24341777 entre a ciencia e a sapiencia rubem alves

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Colega apos,eutado com todas all credenoais e titulacoes, Fazia tempo que a gente nao se via Entrou em meu escritnrio sem bater e sem se anunciar, Nern disse bom- -dia, Fo:id~retoao assunto, "- Rubao, eseou escrevendo urn ~iwo em.que coaro to que aprendi em minha viida. Ma;!'> eles diizern que .0 que €iS<C.:i'eVO nao serve. Naoe dentlitico. RubaQ: 0 Que e dentfficoj" Havla urn < If de in d]gn a< ;a o e pe rpl exi da de na que la pergunta, Urna saibe- dod a de vida Doha de ser ralada: fi3JO era cientfflca ..As. ililq1J.ds]~oe8 de hoje, nao e mais a lgreja qu e as faz. Niao sou. filosofo. .lIes sabem disso e nem me convi- dam para seus siraposios eruditos ..Se me corwtdassern eu nao iria. fa[mm.me as caractensticas essenciais. Nietzsche, bufiio,. fazmdoGa\oada. ala Stendhal sobre ascaracterfs- tica s do fU6sofo: Nn'im se ser urn hi!l'm fil6sofo e preciso se r sool),dar;;[1 e' Sffffl iluW'ili. Um banqlleiro q ue ' fez. fortuna tEm pil1"te' 00 ' cardter ncce$;,'jalio pa:r:a 58 ' /auf alescOibertas ern fi(Q- wfia, isw i,pam ver Cmn clareza dentrQ dtlquUo .que ,e~. Nao soufildsofo porque nao penso a P!.lJ1I1ir de rnn- oeitos, Pense a parti de i magens. Meu peesamento se 81

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Colega apos,eutado com to da s a ll credenoais e titulacoes,

Fazia tempo que a gente nao se via Entrou em meu

escritnrio sem bater e sem se anunciar, Nern disse bom-

-dia, Fo:id~retoao assunto, "- Rubao, eseou escrevendo

urn ~iwo em.que coaro to que aprendi em minha viida.M a ; ! ' > eles diizern que .0 que € i S < C . : i ' e V O nao serve. Naoedentlitico. RubaQ: 0 Que e dentfficoj" Havla urn < If de

ind]gna<;ao e perplexidade naquela pergunta, Urna saibe-

dod a de vida Doha de ser ralada: fi3JO era cientfflca ..As.

ililq1J.ds]~oe8de hoje, nao e mais a lgreja qu e as faz.

N i a o s o u. fil os o fo . .lIes sa bem d isso e nem me convi-

dam para seus siraposios eruditos ..Se me corwtdassern eu

n ao iria . fa[mm.me a s c a ra c te n s tic a s e s s en c ia is . N i e tz s ch e ,

bufiio,. fazmdoGa\oada. ala Stendhal sobre ascaracterfs-tica s d o fU 6so fo : Nn' im se s er u rn hi! l'mf i l6sofo e prec iso se r

s o o l) ,d a r; ;[ 1 e ' Sffffl i luW'i l i . Um b an qlle ir o q ue ' f e z . fo rtuna tEm

p i l 1 " t e ' 00 ' c a r d t e r ncce$;,'jalio p a : r : a 58 ' /auf a le s c O ib e r t a s e r n f i (Q-

wfia, isw i,pam ver C mn clareza den trQ d tl quUo .que , e ~ .

N a o soufildsofo porque nao penso a P ! . l J 1 I 1 i r de rnn-

oeitos, Pense a parti de imagens. Meu peesamento se

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nutre do sensual, Predso Vier.Imagens sao bri tquedos

dos sentidos, Com imagens eu construe histcrias ..

E6ai assim que". no precise momenta em que meu

colega formnlou sua peIgUn~a perplexa, chamada por

a que la pe rgunta a ugusta ", a pa ee ee ra m na minhaJ cabecaimagens que me mntam uma hfstnria:

ItEm urna vez uma aldeia ~s margens de urn rio, rio

imemo OIJ jo mado de ]j_ nao se v~a. as a gu as p as sa vamse m parae ora mansas, ora furl osas, ri0 que F a so n a va e

dava medo, muitolS haviam morndo em suas agu a smisteriosas, e pOI medo e fascinio os aldeoes haviam

rnnstruidn altares a suas margens, fides. a fogo estava

sernpre aOi~SO,e ao redor deles se ouviam <IScan!;oes e

os poemas que artistas haviamcompoato sob (I encan-

tamento do rio sem flm,

O rio eramorada de muitos seres misteeiosos .. Al-

guns repentinamente saltavarn de SU<lS:lf, ' lD.<LcS, para logo

d epo ts m ergu th ar e d esa pa re oe r, O utro s, d ele s so . se via m015- dorses que se mostravam na superficte das aguas . E

havia as sombI:a.,5 que podtam ser vistas deslliizJndo da s

profundezas, sem nunca subir .81superfide, Coruava-se,

nas con versas . a roda do fogo, que havia monstros, dra-

go es, se re ia s e ia ra s na que la s 03igua s..endo que a lguns

suspelravam mesmo que 0 rio fossle morada de: deuses,Erodo,s se petguatavam sabre os outros seres, nunca

v is to s.. d e n nm e ro m de ftn ido, d e fo rrn a s tmpensadas, d emovimentos descnnheddcs, que morariam na.s profun-

dezas esenras do, rio.

Mas mdo eram suposicoes .. a s moradores da aldela

viarn de longe e suspeitavam - mas nunc-a haviam

!l.2

conseguldo capturar umaunica crtatura das que habita-

va m 0rio : to da s a s suas magi a s , encemaeoea ft loeofiase reBgioes haviam sido iruiteis: haviam produzido mui-

tos ]ivros mas n a o havlam coaseguido capturar nenhu-

rna das criaturas do rio.

Assim fni, por gera~ es sem coma. AJi' que um dos

aklle5es pensou 1 1 1 m objeto ~i<lmJiispensado, (0 pensa-

memo 'E urna coisa exlsti ndo na lmeginacao antes de ela

Sf: tomar real, A mente e utero ..A ]magi.na~ao a feznnda

Porma-se um feto: pensamento, Af de nasce....) Ele

imaginou um objeto pam pegar as cnaturas do rio,

Penson e fez. Objeto estranhn: urna porcao de bm3lJOS

amarrados par barbantes, Os buracos erarn para deixar

passar 0. que ]1ao se desejava pegar: a . agua. .Os barhan-tes eram necessarios para se pegar 10 que se deseja pega;r ;

es peixes, :me teeeu uma r ede ,

'Iodos se dram quando ele carninbou na dlrecao do

rio com a rede que tecera Riram-se dos buracos deb. E1E!

nem ligou. Armon a rede como pode e loi dormir ..N.o

dia segainte, ao puxar a rude; viu que nela se encontrava,

presa, enroscada, uma rriatura do rio: um peixe dourado,

FoI aquele alvoroco, Ilns ficaram com raiva Tinham

estado tentando pegar as crlaturas do rio corn f o rmulassagradas, sem SUceS80 .. [)~",sernm que a rede era objeto

de fejt.ii(,aria..Quando '0 homem lhes rnostrou 0 pefxe

do urado qu e su a re de .a panna m, e le s fe oo .a ram o s aUtos

e 0 ameacaram com a logucira.

Outros ficaram alegres e tratararn de aprender a arte

d e . fazer cedes. Os tipos mais variados de redes foram

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II I

Inventados, Redondas, compaidas, de malhas grandes,

de malhas pequenas, umas para ser lancadas omras para

ficar . a espera, outras para ser arrastadas, Cada rede pe-

,gava urn tipo di fereme de petxe.

05, pescadcres-fabncantes de redes ficaram muire~mpol"it3l1ltes,Porqu€ os peixesque des pesrasam tlnham

poderes maravilhosos para diminuh 0sam mente e au-

menear 0prazer, Havia peixes que se prestavarn para ser

cnmidos, pam cnrar doencas, pa ra ti liar a dor, para fazer

voar; para fertillzar os campos e a te mesmo pasa matar;

Sua arte de pescar HIes den grande poder e presnglo, e

eles passaram a ser muito respeitadose invejados,

Os pescadores- fabrkantes de redes se nrganizaram

numa oonfh~"ia. Para pertencer a confraria, ern necessa -rio que' < 0 posmlante soubesse iecer redese qu.e'apresen-

tasse, como prova de sua eompetencia, urn peixe pesca-

do com as redes que de mesrnn tecera.

Mas uma coisa estranha aronteceu. t)e tantn tecer

re d es , p e sc ar peixes e I a l ar sobre redes epeixes, (IS rnern-

bros da confrana acabaram POf esquecer ,(I, Uf lguagem

que os habitantes da aldeia haviam falado serepre e ain-

da [u]av-am,Puserarn, em seu Ingar, urnal iI'l!gu~gelli apro-

priada < L suas redes e a seus pelxes, que tinha de serfalada

pur todos os seus membros, S l o b pena de eN.pulsao_ A

nova linguagem recebeu 0 nome de ictiobles (do grego

i c hO ' l Y S ; ; ; "peixe" + l ' a li a ' " "fala"], Mas, como bern disse

\ <V iU g e ns te ] li la ) :g Il ]) ll S 6 ;) I] .1 05 depots , "o: limites da minha

t inguagem deno iWf f l o s Hmite. .~ do ' mo o m .u nd o ~ Mo rn rmm do

, e aquilo sabre 0 que posse fu]ar. A linguagem estabelece

uma ontologia. Os mernbros da confraria, pOI' for,~a de

84

seus habitos de linguagem, p<lissamlin J pensar que: so era

real aquila sobre que eles ssbiam fatar, isto e .. aquilo que

era pescadn com redes e falado em ktio1.alts, QuaJque:r

colsa que nao fosse peixe, que n,1lofosse apanhado (001

suas redes, que nao pudesse ser talado em ktid<l~es,d.e-s

recusavam e diziam: ~N.ao o f: real".

Quando as pessoas lhes falavam de nu vens, des.

d~zi.am:~Com que rede esse peixe foi pescadoj" .Apes-

soa respondia; NNao 6a i pescado, nal) e pelxe" Eles

punharn logo fim a converna:"Nao , e real", 00 mesmo

aconteda se O iS pessoas lhes f<:l1avamde cores, cheiros,

sen~imentos, musics, poesia. amor, felicidade, ESS3S

coisas, RaO M redes de barban te que as peguem. A fab

era rejcitada. corn 0 h.dgamento fnat "S e nao fQ] pesca-

do no rio com rede aprovada nan , e , . rea] "'.

As redes usadas pelos rnem bros da confraria eram

b O O 3 i S ? Mu]tQ boas,

oOspeixes pescados pel 08membros da rnnfraria eram

bou!.? Muito boo s ,

As redes usadas pelos mernbros da confraria se pres-

ravarn para pescar tude 0 que existia no mundni Nao.

H a muita cotsa no mundo. mnita cotsa mesmo, que as

redes de s m em bro s d a co nfra ria na ,o conseguempeg< l iLSao crl<li~URl8mais leves, que exigern redes de Ql. l1trQ rlpo,

rnsls suti~ mals deficadas. E , no entantn, s;ao absolute-

menteteal s, S6 que nao nadam no do.

Meu colega aposentado, com todas as credendais e

tirula"ues. mostrou para os colegas urn sabia que e]e

mesmo (nara, Fe z 00 sabia camar pam e l es , eeles disse-

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ram: "NaJo fO I pegp com as redes regu lameI l t an~ :5 ; nao e

rea]; nan sabemos 0que e urn sabia; nao sabemos 0que

e 0 canto de urn sabia.,. W

Sua pergnnea esta respondida, men amlgo; 0 0 quee

ciernOioo?

Resposta: e aquila que calu nas redes reconheeidas

pela confraria d08 dentlstas. Cientistas sao aqueles que

pescam no grande do ...

Mas hoi tambem ns (61.18e as rnatas que se enchern

de cantos de sabias ... La as redes d08 dendstas fleam

sempre WI!Z[as.

"Ndo M dUvida de q ue ,a mw 6r ia e ,0 ' escO mt1& Qda meme . Da

nUts ma fo rm a co mo 0 a l ' i m e n r o e uazido a b : a c . a p e l a rumina~fijio, a s s im a s c m .s .a .ss a o UtUidas c ia memo ria p c la l e m b r a n ~ , "

Agostinho, autor dessa afmnacao (caprtu]0 14 do livro 1!0

das O:mf0s6es ) D, percebeu COlli d areza as relacoes de ana-

J o g - m a . eslstentes entt,e oato de penser e 0 0 ato de cometN ie tz sche se de u o onru c i a . mesma a : n a r n o ' g i a e a flrmo a que~a men~e e urn e,stih:l~o~ Ouementende como ilmdonaJ

I)estomagoemende como fundona acabeca.

Analogia e urn dos mais importantes artiflrios do

peasamento, Octavia Paz, em seu livre . L o s 1 li jos de l' l i 1no l ;

afirma que: N a a tudogi a to'llW 0 mundo ,'l,{.I,bitavel". Ela "e 0" 1 : e i n l ld a pa la ufa 'como', . e s s a p o n te . v . e i o a f q u e , s em s u p r i m i ·

~las"rewm::ilia as difemnf!lS e . oposi¢es~, A ana]o.s~a nos

permitecasninhar do rnnheddo para 0 desconhecido, lEassim: eu eonheco Amas nada sei sobre R Sri, entretan-

to, qae J B . e analogo a A Assim, possa cnncluir, logica-

mente, que B e pareddo com A.

1.Agostin.ho de Hipona, C O f l f r , 7 i O O o , Pe:tF,6polis, Voe;es, s.d.

1.. OClav.io P'a,z,LO $ h ij (J $ dd lime, Madrid, P]aneta,. 1995~.

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A analogia entire 0 e s t omago e a mente nos, permite

saltar daquilo que sabernos sobre 0 eS lO.mago para 0que nao sabemesacerca da mente, E . em grande medi-

da, gFagls as analogias que o conhed rnento avan~ e que

10 en sino acontere, Quando a dend a usa as palavras

"o nd a ~ eif

parttuila" ,e stl s ev ale nd n de analogies tsradasdo mundo vilsfvd para dlzer ouniverso naquilo que ele

tern de irwisfvel, Um born professor tern de sell lim.mestre

d.e analogi as.. l.lma boa analogia , e urn f lash de luz,

o estomago e : o r g a n prncessador de allmentos, Os

alimentos s a , o objetos extenmes , estranhos a o corpo.

Ele ns transforma em o b le to s in te n o re s , semelhantes ae

corp 0, Eisso ,que toms posssvet a assimilacao. ~Asshni.-

1ar" signi fca, pred sa 1 1 1 en te, tom ar semelhante (de- · · r "~,_,l'" it· ·t· ")ru su IH la re , ~ -I- SH1UI-lS _

Amente re : um processador deinformaroes. Inforraa-

,~es sao 0 bietos ooeri 01: '€S, estranhos a mente. A mente

os transforma em &ojetos. intenores, istoe, pensavei s , Pelopeasamento, < IS mformacoes Sao. asslmltadas, tornarn-se

da rnesma substanda da mente, 0 pensamemo estranho

se lama pensamento compreendido,

Entre todcs os es tomagos , O IS humanos s ao . os rnaisextrao rdmanoa dada sua v;eTs<l~Uidade. Eles tem uma

capaddade i .ni.gual.avd para d~gerir os mais diferenrestlpes de comidae leii.e. taf~., p a o , manteiga, nabo, ce-noma, j l H c i , m03J[ld~orn, alface I~;P olh 0, ovo, 1!TUlgO, mi-

lho, banana, coco, pequi, azene, came, pimema, vinho,ulsque, c oca -c ola e tc .

Por vezes, essa versadlidade doestomagn e ' subme-tid a a re sm co es , Alguns, pur doenca, deixam de comer

(.

torresmo e comidas gordurosas. Outros, por pobresa,ac,osillumam-se a uma dieta de batatas, como na famosa

tela die Van Gogh. Outros, alnda, por ndigi.1'io, adotam

urn rntdapio vegetariaao,

nil e st6m ago s qu e 81 6 co use gu em d ig erir u rn tipo derrrmida, E 0 0 ca so de s tigre s, Se us e S ~ l b m a g , o l S s 6 d ru ge femcame. Eles s6 recnahecem carne COIm!O alimento. $e, msm

zool.6gh::o" 0 tratador dns tigres, vegetariano convirto,

ten tOl I l ' converter os tlgres a suas oonvic:.;oes alimentares,

submetendo-cs a uma dleta de nabos e cenouras, e cer-to que o s tigre s mo rre ra o . D ia nte do s le gume s o s tigre sdirao: "Isso nao , e coenidal"

Os esurmagos das vaCil,S sI6 dig~~em. capim, com re-

su lta d o s magnffico s pa ra a s se re s hum an o s, E . difkU

pensar a vida humana sem a presence dos produtos queresultarn dos prooe s s amen t o s dlgestivos dos es t eraagesdas vacas sobre o capita. Sem as vacas, n a c o terlamos

Ieire, ,cafe: 00m leite, mingau, quei] ns [quantosl], t im e a

parmegiana, morango mm leite condensado, sorvetes

de variados tipos, cremes, pudlns, sabonetes, Os esw-

magos das va ca s, G Om su a modesta dieta de capim, s~o

d ig mo s d os maio r e s elogios.

A mente e urn estomago, Ha mlLli~to:sip os de rnense-

-e sre ma go . A Jg uns se pi.ue'Qem co rn o s e sto m ag os harna-no s e pro ce ssa m 0 1 1 1 mals v arta do sd p o s d e j n:fo rm .a ,~ ij es _

Le o na sd o d a V inci e ;' um exemplo ooraordinari (I dessees~6miIDgoomnfvoro, capas de digerir poesia mus i e a ,arquitetura urbanismo. pintura, engenharia, dencia,criptegrafia, filosofia, Outros es~()magos Sf: especializa-

ram e -s o sa o capazes de digerir urn tipn de alimento.

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o que von dizer agora, digo-o com o maim respei-

to, sem nenhuma int£ n< ;a o iI 6niG 1, Estou apenas me

valendo de uma analogia: e assim que. meu pensamentn

funciona. As,possfveis -queixas, que sejam feitas a 0 eus

Tbdn-Podemse, pois fbi de, on forca analoga, que me

deu 0 processador de.pensamentes que tenho, A c i . r n . o < le urn de I!lOSSOSest6magLIs possiveis. Nao , e J1.0SS0 es to -mago original. E nmestfimago prednzido historkamen-

te, por rneio de lima disciplina aljmentar tinira, E eu

sugiro que 0 0 estomago da d~nda e analogo ao estoma-

go das yams. Os esremagos das vacas 86 recoohecemcapimcomo alimento. Se eu oferecer a uma vaca urnbife suculento, ela me: olhara mdtferente, Seu olhar

bovmn me estara dizendo M]SSO naoe cornida" P<I[<l0

estomago das V2IG1S comida 'f : s6 capim,

Ad~nda. a , semelhanca das varas, tern l U I D J J . estorna-

go espedalizado que 56 , e capaz de digeria urn tipo de

cornida Se eu ofereoer a ciencia urna comida n~o-03ipw-

priada ela a remsara e dira: "'Naio e comida" Ou. -na

minguagem que lhe , e pr6pria :~ Isso nao e den tl fi .CQ ".

Q ue e a .m e sm a coisa. Quando f ie d ia : "[SSQ 0.310 , e cien-Hfiao"esta.-~e dizendo que .aquda comida na~ pode ser

dlgerida pelo estomego da denda.

Quandaavara, diante do sncnlen to bife, ded am de

forma def nitiva que aquilo nao ecomida, elaesta eme rro . Pa l ta r a s ua a ti rm a ca o , sense CTRko . Suaresposta,para ser verdadeita deveria senTsso n 1 . \ 0 e eemida para

o meu estomago" Sim, porque para muitos oueros esto-

mages aquilo e cnmida, A:ssim, quando a cien.da diz

N [S8.o n.ao e cientffico", e precise te r em mente que , paramultos outros es tornagos , aquUo e comida, comida boa,

90

gostosa, que d:i vida, que d;i sabedoda, Aconteoe que

existe uma indinaljo' natural da mente em acrednar

quesri e real aquilo que e real para ela (.0 que e , den"tifiramente, urna estupidez) - demodo que, quandonnrmalmente se diz"i,s.,so n~(le (ilE'.mtJfico, se esta a

afinmar; implicitamente, que aqoilo nao e comida paraest6maJgo algum,

Vao me perguntar sobre as raz5es pur que escnlhi 00

estomago da vaca e nilo do tigre como analogoao daaencia ..0 tigre parece ser mais nobre, mais jmeHgen~e.

A E sso e sco lhe u 0 0 tigre 0001,110 se u s tmoolo : ia ma is e sco -lheria a vaca, Ao que me ce ns aa , e xm s~ euma unica ins-

tltuicao de saber superior mjio nome esta Iigado a vaca:e . 0 ) ] universidade de Oxford. NOXIt, como e bern sabldo .•

e a palavra Inglesa para vaal. Ell!teria sido mais pruden-

te, escolhendo a analogla do tigre. e (I,aO a . davaca,

visto que ambos os estomagos eonhecem apenas umdpo de comida, M<lS hoi uITIa diferenca. Nan ha nada

que fal;anlOs com os pro dutos dos esWma,gos dos ti-

gH~S .M2IS daquilo que 0 esromago dOlvaca p rodus, o s

homens fazern uma sene maravilhesa de produtos que

corn Ibuem pam a vida e a cultura, ja imaginaram 00

que seria da cullnaria se nolo houvesse as vacast Assim

o esaomagu da citnda", COOl seus produtcs lnflnl mill,

incontaveis, maravtlhesos - se ~ao Fosse por eles eu .~~

estaria morto -, m<3!~Se assemelha ao estomago das

vacas que ao dos tigres.

nes~,a·nos revelar a comida que 0 estornago da ci,en-

(~a ~ capaz de dlgerir, Vou logo adiantando: se nao fOF

dito em Unguagem matematica a denda diz logo; "Nao

e dennfico" ... Conduo que i.8S,O que. estou ouvindn

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agora, a ".Rh.:!ilp!S{~,dyin Blue ", d.€:Cershwi ft, ,q~!eme da

tanto p:!rul:Zer;1!J1eme torna ma~s Ieve, que espama a

ILnstez<l,ooisa real pelos sens efeitos sobre meu co rpo e

mi nha a ][na , isso naA) e 001sa q ue . 0' es~6mi3!godi!J crnenoia

se ja cape z de pmCeSS : IL N1: ' I ,Qe ,d ienU firo . 0 ,~d·pI~r , 0

esromago da den cia (I dige'[~ f a d r n _ Mas < Ii rmislca a faz

vomitar;

92

" 0 q u e t c i e n U f i l c o t ( 1 1 1 1 )

Q u ,e H) se diu zir V OG i§ :I .i oga.r urnjogo de palasras chama-

do fiilosofia. Voce nao se interessa per filosofia. nlU1GI

esmdou f i losoHa, nada sab e sob re OIS, flJOS.Of08. FHo!So>-

fla, coisa chata ecompltrada, O :m ]'p lfe e nd o . M a s s ua s

a ]e g :a to e .8 s im ple sm ente s jgn~ f]ca JW I q Ju e v oc e nao~e ' lUcQnclj!~oespara ser urn. professor de f i1osofia . Prefesso-

res defilosofiatem de dnminar urna tradic;:ao.

M<l:5 .note: 0homem que Irreenacu 0a lfabe to e ra

analfabeto _0 pnmeiro filosofo que c:omec;:oua ~UOiSIO-

far ¥laD tinha atF<isde 10i urna b~bnogmfia filoscfica

fu!j(]~SSiOdeinformacees perturba 0 pensamento . .f Q!.IIem

ti .c um! :l~ a r nu ita in fo : rm ti ~i i: o p e r d e 0' c o nailo d e ad iv in har :

d i v r u J l a J l " e . Oss .ab id s dh !i namN

, asslm dlzla Manod de Bar-

ros, V t PQeDlH1,1aJJ!lYl. Crianea brinca rom bnnquedos:po e ta brinea com p a b V ] ' O ; l S L E ; s s a a n r n 1 . 1 3 ! . ; a o d o> ] lQ ! e u

nao e cientifica, Nlio60] produsida ~:mrurn metedo. £1.21

e m:a:gk~t Qu.e.bra feiti~!S"['az V03I ide l . as plan t adas . ]Fn~)q li ii e .n t .emen t f: 08 pmmssOKes de mosop.a pensam tan-

to 0 pensamento de OUUOfS q ue :a JG Ji!lb ampOI nao te r

pensamentos proprios,

93

 

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Comecernos, ent3!o, pOI' oompreender que 0 filoso-

far naJo e conhedrnento de urna tradh;5.o de pensamen-

to..0 fi]o s o f a r e urn j e ito de fa ze r da nca r a s, ldelas, Mudo

minha pergunta ini cia]: "Vamos dancari"

Mu itas SaO as dancas; minueto, rnarcha, lambada,W:m ~e ro ,a m ba r ta ngo - _. A s d anca s, to da s e ta s, S~ parecem

com os jogos, Iutebnl, teni:s , frescobol, voldb o~. xadrez,

darna, buraco, mau-man, poquer; truco: todns sao jogos,

logos U ~m regras fixas e predsas, N o . jogo existe lima

"d anca " e ntre a mw be rd <3!d ee regra fba , A be le za d o fu -

tebol esta precisasnente nisso: a brincadeira da liberdade

do j o ga d o r d e n t r e de urn quadro de r ' e g T I L 8 fizas,

Urn jogo, como a danca, depende de duas coisas

pred samente definidas. As "entidades W do xadrez sao as

pecas: peao, dama, bispo .... As reg£,assao os moeimen-

tos possiveis das pe~as.&entidades da valsa sao lim

homem, uma melber urn ritmo, as movimentns do

hornem e da melber sa o den nidos . Eles devem formaturn par: dancar q ua se a bra ca do s, E 0 par q_1!.U! deve se

mover s e g u n d o 0. ritmo da valsa, A s , marchas nao exi-

gem pares, Cada Urn pode dancar sozinho, como n o s

bailes de camavsl, Mas 0 0 corpo deve se mover num

ritmo binario .. W ~ a danca flamenca ~.outracoisa, Podese r da nca da po rrrI ! .U : W 1 auntca danca rin a o u p O W ' U ID pa r -

sendo que hornem e mulher lIiao fic am a bra ca do s ee xe una m 'e Y< obJQ i5 <e so r co ma pr6pria .

Sem que dWS80 nos apercebamos, ao falar estamosfazendo [egos de p:gjLavras_Numa outra crOnka, multo

antiga, descrevi doie jogos mnstantemente jegados por

9'4

casais; 0 < t~nis e 0 frescobol. 00 obj:et ivo do . logo de

palavras "tents" e tlrar 10 outre da jngada, Fim mip<ido'.

Ej:a mla <;:a o pre co ce , 0 o bje tivo do iogo d e pa la vra s

"frescobol" e manter 0. outre na jogada Pim adtado,

Vahrem prolongado. 0 bo rn na o e a o o e g a d < l J ; If : O ! I .t I l" 0 1 I . l V e s -

sia na uma jo6nid.ade de jogos, todos eles com regras

predsas e fixaa,

A pia da e um jogo eu]0 objedvo e produzir 0. rise.

Sua esuutura e flu. Consta de um dlscurso que criauma expectativa, urn suspense, repeminamente inter-

rompido por uma rasteira seguida de UID fim inespe-

rado. NesSiememento acontece o riso, A Jameetacao eoutrn jogn. Consta de urn relate de sofri men tns pOf

que < I. pessoa passou, cui0 0b]etivo eprovocali senti-mentoa de admiradio ern quem ouve 0 < relate, Mas isso

nunra accntece porque a outra pessoa, an termino do

relate da primelfa. d~z sempr,e:~ Mas tsso n ao ~ nadat"

- comecando a seg)lll~r0relate de seus propri as sofri-

mentes, Ccntou-me uma padente que, em ceria regHiQ

do Brasil, e sse ~ 0 logo predileto das mulheres pobres,

cuio obietivo e tel a gloria de ser aquela que "mais

sofreu"

Ha uma infinidade de jogos depalavras: a poesia, asedm;:~ji(),as brigas de casais, os discm:sos dos pol~1tkolS'{

.< 1 reza, a psicanalise, os camerciais, < I I . aula (Sim! a Zlrlda!]1

0", pm[ es so re s d ev en am parar pam pensa r no jo gQ que

.e:sliio obrigando se u s a luno s a ~oga rl U ma das caracte-

n sti c as d es se j o go ,~ q ue 0 aluno 'f f obtigadQ a a ce lta r a s

"entidades" com que deve jogar (disdpHnffi'i e rumeu-

10s)1e as ..regras" do iogo que a esco la impee, C om

95

 

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a~gtun i l lf reqt l l !: rH: : iaJ i ' 10 fmre sl ior na o ql! l€[ !agar 0 j:O giO

Que a dh:e9io da esco la e 1J i S b1(!rocrad~~ gQ1,l \emam~m1:!!i s

~h€im.paem.: mas e obrilg;.;ldo a j O i g i l . f, sob pe:n~ de pe :r-

de r 0 € 'mp ir ego " Ne s s a s~tua~o$i6 th e testa lU Im ! recurso:a bu d~ . A burla E ! UI1J:1; {tim po na n te possibmdade p I ~se n -

te nurn a grande quantidade de .i 0gOiS. Fut~lItno~,Oi[ exem-

prno, ' e su~ chdo d .e b l.nl a :s " ~ano vo!,e~ as but1u sa.o p:ra-

t ic amen te ~mpo ! !l s( v ~i s.N a.o b a fo rm a s de bu rla r no za -

drez, m as a gra~ a dotrueo , e , p ro cis am em , e , a burla kJ

aulas de pOI1U:!J1!~ sa o um j o g ,o ru jo o b je th i'o e ens lna r

o s a luno sa Jo ga~ (I j og o d a H n:g ua ge m d e a !()o rd o ce m

as I'egrns offfidi3&li: usar as palasras eertas e a. gfi' IJm~tiG!l

ceRa. Na5 3 1 1 i l1 . O l ISde P O f t U g t le s , ensins-se 0' jo.go da lin"

guagem sem bui]asl (O! 'DmIOe e le fesse ~dbnioo3io jogo

do xadn'Z . M afl, a li.f!guage~. se po :l J! re cem~~soom '0 truce,

A poesia eal lteramra S;JQ <I arte de b u :F i.3 i[ as re gras d a

~ingu.<l jgem.Po1m qUJ~? : E r o o pf:rgun,tar 03 ! 11 . f i I ' i I fih5 so fo ze n

q ue .e 1e va ll da r a . re sp os sa . ..

f i lo!SoHa € :. u rn .i o go , d e ] i.n gu a ;B e ~" u rn ieiw de USaf

as pala .v:ra. . :s . ,N O il .fi ~osGlfla,a gente U8;aM f< 1 lla vr u para

€.fitende:r as p al av ra s , W ju~ e ~s te in c le f ] r n iY ! eS5ie jiogo de

pahlv:rnls chamadofi l .Qso6. ; ; ! ,oomo "IU'1li1l1 batl i :U:~a~~'n,l:,.a(I

f e ~ c i f O d ( J 1 " { i l s s a ~ nte li gi !:lc i~ p o r m e io da Urlg l . jagem~. Fre-

qu .~ ! rn :h~ 'm~fi tes pe ssoa s l lcamemilLlluiff€ddas e m d eco r-

re f'JIda d.i ll i p~ li 1I v ra ;s q l 'l. e f lcam gmda.dacS ,em . s ua i:lteU~

geIuia. , '[mho notado, po r esempto, que a p ala w a "Deus"

( v ,e - jam ; eu di.sse"a palavra" - n ii:o d is s. e~D e u5 n : D e us

esta, a ] e I n das p a J a v r a c l l , ) e 1 I J m a d a s p a l a ' ! i ! ' E < l s < l I L : I ~ m;1l~:llse

ag:arram iI i ,n~el]gernda, faz~Wldio com que a s pesso a s

parem de : pensar,

Q1l11emfica €.nfei.tiYJdo, e bern SaJ])~dD,'fIlIH<I emtran-

se , e o meca a d an~~ !f e nl'Jiopam . D izem que a m ada s tra

da Branca . de N eve d.an:~(,)1i1a te mofWe[. E fad~derttifltalir

a pe .l ii so , a .r uj .a i nt eUge .f idill

estae W l .f e i t i< ; a d a .

perumapa n

1< l'W3 .: a . s,6 s a Jb e .da!n.;;arum:a. dancase. .E quem so sabe

jogarum j .ogp de ] i. nguage .m. f ica burro. E d a~ ro ,. P o rqu e

a iutdigenda aeoatece predsam.eme nos saltos eatre

d~ntfls d~~e[i~n~eti"

IE predse notar q~:e 0 q l!le en~ejd~a e sempre um a(jQ]sa.~fasdn.ante u.~Fasdn iI]N_ do lat~m f~cI!ti:(,l:riQ-

< iJ jue :rd~zerNenca~rnta.ment !o m~gjco~, nil\ejti~_Q~:0 simbolo

WI!ag~GO do objew, fasd[lante: <I maca _ coisa linda,

d eHdo~a " de s .e j a ,ve~ - , I uga r d o o o !n he dm: e'l uo ,

A cii!~da ~ colsa Unda, deltdesa desei'olivel, lug;!!i:"do

.conhecimento, . ell] n a o p o d e :d ! 3!wve r ,sem e la , Mas, como

a ma~a ,cla (em um po de r enfut~i91:n~e, A med i@<! I que

d~ cOillihedrnento de urn lado, elaretiraconhedmente

do , O'UUQ.•V01 to , a ManDe] d e B arro s; ' "'AcM rlc la / lo d e d :~ ·

SiprAf e ..Wmer~r uS ,6~ao5 dsum ~t!b id , lJ':ItiS n : a Q , t J o d e " I ~ e d i r

se m eJ : IC t l l' l to .5 ~

D a I Q poder e n fe ~ t] ~iU 'l te - paraU silin te - da. furm!1I1-

~ < 1 1

"js8o~.iio , e d!en~ifilJo". Meu amrugo, aquele qu e lnva-d iu m e u e sc ri.t@ , rio , v iu p ar alfs ad e 0 ca nro d es eu iS iilb i< t,

quando, ess1 'I f i5fmriu la lhe foi p . [ CQ Tu . :m c i . a : d a J p el cs ~ ei( j( ei· ·

ro a da . d i.@ :nd a, V eio e m bu sC 1JJde !>omuo . Qn~:r.ia pa la -

w as para C );lIJe b[0 3Ir0 feitiQo.,

E '0 qu e o emece i a fa ze r eiJdfuel'!lao.Ptlrqu€: amo

murutoa , d . e J1 d ~ - Q ueTQ que o s peseadores cml lUnuem

1 : ' 1 pe sca r e a p:r~ pO ilJfa ~s pe ixe s dclffidosos ~U~ eles pes-

 

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cam no rio da realidade, Mas quero que 0 1 S , pescadores

sejam capases tarnbem de ouvir 0 canto do sabta que

nenhuma rede pode pegar. POI vezes I)canto do sabia

'e mais imponante que urn peixe que se pesca, OUt

para quem ]1a,o'entende: p or vezes urn poema, uma

sonata, um quadro sao mals imp ortantes para iii vida eI'll < I] e g o a que artefatos de saber e tecnologia. Predsa-mas dos dois: do conhecimento e da beleza . Mas a

lbe~eza nao e dentJfi ca.

98

I

II

Um cezinbeito cozinha. Um jardmeiro cuida do i,ar-

dim. Um barbeiro corta eaoel 0 e barba, Urn motonsta

gui.a carros. Urn dentista, 01 que 'e que de faz?

A palavra "'cientista" ,e : um bO~SiOeaorme AKa de Nooe.

La dentro se encnntram os tipos mais var i ados ; :JJstt:ono-

mos, geneticistas, donadores de ovdfuas, flsicos qli1~ntiQoii ' l ,

meeeorologistas, qafmicos especiallstas em aromas,

anestesistas, cacadores de vtrus.,; A [ism nao temfim ..

Olhando para aquilo que e s e a o fazendo, des parecem

pessoas que nada ~emaver umas com as OUlJ'a.S, No

emanto, urn unico nome e usado para todos, "cientista", :

o que. quer dizer que, . no fundo. des estao jlogarndo 0

mesmn j ago. Qual e 00 ,i OgD que urn dentista ~ogal

" '; [Jm c ien tis ra , s e ja u rn te6Jicai G:!l ur n ~ r imenMd .o~

pro {J 'M declar ;a~es , Ol! ,s is te ma s d e d'edar~i f l ie .s, e n :s :tru:ta

p.a'£Sf)1 a P ' ll S- SO " ' " E a ssim qu e K arl Po pp zr d efine 0 que UID

cientista faz. Popper , e . provavelmente, '0 mais famoso

filesofo da denda de nosso seculo, Urn filosofu da den-

cia. e a lg ue rn q ue tenta entender 10 q u e. u rn c ie n tis ta faz,

f eqaentemente a gente faz colsas, e as faz bern, mas as

99

.1

 

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1-

fas de maneira taD natural e autcmatica que nem se daeonta de como elas s a o feitas, 1'a] como aconteeeu com

aquela centoopiia... Enconcou-se , urn d ia , mm nrn ga-

fanhoto que lhe disse: ~D. Cenwpma,{1 senl lom Ii um

,~(Y mb ro , ta.nw pcn:!a-s~ to,das tU'i,aando M me.£m~ UiftfjO,

nunea t rope~am , nunca s e emb.arar jf tam ... D. C e JtW,l I' ti a, p o rfaW)rtl '~e ,di,~: qu ando a se nh ora vai anaar, quai e a ~ri rne i-

I:l! p e r n a , q u e a - , s e n n o r n mae?'" A Censopeiase assustou.

Nunca havia pensado nlsso, Sempre andara sern preci-

s ar p en sa r,N N aQ sei, senhor Ga/ imnoto , Ma s p rome to : d e l :

p f'O xirna ve z que e u , a n a a t ; p res ta re i t . u e t I ( a o . ii Termlna a

histriria dizendo que desde esse dia ,3, Centopeia ficou

paralaica. __ ]880 e verdadeiro de tndos nos, Veta, por

exernplo, a fala - nao e (e t~ IOpe:ia , e mlriapcde; mtlha-

res de regras, cempllcadtssl mas. S o que ao [ i d O l ] " , naotemos cons,den,cia dessas regras, Na.o penso nas regras

da gramatica agora, que estou escrevendo. f.s;O'evQ da

mesrna forma como a Cemopela andava. Os gramaricos

tentam entender as regras da fala, 0 61680£0 d3Jdenda

se pa re o e co m 0g ra rn a tic n: e le tenta entender a s re gra s

desse jogo ]ingiHstko que ociemlsta ,j oga.

Cootae piada e urn jogo d e I lngua ge m. Se u obietivo

, ,e prod uri r 0' rise. A genie ri pOE causa das palavras,

Niguem, : < l I O o uv. ir um a plada, peFgUr1ta se e l a e verda-de i fa. riada e j ogo do riso, naco e jo go d;;;JJverdede, A

"coisa" da piada, 0humor; se encontra nas propriaspalavras, e nao na vida rea], fora del as" 0 sa¥g,ento ber-

ra: "Ordinario, marcbe!" N~nguem discute, Os pracinhas

se po em a marchar Ninguem n..As p ala vra s d o s arg en to

naoO s ao piada; sa o urna ordem. Ninf, 'uem pergunta se

HW

elas enuadam a verdade. Llrna ordem nan e paraersun-

dar uma ve rd ad e ; e urn jogo de pamavras rulo objetivo

e produz'i r obediencla E 0 j ogo de palavras que 00 cien-

t~s~aJj'oga?Qua] seu obj etivo:?

As p a l aVT a s d o cllieJ!tista tern. po r obllctivo e nund a r ave rd ade , C om o num e s pe l h 0: a, ]ma;gem, dentm do e s -pe lho , na o e re a]; ,~ v ID rtu aL M a s. elhando para, Q espe-

lho retrovisor de rneu carro. vej0 0 carro que: V < I I j me

nltrapassar, A i rnagem virtual corresponde a uma eoisa

real. Aaed~to na imagem, Se nan aoreditar; poderei pro-

vocar urn desastre, A:sS]ffi solo as palaeras do logo que: a

deuda [oga: elas buscam ser irnagens fieis da realidade.

A d~n:cia na sceu da de sco nfianca do s se -ntido <8 . lEla

:JIcr~~ta que a realidade t : -como urna nlulher pudl~(a.acredha que aquslo que a ,gente vt nao e a verdade. E'la

fica envefgonhada quaado e vissa por meio dolS sentl-

des, Esconde-se deles, Dissimula, m : ; [ Ig a n a . .A realldade,

para sec vista em sua maravtlhosa nudez, so, pede ser

vista - pasmem '! - com 0 0 auxilio de palavras, As, pa-

t awas sao o s olhos da d enda . "Ieortas" e "h~p6tJ~es":

esses sao 08 nomes que esses Q~bos comumente rece-

bern" Na verdade, todas as teorias nao passam de hipo-

teses, Umateoeia e uma hipotese que ainda nao fo tdesbancada. A denda assim, po de ser descritacomo

urn strip-blase d a r e: <l il lM l a deo r r ne io de p a ~a v ra s " E 0 que

e q )ue a genre v li :. a e flnal do smp-teltse'? A gente v~ : urna

Hnguagem .. , Quem percebeu isso ~m primeiro lugar

foram 0,5 6 16 80 fo s g !) eg o s, que dizlam que hi no fundo

de todas as coisas se:nsive]s seencontra algo que pode

se r vis to a pena s co m 08 o lho s da l f aZ i lo .A e ss a "c ois a"

WI

 

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eles deram 0 nome de "Logos", que quer dizer "pala-

vra" ESS< l € a razdo pot que Popper definiu (I dentista

como alguem que ~ p r o p o e , ae d a r cq ;o .e s O ' !. I S i s l e . m a s de decla-

r a l i ( o e s " . Urn dentista brlnca com palavras Mas nolo qual-

quer palavra. Muitas palavras sa o p I O ] b i d { l - , ~ , _Quai s S8"O

< ' 1 8 palasras que sao permUidlas?

Cali leu r-esponde: "'0 liwtl d a f i ' l o s o f i a e , ~ H v r o da

nattnrw., limn que aparece' abena C 'O O 's:tant~w ,dh m.fe dos

n o~ so s o ll ws . mas que fJ rm co s sab em .de r:;ifm r e w l" ;po rqu e. e le

,e stti e sa uo c om s in ai s q ue di fi erem daque le s do i lW5S0' ai/abe-

to, e que . s il o lr ia f~ gulQS e q ll ad rad o , t d r c u U J s e e s j e r a 5 , c ones

f: piriimides~

Com ]:5S0 voltamos aquda <lMeiade pescadores que

aprenderam a pesrar os peixea que nadavam no do darE::3I]idade._ Ajpirenderam. que pe ixes se peseam com re-

des, Contei essa parabola eoeno analegia p'3!FaQ que

fazem os cienristaa pois eles tarnbern siilo pescadores

que pescam no rio da realldade, Tamb~ll1li des usam

redes para pescar ..As redes dos cientistas sao fenas com

palavras, Somente palavras que possam ser amarradas

corn ~}61Sde nnmeres. Os peixes que caem nas malhas

dacienda sao entidades matematlcas - do jei to rnes-mo como GaIHeu 0 disse,

Urn tolo podena dizer: ~Que pena que se tenha de

usaf redes ~N < IS redes os buraoos SaO muitn malores que

as . malhas ~A rede deixa passar muito mais do C]JUee-

gura! Seria meihor fie,em wz, de redes, usassemos lunas

de plasnco que nao deb...m passar nada. Assim, pegana-mos mdol" Palavras de urn tolo, Urna lena de plastico,

por pretender pegar tudo, !laO pegaria nada A rede so

pega pelses porque seus buracos delxam passar, As re-

des da dffici a deixam passar muito mais do que segu-

ram, As eoisas que as redes da cienda nao conseguem

s eg :u ra r s aO a s e oisa s qu e a . d ~ da nafO pode tH z er, A s

ooisas que "nao sa o dend:fkas,",sobn::: as quais ela tern

de secalar,

Estou ouvindo "Eu nao exiis~osem voce", de: Tom

Iobim. S6 1'05£0 ouvi-la por causa da denda, Po~a den-·

cia QUe, com teorias e medicoes, eonstruiu men compu-

tador, Pol ela que , (om teorias e med]< ;oe s , produzlu 0

cd,. traduzi ndo a tmisica em erntdades detronlQlS den.

nidas, Mas urn engenhetro surdo pederla ter feito isso,

Pcrqae as redes daciencia fiao pegam mdslca. Pegam

€fi'ti.dades eletroni cas quantificaseis, A$ .~ irn, 11mcientista

q ue F osse tam be m 1W .mH 6s0 ID O, ao . de clare r "Isse n iiJo ed e ni lt lfimN , e s ra ri a sfmplesmente confessando: " ] ,8 ;80, as

redes da cienria 010 conseguem pegar , Elas deixam

passar, seria necessario outra rede ... "

Volto a Manoel de Barros: " 1 \ . cienda p o . d e dassificar

e lIom e'ar o s 6r:gaos de um sabid, mas nao / }O d e m edi .,- sex5

e -nwmos ~ Outra rede: meucorpo e a outra rede, leila de

co ra ..;a o, s an gu e e ,emoQio. Deixa p l 3 . . s s a r 00que a . denda

segnra, E segura 0qll!.ea dencia d.ci.xapassar, N ao mede

os encantas do sab~.~LMas fica mS1!ie ao ouvi-Io, <110(a] I

da tarde _" Issotambem e pane da realidade. Sem ser

den.ti.fim.

103

 

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"0 q u e e c i e n t f f i c o r ( \ I )

Boo logo arrepiado quando OUQO ' a]g[u~m afirmar; "Es-

tou aonven.ddo de que ... " Digo logo para m lm rnE!smo:

"Cnidado' :L a vai urn inquisidor em potendal!" Carwile·

,~ijes , s a o entidades milliSperigosas que os demonics, E

o problema tque n,ao ha exordsmo ca.paz de ex f: lJ J,s a ·.1Q!sda caheca cnde se aJ~O~aram, ~cla simples raziiJo de

que e la s se a pre se ne em co mo d ;;id iiv< 'lsdo s de use s, Os

recem-corwertidos estao sempre cOil i lmcws de que fin3i]=

merue contemplaram <I verdade, Daf atransforma.; ; a o

pOI que pa ssam : se us ouvidos, oirgaos de a u d w . ; ; i 1 J o . SiI!

atroflam, enqoaneo <IS bocas, 6 r g a o > s , daful:a, se agigan-

tam. Quem 'e!lt.i ,convi.oto da verdade nao predsa escu-

tar. Pur que escutar] Somente prestam <lil:en9ionas epi-

n~ijes dOB outeos, dt{ere:nte:s, da propria, aqueles qu e na ~e.stao eonvictns de ser pos;suido[le5 daverdade. Quem

nao esta.ronvi·a'oestl pronto a escutar _, e urn perma-nente aprendiz, Q uernestaoonvilicto , nao tern c cmue

aprender -eurn perrnanente (eu ia dizer ~p1'lOfeS8l0TN.

Pe~l perdjio aos professcres, 0 professor verdadeiro.

acima de todas as cobias que easina, ensina a arte dedesoonfiar de s~mesmo ....) mestre de catedsmo. "B,(jIca

105

 

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Am QUE MQR.\ li il NOS TEMfLO:;; [M Cllj./UA

aefo rno! P omo ! Furtaram u rn bo lo ! c Bol o. .. - tI Dizia Nile-weihe

qu e Na s c o n: vi cp ie :s s ao p:i0fR5 i f ~Un igos da w rdtu le que liS

nleruiras~.Bstranho issol Nao. Abselutameme O~TtO.Por-

que gum) ~rH~J1JJ~,eabe que. esta men tmdo, sa be que

aquilo que e.s.tadizendo , e urn. engano, Mas qU.ffi-~e.llta

convicto nan se damota da propria bobeira. 0 convirto

sernpre pensa que sua bebetra e sabedoria ..

As inqu isj,\o es se fa ze m com pesseasconeictas. 0Inquisidor nao e r m i tnteressado em ouvir as, razoes da-

quele queesta sendo inquirido. Inieressa-lhe uma coisa

apenas: NAs ideias dessa pessoa s a O . iguais 00 diferentes

das mlnhast" Se forem iguais, es~a.absolvido. Se forem

diferentes, vat para a fngueira.

A s conseqiiencias mortals e paralisantes das omvic-¢,es, se espalham pOI todos os campos. E bem sahidn 0

que as oonV1i~oes,religiosas flzeram na Idade MMia. A

igrej a catol ica e as jgrehls, protestantes, convicras de se-

H~IID possuidoras de verdades que Ihes haviam sido di-

retamente reveladas POt Deus, mataram nas foguetras

milhares de pessoas inteligentes e boas simplesmente

pelo crime de pensarem diferente; Joao Huss, Savonarola.

Giordan a Brunno, Miguel Serveto, Calileu escapou por

po uco , g ra c;:a s ,a , mentira,

Mas os dem6n10s das C:OJllvk!~5esern atrihutos dos

deuses: sao oaipresentea Escorregam da ['e~~g:i.ao.Emi-

g~m para a polnica, Milan Kundera, em A insust enrave l

l ev ez :d do s ar', e scre ve u o es te par~grnfo luminose so bre a

L 1 \ , 1 . Klmciem.•A in-mste tl t tlue i ! 'e !le2l l do SeT ; Rio de Ianeiro, Nova

FWllteira, 1984_

106

relacao entre as convic.;oes e os crimes, politicos: "Aque·

l es q ue p en -s am ,qUfJ o s re gim es ccm unisras da Europa Qmlral

sa o , o l i t a exdusiva de criminas05 d e i ; " C a m ria sombra uma

I le rdade jUl1damentar : 05 mg imes c r im in ru o s n&o frJram f e U ( ) 5

p ar cc dl nin os os , : rn as p or e ntu si as la S cORvencido:s de wrem

des c ooono Q rinico camtn.M para .0 p.~rafso" Ocfimdiam wm-

josamenhl' ,1 'lsse c am in h o , e .te cu tn na o , p o ri ss o, cet it8na:5 de

p e : s s 0 4 S . M ais tarde fico u G l a r o .que (}I p a r a f s o nao e.U5tfu.. e

qU.8~pottamo, o s , e n r m i : a s f a : 5 e1 :am as .s a s si rws~ .

&]g)!"ejasditascristas, para protege! suasverdades,

valiam-se de mel os que elas mesmas ]ameotavaffi_"Os

f in s j ru f )1 i fi cam 0- 8 melo s" 1a le ga va m_ A m esm a COIsiBJ pode

ser dita dos governos des ditadores, convenddos de que

eles estaeam a carnlnho do paraiso. "Que pena que temos

de'malI a violencial Mas ~o eles mesmns que nos obri-

gam! Q1iJe1'en1 desvias 0pova do camiabo verdadeeot II

Neilhumail1sti.ru.i~ao esta HVH:~ dos demonlos das

mnviiq.oes. Neill mesmo a denda, As instl tIl]90eS cien-

tfflc as s a o movidas pelas rn esma s le iJs sodologicas, po -

Uti 'C<IIS e psicanaliticas que rnovem as igrejas e os gover-

nos. Para entender bern as institui,coes denuflcas M, de

se ler Maqujave~. Freud e FOllQnI t,

Os sacerdctes da denda me responderao;N

P eg ud -te lV o lrq u e u rn dos dogmas eentrais da d~ndae qu e na o e s-

ta sno s nu nca d e po sse d a ve r-d ad e fina l, &condusoes da

denda sao sempre provisoriaa A obtaa nolotern dogmas~ N

Certo, cerussimo ~A deoda nfio tern dogmas q u a m Q

! ' l ' 5 ew re5ult~u10S.Pele menos oficialmeme em sua deda-

Ial):ao de imencoes , Mas essa pretensao 'e const aeada pm :

10 1

 

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-T h.o ma s K iu hn, autor de A e 5 ; ~ t u r : a dtI$ r~l!~rae-s c i e n t i -

f i c . a s1

_ Ele <1Jfi~ma!r basean,do->s€em dadcs hiis tOlrkos , que

a dendatem diogmasrum. E seas dogmas, Sao mantldospelos dentistas quese a,garnama suas teorias e J < l i n l a . : i s

admljem q~e a. verdade posea ser dfferenre. I)iz Kuhn

que, fregu€llI[emen~e, e s6 com a mom desses papasque os dogmas : cacm. de S~i i ; ; ! pe de sta l.. .

Ma s . dehando, iS80 de lade, h o i una dogma sabre o

' ~ 1J 1 < 1 ] . tOd08 ~:tao. deiloo~do: G ' d~8mado m J £ o d D " a. quee 0 dogma do m:&todo? J a ex,p~~qu.ei;0' meliO,do e <I rede

que os cientistas usam para pegar .s£.us peixes, E esta

recto: e precise rede para pegar peixe, 0 dogma <lpare~

ce quando se diz que rreal e somente aquUo' que Sf!

pe ,g~ . co m a s redes melodohJg i 'CaJ i l da d~l]jd03J~. Poi lsso

que fizeram (om 1l1eU<ll!I!gtLSto amlgo: de fo~ mostrar

< 1! se ilS am igo s o s pa :ssa IQ 8 qu e havla e nc an ta de 1 ,0 .(;< '1 11 -

do flauta, e todos dlsseramc ~N3. 0 foi pego com as re-des me:todo]6grocials da denoiaJ N~o e rea]~N 30 merece:respeitQ.!' N

A ~01LtOOla chega ao ridfrulo.,. Recebi uma carta de

urna jovem que estava fazendo uma lese (~end6ca sobre

minhas his~6rla.sinfantls, A pebrezlnha me escreveu

poolndoque eurespondesse nm q j lJest i.oI I I.~ IFJ1o.E~1 li ,e l-[amen te : na s mao s de 'Urn eriers tador d entifim, ~f)Si,sm(-

do pelo dogma do. m~todio, m~ faz:iaduas perguntas~ue me fizeram sOicnr!mo ~w , Prirnelra pergunra: ~"Qual

.a re or ia (}'U e ,0 senkQr USa pcI, ra. ruc: r:eve f 5 : !. I! ll :' l h isMr ias .t'

2. T hi Cl m a s £ful :m, Ii e s l r u t 1 1 r . l 1 das .etf lJ~!I~J~d e n : t f f i r u ~ ~ Silo ['a.t1I(),

Perspectiva, [ I , d L

~oom. tCIEN1!1JlmI~ (V)

Se~I!I.da pergunta; "Q:ual o metod& q u e 0 senhQr u s - a : p a r a

e s c r B :v e r 5 uas histdria:s I" Meu tive de centar para da queffiUlU!S coisas nesse universrr, muitas mesmo, nos che-

gam sem que as pesquemos com as, redes da ( ~ enc i1 li ,

[ P j . c a s s l o dlzja: ~Eu MO p m c i J J r o . Etl ~Clm.U-'O~. As his~6[!jru;

:sa!o assim, A g.eI1l~eval v a g a J b 1 l . i ] 1 d a I 1 l . d o , fazendc nada

cam urna cooeira no pensadcr, e de repente a hi:st6ri a

chega - nas palavras do Cui maw~.es,R08(1. - como a

bo la ehe ga a s m iio s d o go le iro : pH.rlti nha , Sem te o ria

Sern metodo. :I i so. ~I pam usa E ,e :scr eve I_ Uma coisa eceria: <I historia na G me chega quando estoutrahalhan-do, quando estou procurando, . ! B ~ . assim que am'1Jl~BCe

coma poesia, a mitslta, a.l iteratura, a pinmra e bldu~s~vea denda_ i\s bOlas.idti.as nolo SaO pescadas nas redes

rne1todo]6gicas" N NioM m : e t o a o pam 58 ter'idit.as O@ll:'l,~'Sehoavesse me~od ! o pam Sf: ter ideias boas, bastaria apJlear

0. metnmo que seriam~osintel igenses, fleqiJ~ntemente 0

resultado do uso do metodo . e 0 01'0.8[0 daintellgencia.

o t~ po e sta ] a: nQ 3 in d! osuas re de s, a s re de s vclta m sempreYa !Z ' ] a :s . , e l e 1 1 I . ~ O se da conra de s pa ssams que se a ssen-

tOlJrnm.Em se n ombro, A obsessso (om .0 metodo ,e:[[~ope

ocaminho das boas kle~as.

E8"l!Ou ] J l eo rn iP@di . oOOima de~cS: t aOlo que 0 dogma

do metodo pede: fazer na inteHgenda e no ca~tei das

pe:ssoas. espedahaenrenos dos .~iOV,e:[ ' IS pretendenees a

u rn ].l !l,g ar1 1 I . O S tern plo s d a denda, co romha s a se rvi~ o

dos bispos. Na in.t .ernigenda, porque ele pode prodnzir

(€,gm :td~ ;}J:s6 e real 0g)u e ca i na re de ortodoxa (Verno'~me

agora uma ide ia - chegou-me g ra nn ra rn en te , s em lUfU~-

todec 0 HVFO' do SaJmmago, sobre a cegneira, nan sera

 

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UIDaparabotl? Vou investlgar ... )1 No carater,. porque ele

pode tomar as pessoas intnlerantese inquisitorlais, Ha

sernpre 0 perigo de que 3" denoa - c o is a ti li oboa - se

to me um a C Glliw cfiWreliglosa, urn dogma SObH~< ' I . uoka

via metodolcgica para conhecer a Ie~Ud<lide.

no

"0 q u e e ( i c n t m c o ? " (VI)

Bl i< I uma vez urn lovem que amava xadre z, Su a V(lGl)~3JO

era 0 xadrez. logar xadrez ihe dava grande prazer, Que-

ria passar a vida j ogan do xadrez, N ad a IIIals lhe i teres-

S3Va. S6 lia llvros de xadrez, E.smdava as partidas dos

grandes mestres, S6 conversava sobre xadrez, Quandoera apresentado a Ulna. pessoa, sua primeira pcrgunta

e ra : v e nd .:j o g a . .xadFCZ? Se a pe sso a dizia que nao , e le sedespedia imediatamen te, 'Iomou-se U I:Jl grande mestre,

Mas seu sonhe era ser carnpeao. Derrntar 0eornputa-

doll'.At~ mesmo quando andava, jlog:avaxadrez , PoOl!ve-

zes, aos pules pam a frente, Outras vezes, passinhos na

diagonal. De vez em quando, dois pules par" a frente e

urn para 0 lado. A'l pessoas normals fugi.am dele porque

era urn chato, 56 bIDavade xadrez, Nadia sabia sobre as

coisas do mundo como pombas, beijns e sambas N aomnsegl1i<l. ter na mo ra da s, p orque se n uHko assurrtn en.

xa dre z, Su as ca rta s de a mo r S o falavam de btspos, torres

e reques. N a verdade, de nao queria n am ora da s, Q ue :d a

adversarias, Bssas colsas como jogo de d amas , jlogos de

baralho, [ogo de petera, logo de namom eram lnexis-

tentes em seu mundo, InciushTe,enU"olii pam uma 0[-

HI

 

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I

I

I \

II

dem rellgiosa, En v l i 3 J ) e l ao bdo dele de avlliao, de & 1 : 0

P~ulo par-a B.d!o HoriZ: .Qnte . Ca'be~a raspada, Durante

tcdaa viag:em,ff'Zou oter\O. Nao prestei a~et:llc;io. ID<lS

snspelto qu.e as contas de .S1W tew\,p, eram peoe s , c~valos

e bisp os. Sua met:;lfiska er-aqjuadrirnlada. Deus e 0 rei.A ra inha ~ Nos:sa senhora , Oad¥ersar:io :s ;ao as bostes

do ~nfemo"

A:.5pe:SSO<lJSnnmais brincam rom mnlro s iogo s delmguagem; jo~os deamor, j lOgOiS de poder, iogos:de saber,~Iogosd e p :ra z er, j o g , o l S d e fu ze r;. j o go s d e h nn e ar, P o r.q u .e

a vida nao e uma coisa s6. A vida e uma ~u. I .dda.o de

jogQSaconterendoae rnesmo tempo; uns oolidJ~ndo corn

os ouUOS, das c.oHsijes su~g~IIldoafseas. U W l < 1 cabeca

~ i : g; 1dac -um a v i !da e um fegti~il l de jogos. E e isso qUE faz

a ~I l i t!e l i.g in.d t1 l , Ma;s ]lOSSO hero.i, cei tado, era Gllbe~a de

urn jogo s6. Jogav.l i . 0 tal ~IOgo de rnaneira [ao~oistica.

E:speciaHzOIll-se, Sabia tude .sobre Q assunto, E . de fatn,

sabia tude so bre 0 mundo do xadrez. M<'I !s0 p :re Q o q ue

pagnu e que perdeu tude sobre 0mundo da vida. .Vimu

um (Omputamor <1 Imbu l aI li ~ e ..r omp li .. lU ldar d e um d i. s- que te

!S6,D is qu e te s s ao ]in :g u< lg em ., 0 ICOIpO huraano. mui to

m ats in te1 jg;e n~ e q ue os oompu~admes, e c ap ;jjz d e US,lI

muitos disquetesan mesmo e empo , Ele P a J S S < 3 i de urn

prograrna pa m OU1:r-o sem pedh: ~icen91 e sern pensilJr,Simrdesme:ote pula, sa]ta,. h:~~d~ge]lci<lisso: <I capacida-

de d i e pula); de U ID p ro g;ram 2 1 pam outro, de danear

rnuitas daneas ao llteSITIOtempo. 0 humor se nutre

d.€SM~S pules, 0 rlso apareee no momento fl'r,edso em

que a piada f - a z a lJ l telig~nda pu]a:r de uma I.ogka para

outre, Hi a piada des dois v;e'lMnhQs q~e fnram <1 0

U2

geH)nitdogista que, depots de exasnlna-lcs, presereveu

r,e m ed iw o s:e uma d ie ta alimentar a . s e r seguida pm : du as

semanas, Passadas as dililassemanas, veltaram, 0 res!y~-

tado d~]xou 0medico estupefutQ- A ¥ e :1 hin ha e s ta v a ~~n-

d~: som dente, saiti~aJnte..oda maquiada, 0 ve]h:~nho,

u rn O ' I .G C I ,n em u 1 o . . pernas bambas, demadura freuxa,apoiado nil mldh~[. Como expHca:r i sso ..que uma mes. ..

m arn~ elta tivesse ~rQ d1"l!.ZidQresu hado srao diC'€rente8 '?

Depo~s de muite investlgar 0 medic()i atinou COi.m. oa co !fW ®e dd o. ~M as e u m and ei 0 ~ ,e nho [ cnm er ave ~a liFeS

vezes 0310dia e 0 seribof comeu a v~ia ilres " lUeS an diar

.a miso 03ii jJ l<I .Ieceo~():go de ambi~~da .de e ntre < i v , t i d e a

viia. Nosso heroim.!lncaria de pi:ad~s porque de s6

eanhedaa 16gi~ do xad I~ , e o nso 1)010 . e s t a previsrono Nadra,. A in. () e1 lg ~i 1! da d e nosso ben)] nao sabia pu-l ae , S o , m arcba r fa z m ui~o 8<OlfiOS, UDl 6J.oSOFO rnamacl.o

H ew en M aJro tL 8eescreveu um Hvr.o a o qua l d eu 0ltll.do

de 0 . h o m e . m u:Iljd~mensiol'lal!. 0 homeIF. l . untdfmensiceal

e : 0. hemem qu.e se espedalizou IlIJI.mauni(A ]:inguagem

e 'vi!;' 0 rnoodo soneente pOI mdo dd:;li. Para ele 0 mun-

do. .esC!aqrui lo que as redes de sua linguagem pegaer, 0

Ie~Qe ureal.

.A ci.enda.e 1]Jm~( ! IgQ,Uill ioglO com suas regras pre-

cisas, Como 0 xadrez, No jogo d o x ad re z. ruio 8€admtte

o use das regrns do jogo de damas, Nem do xQ;drez

m i n e s . Ou truce, UR' Ja vaesmUlido urn ~OfiO e suas

Iegr.~S,todos os demais sao e . x c i l l 1 U ( d o s . As regras do jogo

d o l dffida d e H nC r ID l l u m a llnguagem, ! E i l I a s deflnem, p 1 r i -

I . H E:rb en iM .aFCMSe . Otle Dj :P: I1 !e t lsiLml l r Ma "L $ludje:s in t~ ldt:Ql '(lm'

f J f ML!allceillP1dusi:ri(1i S~'ezy, Bo:~,tQn l i l e a o o 1 n , 19·54.

 

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meiro, asenudades que ex is ,t em den tr o dele, As entida-

des, do logo de : xadrea sao urn t a lbuWeho quadnculado e

as pecas, A s , entidad.e:8 que existem denbo do jogo~[ngU(st ic:o da d~ncla s a . o ' , segundo Catnap, "coisas r n s _ i -

cas" I lsso e . 'enil idades que podem ser ditas per melo de

nUlW'U~:fOS.E .\ 'l se s, sa o 08 o :b je :o o lS do , h!xlCO da di€nda. MOlJj ;

a linguagesn deftne tambem uma sintaxe lssc e , a for-m a C o m o sua s e a tid ade s se movem, Os mQ V:im~to s

das pecas do xadr~ sao defin.idoiS corn rigor. IEassim

t ambem sao' d d in :id '0 8 o s mm1mentns das c o is a s f fs ic a s

do [ego da dencia.

Kuhn, em seu Hvro A eSU!.UuJ:ti! , l i a s r n : u o l u ( i J e . s c i 'e n r f j i-

cas], dlz que 05, cientistas fazem denc i < l pemos ,me smos

mo tivo s qu e o s [o ga dnre s de xa dre z jo ga m xa dre z: que-

rem todes, pmwr-se "g~:anda,mestres"

Para atiI>~1 ,on{m de '~grande 1Desln:~nO xadrez ou

na d~nda, e necessaria. uma dedj.ca,~o total. Conselho

<1 0 dentlsta que.pretende sei~grande mestre": Iembre-se

de que, enquaato voc! gasta tempo com Uteramra, poe-

sia, namoro, emconvetsas no bar, hoisempre urn [apo-nes trabalhando no Iaboratenc nolte adentro, E possi-vel que de: esteia pesquisando 01 raesmn prcblemaquevo&" Se de: pahlicar os re sulsa de s d a pe & qjU isa antes de

voce· , ele, e Da,Q vo ce , se ra :0 l I ' , g J r n I n d e mestre",

o pretendente ao tfwlo' de D~fide mesne" deve se

ded ica r d e e o rpn e O }J~mao j'o go illdenda. 0 dentistaq ue a ssim pl,",o ce de fi,cat~. (o m ennhedrnensos cada ve z

ma is re flnado s em sua are a de especializ<u;ao: e le (.0-

2. Thomas Kuh:n, op. ci t.

]14

nhecera cada va mais decada vezmenos, Mas, amedi-da que sen s o f t u m r n : de nn~ern cientfflca se espande,os omrns 50ftwaUJ v ao ' se auoftando. P or illat]vid<'l.de~ 0cientista Sf transfonna Dum " 'homem unidimensional ":

vista apurada para , e : x p r n o r l 3 J i t Sua G3N'ana, dffiom:i.nada

" j j] r€a de ,espeda.hZ<l!~o", mas o egQ em lre]a~aoa .mdo 0

que nao scj a a ,q uU o previstn pelo jogo da denda, Sua

linguagem e extremarnenee eficaz pa m capturar objdos

fiskos. Totalmenh'!incapaz de Glipturar [ C e l a c ; o e s aferlvas,

Se nao houvesse homens no mundo, se 0mundo fosse

constitufdu apenas de objetos, en~iio a Ungua~em. da

dencia seria complete. Aeontece que os seres huraanosamam, riem, temmedo, esperancas, sentem a Ibdez:a .

apaixonam-se por ideais, Meteoms s~o ,objetos fisicos,

Podem ser drtos com a. linguagem. da dend.a . .A d.encia.os estnda e exam~na a possibilidade de que, eventual-mente, urn deles v.enha. ill colidir com aterra Dizem,

inclusive, que f a r u urn evento assim que pas H i ll a08

dinossauros, A paixao des homens pel os ideeis :ni i :oe

urn objeto ftsico ..N ao pode ser dita com a llnguagem da

ciencia No entanto.ela Ii i urn nao-objeto que 'tell) poderpam. se apossar des hnmens que, por causa dela, se ~OJ[-na m he niis o n ville -e s. fa ee mgu erra e fa ze m paz..M as u rnprojetn d e : p e sq a is a sobre a paixao do s homens peJ]as

ideias ] l a O e admniS5ii've~na lingu age uil d a denda, Naoseria a , e ~~oQpara 5« p uib U rn do n om a f€ _v is ta cie nU fi( :< IIndexada internadonam. Naa ~ dentillfioo,

.A denda e Hluito boa - demro de seus precisosHmites. Quando train:sfunnada na nnlca linguagem para

se (l)nhecer 0 mundo, entretanto, ela pode produzirdogmet i smo, crgne:ira. ' eoeventualmente, emburredmento,

]15

 

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" 0 q u e e (~cntffi(or( V U )

Se voc~ esta. plane] aodo fazer urna reforrna em sua casa,

aqll~ vai men consdho;: marque horrilrio no rconsultorio

dearquitetuea" do arquiteto argentino Rodolfu livingston .

.lPruqueisabendo sabre ele n.UOl artlgo "00 homern ...<I rasa

ea feMddade~, puibUcado na revtsta Ma io s v id a (jan, ~n]l.E , um aeqalteto fora do gsharito, especializou-se 1 1 < 1 refor-

mal de pequenas residenrias e se autodefine como medi-

co d Ie GISaS , ra za o pa ra 0 nome de "consuttorto" que deu

a seu escritoric,

NOn d e ,e que sua CaM es td lm'6'ndor A ss lm H od o~ fo

.llrvingston Iniria suas "eonsultas" .•porque as casas po-

dent doer , pcdem f ' a Z . . e : r amor, Sao multo mats que es-

truturas de dm€R'tlO. t:ijQ~ol\l.pones e janelas, !Formam

urn espaco - e esse espaco se constitui Dum pm,lon,g,<l.-

memo dceorpo. Epo,r iSSei que elas "'doem~. Niilo basta

que a casa seia {eita de forma perfeita, do ponte de vista

t6:nico de engetsharia, todas as paredes navertical, 10-

d Q S o s dkll~OiS,de viga co rre to s, ca sa q Ju e v ai d ura r ce o-

10 e dnqaeuta anos, 0 fato e que h a casas que nosfuzem sentir bern, e outras que nos fasem sentir mal.

117

 

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paz tempo, v ru umas fotos da casa da XUXfI!. . Hquei hOI-

rorizado. Mals rica nao poderia oosti:r. Mais, cheta de

solidao nao poderia existlr,

As casas, ass im, podem ser vistas pOI dois ,angulos,

d~fere:lltes: a casa ern s~ :mesma., objew, fi:sI,CD,.e a casacomo espaco qa e fu z algo a s pessoas qu e . mOi[ ,a :mne l a ,

A rasa, em si mesma, obiero fi'sko.,e entldade dennflca.

Nas faculdades de engenbaria se aprende a d@nd:3I de

cDnstruir casas. As, paredes se erguem com iIio de PIl l -

mo ..Asvigas s~o feitas com dmento, ferro e matemau-

ca. As tintas se fasem com ,qufm~ca. Os pdndphs den-

tffioos para a construcao das casas s a O ' uoiversats, Va] em

para to das ascasas, de todes os tlpos, em todas as epo-

cas, em todos os lugares, Quem sabe a demlda da cons-[ru~ao de casas, sabe construie qualquercasa,

A casa em fiela~o a s , pessoas que moraen nela, ao

contrario, E:0!i5a como obieto de prazer On dor, Para

isso nan h o i demia. Nesse mornentn, estou ouvindo um

c d de negn) ' spirituals, que euasno: "Sometimes] feernlilse

a motbe:r1'e5s child": pm wz.es eu me sintn mmo uma

,crj,anc;:a orta ... S~ntovontade de chorar, Esse: cd fo ~ p ro -

duzldo pela denda IS : com eerteza hoi rnilhares de cd s

~gi1aJlS a e]e dando P !ra ze r a OUUaJS pessoas, A c:H~:ndare03J~izafe :ito~ maravilhosos! M3IS I e posstvelque 0' tecnt-

00 qu e 0 produziu na~ go ste de sp iritu als - qJUeprefira

rock . Assim, a mnstca e a letra que me mmOWID 00dei-

xam frio, talvez irritado, A recnica d e WeI" cd s pode sell

ensinada de forma dennflca, Mas,o "gosto" pela mastea

- note que "gosw" 'f : palavra tiirada da gastronomta, ele

lUI

se refere a uma "qualidade" que nao pode ser explkada,

diU, ensinadal -, sim, 0 gosto pela msisica nao pode

ser enslnadu de fo rma . dlreta. Se qaero introduzir mi-

nba neta ao praser des spirituals, tenhn de me asseatar

,corn eb e dizer: '~fruquequi,ednha, escute essa rmisica

que 0 V OO Vit) ama .. Elae muito t o onwta!~ E aC,uJvez pdacontemplacao de mea r-osto,e possfviel que ela sh1.~a0

mesmo "gosto ~que eu sinto. Isso vale para as casas. Hi

casas que me emodnnam, que provocam rninha Imagl-

na.;ao; eu gostaria de viver nelas, E outras, ricas, chelas

de obietos de aRe.. me provocam urn estranho senti-

menw de estarmnn espaco Ilao,·humano. 0 aleman

te rn. u ma pa la vm cu rno sa : uRMimUdl ..Heim e la r. U n , e a

negaOlo. Traducao: senti menlo de estar num espa~o

estranhn, que [laOe lar, Hoialgo crradQ na casa produ-ztda em sene, i g ) 1 l l a l para todos, do tipo apanamento

gra-fino ou casa de cnnjunfn hsbitadonal, Porqae as

pessoas S3.o diferemes. Naio sao produzidas em s e n e .Ha, ern mim, algo que nenhum arquiteto sabe, nenhum

decerador s~bre:,nenhum paisagista sabe, A alum hums-

na naiD' pode ser eonhedda "em g~alW, "dentificamen-

te"'.Cada pessoa ~ tlnka. Cada casa.•portanto, tern de set

uma co lsa mukal. A ca sa tern de se r a rea l~za~ao ob:ietiva

des e'Sp;<I.QOS que moram em mtnha memoria poetlGL

Hegel dina: "Qbjc,t iv. ,m~o ,d o espfr iM:i" '. Marx dlria: ~e.spdlw

an:de podemos nos wn temp far - e Jimf f e l i : l ; e $ " . Freud diria:

Num so nh o de am or to rnado msivel' "" . .. .

R.odolfo LiiviDgs~on dii urn puxan de orelha nas fa-

e ild ad es d e ;;I fiq uite tu ra e u rba nis me . "O s e s r u d a n .t e s m m c a

 

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viT am um diente e. d ep o is d e j on na do s, fa 1am u rn a Ungud~

.gmt .que s6 , e le s en tendem. ElabQmm pmje tQ s f unc i ona is ; nao

p m : - g ; u n t a m .para a p e s s . o a . d'uran,~e a r e / o r m a . , ,(lnile a casa

d O : i . E u u dlizo um ' so f ren:8metr ( ji e um'folwmetnl para ir

en;rendendo I) qu e ti i mpo rta : n; te e ,0 que na o e , para q : u e meu

,UMite se s :in& a ~. ~

E dam que: d e esti fasendo uma hi; n ca d e ir a . .Nao haaparelbos que pcssam medir 0sofrimentn e a F.d~cidadle.

N ao ho i manetra de fazer uma pesquisa obietiva,

estaastica, sohre 0 sofnmento e a feliddade, Porque~so,frimento e fdictdade nao : s a l O objetos ..Sofrimento e

feliddade saoqualidades de n~hlliJies".Para saber sobreIr,d~oes · e precise rnnhecer a arte de .adivinhar~ Essaarte ~ rigorosameme prolbida aos cientistas, Na verda-

de, des nem sabem doque 8 1 e nata. As ciendss fi 'skas.

pesquisam objetos, Conheeem obi etos, l'udo ignoram

sobre qualidades, isso e . 0 < senti mento de feltddade (IU

Infeticidade que urn. objeto produs Duma pessoa, A den-

c a . produz os conhedmentos de qufmica necessaries

para afaJbriau;ao, de tintas de todas as cores, Co:isa mui'to

boa. Ouando compl"O uma lata de tinta quero tela

certeza de que eJa e da mesma (or da tinta ,que ja ,oom~

pr.ct. A dffid:a garante isso, Eta sabe receitas predsas

para a reprodueao de ob j eto s, M as e la nada si3lbe sobe easrea¢es. de'sofrirnentn emfeliddade que uma cOirpede

produziir. Deq u e OOI'VOU pinlai.f a parede? 'Ro .xo1 Pretnt

Rosa? Azul? Ama[e~o? Ab6boIa l .? Quando essa P'€1'gUDta

e ~ejtasatmos docampo daoblenvidade e entramos no'

'campo da qualidade: 0 que a tor faz C!Om:~gO,iili rela.;ao

do ohjeto cQil:n~go.

I

Urn pesquisadorenviou um projeto de pesquisa aFAI'ES~)-Pundac;ao de Amparo a Pesqulsa do Estado

de Slio Paulo..Area medica ..Prnpunha uma pesquisa qua.-

Utativa. Na D lhe iateressavam dosagens horrnonals, es-

tnmnas an ammicOls, rne~o! s t< 'l s esca : f! laeTosas : ohjetos que

podern ser rnnheddos quandta.tiv:amente. Interessavam--lhe sentimentcs, essas "coisas" escorregadias que ~em8,

VeTcnm 0 sofrimento e a fellcidade dos h om e ns , lw cu !'r-

80S. para sua. pesquisa foram negados, Na o sei se 0 pro-

jeto em born nu nao, 0que me interessa sao as alega-

' c ; :oes do assessor, E la s re ve la m multo. 'lranscrevo du a s

delas: "1. P e sq ul sa s q ua li ta ti va s s ii o ,e x.tl em l1men te w m e : r n -veis .a viis de todos o s r iPQ$, difiruttando soh romanrira a

.confi .abilidade, v a . i : i d d d e , e r eprodu ti h iUdade do e5tudo (.que

e o ob jc ;t iV 'Omawr da ~n~s:t iga~ao , c i e r u i J i c a ) - 2. Es_se iffi:lbil~

th o d ij ic ilm en re s e.£ aJ ac e: iw parapubHcar i lQ e m um a r n r . : ' I . sM

denr(/i 'uzinrernacioM't Re:nsoqtJ.e es mcursQS d a , FAP:ESP

s e ri ali 'l m ai S adequadam eme U ti !i ztlId l0 5 em p e ;s qui sa s c uj os

r e . s u l t a d d l 1 i s e : j a m c o n ji d v , c c i s , v dU d o -5 ,e repmdutfveis".

Acho que 0assessor; quem que! que tenha sido, nao

marcaria hora no "consultorio" do RodolfoivingswJLEle preferiria urna casa constnnda ern serie em a~guill

QOnjrUll to bebitadonal.

Q ue pena qu e 08 dentis tas prorbara a i nve s t il ig ac : aodas coisas que trazem sornmemo em felicidade aOS

homenst

121

 

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U O q U E t ( i e n t m c o t ' (V i i i I)

Ha os pianos, Hoi a musica. Ambos saQabsQlutamellte

~eaJrus.ArnDOS 8aoab801utamen~e diferentes Os pianosrnoram no mundo (las quan.tid:ades, Deles se d.iz:~Co'mo

sao bem-feitosl '" A n u is ic a rnO iI2 I no mundo das quali-d i,u :: ie s"D e la s e d lz : "Como e bdaJI~

Des pjanoaes mals famosos sao 08 S~cinway" pre-feddos dns grandes piandstas Sao' eles que se enznntram

nos palcos dos grnilldl.esteatrns do mando. Pl<lD!OS sao

ma.ql[]nas de grande ~redsac," Sl..laifu.b.ricaylioO eslgeumadenda rigcrosa, I'lilidotern de: ser raedide, pesado, tes-

l L a d i J o .lU tedas d e v e m e e r 0 tamanao € X o : l J m , devern r e a g i r

de maneira uniferme apKessao dos dedos, devesn ten:

[~:3t.;;~Ionsta.ntilnlea. E n a de se considerar a afi]1a~ljo. 0

p'.i.<I]l~staBenedetto ' Micl:td;angdo, a o lniciar u rn co nce r-

e o 1 1 Ia .ddade de Washingt.on, paron Imedi<l! , tamm~ealP61S0,5 primeiresacoedes; seu ouvido pereeheu que aJ.aJillna-

~ o IlI iio esta va c.e[iJta, 0 < C Qnce no fo i. inte rro mpido 1"o :lI<1

qu eum . a fina da r desse .a.s cordas 1 J ! . tensao ex3ltapara

pmdu:l:ir os sons predsos.

U rn d .o s o bj,e ti.vo !S d a ciih1Lda exata dafa. l f [ : ica~aG' deP ] at ThO I$ , , ~ a prodJiIJ~~()'e p 1 3 : n O i S albso]]J!tament.<':~guaJ~s.Se

123

 

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]laO forem jgua~s, 0 pianista .nao conseguira~oGl[ nurn

piano em que nunca ton:m,

Digo que a f<'lbt:ica~aode pianos. e uma denda_ ])0:1"-

<muetudo, ]J0 pla no , e sta subme :udo an cri~,elioda me "

dida : tamaahos, pe so s, te nse e s . M esmo a s a f inaQoes . quenormalmen we requerem ouvidos dellcados e predsos,

podem prescindir dns ouvides dos aflnadores - 0

afiinador pode ser surdol - desde que haja urn apare-

Iho que me~3i 0 ruirnero de vibm.;;oes dascnrdas,

A realidade do piano 8€ encontraem snas qaalida-

des fi:skas, que podem ser dleas e d€8rntacS: na predsa

J lngu egem c ie .r uMfica dns mimeros. :E:essa ~[ng'-l!:3!ge:mqu e

e oma possteel f u z : e c . r p ia no s ~ gru ta isuns am; out ros . Na

aenda, a possibiljdade de repetir, de faziet objd.Gs ignaisuns <108 OUHOS, IE1I]Jmoit~[]:o de verdade, O')isa de cu-

Hm'ida; se dlgo qjue uma recdita de bolo .e boa, todas ~s

VUeE que qua]qu.er pessoa fizer a mesma receita tomos mesmosingredientes, nas medidas exatas, ria mesma

temperatura die fomo. 0. resultado deveIa. set i.gu.al A

e x < 3 J t i d a ; O do s B iume rQ S toma a re pe tira o p oss]vd. Assirn

,e O il ciencia, eSSB! . rnlmaria precisa e m t i . i, T~1J1m os pianos

como os objeros da ciencia :sa.oD::mstrnJdos com 0 au-

xl1~ode ummetodo charnado quant i tat ioo , lS;SO , e , que sevale de DiIUI1Jrleli05_ Na d@:nda ena eonstrncso de pianos,

:s,o .e . malo qu e [:lod.e ser med. ido ' .

Planosuao s~o fins em. 81mesmos ..Pianos sao meios,

f;xillst.emara serrocados, A rmtsica e tao fe<l~quantaos pianos" Mas a realidade da muska nao e da mesmaordem qu.e a realidade dos pian os, Essa la l'a:ziiopar

124

qju!e (Is fabricantes de pianos nalo se C()oten[am ern

fabricar planes: elesvao aos concertos ouvir a millska

q]1 l !] l es p ian i st a s tocam"E c e rt o q~ ! .! )E ; :rm is i Cal iE:IW.I u ma

realldade flsica, em si mesma.independente dos sen-

timentns de quem ouve, A mnslca exlste mesmose 0

(11 es:ta sendotocado numa salavazia, sern nlngnem

que O J ou.;a-Mas lsso nito e < ' 1 1 realidade da mnslca, A

realidade da rmisica se encon tra [10 prazer de quem a

ouve. 0 mesmo vale para a co m ida, As coz;]I l lheir<ll8

cozinhampara dar prazer aos q1!iIE comem ..Os pimores

pimam para dar praseraos que olbam. 'lambem 08

amenaes beijam POi[ causa do prazer, 0 desei 0 do pra-

zer move 0 mundo,

Opraze:r e uma experienci a qu~iirativa. Nao po de

set medi do. N ao ha receitas para 81JHl! repetidio, Cada

vez f:uniGl, irrepetivel. Urn pianista nao interpreta a

m esm a m1!lska dna s ve ze s de fo rm a ~gllal. 0 "C o nce rtoltallaue", de:Bach.•poe : em ordem meu corpn ernirsha

aJm<l..Outra pessoa, ao ouvi-le, val ,mizer: ~-Queoo(isirn

cl>ata~~

Desde cedo 08 fitosofos natnrais [assim eram rna-mados os cientistas I l IO passado] perceheram a di~eren-

e a entre a o rd .e :1 lldas quantid ade s e a o rd em da s qua -

Hd.ades. E as designaram com as ex.]YFessoesNqu.aHda-

d es prim aria s" e "q ua lld ad es se cu nd arla s" As qualidades

p,dm.llrjas sao aquelas que perteneem <10 ohjeto, Inde-

pendentemen te de ~OSSOI5 sennraentos, elas podem serd i ~ < 1 J Sem Jinguagem rna tematica, tnrnando p O :5 s ~ .w l 1 1

Fepe~h;aQ_Com elas se fa z a denda, M qualidades se-

cundarias sao aqrudi;!s que se referem a s experi endas

 

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subienvas que temos au "provar" o objeto, 0 nangaao molbo pardo tern uma realld ade nsiGl. Mas 0 Iigos-to~ soexiste em minha boca, em mmha Un,g,lllae em

minhas memorias de rninelro, Outra pessoa com boca

e ltngua ana16mka e fisiologicamente identicaa a s mi-nhas, mas qjue [lao partidpe das mesmas memorias

[uma pessoa de mnvic¢es religiosas adventistas, pOT

exempl 0], sentira um r'gosto" diferente do mee, possi-

velmente repulslvo, A experiencia do gosto, da beleza,

da estetica pertence au munde humano das "qualida-

des". Nao pertent€: ao mundo das realidades quantita-

tivas, A ]inguag,em matematica dadenda nij.'Oda conta

dessa experlenda. Nao e capaz de dize-la, Faltam-lhepalaVl"as., Faltam -lhe surilezas, Faltarn -lhe, siObretudo,

lmersncins ..Mas como dizer a beleza de uma sonata?L-enin. ao falar do que senna ;;1.0 ouvjr a sonata"App ,a . s, si o na t a " . de Beetboveo, u sa p ala vra s do vocabu -

l~rlo do:'>apaixanados. Mas, an Ie-las.eu na,Q fico sa-

bendo cornoe ilJ b d e z a da 1 1 1 1 1 s r n c . a _ Que p a . r n a v r - a s lrei

usaf para transmitir ao leiter 00 gostc e 0 ptazer do

frango an mulho pardot -

E, no eraanto, e s s a "ceisa" in diz t v el e rE:aJLA expe-

riencia estetiea, nao-dennfica, quelitatiea, se apossa do

cnrpo: rutlam 'Os,tarnbores, OUQo 0 "Daraibio azul ~ etenho vontade de dancar, O U , Q o , ; : I . "Serenata de Schubert"

e tenho vontade de rhorar, Ouco a N A v e Maria" e a

ora~ao surge,.espontanea, dentre de mlm, Oueo 0 "Clairde LUne

N

, de Debussy, e ficn tranquilo. OUG;D0 €S'tudo

op. 10 n, 12, de Chopin, chamado "revoluciona io", e

fico agitado.

Nada disso e dentffico, quantitative. M as I real Move

corpos, 0que tomove os homens e os faz agir , e sempreQ qual iWtivo, Inclu sive a d E!n:cia . Os cientistaa a o fazer

denda, na .o sa O movtdos por f il lZoes quant i tat ivas, den-dfka.s. Sao movidos pm curlosldade prazez lnvela..corn-

peticae, narcisismo, aimbi~o p[ofiSsional,. dinheiro,farna, antorlrarlsmo,

Havia, cena vez, uma terra distante onde pianosmaravl U:lI.OS0S eram fatniGldos., Os f ( I J bricantes de pia-

no, errvaldecidos por sua ciencia quantitativa predsa,

come.;arama desprezar us pianistas, que tocavam mo-vidos por razoes qu aJiw,(ivas" ]udiiz(vei s, Conclufram

que os pianlstas erarn seres de segunda dassee terrni-

nararn pm proibir que des tocassem _E cunharam e li

frase d :ilis sica :N F a bri.c at p ia no s e p re cis e, T OC .( 'I rpianoI lacO e prec ise"

biSO nao e fiG~ao'_ E isso est-a acentecendo no s metes

denteflcos brasileiros, As pesquisas "qualitativas" s;aore-

jeitadas porque seus resultados s.ao impredsos, nao-"pa ss [fve Is d e se er fepetidos, e e ss a s pe squisa s ni'io saopublkavels em revistas internaoonais, Todos os cientis-

tas devem adorar dian te do altar desse nOVO (dol.o: as

revistas Intemacionalstndexadas. IE esse (do lo que ded-

de sobre 0 destine das pesquisas e dos pesqulsadores,Na eonumtdade den~flfica,somense se permite a ]ingua-

gem quanrlrativa, Tern havido casus de CUfSOS, de pes-

-g;raduac;:aoserem desquahflcados pelo fate de suas pes-

qui:sas serem fuitas no campo do qualitafivo ..00 drmtf-

fico e fabricar piano S'. 00 gostar de mustca nan e den-

tfflco,

12.7

 

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o que Ieva a solucoes ciennficas ridfculas, De quemaneira urn pianista provarla sua competenda, (omvistas a urn grau de doutnr em mu:sica? Resposta facil:

dando um cnncerto. A ciencia centesta. A denda n a J o

sabe 0 q ue , e urn concerto. Se 0' p:ian ista qulser ter 0

grnu de doutor.ele tern de escrever lima tese ria qual a"qualtdade" que de sabe Pl)OdU2if I e transformada Dum

saber quantisativo du vidoso,

Cnimaraes Rosa protetizou que os hornens haveriarn

de Bear loucos ern decosrenda da logica, E isso j o 1 estaacontecendo em nossas lns:titui~oes de pesquisa, "Vi-

vam os pianos! Mas os concertos estao preibidos!"

IV

S o b r e c o m p u t a d o r c se D e u s