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Os Jovens Portuguesesno Contexto

da Ibero-AméricaJosé Machado Pais

Cícero Roberto Pereira(coordenadores)

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Capa e concepção gráfica: João SeguradoRevisão: Soares de Almeida

Impressão e acabamento: Manuel Barbosa & Filhos, Lda. Depósito legal: 418791/16

1.ª edição: Dezembro de 2016

Imprensa de Ciências Sociais

Instituto de Ciências Sociaisda Universidade de Lisboa

Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 91600-189 Lisboa - Portugal

Telef. 21 780 47 00 – Fax 21 794 02 74

www.ics.ulisboa.pt/imprensaE-mail: [email protected]

Instituto de Ciências Sociais — Catalogação na Publicação

Os jovens portugueses no contexto da Ibero-América / coord. José Machado Pais, Cícero Roberto Pereira. -

Lisboa : Imprensa de Ciências Sociais, 2016ISBN 978-972-671-379-1

CDU 316.3

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ÍndiceOs autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21José Machado Pais

Parte IValores, atitudes e perceções

Capítulo 1Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis . . . . . . . . . . . . 33Cícero Roberto Pereira

Capítulo 2Perceções de violência social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53Simone Tulumello e Cláudia Casimiro

Capítulo 3Sexualidade e métodos contracetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75Sofia Aboim

Parte IIConfiança nas instituições democráticas e participação

Capítulo 4A participação social e política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93Pedro Moura Ferreira

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Capítulo 5Os jovens frente à democracia e às suas instituições . . . . . . . . . . . . . . 109Marcelo Camerlo e Andrés Malamud

Parte IIIEducação, trabalho e futuro

Capítulo 6Educação e inserções profissionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121Vítor Sérgio Ferreira e Jussara Rowland

Capítulo 7Uso de novas tecnologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141Ana Nunes de Almeida e Ana Delicado

Capítulo 8Diagnóstico do presente, expetativas sobre o futuro . . . . . . . . . . . . . . 155Sérgio Moreira

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173

Anexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179Questionário A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181Questionário B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191

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Índice de quadros e figuras

Quadros

1.1 Ordenação média e desvios-padrão dos problemas que os jovens consideram mais importantes .......................................................................... 38

1.2 Coeficientes de regressão multinível que representam os pesos dos fatoresexplicativos nas dimensões organizadoras das preocupações dos jovens ibero-americanos ............................................................................................... 42

1.3 Médias e desvios-padrão das atitudes dos jovens em relação a temas socialmente sensíveis......................................................................................... 44

1.4 Coeficientes de regressão multinível que representam os pesos dos fatoresexplicativos das dimensões das atitudes dos jovens ibero-americanos em relação a temas socialmente sensíveis........................................................ 47

1.5 Indicadores contextuais usados como fatores explicativos nos modelos de regressão multinível...................................................................................... 51

2.1 Mortalidade por homicídio voluntário em função do género (%) ............... 582.2 Correlacoes bivariadas entre a percecao de violencia e indicadores

socioeconomicos, de percecao de vitimizacao social e de inseguranca........ 632.3 Perceções sobre a situação económica do país relativa à situação

antes do 25 de abril (%) .................................................................................... 652.4 Perceções de violência urbana (%) ................................................................... 682.5 Correlações bivariadas entre ter presenciado a ocorrência de brigas

com uso de armas e indicadores socioeconómicos........................................ 682.6 Perceção de violência familiar nos últimos doze meses (%).......................... 702.7 Correlações bivariadas entre a perceção de violência doméstica

e indicadores socioeconómicos ..................................................................... 723.1 Médias e modas da idade da primeira relação sexual entre os jovens

dos 15 aos 29 anos por sexo e país/grupos de países...................................... 783.2 Coeficientes de regressão estandardizados que representam a relação

entre a idade da primeira relação sexual e os indicadores sociais.................. 81

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3.3 Coeficientes de regressão logística não estandardizados que representama relação entre não ter relações sexuais e os indicadores sociais.................... 83

3.4 Jovens que indicaram ter usado métodos contracetivos na primeira relação sexual (%).......................................................................... 85

3.5 Jovens que indicaram a razão de usar preservativo (%) ................................. 874.1 Participação organizada por sexo, escolaridade e situação perante

o emprego (%) ................................................................................................... 994.2 Associativismo dos jovens segundo os países (%) .......................................... 1024.3 Pertença associativa dos jovens por sexo, idade, escolaridade

e ocupação (%) .................................................................................................. 1034.4 Razões da não participação (%) ....................................................................... 1054.5 Jovens que indicaram participação em redes sociais (%) ............................... 1075.1 Coeficientes de regressão não estandardizados dos preditores

da confiança na democracia e nas suas instituições ....................................... 1155.2 Confiança dos jovens na democracia e suas instituições............................... 1187.1 Modo principal de uso da internet por grupos de países (%)........................ 1447.2 Modo principal de uso da internet em Portugal por escalões etários (%) ....... 1447.3 Modo principal de uso da internet em Portugal por nível de escolaridade

completo (%) ..................................................................................................... 1457.4 Modo principal de uso da internet em Portugal por condição perante

o trabalho (%).................................................................................................... 1457.5 Principais usos da internet por grupos de países (%)...................................... 1477.6 Principais usos da internet (combinação) por grupos de países (%) ............. 1487.7 Principais usos da internet em Portugal por sexo (%) .................................... 1487.8 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por sexo (%)............ 1487.9 Principais usos da internet em Portugal por escalões etários (%) .................. 1497.10 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por escalões

etários (%) .......................................................................................................... 1497.11 Principais usos da internet em Portugal por nível de escolaridade

completo (%) ..................................................................................................... 1507.12 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por nível

de escolaridade completo (%) .......................................................................... 1507.13 Principais usos da internet em Portugal por condição perante

o trabalho (%).................................................................................................... 151

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7.14 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por condição perante o trabalho (%) ...................................................................................... 151

7.15 Principais usos da internet em Portugal por tipologia familiar (%)............... 1517.16 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por tipologia

familiar (%) ........................................................................................................ 1528.1 Itens (percentagens/médias e desvios-padrão) das variáveis em análise............. 1588.2 Itens das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro em Portugal ........... 1598.3 Médias, desvios-padrão e número das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro para a amostra global ......................................................................... 1608.4 Médias e desvios-padrão das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro para a Espanha.................................................................................... 1628.5 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro em Portugal ....................................... 1658.6 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro noutros países.................................... 1668.7 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro em Espanha....................................... 167

Figuras

1.1 Hierarquia das principais preocupações dos jovens ....................................... 361.2 Dimensões organizadoras das preocupações dos jovens ............................... 391.3 Representação das médias da concordância dos jovens com os temas-alvo

de atitudes socialmente sensíveis ..................................................................... 441.4 Dimensões organizadoras das atitudes dos jovens face a temas

socialmente sensíveis......................................................................................... 462.1 Homicídios voluntários por cada 100 000 habitantes, 2000-2012................ 572.2 Taxa de homicídios voluntários por sexo e faixa etária em Portugal

no ano de 2010.................................................................................................. 582.3 Perceção dos problemas mais importantes que afetam os jovens (%) .......... 602.4 Médias da perceção de violência...................................................................... 612.5 Linhas de regressão a representar a relação entre perceção de violência

e taxa de homicídios ......................................................................................... 64

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2.6 Perceções negativas sobre a situação económica do país relativa à situação antes do 25 de abril por escalão etário (%)...................................................... 66

3.1 Rapazes em cada grupo etário que indicaram a idadeda primeira relação sexual (%) ........................................................................................................... 79

3.2 Raparigas em cada grupo etário que indicaram a idade da primeira relação sexual (%) ........................................................................................................... 79

3.3 Jovens que indicaram ainda não ter relações sexuais por sexo e país/gruposde países (%) ...................................................................................................... 82

3.4 Jovens portugueses que indicaram ter feito uso do preservativo e da pílula contracetiva em cada categoria de idade da primeira relação sexual (%)...... 86

3.5 Jovens que indicaram não ter usado contracetivos na primeira relação sexual (%) ........................................................................................................... 88

5.1 Valores médios da confiança na democracia por país/região ........................ 1115.2 Representação da mediana e da dispersão da confiança dos jovens

portugueses nas instituições democráticas ...................................................... 1115.3 Valores médios da confiança dos jovens ibero-americanos

nas instituições políticas ................................................................................... 1135.4 Valores médios da confiança dos jovens ibero-americanos nas instituições

não estatais ......................................................................................................... 1136.1 Nível de escolaridade por país/região (%)....................................................... 1236.2 Total de estudantes por país/região (%) ............................................................ 1256.3 Condição de estudante por nível de vida subjetivo em Portugal (%)........... 1266.4 Razões de abandono escolar antes de completar o ensino secundário

por país/região (%) ............................................................................................ 1266.5 Médias da perceção sobre a escola por país/região ........................................ 1286.6 Perceções sobre a escola em Portugal (%)........................................................ 1286.7 Médias das percecoes sobre a escola por nivel de vida subjetivo

em Portugal........................................................................................................ 1296.8 «Tive uma boa educação secundária» por país/região (%) ............................. 1306.9 «Por que considera ter tido uma boa educação secundária?»

por país/região (%) (resposta multipla)............................................................ 1306.10 «Está a trabalhar atualmente?» por país/região (%) ........................................ 1326.11 Jovens que não estão atualmente a trabalhar e se encontram à procura

de trabalho por país/região (%)........................................................................ 133

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6.12 Procura de trabalho por nível de vida subjetivo em Portugal (%)................. 1346.13 Jovens trabalhadores incritos na segurança social por país/região (%) ......... 1346.14 Importância atribuída aos descontos da segurança social para obter

uma pensão/reforma no final da vida laboral por país/região (%) ............... 135615 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por país/região (%) ............................................................................................ 1366.16 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por condição de estudante em Portugal (%) ................................................... 1366.17 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por grupo etário em Portugal (%) .................................................................... 1386.18 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por nível de vida subjetivo em Portugal (%)................................................... 1386.19 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por procura de trabalho em Portugal (%)........................................................ 1397.1 Modo principal de uso da internet em Portugal (%)...................................... 1437.2 Principais usos da internet em Portugal (%).................................................... 1467.3 Principais usos da internet (combinação do uso 1 e uso 2) em Portugal (%).. 1468.1 Representação das médias das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro em Portugal......................................................................................... 1598.2 Médias das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro noutros

países (O) comparados com Portugal (PT)...................................................... 1618.3 Médias das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro

em Espanha (ES) comparada com Portugal (PT)............................................ 162

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Os autoresAna Delicado é investigadora auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da Uni-versidade de Lisboa (ICS-ULisboa). Doutorada em Sociologia, trabalha princi-palmente na área dos estudos sociais da ciência. Tem desenvolvido investigaçãosobre museus e cultura científica, risco ambiental, mobilidade científica, asso-ciações científicas, energia e alterações climáticas. É vice-coordenadora do OBSERVA – Observatório de Ambiente, Território e Sociedade.

Ana Nunes de Almeida é socióloga e investigadora coordenadora do ICS-ULis-boa, onde é também presidente do conselho científico. Coordena o programade doutoramento interuniversitário em Sociologia, OpenSoc (Sociologia – Co-nhecimento para Sociedades Abertas e Inclusivas). Áreas de investigação maisrecentes: família e escola, crianças e crise, crianças e novos media, crianças e ca-tástrofes.

Andrés Malamud, doutorado em Ciência Política pelo Instituto UniversitárioEuropeu, Florença, é investigador auxiliar no ICS-ULisboa e professor visitantenas Universidades de Buenos Aires, Católica de Milão e Salamanca. Tem obrapublicada sobre integração regional comparada, instituições de governo, políticalatino-americana e migrações transatlânticas.

Cícero Roberto Pereira é investigador auxiliar no ICS-ULisboa. Doutorou-seem Psicologia Social Experimental pelo Instituto Universitário de Lisboa(ISCTE--IUL). A sua investigação analisa o modo como diferentes tipos de jus-tificações são usados pelos atores sociais para legitimar ações e políticas discri-minatórias contra grupos minoritários e a função identitária dessa legitimaçãonas sociedades democráticas contemporâneas.

Cláudia Casimiro, doutorada em Ciências Sociais, na especialização de Socio-logia Geral, pelo ICS-ULisboa, é, atualmente, membro integrada do CentroInterdisciplinar de Estudos de Género (CIEG/ISCSP-ULisboa) e professora au-xiliar convidada no ISCSP-ULisboa. Os seus domínios de investigação: socio-logia da família, género, tecnologias de informação e comunicação, relaciona-

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mentos online, metodologias qualitativas, violências na intimidade, violênciafeminina e violência familiar.

José Machado Pais é investigador coordenador do ICS-ULisboa. Foi coorde-nador do Observatório Permanente da Juventude e vice-presidente do Diretórioda Juventude do Conselho da Europa. Tem uma extensa obra publicada, daqual se destacam os seguintes livros: A Prostituição e a Lisboa Boémia; Artes deAmar da Burguesia; Culturas Juvenis; Sousa Martins e Suas Memórias Sociais. Socio-logia de Uma Crença Popular; Consciência Histórica e Identidade; Sociologia da VidaQuotidiana; Ganchos, Tachos e Biscates. Jovens, Trabalho e Futuro; Nos Rastos da So-lidão. Deambulações Quotidianas; Lufa-Lufa Quotidiana. Ensaios sobre Cidade, Cul-tura e Vida Urbana; Sexualidade e Afectos Juvenis; Enredos Sexuais, Tradição e Mu-dança: as Mães, os Zecas e os Sedutores de Além-Mar.

Jussara Rowland é doutoranda em Sociologia no ISCTE-IUL e foi investiga-dora no Observatório Permanente da Juventude do ICS-ULisboa entre 2010 e2015. Já trabalhou como investigadora em vários projetos de investigação ecomo consultora na área da responsabilidade social empresarial. Atualmente ébolseira de investigação no projeto CUIDAR – Culturas de Resiliência à Ca-tástrofe entre Crianças e Jovens financiado pelo programa Horizon 2020.

Marcelo Camerlo é coordenador do Presidential Cabinets Project (com CeciliaMartínez-Gallardo) e atualmente responsável pelo workshop em política com-parada e relações internacionais do doutoramento em Políticas Comparadas doICS-ULisboa. Doutorado em Ciência Política pela Universidade de Florença,especialista em políticas sociais e licenciado em Comunicação Social pela Uni-versidade de Buenos Aires. Foi investigador auxiliar no Centro de Estudos deEstado e Sociedade (CEDES), docente na Universidade de Buenos Aires e in-vestigador convidado no Helen Kellogg Institute for International Studies daUniversidade de Notre Dame.

Pedro Moura Ferreira, doutorado em Sociologia pelo ISCTE-IUL, investi-gador do ICS-ULisboa e membro do Instituto do Envelhecimento da mesmauniversidade, é atualmente responsável pelo Arquivo Português de Informa-ção Social. Desenvolve investigação nas áreas do envelhecimento, curso devida e género. Tem como publicações mais recentes os livros As Sexualidadesem Portugal: Comportamentos e Riscos e Mulheres e Narrativas Identitárias: Mapasde Trânsito da Violência Conjugal. Tem atualmente em curso dois projetos deinvestigação: «Processos de envelhecimento em Portugal: usos do tempo,redes sociais e condições de vida» e «Informação sobre saúde da população

Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Os autores

portuguesa: conhecimentos e qualidade percecionada das fontes de informa-ção sobre saúde».

Sérgio Moreira é licenciado em Psicologia pela Faculdade de Psicologia daUniversidade de Lisboa e doutorado pelo ISCTE-IUL em Psicologia Social.Tem experiência em investigação fundamental na área da cognição social, emparticular no estudo de ilusões de memória e da maleabilidade dos estereótipos.Tem coordenado e executado projetos de caracterização das perceções das co-munidades sobre grandes alterações ambientais, promoção da comunicação denovos empreendimentos e participação pública. Atualmente é professor auxiliarconvidado das disciplinas de Estatística na FPUL e, paralelamente, exerce ati-vidade como consultor em psicologia do ambiente.

Simone Tulumello, doutorado em Planeamento Urbano e Regional pela Uni-versidade de Palermo com uma tese sobre os sentimentos de medo do crimeem planeamento urbano, é, desde janeiro de 2013, investigador pós-doc noICS-ULisboa. O seu projeto principal visa questionar criticamente as políticasde segurança urbana na prática institucional de planeamento urbano. Os seusinteresses abrangem: teorias e culturas de planeamento; estudos críticos sobresegurança urbana; poder e políticas de planeamento; estudos de futuros, TICs e governança territorial; tendências urbanas neoliberais; cidades do Sul da Europa; a geografia da crise. É autor de Fear, Space and Urban Planning (2017,Springer).

Sofia Aboim, doutorada em Sociologia (ISCTE-IUL, 2004), é investigadoraauxiliar no ICS- ULisboa e membro do GEXcel − International Collegium forAdvanced Transdisciplinary Gender Studies, sediado nas Universidades de Lin-köping, Karlstad e Örebro, na Suécia. Os seus interesses de investigação têmvindo crescentemente a incluir temas como género, sexualidade e cidadania.Tem publicado livros e artigos sobre estas temáticas, coordenando atualmenteo projeto «TRANSRIGHTS – Gender citizenship and sexual rights in Europe:transgender lives from a transnational perspective», financiado pelo EuropeanResearch Council.

Vitor Sérgio Ferreira, doutorado em Sociologia, na especialidade de Sociologiada Comunicação, Cultura e Educação, pelo ISCTE-IUL (2006) é investigadorauxiliar no ICS-ULisboa, coordenador do grupo de investigação LIFE – Per-cursos de Vida, Desigualdades e Solidariedades: Práticas e Políticas do ICS--ULisboa, vice-coordenador do Observatório Permanente da Juventude do ICS-ULisboa e docente no doutoramento em Sociologia – Conhecimento

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para Sociedades Abertas e Inclusivas (programa interuniversitário Open-Soc).Tem desenvolvido e coordenado vários projetos de investigação, nacionais einternacionais, na área das culturas juvenis e das transições para a vida adulta.Entre as várias publicações, destacam-se os livros Jovens e Rumos (ICS, 2011),Tempos e Transições de Vida: Portugal ao Espelho da Europa (ICS, 2010) e Marcasque Demarcam. Tatuagem, Body Piercing e Culturas Juvenis (ICS, 2008). Tem publi-cado em revistas internacionais de referência na área da juventude, como Youth& Society e Young – Nordic Journal of Youth Research.

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Cícero Roberto Pereira

Capítulo 1

Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis

Quais são as principais preocupações sociais dos jovens nas sociedades ibero--americanas e que posicionamentos assumem perante temas socialmente sen-síveis? A literatura sobre estas questões tem sugerido que a forma como as pes-soas se posicionam perante os vários aspetos da sua vida social reflete os seusvalores pessoais porque estes representam forças motrizes capazes de organizaras atitudes e os interesses das pessoas e dos grupos sociais (Schwartz 1992). A centralidade que os valores assumem na organização da vida social é atribuídaao facto de os princípios axiológicos atuarem como fatores estruturantes nãoapenas da vida das pessoas, mas também da organização da sociedade (Hitline Piliavin 2004; Rohan 2000).

Os valores são normalmente definidos como crenças e modos de se posicionarno mundo, isto é, formas de pensar e agir desejáveis e socialmente partilhadas.Por exemplo, Kluckhohn (1968) refere que um valor age na vida das pessoascomo se fosse uma conceção de vida sobre «o desejável» enquanto imperativotranscendente às várias esferas da vida social. Posteriormente, Rokeach (1973)simplificou esta ideia e traduziu-a no conceito de crença duradoura sobre com-portamentos (e. g., obedecer às leis) ou princípios-fim (e. g., a liberdade) queuma pessoa acredita que a sociedade prefere que sejam postos em prática. Re-centemente, Schwartz e colaboradores (Schwartz et al. 2012) apresentaram umateoria sobre a natureza e organização dos valores humanos em que articulam aideia de Rokeach (1973) sobre valores como uma crença sobre comportamentose princípios-fim com a proposta de Kluckhohn (1951) de analisar um valor comouma conceção sobre o que é desejável. Desde cedo Schwartz (1992) concebe osvalores como motivações individuais que transcendem situações específicas,acreditando que a força motivacional dos valores se expressa nas atitudes e com-portamentos dos indivíduos, o que vem a colocar em relevo o aspeto funcionaldos valores já assinalado por Parsons e colaboradores na teoria geral da ação (Par-sons e Shias 1951).

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Uma visão menos funcionalista e individualizante dos valores foi propostapor Pereira e colegas (Estramiana et al. 2013; Pereira, Camino e Costa 2005).De acordo com esta perspetiva, os valores atuam como princípios socialmentecompartilhados sobre a forma como a sociedade deve ser organizada. Alémde terem força motivacional suficiente para guiar a ação social, os valores tam-bém expressam conceções ideológicas que representam as identificações sociaisdecorrentes da inserção concreta das pessoas em grupos e contextos cultuaisaos quais passam ao longo da vida. Esta conceção de valores remete-nos à ideiade que, além de representarem princípios fundamentais que orientam a açãoindividual, os valores também representam as prioridades que as sociedadesatribuem aos diferentes objetivos e metas a serem atingidos. Assim, para alémde os valores poderem ser analisados como crenças duradouras que guiam avida das pessoas, podem também representar princípios-guias de uma socie-dade, definindo assim a nossa conceção de valores culturais (Pereira e Ramos2013).

Um exemplo desta forma de analisar os valores foi apresentada por RonaldInglehart na sua obra A Revolução Silenciosa. Inglehart (1977) propôs que as di-ferenças culturais refletem uma interação complexa entre o desenvolvimentosocioeconómico e a prioridade que cada sociedade atribui a dois conjuntos devalores, designados por valores materialistas e pós-materialistas. A ideia centralna teoria de Inglehart é a de que o desenvolvimento económico gera mudançasno sistema de valores culturais que, por sua vez, produzem um efeito de feedback,alterando os sistemas económicos e políticos das sociedades. Depois de alcan-çada a estabilidade económica e a segurança da população, a sociedade passariapor uma revolução silenciosa ao nível dos valores culturais, revolução que seriacaracterizada pela atribuição de maior relevância a objetivos e metas «pós-ma-terialistas», representados pela prioridade que uma sociedade dá à realizaçãodas aspirações individuais dos seus cidadãos, à garantia da liberdade de expres-são irrestrita, à valorização de aspetos estéticos, à participação política e à pro-teção do ambiente (Halman e Morr 1994; Inglehart e Baker 2000).

A ideia fundamental no estudo dos valores culturais é a possibilidade de osvalores afetarem a visão do mundo das pessoas em cada contexto social e assiminfluenciarem as suas preocupações e atitudes em relação aos temas mais im-portantes das suas vidas (Inglehart e Baker 2000; Pereira et al. 2005; Schwartz1992). Diante desta possibilidade, o foco da análise centra-se em saber em quemedida os valores se relacionam com as atitudes e os comportamentos das pes-soas. A investigação empírica a esse respeito tem mostrado o papel central de-sempenhado pelos valores nas avaliações subjetivas que as pessoas fazem sobreaspetos socialmente significativos das suas vidas. Por exemplo, Almeida e cole-gas (2006) mostraram que a classe dirigente está mais próxima do que as res-

Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis

tantes dos valores da realização pessoal. Vala e colegas verificaram uma relaçãosistemática entre a adesão aos valores de igualdade e atitudes de maior aberturaà imigração, bem como entre os valores de conservação e a oposição à imigração(Ramos 2006; Vala, Pereira e Ramos 2006). No domínio das atitudes políticas,Freire e Kivistik (2012) mostraram a centralidade dos valores na definição dessasatitudes e Almeida (2003) mostrou a relação dos valores de conformidade eabertura à mudança com as atitudes dos portugueses face à socialização dascrianças num contexto familiar. Esses estudos mostram que os valores podemser, de facto, princípios organizadores das atitudes das pessoas face aos mais va-riados aspetos da vida social.

Assumindo a centralidade dos valores na organização da vida social, interessa--nos saber se esses valores desempenham algum papel na vida dos jovens ibero--americanos e se contribuem para a perceção que têm dos principais problemasnos seus países e para a definição das suas atitudes face a temas socialmente sen-síveis, como o aborto, a legalização da maconha, o casamento entre pessoas domesmo sexo, a abertura à imigração, mas também em relação à pena de mortee à prática do suborno, aspetos relevantes na vida quotidiana desses jovens.

Neste sentido, o objetivo deste capítulo é analisar a hierarquia das preo -cupações e atitudes dos jovens portugueses em relação a vários domínios dasua vida social, comparando estas preocupações com as de outros jovens ibero--americanos. Além disso, procuramos identificar se os valores culturais atuamcomo princípios organizadores dessas preocupações e atitudes. Para o efeito,analisamos dados obtidos no 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas realizadopela Organização Ibero-americana da Juventude durante o 1.º trimestre de 2013.O primeiro conjunto de dados que analisamos é indicador das principais preo-cupações dos jovens nos países em que vivem. O segundo conjunto de dadosé indicador de atitudes dos jovens face a seis temas: aborto, legalização da ma-conha, casamento entre pessoas do mesmo sexo, imigração, pena de morte esuborno. A nossa estratégia analítica foi descrever o posicionamento dos jovens,procurando situá-los no contexto das ideias e atitudes dos jovens dos outrospaíses, designadamente os da Espanha, do Brasil e do México, além de posi-cioná-los em relação aos jovens de dois grupos de países: América Central(Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e RepúblicaDominicana) e América do Sul (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador,Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela).

Valores e principais preocupações sociais dos jovens

Quais serão os princípios organizadores das preocupações dos jovens ibero--americanos e como podem estes princípios ser descritivos dos valores culturais

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mais salientes nos países em que residem? Para responder a esta questão recor-remos a um conjunto de indicadores que foram colocados a metade da amostrade jovens que compõem o 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas. Pediu-seaos jovens que indicassem, de entre uma lista de sete temas, dois dos que cons-tituem os problemas mais importantes que afetam a juventude no seu país.1 Asrespostas obtidas permitiram-nos observar uma hierarquia das principais preo-cupações sociais dos jovens portugueses comparativamente com os dos outrospaíses do inquérito. Iniciando pela análise do conjunto da amostra, os aspetosque mais preocupam os jovens ibero-americanos são os problemas relacionados

Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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1 Especificamente, pedia-se aos jovens que indicassem «quais são para você os dois problemasmais importantes que afetam atualmente a juventude do seu país?». De seguida, era apresentadaa seguinte lista de situações sociais: problema com o emprego; problemas económicos; delin-quência e violência; uso de drogas e alcoolismo; acesso à educação de qualidade; acesso à justiça.Notamos que a maneira como a questão foi feita e a forma como as alternativas de respostaforam colocadas permitiam aos participantes selecionar uma das alternativas mais do que umavez e, portanto, não são mutuamente excludentes. Esta possibilidade levou-nos a usar um sistemade codificação ordinal para cada problema selecionado por meio da atribuição dos seguintes va-lores: 0, quando a alternativa de resposta não foi selecionada; 1, quando foi selecionada apenasuma vez; 2, quando foi selecionada mais do que uma vez. Esta estratégia pareceu-nos particular-mente interessante, uma vez que nos permite traçar uma hierarquia das preocupações dos jovense analisar as suas motivações sociais subjacentes.

Figura 1.1 – Hierarquia das principais preocupações dos jovens*

2

1,5

1

0, 5

0

Méd

ias

das

orde

naçõ

es

Domínios das preocupações dos jovens

Violência Emprego Drogas Economia Educação Justiça Saúde

* A diferença na hierarquização das preocupações dos jovens é significativa segundo o teste de Friedman: χ2 < 2(gl = 6, N = 9403) = 10 607,20).

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Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis

com a violência, enquanto os domínios indicados como de menor preocupaçãosão os relacionados com a justiça, a educação e a saúde. Entre estes dois extre-mos situa-se a preocupação com o emprego, o uso de drogas e a economia emgeral (figura 1.1).

A questão que nos colocamos é a de saber se esta hierarquia varia consoanteos países onde os jovens vivem, situando a posição dos jovens portugueses noquadro mais geral dos problemas selecionados pelos outros jovens ibero-ame-ricanos. Como podemos observar no quadro 1.1, e de uma maneira geral, oconjunto dos jovens da amostra é relativamente consensual ao situar a educa-ção, a justiça e o acesso à saúde como os domínios da sua vida social que sus-citam menor preocupação, excetuando os jovens brasileiros, para quem estestrês aspetos os preocupam mais do que preocupam os jovens dos outros países.No conjunto dos países analisados, os jovens de Portugal e Espanha são os quemostraram menor preocupação com o acesso a uma educação de qualidade.

Olhando para o extremo dos problemas que mais afetam a vida dos jovens,verificamos que a preocupação dos portugueses com o emprego ocupa umaposição central não apenas na hierarquia das suas preocupações, mas tambémquando comparados com os jovens de outros países. A preocupação com oemprego também afeta os outros jovens, mas com muito menor intensidadedo que afeta os jovens portugueses. De facto, ao analisar o padrão geral obser-vado no quadro 1.1, constatamos diferenças significativas na hierarquizaçãodos problemas que mais afetam os jovens em cada país: enquanto os portugue-ses se preocupam mais com os aspetos que nos remetem para uma dimensãovalorativa cujo acento tónico parece ser de natureza material, decorrente de ne-cessidades socioeconómicas (emprego e economia em geral), os jovens dasAméricas situam estes aspetos em segundo plano, dando mais relevância a pro-blemas diretamente relacionados com fontes de ameaça à segurança, como ficaevidenciado na preocupação que têm com a violência e com o uso de drogas.A questão do uso de drogas parece ser interpretada por eles como algo intrin-secamente associado à escalada da violência urbana, especialmente em paísescomo o Brasil e o México, mas também nos outros países das Américas Centrale do Sul. Os jovens da Espanha apresentam-se como casos particulares, na me-dida em que mostraram um perfil que podemos definir como misto, pois preo-cupam-se igualmente com o estado da economia e com a violência.

Dimensões organizadoras das preocupações sociais dos jovens

Podemos assim resumir as preocupações dos jovens tentando interpretar opadrão de resultados obtidos sugerindo que a hierarquização destas preocupa-

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01 OPJ Cap. 1.qxp_Layout 1 28/11/16 08:32 Page 37

ções segue dois aspetos diferentes da vida social: (a) problemas que nos remetempara preocupações com domínios mais simbólicos da vida social, como a justiçae a educação, o que sugere a possibilidade de estarem a valorizar aspetos maispróximos do que chamamos valores de bem-estar social (Pereira et al. 2005); (b) problemas relacionados com a valorização de aspetos materiais da vida so-cial, o que pode ser descritivo de necessidades materialistas, identificadas porInglerart (1977), os quais nos remetem para vivências da vida quotidiana maisconcreta dos jovens, como são os problemas socioeconómicos e de segurança.

Para analisar se esta interpretação encontra algum respaldo na representaçãodos jovens sobre os problemas sociais mais importantes nos seus países subme-temos as respostas obtidas a duas técnicas estatísticas, ao escalonamento mul-tidimensional para dados ordinais (Kruskall e Wish 1978) e à análise de clusters(Aldenderfer e Blashfield 1984). Estas técnicas permitem-nos saber se os jovensrecorreram a dimensões psicossociais que estariam a atuar como princípios or-ganizadores da hierarquização dos aspetos que os preocupam em cada país. A figura 1.2 mostra a organização dos problemas sociais mais relevantes na vidados jovens e a sua distribuição em torno de duas dimensões, assim como osagrupamentos resultantes da análise de clusters.

A primeira constatação é a de que a maneira como os jovens selecionaramos problemas sociais mais importantes não é aleatória. Isto significa que hierar-quizaram estes problemas, tentando estabelecer relações de similaridade e dis-similaridade entre tipos de problemas. Isto é, na tentativa de estabelecerem re-

Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Quadro 1.1 – Ordenação média e desvios-padrão dos problemas que os jovens consideram mais importantes

Emprego Economia Violência Drogas Educação Justiça Saúde

Portugal 1,53a 0,81a 0,26c 0,23c 0,11c 0,01b 0,04b (0,71) (0,74) (0,55) (0,55) (0,38) (0,10) (0,24)Espanha 0,47c 0,86a 0,99a 0,53b 0,12c 0,03b 0,01b (0,76) (0,85) (0,87) (0,73) (0,38) (0,20) (0,12)Brasil 0,39c 0,31c 0,66b 0,74a 0,32a 0,13a 0,37a (0,72) (0,62) (0,87) (0,85) (0,62) (0,45) (0,69)México 0,33c 0,63b 1,11a 0,68a 0,19b 0,04b 0,02b (0,66) (0,79) (0,87) (0,80) (0,48) (0,23) (0,15)América Central 0,70b 0,41b 0,97a 0,60a 0,24b 0,03b 0,03b (0,88) (0,71) (0,85) (0,75) (0,55) (0,22) (0,22)América do Sul 0,62b 0,55b 0,94a 0,63a 0,19b 0,05b 0,03b (0,87) (0,81) (0,87) (0,72) (0,47) (0,25) (0,20)Total da amostra 0,65 0,52 0,91 0,61 0,21 0,05 0,05 (0,87) (0,78 (0,87) (0,74) (0,51) (0,25) (0,27)

Nota. As médias com diferentes subscritos representam diferenças estatisticamente significativas, com p < 0,05após o ajustamento de Bonferroni.

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Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis

lações de similaridade, os jovens não tentaram apenas ordenar os estímulos quelhes foram apresentados, mas ordenaram-nos consoante três categorias: aspetosrelacionados com necessidades socioeconómicas (emprego e economia); aspe-tos associados ao bem-estar social (saúde, justiça e educação); preocupação coma segurança urbana (violência e uso de drogas). Em segundo lugar, e não menosimportante, os jovens procuraram distinguir estas categorias usando duas di-mensões valorativas. Na primeira dimensão, a que contrapõe o agrupamentosituado no quadrante superior esquerdo aos agrupamentos localizados à direitada representação gráfica, podemos identificar uma oposição entre a preocupa-ção com a segurança (violência e drogas) e a relevância dada às necessidadeseconómicas e sociais. A segunda dimensão é representada apenas pelos agru-pamentos localizados na metade situada à direita do gráfico e contrapõe a preo-cupação com aspetos socioeconómicos à preocupação com o bem-estar social.

Finalmente, a figura 1.2 situa a posição de cada país e grupos de países nessasduas dimensões valorativas. Os jovens portugueses demarcam-se dos jovens dosoutros países por claramente situarem as suas preocupações no domínio dasnecessidades socioeconómicas, ao passo que os jovens dos outros países têmposicionamentos bastante similares entre si, situando-se no polo das preocupa-

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Figura 1.2 – Dimensões organizadoras das preocupações dos jovens*

Dim

ensã

o 2

Dimensão 1

1,00

0,50

0,00

–0,50

–1,00

–1,50

–2,50 –2,00 –1,50 –1,00 –0,50 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50

México América CentralAmérica do Sul

Espanha

Brasil

* Indicadores do bom ajustamento das dimensões aos dados: stress = 0,04; R2 = 0,99.

Portugal

Drogas

Violência

Educação

Justiça

Economia

Emprego

Saúde

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ções com a segurança urbana. Nenhum dos países pode ser descrito como si-tuado no polo das preocupações com o bem-estar social, nem mesmo o Brasil,em que os jovens mostraram alguma preocupação com este aspeto, mas não osuficiente para que a representação gráfica os posicionasse no quadrante ondeestão situadas a educação, a saúde e a justiça.

Fatores explicativos das preocupações sociais dos jovens

A questão que nos colocamos agora é a de saber qual o significado das duasdimensões organizadoras das preocupações dos jovens. A particularidade dosjovens portugueses levanta-nos a hipótese de os fatores meramente económicosterem motivado esses jovens a situarem as necessidades socioeconómicas comocentrais nas suas preocupações, o que seria coerente com o facto de Portugalestar a atravessar uma já prolongada crise económico-financeira com impactoprofundo em vários aspetos da vida social. Neste sentido, indicadores de crisee instabilidade financeira poderiam atuar como princípio organizador das duasdimensões que acima descrevemos.

No entanto, embora o papel de fatores económico-financeiros possa reve-lar-se central para a interpretação do significado das dimensões obtidas, essesfatores poderão não ser os únicos. Uma hipótese complementar poderá ser le-vantada e baseia-se na possibilidade de as diferenças culturais atuarem comoprincípios organizadores das dimensões obtidas, diferenças que poderão ser representadas no posicionamento dos países ibero-americanos no continuummaterialismo/pós-materialismo (Inglehart 1977; Pereira et al. 2005). De acordocom a nossa perspetiva, combinar fatores económico-financeiros com explica-ções socioculturais apresenta-se como bastante pertinente para chegarmos auma interpretação mais acurada sobre o significado das dimensões organiza-doras das preocupações dos jovens aqui analisados. Tendo em mente esta pos-sibilidade, analisamos o papel de fatores explicativos que envolvem variáveisde dois níveis de análises. Como fatores explicativos a nível individual, usamoso sexo, a idade, o local de residência (se numa capital ou noutro centro urbano),a escolarização e o facto de os jovens estarem ou não desempregados. O usodestes indicadores justifica-se tanto por nos permitir ter uma visão geral sobreo que caracteriza cada dimensão a ser interpretada, como também nos possibi-lita ter uma ideia do impacto que a privação económica individual, aferida aquipelo desemprego, tem como princípio organizador das preocupações dos jo-vens. Como fatores explicativos a nível contextual, usamos indicadores econó-micos e culturais. Como indicadores económicos, recorremos ao PIB per capitae à taxa de crescimento deste PIB entre 2008 (ano de deflagração da atual crise

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económico-financeira) e 2012 (ano anterior ao da aplicação do inquérito).2

O indicador de natureza cultural analisado é o posicionamento dos países nadimensão materialismo/pós-materialismo, o qual obtivemos a partir de duasbases de dados internacionais: o World Value Survey (quinta vaga, 2007) e o Eu-ropean Value Study (quarta vaga, 2008).3 O apêndice detalha os indicadores usa-dos nas análises que a seguir apresentamos.

Para avaliar o papel destes indicadores nas dimensões organizadoras das preo-cupações dos jovens procedemos à estimativa de dois modelos de regressãomultinível (Hox 2010) para cada dimensão (quadro 1.2). No primeiro modeloestimamos apenas o efeito das variáveis de nível individual, enquanto o segundomodelo acrescenta os fatores explicativos de nível contextual. Como podemosverificar, quer para a dimensão 1 (que contrapõe a segurança à importânciadada ao bem-estar social e económico), quer para a dimensão 2 (que contrapõeo bem-estar social ao bem-estar económico), o modelo que tem em conta ape-nas as variáveis de nível individual pouco explica o posicionamento dos jovensnestas dimensões. São sobretudo fatores explicativos que representam as dife-renças entre os países que melhor contribuem para compreendermos o signifi-cado desse posicionamento, como fica evidenciado nos resultados do modelo2 em ambas as dimensões.

Analisando o papel desempenhado por cada tipo de fator explicativo, veri-ficamos que a idade, a escolarização e o desemprego são, de entre as variáveisde nível individual, as que mais contribuem para a definição das duas dimen-sões, enquanto o local de residência se mostra relevante apenas para o posicio-namento dos jovens na dimensão 2. Olhando apenas para a dimensão 1, cons-tatamos que, quando maior é a idade, a escolaridade e o facto de os jovensestarem em situação de desemprego, mais próximo eles posicionam as suaspreocupações no polo do bem-estar económico e social, revelando-se menospreocupados com os aspetos que definem o polo da segurança (violência e usode drogas). De maior importância, o posicionamento dos jovens nesta dimen-

2 Os indicadores do produto interno bruto (PIB) per capita foram obtidos nos relatórios doBanco Mundial aqui consultados: http://data.worldbank.org/indicator/NY. GDP.PCAP.CD.

3 Ambos os inquéritos usam quatro dos doze indicadores da escala original de Inglehart (1977)para medir o posicionamento de cada país na dimensão materialismo/pós-materialismo. Doisdos indicadores são de materialismo («manter a ordem no país» e «combater o aumento dos pre-ços») e os outros dois são de pós-materialismo («dar aos cidadãos maior capacidade de participaçãonas decisões importantes do governo» e «defender a liberdade de expressão»). A comparação dasrespostas dos inquiridos a estes quatro indicadores permite posicionar os países num continuumque vai do materialismo ao pós-materialismo. Este continuum varia de –2 a 2, onde –2 significaque o país está situado no extremo do materialismo, enquanto 2 indica que o país se situa no ex-tremo do pós-materialismo (v. Pereira e Ramos 2013 para uma descrição detalhada deste indica-dor).

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são é melhor explicado pela posição que os países ocupam no continuum mate-rialismo/pós-materialismo. Quanto mais um país se distancia do polo materia-lista do continuum, menos importância os jovens que lá vivem atribuem aosproblemas relacionados com o bem-estar económico e social e, em contrapar-tida, mais preocupação mostram com a segurança. Por um lado, este efeito cor-robora a tese de Inglehart, segundo a qual as sociedades materialistas valorizammais a preocupação com os aspetos económicos da vida social, mas, ao mesmotempo, infirma esta tese, uma vez que também previa que a preocupação coma segurança compõe o conjunto de necessidades sociais básicas, pelo que erade esperar que os valores materialistas contribuíssem para um maior posiciona-mento dos jovens no polo destas preocupações.

No caso da dimensão 2, que contrapõe o bem-estar social ao bem-estar eco-nómico, os jovens com idade mais elevada, a residirem numa capital e em si-tuação de desemprego são aqueles que mostram uma menor preocupação com

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Quadro 1.2 – Coeficientes de regressão multinível que representam os pesos dos fatores explicativos nas dimensões organizadoras das preocupações dos jovens ibero-americanos

Dimensão 1 Dimensão 2 (segurança vs. bem-estar social (bem-estar económico e económico) vs. social)

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 1 Modelo 2 Interceto –1,31*** –1,49*** –0,38*** –0,47***

Nível individual Sexo 0,03 0,03 0,01 0,01Idade 0,07*** 0,07*** –0,04*** –0,04***Local de residência –0,01 –0,01 –0,06*** –0,06***Escolaridade 0,03*** 0,03*** 0,01 0,01Desemprego 0,19*** 0,19*** –0,16*** –0,16***

Nível contextual Materialismo/pós-materialismo –1,19* 0,35PIB per capita 0,00 0,00Crescimento económico 0,00 0,01*

Explicação da variância Nível individual (R2) 0,03 0,03 0,03 0,06Nível contextual (R2) 0,23 0,20

Nota. Correlação intraclasse: dimensão 1 = 0,09; dimensão 2 = 0,11. As variáveis foram assim codificadas: sexo (0 = raparigas; 1 = rapazes); idade = ordenação dos escalões etários (0 = 15 a 19 anos; 1 = 20 a 24 anos;2 = 25 a 29 anos); local de residência (0 = urbano não capital; 1 = capital); escolaridade (variável ordenadade 0 = nenhuma a 9 = universitária completa); desemprego (0 = não desempregado; 1 = desempregado); omaterialismo/pós-materialismo é um indicador que teoricamente pode variar de –2 (países mais materialistas)a 2 (países mais pós-materialistas). O PIB per capita é um indicador medido em dólares EUA. O crescimentoeconómico é a percentagem de variação no PIB per capita dos países entre 2008 e 2012.* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001.

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os aspetos que definem o bem-estar social (acesso à educação, saúde e justiça)e uma maior preocupação com o bem-estar económico (emprego e economia).Ao analisar o contributo dos indicadores de nível contextual, verificamos queo princípio organizador da dimensão 2 é de natureza económico-financeira,uma vez que o crescimento económico é o único facto contextual que contribuipara explicar o posicionamento dos jovens nesta dimensão. De facto, quantomaior foi o crescimento económico do país entre 2008 e 2012, maior é a preo-cupação dos jovens com o bem-estar social do que com os aspetos meramenteeconómicos. Finalmente, lembremos que Portugal e Espanha foram os paísesque apresentaram depressão económica neste período (v. novamente o apên-dice), o que, ao menos no caso português, contribui para explicar o posiciona-mento extremado dos jovens no polo do bem-estar económico.

Atitude face a temas socialmente sensíveis

Como se posicionam os jovens ibero-americanos em relação a um conjuntode temas socialmente sensíveis? Quais serão os princípios organizadores dessesposicionamentos e como descrevem estes princípios os valores culturais maissalientes nos países em que residem? Para responder a estas questões analisámosum conjunto de indicadores atitudinais que foram colocados à outra metadeda amostra de jovens que compõem o 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas.Foi-lhes solicitado que indicassem quão de acordo estavam com cada uma deseis afirmações indicativas de atitudes sociais.4 As respostas obtidas permitiram--nos analisar as diferenças entre as médias de concordância com cada uma dasafirmações e comparar o posicionamento dos jovens portugueses com o dosoutros jovens ibero-americanos. Ao analisar as médias no conjunto da amostra(figura 1.3), notamos que nenhum tema obtém aprovação irrestrita dos jovens,pois todas as médias se situam abaixo do ponto médio da escala de resposta(isto é, 3,00). O tema que recebe maior apoio é a abertura à imigração, enquantoa legalização da maconha e pagar para evitar sanções ou leis (aqui designadopor «prática de suborno») são os temas que recebem menor apoio dos jovens.Os demais temas, como o casamento homossexual, a pena de morte e o aborto,são rejeitados em menor grau do que a imigração, mas são mais aceites do quea legalização da maconha e a prática do suborno. A pena de morte recebe maior

4 Especificamente, os jovens receberam a seguinte instrução: «utilizando uma escala que variade 1 a 5, onde 1 significa «discorda totalmente» e 5 «concorda totalmente», indique, por favor,em que medida concorda com cada uma das seguintes frases: «o casamento entre pessoas domesmo sexo»; «a legalização da maconha»; «imigrantes venham trabalhar no meu país»; «o abortoem condições legais»; «a pena de morte»; «pagar para evitar sanções ou leis».

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Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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* As diferenças entre as médias são estatisticamente significativas, F(5, 9185) = 605,74, p < 0,001. Exce-tuando a diferença entre a concordância com o suborno e a legalização da maconha, todas as diferençasentre as médias são significativas, com p < 0,001 após a correção de Bonferroni.

Figura 1.3 – Representação das médias da concordância dos jovens com os temas-alvo de atitudes socialmente sensíveis*

5

4

3

2

1Abertura

à imigraçãoCasamento

homoafectivoPena demorte

Aborto Suborno Legalizaçãoda maconha

Val

ores

méd

ios

Quadro 1.3 – Médias e desvios-padrão das atitudes dos jovens em relação a temas socialmente sensíveis

Casamento Legalização Abertura Aborto Pena Suborno homossexual da maconha à imigração de morte

Portugal 3,85a 2,92a 3,37a 3,72a 1,45c 1,88c (1,30) (1,43) (1,17) (1,29) (1,00) (1,30)Espanha 2,26c 1,97b 2,27d 2,15c 2,21b 2,06b (1,15) (0,98) (1,23) (1,14) (1,17) (1,09)Brasil 3,03b 2,78a 3,12b 2,84b 2,55a 2,85a (1,49) (1,50) (1,45) (1,52) (1,42) (1,41)México 2,33c 2,12b 2,32d 2,09c 2,14b 1,99b (1,06) (1,07) (1,12) (1,03) (1,05) (0,93)América Central 2,40c 2,08b 3,09b 2,20c 2,46a 2,19b (1,21) (1,09) (1,26) (1,17) (1,26) (1,11)América do Sul 2,42c 2,04b 2,73c 2,21c 2,48a 2,13b (1,24) (1,06) (1,28) (1,19) (1,33) (1,14)Total da amostra 2,49 2,13 2,85 2,29 2,40 2,17 (1,28) (1,13) (1,29) (1,24) (1,29) (1,15)

Nota. As médias com diferentes subscritos representam diferenças estatisticamente significativas,com p < 0,05 após o ajustamento de Bonferroni.

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Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis

apoio do que o aborto, mas ambos são mais rejeitados do que o casamento ho-moafetivo.

Os resultados apresentados no quadro 1.3 permitem-nos analisar as atitudesdos jovens portugueses, comparando-os com os posicionamentos dos outrosjovens ibero-americanos. Como podemos verificar, os jovens portugueses de-marcam-se claramente dos outros, na medida em que são os únicos com posi-cionamentos claramente favoráveis ao casamento homoafetivo, à abertura àimigração e à prática do abordo e, juntamente com os brasileiros, são os quemostraram ter uma atitude de menor rejeição à legalização da maconha. Alémdisso, os jovens portugueses são os que têm um posicionamento de maior re-jeição à prática do suborno e à pena de morte. Os jovens dos outros países ouconjunto de países não mostraram ter um posicionamento tão organizado emrelação ao conjunto dos temas como o mostrado pelos portugueses. Numavisão geral, os jovens dos outros países tendem a concordar mais com a imigra-ção e a discordar mais da pena de morte e da prática do suborno, sendo estesdois temas menos rejeitados pelos jovens brasileiros.

Dimensões organizadoras das atitudes sociais dos jovens

Além da análise descritiva acima apresentada sobre como os jovens se posi-cionam em relação aos seis temas apresentamos, interessava-nos saber se existemdimensões interpretativas, ou princípios organizadores, desses posicionamentos.Para responder a esta questão recorremos novamente ao escalonamento multi-dimensional e à análise de clusters, adotando para o efeito um procedimento si-milar ao que usámos na identificação das dimensões organizadoras das principaispreocupações dos jovens. A figura 1.4 mostra os resultados obtidos, onde sepodem visualizar os seis temas-alvo de atitudes organizados em torno de duasdimensões e também os agrupamentos resultantes da análise de clusters.

Um primeiro olhar sobre a representação gráfica revela-nos que a atitude dosjovens em relação aos seis temas está organizada em três categorias temáticas:uma categoria que agrega a pena de morte e a prática do suborno; uma categoriaque nos remete para uma atitude de tolerância social (casamento homoafetivo,legalização da maconha e aborto); a atitude de abertura à imigração. De maiorimportância, a representação gráfica distribui as categorias em torno de duasdimensões atitudinais. A primeira dimensão contrapõe a atitude de maior to-lerância à categoria que agrega a aprovação da pena de morte e a prática do su-borno. A segunda dimensão é representada pelos agrupamentos localizados àdireita do gráfico e contrapõe a abertura à imigração à categoria dos indicadoresde tolerância social.

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Um segundo olhar sobre a representação gráfica permite-nos ver a posiçãode cada país e grupos de países nas duas dimensões atitudinais identificadas.Como era de se esperar, e dados os resultados acima analisados, os jovens por-tugueses demarcam-se dos jovens dos outros países por se posicionarem clara-mente no polo da maior tolerância social, opondo-se à categoria da pena demorte e da prática do suborno. De uma maneira muito similar à verificada naanálise das preocupações sociais, os jovens dos outros países mostraram ter po-sicionamentos bastante similares entre si, situando-se muito próximos do centroda representação gráfica, o que nos sugere a possibilidade de terem atitudesnada polarizadas ou pouco definidas em relação às categorias atitudinais iden-tificadas.

Fatores explicativos das atitudes sociais dos jovens

A terceira questão que colocamos acerca das atitudes dos jovens face aostemas socialmente relevantes é a de saber qual o significado das duas dimensõesorganizadoras dessas atitudes. A particularidade dos jovens portugueses nova-mente nos levanta a hipótese de que são os fatores económicos que têm moti-vado esses jovens a montarem um posicionamento tão marcadamente distintodo posicionamento dos outros jovens ibero-americanos. A segunda possibili-dade, naturalmente, remete-nos para a análise das diferenças culturais aqui des-

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* Indicadores do bom ajustamento das dimensões aos dados: stress = 0,02; R2 = 0,99.

Figura 1.4 – Dimensões organizadoras das atitudes dos jovens face a temas socialmente sensíveis*

Dimensão 1

2,00

1,00

0,00

–1,00

–2,00

–2,00 –1,00 0,00 1,00 2,00

Dim

ensã

o 2 América Central

BrasilMéxico

América do SulEspanha PortugalPena de morte

Suborno

Aberturaà imigração

Casamento homossexualLegalização da maconha

Aborto

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critas como o posicionamento de cada país no continuum materialismo/pós--materialismo. Novamente recorremos à estimativa de dois modelos de regressãomultinível para cada dimensão (quadro 1.4). No primeiro modelo estimamosapenas o efeito das variáveis de nível individual (sexo, idade, local de residência,escolaridade e desemprego), enquanto no segundo modelo acrescentamos os fa-tores explicativos de nível contextual (os valores, o PIB per capita e o crescimentoeconómico).

Com relação à dimensão 1 (que contrapõe a atitude de maior tolerância àcategoria que integra a pena de morte e o aborto), apenas os fatores explicativosde nível individual contribuem para elucidarmos o significado desta dimensão.Mesmo assim, o poder explicativo destes fatores é muito baixo, não passandode 1%. Apesar do baixo poder explicativo, o padrão dos resultados parece-nosrelevante uma vez que mostra que os rapazes, os jovens com idade mais avan-çada e aqueles que moram em capitais são os que mais distanciam a sua atitude

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Quadro 1.4 – Coeficientes de regressão multinível que representam os pesos dos fatores explicativos das dimensões das atitudes dos jovens ibero-americanos em relação a temas socialmente sensíveis

Dimensão 1 Dimensão 2 (tolerância vs. pena de morte (abertura à imigração e suborno) vs. tolerância)

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 1 Modelo 2

Interceto 0,03 –0,25*** 0,31*** –0,47***

Nível individualSexo –0,04** –0,04** –0,05*** –0,05***Idade –0,04*** –0,04*** -0,02** –0,02**Local de residência –0,04* –0,04* 0,01 0,01Escolaridade 0,03*** 0,03*** 0,00 0,00Desemprego 0,05 0,05 –0,02 –0,02

Nível contextualMaterialismo/pós-materialismo –0,61 0,35PIB per capita 0,02 –0,01*Crescimento económico 0,00 0,00

Explicação da variância Nível individual (R2) 0,01 0,01 0,03 0,03Nível contextual (R2) 0,00 0,33

Nota. Correlação intraclasse: dimensão 1 = 0,18; dimensão 2 = 0,10. As variáveis foram assim codificadas: sexo(0 = raparigas; 1 = rapazes); idade = ordenação dos escalões etários (0 = 15 a 19 anos; 1 = 20 a 24 anos; 2 =25 a 29 anos); local de residência (0 = urbano não capital; 1 = capital); escolaridade (variável ordenada de 0= nenhuma a 9 = universitária completa); desemprego (0 = não desempregado; 1 = desempregado); o ma-terialismo/pós-materialismo é um indicador que teoricamente pode variar de –2 (países mais materialistas) a2 (países mais pós-materialistas). O PIB per capita é um indicador medido em dólares EUA. O crescimentoeconómico é a percentagem de variação no PIB per capita dos países entre 2008 e 2012.*p < 0,05; **p < 0,01; ***p < 0,001.

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do polo dos indicadores de tolerância, aproximando-a do polo da adesão à penade morte e do apoio à prática de suborno. No sentindo oposto, os estudantesmais escolarizados aproximam-se mais do polo da tolerância, tendendo a opor--se à pena de morte e à prática de suborno.

Analisando os fatores explicativos da segunda dimensão (a que contrapõe aabertura à imigração aos indicadores de uma atitude de tolerância social), veri-ficamos um quadro algo diferente. Em primeiro lugar, as variáveis de nível in-dividual pouco ajudam a compreender o posicionamento dos jovens nesta di-mensão, mas a presença de um efeito significativo de um fator explicativo denível contextual confere um significado especial a esta dimensão. Do lado dosfatores de nível individual, os rapazes e os jovens com mais idade mostraramser menos abertos à imigração, mas indicaram ter atitudes sociais mais tolerantes(isto é, são mais favoráveis ao aborto, ao casamento homossexual e à legalizaçãoda maconha). Do lado dos fatores explicativos de nível contextual, apenas oPIB per capita tem um efeito significativo na organização desta dimensão. Sãoos jovens a viverem nos países menos pobres a indicarem ter atitudes mais to-lerantes, mas, em contrapartida, exprimem menor abertura à imigração. Final-mente, o continuum dos valores culturais materialistas/pós-materialistas não con-tribuiu para a definição das atitudes dos jovens.

Conclusões

Neste capítulo colocámos inicialmente a questão de saber quais são as prin-cipais preocupações sociais dos jovens portugueses, situando essas preocupaçõesno quadro mais geral das preocupações levantadas pelos outros jovens ibero--americanos. A análise dos indicadores referentes a esta questão permite-nosconcluir que os jovens portugueses demarcam-se dos jovens dos outros paísesanalisados porque mostram ter uma preocupação claramente situada no domí-nio do bem-estar económico. Mostraram-se preocupados, sobretudo, com oemprego e com o estado da economia. Os jovens dos outros países pouco sedistinguem ente si, apresentando um posicionamento próximo, mas não muito,do polo das preocupações com a segurança, associada aqui à ameaça decorrenteda perceção de violência e uso de drogas.

A análise do significado das diferentes dimensões organizadoras das preocu-pações dos jovens mostrou-nos que a primeira dimensão encontrada representao posicionamento dos países no continuum materialismo/pós-materialismo, oque nos parece corroborar a hipótese da centralidade dos valores culturais comoprincípios organizadores das prioridades que as sociedades estabelecem comometas mais importantes a serem obtidas pelos seus cidadãos (Inglehart 1977;Pereira et al. 2005). Assim, esta primeira dimensão representa as diferenças cul-

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turais entre os países analisados, que se expressaram na hierarquia das preocu-pações dos jovens em cada país.

A segunda dimensão organizadora dessas preocupações pode ser interpretadacomo resultante do atual contexto de crescimento/depressão económica decada país. De facto, o posicionamento extremado dos jovens portugueses nopolo das preocupações com o bem-estar económico parece-nos ser paradigmá-tico do efeito da crise económico-financeira, ainda que este efeito não se tenhamanifestado nas preocupações dos jovens espanhóis, igualmente vítimas destacrise. Provavelmente, a similaridade entre o posicionamento dos espanhóis e odos jovens dos outros países, sobretudo os das Américas Central e do Sul, su-gere-nos a possibilidade de haver outros fatores explicativos de natureza culturalnão abordados neste inquérito, de que são exemplos os indicadores de valorespsicossociais que avaliam os princípios axiológicos que as pessoas julgam seremas metas que se devem seguir para a construção de uma sociedade ideal (Pereiraet al. 2005). As diferenças culturais nas escolhas destas metas poderiam contri-buir para melhor compreendermos o papel dos valores enquanto princípios or-ganizadores das preocupações dos jovens nas sociedades contemporâneas.

A segunda grande questão que colocamos procurou saber como se posicio-nam os jovens em relação a vários temas socialmente sensíveis. O aspeto quenos parece ser mais relevante a salientar nas dimensões organizadoras das ati-tudes dos jovens é o posicionamento dos portugueses no polo dos indicadoresde tolerância e a sua marcada oposição à pena de morte e à prática de atos desuborno. O posicionamento similar dos jovens nos outros países, situado bempróximo do centro dos eixos que definem as dimensões atitudinais identifica-das, sugere-nos a possibilidade de estes jovens ainda não terem internalizadoos princípios valorativos implicados nas atitudes analisadas, ou meramente nãoterem opiniões claramente definidas sobre os temas abordados.

Talvez por esta razão, a interpretação das dimensões obtidas revelou-se maiscomplexa do que a interpretação das dimensões organizadoras das preocupa-ções dos jovens. Embora tenhamos obtido um posicionamento destacado dosjovens portugueses em comparação com os jovens dos outros países, a identi-ficação dos princípios organizadores das atitudes mostrou-se ser menos evi-dente. Apesar de todas as teorias sobre a centralidade dos valores preverem umimpacto significativo destes nas atitudes sociais (Inglehart e Baker 2000; Ramos2006; Schwartz et al. 2012), não encontramos evidência para esta assertivaquando analisamos o papel dos valores materialistas e pós-materialistas na de-finição do posicionamento dos jovens nas dimensões obtidas. Provavelmente,valores que revelam interesse de nível mais pessoal, como, por exemplo, ostipos motivacionais estudados por Schwartz (1992), como princípios-guias dasações e aspirações dos indivíduos em sociedade, estariam a atuar na definição

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das atitudes dos jovens. Talvez novas vagas do inquérito aos jovens ibero-ame-ricanos possam ter em conta indicadores destes valores e, no futuro, possamosanalisar o papel dos princípios motivacionais nas atitudes dos jovens.

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ApêndiceQuadro 1.5 – Indicadores contextuais usados como fatores explicativos nos modelos de regressão multinível

Materialismo/ PIB PIB Taxa de crescimento pós-materialismo per capita 2008 per capita 2012 do PIB

Argentina –0,26 10,233 14,680 30,293Bolívia –0,16 1,696 2,576 34,161Brasil –0,36 8,623 11,320 23,825Chile –0,27 10,686 15,245 29,905Colômbia –0,08 5,405 7,763 30,375Costa Rica –0,26 6,581 9,443 30,308Equador –0,16 4,256 5,425 21,548El Salvador –0,14 3,484 3,782 7,879Espanha –0,36 34,674 28,282 –22,601Guatemala –0,52 2,867 3,341 14,187Honduras –0,26 1,883 2,339 19,496México –0,03 9,560 9,818 2,628Nicarágua –0,26 1,498 1,777 15,701Panamá –0,26 7,003 9,982 29,844Paraguai –0,16 2,967 3,680 19,375Peru –0,17 4,240 6,424 33,998Portugal –0,67 23,861 20,175 –18,270R. Dominicana –0,13 4,697 5,733 18,071Uruguai 0,10 9,068 14,728 38,430Venezuela –0,28 11,223 12,729 11,831

Nota. Os valores materialistas/pós-materialistas foram obtidos nas bases de dados do World Value Survey(quinta vaga, 2007) e do European Value Study (quarta vaga, 2008). Os indicadores do PIB per capita foram ob-tidos nos relatórios do Banco Mundial: http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.PCAP.CD.

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