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Impacto ambiental das explorações mineras 1/18
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Impacto ambiental das explorações mineiras
Projeto FEUP 2014/2015 – Engenharia química
Armando Silva e Manuel Firmino João Bastos
Equipa Q1FQI03_2:
Supervisor José Inácio Martins Monitor Hélder Xavier Nunes
Estudantes & Autores:
Ana Inês Almeida up201403522@fe.up.pt Bárbara Gomes up201403961@fe.up.pt Francisca Marques up201403396@fe.up.pt Marta Pereira up201407712@email.com Mónica Fagundes up201404980@email.com Rui Costa up201404704@email.com
Sónia Silva up201403640@email.com
Impacto ambiental das explorações mineras 2/18
Resumo
Ao ingressar na comunidade FEUP deparamo-nos com um novo desafio: a realização
de um projeto com todo o rigor e precisão que um trabalho de nível académico exige. Com a
sua elaboração estabelecemos os primeiros contactos com os outros novos estudantes da
faculdade, despertando também a nossa sensibilidade em relação ao tema do trabalho,
particularmente sobre as consequências extremamente nefastas de uma política de
extração mineira indiferente ao meio ambiente e às diferentes formas de vida.
Durante a nossa pesquisa não nos limitamos ao recurso da internet, mas também à
análise de livros técnicos, teses e obras de referência.
Ao longo do trabalho fomos fazendo pequenas descobertas que passam não só pelos
diferentes tipos de extração mineira que existem, como a tomada de consciência da enorme
dimensão que a indústria mineira possui no nosso país.
Averigua-se que são vários os problemas subjacentes a uma exploração mineira,
pelo que surge a necessidade de resolução dessas consequências nefastas. A substituição
dos metais pelo plástico, o que tem vindo a acontecer gradativamente desde a década de
oitenta, não é uma solução totalmente eficaz face aos novos problemas de índole ambiental
também gerados. Neste aspeto, a tecnologia dos plásticos tem desenvolvido matérias
degradáveis por ação dos raios ultravioletas, e desse procurado minimizar os
inconvenientes desta indústria cada vez mais florescente. Sendo assim, uma outra solução
tem de ser encontrada num equilíbrio “saudável” entre o valor intrínseco dos metais contido
na “paisagem”, e aquele que resulta dessa mesma paisagem como um todo integrante do
“conforto lúdico” e detentor de eventuais estruturas arqueológicas no contexto de um
património que urge preservar. Provavelmente uma ação integradora quanto aos métodos
de exploração e mecanismos de reabilitação possa contemplar simultaneamente os dois
objetivos em questão: economicamente, removendo os minérios, e ludicamente repondo a
paisagem.
Palavras-Chave
Mineral; Minério; Metal; Mina; Exploração Mineira; Galeria; Exploração a céu aberto;
Filão; Escombreira; Barragens de lamas; Drenagens ácidas; Impacto Ambiental.
Impacto ambiental das explorações mineras 3/18
Agradecimentos
Durante a realização deste projeto, tanto para a fase de investigação como para a
produção do relatório, “poster” científico e preparação da apresentação, foi-nos possível
contar com o apoio de várias entidades sem as quais este trabalho não se tornaria uma
realidade, ou pelo menos com o rigor pretendido.
Ao nosso monitor, Hélder Xavier Nunes, pelo apoio e constante presença em todas
as fases de elaboração deste trabalho, apresentando sempre uma postura crítica e
disponível para qualquer dúvida que surgisse.
Ao professor José Inácio Martins, por se ter disponibilizado ao esclarecimento de
dúvidas e sobretudo ao seu incentivo para a realização de um projeto e apresentação
inovadora, desmotivando-nos à realização de um trabalho monótono seguidor das mesmas
linhas daqueles projetos com que nos deparamos diariamente.
Por último, a todos os participantes da semana de receção aos novos alunos da
comunidade da FEUP, por nos apresentarem novas ou mais eficazes manobras de
pesquisa e apresentação de projetos.
Impacto ambiental das explorações mineras 4/18
Índice
1. Introdução ................................................................................................................... 5
2. Metodologias de exploração ....................................................................................... 7
3. Legislação ambiental .................................................................................................. 9
4. Impacto ambiental dos trabalhos de exploração mineiraErro! Marcador não
definido.
4.1. A poluição dos cursos de água e o seu impacto na fauna e na flora ………….12
5. Soluções ……………………………………………………………………………………. 15
6. Exemplo real ……………………………………………………………………………….. 16
Referências bibliográficas ............................................................................................. 17
Anexo 1 …………………………………………………………………….………………….. 18
Impacto ambiental das explorações mineras 5/18
1. Introdução
Atualmente, a maioria dos materiais com os quais lidamos diariamente são
compostos constituídos totalmente ou parcialmente por metais. Este facto deriva muito
naturalmente das propriedades dos metais: a dureza e maleabilidade possíveis de controlar
através do processamento e tratamentos térmicos, que permitem um amplo campo de
aplicações, como sejam, na indústria dos automóveis; o brilho desejado em elementos
decorativos; e a condutividades térmicas e elétricas tão necessárias quando está em jogo o
transporte de corrente elétrica ou transferência de energia térmica.
Os metais não ocorrem na natureza sob a forma elementar, mas sim combinados
com outros elementos não metálicos sob a forma essencialmente de óxidos e sulfuretos.
Com uma composição química bem definida, os minerais são compostos inorgânicos
com uma composição química bem definida que se encontram no estado sólido. As
concentrações anormais de um dado mineral constituem jazidas, e quando estas sejam
suscetíveis de ser exploradas economicamente são designadas por jazigos de minérios.
Desta forma, um mineral em determinado período de tempo pode tornar-se um minério, e no
futuro deixar de o ser no momento em que os lucros da sua venda não superarem os custos
de extração. (Magalhães 2009)
Em Portugal, a indústria da extração mineira é alargada e acredita-se que tende a
expandir-se: “Portugal poderá produzir mais 300% de minérios metálicos, passando dos 600
milhões de euros extraídos no ano de 2012 para os 2,5 mil milhões” no ano de 2025. (Pinto
2012)
A extração de minérios pode ser feita essencialmente com o recurso a métodos de
exploração subterrâneos (poços e galerias) e a céu aberto, sendo que o processo de
“bateia” consubstancia um método de natureza hidráulica. Na escolha do método entram
como parâmetros a topografia do terreno e o tipo de filão. De entres métodos, os
trabalhados em subsolo são os de maior risco, podendo os trabalhadores estar sujeitos a
derrocadas e intoxicações ou explosões resultantes de gases acumulados e no momento
libertados. (Mineiro 1999)
As explorações também afetam o meio ambiente: modificam a envolvente do local,
por via da remoção de solo e aterro de resíduos na proximidade; e a possibilidade de
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contaminação atmosférica e das águas, quer superficiais quer subterrâneas. Por todos estes
motivos, a legislação tem vindo a sofrer alterações para que as consequências das
explorações sejam menos significativas, impondo às empresas mineiras, por exemplo, o
tratamento dos efluentes ou a reabilitação da zona atingida pela exploração quando esta
deixar de estar em funcionamento permanente. (Magalhães 2009)
No entanto várias minas, num passado recente, foram abandonadas sem o
necessário cuidado inerente ao impacto ambiental entretanto introduzido na paisagem local,
e que, por esse motivo, são hoje em dia um problema alarmante para a natureza e
consequentemente para o próprio homem. Em Portugal são vários os casos de minas
abandonadas, entre os quais o complexo mineiro de Jales. (Gonçalves 2011)
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2. Metodologias de exploração
Um empreendimento mineiro compreende três fases: a prospeção e pesquisa, a
extração e a gestão de resíduos pós-operação.
Na primeira fase procede-se ao reconhecimento geoquímico e geofísico do local a
explorar através de sondagens e trincheiras. Após um estudo de viabilidade edifica-se a
lavaria, e de seguida iniciam-se os trabalhos de desmonte e tratamento do minério, o que se
concretiza na extração, britagem e moagem do minério, e na posterior separação física e
química das diferentes espécies de minerais – separa-se o minério da ganga. (Cavadas
2012)
A exploração a céu aberto consiste na extração de minério que se encontra em
contacto com o ar livre, através de sucessivos desmontes em áreas abrangendo o filão e
demais massa sólida circundante. Esta metodologia é frequente na exploração de rochas
ornamentais, e quando o “catoff” (teor) do minério permitir uma remoção descriminada de
solo.
Nas explorações subterrâneas utilizam-se poços e galerias na peugada do
desenvolvimento do filão, isto é., o “cutoff” não permite uma escavação indiscriminada do
solo.
O custo deste tipo de trabalhos é substancialmente maior que o do das explorações a céu
aberto, contudo o impacto ambiental é menor. Efetivamente, pode-se fazer uma gestão
adequada dos resíduos sólidos, isto é, vai-se tapando o que já não for utilizável. Contudo, a
capacidade de extração do minério é inferior e o risco muito laboral superior. (Mineiro 1999)
A exploração por perfuração acontece quando o jazigo, embora subterrâneo, é
explorado sem necessidade de se abandonar
a superfície, por exemplo a partir da remoção
do material por introdução de água, minas de
sal-gema, ou por alteração da pressão no
solo, plataformas petrolíferas. (Mineiro 1999)
Neste trabalho será aprofundado o
método de exploração a céu aberto,
representado na figura 1. Figura 1 Mina de diamante a céu aberto em Sakha, Rússia
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A mineração a céu aberto é geralmente usada para explorar um depósito próximo da
superfície da Terra ou nos casos em que exista um rácio baixo de uma quantidade de
material não mineralizado cujos custos de remoção sejam compensados pelo lucro da
exploração do minério, ou seja, nas operações a céu aberto consegue-se atingir um grande
nível de produtividade, um custo operacional baixo e um nível de segurança elevado.
Neste tipo de exploração, quando se trata de corpos mineralizados próximos da
superfície o material é geralmente extraído num sistema de bancadas, com a utilização de
explosivos para executar o arranque e meios mecânicos para remover o material abatido.
(Cavadas 2012)
Se a espessura da massa mineral é muito fina, e o valor do
minério é baixo utiliza-se um método de desmonte por grandes trados
horizontais que permite a remoção exclusiva do minério sem tocar na
rocha encaixante. Este método chama-se “augering” e é muito utilizado,
por exemplo, na extração de carvão. O mesmo pode ser visualizado na
figura 2.
Dentro do método a céu aberto também existem outras variantes
como, por exemplo, os métodos hidráulicos de extração que dependem
exclusivamente de água ou outro líquido. Este método é comumente
utilizado em explorações de ferro, sulfatos, caulinos, diamantes, óleo de
antraceno, entre outras substâncias. Trata-se de um processo que utiliza altas pressões
para arrancar as massas mineralizadas. Um
destes processos denomina-se dragagem e
consiste na extração do minério
mecanicamente ou hidraulicamente em
embarcações flutuantes, demonstrado na
figura 3. (Cavadas 2012)
Figura 3 Dragagens
Figura 2 Auger Mining
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3. Legislação ambiental
O conteúdo da Legislação Portuguesa relativa à exploração mineira apenas
consagra um capítulo relativo à metodologia de trabalho, isto é, os cuidados que os
trabalhadores devem tomar de modo a diminuir os impactos ambientais mencionados no
decurso do trabalho. (Portugal. 1917)
O Capítulo VIII é geral, e, por isso, cada exploração mineira deve ser precedida de
um estudo avaliativo e adaptativo quanto ao modo “operandis” antes e depois da
exploração, conforme transcrição que se segue. (República 1990)
CAPÍTULO VIII
Da preservação da qualidade do ambiente e da recuperação paisagística Artigo 54º
Proteção do Ambiente:
1 - Aos titulares de direitos de prospeção e pesquisa ou de direitos de exploração compete
tomar as providências adequadas à garantia da minimização do impacte ambiental das
respetivas atividades.
2 - Sem prejuízo da demais legislação aplicável, será obrigatória nas atividades a que se
refere o número anterior, antes ou durante o seu exercício, a adoção das seguintes
medidas:
a) Utilização de equipamentos de perfuração dotados de recolha automática de poeiras ou,
em alternativa, de injeção de água, tendo em vista impedir a propagação ou evitar a
formação de poeiras resultantes das operações de perfuração;
b) Combate à formação de poeiras dentro da área da exploração e respetivos acessos, pela
utilização de sistemas adequados, nomeadamente de aspersão com água;
c) Nos casos em que as explorações ponham em causa o normal abastecimento de água
das populações, garantia, em qualidade e quantidade, da reposição da normalidade desse
abastecimento, por recurso a meios alternativos, nomeadamente o prévio tratamento das
águas e a reconstituição das origens das mesmas;
d) Comunicação à Direcção-Geral de eventuais achados arqueológicos;
e) Nas explorações a céu aberto, armazenamento do solo de cobertura, tendo em vista a
posterior reconstituição dos terrenos e da flora, de acordo com o previsto no n.º 5 do artigo
12.º do Decreto-Lei n.º 90/90, de 16 de Março.
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3 - Para os efeitos previstos nas alíneas a) e b) do número anterior, será, de igual modo,
aceitável qualquer outro método ou dispositivo tecnicamente adequado à satisfação do fim
visado.
4 - Nos casos previstos na alínea e) do n.º 2 do presente artigo, sempre que não seja
tecnicamente viável, por qualquer motivo, proceder à reconstituição dos terrenos, por
implantação do anterior solo de cobertura, deverá ser reposta, tanto quanto possível, a
primitiva situação, se outra obrigação não decorrer da aplicação do disposto no n.º 5 do
artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 90/90, de 16 de Março.
5 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, poderá a Direcção-Geral impor
medidas especiais para a proteção do ambiente, designadamente a implantação de
barreiras antirruído, cortinas arbóreas e tratamentos especiais de efluentes, com
observância das recomendações técnicas emanadas dos órgãos ou serviços competentes
da Administração.
6 - Ficam sujeitas a estudos de impacte ambiental as explorações com área superior a 5 há
e ou com uma produção anual superior a 150000 t.
Artigo 55.º
Recuperação paisagística
A exploração e o abandono dos depósitos minerais ficarão sujeitos, para além do previsto
na alínea e) do n.º 2 e no n.º 5 do artigo anterior, designadamente, às seguintes medidas:
a) Construção de instalações adaptadas, o mais possível, à paisagem envolvente;
b) Finda a exploração, à reconstituição dos terrenos para utilização segundo as finalidades
a que estavam adstritos antes do início da mesma, salvo se de outro modo tiver sido
estabelecido em plano aprovado pelas entidades competentes.
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4. Impacto ambiental dos trabalhos de exploração mineira
Tendo em conta os processos de extração mineira, temos que considerar que todas
as etapas carregam consigo implicações que afetam o ambiente envolvente.
Assim, são de notar diversos impactos ambientais, que ocorrem maioritariamente
pela extração de grande quantidade de material do subsolo, do qual resulta a ganga
depositada depois nas escombreiras.
É importante referir que, mesmo que a mina seja encerrada, estes impactos
permanecem por longos períodos de tempo, pelo que a ações remediativas destes efeitos
devem ser tomadas num curto intervalo de tempo. Vejamos alguns dos efeitos introduzidos
pelas explorações no meio ou ambiente local: (Quercus 2013)
Erosão do material das escombreiras e fratura e fissuração do local
Todos os processos de fissuração e escavações envolvidos provocam a alteração dos
padrões de escoamento subterrâneo das águas, o que por sua vez leva à modificação do
leito dos rios se é feita a exploração de areias em meios fluviais. (Mirão 2007)
Perturbações paisagísticas
A acumulação de produtos estéreis e rejeitados da extração, designados por ganga,
resulta numa modificação da área paisagística, sendo este o impacto dominante numa
exploração mineira. (Rolo 2007)
Libertação de compostos possivelmente tóxicos
O processamento do mineiro é um processo de extração que liberta muitos gases com
componentes tóxicos, prejudiciais não só para os trabalhadores como também para toda a
biodiversidade envolvente.
Do mesmo modo, determinadas explorações, além de compostos químicos tóxicos,
libertam radiações (minas de urânio), substância e partículas que podem causar doenças.
(Rolo 2007)
Poluição do solo e dos cursos de água
Os constituintes químicos e tóxicos resultantes da extração mineira são absorvidos para
o solo e, ao atingir maior profundidade, para as águas, modificando os ecossistemas.
Os contaminantes na água podem ser transportados para outros locais, existindo assim
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o risco de contaminação de outros habitats em áreas vizinhas ou ainda solos usados para a
agricultura, próximos da área de exploração mineira. (Mirão 2007)
Perturbações ecológicas
Todos estes efeitos têm como consequência secundária a perda de habitats, por
escavações e construção de infraestruturas, como exemplo, contribuindo para a perda de
biodiversidade e desequilíbrio dos ecossistemas, terrestres e aquáticos. (Rolo 2007)
4.1 A POLUIÇÃO DOS CURSOS DE ÁGUA E O SEU IMPACTO NA FAUNA E NA FLORA
As fases de extração, desmonte e tratamento do minério, e de gestão dos resíduos
são aquelas que têm maior probabilidade de afetar o meio ambiente, nomeadamente os
cursos de água na zona envolvente das minas. Possíveis consequências destes processos
são a descarga de águas ácidas e contaminantes (metais pesados, compostos orgânicos
originados nas reações químicas usadas no processo de separação dos metais, cianetos no
caso do ouro, e amónia), a erosão e assoreamento de lagos e linhas de água e, finalmente,
a descarga de contaminantes em águas (metais pesados quando exista uma escorrência
natural de meios ácidos). (Gonçalves 2011)
As escombreiras e as drenagens ácidas são as principais fontes de contaminação
ambiental.
As drenagens ácidas são descargas de águas contaminadas por metais pesados e
compostos orgânicos originados nas reações químicas usadas nos processos de separação
do minério. Estas são sujeitas a um tratamento químico pouco eficiente, pelo que ocorre a
descarga direta de efluentes gerados na mina e desta para as linhas de água, contribuindo
para a infiltração de poluentes nos aquíferos. (Gonçalves 2011)
A poluição por metais residuais provenientes da extração mineira e das indústrias de
produção e processamento de metais pode danificar a saúde das plantas e animais
marinhos.
As escombreiras são depósitos superficiais de ganga resultante da atividade mineira;
estas resultam ou resultaram duma intensa atividade mineira que contribuiu para a
contaminação (por metais pesados, substâncias utilizadas no tratamento do minério, etc.)
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dos sistemas ambientais que envolvem a respetiva escombreira. Quando os resíduos não
são convenientemente tratados, ficam sujeitos à erosão e fenómenos de oxidação por
hidrólise (lixiviação). As lixivias produzidas por ação das águas de escorrência infiltram-se
nos solos e, consequentemente, acidificam os terrenos circundantes e contaminam os solos
com os metais transportados, descarregando posteriormente nos cursos de água naturais.
Deste modo, a degradação da qualidade da água desses cursos de água torna-se
inevitável, reduzindo a capacidade da existência de flora e fauna, e consequentemente terá
de se procurar proceder ao seu tratamento. (Gonçalves 2011)
Também as “bacias de decantação” semi-impermiabilizadas associadas às minas
constituem um preocupante foco de contaminação, uma vez que estas não proporcionam
um tratamento eficiente quando o nível de percolação dos solos é elevado.
A contaminação dos cursos de água está relacionada com os seguintes fatores: (EDM -
Empresa de Desenvolvimento Mineiro 2008)
Tipo de minérios extraídos: alguns minérios são mais solúveis que outros, e
contribuem de modo significativo para a poluição dos cursos de água com metais;
Químicos utilizados na preparação e extração dos minérios: o ácido sulfúrico, por
exemplo, é muito utilizado nestes processos em processos de flutuação, e contribui
para aumentar a acidez das águas;
Clima: o clima influencia a temperatura e quantidade de água existente nas zonas
envolventes às minas, o que faz variar a capacidade de contaminação;
Tempo de vida da mina: uma mina que esteja no pico do seu processo extrativo tem
um potencial de contaminação de água muito superior ao de uma mina próximo de
ser abandonada;
Políticas ambientais adotadas: cabe à empresa responsável pela exploração de
cada mina adotar medidas que permitam reduzir as probabilidades de contaminação
dos cursos de água, ajudando, assim, a proteger o ambiente.
Outras consequências, a nível ambiental, das explorações mineiras são, por exemplo, os
movimentos em massa e a poluição visual.
As modificações na morfologia, a perda de solo, a alteração da qualidade da água, a
inevitável perda de vegetação e as modificações na rede de drenagem causadas pela
exploração e aliadas às escombreiras ou mesmo às galerias subterrâneas podem induzir,
nas zonas envolventes, um aumento do risco de desprendimentos, deslizamentos dos
taludes, assim como abatimento de terrenos (subsidências) e aumento da carga sólida dos
cursos de água, com assoreamentos e consequentes inundações. (Geostones 2012)
Impacto ambiental das explorações mineras 14/18
A poluição visual faz-se notar pelas grandes crateras e lagos, paredões e áreas
devastadas que é possível observar nas zonas envolventes a minas, e que, muitas vezes,
não podem ser recuperadas.
Os cursos de água contaminados poluem, sucessivamente, os solos, a fauna e a
flora.
(Gonçalves 2011) afirma, “As plantas e os animais, por dependerem das condições
dos solos e da água, podem ser atingidos por não conseguirem suportar as condições de
acidez e toxicidade. A existência de vegetação autóctone pode ser mesmo fortemente
atingida ou mesmo destruída pela toxicidade inerente a certos teores de metais pesados,
quer pela excessiva acidez do substrato, que pode interferir na disponibilidade de nutrientes
essenciais”.(Gonçalves 2011)
Assim, as perturbações ecológicas induzidas pelas atividades mineiras resultam na
perda de biodiversidade e no desequilíbrio dos ecossistemas, tanto terrestres como
aquáticos, existentes nas áreas afetadas. (Costa 2000)
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5. Soluções
Neste sentido, importam ser implementadas medidas com vista a minimizar os impactos
ambientais químicos e físico-paisagísticos provocados pela exploração mineira: (Figueiredo
2008)
Utilizar técnicas de extração mais controladas;
Valorizar, reutilizar e reciclar equipamentos metálicos;
Atualizar a legislação, tornando-a mais rigorosa e adequada ao contexto
científico atual;
Apostar na recuperação e valorização dos habitats e linhas de água
presentes na área explorada, utilizando técnicas de remediação, controlando
a erosão nas zonas de maior declive, procedendo ao devido tratamento das
drenagens ácidas que impedem o desenvolvimento de cobertura vegetal;
Armazenar a ganga e os estéreis provenientes da extração do minério, para
posterior utilização;
Vigiar a qualidade dos solos e da água;
Iniciar ações de reflorestação, promovendo sempre que possível a
regeneração de espécies autóctones;
Desenvolver projetos destinados ao lazer, como áreas verdes, recintos
desportivos, lagos e anfiteatros
Desenvolver Parques Temáticos Turísticos, criando algum aproveitamento
económico das infraestruturas abandonadas aliando o cultura e a tradição
mineira portuguesa ao conhecimento técnico-científico.
Os produtos de cal e outros minerais, por exemplo a calcite, desempenham um papel
chave no tratamento dos efluentes resultantes dos processos de extração de metais não
ferrosos.
É óbvio que, como nenhuma mina é igual a outra, é complicado encontrar soluções
padronizadas. Desta forma, as indicações apresentadas são genéricas, aplicando-se, talvez,
apenas à maioria das minas cuja exploração é feita a céu aberto.
Assim, será sempre necessário analisar criteriosamente cada caso, considerando
todos os parâmetros envolvidos, de modo a encontrar uma solução ideal e específica para o
problema em causa. (Carvalho 2005)
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6. Exemplo real
RECUPERAÇÃO DA ESCOMBREIRA DA ÁREA MINEIRA DE JALES
Já desde o império romano que, pela região de Vila Pouca de Aguiar, se exploraram os
recursos geológicos. No auge da sua exploração, chegaram a trabalhar nesta zona cerca de
800 trabalhadores que extraíam cerca de 30 quilos de ouro por mês. Contudo, as minas de
Jales, as últimas de onde se extraiu ouro em Portugal, fecharam na década de 90, e foram
deixadas ao abandono até hoje em dia. (Gonçalves 2010)
Em 2003, foram iniciados os trabalhos de reabilitação da escombreira que tiveram como
objetivo resolver os seguintes problemas: (Figueiredo 2008)
Instabilidade geotécnica e erosiva
Contaminação dos solos, águas e aluviões
Poluição eólica
Impacte visual
Desordem urbanística e paisagística
Procederam-se a trabalhos de compactação do solo e de modelação de taludes, foram
instaladas telas bentoníticas e de impermeabilização, e foi, ainda, coberta com terra vegetal.
Encontra-se no anexo 1 imagens a Mina de Jales antes e depois da sua recuperação,
em que o terreno foi aproveitado para a prática de desportos como BTT. (Geostones 2012)
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Referências bibliográficas
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EDM - Empresa de Desenvolvimento Mineiro, SA. Projecto e Obra de Recuperação Ambiental da Escombreira da Área Mineira de Jales 2008 [cited 10/10/2014. Available from http://www.edm.pt/html/proj_jales.htm.
Figueiredo, Sandra Valente; Elisabete. 2008. Feridas abertas na terra: da degradação dos sítios mineiros à sua recriação patrimonial – o caso das Minas da Panasqueira, Departamento de Ambiente e Ordenamento; Secção Autónoma de Ciências Sociais, Jurídicas e Políticas, Universidade de Aveiro, Coimbra.
Geostones. Escombreiras, 16/05/2012 2012 [cited 09/10/2014. Available from http://geostones.blogspot.pt/2012/05/escombreiras.html.
Gonçalves, Anselmo Casimiro Ramos. 2010. Impactes Ambientais Em Áreas Mineiras Activas – O Caso da Ribeira do Bodelhão Minas da Panasqueira. In II Seminário Ibéro-Americano de Geogria Física. Universidade de Coimbra.
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Magalhães, Jorge. 2009. Elementos. Lisboa: Santillana Constância. Mineiro, Instituto Geológico e. Regras de Boa Prática no Desmonte a Céu Aberto 1999
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Anexo 1
Figura 4 Escombreira de Jales antes de ser intervencionada (2003)
Figura 5 Vista geral da escombreira recuperada (Junho 2006)
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