024 - cadenos de teatro

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Revista de Teatro Esgotada - O tablado

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TEATRO P,OPULAR~ JEAN VILAR - JEAN DASCANTE. ·

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OS LAZZI - ,reco DO SACO

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Tearo Popí.dar '" Teatro para a Povo - Teatro PaU.ice - T e a t r ,o d e Massa

,Jea n Vilar - ..Jean Darcan t e - Andrezej K ijowski - Durre Hmat.

..Jean Vilar Ouvim os freqü entem ente fal a r no teatr o "do -pov o,teatr o das messes; teatro para as' ma ssas.' Tanto na Franca"com o em outros países , estabe le ceu-se uma ' es tética; umado ut r ina ba stante confusa em tôrno dessa generosa ám bi­ç ã o, Qu ando se fa la em teatro do povo, será q ue o artis tasocia list a en te nde po r isso um teatro de classe e sente-sefeliz por dividir a ar te do teatro em teatro de vá r ias es-'pécies? Se rá que é necessário para o prazer do espec tador- po is é êste o objetivo da nossa arte, vocês não ac ham?- prom over um teat r o dirigido ún ic a.m en t a a uma parte,fi uma cla se soei al?

Parece-me (trata -se de uma op in ião pessoal ) que asex p ressões teatro d o povo , teatro das m assas:

1) não q ue rem dizer nada no mundo em .que viv emos;2) não cor responde m a nenhuma realid ade d o coração e

do esp írito h umano ;3) a expressão teatro do povo torna confusas as no ssas

no ções, da. mesma fo rma que a expr essã o teatro daelit e. Não há e nã o pode haver , nos dias de hoje, umteatro de operário. Não existe a po ssib ilidade dé umteatro dos m etalúrgicos. H á o Teatro, eis tudo . Reú­nam o sindica to dos fabr ica n tes de m anteiga numte atro ; não ser á aos fabricantes de mant eig a que hãode se di r igi r os comediantes e, po r seu intermédio , oau tor; m as ' sim - voc ês bem o sabe m aos homense às mulheres .

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· -~ (., .:, ) P arece-me que não há , nem pode ' haver , u mteatro do povo . Devem os combater, com as armas q uepossuímos, po r u m' teatr o - de art e ou não, pou co im ­p orta - que seja acessível a to dos, de ac ôrdo com a boaP sólida fórmula de F edor STANISLAVSKI, que da.tade 1908 .

Ac rescentar um qualificativo à pal av ra t eatro e con ­seguir qu e êsse qu ali ficativo sej a r espeit ado, impli ca emac eitação de deveres e de le is pel o m enos es té ticas .Teatro do povo , t eatro das massas, t eatro dei elite,quereria di zer que exis te m uma literatura, uma disciplinada platéia e talvez um est il o de encenação est r itamenteoriginais. Ma s, na reali d ade , não se r ia, a política e a b u­rocr acia que entrariam em cena? Êst e é, de qualquer m a ­ne ir a, um perigo . Sej amos lógi cos . É verdade que o te a­tro, pelo fa to de ser, nos dias de hoj e, u m comércio, acessão de uma m ercadoria. m ediante pagamen to em di ­nheiro - ve jam a b ilhete r ia ! - en tra no r ôgo d as Ic issocia is e ec on ômicas . Resolvamos, en tão, ôsses assuntos1'ora do palco , nos gabine tes das autorida de s com pe te n tes ,se possive l nas coopera ti vas dos es pectado res, ou nos sin­dic a tos . Mas q uando abre o pano e o in tór p r oto com eça<1 fala r. a defesa dos interesse s de uma classe -- mesmolegitimas - que não seja senão prop aganda , deve ca lar -se,por es tá única razão : a te se a m a is legit im a que não se jaou tr a coisa senão uma tes e é, bem o sa bemos, nef asta aopatético .

A própria fé tem limitado, às vêzes, 'o a lcance de cer ­tas ob ras, Falemos de Claude l , mais uma vez: é uma con­versa agrad ável ! O dest ino de P r ouhêze e de Rod ri gue.em L e Soulier d e Satin, nos com ove na m edida em queprova que o Papa não es tá sem pre com a. r azão . P arece­me que há , para, o teatro do fu tur o, uma li ção bast anteim por tan te na ob r a de Claudel. apar entem en te católica eromana, mas livre na sua inspiração. Pois é: o Paoa --r

na obra de Claudel ,- .não es tá sem pre com a razão . E,afinal de con tas - para voltar ao teatro do novo , ao t ea­tro das m assa." - t ambém o operário pode não es t ar sem­pre com a razã o .

E. no en ta nto. pode a contecer que surja um dia umaobra de .propaganda que se j a uma ob ra ete r na e que todosnós a ac eitemos e amemos . Sabem os perfeiiamente queo gê nio é can az d e tudo. Basta lem b rar Os Persas. deÉsquilo; ou Ricardo II , de Shak esp eare que, de ac ôrdocom os hi storiadores, é uma obra de inspiração política ;Ou ainda , Don Juan . de Moli êr e, obra de po l êmlca .

(Transcrito da co luna de YAN MI CHALSKI, JB deoutubro de 63) .

CADERNOS DE TEATR O N.? 24 - dezembro de 1963

Publica ção do INSTITUTO BRASILEIRO ' DE EDUCAÇÃOCI.ftNCIA E CULTURA (IBECC )

i

Red ação - O TABLADO - Av . L ín eu de Pau la M achado, 795. Rio de J an eiro - Guanabara - Brasil .

Di r et or r espo nsável - J OAO SÉRGIO MARINHO NUNES.Diretor execu tivo . MARIA CLARA MACHADO .Red ator -chefe - JAC QUELINE LAURENCESecr etário - VIR GINIA VALLI ,Tesourei ro - EDDY REZENDE NUNES.Colab oram nest e número : BARBARA HELIODORAe MARIA ' EDITH .

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Andrezej Kijowski; o Grande Público e O Teatro;

Um dos principais p roblemas post os em di scussão no10.0 Congresso do In sti tuto Internacional de Teatro(I . I .T . ) , r ealizado na P ol ôní a em julho d êst e ano foi o

do grande público e de sua atitude em r elação ao teatro.ANDRZEJ KIJOWSKI trata do ass un to no n.? 14 da r e­vista TE ATR, so b o título "Eu, a m assa ":

Qu al é a r elação que existe en tr e a sit uação que oteatro m e oferece e aquela em que vivo? indaga KI­J OWSKI . Encontrarei nêle as minhas excitações r eaismo dernas, socia is, como a multidão da Id ade-Méd ia ou daRenascença que, ao voltar de ).ima coroação verdadeir a oude u ma ' execução verdade ira, ven do -as em seguida nopalco, se id entifi ca va com o rei, com o condenado ou como ca rrasco? O teatro era, de certo m odo, o que as atual i­da~es filmadas e os jornais são. h oj e . E era alguma coisamais do que isso: a r ep etição dos ' acontecimentos . E ho je?A escala dos filmes de atualídades, dêsse jôgo de aconte­cimentos se estr eita para passar da praça da cidade paraos salões, para o cé rebro do dramaturgo, do intelectual .O teatr o de acontecimen tos s e metamorfoseia em teatrode id éia s, donde o espetacular da vi da públi ca desaparece.O teat ro ' não pode me m ostrar nenhum dos acon tecimentosde que sou tes temunha , n em nenhum daquel es que nã oposs o testemunhar e que de spertam meu interêsse. Sha­kespeare r ev elava à multidão os segredos dos grandes.O autor dramático moderno não m e mo strará os segredosdos gabinet~s, das salas de conferência, dos estados- maio­res; d os loca is on de se joga o nosso desti no h ist órico. Qu erove r como um -homem viv o. na minha presen ça , para m im ,toma suas decisões ; se at ira à luta por causas nobres,vence, perde, se avi lta, tri unfa , e ver ao mesmo tempoque êss e hom em , como a minha cau sa , um a causa huma..na, vence ou fracassa . Mostrem-me Profumo mentindo naC âmara dos Comuns, J oão XXIII decidindo convocar oConc ílio Ec um énico. Ham marsk joeld enfren tando os venlos con trári os da ONU , mo strem-m e _. . Que sei? Acontecetanta coisa que não posse presen ciar. Então, encherei umim en so anfiteatro. mastigarei se men tes de girassol, apl au ­dir ei com meus gr itos os he rói s que me ag rada rem, vai areios per sonagens pussilâni.mes e os maus atôres . Meu s gri ­tos e minha .em oção, m eu pesad o silêncio, a m inha pr e­sença tendo ó pêso de cem mil espec tadore s, dará ao es­petá culo seu pathos sacra me ntal : o pathos de um a provade fôrça .

(DeL revista L e Th éeií re en Puluun e, n ." g · l UG:J) .

Dürrenlnatt

No fund o, tô da peça de qu a lidadeé ao m esm o tempo pop ular . P ois nãoé verdade que Tch ekov, qu e ' manejaefeit os dramáticos t ênues e sut ís, éum autor compreensí vel para todos?Evidentemente, o car áter popular deuma peça não su r ge de boas inten­ções o de r esoluções tais como: "apa r ti r de h oj e só escrevo paar empre­gadas dom ésticas" . Basta escreverpa ra. o es pe ct ador . O especta dor , q uetan to pode se r um intelectual com oum operário. Não posso, quando es­cre vo, pen sar num determinado gru­po de espectadore s. Inclusive, quandoescr evo, não ten to imagin ar o m eufu tu ro esp ect ador . Só penso no acon ­tecimento no palco, lli e et 1tn7lc . P orma is ab surda, por ma is ama lucadaque essa. a ção _seja, ela: tem de sercompr eensível . E tem de convencer oespec tado r de q ue o que êle est á vendo está ac on tecendo o.qora .

O bom teatro tem de se r um tea tropopular , on de a coisa ma is imnortan ­te é a pr imeira id éia , o ac ha do

(D ürren ma t t e o T eat ro Pop uLaT,Vide CAD ER NOS DE TEATRO n . 22)

r ...

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." J "'~an Darcanle. do I . I. T . : A Propósito do Tealro de Massatl

Há alguma coisa de mudado na vida do Teatro. vi stoque são os arqu itetos, há ta nto tempo ' acus ados d e igno­r a r as su as necessidades, .que tom aram a ini cia ti va d e pro­por ao Govêrno Grego um coló quio internacional sô breTeatro de Massas.

Trinta representantes, sete pa íses (Ale m an ha, Es ta ­dos Unid os, Grécia, P olón ia , Rumân ia e Inglaterra ) , comuma sessão inaugural sob a p residência do rei e nove ses­sões de t rabalho .

De início, duas exposições brilh antes do hi st oriadoringlês Allardyc e Ni coll e do sociólogo francês J offre Du­m azed ie r , Estava, assim, dado o tom dos debates, e oponto de vist a de au tor, ex pos to por M . Angel es Tersaki s,es tabele ceu o quadro da s di scussões., Com efe it o, todos nós no s es forç am os por sair d êssequadro (o u antes para não en trar nêle) , m enos os ar­quitetos !

P od e- se falar sem cons t r angi men to dêsse malent endi­do, porque raramen te um colóqu io foi tão apaixonant e eapaixonado, e se o Teatro das Massas tem pouco a espe­rar, de imediato, d essa s discussões, os homens que parti- ·ciparam dêl e aprenderam aí m uita coisa. muita coisa ' queos ou tros poderão con hecer quando os debates forem pu­b licados.

Na verdade, se h ou ve mal en te ndi do, ê le não er a denin gu ém. Os arq uitetos (Bó rneman , P . Va go et Gillet.K it sik is, P eter Moro) diziam . em r esumo: Querem os suaop inião sô bre os T eatros do Pov o de 5 . 000 lugares e mais.Ao que, alg uns - entre os q uais ROGER PLANCHON- resp ondiam : P ergu n tem a os atletas, aos treinadores defo otba11, aDS don os de circo, aos fo lclores popula res; quantoa n ós" o que n ecessit am os é que o rosto do a tol' não ' sejaape na s u m a mancha branca e qu e o último espect ado rouça distin tamente o texto .

Dit o Ist o, 8. gent e podia te rm inar! Por fe licida de . porpaix ão. a paixão q ue cada um t inha pelo seu métier , og ôsto d e confr onta r op iniões diversas. a int ens a cu r losi ­dade na scida de uma controvérsia, tudo isso j á haviaprend ido a tod os nesse colóquio .. , em t ôrno do Teatrode Ma ssa . E ntr e os de teatro, havia os fer vorosos do "doisou t rês mil lugares" : A . M . Julien . o autor am eri ca noP aul Green e o grande m.etreur-en-sc êne shakespeareanoTY RON E GU THRIE, mas. ap esar d o apoio dos arquite tosexplicando que suas pe squisas deviam aproximar o maispossível os espectadores da ce na. era difíci l cont udoaproximar os "men os d e 3 .000" dos "5 .000 ou m ai s" econ servar a necessidade da "presença" do ato l' e de suaperfei ta a udição .

O arq u it eto rum en o, autor de u ma b elí ssima sala d eiJ .OOO lugar es. expressou di scr etamente sua . r eser va q uan toiI uti liza cão teatral da sala . permitindo que eu citasse umato l' de Bucarest qu e m e 'disse. fala ndo do not ável d isno­si ti vo acústi co da dit a sa la : " Me smo assim, acho incô mo­do fal a r para, cadeiras", pois cada poltrona poss ui, um

amplificador d esti nado a o esp ectador qu e está senotado atr ás.

P.el o de svio de uma volta qu ase constante às salasde 500 lu gares. duas discussões, entre outras, se id estaca­ram . A primeira, s ôb re a necessidade de novas salas quequebrassem o qu ad ro da cena à italiana ; a segu nda foipretexto para uma b rilhante exposição sôbre o tea trodi dá tic o .

Com efeito, houve u nan imidade s ôbre a necessidade.para a a ção dramát ica , de não se estar mais fe chado nacaix a de no ssos teatros atrás da "cortina de ferro" . mas!VIICHEL SAINT-DENIS. ass im com o o crítico do "Obser­ver ", KENNETH TYNAN, tentaram restabelec er umcerto eq uilíbr io ent re o desejável para a evasão e os ex ­cess os in út eis .

Qu anto a mim , estou con vencido de que em muitos ca­sos a rigidez- do quadro da cena sufoca a imaginação d03autores , mas, da í a admitir que t udo vai m al no tea ­tro por ca usa dêsse corset, há um pa sso que me r ecusoa dar! O que é i. ndispe nsável ant es de tudo é ver e ou vi rcom fac ilidade e. s ôbre êsse assunto. nossos velhos teatrosdeixam a d esejar . Certas const r uções mo de r nas respon­dem a, ess a necessid ad e, m as porque tão t ri stem ente! Sain ­do dos dou rados. dos lust res, do luxo burgu ês da arqu i­tetura rococó, cai-s e muitas vêzes no excesso oposto dascon struções que só funcio nam no plano estrltamen te u t i­l it ário e não no da arte que êles tê m por função servir .

Em Atenas , sôbre o tea tro didático, algumas r éplicasmais vi vas 'Tf izer am crer numa briga . entre o au tor e filó ­sofo cristão G abri el Ma rcel e ·Rege r PLANCHON, d ir etordo T héâtre ·de la Cité de Villeurbanne . Será que íamosver ressuscita r . com mais ou menos sorte, êsse antagonis­mo já batido en tre o teatro qu e Gaston BA TY di zia serum a po ltrona en tr e a mesa e a, cama e o teat ro que se­gundo outros, só é válido na m edida em o ue ens ina Cl.l g u ­ma coisa. Como os advers ár ios pareciam ha ver-s« defin i­do. I êz-se s íl ônc io em t ôr no dêles. q ue de cepção! Nem gri ­tos, nem violên cia . Brech t não foi ex ecrado , nem Cowardcu Achard m andad os ao d iabo . Assim aue 81, espadas fo­ram terçadas e ou e se amplia ra m os d ebat es, houve um -iconfrontação co rtês e foi espl ên dido ver que um não de­sejava um teatro va zio de ens inamento s poéti cos 011 li ­gei ro . n em o outro uma arte pl en a, de mensagens política s.

O aue foi essenc ial nesses dias de At enas não com­po r ta ne stas poucas linh as. porque n inguém . fel izm en te ,nen sou em codif ica r ou tirar conclusões . O imoortante~ra o choque de idéias. a revelacão da s contrad ições . ' aexposição d e a rgume ntos - não ho u ve vencedores, mashomens en r iq uecidos .

(D a revi st a Lc T h é({trc eH l'ulogn c , n. ;; - H163)

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'fEÇNICÁ no ATOR

SIGNI.FICADO E MECANISMO DOS LAZZIO JOGO DO SACO

o cinema nos habituou à gag , já conhecida no t ea trodesde a Commedia· dell'ATte e Moliere e conhecida como nome de lazzi. É uma pequena p eripécia alegre e en,graçada, de stinada a dar com icidad e à a ção, sem arrastarseu ritmo . É geralmente um j ôgo de cena inesperado, comou sem acessórios e que pode se r suprimido da açã o, se mprejudicá-la . Damos a seguir alguns ex em p los :

O jôgo do sono incoeTdv el (e x ti a ído de L'Ltujaruio)Lélio chama Arlequim. seu criado . Éste, adorrnec .do, aprincípio, não responde, . depois responde a intervalos ,adormece novamente. L élio coloca Arlequim de pé . Êlecontinua .dorm in do . j L élío o sacode. . N ôvo de spertar.Nôvo mergulho no sono. Arlequim, escorrega e cai nochão . Lélio o levanta, Arlequim adormece novamentecom a cabeça apoiada, no ombro de Lélio .

Êste [ ôgo da pessoa completamente po ssuida e amo­Iecidapelo sono e que se esparrama no chão quando deixade ser sustentado por alguém, desencadeia o riso, desdeque seja bem executado . Oferece ao comediante a ocasiãopara numerosos lazzi .

Jôgo da môsca - Consiste em imitar, de um lado, 'Jzumbido da mô sca e, de outro, a segui -la com os olhos ,ser incomodado por ela e pers egui-la _ Os Zanni eramex im ias !1eSSe jô go e os palhaços muit as vê zes o utilizam .Em Le s TTOmp eU1's Trompés, anota Dominique:

"Eulália me pergunta como passo o tempo . Respon­do : Apanhando môscas. Apanhei esta manhã 25, que co­loque i num papel e que vou lh e dar de presente ,Então, finjo que estou vendo uma no rosto de Escara-

- mouche e digo: Esp ere, esper e, v ire o TOStO . Escararnou­che se , volta e eu lh e dou um tapa, dizendo: Pegu ei ! Fin joque ela escapou, t orno a apanhá-la e a guardo numa ta­baqueira."

Êste m esm o la zzi é usado por La F ontaine em O[!'1'SO e o Amador de Jeadins e em lu gar do tapa, é umap edrada, acr escentando a o jôgo da m ôsca o lazzi dos ex­tremas . Em outro t ema, Arlequim est á send o julgado eenquanto dura o interrogatório, êle est á sempre p r eocu pa-do co m as m ôsca s oue o in com odam . -

O p úblico parisie nse dos séc ulos X VI , xvrr e XVIIIse d ive rlla muito co m os la zzi s que os intér pre tes pr od i­ga liz avam à von tade no palc o, A êsse r espei to, convémrele r o q ue Lu gi Ri cc:cboni e Go zzi di ziam, por exemplo,rio jôgo tão particular dos atô re s da Commedia de i!' A rte : '

" O improvi so dá lu gar à variedade do j ôgo, de m a­n eira que, r evendo muita v êzes o m esmo roteir o (curie­» us) pode-se r ever cada vez uma peça dif erente . O atol'c ue r epresente no improviso re p resen ta m ai s vivamentee mais naturalmente que aquêle que representa um papeldecorado: sen te-se m elhor o que se faz do que o que setoma, empres ta do ao s out r os valendo-se da memória, masessas vantagens da comédia improvisada se adquirem pormeio r de muitos inconvenientes; pressupõe atôres de en­genho e pressupõe mesmo iguais em talento, porque ade sgraça ao improviso é que ' o jôgo do melhor atol' ficana dependência absoluta daquele com quem dialoga ; seel e se defronta com um atol' que não saiba aproveitar comprecisão o m omento da réplica" ou que interrompe sempr opós it o, o di scurso se arrasta ou a vivacidade do pen­sam ento decai. A figura, a memória, a voz, o sen­ti m en to somen te n ão ba stam, assim, ao comediante queq ue r representa r o improvi so; êle só pode ter sucesso sete m uma imaginação vi va e fértil , uma grande facilidadede expressão e se conhece t ôdas as sutiJezas da língua,c tam bém se de tém t odos os conhecimentos necessários dasdi fe ren te s sit uações em que o se u papel o coloca . Qu eed u caç ão não será r.ecessaria para formar um tal atol' eaqu êles que se de s tinam a, essa profissão quantos ob stá­cujos não encontram para conseguir excel ente formação?A difi culdade de encontr a r atôres que juntem a tanto ta­len to a erudição que a arte exige tem feito fracassar mui ­tas v êzes a comédia improvisada .

"Um r ecurso comum ao s comedian tes que não se sen­te m bas tan te preparados para sustentar o diálogo, é umce r to j ôgo teatral que nós ch ama mos de Iazzi. O verda­deiro sign ificado da palavrr, não é muito conhecido, masprocu rarem os dar uma n oção exata e que fa ça sen t ir emque ocasiões se dev e fa zer uso dêle .

"C h am amos lazzi o que Arlequim ou os outro s a t ôresmasca r ados faze m n o m ei o de uma cena que êles inter­rompem po r sust os ou por brincadeiras es t r anh as ao as­su n to de q ue se t rata, e ao qual se es t á , con t udo, obrigadoa voltar: or a, são essas inutilidades q u e cons is te m apen asnaquilo q ue o ato r in ven ta segundo -seu gênio, que oscom edia ntes italia nos chamam d e lazzi. Pergun tei a ver­dadeira signi ficação da pa lavra a antigos" com ediantes,que não puderam sa tisfazer a m inha cur iosidade; r ecorr ifi tex to s a nt igos, sem utilidade , p resentem ente, pa ra a

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pr ofi ssão, porque não são muito longos e impossív eis dese en tende r . Cr eio que, indubitàvelmente, o se n ti do dotêrmo é indicado p ela própria palavra.

"Os comediantes no ssos predecessores que, aparente­mente, o tinham esq uecido e corrompido, pronunciando-ocom um único Z, Lazi , ac redit ar am talvez que ser ia umôr r o ortográfico dos antigos textos e, ao r ecopiá-lo, u sa ­ram às v êzes um único Z. Acreditei, a princípio, que osantigo s podiam ter tido razão e verifiquei o que a p alavr aLazz: qu er ia diz er ; como os comediantes italian os f alamgeralmente a língua lombarda misturada com algumas pa­lavras to scanas, pode-se ter pronunciado Lazzi, pal av ra'combarda, em lugar de Lacei, to scana . La zzi ou Lacei sig­nifi ca Ligações-elos. Vejamos se êsse significado convémàquilo que interessa à profissão .

"É certo que, quando Arlequim ' se ach a com o amo.que est á ocupado em assuntos sér ios, se êle in te r rom pecom seus improvi sos o discurso dêl e e a sua ação, êle cortao curso da cena, de sata, por assim, dizer, o fi o de uma obraque o amo começara , e que é n ecessário, afinal, retomaro assunto da cena interrompida; é preciso para isso queas suas graças, estranhas ao as sunto, reatem a ação demodo que elas pareçam fazer parte da matéria. que se abor­dou e que vai continuar . Se a ação é interrompida pelosLazzi, são os m esmos La zzi que a fazem continuar ."(Paris, 1728).

Vejamos o que diz, sôbre o assunto, Carlo GOZZI:"Não há atôres doentes ou contratados recentemente,

que possam fazer jamais fracassar tais espetáculos. Um pe­queno entendimento rápido sôbre o modo e o fundo daação c ên ica, basta para que tudo corra b em . No m om entode ergue r o pano, acontece muitas vêzes qu e se muda adistribuição dos p ap éis, segun do as cir cunstânci as , a .im ­portância ou a habilidade dos atôr es . E , contudo, a comé­dia se desenr ola e termina de maneir a feliz e al egre. Vê-sequ e os at ôres trabalham a fu n do seus tem as, estabe lecem 'sempre suas cenas · em difer en te bases e as dia logam comtanta vari edade qu e parecem sempr e novos e ete r nos .

"É ver dade que alguns at ôres sér ios n esse gênero decomédia, e particularmente a s atrizes, têm um arsenal demateriais' difer entes na m emória, m ateriais que ser ve màs súplic as, às r ecr iminações, às ameaças, aos desesperos,aos sentimen tos de ciúme; e não é m en os sur preende ntever -se qu e, dia nte de uma pl at éia e impr ovis an do com im..pro visad or cs, elas possam ter prontas e escolher nessamassa de que têm I) cé rebro che io, ach ados qu e caem apropósito, ex pressos com energia e que colhe m aplausosdos espe ctadores .

"Tal é o sistem a de nossa comédia improvi sada, brilhoqu e o nosso paí s é o único a reiv indi ca r e que, duranteG curso de três sécu los não con seguiu esgota r a sual;erv e" .

o J ôgo do Saco

Met er alguém num sa co, ou antes, fazer que êle con ­sin ta em entrar, dep ois moê-lo de pancada e até ir jogá-lono ri o - era êste um dos mecanismos mais usados no tea­tro c ôrníco an tigo, m esmo antes da Commedia dell'Artee de M oli êr e ,

Ei s alguns exe mplos tom ados de antigos contos popu­la res traàicionai s:

o Paraíso dos Patos

Um malandro, para roubar ' o padre, faz o seguinte:põe-se nu, unta o corpo com melado e, tendo desmanchadoum colchão, rola sôbre as penas. Depois sobe no campa­nário da igreja e deixa que o fechem aí. A noite, êle co­m eça to car o sino . O vigário sobe para ver o que é .Chegando ao pé da escada, vê, à luz da sua lanterna, umser estranho coberto de penas brancas. ' .

- Quem é? pergunta êle . - Sou eu, o anjo Gabriel.diz o gatuno. Fui enviado pelo Senhor para levar o se­nhor ao paraíso . - Senhor, ' estou pronto, responde opadre. - Mas antes, diz o malandro, é preciso que metraga todo seu dinheiro : Mesmo porque o senhor não temmais necessidade d êle . .

O .pobre vigário volta depressa aos seus aposentos ecomeça I.h juntar todos os seus escudos . - Que está fa .zendo, m an o? pergunta a irmã. - Ah, mana! r esponde .O Anj o do Senhor veio m e buscar para m e levar ao pa­raíso, mas antes tenho que lhe dar t ôda a minha fortuna .Não terei mais necessidade dela. - Sim. E eu , que vaiser de m im? - Não se preocupe, tenho ainda cinqüentapatacões escondidos atrás do alt ar. Pode ir buscá-los .

O padre volta junto do Anjo . - Ei s tudo que te nho .Mas o ladrão, que escu tara a conver sa, ex ige também odinheiro qu e está escond ido atrás do altar - Agora .entrenes te sa co para que eu o leve ao paraíso. O padre entrae depois de bem amarrad o, é arras tado escada ab aixo pelopa ti fe , que o puxa pelos pés. A cabeça d êle bate contraos degraus e êle geme. ~ Não se queixe, di z o Anjo, con ­tinuando a arrastá-lo no sa co, o cami nh o do paraíso é dur o.

Entã o o ga tuno arrasta o sac o até o jardim . do vigárioe o a ti ra no terreiro dos patos e vai embora .

Assim que amanhece, os patos encon tram o sac o noqu in ta l e começam a bicá-lo, enquan to o p adre r ecebe asbicad as ge me ndo .

De manhã, quando a irmã ve m dar comida às aves,av ista o saco . Aproxima-se, dá -lhe com o pé e ve r ifica'que o saco m exe e geme . :- .Quem está aí de ntr o? pergun-.

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la ela espan tada . - Ah minha ir mã, r esp onde o padre,sou eu . - Qu e é q ue você está fazendo aí dentro, mano?- Mas, mana, estou no pa raí so . - Então, mano, você estáno paraí so dos pa to s.

Ela ab r e o sac o e o pobre sai de dentro, envergonhado.

NA COMMEDIA DE L L'A RTE - O saco é um dosacessór ios ma is em prega do s na Com m cd íur, Para confir­mar isso. basta folhear o precioso manuscrito no qual ccélebre Arlequim Dom in iq ue anotou os jogos e Lazzi queéle fazia nos di ver sos sc énurtos que r epresen tou de im ­proviso no T hea tr o do P ulai s Royal :

Eis a lgun s exem plos:

Em L 'Aub crp e - " Faço meus Lazzi para en tr a r nosa co (anele o m et em pa ra jogá-lo no rio) , depois, qua nd o

ê les menos () sus peita m, saio e en tro em casa pel a janela .Com o ôles pen sam q ue eu continuo no saco, in dag am qua lé o caminho q ue leva ao r io . Eu lhes resp ondo da janel a:- Basta s e01ô r em frcnie. Éles se apa voram e fogem.

Em A rie qurm. lw i i.c et 7nrú son , Arleq uim foge do sacograças à che gada de um urso qu e põe em fu ga os rap to­res, abandon an do o saco . E, é .o urso qu e toma o - lugar deAr leq uim n o saco, ta nto .-qüê"' ~s, personagens, que acredi­tam que Arlequim continua nó saco, fo ge m apavorado squando vê m sair dêl e um urso .

Em Arlequin esp rit fo LLet, enquanto Escaramouche eArlequ im discutem, chega P as ca ri el dentro de 'Um saco .Vendo o saco que se aproxima aos pulos. Arlequim diz :- É um saco d e carvão que v ai ao mercado . - Um fardoque v ai à al fâ:nd eg a, di z Escaramou che . Aí Pascaríel sa ido saco fantasiado de diabo, enquanto Escaramouche e Ar­

·leq uim caem desm aiados, e t ermina o ato .

Em L e docte'ur Péda n t amoureux, no segundo ato, Co­lombina faz Bri gu el a entrar no sa co e Briguela , com suasmanhas, fa z entrar n êle , em se u lugar, a, Arlequim .

P oderíamos m ultiplica r as citações d êsse gên ero, emque o sa co dá lugar a mil lazzi e jogos, cuja t r adição sóse conser vo u ent r e os palhaços .

Em Moli ér c - També m M oliê r e permaneceu fi el 3­

esse mecanismo obr iga tór io da farsa . No Registr o de LaGrange, es tá anotado qu e a troupe de Moli êr e r epresen touuma fa rsa in ti tu lada G orgibus dan s le sae em 1661. .A­cena elo saco na s Fourberies de Scapin é m uito difícil dr:se r represen tad a . Ela exige do intérprete de Sca pin um

vigor, uma viv aci da de e uma vi rt uo sidade corporai s, bemcomo um domínio de respiração incom uns . Rel eia a cena

. e todos os jogos que ela compo rta . Um es trean te terámuita di ficuldad e em levá-la a ca bo se qu er representá-lano movimento indicado. Para r epresentar ess a cena é ne­cessário uma grande expe r iência do m étier que umprin-

.' cipiante não possui, m esm o se êle é fo rmado se gundo os. métod os de Commed ia de li' A rte e treinado nos exercícioscorpo rai s quase acrobáticos da farsa cláss ica . 'N ão est a n­do t r einados para isso, os atô res decepcionam nessa cena .poi s o con ta to com o repertó rio m od erno fê-los per der ovigor e a vir tuosidade corporal que ela exig e . E t al veztambém julgu em que tai s jogos "ta bar .nicos", t ai s palha ­çad as são incompatíveis com a s ua di gn idad e .

Quando representou o pe rs on agem de Scapin, M cl i êr etinha 49 anos e só viveria mais doi s anos . Mas m esm odoen te, sobrecarregado de preoc upações, em lugar de des­den har os jogos da farsa it a liana que o formara, como ato l'e 'com o autor e já u lt r ap assad a por êle pró prio , Mo li êr csen te necessidade de volt ar a esses jogos e de, m ais umavez, en trar em com petição com os farsantes italia nos, seusconcorr en tes, cuj o sucess o não diminuir a .

(Th éâtre, n . 43, maio-63) .(Mecanism es et lazzi , L . Ch an cercl ) .(L e J Cll X Du. Feu. De Cam.p , L . Li mon ).(Cah iers d'Ari Dram at iqlLC . set . 45.) .

o JÔGO DO SACO NO TEATRO D E BONECOS

Em 1861, Duran ti , desejando renov ar a arte das m a­rionetes, m andou construir um am bi cioso castelete noJardim d as ' Tulherias . Seu T héâtr e (co n tendo 24 p eças)é muito procurado pel os amad or es e bibli ófilos . Entreessas peças, encontramos O S aco el e Carvão , da qual da­mo s o scén ario :

Para se vingar do ri.co, brutal e egoísta senh or Nif'la n­guille, P ierr ô en tr a no saco de carvão qu e lhe vai ser en­tregu e . Pierr ô - saco de car vão, começa pregando peçasno carvoeiro:

o Car v oeiro Êsse saco atrapalha a- passagem aqui(Muda-o de lu gar ) . A ge nte podia recost aj; nêl e paratira r uma soneca, en q ua nto espera . (No mom en to emque êle se de iia , o saco passa p((ra o ou iro laelo e oCarvoe iro cai) .

c .

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. ,Eê! Ond e se m eteu êle? Diabo! Escorregou , não es­

tava ca lçado . ( Toma o saco e co lo ca no m esm o luga1") .Quietinho! - ( M esm o jôgo) Oh ! Que que h á ? O saco fu giude nôvo . O Carvoeiro o persegu e .. O Carvoeiro - Eê! Olá ! Vai viaj a r! Desd e que tr aba­lho no comércio, nunca vi um sa co de carvão tão agitado( O saco dá pulos) Ah! Ah ! Ah! Ag ora es tá dançando! Est ácontente porque vai para o f ogã o d o sr . Niflanguile!

Neste ponto, o saco toma um pedaço de pau e começaa dar no Carvoeiro. Uma vez introduzido em casa de Ni ­Ilanguille, o saco continua com seus lazzi e pancadaria .

. Fa z Barbandu, o cr iado de Niflanguille entrar no saco eBarbandu recebe o sab re de Niflanguill e através d o corpo,Ch ega o guarda trazid o por Pi errô, que cons tata o crime .Niflanguille é detido junto com o Ca rvoeiro, cu lpado porter t en tado fraudar o pêso . P ie rr ô, afinal , mata o gua rdae o mete no saco..

No jôgo, P erva nch c ou o .I ôgo de São Gogo llno, po ó­t ico e bu rlesco. conce bido pa ra da r grande ma rgem ii a ção ,ii invenç ão e aos lazzí dos atôrcs. fa z-se in te r vi r , e ntreou tros mecanismo s t. rad icion ai s ( A Tarãn tnla , o A sn o Mu ­dado . em Homem , et c.) o jó g o do saco. Numa das ce nas,Pervanche, vestido de diab o, con vence dois ladrões a en-trar cada um n u m saco. .

:- Êsses sac os, di z õle, . são mágicos . Basta entra rdentro e fa zer um pedido, saltando ritmad arn ente, pa raqu e o voto se realize . Ma s há u ma condição: é precisonão te r consi go d inhei ro a lgum, nem em ou ro, prata oupapel.

Dessa maneira o fa lso Satã obriga os do is ladrões arestituir o produto do r ou bo antes de entrarem nos sacos,onde serão amarrados, surrados e entregues à justi ça . Eaí termina a farsa .

No Saco de Esperteza, peça para títeres, publicadaem nossos CADERNOS n.? 19 o jôgo-do-saco é usadopara fazer o ladrão entrar no saco e ser prêso .

(Livro consu ltado : Le J eu d l! Sue , d e 'hancere l, Ed .La Hutte, Lyon) .

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Exercícios de concentração

Os exercrcios seguin tes podem ser ap licados na es­cola, com o preparação para. as at ividades -_dramá ticas,permitindo o desenvolvimento da imaginação infantil e desua capacid ad e de concentração.

J ) CONCENTRAÇÃO NUM OBJETO REAL - Es­colha um ob jeto na sala de aula . Um lápis, por exem plo .Olhe-o com a ten ção . Procu re senti-lo através do tato edo olfato . P r ocure concentrar-se inteiramen te n esse obje­to . Esqueça tudo à sua volta _ Imagine, por exe m plo, assegu in tes s ituações : Quem teria perdido êste láp is? O queteria. acontecido com o apontado r? Qu e sign ifi cam as ini ­ciais gravada s nêl e? A qu em pertencerá ? Repare 'como es­creve macio, etc. Esqueça os colegas e se concen tre uni­ca me n te no ob jeto escolhido. Escolha n ôvo ob jeto e r epitao exercício .

2) CONCENTRAÇÃO NUM OBJ ETO NÃ O VISÍ­VEL - Escolha um obj eto . Esconda-o . Imagine, ag or a,

-corn o é êle . F aça de con ta que o vê, que você o te m nasmãos novamente, embora não o poss ua no momento .Mande que o aluno descreva o objeto: di ga a sua côr ;que sensação tem ao tocá-lo ; descreva o objeto em seusmínimos deta..1hes. Escol ha outr o obj et o e repita o ex er­cício .

3) EXERCí CIO S BA SEADOS NOS CINC O SENTI­DOS - Ma nde o aluno olhar a tra v és da janela e imagi ­nar q ue es tá vendo um pôr-el e-sol. Pausa para que se con ­cen tr e . Im agine uma tempestade q ue se aproxi ma, repa 1'8

a n uvem escura no céu . Pausa . Out ra n uv em. Pausa .Cai a primeira g óta de ch uv a, ou tra ' I;: mais ou tr a. Chov e.Pausa. A chu va aumenta, chov e , torrencialmente . Veja

como escorre pela vidra ça P ausa longa . A ch uva cess aaos poucos. O céu est á claro novamente . Pausa. Anoitece.Pausa . As estrê las começam 'a brilhar • Aparece a lua .Que formato tem a lua: é cheia, nova ou minguante?

Imagine, a seguir, um foguete subindo à noite, no céu .Dado o sinal (bat ida num tamborim ou pandei r o), o fo­guete pa r te . P aus a . Com o vê o fogu ete sub indo'! O alunodeve acompanhar com o movimento dos olhos a par tidade foguete a té es tourar no alto e mostr ar , através de suaexpressão facial ou m ásca r a a im pressão ou emoção quelh e causa .

Imagine um pássaro voando no céu . Acompanhe se umovimento com os olhos . Um tiro (bati da no pandei ro)parte, acerta no -pá ssar o . Êl e cai . Exprimir a emoção pelam ásca ra ou exp ressão corporal, sem di zer nad a, ou tal ­vez, somente no final com uma única palavra: coitadinho!

Imagine um avi ão faz endo evoluções diversas, aco m­pan he se us movimentos com olho s, cabeça e corpo . Trans­mita com o cor po a sensação desagradável que lhe causaquando o ruído do m oto r se torna mais forte .

Imagine-se se ntado à m esa , toman do café. T om e achícara, ponha o açúcar e o ca fé . Beb a . Expri ma a sen­sação qu e sente : o café es tá muit o quente, ou doce de­mai s, ou frio, ou amargo .

Imagine-se num jard im ou no ca m po chei o de flôres ,Abaixe- se para. colh êr uma fl or. L eve-a às narinas .Que sente?. Descasq ue uma laranja . D ivi da em dois peda ços Dê

u m ao viz in ho . P rove o outro . Qu e g ôsto sen te : doc e,amargo, in síp ido ou ácido?

Escute o relógio da sa la ao lado bater horas . Contemen talmen te as batidas . Acerte o seu relóg io de pulso .

F inja que es tá lendo ou cochilan do . Ou ça batidas n apor ta . Pausa . Novas ba tidas, m ai s fortes . Você se levan tae vai abrir .

Todo s êstes exerc ício s podem ser aplicados var iandoas sit uações, os obj etos imaginados e o ritm o em que sed ào , Devem ser a prin cípio bem simples e obje tivos, afim de que a cr iança possa im aginar e sen tir cada coisa.sit uação ou mov imento isoladamente e pod er, assim , ex­pressa-r o quc sen te com nitidez . Mais tarde , ôsses ~xe~­

cicios podem se com pl icar, envolvendo du as ou .m~ ls SI:tua ções ou objetos a imagrnar, apreender e ex prurur atech egar ao brinquedo dramático com enr ôdo, ou hi stór iaa se r drama ti zada, com ou sem palavras.

(T extos consultados : /301et.im ele B ibliotecas e A udi­tó rios, da S . de Educação da Guan abara, prof. Opheli aSan tos) , " ...

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· }

EXERCfclOS COM MAsCARA

F eitos os exercícios dados no nú m ero anterior dos CA­DERNOS, an tes de passar aos se guintes, o monitor r el em­bra Q que já foi dado anteriormente s óbre a signif icaç ãodo s planos, do s cen1:ros,etc.

Os exercícios seguin tes serão ' const it uídos da com ­binação dós sentimentos já dados no s precedentes,por exemplo:

a) olhar com desprezoesc utar com m êdoatirar um obje to com rai va .

b) com bin ar os ex ercícios já dados com m ovimentos, po rexemplo:andar como um velho cansadoandar como um cegoandar carregando um pêso fictícioandar sôbre o asfalto, na arei a, no m ei o de po ça s dá­gua, no meio do matoandar cm ritmos diferentes .

Ne sses exercícios de caminhada, ob servar o papel dadistensão e do músculo na obtenção dessas ficções: umhomem andando na areia força mais o tornozelo, etc.

c) representação de obj etos inanimados, tais comoestátuas, manequins e também árvores, por ex emplo.

d) representação, finalmente, de no ções morais, taiscomo a gl ória, a maledicência, a publicidade, a f ôr ça .

Êsses ex er cí cios dev em se r feitos numa det erminadaord em e en unciados através de .determin~da.s . palavras qur~se prest am a I SSO de uma maneira sugestiva , e em se guid arepetidos numa cadência bem rápida . O aluno tomará in s­Iant âneamentc a po sição que tr aduza. cada palavra dada,sepa rando-se uma da out r a p or um brev e stop.

Terminados e repetidos os exercíci os dessa primeirasé ri e , o a lun o estará familiarizado com as primeiras d if'i­culdades da expressão corporal e poderá no decorrer d êles,com provar os princípios básicos; terá se habituado a ob­se r var os movimentos e as formas e ao mesmo tempo trei­nado a imaginação ; t erá tido, sobret ud o, a primeira r eve­lação do qu e possa se r a exp ressão cor po ral, do que pod eIa zer com se u próprio cor po . Depois di sso ó q ue vai l. cn ­ta r criar c fa ze r vi ver.

SEGUNDA SÉRIE

O monitor expõe aos alunos um tema simples, sem in­triga nem abstrações, como : diferentes pessoas no hall deum hotel; espera na sala do dentista ou uma usina. Aqui.o aluno deverá mudar de personalidade e se tornar ver­dadeiramente atol', pensando e agindo através de um tipoimposto ou li vremente escolhido .

B) Exercícios com mudança de personalidade.

Peça com antecedência ao aluno que observo c p re-pa re um tipo humano bem definido:

idade, .classe socia l,profissão,nacionalidade, etc.

O aluno dará en tã o vid a ao personag em e o fará en­trar em a ção dentro do tema dado no último momento,pelo monitor . Qu e o . aluno ' não se preocupe cm inventarincídentes: todo o interêssc do espetáculo deve residir natradução fiel , viva e ' estilizada do personagem. Só apósum longo período consagrado a essa espécie de exercíciose som en te depois que o aluno tiver se habituado bastanteé que constrói um enrêdo simp les . A partir dêsse mo ­mento, se r á aiinprovisação verdadeira, ainda sem pala ­vras . Não só seránêcessário guardar a. verdade e ' o in­tc r êsse do personagefn; ma s também imaginar, improvis a rlima ação segundo o tema dado, adaptar-se ao jõgo doparceiro, etc.

Tal exercício - é preci so observar ..L.. não pode sedirigir a um público . Não tem interêsse espetacular, poi sé um j ôgo voluntàriamente mutilado da parte principa l-- a palaV1·a. Basta que o aluno e o professor, conhecendo[) tema, se entendam .

Mai s tarde, o comediante poderá fa zer a improvisacâointegral, jun tando a palavra ao gesto . Êl e terá , para isso.seguido uma preparação que lhe terá dado a f acilid ad everba l n ecessária . Apren de r á a só di zer o necessári o ; Ia ­lar d em ai s prejudica o j ôgo físico, fa la r pouco dem ai sparalisa o j ógo e lh e tira. t ôda a v ida . Mas isso já é im ­pr ovi sa ção, cuj a excelência como exercício de aperfei çoa­m en to do a tol' , não cessamos de proclamar .

Para finali zar, direm os que é no s museu s , enlre n:<obras-pr imas da escult ur a e da pintura. e também na,') bi­bliotecas, em gravuras, de senhos e fotos de comediant es.m ím icas e dançarinos qu e o ala r irá encontrar a r evel a­çã o da bel eza c da s possibilidades da ex press ão dr) corpohu mano .

(L' t: xpres;;i(nt CU)'}I0 )'sU e, de J unDoa,t)

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.....-~---------~=----------~~-------------------~ - - --

PABNICACAO DE MÀSCARÁ dê c .rio lina ou e a r taó r é -eartad óVirginia V alli

_ í:ste processo é aconselhado sobre ­t udo pa ra as máscaras de jogos d ra­máticos e ca be ças de bicho . Ex igepouco m ate r ial ; cartolina, papel dejornal, grude e t esoura. Não permite,cont udo , fa zer vo lumes r ed ondos, amenos que se tenha, um grande tra ­balho . O material, neste caso , im põeuma transposição ainda maior que ado s outros processos, mas que não ficamal em espetáculos com crianças e emIm provisa ções . Neste caso, a máscaraé usada. mais para suge r ir uma coisa,do que para repr esentar . É o at ol' qu e,pe lo [ ôgo do corpo, pela mímica, que

- dará a impressão de que é urso ouleão, rei ou di abo, que a m ásca ra e arou pa apenas sugerem .

O processo m ai s fáci l de fabricar am áscara é tomar 1/4 de uma fô lhade ca r to lina bran ca, r iscar o lugar dosolhos e nariz, o contôrno da test a erecortar ( V . fig ura), ri scar e recor,t ar um triângulo de cartolina e apl i­car s ôbre o or ifício do nariz, colandoou costurando. Uma vez colocad o onariz, fa zem-se pinças na testa ( umano cen tro ou duas, sendo uma de cadalad o da testa) para dar vo lume; fa­zem-se igualmente pinças nas fac es

-para dar volume às boch ech as, gram­peia -se e cola -se . A máscara se n­do cortada à altura da bô ca, nãoé necessário dar o volum e para oqueixo . Aplica-se em -seguida o ma-'terlal paar sugerir bigode, cabel o,etc . por exemplo: fios, fibra , creponpi cado, colad o sôbre a máscara. Emsegu ida se pinta a máscara com tin ta ­em pó so lúvel em água e di ssolvida _em go ma-arábica rala. Para c ôrrde-.:pe le, usa-se uma mi stura de alvaiade,com pó amarelo e vermelho, na pro­porção desej ad a, para o t om que ;>1'quer : pálido, sa ngü íneo, ro sado, etc .Uma vez sê ca a másca ra, aplica -se umelás tic o na altu ra da orelha, ou faz-se

um ca pacete com du as ti ra s larga s depapel fo r te (pa rdo) cr uzadas atrá s daca beç a e colada s e gr a m peada s n amáscara. Para dar mais soli dez àmáscara. e evitar que ela se rasgue ,pode- se colar t arlatan a sôbre t ôda asua supe rfície, na parte de dentr oIsso evit a que a m esma se rasgu e, nospon tos em que está aplicado o elá s­t ico ou o capacete . Pronta a m áscara ,'podem -se ultimar ret oques de cabele i­r a (de pap el cre po n ou outro mate­r ial lev e) aplicada sôbre o capacete.na parte superior .

Partindo desta técnica, pod e-se fa ­bricar com facilidade uma máscara ea prática vai le vando a aperfeiçoa­m ente de seu fabrico, en sinando comoda r vo lume aqui ou ali, com o dar

_mais rel êvo aos traços por m eio deapliques - de pano, jornal colad o, fio s,fibras, etc. Para se fazer uma más­cara de bicho, o processo mais fác ilé o se guinte:

1 ) r ecorte em ca r to lina os perfisda ca beça do b icho, tendo antes ocu idado de desenhar o pe rfil, pro­curando a mai or aproxim ação po ssível

s

do desenho do focinho e da cabeça doan imal; recorte êsse desenho na car­toli na , para obter o mo lde, qu e va ise r vir pa ra r iscar du as c óp.as exa ­tas dos d ois perfis necessários ;

2 ) r isque u m traço na altura datesta, de 4 a. 5 cms . , e corte ; nesseor if ício introduza a orelha, qu e jádeve ter sido r iscada e r ecortad a emcartolina. . ou pano se quiser ; cole aor elha . na parte q ue va i fica r pa ra.de nt ro, utilizando um pe daço de jor­na l colado sôbre ela : dê o jeito daorelha dando um a p rega;

4 ) cor te uma ti ra, de cartolina, del Ü a 15 cms. de largura , e de compr i­mento que dê para liga r os dois per -f is um -ao ou tro; ,

3 ) applique essa tir a a uma das fa­ces, pic otando para facilitar a colu ­ge m com grude e pod er segu ir o de.se nha do perfil ; -

5 ) Colada a ti ra a um do s perfis,espere secar e cole o outro perfil, pel omesm o proc esso de recorta r dentes natira . .

6) p inte pel o m esmo processo dado

c .-

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OS TRAPACEIROS

(Tema inspi rado na Commedia dell'Arte )

Jogo Dramático

Os dois afirmam que p oder á r ecuperar tod o o di­nheir o, se jogar de n ôvo ;: Propõem qu e jogue comêles .

Os cúmplic es, ins tal and o-se para o jôgo, se cong ra­tu1am por terem encontrado um tôlo. Estão certos deganhar o ducad o .

J ogam .

f'u

3 Os dois cúmplices se aproxima m e pergunta m po r ­que está chorando .

4 - Êle expli ca que perdeu no [ ôgo de cartas e que sólh e rest a um ducado .

7

2 Um a ter cei ra persona gem , em lágri mas, entra peladireit a..

- Dois cúmplices entram pela esque rda, r indo e con ­ve rs ando .

(j -

lJ Ao contrário do q ue ima ginam, é o tô lo q ue ganha.Ga nha de saída todo o di nh eir o, depois os chapéus,as roupas e os sapatos dos dois . "

9 Sai, cu rvado sob o p êso de seu lucro, deixando osdois cúmplic es chorando, se m roupa .

NO TA - Se êste jôgo I ôr fe ito com a manipulação de"r oupas reai s, " OS dois cúmplices dev em usar , sol> asro upa s uma camisa bem com pr ida e ridícu la .

par a a m áscara de gente, na côr de-sejada . "'.

7) pode-se r ef orçar as par tes cola­das, cobrindo" os den tes com papel dejor nal colado, evitando que a m áscarase rasgue nas junturas . Ta mbémpara se facilitar o trabalho , pod e-seus ar gramp os de pon tas v iradas, af im de m anter as bor das no lugar atéq ue a cola seque .

Qu aisquer que sejam os volumesompregados, a técnica é se mpre am esma: recorte dos di feren tes ele ­mentos da. cabeça , r eunião d êsses d i­feren tes eleme n tos por me io de dentesnas bordas, colagem com grude gro s­so ou cola fo rte .

P ode-se, igualmente, fazer umamáscara de bicho - por exemplo, boi,bu rro, elefan te, por siste m a aproxi ­ma do daquele "usado para cabeça dege nte. Para iss o, tome u m ret ân gulode ca.rto lina grossa num comprim entoque dê da testa ao focinho do an imal.Recor te ape n as o lugar dos olhos ( aposição aqui pode não ser na alt u rados de gen te ; sen do a m áscara maio r.dois or ifícios mais abaixo, no m eio dacara, cobertos com tarla tanda , permi­t em ao ato l' enxergar) ; faça pinçasla r gas em bai.xo para dar voiume aof{Jcinh~ e uma grande pinça na testa ,no me io: corte, dobr e e cole; ap liqueas orel has c?m cola. nas pa rtes su pe­rr ores laterais da test a, "se não t iv ercortado as or elhas no mold e in teiro 'p in te na côr desejada, aplique elás ­t íco ou capacete; r eforce as par tescolad a s .

· }

(Do livro NOUVEAUX 'l'I-IÉMES DE J EU - CoU.Ol ivier Hussen ot) .

(Livro cons u lt ado : FabTication ânmasque, de Henri Curdreaux ) ,

Page 14: 024 - Cadenos de Teatro

Técnica de P alcO

Iluminação - Noções Gerais

QUIIDRO ~E LUZ.,

1 · c f/ I/ PfI Of r H l Ro 0 1) MR IlMO(E'

Z-C HRVE "+Ri FÁs ic R' G El' AI..

3- (H!Wt;S SUi!-vERRI S

lj_ c HIlVE5 jWDi ll iDtJfli s ·

,. I'ORTR- FtJSI·VE.L il%ivíDVIlG

b ~ 80rÕe.S DE ,R MPR jI(H"t,?

Antes de en tr a r m os 1\ 0 assunto pró priarncntc d ito, éconvenien te estabelece i mos com os leitor es uma es pécie decódigo a f im "de nã o ser m os obrigad os a r epe ti r em cadaum a das li çõe s o sig n ifica do de certos têrrn os t écnicos o Eao m esmo temoo cue Est abelec emos ess a n omenc la tu rairem os ap resentando al guns elemento s de clctrici.dad e ,ponto de partida , co mo é lógico, pa ra a il uminação, q ua l­quer que seja .

In icialmen te, d evemos diz er que o pa lco deve possuiro q uadr o de lu z, ponto central de onde irradiam to do s oscoman dos para os d iver sos aparelh os disp ost os no p alcoe n a pla téi a e que são os elem en to s necessár ios para ailuminação do espetáculo . S ôbre o quadro de luz, enum e ·r emos algu ns con selhos primários:

QUADRO DE L UZ

1 - CHAPA DE FERRO OU MARMORE2 - CHAVE "TRIFASICA " GERAL3 ~ CHAVES SUB·GERAIS4 - CHAVES INDIVIDUAI S5 ...,... PORTA-F UZÍVEL IN DIVID UAL() - BOTõ ES DE CA MP AINHAS

1 - deve es tar colocado em local do palco d e onde o el e·t r icista p ossa assisti r a todo o espetá cul o, is to é, deonde possa ver a a ção que se desenrola nêle . N ãodeve , no entan to, pr e judicar a sa ída de m óveis, ce­n ários ou 'person agens .

o 2 _ deve estar com pletamen te iso lado, possibilitando aoeletticis ta corrigir qualquer def eito p or ven tur a sur ­gido o Não é ac onse lhável emb ut i-lo ou pr endê-lo n apar ede, o que inut ili za a ver ifi ca ção p el a par te tru­seir a .

3 A div isão das chaves e das r espectivas ca r gas nãodeve ser fe ita à m edida, que os apar elhos vão sendou tilizad os, mas sim anteri orm ente, desd e que o en-

cenado r ap resen te ao ele l.r icista os efeit os q ue pr e­ten da ef e tu ar n o d ecor r er do espetácu lo.

4 Os fi os qu e chegam ao q uadro de luz e os q ue dê lesaem dev em es tar inteir am ente desligados dos ele­m en to s de ce nár io o É aconselhá vel ser em in teira ­mente in depen den t es e en trraem para o quadro edêl e saí r em pe la parte de cima .

Enumere mos ag ora o que cham amos de ap ar elhos elei lu min ação :

R~BALTA OU GAMBIARRA

. 1 - r i ba lta - sér ie d e lâmpadas dispostas no ch ão dopalco, na fr ente do pan o ou cor ti na de bôca . As ri­ba lt as devem ser d ivi d id as em tr ês ou quatro secçõ esno mínimo, 2., f rm de facilit ar a il uminação .

2 - gam bi an 'a - sér ie de LImpadas d ispostas n o a lto d opalco e su spens as p or s is tema de cor das . A div isãoem secções tam b ém aqui é aconsel h ável.

3 - re f le to r - aparelho es pecia l dest in ado à ilu m in açãoem det erminado se to r do pa lco o Ex ist em centenas detipos de r efl etcres, desde os u t ilizados em estúd iosfo tográ fi cos até os u t il izados em se ts de filma gem .O t ip o m ais simples, quanto à sua fabricação caseir a ,é o q ue ap ontamos em desen ho ao lado. Em ger al,são usadas Iâm padas es pecia is (chamadas "lâmpadasde f'ilam cntr- concen t rado" : com as q u ai s se o btémresultados excepcionais. N o en tan to, se não fôr po s­sível compr á-Ias em v ista do custo elev ado, pod emosutilizar l âmpadas comuns (100 -120 ou 100·60v ) .

4 - t angões - a parelhos com 3 ou 4 lâm padas , destinadosà ilum inaçã o de pan or am as, de ~ cor redo r es ou defu ndos de cenários . '"Os quadros de luz não devem ser feitos em m adeiracom pensada ou sim ila r , pois são ma teriais infl a ­m áveis .

t ..

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.. ) 2 - A chave " Irif ásica" (denomin aç ão com um ) é a quer ecebe a carga de luz diretamente da rua OU de ou ­tra chav.e geral do mesmo edifício onde estiver loca­li zado o teatro . É achave que alimentará todos osou tros p on to s de luz.

3 - A fu nção da s ch ave s sub -zerais p facilitar ° trab a­lh o do ele tricist a e possibilitar efeitos de diversospontos de luz ao m esmo te mpo . Exemplifíca ndc: sedesejarmos apaga r uma sé r ie de aparelhos de luz nomesmo tempo e permitir que outros continuem fun­cionando, bastará dividir aquê les numa m esma se c­ção abrangida por uma de ter mi nada su b-geral, dei­xando êstes em outra sub-geral .

Aq ui é que voltamos ao assunto da distribuição noq ua dr o de luz, já citada . Por exe m plo: t ôdas as luzes nãoutilizadas no es pet ácu lo, tais como lu zes da platéia , doscorredores, da s esc adas do te a tro devem ficar sub ordina­das a uma só sub -gera l, o q ue perm itirá apagá -Ias deum a só vez , ou um", por ve z. Se colocarmos u m aparelhona secção da pl a téia , já impossibilitamos o uso da sub­geral.

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tr a chave . Essa dl str ibuição facilita tam bém a colo ca çãoda s lâmpadas de côr c o seu uso (de cada côr.) individua.l­mente.

A divisão em secções poss íbilita, como dissem os, u ti­lizar a r iba lta. ou gambia rra (s) em partes . Exemplifican­do: os pont os 1- 5-9- 13 lig ados en tr e si e colocados emuma ch ave individua l. Os ns , 2-6-10-14, idem em ou-

4 - - Ch aves in dividuais : são as que receb em , cada uma,um aparelho , tais como: um refletor, ou uma secçãode r ibalta, ou uma secção de gam biarra .

5 - P orta-Ius ível: cada chave individual e também caiasub-geral dever á t er S t;U fu siv el indiv idual , o queevitará os curto-circui tos ger ais . Qualquer Iiga ç'iomal fe it a em um apar elh o inutilizará apenas- aqu êleapar elh o e não os outros, a que acontece rá se n ãohouver os fu síveis individuais . -

ê botões de campainhas : para os sinais para o público,para os sinais para os artistas, para ef eitos decena, et c .

S ôbre as chapas furadas (as chapas a serem utiliza­das na construção do refletor podem ser, por exemplo, asusadas nas latas' de banha) ; deve haver ainda uma sobre­capa separ ada daquela de 0,5 cm (1/2 cm) . Na frente dalente e separada desta, poderá haver um caixilho pataa colocação de papel cel ofane que de verá ser sempre co..locado em uma 'ar m ação - 2 fôlhas de m etal com o cir­culo no centro - para evit ar que encoste d ir etamente nalente .

Os maiores problemas para a construção de refleto­res são os referentes .a : a) - ventilação; fàcilmente re­solv ido pelo sis tem a acima; b ) - lentes; sã o, em geral ,fabricadas em vid ro branco, transparente, côn cavo. Su afabricação , no entant o, não é fácil (há grupos amadoresqu e se auxiliam com as casas de ótica locai s, que pod erãoaté fabricá-las. Em pr in cípio, o sistema é o mesmo daslentes de óculo).

A al ça dos refletores é pr êsa nas laterais por para­fu sos (de dentro para fora) cuj a rôsca fique do lado ex­te rno, possibilitando a colocação de duas borboletas. Aalça deverá se r furada na parte supe rior . No buraco, co­loca-se ge ra lmen te o parafuso que 'p rende o ref1etor nosar rafo (vara. de refle tor ) . 1J:sse sa rraf'o é uma m adeiracomum, pin ho, de 5 cms , de largura x 2,5 cm s . de espes -

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PR R lí o PI'IP E L.C/f L OF A IVE.

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Rum . Com êsse sistema de prend er o rcf letor, o mesmoes ta rá int e ir amente livr e para movi mentos lat era is, ve rt i­ca is, podendo girar s ôbre s i mesmo .

As lâm padas d e fil am ento concen trado, qua ndo ut ili ­zadas, deverão se r colocadas no saquete, de forma qu e osfios d o fil am ent o f iq uem paral el os à len te . Caso contrá­rio, no pon to focado apa recerão estri as que são p rovoca­da s pela som b ra pro jet ad a d êsse s f ila m en tos .

OBSERVAÇÃO FINAL - Chamamos a a tenção dosleitor es para. o segu int e : a ) - t ôdas as eme ndas de fiosdevem se r isoladas cuidadosam en te ; b) - tôda colocaç ãode .p lu gs e tomadas dev e se r a jus tada e firme, não de­ve ndo haver folgas; c) - para as ligações de aparelho,deve ser usado o cordãa pl ástico 2x14 ou 2x16 , a fim d eevit a r sobrecargas no s condutor es ; d) - no quadro de lu z,dever ão ex is t ir em reserva : fusívei.s, isolantes , ferram en­tas, la nternas de pilha , etc .

."t ..

(Re produzido de CADERNOS DE TEATRO n.o 2) .

Page 17: 024 - Cadenos de Teatro

o ODE VAMOS Iml'nESENTJ\I:

'"~

OS CEGOS

de Mich e l ele C HELDERODEtradução de Annibal MachadoPerson agen s : ·t r ês cegos de nascença.

pe reg r ino s a caminho de Rom a.

DE WITTEDE ST ROPDEN OSe

LA MPRIDO, o cao lho, r ei do paí sdos foss os .

L ocal: Uma estrada em Brabante,per to de uma gr ande cida de .

Ouve-se um canto : pereg rinos ap ro­ximam -se p ela estrada. É bast an telento o ca nto, se bem que entoado porhom ens de boa sa úde . Os peregrinossão cegos que avan çam ta teando comum bastã o e segurand o um no ou tropela ponta do casa co . Eis se u cantode marcha : Con gaudean t catholi cir ete ntur viv is celiv i . Die is ta .

DE WIT TE ( cantando as ú ltimas pa­Lam'as) D i e i sta . . . (F alando) Eago ra? P or m im eu paro! Se a nos­sa can ção de pe regr inos agrada aDeus, não comove as ped ras do ca ­minho . Meus pés estão sangrand oe te nho a gargan ta s êca qu e nemuma cratera.

DE ST ROPE - É preciso pa rar .Quando um de nós pára, os tr ês de­ve m os par ar; · e 'q uando um ca nta,devem os ca nt ar ; e quando um an ­d a" andam os os t r ês . .. Qu e destino!

DEN OS - Qu e destino! Cami nharn u ma estrada de que não enxerga..m os o fim , cantar uma lamentaçã onum latim que não en tende mos!Companheiros de miséria , proponhoge m er os três com t ôda s as nossa sfôrça s. Talvez alg uém nos ouça, lápelas nuvens ou na terra. Vamosge m er ! Mi serer e!

OS TRÊS - Miserer e! Miserer e ! (de ­safinados)

A VOZ - (A o long e) Miserere!DE WITTE - Vocês ouv ir am? (Si lê n·

cio , ou vindo ) Mais nada.DE: STROP - P arecia que estava ou­

vindo . . . É a fome e a s êde, a s êdep ri ncip alm en te que no s perturba ossen t idos

DE N OS - Eu ouvi . Sa bem o que é?O eco ! Vou ex pe r im en ta r ; ou é <)

dia bo que faz t r oça de nó s e nãor esponder á, ou en tão é o eco, qu en ão m en te e respo nde , porque vouprovoc á. lo r elig iosam ente .

DE WITTE - Sim , cante a mi ssa paraêle .

DEN OS (Can t a ) Kyyyyyy . . .OS TRÊS - Vamos escuta r .A VOZ (ao longe, conclu i ndo o can o

tochão) K y yyyrie eleison . . .DE WITTE - Está se vendo que não

é coisa do diab o! É o eco. um ecode ver dad e, na cer ta o eco de umconvento!

DE N OS - Ah l Se êsse eco qu isessenos dar u rna esmola , ou pelo m enosn os ar r anj ar um canecâo d e cer vejaescura !

DE STROP - Não perca m a espe ran­ça ! No sso sofr im en to, nossa fome ,nossa sê d e vã o a cabar, eu sei. Que­re m ouvir a boa notícias? É que n is ­so eu en xergo m elh or que voc ês .

DE WI TTE - Me ntir oso duas- v êzes !Você nasceu tão ce go como nós .

DE N OS - Me n tiroso três v êzes!Voc ê é o mais ce go de nós t r ês!

DE STROP - Amigos da minh a dor ,fique m: sa bend o: já não estam oslonge d e Roma !

OS DOIS Oh! Oh! Oh! Oh !DE STROP - Não sen tir am que o

sol fi cou m ai s quente? Faz sete se­manas que andamos . Vej am aindaagora ouvimos um eco, e um eco quecanta mi ssa... Em Flandres, para fa ­lar a. ve r da de , não ex ist e eco: tudo échato, tudo é plano . . . Na s monta­nhas, s im , ex istem ecos . Est amosnas montanhas ! E êsse pintor quenos p intou fa z p ouc o, e que est êve

na It ál ia , não disse que de víamosa.travessar as mon tan ha s'! Com o sechamava o pin tor . Aqu êl e exq u is i­to qu e nos deu um fl ori m ?

DE WITTE - Acho qu e era u m talde Bruegh el.

DE STROP - Êsse m esm o, Bruegh el ~

Êle disse que passa ndo as m on ta­nhas, já n ão estávamos lon ge d eRoma .

DEN OS - Disse também q ue pod ía­mos andar se m m êdo nem receio,que de qualquer jeito acab ávamosche gando, porque todos os cam in hosvão dar em Rom a .

DE STROP - Aleluia! Vamos ver aes tá tua de São P edro! .

DEN OS - Aleluia! Va m os v er opapa em pessoa, o papa que nos vaifaz er um milagr e : dar- nos de n ôvoos noss os olhos!

DE WITTE Al eluia ! Vamos ver u mmo ntã o de mara.vilha .. . Ou en tãonão verem os nada ! O certo é qu eRom a é a cidade mais m iríf ica dacr ist andad e, e que lá beberemos aténão poder m ais, comerem os à fart a ,e dormir em os e da nçaremos. . . Sei,de boa font e, q ue êsses r om anos sãode natur a l alegr e e ami go dos pra­zeres . E n u nca m ais vol taremospara F lan dres. Eu m e plan to nosde graus da Ba sílica , e acabo meusdias, ao sol .

DE STROP - Eh! m au paroq uiano!Farem os o 'que o San to P ap a nosm andar fazer !

DEN OS - Qu em sa be se êle n50quer qu e a gente dê uma chegad í­nha at é Jerusalém?

DE WITTE - Ou quem sabe, depoisde nos ter olhado bast ante, nosaconse lhe a vo ltar para o no ssopa ís? .

DE STROP - Silêncio! Abram de­pressa os ouvidos! (Ouv e-se u mcar r ilhão longín quo ) .

DEN OS - Agora ' sim ! Sin os nu m at ôrr e ! Os sinos de Roma !

Page 18: 024 - Cadenos de Teatro

DE WITTE - Vo cê est á doido ! É umc:JJTilhüo! E toca uma m ús ica q u e(, U conheço, um a ca n ção que emno ssa terra se canta n os m ercados .

DE STROP - Vo u di zer a vocês 3

V Cl dade , É o célebre carr ilhão deRoma ! Com o o P apa sou b e que trêsperegr in os ' fl am engos estavam che ­ga ndo, m an dou to car um a ár ia fieF la ndres em nossa h onra . Ve ­ja m só!

O~ TRÉS - ( Cantan do a an a com (1

carrilhão ) La-la . . . la .. . bing . ..bong . . . (G r i tan do ) Tocai, s in osbe nd itos ! To cai p a ra os que vêm d eF'landres ! Aqui es tam os! Viva R om ac su as m il ig r ejas !

DE STROP - Como doi ou vir, emterra est ranha, os cantos de nossavelha pá tr ia !

DE WITTE - A té pa r ece o ca rrilh ãode Bruges, onde n asci .

DEN OS - Ou m elhor, o do al ti voca m panário de Gand, m in ha nobr ecidade.

DE STROP - É t al e q ual o de An­tuérp ia , a r iquíssi ma, onde vi a lu zdo dia . . . ( Ch oram os t rês sem nl'?­n hu m a harmon ia ) .

A VOZ - ( A o lon ge, r indo às gaTga­th ada s) Ah ! Ah ! Ah! Ah!

DE WITTE - Esc u tem! Estã o- rindono hor izonte! Qu e n ação m aravilho­sa , esta It ál ia! Enqua n to ch or amos,os ecos ri em p ar a os an jos! Vam osr ir agora ! (Riem ) .

DE STROP - - Ésse hum or é que é ad­m irável. Con templem êstes a ltoscim os n evados, donde v am os desco­brir as cúpulas e os campanár ios daCidade E terna .

DEN OS - Antes de m ais nada, sin­taJ11 êstes p erfumes est r anhos . A sfl ôres têm ch ei r o de in cens o, gu­r anto!

DE WITTE - E v ejo num r elógio desol que já é t empo de a gente sepôr a caminho . Caminh em os e can­tem os . Quem vai à fr en te? Eu!Qu e ro se r o pr imeiro a en trar nacidade m ística .

DEN OS - Serei eu ? Nisto v ejo me­lhor que v ocês!

DE STROP - P or qu e não eu, o m e­n os cego dos três?

DEN OS - Vamos!DE WITTE - Seguremo-n os p elo ca­

saco e batamos os cajados em ca­dência . (Caminham e cantam PLE-

N US p ULCH RIS CJ\. lVI I N IDUS /S'J'U D E A T A TQ UE CA NT IJWS/V !r;l ST A ) .

A VO Z - Die i sta . . .DE W ITTE - U é! O eco j a n ão tem

a m esma voz . Em que p on to ca r­d ia l es tá agindo agora'!

DE ST ROP - Será que estam os vol­tan do , em vez de ir par a R om a ?

DEN OS - Ser ia terrível! A ch o bominterrogar o eco . Se é q u e êle sabe

lati m, deve sa ber ge ografia ; eu m eencarr ego dist o . (Sol en em ente) Se­nhor Eco, d igne-se resp onder a tr êscegos que procuram seu cami nho .On de es tá, eco su til? .

A VOZ DE LAMPRIDO - Num a ár­vor e d a qual descerei para se r -lh esagradável. So u uma voz q u e tempatas e ch egarei a té vocês.

DE WITTE - Bem que eu p ress en ­tia , é um h om em ! Tanto m elh or, êlen os da rá esm olas . Vej o-o que vemchegando ; é um gr andalhão de cha­p éu r edo n do.DEN OS - É um p equen o, de cha­p éu quadrado .

DE STHOP - Cal em-se ! É um graít1 ·d e que ficou p equeno, p orq ue écorc unda , n em m ais n em m eno s, eo chapéu dêl e nã o p assa de um bonéde m edalhas !

LAMPRIDO ( En tm n do ) Aqui es t ou,m inha gente .

OS TRÉS (Tom an do ar es d e m endigose satm odi ando em f at set e) Aquiest á o bondoso cr istã o! Tende p re­dade de pobres ceg uin h os, grandespecador es ! Pied ade de ca la m it ososp er egrinos, peregr inando n est e va lede lágr imas ! Tende p iedade denós! . . .

LAMPRIDO - Piedade tenho de ce ­go s p ecador es peregrinando (ri).

DEN OS - P orque ri ? . ( F u r i oso)Qu em é você?

LAMPRIDO - Sou Dom Lampr id o,r ei do p aí s do s fossos, h om en s sá ­bio que fi ca pendurado numa árv o­re em v ez de caminhar to lamen tepara uma Roma on de vocês jamaisch egarã o . Pedem esmola? Vou dar.lhes maçã s, p er as, ameixas, p êsse ­gos , m el , ovos d e pata .

DE STROP - Nada d isso ! Queremos.di nh eiro!

LAMPRIDO - Não o terão, m as p os­so dar -lhes conselhos e m in ha aju­da, que é cer tamen te . o de que vo-

c ês pr ecisum .DE W IT TE - Não precisam os nem de

aj uda n em de conselhos ! P Ol' m a iscegos que sejamos, os t rês ju nt osenx e rgam os be m cla ro .

LAMP RI DO - Orgu lhosos ! Sa bemvocê s em que luga r estão?

. DE W ITTE - Sabemos ! Estam os nasaltas' montanhas, n o limiar da cam­panh a r om ana !

LAMP RIDO P ois sim! E ntãoescutem !

DEN OS - Sim , sim . . . Som os ce gos,n ão su r d os . É o carrilhão de Rom a!

LAMP RID O - Inocentes! Estão nopaís dos foss os . É preci so ac redi ta­rem em mim. P orque, sendo ca o­lho, tenh o a van ta ge m de ver comu m ôlho; mas um só ôlho basta . Hám u it os ceg os n o país d os fossos,onde sou r ei, eu , caolh o cla r ividente .

OS TRÉS (Sem aneba tamen to) Iii!Ii! é um alei jado! Há! Há! E dizque é cla Ji vident e ! Ri ! Hi! E achaque não es tam os perto de Rom a !

DEN OS - Vai-t e em bor a, R ei Cao­lh o ! Não q uerem os sa ber nada d eti . És u m far san te e te u paí s dosfo sso s não existe ! No ssos longos ca ­jado s têm olh os e n os descrev em osaspect os das cam pi n as . Sai daquiou nós te batem os !

OS DO IS OUTR OS - Vamo s darnê le, sim ! Arre! (Os tr ês dão caja­dadas em t ôdas as dire ções) .

DE STROP - Quem me ba te?DEN OS '- Assa ssino! Vo cê está ba­

tendo em m im .DE WITTE - Est ão m e b atendo !

Acu dam!LAMPRIDO - Ó trág ico en ga n o! Ba­

tem uns n os ou t r os e se desancam !Batam com vo n tade, m eu s cegui­nhos ! Mas. " o q u e? Pararam? Sim.sejam pacíficos . Agora escutem!Vou faz er -lhes uma car idade.

OS TRÉS ( Em CÔTO) Tende pi edadepiedade dos po bres cegu inhos co n­denados a peregr in ar p elos seu specados.

' LAMP RIDO - Nem um vintém, nemum to stão r oído! O hálito de vocêsbem m e di z que ador am a pinga .Ou ça m -me! Vou, ca ridosamente, des­viá -los de desgraça iminen te (Silên­cio . Os zr ês escu tam bõquiaber tos).O sol vai se pôr , as brumas sobem .v i. olác eas . . . H á se m anas que osvejo p assar e r ep assa r por êstes .ca -

c ..

Page 19: 024 - Cadenos de Teatro

. ,- ., m inh as que de m a nei r a a lguma lo­va m a Hom o ... Vo<: ês não de ix a ­ram o Bru bante, e os sinos q ue ou ­vem sã o os da tôr r e de São Nico­l:JU, de Brux elas. Pela minha úni-ca v ista , avis to daqui os muros

da cidade , as t ôr res de santa, G ú ­dula e o fam oso São · Migue l Gu er­r eiro, t od o d ou r ado, em cima daIl exa de su a t ôr r e de pedra .

DEN OS - É feio cacoar d e três mi­seráveis que n ão en xergam !

DE WITTE - Es tá _m en tindo paran ós . Não é meio-d ia . E já faz se ­m anas que deix am os os P aí sesBaixos!

DE STROP - Tom e cu id ado, La m p ri ­do! Você é um m al vad o! De nuncia­r emos você ao P ap a ! Compadr es,n ão será al gu m b andido de es t r adasqu e vai cortar n ossos tor nozel os '?

Senhor!LAMPRIDO - Pela últ im a ve z lhes

d igo : es tão n o p aí s dos foss os e aes t r ada é t ôd a ch eia de pântano s oprados inundados . Um passo emfal so e desapa r ecer ão ! Dentro empou co descerão as t revas . Vou 1.0­m á-los p ela mão e con d uz i los aorefúg io da abadia , on de passa r ão anoit e . Ei s u m a opo r tu na caridade,e a única que eu quer o faz er.

DE WITTE - Acabemos com is to ! Acaminho! Deix emos êss e v elhacocom seu s d isp ar ates !

_DE STROP - Embora, cegos, tem osdignidade ! A cha que vam os aceit araux ílio de um caolho'? Hav emos deent r ar em R oma, es ta noite a in da !

LAMPRIDO - P ois vão! Entrem emRoma! M as tenham o cui dado de,a n t es, r ecomendar suas a lmas eseus corpos à Providência! Cem vê ­zes cegosaqu êl es que não queremacreditar no caolho (fica aborreci ­do) . Todos os caminhos le vam àmorte! (Z om ban do) É ainda umavaí dad e entre t ôda s, querer bem aopróximo! Prossigam!

OS TRÊS ~ Caminhemos .DE STROP - Adeus, ca olho ! E obri­

gado p ela esmola !DEN OS - Adeu s, r ei dos fossos, r ei

.das r ãs e dos batráq uios!DE WITTE - Adeu s, eco a sne irento !

Trepa de n ôv o na tua á rvore eprega às co ru jas! Chegou a nossavez, amigos . Pra diant e ! E seg u­r em o meu casa co .

DEN OS - Eu seg uro o casaco, s é­gura O me u. Quem vai ii f r ent e?

DE STROP - P ara o oriente ! Di reto :l.J\MPRIDO - Vocês es tão indo puni

(' ociden te ! Direitinho pa r a a lam aí' étida , para o nada. Si gam ! _

OS TRÊS - H onra a.os gloriosos p er e­gr in os da Flandres! (A v an çam .Gj'astando-se . e o canto r eesoa. t .H aec esi dies laudabilis / divil1 l!lu ce nobilis (o cant o se inten- om p e)So corro! Não me empu r r em! . N ãome puxem! L ampridot Socor r o ! Éa águ a! Mi sericórdia! Est amos afu n-

dan do . . . Eu m e afogo: J esu s! Sal­vai-me! (Gri tos ai n da ofegos, e asvozes se extin gue m ).

LA MP RIDO - Nada posso fa zer p orêles ! Os fo ssos são tão profu ndos I

Não ca ntarão m ai s os cegos ! Aca ­bo u-se o seu ca m inh o. " Desca n semcm paz, m eus irmãos, no velh o ba r ­1'0 de que tod o m ortal é formado .A noite av an ça Vou ga nhar den ôvo a m inha árvore, onde , por en ­tre os pássaros ado r m eci d os , r eza­r ei por vossas almas cegas, p ob r esceguin hos . Amém!

(Sai . O car ri lhão soa al egr em en t enos confiri s do cTepiíscu lo ) .

Page 20: 024 - Cadenos de Teatro

" ARA BO NECOS

o NASCIMENTO

NATAL POPULAR DE LI EGE

I quadro JOS É

(Entra JOSÉ à esquerda e atravessaa cena. Bate à porta de Maria)

(Gemendo de dor) O! meu Deus, fuir ecusado. Mas... vou chamá-la se­gunda vez. Maria! Maria! Minh a vizi­nh a !

JOSÉ

MARIA

JOSÉ

lUARIA

Como sei que Mar ia é sózinha e éuma boa mulher , vou pedir qu e medê a sua mão . Com Maria , sere i fe . iUARIAl iz. (chama) Maria! Maria ! Viznha:

JOSÉ(MARIA aparece)

- José! José, meu vizinho!

Maria, se i que há muito tempo você MARIAvive só e não tem nin guém que acon sole ... pela primeira vez, concedame a sua mão!

Não, J osé. Sou moça e quero conti -nua r assim. Boa tarde! JOSí~

(Ela dá a s cos/ns c sa i se m dizermai s na da )

(MA RIA entra)

José! José, meu vizinho!

Maria, pelo a mor do Deu s Pod eroso ,conce da-me sua mão em casa mento.Somos órfãos de pai e mãe! Fare mosum bom pa r juntos.

Não, José! F iz voto per ante Deu s eperante os hom ens de não me casarnunca . Boa tarde , José.

(Ela sai)

(triste ) Recusado nova me nte!

(Vai sair quando desce UIII :lIJjo clliz a Jo sé, qu e se a ti ra a :,?CUS pés) (: ..

Page 21: 024 - Cadenos de Teatro

o ANJO GAJJRIEL - J osó! Jo sé! filho de Daví ! Deus or- .' O~ í~

dena que vás procurar Alaria pel ate r ceir a vez. Ela dará ao mundo umfil ho que ser á feito de t ôdas a s sa n-tas . perfeições. Vai, José! MARIA

JOSf:

l\f.ARIA

O ANJ O

~IARIA

O ANJ O

~IARIA

O ANJ O

l\IA RIA

Obrigado. m eu bom Anj o.JOSÉ

(Q ANJ O voa. José sa i pela es quer­da no mom ento em qu e Maria apa-r ece à direita ) I\JARIA

Talvez com Jo sé seja possív el. Ma snão posso lh e dar minha mão sem oconsentimento de Deu s.

(rea pa rece) Maria! Maria! Eu tesaúdo. Maria . cheia de gr a ça . o Se­nhor é contigo e J esu s. o fruto deteu ventre. é be ndito! Maria! Deu sordena qu e aceites José como esoôso.Nada temas, Maria, pois obterás C\

. graça diante d êle . P orás no mundoum filh o a Quem darás nome J esu s. ISABEL

porque êle ser á grande e se r á ch am a-do a sa lvar o mund o.

_ . (a joelha ndo-se) Como ' pode ser a s·as sim , m eu bom Anjo ? não conhe ço.. l\IARIA

Maria, o Esoírito -Santo te cobrirácom sua so mbr a P elo se u po der , t e-rá s no seio o f ilh o do Al t íssimo, ISABEL

Sou a se rva do Senhor e tudo se faça segundo a vossa palavra!

iUARIAAssi m que ac eites J os é, irás a Be­lém visitar tua prima Isabel que estáno momento em estado muito inte­ressante.

Eu vos a grad eço, meu bom Anjo.

(O AN J O desauarcee. Maria en tra àdireita. Jo s é aparece a E.)

Maria ! Ma ri a , minha vizinh a ! (Apar.te) É na terceira batida qu e a pa re ­cem os dono s.

(Aparecendo) Jo sé! J osé, meu vi­zinho!

Maria, pelo Deus vivo . me ac eita cmcasamento!

José. eu to a ceito!

(Os dois ent r a m cm casa de Ma ri a ,se m mai ores formalidades. Logo de·poi s Maria sa i só, e a travessa a ce­na dize ndo)

Vou visi ta r mi nha prima Isabel.

(E la sai pela esq ue rda e en tr a ummom en to denois nela di reita. Es táem Bel ém . Ba'~ e e Isabel apa rece)

Eu te sa udo. Maria, cheia de graça,o Senhor é co nt igo ! Que aconteceque a mãe de meu Deu s se dign a devir à minha casa?

- Minha a lma glor ifica o Senhor, Isa­bel, e meu filho é che'o de alegriaà lembrança de su as perfeições.

Entra. Maria .(Elas en tram e, a lguns minutosapós, Maria sa i dizendo )

Eu te deixo , minh a pr ima. Vou re­ver José , que me es pera com granode impaciência .

(Ela sai à direita e entra à esquerd ae vai bate r à dirci f. a)Sou eu, José!

(E ntra à dir eita. Chega U JII a ra uto ctocam)

Page 22: 024 - Cadenos de Teatro

(Sai. Tocam no vamente e ouve-se oArauto repetir longe a ' leitura dodecreto. José e Maria aparecem)

<Gritando) Fazemos sabe r qu e todo JOSÉa quê le casado recen temente deve seapresentar em sua terr a na tal ! MARIA

ÀRAlJ'I'O

JOSÉ

MARIA

JOSÉ

MARIA

MARIA

JO SÉ

HOMEM

JOSÉ

HOMEM

HO MEM

- Mar ia , você ouviu ?

- Ouvi, J osé. Temos que partir pa r aBe lém!

- Vamos, Mari a .

- Vamos, José.

(Saem à esquerda e entram à direitaEstão em Belém)

- José! José, estou tã o cansada quenão posso m ais...

- Bem , Mari a , vou bater na porta des­, ta casinha .

(Bate e um hom em apare ce à janela)

- Olá! que é? Ah , é você? Es pere umpou co, que já vou. (Aparece em ce­na) Bom dia, bom dia, me us bonspast ôres, Que quer em ?

Quer emo s saber se há meio de con ­seguir pou sada . Maria es tá tão ca nsada que não conse gue ficar em pé.

Minha boa , gente , o qu e me pedemé impossível. Tudo está che io de altoa baixo, o sótão e o por ão estãoche ios.

Obri gad o, bom hom em, fica para nu­tra vez,

- Es tá bem compadre.

(Volta-se e entra )

o CAMPONÊS

JOSÉ

o CAMPONÊS

JOSÉ

O CAMPONÊS

.JOSÍ~

MARIA

JOSÉ

Bem , va mos adian te .

Sim, José , mai s depressa , sinto queme vou!

(Saem à esquerda e entram à díreí­ta. José bate à mesma porca, Umcamponês (xx) aparece e cumpri­m enta Os visitantes)

- Bo m dia, bom dia, bons patriotas.Que há?

- Meu am igo, poderá nos dar hosptial idade?

- Escute, vovô, está difícil aqu í., Tôdaa casa está cheia de cima abaixo ,É que hoje é dia da fe ira de Beléme veio muita gente. É isto, você che ­gou um pouco tarde .

Sabe, a migo, nós não somos exige n­tes .

- Be m! vou lh es dizer. Tenho a indaa lguma coi sa, mas talvez vocês nãoqu eiram. Tenho o es tábulo. Não égra nde cois a , sa be m. Tem um muroca ído e outro que va i rui r ; ma s m es­mo ass im é melhor qu e na estrad a .Pelo meno s es ta rão abrigados.

- Então, Maria ?

- Eu ace ito , Jo sé.

- Entre mos. (Desaparecem à esquerda.A !l ÓS, Jo sé sai e diz gravemente.) MeuDeus! Meu Deu s! qu e descubro? Ma·r ia que es tá num ' estado interessan-te ! Que fa zer ? Vou -me ,êmbora voubuscar minhas coisas e a dei xo .

(Neste mom ento O ANJO aparece,J osé ajoe lha )

c ..

Page 23: 024 - Cadenos de Teatro

....

o ANJ O

JOSÉ

OS PA STôRES

O ANJ O

UM PAS TOR

O ANJO

OS PA STüRES

í\:-_

- J osé! José! Por qu e tem es? O que UIU MAGOMar ia traz em seu se io é obra deDeus por gra ça do Espírito Santo.E la porá no mundo um filho a quem OS MAnO Sdarás o nom e de J esu s, porque êleserá gra nde e semelha nte ao pai.Êle virá para sa lvar o mundo...

Obri gado, An jo. U iU MAGO

(JOSÉ entra e O ANJO desaparece,Ouvem-se os past ôres guiando os re­banhos e, sem mudança de cenário,estamos num vale )

HERODES- Bichos sujos...

Vão andar. a gora ? Err .Que é isso'? U M MAGOQue é isso'?É o Anjo!Aj oelh emos! HERODES

(Fazem o sina l-da-cr uz)OS MAGOS

- Past ôr es do va le ! Venho vos an un ­ciar a che gada do n ôvo re i dos Ju­deus, o Salvador do mundo. Id e visi­t á-lo em Be lém.

Mas como ha vemos de reconhecê-lomeu bom Anjo '? Pois é pr eciso qu ese diga que nunca o vimos.

- Ide até o fu ndo d êste va le e verei s. o Menino de itado num estábulo.

- Obri gado. meu bom Anjo!

(O Anjo desaparece e os Past ôre sse levantam)

E is uma novidad e, então . Muito bem !Reco lhe mos os an ima is e vamos de .pr essa a Belém .

(Saem, tangindo à sua fr ente ore·banho, qu e perman ece invi sível. Apa- JOSÉre ce uma estr êla.j

- Va mos , meu s ma gos, siga mos a es­trêlal

- (Em c ôro) Sim. sigamos . a ' estr êla .meus magos! Siga mos a es tr êla t

(A estréia desaparece)

_ . E is que a estr êla desapareceu . Seráaqui que o rec ém-na scido, r ei dos

- Judeus. veio ao mundo '?

(Neste momento, aparece Herodes)

Ah! bom dia . r eis Magos, que novi ­dad e vê-los aqui !

- Ser á que o senhor, bom rei Herodes,tem a intenção de ir ad orá-lo '?

- Sim, meu s reis magos, tal vez. Boav iagem! r eis magos.

AtJ~ l ogo. bom rei Herodes!

(Herodes sa i. A estr êla rea pa rece )E is a estr êía de n ôvo. (Saem r epe­tindo: )

Sigamos a estréia , meus magos. Si­ga mos a estr êla!

II Quadro

~.l\'IANJEDOURA

(V ê-se no meio da cena o MeninoJesus, repousando s ôbre a palha damanjedoura. Em volta d êle UIII boi ,um burro e um carneiro - menores.batendo nos jo elhos de José. Grandequanthlade de velas coloridas ,a ce­sas. Bate,m à !IOr~a. Jo sé r espondei)

Entrem. (Os past ôres entram e seajoelham diante do pres épio.)

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. '\ .

OS PASTõRES

1.0 PASTOR

JOSf;

2.0 P ASTOR

3.0 P ASTOR

{JS IUAGOS

.JOS I~

- Que lin do!Que graça!Como é parecido comigo! f; a minhacara! E está r indo para mim !Bom dia , me nino! Que olhos lindos';que olhinhos tão bon it os!Que gracinha! Ah, se eu tivesse ummenino as sim ...

(Finalme nte, um na stor se -lcva nsac se dirige a Jo sé)

Bom patr iota , o senhor - tem muitasorte de ter um fil ho assim tão bo­nito! E u lhe dou um boi , que lhedeixo par a aquecer os pés do me ni­no.

Muit o obr ga do, pastor. (Sa i o 1.0Pastor)

Eu lhe dou um b ur ro . Guar de -o pa ­r a diverti r o men ino.

Guarde também o meu ca r ne irinhopara alegrar o menino!

(Os past ôr cs sae m. Vê-sc a est rê l»a na rc cer , parar sôhrc a lap,inha ;;de saparecer de nôvo. -Depois, ouve -selá fora:)

- Si g<l 1110S <1 estréia , r eis magos. Siga­mos a cstr êla :

(Ba tem à !)orla)

Entre!

JOS É

JOSI-';

2.0 1\1AGO

J OS É

.mas o encontro numa situação horrive!! Mas, eu o adoro, lin do menino"e lhe rendo t ôda s as homen a gen sque lh e são devid a s, e fa la re i di ssoa meu povo. (Levanta-se) Tom e.bom patriarca, o único ouro qu etrago comigo, eu lhe dou , afim deque cuide do menino e assim qu echegar à minha terra, lh e enviareiouro e prata para a j udá-lo a cr iaro menino.

Muito obrigado, bom mago!

(O nrimeiro ~Iago sa i, batem à purta.) -

E nt r e!

(Entra II rei ne gro)

Como, doce Salvador. bom l\lessi<ls . énesse estado que venho encontrá- lo?Numa m anjedoura ? Num es tá bulo,entre a nima is! Mas, mesmo a ssim,Senh or , nós o ador a mos na sua s im- 'pli eid ad e, como rei do céu e da ter­r a . Deus Sal vador, nós vim os a suaestr êla que nos a pareceu no Ori cntcpara anunciar a sua vinda. Não tc ­nho, caro menino , nem ouro ne mprata comigo. mas tenho mir ra : c,:za r a nto quc é a joia ma is preciosado me u reino , pois é t ôda a minha ri­qu cza . (Ergue-se) Tome, bom pat r i ­a rc a , eis a m irra.

Ob r igado , bom Ma go .

1.0 lUA VO

(O nrimcirn dos 1lI;l gO S se a nrcscuae se a joelha )

JO SÉL ind o m cn uro. Como es to u co n tu n t cde 1('1' c ilq ;a d c) s:iu c sa lvo ! I. l! fe l i ~ :;.0 iU1U;Om en te, 'I ão venho enco un -á -Io CH!'-rcgu4ó de r iquezas, HUI!! pul ácio,

(Sai () Etiopc, Ba tem),

Entrc!

~ j.;i ::; - ln c ve jo meni no. diant e d e su a«a ugus tu maj estad e, grande r eí do

c éu C da terra , nosso verdadei ro c .-

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. ....

JOSÉ

OS l\IAGOS

Deu s! Senhor, qu e tomou corpo e alma no se io desta santa mulh er equ e veio ao mundo de uma maneirasingular, num estábulo de a nimais,em vez de nascer num pa lác io , entrepríncipes, num berço de ouro e en­volto em linho fino. É que quereisnos mostrar, com isso , que não amaismenos a pobreza que a r iqueza. Aocontrário , preferis os pobres, po isnascestes de uma pobre mulher. Euvos adoro, doce Jesus e dou gr a ça spor todos os louvores qu e mereceis.'Assim que volte ao meu pai s, fal a­rei ao s meu s súditos . (A José) 'I'o­me, senhor, só tenho comigo êsteincenso , mas lh e garanto que é amaior r iqueza da mi nha terra . Quei­me-o em ho nra a J esu s.

Obrigado, bom Mago!

(O Mago sai. Ouvem-se, fora, os ma­gos em c ôro)

Eis a estr êla de n ôvo. Sigamos a es­trêla, r ei s ma gos, siga mos a estr ela .

(Assim que cessa o c ôro, o Anjodesce e entoa um canro de natal po­pula r , que o público repete em côro)

FANO

(x ) .este auto de Nat al, transcrito da revist a Nos Spe c-. tacles, (n. 88, out. z'ôz ) é representado tradiconalmente pe­las marionetes de L íege . conf orme texto taquigrafado, du­rante uma representação, pel o fa moso fol clorista R. dcWarsage .

Pode ser interpretado também por crianças.

(xx ) O Chanc het no or iginal é personagem-tipo dasmarionetes de Liege , como o Pulcinela é italiano e . oGuignol é lionês. ·Não há cspetá culo de mar ionetes sem êle.O Camponês é a personificação da farsa campesina, es­perto , brincalhão, conversador e engraçado, dc familiari­dade desconcer ta n te , aliando a bonhomia e a audácia, ()burlesco c o sér io.

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nos JOUNAIS

TEATRO POPULAR EM PARIS

Th ereza Cesário Alvim,

P or t ôd a a Franca en con t r am -se h oje espalhadas 20'"Maisons de la Cultur e" : Criadas e . m antid as pelo go v êr ­no francês, estas ca sa s v isam a desp ertar e al im en tar oín ter êsse cu lt ural nas di versas camadas da popu la çãofrancesa - princip a lm ente aq uelas de menor p oder aq ui ­sitivo que , por isso mesmo, costumam manter -se à m ar ­ge m da v ida in t el ectual e artíst ica do país .

A pr imeira " Maiso n de la Cu lt ure" d e P ari s acaba deser criada , ten do com o ce ntro um te atro : "Tbéâ tre del'Est P a r is ien " (T EP) . Situad o em Ménilmon ta n t , o TEPé o primeir o tea tro daque le ba irro onde nunca havi amsido vist os cs petá cu los de q u a lquer espécie (a não ser naba se da ímprovisa çâo) . Embora seus diret or es se queixcm da fa lt a de espaço, as aco moda ções do TEP podemser , dentro de nossos padrões, con sid eradas luxuosas. Den­tro de algum tempo, a. ca sa d ev er á contar com sa las espe­c:ai s p ar a cinema, con fe rências, exposições plástica s, bi ­bliote cas. etc. Mas a sa la de t eatro que já exist e é de pri­m eira classe e está sen do b em a pr oveitada no s primeirospassos dessa "Maison d e la Culture" .

A li sã o exibi dos filmes de arte, ap r esentado s conce r­tos de músic a cláss ica e jazz , ou vidas con ferên cias e.p r in cipalmente, montadas peça s de bom teatro . Nos finsde sem an a , o público é con vidado a comparecer ao TEPnas primeíras horas da ta r de . O programa começa comcin em a e termina com teatro . T erminado o filme, inicia-sea montagem do cenário diante do público que, nesta oca­si ão, entra. em contato com os el ementos da com panh ia tea­t r al aue ali se apresenta ,

Ô TEP foi inaugur ado em outu bro de 63 e co nta agoracom treze m il aderentes dos quai s dez mil m oram no lesteparisiense, isto é, numa zona consíde r ada proletária . Oaderente ' participa mais intensamente das atividades da" Ma iso n de la Culture" ; mas também o público das outraszonas te m pr esenciado os primeiros es pe tác ulos do TEP,em' vi sta das críticas m u it o e logiosa s que lh e fize ram oscomentar istas da imprensa fran cesa .

Em co nversa com o Sr . Pierre Taupier, r elações pú ­blicas do TEP, pergunteí de que m odo foram conseguid os,em tão p ouco tempo, tan tos es pe ctador es permanentes .Explicou-me o Sr . 'I'aupier que a com panhia. d ramática"La Guílde", principal animadora do TEP, já se ex ibiuem Ménilmontant numa sala pequena e improvi sada, h áse te anos . Seu público, hoj e en tusias ta de teatro, foi co n­quistado aos poucos e à cus ta. de muito es fôrço . A êss eses pectad ores, automàticamente lev ados para o "Théâtre deI'Est Parisien", uniram.se ou tros at r a ídos por al guma pro­paganda feita através de sind ica tos; cl ubes , escolas , etc.A va r ieda de de espetác u los ap resen ta do s naq uela sa lacon t r ib ui , n atura lm en te , para aumentar o in terêssc do

' público .

o Sr . Tau pier é u m ho m em de tê rmos p r áticos . "Ote atr o - di sse-me êle deve funcioanr como u ma espécie des uperm er cado: o es pectador, ao ver uma peça, dev e tervon tade de ver outra, d e com prar um liv ro do m esmo a u­tor , de assisti r a um filme sôbre o m esm o tema, etc . . .P a r tindo de um es petáculo vi sto com inter êsse, o es pecta­dor pode desenvol ver ao in fin ito sua vi da cu ltur a l - de­penden d o, natu ra lm ente, de sua própria capacidade inte­lectual e dos m ei os que t iver ao se u alcan ace . O papelda "Maison de la Culture" é, depois de desper tar o in te­r êsse do público, facil it ar-lh e ao máx imo a ampliação doseu pano ram a cult ur a l."

"O TEP - conti nua o Sr . Taupler - nã o é uma es ­co la . Ac r editamos que o hom em deve e pref ere aprende ra pensar s ózínho . Cada uma da s peças a qui apresentadasé lig eiramente ex plic ada no programa di stribuído en treos esp ectad ores: a.li êles r eceb em também indicações sôbrca ob ra do autor, uma pequena bibliografia com ela rela- 'cionada, etc. Esperamos que , dentro de pouco tempo, en ­centrem êsses livros na própria "Maison de la Culture" .

O "Théâ tre de l'Est Parisien" parece-me r epresentarum passo adiante no cam in ho da popularização do tea tro,n a França. Em fas e ainda inicial, o TEP não pode ter ascaracterísticas de so lidez que ho je apresenta, o TNP . M<lS;quem se deixa empolgar pela platéia altamente partici­pante do "Théâtr e National Populaire" n ão deve esq u ecerque ela signifi ca quatorze anos de um trabalho seríssimo,paciente e muitas v êzes angustiatne, como explica J ea nVilar. Também deve ser lem br ado, no que diz respeitoao TNP, que um te a t r o s it uad o no centro de Paris pres­supõ e, po r parte do público vindo de bairros longínquos,ma ior gabar ito cultu ral. A platéia do TNP, formada nas ua maior parte por es tudantes, foi a t r a ída ao TNP, comoo se ri a a u ma grande ca p ita l, a uma cid ade do h omemm od erno . Êsses es pectadores não precis aram ser "fisga­dos" em mares profu ndos ; sua r eceptividade ampliou-se ,natur al men te, em eon tato com a equipe de J ean Vilar ­ma s o ae ôrdo mútuo foi b em facili t ad o por um preparointelectual, ainda que n ão especificamente ligado à artedramática , que êles possuiam em grau p elo m enos razoá ­vel . Simplificando: os es tudan tes, os jornalista s. os médi­cos. os professô r es, os ·técn icos, etc . que formam op úblico vi b rante do TNP, não pularam "de um auditóriode TV para a pl atéi a. do TNP; não passaram diretamenteda "Série Amarel a" para Samuel Beckett: m esmo quandoignorantes da f'ôr ça do teat r o, não vi vi am tot almente ~

margem ' da vida cu lt u r a l de se u país .O que h oj e fa z Planch on na "Maison d e la Culture"

de Ly on, e o TEP em P aris, é a t ra ir para essa vida cul ­tural , através d o tea t ro, m ilhares d e hom e s total m en t eindiferentes a q ualquer man ife stação a r tí sti ca . Indif er en ­tes por ign or ância , com o fico u provad o, pois as ade sõesconseguidas pel o TEP em dois meses de existên cia mos-

t ..

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• J

".

tr am que, uma ve z acer ta da. a dosa gem in icial . o h om emreconhece a necessida de e a eficiê nc ia das in je ções de"saber" q ue lh e são ofer ecidas .

Para nós que tanta dificuldad e encontr am os em lotarnossos teatros, que mesmo oferecendo gratuitamente en­tredas para u m espetáculo, não consegu imos, na m ai oriadas vêzes, a trair o nú mero de sejado de espect adores ­sobretudo qua ndo os q uer em os recruta r nas chamadasclasses popular es - o sucesso do TEP é quase um enig­ma. P r ocu ra ndo d ecifrá-lo na con versa que mantive como Sr . Taup ier , obtive a impressã o de que a. cultura estápara o povo francês mais ou m enos como a "boa v ida"está para o povo brasileiro. Um escritor americano dizia,não me lembro exatamente q uando e on de, que a di fe­rença de ' mentalidade dos franceses e am eri canos, comre lação à cu ltura, é causa da pelos nom es das ruas d as ci­dades onde êles crescem; enquan to as cr ia nç as francesa sbrincam em ruas chamadas Vi ct or Hugo, L arn artin e, Mo­li ór e, e tc . • as ameri canas brincam em r uas apenas nume­radas ou de nomes sem qualquer signif icação, não têmpa ra bri nca r r uas chamadas William Faulkner, HermanMelvill e, e tc . Real mente, t ive ocasião de ob servar o q uan ­to se procura ensinar o respeito e o amor pe la cultura àscrianças f rancesas . Em P aris, elas são levadas semanal ­men te pel os se us pr ofessôr es a museus e à "ComédieFrançai se" ; mesmo em cida des afastadas de centrosculturais , com o a peq uena cidade do sul da França ondefiz m eu terce iro ano pr im ário, são os trechos dos b ons au­tores que servem de leitura. escolar - e os m elhores pin­tores são conhecidos atr avés de r ep roduções de su as obr as .A músi ca n ão é o forte do povo fr ancês; mas, ainda as­sim, duvido que um ginasiano de P ari s ou da s provínciasdesconheça o nom e de Debussy ou de Darí us Milhaud . Se2 dureza da v ida im ped e, quase sem pre, essas cr ianças dele varem adia nte se us estudos, se os homens se desinter es­sa m po r teatros e m useus para os quais não têm temponem dinheir o suficiente, a sem en te plantada durante a suain fância tem vida longa no ín ti m o da mente dê sse s ho­mens. O TEP é um exem plo dêsse fato : levando o teatroa -u m bair r o de gente apar ente m en te desinteressada emqualquer espécie de arte, recebeu excelente acolhida . Ote atro deix ou de ser , para êles, diversão de "gente ri ca" .

(D o jornal : Última 110r a - 2-;;-6'1) .

CONGRESSO DE EDIMBURGO

B á7' bam Heliodora

A - Drú1JW Conjer ence r ea liz ou-se de u ma segunda­Ieira a um sábado, in clusive, e cada tarde era dedicadaintegralmente a um dos seguintes ass un tos: a) Quem fa zo teatro de hoje: c a ut or, o di r etor ou o ator? b) P osi­ções diversas do au to r (engajamento 'Is . absurdo ou anti­r ealismo); c) O teatro e seus rivais : rela ções com cin e­ma, televisão e out r as artes in terpretativas: d) Subven ­ção c Censu ra ; e) Nacionalism o no teatro ; f ) O futuro d ote a tro.

o probl ema do a utor foi o maisa pai xonante dos temas disc utidos (noCong resso de Dram a . em Edimbur go- 1963) . pois a pareceu em quase Io­dos os dias de deba te.

Os . problemas mais debatidos cmtórno de aut or foramo do engaja men­to e o da integridade ou in to cabilida ­de do texto na mon tagem do espetá ­culo . O pri meiro a vir à tona foi o da'intoca bIda de do texto : Harold Clur­ma n defendeu a tese de qu e há mo­mentos em que o diretor precisa mu­da r o texto (de acôr do com o autor,

. pref erivelmente ), por necessidade doesp etá culo, Wolf Mankiewitz, cu jaobra não é das mais significativas naIn glaterra a tua l, pr opunha que em to-

. dos os contr a tos de .pr odu ção fiqu eclaro que cada pal avra do autor é in ­tocáv el , e foi apoiado com mais inte ­ligência po r Arnold Wesker. PeterShaff'er, também autor; pensa que otexto é de qu em o esc reve até o iníc iodos ensaios quando. por intermédio dodiretor, passa a per ten cer ao atar, eque o a utor pr ecisa apre nder a ace ítal' as nova s maneir a s de com preendersua própria obra que então possamaparecer ; des de que sua inten ção f i­qu e intocada , o tex to pode ser subme ­t ido a a lterações qu e a tornem maisclara.

Infeli zmente, o ponto de vis ta doatol' fo i fraquiss imamen te defendidopor Judith Ande rsen. qu e a legou quehá mom entos em qu e o lex to tem deser a lterado "porq ue o atol' não con ·se gue dizê-lo como es tá" ; e enquant oo critico alemão Frederich Luft . diz ianem pod er compree nde r o problema, "

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a contecea r tist a,

que está

pois na Ale ma nha Ocidental o texto éin d iscut íve l, escol h ido pelo dr ama tur ­go e en tregue a um .d íretor e a umgr upo de at ôr es, cuj a obriga ção é en­cen á-Ia ta l e qua l, o brilhantíssimoMartin Esslin arrematava a discussãocom a idéia de que há três tipos detea tr o, o do auto r, o do d ír et or e odo a to l'. e que o grande problema ésaber a qual dos três pertence umtext o, que deverá entã o se r r esp eitadona med ida adequada.

O probl ema do engajamento não sefêz es perar . As sa lvas de estilo fo ramdadas por Bernard Levin, cr ít.co in­glês. que inicou o segundo dia de deba te s com um ataque ao teatro derealismo-socialist a , que continha abguns a rgumentos vál idos, mas qu eexorbitou largam ente do que seria as­sunto em pauta, recaindo em pr ímarís­simos ataques às esque r das em geral.A gra nde maioria dos partícpantes,que se colocava à esquerda, do centro.pro .estou; os poucos comunistas (ex­ce ção fe it a aos soviéticos, qu e nuncase manifestaram ) quase trucidaram odesastrado Levín , que serv iu apenaspara garantir a vivacidade dos deba­tes subsequentes.

O ponto crucial do problema do en­gajamento é o da definição do t êrmo:há o gr upo de ex trama-esquerda e deafiliação manifest a e partidàriam en tecomunista , que enquadra engajamentonuma concepção político-partidária quetorna o teatr o instrumen to de divul­gaç ão de uma determinada ideologia ,e há todo um outro gr upo de esque r­da que prefere a plicá-lo a todo aqu ê­le t eatro que se prende a o homem eà socie dade e se us problemas.

Na peq ue na publicação que se rv ia ,bem ou m al , de progr a ma para aqu ê­les qu e iam a ssistir aos debates, expli­ca-se qu e Martin Esslin dividia o tea­tro contemporâneo em três gr upospri ncipais, a saber:

rea lis mo-soc ia l ou neo-reali smo;épico ou brech ti anoabsurdo (com desculpas pa ra os de­

fei tos do têrmo) ,que seri.a o teatro de im agens, me­

tá foras poéticas, que r etra ta as incer­tezas qu e asaltam o nosso mundo, sej aem ideologia , seja em es tética.

Hou ve objeções a t ôdas essas clas­sifica ções, e realme nte os debates tor -

nararn -se . interess a ntes pela atitud eque tomava m os var ias par ti cip an tesa nte sua posi ção para com Q . teatro eessas passiveis categori a s. e a funçãodo tea tro na socie dade . Aqui vãoalgumas notas tomadas no momento '

ADAMOV: Os qu e dizem que o tea­tro engajado é ru im. porque procurafazer propa ganda partidária . do comu­nismo , são a quêles que só admitemum teatro ant í-comun ís .a .

J ohn ARDEN: O teatro tem, antesde tudo, de se r teatral, seja êle en ga­jâdo ou não, e tem a obrigação fun­damen tal de es ta be lecer ca nta ta como público. O te atro não pod e mudar asociedade.

Harold HOBSON (crít ico): O teatrode Arden par ece, como o de Ionesco,te nder par a o r itual.

WESKER (para Arden) : Você negaa . influência do teatro sôb re a soc ie ­dade?

ARDEN: Não , m as o quemais pr ecisamente é que ocom se u gênio, refle te aquilono ar naque la sociedade. -

Harold PINTER: Qua ndo se temduas pesso as num palco, o que acon­tece é um drama socia l; se o que elasdizem é absurdo, o que temos é dr am asocial ab surdo. Como autor , o que euprocuro fazer é botar no papel umdiálogo que seja meti culoso. pr eciso,vera deíro. para depois transferi-lopara o palco de fo r ma meti cu losa ,pr eci sa e verdadeir a.

AD AMO V: É preciso m oti var o for­malismo, juntar as du as coisas. Nãoesqueçamos que um dos fa tores de­te rmina ntes do teatro do absurdo oude va nguarda . de duas pes soa s numpa lco vaz:o, é o fa tor econ ôrn ico : fico.mais barato do qu e o gra nde teatrodos gr a ndes poeta s.

PINTER: É pr eciso acabar com aidé ia de que só os brech tianos é quetêm relação com a Vida, a Hum ani­dad e. o Bem etc., tudo com maiúscul a.

ARDEN: Ap re ndi muito do meu me ­ti er com Br echt por qu e êle sa be comotomar um tem a de outra época e fa­zê-lo viver pa ra nós ; e êle sabe, por­que va i a té a essência primordial das ignif icação dêsses te mas .

Pe ter SHAFFER: O mau te atro doabsu rdo é aqu êle qu e ninguém ente n­de, e o ma u teatro enga ja do é aq u êle

no qu al se ouve um ser mão : as dua sfor ma s tê m de se r re lacionadas entres i e co m a sociedade.

O que ficou sem dúvida pa tente nes­sa reunião é qu e não há autor queconsider e a sua obra independente dasociedade que o cerca; os conflitosa pa recem apenas nas maneiras de ca­da um expressa r a ligação existente.

SUBVENÇÃO E CENSURA

A questão da censura foi uma dasduas únicas a provocar uma vot açãoespecíf.ca em Edimburg o, sendo apro­va da por un animidade uma declaraçãodos compone ntes da Confe rência con­tra t ôda e qu alquer censur a teatral. Opr imeiro orador da tarde Ici GeorgeDEVIN E, que tratou da qu es tão daCensura e da Sub ven ção com aquelaobjet ividade e cla re za que foi po ss ívelaprecia r no Brasil quando de SUR vi ..sit a, principalmente ao tratar dos pro­blemas qu e tem enfrentado com acensura ingl êsa em seus oito anos deapresent ação dos ma is modernos a uto­res ingl êses no Royal Court. A obj e­tivdade de Devine foi contagiante efo i pos sível estabelecer cinco panora­ma s diversos sô br e o binômio em qu estão durante a tarde: o inglês, o ame..ricano, o fr a nc ês, o de pa íses socia lis ­tas de gra nde su bsídio estatal e, se mressal va s, o de países soc ia listas deintegra l Subsídio estatal.

Deixando de parte o fato ' de que to­dos os que usaram da palavra tinhamum nú mero elevado de hist órias div er ­tidas sôbre a incoerência e a tradicio­nal certeza de vista de t ôda e qual­quer censura , podemos reduz ir do se ­guinte modo as posi ções apresentadas:

In glaterra e Comunidade Britânica :A subve nção teatra l é pouca, limitadaa a lguns grupos, t end e a a umen tar(ha ja vis ta a recente criação de umTeatro Naciona l de Londres) e a ce n­sura , r a ra mente ou nu nca é de natu ­reza po litica. Via de regra a censuratem na tu reza moralizante em bases vi­tor ia nas e se pre nde rep etidamente iiproibição de determinadas pa lavras,se ja por mo ti vos morais, seja por re ­cônditas influências da Igreja Anglica ­na, que é a reli gião oficial do país Nãoexiste codificação da dita cens ura. fi ­ca ndo a cri tério de ca da Lorde Cha rn-

c ..

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ber lain nomeado pela rainha aprovarou não o texto. Devine defende a po­sição de responsab .l ízar o pr ópri o p ú­

·1J lico pela censura: só por lei o qua -dro pode ser môdi fica do. e só por ummovimento iniciado pelo p úblico jun­to ao Parla mento é que essa nova leipoderá ser passad a .

Estados Unidos: Edward ALBEEconf essou sua inv eja da In glaterra ;em seu país não existe quase nenhumteatro subvenciona do e não existe ne­nhuma censura oficial. Em compensa­ção. o teatro tem de ser com ercial etodos os habitantes da men or aldeiaamer ica na se consideram aptos a de­fend er a moral e se tornar consores.Se houvesse um Lorde . ChamberIa in"pelo menos seri a um só homem comquem se poderia argumentar e a quemse pod eria culpar pela deformação dostexto . Existe ta mbé m um a formapior de censura, que é a dos produ­tores que se recusam a montar qual­quer pe ça que julguem possa ofenderesta ou aquela parcela da população.Se com subvenções do Gov êrno o tea­tro se arrisca a enfrentar um pr oble­ma possivelmente maioj- da censura.pod e também ser menos comercial ; éum ri sco qu e deve ser assumido .

França: Arthur ADAMOV diz queexistem duas censuras, a oficial e aoficiosa, e que a situação er a essamesma antes do Govêrno atual. Paradar exe mplo de como funciona o me­canismo, diz que sua obra Paolo Paolinão merece nenhuma censura oficial,mas que grupos que recebem subvenção foram discretamente av isa dos deque cor r iam o risco de perdê- Ia semon tassem o texto .

Países de grande subvenção, nãonacionalistas: Tanto a Suécia quan toa Alem anha Ocidental testemunharamno caso qu e qualquer forma de censu­ra federa l é desconh ecida nos dois. Avida teatral é perfeitamente es táve le os espetáculos se mult ipli cam, mas osautores são poucos e é inegável a exi s­tência da censura em nivel municipal(o ficiosa) na Alema nha. Mais gravedo que isso , diz Mar tin WALSER, jo­vem autor a lemão. é uma auto-censu­ra voluntá r ia por parte dos pro dut o­re s ( i. é. , responsáve is pelos inúmerosteatros estaduais e municipai s ) e au­tores , sendo que tan to Walser quan to

Ossia tRILLING, que í'alo u depois,conside ram que êsse tip o de censurapode re sultar mai s grave e castrantedo que a que pa r te de outr em . MaxF'fUSCH. declarando que nunca teveuma peça censurada em nenhum dosv ár .os paises onde foi vista sua obra.lembr a que o as pecto bom da censuraé que ela entra em confli to com os in­te lec tua is que vêm consequ entementea público lembrar a tod os os defei tose limitações de seus Govêrnos. De qual.quer fo r ma , defend eram todo s a posi­ção ideal : sub sídio int egral sem ne­nhuma censura.

Pa íses socia listas de teatro esta tal:Tanto da Iugoslávia quanto da P ol ô­

nia, houve depoimentos que falam daboa elasticida de na censura teatral, eque quase tod os os textos imp ortantesconte m porâneos chega m a êsses pai ­ses, ma is cedo ou mais tarde, sendoque em ambos o r ealismo-socral íst a éem grande parte rejeitado por ra zõesteatrais e estét icas. Infeli zmente ore·presentante sovié tico, que ta mbém fa­lou . e que vem de um país onde exis­te uma níti da censur a de form a econte údo te atrais, com muita inge­nuidade ficou inteiramente por forado assu n to; fêz um discurso preparado, lírico e inócuo, que fala va da be­leza da arte teatral e do talento deStanislaviski, mas que nem de longetocava em subs ídio ou censura.

Para quem conhece os caprichos,mistér ios e ridículo s da nossa pr ópr .a

censura, o pr oblema é já sur rado, masa ad equação dos dois problemas. sub­venção e censura, é importante e ne­cessita atenção; a necessida de atual desubsidios maci ços para o teatro já éponto pacífico. mas o Congr esso deEdimburgo, nos longos debates queci r cundar am as posições acim a descri ­tas. sublinho u a mpla mente a igual ne­cessidade de total libe rdade do teatro.que não pod e ser reduzido ao nível demero veículo de pr opagan da.

(00 Jornal do Brasil)

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Movimento

mo DE J ANEIR O

Teatral

Melhor atri z coadjuvante : MARGARIDA REY, peloconjun to de suas in ter pr et ações em o CíRCULO DE GIZe OS DIREITOS DA MULHER, de Afonso Paso, produçãode Vasco Mor gado.

Re velação de atol' ; FAUZI ARAP, em A MANDRÁGO­RA, de Maqu iavel .

Mel hor autor: FRANCIS CO PEREIRA DA SILVA, comO VASO SUSPIRADO, apresentado pelo Teatro Jovem.com direçã o de Kleb er Santos .

Melhor tradução : MANUEL BANDEIRA, por O CíR­CULO DE GIZ, de Ber tolt Brecht .

M elhor fig urinista ; PAULO J OSÉ (A Mandragora)

Não foram atribuidos os prêm ios de Revelação deAtr íz e de Melhor Cenó grafo.

Nada de nôvo no panorama te atral carioca Uma re ­trospectiva do a no de 1963 nos leva a cons tatar qu e omelhor espet ácuío apresentado ao público carioca fo i um acontribuição paulist a , A MAND RÁGO RA , de Maquiavel .pe lo Teat ro ·.d e Arena de São Paulo .

Com ótima dire ção de Augusto Boal e aprese ntand oum bom co nj unto de a t ôres em que se salientava a excep­cio nal interpretação de Fauzi Arap, A MANDRÁGORAfoi apresentada no princ ípo do ano, durante al gumas se·manas no Teatro Santa Ro sa e r eceb eu . merecidamente ,d ivers~s prêmios do CíRCULO INDEPENDENTE DE CRÍ·TICOS TEATRAIS (CICT ) d o Rio de Jan eir o .

1963 - I'J tf: iUIOS DO CíRCU I,O ["WEPENDE NTE DECRíTICOS TEATRA' S (CICT)

Melhor espet áculo : A MANDRii.GORA , de Maquiav el,pelo Te atro de Aren a de São Paulo.

~Ielhor dire çâo : AUGUST O BOAL. por A MANDRii.­GORA , de Maquiavel.

Mel hor a tol': RUBENS CORREIA. em A ES CADA , deJorge de Andrad e, pelo Tearo do Rio.

Melhor a tr iz: FERNANDA MONTENEGR O, em MAR Y·MAIlY, de J ean Kerr, produção de Oscar Ornste in.

Melhor a to l' 'coadjuva n te: ALBER ICO BRUNO, em OCIRCU LO DE GIZ . de Ber tolt Brcch t, pelo Teatro Nacio­11<11 de Comédia.

SÃO PAULO

O TEATRO BRASILEIRO DE COMÉDIA festejou osse us 15 anos de existê ncia com o sucesso sem precedentesde ' Os Ossos do Barão" de Jorge Andrade, que quebroutodos os r ecordes de bilheteria da ernpr êsa . O papel prin ­cipa l da peça, qu e con tin u a em cartaz , es tá entreg ue aopopu lar có mico Zeloni .

O gra nde a contecime n ' o teatra l da temporada pa ulis tafoi , todavia , a a scens ão do TEATRO OF ICINA ao ro l dos"gr a ndes" com a encenação de "Os Pequeno s Burgueses",de Gorki , di r igido por J osé Celso Cor r eia.

O grupo. qu e ob ed ece à or ie n taç ão de Ronaldo Daniele Re nato Bor ghi , pa rec e te r a tingido, com essa p roduçã o.um nív el de a m a dureci mento art ístico qu e merece u r asoga dos elog ios de t ôda a imprensa .

SHAKESPEAHE ANAS

L ONDHES (BNS) - Muitas cidades e vilarejos br i­tânicos já preparara m seus pro g ramas pa ra cel eb ra r n edi a 23 de abrl l do próximo ano, o IV Centenário do nas ­cimen to de William Shakespeare .

A lgu m as d es .as festividades se r~itarão ao s meses.de abril e mai o, po r ém as q ue dever ão ser rea lizada s emL ondres c mui compreen sive lmen te em Stratfor d-on -Avon(cidade nata l do poeta ) prolonga r-se-ão (!oté fins de 1964 . ( ..

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o Conselho de Belas Artes, de Londres, deu à publi­cação um amplo programa de comem or açõ es .que abarcade sde uma temporada internacional no Aldwich Theatre(sede lon cll'ina da, Royal Shakesp ea r e Co rnpany) até pe­ças musicais de. grandes compositores que se inspir a r ampara seus trabalhos em obras do imortal va te inglês. Si­multâneamente a êstes acontecimentos, uma exposiçãoilustrará a influência exercida por Shakespear-e nas artes.

A temporada no Aldwich Theatre compreende apre­sentações da Comedie Française, do Piccolo Teatro, deMilão, do Teatro Schiller, de Berlim. No Teatro Nacional(anteriormente sede do Old Vic) Sir Laurence Olivierrepresentará "Otelo".

óPERAS E CONFERÊNCIAS

No Teatro Mermaid (construído no Ri o Tâmisa en­tre as docas da City) serão encenadas "A Tempestade" e" Macbeth ". Para o mesmo teatro preparou-se também umprograma variado que terá como fundo a vi da e a épocade Shakespeare .

STRATFORD·O N·AVON

O Programa na cidade de nascimento de Shakespeareinaugurar -se-à a 23 de abril de 64 com a temporada doRoyal Shakespeare 'I'h eatr e. em cuj o r ep ertório figura m"Ricardo II", "Henrique IV " (p artes I e II) e "Hen­rique V" .

Richard Buckle, conhecido em t ôda a Grã-Bretanhapor seu talento em levar a ca bo ex posições pouco com unspreparou já para Stratford s eqü ência s cin em atográficasem branco e prêto , quadros e vestimentas que deverãoser tão divertidas quanto in st rutivas . Est a exposição de ­morará d e abril a agôsto, quando deverá ser então transportada para Londres .

Entre os outros fes tejos de Stratford fig uram: a abe r­tura do nôvo Centro Shakespeareano (23 de abril) e umfes tival de po esias (d e julho a ag ôsto ) .

Entre as cele braçõ es mais im po r tantes nas ou tras ci­dades cont am-se: um a exibição de algumas obras da Bi­blioteca Shak esp eare na Ga leria de Bel as Artes, d e B ír­mingham; uma sé ri e d e: conferências na. Un iversidade dam esm a cidade (entre cujos oradores está J. B . Priestley);e uma temporada teatr a l e cinematográfica. Das fest ivi-­dad es de Bri stol d est aca-se um p rograma teat r al desti ­nado a mostrar como se desenvolveu , h ist or icam ente, ogê ne ro de obras em q ue Shake speare se tornou imorta l .

O ÚLTIMO DESCENDENTE DE SHA K ESPEARE

Northarnp to n t em um importan te vínculo hi stóric.:com Shakespeare . Sua neta e últ ima descend ente, LadyElizabe t h Barnard, viveu em A bington Abbey, e em cujocc m íté rio se us ' rest os r epousam ag ora para, sem p re.

Entre os princip ai s a tes sim b qlicos a serem ali rea li­zados, fi gura o planti o de uma am oreira n o jardi m da

casa de Shakesp eare, em New Place, Stratford-on-Avon,po r Sir Laurence Oliver. Em Northampton, serão tam­bém r ealizados uma exposição shakespeareana especial ea r epresentação da peça "O Rei João".

Lincoln, tanto quando Northampton , é outra cidadein gl êsa que se orgulha de seus vínculos com Shakespeare.Ricardo II deu a espada cerimonial a Lincoln quando Johnde Gaun t - um famoso personagem de Shakespeareer a governador do castelo. A história. dêste último e deCatarina Swinford é um dos ep isódios mais fascinantes dah íst ória local .

Um dos grupos teatrais de Lincoln encenerá "Ricar­do II" com o parte de um festival de três sem anas . Outraprodução interessante a. ser ali encenada será uma anto­logia sôbre o tema geral do mundo de Shakespeare, quedev erá abarcar o trabalho do dramaturgo e poeta bemcomo incluir canções, bailados e comentários contemporâneos sôbr e o poeta.

NóVO TEATRO

Um teatro que duplique seu tamanho da. noite pa rao dia a fim de acomodar numeroso público e representarobras de alto luxo, é idéia do arquiteto londrino El idirDavies, r esp on sável por projetes semelhantes há mais de20 anos.

Tal é o se u último trabalho arquitetônico para o Tea­tro Nacional de Gales, no Castelo de Cardiff, na Galesdo Sul.

O nôvo teatro terá um teto móvel que poderá serlevantado ou baixado para variar o número de poltrona.s.Tôda a operação m ecânica, diz o arquiteto, executar-se áem menos de 30 minutos e proporcionará ao teatro 1 .500assentos para produções de grande luxo, como óper as oualternativamente, um auditório menor, com 300 poltronas.para peças teatrais mais ín timas, como dramas .

O teatro terá a forma de um leque e o cenário, umformato ovalad o. T anto o ri sco do tra çad o com o os m a­teriais de superfície dura em pregad os n a cons trução,permitir ão ajuste autom ático para uma a cúst ica perfeita.

ZIEMBI NSKI NA POLÓNI A

No tícias publicadas na revis ta "Le T h éâtr c en P o­logno" (n. ? 8/ 1963) nos dão con ta de q ue , depois de sua chc.gada à Polôn ia em julho, ZIEMBINSKI . já r ealizou diver­sas confe r ências abor da ndo problemas da cult ura bras llei­r a e de que Ioi co nvida do pelo Teatro Stary de Cracóviapara dirigir um a peça brasileira moderna.

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LlYUO§ NOVOS

A Visita da Velha Sen hora na Colcçã o Teatro Modernoda Agir

o QUE DIZ DüRRENlUATT SôBRE

"A VISITA DA VELHA SENHORA"

"A Vi sita da Velha Senh ora" é uma hlst ór la' que sepa ssa numa. pequena cidade, em al guma parte da Eu ro paCentral, esc ri ta por alguém que não se distancia , em ab so­luto, do s seus habitantes e que não tem muita certeza eleque proced er ia de modo difer en te do dê les ,

Eu des crevo s êres humanos, e não t ít e res, uma ac âoe não a legoria e apresento um mundo e não uma moral,como , de onde em onde, arb itrà r i ámen te, me a tribue m ;che go mesmo a não procurar confrontar mi nhas peças como mundo real, po rque tudo isso ocorre r á por si m esmo ede m odo na tural. .

Eu esc revo movido pela confiança, em mim arraigada ,que te n ho no tea tro na sua r ealidade mater ial .

mô do, do pav or, surge qual quer coisa ex tremamente pes­so a l, um hom em que experimenta a justiça, de se u pró­p rio se r , porque reconhece a su a cu lpa, e q ue se agigantana m or te (a qual não carece de um certo car áter monu­menta l). Su a morte é, do m es mo passo, lógica e absurda .S àm ente lógica. seria ela no reino mítico de uma antigap olis . Mas acon tece qu e a hi stória se passa em G üll e . nNa atualidade . Às volt as com os heróis, estão os habi ­ta nt es de Güll en, homens como todos nó s .

"A Visita da Vel ha Sen hor a" é uma peça m á, masj ust a me nte por isso, nã o deve ser representad a de m odomau, senão, ao con trá r io, de mo do mais hum ano passi ve i,com trist eza , não com cóler a, mas, tamb ém com um certobo m h umor , pois nada prejudicaria tanto esta comédia.que acaba tràglcamente, q uanto u rna excessiva ser iedade .

O TEATRO, de Sta r k Young, em ~ radução de Barbara

Heliodora, Editôra Letras e Artes

Clara Zàhanassian não sim bo liz a ajustiça nem o pl a - .no Marshall ou , sabe-se lá , o Ap ocal ipse : ela é tão som enteo que é, ou se ja a mulher mais r ica do mund o. com con - JOANA D'ARC ENTRE AS CHAiUAS (2.a edição) , de Pauldiç ões. graças a sua fortuna, de ag ir como heroína detragéd ia grega, absoluta. cru el, q ualquer coisa como uma Cla udel, tradução de D. iUarco s Barbosa, pel a Coleçã oMedéia . É um lu x o que ela se pode dar . A Velha Se-:ihora , tem humorism o, e é im possível isso pa ss e desp er - Teatro Moderno, de Agir.cebi do, pois guarda dist ância em relação aos homens.como a mercador ia que pode adqu irir-se, e em rel a çãotam bém a si mesma . Po ssui al ém disso , um estranho do-naire, um en canto perverso . No en tanto. m ovendo-seda es fe'a humana, é ela oualquer coisa imutá vel , in teiri -çada . sem mais po ss ibilida des d e de senvolvimen to, a nãoser . para petr if icar-se, conver ter- se num ído lo de pedra.-.;~ uma fi gura poética, 'b em com o, o se u séquit o, inclu in -do-se a té os eu n ucos . J á que Clara não tem desenvolvi-m enta . é uma heroína desd e o pri m eiro mo mento, quemse to rna h erói é o seu antigo amante . Pobre e sórdidomerceeiro, cai nas gar r as dela, se m o sa ber logo no co-mê ço e, cu lpado , é da op in ião q ue a vida se incumbi usozin ha d e apagar a cu lpa: uma fig ura de hom em sem'id ea is, si mples , em cujo espír ito lentam ente a través d o

c ..

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Publicações e textos ã disposição dos

leit ores n a secretaria d'O TABLADO :

eRGAuto da Compade cida , de Su assu na ooo. . oo. o..Bódas d e Sa ngue, de F o Garcia Lo rca oooo. oo. o.D o Rosita , a. Sol teira, de F o Garcia Lor ca . , ooA 'Harpa de Erva , de Trum an Capote oooo.. . .A Lo nga J ornada No ite a Dentr o, de O'Ncill. o.O Living-roorn , de Gr ah am Gr een e . oooo. oo. oNatal na Praça, de Henri Ghéon ooo. ooooooooPedreira da s Almas e O Telescópio, d e J . An-

drade o oo. ooooo. oo. o.. oooo. ooooo' . . , .. oo. oO Rinoceronte, de Ionesco . ooo. oo. o ooo. . oYerma. .de Garcia Lorca o. , . o. ooooooo ' 0 ' 0 ' oJoana D 'A r c en tr e as ch amas, d e Paul Claudel.A vi si.ta da Velha Senhora, de Du rrenmatt. oooTeatro Infantil, de Maria Clar a Mach ad o . o, . oTeatro (O Cavalinho Azul , A Volta do Camal eã o

Alface, e o Embarque de Noé), de M o C .Machado . o' oooo. , oo. o. ooo. o. . . ooo.. ooooo

O Urso, de Tchekov oo, . oo. , . , o.. , ooooo. ooo. ooA Farsa do Advogado Pathelin o. . , . o. o.. oo. o.CADERNOS DE TEATRO - exem pla r avulso oAssinatura (4 números) . . . oo. o. o, . o... . oo. . .

500,00500,00500,00500,00500,00500,00500,00

500,00500,00500,00500,00500,00500,00

500,00100,00150,00150,00600,00

Pedi dos para o TABLADO; A v . L in eu de P aula Machado.795, J ardim Botân ico, Ri o de J aneiro - Gu anabara .