS, D. (2012) Four Internet of Things Trends. Disponvel em: . Acesso em 6 set.

    BROCK, L (2001). The Electronic Product Code (EPC) A naming Scheme for Physical Objects. Disponvel em

    CALLON, M. (1986), Elments pour une sociologie de la traduction : la domestication des coquilles Saint jacques et des marin-pcheurs dans la baie de Saint Brieuc, Lanne Sociologique, Numro Spcial 1986, pp169-208.

    DE WAAL, M., SOFRONIE, S. ROIBS, A. (2012). Internet of Things: what is it? Disponvel em: http://www.theinternetofthings.eu/internet-of-things-what-is-it%3F. Acesso em 6 set. 2012.

    CERP IoT - INTERNET OF THINGS EUROPEAN RESEARCH CLUSTER (2009). Internet of Things: Strategic Reserach Roadmap. http://www.internet-of-things-research.eu/pdf/IoT_Cluster_Strategic_Research_Agenda_2009.pdf

    FITCHARD, K. (2012). Why we nedd a standart for the Internet of Things., in GigaOm., http://gigaom.com/2012/07/12/internet-of-things-standard/, acesso em 10 de outubro de 2012.

    FLOERKEMEIER, C.; LANGHEINRICH, M.; FLEISCH, E.; FRIEDMANN, M.; SANJAY, S. E. (Orgs) (2008). The Internet of Things. Springer: Verlag, Berlin e Heildelberg.

    GIGLI, M.; KOO, S. (2011). Internet of Things: services and applications categorization. Advances in Internet of Things, vol. 1, p. 27-31.

    GREENFIELD, A. (2006). Everyware: the dawning age of ubiquitous computing. New Riders: Berkley.

    HARMAN, G (2011). The Quadruple Objet. Zero Books, Winchester, UK, Washington, USA.

    22

  • KRANENBURG, R.; ANZELMO, E.; BASSI, A.; CAPRIO, D.; DODSON, S.; RATTO, M. (2011). The Internet of Things. 1st Berlin Symposium on the Internet and Society. Outubro. Disponvel em http://www.theinternetofthings.eu/sites/default/files/%5Buser- name%5D/The%20Internet%20of%20Things.pdf.

    KRANENBURG, R. (2012). The Sensing Planet: Why the internet of things is the biggest next big thing., in http://www.fastcocreate.com/1681563/the-sensing-planet-why-the-internet-of-things-is-the-biggest-next-big-thing., acesso em 10 de outubro de 2012.

    LATOUR, B. (1994). Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simtrica. Rio de Janeiro: Editora 34.

    LATOUR, B. (2005). Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network Theory. Oxford: Oxford University Press.

    LAW, J., HASSARD, J., (Eds.), (1999). Actor Network Theory and After, Blackwell Publishers / The Sociological Review, Oxford.

    VENTURINI, T. (2010) Diving in magma: how to explore controversies with actor-network theory, 258-273. In Public Understanding of Science 19 (3).

    VENTURINI, T. (2012) Building on faults: how to represent controversies with digital methods, 796 812. In Public Understanding of Science 21 (7).

    STERLING, B (2005). Shaping Things. The MIT Press, Cambridge. Mass.

    UCKELMANN, D; HARRISON, M.; MICHAHELLES, F. (2011) An Architectural Approach Towards the Future Internet of Things. In UCKELMANN, D; HARRISON, M.; MICHAHELLES, F. (Orgs). Architecting the Internet of Things. Springer: Nova Iorque, Dordrecht, Heidelberg, Londres.

    YANG, De-Li; LIU, Feng; LIANG, Yi-Duo. (2010). A Survey of the Internet of Things. In: The 2010 International Conference on E-Business Intelligence. Atlantis Press.

    23