a responsabilidade social e o serviço social nas organizações

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros LIMA, MJO. As empresas familiares da cidade de Franca: um estudo sob a visão do serviço social [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 240 p. ISBN 978-85-7983-037-2. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org >. All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. A responsabilidade social e o Serviço Social nas organizações empresariais Maria José de Oliveira Lima

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros LIMA, MJO. As empresas familiares da cidade de Franca: um estudo sob a visão do serviço social [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 240 p. ISBN 978-85-7983-037-2. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

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Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada.

Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

A responsabilidade social e o Serviço Social nas organizações empresariais

Maria José de Oliveira Lima

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3A RESPONSABILIDADE SOCIAL E O

SERVIÇO SOCIAL NASORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS

Da filantropia à responsabilidade social

Historicamente, as empresas sempre praticaram ações no senti-do de contribuir para o atendimento das necessidades sociais emer-gentes da sociedade. No Brasil, até o início dos anos 1980, a classeempresarial tinha compreensão de que a solução dos problemas so-ciais era estritamente responsabilidade do Estado e que, através daspolíticas sociais públicas, deveria equacionar as situações oriundasda miséria, da falta de habitação, do analfabetismo, das questõesambientais, entre outras.

As iniciativas do empresariado voltadas à atenção à populaçãodesassistida ficaram limitadas a ações pontuais e heterogêneas. Nãoexistiam projetos ou programas com práticas planejadas e sistema-tizadas. As ações eram desenvolvidas como forma de praticar o bem,ligadas aos aspectos culturais e espirituais do proprietário da em-presa. Essa prática se caracterizava como ações assistencialistas atra-vés de doações e de prestação de auxílio material e financeiro desti-nado ao atendimento de problemas imediatos de famílias e deinstituições privadas de caridade.

Observa-se que, com o passar dos anos, as empresas brasileirasforam se aperfeiçoando e se modernizando diante do quadro econô-

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mico, político e social que se fazia presente na sociedade brasileira.Por muito tempo, porém, a mentalidade dos proprietários das em-presas em relação aos problemas socioambientais se limitava à ne-cessidade de desenvolvimento de ações filantrópicas1 e que a res-ponsabilidade no enfrentamento da questão social se restringia àsfunções do Estado. Tal comportamento expressava a vocação para abenevolência e para a caridade através de atitudes e ações individuaisdos empresários.

Melo Neto e Froes (2001, p.28) caracterizam as ações filantrópi-cas desenvolvidas pelo empresariado brasileiro, até meados dos anos1980, como atitudes individuais e voluntárias restritas aos empresá-rios filantrópicos e religiosos, estimulados pela caridade cristã a partirde base assistencialista, sem levar em consideração a necessidade deplanejamento e gerenciamento dessas ações.

Desta forma, a atuação filantrópica dependia da vontade e dainiciativa particular e individual das pessoas que possuíam valorescircunscritos na caridade e no dever moral. Essas ações filantrópicasbuscavam contribuir para a sobrevivência das classes desfavorecidas,sem nenhuma preocupação efetiva com o desenvolvimento e a eman-cipação coletiva.

Nesse sentido, vale considerar que desenvolvimento, um subs-tantivo, implica liberdade dos indivíduos para que consigam garan-tir vida com qualidade e dignidade. Veiga (2005, p.34) concorda que

[...] o desenvolvimento requer que se removam as principais fontesde privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidadeseconômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviçospúblicos e intolerância ou interferência de Estados repressivos.

Furtado (2000, p.150) explica que o desenvolvimento não se re-fere somente ao crescimento econômico, mas, sobretudo, a profun-

1 Importante esclarecer que as ações filantrópicas estão relacionadas às atitudese comportamentos dos empresários com base nos princípios da caridade, dacustódia e do amor à humanidade.

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das modificações nas estruturas econômica e social, trazendo eleva-ções no nível de vida das pessoas. Desse modo, o desenvolvimentonão depende do aumento da renda per capita, mas de um conjuntode ações integradas capaz de oferecer à sociedade benefícios do cres-cimento econômico no sentido de ampliar as capacidades humanas,permitindo vida longa e saudável.

Vale lembrar que, desde o final da década de 1960, no Brasil, jáse iniciava um movimento entre as empresas e os interlocutores dasociedade relacionado à inquietação do empresariado diante dos pro-blemas sociais e ambientais, percebendo-se, aos poucos, algumastransformações nos padrões de comportamento ligados à cultura e àgestão empresarial.

Os empresários começaram a entender que os principais proble-mas sociais prejudicavam o processo de desenvolvimento de seusnegócios e também da nação. A busca pela emancipação da socieda-de, e, com isso, a tentativa de garantir o desenvolvimento, passou aser questão fundamental das preocupações de parte do empresaria-do brasileiro.

Uma referência importante foi a atuação da Associação dos Di-rigentes Cristãos de Empresas (ADCE) Brasil2 que organizava e pro-movia seminários, congressos e palestras visando refletir sobre a di-nâmica social das empresas, seus objetivos, reforçando os aspectosligados ao compromisso diante da necessidade constitucional emcumprir sua função social.

Vários documentos resultantes de fóruns e debates, que se suce-deram ao longo do tempo, demonstraram tendência de sensibiliza-ção da classe empresarial com as questões socioambientais do país.Entre essas atividades, destacam-se três documentos elaborados noFórum dos Líderes Empresariais nos anos de 1978, 1983 e 1997,todos revelando ideias e preocupações das empresas com os proble-

2 A ADCE-Brasil foi uma entidade constituída por empresários cristãos quepossuía como fundamento de suas práticas os princípios estabelecidos pela dou-trina social da igreja católica. Todas as atividades acerca da responsabilidade edo balanço social das empresas seguiam esses princípios.

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mas sociais e políticos prioritários. O primeiro foi denominado comoDocumento dos Oito, que tinha sustentação nas questões relacio-nadas à democracia e aos direitos políticos. O segundo, Documentodos Doze, priorizou as reflexões para os novos limites, funções e ta-manho do Estado, não deixando de criticar e negar a interferênciado mesmo na economia. E o último, considerado Cidadania e Ri-queza Nacional, contribuiu significativamente para a compreensãoda necessidade de recuperar ações incidentes à coletividade socialno sentido de alcançar o desenvolvimento econômico na sociedadebrasileira. A partir desse documento, percebeu-se maior expressãoe interesse nas reflexões sobre responsabilidade social das empresasno meio corporativo.

A década de 1980 ficou marcada por profundas mudanças e trans-formações nas áreas social, econômica, política e cultural, no mun-do e, especialmente, no Brasil que se refletiram diretamente na for-ma de ver e agir dos empresários, desencadeando várias discussõessobre a responsabilidade social das empresas diante do cenário mun-dial que apontava inúmeros desafios à humanidade.

O processo de globalização, a velocidade das inovações tecnoló-gicas e a socialização das informações provocaram aumento da com-plexidade no mundo dos negócios exigindo dos empresários novasformas de produção, comercialização e prestação de serviços, alémda implementação de modelos diferenciados de gerenciamento dotrabalho, como resultado das exigências impostas às organizaçõesempresariais diante da concorrência internacional. A realidade dosmercados competitivos fez surgir investimentos inovadores em todaa cadeia produtiva, acrescida da preocupação com os custos, da qua-lidade dos produtos e serviços. As empresas que buscaram a perma-nência no mercado passaram a desenvolver políticas internas de ser-viços de pós-venda, de segurança do trabalhador, de ampliação debenefícios ao corpo sócio-funcional, relacionamento ético com for-necedores, consumidores, funcionários, com a preservação do meioambiente, enfim, preocupação com a sustentabilidade.

No Brasil, durante os anos 1980, houve volumosa mobilizaçãodos movimentos populares visando à liberdade, à democracia e à

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superação da situação de pobreza cultural, política, material e espi-ritual de grande maioria da população do país. Em consequência daorganização política dos vários segmentos da sociedade, em 1988,houve a promulgação da Nova Constituição Federal Brasileira, ca-racterizada como “Constituição Cidadã”, em razão de alguns avan-ços conquistados a exemplo dos direitos sociais, civis, humanos epolíticos. A partir dessa constituição, o país estabelece o regime de-mocrático e participativo como modelo de organização política. Essaconstituição aponta várias diretrizes para a efetivação da democra-cia, da liberdade, da igualdade e consegue inaugurar a universaliza-ção dos direitos sociais, além de consagrar à sociedade civil o papelde co-responsável nas questões de combate à exclusão social.

Interessante citar o artigo 5º da Constituição Federal Brasileirasobre os direitos e garantias individuais e coletivos, assegura o direi-to à propriedade e essa propriedade deverá atender à sua função so-cial. Também no artigo 170, essa lei maior garante a responsabilida-de das empresas com a sociedade:

Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalhohumano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existênciadigna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintesprincípios:

I – soberania nacional;II – propriedade privada;III – função social da propriedade;IV – livre concorrência;V – defesa do consumidor;VI – defesa do meio ambiente;VII – redução das desigualdades regionais e sociais;VIII – busca pelo pleno emprego;IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte que

tenham sua sede e administração no país.

A partir da Nova Constituição Federal houve preocupação daspessoas e das empresas no cumprimento da lei. As empresas passa-

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ram a buscar conhecimento e articular mudanças para assumiremsua função na sociedade. Ao respeitar a função social, que não serestringe somente à oferta de empregos, pagamento de impostos,circulação de mercadorias, acúmulo de riqueza, a empresa garante apossibilidade de transformação social contribuindo para a supera-ção das desigualdades sociais.

Alves (2000, p.108) explica:

Uma nova realidade no jogo das forças sociais se estabelece entreempresa-sociedade e também tem suas ramificações explícitas na cria-ção de um aparato jurídico-legal ou em mudanças nos padrões de com-portamentos sociais que afetam a cultura e a ação empresarial.

Srour (1998) aponta um conjunto de fatores históricos ocorridosdurante a segunda metade do século XX, em âmbito mundial, quereforçam a construção do movimento sobre responsabilidade socialcorporativa.

[...] o fortalecimento de uma sociedade civil, ativa e articulada, querejeitou a acomodação à pobreza sem apelo à solução de força, e que aospoucos penetrou no aparelho de Estado, tornando-o poroso; o fato de,numa economia aberta e cada vez mais policiada pela mídia, os investi-mentos passarem a dar resultados econômicos apenas quando os pro-dutos oferecessem mais valor aos consumidores; o desenvolvimento dealianças estratégicas entre empresários que, embora concorrentes entresi, estabelecem diversas formas de cooperação para dinamizar seus ne-gócios e alcançar maior competitividade; a conjugação dos esforços deagentes sociais em fundos de investimentos e em fundos de pensão, numaassociação em que o capital assume caráter conjunto ou associativista; apulverização do capital aplicado numa variedade enorme de empreen-dimentos sem mudar sua essência privada e individual; a emergênciade empreendedores que controlam alguma forma de conhecimento, oude saber inovador, em detrimento dos antigos detentores de capitalmonetário, dando corpo ao conceito de capital intelectual; o fortaleci-mento da figura dos gestores profissionais, possuidores de capacidadesgerenciais centradas na perseguição da qualidade, da produtividade cres-cente e da competitividade internacional; e a conquista de espaços de-

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mocráticos no seio das empresas graças à gestão participativa. (Srour,1998, p.46-47).

Pelo exposto, observa-se que, a partir do final da década de 1980,as empresas brasileiras passaram a compreender a necessidade documprimento de sua função social diante da exigência da lei, comotambém do atendimento às novas determinações dos mercados com-petitivos, submetidas às regras e aos padrões éticos internacionais.Nesse sentido, questões ligadas à ética e à responsabilidade socialganham espaço e importância no universo empresarial.

Ao longo dos anos 1990, um movimento ascendente de valoriza-ção da responsabilidade social empresarial faz surgir algumas enti-dades representativas importantes para discussão, reflexão e desen-volvimento de nova cultura empresarial no Brasil. Entre elas oInstituto Ethos de Responsabilidade Social; o Instituto de Cidada-nia Empresarial; o Conselho de Cidadania Empresarial da Federa-ção das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg); a FundaçãoInstituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (Fides); o Gru-po de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) e o Instituto Brasi-leiro de Análises Sociais (Ibase).

Vale destacar a importância desenvolvida pelo Instituto Ethosde Responsabilidade Social no Brasil, criado pelo empresário OdedGrajew, em 1998, na cidade de São Paulo. Organização privada semfins lucrativos, mantém-se pela contribuição das empresas associa-das cuja principal função é a disseminação do conceito de responsa-bilidade social por meio de encontros, seminários, congressos e outrasatividades de publicação e divulgação.

Também o Instituto de Análises Sociais (Ibase), organizado em1996 pelo sociólogo Herbert de Souza, teve reconhecida atuação. OIbase deu grande impulso à necessidade de realização do balançosocial das empresas, contando com apoio de lideranças empresariaise de outros segmentos da sociedade. Em 1996, foi lançado o “SeloBalanço Social”, visando à certificação das empresas socialmentecomprometidas com o desenvolvimento das áreas de educação, desaúde, de cultura e do meio ambiente.

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O Gife, criado em 1996, desempenhou contribuição favorável noreconhecimento e no desenvolvimento da responsabilidade socialpelas empresas. A missão desse grupo é o aperfeiçoamento e a difu-são dos conceitos e práticas do investimento privado em fins públi-cos, a sustentabilidade. Seu objetivo principal está assim definido:

Contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável doBrasil, por meio do fortalecimento político-institucional e do apoio àatuação estratégica de institutos e fundações de origem empresarial e deoutras entidades privadas que realizem investimento social voluntário esistemático, voltado para o interesse público. (Gife, on-line).

Com preocupação em disciplinar e em organizar as práticas so-ciais desenvolvidas no país pelas empresas, o Gife, por meio dos seusconstituintes, elaborou um código de ética cuja finalidade visa res-tringir as ações que não estejam relacionadas ao desenvolvimentosustentável.

O Código de Ética preconiza que os conceitos e a prática do investi-mento social derivam da consciência da responsabilidade e reciprocida-de para com a sociedade, assumida livremente por empresas, fundaçõesou institutos associados ao Gife. Para a rede Gife, as práticas de investi-mento social são de natureza distinta e não devem ser confundidas comoferramentas de comercialização de bens tangíveis e intangíveis (fins lu-crativos) por parte das empresas ou mantenedoras. (Gife, on-line).

O exercício de atitudes e de comportamentos socialmente res-ponsáveis das empresas, no Brasil, passa a destacar no ambiente so-cial e vem se efetivando como conjunto de realizações orientadas paraconcretização do desenvolvimento sustentável de comunidades,transcendendo as questões filantrópicas.

O atual cenário globalizado dos mercados determina que as em-presas não sejam meramente organizações econômicas, mas tambémsociais. Assim a compreensão complexa e correta sobre responsabi-lidade social se torna imprescindível no universo empresarial.

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A responsabilidade social empresarial:conceitos em construção

Willis Harman (apud Makray, 2000, p.112) explica que “há umadécada a comunidade de negócios havia se tornado a mais poderosainstituição na última metade do século XX, cabendo-lhe, portanto,uma nova tarefa no capitalismo: assumir uma parcela da responsa-bilidade pelo todo.”

A responsabilidade pelo todo representa atitude que envolve pes-soas e organizações no desenvolvimento dos diferentes papéis e fun-ções, na construção coletiva de uma sociedade justa e sustentável.Isso significa que toda decisão e atitude nos negócios pode e deve serefetivada a partir da consciência de que o destino da humanidade ede todos os seres vivos depende dessas ações. A responsabilidadepelo todo favorece a criação de ações e atitudes empresariais para odesenvolvimento sustentável.

A sustentabilidade é uma situação crítica para todo o planeta e épreciso ser atingida para permitir qualidade de vida à população, com-patível com a capacidade de suporte ambiental. Só uma verdadeira so-lução global pode garantir um futuro humano e sustentável. Essa solu-ção exigiria formulação de políticas públicas que assumisse desde já asescalas da humanidade e da biosfera. (Informação verbal)3

A sustentabilidade pode ser entendida como condição para igual-dade entre as gerações. Uma sociedade torna-se sustentável quandoconsegue oferecer condições para que no futuro a vida da humani-dade possa ter continuidade de forma qualitativa e quantitativa noespaço e no tempo.

3 Anotações realizadas durante palestra ministrada em 26/5/2007, na cidade dePassos (MG), pela professora Dra. Claudia M. Daher Cosac, no 4º Simpósiode Atualização Profissional Rotaract – iniciativa do Rotaract Club Passos RioGrande e Faculdade de Administração de Passos, Fesp, UEMG.

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A Organização das Nações Unidas (ONU) (apud Credidio, 2007,p.36) define sustentabilidade como “[...] atendimento das necessi-dades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de sa-tisfação das necessidades das gerações futuras.”

Dessa forma, o desenvolvimento sustentável torna-se fundamen-tal para a sobrevivência da sociedade e do planeta, dependendo doequilíbrio estabelecido entre o social, o ambiental e o econômico.Portanto, o grande desafio do desenvolvimento sustentável está naexpansão do crescimento econômico incorporando variáveis cultu-rais, educacionais e ecológicas, além de proporcionar condições paraa melhoria da qualidade de vida da humanidade, o que requer e exi-ge ações integradas entre todos os segmentos e setores da sociedadeorganizada.

Na sociedade de mercado, a empresa se constitui como unidadebásica de organização econômica, sendo a mola propulsora para odesenvolvimento econômico e, por esse motivo, com condições es-senciais à promoção do desenvolvimento sustentável.

Essa relação pode ser compreendida como responsabilidade so-cial empresarial, ou seja, a livre adesão da empresa em contribuirpara o desenvolvimento sustentável, criando propostas e programasestratégicos que envolvam acionistas, fornecedores, consumidores,funcionários, suas famílias, a comunidade local, enfim, o conjuntoda sociedade civil organizada, visando à garantia de vida com quali-dade e sustentação ao longo do tempo.

Na opinião de Grajew (2000, p.40), “[...] toda empresa é uma for-ça transformadora poderosa, é um elemento de criação e exerce gran-de ascendência na formação de ideias, de valores, nos impactos con-cretos na vida das pessoas, das comunidades, da sociedade em geral.”

As empresas são poderosas, pois possuem os meios de produção,os recursos financeiros, tecnologias e autoridade política. O poderrequer responsabilidade para com a sociedade em geral que se iniciano princípio constitucional do cumprimento de suas funções sociaise legitimamente reconhecida pela sociedade.

A responsabilidade da empresa se justifica pela qualidade decomprometimento com pessoas, comunidades, sociedade e meio

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ambiente, uma vez que os impactos e as influências atingem direta-mente toda a cadeia de relacionamento, interferindo propositivamen-te na satisfação de necessidades básicas e de sobrevivência, refletin-do no processo de mudança social.

A cultura que organiza a estrutura empresarial, as metas, os ob-jetivos, as decisões, as atitudes e as atividades pode demonstrar àsociedade valores que contribuem para a construção de uma socie-dade sustentável. As empresas que internalizam a responsabilidadesocial na gestão dos negócios, do planejamento estratégico à imple-mentação das ações, estabelecem padrões éticos no relacionamentocom toda a cadeia produtiva.

A ética, entendida como juízos morais, padrões e regras de condu-ta humana, com ênfase na determinação do certo e do errado, corres-ponde às práticas, valores e comportamentos esperados ou proibidospelos membros da sociedade, apesar de não codificados em leis.

A ética empresarial direciona o comportamento em conformida-de com as condutas aceitas pela sociedade. Ferrel et al. (2001, p.7)ressaltam:

A maioria das definições de ética empresarial diz respeito a regras,padrões e princípios morais sobre o que é certo ou errado em situaçõesespecíficas [...] ética empresarial compreende princípios e padrões queorientam o comportamento no mundo dos negócios.

A moral no ambiente empresarial refere-se ao conjunto de valorese de normas reconhecidos e vinculados pelas organizações como basede conduta. Os valores, os padrões e os princípios morais são estabe-lecidos para a coletividade, definem a vivência ética. Srour explica:

A moral pode ser vista como conjunto de valores e de regras de com-portamento que as coletividades, sejam elas nações, grupos sociais ouorganizações, adotam por julgarem corretos e desejáveis. Ela abrangeas representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o que seespera deles, que comportamentos são bem-vindos, qual é a melhormaneira de agir coletivamente, o que é o bem e o que é o mal [...]. (apudAshley, 2002, p.51).

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Existe relação muito próxima entre responsabilidade social e éti-ca, entendo que somente a partir dos princípios e valores morais de-terminados pelos que conduzem as empresas, de acordo com pa-drões éticos universalmente aceitos e definidos, torna possível aprática da responsabilidade social corporativa. Assim o exercício daresponsabilidade social pressupõe assumir comportamentos e ati-tudes éticas pela organização e todo o conjunto societário.

As empresas que almejam a expansão dos negócios em âmbitomundial precisam adotar padrões éticos e morais abrangendo no-ções internacionais a respeito dos direitos humanos, do exercício dacidadania, da prática de participação na sociedade, da defesa e dapreservação do meio ambiente, entre outros.

Efetivamente, valores éticos e morais influenciam as atitudes e aimagem organizacional e estão se tornando cada vez mais homogê-neos, rigorosos e universais. Dessa forma, a responsabilidade socialcorporativa expressa nova forma de realizar negócios em todo omundo, caracterizando-se por visão inovadora, seguindo o rigor dosvalores éticos e morais aceitos universalmente.

Do ponto de vista de Grajew (2000), responsabilidade socialempresarial acrescenta a obrigatoriedade do cumprimento da lei.Esclarece que “[...] ela começa a partir disso, de decisões que preci-sam ser tomadas não porque a Lei obriga e devem ser vistas comoum gesto de livre e espontânea vontade, voluntária, calcada não nalegislação, mas na ética, nos princípios e valores.” (Grajew, 2000,p.41).

O compromisso da responsabilidade social significa a integra-ção e a opção voluntária das organizações empresariais com ques-tões socioambientais que se materializam por meio das atividadesadministrativas, produtivas e comerciais, das relações estabelecidascom todos os envolvidos, integrantes diretos e indiretos da cadeiaprodutiva, os stakeholders4. Além disso, complementa as exigências

4 Stakeholders significa todos os integrantes da cadeia de relacionamento da em-presa, tais como acionistas, proprietários, funcionários, fornecedores, clientes,comunidade e governo.

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legais e contratuais que constitucionalmente são obrigadas a cum-prir. Em outras palavras, a responsabilidade social abrange as boaspráticas corporativas e a ética empresarial, ultrapassando as normasjurídicas e incluindo aspectos diversos como os que vão da gestão derecursos humanos e da cultura empresarial à seleção dos parceiroscomerciais e da aplicação de tecnologias. Implica integração das de-cisões e avaliações estratégicas sobre as dimensões financeira, tec-nológica, ambiental, comercial e social da empresa, levando em con-sideração seus impactos na sociedade. Na opinião de Ferrel et al.(2001, p.68), “[...] a responsabilidade social no mundo dos negóciosconsiste na obrigação da empresa em maximizar seu impacto positi-vo sobre os stakeholders e em minimizar o negativo.”

Kraemer (2005, p.52) define responsabilidade social das em-presas

[...] um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa basevoluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambientemais limpo. A empresa é socialmente responsável quando vai além daobrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condiçõesadequadas de segurança e saúde para os trabalhadores, e faz isso poracreditar que assim será uma empresa melhor e estará contribuindo paraa construção de uma sociedade mais justa.

Atualmente, muitas empresas, principalmente aquelas que bus-cam, incansavelmente, modernização, inovação, competitividade eque esperam a lucratividade, estão assumindo a responsabilidadesocial como modelo de gestão. As empresas precisam incorporar emseu cotidiano a ética nas relações com seus diversos públicos e, essapostura, requer mudança cultural e gerencial.

Responsabilidade social não é uma atividade separada do negócio.É a nova forma de gestão empresarial. E para uma empresa ter sucesso,conquistar e ampliar mercado, ter competitividade, a responsabilidadesocial é indispensável e faz parte da operação, está na infraestrutura daorganização. (Grajew, 2000, p.43-44).

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A responsabilidade social não pode permanecer no discurso dosexecutivos e nem mesmo diluir-se nos comportamentos e práticasfilantrópicas, assistencialistas, através de doações e participações emeventos na comunidade. Ela exige postura ética, decisão política econhecimento profundo da comunidade. Ela se incorpora à gestãoempresarial através das decisões e do planejamento estratégico, naprática do gerenciamento, de processos e técnicas que desenvolvama sustentabilidade das populações para as quais direcionam suasações. Essa atuação envolve o compromisso social dos acionistas,diretores, funcionários, fornecedores e até mesmo dos clientes.

O compromisso social, que ultrapassa o cumprimento da funçãosocial empresarial, não implica que a gestão empresarial renuncie aseus objetivos econômicos e interesses particulares. As organizaçõesempresariais socialmente responsáveis são, justamente, aquelas que,além de desempenharem funções importantes na produção de bense de serviços, geram riquezas, conforme as normas legais e os pa-drões éticos estabelecidos pela sociedade, proporcionam emprega-bilidade, conseguem garantir condições de vida digna para todosintegrados ao seu meio ambiente interno, mas, sobretudo, se orga-nizam para investimentos sociais que causem impacto local, regio-nal e nacional.

Drucker (2002) explica que a única forma das empresas atende-rem a suas funções sociais será através do bom desempenho das suasfunções econômicas.

A maneira como a instituição desempenha sua missão específica étambém a primeira necessidade e o maior interesse da sociedade. Estanada tem a ganhar [...] se a capacidade da instituição em desempenharsua própria tarefa específica for reduzida. [...] Uma empresa falida nãoé uma boa empregadora e dificilmente será uma boa vizinha na comu-nidade. Como também não criará o capital necessário para os empregosdo futuro ou as oportunidades para os trabalhadores de amanhã.(Drucker, 2002, p.387-388).

Drucker (2002) defende que a maior responsabilidade social daempresa é o desempenho de suas funções e a primeira delas é gerar

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riqueza. A empresa que não consegue obter lucros está sendo irres-ponsável, porque está desperdiçando recursos destinados ao atendi-mento de necessidades sociais.

Sob a perspectiva capitalista, as empresas necessitam da lucrati-vidade e, somente através de bons resultados econômicos, consegui-rão contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade. Valeconsiderar que os interesses econômicos refletem diretamente na con-cepção da responsabilidade social da empresa, uma vez que a obten-ção do lucro é essencial para que os negócios se mantenham e sejamcompetitivos no mercado, ao mesmo tempo, que os comportamen-tos éticos e responsáveis garantem a sua própria sustentabilidade.

As reflexões de Melo Neto e Froes (1999, p.52) colocam a res-ponsabilidade social como fator de competitividade. As empresasque assumem postura ética e responsável, além de desenvolveremações sociais dirigidas à sociedade, conquistam posição de vanta-gem no mercado.

A responsabilidade social, postura inovadora de gestão corpora-tiva, propõe-se responder às demandas da sociedade, simultanea-mente, aos seus propósitos de mercado, compatibilizando-os com abusca pelo lucro. Ela configura como movimento que envolve gru-pos representativos de vários segmentos empresariais, estimulan-do-os e obrigando-os a repensarem o seu papel e a forma de condu-zir seus negócios, com vistas a assumirem atitudes éticas esocialmente responsáveis em todas as suas relações.

O movimento da responsabilidade social não expressa modismo,mas uma realidade do contexto empresarial mundial, que acarretaalterações gradativas na cultura organizacional determinando mu-danças de comportamentos e de valores nas empresas. Essas modifi-cações se iniciam através das decisões de seus proprietários e gestorese que balizam todo o relacionamento da empresa com a sociedade.

Kraemer (2005, p.60) explica que “a sociedade é que dá permis-são para a continuidade da empresa.” Os consumidores e os investi-dores não estão interessados em arriscar seus patrimônios em com-panhias que se recusam a tomar medidas de prevenção na área sociale ambiental.

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Interessante ilustrar essa reflexão com alguns aspectos que iden-tificam ações socialmente responsáveis a partir da concepção deKarkotli e Aragão (2004):

• gerar valor para seus agentes internos – proprietários, investido-res e colaboradores – para que, em primeiro lugar, se justifi-quem os recursos financeiros, humanos e materiais utilizadospelo empreendimento;

• adicionar valor para a sociedade, nela identificados governos, con-sumidores e mercado, disponibilizando bens ou serviços adequados,seguros e de algum significado para melhorar a vida das pessoas;

• prestar informações confiáveis;• promover comunicação eficaz e transparente para com os colabora-

dores e agentes externos;• recolher tributos devidos;• racionalizar, ao máximo, a utilização de recursos naturais e adotar

medidas de proteção e preservação do meio ambiente;• incentivar a participação de dirigentes e colaboradores, enquanto ci-

dadãos, na solução de problemas da comunidade;• formar parcerias com outros organismos, de governos e da sociedade

civil, para identificar deficiências e promover o desenvolvimento dacomunidade onde está instalada;

• transacionar de forma ética em toda a cadeia de relacionamento eoutras partes interessadas como fornecedores, colaboradores, clien-tes, entidades associativas e representativas, governos, entre outras.(Karkotli; Aragão, 2004, p.46-47);

Os mesmos autores consideram que a gestão de uma organiza-ção que adota práticas éticas e responsáveis consegue atingir a suamaioridade, podendo ser entendida como cidadania empresarial.

A empresa-cidadã assume compromissos e respeita direitos emrelação aos públicos interno e externo. A cidadania empresarial di-reciona políticas a cada um de seus parceiros e cultiva, voluntaria-mente, valores que expressam sua cultura organizacional, sendo re-ferência de ação dos dirigentes aos consumidores.

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A empresa-cidadã opera sob uma concepção estratégica e um com-promisso ético, resultando na satisfação das expectativas e respeito aosdireitos dos parceiros. Com esse procedimento, acaba por criar umacadeia de eficácia, e o lucro nada mais é do que o prêmio da eficácia.(Martinelli, 2000, p.83).

As organizações empresariais se desenvolvem na sociedade e nelabuscam atingir seus objetivos atendendo às necessidades essenciaise básicas. A empresa-cidadã não se restringe somente ao atendimentoconstitucional de suas funções sociais, mas inova quando efetiva eavalia sua contribuição à sociedade. Essa contribuição é fruto deposição proativa e da decisão de mobilizar todos os seus recursos(humanos, tecnológicos, materiais, financeiros, informações, pro-cessos e técnicas de gestão) para o encaminhamento de soluções aosproblemas sociais. Assim a empresa-cidadã reflete o compromissocom a humanidade através de atitudes éticas e responsáveis com otodo organizacional utilizando talentos humanos, tempo e tecnolo-gias em busca do desenvolvimento sustentável.

Vale esclarecer que todos os recursos mobilizados para a práticada responsabilidade social, sob essa concepção, não são incorpora-dos no custo dos produtos e serviços, pois visam atender aos objeti-vos sociais.

A cidadania corporativa traduz o relacionamento entre empre-sas e sociedade, direciona a organização ao contexto global compar-tilhando valores e formas responsáveis de gerenciar os negócios comtodos os parceiros e, neste sentido, constitui-se parte integrante doplanejamento, dos objetivos e da operação da empresa. Assim a ci-dadania corporativa significa novo estilo de gestão, no qual o plane-jamento estratégico contempla o impacto de seus produtos e servi-ços sobre os diversos públicos com os quais a empresa interage, tantoem relação aos direitos quanto à responsabilidade das partes. (Reis;Medeiros, 2007, p.13).

A discussão do conceito de cidadania corporativa remete à com-preensão da expressão “governança corporativa”, que significa omodo como a empresa trabalha. A forma correta de planejar, execu-

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tar, controlar e avaliar as ações empresariais determina a cidadaniacorporativa responsável. Na visão de Reis e Medeiros (2007, p.14),“[...] a responsabilidade das empresas perante suas ações que afe-tam a sociedade é tão importante quanto a responsabilidade do go-verno pela boa governança da nação. A empresa também deve sergovernada beneficiando todas as partes interessadas.”

Nesse sentido, a responsabilidade social não se limita às funçõesdo Estado, mas das empresas e da sociedade como um todo.Martinelli (2000, p.88) defende que a empresa-cidadã consegueampliar e complementar a sua função de agente econômico em agentesocial, pela disponibilização voluntária e responsável dos mesmosrecursos usados nos negócios para transformar a sociedade e desen-volver o bem comum.

A responsabilidade social se aplica em qualquer tipo de organi-zação empresarial, independentemente do porte, se pública ou pri-vada, podendo ser considerada como estratégia para alcançar a com-petitividade no mercado, uma vez que os consumidores têmpreferência pelos produtos e serviços de empresas éticas e compro-metidas com a sociedade. Portanto, as empresas socialmente respon-sáveis são agentes que agregam valores à cultura empresarial e, aomesmo tempo, agentes de mudança social. Assumem o relaciona-mento ético e responsável para com todos os seus parceiros e bus-cam a construção de um futuro com crescimento econômico,equidade social e uso adequado dos recursos naturais, diferencian-do-se, entre outras, pelo maior potencial de sucesso e longevidade.

Tendo em vista que a cidadania corporativa exige transparênciae compromisso, algumas instituições se preocuparam com a cons-trução de instrumentos específicos para avaliar condutas socialmenteresponsáveis das empresas. Por isso, foram criados indicadores dedesempenho que permitem avaliar, medir, auditar, além de orientara conduta dessas organizações. Esses indicadores contribuem paraidentificar necessidades e apontar deficiências das iniciativas de res-ponsabilidade social.

Para tanto, normas, padrões, diretrizes, incluindo certificaçõessociais, selos nacionais e internacionais representam diferenciado-

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res de credibilidade e aceitação no mercado para as corporações so-cialmente responsáveis.

No Brasil, destacam-se o Selo Balanço Social, conferido pelo Ins-tituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) às empre-sas que realizam o balanço social, e o Selo Empresa Amiga da Crian-ça, concedido pela Fundação Abrinq àquelas que não utilizam mãode obra de crianças e adolescentes e que contribuem para programasde melhoria de suas condições de vida.

O balanço social consiste em instrumento que reúne todas as in-formações sobre as atividades de caráter social e não obrigatórias quea empresa realiza durante um período de tempo, visando à transpa-rência em suas ações, além de contribuir para melhorar a comunica-ção e o sistema de informação da organização para com todas as par-tes interessadas. Do ponto de vista de Reis e Medeiros (2007, p.1), obalanço social deve ser “ferramenta de ação e divulgação das infor-mações econômicas e sociais que possam servir como instrumentosde apoio ao planejamento do desenvolvimento.” Essa ferramentarepresenta um indicador de responsabilidade social. Segundo o Ibase,o balanço social

[...] é um demonstrativo publicado anualmente pela empresa reu-nindo um conjunto de informações sobre os projetos, benefícios e açõessociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado,acionistas e à comunidade. É também um instrumento estratégico paraavaliar e multiplicar o exercício da responsabilidade social corporativa.(Balanço Social, on-line).

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Socialdesenvolveu um conjunto de indicadores sociais que permiteidentificar a performance da empresa em relação a práticas so-cialmente responsáveis. Esses indicadores são apresentados emforma de questionário de avaliação da empresa, dividido em setegrandes temas: valores e transparência, público interno, meioambiente, fornecedores, consumidores/clientes, comunidade egoverno e sociedade.

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Algumas normas internacionais foram criadas como padrão dereferência na qualidade requerida pelos mercados. A BS 8800, nor-ma britânica, através das especificações Occupational Health andSafety Assessment Serie (OHSAS) 18001 e 18002, compõe um siste-ma de gestão da Segurança e Saúde do Trabalhador (SST) que orientaas empresas para o desenvolvimento de ações destinadas ao seu pú-blico interno.

De igual relevância, a Norma Accountability – AA 1000, criadaem 1996 pelo Institute of Social and Ethical Accountabilitity (Isea),organização não governamental sediada em Londres, no Reino Uni-do, objetiva monitorar as relações sociais entre a empresa e a comu-nidade onde está inserida, como também promover e dar suporte àsorganizações nas atividades de implementação de sistemas de ges-tão éticos e socialmente responsáveis.

A norma Social Accountability (SA) 8000 foi criada em 1997 como objetivo de atestar e comprovar o exercício pleno da responsabili-dade social interna e externa a empresa, conferindo-lhe a condiçãode empresa-cidadã.

Essa última, considerada a Norma Internacional de Responsabi-lidade Social, atua como princípio ético balizador das ações e relaçõesda empresa com os públicos com os quais interage – funcionários,consumidores, fornecedores e a comunidade. Essa norma visa socia-lizar valores para todos os elos dessa cadeia e foi elaborada com basenas regras da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na De-claração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração Universaldos Direitos da Criança. Possui critérios essenciais de atuação quevisam à erradicação da mão de obra infantil, à segurança e à saúde dotrabalhador, à liberdade de associação e direito à negociação coletiva,à discriminação, ao horário de trabalho, à remuneração, às práticasdisciplinares que determinam a política de responsabilidade social.A norma SA 8000 constitui o primeiro padrão de certificação socialque busca garantir os direitos básicos dos trabalhadores.

A SA 8000 surgiu como resposta às pressões do mercado consu-midor sobre empresas que ignoram as condições de trabalho ofere-cidas por seus fornecedores. Teve maior impulso após denúncias de

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utilização de mão de obra infantil e escrava na indústria chinesa debrinquedos, principal fornecedora das redes americanas de varejo.(Pacheco, 2001).

Outro destaque em relação aos indicadores de responsabilidadesocial se refere ao Global Compact (Pacto Global), criado em 1999, apartir da iniciativa do secretário-geral das Nações Unidas, KofiAnnam, cuja finalidade motiva, mundialmente, a criação de estru-turas sociais e ambientais para assegurar a continuidade de merca-dos livres, abertos, e dar possibilidade para que todos tenham aces-so aos benefícios da economia global.

Os objetivos e princípios propostos pelo Pacto Global estão re-lacionados a questões de direitos humanos, civis, de trabalho e demeio ambiente, estando disseminados pelos organismos internacio-nais como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Pro-grama das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), AltoComissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh)e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Várias organizações empresariais nacionais e estrangeiras estãobuscando conhecer e adotar normas e padrões de responsabilidadesocial, pois, no contexto globalizado, a não observância desses prin-cípios tem ocasionado reflexos negativos nas economias regionais elocais, impedindo a expansão dos negócios em vários segmentos.

Por meio de pressões do mercado internacional, as empresas sãoimpulsionadas a aderirem aos critérios impostos pelas normas decertificação a fim de alcançarem a condição de empresas-cidadãs.

As principais normas e certificações significam ferramentas paraavaliar e certificar as empresas consideradas socialmente responsá-veis e contribuem, de maneira positiva, para que o movimento so-bre a responsabilidade social se efetive através da concretização daconsciência ética, do agir corretamente, não pela imposição da lei,mas pela necessidade de contribuir para o desenvolvimento susten-tável, do compromisso com a responsabilidade em avaliar constan-temente os impactos das ações corporativas para com a sociedade demodo geral. Acrescenta-se a este conjunto de fatores a responsabili-dade perante os problemas sociais que perpassam o mundo, adotan-

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do práticas e ações éticas comprometidas aos valores humanos, so-ciais e ambientais. Enfim, a responsabilidade social torna-se impor-tante meio das organizações empresariais participarem no enfrenta-mento das expressões da questão social.

O Serviço Social a serviço das organizaçõesempresariais

O Serviço Social consiste em profissão oriunda do ensino supe-rior, devidamente regulamentada pela lei nº 8.662/1993, e se carac-teriza pela intervenção na realidade social. Os assistentes sociaisatuam diretamente nas várias expressões da questão social que seapresenta de forma diferenciada em cada período histórico. Esseprofissional, através de sua intervenção ao longo dos tempos, temsido agente de implementação e execução de políticas sociais de acor-do com as demandas socialmente postas. Contudo, o século XXI temprovocado o surgimento de novas demandas em decorrência dasmudanças ocorridas no mundo do trabalho. Essas mudanças fize-ram com que o Serviço Social construísse maior capacidade críticapara interpretar a realidade social e elaborar propostas de interven-ção capazes de preservar e efetivar direitos.

Nessa condição, os assistentes sociais conquistaram novos cam-pos de trabalho e assumiram propositivamente o planejamento, aorganização, o controle e a avaliação de sua própria intervenção pro-fissional, ou seja, a gestão da ação, que se desenvolve no âmbito daspolíticas sociais, seja na área pública ou privada.

No decorrer da história do Serviço Social no Brasil, os assistentessociais sempre se depararam com conquistas e dificuldades de in-serção profissional no processo de reprodução das relações sociaisestabelecidas pela sociedade brasileira.

Desde os anos 1940, algumas empresas já contavam com a atua-ção profissional de assistentes sociais, porém, somente no final dosanos 1970 e a partir de 1980, houve crescimento significativo do cam-po de atuação profissional do Serviço Social nas empresas. Esse avan-

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ço aconteceu graças à contribuição de tendências teórico-metodoló-gicas do Serviço Social do Trabalho, desenvolvidas na década de 1970por grupos de profissionais que se sobressaíram no trabalho emempresas. Essa tendência teórico-metodológica, aliada ao cenáriosocioeconômico-político brasileiro, durante os anos 1980, favoreceu,em grande parte, a expansão de campo de ação profissional para oServiço Social na empresa.

Diante da política econômica vigente nessa época, as empresasprecisavam se desenvolver e, para isso, necessitavam da colaboraçãodo corpo sócio-funcional. Assim requisitavam profissionais comqualificação técnica para substituir práticas improvisadas e realiza-das por funcionários administrativos (sem conhecimentos específi-cos) visando modernizar o gerenciamento do atendimento das ne-cessidades sociais dos trabalhadores.

O assistente social passa a ser considerado pela empresa comoum profissional capacitado para atuar no setor de Recursos Huma-nos, desenvolver atividades de caráter educativo e de prestação deserviços sociais junto ao corpo sócio-funcional.

Dessa forma, o Serviço Social assume a função técnica específicano interior das organizações empresariais, sendo integrado à área deRecursos Humanos. Segundo Mota (1987, p.66), “esta área tem suarazão de ser consolidada no gerenciamento científico da força de tra-balho mediante um padrão de eficiência.” A empresa acaba legiti-mando o trabalho do assistente social no limite de seus interesses,ou seja, quando essa prática profissional consegue atender, estrate-gicamente, aos objetivos e interesses da mesma.

A realidade advinda da abertura política, para a concretização dademocracia no país, e de movimentos populares mais fortes, pre-sentes ao longo da década de 1980, determinou que as empresas co-meçassem a se preparar para as modificações decorrentes da novacarta constitucional e, principalmente, para a realidade de deman-das mais conscientes dos direitos e deveres dos trabalhadores, noexercício da cidadania.

Nesse contexto político, econômico e social, os empresários sen-tiam a necessidade de fixação da mão de obra, sua capacitação e es-

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pecialização, visando manter a competitividade no mercado. Ain-da, nesse período, as empresas buscavam medidas para superar acrise econômica desencadeada a partir de 1974 (em virtude do mila-gre econômico) e necessitavam, novamente, da colaboração dos tra-balhadores no sentido de contribuir para maior produtividade, comqualidade.

Houve crescimento qualitativo e quantitativo dos serviços e dosbenefícios sociais organizados e implementados pelas empresas quevisavam gerar comportamento produtivo por parte do corpo sócio-funcional. Desta forma, requisitavam profissionais, técnicos qualifi-cados na área social para intervir nas relações entre capital e trabalho.

Os profissionais de Serviço Social, lançando mão do conhecimen-to especializado, utilizavam a metodologia da pesquisa científica e odiagnóstico organizacional como instrumentos de trabalho para tra-duzir e interpretar a realidade vivenciada pelos trabalhadores e em-presários, pois tinham consciência de que para uma atuação eficazera necessário conhecimento profundo desse contexto social.

Vale considerar que, na década de 1980, apesar das tendênciasdo Movimento de Reconceituação do Serviço Social, questionandoas práticas conservadoras dos assistentes sociais, verificava-se queos profissionais que trabalhavam em empresas mais tradicionais ecom administração mais autoritária dirigiam suas práticas no senti-do de resolver problemas imediatos, assumindo postura conserva-dora. Por outro lado, os profissionais que atuavam em empresas comadministração mais moderna conseguiram desenvolver papel de con-sultores internos, ou seja, pela prática da negociação passaram a exer-cer função de educadores, agentes de mudanças, administradores ecoordenadores de políticas sociais da empresa e até assessores e con-sultores de Recursos Humanos.

Ao longo do tempo, com o desenvolvimento da intervenção pro-fissional voltada para a negociação, o assistente social conseguiu atin-gir articulação mais efetiva nos níveis decisórios da organização,possibilitando atuação qualificada na formulação e na execução daspolíticas internas empresariais, principalmente aquelas voltadas àárea de Recursos Humanos.

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Os anos 1990 não apresentaram nenhuma evolução no senti-do de ampliação desse mercado de trabalho, pelo contrário, foi umperíodo marcado por alterações efetivas no trabalho dos assisten-tes sociais no universo empresarial, em decorrência das transfor-mações ocorridas nas organizações a partir da reestruturação pro-dutiva e administrativa.

As empresas reestruturaram-se e passaram a exigir profissio-nais mais qualificados, polivalentes e flexíveis, inclusive os assis-tentes sociais. Esse processo de reestruturação provocou amplo de-semprego, o que resultou em redução do espaço de atuação doServiço Social nas empresas.

A sociedade brasileira, na década de 1990, apresentou inten-sas transformações econômicas, políticas e sociais, afetando con-sideravelmente as relações sociais de trabalho até então impostas.Surge novo paradigma de produção industrial, a automação fle-xível, que se apoia na força do processo de inovações tecnológi-cas tanto quanto em mudanças nas estruturas organizacionais, apartir de processos de trabalho diferenciados. Essas tendênciasexigem níveis maiores de qualificação para a produção, conse-quentemente, de um tipo de trabalhador cujo perfil se enquadrenos objetivos da empresa, ou seja, um trabalhador capacitadopara a polivalência, a multifuncionalidade e comprometido coma organização.

Os requisitos exigidos na manutenção e ampliação da qualida-de e da produtividade também passam a fazer parte das exigên-cias ao profissional de Serviço Social nas empresas.

No contexto da reestruturação, surge uma nova racionalidadetécnica e ideopolítica do trabalho, que atravessa as políticas de ad-ministração de Recursos Humanos nas empresas e imprime no-vos elementos ao exercício profissional do Serviço Social.

A partir da principal estratégia da reestruturação, conseguir aadesão e o consentimento dos trabalhadores aos objetivos e àsmetas de maior produtividade e de melhor qualidade, o assisten-te social passa a ser requisitado a atuar na área de Recursos Hu-manos colaborando pedagogicamente na socialização de valores e

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comportamentos dos trabalhadores, de forma a se integrem àsnovas exigências da cadeia produtiva.

Com tal incumbência, o Serviço Social na empresa reassume ademanda histórica dessa profissão, ser agente de integração e de ar-ticulação da cultura empresarial, o que requer formas específicas paraa prática profissional em decorrência das modificações ocorridas nomundo do trabalho.

Conforme expressa Iamamoto (1998, p.130),

[...] a alteração das formas de gestão da força de trabalho nas organi-zações vem diversificando as requisições feitas aos assistentes sociais.Esses têm sido chamados a atuar em programas de qualidade de vida notrabalho, saúde do trabalhador, gestão de Recursos Humanos, preven-ção de riscos sociais, sindicalismo de empresa, reengenharia, adminis-tração de benefícios estruturados segundo padrões meritocráticos, ela-boração e acompanhamento de orçamentos sociais, entre outrosprogramas.

Em relação às atuais exigências para a prática profissional do Ser-viço Social nas empresas, destaca-se o assessoramento às gerências eàs chefias para intervir nas questões relacionadas à vida particulardos funcionários que interferem no seu desempenho produtivo. Osassistentes sociais devem oferecer recursos técnicos específicos paraque os gerentes e chefes possam suprir necessidades, resolver pro-blemas e anomalias pessoais, enfim, para melhor gerenciar pessoas.

Esse papel do Serviço Social envolve alguns aspectos importan-tes a serem discutidos. O primeiro diz respeito à atuação profissio-nal com as questões que envolvem carências e conflitos dos traba-lhadores, antes exclusiva dos assistentes sociais, atualmente seestende a todos os profissionais integrados à área de Recursos Hu-manos, o que inclui os gerentes. Esse é um fato que força os assis-tentes sociais a se requalificarem adequando-se ao perfil sociotécnicopolivalente e sintonizado com a área gerencial.

Outro aspecto revela que o profissional de Serviço Social, nessafunção, acaba se afastando do contato direto com o trabalhador (con-

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siderando que a classe trabalhadora sempre foi objeto histórico daação profissional do Serviço Social), independentemente de seu sa-ber profissional ser apropriado e manipulado pelas estratégiasgerenciais. Ao se referir a essas características, César (2000, p.129)explica que “as novas formas de gerenciamento, neste sentido,inflexionam não apenas o conteúdo, mas o papel que o Serviço So-cial historicamente desempenhou no interior das empresas.”

A prática profissional do assistente social, em determinadas em-presas, projeta-se com o intuito de oferecer aos clientes externos àorganização um diferencial de mercado, ou seja, a empresa prestaalguns serviços e benefícios aos seus clientes no enfrentamento àcompetitividade. Esses serviços e benefícios são coordenados porprofissional de Serviço Social altamente qualificado e sintonizadocom as mudanças no mundo dos negócios. Nesse tipo de atuação, hátransferência do objeto da intervenção, direta e exclusivamente, vol-tada ao trabalhador, para todos os integrantes da cadeia produtiva,incluindo a satisfação dos clientes com os produtos e serviços ofere-cidos pela empresa5.

Outra observação importante constitui-se na ação do assistentesocial que continua atrelada à administração de benefícios sociais.Ao lado da demanda tradicional, como a concessão de benefícios,o estabelecimento de critérios de elegibilidade e a triagem socio-econômica, surgem novas exigências que interferem nessas ativi-dades e as modificam. O que vai determinar a utilização dos be-nefícios oferecidos pelas empresas serão a disponibilidade, aotimização, a racionalização dos recursos, a inclusão das avalia-ções de desempenho e não mais a situação problema só dos tra-balhadores. Assim a atuação do profissional é dirigida para a ra-

5 É importante ressaltar que, através do Código de Ética dos Assistentes Sociaisde 1986, a categoria havia expressado clara opção por uma prática profissionalvinculada e compromissada aos interesses da classe trabalhadora. E, no atualCódigo de Ética, aprovado em 1993 pela lei nº 8.662, foram mantidos os princí-pios e valores que expressam esse compromisso dirigido à construção de um pro-jeto ético-político profissional articulado com a luta geral dos trabalhadores.

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cionalização dos benefícios, para o trato das exceções e concessões,de acordo com critérios meritocráticos.

O assistente social vem sendo requisitado para participar, cola-borar e assessorar os Círculos de Qualidade Total, além de outrosprogramas destinados à qualidade. Esse tipo de atuação é realizadoatravés de trabalho em equipe, no sentido de desenvolver atividadesespecíficas voltadas à melhoria de vida dos trabalhadores. O profis-sional de Serviço Social atua como membro de um determinado gru-po, oferecendo suporte às reuniões, além de conhecimentos técnicosque favorecem a concretização dos objetivos e metas determinadospelo planejamento estratégico. Para conseguir desempenhar bem essaatividade, o assistente social necessita de educação técnica continua-da e sistemática juntamente com os outros profissionais da mesmaequipe.

Necessário se torna ressaltar o caráter interdisciplinar que essetipo de atuação exige. Dessa forma, os assistentes sociais necessitamconviver com as diferenças e heterogeneidades, buscando amadure-cimento profissional cuja finalidade recaia sobre a construção de umnovo saber, ético e social. No momento atual, essa relação interdis-ciplinar é vital para a permanência do Serviço Social nas empresas.Iamamoto (1998), quando se refere às novas possibilidades e exi-gências para o trabalho do assistente social nas empresas, reforça anecessidade de esse profissional conquistar lugar no processo cole-tivo de trabalho, “partilhando com outras categorias de trabalhado-res, que, juntos, contribuem na obtenção dos resultados ou produ-tos pretendidos.” (Iamamoto, 1998, p.110).

As áreas de treinamento, de motivação e de desenvolvimento deprogramas e de projetos sociais (programas ligados à saúde dos tra-balhadores, programas sociais, culturais, educacionais, de lazer eoutros) também fazem parte das ações que o assistente social desen-volve no universo empresarial. A atuação nesses espaços justifica anecessidade da empresa em atender aos requisitos da qualidade, debuscar soluções para os problemas advindos das mudanças efetuadasna produção e, mesmo, fruto da intensificação do trabalho, de pres-sões externas como a dos consumidores.

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Ao lado da retração do Estado no campo das políticas sociais,a partir da perspectiva do projeto neoliberal, no Brasil nos anos1990, ocorreu ampliação do campo da prestação de serviços so-ciais pela sociedade civil e, principalmente, por grandes corpora-ções empresariais.

Percebe-se um processo dinâmico sobre o movimento da respon-sabilidade social das empresas, considerando que alguns a enten-dem como filantropia empresarial, concebida como novo tipo de açãosocial desenvolvida pelas empresas tidas como cidadãs ou empresassolidárias. Estas investem capital privado em projetos comunitáriosde interesse público em busca de melhor imagem social da empresa,o que implica ampliar vendas, conquistar mercados e a própria so-brevivência empresarial. Acrescenta-se a isso a preocupação de umaparcela significativa de empresários em contribuir para o desenvol-vimento sustentável.

Diante do ascendente movimento da responsabilidade social emâmbito mundial, grande número de empresas está incorporando aresponsabilidade social como estratégia de gestão. Nessas empresas,na concretização de ações sociais, encontram-se assistentes sociaisatuando na elaboração, na execução, na coordenação e no desenvol-vimento de programas e projetos sociais comunitários das referidasempresas, o que atende a um dos sete temas preconizados pelo Insti-tuto Ethos e dependente de uma série de indicadores pertinentes.

A atuação do Serviço Social na empresa, na década de 1990, de-monstra algumas modificações e torna evidente que,

[...] ao mesmo tempo em que o papel do Serviço Social adquire umaoutra funcionalidade, colocam-se exigências de qualificação que reca-em sobre o perfil profissional. Exige-se um perfil sociotécnico moder-no delineado por procedimentos racionais e profissionais que passam anortear a requalificação do assistente social. (César, 2000, p.142).

Imprescindível compreender que esses requisitos de maior qua-lificação significam o acúmulo de um complexo de conhecimentosteórico-metodológicos, além de várias qualificações pessoais e com-

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portamentais dos profissionais. As empresas “têm exigido requisi-tos que extrapolam o campo de conhecimentos para abranger habi-lidades e qualidades pessoais.” (Iamamoto, 1998, p.130).

Essas qualificações pessoais e comportamentais destacam-secomo: conhecimento profundo de seu trabalho, de todos os seto-res e das políticas da empresa; a competência, que significa fazersempre o melhor possível; a atmosfera positiva, que representaaparência pessoal agradável, organizada e boa comunicação; espí-rito de cooperação, que reforça a postura de colaborador, respon-sável em relação às metas e resultados da empresa; e o esforço ex-tra, que significa sair da rotina e fazer sempre mais, ser flexível eusar o bom senso.

A partir da racionalidade do trabalho são eliminadas todas as ta-refas que não podem ser mensuradas. São definidos metas e prazospara a realização das atividades, além dos padrões de eficiência e dequalidade dos serviços prestados. O desempenho do exercício pro-fissional do assistente social passa pelo controle normal, no proces-so empresarial, através da verificação do cumprimento ou não dasmetas estabelecidas para o seu trabalho. A sua produtividade é me-dida em função da capacidade de implementar ações que visem atin-gir os interesses e objetivos da empresa, objetivos esses que incor-poram os do corpo sócio-funcional, tendo em vista as organizaçõesque desenvolvem o conceito de sustentabilidade.

A flexibilização tão requerida pelo processo de reestruturaçãopode levar os assistentes sociais à descaracterização de suas funções,tarefas e responsabilidade. Isso ocorre quando esses profissionais,ao responderem às exigências de polivalência, de maleabilidade, deversatilidade e de perfil generalista, sentem-se confusos e sofrem commodificações ou acúmulo de funções pertinentes ao cargo exercido.Contudo, essas modificações também enriquecem o conteúdo de seutrabalho, proporcionando novas possibilidades de ação profissional,o que se evidencia no perfil pluralista, uma das matrizes do projetopedagógico dos cursos de Serviço Social.

Resumindo, o exercício profissional do Serviço Social nas em-presas, estendendo-se às organizações do tipo familiar, nos anos

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1990, é atravessado por transformações ocorridas no processo detrabalho e que afetam diretamente suas competências. Para que osassistentes sociais consigam responder às antigas e às novas atri-buições requeridas pelas empresas, no atual momento, torna-se desuma importância que eles estejam devidamente preparados, o querequer dos profissionais qualificação continuada e constantesintonia com os processos de mudanças. Isso indica tendência à for-mação profissional generalista em sua formação intelectual e cul-tural, munido de um acervo amplo de informações, em um mundocada vez mais globalizado, capaz de apresentar propostas criativase inovadoras em seu campo de trabalho e competente em sua áreade desempenho.

Iamamoto (1998, p.183) observa que, diante da “recolocação dasdemandas de trabalho do assistente social no mundo empresarial paraa esfera das relações de trabalho, alargando a tradicional inserção res-trita à esfera dos benefícios assistenciais”, a própria recolocação nãopode ser considerada como desprofissionalização, perda de espaçosou mesmo restrição de suas possibilidades ocupacionais. Salienta queessas alterações têm que ser incorporadas pelos profissionais, “deci-fradas e antecipadas pelas agências de formação, como requisito parase qualificar profissionais afinados criticamente com a contempora-neidade e que nela tenham lugar.” (Iamamoto, 1998, p.184).

Na década de 1990, a formação profissional adquire fundamen-tal importância e para isso foi elaborado um novo currículo para oscursos de Serviço Social, pela Associação Brasileira de Ensino e Pes-quisa em Serviço Social (Abepss), sintonizado com as novas tendên-cias da contemporaneidade. A partir da elaboração, em processo departicipação nacional precisamente organizado, de princípios e di-retrizes para a formação profissional, foi concretizado o primeiropasso para que os assistentes sociais conseguissem superar parte dosdesafios que a prática profissional nas organizações empresariaisencontra no cotidiano.

A persistência constitui elemento essencial para que esses pro-fissionais não desanimem diante de alterações que resultem em di-ficuldades. Contudo, com qualificação, competência e persistência,

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os assistentes sociais estão se destacando nas empresas e até sendochamados a ocupar cargos e posições de gerência, principalmente naárea de Recursos Humanos. Dessa forma, é possível acreditar queas novas demandas e exigências enfrentadas pela profissão não sig-nificam somente perdas e dificuldades, mas também espaços e pos-sibilidades para a ação profissional no universo empresarial.

Sob essa visão torna-se primordial que o profissional tenha ca-pacidade para se manter informado sobre a realidade social, econô-mica e política que o cerca, integrando a organização em que atuanessa conjuntura. Para tanto, tem que entender e considerar o meioexterno (mercado de trabalho, sistema financeiro, governo, consu-midores e fornecedores) para propor planos de ação e obter sucesso;permanecer ligado aos processos de mudanças, acompanhar a evo-lução, ser capaz de interpretar os fenômenos sociais, a relação entrecapital e trabalho que se modifica no meio empresarial e buscarautogeração de competências, sustentando seu ritmo de obtençãode novos conhecimentos, transformando-os em instrumentos dediagnóstico, ação e avaliação contínuos.

A atuação do Serviço Social nas organizações empresariais, tendoem vista a divisão social do trabalho, encontra-se hierarquicamenterelacionada com a alta administração da empresa. Contudo, as ativi-dades de planejamento, coordenação, execução e avaliação de pro-gramas e projetos são implícitas à atuação desses profissionais, inde-pendentemente da posição hierárquica que ocupam na empresa.

Pelo fato de a prática profissional estar voltada a funções admi-nistrativas na empresa e esses profissionais constantemente busca-rem capacitação e inovação na área, é comum encontrar assistentessociais em cargos de gerência, de supervisão e de coordenação.

Esses assistentes sociais têm se destacado diante de outros pro-fissionais egressos do ensino superior, pois conseguem conciliar aformação em Serviço Social com a capacitação continuada em outrasáreas. Isso tem demonstrado que acrescentam conhecimentos ne-cessários ao exercício profissional no espaço empresarial.

Os profissionais de Serviço Social que desempenham funçõesgerenciais na empresa, especificamente na gestão de Recursos Hu-

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manos, desenvolvem atividades de coordenação das políticas e dire-trizes de Recursos Humanos.

Nessa função, realizam trabalho em equipe com outros profis-sionais, tais como psicólogos, advogados, médicos e enfermeirosdo trabalho, engenheiros de segurança do trabalho, além de geren-tes de outras áreas da empresa, o que evidencia ações interdisci-plinares proporcionando segurança e efetividade ao desenvolvi-mento do trabalho.

Nas empresas nas quais o assistente social assume a gerência deRecursos Humanos, geralmente existem outros assistentes sociaisque também fazem parte da equipe interdisciplinar. Mas, quando oúnico assistente social é também o gerente de RH, muitas vezes eleacaba incorporando as atividades específicas da gestão com as doServiço Social na empresa.

As principais atividades desenvolvidas na Gestão de RecursosHumanos ou de Pessoas, coordenadas pelos assistentes sociais, são:

• recrutamento e seleção;• treinamento e desenvolvimento (treinamentos operacionais, pro-

gramas de integração de funcionários, programas de bolsas deestudos e outros);

• plano de carreira;• avaliação por resultados e/ou competências;• administração dos benefícios sociais;• comunicação interna, organização de eventos (convenções, encon-

tros, reuniões);• pesquisa do clima organizacional;• administração de cargos e salários;• planejamento estratégico da Área e da empresa;• coordenação de projetos sociais – interno e externo;• coordenação de programas de estagiários;• processos de desligamentos;• coordenação e desenvolvimento de atividades ligadas à prática da

responsabilidade social corporativa.

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A partir da reestruturação, produtiva e administrativa, a tendên-cia foi terceirizar algumas dessas atividades, porém, nas empresasque mantêm estrutura organizada de Gestão de Pessoas, essas atri-buições ainda são realizadas pelos próprios profissionais da área.

Vale ressaltar que a importância atribuída à Área de RecursosHumanos pelos empresários está intimamente ligada às novas de-mandas colocadas pela reestruturação, cuja principal estratégia atentaao consentimento dos trabalhadores aos objetivos e metas de maiorprodutividade e melhor qualidade. Para isso, as empresas mais ino-vadoras passam a investir no capital intelectual, pois as pessoas re-presentam diferencial competitivo que mantém e promove o suces-so organizacional.

O trabalho desenvolvido pelos profissionais ligados à área deRecursos Humanos, com compromisso e competência, voltado pararesultados, também é fator que influencia a valorização da área pelaempresa.

As organizações modernas estão concentrando seu foco principalno conhecimento. Estão investindo nas pessoas, pois acreditam que oconhecimento constitui a chave do desenvolvimento da empresa.

Para garantir o desenvolvimento organizacional, pressupõe-se odesenvolvimento das pessoas através da elaboração de políticas epráticas de Recursos Humanos. As empresas têm consciência de quenão bastam salários, benefícios sociais, ambiente agradável e segu-ro, mas a autorrealização das pessoas torna-se fator essencial. Nessesentido, as empresas se empenham em desenvolver programas queproporcionem formação aos funcionários.

A Área de Recursos Humanos está caminhando rumo à novavisão de Gestão de Pessoas. Algumas empresas apresentam-semais à frente e outras estão apenas iniciando o processo de mudan-ça organizacional.

Um aspecto interessante é que, à medida que a empresa conse-gue se desenvolver através de uma administração mais flexível, trans-parente, descentralizada e com gestão participativa, ela proporcionadesenvolvimento aos funcionários através de políticas e práticas efe-tivas de Recursos Humanos.

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Nesse contexto, esses funcionários se apresentam com visão maisampla e integrada da empresa, dos objetivos e da missão organiza-cional, o que favorece o sucesso da organização empresarial.

O desenvolvimento organizacional baseado na administraçãomoderna não é consequência do tamanho ou do destaque econômi-co que a organização apresenta, mas fica dependente das mudançasno processo cultural que organiza as estruturas da empresa, o queinfluencia, sobretudo, as políticas de Recursos Humanos adotadas.

A partir dessa concepção e de resultados da pesquisa realizadapor Lima (2002, p.109), de fato os assistentes sociais que atuam emorganizações empresariais manifestam preocupação em buscar ino-vação constante, e acreditam que é dessa forma que conseguirão es-tar sempre aptos a enfrentar a realidade, vencer os desafios e ofere-cer respostas às demandas.

Os profissionais assistentes sociais que atuam na área de Recur-sos Humanos afirmam que a formação em Serviço Social é a basefundamental para o exercício profissional. O curso de Serviço Socialoferece conhecimento adequado em planejamento, estatística, tra-balho com grupos, relações humanas e visão global da realidade po-lítica, econômica e social. Mas também consideram a importânciada complementação, em outras áreas do conhecimento, para o apri-moramento da prática profissional. (Lima, 2002, p.111).

O sucesso do Serviço Social na empresa depende da busca porcapacitação diversificada na área empresarial, reconhecendo a im-portância da formação generalista que o curso de Serviço Social pro-porciona através do conjunto de disciplinas veiculadas às grandesáreas do conhecimento como as Ciências Humanas, Sociais e mes-mo as Exatas (Estatística); enfatizam, com mérito, a habilidade notrato e no respeito com as pessoas, mas reconhecem que ainda não éo suficiente para o desenvolvimento da prática profissional. Valeconsiderar que as grandes realizações são conseguidas com grandesesforços, que é necessário compromisso, dedicação e capacitaçãocontinuada.

Uma preocupação do assistente social, na empresa, é não perdersua identidade profissional, principalmente, quando no cargo de

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gerência. Nesse sentido, o conhecimento do código de Ética dos as-sistentes sociais se torna imprescindível. Outra necessidade é a par-ticipação efetiva e frequente nos eventos de reflexão e discussão so-bre assuntos ligados ao trabalho profissional, elaborados pelacategoria e pelas instituições de ensino.

Os assistentes sociais que atuam nas empresas conseguemaprimorar seu perfil a partir das exigências do mercado de traba-lho. Adquirem visão ampla sobre a empresa em que trabalham,encontram-se sintonizados com os processos de mudanças inter-nas e externas ao ambiente empresarial, procuram contínua capa-citação profissional, sabem trabalhar em equipe, desempenhamsuas funções junto à alta administração da empresa, com flexibi-lidade, integrados e orientados aos resultados esperados: favore-cer o envolvimento dos trabalhadores com as metas da organiza-ção, desenvolver capacidades e habilidades necessárias para oposto de trabalho, treinar e reeducar os funcionários, proporcio-nar reconhecimento, gerar satisfações e estabelecer a remuneraçãoa partir da avaliação do desempenho.

No mundo moderno, o universo empresarial apresenta constan-tes mudanças e transformações socioestruturais. Com a globaliza-ção dos negócios e o desenvolvimento tecnológico, surge intensomovimento pela qualidade e pela produtividade. Dessa forma, asorganizações passam a acreditar que o grande diferencial capaz deoferecer vantagem competitiva são as pessoas. São elas que geram efortalecem a inovação da empresa, passando a ser valorizadas e esti-muladas. A partir dessa concepção, a atual Gestão de Pessoas temsido considerada como responsável pelo sucesso organizacional.

Nesse contexto, a atuação do profissional de Serviço Social nasempresas se caracteriza pelo desenvolvimento de atividades e de pa-péis diferenciados em relação às demandas postas historicamente.Representa dificuldades e desafios, pois esse universo é complexo,contraditório e exige amplo conhecimento organizacional como umtodo. Apesar da formação em Serviço Social ser fundamental e ofe-recer subsídios básicos para o exercício profissional, torna-se neces-sária a capacitação continuada.

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Nesse espaço ocupacional, o assistente social se destaca comogestor, através das características que adquire ao longo da formaçãoprofissional pela capacidade em entender e orientar a dinâmica daorganização na qual está inserido. Orientar a dinâmica empresarialquer dizer utilizar os recursos existentes da melhor forma, a fim decontribuir para que a organização consiga realizar a sua missão, in-cluindo aí melhorias na qualidade de vida das pessoas que fazemparte da empresa.

Essa missão não significa representar unicamente os interessesdos proprietários e acionistas, mas, essencialmente, atender às ne-cessidades e às expectativas das pessoas internas e externas à organi-zação. É papel fundamental do Serviço Social na empresa a respon-sabilidade em divulgar a missão organizacional a todos que delafazem parte e buscar sinergia para atingir os objetivos propostos.Para desempenhar bem esse papel, o profissional tem que ter visãocrítica, ampla, integrada e global, da dinâmica do processo que en-volve o universo empresarial.

Planejamento, organização, direção e controle são as funções es-senciais do gestor e do assistente social na empresa. Tais atribuiçõesenvolvem ações para determinar objetivos e prazos, agrupar, con-duzir, motivar pessoas, recursos, e aplicar medidas de avaliação, cor-reção, o que representa organizar processos de mudanças.

Os assistentes sociais, profissionais integrados à equipe de Re-cursos Humanos, desempenham as funções previstas pelo planeja-mento estratégico, planejamento este voltado à ação global, a longo,médio e curto prazos, abrangentes à empresa como um todo. Co-nhecem e assumem a organização, direção, controle e avaliação daspolíticas e diretrizes que norteiam as práticas de gestão de pessoas eque determinam os caminhos a serem percorridos pela organização.

Para assumirem tais responsabilidades, esses profissionais seprepararam através de cursos de capacitação, adquirindo conheci-mentos específicos da área administrativa, independentemente dealcançar a confiança do empresário.

Essa conquista, fruto da persistência e do interesse desses pro-fissionais em buscar caminhos exequíveis, é também fruto da ne-

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cessidade em adquirir conhecimentos ampliados e oferecer respos-tas às diversas situações complexas e contraditórias, advindas dosprocessos de mudanças, estruturais e conjunturais.

Na empresa moderna, os profissionais de Recursos Humanosestão presentes em todos os setores, em todos os níveis hierárquicosda organização, circulam entre todas as coordenações, desde a altaadministração até os níveis operacionais, estabelecendo relação deconfiança, transparência, solidariedade, equilíbrio e bom senso, semdeixar de lado o processo de conhecimento racional como base daformação ética e política.

O assistente social, nessa posição, assume novas atribuições dian-te daquelas tradicionais e inerentes à gênese do Serviço Social naempresa. Apresenta-se com responsabilidade para conquistar no-vos espaços e comprova a natureza, competência e habilidade pro-fissional na gestão sócio-estrutural, enquanto fundamento da for-mação técnico-operativa.

Diante desse contexto de trabalho, torna-se comum a indagação,por parte da própria academia de profissionais, se é um assistentesocial ou um administrador.

Contudo, vale lembrar que o profissional de Serviço Social fazprevalecer sua formação de origem, mesmo porque esta se encon-tra presente no modo de pensar, agir e operacionalizar, tanto a ela-boração de políticas que favoreçam os beneficiários do universo em-presarial como a execução de atividades inerentes à estruturaorganizacional.

Mudam as responsabilidades, mudam as estratégias de ação, maso assistente social é gestor de políticas internas, de programas, deprojetos, o que envolve estabelecer relacionamento contínuo e coti-diano com pessoas, seja na área da Assistência Social, da Educação,da Saúde, da Habitação como na de Recursos Humanos no universoempresarial.

Compreender essa situação como perda da identidade significaconcordar com a eliminação do espaço ocupacional do Serviço So-cial nas empresas. Significa aceitar a morte prematura do ServiçoSocial nesse universo. Superar essa visão é reconhecer que os assis-

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tentes sociais precisam olhar para além das fronteiras das atividadespontuais, rotineiras, dos limites impostos pela formação, dos desa-fios e dificuldades advindos dos processos de mudanças, tanto noque diz respeito às disciplinas que compõem a grade curricular doscursos de Serviço Social, quanto da própria divisão social do traba-lho que traduz a racionalidade administrativa, visando identificarpossibilidades de ação profissional.

O alicerce construído pela formação acadêmica em Serviço So-cial constitui a base fundamental para o exercício profissional dosassistentes sociais na área de Recursos Humanos nas empresas. Alémda habilidade especial em lidar e respeitar as pessoas, capacitam-secom criticidade para interpretar os fenômenos sociais, políticos eeconômicos, internos e externos ao ambiente organizacional. Essacapacidade de leitura crítica da realidade não é privilégio, mas prin-cípios norteadores da prática profissional dos assistentes sociais.

O Serviço Social no universo empresarial, apesar das fragilida-des e das dificuldades, busca complementação e inovação atravésdos sujeitos em ação. A busca constante por capacitação profissio-nal, acrescida de experiências adquiridas no cotidiano de trabalho,enfrentamento de contradições, mutações, garante a habilidade dosassistentes sociais em gerenciar pessoas, trabalhar com as diferen-ças, ter visão e ação estratégica, capacidade de integrar e negociar,enfim, habilidades para o planejamento, organização, direção, ava-liação e controle. Dessa forma, o Serviço Social nas empresas do tipofamiliar pode e consegue atender às demandas exigidas pelas orga-nizações as quais também apresentam condições de contribuir parao atendimento às necessidades dos trabalhadores e do público aoentorno empresarial.

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