formacao animadores tese de recurso
Post on 19-Oct-2015
24 Views
Preview:
TRANSCRIPT
-
Min
ho 2
009
U
Setembro de 2009
Patrcia Regina Martins Lima
Universidade do MinhoInstituto de Estudos da Criana
CAMPINCIOS: VIVNCIAS DE ANIMAOSCIO-CULTURAL
Patr
cia
Regi
na M
artin
s Li
ma
CAM
PIN
CIO
S: V
IVN
CIA
S D
E AN
IMA
OS
CIO
-CU
LTU
RAL
-
Tese de Mestrado em Estudos da CrianaAssociativismo e Animao Scio-Cultural
Trabalho efectuado sob a orientao daProfessora Doutora Teresa Sarmento
Setembro de 2009
Patrcia Regina Martins Lima
Universidade do MinhoInstituto de Estudos da Criana
CAMPINCIOS: VIVNCIAS DE ANIMAOSCIO-CULTURAL
-
AUTORIZADA A REPRODUO INTEGRAL DESTA TESE APENAS PARA EFEITOS DE
INVESTIGAO, MEDIANTE DECLARAO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE
COMPROMETE
Universidade do Minho, ___/___/______
Assinatura: ________________________________________________
-
iii
Malas feitas pronto a partir
Ir pra fora para entrar
Nessa aventura de me descobrir
Nos sorrisos que me vais rasgar
(Hino do Acampamento Entre - Aspas 2008)
A todos aqueles com quem partilhei esta aventura
-
iv
AGRADECIMENTOS
Mais do que uma investigao para alcanar um grau acadmico, este estudo foi uma
experincia nica e inesquecvel, foi uma descoberta de mim prpria e dos outros, das relaes
interpessoais que se criam num espao to diferente.
Quero, portanto agradecer a esta grande famlia que me recebeu de braos abertos e um
sorriso nos lbios.
Direco Local do colgio das Caldinhas que prontamente me receberam e auxiliaram
nesta investigao.
Aos animadores entrevistados e ao Assistente Nacional do movimento pela
disponibilidade.
equipa de animao do Campo de Frias Entre-Aspas 2008 e todos os seus
participantes por partilharem comigo esta experincia.
Professora Doutora Teresa Sarmento pela orientao.
minha famlia e a todos os meus amigos que souberam dar sempre aquele
empurrozinho e aquela palavra de incentivo.
-
v
CAMPINCIOS: VIVNCIAS DE ANIMAO SCIO-CULTURAL
RESUMO
Os Campincios so um dos trs movimentos juvenis associados Companhia de Jesus
em Portugal que apesar de partilharem a mesma filosofia (a Pedagogia Inaciana) e a mesma
estrutura a nvel da organizao do campo tm diferentes destinatrios. Assim, o movimento em
estudo destina-se a todos os alunos dos trs colgios Jesutas de Portugal, localizados em Santo
Tirso (Colgio das Caldinhas), Cernache (Colgio da Imaculada Conceio) e Lisboa (Colgio S. Joo
de Brito).
A presente investigao tem como objectivos conhecer os Campincios e estudar de que
modo a vivncia dos campos de frias contribui para a formao integral dos seus participantes
atravs do papel que estes exercem na questo da cidadania ensinada/aprendida cidadania
praticada.
O mtodo escolhido para a sua realizao foi o estudo de caso apoiado na observao
participante, entrevista, anlise documental e de contedo e inqurito por questionrio. Tentamos
participar no maior nmero de actividades do movimento, de modo a ter um conhecimento mais
profundo do mesmo. Porm, pela aproximao local, a nossa amostra baseou-se, essencialmente,
na Direco Local do Colgio das Caldinhas e seus animadores.
Ao longo da investigao fica patente a existncia de uma relao entre a cidadania
ensinada/apreendida cidadania praticada. Os aspectos mais visveis so o facto dos participantes
se tornarem animadores com a finalidade de continuar no movimento, passando, assim, o
testemunho como outros lhes passaram a eles e, a transposio da postura que assumem num
campo de frias para as suas vidas.
-
vi
CAMPINCIOS: SOCIAL AND CULTURAL ANIMATION EXPERIENCE
ABSTRACT
The Campincios are one of three youthful movements associated to the Company of
Jesus in Portugal, in spite of sharing the same philosophy (the Pedagogy Inaciana) and the same
structure in terms of the organization of the holidays camp they are destined to different groups of
persons. The movement in study is destined to all the students of the three Portugals Jesuit
Colleges, located in Santo Tirso (College of the Caldinhas), Cernache (College of the Immaculada
Conceio) and Lisbon (College S. Joo de Brito).
The present investigation has like objectives know the Campincios and to study in which
way the existence of the holidays camp contributes to the integral formation of his participants
through the questions of taught / learnt citizenship practiced citizenship.
The method chosen for his realization was the study of case supported on the observation
participant, interview, documentary analysis and content and inquiry questionnaire. We try to take
part in the biggest number of activities of the movement, to have deep knowledge of that. However,
for the local approximation, our sample was based, essentially, on the Local Direction of the College
of the Caldinhas and his presenters.
Along the investigation the existence of a relation is obvious between the taught /
apprehended citizenship practiced citizenship. The most visible aspects are the fact of the
participants become presenters with the finality of continuing in the movement, passing the evidence
as the others passed to them and pass over the attitude they assume in a holidays camp for their
lives.
-
vii
NDICE
INTRODUO .........................................................................................................................................1
1.DELIMITAO...........................................................................................................................3
2.ENUNCIADO DO PROBLEMA ....................................................................................................4
3.OBJECTIVOS E QUESTES GERADORAS...................................................................................5
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA1. ANIMAO SCIO-CULTURAL (ASC) ........ 6
1. ANIMAO SCIO-CULTURAL (ASC)........................................................................................7
1.1.CONCEITO,FUNDAMENTOS E CARACTERSTICAS ............................................................8
1.2.MODALIDADES, MBITOS E DIMENSES.......................................................................11
1.2.1.ASC NA INFNCIA E JUVENTUDE ..........................................................................12
1.2.2.ANIMAO URBANA..............................................................................................14
1.2.3.ANIMAO SOCIO-EDUCATIVA...............................................................................15
1.3.ASC EM PORTUGAL16
1.4.ASC E A EDUCAO NO-FORMAL.................................................................................17
1.4.1.A ASC E OS CAMPINCIOS....................................................................................21
1.5.A ASC E A EDUCAO PARA A CIDADANIA E PARA OS VALORES ...................................22
1.5.1.OS CAMPINCIOS E A EDUCAO PARA A CIDADANIA E VALORES .......................24
2.ANIMADOR SCIO-CULTURAL ................................................................................................26
2.1.O ANIMADOR E A FORMAO DAS CRIANAS E JOVENS...............................................30
3.PARTICIPAO INFANTIL E JUVENIL ......................................................................................32
3.1.TIPOLOGIAS DE PARTICIPAO .....................................................................................32
3.2.OBSTCULOS E POTENCIALIDADES DA PARTICIPAO.................................................35
4.O ASSOCIATIVISMO................................................................................................................37
4.1.O ASSOCIATIVISMO JUVENIL COMO PRTICA DE PARTICIPAO ..................................37
4.2.O PAPEL DO ASSOCIATIVISMO JUVENIL NA FORMAO DOS JOVENS...........................40
-
viii
4.2.1.O EXEMPLO DO VOLUNTARIADO JUVENIL .............................................................41
5.OS CAMPOS DE FRIAS INACIANOS.......................................................................................44
5.1.MOVIMENTOS INACIANOS .............................................................................................44
5.2.PEDAGOGIA INACIANA A METODOLOGIA INSPIRADORA..............................................45
5.3.ESTRUTURA DO CAMPO DE FRIAS...............................................................................49
5.3.1.ITINERRIO GERAL DO CAMPO DE FRIAS INACIANO.................................................50
5.3.2.ITINERRIO PARTICULAR ............................................................................................51
5.4.ANIMADORES ................................................................................................................53
CAPTULO II METODOLOGIA .....................................................................................54
1.INVESTIGAO QUALITATIVA..................................................................................................55
2.ESTUDO DE CASO..................................................................................................................56
3.DESENHO DA INVESTIGAO.................................................................................................57
4.INSTRUMENTOS DA RECOLHA DE DADOS .............................................................................60
4.1. OBSERVAO PARTICIPANTE .......................................................................................60
4.2. ANLISE DOCUMENTAL................................................................................................62
4.3. INQURITO POR QUESTIONRIO ..................................................................................62
4.4. ENTREVISTA .................................................................................................................64
4.5. ANLISE DE CONTEDO...............................................................................................67
CAPTULO III APRESENTAAO E ANLISE DOS RESULTADOS ...................................70
1.CAMPINCIOS........................................................................................................................71
1.1.GNESE DO MOVIMENTO ..............................................................................................71
1.2.ORGANIGRAMA ..............................................................................................................73
1.2.1.RGOS DO MOVIMENTO .....................................................................................74
1.3.OBJECTIVOS E PILARES DOS CAMPINCIOS..................................................................75
1.4.PARTICIPANTES.............................................................................................................77
1.5.ANIMADORES ................................................................................................................79
1.5.1.PAPIS, FUNES E SUAS CARACTERSTICAS......................................................80
-
ix
1.5.2.PROCESSO DE SELECO E FORMAO DOS ANIMADORES ................................88
1.5.3.BREVE CARACTERIZAO DOS ANIMADORES .......................................................90
2.DIRECO LOCAL DO COLGIO DAS CALDINHAS ..................................................................92
2.1.ESTRUTURA DA DLCC....................................................................................................92
2.2.PLANO DE ACTIVIDADES DA DLCC ................................................................................92
2.3.AS REUNIES DE ANIMADORES DA DLC......................................................................C93
2.4.ANIMADORES DA DLCC .................................................................................................94
3.APRESENTAO DOS RESULTADOS.......................................................................................97
3.1.PERSPECTIVA E VIVNCIAS DO MOVIMENTO ENQUANTO PARTICIPANTE ......................97
3.1.1.MOTIVAES PARA PARTICIPAR NUM ACAMPAMNETO.........................................97
3.1.3.DEFINIO DO MOVIMENTO ...............................................................................104
3.2.PERSPECTIVAS E VIVNCIAS DO MOVIMENTO ENQUANTO ANIMADOR........................105
3.2.1.MOTIVAES PARA SER ANIMADOR....................................................................105
3.2.2.IMAGENS DOS ANIMADORES RELATIVAMENTE AO PAPEL E QUALIDADES DO ANIMADOR...................................................................................................................................................................................................................................................107
3.2.3.EXPERINCIAS DE ANIMADOR.............................................................................109
3.2.4.IMAGENS SOBRE O MOVIMENTO.........................................................................112
3.3. VIVNCIA DA F................................................................................................................114
3.4. PARTICIPAO ASSOCIATIVA............................................................................................115
CONSIDERAES FINAIS...........................................................................................117
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................122
ANEXOS.....................................................................................................................134
-
x
NDICE DOS ANEXOS
ANEXO I INQURITO POR QUESTIONRIO ...............................................................................135
ANEXO II PLANO DE ACTIVIDADES DA DLCC...........................................................................136
ANEXO III QUADRO SNTESE DAS ENTREVISTAS .....................................................................139
-
xi
ABREVIATURAS
ASC Animao scio-cultural
Campincios Movimento Inaciano de Acampamentos dos Colgios da Provncia
Portuguesa da Companhia de Jesus
Camtil Campos de Tempo Livre
INA Instituto Nun Alvres
CC Colgio das Caldinhas
CSJB Colgio So Joo de Brito
CAIC Colgio da Imaculada Conceio
GRACOS Grupo de Reflexo e Anlise dos Colgios da Companhia de Jesus
PPCJ Provncia Portuguesa da Companhia de Jesus
DN Direco Nacional
DL Direco Local
DLCC Direco Local do Colgio das Caldinhas
EN Encontro Nacional
ENA Encontro Nacional de Animadores
AN Assistente Nacional
OL rgo Local
CVX Comunidade de Vida Crist
CVX-U - Comunidade de Vida Crist para Universitrios
-
xii
SBV Suporte Bsico de Vida
-
xiii
NDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Caractersticas do animador nas dcadas 70/80 e a partir da dcada de 90 (Baseado em
Lopes, 2007).............................................................................................................................26
Tabela 2 - Guio da Entrevista realizada aos animadores seleccionados do CC ..............................66
Tabela 3 - Indicadores da anlise de contedo das entrevistas realizadas aos animadores do CC ...69
Tabela 4 - Responsabilidades do Director de um campo de frias organizado pelos Campincios
(Adaptado Vicente, 2008b e Almeida, 2004) ..............................................................................84
Tabela 5 - Responsabilidades da Mam num campo de frias (Adaptado Almeida, 2004) ..............86
-
xiv
NDICE DOS GRFICOS
Grfico 1 - Distribuio por colgio e sexo, em percentagem, dos animadores que responderam ao inqurito por questionrio ............................................................................................................1
Grfico 2 - Distribuio dos animadores por ano de entrada no movimento .....................................1
Grfico 3 - Distribuio dos animadores DLCC por ano de entrada ..................................................1
Grfico 4 - Distribuio, em percentagem, do ano de nascimento dos animadores da DLCC referente ao ano lectivo de 2007/2008 ......................................................................................................1
Grfico 5 - Distribuio, em percentagem, do ano de nascimento dos animadores da DLCC referente ao ano lectivo de 2008/2009 ......................................................................................................1
Grfico 6 - Distribuio, em percentagem, por sexo dos animadores da DLCC no ano lectivo 2007/2008.................................................................................................................................1
Grfico 7 - Distribuio, em percentagem, por sexo dos animadores da DLCC no ano lectivo 2008/2009.................................................................................................................................1
-
xv
NDICE DAS ILUSTRAES
Ilustrao 1 - Escada de Participao Juvenil de Hart (Baseado em Soares, 2006 e Costa, 2008) ............1
Ilustrao 2 - Logtipo do movimento ......................................................................................................1
Ilustrao 3 - Organigrama dos Campincios (Fonte: www.campinacios.org) ............................................1
-
xvi
O QUE SER CAMPINACIANO?
Ontem, no recreio, um jovem interpelou-me e perguntou-me:
Afinal, o que que tem de to especial, ser Campincio?
Sim! Quem so os Campincios? O que que fazem?
Tentei explicar-lhe em vo pois, na verdade, no tenho reflectido nem um pouco sobre isso.
Mas sabes, lembrei-me das vezes em que me despedi de ti!
Quantas vezes que esse nosso gesto se ter repetido ao longo de dez anos? ... Dez anos de Campincios!
Partimos todos os anos com esperana no olhar, vontade de contar mil e uma madrugadas e a Me Terra acolheu-nos no seu colo.
Dobrmos dinheiro que foi esquecido no fundo da mochila, atiramos l para dentro as T-shirts mais coloridas, dois pares de blue jeans bem coados e pouco mais
Com aquelas botas que foram ficando esbranquiadas pelo p dos caminhos, comemos quilmetros pelos montes e vales, s vezes com o cansao a moer-nos os ossos, mas sempre com uma cano no peito e aquele brilhozinho nos olhos.
Partilhmos o tempo, coisas, comida, olhares, ideias, preces e canes.
Aprendemos a amar Deus nos outros e (curioso!) em ns prprios!
Aprendemos tambm que a vida vale a pena ser vivida se tiver um bom sentido.
Descobrimos o real valor da sopa, do po com marmelada e da bolacha-maria!
Sentimos o conforto do carinho da mam, quando estivemos na m-de-baixo e nos adormeceu no seu colo, noite na roda!
Da viola extramos estranhas mgoas e morremos um pouco quando ficmos para trs no Cais com o sal a queimar-nos o olhar.
-
xvii
J em casa, esvaziamos a mochila. A roupa ainda cheirava a despedida e voltaram mais fortes todos os momentos, odores e sentimentos do Campo.
Fizemos da saudade tinta para as mais lindas linhas e, por momentos, ia-mos entupido a caixa do correio uns dos outros com cartas desencontradas na nsia de voltar
Juntos descobrimos a quantidade de coisas que esto escondidas dentro dum canivete e na casca de uma rvore! Que h rios sem poluio onde apenas nada a amizade e a alegria (alm dos peixes, claro!). Que, s vezes, mais vale um gesto e um sorriso do que mil palavras. Que faz todo o sentido cantar o Anzol, s seis da manh, no cimo de um penhasco. Que as saudades de casa tambm se curam com um mergulho no rio. Que lavar a loua baril. Que o chourio na brasa mais saboroso quando a meia-noite se aproxima. Que o nosso melhor amigo no aquele que s nos sorri mas, principalmente, aquele que chora connosco. Que tambm sabemos fazer coisas bonitas e que no somos rasca.
H paletes de coisas que nos marcaram (e marcam!) e fizeram (e fazem!) voltar, todos os anos.
A vontade de partilhar. A natureza. O Pai. Os outros. O teu sorriso enfarruscado. A sensao de liberdade. Uns olhos lindos de morrer. Aquele rapaz que me olhou de maneira diferente. Umas tranas pretas a espreitarem por baixo de um chapu de palha. A sorna de rabo pr ar a escrever ao Amigo Secreto. A telenovela. A Missa de Campo. A Mam. A Alvorada. Os BDS (Bom dia Senhor). As pinhas a estourarem na fogueira. O assalto ao castelo. O pr-do-sol com os ps dentro de gua. A caminhada. As bolachas escondidas no fundo da tenda. Descascar batatas para trinta e seis galfarros. A noite de gala e todas as partidas que os animadores prepararam e nos pregaram.
Joo Regueiras1
1 http://campinacios.loyola.pt/regueiras.html.
-
Acima de tudo sermos ns prprios, num mundo que
todos juntos criamos. Desejamos que o mundo c de fora fosse assim, mas mesmo sendo difcil, transpondo o que aprendemos, sempre contribumos um pouco. Acho que ser campinaciano ser livre de preconceitos, de censuras, de vergonhas, de medos, acreditar num Ser com o qual falamos e que por vezes nos d tantas respostas, ser amigo, companheiro, educador, estar de corao aberto para os outros, ter presente as frases: dar sem receber; dar no di. Para alm disto e tudo e muito mais que haveria para dizer tambm: dormir nas tendas, dormir ao relento, fazer seres at s tantas, ajudar a mam na cozinha, acordar cedinho para fazer coisas que ningum imagina para que numa situao menos boa nos lembrarmo-nos disto tudo e conseguirmos esboar um sorriso (Animadora do CAIC).
INTRODUO
-
INTRODUO
2
A dissertao que se apresenta intitulada Campincios: Vivncia de Animao Scio -
cultural insere-se no mbito do Mestrado em Estudos da Criana Associativismo e Animao
scio-cultural, do Instituto de Estudos da Criana da Universidade do Minho.
Esta investigao recorrendo ao Estudo de Caso tem como objecto de estudo os
Campincios (Movimento Inaciano de Acampamentos dos Colgios da Provncia Portuguesa da
Companhia de Jesus), um dos trs movimentos juvenis associados s actividades da pastoral dos
jesutas2.
A presente dissertao est dividida em trs partes fundamentais: a fundamentao
terica, a metodologia e a apresentao e anlise de resultados. Antecede-lhes a introduo e
sucede-lhes as consideraes finais. Nesta Introduo apresentamos a delimitao temtica, o
enunciado do problema, os objectivos e as questes geradoras da investigao.
No captulo I reflectimos sobre o conceito, princpios e carcatersticas da Animao Scio-
cultural (ASC), em particular o papel do Animador Scio-cultural na formao dos jovens. Na
compreenso destes construtos tericos analisamos ainda a Participao Juvenil, tipologias e o
Associativismo Juvenil. Na parte final deste captulo caracterizamos os Campos de Frias Inacianos
do qual os Campincios fazem parte.
O captulo II corresponde metodologia utilizada. Neste captulo descrevemos a
Investigao Qualitativa e o Estudo de Caso, o desenho da investigao e os instrumentos utilizados
para recolha de dados.
No captulo III fazemos a apresentao e anlise dos resultados. Comeamos por
descrever os Campincios como movimento juvenil, as suas caractersticas, objectivos, participantes
e animadores. De seguida, damos o exemplo de uma das trs direces locais do movimento (DL),
a Direco Local do Colgio das Caldinhas (DLCC), direco em que incidiu a investigao. E, por
fim expomos os resultados da anlise das entrevistas relativamente importncia do movimento na
vida dos seus participantes e animadores, na perspectiva dos ltimos.
2 Os outros dois movimentos designam-se por Camtil e Gambozinos.
-
INTRODUO
3
Nas consideraes finais so apontadas as principais concluses acerca desta
investigao e pistas para o futuro no estudo das vivncias da animao em Campos de Frias.
1. DELIMITAO
A falta de opo, por parte dos pais, no que diz respeito escassez de espaos onde
deixarem os seus filhos durante as frias escolares foi uma das razes para o aparecimento dos
campos de frias.
Por campos de frias entende-se as iniciativas destinadas exclusivamente a grupos de
crianas e jovens, compreendidas entre os 6 e os 18 anos, cuja finalidade compreenda a
realizao, durante um perodo determinado, de um programa organizado de carcter educativo,
cultural, desportivo ou meramente recreativo (artigo n.2, capitulo I, Decreto-Lei n. 304/2003, de 9
de Dezembro de 2003).
Neste sentido, vrias cmaras municipais e associaes promovem estas iniciativas com a
finalidade de ocupar os tempos livres de crianas e jovens mais desfavorecidos contribuindo para o
bem-estar dos mesmos e para a sua integrao na vida comunitria, numa perspectiva de cidadania
saudvel, criando espaos que lhes permitem o seu desenvolvimento pessoal e cvico.
O sucesso desta experincia fez crescer o mercado de procura e oferta destas iniciativas
uma vez que a realizao de actividades de carcter ldico, cultural e desportivo assumem, cada
vez maior relevncia na formao e desenvolvimento integral do indivduo. Por isso, os campos de
frias, so para crianas e jovens uma oportunidade nica de formao e desenvolvimento de
competncias, no adquiridas em meio escolar, mas que se torna importante incentivar e
desenvolver.
A presente investigao pretende abordar o tema dos Campos de Frias, mais
concretamente os Campincios, campos organizados para os alunos dos colgios da Companhia de
Jesus em Portugal (Colgio das Caldinhas CC -, Colgio Imaculada Conceio - CAIC - e Colgio S.
Joo de Brito CSJB -) entendido como um instrumento que ajuda a alcanar o objectivo dos
-
INTRODUO
4
colgios que Educar para Servir num contexto de educao no-formal, isto formar homens e
mulheres do futuro dedicados aos outros e ao servio destes.
Este movimento apoia-se no Paradigma Inaciano, fonte de inspirao de todas as
actividades da Companhia de Jesus e, por isso, para alm do seu carcter educativo, os campos
organizados pelos Campincios tm uma componente muito forte dedicada f.
2. ENUNCIADO DO PROBLEMA
Com a crise da escola e o reconhecimento da importncia da educao no-formal e
informal na formao integral do indivduo surgiram novos contextos de educao/formao como
por exemplo os campos de frias. Estes so meios que proporcionam aos seus participantes o
contacto, a aprendizagem e a compreenso de realidades e valores essenciais para uma cidadania
efectiva.
Para muitos estas iniciativas continuam a ser entendidas apenas como uma forma de
ocupar o tempo livre das crianas e jovens, mas na realidade acreditamos que vivendo em
comunidade, trabalhando em grupo e /ou e prol dos outros os participantes adquirem
competncias pessoais, sociais e culturais que lhes permitem ser cidados participantes,
responsveis e construtores do seu prprio futuro.
Quase a completarem vinte anos de existncia assistimos a uma procura cada vez maior
dos Campincios, por parte dos alunos. Actualmente pelo nmero de inscries efectuadas o
movimento organiza nove acampamentos de vero (dois para cada escalo e um de formao para
os novos animadores).
Partindo do objectivo dos colgios jesutas Educar para Servir e do facto dos Campincios
serem um dos instrumentos para a sua concretizao formulamos a pergunta de partida do
seguinte modo: O que so os Campincios e de que modo contribuem para o
desenvolvimento das crianas, jovens e animadores?
-
INTRODUO
5
Atravs desta pergunta de partida pretendemos estudar o papel assumido pela ASC na
questo da cidadania ensinada /aprendida cidadania praticada.
3. OBJECTIVOS E QUESTES GERADORAS
Os objectivos e as questes que nortearam a investigao tiveram em conta o
conhecimento dos Campincios, no que respeita a organizao, funcionamento, objectivos e pilares;
dos seus participantes e animadores e do papel que a ASC assume no contexto do movimento.
Assim foram definidos os seguintes objectivos:
Caracterizar os Campincios a nvel da sua estrutura, objectivos e filosofia.
Descrever as actividades dos Campincios.
Caracterizar animadores e participantes do movimento.
Descrever o papel da ASC no contexto dos Campincios nomeadamente no que diz
respeito passagem da cidadania ensinada / aprendida para a cidadania praticada.
Quanto s questes geradoras definiram-se do seguinte modo:
Quais so os objectivos dos Campincios?
Que metodologia utiliza?
Como se organiza?
Qual o papel dos animadores?
Qual o papel das crianas e jovens?
De que forma a experincia dos Campincios influencia o dia-a-dia dos seus
participantes e animadores?
De que modo a cidadania ensinada / aprendida se torna cidadania praticada?
-
Ser-se campinaciana muito mais do que pertencer a
um grupo de jovens que se divertem a fazer uns campos de frias e umas actividades. Ser parte deste grupo, desde to tenra idade, pertencer a uma famlia crista catlica que nos ajuda a crescer vendo o mundo como um lugar de todos e para todos. Abre-nos o corao ao mesmo tempo que nos permite ser crianas e adolescentes saudveis (com dvidas, certezas, lutas internas e externas do nosso ser...). No impe mas ensina, no limita mas abre os olhos de cada um de ns para o que nos rodeia e ajuda-nos a ver e no s a olhar. (Animadora CC)
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
7
1. ANIMAO SCIO-CULTURAL (ASC)
O termo animao relativamente recente no sentido em que usado nos nossos dias e,
apesar de estar presente ao longo da histria da humanidade, s na dcada de 60 do sculo XX
conhece uma rpida difuso multiplicando-se os animadores que surgem por toda a parte, ao nvel
do comrcio, espectculos e, particularmente no domnio do ensino (Toraylle, 1973).
Este utiliza-se, pela primeira vez, na Europa, mais concretamente na Frana, designando
um conjunto de aces que tinham como finalidade originar a participao das pessoas na vida
social configurando-se, desde ento, segundo Ferreira (2005:90), por um fenmeno complexo e
diversificado de prticas no campo social e cultural que na tradio francfona se designa por
animation socioculturelle e na anglo-saxnica por community development, surgindo, ainda
frequentemente com a designao de animao comunitria
A necessidade de animao ficou e continua a ficar a dever-se crise da sociedade. Como
afirma Toraylle3 (1973:14) um olhar sobre o passado chega para nos mostrar que a sociedade e as
sociedades sempre estiveram em crise e por isso, esta necessidade uma reaco de defesa
perante as sobrecargas e coaces de uma sociedade invasora que nivela e oprime os indivduos,
podendo ser encarada por uma tentativa de dominar as transformaes da sociedade, atravs do
estabelecimento de um novo tipo de relaes humanas, criando a mudana e respondendo
necessidade de criatividade que todos os homens, especialmente os jovens, manifestam em todos
os domnios.
Nesta perspectiva a animao poder definir-se como um estmulo mental, fsico e
emotivo que, num sector determinado, incita as pessoas a iniciar uma gama de experincias que
lhes permite expandir e expressar a sua personalidade, desenvolvendo um sentimento de pertena
a uma comunidade sobre a qual podem exercer uma certa influncia. Esta pretende criar entre os
indivduos relaes de cooperao, de grupo em lugar de relaes de coabitao, surgindo, como
diz Ferreira (2006:50) como alternativa ao carcter estatizado e funcionarizado do sistema e da
3 Toraylle (1973) enumera as causas da crise da sociedade que poderemos considerar actuais sendo elas: a concentrao urbana, os meios de comunicao, a invaso os mass media e o desenvolvimento do audiovisual, as caractersticas da produo industrial de massa, o bloqueio da relaes humanas e a desestruturao da sociedade.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
8
actividade escolar, baseando-se nas ideias de militncia e de compromisso cvico de animadores,
profissionais e voluntrios, com o desenvolvimento das pessoas e das comunidades.
Deste modo, ASC surge da necessidade de se criarem projectos e iniciativas que tenham
como finalidade a melhoria das condies de vida e o bem-estar social e por isso, cada vez mais,
como afirma Pereira (2008:7-8) a ASC tem de ser encarada como um direito de cidadania e como
uma parte essencial do quotidiano das sociedades, do seu patrimnio, da sua educao e que
atravessa toda as esferas da vida.
1.1. CONCEITO, FUNDAMENTOS E CARACTERSTICAS
O que melhor caracteriza a ASC o seu carcter polissmico, o que torna a sua definio
complexa, ambgua, heterognea, vaga e at imprecisa como referem alguns autores e, por isso
impossvel de encontrar apenas uma definio clara e consensual.
Conceito jovem no campo das cincias sociais que nasce a partir da definio das polticas culturais dos anos 60 e 70, especialmente na Europa (). A confluncia das aces e das administraes, dos agentes culturais e sociais, e o tecido associativo deste mbito favoreceram a sua gnesis, definio e desenvolvimento. No pode ser considerado um conceito homogneo e definido, e poderamos encontrar na extensa bibliografia existente sobre o tema diversos enfoques e pontos de vista. Assim, a animao scio-cultural pode converter-se num conceito definidor de polticas ou de actuaes, isto , uma autentica filosofia de interveno num territrio , uma metodologia ou uma disciplina acadmica (..). No sentido mais primognito e original, tal como a define Santcousky, a animao scio-cultural combina elementos do direito criao e expresso cultural, o respeito das singularidades individuais e colectivas, e o direito e o dever de participar nas aces culturais e sociais. (Hernandez, cit Calvo, 2006:54)
Quintana (1986), Besnard (1991), Ventosa (1993) Trilla (1998), Ander Egg (2000) so
alguns dos autores que tm vindo a teorizar acerca da ASC e como seria de prever nem todos
comungam dos mesmos princpios e fundamentos.
Encontramos esta ideia em Bento (2003:101) enquanto os autores franceses acentuam a
dimenso cultural e artstica, transmitida atravs da poltica da Educao Popular, os autores
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
9
espanhis acentuam a dimenso social, fundamentalmente apoiadas nas organizaes sociais no-
governamentais e scio-religiosas e em Besnard (1991:11-12) a animao scio-cultural um
mtodo de organizao do cio, semelhana das tcnicas de recriao norte-americana; um
movimento social de emancipao das massas; um substituto da ideologia participativa que permite
uma evoluo social sem conflitos e, ainda, um instrumento de subverso.
Calvo, tambm, se debrua sobre este tema. Para esta autora o conceito de ASC
utilizado para denominar realidades diversas e existem muitas discrepncias em volta do que se
entende. De modo a tentar encontrar uma definio que abranja todos os pontos de vista, Calvo
(2006:56-58) aps reviso de vrios autores4, enumera as seguintes caractersticas da ASC:
uma metodologia ou mtodo de interveno social e cultural (anuncia o seu
carcter intencional, o seu sentido directamente orientado para a aco e a ideia de processo e
ordem nas suas aces).
um processo racional e sistemtico, susceptvel de interveno tecnolgica
educativo (esta viso requer tarefas tais como anlise de contextos e situaes de partida, previso
de resultados, concretizao de objectivos, organizao e gesto de aces, valorizao e
seguimento das mesmas de modo a que estas se desenvolvam da melhor forma e, com maior
eficcia).
Traduz-se num conjunto de aces ou de prticas que so intencionais e
reconhecidas num projecto de interveno.
Tem lugar num territrio ou meio concreto (para a ASC o territrio o ponto de
partida e os destinatrios o fim das suas aces, programas ou projectos).
Fundamenta-se na participao do grupo ou membros da comunidade (requisito
indispensvel).
4 Petrus (1989); Ander Egg (1989); Froufe e Sanchez (1990); car (1992); Quintana (1993); De Miguel (1995); Armengol (1993); Soler (1996); Trilla (1997) Lopez de Aguileta (1997); Saz (1997) e Vega (1997).
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
10
Tem como objectivo a transformao da realidade social, a melhoria da qualidade
de vida e o desenvolvimento comunitrio, social e cultural.
De um modo geral, o conceito de animao est estritamente ligado ideia de movimento
e dinamismo. Animar no fundo dar vida ou dar alma a algo, de modo a propiciar as
transformaes sociais, nas quais os indivduos tm um papel fundamental, como afirma Toraylle
(1973:32)
Animar sempre dar alma e vida a um grupo humano, a um conjunto de pessoas entre as quais os contactos no se produzem espontaneamente, ou so mesmo impedidos e bloqueados em consequncia de coaco das estruturas sociais ou das condies de vida. Da simples ideia de dar um impulso passa-se pouco a pouco de uma aco exercida sobre os outros, sem presses sentidas directamente: suscitar e orientar iniciativas, impulsionar os outros, aumentar a sua participao na vida do grupo, organizar a vida desse grupo, provocar a reflexo.
Para alcanar este fim, a animao usa todo o tipo de actividades (ldicas, recreativas,
desportivas, sociais, culturais ou de lazer) de modo a fomentar o desenvolvimento integral dos
indivduos e a educao para a cidadania.
A UNESCO considera que a ASC um conjunto de prticas sociais que tm como
finalidade estimular a iniciativa e a participao das comunidades no processo do seu prprio
desenvolvimento e na dinmica global da vida scio-poltica em que esto inseridos5 (Ayuso,
2002:62).
Por seu lado, Trilla (2004:26) define a ASC como o conjunto de aces realizadas por
indivduos, grupos ou instituies numa comunidade (ou sector da mesma) e dentro do mbito de
um territrio concreto, com o objectivo principal de promover nos seus membros uma atitude de
participao activa no processo do seu prprio desenvolvimento quer social quer cultural.
5 Ideia partilhada por Lopes (2006:95).
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
11
Na mesma linha de pensamento Ander Egg (2000:100) entende a ASC como um
conjunto de tcnicas sociais que, baseadas numa pedagogia participativa, tem por finalidade
promover prticas e actividades voluntrias, que com a participao activa dos indivduos, se
desenvolvem no seio de um grupo ou determinada comunidade, e se manifestam nos diferentes
mbitos das actividades scio-culturais que procuram o desenvolvimento da qualidade de vida
E, Bento (2003:120-121) descreve-a como uma forma de aco scio-pedaggica que,
sem ser nica, se caracteriza pela intencionalidade de gerar processos de participao das pessoas
em reas culturais, sociais e educativas que corresponde, aos seus prprios interesses e
necessidades (que se processa a partir de duas super estruturas: contextos e instituies e que
percorre quatro dimenses operativas: mtodo, aco, mudana e contedos).
A ASC integra, assim, todos os aspectos possveis do desenvolvimento individual, sendo os
lugares onde se exerce muito diversificado. Apresenta-se, deste modo, como uma perspectiva
ampla, como um elemento transformador da vida associativa, como um espao novo de educao,
de recriao cultural e tambm de transformao social.
1.2. MODALIDADES, MBITOS E DIMENSES
Para Ventosa (2006) a ASC serve-se duma srie de espaos e recursos associados a trs
modalidades fundamentais, a Animao Cultural (centrada na realizao de actividades artstico-
culturais com a finalidade de desenvolver a criatividade, a expresso e a formao cultural atravs
da prtica e da participao dos destinatrios); a Animao Social (centrada na comunidade e
dirigida promoo associativa e ao desenvolvimento comunitrio de um determinado territrio) e,
a Animao educativa (centrada na educao e no tempo livre das crianas, jovens e adultos
atravs do jogo e das actividades recreativas em grupo, ocupando-se do desenvolvimento da
motivao para a formao permanente, recorrendo aplicao de mtodos activos e tcnicos de
participao nos processos de ensino-aprendizagem).
Ander Egg (2000), por seu lado, identifica, tambm, cinco contextos ou mbitos de aco
da ASC, sendo eles: Institucional (Animao numa Aula de Cultura, Clube Juvenil); Tcnico
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
12
(Animao Teatral, Recreativa, Desportiva, Musical, Dana); Social (Animao para Jovens,
Emigrantes); Espacial (Animao de Rua, Bairro, Cidade) e Poltico (Animao para alcanar
determinado objectivo, reivindicao, aco) e, trs mbitos geogrficos onde se desenvolve a ASC
(Animao Rural, Suburbana e Urbana). Este autor fala, ainda, dos sectores dos destinatrios que
podem ser crianas, adolescentes, jovens, adultos ou idosos.
De um modo mais simples, Lopes (2006) reconhece a perspectiva tridimensional da ASC,
destacando deste modo, a Dimenso Etria (Infantil, Juvenil, Adultos e Terceira Idade); Espao de
Interveno (Animao Urbana e Animao Rural) e a pluralidade de mbitos ligados a sectores de
reas temticas (Educao, Teatro, Tempos Livres, Sade, Ambiente, Turismo, Comunidade,
Comrcio, Trabalho entre outros)6.
Os diferentes mbitos da ASC tm como consequncia directa a existncia de diferentes
termos para designar as suas formas de actuao (Animao Scio-educativa, Animao Cultural,
Animao Teatral, Animao de Tempos Livres, Animao Comunitria, Animao Rural, Animao
Turstica, Animao Infantil, Animao Juvenil, Animao na Terceira Idade, Animao nas Prises,
Animao Termal, Animao Desportiva, Animao de Bibliotecas entre outras).
1.2.1. ASC NA INFNCIA E JUVENTUDE
No que diz respeito ASC na infncia (Lopes, 2006) esta ganha fora com o
estabelecimento da democracia em Portugal sob a forma de Animao Scio-educativa, tendo como
principal funo complementar as actividades de educao no-formal, atravs de programas
ldicos e formativos, desenvolvidos em colnias de frias, passeios e visitas de estudo, permitindo
s crianas visitar e conhecer lugares e regies at ento desconhecidas. Estes programas
destinam-se a crianas dos 8 aos 13 anos de idade e baseiam-se em processos de aprendizagens
dinmicas que resultam da partilha e interaco das crianas entre si e destas com os monitores
(dimenso inter-geracional).
6 As dimenses valorizadas para este estudo sero desenvolvidas a seguir.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
13
Para Calvo (2004) as actividades da ASC na infncia no so o fim mas sim o meio para
alcanar o seu objectivo que educar no cio. Por isso a criatividade, a componente ldica, a
actividade, a socializao, a liberdade e a participao so os princpios que a ASC, nesta faixa
etria, deve obedecer de modo a que a participao por parte das crianas seja real, geradora de
aco sem constrangimentos e castraes e por isso mesmo, fruto da envolvncia com os outros
num clima de confiana, criatividade e satisfao.
Quanto ASC na adolescncia/juventude esta fica marcada pelas transformaes
fisiolgicas e psicolgicas que acontecem nos adolescentes e jovens. Nesta faixa etria os pais e a
escola deixam de estar em primeiro plano e o grupo de pares ganha uma importncia que at ento
no tinha, dado que o adolescente/jovem sente a necessidade de se sentir aceite pelos outros, de
pertencer a um grupo regido por normas como as de noo de marca, a cultura da imagem, as
tendncias musicais e estticas (Lopes, 2006:318).
Lopes (2006:318-319) enumera os objectivos e os princpios orientadores da ASC na
juventude. No que respeita aos objectivos, estes passam por proporcionar aos jovens uma
Animao de Tempo Livre e de cio que seja educativa. Isto , que seja um meio de valorizao
pessoal e social; que fomente as prticas dos valores da democracia7; que constitua uma tecnologia
educativa que permita integrar e partilhar saberes, reas, experincias e vivncias das
aprendizagens formais; que favorea a interaco e a inter-relao dos jovens mediante uma
metodologia activa, participada, horizontal que valoriza a auto-estima e o protagonismo e, por fim
que complete a interveno da ASC junto dos jovens na vertente social (atravs do associativismo
juvenil e do voluntariado), na vertente cultural (atravs de iniciativas, como teatro e o jogo, que
valorizam a comunicao inter-jovens fazendo uso da expressividade, criatividade e da vertente
teraputica que anula as tenses, a agressividade, a violncia e as dificuldades de relao e
socializao) e, por ltimo na vertente educativa (como meio auxiliar de formas de aprendizagens
formais).
7 O associativismo juvenil considerado uma possvel escola de formao cvica e as aprendizagens podem assumir forma de aces como voluntariado, educao inter e multicultural.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
14
Dos objectivos enunciados chegamos aos princpios da ASC na juventude sendo eles a
liberdade (na procura do desconhecido), o associativismo (como meio de socializao e de
aprendizagem no que diz respeito democracia, cultura, recreio e cio), a participao (os jovens
so os principais protagonistas da aco, o que implica da sua parte uma envolvncia directa) e, o
voluntariado (como compromisso solidrio).
1.2.2. ANIMAO URBANA
A ASC em contexto urbano, como j vimos anteriormente, surge da necessidade de dar
respostas s transformaes da sociedade moderna caracterizada pela revoluo cientfica e
tcnica, pela urbanizao, pela despersonalizao e massificao, pelo nascimento da patologia
social e pela instabilidade relacional que tem como consequncia a vivncia em stress permanente
que conduz ao sentimento de frustrao, insegurana, impotncia, agitao, depresso psicolgica
e dificuldade em equilibrar o trabalho com a existncia (Lopes, 2006).
Segundo Lopes (2006) os projectos de ASC no meio urbano pretendem promover
iniciativas que valorizem a dimenso humana; impulsionar a participao atravs do acesso aos
bens culturais e promoo do dilogo inter-relacional e inter-geracional; dotar a cidade com infra-
estruturas e equipamentos culturais; facultar a utilizao das instituies ou espaos pblicos, como
por exemplo a rua, para promover actividades culturais e, promover uma cidadania activa onde
cada indivduo o protagonista das suas aces ultrapassando a apatia, a trivialidade e a rotina
estabelecendo relaes familiares com o seu semelhante e com o meio envolvente.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
15
1.2.3. ANIMAO SOCIO-EDUCATIVA
A Animao Scio-educativa um dos mbitos da ASC que tem tradio na animao em
Portugal. Esta surge nos finais dos anos 70 do sculo passado no contexto da educao no-formal
tendo como finalidade uma educao global e permanente enquadrada nas pedagogias da no
directividade de Rogers, Read, Stern e Freire.
Segundo Lopes (2006) esta aparece como consequncia da herana da educao
popular, mas que est em desuso e por isso tem sido absorvida pela matriz genrica da ASC.
Surge, ainda, associada ao modelo de animao francfono, apresentando-se como uma aco
assente em colnias de frias, campos de frias, acampamentos e outras actividades de ar livre
destinadas essencialmente infncia e adolescncia. Decorre, normalmente, ora como actividade
complementar escola, ora como aco mais prolongada e levada a cabo em pocas de frias
escolares. Procura prestar um servio comunidade, atravs da Animao do tempo livre dos mais
jovens (Lopes, 2006:385).
Esta animao apoia-se nos pressupostos da educao problematizadora8 e, por isso as
actividades desenvolvidas no so descontextualizadas nem se apresentam como um produto, pelo
contrrio assumem grande importncia no processo de crescimento individual e grupal associando-
se a componente ldica do jogo vida e s dimenses expressivas de uma criatividade que resulta
da participao activa e relacional e, por outro, s formas crticas de estar na vida, proporcionando
processos criativos de agir e interagir de modo a ter como resultado homens independentes e
abertos mudana. Assim como, se utiliza a expresso do corpo, do seu ritmo, criatividade e
movimento, como forma de explorar a comunicao expressiva e estabelecer a base para uma
educao atravs da arte (Lopes, 2006).
8 Educao defendida por Freire. Nesta e, ao contrrio do que acontece na educao bancria, no existe uma distancia entre educador
e educando, no qual o primeiro o detentor do saber e ao segundo cabe apenas ouvir e absorver tudo o que o outro disserta. Deste modo, na educao problematizadora, educador e educando trabalham em conjunto para alcanar o conhecimento. Nesta relao ambos aprendem na partilha e interaco, entre as duas partes, norteada por valores que se estabelecem a partir da participao activa e dos estmulos criativos (Lopes, 2006:388).
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
16
Neste sentido, como afirma Garcia (2004:131) os tempos e espaos da Animao Socio-
educativa representam uma das poucas oportunidades para as crianas e jovens se conhecerem de
outras maneiras e para aprenderem a ser (socialmente) teis.
1.3. ASC EM PORTUGAL
Em Portugal a ASC tem os seus antecedentes na 1Repblica prolongando-se pela
ditadura militar e Estado Novo, mas aps o 25 de Abril que ganha mxima expresso, apoiada
nos movimentos sociais, sobretudo no movimento associativo e estudantil, e nos movimentos
populares impulsionados pelos ideais que resultaram na Revoluo de Abril.
Tendo em conta os perodos temporais Lopes (2006) identifica trs fases histricas
presentes na origem da ASC no nosso pas:
Fase intemporal (a animao como processo difuso que aparece da necessidade do
indivduo estabelecer relaes sociais, culturais, polticas e econmicas com outros indivduos).
Fase da Animao ao servio de uma estratgia poltica (entre 1960 a Abril de
1974 caracterizando-se pelo seu papel nos movimentos oposicionistas em Portugal).
Fase da institucionalizao (a animao assumida pelos diferentes governos do
Portugal democrtico no perodo aps o 25 de Abril de 1974).
Segundo este autor (Lopes, 2006:95) os princpios que caracterizam a ASC no
encontram eco no Portugal do sculo XIX e meados do sculo XX, apesar de se encontrarem
programas, aces, actividades e motivaes nos campos social, cultural e educativo, que visaram
consciencializar, alfabetizar, educar, animar, os cidados com o intuito de promover neles a
capacidade de participarem, de se assumirem como sujeitos crticos e actores das suas prprias
mudanas sociais, polticas, culturais e econmicas. Estes ideais, que promovem a participao e a
interaco dos sujeitos no seu desenvolvimento social e pessoal, foram preconizados pelo 1.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
17
Repblica e levados a cabo pelos movimentos sociais geradores de prticas educativas, isto , o
movimento associativo e as sociedades de cultura e recreio, o cooperativismo, sindicalismo,
catolicismo e o laicismo educativo.
Porm com a ditadura militar e o Estado Novo estes movimentos foram condicionados e
os seus objectivos principais distorcidos. Durante este perodo
Cada sector ou actividade era enquadrado por organismos tutelares prprios, directa ou indirectamente, subordinados ao Estado (). / A cultura e as artes eram promovidas e exibidas para distrair o povo e no para o consciencializar e libertar. /O povo era colocado na situao passiva diante dos acontecimentos culturais (). Os meios de Animao estavam ao servio de uma estratgia poltica de doutrinao colectiva nos valores ideolgicos do regime, os fins em vista recorriam a meios de entretimento pblico e no propriamente a uma Animao que visasse a participao, a autonomia e auto-organizao (Lopes, 2006:107).
, portanto, a partir da Revoluo de Abril de 1974 que a ASC se consegue implementar
na vida social e cultural do nosso pas atravs da mobilizao popular que se expressou e continua
a expressar nas diversas modalidades (verbal, artstica e outras) com a finalidade de promover a
melhoria das condies de vida atravs do desenvolvimento pessoal, social e cultural dos mesmos.
1.4. ASC E A EDUCAO NO-FORMAL
O aparecimento da educao no-formal est associada crise da escola, isto da
educao formal, que se comea a fazer notar na dcada de 70 do sculo passado. O seu currculo
homogneo, indiferenciado e centrado nos conhecimentos e competncias das classes mdia e alta
originaram uma vaga de contestaes e o aparecimento de novos contributos para educao.
A contribuio mais importante era e, continua a ser, o papel activo que os indivduos tm
no seu prprio processo de aprendizagem permitindo-lhe assumir uma atitude crtica e uma
cidadania responsvel e libertadora. Neste mbito, assiste-se, ampliao do conceito de
Educao, que no se restringe mais aos processos de ensino - aprendizagem no interior de
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
18
unidades escolares formais, transpondo os muros da escola para os espaos da casa, do trabalho,
do lazer, do associativismo etc. (Gohn, 1999:7).
O reconhecimento desta realidade teve como consequncia a diferenciao, no seio da
educao, de trs conceitos (Vasquez, 1998), Educao Formal, Educao Informal e Educao
No Formal. A primeira diz respeito educao ensinada/transmitida na escola caracterizando-se
por ser obrigatria e institucionalizada no currculo do ministrio da educao e, por isso
cronologicamente graduada e hierarquicamente estruturada; a segunda refere-se educao ao
longo da vida no qual os indivduos adquirem e acumulam conhecimentos, habilidades, atitudes e
modos de pensar a partir das experincias dirias e a sua relao com o meio e, a terceira a toda
actividade organizada, sistemtica e educativa realizada fora do marco do sistema oficial.
Lopes (2006:404) afirma que no havendo um consenso do que a educao no-formal
Podemos consider-la como uma educao no regulada por normas rgidas. norteada pelos propsitos do pluralismo educativo e centrados na relao interpessoal. Apresenta ainda as seguintes caractersticas: tendncia educativa assente no pluralismo e partilha vivencial; propsito de complemento em relao educao formal; nfase na convivncia geradora de afectos; nivelamento tendencialmente horizontal das relaes humanas, aproximando as pessoas umas das outras sem as valorizar em funo de graus acadmicos; no outorgar ttulos acadmicos mas certificados e diplomas de participao; abrangncia a toda a populao, promovendo relaes e aprendizagens intergeracionais; recurso a metodologias prprias com recusa reproduo de procedimentos utilizados pelo sistema educativo institucional.
Segundo Gohn (1999:98-99) a educao no-formal suporta-se num processo com quatro
campos ou dimenses que correspondem s suas reas de abrangncia:
Aprendizagem poltica dos direitos dos indivduos enquanto cidados, ou seja a
participao em actividades grupais gera a consciencializao, por parte dos indivduos, para a
compreenso dos seus interesses e dos meios que rodeiam.
Capacita os indivduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades
e/ou desenvolvimento de potencialidades.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
19
Educao para a civilidade, isto , aprendizagem e exerccio de prticas que
capacitem os indivduos a se organizarem com objectivos comunitrios, de modo a dar solues a
problemas colectivos quotidianos.
Aprendizagem de contedos formais em espaos diferenciados (bairro
associao, organizaes, movimentos sociais, igrejas, sindicatos, partidos polticos, ONGs,
espaos culturais, escolas, etc.).
Para esta autora (1999) um dos pressupostos da educao no-formal o de que a
aprendizagem se d por meio da prtica social, sendo a experincia das pessoas em trabalhos
colectivos geradora da mesma. Neste sentido, o conhecimento d-se pela vivncia de situaes e
no pela absorvncia de contedos previamente sistematizados, no qual a ASC tem um papel
fundamental, o de prtica educativa.
Em Caride (1986), encontramos a ideia de que a ASC se projecta como uma finalidade
eminentemente educativa e que se sustm na Educao para a Liberdade; Educao para a
Participao e Democracia Cultural; Educao para a Inovao e Transformao Social; Educao
para a Identidade Cultural; Educao para a Criatividade Colectiva e na Educao para o
Desenvolvimento Autnomo e Integrado.
A Educao para a Liberdade baseia-se nas ideias de Paulo Freire, sendo entendida como
um processo de comunicao e emancipao orientada na participao democrtica. O dilogo
como actividade bsica, a desmistificao da realidade, o estmulo da reflexo e aco sobre a
prpria realidade, a luta pela emancipao ou o fomento da transformao social, entre outras so
algumas das suas caractersticas (Calvo, 2006).
A Educao para a Participao e Democracia Cultural caracteriza-se pelo pressuposto de
que a participao individual e social no apenas um instrumento para o desenvolvimento da
liberdade. Pelo contrrio um valor que aparece representado nas iniciativas, responsabilidades e
compromissos adquiridos e exercidos por todos e por cada um dos indivduos no seu meio
sociocultural (Calvo, 2006).
No que respeita Educao para a Inovao e Transformao Social esta pretende
conduzir a uma transformao nas relaes pessoais dentro da comunidade, promovendo nas
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
20
pessoas uma experincia social e cultural baseada na tomada de conscincia, na solidariedade, na
funo crtica, na qualidade de vida e respeito pelos direitos humanos, atravs das ideias da ASC
que perseguem e se orientam para a transformao social (Calvo, 2006).
A Educao para a Identidade Cultural refere-se ao facto de no existir uma cultura
universal, mas sim um relativismo cultural que permite a cada comunidade perceber e
compreender o mundo a partir das suas prprias referncias. Deste modo, a ASC na sua finalidade
educativa respeita e potencia um conceito de cultura que recriado atravs dos seus aspectos
singulares e na crtica das suas experincias colectivas (Calvo).
O papel educativo da ASC no que se refere Educao para a Criatividade Colectiva, que
pretende a transformao social, passa por garantir o desenvolvimento das relaes humanas entre
os colectivos e os grupos permitindo conciliar o valor da liberdade com a satisfao das suas
necessidades socioculturais (Calvo, 2006).
E, por fim, a Educao para o Desenvolvimento Autnomo e integrado apoia-se no
protagonismo dos sujeitos e comunidades na definio dos objectivos, estratgias, desempenho das
tarefas e seus resultados. Nesta perspectiva os indivduos convertem-se em agentes activos,
responsveis e crticos na construo da sua cultura e sociedade (Calvo, 2006).
Neste sentido, entendemos que a finalidade eminentemente educativa da ASC tem no
campo da educao no-formal um espao privilegiado para se manifestar, uma vez que este
contexto se caracteriza por proporcionar aos indivduos um conjunto de competncias e habilidades
adquiridas atravs de experiencias e vivncias em que estes participam activamente.
Partindo da diviso do universo educativo nas trs citadas reas (formal, no-formal e informal) () a ASC pode considerar-se dentro do sector no formal do universo educativo. Alem disso, as peculiaridades processuais e institucionais da ASC concordam muito bem com as caractersticas que os programas educativos no formais costumam ter: dar ateno s necessidades e aos interesses concretos das populaes receptoras, utilizao de metodologias activas e participativas, escassas ou nulas exigncias acadmicas e administrativas para a incluso nas actividades, contedos geralmente muito contextualizados, pouca uniformidade quanto a espaos e tempos. (Trilla, 2004:32-33)
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
21
1.4.1. A ASC E OS CAMPINCIOS
Em Lopes (2007:7) encontramos a ideia de que a ASC se liga a
reas nucleares e complementares que se afiguram essenciais para a sua interveno, como o exemplo da educao, entendida numa concepo que ultrapassa o espao e se estende vida, ao seu pulsar e onde a articulao da educao com programas de Animao procura um mundo de homens livres, solidrios, conscientes, participantes e comprometidos com o seu/nosso mundo, voluntrios de causas nobres e lutadores de ideais assentes nas convices de uma democracia que cumpra e realize os desideratos sociais, econmicos, culturais, polticos e educativos. Homens educados e formados de uma forma dialgica com as pessoas e o mundo, numa valorizao permanente da vida em comunho.
Assim, mais do que entreter, passar tempo, acampar durante 10 dias nas frias de vero,
os Campincios pretendem formar e consciencializar crianas e jovens, futuros adultos da
sociedade para as possibilidades, para os direitos e sobretudo para os seus deveres para consigo
mesmos e para com os outros.
Nesta consciencializao a comunidade educativa de cada colgio jesuta tem um papel
essencial. Educadores, educandos, antigos alunos e famlias devem trabalhar em conjunto para
formarem homens autnticos nas dimenses: pessoal, social, religiosa e acadmica. E, por isso,
esta consciencializao no apenas um objectivo dos campos de frias, mas dos colgios. Deste
modo, o movimento pretende dar continuidade ao trabalho que se faz durante o ano lectivo, fazendo
uso das prticas criativas e participativas da ASC, sobretudo, da animao scio-educativa, na qual
a educao no-formal tem um papel crucial.
Durante os 10 dias de acampamento os participantes so constantemente confrontados,
em primeiro lugar, pelo local em que esto (com poucos confortos), pela ausncia do ncleo
familiar (situao mais complicada, normalmente, para os mais novos e para os que fazem campo
pela primeira vez), pelos desafios que lhes exigem trabalho em equipa, criatividade, conviver com
pessoas desconhecidas e, por isso, dar-se a conhecer aos outros, saber ser flexvel e pr-se no lugar
do outro, chegar a acordos, ser tolerante e responsvel e, a ultrapassar medos e anseios.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
22
Deste modo, tal como a ASC, tambm os Campincios tem uma filosofia de vida na qual
est implcita uma concepo do Homem e da sociedade, o pressuposto que cada um constri o
seu futuro na interaco com os outros e o meio, isto , em comunidade; a adeso dos
participantes livre e a sua finalidade dar uma oportunidade a participantes e animadores de
participarem em actividades que possibilitem a mudana de comportamentos e a descoberta de si
mesmo.
Nesta linha de pensamento, ser possvel afirmar que os pressupostos da ASC esto
presentes nos Campincios, sendo um suporte fundamental para o desenvolvimento e sucesso das
actividades que promove no mbito da educao no-formal, dado que as actividades que
desenvolve situam-se fora do marco da educao formal, so planeadas, respondem a objectivos
pedaggicos e pretendem contribuir para o desenvolvimento integral dos que nelas participam.
Neste sentido, concordamos com Silvestre (2003:174) quando afirma
Pensamos, pois, que a flexibilidade, a interdisciplinaridade (sem carcter escolar) e a interexperencialidade que se podem viver nestes contextos (temporais e espaciais) educativos/formativos, fazem da E/FEE9 uma frmula, por excelncia, de interveno comunitria que pode permitir o desenvolvimento integrado e sustento da mesma, bem como dos indivduos que a constituem.
1.5. A ASC E A EDUCAO PARA A CIDADANIA E PARA OS VALORES
Frequentemente quando se fala de cidadania somos remetidos, imediatamente, para a
esfera pblica entre os cidados e o Estado. Porm o exerccio da cidadania dever abranger outros
espaos da prtica social que normalmente se mantm imunes a tal exerccio, tais como, entre
outros, os espaos familiares, os espaos produtivos ou os espaos escolares (Trindade, 2000:42).
A necessidade de despertar nas crianas e jovens uma conscincia democrtica para a
tolerncia e para abertura aos outros tem vindo, em Portugal, a ser uma preocupao patente nos
discursos dos responsveis educativos e fonte de pesquisa, tendo em conta as facetas que a
9 Educao/Formao Extra-Escolar - terminologia francesa equivalente educao no-formal.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
23
educao para a cidadania contempla. Esta educao considera a necessidade de estimular e
favorecer a criao de atitudes e hbitos de relao que favoream a maturidade scio-afectiva e
cvica em todos os planos de vida.
A aprendizagem da cidadania, na qual a educao para os valores est includa,
caracteriza-se por um processo lento e trabalhoso, uma vez que no se trata apenas de fazer
aquisies cognitivas ou de adaptar comportamentos. Pelo contrrio, na nossa sociedade
caracterizada pela constante transformao, importante acompanhar a caminhada que as
crianas e adolescentes fazem para se tornarem homens e mulheres, autnomos, participativos,
crticos e com voz na sociedade medida que vo aprendendo e assimilando os valores que
permitem viver em comunidade, a importncia das relaes interpessoais, da entre-ajuda e da
cooperao entre outros.
Para Marques (2002) os valores so bens estimveis intimamente ligados s
necessidades humanas e determinantes no comportamento humano. Para este autor (2002:16) os
valores
No so coisas mas qualidades que as coisas possuem mas que no esto nelas de um modo sensvel; (...) so estimados e inferidos, atravs da inteligncia, do sentimento e das emoes; estimar um valor apreend-lo; () produzem reaces nas pessoas; () recebem grande poder energtico dos afectos e so motivadores das atitudes e comportamentos das pessoas; apesar da inteligncia ser necessria ao processo de apreenso dos valores, so as emoes e os sentimentos que mais pesam nesse processo; () no so transmitidos ou construdos mas sim descobertos atravs da identificao, do testemunho, do exemplo e da vivncia; () possuem bipolaridade e hierarquia, ou seja os valores podem ser colocados num determinado ponto entre um extremo positivo e um extremo negativo () e subordinam-se uns aos outros uma vez que uns so mais valiosos que outros.
Por seu lado, Azevedo (2008) distingue os valores culminantes dos outros. Estes so, para
esta autora, os valores que esto associados s escolhas do sentido da vida, isto e, essenciais
escolha da tomada de deciso referentes ao melhor modo de se estar e viver a vida, o que
condiciona todas as escolhas mesmo as mais pequenas.
Assim, educar para os valores como a solidariedade, a justia, a liberdade e o respeito,
entre muitos outros convidar os outros a acreditarem que cada um responsvel pelas suas
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
24
aces e, por isso deve ser autnomo e, acima de tudo responsvel no seu pensar e agir,
fomentando aces que promovam o bem-estar individual e da comunidade da qual faz parte.
Esta uma tarefa complexa dado as caractersticas dominantes da nossa sociedade onde
impera o individualismo e a solido, a massificao dos media e um consumismo excessivo, mas
onde a ASC tem um papel essencial. Segundo Peres (2008:118) esta emerge como uma forma de
aco numa sociedade que exige cidados com cidadania. E, por isso, o seu papel passa pela
consolidao de uma cidadania activa e reflexiva reimplantada numa democracia que abarca
diferentes geraes, divulga experincias e promova dilogos entre as culturas de todos os grupos
sociais, pois a natureza da ASC precisamente dotar a pessoa como membro real dum grupo e
duma sociedade de recursos para participar de maneira real e no s protocolada (Merino,
2008:141).
Deste modo, a ASC encontra o seu papel na educao para a cidadania e para os valores
ao proporcionar s pessoas e grupos organizarem-se solidria e responsavelmente em redes
associativas (Merino, 2008;131). Pois, como afirma Lopes (2006:427) a educao para a cidadania
deve basear-se nos valores ticos, morais e outros e ser resultado de processos participativos e
comprometidos com o desenvolvimento das pessoas, uma vez que este tipo de educao liga-se
tambm ao fomento de um voluntariado solidrio, expresso na existncia de um tecido associativo
que intervm continuadamente no desejo de prestao de servios comunidade.
1.5.1. OS CAMPINCIOS E A EDUCAO PARA A CIDADANIA E VALORES
Os Campincios no desejam impor atitudes e comportamentos aos seus participantes.
Pelo contrrio, este movimento pretende, atravs da vivncia das experincias que proporciona que
cada participante assimile e apreenda os valores que o norteiam e, que os assumam como seus
nas atitudes e comportamentos adoptados ao longo da vida, pois como afirma Zabalza (2000:94)
os valores formam-se com base nas influncias que os indivduos recebem ao longo da sua vida.
A aco dos campos assenta na pedagogia inaciana, fonte de inspirao de todas as
actividades associadas aos Jesutas. Esta pretende, acima de tudo, proporcionar uma educao
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
25
onde cada um com a ajuda dos outros (participantes e animadores) se auto-educa e se forma
cidado para os outros. , por isso uma educao que exige do sujeito, aps incorporao do
contexto e da experincia, uma reflexo que conduzir a uma aco pensada e ponderada, tendo
como objectivo essencial a mudana ou transformao de atitudes e comportamentos.
Permite, deste modo, ao indivduo, o aumento dos seus conhecimentos na dupla
perspectiva de desenvolvimento integral do Homem e da sua interveno e participao no (des)
envolvimento social, econmico e cultural da comunidade e, o desenvolvimento da capacidade de
trabalho, numa atitude positiva face educao e s necessidades de aperfeioamento e
valorizao pessoal e social (Silvestre, 2003).
Deste modo, estes campos, atravs das actividades que realiza, promovem a educao
para os valores e cidadania contribuindo para o desenvolvimento pessoal e social dos seus
participantes num ambiente de abertura e disponibilidade para o servio da e comunidade; de
coerncia e integrao de valores e motivaes fomentando a autonomia, a participao, a auto-
confiana, o respeito pelo outro e o esprito crtico; a responsabilidade perante ns e os outros, a
conscincia dos deveres e dos direitos; o impulso para a solidariedade e para a participao; o
sentido de comunidade e de partilha; a insatisfao perante aquilo que injusto ou est mal; a
vontade de aperfeioar, servir, realizar; a inovao, audcia, risco; o pensamento que age e aco
que se pensa.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
26
2. ANIMADOR SCIO-CULTURAL
O desenvolvimento da ASC levou necessidade de se procurar uma definio para todos
aqueles que desempenham o papel de animador. Ao longo dos anos vrios foram os autores, como
Besnard (1991), Quintana (1993), Ander Egg (2000), Ventosa (1993) que tm vindo a definir este
profissional da animao.
Esta uma tarefa complexa dado as transformaes que o sector da animao e,
consequentemente, o estatuto do animador, tm sofrido ao longo dos tempos. Para alm dos vrios
contextos em que o animador pode exercer a sua actividade e, as diferentes funes e, tarefas que
pode executar, Lopes (2007:9-10) enumera algumas das caractersticas que se alteraram entre as
dcadas de 70/80 e a partir da dcada de 90, como podemos ver na tabela seguinte:
Dcada de 70/80 A partir da dcada de 90
Formao eminentemente prtica Formao terico-prtica de nvel secundrio (Animador tcnico-profissional) e de nvel superior (Animador tcnico superior)
exigido ao animador possuir experincia no campo prtico da animao
Chega-se a animador a partir de uma formao terica oferecida pelo espao educativo formal e, na maior parte das vezes, sem contemplar a prtica da animao
Modelo de inspirao francfona Modelo de inspirao ibrico
Profisso esmagadoramente masculina Domnio feminino
Animador militante e polivalente Perfil tcnico de animador centrado num mbito especfico
Formao de curta e mdia durao Formao centrada num percurso formativo de nvel universitrio
Tabela 1 - Caractersticas do animador nas dcadas 70/80 e a partir da dcada de 90 (Baseado em Lopes, 2007)
Ander Egg (1999), seguidor do modelo ibrico, entende o animador como o tcnico que
potencia os processos de emancipao e autonomizao dos grupos, levando-os a criar as suas
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
27
prprias respostas para os seus principais problemas, que desperta o seu potencial endgeno,
promovendo o protagonismo dos actores (Costa, 2008:39).
No nosso pas, a Agncia Nacional para a Qualificao (ANQ) considera o animador o
tcnico que promove o desenvolvimento sociocultural de grupos e comunidades, organizando,
coordenando e /ou desenvolvendo actividades de animao (de carcter cultural, educativo, social,
ldico e recreativo)10.
Tal como a Associao Nacional de Animadores Socioculturais (ANASC) que define este
profissional como aquele que, sendo possuidor de uma formao adequada, capaz de elaborar e
/ou executar um plano de interveno, numa comunidade, instituio ou organismo, utilizando
tcnicas culturais, sociais, educativas, recreativas e ldicas11.
Estas duas entidades comungam, assim, com a ideia de que o animador um tcnico
que promove actividades de cariz cultural, social, educativo, recreativo e ldico e, por isso ele um
mediador, um intermedirio, um provocador, um gestor e um agente de ligao entre o objectivo e
o grupo-alvo competindo-lhe criar movimento, vida e actividades devendo ser ele prprio vivo, activo,
comunicador, encorajador, destemido, entusiasta e optimista (Lus, 2008).
Para um profissional ser competente (no plano pedaggico, tcnico e gesto de grupos)
deve obedecer a trs condies (Lus, 2008):
Domnio do saber e conhecer as tcnicas, teorias, instrumentos e metodologias
da animao para o pblico-alvo que anima.
Domnio do querer de aprender, agir, animar, de no se acomodar, de no ter
medo de mudana, de ser activo, de ser persistente e no se deixar desanimar.
Domnio das ferramentas recursos humanos, financeiros e materiais adequados
s suas funes, pblico-alvo e objectivos.
10http://www.catalogo.anq.gov.pt.
11 http://anasc.no.sapo.pt.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
28
O animador pode ser um profissional remunerado (possuidor de qualificao profissional),
semi-profissional (remunerado parcialmente) ou voluntrio (presta os seus servios sem
remunerao podendo estar ou no qualificados para o exerccio profissional que desempenham).
Ventosa (1993) estabelece diferentes tipos de animadores socioculturais tendo em conta o
estatuto profissional que desempenham, distinguindo, assim: o animador natural ou espontneo (
o lder do grupo, possui carisma e as relaes fundamentam-se na espontaneidade e improvisao
das suas aces, tratando-se, por isso, de um animador mais informal ou ocasional); o animador
militante (membro de uma associao ou organizao de carcter voluntrio) e, o animador
profissional ( um tcnico de animao que desenvolve o seu trabalho a partir duma preparao e
contrato profissional).
Tambm Lus (2008) distingue quatro tipos de animador: o animador profissional
(formado e com diploma desempenha a funo de animador); o animador eventual (no tem
formao especfica e, por isso, partilha a funo de animao com outras pessoas); o animador
voluntrio (pode no ter uma responsabilidade na execuo, mas presta ajuda) e, animador de
passagem (normalmente so os estagirios ou pessoal temporrio).
Porm, independentemente do estatuto que possui um bom animador tem de ter algumas
qualidades que Lus (2008:26-27) enumera:
Organizado: estar atento aos detalhes e simultaneamente ter a capacidade de
planeamento.
Disponvel para o trabalho em grupo: discutir e exprimir as suas ideias, debater e
escutar.
Atento ao grupo: escutar activamente o que se diz verbalmente mas tambm o que
transparece nas atitudes e comportamentos.
Justo: ser imparcial.
Compreensivo: promover a compreenso e a empatia no fazendo juzos de valor.
Confiante: respeitar as necessidades e preferncias de cada um.
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
29
Atento e disponvel: no desenrolar das actividades sem ser omnipresente.
Responsvel: guiar o grupo para atingir os seus objectivos com audcia e
perseverana
Bom observador: ver com clareza o que se passa ao nvel da vida profunda do
grupo e, evitar a formao de subgrupos.
Paciente e socorrista: ajudar os membros em dificuldades, dar conselhos, encorajar
o grupo.
Mediador: no exigir mais do que aquilo que o grupo capaz de fazer, mas ajud-lo
a progredir.
Devoto, interessado: estar centrado sobre as pessoas de um grupo mas tambm
sobre as isoladas.
Dinmico e entusiasta: ter sentido de humor, criar um bom ambiente de trabalho.
Ter uma personalidade afirmativa: tomar decises quando necessrio, ter
autoridade sem ser autoritrio.
O animador , ento, um profissional que ganha cada vez mais importncia na nossa
sociedade. Este um Educador (o processo educativo entendido como um instrumento para a
mudana e o desenvolvimento pessoal e social. Pretende modificar atitudes e estimular para a
aco); um Agente de mudana social (o animador um tcnico em contacto com a realidade
social, um dinamizador do seu meio e um especialista no funcionamento dos grupos fomentando,
por isso, atitudes comunitrias tendo em conta os valores, a forma de pensar); um Relacionador
(que estimula e suscita as relaes e estabelece uma comunicao positiva entre as pessoas,
grupos ou comunidades); um Mediador social (a mediao como metodologia de interveno tem
os seus pilares na comunicao e nas diferenas sociais permitindo uma melhoria pessoal) e, um
Dinamizador Intercultural (promove a igualdade de oportunidades, o entendimento e compreenso
entre os membros do grupo) ( (Prez, 2005).
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
30
Desta forma, a sua interveno revela-se muito til para humanizar as relaes, pois as
chamadas sociedades desenvolvidas mostram-nos a frieza das relaes: homens e mulheres que
vivem, mas que no convivem, homens que acotovelam, mas que no se olham (). Acreditamos
que a funo do Animador, no futuro, ser marcada por uma interveno centrada em capacidades
que se ligam ao acto de animar, mas que no se esgota no mesmo (Lopes, 2007:11).
2.1. O ANIMADOR E A FORMAO DAS CRIANAS E JOVENS
Segundo Costa (2007) o trabalho do animador relativamente aos grupos juvenis tem
especificidades pelas diversas formas que os grupos podem assumir: grupos de amigos,
associaes juvenis e de estudantes, grupos informais de interveno local ou associados a
movimentos ligados igreja entre outros.
Jardim (2002, cit Costa, 2008) descreve-nos um animador de um grupo juvenil como
algum que tenta antecipar os erros dos sujeitos; que capaz de escutar e de respeitar o ritmo de
trabalho de cada um; sabe equilibrar e gerir processos, que por vezes so emocionalmente
desgastantes e dolorosos; que tendo em conta a individualidade de cada membro do grupo
direcciona os seus esforos para as motivaes, problemas e desafios dos mesmos, medida que
promove o desenvolvimento do grupo atravs das dinmicas e tcnicas que o possibilitam e que
assume com o grupo uma relao educativa. Esta caracteriza-se pela vontade mtua de comunicar
e partilhar ideias e na transmisso, sem imposio, de valores e cultura.
Deste modo, acreditamos que o papel do animador fundamental para o
desenvolvimento e crescimento de um grupo juvenil. Atravs da partilha de ideias e experincias, da
transmisso de valores, da apresentao de problemas para que em conjunto cheguem a uma
soluo, proporciona aos jovens, em conjunto, aprenderem e apreenderem os valores da cidadania.
Assim, pelas vivncias da vida em grupo os jovens aprendem a viver juntos
(desenvolvimento da compreenso do outro e a percepo das interdependncias, a aprendizagem
da gesto de conflitos, o respeito pelo pluralismo, a promoo da paz) e aprendem a ser
(desenvolvimento da autonomia e da responsabilizao pessoal, pelo que essencial valorizar as
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
31
potencialidades de cada indivduo, nomeadamente: a memoria, o raciocnio, o sentido esttico, as
capacidades fsicas, as aptides para comunicar e criar).
Sendo estes, dois dos quatro pilares da educao definidos pela UNESCO acreditamos
que o animador sem impor a suas ideias deve apoiar e incentivar os seus membros de modo a que
caminhem para uma participao activa e real na comunidade em que esto inseridos, tendo a ASC
um papel fundamental em todo este processo dado, que como afirma Alvarez (2008:190) se
falarmos de ASC para jovens, devem ser eles os prprios a trabalharem com os jovens, para que
aprendam juntos e cresam como pessoas conhecedoras da realidade, com uma viso crtica da
mesma e sobretudo sentindo-se capazes de serem os mentores da mudana social.
Assim, ao animador, colocam-se desafios complexos, essencialmente, a sua capacidade
de escutar e criticar. No que respeita promoo da participao colectiva gerir o imprevisto exige
do animador o desenvolvimento de uma aco espontnea. Neste sentido, ele poder ser encarado
como um criador e um cauteloso provocador de vontades que tenta gerir com calma os conflitos
emergentes das relaes interpessoais, que respeita a opinio dos outros, que capaz de adequar
ao contexto e que pe em prtica os valores em que acredita. Ele poderia ser entendido e
considerar-se como mais um recurso a usar na busca de solues (Costa, 2004:35).
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
32
3. PARTICIPAO INFANTIL E JUVENIL
Etimologicamente o vocbulo participao remete-nos para uma aco da qual se faz
parte e, enquanto conceito diz respeito possibilidade na tomada de deciso por parte do indivduo
que se pe em aco para alcanar determinado objectivo (Pereira, 2008). Neste sentido, podemos
dizer que a participao um acto consciente com mltiplas facetas, mas que assentam todas
numa mesma premissa essencial, a liberdade de deciso (Costa, 2008:55).
Poderemos dizer que no campo da ASC, a participao diz respeito participao social
ou comunitria, ou seja, uma participao que envolve o sentido grupal ou o sentido colectivo de
comunidade, na qual participa necessariamente a consciencializao individual. Neste sentido a
participao deve ser entendida como um direito de cidadania que implica estar informado, opinar,
intervir na vida poltica e social da comunidade () orientada para um objectivo concreto ()
organizada e intencional, pois, no se trata de uma manifestao humana espontnea, mas antes
de uma aco social coordenada e organizada (Lopes, 2006:431).
Para o desenvolvimento deste estudo importa dar ateno participao infantil e juvenil
para a qual Roger Hart (1992) deu um grande contributo com a sua Escada de Participao Juvenil.
3.1. TIPOLOGIAS DE PARTICIPAO
Em Toms (2006) encontramos a ideia de que a participao um meio de
aprendizagem que refora os valores democrticos. Esta ideia, partilhada por Lopes (2006:427)
na medida em que participar ter presentes as necessidades humanas, pensar o homem na sua
dimenso social, procurar relacionar-se e partilhar com os outros, assumir-se homem cidado
que pensa, que age, que opina, que intervm e que confere democracia formal um contedo
social.
Ao longo dos anos foram surgindo teorias sobre a participao, uma das mais utilizadas
quando se trata da participao de crianas e jovens a Escada de Participao Juvenil de Roger
Hart.(1992).
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
33
Para este autor em nenhuma sociedade a participao infantil e juvenil plena sob o
ponto de vista da participao democrtica. Neste sentido, a promoo da participao passa por
dar flexibilidade s crianas e aos jovens para que estes desenvolvam a sua identidade e promovam
actividades de acordo com as suas prprias culturas, bem como a constituio de grupos
democrticos (Pereira, 2008:18).
Influenciado por Sherry Arnstein 12(2002) Hart prope, deste modo, uma escada com oito
degraus que correspondem a diferentes etapas de participao.
12 Arnstein props uma tipologia de oito nveis de participao. De modo a clarific-los disp-los em forma de escada, correspondendo cada degrau a um nvel de poder de deciso do indivduo cidado. Os dois primeiros degraus (Manipulao e Terapia) correspondem a etapas de no participao. Os trs degraus seguintes (Informao, Consulta e Pacificao) correspondem a etapas de nveis de concesso mnima de poder e, os trs seguintes (Parceria, Delegao de poder e Controlo do cidado) a etapas de poder do cidado (Toms, 2006 e Costa (2008).
No - Participao
Participao
Iniciada pelas crianas e jovens com partilha com
os adultos
Iniciada e dirigida pelas crianas e jovens
Iniciada por adultos e partilhada com crianas
e jovens
Consulta e Informao
Delegao com Informao
Simbolismo
Decorao
Manipulao
Ilustrao 1 - Escada de Participao Juvenil de Hart (Baseado em Soares, 2006 e Costa, 2008)
-
CAPTULO I FUNDAMENTAO TERICA
34
Assim, tal como o seu antecessor, Hart (1992)
top related