2v 7urv 3dsplv 'hvhpshqkdgrv shodv 6xsuhpdv … · a primeira edição do livro é de 1962. \...

24
\ R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 \ 39 2V 7UrV 3DSpLV 'HVHPSHQKDGRV SHODV 6XSUHPDV &RUWHV QDV 'HPRFUDFLDV &RQVWLWXFLRQDLV &RQWHPSRUkQHDV /XtV 5REHUWR %DUURVR 0LQLVWUR GR 6XSUHPR 7ULEXQDO )HGHUDO 3URIHVVRU 7L WXODU GD 8QLYHUVLGDGH GR (VWDGR GR 5LR GH -DQHLUR ă 8(5- 0HVWUH HP 'LUHLWR <DOH /DZ 6FKRRO 'RXWRU HP 'LUHLWR 8(5- 9LVLWLQJ 6FKRODU +DUYDUG /DZ 6FKRRO 3URIHVVRU GR &HQWUR 8QL YHUVLWiULR GH %UDVtOLD 81,&(8% $%675$&7 2 SUHVHQWH WUDEDOKR WHP SRU SURSyVLWR SULQFLSDO GLVFXWLU RV SDSpLV GDV VXSUHPDV FRUWHV H WULEXQDLV FRQVWLWXFLRQDLV QDV GHPRFUDFLDV FRQWHPSRUkQHDV 3URFXUD GHPRQVWUDU TXH HVVDV FRUWHV GHVHPSHQKDP DOpP GR SDSHO FRQWUDPDMRULWiULR WUDGLFLRQDOPHQWH D HODV UHFRQKHFLGR SHOD WHRULD FRQVWLWXFLRQDO GRLV RXWURV SDSpLV UHSUHVHQWDWLYR H HVSRUDGLFDPHQWH LOX PLQLVWD (PERUD DSUHVHQWH GLYHUVRV H[HPSORV GD H[SHULrQFLD FRQVWLWXFLRQDO GRV (VWDGRV 8QLGRV R WH[WR SURFXUD DQDOLVDU RV SDSpLV GDV VXSUHPDV FRUWHV H FRUWHV FRQVWLWXFLRQDLV QD SHUVSHFWLYD GH XP FRQVWLWXFLRQDOLVPR JOREDO WUDEDOKDQGR FRP FDWHJRULDV TXH VH WRUQDUDP FRUUHQWHV QDV SULQFLSDLV GHPR FUDFLDV GR PXQGR 680È5,2 , ,QWURGXomR ,, 3DSpLV 'HVHPSHQKDGRV SHODV 6XSUHPDV &RU WHV H 7ULEXQDLV &RQVWLWXFLRQDLV 3DSHO &RQWUDPDMRULWiULR 3DSHO 5HSUH VHQWDWLYR 3DSHO ,OXPLQLVWD ,,, &RQFOXVmR 2 SUHVHQWH WH[WR FRQVROLGD H H[SDQGH LGHLDV GHOLQHDGDV HP WUrV DUWLJRV DQWHULRUHV &RQVWLWXLomR GHPRFUDFLD H VXSUH- PDFLD MXGLFLDO GLUHLWR H SROtWLFD QR %UDVLO FRQWHPSRUkQHR 5HYLVWD -XUtGLFD GD 3UHVLGrQFLD $ UD]mR VHP YRWR R 6XSUHPR 7ULEXQDO )HGHUDO H R JRYHUQR GD PDLRULD Revista Brasileira de Políticas Públicas 5: H Reason without vote: the representative and majoritarian function of Constitutional Courts, Thomas Bustamante e Bernardo Gonçalves Fernandes (eds), Democratizing Constitutional Law: perspectives on legal theory and the legitimacy of constitutionalism, 2016.

Upload: trinhcong

Post on 02-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 39

-

Revista Brasileira de Políticas Públicas 5: Reason without vote: the representative and majoritarian function of Constitutional Courts, Thomas Bustamante e Bernardo Gonçalves Fernandes (eds), Democratizing Constitutional Law: perspectives on legal theory and the legitimacy of constitutionalism, 2016.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 40

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 41

2 Por exemplo: a liberdade de expressão protege a divulgação de fatos verdadeiros, não podendo ser afastada pela invo-cação do chamado direito ao esquecimento. Por exemplo: leg tima a reserva de vaga de um percentual de cargos p blicos para negros, desde que se am aprovados

em concurso p blico, preenchendo os requisitos m nimos estabelecidos. Por exemplo: at que o ongresso aprove lei disciplinando a greve de servidores p blicos, como prev a onstituição,

será ela regida pela lei que disciplina a greve no setor privado.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 42

. Federalist n : constitution is, in fact, and must be regarded b the udges as, a fundamental la . t, therefore, belongs to them to ascertain its meaning, as ell as the meaning of an particular act proceeding from the legislative bod . f there should happen to be an irreconcilable variance bet een the t o, that hich has the superior obligation and valid-

it ought, of course, to be preferred or, in other ords, the onstitution ought to be preferred to the statute, the intention of the people to the intention of their agents”.6 . . 1 (1 0 ). expressão se tornou clássica a partir da obra de lexander Bic el, The least dangerous branch: the upreme ourt at the

bar of politics, 1986, p. 16 e s. A primeira edição do livro é de 1962.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 43

8 , erem aldron, The core of the case against judicial review. 1 6, 2006 ar Tushnet, Taking the Constitution away from the courts, 2000 e arr ramer, 2004. 9 A equiparação entre direitos humanos e reserva m nima de ustiça é feita por obert Alex em diversos de seus trabalhos. V., , La institucionalización de la justicia, 200 , p. 6.10 Para esta visão processualista do papel da urisdição constitucional, v. ohn art l , Democracy and distrust, 1980.11 A expressão foi utili ada por ohn tuart ill, On Liberty, 18 4, p. 1 : A tirania da maioria é agora geralmente inclu da entre os males contra os quais a sociedade precisa ser protegida (...)”.12 V., , John Elster, , 19 9.1 onald or in, Taking rights seriously, 199 , p. 181. A primeira edição é de 19 .

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 44

14 V. Eduardo Mendonça, A democracia das massas e a democracia das pessoas: uma re exão sobre a di culdade contrama ori-tária, tese de doutorado, E J, mimeografada, 2014, p. 84.15 A expressão consta do título do livro de Antoine Garapon, O juiz e a democracia: o guardião das promessas, 1999.16 V. onald or in, A matter of principle, 1985, p. 69- 1. controle de constitucionalidade udicial assegura que as questões mais fundamentais de moralidade política serão apresentadas e debatidas como questões de princípio, e não apenas de poder político. Essa é uma transformação que não poderá amais ser integralmente bem-sucedida apenas no âmbito do Legislativo”.1 John a ls, Political liberalism, 1996, p. 212 e s., especialmente p. 2 1-40. as suas pr prias palavras: (A ra ão p bli-ca) se aplica também, e de forma especial, ao Judiciário e, acima de tudo, suprema corte, onde ha a uma democracia constitucional com controle de constitucionalidade. sso porque os Ministros t m que explicar e usti car suas decisões, baseadas na sua compreensão da Constituição e das leis e precedentes relevantes. Como os atos do Legislativo e do Exe-cutivo não precisam ser usti cados dessa forma, o papel especial da Corte a torna um caso exemplar de ra ão p blica”. Para uma crítica da visão de a ls, v. Jerem aldron, ,

108, 200 .18 V. Kenneth Jost, The Supreme Court from A to Z, 2012, p. xx. m n mero bem maior de leis estaduais e locais foi invali-dado, superior a 1200, segundo o mesmo autor. Na Alemanha, apenas cerca de 5% das leis federais foram invalidadas. C. Neal Tate e Torb rn Vallinder (eds.), The global expansion of judicial power, 1995, p. 308.19 Nesse sentido, apontando o fato de que uí es conservadores também atuam proativamente, a despeito da ret rica de autcontenção, v. Fran B. Cross and tephanie A. Lindquist, Minnesota Law Review

1 52, 200 , p. 1 55: Para alguns Ministros que professam a autocontenção, as evid ncias sugerem que em alguns ca-sos sua urisprud ncia coerentemente espelham a sua ret rica (como o Justice Rehnquist). No entanto, para outros (Justices calia e Thomas), as evid ncias não con rmam suas posições ret ricas acerca do ativismo udicial estes Ministros não

costumam demonstrar uma abordagem de autocontenção. Em verdade, nos anos mais recentes (1994-2004), o que se tem veri cado é que o comportamentos dos uí es mais conservadores re ete uma orientação relativamente ativista, ainda que

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 45

em grau menor do que os liberais da Corte arren”. V. tb. Paul Ge irt e Chad Golder, So who are the activists? New York Times, op-ed, 6 ul. 2005. 20 A ideia de democracia deliberativa tem como precursores autores como John Ra ls, com sua nfase na ra ão, e Jurgen

abermas, com sua nfase na comunicação humana. obre democracia deliberativa, v., entre muitos, em língua inglesa, Amy Gutmann e Dennis Thompson, Why deliberative democracy?, 2004 em portugu s, Cláudio Pereira de ou a Neto, Teoria constitucional e democracia deliberativa, 2006.21 V. Ana Paula de Barcellos, devido procedimento na elaboração normativa, 2016.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 46

22 Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, 1926-193 . Disponível, na versão em espanhol, em http: pt.scribd.comdoc/63460598/Gramsci-Antonio-Cuadernos-de-La-Carcel-Tomo-1-OCR:“A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem”. V. tb., entrevista do sociólogo igmunt Bauman, disponível em http:// .ihu.unisinos.br/noticias/24025-%60%60o-velho-mundo-esta-morrendo-mas-o-novo-ainda-nao-nasceu%60%60-entrevista-com- igmunt-bauman.23 obre o tema, v. Corinna Barret Lain, pside-do n udicial revie , 113, 2012-2103. V. tb. Michael J. Klarman, The majoritarian judicial review: the entrenchment problem, 49, 1996-199 .24 Veto players são atores individuais ou coletivos com capacidade de parar o ogo ou impedir o avanço de uma agenda. Para um estudo aprofundado do tema, v. George Tsebelis, Veto players: ho political institutions or . Princeton, NJ: Princeton

nivesity Press, 2002. Em língua portuguesa, v. Pedro Abramovay, Separação de Poderes e medidas provisórias, 2012, p. 44 e s.25 V., , Mark A. Graber, , Annual Review of Law and Social Science 4:361-62 (2008). Em meu texto Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito: o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil, 1, 2005, p. 41, escrevi: “Cidadão é diferente de eleitor governo do povo não é governo do eleitorado. No geral, o processo político ma oritário se move por interesses, ao passo que a lógica democrática se inspira em valores. E, muitas ve es, só restará o Judiciário para preservá-los. O democrático do Judiciário, decorrente da di culdade contrama oritária, não é necessariamente maior que o do Legislativo, cu a composição pode estar afetada por disfunções diversas, dentre as quais o uso da máquina administrativa, o abuso do poder econômico, a manipulação dos meios de comunicação”.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 47

26 Esta concentração de poderes no Executivo se deu até mesmo em democracias tradicionais e consolidadas, do que é exemplo a Constituição da 5 Rep blica francesa, que retirou poderes da Assembleia Nacional e transferiu para um presi-dente eleito. V. C. Neal Tate e Torb rn Vallinder (eds.), The global expansion of judicial power, 1995, p. 519.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 48

2 Para o aprofundamento dessa discussão acerca de legitimação eleitoral e discursiva, v. Eduardo Mendonça, A democracia das massas e a democracia das pessoas: uma re exão sobre a di culdade contrama oritária, mimeografado, 2014, p. 64-86.28 V. Robert Alexy, Balancing, constitutional revie , and representation, 5 2, 2005, p. 5 8 e s.29 Corinna Barret Lain, 113, 2012-2103, p. 158. V. tb. Robert A. Dahl,

2 9, 195 , p. 285 e Jeffrey Rosen, The most democratic branch: how the courts serve America, 2006, p. xii: “Longe de proteger as minorias contra a tirania das maiorias ou contrabalançar a vontade do povo, os tribunais, ao longo da maior parte da história americana, t m se inclinado por re etir a visão constitucional das maiorias”. V. tb. Robert McCloskey, The American Supreme Court, 1994, p. 209: “ e might come closer to the truth if e said that the udges have often agreed ith the main current of public sentiment because they ere themselves part of that current, and not because they feared to disagree ith it.”30 381 . . 4 9 (1965)

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 49

31 V. Jill Lepore, . The New Yorker Magazine, 25 mai. 2015: “Banir contracpetivos numa época em que a esmagadora maioria dos americanos os utili ava era, evidentemente, ridículo”. (“Ban-

). A decisão em Griswold veio a ser estendida em Eisenstadt v. Baird, ulgado em 19 2, aos casais não casados.32 539 . . 558 (2003).33 4 8 . . 186 (1986).34 V. Carpenter Dale, 2012, p. 268.35 TF, Pleno, ADC 12, rel. Min. Ayres Britto, DJe, 18.12.2009.36 TF, mula Vinculante n 13: “A nomeação de côn uge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por a nidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa urídica investido em cargo de direção, che a ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de con ança ou, ainda, de função grati cada na administração p blica direta e indireta em qualquer dos Poderes da nião, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o a uste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 50

3 TF, Pleno, AD 4650, rel. Min. Lui Fux, Pleno, DJe, 24 fev. 2016.38 TF, Pleno, C 126.292, Rel. Min. Teori avascki, . 1 .02.2016, DJe, 0 .02.201 ADCs 43 e 44 MC, Rel. Min. Marco Aurélio, . 05.10.2016.39 A con rmação da vedação ao nepotismo foi considerada uma “vitória da sociedade” pelo então presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil. Disponível em: http:// .ambito- uridico.com.br/site/ n link visuali a noticia idcaderno id noticia 2322 , acesso em 31 mar. 201 . Manifestações semelhantes foram veiculadas no portal do upremo Tribunal Federal. Disponível em: http:// .stf. us.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp idConteudo 115820 , acesso em 31 mar. 201 . No que respeita ao nanciamento privado de campanha, pesquisa de opinião demonstrou que 4% da população eram contra tal modalidade de nanciamento e que 9% estavam convictos de que ele estimulava a corrupção. O A, André. Datafolha: Tr s em cada quatro brasileiros são contra o nanciamento de campanha por empresas privadas.

Rio de Janeiro, 06 ul. 2015. Disponível em http://oglobo.globo.com/brasil/datafolha-tres-em-cada-quatro-brasilei-ros-sao-contra- nanciamento-de-campanha-por-empresas-privadas-166 2 6 . Acesso em 05 ago. 2015. Por m, a decisão que reconheceu a possibilidade de prisão antes do trânsito em ulgado da sentença penal condenatória rendeu acusações ao TF de que o tribunal estaria se curvando opinião p blica. VA CONCELLO , L C ETE e GR LLO. Para advogados, TF curvou-se opinião p blica ao antecipar cumprimento de pena. Conjur, 1 fev. 2016. Disponível em http:// .con ur.

com.br/2016-fev-1 /advogados-stf-curvou-opiniao-publica-antecipar-pena. Acesso em 21 mar. 201 . 40 O direito fundamental água é ob eto de diversas decisões proferidas pela Corte Constitucional da Colômbia, tais como T-5 8/1992, T-140/1994, T-20 /1995. A sentença T- 40/2011 produ uma consolidação da matéria, relacio-nando tal direito aos direitos dignidade, vida e sa de. No caso, a entidade prestadora do serviço de fornecimento de água potável havia suspendido o serviço em virtude do não pagamento das tarifas devidas por uma usuária. A Corte entendeu ilegítima a suspensão, por se tratar de usuária hipossu ciente, e determinou entidade: (i) o restabelecimento do fornecimento e (ii) a revisão das cobranças, com base na capacidade econômica da bene ciária, a m de possibilitar o adimplemento das prestações. Em caso de impossibilidade de pagamento, a Corte estabeleceu, ainda, como mencionado acima, (iii) a obrigação da entidade de fornecer, ao menos, 50 litros de água ao dia, por pessoa, ou de disponibili ar uma fonte p blica de água que assegure a mesma quantidade do recurso.41 A Constituição do u nia, promulgada em 2010, tem sido considerada como responsável por notáveis progressos no que di respeito efetivação de direitos fundamentais e combate corrupção. O país também contou com a boa sorte de ter um Chief Justice transformador. Ndung u ainaina “Only Judiciary Can ave This Country.” The Nairobi Law

February 4, 2015. Available at http://nairobila monthly.com/index.php/2015/02/04/only- udiciary-can-save-this-country/

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 51

42 Corte uperior do Kenya, Jacqueline Okuta & another v Attorney General & 2 others 201 eKLR, Disponível em: http://kenyala .org/casela /cases/vie /130 81/ .43 uprema Corte do Canadá, , 1988 1 .C.R. 30. Disponível em: https://scc-csc.lexum.com/scc-csc/scc-csc/en/item/1053/index.do .44 Disponível em: http:// .nytimes.com/1982/12/13/ orld/canadian-doctor-campaigns-for-national-abortion-clinics.html45 Contra a ideia de que Cortes possam atuar como instrumento da ra ão, v. teven D. mith, n Luís Pereira Coutinho, Massimo La Torre e teven D. mith (eds.), Judicial activism: an interdisciplinary approach to the

American and European Experiences, 2015, p. 30: “And thus udicial discourse, once it is detached from the mundane conventions of reading texts and precedents in accordance ith their natural or commonsensical meanings, loftily aspires to be the reali ation of “reason” but instead ends up degenerating into a discourse of mean-spirited denigration”. O texto manifesta grande inconformismo contra a decisão da uprema Corte em (133 . Ct. 16 5, 2013), que considerou inconstitucional a seção do Defense of Marriage Act (DOMA) que limitava o casamento à união entre homem e mulher.46 Além da Encyclopédie, com seus 35 e volumes, coordenada por Diderot e D Alambert e publicada entre 1 51 a 1 2, foram autores e obras marcantes do luminismo: Montesquieu, O espírito das leis (1 48), Jean-Jacques Rousseau, Discurso

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 52

sobre a desigualdade (1 54) e O contrato social (1 62) Voltaire, (1 64) mmanuel Kant, (1 84) John Locke, Dois tratados de governo, (1689) David ume, Tratado sobre a natureza humana (1 39) Adam mith, A riqueza das nações (1 6) e Cesare Beccaria, Dos delitos e das penas (1 64), em meio a outros.4 A expressão se refere aos monarcas absolutos que, na segunda metade do século V , procuraram incorporar ao seu governo algumas ideias advindas do luminismo, distinguido-se, assim, do modelo tradicional. A ideia de contrato social começa a superar a de direito divino dos reis, mas o poder remanesceria com o monarca, que teria maior capacidade de determinar e de reali ar o melhor interesse dos seus s ditos. Exemplos frequentemente citados são os de Frederico, o Grande, que governou a Pr ssia de 1 40 a 1 86 Catarina , imperatri da R ssia de 1 62 a 1 96 e José , de absburgo, imperador do acro mpério Romano-Germânico. Também se inclui nesta lista o Marqu s de Pombal, primeiro-ministro de Portugal de 1 50 a 1 . V. o verbete Enlightened despotism, in ENCYCLOPEDIA OF THE ENLIGHTENMENT (Alan Charles Kors ed., Oxford niversity Press, 2005).48 V. Platão, A República, 2015 (a edição original é de cerca de 380 a.C), Livro V . Na sociedade ideal e usta, cu o deli-neamento procurou traçar nesta obra, Platão defendeu a ideia de que o governo deveria ser condu ido por reis- lósofos, escolhidos com base na virtude e no conhecimento. No comentário de Fredeick Copleston, A history of Philosophy, v. , 1993, p. 230: “O princípio democrático de governo é, de acordo com Platão, absurdo: o governante deve governar em virtude do conhecimento, e este conhecimento há de ser o conhecimento da verdade”. 49 obre o ponto, v. o notável artigo de Paulo Barro o, , Law and Con-

235, 2015, p. 25 -258.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 53

50 Durante a nquisição, homossexuais foram condenados à morte na fogueira. V. o verbete Death by burning, in Wikipe-dia, https://en. ikipedia.org/ iki/Death by burning: “Na Espanha, os primeiros registros de execuções pelo crime de sodomia são dos séculos 13 e 14, e é importante observar que o modo preferido de execução era a morte na fogueira”.51 V. Paulo Barro o, The great alliance: history, reason, and ill in modern la , 235, 2015, p. 2 0.52 34 . . 483 (1954). O ulgamento de Brown foi, na verdade, a reunião de cinco casos diversos, originários de diferentes estados: Brown propriamente dito, (a ui ado na Carolina do ul), County (a ui ado na Virginia), (a ui ado em Dela are), and (a ui ado em ashington D.C.).

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 54

53 A decisão envolveu a declaração de inconstitucionalidade de diversas leis e, nesse sentido, ela tem uma dimensão con-trama oritária ou, mais propriamente, contra legislativa. Ademais, há autores que consideram que em meados da década de 50, á fosse ma oritária na sociedade americana a posição contrária à segregação racial nas escolas. V. Corinna Barret Lain,

pside-do n Judicial Revie . 113, 2012, p. 121-22, com remissão a Michael J. Klarman, Cass R. unstein e Jack Balkin. sso faria com que Brown fosse uma decisão representativa, na categori ação proposta neste trabalho. O argumento é questionável, sendo certo que, à época, leis de 1 estados previam a segregação racial, enquanto 16 a proibiam. Além disso, em primeiro grau de urisdição, os autores das cinco ações foram derrotados. Em apelação, o Tribunal de Dela are assegurou o direito de 11 crianças frequentarem escolas untamente com brancos. E o de Kansas reconheceu que a segregação produ ia consequ ncias negativas para as crianças negras. V. Jesse Greespan,

, May 16, 2014, in HISTORY.COM, disponível em http:// .history.com/ne s/10-things-you-should-kno -about-bro n-v-board-of-education. e a como for, mesmo que a posição fosse de fato ma oritária, ela não tinha como superar o bloqueio dos enadores do sul a qualquer legislação federal nesse sentido. Gor-don ilverstein, Law’s Allure: ho la shapes, constrains, saves, and kills politics, 2009, p. 2 0-1.54 Na nota de rodapé n. 11, a decisão cita os seguintes estudos: -

55 Plessy v. Ferguson, 163 53 (1896).56 V. Bro n v. Board of Education, Leadership Conference on Civil and Human Rights: “The Brown case served as a catalyst for the modern civil rights movement, inspiring education reform every here and forming the legal means of challenging segregation in all areas of society”. n http:// .civilrights.org/education/bro n/ , acesso em 1 an. 201 .5 A decisão não explicitou o modo como seria executada para por m à segregação racial nas escolas p blicas. No ano seguinte, em um ulgamento conhecido como Bro n (Bro n v. Board of Education 349 . . 294 (1955), a uprema Corte delegou às cortes distritais a missão de dar cumprimento à decisão da uprema Corte, cunhando a expressão que se tornaria célebre (e problemática): “com toda a velocidade recomendável” (“with all deliberate speed”. Deliberate também pode ser tradu ido para o portugu s como cautelosa.58 Learned and, The Bill of Rights (Atheneum 19 ), 1958, p. 55. V. tb. Michael Klarman, - Comment: Windsor and Brown: Marriage Equality and Racial Equality, 12 arv. L. Rev. 12 , 143 (2013).

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 55

59 erbert echsler, To ard Neutral Principles of Constitutional La . 1, 1959, p. 34: “Dada uma situação em que o Estado precisa escolher entre negar a integração àqueles indivíduos que a dese am ou impô-la àqueles que querem evitá-la, é possível sustentar, com base em princípios neutros, que a Constituição exige que a reinvindicação dos que querem a integração deve prevalecer ”.60 388 . . 1 (196 ).61 106 . . 583 (1883).62 O acórdão de consignou, em sua nota de rodapé n. 5: “After the initiation of this litigation, Mary-land repealed its prohibitions against interracial marriage, Md.La s 196 , c. 6, leaving Virginia and 15 other tates ith statutes outla ing interracial marriage: Alabama, Ala.Const., Art. 4, 102, Ala.Code, Tit. 14, 360 (1958) Arkansas, Ark.tat.Ann. 55-104 (194 ) Dela are, Del.Code Ann., Tit. 13, 101 (1953) Florida, Fla.Const., Art. 16, 24, Fla. tat. 41.11 (1965) Georgia, Ga.Code Ann. 53-106 (1961) Kentucky, Ky.Rev. tat.Ann. 402.020 ( upp. 1966) Louisiana,

La.Rev. tat. 14: 9 (1950) Mississippi, Miss.Const., Art. 14, 263, Miss.Code Ann. 459 (1956) Missouri, Mo.Rev. tat. 451.020 ( upp. 1966) North Carolina, N.C.Const., Art. V, 8, N.C.Gen. tat. 14-181 (1953) Oklahoma, Okla. tat.,

Tit. 43, 12 ( upp. 1965) outh Carolina, .C.Const., Art. 3, 33, .C.Code Ann. 20- (1962) Tennessee, Tenn.Const., Art. 11, 14, Tenn.Code Ann. 36-402 (1955) Texas, Tex.Pen.Code, Art. 492 (1952) est Virginia, .Va.Code Ann. 469 (1961)”.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 56

63 410 . . 113 (19 3).64 505 . . 833 (1992).65 De acordo com pesquisas reali adas pelo Gallup, de 1995 a 2008, a maioria dos americanos se manifestou em favor do direito de escolha. De 2009 a 2014, ocorreu uma inversão, com a preval ncia dos que opinaram em favor da posição pró-vida. V. Lydia aad, “More Americans Pro-Life Than Pro-Choice For First Time”. n: http:// .gallup.com/poll/118399/More-Americans-Pro-Life-Than-Pro-Choice-First-Time.aspx. Em 2015, ainda segundo o Gallup, o n mero dos que defendem a posição em favor do direito de escolha voltou a prevalecer. V. Lydia aad, “Americans Choose Pro-Choice For First Time in even ears ”. n: http:// .gallup.com/poll/183434/americans-choose-pro-choice- rst-time-seven-years.aspx. 66 Cass R. unstein, Three Civil Rights Fallacies. 51, 1991, p. 66: “By 19 3, ho ever, state legislatures ere moving rmly to expand legal access to abortion, and it is likely that a broad guarantee of access ould have been available even ithout he decision may ell have created the Moral Ma ority, helped defeat the equal rights amendment, and undermined the omens movement by spurring opposition and demobili ing potential adherents”. obre o tema, v. tb. Robert Post e Reva iegel, Roe rage: democratic constitutionalism and backlash. Harvard Civil Rights-Civil Liberties Law Review 42:3 3, 200 .6 Martin Luther King Jr., . Palestra apresentada em Oberlin, 22 out. 1964. No original: “The time is always right to do what’s right”.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 57

68 4 8 . . 186 (1986).69 539 . . 558 (2003).0 V. Justin McCarthy, . . upport for Gay Marriage table After igh Court Ruling. n: http:// .gallup.com/

poll/18421 /support-gay-marriage-stable-high-court-ruling.aspx, 1 ul. 2015. A pesquisa reali ada pelo Gallup, em que se baseia a matéria, aponta um percentual de apoio de 58%. Pesquisa da Associated Press exibiu índices mais apertados: 42% a favor e 40% contra. Curiosamente, quando perguntados, na mesma pesquisa, se apoiavam ou não a decisão da uprema Corte, 39% disseram-se a favor e 41% contra. V. David Crary e Emily anson, AP Poll: harp Divisions After igh Court Backs Gay Marriage. n: http:// .lgbtqnation.com/2015/0 /ap-poll-sharp-divisions-after-high-court-

backs-gay-marriage/, 19 ul. 2015.1 Gordon ilverstein, , 2009, p. 268: “O uso mais efetivo para as

decisões udiciais é quando elas funionam como um ariete, quebrando barreiras políticas e institucionais. Mas a omissão em dar continuidade ao debate sobre o tema, utili ando a arte política da persuasão, coloca esses ganhos em risco se e quase inevitavelmente, quando o Judiciário mudar, novos uí es assumirem e novas correntes de interpretação ou novas prefer ncias udiciais emergirem”.2 408 . . 238 (19 2).

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 58

3 Para um estudo da questão, v. Corinna Barret Lain, pside-do n udicial revie , (January 12, 2012). Disponível no sítio ocial cience Research Net ork - RN: http://ssrn.com/abstract 1984060 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1984060, p. 12 e s.4 428 . . 153 (19 6).5 60 . . 393 (185 ).6 Robert A. Burt, What was wrong with Dred Scott, 1, 1985, p. 1 e

13: “No upreme Court decision has been more consistently reviled than Other decisions have been attacked, even virulently, by both contemporary and later critics (...) But of all the repudiated decisions, Dred Scott carries the deepest stigma. (...)Dred Scott may have proven the upreme Court s unreliability as a ise guide, as a moral arbiter, for a troubled nation”.

323 . . 214 (1944).8 Evan Bernick, “Ans ering the upreme Court s Critics: The Court hould Do More, Not Less to Enforce the Consti-

tution”. , 23 out. 2015. Disponível em: http:// .huf ngtonpost.com/evan-bernick/ans ering-the-supreme-cou b 83 1148.html. Acesso em 18 an. 2016.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 59

9 Noah Feldman. “ hy Korematsu s Not a Precedent”. The New York Times, 18 nov. 2016. Disponível em: https:// .nytimes.com/2016/11/21/opinion/ hy-korematsu-is-not-a-precedent.html r 0. Acesso em 18 an. 2016.80 V. Carl Takei, “The incarceration of Japanese Americans in orld ar Does Not Provide a Legal Cover for Muslim Registry. Los Angeles Times, 2 nov. 2016. Disponível em: http:// .latimes.com/opinion/op-ed/la-oe-takei-constitutio-nality-of- apanese-internment-2016112 -story.html. Acesso em 18 an. 2016.81 TF, Pleno, AD 42 , Rel. Min. Ayres Britto, DJe, 14.10.2011.82 TF, Pleno, AD 4983, Rel. Min. Marco Aurélio, . 16.12.2016. Lamentavelmente, uma Emenda Constitucional foi aprovada posteriormente à decisão, com vistas a superá-la, procurando legitimar a prática considerada cruel pelo TF. V. Emenda Constitucional 96, promulgada em 6 un 201 .83 TF, Primeira Turma, C 124.306, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ acórdão Min. Luís Roberto Barroso, . 29.11.2016.84 uanto às uniões homoafetivas, pesquisa do BOPE indicou que 55% da população eram contra seu reconhecimen-to ( bope: 55% da população é contra união civil gay. Revista Época, 28 ul. 2011, disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EM 252815-15228,00.html A decisão a respeito da vaque ada foi ob eto de emenda constitucional com o propósito de assegurar a continuidade da prática. A emenda foi aprovada no enado e seguiu para apreciação da Câmara dos Deputados (disponível em: https:// 25.senado.leg.br/ eb/atividade/materias/-/materia/12 262, acesso em: 2 mar. 201 ). Por m, a declaração de inconstitucionalidade da criminali ação do aborto no primeiro trimestre de votação motivou protestos de parlamentares e provocou a constituição de comissão na Câmara dos Deputados para buscar reverter a decisão do TF (RO , Marina. Câmara fa ofensiva para rever decisão do upremo sobre aborto: Na mesma noite em que o TF determina que aborto até o terceiro m s não é crime, deputados instalam comissão para rever a decisão. El País. Brasil. 2 de . 2016 disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/11/30/politica/148051 402 133088.html , acesso em: 2 mar. 201 ). acesso em 2 mar. 201 ). 85 BVerfGE , 198, L th- rteil, . 15.01.1958.

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 60

86 NT, Peter E. v. 48, n. 2, 1989, p. 24 -290.8 Barroso, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionali ação do direito: o triunfo tardio do Direito Consti-tucional no Brasil. Jus Navigandi, nov. 2005. Disponível em: https:// us.com.br/artigos/ 54 /neoconstitucionalismo-e-constitucionali acao-do-direito/2 . Acesso em: 31 mar. 201 .88 No caso, L th, presidente do Clube de mprensa de amburgo, defendeu, com base no direito constitucional à liber-dade de expressão, a legitimidade da convocação de um boicote a um lme dirigido por um cineasta na ista. O cineasta e seus parceiros comerciais, por sua ve , alegavam que o Código Civil Alemão vedava a medida. Na oportunidade em que o caso foi decidido pelo Tribunal Constitucional Federal, o lme á havia sido veiculado e fora um sucesso de bilheteria, de modo que, neste aspecto prático, a decisão tinha baixa repercussão p blica. V. COLL NG , Justin. Democracy’s Guard-

. Nova orque: Oxford niversity Press, 2015, p. 5 -62 NOACK, Frank. . Lexington: The niversity Press of Kentucky, 2016.89 S v Makwanyane and Another (CCT3/94) [1995].90 , 2014

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 61

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 39 - 62, Janeiro/Abril 2018 62