afrocomplementarismo
DESCRIPTION
As TICs favorecemTRANSCRIPT
![Page 1: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/1.jpg)
1
O ldquoAfrocomplementarismordquo no ciberespaccedilo africano
Celestino Joanguete
Abstract
The title of this study is an excerpt from a chapter in a research about ldquoMigration of
Mozambican Media Content into the Digital Erardquo The study is a reflection about the
inclusion of African Languages in the process of content production through
Information and Communication Technologies ICTs Applying the ldquoAfro-
Complementarismrdquo as a theoretical framework the study presents as a basis for
research the binomial African languagesICTs a relationship whereby ICTs take on the
mediation role to arrive at the Information and Knowledge Society The reflection puts
into context a discussion on the status of ICT development in Africa and the academic
demand for a place in the cyberspace for African languages
Resumo
O tiacutetulo deste estudo eacute o excerto do capiacutetulo do projecto de pesquisas sobre a
ldquoMigraccedilatildeo de Conteuacutedos dos Media Moccedilambicanos para a Plataforma digitalrdquo O teor
do trabalho reflecte sobre a questatildeo da inclusatildeo das liacutenguas africanas no processo de
produccedilatildeo dos conteuacutedos atraveacutes das Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TIC)
Com base numa teoria designada ldquoafrocomplementarismordquo o estudo apresenta o
principal eixo de investigaccedilatildeo o binoacutemio liacutenguas africanas TIC uma relaccedilatildeo em que a
TIC assume o papel de mediaccedilatildeo para o alcance da Sociedade de Informaccedilatildeo e de
conhecimento A reflexatildeo contextualiza as discussotildees sobre o estaacutegio da TIC em Aacutefrica
e as reivindicaccedilotildees acadeacutemicas de um lugar das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
2
A situaccedilatildeo da migraccedilatildeo tecnoloacutegica em Aacutefrica
Contextualizaccedilatildeo
A desregulamentaccedilatildeo do mercado das telecomunicaccedilotildees e a expansatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas de comunicaccedilatildeo foram os marcos que deram iniacutecio agrave Sociedade de
Informaccedilatildeo Tentou-se passar da declaraccedilatildeo dos princiacutepios agrave acccedilatildeo reafirmando os
princiacutepios assinados na na Conferecircncia de Genebra de 2003
A Agenda de Tunis e os respectivos compromissos assinados na Conferecircncia de
Genebra de 2003 marcaram a efectivaccedilatildeo da Sociedade de Informaccedilatildeo sobretudo
quando as naccedilotildees pobres levantaram as questotildees relativas ao financiamento para fazer
face aos desafios da TIC e a sua implementaccedilatildeo (Agenda de Tunis 2005)
Parafraseando Mcquail (2003) a ldquoSociedade de Informaccedilatildeordquo remete-nos para os anos
60 do seacuteculo passado no Japatildeo aportando um significado associado ao conceito de
sociedade Poacutes-Industrial que se caracteriza essencialmente pela predominacircncia de
trabalhos e empregos que se suportam na informaccedilatildeo no conhecimento cientiacutefico na
utilizaccedilatildeo e transferecircncia de dados no recurso ao conhecimento e no aprofundamento
de relaccedilotildees interpessoais
Embora se fale de uma Sociedade de Informaccedilatildeo Toureacute (sd) e Jensen (2009)
especialistas estudos das TIC em Aacutefrica observaram nas suas pesquisas que muitos
paiacuteses africanos ainda estatildeo atrasados em termos de implementaccedilatildeo das tecnologias
baacutesicas que os catapultem para a Sociedade de Informaccedilatildeo Dois factores estatildeo na base
desse atraso baixo niacutevel de rendimento e agrave falta de uma infra-estruturas de Tecnologia
de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TIC) Destes constrangimentos resulta que a maioria
3
dos paiacuteses africanos das regiotildees rurais natildeo possui o acesso agrave telefonia baacutesica nem a
ligaccedilatildeo agrave Internet
Estudos desencadeados pelo organismo Perspectiva da Economia Africana (PEA) que
se dedica ao estudo do desenvolvimento econoacutemico daAacutefrica indicam que a baixa
taxas de penetraccedilatildeo da Internet no continente e a alta taxa das tarifas dos serviccedilos da
Internet resultam da falta de redes internacionais de alta capacidade o que leva os
operadores a praticarem preccedilos acima da meacutedia
Adeya (2001) natildeo partilha plenamente este sentimento de que se regista um atraso total
ddo continente africano em mateacuteria das TIC Pois De acordo com a autora a Aacutefrica estaacute
a registar progressos consideraacuteveis nas TIC mas de forma regionalizada A
pesquisadora reconhece que apesar de pequenos progressos ainda prevalecem alguns
constrangimentos como infra-estruturas ausecircncia de poliacutetica de TIC ou sua
implementaccedilatildeo iliteracia fraco conhecimento sobre as TIC em todos os niacuteveis desde
fornecedores aos usuaacuterios constrangimentos financeiros etc ( Adeya 20015)
Estudos apresentados por Jensen (2009) indicaram que ateacute Dezembro de 2007 apenas
5 da populaccedilatildeo africana tinha uma ligaccedilatildeo agrave Internet e a penetraccedilatildeo da banda larga
era inferior a 1 Poreacutem nos uacuteltimos anos tecircm ocorrido melhorias significativas na
adesatildeo agrave economia global ligada agrave rede Jensen (2009) afirma ainda que um estudo
africanos publicado recentemente encontrou a maior edificaccedilatildeo de infra-estruturas de
telecomunicaccedilotildees de longa distacircncia Acrescenta ainda que 17 paiacuteses africanos
beneficiaram de mais mil milhotildees de doacutelares em contratos para cerca de 30000 km de
fibra oacuteptica com empreacutestimos proveniente de bancos chineses particularmente da
China Exim Bank
4
Entretanto natildeo faltam esforccedilos para melhorar a qualidade de conectividade um vez
que estaacute sendo instalado ao longo da costa africana ocidental um cabo submarino de
Fibra Oacuteptica SAT-3 que vai fornecer serviccedilo telecomunicaccedilotildees de alta qualidademas
o seu acesso estaacute limitado aos membros do consoacutecio que estatildeo a construir a ligaccedilatildeo
Paralelamente desde meados de 2007 os operadores das telecomunicaccedilotildees jaacute tecircm a sua
disponibilidade serviccedilos de telecomunicaccedilotildees internacionais e de conectividade
oferecidos pelas empresas americanas Poreacutem as tarifas praticadas satildeo as mais altas do
mundo situando-se na ordem dos 25 000 Doacutelares em cada mecircs pagas por cada
operadora Estes valores satildeo considerados demasiados altos por maioria dos paiacuteses
africanos ( PEA 2010)
Face agrave tentativa de reduzir os elevados custos de serviccedilos das telecomunicaccedilotildees e
aumentar a conectividade no continente africano o Banco Mundial disponibilizou 424
milhotildees de Doacutelares americanos para impulsionar as redes regionais na Aacutefrica Austral e
Oriental no acircmbito de Programa de Infra-estruturas de Comunicaccedilatildeo do qual se espera
originar um maior fluxo de Internet em pelo menos 36 ao ano e baixar os custos da
largura da banda em um deacutecimo (PEA 2010)
De acordo com a Uniatildeo Internacional das Telecomunicaccedilotildees e em consonacircncia com as
estimativas do Banco Mundial o preccedilo medio de uma ligaccedilatildeo de Banda Larga na Aacutefrica
subsaariana eacute de cerca de 110 Doacutelares para 100 kilobytes por segundo Na Europa e na
Aacutesia Central o preccedilo eacute de 20 Doacutelares para 100 kilobytes por segundo enquanto na
Ameacuterica Latina e Caraiacutebas eacute de 7 Doacutelares Os paiacuteses do meacutedio oriente e da Aacutefrica do
Norte pagam abaixo dos 30 Doacutelares pelo mesmo serviccedilo Por isso o custo de Internet
em Aacutefrica eacute mais alto comparativamente com os paiacuteses ocidentais (PEA 2010)
5
Adeya (2001) e Ajayi (2002) em trabalhos separados apresentam pontos de
convergecircncia das suas posiccedilotildees argumentando que a fraca massificaccedilatildeo das
tecnologias de informaccedilatildeo e de comunicaccedilatildeo no nosso continente associa-se a factores
que tecircm a ver com a fraqueza das poliacuteticas puacuteblicas e a pobreza material e tecnoloacutegica
Entretanto vaacuterios factores explicam essa situaccedilatildeo
i) no ambiente regulatoacuteria da comunicaccedilatildeo o grosso nuacutemero de paiacuteses africanos natildeo
abre os seus mercados para a concorrecircncia entre as empresas fornecedoras de serviccedilos
de Internet
ii) Inexistecircncia de infra-estruturas tecnoloacutegicas e o seu alto custo de acesso
iii) muitos paiacuteses africanos natildeo datildeo adequada facilidade de alocaccedilatildeo do seu espectro
radiofoacutenico para o uso das telecomunicaccedilotildees e operadores de Internet a outras
entidades nacionais ou regionais situaccedilatildeo que resulta no congestionamento da banda
iv) menos abertura do mercado governamental para o investimento do sector privado
Em suma Jensen (2009) descreve o cenaacuterio das TIC em Aacutefrica de seguinte modo
Ao mesmo tempo que o acesso TIC no continente eacute de um modo geral muito baixo a
grande disparidade nos niacuteveis de rendimento na dimensatildeo da populaccedilatildeo e nas poliacuteticas
relativas agraves infra-estruturas das telecomunicaccedilotildees provocou niacuteveis desiguais de
distribuiccedilatildeo Por exemplo mais de 75 por cento das linhas fixas encontram-se em
apenas 6 das 53 naccedilotildees africanas De igual modo quatro dos 53 paiacuteses em Aacutefrica
representam quase 60 por cento dos utilizadores da Internet na regiatildeo e apenas 22 dos
53 paiacuteses tecircm banda larga Paiacuteses com populaccedilotildees com acesso agrave Internet com mais de 1
milhatildeo de pessoas (por ordem de tamanho) Nigeacuteria Marrocos Egipto Aacutefrica do Sul
Sudatildeo Queacutenia Argeacutelia Tuniacutesia e Zimbabueacute (Jensen 2009)
6
No mesma linha discursiva mas na perspectiva de conectividade Castells (2007)
salienta que a baixa penetraccedilatildeo da Internet nos paiacuteses em vias de desenvolvimento estaacute
relacionada com a falta de infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees de fornecedores de
serviccedilos e de conteuacutedos de Internet assim como das estrateacutegias de combate agrave
infoexclusatildeo (Castells 2007 230)
Obijiofor (2008) reforccedila a ideia da importacircncia da TIC como ferramenta de
desenvolvimento socioeconoacutemico em Aacutefrica Descreve as TIC como uma consequecircncia
histoacuterica que comeccedila durante o periacuteodo da revoluccedilatildeo industrial e afirma que foi com
base na experiencia histoacuterica que as tecnologias constituem a base para o crescimento
econoacutemico e desenvolvimento de paiacuteses Mas para o caso africano a discussatildeo sobre as
TICs e sua inclusatildeo na agenda poliacutetica aleacutem da questatildeo do fluxo unilateral de
informaccedilatildeo dos paiacuteses ricos para os pobres resulta tambeacutem da exclusatildeo sistemaacutetica
do continente pelos paiacuteses industrializados que tentavam concentrar em si o
protagonismo no mercado das telecomunicaccedilotildees no comeacutercio internacional nas
tecnologias e nos outros processos de desenvolvimento
Diversas cimeiras organizadas pela UNESCO sobre as TIC salientavam a questatildeo da
abertura do mercado das telecomunicaccedilotildees e do acesso agraves tecnologias pelos paiacuteses
menos favorecidos Ao mesmo tempo irrompia por todo o mundo os movimentos
sociais que advogavam o comeacutercio justo e ldquoparcerias inteligentesrdquo entre as naccedilotildees ricas
e pobres Todas essas situaccedilotildees contribuiacuteram grandemente para a colocaccedilatildeo da temaacutetica
das tecnologias nas agendas poliacuteticas nacionais dos paiacuteses africanos
O binoacutemio tecnologiadesenvolvimento econoacutemico tal como se referem Adeya (2001) e
Jensen (2009) eacute um facto reconhecido pela maioria dos governos africanos Mas
Obijiofor (2008) alerta para o excesso de optimismo em relaccedilatildeo agraves TICs para o
7
desenvolvimento socioeconoacutemico e afirma que eacute importante ter em atenccedilatildeo que a mera
incorporaccedilatildeo destas ferramentas natildeo significa que elas seratildeo usadas por toda a
populaccedilatildeo Ainda de acordo com o autor as evidencias tecircm mostrado que a
massificaccedilatildeo da TIC depende do grau de literacia da populaccedilatildeo e das poliacuteticas puacuteblicas
de inclusatildeo digital (Obijiofor 20083)
As barreiras de acesso agraves tecnologias as desigualdades socioeconoacutemicas e o
analfabetismo constituem os desafios do continente Natildeo se pode negar que trecircs quarto
da populaccedilatildeo africana eacute iletrada e sendo ela na sua maioria populaccedilatildeo rural sem
grandes infra-estruturas de electricidades e telefone Entatildeo falar de Internet eacute uma
miragem ou algo que pertence agraves elites iluminadas da sociedade (Obijiofor 20083)
Obijiofor (2008) afirma que para o acesso agrave Internet o continente africano deve
realizar investimentos puacuteblicos e privados nas aacutereas de telecomunicaccedilotildees politicas
econoacutemicas e educaccedilatildeo No entender do autor as parcerias de investimentos entre as
empresas puacuteblicas e privadas complementam os esforccedilos de desenvolvimento e estimula
o aumento de nuacutemero de pessoas com acesso a computadores pessoais ligados agrave rede de
Internet preacute-requisitos para entrar na Sociedade de Informaccedilatildeo e de conhecimento
Contudo O apoio dos paiacuteses desenvolvidos continuam a ser importantes para Aacutefrica
mas as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses ricos e pobres tecircm mostrado o contraacuterio
Segundo o relatoacuterio da OCDE (2008) refere que cerca de 50 de investimento
tecnoloacutegico feito em Aacutefrica proveacutem dos paiacuteses natildeo-membros da OCDE E estes paiacuteses
como Brasil Iacutendia e China (BRIC) ou paiacuteses de economia emergente estatildeo cada vez
mais a alojar empresas de TIC no continente africano contrariamente ao grosso nuacutemero
de paiacuteses ocidentais
8
A vantagem das infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees para o continente africanos satildeo
enormes A Fibra oacuteptica por exemplo eacute essencial para introduzir a banda larga
suficientemente capaz de interligar os paiacuteses africanos a economia de rede
No esforccedilo de impulsionar a Aacutefrica para a economia de informaccedilatildeo jaacute comeccedilam a
aparecer algumas companhias africanas que tecircm trabalhado para a expansatildeo da Fibra
oacuteptica Entre os primeiros projectos lanccedilados estaacute a East African Submarine Cable
System (EASSy) cujo objectivo eacute estabelecer uma rede de fibra oacuteptica ao longo da
costa africana que liga a Repuacuteblica da Aacutefrica do Sul ao Sudatildeo com seis pontos de acesso
ao longo do percurso ou seja pontos de derivaccedilatildeo Aleacutem da EASSy existem outras
companhias ligadas agraves telecomunicaccedilotildees com o mesmo objectivo como o SEACOM
LION FLAG e o West African Cable System( Jensen 200824)
ldquoAfrocomplementarismordquo no ciberespaccedilo africano
O relatoacuterio da UNESCO sobre a sociedade de informaccedilatildeo e do conhecimento no
capiacutetulo relativo agrave diversidade linguiacutestica no ciberespaccedilo descreve de seguinte modo o
cenaacuterio que se configura
Algunos han calculado que el 75 de las paacuteginas de Internet estaacuten redactadas en ingleacutes mientras
otros estiman que la preponderancia de este idioma ha disminuido en un 5020 Hay que sentildealar
que estos estudios no tienen en cuenta los correos ni los foros electroacutenicos ni tampoco El
peligro que supone Internet para la diversidade linguumliacutestica es uno de los factores maacutes importantes
de la brecha digital y constituye una grave amenaza para la diversidad de los contenidos (
UNESCO 2005 172)
Seja como for a contradiccedilatildeo numeacuterica natildeo nos deixa de afirmar que existe o perigo da
uniformizaccedilatildeo linguiacutestica na Internet facto que pode constituir uma das causas do
fosso digital e ameaccedila para a diversidade de conteuacutedos
9
Vilches (2003) jaacute reconhecia que as mudanccedilas aceleradas operadas pela Internet
provocariam o desequiliacutebrio linguiacutestico entre o inglecircs e todas as demais liacutenguas
existentes no mundo (Vilches 200344) Nwosu (2005) tendo se apercebido da pouca
representatividade das linguas africanas no ciberespaccedilo escreveu de forma radical na
coluna editorial da African Media Review no qual sugeria uma forma de participaccedilatildeo
do cidadatildeo africano no processo de mudanccedilas poliacuteticas e mediaacuteticas em Aacutefrica atraveacutes
do uso da sua liacutengua nativa Segundo o mesmo eacutefice nos sistemas africanos de difusatildeo
actualmente dominado pelas ldquo liacutenguas imperialistas europeiasrdquo Nwosu (2005)sustenta-
se nas reflexotildees de inclusatildeo linguiacutestica africana de Blankson (2005 ) que sugerem o
esforccedilo de todos os africanos na promoccedilatildeo e utilizaccedilatildeo das liacutenguas africanas nos
sistemas nacionais e locais de difusatildeo no lugar das liacutenguas europeias
Adeye (2001) reconhece que o impacto e a interacccedilatildeo entre as TIC e a cultura
africana eacute muito complexo A autora afirma que este assunto tem sido aflorado por
muitos pesquisadores africanos Para Blake (1992) por exemplo o impacto das TIC
sobre a cultura africana vai ser positivo poreacutem haacute receio de potenciar as possibilidades
de acesso agraves TIC assim escreve o autor
The perspective I have on the impact of the new communication and information technologies on
culture particularly the case of Africa is positive and constructive I do not fear the advances in
the technologies mentioned above but rather welcome them in order to put them in the service of
African efforts to develop the continent The impact on culture is seen as good leading to serious
research by Africans at home and abroad on the mastering and application of the new
communication and information technologies ( Blake 1992 3)
Mas muitos paiacuteses tecircm atitudes diferentes face aos elementos transformadores da sua
cultura O certo eacute que o continente deve assumir uma atitude diferente e de assimilaccedilatildeo
destas tecnologias que natildeo destroem os valores culturais mas que tecircm um impacto
10
positivo sobre elas (Adeye 2001 11) Esta tese eacute contraacuteria agrave posiccedilatildeo de Vilches
(2003) segundo a qual a migraccedilatildeo para a Sociedade de Informaccedilatildeo implica a perda da
territorrialidade de origem devido ldquoa emergecircncia de novas mediaccedilotildees na cultura na
educaccedilatildeo nos serviccedilos e no consumordquo
Voltando a anaacutelise da questatildeo linguiacutestica africana na perspectiva da sua iserccedilatildeo nos
meios audiovisuais Abolou (2010) realccedila a importacircncia do seu uso na educaccedilatildeo ciacutevica
e na apropriaccedilatildeo do saber
A perspectiva do autor supracitado pode ser extemporacircnea tendo em conta que as novas
tecnologias trazem uma nova dinaacutemica no cenaacuterio sociolinguiacutestico africano Dai torna-
se necessaacuterio estudar o fenoacutemeno da presenccedila linguiacutestica africana no novo ambiente
digital de modo a perceber a emergecircncia de uma nova audiecircncia menos alfabetizadas
mas com forte apetecircncia pelo uso de novo recurso tecnoloacutegico o telefone
Entretanto Omojola (2009) e Lexander (2010) afirmam que a Internet eacute dominada
maioritariamente pelos usuaacuterios falantes da liacutengua inglesa Faz sentido que seja assim
porque ela nasceu no ambiente angloacutefono portanto os usuaacuterios de origem angloacutefonos
satildeo os responsaacuteveis pelo seu crescimento Os autores voltam a realccedilar que alguns
investigadores na aacuterea linguiacutestica vecircem este meio como a ldquomaacutequinardquo de extinccedilatildeo das
liacutenguas minoritaacuterias Pode-se concordar com este ponto de vista pois eacute manifestamente
claro notar-se que as liacutenguas mediadas pelo computadores estatildeo em franco crescimento
na Internet como o caso das liacutenguas Inglesa italiana francesa aacuterabe enquanto as
africanas satildeo relegadas para a extemporaneidade natildeo havendo sequer estudos sobre a
sua presenccedila no ciberespaccedilo existe (Omojola 2009 33 e Alexander 2010 90)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 2: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/2.jpg)
2
A situaccedilatildeo da migraccedilatildeo tecnoloacutegica em Aacutefrica
Contextualizaccedilatildeo
A desregulamentaccedilatildeo do mercado das telecomunicaccedilotildees e a expansatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas de comunicaccedilatildeo foram os marcos que deram iniacutecio agrave Sociedade de
Informaccedilatildeo Tentou-se passar da declaraccedilatildeo dos princiacutepios agrave acccedilatildeo reafirmando os
princiacutepios assinados na na Conferecircncia de Genebra de 2003
A Agenda de Tunis e os respectivos compromissos assinados na Conferecircncia de
Genebra de 2003 marcaram a efectivaccedilatildeo da Sociedade de Informaccedilatildeo sobretudo
quando as naccedilotildees pobres levantaram as questotildees relativas ao financiamento para fazer
face aos desafios da TIC e a sua implementaccedilatildeo (Agenda de Tunis 2005)
Parafraseando Mcquail (2003) a ldquoSociedade de Informaccedilatildeordquo remete-nos para os anos
60 do seacuteculo passado no Japatildeo aportando um significado associado ao conceito de
sociedade Poacutes-Industrial que se caracteriza essencialmente pela predominacircncia de
trabalhos e empregos que se suportam na informaccedilatildeo no conhecimento cientiacutefico na
utilizaccedilatildeo e transferecircncia de dados no recurso ao conhecimento e no aprofundamento
de relaccedilotildees interpessoais
Embora se fale de uma Sociedade de Informaccedilatildeo Toureacute (sd) e Jensen (2009)
especialistas estudos das TIC em Aacutefrica observaram nas suas pesquisas que muitos
paiacuteses africanos ainda estatildeo atrasados em termos de implementaccedilatildeo das tecnologias
baacutesicas que os catapultem para a Sociedade de Informaccedilatildeo Dois factores estatildeo na base
desse atraso baixo niacutevel de rendimento e agrave falta de uma infra-estruturas de Tecnologia
de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TIC) Destes constrangimentos resulta que a maioria
3
dos paiacuteses africanos das regiotildees rurais natildeo possui o acesso agrave telefonia baacutesica nem a
ligaccedilatildeo agrave Internet
Estudos desencadeados pelo organismo Perspectiva da Economia Africana (PEA) que
se dedica ao estudo do desenvolvimento econoacutemico daAacutefrica indicam que a baixa
taxas de penetraccedilatildeo da Internet no continente e a alta taxa das tarifas dos serviccedilos da
Internet resultam da falta de redes internacionais de alta capacidade o que leva os
operadores a praticarem preccedilos acima da meacutedia
Adeya (2001) natildeo partilha plenamente este sentimento de que se regista um atraso total
ddo continente africano em mateacuteria das TIC Pois De acordo com a autora a Aacutefrica estaacute
a registar progressos consideraacuteveis nas TIC mas de forma regionalizada A
pesquisadora reconhece que apesar de pequenos progressos ainda prevalecem alguns
constrangimentos como infra-estruturas ausecircncia de poliacutetica de TIC ou sua
implementaccedilatildeo iliteracia fraco conhecimento sobre as TIC em todos os niacuteveis desde
fornecedores aos usuaacuterios constrangimentos financeiros etc ( Adeya 20015)
Estudos apresentados por Jensen (2009) indicaram que ateacute Dezembro de 2007 apenas
5 da populaccedilatildeo africana tinha uma ligaccedilatildeo agrave Internet e a penetraccedilatildeo da banda larga
era inferior a 1 Poreacutem nos uacuteltimos anos tecircm ocorrido melhorias significativas na
adesatildeo agrave economia global ligada agrave rede Jensen (2009) afirma ainda que um estudo
africanos publicado recentemente encontrou a maior edificaccedilatildeo de infra-estruturas de
telecomunicaccedilotildees de longa distacircncia Acrescenta ainda que 17 paiacuteses africanos
beneficiaram de mais mil milhotildees de doacutelares em contratos para cerca de 30000 km de
fibra oacuteptica com empreacutestimos proveniente de bancos chineses particularmente da
China Exim Bank
4
Entretanto natildeo faltam esforccedilos para melhorar a qualidade de conectividade um vez
que estaacute sendo instalado ao longo da costa africana ocidental um cabo submarino de
Fibra Oacuteptica SAT-3 que vai fornecer serviccedilo telecomunicaccedilotildees de alta qualidademas
o seu acesso estaacute limitado aos membros do consoacutecio que estatildeo a construir a ligaccedilatildeo
Paralelamente desde meados de 2007 os operadores das telecomunicaccedilotildees jaacute tecircm a sua
disponibilidade serviccedilos de telecomunicaccedilotildees internacionais e de conectividade
oferecidos pelas empresas americanas Poreacutem as tarifas praticadas satildeo as mais altas do
mundo situando-se na ordem dos 25 000 Doacutelares em cada mecircs pagas por cada
operadora Estes valores satildeo considerados demasiados altos por maioria dos paiacuteses
africanos ( PEA 2010)
Face agrave tentativa de reduzir os elevados custos de serviccedilos das telecomunicaccedilotildees e
aumentar a conectividade no continente africano o Banco Mundial disponibilizou 424
milhotildees de Doacutelares americanos para impulsionar as redes regionais na Aacutefrica Austral e
Oriental no acircmbito de Programa de Infra-estruturas de Comunicaccedilatildeo do qual se espera
originar um maior fluxo de Internet em pelo menos 36 ao ano e baixar os custos da
largura da banda em um deacutecimo (PEA 2010)
De acordo com a Uniatildeo Internacional das Telecomunicaccedilotildees e em consonacircncia com as
estimativas do Banco Mundial o preccedilo medio de uma ligaccedilatildeo de Banda Larga na Aacutefrica
subsaariana eacute de cerca de 110 Doacutelares para 100 kilobytes por segundo Na Europa e na
Aacutesia Central o preccedilo eacute de 20 Doacutelares para 100 kilobytes por segundo enquanto na
Ameacuterica Latina e Caraiacutebas eacute de 7 Doacutelares Os paiacuteses do meacutedio oriente e da Aacutefrica do
Norte pagam abaixo dos 30 Doacutelares pelo mesmo serviccedilo Por isso o custo de Internet
em Aacutefrica eacute mais alto comparativamente com os paiacuteses ocidentais (PEA 2010)
5
Adeya (2001) e Ajayi (2002) em trabalhos separados apresentam pontos de
convergecircncia das suas posiccedilotildees argumentando que a fraca massificaccedilatildeo das
tecnologias de informaccedilatildeo e de comunicaccedilatildeo no nosso continente associa-se a factores
que tecircm a ver com a fraqueza das poliacuteticas puacuteblicas e a pobreza material e tecnoloacutegica
Entretanto vaacuterios factores explicam essa situaccedilatildeo
i) no ambiente regulatoacuteria da comunicaccedilatildeo o grosso nuacutemero de paiacuteses africanos natildeo
abre os seus mercados para a concorrecircncia entre as empresas fornecedoras de serviccedilos
de Internet
ii) Inexistecircncia de infra-estruturas tecnoloacutegicas e o seu alto custo de acesso
iii) muitos paiacuteses africanos natildeo datildeo adequada facilidade de alocaccedilatildeo do seu espectro
radiofoacutenico para o uso das telecomunicaccedilotildees e operadores de Internet a outras
entidades nacionais ou regionais situaccedilatildeo que resulta no congestionamento da banda
iv) menos abertura do mercado governamental para o investimento do sector privado
Em suma Jensen (2009) descreve o cenaacuterio das TIC em Aacutefrica de seguinte modo
Ao mesmo tempo que o acesso TIC no continente eacute de um modo geral muito baixo a
grande disparidade nos niacuteveis de rendimento na dimensatildeo da populaccedilatildeo e nas poliacuteticas
relativas agraves infra-estruturas das telecomunicaccedilotildees provocou niacuteveis desiguais de
distribuiccedilatildeo Por exemplo mais de 75 por cento das linhas fixas encontram-se em
apenas 6 das 53 naccedilotildees africanas De igual modo quatro dos 53 paiacuteses em Aacutefrica
representam quase 60 por cento dos utilizadores da Internet na regiatildeo e apenas 22 dos
53 paiacuteses tecircm banda larga Paiacuteses com populaccedilotildees com acesso agrave Internet com mais de 1
milhatildeo de pessoas (por ordem de tamanho) Nigeacuteria Marrocos Egipto Aacutefrica do Sul
Sudatildeo Queacutenia Argeacutelia Tuniacutesia e Zimbabueacute (Jensen 2009)
6
No mesma linha discursiva mas na perspectiva de conectividade Castells (2007)
salienta que a baixa penetraccedilatildeo da Internet nos paiacuteses em vias de desenvolvimento estaacute
relacionada com a falta de infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees de fornecedores de
serviccedilos e de conteuacutedos de Internet assim como das estrateacutegias de combate agrave
infoexclusatildeo (Castells 2007 230)
Obijiofor (2008) reforccedila a ideia da importacircncia da TIC como ferramenta de
desenvolvimento socioeconoacutemico em Aacutefrica Descreve as TIC como uma consequecircncia
histoacuterica que comeccedila durante o periacuteodo da revoluccedilatildeo industrial e afirma que foi com
base na experiencia histoacuterica que as tecnologias constituem a base para o crescimento
econoacutemico e desenvolvimento de paiacuteses Mas para o caso africano a discussatildeo sobre as
TICs e sua inclusatildeo na agenda poliacutetica aleacutem da questatildeo do fluxo unilateral de
informaccedilatildeo dos paiacuteses ricos para os pobres resulta tambeacutem da exclusatildeo sistemaacutetica
do continente pelos paiacuteses industrializados que tentavam concentrar em si o
protagonismo no mercado das telecomunicaccedilotildees no comeacutercio internacional nas
tecnologias e nos outros processos de desenvolvimento
Diversas cimeiras organizadas pela UNESCO sobre as TIC salientavam a questatildeo da
abertura do mercado das telecomunicaccedilotildees e do acesso agraves tecnologias pelos paiacuteses
menos favorecidos Ao mesmo tempo irrompia por todo o mundo os movimentos
sociais que advogavam o comeacutercio justo e ldquoparcerias inteligentesrdquo entre as naccedilotildees ricas
e pobres Todas essas situaccedilotildees contribuiacuteram grandemente para a colocaccedilatildeo da temaacutetica
das tecnologias nas agendas poliacuteticas nacionais dos paiacuteses africanos
O binoacutemio tecnologiadesenvolvimento econoacutemico tal como se referem Adeya (2001) e
Jensen (2009) eacute um facto reconhecido pela maioria dos governos africanos Mas
Obijiofor (2008) alerta para o excesso de optimismo em relaccedilatildeo agraves TICs para o
7
desenvolvimento socioeconoacutemico e afirma que eacute importante ter em atenccedilatildeo que a mera
incorporaccedilatildeo destas ferramentas natildeo significa que elas seratildeo usadas por toda a
populaccedilatildeo Ainda de acordo com o autor as evidencias tecircm mostrado que a
massificaccedilatildeo da TIC depende do grau de literacia da populaccedilatildeo e das poliacuteticas puacuteblicas
de inclusatildeo digital (Obijiofor 20083)
As barreiras de acesso agraves tecnologias as desigualdades socioeconoacutemicas e o
analfabetismo constituem os desafios do continente Natildeo se pode negar que trecircs quarto
da populaccedilatildeo africana eacute iletrada e sendo ela na sua maioria populaccedilatildeo rural sem
grandes infra-estruturas de electricidades e telefone Entatildeo falar de Internet eacute uma
miragem ou algo que pertence agraves elites iluminadas da sociedade (Obijiofor 20083)
Obijiofor (2008) afirma que para o acesso agrave Internet o continente africano deve
realizar investimentos puacuteblicos e privados nas aacutereas de telecomunicaccedilotildees politicas
econoacutemicas e educaccedilatildeo No entender do autor as parcerias de investimentos entre as
empresas puacuteblicas e privadas complementam os esforccedilos de desenvolvimento e estimula
o aumento de nuacutemero de pessoas com acesso a computadores pessoais ligados agrave rede de
Internet preacute-requisitos para entrar na Sociedade de Informaccedilatildeo e de conhecimento
Contudo O apoio dos paiacuteses desenvolvidos continuam a ser importantes para Aacutefrica
mas as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses ricos e pobres tecircm mostrado o contraacuterio
Segundo o relatoacuterio da OCDE (2008) refere que cerca de 50 de investimento
tecnoloacutegico feito em Aacutefrica proveacutem dos paiacuteses natildeo-membros da OCDE E estes paiacuteses
como Brasil Iacutendia e China (BRIC) ou paiacuteses de economia emergente estatildeo cada vez
mais a alojar empresas de TIC no continente africano contrariamente ao grosso nuacutemero
de paiacuteses ocidentais
8
A vantagem das infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees para o continente africanos satildeo
enormes A Fibra oacuteptica por exemplo eacute essencial para introduzir a banda larga
suficientemente capaz de interligar os paiacuteses africanos a economia de rede
No esforccedilo de impulsionar a Aacutefrica para a economia de informaccedilatildeo jaacute comeccedilam a
aparecer algumas companhias africanas que tecircm trabalhado para a expansatildeo da Fibra
oacuteptica Entre os primeiros projectos lanccedilados estaacute a East African Submarine Cable
System (EASSy) cujo objectivo eacute estabelecer uma rede de fibra oacuteptica ao longo da
costa africana que liga a Repuacuteblica da Aacutefrica do Sul ao Sudatildeo com seis pontos de acesso
ao longo do percurso ou seja pontos de derivaccedilatildeo Aleacutem da EASSy existem outras
companhias ligadas agraves telecomunicaccedilotildees com o mesmo objectivo como o SEACOM
LION FLAG e o West African Cable System( Jensen 200824)
ldquoAfrocomplementarismordquo no ciberespaccedilo africano
O relatoacuterio da UNESCO sobre a sociedade de informaccedilatildeo e do conhecimento no
capiacutetulo relativo agrave diversidade linguiacutestica no ciberespaccedilo descreve de seguinte modo o
cenaacuterio que se configura
Algunos han calculado que el 75 de las paacuteginas de Internet estaacuten redactadas en ingleacutes mientras
otros estiman que la preponderancia de este idioma ha disminuido en un 5020 Hay que sentildealar
que estos estudios no tienen en cuenta los correos ni los foros electroacutenicos ni tampoco El
peligro que supone Internet para la diversidade linguumliacutestica es uno de los factores maacutes importantes
de la brecha digital y constituye una grave amenaza para la diversidad de los contenidos (
UNESCO 2005 172)
Seja como for a contradiccedilatildeo numeacuterica natildeo nos deixa de afirmar que existe o perigo da
uniformizaccedilatildeo linguiacutestica na Internet facto que pode constituir uma das causas do
fosso digital e ameaccedila para a diversidade de conteuacutedos
9
Vilches (2003) jaacute reconhecia que as mudanccedilas aceleradas operadas pela Internet
provocariam o desequiliacutebrio linguiacutestico entre o inglecircs e todas as demais liacutenguas
existentes no mundo (Vilches 200344) Nwosu (2005) tendo se apercebido da pouca
representatividade das linguas africanas no ciberespaccedilo escreveu de forma radical na
coluna editorial da African Media Review no qual sugeria uma forma de participaccedilatildeo
do cidadatildeo africano no processo de mudanccedilas poliacuteticas e mediaacuteticas em Aacutefrica atraveacutes
do uso da sua liacutengua nativa Segundo o mesmo eacutefice nos sistemas africanos de difusatildeo
actualmente dominado pelas ldquo liacutenguas imperialistas europeiasrdquo Nwosu (2005)sustenta-
se nas reflexotildees de inclusatildeo linguiacutestica africana de Blankson (2005 ) que sugerem o
esforccedilo de todos os africanos na promoccedilatildeo e utilizaccedilatildeo das liacutenguas africanas nos
sistemas nacionais e locais de difusatildeo no lugar das liacutenguas europeias
Adeye (2001) reconhece que o impacto e a interacccedilatildeo entre as TIC e a cultura
africana eacute muito complexo A autora afirma que este assunto tem sido aflorado por
muitos pesquisadores africanos Para Blake (1992) por exemplo o impacto das TIC
sobre a cultura africana vai ser positivo poreacutem haacute receio de potenciar as possibilidades
de acesso agraves TIC assim escreve o autor
The perspective I have on the impact of the new communication and information technologies on
culture particularly the case of Africa is positive and constructive I do not fear the advances in
the technologies mentioned above but rather welcome them in order to put them in the service of
African efforts to develop the continent The impact on culture is seen as good leading to serious
research by Africans at home and abroad on the mastering and application of the new
communication and information technologies ( Blake 1992 3)
Mas muitos paiacuteses tecircm atitudes diferentes face aos elementos transformadores da sua
cultura O certo eacute que o continente deve assumir uma atitude diferente e de assimilaccedilatildeo
destas tecnologias que natildeo destroem os valores culturais mas que tecircm um impacto
10
positivo sobre elas (Adeye 2001 11) Esta tese eacute contraacuteria agrave posiccedilatildeo de Vilches
(2003) segundo a qual a migraccedilatildeo para a Sociedade de Informaccedilatildeo implica a perda da
territorrialidade de origem devido ldquoa emergecircncia de novas mediaccedilotildees na cultura na
educaccedilatildeo nos serviccedilos e no consumordquo
Voltando a anaacutelise da questatildeo linguiacutestica africana na perspectiva da sua iserccedilatildeo nos
meios audiovisuais Abolou (2010) realccedila a importacircncia do seu uso na educaccedilatildeo ciacutevica
e na apropriaccedilatildeo do saber
A perspectiva do autor supracitado pode ser extemporacircnea tendo em conta que as novas
tecnologias trazem uma nova dinaacutemica no cenaacuterio sociolinguiacutestico africano Dai torna-
se necessaacuterio estudar o fenoacutemeno da presenccedila linguiacutestica africana no novo ambiente
digital de modo a perceber a emergecircncia de uma nova audiecircncia menos alfabetizadas
mas com forte apetecircncia pelo uso de novo recurso tecnoloacutegico o telefone
Entretanto Omojola (2009) e Lexander (2010) afirmam que a Internet eacute dominada
maioritariamente pelos usuaacuterios falantes da liacutengua inglesa Faz sentido que seja assim
porque ela nasceu no ambiente angloacutefono portanto os usuaacuterios de origem angloacutefonos
satildeo os responsaacuteveis pelo seu crescimento Os autores voltam a realccedilar que alguns
investigadores na aacuterea linguiacutestica vecircem este meio como a ldquomaacutequinardquo de extinccedilatildeo das
liacutenguas minoritaacuterias Pode-se concordar com este ponto de vista pois eacute manifestamente
claro notar-se que as liacutenguas mediadas pelo computadores estatildeo em franco crescimento
na Internet como o caso das liacutenguas Inglesa italiana francesa aacuterabe enquanto as
africanas satildeo relegadas para a extemporaneidade natildeo havendo sequer estudos sobre a
sua presenccedila no ciberespaccedilo existe (Omojola 2009 33 e Alexander 2010 90)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 3: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/3.jpg)
3
dos paiacuteses africanos das regiotildees rurais natildeo possui o acesso agrave telefonia baacutesica nem a
ligaccedilatildeo agrave Internet
Estudos desencadeados pelo organismo Perspectiva da Economia Africana (PEA) que
se dedica ao estudo do desenvolvimento econoacutemico daAacutefrica indicam que a baixa
taxas de penetraccedilatildeo da Internet no continente e a alta taxa das tarifas dos serviccedilos da
Internet resultam da falta de redes internacionais de alta capacidade o que leva os
operadores a praticarem preccedilos acima da meacutedia
Adeya (2001) natildeo partilha plenamente este sentimento de que se regista um atraso total
ddo continente africano em mateacuteria das TIC Pois De acordo com a autora a Aacutefrica estaacute
a registar progressos consideraacuteveis nas TIC mas de forma regionalizada A
pesquisadora reconhece que apesar de pequenos progressos ainda prevalecem alguns
constrangimentos como infra-estruturas ausecircncia de poliacutetica de TIC ou sua
implementaccedilatildeo iliteracia fraco conhecimento sobre as TIC em todos os niacuteveis desde
fornecedores aos usuaacuterios constrangimentos financeiros etc ( Adeya 20015)
Estudos apresentados por Jensen (2009) indicaram que ateacute Dezembro de 2007 apenas
5 da populaccedilatildeo africana tinha uma ligaccedilatildeo agrave Internet e a penetraccedilatildeo da banda larga
era inferior a 1 Poreacutem nos uacuteltimos anos tecircm ocorrido melhorias significativas na
adesatildeo agrave economia global ligada agrave rede Jensen (2009) afirma ainda que um estudo
africanos publicado recentemente encontrou a maior edificaccedilatildeo de infra-estruturas de
telecomunicaccedilotildees de longa distacircncia Acrescenta ainda que 17 paiacuteses africanos
beneficiaram de mais mil milhotildees de doacutelares em contratos para cerca de 30000 km de
fibra oacuteptica com empreacutestimos proveniente de bancos chineses particularmente da
China Exim Bank
4
Entretanto natildeo faltam esforccedilos para melhorar a qualidade de conectividade um vez
que estaacute sendo instalado ao longo da costa africana ocidental um cabo submarino de
Fibra Oacuteptica SAT-3 que vai fornecer serviccedilo telecomunicaccedilotildees de alta qualidademas
o seu acesso estaacute limitado aos membros do consoacutecio que estatildeo a construir a ligaccedilatildeo
Paralelamente desde meados de 2007 os operadores das telecomunicaccedilotildees jaacute tecircm a sua
disponibilidade serviccedilos de telecomunicaccedilotildees internacionais e de conectividade
oferecidos pelas empresas americanas Poreacutem as tarifas praticadas satildeo as mais altas do
mundo situando-se na ordem dos 25 000 Doacutelares em cada mecircs pagas por cada
operadora Estes valores satildeo considerados demasiados altos por maioria dos paiacuteses
africanos ( PEA 2010)
Face agrave tentativa de reduzir os elevados custos de serviccedilos das telecomunicaccedilotildees e
aumentar a conectividade no continente africano o Banco Mundial disponibilizou 424
milhotildees de Doacutelares americanos para impulsionar as redes regionais na Aacutefrica Austral e
Oriental no acircmbito de Programa de Infra-estruturas de Comunicaccedilatildeo do qual se espera
originar um maior fluxo de Internet em pelo menos 36 ao ano e baixar os custos da
largura da banda em um deacutecimo (PEA 2010)
De acordo com a Uniatildeo Internacional das Telecomunicaccedilotildees e em consonacircncia com as
estimativas do Banco Mundial o preccedilo medio de uma ligaccedilatildeo de Banda Larga na Aacutefrica
subsaariana eacute de cerca de 110 Doacutelares para 100 kilobytes por segundo Na Europa e na
Aacutesia Central o preccedilo eacute de 20 Doacutelares para 100 kilobytes por segundo enquanto na
Ameacuterica Latina e Caraiacutebas eacute de 7 Doacutelares Os paiacuteses do meacutedio oriente e da Aacutefrica do
Norte pagam abaixo dos 30 Doacutelares pelo mesmo serviccedilo Por isso o custo de Internet
em Aacutefrica eacute mais alto comparativamente com os paiacuteses ocidentais (PEA 2010)
5
Adeya (2001) e Ajayi (2002) em trabalhos separados apresentam pontos de
convergecircncia das suas posiccedilotildees argumentando que a fraca massificaccedilatildeo das
tecnologias de informaccedilatildeo e de comunicaccedilatildeo no nosso continente associa-se a factores
que tecircm a ver com a fraqueza das poliacuteticas puacuteblicas e a pobreza material e tecnoloacutegica
Entretanto vaacuterios factores explicam essa situaccedilatildeo
i) no ambiente regulatoacuteria da comunicaccedilatildeo o grosso nuacutemero de paiacuteses africanos natildeo
abre os seus mercados para a concorrecircncia entre as empresas fornecedoras de serviccedilos
de Internet
ii) Inexistecircncia de infra-estruturas tecnoloacutegicas e o seu alto custo de acesso
iii) muitos paiacuteses africanos natildeo datildeo adequada facilidade de alocaccedilatildeo do seu espectro
radiofoacutenico para o uso das telecomunicaccedilotildees e operadores de Internet a outras
entidades nacionais ou regionais situaccedilatildeo que resulta no congestionamento da banda
iv) menos abertura do mercado governamental para o investimento do sector privado
Em suma Jensen (2009) descreve o cenaacuterio das TIC em Aacutefrica de seguinte modo
Ao mesmo tempo que o acesso TIC no continente eacute de um modo geral muito baixo a
grande disparidade nos niacuteveis de rendimento na dimensatildeo da populaccedilatildeo e nas poliacuteticas
relativas agraves infra-estruturas das telecomunicaccedilotildees provocou niacuteveis desiguais de
distribuiccedilatildeo Por exemplo mais de 75 por cento das linhas fixas encontram-se em
apenas 6 das 53 naccedilotildees africanas De igual modo quatro dos 53 paiacuteses em Aacutefrica
representam quase 60 por cento dos utilizadores da Internet na regiatildeo e apenas 22 dos
53 paiacuteses tecircm banda larga Paiacuteses com populaccedilotildees com acesso agrave Internet com mais de 1
milhatildeo de pessoas (por ordem de tamanho) Nigeacuteria Marrocos Egipto Aacutefrica do Sul
Sudatildeo Queacutenia Argeacutelia Tuniacutesia e Zimbabueacute (Jensen 2009)
6
No mesma linha discursiva mas na perspectiva de conectividade Castells (2007)
salienta que a baixa penetraccedilatildeo da Internet nos paiacuteses em vias de desenvolvimento estaacute
relacionada com a falta de infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees de fornecedores de
serviccedilos e de conteuacutedos de Internet assim como das estrateacutegias de combate agrave
infoexclusatildeo (Castells 2007 230)
Obijiofor (2008) reforccedila a ideia da importacircncia da TIC como ferramenta de
desenvolvimento socioeconoacutemico em Aacutefrica Descreve as TIC como uma consequecircncia
histoacuterica que comeccedila durante o periacuteodo da revoluccedilatildeo industrial e afirma que foi com
base na experiencia histoacuterica que as tecnologias constituem a base para o crescimento
econoacutemico e desenvolvimento de paiacuteses Mas para o caso africano a discussatildeo sobre as
TICs e sua inclusatildeo na agenda poliacutetica aleacutem da questatildeo do fluxo unilateral de
informaccedilatildeo dos paiacuteses ricos para os pobres resulta tambeacutem da exclusatildeo sistemaacutetica
do continente pelos paiacuteses industrializados que tentavam concentrar em si o
protagonismo no mercado das telecomunicaccedilotildees no comeacutercio internacional nas
tecnologias e nos outros processos de desenvolvimento
Diversas cimeiras organizadas pela UNESCO sobre as TIC salientavam a questatildeo da
abertura do mercado das telecomunicaccedilotildees e do acesso agraves tecnologias pelos paiacuteses
menos favorecidos Ao mesmo tempo irrompia por todo o mundo os movimentos
sociais que advogavam o comeacutercio justo e ldquoparcerias inteligentesrdquo entre as naccedilotildees ricas
e pobres Todas essas situaccedilotildees contribuiacuteram grandemente para a colocaccedilatildeo da temaacutetica
das tecnologias nas agendas poliacuteticas nacionais dos paiacuteses africanos
O binoacutemio tecnologiadesenvolvimento econoacutemico tal como se referem Adeya (2001) e
Jensen (2009) eacute um facto reconhecido pela maioria dos governos africanos Mas
Obijiofor (2008) alerta para o excesso de optimismo em relaccedilatildeo agraves TICs para o
7
desenvolvimento socioeconoacutemico e afirma que eacute importante ter em atenccedilatildeo que a mera
incorporaccedilatildeo destas ferramentas natildeo significa que elas seratildeo usadas por toda a
populaccedilatildeo Ainda de acordo com o autor as evidencias tecircm mostrado que a
massificaccedilatildeo da TIC depende do grau de literacia da populaccedilatildeo e das poliacuteticas puacuteblicas
de inclusatildeo digital (Obijiofor 20083)
As barreiras de acesso agraves tecnologias as desigualdades socioeconoacutemicas e o
analfabetismo constituem os desafios do continente Natildeo se pode negar que trecircs quarto
da populaccedilatildeo africana eacute iletrada e sendo ela na sua maioria populaccedilatildeo rural sem
grandes infra-estruturas de electricidades e telefone Entatildeo falar de Internet eacute uma
miragem ou algo que pertence agraves elites iluminadas da sociedade (Obijiofor 20083)
Obijiofor (2008) afirma que para o acesso agrave Internet o continente africano deve
realizar investimentos puacuteblicos e privados nas aacutereas de telecomunicaccedilotildees politicas
econoacutemicas e educaccedilatildeo No entender do autor as parcerias de investimentos entre as
empresas puacuteblicas e privadas complementam os esforccedilos de desenvolvimento e estimula
o aumento de nuacutemero de pessoas com acesso a computadores pessoais ligados agrave rede de
Internet preacute-requisitos para entrar na Sociedade de Informaccedilatildeo e de conhecimento
Contudo O apoio dos paiacuteses desenvolvidos continuam a ser importantes para Aacutefrica
mas as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses ricos e pobres tecircm mostrado o contraacuterio
Segundo o relatoacuterio da OCDE (2008) refere que cerca de 50 de investimento
tecnoloacutegico feito em Aacutefrica proveacutem dos paiacuteses natildeo-membros da OCDE E estes paiacuteses
como Brasil Iacutendia e China (BRIC) ou paiacuteses de economia emergente estatildeo cada vez
mais a alojar empresas de TIC no continente africano contrariamente ao grosso nuacutemero
de paiacuteses ocidentais
8
A vantagem das infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees para o continente africanos satildeo
enormes A Fibra oacuteptica por exemplo eacute essencial para introduzir a banda larga
suficientemente capaz de interligar os paiacuteses africanos a economia de rede
No esforccedilo de impulsionar a Aacutefrica para a economia de informaccedilatildeo jaacute comeccedilam a
aparecer algumas companhias africanas que tecircm trabalhado para a expansatildeo da Fibra
oacuteptica Entre os primeiros projectos lanccedilados estaacute a East African Submarine Cable
System (EASSy) cujo objectivo eacute estabelecer uma rede de fibra oacuteptica ao longo da
costa africana que liga a Repuacuteblica da Aacutefrica do Sul ao Sudatildeo com seis pontos de acesso
ao longo do percurso ou seja pontos de derivaccedilatildeo Aleacutem da EASSy existem outras
companhias ligadas agraves telecomunicaccedilotildees com o mesmo objectivo como o SEACOM
LION FLAG e o West African Cable System( Jensen 200824)
ldquoAfrocomplementarismordquo no ciberespaccedilo africano
O relatoacuterio da UNESCO sobre a sociedade de informaccedilatildeo e do conhecimento no
capiacutetulo relativo agrave diversidade linguiacutestica no ciberespaccedilo descreve de seguinte modo o
cenaacuterio que se configura
Algunos han calculado que el 75 de las paacuteginas de Internet estaacuten redactadas en ingleacutes mientras
otros estiman que la preponderancia de este idioma ha disminuido en un 5020 Hay que sentildealar
que estos estudios no tienen en cuenta los correos ni los foros electroacutenicos ni tampoco El
peligro que supone Internet para la diversidade linguumliacutestica es uno de los factores maacutes importantes
de la brecha digital y constituye una grave amenaza para la diversidad de los contenidos (
UNESCO 2005 172)
Seja como for a contradiccedilatildeo numeacuterica natildeo nos deixa de afirmar que existe o perigo da
uniformizaccedilatildeo linguiacutestica na Internet facto que pode constituir uma das causas do
fosso digital e ameaccedila para a diversidade de conteuacutedos
9
Vilches (2003) jaacute reconhecia que as mudanccedilas aceleradas operadas pela Internet
provocariam o desequiliacutebrio linguiacutestico entre o inglecircs e todas as demais liacutenguas
existentes no mundo (Vilches 200344) Nwosu (2005) tendo se apercebido da pouca
representatividade das linguas africanas no ciberespaccedilo escreveu de forma radical na
coluna editorial da African Media Review no qual sugeria uma forma de participaccedilatildeo
do cidadatildeo africano no processo de mudanccedilas poliacuteticas e mediaacuteticas em Aacutefrica atraveacutes
do uso da sua liacutengua nativa Segundo o mesmo eacutefice nos sistemas africanos de difusatildeo
actualmente dominado pelas ldquo liacutenguas imperialistas europeiasrdquo Nwosu (2005)sustenta-
se nas reflexotildees de inclusatildeo linguiacutestica africana de Blankson (2005 ) que sugerem o
esforccedilo de todos os africanos na promoccedilatildeo e utilizaccedilatildeo das liacutenguas africanas nos
sistemas nacionais e locais de difusatildeo no lugar das liacutenguas europeias
Adeye (2001) reconhece que o impacto e a interacccedilatildeo entre as TIC e a cultura
africana eacute muito complexo A autora afirma que este assunto tem sido aflorado por
muitos pesquisadores africanos Para Blake (1992) por exemplo o impacto das TIC
sobre a cultura africana vai ser positivo poreacutem haacute receio de potenciar as possibilidades
de acesso agraves TIC assim escreve o autor
The perspective I have on the impact of the new communication and information technologies on
culture particularly the case of Africa is positive and constructive I do not fear the advances in
the technologies mentioned above but rather welcome them in order to put them in the service of
African efforts to develop the continent The impact on culture is seen as good leading to serious
research by Africans at home and abroad on the mastering and application of the new
communication and information technologies ( Blake 1992 3)
Mas muitos paiacuteses tecircm atitudes diferentes face aos elementos transformadores da sua
cultura O certo eacute que o continente deve assumir uma atitude diferente e de assimilaccedilatildeo
destas tecnologias que natildeo destroem os valores culturais mas que tecircm um impacto
10
positivo sobre elas (Adeye 2001 11) Esta tese eacute contraacuteria agrave posiccedilatildeo de Vilches
(2003) segundo a qual a migraccedilatildeo para a Sociedade de Informaccedilatildeo implica a perda da
territorrialidade de origem devido ldquoa emergecircncia de novas mediaccedilotildees na cultura na
educaccedilatildeo nos serviccedilos e no consumordquo
Voltando a anaacutelise da questatildeo linguiacutestica africana na perspectiva da sua iserccedilatildeo nos
meios audiovisuais Abolou (2010) realccedila a importacircncia do seu uso na educaccedilatildeo ciacutevica
e na apropriaccedilatildeo do saber
A perspectiva do autor supracitado pode ser extemporacircnea tendo em conta que as novas
tecnologias trazem uma nova dinaacutemica no cenaacuterio sociolinguiacutestico africano Dai torna-
se necessaacuterio estudar o fenoacutemeno da presenccedila linguiacutestica africana no novo ambiente
digital de modo a perceber a emergecircncia de uma nova audiecircncia menos alfabetizadas
mas com forte apetecircncia pelo uso de novo recurso tecnoloacutegico o telefone
Entretanto Omojola (2009) e Lexander (2010) afirmam que a Internet eacute dominada
maioritariamente pelos usuaacuterios falantes da liacutengua inglesa Faz sentido que seja assim
porque ela nasceu no ambiente angloacutefono portanto os usuaacuterios de origem angloacutefonos
satildeo os responsaacuteveis pelo seu crescimento Os autores voltam a realccedilar que alguns
investigadores na aacuterea linguiacutestica vecircem este meio como a ldquomaacutequinardquo de extinccedilatildeo das
liacutenguas minoritaacuterias Pode-se concordar com este ponto de vista pois eacute manifestamente
claro notar-se que as liacutenguas mediadas pelo computadores estatildeo em franco crescimento
na Internet como o caso das liacutenguas Inglesa italiana francesa aacuterabe enquanto as
africanas satildeo relegadas para a extemporaneidade natildeo havendo sequer estudos sobre a
sua presenccedila no ciberespaccedilo existe (Omojola 2009 33 e Alexander 2010 90)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 4: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/4.jpg)
4
Entretanto natildeo faltam esforccedilos para melhorar a qualidade de conectividade um vez
que estaacute sendo instalado ao longo da costa africana ocidental um cabo submarino de
Fibra Oacuteptica SAT-3 que vai fornecer serviccedilo telecomunicaccedilotildees de alta qualidademas
o seu acesso estaacute limitado aos membros do consoacutecio que estatildeo a construir a ligaccedilatildeo
Paralelamente desde meados de 2007 os operadores das telecomunicaccedilotildees jaacute tecircm a sua
disponibilidade serviccedilos de telecomunicaccedilotildees internacionais e de conectividade
oferecidos pelas empresas americanas Poreacutem as tarifas praticadas satildeo as mais altas do
mundo situando-se na ordem dos 25 000 Doacutelares em cada mecircs pagas por cada
operadora Estes valores satildeo considerados demasiados altos por maioria dos paiacuteses
africanos ( PEA 2010)
Face agrave tentativa de reduzir os elevados custos de serviccedilos das telecomunicaccedilotildees e
aumentar a conectividade no continente africano o Banco Mundial disponibilizou 424
milhotildees de Doacutelares americanos para impulsionar as redes regionais na Aacutefrica Austral e
Oriental no acircmbito de Programa de Infra-estruturas de Comunicaccedilatildeo do qual se espera
originar um maior fluxo de Internet em pelo menos 36 ao ano e baixar os custos da
largura da banda em um deacutecimo (PEA 2010)
De acordo com a Uniatildeo Internacional das Telecomunicaccedilotildees e em consonacircncia com as
estimativas do Banco Mundial o preccedilo medio de uma ligaccedilatildeo de Banda Larga na Aacutefrica
subsaariana eacute de cerca de 110 Doacutelares para 100 kilobytes por segundo Na Europa e na
Aacutesia Central o preccedilo eacute de 20 Doacutelares para 100 kilobytes por segundo enquanto na
Ameacuterica Latina e Caraiacutebas eacute de 7 Doacutelares Os paiacuteses do meacutedio oriente e da Aacutefrica do
Norte pagam abaixo dos 30 Doacutelares pelo mesmo serviccedilo Por isso o custo de Internet
em Aacutefrica eacute mais alto comparativamente com os paiacuteses ocidentais (PEA 2010)
5
Adeya (2001) e Ajayi (2002) em trabalhos separados apresentam pontos de
convergecircncia das suas posiccedilotildees argumentando que a fraca massificaccedilatildeo das
tecnologias de informaccedilatildeo e de comunicaccedilatildeo no nosso continente associa-se a factores
que tecircm a ver com a fraqueza das poliacuteticas puacuteblicas e a pobreza material e tecnoloacutegica
Entretanto vaacuterios factores explicam essa situaccedilatildeo
i) no ambiente regulatoacuteria da comunicaccedilatildeo o grosso nuacutemero de paiacuteses africanos natildeo
abre os seus mercados para a concorrecircncia entre as empresas fornecedoras de serviccedilos
de Internet
ii) Inexistecircncia de infra-estruturas tecnoloacutegicas e o seu alto custo de acesso
iii) muitos paiacuteses africanos natildeo datildeo adequada facilidade de alocaccedilatildeo do seu espectro
radiofoacutenico para o uso das telecomunicaccedilotildees e operadores de Internet a outras
entidades nacionais ou regionais situaccedilatildeo que resulta no congestionamento da banda
iv) menos abertura do mercado governamental para o investimento do sector privado
Em suma Jensen (2009) descreve o cenaacuterio das TIC em Aacutefrica de seguinte modo
Ao mesmo tempo que o acesso TIC no continente eacute de um modo geral muito baixo a
grande disparidade nos niacuteveis de rendimento na dimensatildeo da populaccedilatildeo e nas poliacuteticas
relativas agraves infra-estruturas das telecomunicaccedilotildees provocou niacuteveis desiguais de
distribuiccedilatildeo Por exemplo mais de 75 por cento das linhas fixas encontram-se em
apenas 6 das 53 naccedilotildees africanas De igual modo quatro dos 53 paiacuteses em Aacutefrica
representam quase 60 por cento dos utilizadores da Internet na regiatildeo e apenas 22 dos
53 paiacuteses tecircm banda larga Paiacuteses com populaccedilotildees com acesso agrave Internet com mais de 1
milhatildeo de pessoas (por ordem de tamanho) Nigeacuteria Marrocos Egipto Aacutefrica do Sul
Sudatildeo Queacutenia Argeacutelia Tuniacutesia e Zimbabueacute (Jensen 2009)
6
No mesma linha discursiva mas na perspectiva de conectividade Castells (2007)
salienta que a baixa penetraccedilatildeo da Internet nos paiacuteses em vias de desenvolvimento estaacute
relacionada com a falta de infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees de fornecedores de
serviccedilos e de conteuacutedos de Internet assim como das estrateacutegias de combate agrave
infoexclusatildeo (Castells 2007 230)
Obijiofor (2008) reforccedila a ideia da importacircncia da TIC como ferramenta de
desenvolvimento socioeconoacutemico em Aacutefrica Descreve as TIC como uma consequecircncia
histoacuterica que comeccedila durante o periacuteodo da revoluccedilatildeo industrial e afirma que foi com
base na experiencia histoacuterica que as tecnologias constituem a base para o crescimento
econoacutemico e desenvolvimento de paiacuteses Mas para o caso africano a discussatildeo sobre as
TICs e sua inclusatildeo na agenda poliacutetica aleacutem da questatildeo do fluxo unilateral de
informaccedilatildeo dos paiacuteses ricos para os pobres resulta tambeacutem da exclusatildeo sistemaacutetica
do continente pelos paiacuteses industrializados que tentavam concentrar em si o
protagonismo no mercado das telecomunicaccedilotildees no comeacutercio internacional nas
tecnologias e nos outros processos de desenvolvimento
Diversas cimeiras organizadas pela UNESCO sobre as TIC salientavam a questatildeo da
abertura do mercado das telecomunicaccedilotildees e do acesso agraves tecnologias pelos paiacuteses
menos favorecidos Ao mesmo tempo irrompia por todo o mundo os movimentos
sociais que advogavam o comeacutercio justo e ldquoparcerias inteligentesrdquo entre as naccedilotildees ricas
e pobres Todas essas situaccedilotildees contribuiacuteram grandemente para a colocaccedilatildeo da temaacutetica
das tecnologias nas agendas poliacuteticas nacionais dos paiacuteses africanos
O binoacutemio tecnologiadesenvolvimento econoacutemico tal como se referem Adeya (2001) e
Jensen (2009) eacute um facto reconhecido pela maioria dos governos africanos Mas
Obijiofor (2008) alerta para o excesso de optimismo em relaccedilatildeo agraves TICs para o
7
desenvolvimento socioeconoacutemico e afirma que eacute importante ter em atenccedilatildeo que a mera
incorporaccedilatildeo destas ferramentas natildeo significa que elas seratildeo usadas por toda a
populaccedilatildeo Ainda de acordo com o autor as evidencias tecircm mostrado que a
massificaccedilatildeo da TIC depende do grau de literacia da populaccedilatildeo e das poliacuteticas puacuteblicas
de inclusatildeo digital (Obijiofor 20083)
As barreiras de acesso agraves tecnologias as desigualdades socioeconoacutemicas e o
analfabetismo constituem os desafios do continente Natildeo se pode negar que trecircs quarto
da populaccedilatildeo africana eacute iletrada e sendo ela na sua maioria populaccedilatildeo rural sem
grandes infra-estruturas de electricidades e telefone Entatildeo falar de Internet eacute uma
miragem ou algo que pertence agraves elites iluminadas da sociedade (Obijiofor 20083)
Obijiofor (2008) afirma que para o acesso agrave Internet o continente africano deve
realizar investimentos puacuteblicos e privados nas aacutereas de telecomunicaccedilotildees politicas
econoacutemicas e educaccedilatildeo No entender do autor as parcerias de investimentos entre as
empresas puacuteblicas e privadas complementam os esforccedilos de desenvolvimento e estimula
o aumento de nuacutemero de pessoas com acesso a computadores pessoais ligados agrave rede de
Internet preacute-requisitos para entrar na Sociedade de Informaccedilatildeo e de conhecimento
Contudo O apoio dos paiacuteses desenvolvidos continuam a ser importantes para Aacutefrica
mas as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses ricos e pobres tecircm mostrado o contraacuterio
Segundo o relatoacuterio da OCDE (2008) refere que cerca de 50 de investimento
tecnoloacutegico feito em Aacutefrica proveacutem dos paiacuteses natildeo-membros da OCDE E estes paiacuteses
como Brasil Iacutendia e China (BRIC) ou paiacuteses de economia emergente estatildeo cada vez
mais a alojar empresas de TIC no continente africano contrariamente ao grosso nuacutemero
de paiacuteses ocidentais
8
A vantagem das infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees para o continente africanos satildeo
enormes A Fibra oacuteptica por exemplo eacute essencial para introduzir a banda larga
suficientemente capaz de interligar os paiacuteses africanos a economia de rede
No esforccedilo de impulsionar a Aacutefrica para a economia de informaccedilatildeo jaacute comeccedilam a
aparecer algumas companhias africanas que tecircm trabalhado para a expansatildeo da Fibra
oacuteptica Entre os primeiros projectos lanccedilados estaacute a East African Submarine Cable
System (EASSy) cujo objectivo eacute estabelecer uma rede de fibra oacuteptica ao longo da
costa africana que liga a Repuacuteblica da Aacutefrica do Sul ao Sudatildeo com seis pontos de acesso
ao longo do percurso ou seja pontos de derivaccedilatildeo Aleacutem da EASSy existem outras
companhias ligadas agraves telecomunicaccedilotildees com o mesmo objectivo como o SEACOM
LION FLAG e o West African Cable System( Jensen 200824)
ldquoAfrocomplementarismordquo no ciberespaccedilo africano
O relatoacuterio da UNESCO sobre a sociedade de informaccedilatildeo e do conhecimento no
capiacutetulo relativo agrave diversidade linguiacutestica no ciberespaccedilo descreve de seguinte modo o
cenaacuterio que se configura
Algunos han calculado que el 75 de las paacuteginas de Internet estaacuten redactadas en ingleacutes mientras
otros estiman que la preponderancia de este idioma ha disminuido en un 5020 Hay que sentildealar
que estos estudios no tienen en cuenta los correos ni los foros electroacutenicos ni tampoco El
peligro que supone Internet para la diversidade linguumliacutestica es uno de los factores maacutes importantes
de la brecha digital y constituye una grave amenaza para la diversidad de los contenidos (
UNESCO 2005 172)
Seja como for a contradiccedilatildeo numeacuterica natildeo nos deixa de afirmar que existe o perigo da
uniformizaccedilatildeo linguiacutestica na Internet facto que pode constituir uma das causas do
fosso digital e ameaccedila para a diversidade de conteuacutedos
9
Vilches (2003) jaacute reconhecia que as mudanccedilas aceleradas operadas pela Internet
provocariam o desequiliacutebrio linguiacutestico entre o inglecircs e todas as demais liacutenguas
existentes no mundo (Vilches 200344) Nwosu (2005) tendo se apercebido da pouca
representatividade das linguas africanas no ciberespaccedilo escreveu de forma radical na
coluna editorial da African Media Review no qual sugeria uma forma de participaccedilatildeo
do cidadatildeo africano no processo de mudanccedilas poliacuteticas e mediaacuteticas em Aacutefrica atraveacutes
do uso da sua liacutengua nativa Segundo o mesmo eacutefice nos sistemas africanos de difusatildeo
actualmente dominado pelas ldquo liacutenguas imperialistas europeiasrdquo Nwosu (2005)sustenta-
se nas reflexotildees de inclusatildeo linguiacutestica africana de Blankson (2005 ) que sugerem o
esforccedilo de todos os africanos na promoccedilatildeo e utilizaccedilatildeo das liacutenguas africanas nos
sistemas nacionais e locais de difusatildeo no lugar das liacutenguas europeias
Adeye (2001) reconhece que o impacto e a interacccedilatildeo entre as TIC e a cultura
africana eacute muito complexo A autora afirma que este assunto tem sido aflorado por
muitos pesquisadores africanos Para Blake (1992) por exemplo o impacto das TIC
sobre a cultura africana vai ser positivo poreacutem haacute receio de potenciar as possibilidades
de acesso agraves TIC assim escreve o autor
The perspective I have on the impact of the new communication and information technologies on
culture particularly the case of Africa is positive and constructive I do not fear the advances in
the technologies mentioned above but rather welcome them in order to put them in the service of
African efforts to develop the continent The impact on culture is seen as good leading to serious
research by Africans at home and abroad on the mastering and application of the new
communication and information technologies ( Blake 1992 3)
Mas muitos paiacuteses tecircm atitudes diferentes face aos elementos transformadores da sua
cultura O certo eacute que o continente deve assumir uma atitude diferente e de assimilaccedilatildeo
destas tecnologias que natildeo destroem os valores culturais mas que tecircm um impacto
10
positivo sobre elas (Adeye 2001 11) Esta tese eacute contraacuteria agrave posiccedilatildeo de Vilches
(2003) segundo a qual a migraccedilatildeo para a Sociedade de Informaccedilatildeo implica a perda da
territorrialidade de origem devido ldquoa emergecircncia de novas mediaccedilotildees na cultura na
educaccedilatildeo nos serviccedilos e no consumordquo
Voltando a anaacutelise da questatildeo linguiacutestica africana na perspectiva da sua iserccedilatildeo nos
meios audiovisuais Abolou (2010) realccedila a importacircncia do seu uso na educaccedilatildeo ciacutevica
e na apropriaccedilatildeo do saber
A perspectiva do autor supracitado pode ser extemporacircnea tendo em conta que as novas
tecnologias trazem uma nova dinaacutemica no cenaacuterio sociolinguiacutestico africano Dai torna-
se necessaacuterio estudar o fenoacutemeno da presenccedila linguiacutestica africana no novo ambiente
digital de modo a perceber a emergecircncia de uma nova audiecircncia menos alfabetizadas
mas com forte apetecircncia pelo uso de novo recurso tecnoloacutegico o telefone
Entretanto Omojola (2009) e Lexander (2010) afirmam que a Internet eacute dominada
maioritariamente pelos usuaacuterios falantes da liacutengua inglesa Faz sentido que seja assim
porque ela nasceu no ambiente angloacutefono portanto os usuaacuterios de origem angloacutefonos
satildeo os responsaacuteveis pelo seu crescimento Os autores voltam a realccedilar que alguns
investigadores na aacuterea linguiacutestica vecircem este meio como a ldquomaacutequinardquo de extinccedilatildeo das
liacutenguas minoritaacuterias Pode-se concordar com este ponto de vista pois eacute manifestamente
claro notar-se que as liacutenguas mediadas pelo computadores estatildeo em franco crescimento
na Internet como o caso das liacutenguas Inglesa italiana francesa aacuterabe enquanto as
africanas satildeo relegadas para a extemporaneidade natildeo havendo sequer estudos sobre a
sua presenccedila no ciberespaccedilo existe (Omojola 2009 33 e Alexander 2010 90)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 5: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/5.jpg)
5
Adeya (2001) e Ajayi (2002) em trabalhos separados apresentam pontos de
convergecircncia das suas posiccedilotildees argumentando que a fraca massificaccedilatildeo das
tecnologias de informaccedilatildeo e de comunicaccedilatildeo no nosso continente associa-se a factores
que tecircm a ver com a fraqueza das poliacuteticas puacuteblicas e a pobreza material e tecnoloacutegica
Entretanto vaacuterios factores explicam essa situaccedilatildeo
i) no ambiente regulatoacuteria da comunicaccedilatildeo o grosso nuacutemero de paiacuteses africanos natildeo
abre os seus mercados para a concorrecircncia entre as empresas fornecedoras de serviccedilos
de Internet
ii) Inexistecircncia de infra-estruturas tecnoloacutegicas e o seu alto custo de acesso
iii) muitos paiacuteses africanos natildeo datildeo adequada facilidade de alocaccedilatildeo do seu espectro
radiofoacutenico para o uso das telecomunicaccedilotildees e operadores de Internet a outras
entidades nacionais ou regionais situaccedilatildeo que resulta no congestionamento da banda
iv) menos abertura do mercado governamental para o investimento do sector privado
Em suma Jensen (2009) descreve o cenaacuterio das TIC em Aacutefrica de seguinte modo
Ao mesmo tempo que o acesso TIC no continente eacute de um modo geral muito baixo a
grande disparidade nos niacuteveis de rendimento na dimensatildeo da populaccedilatildeo e nas poliacuteticas
relativas agraves infra-estruturas das telecomunicaccedilotildees provocou niacuteveis desiguais de
distribuiccedilatildeo Por exemplo mais de 75 por cento das linhas fixas encontram-se em
apenas 6 das 53 naccedilotildees africanas De igual modo quatro dos 53 paiacuteses em Aacutefrica
representam quase 60 por cento dos utilizadores da Internet na regiatildeo e apenas 22 dos
53 paiacuteses tecircm banda larga Paiacuteses com populaccedilotildees com acesso agrave Internet com mais de 1
milhatildeo de pessoas (por ordem de tamanho) Nigeacuteria Marrocos Egipto Aacutefrica do Sul
Sudatildeo Queacutenia Argeacutelia Tuniacutesia e Zimbabueacute (Jensen 2009)
6
No mesma linha discursiva mas na perspectiva de conectividade Castells (2007)
salienta que a baixa penetraccedilatildeo da Internet nos paiacuteses em vias de desenvolvimento estaacute
relacionada com a falta de infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees de fornecedores de
serviccedilos e de conteuacutedos de Internet assim como das estrateacutegias de combate agrave
infoexclusatildeo (Castells 2007 230)
Obijiofor (2008) reforccedila a ideia da importacircncia da TIC como ferramenta de
desenvolvimento socioeconoacutemico em Aacutefrica Descreve as TIC como uma consequecircncia
histoacuterica que comeccedila durante o periacuteodo da revoluccedilatildeo industrial e afirma que foi com
base na experiencia histoacuterica que as tecnologias constituem a base para o crescimento
econoacutemico e desenvolvimento de paiacuteses Mas para o caso africano a discussatildeo sobre as
TICs e sua inclusatildeo na agenda poliacutetica aleacutem da questatildeo do fluxo unilateral de
informaccedilatildeo dos paiacuteses ricos para os pobres resulta tambeacutem da exclusatildeo sistemaacutetica
do continente pelos paiacuteses industrializados que tentavam concentrar em si o
protagonismo no mercado das telecomunicaccedilotildees no comeacutercio internacional nas
tecnologias e nos outros processos de desenvolvimento
Diversas cimeiras organizadas pela UNESCO sobre as TIC salientavam a questatildeo da
abertura do mercado das telecomunicaccedilotildees e do acesso agraves tecnologias pelos paiacuteses
menos favorecidos Ao mesmo tempo irrompia por todo o mundo os movimentos
sociais que advogavam o comeacutercio justo e ldquoparcerias inteligentesrdquo entre as naccedilotildees ricas
e pobres Todas essas situaccedilotildees contribuiacuteram grandemente para a colocaccedilatildeo da temaacutetica
das tecnologias nas agendas poliacuteticas nacionais dos paiacuteses africanos
O binoacutemio tecnologiadesenvolvimento econoacutemico tal como se referem Adeya (2001) e
Jensen (2009) eacute um facto reconhecido pela maioria dos governos africanos Mas
Obijiofor (2008) alerta para o excesso de optimismo em relaccedilatildeo agraves TICs para o
7
desenvolvimento socioeconoacutemico e afirma que eacute importante ter em atenccedilatildeo que a mera
incorporaccedilatildeo destas ferramentas natildeo significa que elas seratildeo usadas por toda a
populaccedilatildeo Ainda de acordo com o autor as evidencias tecircm mostrado que a
massificaccedilatildeo da TIC depende do grau de literacia da populaccedilatildeo e das poliacuteticas puacuteblicas
de inclusatildeo digital (Obijiofor 20083)
As barreiras de acesso agraves tecnologias as desigualdades socioeconoacutemicas e o
analfabetismo constituem os desafios do continente Natildeo se pode negar que trecircs quarto
da populaccedilatildeo africana eacute iletrada e sendo ela na sua maioria populaccedilatildeo rural sem
grandes infra-estruturas de electricidades e telefone Entatildeo falar de Internet eacute uma
miragem ou algo que pertence agraves elites iluminadas da sociedade (Obijiofor 20083)
Obijiofor (2008) afirma que para o acesso agrave Internet o continente africano deve
realizar investimentos puacuteblicos e privados nas aacutereas de telecomunicaccedilotildees politicas
econoacutemicas e educaccedilatildeo No entender do autor as parcerias de investimentos entre as
empresas puacuteblicas e privadas complementam os esforccedilos de desenvolvimento e estimula
o aumento de nuacutemero de pessoas com acesso a computadores pessoais ligados agrave rede de
Internet preacute-requisitos para entrar na Sociedade de Informaccedilatildeo e de conhecimento
Contudo O apoio dos paiacuteses desenvolvidos continuam a ser importantes para Aacutefrica
mas as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses ricos e pobres tecircm mostrado o contraacuterio
Segundo o relatoacuterio da OCDE (2008) refere que cerca de 50 de investimento
tecnoloacutegico feito em Aacutefrica proveacutem dos paiacuteses natildeo-membros da OCDE E estes paiacuteses
como Brasil Iacutendia e China (BRIC) ou paiacuteses de economia emergente estatildeo cada vez
mais a alojar empresas de TIC no continente africano contrariamente ao grosso nuacutemero
de paiacuteses ocidentais
8
A vantagem das infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees para o continente africanos satildeo
enormes A Fibra oacuteptica por exemplo eacute essencial para introduzir a banda larga
suficientemente capaz de interligar os paiacuteses africanos a economia de rede
No esforccedilo de impulsionar a Aacutefrica para a economia de informaccedilatildeo jaacute comeccedilam a
aparecer algumas companhias africanas que tecircm trabalhado para a expansatildeo da Fibra
oacuteptica Entre os primeiros projectos lanccedilados estaacute a East African Submarine Cable
System (EASSy) cujo objectivo eacute estabelecer uma rede de fibra oacuteptica ao longo da
costa africana que liga a Repuacuteblica da Aacutefrica do Sul ao Sudatildeo com seis pontos de acesso
ao longo do percurso ou seja pontos de derivaccedilatildeo Aleacutem da EASSy existem outras
companhias ligadas agraves telecomunicaccedilotildees com o mesmo objectivo como o SEACOM
LION FLAG e o West African Cable System( Jensen 200824)
ldquoAfrocomplementarismordquo no ciberespaccedilo africano
O relatoacuterio da UNESCO sobre a sociedade de informaccedilatildeo e do conhecimento no
capiacutetulo relativo agrave diversidade linguiacutestica no ciberespaccedilo descreve de seguinte modo o
cenaacuterio que se configura
Algunos han calculado que el 75 de las paacuteginas de Internet estaacuten redactadas en ingleacutes mientras
otros estiman que la preponderancia de este idioma ha disminuido en un 5020 Hay que sentildealar
que estos estudios no tienen en cuenta los correos ni los foros electroacutenicos ni tampoco El
peligro que supone Internet para la diversidade linguumliacutestica es uno de los factores maacutes importantes
de la brecha digital y constituye una grave amenaza para la diversidad de los contenidos (
UNESCO 2005 172)
Seja como for a contradiccedilatildeo numeacuterica natildeo nos deixa de afirmar que existe o perigo da
uniformizaccedilatildeo linguiacutestica na Internet facto que pode constituir uma das causas do
fosso digital e ameaccedila para a diversidade de conteuacutedos
9
Vilches (2003) jaacute reconhecia que as mudanccedilas aceleradas operadas pela Internet
provocariam o desequiliacutebrio linguiacutestico entre o inglecircs e todas as demais liacutenguas
existentes no mundo (Vilches 200344) Nwosu (2005) tendo se apercebido da pouca
representatividade das linguas africanas no ciberespaccedilo escreveu de forma radical na
coluna editorial da African Media Review no qual sugeria uma forma de participaccedilatildeo
do cidadatildeo africano no processo de mudanccedilas poliacuteticas e mediaacuteticas em Aacutefrica atraveacutes
do uso da sua liacutengua nativa Segundo o mesmo eacutefice nos sistemas africanos de difusatildeo
actualmente dominado pelas ldquo liacutenguas imperialistas europeiasrdquo Nwosu (2005)sustenta-
se nas reflexotildees de inclusatildeo linguiacutestica africana de Blankson (2005 ) que sugerem o
esforccedilo de todos os africanos na promoccedilatildeo e utilizaccedilatildeo das liacutenguas africanas nos
sistemas nacionais e locais de difusatildeo no lugar das liacutenguas europeias
Adeye (2001) reconhece que o impacto e a interacccedilatildeo entre as TIC e a cultura
africana eacute muito complexo A autora afirma que este assunto tem sido aflorado por
muitos pesquisadores africanos Para Blake (1992) por exemplo o impacto das TIC
sobre a cultura africana vai ser positivo poreacutem haacute receio de potenciar as possibilidades
de acesso agraves TIC assim escreve o autor
The perspective I have on the impact of the new communication and information technologies on
culture particularly the case of Africa is positive and constructive I do not fear the advances in
the technologies mentioned above but rather welcome them in order to put them in the service of
African efforts to develop the continent The impact on culture is seen as good leading to serious
research by Africans at home and abroad on the mastering and application of the new
communication and information technologies ( Blake 1992 3)
Mas muitos paiacuteses tecircm atitudes diferentes face aos elementos transformadores da sua
cultura O certo eacute que o continente deve assumir uma atitude diferente e de assimilaccedilatildeo
destas tecnologias que natildeo destroem os valores culturais mas que tecircm um impacto
10
positivo sobre elas (Adeye 2001 11) Esta tese eacute contraacuteria agrave posiccedilatildeo de Vilches
(2003) segundo a qual a migraccedilatildeo para a Sociedade de Informaccedilatildeo implica a perda da
territorrialidade de origem devido ldquoa emergecircncia de novas mediaccedilotildees na cultura na
educaccedilatildeo nos serviccedilos e no consumordquo
Voltando a anaacutelise da questatildeo linguiacutestica africana na perspectiva da sua iserccedilatildeo nos
meios audiovisuais Abolou (2010) realccedila a importacircncia do seu uso na educaccedilatildeo ciacutevica
e na apropriaccedilatildeo do saber
A perspectiva do autor supracitado pode ser extemporacircnea tendo em conta que as novas
tecnologias trazem uma nova dinaacutemica no cenaacuterio sociolinguiacutestico africano Dai torna-
se necessaacuterio estudar o fenoacutemeno da presenccedila linguiacutestica africana no novo ambiente
digital de modo a perceber a emergecircncia de uma nova audiecircncia menos alfabetizadas
mas com forte apetecircncia pelo uso de novo recurso tecnoloacutegico o telefone
Entretanto Omojola (2009) e Lexander (2010) afirmam que a Internet eacute dominada
maioritariamente pelos usuaacuterios falantes da liacutengua inglesa Faz sentido que seja assim
porque ela nasceu no ambiente angloacutefono portanto os usuaacuterios de origem angloacutefonos
satildeo os responsaacuteveis pelo seu crescimento Os autores voltam a realccedilar que alguns
investigadores na aacuterea linguiacutestica vecircem este meio como a ldquomaacutequinardquo de extinccedilatildeo das
liacutenguas minoritaacuterias Pode-se concordar com este ponto de vista pois eacute manifestamente
claro notar-se que as liacutenguas mediadas pelo computadores estatildeo em franco crescimento
na Internet como o caso das liacutenguas Inglesa italiana francesa aacuterabe enquanto as
africanas satildeo relegadas para a extemporaneidade natildeo havendo sequer estudos sobre a
sua presenccedila no ciberespaccedilo existe (Omojola 2009 33 e Alexander 2010 90)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 6: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/6.jpg)
6
No mesma linha discursiva mas na perspectiva de conectividade Castells (2007)
salienta que a baixa penetraccedilatildeo da Internet nos paiacuteses em vias de desenvolvimento estaacute
relacionada com a falta de infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees de fornecedores de
serviccedilos e de conteuacutedos de Internet assim como das estrateacutegias de combate agrave
infoexclusatildeo (Castells 2007 230)
Obijiofor (2008) reforccedila a ideia da importacircncia da TIC como ferramenta de
desenvolvimento socioeconoacutemico em Aacutefrica Descreve as TIC como uma consequecircncia
histoacuterica que comeccedila durante o periacuteodo da revoluccedilatildeo industrial e afirma que foi com
base na experiencia histoacuterica que as tecnologias constituem a base para o crescimento
econoacutemico e desenvolvimento de paiacuteses Mas para o caso africano a discussatildeo sobre as
TICs e sua inclusatildeo na agenda poliacutetica aleacutem da questatildeo do fluxo unilateral de
informaccedilatildeo dos paiacuteses ricos para os pobres resulta tambeacutem da exclusatildeo sistemaacutetica
do continente pelos paiacuteses industrializados que tentavam concentrar em si o
protagonismo no mercado das telecomunicaccedilotildees no comeacutercio internacional nas
tecnologias e nos outros processos de desenvolvimento
Diversas cimeiras organizadas pela UNESCO sobre as TIC salientavam a questatildeo da
abertura do mercado das telecomunicaccedilotildees e do acesso agraves tecnologias pelos paiacuteses
menos favorecidos Ao mesmo tempo irrompia por todo o mundo os movimentos
sociais que advogavam o comeacutercio justo e ldquoparcerias inteligentesrdquo entre as naccedilotildees ricas
e pobres Todas essas situaccedilotildees contribuiacuteram grandemente para a colocaccedilatildeo da temaacutetica
das tecnologias nas agendas poliacuteticas nacionais dos paiacuteses africanos
O binoacutemio tecnologiadesenvolvimento econoacutemico tal como se referem Adeya (2001) e
Jensen (2009) eacute um facto reconhecido pela maioria dos governos africanos Mas
Obijiofor (2008) alerta para o excesso de optimismo em relaccedilatildeo agraves TICs para o
7
desenvolvimento socioeconoacutemico e afirma que eacute importante ter em atenccedilatildeo que a mera
incorporaccedilatildeo destas ferramentas natildeo significa que elas seratildeo usadas por toda a
populaccedilatildeo Ainda de acordo com o autor as evidencias tecircm mostrado que a
massificaccedilatildeo da TIC depende do grau de literacia da populaccedilatildeo e das poliacuteticas puacuteblicas
de inclusatildeo digital (Obijiofor 20083)
As barreiras de acesso agraves tecnologias as desigualdades socioeconoacutemicas e o
analfabetismo constituem os desafios do continente Natildeo se pode negar que trecircs quarto
da populaccedilatildeo africana eacute iletrada e sendo ela na sua maioria populaccedilatildeo rural sem
grandes infra-estruturas de electricidades e telefone Entatildeo falar de Internet eacute uma
miragem ou algo que pertence agraves elites iluminadas da sociedade (Obijiofor 20083)
Obijiofor (2008) afirma que para o acesso agrave Internet o continente africano deve
realizar investimentos puacuteblicos e privados nas aacutereas de telecomunicaccedilotildees politicas
econoacutemicas e educaccedilatildeo No entender do autor as parcerias de investimentos entre as
empresas puacuteblicas e privadas complementam os esforccedilos de desenvolvimento e estimula
o aumento de nuacutemero de pessoas com acesso a computadores pessoais ligados agrave rede de
Internet preacute-requisitos para entrar na Sociedade de Informaccedilatildeo e de conhecimento
Contudo O apoio dos paiacuteses desenvolvidos continuam a ser importantes para Aacutefrica
mas as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses ricos e pobres tecircm mostrado o contraacuterio
Segundo o relatoacuterio da OCDE (2008) refere que cerca de 50 de investimento
tecnoloacutegico feito em Aacutefrica proveacutem dos paiacuteses natildeo-membros da OCDE E estes paiacuteses
como Brasil Iacutendia e China (BRIC) ou paiacuteses de economia emergente estatildeo cada vez
mais a alojar empresas de TIC no continente africano contrariamente ao grosso nuacutemero
de paiacuteses ocidentais
8
A vantagem das infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees para o continente africanos satildeo
enormes A Fibra oacuteptica por exemplo eacute essencial para introduzir a banda larga
suficientemente capaz de interligar os paiacuteses africanos a economia de rede
No esforccedilo de impulsionar a Aacutefrica para a economia de informaccedilatildeo jaacute comeccedilam a
aparecer algumas companhias africanas que tecircm trabalhado para a expansatildeo da Fibra
oacuteptica Entre os primeiros projectos lanccedilados estaacute a East African Submarine Cable
System (EASSy) cujo objectivo eacute estabelecer uma rede de fibra oacuteptica ao longo da
costa africana que liga a Repuacuteblica da Aacutefrica do Sul ao Sudatildeo com seis pontos de acesso
ao longo do percurso ou seja pontos de derivaccedilatildeo Aleacutem da EASSy existem outras
companhias ligadas agraves telecomunicaccedilotildees com o mesmo objectivo como o SEACOM
LION FLAG e o West African Cable System( Jensen 200824)
ldquoAfrocomplementarismordquo no ciberespaccedilo africano
O relatoacuterio da UNESCO sobre a sociedade de informaccedilatildeo e do conhecimento no
capiacutetulo relativo agrave diversidade linguiacutestica no ciberespaccedilo descreve de seguinte modo o
cenaacuterio que se configura
Algunos han calculado que el 75 de las paacuteginas de Internet estaacuten redactadas en ingleacutes mientras
otros estiman que la preponderancia de este idioma ha disminuido en un 5020 Hay que sentildealar
que estos estudios no tienen en cuenta los correos ni los foros electroacutenicos ni tampoco El
peligro que supone Internet para la diversidade linguumliacutestica es uno de los factores maacutes importantes
de la brecha digital y constituye una grave amenaza para la diversidad de los contenidos (
UNESCO 2005 172)
Seja como for a contradiccedilatildeo numeacuterica natildeo nos deixa de afirmar que existe o perigo da
uniformizaccedilatildeo linguiacutestica na Internet facto que pode constituir uma das causas do
fosso digital e ameaccedila para a diversidade de conteuacutedos
9
Vilches (2003) jaacute reconhecia que as mudanccedilas aceleradas operadas pela Internet
provocariam o desequiliacutebrio linguiacutestico entre o inglecircs e todas as demais liacutenguas
existentes no mundo (Vilches 200344) Nwosu (2005) tendo se apercebido da pouca
representatividade das linguas africanas no ciberespaccedilo escreveu de forma radical na
coluna editorial da African Media Review no qual sugeria uma forma de participaccedilatildeo
do cidadatildeo africano no processo de mudanccedilas poliacuteticas e mediaacuteticas em Aacutefrica atraveacutes
do uso da sua liacutengua nativa Segundo o mesmo eacutefice nos sistemas africanos de difusatildeo
actualmente dominado pelas ldquo liacutenguas imperialistas europeiasrdquo Nwosu (2005)sustenta-
se nas reflexotildees de inclusatildeo linguiacutestica africana de Blankson (2005 ) que sugerem o
esforccedilo de todos os africanos na promoccedilatildeo e utilizaccedilatildeo das liacutenguas africanas nos
sistemas nacionais e locais de difusatildeo no lugar das liacutenguas europeias
Adeye (2001) reconhece que o impacto e a interacccedilatildeo entre as TIC e a cultura
africana eacute muito complexo A autora afirma que este assunto tem sido aflorado por
muitos pesquisadores africanos Para Blake (1992) por exemplo o impacto das TIC
sobre a cultura africana vai ser positivo poreacutem haacute receio de potenciar as possibilidades
de acesso agraves TIC assim escreve o autor
The perspective I have on the impact of the new communication and information technologies on
culture particularly the case of Africa is positive and constructive I do not fear the advances in
the technologies mentioned above but rather welcome them in order to put them in the service of
African efforts to develop the continent The impact on culture is seen as good leading to serious
research by Africans at home and abroad on the mastering and application of the new
communication and information technologies ( Blake 1992 3)
Mas muitos paiacuteses tecircm atitudes diferentes face aos elementos transformadores da sua
cultura O certo eacute que o continente deve assumir uma atitude diferente e de assimilaccedilatildeo
destas tecnologias que natildeo destroem os valores culturais mas que tecircm um impacto
10
positivo sobre elas (Adeye 2001 11) Esta tese eacute contraacuteria agrave posiccedilatildeo de Vilches
(2003) segundo a qual a migraccedilatildeo para a Sociedade de Informaccedilatildeo implica a perda da
territorrialidade de origem devido ldquoa emergecircncia de novas mediaccedilotildees na cultura na
educaccedilatildeo nos serviccedilos e no consumordquo
Voltando a anaacutelise da questatildeo linguiacutestica africana na perspectiva da sua iserccedilatildeo nos
meios audiovisuais Abolou (2010) realccedila a importacircncia do seu uso na educaccedilatildeo ciacutevica
e na apropriaccedilatildeo do saber
A perspectiva do autor supracitado pode ser extemporacircnea tendo em conta que as novas
tecnologias trazem uma nova dinaacutemica no cenaacuterio sociolinguiacutestico africano Dai torna-
se necessaacuterio estudar o fenoacutemeno da presenccedila linguiacutestica africana no novo ambiente
digital de modo a perceber a emergecircncia de uma nova audiecircncia menos alfabetizadas
mas com forte apetecircncia pelo uso de novo recurso tecnoloacutegico o telefone
Entretanto Omojola (2009) e Lexander (2010) afirmam que a Internet eacute dominada
maioritariamente pelos usuaacuterios falantes da liacutengua inglesa Faz sentido que seja assim
porque ela nasceu no ambiente angloacutefono portanto os usuaacuterios de origem angloacutefonos
satildeo os responsaacuteveis pelo seu crescimento Os autores voltam a realccedilar que alguns
investigadores na aacuterea linguiacutestica vecircem este meio como a ldquomaacutequinardquo de extinccedilatildeo das
liacutenguas minoritaacuterias Pode-se concordar com este ponto de vista pois eacute manifestamente
claro notar-se que as liacutenguas mediadas pelo computadores estatildeo em franco crescimento
na Internet como o caso das liacutenguas Inglesa italiana francesa aacuterabe enquanto as
africanas satildeo relegadas para a extemporaneidade natildeo havendo sequer estudos sobre a
sua presenccedila no ciberespaccedilo existe (Omojola 2009 33 e Alexander 2010 90)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 7: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/7.jpg)
7
desenvolvimento socioeconoacutemico e afirma que eacute importante ter em atenccedilatildeo que a mera
incorporaccedilatildeo destas ferramentas natildeo significa que elas seratildeo usadas por toda a
populaccedilatildeo Ainda de acordo com o autor as evidencias tecircm mostrado que a
massificaccedilatildeo da TIC depende do grau de literacia da populaccedilatildeo e das poliacuteticas puacuteblicas
de inclusatildeo digital (Obijiofor 20083)
As barreiras de acesso agraves tecnologias as desigualdades socioeconoacutemicas e o
analfabetismo constituem os desafios do continente Natildeo se pode negar que trecircs quarto
da populaccedilatildeo africana eacute iletrada e sendo ela na sua maioria populaccedilatildeo rural sem
grandes infra-estruturas de electricidades e telefone Entatildeo falar de Internet eacute uma
miragem ou algo que pertence agraves elites iluminadas da sociedade (Obijiofor 20083)
Obijiofor (2008) afirma que para o acesso agrave Internet o continente africano deve
realizar investimentos puacuteblicos e privados nas aacutereas de telecomunicaccedilotildees politicas
econoacutemicas e educaccedilatildeo No entender do autor as parcerias de investimentos entre as
empresas puacuteblicas e privadas complementam os esforccedilos de desenvolvimento e estimula
o aumento de nuacutemero de pessoas com acesso a computadores pessoais ligados agrave rede de
Internet preacute-requisitos para entrar na Sociedade de Informaccedilatildeo e de conhecimento
Contudo O apoio dos paiacuteses desenvolvidos continuam a ser importantes para Aacutefrica
mas as poliacuteticas de cooperaccedilatildeo entre os paiacuteses ricos e pobres tecircm mostrado o contraacuterio
Segundo o relatoacuterio da OCDE (2008) refere que cerca de 50 de investimento
tecnoloacutegico feito em Aacutefrica proveacutem dos paiacuteses natildeo-membros da OCDE E estes paiacuteses
como Brasil Iacutendia e China (BRIC) ou paiacuteses de economia emergente estatildeo cada vez
mais a alojar empresas de TIC no continente africano contrariamente ao grosso nuacutemero
de paiacuteses ocidentais
8
A vantagem das infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees para o continente africanos satildeo
enormes A Fibra oacuteptica por exemplo eacute essencial para introduzir a banda larga
suficientemente capaz de interligar os paiacuteses africanos a economia de rede
No esforccedilo de impulsionar a Aacutefrica para a economia de informaccedilatildeo jaacute comeccedilam a
aparecer algumas companhias africanas que tecircm trabalhado para a expansatildeo da Fibra
oacuteptica Entre os primeiros projectos lanccedilados estaacute a East African Submarine Cable
System (EASSy) cujo objectivo eacute estabelecer uma rede de fibra oacuteptica ao longo da
costa africana que liga a Repuacuteblica da Aacutefrica do Sul ao Sudatildeo com seis pontos de acesso
ao longo do percurso ou seja pontos de derivaccedilatildeo Aleacutem da EASSy existem outras
companhias ligadas agraves telecomunicaccedilotildees com o mesmo objectivo como o SEACOM
LION FLAG e o West African Cable System( Jensen 200824)
ldquoAfrocomplementarismordquo no ciberespaccedilo africano
O relatoacuterio da UNESCO sobre a sociedade de informaccedilatildeo e do conhecimento no
capiacutetulo relativo agrave diversidade linguiacutestica no ciberespaccedilo descreve de seguinte modo o
cenaacuterio que se configura
Algunos han calculado que el 75 de las paacuteginas de Internet estaacuten redactadas en ingleacutes mientras
otros estiman que la preponderancia de este idioma ha disminuido en un 5020 Hay que sentildealar
que estos estudios no tienen en cuenta los correos ni los foros electroacutenicos ni tampoco El
peligro que supone Internet para la diversidade linguumliacutestica es uno de los factores maacutes importantes
de la brecha digital y constituye una grave amenaza para la diversidad de los contenidos (
UNESCO 2005 172)
Seja como for a contradiccedilatildeo numeacuterica natildeo nos deixa de afirmar que existe o perigo da
uniformizaccedilatildeo linguiacutestica na Internet facto que pode constituir uma das causas do
fosso digital e ameaccedila para a diversidade de conteuacutedos
9
Vilches (2003) jaacute reconhecia que as mudanccedilas aceleradas operadas pela Internet
provocariam o desequiliacutebrio linguiacutestico entre o inglecircs e todas as demais liacutenguas
existentes no mundo (Vilches 200344) Nwosu (2005) tendo se apercebido da pouca
representatividade das linguas africanas no ciberespaccedilo escreveu de forma radical na
coluna editorial da African Media Review no qual sugeria uma forma de participaccedilatildeo
do cidadatildeo africano no processo de mudanccedilas poliacuteticas e mediaacuteticas em Aacutefrica atraveacutes
do uso da sua liacutengua nativa Segundo o mesmo eacutefice nos sistemas africanos de difusatildeo
actualmente dominado pelas ldquo liacutenguas imperialistas europeiasrdquo Nwosu (2005)sustenta-
se nas reflexotildees de inclusatildeo linguiacutestica africana de Blankson (2005 ) que sugerem o
esforccedilo de todos os africanos na promoccedilatildeo e utilizaccedilatildeo das liacutenguas africanas nos
sistemas nacionais e locais de difusatildeo no lugar das liacutenguas europeias
Adeye (2001) reconhece que o impacto e a interacccedilatildeo entre as TIC e a cultura
africana eacute muito complexo A autora afirma que este assunto tem sido aflorado por
muitos pesquisadores africanos Para Blake (1992) por exemplo o impacto das TIC
sobre a cultura africana vai ser positivo poreacutem haacute receio de potenciar as possibilidades
de acesso agraves TIC assim escreve o autor
The perspective I have on the impact of the new communication and information technologies on
culture particularly the case of Africa is positive and constructive I do not fear the advances in
the technologies mentioned above but rather welcome them in order to put them in the service of
African efforts to develop the continent The impact on culture is seen as good leading to serious
research by Africans at home and abroad on the mastering and application of the new
communication and information technologies ( Blake 1992 3)
Mas muitos paiacuteses tecircm atitudes diferentes face aos elementos transformadores da sua
cultura O certo eacute que o continente deve assumir uma atitude diferente e de assimilaccedilatildeo
destas tecnologias que natildeo destroem os valores culturais mas que tecircm um impacto
10
positivo sobre elas (Adeye 2001 11) Esta tese eacute contraacuteria agrave posiccedilatildeo de Vilches
(2003) segundo a qual a migraccedilatildeo para a Sociedade de Informaccedilatildeo implica a perda da
territorrialidade de origem devido ldquoa emergecircncia de novas mediaccedilotildees na cultura na
educaccedilatildeo nos serviccedilos e no consumordquo
Voltando a anaacutelise da questatildeo linguiacutestica africana na perspectiva da sua iserccedilatildeo nos
meios audiovisuais Abolou (2010) realccedila a importacircncia do seu uso na educaccedilatildeo ciacutevica
e na apropriaccedilatildeo do saber
A perspectiva do autor supracitado pode ser extemporacircnea tendo em conta que as novas
tecnologias trazem uma nova dinaacutemica no cenaacuterio sociolinguiacutestico africano Dai torna-
se necessaacuterio estudar o fenoacutemeno da presenccedila linguiacutestica africana no novo ambiente
digital de modo a perceber a emergecircncia de uma nova audiecircncia menos alfabetizadas
mas com forte apetecircncia pelo uso de novo recurso tecnoloacutegico o telefone
Entretanto Omojola (2009) e Lexander (2010) afirmam que a Internet eacute dominada
maioritariamente pelos usuaacuterios falantes da liacutengua inglesa Faz sentido que seja assim
porque ela nasceu no ambiente angloacutefono portanto os usuaacuterios de origem angloacutefonos
satildeo os responsaacuteveis pelo seu crescimento Os autores voltam a realccedilar que alguns
investigadores na aacuterea linguiacutestica vecircem este meio como a ldquomaacutequinardquo de extinccedilatildeo das
liacutenguas minoritaacuterias Pode-se concordar com este ponto de vista pois eacute manifestamente
claro notar-se que as liacutenguas mediadas pelo computadores estatildeo em franco crescimento
na Internet como o caso das liacutenguas Inglesa italiana francesa aacuterabe enquanto as
africanas satildeo relegadas para a extemporaneidade natildeo havendo sequer estudos sobre a
sua presenccedila no ciberespaccedilo existe (Omojola 2009 33 e Alexander 2010 90)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 8: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/8.jpg)
8
A vantagem das infra-estruturas de telecomunicaccedilotildees para o continente africanos satildeo
enormes A Fibra oacuteptica por exemplo eacute essencial para introduzir a banda larga
suficientemente capaz de interligar os paiacuteses africanos a economia de rede
No esforccedilo de impulsionar a Aacutefrica para a economia de informaccedilatildeo jaacute comeccedilam a
aparecer algumas companhias africanas que tecircm trabalhado para a expansatildeo da Fibra
oacuteptica Entre os primeiros projectos lanccedilados estaacute a East African Submarine Cable
System (EASSy) cujo objectivo eacute estabelecer uma rede de fibra oacuteptica ao longo da
costa africana que liga a Repuacuteblica da Aacutefrica do Sul ao Sudatildeo com seis pontos de acesso
ao longo do percurso ou seja pontos de derivaccedilatildeo Aleacutem da EASSy existem outras
companhias ligadas agraves telecomunicaccedilotildees com o mesmo objectivo como o SEACOM
LION FLAG e o West African Cable System( Jensen 200824)
ldquoAfrocomplementarismordquo no ciberespaccedilo africano
O relatoacuterio da UNESCO sobre a sociedade de informaccedilatildeo e do conhecimento no
capiacutetulo relativo agrave diversidade linguiacutestica no ciberespaccedilo descreve de seguinte modo o
cenaacuterio que se configura
Algunos han calculado que el 75 de las paacuteginas de Internet estaacuten redactadas en ingleacutes mientras
otros estiman que la preponderancia de este idioma ha disminuido en un 5020 Hay que sentildealar
que estos estudios no tienen en cuenta los correos ni los foros electroacutenicos ni tampoco El
peligro que supone Internet para la diversidade linguumliacutestica es uno de los factores maacutes importantes
de la brecha digital y constituye una grave amenaza para la diversidad de los contenidos (
UNESCO 2005 172)
Seja como for a contradiccedilatildeo numeacuterica natildeo nos deixa de afirmar que existe o perigo da
uniformizaccedilatildeo linguiacutestica na Internet facto que pode constituir uma das causas do
fosso digital e ameaccedila para a diversidade de conteuacutedos
9
Vilches (2003) jaacute reconhecia que as mudanccedilas aceleradas operadas pela Internet
provocariam o desequiliacutebrio linguiacutestico entre o inglecircs e todas as demais liacutenguas
existentes no mundo (Vilches 200344) Nwosu (2005) tendo se apercebido da pouca
representatividade das linguas africanas no ciberespaccedilo escreveu de forma radical na
coluna editorial da African Media Review no qual sugeria uma forma de participaccedilatildeo
do cidadatildeo africano no processo de mudanccedilas poliacuteticas e mediaacuteticas em Aacutefrica atraveacutes
do uso da sua liacutengua nativa Segundo o mesmo eacutefice nos sistemas africanos de difusatildeo
actualmente dominado pelas ldquo liacutenguas imperialistas europeiasrdquo Nwosu (2005)sustenta-
se nas reflexotildees de inclusatildeo linguiacutestica africana de Blankson (2005 ) que sugerem o
esforccedilo de todos os africanos na promoccedilatildeo e utilizaccedilatildeo das liacutenguas africanas nos
sistemas nacionais e locais de difusatildeo no lugar das liacutenguas europeias
Adeye (2001) reconhece que o impacto e a interacccedilatildeo entre as TIC e a cultura
africana eacute muito complexo A autora afirma que este assunto tem sido aflorado por
muitos pesquisadores africanos Para Blake (1992) por exemplo o impacto das TIC
sobre a cultura africana vai ser positivo poreacutem haacute receio de potenciar as possibilidades
de acesso agraves TIC assim escreve o autor
The perspective I have on the impact of the new communication and information technologies on
culture particularly the case of Africa is positive and constructive I do not fear the advances in
the technologies mentioned above but rather welcome them in order to put them in the service of
African efforts to develop the continent The impact on culture is seen as good leading to serious
research by Africans at home and abroad on the mastering and application of the new
communication and information technologies ( Blake 1992 3)
Mas muitos paiacuteses tecircm atitudes diferentes face aos elementos transformadores da sua
cultura O certo eacute que o continente deve assumir uma atitude diferente e de assimilaccedilatildeo
destas tecnologias que natildeo destroem os valores culturais mas que tecircm um impacto
10
positivo sobre elas (Adeye 2001 11) Esta tese eacute contraacuteria agrave posiccedilatildeo de Vilches
(2003) segundo a qual a migraccedilatildeo para a Sociedade de Informaccedilatildeo implica a perda da
territorrialidade de origem devido ldquoa emergecircncia de novas mediaccedilotildees na cultura na
educaccedilatildeo nos serviccedilos e no consumordquo
Voltando a anaacutelise da questatildeo linguiacutestica africana na perspectiva da sua iserccedilatildeo nos
meios audiovisuais Abolou (2010) realccedila a importacircncia do seu uso na educaccedilatildeo ciacutevica
e na apropriaccedilatildeo do saber
A perspectiva do autor supracitado pode ser extemporacircnea tendo em conta que as novas
tecnologias trazem uma nova dinaacutemica no cenaacuterio sociolinguiacutestico africano Dai torna-
se necessaacuterio estudar o fenoacutemeno da presenccedila linguiacutestica africana no novo ambiente
digital de modo a perceber a emergecircncia de uma nova audiecircncia menos alfabetizadas
mas com forte apetecircncia pelo uso de novo recurso tecnoloacutegico o telefone
Entretanto Omojola (2009) e Lexander (2010) afirmam que a Internet eacute dominada
maioritariamente pelos usuaacuterios falantes da liacutengua inglesa Faz sentido que seja assim
porque ela nasceu no ambiente angloacutefono portanto os usuaacuterios de origem angloacutefonos
satildeo os responsaacuteveis pelo seu crescimento Os autores voltam a realccedilar que alguns
investigadores na aacuterea linguiacutestica vecircem este meio como a ldquomaacutequinardquo de extinccedilatildeo das
liacutenguas minoritaacuterias Pode-se concordar com este ponto de vista pois eacute manifestamente
claro notar-se que as liacutenguas mediadas pelo computadores estatildeo em franco crescimento
na Internet como o caso das liacutenguas Inglesa italiana francesa aacuterabe enquanto as
africanas satildeo relegadas para a extemporaneidade natildeo havendo sequer estudos sobre a
sua presenccedila no ciberespaccedilo existe (Omojola 2009 33 e Alexander 2010 90)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 9: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/9.jpg)
9
Vilches (2003) jaacute reconhecia que as mudanccedilas aceleradas operadas pela Internet
provocariam o desequiliacutebrio linguiacutestico entre o inglecircs e todas as demais liacutenguas
existentes no mundo (Vilches 200344) Nwosu (2005) tendo se apercebido da pouca
representatividade das linguas africanas no ciberespaccedilo escreveu de forma radical na
coluna editorial da African Media Review no qual sugeria uma forma de participaccedilatildeo
do cidadatildeo africano no processo de mudanccedilas poliacuteticas e mediaacuteticas em Aacutefrica atraveacutes
do uso da sua liacutengua nativa Segundo o mesmo eacutefice nos sistemas africanos de difusatildeo
actualmente dominado pelas ldquo liacutenguas imperialistas europeiasrdquo Nwosu (2005)sustenta-
se nas reflexotildees de inclusatildeo linguiacutestica africana de Blankson (2005 ) que sugerem o
esforccedilo de todos os africanos na promoccedilatildeo e utilizaccedilatildeo das liacutenguas africanas nos
sistemas nacionais e locais de difusatildeo no lugar das liacutenguas europeias
Adeye (2001) reconhece que o impacto e a interacccedilatildeo entre as TIC e a cultura
africana eacute muito complexo A autora afirma que este assunto tem sido aflorado por
muitos pesquisadores africanos Para Blake (1992) por exemplo o impacto das TIC
sobre a cultura africana vai ser positivo poreacutem haacute receio de potenciar as possibilidades
de acesso agraves TIC assim escreve o autor
The perspective I have on the impact of the new communication and information technologies on
culture particularly the case of Africa is positive and constructive I do not fear the advances in
the technologies mentioned above but rather welcome them in order to put them in the service of
African efforts to develop the continent The impact on culture is seen as good leading to serious
research by Africans at home and abroad on the mastering and application of the new
communication and information technologies ( Blake 1992 3)
Mas muitos paiacuteses tecircm atitudes diferentes face aos elementos transformadores da sua
cultura O certo eacute que o continente deve assumir uma atitude diferente e de assimilaccedilatildeo
destas tecnologias que natildeo destroem os valores culturais mas que tecircm um impacto
10
positivo sobre elas (Adeye 2001 11) Esta tese eacute contraacuteria agrave posiccedilatildeo de Vilches
(2003) segundo a qual a migraccedilatildeo para a Sociedade de Informaccedilatildeo implica a perda da
territorrialidade de origem devido ldquoa emergecircncia de novas mediaccedilotildees na cultura na
educaccedilatildeo nos serviccedilos e no consumordquo
Voltando a anaacutelise da questatildeo linguiacutestica africana na perspectiva da sua iserccedilatildeo nos
meios audiovisuais Abolou (2010) realccedila a importacircncia do seu uso na educaccedilatildeo ciacutevica
e na apropriaccedilatildeo do saber
A perspectiva do autor supracitado pode ser extemporacircnea tendo em conta que as novas
tecnologias trazem uma nova dinaacutemica no cenaacuterio sociolinguiacutestico africano Dai torna-
se necessaacuterio estudar o fenoacutemeno da presenccedila linguiacutestica africana no novo ambiente
digital de modo a perceber a emergecircncia de uma nova audiecircncia menos alfabetizadas
mas com forte apetecircncia pelo uso de novo recurso tecnoloacutegico o telefone
Entretanto Omojola (2009) e Lexander (2010) afirmam que a Internet eacute dominada
maioritariamente pelos usuaacuterios falantes da liacutengua inglesa Faz sentido que seja assim
porque ela nasceu no ambiente angloacutefono portanto os usuaacuterios de origem angloacutefonos
satildeo os responsaacuteveis pelo seu crescimento Os autores voltam a realccedilar que alguns
investigadores na aacuterea linguiacutestica vecircem este meio como a ldquomaacutequinardquo de extinccedilatildeo das
liacutenguas minoritaacuterias Pode-se concordar com este ponto de vista pois eacute manifestamente
claro notar-se que as liacutenguas mediadas pelo computadores estatildeo em franco crescimento
na Internet como o caso das liacutenguas Inglesa italiana francesa aacuterabe enquanto as
africanas satildeo relegadas para a extemporaneidade natildeo havendo sequer estudos sobre a
sua presenccedila no ciberespaccedilo existe (Omojola 2009 33 e Alexander 2010 90)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 10: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/10.jpg)
10
positivo sobre elas (Adeye 2001 11) Esta tese eacute contraacuteria agrave posiccedilatildeo de Vilches
(2003) segundo a qual a migraccedilatildeo para a Sociedade de Informaccedilatildeo implica a perda da
territorrialidade de origem devido ldquoa emergecircncia de novas mediaccedilotildees na cultura na
educaccedilatildeo nos serviccedilos e no consumordquo
Voltando a anaacutelise da questatildeo linguiacutestica africana na perspectiva da sua iserccedilatildeo nos
meios audiovisuais Abolou (2010) realccedila a importacircncia do seu uso na educaccedilatildeo ciacutevica
e na apropriaccedilatildeo do saber
A perspectiva do autor supracitado pode ser extemporacircnea tendo em conta que as novas
tecnologias trazem uma nova dinaacutemica no cenaacuterio sociolinguiacutestico africano Dai torna-
se necessaacuterio estudar o fenoacutemeno da presenccedila linguiacutestica africana no novo ambiente
digital de modo a perceber a emergecircncia de uma nova audiecircncia menos alfabetizadas
mas com forte apetecircncia pelo uso de novo recurso tecnoloacutegico o telefone
Entretanto Omojola (2009) e Lexander (2010) afirmam que a Internet eacute dominada
maioritariamente pelos usuaacuterios falantes da liacutengua inglesa Faz sentido que seja assim
porque ela nasceu no ambiente angloacutefono portanto os usuaacuterios de origem angloacutefonos
satildeo os responsaacuteveis pelo seu crescimento Os autores voltam a realccedilar que alguns
investigadores na aacuterea linguiacutestica vecircem este meio como a ldquomaacutequinardquo de extinccedilatildeo das
liacutenguas minoritaacuterias Pode-se concordar com este ponto de vista pois eacute manifestamente
claro notar-se que as liacutenguas mediadas pelo computadores estatildeo em franco crescimento
na Internet como o caso das liacutenguas Inglesa italiana francesa aacuterabe enquanto as
africanas satildeo relegadas para a extemporaneidade natildeo havendo sequer estudos sobre a
sua presenccedila no ciberespaccedilo existe (Omojola 2009 33 e Alexander 2010 90)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 11: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/11.jpg)
11
Por seu torno Omojola (2009) critica o desenvolvimento das TIC assente na exclusatildeo
das liacutengua das populaccedilotildees indiacutegenas africanas A sua criacutetica fundamentando-se em
dados estatiacutesticos sobre o universo populacional que fala determinadas liacutenguas no
mundo no qual encontrou disparidades estatiacutesticas e exclusatildeo sistemaacutetica Segundo o
autor algumas linguas europeias faladas por minoria tecircm uma forte presenccedila no
ciberespaccedilo Contrariamente existem grupos linguiacutesticos africanos como Hausa falada
por 70 milhotildees de pessoas Swahili por 100 milhotildees Yoruba por 40 milhotildees cuja
presenccedila eacute nula no ciberespaccedilo e natildeo lhes eacute dada oportunidade de se configurarem no
painel das linguas de comunicaccedilatildeo no ciberespaccedilo tal como as liacutenguas Inglesa francesa
ou italiana aacuterabe e chinecircs ( Omojola 2009 36)
Paradoxalmente Cyrenek (2000) advoga o multilinguismo na Internet
Somente a diversidade de liacutenguas na Internet eacute capaz de possibilitar a produccedilatildeo de conteuacutedo
local apropriado e com participaccedilatildeo de todos assim como auxiliar a preservaccedilatildeo das liacutenguas que
podem ser ameaccediladas de extinccedilatildeo na era digital Apesar da crescente diversidade da populaccedilatildeo
de usuaacuterios em termos de liacutenguas uma grande quantidade de obstaacuteculos com graus variaacuteveis de
dificuldade permanece impedindo que se alcance o multilinguismo na Internet (Cyrenek 2000)
Face agrave exclusatildeo de algumas linguas africanas faladas por um nuacutemero consideraacutevel da
populaccedilatildeo sem negar o uso da liacutengua inglesa que se restringe a uma minoria de elite
africana Omojola (2009) sugere uma soluccedilatildeo baseada no ldquoafrocomplementarismordquo
soluccedilatildeo segundo a qual defende a convergecircncia de conteuacutedos produzidos no contexto
africano e a tecnologia ocidental tal como estaacute a ser usada pela ldquoGooglerdquo Segundo o
autor o processo comeccedila com a incorporaccedilatildeo da lingua indiacutegena (Omojola 2009 37-
43)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 12: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/12.jpg)
12
A soluccedilatildeo de Omojola (2009) para a integraccedilatildeo das liacutenguas africanas no ciberespaccedilo
atraveacutes da teoria de ldquoafrocomplementarismordquo devia ser antecedida por outras quatro
condiccedilotildees baacutesicas a existecircncia de uma lingua de vector a possibilidade de escrever esta
lingua a disponibilidade de um sistema de codificaccedilatildeo para transcrever esta lingua
escrita no ciberespaccedilo e a compatibilidade desta transcriccedilatildeo com os programas
informaacuteticos existentes ( UNESCO 2005172)
O afrocomplementarismo aproxima-se a teoria ldquodialogistardquo desenvolvida pela Escola
Latino-Americana de comunicaccedilatildeo que de acordo com Gushiken (2006) a emergecircncia
do dialoacutegismo situa-se em condiccedilotildees de subdesenvolvimento econoacutemico e social da
Ameacuterica Latina No acircmbito dese quadro teoacuterico procura-se criticar o difusionismo
cultural e comunicacional da globalizaccedilatildeo pretendo romper com o modelo unilateral e
vertical de comunicaccedilatildeo de massa e propondo o modelo de ldquo horizontalizaccedilatildeo dos
processos de troca simboacutelicardquo ( Gushiken 2006 75-76)
O afrocomplementarismo seria uma criacutetica ao modelo de transferecircncia de tecnologias
para o continente africano de forma vertical e unilateral com ecircnfase no fabricador e na
sua cultura deixando para o plano de extemporaneidade o conhecimento nativo africano
e toda a sua rede de produccedilatildeo de sentido no qual o grosso nuacutemero de actores sociais
menos alfabetizados estatildeo envolvidos
Ainda mais a lingua tem o seu sentido partilhado e compreendido dentro da
comunidade linguiacutestica ou das redes de relaccedilotildees sociais inscritas em sistemas poliacuteticos
econoacutemicos e ideoloacutegicos dos povos Entatildeo a presenccedila de uma segunda lingua estranha
e imposta pelas tecnologias poderaacute complexificar a compreensatildeo dos sentidos e uma
ldquoleitura negociadardquo com o novo meio
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 13: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/13.jpg)
13
Seja como for a informatizaccedilatildeo das linguas eacute fundamentaliacutessima para a sua
sobrevivecircncia na sociedade de informaccedilatildeo como defende a Unesco (2005)
Es importante recordar que el multilinguumlismo facilita enormemente el acceso a los
conocimientos sobre todo en el contexto escolar Las sociedades del conocimiento tendraacuten que
reflexionar sobre el futuro de la diversidad linguumliacutestica y los medios para preservarla en
momentos en que la revolucioacuten de la informacioacuten y la economiacutea global del conocimiento
parecen consolidar la hegemoniacutea de un nuacutemero reducido de lenguas vehiculares que se estaacuten
convirtiendo en las viacuteas de acceso obligatorias a contenidos que a su vez estaacuten cada vez maacutes
ldquoformateadosrdquo( Unesco 2005163)
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo soacute passa pela
inclusatildeo das liacutenguas existem outras duas questotildees a se ter em conta nestes debates a
produccedilatildeo de conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio Neste contexto jaacute se
afirmava que a ldquofalta de uma oferta consolidada de conteuacutedos na Internet leva a pensar
nas verdadeiras empresas jornaliacutesticas que elaborem a informaccedilatildeo adequando os
conteuacutedos ao novo suporterdquo ( Gonzaleacutez 1998sp)
Outrossim Lenoble-Bart e Andreacute-Jean Tudesq na obra conjunta intitulada ldquoConnaitre
les meacutedias drsquoAfrique subsahariennersquordquo voltam a sublinhar que depois das
independecircncias ou no periacuteodo da transiccedilatildeo democraacutetica a questatildeo das liacutenguas era
crucial para os governos e os meios de comunicaccedilatildeo africanos
Em vista disso existem alguns exemplos de sucessos do uso das liacutenguas locais para o
desenvolvimento em alguns paiacuteses da regiatildeo subsariana Blankson (2005) aponta
exemplos de sucessos de valorizaccedilatildeo das liacutenguas nativas em alguns paiacuteses africanos
atraveacutes de poliacuteticas de indigenizaccedilatildeo da radiodifusatildeo No caso da Zacircmbia em 1960 o
primeiro governo independente da colonizaccedilatildeo introduziu as liacutenguas nativas nas
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 14: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/14.jpg)
14
raacutedios num paiacutes onde haacute por volta de 20 liacutenguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos eacutetnicos (Blankson 2005 6)
A maioria dos paiacuteses recentemente independentes de Aacutefrica escolheram na deacutecada de
60 ou mais tarde manter como liacutengua oficial a da antiga metroacutepole e os respectivos
meios de comunicaccedilatildeo seguiram muitas vezes pela imposiccedilatildeo ou pelas expectativas
sociais o mesmo caminho Mas depressa a raacutedio seguida mais tarde pela televisatildeo e
alguns jornais comeccedilou a dirigir-se a determinadas camadas da populaccedilatildeo em liacutenguas
locais De igual modo Rachidi (2005) apresenta na questatildeo das liacutenguas indiacutegenas
indiacutegenas uma visatildeo integradora que abrange o proacuteprio processo de desenvolvimento
da Aacutefrica Pois segundo o autor as liacutenguas nativas em Aacutefrica devem jogar o papel
importante na transmissatildeo e mensagens na mobilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo para se apropriar
dos processos de desenvolvimento Aqui o autor pretende realccedilar a questatildeo da liacutengua
como factor de desenvolvimento social econoacutemico e poliacutetico pelo facto deste se
tornarem o elemento de mediaccedilatildeo
Para que as liacutenguas nativas sejam valorizadas e sirvam de verdadeiros instrumentos de
mediaccedilatildeo Rachidi (2005) aponta quatro desafios
a reformulaccedilatildeo do conceito de Estado
a persuasatildeo para favorecer a adesatildeo da populaccedilatildeo
a escolha de liacutengua ou liacutenguas dominantes
e a integraccedilatildeo da Uniatildeo Africana( Rachidi 200516)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 15: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/15.jpg)
15
Quanto aos argumentos de promoccedilatildeo das liacutenguas indiacutegenas o autor supracitado
socorre-se da Declaraccedilatildeo de Harare de Marccedilo de 1997 que define e esclarece os
conceitos sobre liacutengua materna liacutenguas interafricanas e liacutenguas internacionais
A Declaraccedilatildeo de Harare define a liacutengua indiacutegena como aquelas liacutenguas comunitaacuterias
locais vernaacuteculas ou de base ou seja as liacutenguas que se circunscrevem agrave comunidade
que as utilizam Por liacutenguas interafricanas entende-se que satildeo aquelas que satildeo
utilizadas nas fronteiras nacionais em Aacutefrica (exemplo Kiswahili haussa etc)
finalmente define-se como liacutenguas por liacutenguas internacionais aquelas que satildeo
utilizadas no processo comunicativo entre pessoas de diferentes paiacuteses da Aacutefrica e de
outros continentes como por exemplo as liacutenguas francesas e inglesas (Rachidi
200520)
O autor acima citado afirma que o discurso sobre a promoccedilatildeo das liacutenguas nativas
africanas justifica-se pelo facto das potecircncias colonizadoras da Aacutefrica terem
desvalorizado as liacutenguas locais Mais adiante esclarece que o uso de liacutenguas ocidentais
impocircs-se como um padratildeo referencial da cultura e tudo quanto dizia respeito ao
desenvolvimento facto que interferiu de certo modo para o processo do seu
desenvolvimento ( Rachidi 2005 20)
Inspirando-se no filoacutesofo da Repuacuteblica de Benin Paulin Hountondji o autor supra
citado reforccedila a ideia de que a utilizaccedilatildeo exclusiva das liacutenguas europeias como liacutenguas
de comunicaccedilatildeo cientiacutefica desfavorece a disseminaccedilatildeo do saber e da criatividade
cientiacutefica africana O autor recomenda o desenvolvimento de uma politica linguiacutestica
alternativa susceptiacutevel de favorecer a disseminaccedilatildeo do saber africano (Rachidi
200520)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 16: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/16.jpg)
16
Abordando concretamente a questatildeo das liacutenguas nativas no processo de comunicaccedilatildeo
social Blankson (2005) vislumbra o pluralismo mediaacutetico em Aacutefrica mas tem o receito
de que este pluralismo transforme os meios de comunicaccedilatildeo de social africanos em
instrumentos destruidores das liacutenguas e culturas milenares do continente africano O
mesmo observa que o cenaacuterio pluraliacutesticos dos media africanos privilegia as liacutenguas
dos colonizadores europeus (Blankson20052)
Seja como for a informatizaccedilatildeo das liacutenguas eacute fundamentaliacutessima para a sobrevivecircncia
das liacutenguas na sociedade de informaccedilatildeo O certo eacute que o uso as liacutenguas natildeo depende de
poliacuteticas puacuteblicas de promoccedilatildeo de liacutenguas autoacutectones mas dos proacuteprios usuaacuterios
A efectiva participaccedilatildeo dos africanos na Sociedade de Informaccedilatildeo natildeo passa
necessariamente pela inclusatildeo das liacutenguas pois trata-se de uma discussatildeo muito
elementar Existem duas questotildees a ter em conta nestes debates a produccedilatildeo de
conteuacutedos africanos e o fortalecimento do usuaacuterio
No que concerne a produccedilatildeo de conteuacutedos africanos Cyrenek (2000) aconselha que eles
sejam criados partilhados e conhecidos pelos usuaacuterios nacionais e internacionais
neste contexto escreveu o seguinte
Um conceito-chave nesta estrateacutegia eacute o que se refere ao domiacutenio electroacutenico puacuteblico ndash
informaccedilatildeo livre de direitos autorais incluindo literatura claacutessica conhecimentos fundamentais e
nativos informaccedilatildeo e dados de governos ou produzidos com fundos puacuteblicos em niacuteveis
nacionais ou internacionais ndash que representa uma ampla heranccedila documental acessiacutevel a todos
uma janela em culturas nacionais e um suporte inestimaacutevel para as induacutestrias educacionais e
culturais nos paiacuteses em desenvolvimento Conteuacutedos locais publicados na Internet pelo governo
e organizaccedilotildees da sociedade civil constituem um estiacutemulo agrave democratizaccedilatildeo tanto com o
fortalecimento de accedilotildees informadas quanto com o encorajamento para maior expressatildeo e
diaacutelogo Para os pequenos atores econoacutemicos de paiacuteses em desenvolvimento inserir seu
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 17: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/17.jpg)
17
conteuacutedo na Internet pode tambeacutem significar conseguir uma posiccedilatildeo no mercado global (
Cyrenek 2000)
Noutro acircngulo de abordagem Cyrenek (2000) recomenda a produccedilatildeo de conteuacutedos
que deve comeccedilar pela inclusatildeo princiacutepios de livre acesso agrave informaccedilatildeo aos conteuacutedos
nas poliacuteticas puacuteblicas Isto porque por um lado os conteuacutedos puacuteblicos estatildeo livres de
direito autorais e pertencem a todos ( Cyrenek 2000) mas por outro haacute tarefas que
devem ser assumidas na produccedilatildeo de conteuacutedos tipicamente africanos
No que tange ao fortalecimento do usuaacuterios Cyrenek (2000) eacute optimista em relaccedilatildeo agrave
inclusatildeo das liacutenguas mas tem receio em relaccedilatildeo ao fortalecimento dos assim ele se
expressa
Um desafio particularmente difiacutecil eacute o fortalecimento das populaccedilotildees dos paiacuteses em
desenvolvimento inseridas em culturas e valores tradicionais e natildeo raro com um grande
nuacutemero de cidadatildeos analfabetos Nesse contexto os sistemas nacionais de educaccedilatildeo e projetos de
natureza puacuteblica teratildeo como responsabilidade principal formar pessoas com habilidade e
capacidade para adquirir conhecimento tornando-se tanto produtores quanto usuaacuterios de
conteuacutedos baseados em TIC A capacidade dos usuaacuterios da Internet em produzir ou explorar
conteuacutedos locais depende de seu know-how do acesso agrave rede e da disponibilidade de
infraestrutura Assim a Internet serve como uma ferramenta para o fortalecimento de usuaacuterios e
como um meio para a cooperaccedilatildeo possibilitando o aumento de sua visibilidade e do domiacutenio do
meio ( Cyrenek 2000 sp)
O fortalecimento do usuaacuterio de paiacuteses em vias de desenvolvimento sempre mereceu o
interesse da UNESCO e de outros actores da sociedade civil africana Eacute certo que o
usuaacuterio fortalecido desenvolve capacidades de descodificaccedilatildeo de conteuacutedos digitais e
de participaccedilatildeo activa
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 18: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/18.jpg)
18
Em Janeiro de 2001 em Sri Lanka a UNESCO lanccedilou o Programa de Centros
Multimeacutedia Comunitaacuterio (CMC) cujo objectivo era oferecer serviccedilos de aprendizagem
informaacutetica agraves comunidades pobres como forma de as capacitar para a Sociedade de
informaccedilatildeo atraveacutes de combinaccedilatildeo de dois serviccedilos raacutedio e TIC A filosofia
combinatoacuteria partia do princiacutepio de que a raacutedio comunitaacuteria conectado a um pequeno
telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto da comunidade e as fontes
digitais disponiacuteveis na comunidade A partir desta experiecircncia hoje mais de vinte
projectos pilotos estatildeo em funcionamento em 15 paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia e Caribe
(Hughes et al 20067)
O tipo de CMC concebido e desenvolvido pela UNESCO combina os serviccedilos da raacutedio
e telecentro de forma independente A raacutedio emite em Frequecircncia Modular FM
durante 10 horas diaacuterias num raio de cobertura de 15 quiloacutemetros O seu pessoal eacute
maioritariamente constituiacutedo por voluntaacuterios da comunidade enquanto o telecentro eacute
composto entre 3 a 12 computadores para uso puacuteblico promove cursos de capacitaccedilatildeo
bem como oferece serviccedilos de Internet fotocopiadora fax e mais ( Hughes 200613)
Os conteuacutedos dos CMC satildeo escolhidos de acordo como os interesses da comunidade e
gerados localmente e em liacutengua local nos formatos de viacutedeo aacuteudio impresso (Hughes
et al 20067) Mas satildeo evidentes os esforccedilos de esbatimentos das barreiras criadas pelo
fosso digital A UNESCO defende a inclusatildeo cultural e em contrapartida a UIT estaacute a
criar infra-estruturas tecnoloacutegicas para a inclusatildeo das sociedades da ldquoperiferiardquo O
Plano de Acccedilatildeo resultante da Conferecircncia de Genebra de 2003 expressa melhor as
intenccedilotildees de todos liacutederes mundiais em esbater as diferenccedilas digitais tais princiacutepios
defendem a promoccedilatildeo da TIC para conectar aldeias e criar pontos de acesso
comunitaacuterios fomentar o desenvolvimento de conteuacutedos e implantar condiccedilotildees
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 19: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/19.jpg)
19
teacutecnicas que facilitem a presenccedila e a utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas na Internet
assegurar que o acesso agraves TIC esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do
planeta (Plano de Acccedilatildeo de Genebra 2003)
Consideraccedilotildees finais
Para concluir o debate fica claro que todas as posiccedilotildees dos soacutecio-linguistas africanos na
questatildeo de inclusatildeo das linguas africanas no ciberespaccedilo fundamenta-se na
recomendaccedilatildeo da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservaccedilatildeo da diversidade
linguiacutestica e sua promoccedilatildeo no espaccedilo digital Esta recomendaccedilatildeo advoga o
multilinguismo como factor determinante de preparaccedilatildeo para a sociedade baseada no
conhecimento que deve ser promovida pelos Estados e sociedade civil
No processo de afrocomplementarismo haacute ainda muitas dificuldades a serem
ultrapassadas como vimos no caso da gramatizaccedilatildeo de algumas liacutenguas africanas
definiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de liacutenguas nacionais e os desafios de produccedilatildeo de
conteuacutedos tipicamente africanos
A sociedade de informaccedilatildeo deve contemplar a diversidade de valores culturais tal
como defende a UNESCO o que poderaacute contribuir para o enriquecimento de conteuacutedos
e de conhecimento a Sociedade de Informaccedilatildeo
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 20: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/20.jpg)
20
Bibliografia
Abolou C (2010) ldquoLangues dynamiques des meacutedias audiovisuels et ameacutenagement
meacutediato-linguistique en Afrique francophonerdquo in GLOTTOPOL Revue de
sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp 5-16
Adeya C (2001) Information and Communications Technologies in Africa A review and
selective Annotated Bibliography 1990-2000 EdINASP Oxford
Ajayi G (2002) ldquoInformation and communication technologies in Africardquo texto
apresentado numa conferecircncia realzada em Trieste Itaacutelia nos dias 11-16 de Fevereiro
de 2002 [online] httpwwwpowershowcomview121ded-
NzA4NInformation_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation consultado no dia 140211
Agenda de Tunis (2005) WSIS-05TUNISDOC6 (rev 1) [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=2267|0 consultado no
dia 13092010
Blake C(1992) ldquoThe New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissancerdquo In African Journal of Library Archives and Information
Science 2 No 2 pp93-98
Blankson I( 2005) ldquoNegotiating the Use of Native Language in Emerging pluralism
and independent Broadcast Systemrdquo in Africa in Africa Media Review Vol 13 Nordm 1
pp1-22
Castells M (2007) A Galaacutexia Internet 2ordf ediccedilatildeo Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian
Lisboa
Cyranek (2000) A visatildeo da Unesco sobre a Sociedade de Informaccedilatildeo artigo
apresentado na Conferecircncia do Grupo 94 da Federaccedilatildeo Internacional de Processamento
da Informaccedilatildeo (International Federation of Information Processing - IFIP) realizada
em Cape Town (Aacutefrica do Sul) de 24-26 de Maio de 2000 [on line]
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 21: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/21.jpg)
21
httpwwwippbhgovbrANO3_N1_PDFip0301cyranekpdf consultado no dia
150811
Hughes et al (2006) Como Comenzar y Continuar una guia para los Centro
Multimedia Comunitaacuterio Ed UNESCO Uruguay
Hughes (2006) Tipos de centro multimedia comunitarios in Como comenzar y
continuar Ed UNESCO Uruguay pp 13-17
Jensen M (1998) ldquoBridging the Gaps in Internet Development in Africardquo International
Development Research Center [online] httpwwwidrccaenev-11174-201-1-
DO_TOPIChtml consultado no dia 011010
Jensen M (2009) ldquoTendecircncias no fosso Digital em Aacutefricardquo [online] httpwwwacp-
eucourierinfoEdicao-Especial-N5250htmlampL=3 consultado no dia 11092010)
Lexander K (2010) ldquoLe wolof et la communication personnelle meacutediatiseacutee par Internet agrave
Dakarrdquo in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en ligne ndeg 14 ndash janvier pp89-
103
Mcquail D (2003) Teorias da Comunicaccedilatildeo de Massas Ed Fundaccedilatildeo Calouste
Gulbenkian Lisboa
Nwuso P (2005) ldquoRevisiting Communication and Change Processes in Africardquo In
Africa Media Review Volume 13 Number 1 2005 Addis Bebba pp vndashviii
Obijiofor L (2008) ldquoAfricarsquos Socioeconomic Development in the Age of New
Technologies Exp loring Issues in the Debaterdquo in Africa Media Review Volume 16
Number 2 2008 pp 1-9
OCDE Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Perspectivas da Tecnologia
de Informaccedilatildeo da OCDE 2008
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis
![Page 22: Afrocomplementarismo](https://reader034.vdocuments.us/reader034/viewer/2022042816/5593fe0c1a28aba17f8b4611/html5/thumbnails/22.jpg)
22
Omojola O(2009) English-oriented ICTs and etnnic language survival strategies in
Africa in Global media Journal African edition Vol3 (1) pp 33-45
Plano de Acccedilatildeo de Genebra (2003) WSIS-03GENEVADOC0005 [online]
httpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=esampid=1160|0 consultado no
dia 14092010
Rachidi N (2005) Les Langues Indigegravenes dans le processus de deacutevelopment en
Afrique in Revue Africaine des Media Vol13 nordm 2 pp 16-35
Toureacute H (sd ldquoCompetitiveness and Information and Communication Technologies
(ICTs) in Africardquo [online] httpsmembersweforumorgpdfgcrafrica15pdf
consultado no dia 021210
Vilches L (2003) Tecnologia digital perspectivas mundiais In Comunicaccedilatildeo amp
Educaccedilatildeo nordm 26 S Paulo pp43-61
UNESCO (2005) Hacia las sociedades del conocimiento Ed UnescoParis