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www.ajbms.org Asian Journal of Business and Management Sciences ISSN: 2047-2528 January, 2016 Vol. 4 No. 10[13-29] ©Society for Business Research Promotion | 13 ADOECIMENTO MENTAL NO TRABALHO: ESTUDO DE CASO NUMA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Lísia Marina Macedo Soares Psicóloga, especialista em Gestão de Saúde Mental, Mestre em Administração pelo Centro Universitário UNA. Iris Barbosa Goulart Psicóloga e pedagoga, especialista em Administração Pública, Mestre em Educação UFMG e Doutora em Psicologia PUC-SP; Professora do Centro Universitário UNA. RESUMO O objetivo deste trabalho é analisar os fatores capazes de causar adoecimento mental de profissionais que trabalham em uma Secretaria Municipal de Saúde de uma cidade do interior do estado de Minas Gerais no período compreendido entre os anos de 2014 e 2015. A fundamentação teórica é baseada nos estudos de Psicodinâmica do Trabalho, principalmente os realizados por Christophe Dejours. Apresenta-se o levantamento da produção científica sobre adoecimento mental no trabalho a partir da busca nos sites Scielo e Google acadêmico. Foi realizada uma pesquisa descritiva, que constitui um estudo de casos, mediante entrevistas realizadas com oito servidores públicos que apresentaram manifestações de insatisfação com o trabalho, estresse e sofrimento/adoecimento vinculados às atividades laborais. Essas entrevistas foram submetidas à análise de conteúdo qualitativa, dando-se ênfase aos aspectos subjetivos do processo de adoecimento desses profissionais. Buscou- se identificar na análise realizada, as tarefas realizadas pelos sujeitos que têm manifestado adoecimento mental, caracterizar o processo de adoecimento, de acordo com a percepção expressa por eles e identificar os fatores que mais contribuíram para esse adoecimento. Os resultados apontaram que os servidores que manifestaram adoecimento mental e que procuraram atendimento psiquiátrico e/ou psicológico se mostram inseguros quanto à sua estabilidade no trabalho, uma vez que são contratados "pro tempore" e as indicações são políticas, não tendo garantia de permanecerem nos cargos que ocupam. As queixas de sofrimento mental feitas pelas servidoras não estão correlacionadas às tarefas laborais que realizam diariamente na SMS, e sim às características da própria empresa, como falta de reconhecimento, pouca transparência, ambiente e condições de trabalho inadequados. Foram relatadas somatizações, sofrimentos, insatisfações com a empresa, sintomas psíquicos e até mesmo afastamento das atividades laborais decorrentes de adoecimento mental. Foi comprovado que nem todos os sujeitos que apresentaram características e ou sintomas psíquicos foram considerados como portadores de doenças mentais. As causas de sofrimento e/ou adoecimento mental identificadas estão correlacionadas ao que a empresa oferece e/ou deixa de oferecer aos seus funcionários. O adoecimento pode estar relacionado também à subjetividade de cada servidor. Percebe-se, ainda, que algumas servidoras, devido as suas características da personalidade e elaboração de sistemas defensivos eficazes, conseguem transformar o sofrimento no trabalho em prazer, conforme foi exposto na teoria dejouriana. Palavras-chave: Adoecimento no Trabalho. Adoecimento Mental. Serviço Público. Saúde pública.

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ISSN: 2047-2528 January, 2016 Vol. 4 No. 10[13-29]

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ADOECIMENTO MENTAL NO TRABALHO: ESTUDO DE CASO NUMA SECRETARIA

MUNICIPAL DE SAÚDE DE MINAS GERAIS

Lísia Marina Macedo Soares Psicóloga, especialista em Gestão de Saúde Mental,

Mestre em Administração pelo Centro Universitário UNA.

Iris Barbosa Goulart

Psicóloga e pedagoga, especialista em Administração Pública, Mestre em Educação UFMG e Doutora em Psicologia PUC-SP;

Professora do Centro Universitário UNA.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é analisar os fatores capazes de causar adoecimento mental de profissionais que trabalham em uma Secretaria Municipal de Saúde de uma cidade do interior do estado de Minas Gerais no período compreendido entre os anos de 2014 e 2015. A fundamentação teórica é baseada nos estudos de Psicodinâmica do Trabalho, principalmente os realizados por Christophe Dejours. Apresenta-se o levantamento da produção científica sobre adoecimento mental no trabalho a partir da busca nos sites Scielo e Google acadêmico. Foi realizada uma pesquisa descritiva, que constitui um estudo de casos, mediante entrevistas realizadas com oito servidores públicos que apresentaram manifestações de insatisfação com o trabalho, estresse e sofrimento/adoecimento vinculados às atividades laborais. Essas entrevistas foram submetidas à análise de conteúdo qualitativa, dando-se ênfase aos aspectos subjetivos do processo de adoecimento desses profissionais. Buscou-se identificar na análise realizada, as tarefas realizadas pelos sujeitos que têm manifestado adoecimento mental, caracterizar o processo de adoecimento, de acordo com a percepção expressa por eles e identificar os fatores que mais contribuíram para esse adoecimento. Os resultados apontaram que os servidores que manifestaram adoecimento mental e que procuraram atendimento psiquiátrico e/ou psicológico se mostram inseguros quanto à sua estabilidade no trabalho, uma vez que são contratados "pro tempore" e as indicações são políticas, não tendo garantia de permanecerem nos cargos que ocupam. As queixas de sofrimento mental feitas pelas servidoras não estão correlacionadas às tarefas laborais que realizam diariamente na SMS, e sim às características da própria empresa, como falta de reconhecimento, pouca transparência, ambiente e condições de trabalho inadequados. Foram relatadas somatizações, sofrimentos, insatisfações com a empresa, sintomas psíquicos e até mesmo afastamento das atividades laborais decorrentes de adoecimento mental. Foi comprovado que nem todos os sujeitos que apresentaram características e ou sintomas psíquicos foram considerados como portadores de doenças mentais. As causas de sofrimento e/ou adoecimento mental identificadas estão correlacionadas ao que a empresa oferece e/ou deixa de oferecer aos seus funcionários. O adoecimento pode

estar relacionado também à subjetividade de cada servidor. Percebe-se, ainda, que algumas servidoras, devido as suas características da personalidade e elaboração de sistemas defensivos eficazes, conseguem transformar o sofrimento no trabalho em prazer, conforme foi exposto na teoria dejouriana. Palavras-chave: Adoecimento no Trabalho. Adoecimento Mental. Serviço Público. Saúde pública.

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ABSTRACT The objective of this study is to analyze the capacity of some mental illness caused in professionals by working factors in the Municipal Health Department of a city in the state of Minas Gerais between the years 2014 and 2015. The scientific basis considers work psychodynamics studies especially those by Christophe Dejours. It shows the survey of scientific literature on mental illness at work from the search in the Scielo and Academic Google sites. A descriptive research was realized based in a case study through interviews with eight public servers who demonstrated discontentment, stress and suffering/illness related to work activities. These interviews were submitted to qualitative content analysis, giving emphasis to the subjective aspects of these professionals becoming sick. In the analysis, we search for tasks to identify individuals performances from who have expressed mental illness, characterized for diseases process, according to the perception expressed by them, identify the factors that most contributed to this illness condition. The results pointed that the employees that expressed mental illness and shearch for psychiatric and/or psychological care treatment are being insecure about their job stability, once they are hired "pro tempore" and the recommendations are political, with no guarantee to remain in the positions they occupied. The complaints made by the employees about mental suffering are not associated directly to the daily work activities realized in SMS but to the Company characteristics as not recognize, weakly communication, inappropriate environment and work conditions. The descriptions were somatization, suffering, psychiatric symptoms and unhappy with the company, psycho symptoms, even medical removal from work. It has been proven that not all those subjects who psychological features or symptoms were considered as mental ill. The causes of suffering and/or identified mental illness are correlated to the company offers and/or fails to offer its employees. The illness may be related also to the subjectivity of each employee. Someone of them can transform suffering at work in pleasure because of their personality skills and development of effective defensive systems, as was exposed in Dejours’s theory. Keywords: Illness at Work. Mental Illness. Public Service. Public Health.

1 INTRODUÇÃO

O interesse pelo tema adoecimento mental no trabalho surgiu em decorrência da atuação

profissional da autora principal desta pesquisa como Psicóloga na área da Saúde Pública.

No seu cotidiano, foram acolhidos inúmeros casos clínicos com queixas de sofrimento

psíquico ocasionado pelo trabalho ou relacionado às atividades desempenhadas pelos

trabalhadores. Houve também a oportunidade de presenciar colegas que foram afastados

temporariamente por apresentarem sintomas de estresse, depressão e insônia decorrentes

do contexto laboral.

Na tentativa de analisar a relação entre adoecimento psíquico e condições de trabalho,

optou-se por abordar o desenvolvimento dos estudos sobre Psicopatologia e Psicodinâmica

do trabalho. Buscou-se ainda realçar a dupla interpretação do trabalho na vida do ser

humano: ele também pode ser uma referência para a auto realização do sujeito quanto o

fator determinante do equilíbrio emocional e mesmo físico. Logo, o significado do trabalho

pode ser positivo quanto negativo.

Pode-se afirmar que o trabalho desempenha um papel importante na vida das pessoas, uma

vez que se mostra relevante para a construção da realidade psíquica, emocional e cognitiva,

sendo ele, pois, parte determinante na constituição da subjetividade humana. De acordo

com Araújo (2005) como atividade produtiva o trabalho é um elemento fundamental na

constituição da identidade do sujeito.Araújo (2005) destaca que:

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A questão do trabalho está relacionada a nossa sobrevivência e a

nossa forma de inserção no mundo. O trabalho, ao longo da história

vem se constituindo num importante, se não o principal

determinante da forma de organização das sociedades, sendo o meio

através do qual o homem constrói o seu ambiente e a si mesmo (...).

(ARAÚJO, 2005, p.11).

Jardim e Lancman (2009) ressaltam a importância do trabalho na vida do homem:

contribui na construção da identidade, na estruturação das redes de relações sociais, tais

como pertencimento a um grupo, trocas afetivas e econômicas, além da sua função

psíquica, na composição do sujeito.

Entretanto, algumas vezes as condições de trabalho ou as relações que se estabelecem no

trabalho podem causar o sofrimento ou até mesmo o adoecimento. A análise da história

ocupacional do sujeito, levando em consideração suas particularidades, no âmbito psíquico,

econômico e social é fundamental para que se possa compreender o quadro do adoecimento

e especialmente do adoecimento mental do trabalhador. É necessário procurar entender

como o trabalho é organizado, suas relações interpessoais e o significado que o trabalho

tem para o sujeito (LIMA; ASSUNÇÃO; FRANCISCO, 2004).

O trabalho representa um conflito entre o mundo objetivo – com suas regras e desafios e o

mundo interno do trabalhador – sua singularidade e valores. Este confronto representa não

somente o sofrimento, como também, oportunidade de crescimento e desenvolvimento

psicossocial do trabalhador. Portanto, as relações entre o trabalho e o sujeito representam

um ambiente de multiplicidade subjetiva e social (JARDIM; LANCMAN, 2009).

Para que o trabalho não se torne uma fonte geradora de sofrimento mental, o mesmo deve

representar para o sujeito possibilidades de realização profissional e pessoal. A partir do

momento em que o trabalho perde essas significações, quando o trabalhador não visualiza

um sentido para o trabalho, o mesmo compromete a integridade da sua saúde física e

mental (DEJOURS,1992).

Abrahão e Torres (2004) referem-se à organização do trabalho considerando-a como um

processo complexo, que envolve a divisão de tarefas, a repartição, a definição das

cadências, o modo operatório prescrito; e a divisão de homens, repartição de

responsabilidades, hierarquia, comando e controle. Todos esses fatores, dependendo de

como são administrados, podem ser considerados responsáveis pela adequação do

trabalhador no ambiente laboral ou pela desestabilização do seu ajustamento.

Atualmente, algumas organizações têm exigido dos trabalhadores habilidades que

contribuem de maneira negativa tanto para o relacionamento interpessoal, como também,

para a sua saúde mental. Como exemplos, vale ressaltar as pressões para cumprimento de

metas, longas jornadas de trabalho, reforço ao individualismo, conflitos entre os setores e

colegas, entre outros fatos.

Algumas organizações, na sua forma de organização do trabalho podem determinar fatores

patogênicos que aliados aos aspectos pessoais e subjetivos podem ocasionar sofrimento

psíquico, como realça Dejours (1992, p.52):

O sofrimento começa quando a relação homem-organização do

trabalho está bloqueada; quando o trabalhador usou o máximo de

suas faculdades intelectuais, psicoafetivas, de aprendizagem e de

adaptação. Quando um trabalhador usou de tudo que dispunha de

saber e de poder na organização do trabalho e quando ele não pode

mais mudar de tarefa: isto é, quando foram esgotados os meios de

defesa contra a exigência física. (...) A certeza de que o nível atingido

de insatisfação não pode mais diminuir marca o começo do

sofrimento.

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Nota-se que há uma relação direta entre satisfação do trabalhador e organização do

trabalho. O adoecimento físico ou mental pode surgir como uma consequência quando

estes dois fatores não estão alinhados. Dejours (1992) afirma que quanto mais rígida for à

organização, a divisão de trabalho mais acentuada e as possibilidades mínimas de

mudanças, maiores são as chances de o sofrimento psíquico no trabalho aumentar.

Analisando a produção científica sobre o tema, pesquisas demonstram que uma

organização do trabalho inadequada acarreta nos profissionais desgastes, cansaço físico e

mental, fadiga, ansiedade, depressão, além do alto índice de rotatividade (JODAS;

HADDAD, 2009; KIRCHHOF et al., 2009; SOUZA et al., 2010; LANCMAN et al., 2009;

JARDIM, 2011; BRAGA, CARVALHO; BLINDER, 2010; TRINDADE et al., 2007;

VASCONCELOS; FARIA, 2008; ARAÚJO, 2005).

Dentro dessa mesma premissa, merece destaque a pesquisa feita por Minayo, Assis e

Oliveira (2011) sobre o impacto das atividades profissionais dos militares e civis do Rio de

Janeiro sobre a saúde física e mental desses profissionais. Foram citados os sintomas de

sobrecarga de trabalho, sofrimento psíquico, baixa qualidade de vida, estresse psicológico e

insônia decorrentes das atividades laborais. É oportuno lembrar que os sujeitos dessa

pesquisa são funcionários públicos e vivenciam situações próximas das mencionados na

presente pesquisa.

Da mesma maneira que o reconhecimento no trabalho é interpretado de forma subjetiva, as

doenças que emergem no trabalho também são consideradas como subjetivas, não sendo,

muitas vezes, reconhecidas pelos especialistas clínicos. Acresce que, culturalmente no

Brasil, as pessoas encontram certa resistência para assumirem qualquer doença, seja da

esfera física seja mental.

Muitos trabalhadores têm a falsa impressão de que podem ter domínio e controle sobre o

seu corpo. Tal fato contribui para procurar ajuda somente quando o caso clínico ou mental

já está bem agravado. Com relação às doenças mentais, ainda prevalece o preconceito de se

procurar atendimento psicológico ou psiquiátrico, relacionando-se essa busca com a

loucura e não a considerando apenas um transtorno da saúde.

O tema se mostra muito relevante para os trabalhadores no serviço público, uma vez que

tanto as condições de trabalho como a organização do trabalho em repartições públicas são

orientadas principalmente por aspectos políticos e são alteradas quando uma nova gestão

assume o poder. É, pois, oportuno salientar o efeito dessas alterações para o processo de

adaptação do funcionário.

No ano de 2006, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) custeou o equivalente a R$ 90

milhões com auxilio doença para pessoas com patologias de transtornos neuróticos e

relacionadas ao estresse; além disso, os transtornos de humor neste mesmo ano foram

considerados o segundo maior motivo de afastamento de pessoas do trabalho. Isto justifica

a importância econômica da pesquisa.

Vale destacar pesquisas realizadas por Sousa et al. (2009) que se referem ao estresse

ocupacional e Burnout, doenças mentais que têm acometido muitos trabalhadores

contemporâneos. Na mesma premissa, Braga, Carvalho e Blinder (2010) investigam as

condições de trabalho e transtornos mentais comuns em servidores públicos de Botucatu

(SP).

No mesmo contexto desta pesquisa, Lancman et al. (2009) avaliaram as repercussões da

violência sobre a saúde mental de trabalhadores da Estratégia Saúde da Família (ESF).

Silva et al. (2009) complementam os estudos na área com uma pesquisa sobre o transtorno

depressivo decorrente das atividades laborais. O aprofundamento de tais temas apresenta

relevância para a academia, oferecendo oportunidade para se proceder a reflexões e

verificação de hipóteses sobre o complexo campo de saúde mental.

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A pesquisadora principal trabalhava, no momento da realização desta pesquisa, como

Psicóloga do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) com atuação profissional em oito

Estratégias Saúde da Família (ESF) e a análise feita permitiu avaliar os fatores

determinantes de adoecimento mental dos trabalhadores do setor, criando oportunidade

para que possam ser adotadas medidas de prevenção e manutenção da saúde mental dos

servidores públicos.

O objetivo geral da pesquisa realizada foi analisar os fatores determinantes de adoecimento

mental de profissionais que trabalham numa Secretaria Municipal de Saúde do estado de

Minas Gerais no período de 2014 e 2015.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO TRABALHO

A fundamentação teórica deste trabalho inicia-se com a busca da relação entre trabalho,

sofrimento e adoecimento mental. Em seguida, as temáticas abordadas são: as referências

à Psicopatologia e à Psicodinâmica do Trabalho, onde são expostos os conceitos, a

contextualização das teorias, o objeto de estudo de cada uma, as contribuições teóricas

mais relevantes.

2.1 Relação entre adoecimento mental e organização do trabalho

O trabalho em si apresenta uma ambivalência; ao mesmo tempo em que pode ser

considerado como fonte de prazer, quando permite ao trabalhador atender às suas

necessidades, trazendo satisfação, pode também ocasionar adoecimento físico ou mental,

quando o indivíduo não tem uma identificação com o mesmo (DEJOURS, 1992).

Lima et al. (2007) corroboram com Dejours (1992) ao alegarem que o prazer e o sofrimento

são resultado da vinculação entre a subjetividade do trabalhador e a organização do

trabalho. A instituição proporciona ao sujeito vivências de prazer relacionadas ao apoio,

oportunidade de crescimento, entre outros, com também de sofrimento, associado à rigidez

da hierarquia, conflitos entre colegas de trabalho, etc.

Vasconcelos e Faria (2008) ao realizarem uma pesquisa com os trabalhadores sobre as

contradições a respeito do tema saúde mental no trabalho, obtiveram respostas unânimes

sobre a relação entre o trabalho e adoecimento mental, uma vez quel todos os sujeitos

alegaram que o trabalho pode influenciar e acarretar sofrimento e/ou adoecimentos

mentais. Os fatores citados pelos mesmos que podem causar estes desajustes psíquicos são

conflitos interpessoais e com chefia, condições de trabalho inadequada, falta de

reconhecimento, responsabilidades e pressão em excesso, insatisfação com o trabalho,

entre outras.

Infere-se, portanto, que o adoecimento do trabalhador se relaciona diretamente com o

sofrimento experimentado nas atividades laborais, sendo influenciado pela organização do

trabalho, pelas condições em que o trabalho se realiza, pelas relações de trabalho e pela

características da organização. Algumas instituições, em sua própria estrutura, ou seja,

tanto na organização quanto nas condições de trabalho, contêm características que podem

causar sofrimento psíquico ao trabalhador.

Araújo (2005) realizou um estudo que teve como objetivo identificar as características

patogênicas do trabalho e relacionar os dados com a história de vida do sujeito pesquisado.

O autor relata as repercussões do trabalho no adoecimento mental, citando o caso de uma

servidora de uma universidade federal, afastada algumas vezes do trabalho devido a crises

constantes, e foi diagnosticada como portadora de Transtorno Afetivo Bipolar.

Vieira (2005), através de entrevistas biográficas realizadas em um estudo, deu destaque às

características peculiares da organização do trabalho que se mostraram significativas para

as descompensações da entrevistada.

Falta de afinidade e desconhecimento das tarefas a serem

realizadas, aliadas a falta de treinamento; falta de tranquilidade

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para a realização das atividades, somando-se ao acumulo de tarefas,

gerando angústia e ansiedade diante da possibilidade de não se

conseguir concluir o trabalho dentro do horário determinado;

tratamento diferenciado entre os professores e os funcionários

técnicos administrativos da instituição (...); pouca possibilidade de

interferir no próprio trabalho (falta de autonomia), somando-se a

falta de organização e condições inadequadas de trabalho gerando

desprazer; conteúdo empobrecido das tarefas (monotonia); trabalho

desprovido de significação e sem reconhecimento; falta de preparo

das chefias para lidar com os funcionários; individualismo e falta de

solidariedade por parte de alguns funcionários; competição entre

funcionários e desonestidade no trabalho; ociosidade; sentimento de

impotência diante das ordens das chefias que se mostravam em

desacordo com os objetivos do trabalho (VIEIRA, 2005, p.35-36).

A partir da pesquisa mencionada, Vieira (2005) concluiu que os coeficientes intrínsecos da

organização, aliados com as características pessoais, familiares e comportamentais da

servidora, favoreceram o agravamento do seu adoecimento mental.

Nota-se que todas as queixas são de caráter peculiar e subjetivo. Sendo assim, o sofrimento

ocasionado pelo trabalho manifesta-se de diversas formas, porém, de maneira única para

cada sujeito. Torna-se essencial, portanto, levar em consideração a subjetividade do

trabalhador aliando-a a sua história de vida.

2.2 Da Psicopatologia à Psicodinâmica do trabalho

Após a II Guerra Mundial, mudanças ocorreram no conceito de trabalho. Vale destacar a

readaptação ao sistema produtivo e o início de questionamentos a respeito das relações

entre saúde mental e trabalho. Na tentativa de compreender esta relação, alguns

pesquisadores intensificaram seus estudos nesta área; entre eles, merecem destaque os

estudiosos da psiquiatria social francesa Paul Sivadon e Louis Le Guillant (LIMA, 1998).

Na França, no final da década de 1940, iniciou-se uma reflexão sobre o papel da Psiquiatria

na sociedade, despertando um olhar diferenciado para os trabalhadores que regressaram

dos hospitais psiquiátricos e sua inserção na sociedade e no mundo do trabalho. O

movimento da chamada Psiquiatria Social aproximou-se da sociedade e dos campos

teóricos na área da saúde e trabalho e buscava aprofundar conhecimentos e intervir nas

condições que supostamente poderiam acarretar ou intensificar doenças mentais

(BILLIARD, 2001 citado por SOUZA e ATHAYDE, 2006).

Os teóricos franceses organizaram o corpo de conhecimentos que foi denominado

Psicopatologia do Trabalho que, desde a sua origem, foi marcado por correntes científicas

bem distintas sendo que, em comum, todas têm como característica tentar definir a

complexidade do campo saúde mental e trabalho.

Souza e Athayde (2006) destacam que os textos publicados na França por Paul Sivadon e

Louis Le Guillant levam a considerá-los fundadores da Psicopatologia do Trabalho. Louis Le

Guillant, em 1951, fez uma interposição no Symposium de Bonneval, com a publicaçao de

“Psychologie du Travail”, e em 1954 publicou “Introduction à une Psychologie Sociale” e o

psiquiatra Paul Sivadon publicou em 1952, o artigo “Psycho- pathologie du Travail” trabalho

no qual ressalta a teoria da Ergoterapia – readaptação dos pacientes psiquiátricos ao

ambiente de trabalho.

Sivadon e Le Guillant representam, pois, o marco inaugural da Psicopatologia do Trabalho,

definida por Dejours (1990, p.120) como:

...a análise dinâmica dos processos psíquicos mobilizados pela

confrontação do sujeito com a realidade do trabalho. (...) O termo

Psicopatologia foi conservado porque possui duas vantagens: 1)

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contém a raiz pathos, que remete ao sofrimento e não só à doença

ou à loucura. Neste sentido, o termo Psicopatologia designará o

estudo dos “mecanismos e processos psíquicos mobilizados pelo

sofrimento”, sem pressupor seu caráter mórbido ou não mórbido; 2)

o termo psicopatologia tem, em sua acepção ordinária, suas cartas

de nobreza da obra de Freud (Freud,1901), que não é evocado aqui,

de forma fortuita, mas a título de referência explícita à teoria

psicanalítica do funcionamento psíquico.

O termo Psicopatologia está voltado, portanto, para o aspecto de sofrimento e/ ou doença

vinculados ao trabalho. Tanto Dejours quanto os autores Paul Sivadon e Louis Le Guillant

nas suas pesquisas iniciais buscavam comprovar as psicopatologias causadas pelo

trabalho. Entretanto, alguns anos depois, Dejours passou a adotar uma visão teórica

diferente, como afirmam Lima, Assunção e Francisco (2004).

Após a publicação de seu primeiro livro (Travail, usure mentale, 1980), Dejours continuou

realizando suas pesquisas como psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina de Paris e

renunciou ao enfoque sobre as doenças mentais, transferindo suas pesquisas para os

mecanismos de defesa que os indivíduos utilizam contra o sofrimento no trabalho.

A partir dos resultados obtidos em outras pesquisas, Dejours (1992) nega a existência de

transtornos mentais ocasionados exclusivamente pelo trabalho, considerando que o

trabalho pode constituir um elemento desencadeante da descompensação do individuo,

mas jamais o determinante. Acrescenta que as pessoas, ao ingressarem numa organização,

já têm uma estrutura de personalidade embutida de descompensações neuróticas ou

psicóticas. A combinação entre a estrutura de personalidade e o trabalho é que pode ser

determinante do adoecimento.

De acordo com Dejours (1992), a relação entre o aparelho mental e a organização do

trabalho é ambígua, pois há situações em que o trabalho é favorável ao equilíbrio mental do

sujeito. Quando a organização do trabalho é positiva, ao invés de ser conflituosa, pode

ocorrer uma das seguintes condições: as exigências intelectuais, motoras ou

psicossensoriais da atividade laboral estão em conformidade com as necessidades do

trabalhador ou o próprio sujeito pode transformar a organização de seu trabalho (conteúdo,

ritmo e modo operatório) de acordo com o seu desejo ou suas conveniências.

O texto do livro Psicodinâmica do Trabalho, publicado por Dejours com Elizabeth

Abdoucheli e Christian Jayet, mostra esta nova postura de Dejours. Lima, Assunção e

Francisco (2004) ressaltam que os teóricos franceses foram os fundadores do campo da

Saúde Mental e da relação entre transtornos mentais e trabalho. Apesar das divergências

teóricas entre eles, todos tinham em comum o objetivo de esclarecer e comprovar as

relações entre certas formas de organização do trabalho e certos transtornos mentais.

Portanto, as teorias referentes ao campo da saúde mental e trabalho estão distantes de

entrarem em consenso. Visando a desmistificar dúvidas e contradições referentes ao tema,

é oportuno contextualizar a diferenciação proposta por Dejours para os campos da

Psicopatologia e da Psicodinâmica:

(...) Segundo Dejours o grande enigma para a Psicopatologia do

Trabalho não é a doença mental e sim a normalidade, isto é, o que

importa realmente é compreender as estratégias defensivas

(individuais e/ou coletivas) adotadas pelos trabalhadores com a

finalidade de evitar a doença e preservar ainda que precariamente

seu equilíbrio psíquico. A partir dessa constatação, ele propõe a

mudança do nome da disciplina para “Psicodinâmica do Trabalho”

argumentando que não foi possível estabelecer uma relação causal

entre certos distúrbios psíquicos e certas formas de organização do

trabalho. Além disso, considera esta segunda denominação mais

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adequada na medida em que amplia o campo de investigação,

permitindo um olhar para o sofrimento, mas também para o prazer

no trabalho. Em suma, Dejours não admite que o trabalho seria

causador de doenças mentais, podendo no máximo desencadeá-las

e, ainda assim, sob certas circunstancias bastante específicas (...).

(LIMA, 2006, p. 13-14).

Dejours (2007) define como finalidade da Psicodinâmica do Trabalho analisar o trabalho

enquanto atividade humana, na qual se busca interpretar clinicamente "porque" e "como" o

mesmo trabalho, dependendo da forma como é organizado, pode causar destruição mas,

também, ser construtor de saúde.

Na tentativa de definição da Psicodinâmica do Trabalho, percebe-se o distanciamento de

autores que buscam focar apenas o lado negativo do trabalho. A adequada definição supõe

uma compreensão da complexa relação entre o sofrimento e a manutenção da saúde mental

equilibrada dos trabalhadores no ambiente laboral.

Na perspectiva epistemológica, Mendes (2007, p.32) define a Psicodinâmica como “(...) uma

teoria crítica do trabalho, que envolve dimensões da construção – reconstrução das relações

entre sujeitos-trabalhadores e realidade concreta do trabalho”. De acordo com a autora,

Dejours caracteriza o trabalho como fonte de prazer e de sofrimento. Enquanto o sofrimento

instiga o trabalhador a buscar uma saída para o seu desajuste psíquico, o prazer no

trabalho remete ao conceito de mobilização subjetiva, na qual o trabalhador, através do

coletivo, da sua subjetividade e do seu saber fazer, tenta dar um novo sentido ao trabalho,

subvertendo o significado do sofrimento (MENDES, 2007).

Dejours (2007) afirma que o sofrimento está presente nas atividades laborais, pois trabalhar

inclui enfrentar o real – regras e as incidências que ocorrem diante das previsões. Contudo,

o ato de trabalhar presume a superação dos obstáculos e a busca por soluções. Deduz-se

que o trabalho apresenta possibilidades de transformar o sofrimento. Tudo depende da

subjetividade do trabalhador: quando vence a resistência do real, transforma-se a si

mesmo, ou seja, de algum modo torna-se mais confiante e inteligente para enfrentar novas

dificuldades, porém, quando não há o enfrentamento ou superação deste sofrimento,

eventualmente pode desencadear uma doença psicopatológica.

Pode-se afirmar, em conclusão, que o trabalho desempenha papel fundamental na

dualidade do processo saúde–adoecimento, cabendo a cada sujeito encontrar maneiras de

transformar o sofrimento em prazer e principalmente buscar maneiras para dar sentido ao

trabalho que realiza.

3 METODOLOGIA UTILIZADA NA PESQUISA

Visando a alcançar o objetivo proposto, foi realizada uma pesquisa qualitativa, do tipo

descritivo, que constituiu um estudo de casos. A unidade de análise foi a Secretaria

Municipal de Saúde de um município do estado de Minas Gerais, onde a pesquisadora

principal exercia o cargo de Psicóloga.

A população do presente estudo é constituída pelos servidores públicos da instituição que

manifestarem sintomas depressivos, estresse, insatisfação com o trabalho e/ou se

apresentaram poli queixosos no período compreendido entre janeiro de 2014 a maio de

2015. Tendo como referência aqueles que buscaram atendimento psiquiátrico ou psicológico,

a amostra foi constituída pelos servidores que aceitaram submeter-se a entrevista realizada

pela autora desta pesquisa. Logo, a seleção da amostra foi intencional, não-probabilística,

por acessibilidade. Não se trata, portanto, de uma amostra que representa

numericamente a população estudada, mas trata-se de uma seleção de sujeitos que

experimentaram o adoecimento e cujas percepções de realidade podem ser representativas

do universo de servidores.

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Esses trabalhadores desempenham funções de agentes comunitários de saúde, enfermeiros,

técnicos de enfermagem, auxiliares de serviços gerais e nutricionistas. Não houve critério

de seleção referente à idade, sexo, estado civil, escolaridade e exercício de algum

cargo. A caracterização desses sujeitos de pesquisa é a seguinte:

Uma – Agente Comunitária de Saúde (ACS) da Estratégia de Saúde A.

Uma – Agente Comunitária de Saúde (ACS) da Estratégia de Saúde B.

Uma enfermeira – Coordenadora da Estratégia de Saúde C.

Uma enfermeira – Coordenadora da Estratégia de Saúde D.

Uma enfermeira – Coordenadora da Estratégia de Saúde E.

Uma técnica de enfermagem da Estratégia de Saúde F.

Uma auxiliar de Serviços Gerais da Estratégia de Saúde G

Uma nutricionista – que atuava no Núcleo de Apoio à Saúde da Família

(NASF).

Para evitar a identificação desses funcionários, os mesmos foram citados na análise de

resultados mediante a designação Servidor, seguida de um numeral de 1 a 8. (Servidor

1, Servidor 2, etc.).

Os instrumentos de coleta de dados foram entrevistas individuais semi-estruturadas

realizadas com os servidores públicos selecionados, no próprio ambiente de trabalho.

Inicialmente, foi feita uma breve exposição sobre o tema a ser pesquisado e

estabelecido um rapport, para que os entrevistados se sentissem à vontade. Os

depoimentos foram gravados, com vista a garantir a fidelidade das respostas, tendo sido

posteriormente efetuada a transcrição e validação com cada sujeito entrevistado. Em

seguida, as entrevistas foram submetidas à técnica de análise do conteúdo qualitativa. A

pesquisadora teve o cuidado de assegurar aos entrevistados o sigilo com relação à sua

identidade.

Este modelo de entrevista semi-estruturada permitiu o contato próximo do pesquisador

com os sujeitos a serem pesquisados, o que favorece um clima de confiança, liberdade e

espontaneidade entre os entrevistados e a pesquisadora. O roteiro de entrevista foi

construído de modo a obter respostas que permitissem uma análise das seguintes

categorias temáticas: Significado do trabalho, Manifestações do processo de adoecimento

mental associado ao trabalho, Fatores determinantes do adoecimento mental relacionado

ao trabalho, Implicações do atendimento psicológico e/ou psiquiátrico e por último,

Ambiente de trabalho saudável para a saúde mental dos trabalhadores. Após a leitura das

entrevistas, foi possível identificar subcategorias.

A primeira categoria - significado do trabalho - busca compreender a importância do

trabalho, a identificação com o trabalho, o reconhecimento e a relação do trabalho com a

saúde, de acordo com a percepção dos servidores públicos participantes desta pesquisa.

A segunda categoria refere-se aos sintomas de adoecimento mental apresentados pelos

servidores públicos, os quais podem ser associados ás suas atividades laborais.

A terceira categoria relaciona-se com a vivência dos sujeitos pesquisados no trabalho,

identificando quais fatores podem ser considerados determinantes do adoecimento

mental associados ao dia-a-dia no trabalho.

A quarta categoria busca definir se houve procura por profissionais

especializados na área de saúde mental, identificar o diagnóstico, o uso de

medicamentos e afastamentos das atividades laborais decorrentes do adoecimento mental

do trabalhador.

Na última categoria pretendeu- se identificar na perspectiva dos sujeitos analisados

quais fatores é necessário para a garantia de um ambiente de trabalho saudável para a

saúde mental.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Como foi mencionado no capítulo referente aos procedimentos metodológicos, as entrevistas

gravadas foram transcritas e submetidas à análise de conteúdo. Após a leitura flutuante e

levando em consideração as questões que compuseram as entrevistas, foram identificadas

as categorias indicadas e ainda as subcategorias constantes do quadro 01.

Categorias

Subcategorias

Subcategorias

4.1. Significado do trabalho

- Importância/ identificação com o

trabalho - Reconhecimento no trabalho

- Relação trabalho x Saúde

4.2. Manifestações do processo de adoecimento

mental associado ao trabalho

- Sintomas de adoecimento mental

4.3. Fatores relacionados ao adoecimento

mental no trabalho

- Privação dos direitos

trabalhistas - Falta de

transparência da gestão

- Protecionismo com servidores efetivos

-Insegurança/ambiente de trabalho

inadequado

- Desvalorização do funcionário

público - Falta de

recursos/incentivos

- Pressão/sobrecarga no trabalho

4.4. Implicações do Atendimento Psicológico

e/ou Psiquiátrico

- Ajuda especializada

- Diagnóstico/ medicação

- Afastamento das atividades laborais

4.5. Ambiente de trabalho saudável para a

saúde mental dos trabalhadores

- Garantia de direitos

trabalhistas - Remuneração

- Apoio da gestão

Quadro 1- Categorias temáticas e Subcategorias correspondentes à análise das entrevistas

Fonte: Elaborado pela autora da pesquisa (2015).

As falas das pessoas entrevistadas foram organizadas nas cinco categorias temáticas

expostas neste quadro e com o propósito de tornar mais perceptível a clareza da

análise dos dados, foram utilizados fragmentos das entrevistas realizadas.

Categoria 1: Significado do Trabalho

Esta categoria diz respeito ao conceito que os servidores públicos têm sobre o

significado do trabalho. Assimilar essas concepções pode auxiliar no entendimento da

representatividade que o trabalho tem de acordo com a subjetividade de cada servidor

da Secretaria Municipal de Saúde.

Ávila e Barcelos (2011) ressaltam que o trabalho é o meio que propicia ao sujeito a

realização de si. Os depoimentos a seguir demonstram a importância e a

identificação positiva de trabalhar na área de Saúde Pública.

“Pra mim, este trabalho é tudo. Me faz sentir útil ne? (..) e eu dei

sorte por estar na área pública, que é uma área que eu gosto

também. Então eu gosto do que eu faço, apesar de estar

cansada, (...) gosto do dia a dia”.(Servidora 04).

“O Nasf sempre foi uma área que eu quis trabalhar, que é a área

de saúde pública, desde a faculdade e foi a oportunidade que eu

tive de crescer como profissional e também de relação

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interpessoal. Lidar com os pacientes de todas as classes, lidar

com todos os casos possíveis e impossíveis, com as adversidades,

limites de prefeitura e de burocracia, enfim, um pouco de tudo a

gente vivencia e de todos os empregos que eu tive até hoje foi o

que mais me marcou, o que me deu mais bagagem profissional e

também pessoal. Grandes amizades também, mas de uma forma

geral, todos se unem muito pela proposta do SUS, pelas

dificuldades que a gente tem e eu acho que isso é bem

importante”.(Servidora 08).

O primeiro comentário ressalta a concepção do trabalho como categoria

fundamental na vida desta servidora, sendo que ela realça seu gosto pela atividade. O

segundo depoimento enfatiza, principalmente, a oportunidade do relacionamento social que

advém do exercício profissional.

Os autores Jardim e Lacman (2009) também ressaltam o trabalho com um fator

fundamental na formação de redes sociais, nas trocas afetivas e econômicas, no

pertencimento a um grupo e afirmam que o trabalho tem a função psíquica de ser a

base para constituição do sujeito. Percebe-se que em ambos os relatos, as servidoras

citam as dificuldades de atuação profissional no serviço público, porém os benefícios, o

crescimento pessoal e profissional, a satisfação de trabalhar com as atividades das quais

se gosta e o trabalho em equipe sobressaem.

Categoria 2: Manifestações do processo de adoecimento mental associado ao trabalho

Esta categoria busca identificar as manifestações do processo de adoecimento mental

dos servidores da Secretaria Municipal de Saúde quando associado às suas atividades

laborais. Verificar como surgem esses sintomas e o que ocasionam pode auxiliar a

instituição a investir em medidas corretivas e/ou preventivas no modo de organizar o

trabalho, com a finalidade de manter equilibrada a saúde mental dos servidores públicos.

Dejours (2004) afirma que quando falta ao trabalhador reconhecimento no seu trabalho,

nas oportunidades em que não consegue utilizar sua inteligência e criatividade para

contrapor às situações não saudáveis impostas pela organização de trabalho, existe

uma tendência ao surgimento de sintomas psicopatológicos.

As servidoras públicas relataram sintomas como crises de enxaqueca, ansiedade,

alterações no sono, estresse e iniciam o uso de medicação ansiolítica e depressiva para

conseguir enfrentar os transtornos causados pelo trabalho.

“(...) O primeiro episódio que eu tive foi uma faringite, fiquei

totalmente afônica, e consultei com o médico no SUS que me deu o

diagnóstico de que era Estresse. Um tempo depois eu comecei a

apresentar um quadro de ansiedade que evoluiu para um

quadro de enxaqueca, e eu fui obrigada a continuar trabalhando

com enxaqueca, sofri um acidente de carro. Tive que continuar

trabalhando com enxaqueca, minha crise de enxaqueca durou 35

dias, sendo que, os especialistas falam que qualquer crise que

passam dos cinco dias já não é normal, tive que tomar muita

medicação intravenosa, inclusive para dormir porque eu ficava

cinco a seis horas sem dormir, sem efeito nenhum, eu acho que

os quadros mais gritantes foram estes e fiz uso de ansiolíticos e

antidepressivos, fiz uso até de anti-convulsivos para tentar

controlar este quadro de enxaqueca e de ansiedade e o fato é

que desde que eu sai da secretaria de saúde não faço mais uso

de nenhum destes medicamentos”. (Servidora 08).

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“(...) Eu chegava em casa e tinha crises de choro, me perguntavam

porque eu estava chorando e você não sabe explicar o porque e

nem pra que. Sua cabeça, parecia que tinha um buraco que

você sacudia e parecia que estava puro ar (...)”. (Servidora 04).

Esses danos estão relacionados com o nível de estresse das servidoras públicas são

ligados ao trabalho. Os sintomas inicialmente aparecem como físicos, tais como, faringite,

enxaqueca e falta de atenção concentrada, porém, todas essas patologias dentro do

contexto estudado são da esfera emocional. Outro fato a ser destacado é que as

queixas relacionadas aos sintomas psicopatológicos são semelhantes entre pessoas

com profissões diferentes, mas dentro do mesmo ambiente laboral e evidenciam

sofrimento vivenciado servidoras públicas no trabalho.

Categoria 3: Fatores determinantes do adoecimento mental relacionado ao trabalho

Esta categoria se refere aos fatores capazes de causar adoecimento dos sujeitos de

pesquisa na situação de trabalho, segundo o ponto de vista das servidoras públicas

pesquisadas. Ficou evidenciado que elementos referentes às atividades laborais realizadas

nas ESF´s podem promover sofrimento mental e, em alguns casos, resultar em

manifestações patológicas, tais como: depressão, ansiedade, estresse, dentre outras.

A sobrecarga e a pressão no trabalho foram queixas frequentes, conforme

demonstram os relatos a seguir:

“Dor de cabeça com frequência, eu não tinha isso, nunca fui de

ter dor de cabeça por qualquer outro motivo (...). E um sono que

não me sustenta, eu posso dormir a noite inteira que eu acordo

com uma sensação de que eu não dormi. E (...) isto está

relacionado com a sobrecarga do trabalho”. (Servidora 06).

“Teve uma vez que eu tive um estresse por causa de pressão de

serviço, metas a serem cumpridas porque a gente tem muita meta,

se não cumprir, é chamada a atenção, a gente não tem descanso,

o descanso é só final de semana, igual já tinha falado, não tem

férias, e ai teve uma vez que eu me estressei mesmo com o

trabalho porque já tinha muito tempo que não tinha um descanso,

cheguei a bater meu carro por causa disso, no horário de

serviço e ai foi isso que aconteceu.” (Servidora 03).

Em relação às exigências da organização do trabalho, percebe-se um desgaste físico

e mental das funcionárias para o cumprimento de metas, ausência de descanso e

tensão no trabalho. Tais fatores interferem não somente nas atividades realizadas no

trabalho, como também, causam alterações no sono e desconforto físico, manifesto

como dor de cabeça e fadiga frequentes.

Mendes e Araújo (2007) alegam que a sobrecarga no trabalho em níveis moderados torna-

se, algumas vezes, necessária para promover possíveis ajustamentos às situações

laborais. Porém, quando apresentada em grande intensidade, a sobrecarga

pode ocasionar efeitos maléficos na saúde dos trabalhadores, interferindo nas

relações sociais, gerando hiperaceleração e, até mesmo, paralisias subjetivas e físicas.

Foram relatados pelas servidoras públicas outros fatores que contribuem para o sofrimento

e/ou adoecimento no trabalho, tais como privação dos direitos trabalhistas, falta de

transparência da gestão, protecionismo com servidores efetivos, insegurança/ambiente de

trabalho inadequado, desvalorização do funcionário público e por último, falta de

recursos/incentivos.

Categoria 4: Implicações do Atendimento Psicológico e/ou Psiquiátrico

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Esta categoria aborda os casos das servidoras públicas participantes desta pesquisa que

optaram por procurar atendimentos Psicológicos e/ou Psiquiátricos para

atenuarem o sofrimento ou até mesmo o adoecimento mental causado pelas

atividades laborais. Algumas narrações exemplificam que muitas servidoras públicas

entrevistadas utilizaram tais recursos:

“ Estresse. Eu continuo fazendo o tratamento psiquiátrico,

psicológico não. Hoje eu tomo Sertralina. Meu sono é muito leve,

sou péssima para dormir, eu acordo a noite inteira, eu tenho

insônia, ai ela optou por eu tomar o medicamento de manhã e

tem dado uma boa resposta. Eu chego em casa,

custo a pegar no sono, mas quando eu durmo, eu durmo a noite

inteira e acordo só de manhã para poder vir trabalhar”. (Servidora

04).

“Estresse. Fluoxetina e Clonazepan porque eu não durmo sem o

remédio mais. E se eu ficar sem o Fluoxetina também não

consigo sair para trabalhar, ter animo, então, realmente o

remédio me dá ânimo (...)”. (Servidora 07).

Estes relatos mostram que as três servidoras foram diagnosticadas com Estresse e fazem

o uso de ansiolíticos e antidepressivos para auxiliar no sono e, até mesmo, para ter

ânimo para trabalhar. É perceptível também na fala de algumas funcionárias a

dependência do uso de tais medicamentos.

Uchida (2007) ressalta que quando as estratégias de defesa começam a falhar e os

sintomas recorrentes de irritabilidade, tendinite, tensões e crise de angústia se

intensificam, muitos trabalhadores recorrem ao uso de medicações

psicofarmacológicas que são os antidepressivos e ansiolíticos.

As servidoras públicas relataram situações de uso abusivo de medicamentos sem nem

mesmo ter a clareza do diagnóstico correto, afastamento das atividades laborais e ainda

opressões da organização do trabalho devido à ausência por motivos de saúde das

atividades laborais. Percebe-se, portanto que, existem muitas divergências entre a

associação do complexo campo de saúde metal e o mundo do trabalho.

Categoria 5: Ambiente saudável para a saúde mental dos trabalhadores

Esta categoria visa identificar, na perspectiva das servidoras públicas entrevistadas, quais

são os elementos fundamentais que devem existir no ambiente de trabalho para que

haja equilíbrio da saúde mental dos trabalhadores.

Dejours (2004) destaca que as pessoas executam suas atividades no trabalho, se

envolvem com a tarefa da organização de trabalho, mas, em troca, esperam uma

retribuição que pode ser, de forma material, o salário, as férias, as gratificações, mas

também pode assumir formas simbólicas, como o reconhecimento no trabalho. O autor

ainda destaca que, apesar da importância das duas dimensões estarem alinhadas, a

simbólica é considerada de valor superior e inestimável em relação à material.

Em concordância com o ponto de vista de Dejours (2004), os relatos a seguir expõem a

importância da retribuição simbólica no ambiente de trabalho:

“Eu acho que de apoio, eu não posso reclamar do meu gerente,

porque graças a Deus ele entende muito o nosso lado, mas a

gente sabe que nem sempre é assim, então se a gente tivesse

uma gestão que trabalhasse com a gente mesmo e caminharmos

juntos ia dar mais resposta”.(Servidora 03).

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“Os gerentes tentam fazer o máximo que podem para tentar

ajudar a gente, incentivando e tal, só que o administrativo lá

em cima é que deixa a desejar”. (Servidora 04).

As servidoras públicas descrevem como se sentem seguras e valorizadas pelo fato de

terem o apoio do gestor imediato, e consideram a gestão administrativa vigente da SMS

ineficaz, o que interfere de maneira negativa nas atividades de trabalho que são

executadas pelas mesmas.

O trabalho representa uma relação com o outro, portanto, torna-se fundamental o

conceito de cooperação, no nível horizontal inclui o auxílio com os colegas e com a equipe

e o nível vertical são representados pelos superiores e subordinados. Nos dois níveis, a

cooperação é uma construção, na qual as pessoas envolvidas se comprometem com o

desempenho coletivo, na adaptação e no respeito às regras do trabalho que exige dos

trabalhadores demandas nos debates coletivos e exposição ao olhar crítico dos outros.

(DEJOURS, 2004).

Barros (2007) corrobora com Dejours (2004) e destaca que as relações sociais se

tornam adequadas quando há cooperação entre os trabalhadores e que a união do

grupo concede superação de bloqueios pessoais e no trabalho. As servidoras públicas

também citaram a garantia dos direitos trabalhistas e remuneração adequada como fatores

que contribuem para um ambiente de trabalho saudável e satisfatório.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho tem um papel significativo na vida humana, contribuindo para a construção

da realidade psíquica, emocional e cognitiva, influenciando, portanto, a constituição da

subjetividade humana. Decorre desta importância do trabalho na vida humana o fato de

que algumas vezes as condições sob as quais o trabalho se realiza ou as relações que se

estabelecem no ambiente do trabalho podem constituir fatores capazes de causar

sofrimento ou até mesmo de adoecimento. Este artigo se deteve na análise da influência

das atividades laborais no sofrimento e até no adoecimento decorrente da organização do

trabalho, das relações sociais e do sentido que o trabalho tem para um grupo de servidores

de uma secretaria municipal de saúde no período de 2014 a 2015.

Analisando as entrevistas realizadas com essas servidoras, verificou-se que as queixas

de sofrimento mental registradas não estão correlacionadas às tarefas laborais que

realizam na SMS, e sim às características da organização do trabalho na Secretaria.

Foram relatados sofrimentos, somatizações, insatisfações com a organização do trabalho,

sintomas psicopatológicos e até mesmo diagnósticos que sugeriram afastamento das

atividades laborais, em razão de adoecimento mental. Percebe-se, contudo, que algumas

servidoras, devido às suas características da personalidade e à elaboração de sistemas

defensivos eficazes, conseguem transformar o sofrimento no trabalho em prazer,

conforme foi exposto na teoria dejouriana.

Assim, ficou comprovado que nem todos os que apresentaram sintomas de sofrimento

psíquico podem ser considerados portadores de doenças mentais. Apesar de queixas

psicopatológicas estarem presentes em todos os relatos; muitas servidoras

demonstraram estar satisfeitas e realizadas com o trabalho. Isso justifica a ambivalência

do trabalho, que ao mesmo tempo em que pode ser promotor de saúde física e mental,

também pode causar adoecimento. Logo, os efeitos do trabalho parecem estar relacionados

não apenas às condições laborais, mas também a aspectos da personalidade de cada um.

Pode-se afirmar que o objetivo geral da pesquisa foi alcançado, tendo-se conseguido

realizar uma análise dos fatores capazes de provocar adoecimento mental dos

profissionais pesquisados. Dentre os motivos apontados pelas servidoras públicas

entrevistadas, vale destacar a organização de trabalho, a falta de reconhecimento do

trabalho pela organização, a privação dos direitos trabalhistas, a falta de transparência

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da organização, que privilegia alguns servidores. Um aspecto que merece ser realçado é

que embora se trate de uma repartição pública, poucos são os cargos preenchidos por

concurso; a indicação dos servidores é pautada em interesses políticos e resulta num

contrato de trabalho com duração de um ano, que gera grande insegurança nos

trabalhadores. O ambiente de trabalho apresenta, ainda, características insalubres,

além da falta de recursos e de incentivos, pressão e sobrecarga no trabalho e

retaliação aos trabalhadores que ficam de licença ou pegam atestados por motivos de

adoecimento mental.

Algumas servidoras expressaram a satisfação de trabalhar na área de saúde

pública, realçaram o apoio oferecido por alguns gerentes, o relacionamento

interpessoal satisfatório, o sentimento de utilidade derivado da avaliação feita pelos

colegas de trabalho e ainda o reconhecimento por parte dos usuários do sistema de saúde

oferecido pelo SUS. Esses aspectos são pontos positivos percebidos pelos sujeitos

de pesquisa.

A limitação principal desta pesquisa está relacionada ao fato de se tratar de um

estudo de alguns casos, baseado na análise de prontuários, de entrevistas e de

observação feita pela pesquisadora e tais técnicas impedem generalizações amplas.

Como pesquisas sugeridas, devem ser lembrados temas relacionados à gestão de pessoal

dentro das organizações públicas, visando ao bem-estar físico e emocional de seus

trabalhadores. Outra sugestão deve ser investigar a maneira de se evitar o adoecimento

mental dos trabalhadores, identificando técnicas que se adequem à subjetividade do

trabalhador, para evitar e/ou amenizar o sofrimento no ambiente de trabalho. Também

deve-se desenvolver pesquisas aplicadas, visando a o uso da Psicodinâmica do

Trabalho nas organizações, com o objetivo de prevenir as doenças mentais

vinculadas ao trabalho, privilegiando a fala do trabalhador mediante criação de

espaço para sua expressão.

Para que o trabalho não se torne uma fonte geradora de sofrimento mental, o

mesmo deve representar para o sujeito possibilidades de realização profissional e

pessoal. A partir do momento em que o trabalho perde seu sentido, ele passa a

comprometer a integridade da saúde física e mental do trabalhador.

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