análise da vectoeletronistagmografia em idosos com queixa de tontura

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  • 7/25/2019 Anlise da Vectoeletronistagmografia em Idosos com Queixa de Tontura

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    In ternat ional Archives of Otorh inolaryngology Vol. 17 No. 4/2013

    Vector Electronystagmography Analysis inElderly Individuals with Dizziness ComplaintAnlise da Vectoeletronistagmografa em Idosos com Queixa de Tontura

    Lidiane Maria de Brito Macedo Ferreira1

    Karyna Mirelly O. B. de Figueiredo Ribeiro2

    Andr Pestana3

    Arthur Jorge de Vasconcelos Ribeiro4 Kenio Costa de Lima5

    1 Department of Otolaryngology, Universidade Fedreral do Rio Grandedo Norte (UFRN), Natal/RN, Brazil

    2Department of Physiotherapy, Universidade Fedreral do Rio Grandedo Norte (UFRN), Natal/RN, Brazil

    3Department of Audiology, Universidade Potiguar (UnP), RN, Brazil4Division of Neurology, Department of Pediatrics, Universidade Federal

    do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal/RN, Brazil5 Department of Public Health, Universidade Federal do Rio Grande do

    Norte (UFRN), Natal/RN, Brazil

    Int Arch Otorhinolaryngol 2013;17:380382.

    Endereo para correspondncia:Lidiane Maria de Brito MacedoFerreira, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Campos Sales,682, AP 1302, Natal/RN, Brasil (e-mail: [email protected]).

    Resumo

    Introduo

    A disfuno vestibular, ou vestibulopatia, compreende osdistrbios do sistema vestibular em nvel perifrico (labi-rinto e/ou nervo coclear) e/ou central (ncleos, vias e inter-relaes do Sistema Nervoso Central). Quando a afeco

    determinada por comprometimento da orelha interna (labi-rinto), denominamos labirintopatia1.

    Dos idosos com vestibulopatia crnica, 53,3% caem acada ano2, sendo a vertigem a causa mais comum, ocorren-do em 25% dos episdios3. importante lembrar que a po-lifarmacoterapia, para vrias patologias, tambm favoreceas quedas dos idosos, seja por efeito colateral do prpriomedicamento (hipotenso, sedao, confuso, alterao dosreexos motores) ou pelas suas associaes4.

    Por estar intimamente relacionada com alteraes sis-tmicas, multicausais e at relacionada aos hbitos do pa-ciente (etilismo, tabagismo, dieta estimulante ou hiperpo-tssica), a vestibulopatia uma entidade clnica de difcildiagnstico, sendo este muitas vezes de excluso e, por con-seguinte, de difcil tratamento. O diagnstico preciso nem

    sempre conseguido, e apenas o diagnstico sindrmico irnortear a prtica clnica.

    Clinicamente, h vrias formas de detectar o desequil-brio e buscar suas causas, de maneira a prevenir complica-es tais como as quedas. A vertigem avaliada atravs daanamnese e exame clnico otoneurolgico (com avaliao

    dos pares cranianos, cerebelo e equilbrio esttico e dinmi-co), exames laboratoriais (como os bioqumicos), exames au-diolgicos (Audiometria, Imitanciometria, Emisses otoa-

    Palavras-chaves:fidoso

    ftonturafexames mdicos

    Introduo:A vectoeletronistagmograa amplamente usada para avaliar a funo ves-tibular, mas em idosos pode demonstrar alteraes no decorrentes de vestibulopatias.Objetivo:caracterizar exames de vectoeletronistagmograa em idosos participantes deum grupo da terceira idade em rgo do Sistema nico de Sade (SUS) no municpio deNatal-RN, que apresentam queixa de tontura.Mtodos:estudo clnico transversal para caracterizar a vectoeletronistagmograa em dezidosos participantes de um grupo da terceira idade do SUS localizado em centro de refe-rncia do municpio de Natal-RN com queixa de tontura.Resultados:Dos 10 pacientes entrevistados, 9 eram do sexo feminino, e apenas 1 homem.Todos tinham queixa de tontura no ltimo ano, e a maioria apresentava mais de um tipode tontura. O principal diagnstico etiolgico foi VPPB. Em relao vectoeletronistag-mograa, encontramos 20% dos pacientes com nistagmo semi-espontneo em pelo menosuma direo; alteraes nos movimentos sacdicos em 100% dos pacientes referente la-tncia e em 20% em relao preciso; rastreio pendular alterado em 20% na freqncia de0,2 Hz, 10% na de 0,4 Hz e 80% na de 0,8 Hz; e 10% de alterao no ganho do optocintico.Nenhum paciente apresentou alterao prova calrica.Concluso:Alteraes eletonistagmogrcas em idosos nem sempre indicam doenas.

    recebido em10 de Janeiro de 2013

    aceito em25 de Junho de 2013

    Copyright 2013 by Thieme Pubica-es Ltda, Rio de Janeiro, Brazil

    DOI http://dx.doi.org/10.1055/s-0033-1353139.

    ISSN 1809-9777.

    Artigo Original

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    csticas e Potenciais evocados de tronco enceflico), examesvestibulares (Vectoeletronistagmograa) e, se necessrio,exames de imagem (Tomograa computadorizada e Resso-nncia magntica). Deve ser lembrado que, a depender dascomorbidades do paciente, outros exames laboratoriais sefazem necessrios para diagnstico e/ou acompanhamentodas patologias de base.

    A vectoeletronistagmograa, exame amplamente usado

    na prtica clnica, apresenta limitaes relacionadas condi-o de sade do paciente (pacientes muito debilitados nopodem submeter-se ao exame), especialmente quando trata-se de idoso, pela sua fragilidade e co-morbidades. Alm domais, o paciente geritrico apresenta, muitas vezes, dege-neraes dos sistemas vestibular, culo-motor ou proprio-ceptivo, que geram resultados anormais na vectoeletronis-tagmograa, mas que, na realidade, no reetem condiopatolgica, e sim siolgica. O objetivo deste estudo ca-racterizar exames de vectoeletronistagmograa em idososparticipantes de um grupo da terceira idade em rgo doSUS no municpio de Natal-RN, que apresentam queixa detontura.

    Mtodo

    Foi realizado estudo seccional para caracterizar as vectoele-tronistagmograas de dez idosos com queixa de tontura. Ospacientes so participantes de um grupo da terceira idadedo SUS localizado em centro de referncia do municpio deNatal-RN. Foram escolhidos de maneira aleatria, a partirdo questionamento sobre presena de tontura no ltimoano. Foram includos idosos acima de 60 anos, com bom n-vel cognitivo, capacidade de deambular sem auxlio e comqueixa de tontura no ltimo ano. Foram excludos idososcom doenas descompensadas e que no compareceram aoexame fsico na data pr-estabelecida.

    Os pacientes foram submetidos a anamnese e exame f-sico otoneurolgicos e, em seguida, realizao do examevectoeletronistagmograa.

    Os aparelhos utilizados para a realizao da Vectoele-tronistagmograa foram um sistema computadorizado deeletronistagmograa e um estimulador otoneurolgico e-96(Contronic, Brazil). Os procedimentos do exame foram exe-cutados de acordo com os critrios estabelecidos por Man-gabeira-Albenaz et al5: calibrao dos movimentos oculares,registro do nistagmo expontneo e semi espontneo, anlisedos movimentos sacdicos, anlise do rastreio pendular, ga-nho optocintico, e anlise do nistagmos antes e aps o testecalorico (com gua)

    A tontura foi classicada de acordo com a classicao

    de Drachman e Hart, 19726. O exame fsico constou de otos-copia, provas de avaliao do equilbrio esttico (Teste deRomberg e Romberg-Barr), equilbrio dinmico (Prova deFukuda e Babinski-Weil), Testes de avaliao da coorde-nao (ndice-nariz, ndice-nariz-indice e Diadococinesia),Avaliao do Nistagmo espontneo e semi-espontneo,Avaliao do Reexo vestbulo-ocular (RVO), Acuidade vi-sual dinmica, Head Shake, Head Impulse, Vibration Indu-ced Nistagmus, Manobra para avaliao do canal lateral (rolltest) e de Dix Hallpike. Foi avaliada tambm a regio cervi-cal por meio de manobras sioterpicas para avaliar causasde origem cervical para a tontura. O diagnstico etiolgicofoi feito com base neste exame fsico e no controle pressri-co, juntamente com a histria clnica de patologias associa-das e medicamentos em uso.

    O trabalho foi aprovado pelo Comit de tica em Pes-quisa (CEP-UFRN) sob o parecer nmero 309/2012 da insti-tuio, e todos os pacientes assinaram o Termo de Consen-timento Livre e Esclarecido antes da coleta dos dados. Foirealizada estatstica descritiva para anlise dos dados.

    Resultados

    Dos 10 pacientes entrevistados, 9 eram do sexo feminino, eapenas 1 homem. Todos tinham queixa de tontura no lti -mo ano, e a maioria deles apresentava mais de um tipo detontura (Tabela 1).

    De acordo com o diagnstico etiolgico da tontura, te-mos que o principal foi VPPB (Tabela 2).

    Em relao vectoeletronistagmograa, encontramosque alteraes nos movimentos sacdicos e no rastreio pen-dular foram os achados mais comuns, e que nenhum pa-ciente apresentou alterao prova calrica (Tabela 3).

    Discusso

    O grupo de estudo consiste em pacientes idosos e com quei-xa de tontura no ltimo ano, no necessariamente vertigem,de modo que podemos concluir que nem todos apresentamlabirintopatia. Isso ca claro quando se analisam os tipos detontura, vrios deles com pr-sncope, utuao e desequi-lbrio, que remetem, na grande maioria das vezes, a causasno labirnticas de tontura. Entretanto, de maneira geral,a vertigem foi o tipo mais freqente, isolada ou associada.Esse dado conrmado pela literatura, em que a vertigem apontada como correspondente a 60,2% dos casos7.

    Quando se avaliam as possveis causas da tontura, qua-tro pacientes apresentaram causas no-vestibulares (02comprometimentos cervicais e 02 alteraes cardiovascula-res) e a maioria apresentou VPPB, diagnosticada atravs daManobra de Dix-Hallpike. Esta uma patologia labirntica,com acometimento, na maioria dos casos, dos canais semi-circulares posteriores.

    A vectoeletronistagmograa um exame de diagnsti-co das patologias vestibulares, em que sua principal etapatrata-se da prova calrica, pois diagnostica leses dos labi-rintos separadamente. Entretanto, tal exame sensvel paraalteraes dos canais semicirculares laterais apenas.

    Diante do exposto, nem todo paciente com VPPB teralteraes vectoeletronistagmograa, pois a topograa daleso est em local distinto daquele pesquisado.

    Tabela 1.Classicao dos tipos de tontura em idosos.Natal-RN, 2012.

    Tipos de tontura Nmero de

    pacientes

    Vertigem 01

    Desequilbrio 02

    Pr-sncope 01

    Flutuao + Pr-sncope 01

    Vertigem + Desequilbrio 02

    Vertigem + Flutuao 01

    Vertigem + Flutuao + Pr-sncope 01

    Vertigem + Desequilbrio + Pr-sncope 01

    Vector Electronystagmography Analysis in Elderly Individuals Ferreira et al.

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    No presente estudo, nenhum paciente apresentou alte-rao prova calrica, o que ca bastante claro pois obte -ve-se patologias no-vestibulares relacionadas como causasdas tonturas, e a nica causa vestibular encontrada foi aVPPB, que no revela alterao neste exame. Felipe encon -trou 72,5% de provas calricas normais entre seus idosos7.

    Isso se reete em alteraes eletronistagmogrcas pr-prias do paciente idoso, que se do devido degeneraodos sistemas siologicamente, ou seja, seriam resultado dasalteraes culo-vestibulares, neurolgicas, diminuio dotempo de resposta e de reexos. Ou seja, os resultados en-contrados neste estudo podem ser generalizados para ido-sos sem alteraes vestibulares.

    Gushikem, Caovilla e Ganana8, em 2003, encontraram68% de exames alterados em idosos sem doena vestibular.

    A casustica do presente estudo foi de 100% de exames al-terados, mas vale ressaltar que a amostra foi reduzida. Aalterao na latncia dos movimentos sacdicos em 100%dos idosos justica essas alteraes, e deve-se lentido derespostas culo-motoras, no exatamente a alteraes ves-tibulares.

    No foi encontrada micrograa em nenhum exame, ape-sar de este ser descrito na literatura como achado comum

    em idosos8

    .

    Concluso

    A maioria dos pacientes avaliados apresentou VPPB comodiagnstico etiolgico para sua tontura, e a alterao eletro-nistagmogrca mais prevalente foi a alterao na latnciados movimentos sacdicos (100% dos exames). Nenhum pa-ciente apresentou alterao na prova calrica.

    Referncias1 Ganana MM, Caovilla HH. Desequilbrio e reequilbrio. In: Ga-

    nana MM. Vertigem tem cura? O que aprendemos nestes lti-

    mos 30 anos. So Paulo: Lemos Editorial, 1998. p.13-9.2 Gazzola JM, Ganana FF, Aratani MC, Perracini MR, GananaMM. Caracterizao clnica de idosos com disfuno vestibu-lar crnica. Rev Bras Otorrinolaringol 2006;72(4):515-22.

    3 Gazzola JM, Ganana FF, Aratani MC, Perracini MR, Ga-nana MM. Circunstncias e conseqncias de quedas emidosos com vestibulopatia crnica. Rev Bras Otorrinolaringol2006;72(3):388-93.

    4 Fabricio SSC, Rodrigues RAP, Costa Jnior ML. Quedas ac-identais em idosos institucionalizados. Acta Paul Enf 2002;15 (3): 51-9.

    5 Mangabeira-Albernaz PL, Ganana MM, Pontes PAL. Modelooperacional do aparelho vestibular. In: Mangabeira-AlbernazPL, Ganana MM. Vertigem. 2a ed. So Paulo: Moderna, 1976.p.29-36.

    6 Drachman D, Hart C. An approach to the dizzy patient; Neurol-ogy, 1972, 22: 323-34.

    7 Felipe, L et al . Presbivertigem como causa de tontura no idoso.Pr-Fono R. Atual. Cient.,2008; 20 (2)

    8 Gushikem P, Caovilla HH, Ganana MM. Avaliao otoneu-rolgica em idosos com tontura. Acta ORL2003; 21(1).

    Tabela 2.Diagnstico etiolgico da tontura em idosos. Natal

    -RN, 2012.

    Diagnstico Nmero de

    pacientes

    VPPB 06

    Sndrome cervical 02

    Alterao cardio-vascular 02

    Tabela 3.Achados vectoeletronistagmogrcos em idosos.

    Natal-RN, 2012.

    Achados vectoeletronistagmograa:

    Nistagmo semi-espontneo em pelo menos uma direo:

    20% dos pacientes

    Alteraes nos movimentos sacdicos:

    100% dos pacientes referente latncia

    20% em relao precisao

    Alteraes no rastreio pendular:

    20% na freqncia de 0,2 Hz,

    10% na freqncia de 0,4 Hz

    80% na freqncia de 0,8 HzAlterao no ganho do optocintico: 10% dos pacientes

    Nenhum paciente apresentou alterao prova calrica

    Vector Electronystagmography Analysis in Elderly Individuals Ferreira et al.