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HÁBITOS, INVESTIMENTOS, ROTINAS E INOVAÇÃO: O DESENVOLVIMENTO A PARTIR DE COMPLEMENTARIEDADES ENTRE AS PERSPECTIVAS VEBLENIANA, (PÓS) KEYNESIANA E NEOSCHUMPETERIANA Herton Castiglioni Lopes Adriano José Pereira Octávio Augusto Camargo Conceição 1 Resumo: o texto propõe uma conciliação entre os conceitos teóricos derivados de Veblen, dos neoschumpeterianos e de autores (pós) keynesianos com o objetivo de encontrar complementaridades que auxiliem a explicar o desenvolvimento econômico. A preocupação principal é analisar como essa proposta de convergência ajuda no entendimento do comportamento investidor e do processo inovativo. Procura demonstrar que os investimentos e a inovação ocorrem a partir do animal spirit dos empreendedores em interação com as rotinas e os hábitos de pensamento, que sustentam as instituições econômicas e sociais ao mesmo tempo em que estimulam a ação dos empreendedores mesmo com a incerteza que permeia as decisões econômicas. Palavras-Chave: Desenvolvimento Econômico; Hábitos de Pensamento; Investimentos, Rotinas e Inovação. HABITS, INVESTMENTS, ROUTINES AND INNOVATION: THE DEVELOPMENT WITH COMPLEMENTARITIES BETWEEN THE VEBLENIAN, (POST) KEYNESIAN AND NEOSCHUMPETERIAN PERSPECTIVES Abstract: the text proposes a conciliation between the theoretical concepts derived from Veblen, of the Neoschumpeterians and (post) keynesian authors aiming to find complementarities contributing to explain economic development. The main concern is to analyze how this 1 Respectivamente, professores do programa do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Políticas Públicas da UFFS, do Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento da UFSM e do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFRGS. 1

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HÁBITOS, INVESTIMENTOS, ROTINAS E INOVAÇÃO: O DESENVOLVIMENTO A PARTIR DE COMPLEMENTARIEDADES ENTRE AS

PERSPECTIVAS VEBLENIANA, (PÓS) KEYNESIANA E NEOSCHUMPETERIANA

Herton Castiglioni LopesAdriano José Pereira

Octávio Augusto Camargo Conceição1

Resumo: o texto propõe uma conciliação entre os conceitos teóricos derivados de Veblen, dos neoschumpeterianos e de autores (pós) keynesianos com o objetivo de encontrar complementaridades que auxiliem a explicar o desenvolvimento econômico. A preocupação principal é analisar como essa proposta de convergência ajuda no entendimento do comportamento investidor e do processo inovativo. Procura demonstrar que os investimentos e a inovação ocorrem a partir do animal spirit dos empreendedores em interação com as rotinas e os hábitos de pensamento, que sustentam as instituições econômicas e sociais ao mesmo tempo em que estimulam a ação dos empreendedores mesmo com a incerteza que permeia as decisões econômicas.

Palavras-Chave: Desenvolvimento Econômico; Hábitos de Pensamento; Investimentos, Rotinas e Inovação.

HABITS, INVESTMENTS, ROUTINES AND INNOVATION:THE DEVELOPMENT WITH COMPLEMENTARITIES BETWEEN THE VEBLENIAN, (POST) KEYNESIAN AND NEOSCHUMPETERIAN PERSPECTIVES

Abstract: the text proposes a conciliation between the theoretical concepts derived from Veblen, of the Neoschumpeterians and (post) keynesian authors aiming to find complementarities contributing to explain economic development. The main concern is to analyze how this convergence helps in the understanding the investor behavior and the innovative process. It seeks to demonstrate that investments and innovation occur from the animal spirit of the entrepreneurs in interaction with the routines and the habits of thought that sustain the economic and social institutions while stimulating the action of the entrepreneurs despite the uncertainty that permeates the economic decisions.

Keywords: Economic development; Habits of thought; Investments, Routines and Innovation.

Área 1: Metodologia e História do Pensamento Econômico

JEL: B52; O30; E02

1 Respectivamente, professores do programa do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Políticas Públicas da UFFS, do Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento da UFSM e do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFRGS.

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1. Introdução

Mesmo alinhados a diferentes correntes teóricas, dificilmente os economistas discordam da repercussão dos investimentos produtivos e da inovação tecnológica sobre o desempenho econômico. Embora os investimentos não contemplem, necessariamente, inovações de produto e processo, e o progresso técnico não seja originário apenas de ampliação da capacidade produtiva, pois pode ser fruto de rearranjos organizacionais, ambos têm papel indiscutível para compreensão das diferentes trajetórias de desenvolvimento das nações. Nessa perspectiva, a proposta deste texto é unir as abordagens teóricas de Veblen e dos neoschumpeterianos com leituras pós-keynesianas, visando encontrar complementaridades que ajudem a explicar o investimento produtivo e o progresso técnico. O trabalho procura contribuir para a explicação do investimento e da inovação reconhecendo o papel desempenhado pelas rotinas organizacionais e pelos hábitos mentais dos indivíduos. A partir da teoria keynesiana observa-se que as decisões de investimento são tomadas em um ambiente de incerteza, dependentes do estado das expectativas e do animal spirit dos empreendedores. Tais decisões são influenciadas pelas rotinas organizacionais ao mesmo tempo em que estas são importantes para as inovações tecnológicas. Esse processo decisório acontece em interação com os hábitos mentais, pois, constitutivos das instituições sociais, eles são importantes para entender a conduta das firmas, particularmente as associadas à inovação e aos investimentos produtivos.

Espera-se que as complementaridades teóricas entre as abordagens permitam: a) uma melhor interpretação de como os hábitos mentais afetam as decisões de produção; b) uma compreensão de como as instituições, entendidas a partir dos hábitos, estimulam ou inibem os investimentos e a inovação, tal como reconhecido nas análises keynesianas e neoschumpeterianas; c) uma explicação teórica de como as rotinas organizacionais, alinhadas aos hábitos individuais, empresariais e sociais (compartilhados), repercutem sobre o investimento e o progresso técnico e; d) uma análise do desenvolvimento a partir da interação entre elementos micro, meso e macroeconômicos.

Para atingir a proposta de trabalho, a segunda seção ocupa-se do comportamento humano no institucionalismo derivado de Veblen, enfocando o papel dos hábitos e das instituições no processo decisório. A seguir trata-se dos elementos que permeiam as decisões de investimento no âmbito da teoria (pós) keynesiana (seção 3). São apresentados os conceitos desenvolvidos a partir da teoria de Keynes que fundamentam a compreensão dos investimentos e que, na proposição desse texto, convergem às suposições teóricas de Veblen e dos neoschumpeterianos. Com foco nessa última teoria, a seção 4 analisa o conceito de rotinas, demonstrando sua relevância para o comportamento empresarial e para a inovação. A seção 5, central ao trabalho, destina-se a uma sistematização que procura alinhar hábitos mentais, investimentos produtivos, rotinas organizacionais e inovação na explicação do desenvolvimento. Finalmente, apresentam-se as considerações finais com uma síntese do que foi proposto e as implicações em termos de política econômica (seção 6).

2. O comportamento humano: hábitos e instituições a partir da teoria de Veblen

Veblen (1898; 1983) criticou fortemente os postulados (neo) clássicos de operação dos mercados e sua metodologia reducionista de análise dos problemas econômicos. Questionou porque a economia não adotara uma abordagem evolucionária ao invés de pressupor um ser humano dotado de uma racionalidade irrestrita, o que torna o indivíduo um “calculador

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relâmpago”2 capaz de contornar tanto as limitações cognitivas como a complexidade do ambiente. Mais do que tratar as pessoas a partir de uma visão diferenciada, Veblen ofereceu fundamentos evolucionários à teoria econômica por entender que tal metodologia seria mais adequada do que as abstrações do mainstream.

Se os pressupostos tradicionais de racionalidade contêm problemas, o comportamento não pode ser explicado por cálculos que buscam aumentar o prazer e reduzir o sofrimento. Caso dependessem de regras de maximização possivelmente os indivíduos seriam extintos antes mesmo de agir ou passariam maior parte de suas vidas paralisados, apenas abstraindo os resultados de decisões, que mudam a cada instante. Para simplificar esse complexo processo de deliberação, as pessoas precisaram encontrar um elemento cognitivo que permitiu facilitar as escolhas. Veblen (1983) propôs que os seres humanos desenvolveram comportamentos rotineiros que se baseiam em hábitos mentais3.

Partindo dos hábitos, Hodgson (2006) demonstra que a ação humana é explicada mediante uma complexa inter-relação conceitual. Embora o comportamento apresente-se relacionado aos instintos mais primitivos, o modelo cognitivo ímpar do ser humano, mais avançado que de outros animais e evoluído em meio à complexidade social, fez dos hábitos um meio para evitar o dispendioso processo de deliberação racional. À medida que determinados hábitos foram sendo socialmente aceitos e se tornaram permanentes, acabaram compartilhados pela coletividade e parte da cognição humana; um elemento embedded no modelo cognitivo dos indivíduos (Dewey, 1922).

Os hábitos são a essência das instituições. Sendo definidas por Hodgson (2006) como um sistema de regras sociais estabelecidas na sociedade, os hábitos aparecem como elemento chave para se analisar como as normas se enraízam na vida social e mantém sua estrutura de funcionamento4. Os hábitos compartilhados são ainda o elo entre indivíduos e instituições. Uma interação reconstitutiva em que as instituições exercem influência sobre os indivíduos que, com seus hábitos, dão sustentação a estrutura sócio institucional vigente (Hodgson, 2002; 2011; 2007).

Ao aceitar-se o sentido de causação reconstitutiva das instituições para os seres humanos (reconstitutive donward effect), a racionalidade individual acaba assumindo contornos contextuais (racionalidade situada). A decisão e a própria razão ganham características habituais e formam-se crenças sobre as melhores possibilidades de ação frente às circunstâncias estabelecidas. Como decorrência, os indivíduos deixam de estar “soltos” no tempo e espaço sendo seu próprio “ser” resultado de uma evolução histórico-cultural.

As instituições aparecem ainda como elemento em contínua evolução a partir de um processo seletivo que opera no ambiente social. O mecanismo evolucionário age sobre os hábitos compartilhados que se formam sob influência dos instintos, afetam a razão e o processo deliberativo. Quando os hábitos definem determinados comportamentos e estes passam a ser socialmente aceitos, acabam cristalizando uma forma de pensar e agir que predomina na sociedade (Hodgson, 2010). Esse processo de institucionalização se torna a referência para novas deliberações em um ambiente complexo e onde as limitações mentais

2 Nas palavras de Veblen (1898, p. 389) “The hedonistic conception of man is that of a lightning calculator of pleasures and pains”.3 De acordo com Veblen (1898, p. 390) o homem “is not simply a bundle of desires that are to be saturated by being placed in the path of the forces of the environment, but rather a coherent structure of propensities and habits which seeks realization and expression in an unfolding activity”4 A esse respeito, (Hodgson, 1994, p. 655-656) observa “However, we need to consider why institutions are durable, how they structure social interactions, and in what senses they are established and embedded. The durability of some institutions stems from the fact that they can usefully create stable expectations of the behaviour of others”

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impedem a análise de todas as possibilidades de ação. Na medida em que os hábitos se mostram consistentes, proporcionando aos indivíduos resultados satisfatórios em suas escolhas, reforçam-se as crenças sobre sua capacidade de atender determinadas metas pré-estabelecidas (ou instintivas)5. Por isso, Veblen (1983) considera que existe um forte mecanismo de inércia institucional (conservadorismo). Por outro lado, ainda que cristalizem certas formas de agir, os hábitos podem ser modificados por força das circunstâncias o que obriga os indivíduos a alterarem seu próprio modelo cognitivo.

3. A decisão de investimento na teoria (pós) keynesiana

Ao invés de pressupostos abstratos que defendem uma tendência ao equilíbrio (e renegam a intervenção do Estado), a teoria de keynesiana propõe uma metodologia de análise do real funcionamento das economias capitalistas (Dow, 2001) onde crises, depressões e desemprego não são meros desequilíbrios temporários, mas fenômenos endógenos ao modo de produção. A teoria keynesiana rompe com o pensamento clássico, colocando a demanda efetiva no centro de análise para uma economia baseada em empreendimentos e iniciativa privada (Davidson, 2005). A procura surge como responsável pelas flutuações no nível de atividade econômica porque os agentes podem postergar suas decisões de consumo e investimento retendo ativos líquidos. A moeda, então, aparece como ativo fundamental (não neutro nem no curto e sequer no longo prazo) que liga passado, presente, futuro e, o mais importante, ganha a preferência (pela liquidez) dos agentes (Arestis, 1992); uma proteção contra a incerteza que permeia as decisões econômicas6.

Como o nível de atividade econômica depende das decisões de gastos e do nível de investimentos, a discussão sobre a incerteza na perspectiva (pós) keynesiana ganha contornos significativos devido à dificuldade de se definir, com precisão, a Eficiência Marginal do Capital (EMgK). Keynes (1921) dá inicio a sua forma de pensar a incerteza na obra Treatise on Probability (T.P.) onde assume que as decisões do presente afetam o futuro e, por isso, as informações aparecem aos tomadores de decisão sempre de forma incompleta (Carvalho, 2014; 2015). Depois desses escritos iniciais, na General Theory (G.T.) Keynes (1936) avança consideravelmente nas implicações da incerteza sobre as decisões (comportamentos defensivos como a preferência pela liquidez) e sua repercussão sobre as expectativas individuais (Carvalho, 2015). Para Keynes (1936), enquanto em um curto espaço de tempo (short-term) a incerteza pode ser menor porque a decisão compromete o gestor por menos tempo, em períodos mais longos (long-term) as expectativas seriam afetadas pela insuficiência de informações, implicando que os empresários teriam de acreditar nas suas próprias previsões sobre o futuro (estado de confiança) para decidir sobre os investimentos produtivos.

5 O próprio comportamento repetido é um elemento que ajuda a reforçar o caráter de algumas instituições. Na medida em que algumas ações são aceitas por determinados grupos, acabam se tornando elemento de “emulação” por um número significativo de pessoas. Isso reafirma as crenças que determinados comportamentos são os mais corretos, fortalecendo hábitos de pensamento e determinadas instituições sociais.6 A moeda possui particularidades que a tornam um elemento fundamental no modo de operação de uma economia capitalista. No capítulo 17 da Teoria Geral é possível observar que a moeda é um ativo especial que se diferencia dos demais devido as suas propriedades específicas que são: elasticidade de produção zero (não é produzida por trabalho humano) e elasticidade de substituição zero (outros ativos não podem ser utilizados como moeda porque nenhum outro exerce a função de unidade de conta, meio de troca e reserva de valor) [KEYNES, 1936].

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A proposição keynesiana é que a incerteza não pode ser tratada como risco. Os indivíduos não podem voltar no tempo para rever suas opções, tendo de arcar com custos de escolhas imprecisas que afetam a rentabilidade do capital (Dow, 2001). Davidson (1994), por exemplo, afirma que o futuro não pode ser previsto com base em qualquer análise estatística que se alicerce no passado. Refere-se a um conceito não ergódigo de incerteza, este associado a um futuro incerto, transmutável e que está para ser criado pela ação dos indivíduos e grupos (associações, cartéis, governos, etc). Perspectiva semelhante é desenvolvida em Dow (2016)7

ao afirmar que para os pós-keynesianos as decisões estão sujeitas a vários graus de incerteza fundamental. Ela permeia a quase totalidade das ações individuais porque a economia é um sistema aberto, onde a evolução das estruturas sociais é afetada criatividade humana que transforma constantemente o futuro.

Dessa forma, o modelo cognitivo dos indivíduos em interação mundo real (sujeito a mudanças radicais) é o ponto de partida para entender o comportamento empreendedor, por consequência as decisões de investimento e o nível de demanda efetiva. A esse respeito, Dequech (2004) desenvolve uma argumentação sobre a natureza da incerteza (epistemológica e ontológica) demonstrando que a forma como os indivíduos interpretam o ambiente não pode estar dissociada da realidade em que vivem. Se o mundo é transmutável e o futuro pode ser alterado permanentemente pelas ações de hoje [cf. Davidson (1994)], o cenário posterior nem sempre é previsível e as duas concepções de incerteza estão interligadas porque as limitações cognitivas, elemento de maior relevância para caracterizar a incerteza epistemológica, aparecem conectadas à complexidade do mundo real (perspectiva ontológica).

Ainda que exista forte debate sobre o fato de Keynes ter, ou não, adotado uma abordagem metodológica organicista de análise8, a aceitação de que o mundo real está sujeito a alterações significativas (pela própria ação dos grupos sociais) reforça a ideia de que o autor tratou a economia como um sistema aberto, onde a criatividade (e ação) individual altera constantemente as estruturas sociais. Embora sua preocupação maior seja com questões agregadas, é a partir dos indivíduos e das suas decisões que se pode compreender os períodos de depressão e prosperidade, ambos relacionados a um comportamento individual que não pode ser explicado pela ortodoxia convencional.

Não por acaso os pós-keynesianos, após sinalizarem para dificuldade de explicar a tomada de decisão com base apenas no estado de confiança (que depende do peso do argumento definido a partir das evidências consideradas relevantes frente às irrelevantes), reconhecem a influência do animal spirit (cf. Dow, 2010) nas opções individuais. Enquanto no mainstream o animal spirit é visto como algo irracional, uma perturbação fora dos modelos tradicionais, nos pós-keynesianos refere-se a uma disposição para agir mesmo em face da incerteza (Dow e Dow, 2011; Dequech, 1999). Por isso constata-se que os investimentos produtivos dependem de decisões que são balizadas tanto pelo estado de confiança como pelo animal spirit; este definido como uma propensão mais para ação que

7 Dow (2016) sistematiza o tratamento da incerteza a partir de uma perspectiva “dualista” e “não dualista”. No tratamento dualista do mainstream grande parte dos problemas relacionados à decisão se resolvem partir de cálculos de probabilidade (risco) enquanto uma pequena parcela é concebida como incerteza fundamental. Já uma abordagem dualista keynesiana observa que somente em casos muito especiais uma decisão econômica pode ser balizada por cálculos. Adotando-se uma perspectiva não dualista, a teoria tradicional passaria a considerar, além de incerteza e risco, a “ambiguidade”; esta, porém, caracterizada pela falta de uma pequena proporção de informações que pode ser obtida sem maiores problemas. Na perspectiva não dualista pós-keynesiana as decisões estão sujeitas a uma incerteza que apresenta vários graus. Por isso, tanto a incerteza como a ambiguidade seriam casos mais gerais (e não especiais) e presentes na maior parte das decisões. 8 O debate sobre a metodologia keynesiana é apresentado no texto de Corazza (2009). Nele apresentam-se os argumentos prós e contras a ideia de uma metodologia organicista em Keynes.

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inação9. Em condições de extrema incerteza, as decisões de gastos (investimentos) podem ser adiadas e outras formas de riqueza aparecem como elemento de proteção, fazendo com o que a ampliação da produção, a geração de emprego e renda fiquem prejudicadas pelo aumento da preferência pela liquidez. Assim, é inquestionável que Keynes considera processos cognitivos/psicológicos no âmago da decisão de investir, observando ainda que o comportamento humano altera a realidade futura tornando impossíveis as decisões ótimas. Crenças, modelos mentais, hábitos, rotinas e convenções são, portanto, importantes para analise do comportamento investidor.

4. Rotinas e inovação na perspectiva (neo) schumpeteriana

A abordagem microeconômica evolucionária desenvolvida a partir de Schumpeter (1939; 1984; 1985) procura explicar o comportamento da firma na busca por melhores condições de mercado. Como as abordagens anteriores admite a impossibilidade de interpretar as decisões, seja de investimento ou inovação, de forma semelhante à ortodoxia e incorpora a ideia de que, diante da incapacidade de decisões que seguem o pressuposto de maximização dos lucros, as firmas procuram desenvolver padrões estáveis de comportamento. Nelson e Winter (1977; 1982) são referência nessa forma de análise10 explicando que os resultados da inovação são imprevisíveis, o que demanda uma forma de comportamento alternativa ao processo de escolha racional.

Para proporem um modelo evolucionário e explicar o comportamento sem recorrer aos cânones do equilíbrio maximizador, Nelson e Winter (1977, 1982) precisaram encontrar, no campo econômico, um elemento relativamente estável, sob o qual fosse possível operar o processo de seleção e adaptação comumente utilizado na análise biológica. Propõem tratar as rotinas como os genes, dado que estes se apresentam como detentores das características persistentes dos organismos. Nas palavras de Nelson e Winter (1982, p. 36): “In our evolutionary theory, these routines play the role that genes play in biological evolutionary theory”. Sobre seu papel no comportamento empresarial afirmam: “They are a persistent feature of the organism and determine its possible behavior (though actual behavior is determined also by the environment)” (Nelson e Winter, 1982, p. 28.).

Nos fundamentos evolucionários, as rotinas passam por um processo de seleção porque as mais apropriadas prosperam, garantindo a sobrevivência do organismo e fazendo 9 Nas palavras de Keynes (1964, p. 102 e 103): “Even apart from the instability due to speculation, there is the instability due to the characteristic of human nature that a large proportion of our positive activities depend on spontaneous optimism rather than on a mathematical expectation, whether moral or hedonistic or economic. Most, probably, of our decisions to do something positive, the full consequences of which will be drawn out over many days to come, can only be taken as a result of animal spirits of a spontaneous urge to action rather than inaction, and not as the outcome of a weighted average of quantitative benefits multiplied by quantitative probabilities. Enterprise only pretends to itself to be mainly actuated by the statements in its own prospectus, however candid and sincere. Only a little more than an expedition to the South Pole, is it based on an exact calculation of benefits to come. Thus if the animal spirits are dimmed and the spontaneous optimism falters, leaving us to depend on nothing but a mathematical expectation, enterprise will fade and die; though fears of loss may have a basis no more reasonable than hopes of profit had before”10 Apesar de normalmente relacionada à obra dos autores, Winter (1964, p. 264) já havia proposto a ideia de rotina para descrever o comportamento organizacional. Argumenta que “When the firm is doing well, it will not expend time and money on "search activity." Thus if a firm is be having according to a routine that is actually viable, given the existing competition of other organization forms and the character of the environment, it will not be inclined to depart from the routine. It will escape the information and costs of continuously examining the possibilities in a wider range of possible behavior than it actually displays. E classificando rotina como “I use the word" routine" here to mean a pattern of behavior that is followed repeatedly, but is subject to change if conditions change”.

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com que a expansão das firmas leve a perpetuação de determinadas características. As rotinas são como os genes (hereditárias) porque os organismos do futuro, gerados no presente, apresentam muitas das propriedades do organismo original. O que garante esse processo evolucionário, de seleção e adaptação, é competição nos mercados que faz das empresas com rotinas mais adequadas as com maior chance de sobrevivência e propensas a maior lucratividade.

Nelson e Winter (1982) classificam as rotinas em três tipos. O primeiro se relaciona com as características operacionais, o que a firma faz quando seus fatores de produção estão dados. O segundo se refere às rotinas que determinam o aumento ou redução no estoque de capital empregado. São rotinas para determinar os novos investimentos e o nível de capacidade produtiva11. Ainda existem as rotinas capazes de modificar rotinas, pois em determinados períodos as empresas podem alterar várias das suas características e repensar toda sua forma de operação. Isso acontece a partir de um processo de busca em que as organizações fazem um estudo cuidadoso de novas práticas (P&D, por exemplo) e da sua capacidade de gerar maior lucratividade.

E a relação entre rotinas e inovação? Se as rotinas se apresentam como padrões relativamente estáveis de comportamento seria de esperar que fossem um empecilho para modificar a forma de fazer as coisas dentro das organizações. De fato, em alguns momentos as rotinas cristalizam-se em comportamentos repetitivos e evitam um excesso de racionalização que poderia ser demasiadamente custoso às operações diárias. Contudo, as rotinas são produto de um processo de aprendizagem (Zawislack, 1996) e, por isso, carregam conhecimento que pode ajudar na solução de diversos problemas. Basta lembrar que Dosi (1988) define a inovação justamente como a solução de problemas aleatórios que acontecem no processo produtivo.

A proposta evolucionária da teoria neoschumpeterina dá coerência a essas afirmações. Na visão de Nelson e Winter (1977; 1982), para que o mecanismo de seleção opere, é preciso que as rotinas estejam em constante mutação, o que permite as empresas adaptar seu comportamento às circunstâncias de mercado. Ainda existe um feedback entre as rotinas e a inovação, pois ao mesmo tempo em que a inovação cria novas rotinas, estas, ao estarem consolidadas e adaptadas a determinados contextos, acabam incentivado (ou restringindo) o desenvolvimento de novas práticas. As firmas mais aptas, ou seja, as que possuírem um conjunto de rotinas eficientes, com conhecimento acumulado para gerar novas formas de operar (inovação), terão maiores lucros e market share.

Se por um lado a inovação no interior das firmas é explicada pelas rotinas e sua adaptação ao ambiente externo, por outro, na medida em que algumas rotinas e o progresso técnico são compartilhados na economia, certos padrões tecnológicos ganham uma configuração mais agregada, definindo um roteiro para inovação que acaba se disseminando na sociedade. Dosi (1993), seguindo a abordagem de Schumpeter (1939), propôs a ideia de paradigma tecnológico, afirmando que as inovações acontecem de forma semelhante às revoluções científicas (c.f. Kuhn, 1992). Isto é, existem inovações incrementais, como na ciência comum e inovações radicais, que acontecem quando insurge uma nova revolução. A mesma linha de raciocínio é compartilhada por Fremann e Perez (1988). Contudo, os autores concebem a noção de paradigma tecnoeconômico, cuja conotação procura considerar não apenas a dimensão econômica, mas técnica e institucional do processo de desenvolvimento. Segundo esses autores, trata-se de “uma forma comum de fazer as coisas na economia”.

11 Nesse caso, a decisão pode ser relativamente simples, caso envolva investimentos que ampliam a capacidade produtiva nos mesmos moldes anteriores, ou mais complexa, quando diz respeito a ações sobre ampliar a estrutura produtiva com base em um programa de produção próximo a uma nova fronteira tecnológica.

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Interessante que esse paradigma representa o estabelecimento do que os autores chamam de meta rotinas. Estas garantem justamente um guia comum para inovação dentro do sistema produtivo estabelecido.

Sendo o tecido produtivo definido pelas características das firmas, suas rotinas tendem a ser compartilhadas pela diversidade de organizações econômicas, dando ao progresso técnico características gerais que se molda pela configuração de paradigmas produtivos. Assim como as firmas estão sujeitas ao processo de evolução, o paradigma produtivo vai se instituindo em um processo evolucionário de erros e acertos, moldando e ao mesmo tempo sendo moldado pelas rotinas que, por seu curso histórico/evolucionário, permitem que as empresas inovem nos períodos de perturbação.

5. Os hábitos, os investimentos, as rotinas e a inovação: uma proposta de conciliação teórica para auxiliar na compreensão do desenvolvimento

Na abordagem (pós) keynesiana, os investimentos são os grandes responsáveis pela geração de emprego e renda constituindo-se no principal elemento do curto prazo capaz de amenizar os ciclos econômicos e em um dos fatores mais relevantes para o desenvolvimento após seu período de maturação. Ao assumir que as decisões estão sujeitas a uma a incerteza que não pode ser transformada em risco, as deliberações sobre investimento acabam fruto de uma complexidade de fatores que não podem ser traduzidos em cálculos racionais12. Dentre eles, hábitos e rotinas assumem papéis nada desprezíveis.

Nelson e Winter (1982) demonstraram que as decisões de ampliação da capacidade produtiva são particularmente afetadas pelas rotinas estabelecidas. Ainda que envolvam questões mais complexas que os procedimentos operacionais, tais decisões se relacionam com convenções e comportamentos prévios que foram estabelecidos a partir de um acumulado de conhecimentos (Zawislack, 1994). Comportamentos repetidos (rotinas) passam a influenciar e serem influenciados pelos hábitos (Veblen, 1989) a ponto de Hodgson e Knudsen (2004, p. 289) constatarem que as rotinas são uma manifestação coletiva dos hábitos individuais13. Grosso modo, não é exagero afirmar a existência de “hábitos para investimento” que se manifestam em comportamento prático: “rotinas” para ampliar a capacidade produtiva14.

Ao associam-se ao modelo cognitivo dos indivíduos, rotinas e hábitos são importantes para a formação de expectativas e para deflagrar o animal spirit dos empreendedores. Enquanto Dow e Dow (2011) e Dequech (1999) consideram o animal spirit como uma necessidade de ação mesmo em face da incerteza, Pessali (2006) associa o conceito keynesiano a um comportamento instintivo15. Nas abordagens institucionalistas, os hábitos são o instrumento desenvolvido pelos seres humanos para facilitar comportamentos que visam

12 Keynes (1936, p. 106) afirma “We are merely reminding ourselves that human decisions affecting the future, whether personal or political or economic, cannot depend on strict mathematical expectation, since the basis for making such calculations does not exist”.13 Porém Hodgson (2004, p. 289) complementa: “But we do not refer here to habits that are simply shared by many individuals in an organization or group. Routines are not habits: they are organizational meta-habits, existing on a substrate of habituated individuals in a social structure. Routines are one ontological layer above habits themselves [...]”14 Para Hodgson e Knudsen (2004, p. 289) a definição de rotinas se assemelha a de hábitos porque: “[...] we define routines as organizational dispositions to energise conditional patterns of behaviour within an organized group of individuals, involving sequential responses to cues”15 Ao ser uma propensão para ação ao invés da inação Dow e Dow (2016) afirmam que o animal spirit é produto do subconsciente, não devendo receber tratamento racional ou irracional, mas sim a racional.

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atingir determinados fins. Quando o comportamento coletivo gera resultados satisfatórios ele se torna facilmente reproduzido, gerando uma rotina organizacional que ameniza a dificuldade de racionalização frente à complexidade ambiental.

Se o animal spirit do investidor sofre influência dos hábitos individuais e das rotinas organizacionais sua sujeição às instituições é indiscutível. Mesmo que a incerteza esteja presente em praticamente todas as decisões econômicas (Dow, 2016) as instituições oferecem estímulos para desencadear propensões de investimento mesmo quando as situações se mostram adversas16. A esse respeito, Ferrari e Conceição (2005) lembram que as teorias keynesianas e institucionalistas podem ser aproximadas pelo conceito de incerteza e pelo papel que as instituições desempenham sobre o nível confiança dos agentes. Embora não seja possível eliminar, ou mesmo reduzir a incerteza, as instituições podem proporcionar estímulos suficientes para desencadear a ação produtiva dos empresários inibindo o desejo pela simples retenção de ativos líquidos.

Se por um lado os hábitos e as instituições são importantes para o animal spirit, por outro, se mostram fundamentais para a inovação tecnológica, pois modificar um conjunto de técnicas estabelecidas requer uma forte propensão para ação, cujos resultados são tão incertos quanto dos investimentos produtivos (Nelson e Winter, 1982). Para Dow e Dow (2011, p. 9) “Since the literature on innovation places such importance on epistemological issues arising from the inherent uncertainty surrounding the innovation process, it seems that there is significant scope for considering innovation as a particular action to which animal spirits are relevant”. Enquanto Nelson e Winter (1982) observam que as firmas desenvolvem rotinas para os investimentos produtivos e até mesmo métodos para inovar, Dow e Dow (2011) consideram as convenções e rotinas uma forma de evitar a incerteza de forma passiva ao passo que o animal spirit se refere a um meio ativo de enfrentá-la, ampliando a capacidade produtiva ou modificando as condições de mercado justamente quando as circunstâncias se mostram desfavoráveis.

Uma vez desencadeados, os investimentos e a inovação afetam toda estrutura sócio institucional da economia, o que dá ao conceito de unidade orgânica pós-keynesiano (c.f. Dow, 2010) e a ideia de reconstitutive donward causation (effect)17, derivado institucionalismo vebleniano (c.f. Hodgson, 2011), coerência inquestionável para analisar como acontecem as transformações no mundo real. Se os indivíduos aparecem influenciando e sendo influenciados pelas instituições, a ação das organizações produtivas, um tipo especial de instituição (Hodgson, 2006)18, é capaz de promover fortes pressões sobre a matriz institucional vigente, alterando-a a partir da criação de hábitos e comportamentos que se estabelecem com as novas tecnologias. Novos hábitos e rotinas criam uma nova forma de interação humana que, ao disseminar-se pela estrutura produtiva, transforma as tecnologias sociais (Nelson, 2002) e gera um novo padrão de desempenho econômico.

16 Por essa razão, em momentos de forte incerteza, o animal spirit associa-se com a razão, com as provas e o julgamento convencional dos empreendedores (Dow e Dow, 2016).17 Tal mecanismo apresenta-se como uma alternativa para duas visões extremas de pensamento: o estruturalismo metodológico, que assume os indivíduos como determinados pela estrutura social, e o individualismo, que pressupões indivíduos livres de influência institucional.18 Para Hodgson (2007), ao contrário do que expressa o pensamento de Douglass North, onde as firmas são retiradas do campo de análise institucional e tratadas como os jogadores que respeitam as regras (instituições), as organizações são um tipo especial de instituições que possuem as seguintes características: 1) apresentam critério para estabelecer suas fronteiras e distinguir os seus membros dos não membros; 2) possuem princípios de poder em relação a quem está no comando; e 3) definem cadeias de comando, delineando responsabilidades dentro da organização.

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As instituições são ainda essenciais para o progresso tecnológico na medida em que contribuem para solução de problemas que acometem o processo produtivo e porque influenciam (auxiliam) nos esforços deliberados de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) que ocorrem dentro e fora das empresas (Dosi, 1993)19. O compartilhamento de rotinas produtivas, que proporciona a emergência de determinadas tecnologias sociais (Nelson, 2002), é afetado tanto pelas políticas macroeconômicas que garantem demanda efetiva como por políticas que agem do lado da oferta, criando novas rotinas, novos hábitos, enfim desencadeando o animal spirit com vistas a incorporação dos avanços científicos ao processo produtivo. No primeiro caso, Coriat e Dosi (2007) destacam que as políticas econômicas devem ser eficientes no sentido de garantir demanda para os ganhos de produtividade que ocorrem com o desenvolvimento das novas tecnologias. No segundo, a literatura neoschumpeteriana remete aos estudos dos sistemas nacionais de inovação que compreendem, segundo Nelson (2007), um conjunto de instituições, tais como, um sistema financeiro forte (público e privado), uma educação primária e secundária adequada, universidades com formação de cientistas e engenheiros capazes de operar novas tecnologias, laboratórios públicos e privados de P&D, mecanismos de incentivo à cooperação entre firmas, entre outros.

Pela ótica vebleniana, o ambiente institucional é um importante elemento para estabilidade dos hábitos (Hodgson e Knudsen, 2004, p. 282) e de todos os tipos de comportamento social. Porém, se os hábitos produtivos estão instituídos na forma de rotinas organizacionais seria de esperar uma dificuldade de mudança que acabaria dificultando a inovação tecnológica e a transformação institucional, requisitos para o desenvolvimento econômico. Essa inércia é rompida, no entanto, quando o ambiente social cria condições que obrigam os indivíduos a rever sua forma habitual de pensamento (Veblen, 1983). Tal adversidade é explicada nos neoschumpeterianos pela necessidade de sobrevivência dos organismos no mercado. Em um modo de produção guiado pelo lucro, a concorrência se torna um processo dinâmico que exige das firmas constante aperfeiçoamento de rotinas; inovações para ganhar mercado e estar à frente das rivais20.

Essa mudança tecnológico/institucional pode ser incremental, quando os aperfeiçoamentos nas técnicas ocorrem dentro de um paradigma produtivo (cf. Dosi, 1993), ou radical, causadas por revoluções tecnológicas (cf. modelo Freemann-Pérez, 1988). Na medida em que um paradigma tecnoeconômico se institui, as melhorias incrementais no processo produtivo são definidas pelas rotinas que vão se estabelecendo pelo aprendizado, mas estas também criam condições para emergência de inovações radicais; momento em que uma trajetória tecnológica entra em fase de maturação21 (Pérez, 2011). Quando surgem novos paradigmas produtivos o papel das instituições e das políticas macroeconômicas se torna preponderante, seja para supremacia dos investimentos, que podem ser paralisados em função da incerteza radical que permeia o ambiente, seja para o desenvolvimento ou adoção das técnicas que se desenvolvem.

19 Para Nelson (2005) algumas firmas internalizaram muitas atividades Pesquisa e Desenvolvimento em função das especificidades de produção e comercialização, chegando a tornar-se impossível que algumas práticas específicas de P&D se encontrem em qualquer outra instituição. Na mesma linha de análise, Rosemberg (2006) questiona a exogeneidade da ciência demonstrando, com diversos exemplos, que as tecnologias e a pesquisa científica se desenvolvem a partir dos problemas observados na prática cotidiana das empresas.20 Para Hodgson e Knudsen (2014, p. 289) “In particular, firms with incentives and culture to stabilise productive patterns of behaviour may have advantages over their competitors. At the same time, as generally in evolution, there must be scope for a degree of variation and innovation”21 Além do mais, como apontaram Nelson e Winter (2005), Pérez (2011) reconhece que as próprias firmas tendem a desenvolver rotinas para operações normais e rotinas para inovações.

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Uma sistematização das relações fundamentais entre as três abordagens teóricas são apresentadas na Figura a seguir. Nela procura-se ilustrar como ocorre o desenvolvimento a partir dos investimentos produtivos e da inovação tecnológica, demonstrando que o comportamento dos empresários é influenciado pelas rotinas, hábitos, animal spirit e instituições socioeconômicas. Tais relações acontecem em um ambiente de complexidade e incerteza em relação ao futuro; fatores inerentes ao modo de produção e causados pelas repercussões das ações individuais (empresariais) sobre a estrutura socioeconômica.

INVESTIMENTO/INOVAÇÃOINDIVÍDUOS

INSTITUIÇÕES

Comportamento Baseado em: Hábitos

RotinasAnimal spirit

DEMANDA EFETIVA

AVANÇO DA CIÊNCIA E

TECNOLOGIA

DESENVOLVIMENTOECONÔMICO

HÁBITOS(alicerce

institucional)

INSTITUIÇÕES

FIRMAS

AMBIENTE DE

COMPLEXIDADE/INCERTEZA

HÁBITOS(alicerce

institucional)

Figura 1 – Fatores que delimitam o desenvolvimento a partir das abordagens pós-keynesiana, neoschumpeteriana e veblenianaFonte: Elaboração própria

A figura apresenta uma série de feedbacks que demonstram serem as decisões de investimento e inovação determinadas por fatores que devem ser compreendidos a partir dos indivíduos. Tais decisões podem ser coletivas (ocorrer nas firmas) e sofrer influência das rotinas, dos hábitos, e do animal spirit dos empresários. Esses elementos ainda ajudam a explicar a influência das instituições sociais e econômicas sobre o comportamento individual. As instituições são a representação externa da forma de pensar predominante e terão maior consistência quanto mais alicerçadas estiverem em hábitos coletivos; por isso a existência de uma retroalimentação dos indivíduos para as instituições a partir dos hábitos compartilhados.

Em um contexto amplo, as instituições, que auxiliam os investimentos produtivos e a inovação tecnológica, podem ser entendidas como a forma de regulação que se manifesta em políticas econômicas e garantem demanda efetiva quando decisões de investimento são postas em curso. Não por acaso os keynesianos ressaltam a política fiscal, monetária, cambial e salarial como forma de impedir crises e alcançar um crescimento mais equilibrado. Como

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afirmam os regulacionistas, garantir demanda para o avanço tecnológico requer uma adequada definição da forma de participação do Estado na atividade econômica, da forma de gestão monetária (que implica a definição da política monetária e a forma de operação das instituições financeiras), da forma de inserção do país no regime internacional (fluxo de bens e serviços e fluxo monetário), da forma de competição estabelecida e da forma de gestão salarial. É preciso que a configuração macroeconômica posta em curso pelo Estado seja consistente para afetar favoravelmente as expectativas de demanda dos empresários, pois na medida em que se ampliam os investimentos produtivos e são incorporadas inovações tecnológicas a gestão macroeconômica precisa ser constantemente reconfigurada. Para que o progresso técnico não seja bloqueado ainda são importantes políticas voltadas à ciência e tecnologia; a criação de um S.N.I. efetivo de apoio a inovação.

Quando a inovação tecnológica e os investimentos produtivos promovem o desenvolvimento econômico, causando mudança estrutural a partir de inovações radicais, a incerteza tende a se tornar mais significativa porque as novas técnicas, ao se estabelecerem, desestabilizam hábitos, rotinas e comportamentos recorrentes22. Portanto, tanto em períodos de crise como na insurgência de revoluções tecnológicas, o papel do Estado e da política econômica é manter um ambiente de confiança para os investidores; agir sobre a forma como os indivíduos percebem a realidade (incerteza epistemológica). Ainda que o animal spirit seja de grande relevância nos momentos de incerteza radical (Dow e Dow, 2011), a propensão para o investimento ou inovação pode ser estimulada por instituições que coevoluam com o progresso tecnológico.

Por fim, cabe reiterar que o processo ilustrado na figura anterior é path dependence. Ainda que a teoria keynesiana seja normalmente considerada de curto prazo, relacionada às flutuações de emprego e renda e as políticas estabilizadoras, reconhece que os investimentos produtivos demandam um prazo de maturação. Assim como os resultados dos investimentos devem ser analisados a partir de um horizonte intertemporal, os elementos que o determinam são formados historicamente e melhor entendidos com fundamentos evolucionários. Rotinas são definidas por um processo de seleção e adaptação (Nelson e Winter, 1982). Hábitos e instituições formam-se a partir da evolução sociocultural onde algumas instituições desaparecem e outras se afirmam e reforçam mutuamente (Veblen, 1983). O próprio animal spirit requer uma avaliação mais complexa sobre a natureza humana, relacionada tanto aos instintos como ao processo de formação cognitiva dos agentes. Por essas razões o desenvolvimento econômico é um fenômeno dinâmico, dependente da história e que acontece de forma diferenciada entre nações.

6. Considerações Finais: Síntese e implicações de política econômica

A proposta desse trabalho foi propor uma conciliação teórica entre pós-keynesianos, veblenianos e neoschumpeterianos visando encontrar elementos que auxiliem na 22 Reconhecendo a relação do paradigma tecnoeconômico com a inovação, Freemann e Perez (1988) pontuam que nos momentos de crise de um paradigma tecnoeconômico e surgimento de um novo é que a incerteza aumenta e as rotinas podem apresentar-se como elemento restritivo a mudança. Ao contrário, depois de instituído e compartilhado pela coletividade, o paradigma favorece o surgimento das novas rotinas (meta rotinas). Nesse momento a incerteza se torna menor dado que um amplo conjunto de estruturas institucionais operam no sentido de amenizar os riscos aos investimentos e as inovações produtivas.

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compreensão do desenvolvimento, que ocorre por meio dos investimentos produtivos e da inovação tecnológica. A síntese dessa análise é apresentada a seguir:

a) A chave para o entendimento da tomada de decisão envolve uma profunda compreensão do indivíduo. Nesse caso, a união da teoria keynesiana com a institucionalista/evolucionária é bom ponto de partida para análise dos fatores que levam ao investimento produtivo e a inovação tecnológica.

b) A compreensão do processo deliberativo passa pelo complexo entendimento de como emergem as rotinas, os hábitos mentais, as instituições socioeconômicas e como tais elementos passam a afetar as ações futuras das pessoas.

c) As decisões, seja de inovação ou investimento, são uma decorrência de como rotinas, hábitos e instituições interagem com o animal spirit dos empreendedores.

d) Investimentos e inovação estão sujeitos a um considerável grau de incerteza e, justamente por isso deve-se compreender as expectativas de demanda e as instituições de suporte a inovação e ao progresso técnico; estas formadas a partir de hábitos mentais, sob influência das rotinas organizacionais e em um processo histórico/evolucionário.

Em termos de política econômica, outras implicações ficam evidentes:

a) Políticas macroeconômicas, tais como monetárias, fiscais e cambiais, precisam estar alinhadas aos hábitos mentais. Ainda que o animal spirit seja visto como um instinto do empreendedor, o ato de investir requer estímulos específicos que afetam os hábitos, as rotinas organizacionais e a preferência das pessoas pela manutenção de outras formas de riqueza (ativos monetários).

b) Como no caso do investimento, políticas de apoio à inovação tecnológica devem considerar os hábitos e rotinas estabelecidas. É notório que algumas sociedades estão mais propensas a inovação que outras. Considerar como o apoio institucional faz com que novas técnicas produtivas sejam desenvolvidas ou internalizadas pelas empresas (mudando hábitos e rotinas) é uma questão de fundamental importância para política industrial na atualidade.

c) Cabe ao Estado uma forte intervenção quando animal spirit é fraco (cf. Dow e Dow, 2016). Essa intervenção pode se manifestar tanto no ambiente econômico, político e social como partir de intervenções diretas em setores específicos. Se no curto prazo o investimento privado sofre influência do animal spirit o desenvolvimento de longo prazo, aquele se relaciona com a mudança na estrutura produtiva e com o progresso técnico, depende de como as políticas econômicas estimulam o innovator spirit.

Finalmente, a aceitação das considerações precedentes tem repercussões significativas para compreensão das diferenças de desenvolvimento entre as nações. O maior desafio das políticas econômicas é o entendimento dos fatores psicológicos que desencadeiam o comportamento investidor/inovador dos empresários, o que significa uma compreensão mais ampla de como são formados os hábitos mentais, dos fatores que desencadeiam comportamentos inovadores e como tais questões se relacionam com as ações dos policy makers. Embora sujeita a limitações, a análise demonstrou que os investimentos e a inovação precisam ser estudados numa metodologia que considere a interação entre elementos micro, meso e macroeconômicos. Tal construção teórica é um grande desafio e deve extrapolar as análises tradicionais.

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