xuxa: o ocaso do mito? · a xuxa, que me fez voltar no tempo e reviver momentos inesquecíveis da...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
LUANA DE BRITO SOARES
XUXA: O OCASO DO MITO?
SALVADOR – BAHIA
2005
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LUANA DE BRITO SOARES
XUXA: O OCASO DO MITO?
Monografia apresentada em primeira versão
para a conclusão do curso de Graduação
em Comunicação-Jornalismo pela
Universidade Federal da Bahia
Professora Orientadora: Lindinalva Rubim
Banca Examinadora: Daniel Freitas e Vera Martins
SALVADOR – BAHIA
2005
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FICHA CATALOGRÁFICA
SOARES, Luana de Brito.
XUXA: O Ocaso do Mito?. Salvador: UFBA/FACOM, 2005, 63p
Monografia de conclusão de curso – Universidade Federal da Bahia, FACOM
1. Comunicação. 2. Televisão. 3.Mito
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Dedico este trabalho aos meus pais, pela confiança e companhia eternas.
A minha orientadora Linda Rubim, pelo bom humor, paciência e horas dedicadas.
Aos meus irmãos, pelo amor e ajudas constantes.
Aos amigos que levam um pouco de mim dentro deles e me permitem levá-los dentro
de mim.
A Xuxa, que me fez voltar no tempo e reviver momentos inesquecíveis da infância.
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“A bobagem é também o que há de mais profundo no homem (...) Por trás do star
system (...) está o coração do mundo. Está o amor, outra bobagem, outra humanidade
profunda. Está também essa magia que acreditamos reservada aos “primitivos” e que habita
no seio de nossas vidas civilizadas. A velha magia está sempre presente. Todas as nossas
aldeias são dominadas por um campanário.”
Edgar Morin
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Sumário
1. Introdução.................................................................................................................1
2. Capítulo I – Apresentação........................................................................................3
3. Capítulo II – Uma história encantada.....................................................................9
4. Capítulo III – Amor de fã.......................................................................................16
5. Capítulo IV – Um mito midiático..........................................................................23
6. Capítulo V – Análise descritiva dos programas...................................................28
7. Capítulo VI – Um mix de sucessos........................................................................45
8. Capítulo VII – Considerações Finais....................................................................56
9. Bibliografia..............................................................................................................61
10. Anexos
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RESUMO
Luana de Brito Soares. Xuxa: O Ocaso do Mito?
Lindinalva Rubim. Salvador. UFBA, FACOM, 2005. Monografia de conclusão de curso
Esta monografia analisa cinco programas Tv Xuxa, lançado em abril de 2005,
apresentado por Xuxa Meneguel. O elemento que norteou o trabalho foi o conceito de mito,
atribuído à apresentadora de acordo com parâmetros que caracterizam as estrelas e
celebridades do mundo midiático, amparado pelos conceitos de Edgar Morin, autor do livro
“As estrelas. Mito e Sedução no Cinema”. O objetivo do trabalho foi encontrar, no novo
programa infantil diário da Rede Globo, os caminhos e nuances que legitimam Xuxa como
um ícone nacional presente no imaginário coletivo e fixado como exemplo para crianças,
jovens e adultos desde a década de 80, período auge de seu sucesso. A vida pessoal de
Xuxa, bem como toda a sua trajetória profissional, sempre acompanhadas por câmeras de
Tv, e ainda o poder que exerce sobre seu público são discussões presentes no trabalho. A
análise dos programas mostra que a tradição de gostar de Xuxa é o que ainda mantém o
trono da rainha dos baixinhos.
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ABSTRACT
Luana de Brito Soares. Xuxa: The Ocaso of the Myth?
Lindinalva Rubim. Salvador. UFBA, FACOM, 2005. Monografia de conclusão de curso
This monograph analyzes five programs TV Xuxa, launched in April of 2005, presented
for Xuxa Meneguel. The element that guided the work was the concept of myth, attributed
to the presenter in accordance with parameters that characterize the stars and celebrities of
the mediatic world, supported for the concepts of Edgar Morin, author of the book "The
Stars. Myth and Seduction in the Cinema ". The objective of the work was to find in the
new daily infantile program of the Rede Globo the ways and nuances they legitimize Xuxa
as an icon that is in the national collective imaginary and settled as an example for children,
young and adults since the decade of 80, height period of its success. The personal life of
Xuxa, as well as all its professional trajectory, always followed for TV cameras, and still
the power that exerts on her public are quarrels of this work. The analysis of the programs
sample showed that the tradition to like Xuxa is what still gives the throne of the queen of
the children to her.
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Introdução
O presente trabalho propõe uma análise do Tv Xuxa, o mais novo programa infantil da
Rede Globo de televisão, apresentado por Maria das Graças Meneghel. É o décimo quinto
programa de auditório comandado por Xuxa, conhecida como a “Rainha dos Baixinhos”,
um fenômeno de público e vendas desde o ano de 1983, quando estreou com o Clube da
Criança, na extinta Rede Manchete.
A estrela é um exemplo de celebridade televisiva e justifica-se como um objeto de
estudo sobre as influências midiáticas produzidas principalmente a partir do século XX,
com o desenvolvimento do cinema. A junção do carisma com as técnicas de mercado
fizeram da história de Xuxa um dos fenômenos comunicacionais brasileiros mais
significativos das últimas duas décadas.
Neste sentido, o estudo analisa o programa Tv Xuxa e suas especificidades como
formato e linguagem. O objetivo principal é observar a abordagem do programa, para
investigar como este comunica o “mito Xuxa” para as crianças. A hipótese inicial é de que
há uma finalidade mercadológica na construção da imagem de Xuxa, que o discurso real e o
simbólico são determinados de forma subliminar, já que a Rede Globo precisa sustentar e
garantir a visibilidade do ídolo popular brasileiro construído pela própria emissora.
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O trabalho foi dividido em sete capítulos, que efetivam a aproximação com o objeto e
sua análise. Na apresentação, reafirma-se a importância do objeto, as ancoragens teóricas e
a metodologia aplicada. O segundo capítulo narra a trajetória de vida de Xuxa, tanto
pessoal quanto profissional, na tentativa de subsidiar a análise e contextualizar a
personalidade que sustenta este trabalho.
Por compreender Xuxa como um fenômeno midiático, consagrado por seu público, o
terceiro capítulo é dedicado à questão do “amor de fã”, fundamental no mundo das
celebridades, caracterizado por Edgar Morin no livro “As estrelas. Mito e Sedução no
Cinema”, no qual apóia-se o estudo. O capítulo IV explica os referenciais teóricos citados
ao longo da monografia, como o conceito de mito e a naturalização dele nas práticas diárias
da sociedade, fundamental para o entendimento da análise.
Em seguida, o capítulo V traz a descrição das atrações que compõem o programa Tv
Xuxa. De forma objetiva, elas foram dispostas em quadros para a posterior avaliação dos
destaques encontrados. Esta avaliação vem, finalmente, no capítulo VI, quando alguns
pontos são levantados e configuram a análise. No último capítulo, elaboramos algumas
considerações finais sobre os resultados alcançados. Ofertamos como anexos, uma
reportagem sobre Xuxa e o lançamento da Tv Xuxa e dados que ilustram melhor afirmações
citadas ao longo da monografia.
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Capítulo I
Apresentação
No ano em que completa 20 anos na televisão e 42 anos de vida, Xuxa estréia um novo
programa. Depois de uma fracassada tentativa de mudança de formato, com o “Mundo da
Imaginação”, que durou dois anos, a Rede Globo de Televisão lança a Tv Xuxa na busca de
maiores índices de audiência na programação matinal da emissora, que vinha sendo perdida
para outros canais no horário, segundo afirmam as notícias.
“Desta vez não pode falhar. Se depender do uso de uma fórmula, a baixa audiência
de "Xuxa no Mundo da Imaginação" não vai se repetir na nova atração da loira,
"TV Xuxa", que estréia amanhã, das 10 horas ao meio-dia. Sob a direção de Jorge
Fernando, a apresentadora volta ao ar com uma colagem de todos os programas
infantis já produzidos pela emissora nos últimos anos.” (Agência Estado | São
Paulo – disponível em http://www.jj.com.br/jj2/cadtv/cadernotv03042005-01.html)
Um ícone de vendas, seja de produtos ou comportamentos, Xuxa permanece no ar e
mantém uma imagem que traz encantamento, que envolve, que chega a inverter a “ordem”
e algumas “regras” sociais.
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A geração dos anos 80 não tem como negar: ela ditou moda, condutas, conceitos e até
um jeito de falar, como a “rainha dos baixinhos”.
Mas que magia tem a apresentadora para se manter por tanto tempo na mídia? O que ela
comunica a seus telespectadores e de que forma, que os deixam completamente fascinados
e fiéis à sua figura ao longo dos anos?
O objetivo original do nosso Trabalho de Conclusão de Curso era focar o programa
“Xuxa no Mundo da Imaginação”. Através da análise deste programa, buscaríamos
encontrar as pistas que nos levassem ao desvendamento dos elementos que contribuíam
para a sustentação do carisma de Xuxa, uma apresentadora de programa infantil que
continua a encantar crianças e adultos ao longo dos anos.
O propósito era desenvolver uma investigação tanto no conteúdo, quanto no formato
que sustentavam aquela “revista eletrônica”, considerada inovadora para os padrões de
programas infantis no Brasil. O “Mundo da Imaginação” destinado às crianças de até seis
anos de idade tinha um estilo “americanizado”: possuía uma estrutura composta de várias
atrações e sustentava-se, curiosamente, sem desenhos animados. Foi o primeiro programa
apresentado por Xuxa sem a supervisão de Marlene Mattos, com quem rompera uma
parceria profissional de quase vinte anos. Distante de Marlene, a apresentadora tornou-se a
responsável integral por todo o programa, desde a seleção dos caracteres, das imagens de
vídeos domésticos que eram exibidos, até o tipo de câmeras mais adequadas aos ambientes
infantis, já que os aparelhos muito grandes assustavam as crianças.
Veiculado após três anos de pesquisa, o programa foi concebido com a ajuda de
educadores e profissionais especializados. Também os cenários compostos de castelos,
casinhas de doces, flores coloridas, montanhas e nuvens, foram elaborados com o objetivo
de retratar os símbolos das histórias infantis e transportar as crianças para o mundo da
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imaginação. Apesar de ter um pequeno elenco fixo, com poucas crianças no cenário, o
programa era aberto à participação de crianças de todo o Brasil, através de cartas, vídeos,
fotos e desenhos, solicitados não só durante a sua exibição, assim como, através de diversas
chamadas realizadas em outros horários da programação da TV Globo.
No entanto, a “fórmula” não deu certo, a atração fechou o ano de 2004 com apenas 5
pontos no ibope e, apesar da “Rainha dos baixinhos” continuar sua trajetória gloriosa em
outros lugares e situações, não era mais o “mundo da imaginação” de Xuxa, o lugar
escolhido pelos fãs para glorificar a sua deusa. E como na televisão a audiência é garantia
de vida, o programa acaba morrendo para dar formato a outro que pudesse acolher o
carisma que a Globo sabe ter a sua rainha. A Tv Xuxa é inaugurada e nela focamos agora o
nosso interesse, a fim de investigar estruturas e situações que sustentam o reinado da
“Rainha dos baixinhos”.
Inaugurada no dia 4 de abril deste ano, a Tv Xuxa traz um formato que aproxima-se do
programa Xou da Xuxa, que deu à estrela o lugar privilegiado de rainha entre os seus
baixinhos. Nesta versão atual, a artista retorna à sua condição de apresentadora e assume
integralmente a condução das atrações, como o fazia anteriormente. Como nos anos 80, ela
volta a ser um “ser” extraterrestre, que desembarca de uma nave espacial e traz alegria para
a terra. É um agente portador de instrumentos simbólicos para alimentar o imaginário
infantil do País e, conseqüentemente, uma celebridade, um mito midiático da atualidade
brasileira.
Para realizar esta investigação, nos debruçamos na análise de cinco programas Tv Xuxa,
exibidos em semanas consecutivas, a partir do primeiro episódio, um em cada dia da
semana, com um total de 10 horas de gravação.
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Reafirmamos a escolha deste tema como objeto de estudo dado o destaque de Xuxa na
Televisão e no imaginário infantil brasileiro. Um assunto que consideramos de essencial
interesse, pelo fato de buscar “desvendar” como a comunicação e a mídia têm o poder de
criar, naturalizar atitudes, comportamentos e até modificar o jeito de ser dos seus
telespectadores. O que pretendemos com este trabalho não é fazer uma análise de recepção,
mas um estudo sobre a construção da narratividade, dos links, das pontes entre os diversos
elementos apresentados pelo programa escolhido; avaliar de que forma isso pode ajudar na
compreensão e estímulo da criatividade do expectador; perceber que caminhos foram
construídos para levar os códigos e as linguagens ao público infantil. Uma outra questão
que também nos intriga e mobiliza é desvendar por quê os programas recentes de Xuxa não
têm mantido a audiência esperada do seu público alvo, já que a estrela continua brilhando
no universo das celebridades, desde que foi legitimada, principalmente pelas crianças que,
na década de 80, a consagraram como a rainha dos seus sonhos e depositária fiel dos seus
desejos.
Autores como Edgar Morin já estudaram os mitos, as estrelas de cinema, e está provado
que é possível a construção de uma personalidade através de mecanismos midiáticos. Esta
monografia apóia-se em um dos livros deste autor “As Estrelas: Mito e Sedução no cinema”
para percorrer a trajetória de Xuxa, uma “celebridade”, criada e consagrada pela televisão.
Para a persona em análise, referências do starsystem, que Edgar Morin expõe em sua obra,
conforma o argumento prévio, que Xuxa possui características similares àquelas que
definem uma estrela.
Para desvendar esta plêiade de questões tomamos, como já foi mencionado, o novo
programa apresentado por Xuxa na Rede Globo como objeto de análise.
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A Tv Xuxa pretende ser uma estação de Tv onde a rainha Xuxa comanda atrações,
apresenta notícias, traz desenhos animados, conduz e participa de brincadeiras com as
crianças. São duas horas de transmissão todos os dias pela manhã, concorrendo com o
infantil do SBT “Bom dia e Cia”, emissora localizada em segundo lugar em audiência da
televisão aberta no Brasil, e que, até pouco tempo era a detentora hegemônica dos pontos
do Ibope no horário matutino.
À escolha deste programa para a análise também se agregam fatos subjetivos. Em
primeiro lugar, fui uma criança dos anos 80, que teve Xuxa como companhia durante horas,
que usou as roupas lançadas por ela, que sabia de cada pedacinho do programa. O fascínio
que a loirinha exercia sobre mim, e sobre toda uma geração, era tanto que nossos maiores
sonhos giravam em torno do desejo de ser uma “paquita”, como eram chamadas as
ajudantes de palco da estrela, ou mesmo a esperança de um dia ganhar uma “marquinha” na
bochecha, deixada por um beijo de batom, e até viajar na nave que a apertava todas as
manhãs naquele cenário de encher os olhos.
“Essa oportunidade ímpar de mandar o beijo e estar com a Rainha e, - maior das
sensações - subir na nave ao final do programa, em uma espécie de abdução
voluntária, controlada, desejada como um prêmio insuperável, faz com que o
imaginário infantil e adolescente construído a partir do final da década de oitenta e
meados da década de noventa encontre na mídia uma dimensão reconhecidamente
irreal e ilusória de que a vida é menos o que se leva nas esferas mais cotidianas, e
mais o que se consegue suplantar dessa própria esfera. Como se estar junto da
Rainha é que fosse o objetivo mais glorioso em relação à vida cotidiana. “No
espetáculo, uma parte do mundo se representa diante do mundo e lhe é superior”
(Debord, 1967). (Junior, Jupy. Universidade Federal Fluminense, 2000)
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Com o passar do tempo, o encanto deu lugar à percepção de que Xuxa tinha algo a
mais, que a destacava dentre as apresentadoras contemporâneas, isso se traduzia por um
magnetismo evidente, que a eternizou no imaginário do brasileiro como uma verdadeira
rainha, dona de um lugar de fala intocável, que a alocava habitante de um patamar superior.
Condição que era dada não apenas pelos seus programas, as músicas, mas um certo
encantamento, incrustado na pessoa ou na sua personagem
Em vista do exposto, a presente monografia objetiva encontrar no estudo da
programação enunciada as respostas e motivos que fazem de Xuxa uma celebridade
indiscutível no país. A amostra construída dará margem à nossa discussão sobre questões
como o amor dos fãs e o mito.
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Capítulo II
Uma história encantada
Um mundo de fantasia, beleza, sonho, fanatismo e encantamento. Assim poderíamos
definir, hoje, a imagem que a apresentadora Xuxa Meneghel construiu em 25 anos de
carreira e o que ela representa para seus “baixinhos”, como eram chamados os pequenos
telespectadores do seu antigo programa infantil, o Xou da Xuxa. Maria da Graça Meneghel
nasceu em 27 de março de 1963, na cidade de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, mas
mudou-se para o Rio de Janeiro sete anos depois, quando seu pai, Luiz Floriano, militar,
fora transferido para aquela cidade. Aos 15 anos, Xuxa foi vista por um funcionário da
Bloch Editores, que a seguiu até a porta de casa com interesse de convidá-la a fazer um
teste para ser modelo. Com 16 anos, ela apareceu pela primeira vez na revista "Carinho", da
própria Bloch Editores, e a partir de então despontou na carreira artística.
Em 1980, Xuxa conheceu Pelé ao posar para a capa da revista "Manchete". Junto com
ele, conheceu também as modelos Luiza Brunet e Márcia Brito. Depois da sessão de fotos,
Pelé a convidou para jantar e assistir a um show de Elis Regina. O namoro com o maior
ídolo do futebol mundial durou seis anos. Nesta época, Xuxa realizou muitos ensaios
fotográficos, somando mais de cem capas, inclusive para revistas masculinas como
"Playboy", "Status" e ainda "Ele & Ela". Foi também no início dos anos 80 que ela atuou
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no filme Amor, Estranho Amor (1982), de Walter Hugo Khouri, com cenas em que seduz
um garoto de 16 anos. Posteriormente, o filme trouxe grande polêmica para a carreira da
“loirinha” e ela chegou a proibir judicialmente que fosse lançado em vídeo.
Mas foi assim que ela conseguiu um espaço na televisão. Em 1983, Xuxa inaugurou sua
carreira como apresentadora de tevê no programa infantil Clube da Criança, na extinta
Rede Manchete, a convite do diretor Maurício Sherman, já dirigida pela empresária
Marlene Mattos. Depois de apenas dois anos, em 1985, a loura foi convidada pela Rede
Globo para apresentar um programa infantil. Como condição para aceitar, ela impôs que o
programa tivesse o seu nome. Surgia então o Xou da Xuxa, um dos maiores sucessos da
história da Tv brasileira, transformando a apresentadora na “Rainha dos Baixinhos”. A
estréia aconteceu no dia 30 de junho de 1986 e o sucesso foi crescendo por sete anos
consecutivos. Todas as manhãs, ela surgia em uma nave espacial para trazer alegria à Terra
e seus moradores, e ficava quatro horas no ar, comandando brincadeiras, distribuindo os
cobiçados beijinhos e apresentando desenhos animados. Nesta época as pesquisas do
IBOPE apontavam para o programa de 32 a 35 pontos, tendo como referência a cidade de
São Paulo. Durante este tempo, Xuxa colecionou 139 discos de ouro, 52 de platina e 10 de
diamante. Foram cerca de 14 milhões de cópias vendidas, dos sete discos realizados no
"Xou da Xuxa". Com o terceiro deles, a rainha conquistou um feito inédito em sua carreira:
além de vender cerca de 3,2 milhões de discos, entrou para o "Guinness Book" (Livro dos
Recordes). O álbum incluía músicas como "Ilariê", "Arco-Íris", "Abecedário da Xuxa" e
"Brincar de Índio", entre outras.
Dois anos depois, em 1988, com a carreira já consolidada, Xuxa se torna notícia por
viver uma grande paixão: Ayrton Senna. O namoro durou um ano e seis meses. A rainha
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dos baixinhos juntava-se a um dos mais admirados desportistas do Brasil, um par perfeito,
um romance muito badalado pela mídia.
"Muita coisa boa aconteceu entre mim e o Senna - lembra Xuxa. - Ele era o tipo de
pessoa que não falava o que queria. Ele fazia e não deixava nada para amanhã.
Fiquei com ele um ano e seis meses e foi intenso este pouco tempo que durou. Não
dá para dizer o que houve de mais importante ou bonito entre nós. Cada vez que a
gente ficava junto não tinha espaço para mais nada". (Xuxa)
Neste mesmo ano, a apresentadora passou a se chamar Maria das Graças Xuxa
Meneghel, assumindo a personalidade de Rainha dos Baixinhos não só no ambiente de
trabalho, mas trazendo para si toda a “responsabilidade” da sua personagem.
Como apresentadora de programa infantil, Xuxa participou de diversas campanhas
antidrogas; em defesa do meio ambiente; de vacinação e prevenção de doenças, chegando a
receber por elas o reconhecimento de autoridades brasileiras, inclusive foi condecorada
com a medalha de Honra ao Mérito pelo Presidente da República, por ocasião da campanha
nacional contra a poliomielite, em 1987, que teve grande sucesso e resultou na imunização
de 90% das crianças brasileiras. Percebendo o seu carisma com as crianças, os jovens e, em
certo sentido, a população em modo geral, a estrela foi muito requisitada para liderar
diversas campanhas publicitárias voltadas para programas sociais. Em vários momentos,
um rastro do seu sucesso musical imprimia, através desta ferramenta, a música, mensagens
como
“Droga, droga, droga, que droga / A gente não precisa dela / Pra encontrar a saída /
Droga, droga, droga, que droga / A gente não precisa dela / Eu amo a vida”
e incentivos de força e amor próprio, como em Lua de Cristal
“Tudo pode ser / Se quiser será / sonhos sempre vêm / Pra quem sonhar”.
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Ainda em 1987, quando se comemorava o Ano Internacional da Mulher, Xuxa foi
inserida na lista das dez mulheres de maior destaque do planeta, feita pelo jornal francês
Líberàtion. Ao lado dela, famosas como a ministra inglesa Margareth Thatcher e a primeira
dama soviética Raisa Gorbatchov.
Em 1989, ela conciliou a apresentação do "Xou da Xuxa" (de segunda a sábado) com o
global "Bobeou Dançou", somente aos domingos. Na mesma época, Xuxa conquista o
mercado latino-americano com o lançamento de um disco em espanhol, que fez crescer
ainda mais a sua popularidade no exterior. Em 12 de outubro daquele mesmo ano, a rainha
inaugura a Fundação Xuxa Meneghel, em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, uma
propriedade de 10 mil metros quadrados. A instituição atende a 250 crianças e
adolescentes, entre 3 e 12 anos, e dá assistência em áreas distintas: alimentação,
atendimento médico odontológico, acompanhamento do desenvolvimento físico e mental e
participação em cursos de Informática, Inglês, Artes Plásticas, Natação, Educação Física,
Escolinha de Futebol, Biblioteca, Reforço Escolar, dentre outros.
O ano de 1991 foi emblemático para o desenvolvimento da sua carreira internacional. A
Telefe, maior emissora de tevê da Argentina, colocou no ar o "El Show de Xuxa", que,
além de ser veiculado em todo território argentino, chegava em mais de 16 países latinos e
também no mercado latino dos EUA. Com a veiculação do programa no idioma espanhol, o
sucesso da apresentadora brasileira na Espanha também foi notável. Em 92, ela estréia o
"Xuxa Park", na Tele 5 espanhola, antes mesmo de lançá-lo no Brasil. Neste ano, ela foi
eleita pela revista americana People como uma das cinqüenta pessoas mais bonitas do
planeta e aparece também na lista da Forbes como a 37ª entertainer mais rica do mundo,
com fortuna estimada em 100 milhões de dólares. Em dezembro deste mesmo ano, no dia
31, surpreendentemente que chega ao fim o Xou da Xuxa.
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O programa desaparece para dar lugar a um novo, o “Xuxa”, em 2 de maio de 1993. É
importante observar que, com a inauguração deste programa, a apresentadora está
definitivamente consolidada como uma marca nacional. Uma atração que carrega este nome
não necessita de maiores detalhes e explicações. Apenas a força a marca “Xuxa” é o
suficiente para a garantia de um estrelato que transcorre progressivamente em ascensão.
Um passaporte que, inclusive, abre portas importantes para a Tv brasileira no mercado
americano. Exibido em inglês, “Xuxa” chega em 121 canais independentes nos Estados
Unidos, nesta mesma época.
De 1995 a 2001 Xuxa passa a atingir também o público juvenil, conciliando o infantil
Xuxa Park e programas como Xuxa Hits e Planeta Xuxa, que traziam atrações musicais e
outros quadros de variedades. Neste meio tempo, em 1998, nasce Sasha, a tão esperada
filha.
Com o rebuliço causado na mídia, quando a apresentadora expôs por horas a fio a sua
intimidade, através de revelações sobre o desejo de ter um filho e de toda a seqüência de
fatos decorrentes desse desejo, Xuxa não poderia ficar sem os seus “baixinhos”. Em
verdade, seria até uma contradição na carreira da apresentadora desvincular-se da faixa
etária infantil em um momento que ela conseguia ter em casa o seu próprio “baixinho”.
Uma boneca que ela, através de um estrondoso espetáculo midiático, soubera produzir com
um perfil “angelical”, programada e enlatada para ser consumida pelo público que,
excessivamente solidário, também engravidara com Xuxa.
Neste sentido, a vinda de Sasha certamente abriu os olhos da apresentadora sobre os
efeitos que poderia provocar em seu público com o terrível descompasso e contradição na
trajetória de sua carreira. Deslocar esse interesse para a faixa juvenil exatamente quando
mais estava legitimada a lidar com crianças.
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Assim, em 2002, a apresentadora manifesta seu interesse em retornar ao público
infantil. Em agosto deste mesmo ano, rompe a sociedade com a empresária e diretora
Marlene Mattos, alegando interesses divergentes. E em outubro, lança o programa diário
"Xuxa no Mundo da Imaginação", com um formato diferente e dedicado ao público infantil
de até seis anos de idade. O programa durou dois anos e a sua trajetória foi marcada por
uma linha descendente de audiência, estabilizada na média de 5,8 pontos no IBOPE,
audiência inferior às outras emissoras no horário.
Para resgatar o seu prestígio anterior junto às crianças, Xuxa foi trabalhar sob a direção
de Jorge Fernando, renomado profissional da Rede Globo. Desta parceria, nasce a Tv Xuxa,
nosso objeto de análise neste trabalho. Porém, antes de passarmos a análise do programa, é
interessante destacar que a trajetória vitoriosa de Xuxa não acontece somente na tela
pequena da tevê, Xuxa trabalhou no cinema, em filmes que bateram recorde de bilheteria,
como Lua de Cristal (1990), atingindo a marca dos 4.980.000 espectadores, e, só no
lançamento, contou com 360 mil deles, recorde superado apenas pelo filme "Carandiru".
Ela também lançou álbuns exclusivos de trilhas sonoras, gravou DVD’s especiais. A
coletânea “Xuxa só para Baixinhos”, um projeto que idealizou sozinha, lhe rendeu dois
Grammy Latino; e ainda realizou shows pelo Brasil inteiro, que arrastavam multidões de
fãs.
Essa fabulosa popularidade dá a Xuxa um grande poder de persuasão. A imagem da
rainha, enquanto modelo de comportamento, garante o sucesso de qualquer produto. Neste
momento, são disponibilizados ao público mais de 300 itens de consumo licenciados com a
marca Xuxa no Brasil, desde perfumes, esmaltes, cosméticos em geral, até roupas,
acessórios, brinquedos e telefones celulares. Em 97, ano em que esteve grávida, foram
vendidas no período de um mês, no Brasil, cerca de 40 milhões de unidades das fraldas
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Xuxa By Dripper, sem falar de seus próprios produtos, como a grife Bicho Comeu e a série
de dvd’s Xuxa Só Para Baixinhos, que, só no terceiro lançamento, vendeu mais de um
milhão de cópias e está em processo de gravação do sexto volume.
"Eu cresci num mundo diferente, trabalho desde os meus 16 anos. Eu namorei
gente conhecida, dediquei a vida toda aos meus compromissos. Não sei se é a fama
que me impede ou os meus princípios, mas às vezes dá vontade de sair por aí e
namorar, namorar todos os namorados que eu não tive. Mas não posso. Olha quem
eu sou... E acabo levando essa proibição na brincadeira" (Xuxa Meneghel).
A existência fabulosa de Xuxa, no entanto, não se resume às suas qualidades e
potencialidades enquanto artista. O mito passa a existir quando se naturaliza no seio de uma
sociedade que o acolhe como verdade absoluta. Dessa forma, quem coroa a rainha dos
baixinhos não é ela mesma, nem a Globo, nem qualquer outra mídia, mas o público, que a
venera, endeusa, imita. Os fãs de Xuxa são a prova e o motivo de seu sucesso.
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Capítulo III
Amor de fã
Heroicizadas e divinizadas, as estrelas são mais do que objetos de admiração. São
também motivo de um culto que constitui um embrião de religião. Essa religião se ramifica
pelo mundo. Entre os espectadores do cinema, não há ninguém verdadeiramente ateu. Entre
as multidões de cinéfilos, destaca-se a tribo dos fiéis portadores de relíquias, consagrados à
devoção dos seus ídolos, os fanáticos ou fãs.
A afirmação de Edgar Morin, estudioso das estrelas de Hollywood, pode ser
perfeitamente adaptada para a persona que tratamos nesta análise. Xuxa, a estrela que tem
uma legião de fãs de todas as idades, de todas as possibilidades financeiras e sociais.
A atração exercida pela apresentadora em seu público é notória. Os fãs têm para com
ela uma adoração fanática e, muitas vezes, a colocam como tema primordial de seus sonhos
e das suas próprias vidas. A prova disso é a imensa quantidade de cartas que Xuxa recebe
por dia (em torno de cem); o número de sites na Internet com conteúdo que a envolve.
Sobre este item, só para citar um exemplo, se colocarmos a palavra “Xuxa” no buscador
Google, encontramos aproximadamente 406.000 referências e, restringindo essa pesquisa
para resultados em língua portuguesa, temos 200.000. No Portal X, site oficial da Rainha
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dos baixinhos, há o cadastro de 191 fãs-clubes, de vários estados do Brasil e de outros
países.
Os fãs de Xuxa acompanham a sua vida de muito perto. Gravam os programas,
colecionam fotos e entrevistas com um rigor e disciplina admiráveis. Os sites são
atualizados diariamente e tem uma média alta de visitação por dia. Samuel Afonso tem 17
anos, criou e desenvolveu o “Point Xuxa” (www.pointxuxa.cjb.net), um dos portais mais
completos sobre a carreira e a vida da estrela. O sítio traz fotos, arquivos de áudio e vídeo,
é atualizado constantemente pelas últimas notícias, discografia, comentários e outras
atrações para o internauta. A média é de 400 visitas diárias, com um público majoritário de
idade superior a 15 anos. O Point Xuxa existe desde 2003 e já foi reformulado diversas
vezes para “ficar cada vez melhor”, diz Samuel.
“Na minha opinião ela é única, ela tem um estilo que nunca ninguém antes dela
teve, ela é o maior legado que a tv brasileira teve e tem (...) ela é muito natural, ela
trata as crianças de igual pra igual, ela tem uma vitalidade cênica que não tem
igual. Ela retrata uma imagem mística que atrai milhões de multidões, ela
hipnotiza a platéia... e todo esse poder que ela possui é inexplicável, nós que a
amamos não sabemos nem explicar...” (Samuel)
Assim como Samuel, milhões de fãs de Xuxa carregam esse amor desenfreado, que os
impulsiona a escrever cartas, mandar presentes, endeusá-la, como se ela fosse um ser acima
do patamar terreno. Isto acontece porque ela é o alimento do sonho deles, um ideal a ser
atingido, sustenta um modelo de vida desejado por todos.
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“A cultura oferece possibilidades de figuras idealizadas: médicos, professores,
religiosos, etc. Nesta série, poder-se-ia incluir os artistas, já que neste momento, a
mídia desfruta de um lugar de destaque no contexto social. A mídia põe em
circulação o ator, destacando seus atributos de juventude, beleza, auto-realização e
romantismo.” (DIOGO, Doris Rangel, Textos Cinema, p.148)
Toda a espetacularização da vida de Xuxa ajuda a aproximação do público desta figura
carismática, que a tem como alguém íntimo, e suscita uma série de curiosidades. Por isso
mesmo, é fácil encontrar registros sobre a vida particular dela, a luxuosa casa onde vive no
Rio de Janeiro, o carro que possui, os presentes que dá à filha Sasha, como comemora suas
festas. As especulações em torno dela e de seu poder e sucesso não param. Há alguns
exemplos disso, como o drama que ela viveu causado por uma aventura extraconjugal do
pai dela, em 1992 ou seu conturbado namoro com o ator Luciano Szafir, em 1997. A
solidão de Xuxa e o desejo dela de ter um filho foram questões compartilhadas com o
Brasil inteiro. O nascimento de Sasha, em 98, foi televisionado pela Rede Globo e rendeu
uma reportagem de 10 minutos no Jornal Nacional, também da Globo.
Ao passo que a mídia expõe a vida de Xuxa, os fãs sentem-se cada vez mais próximos
dela e, por a admirarem muito, identificam-se e passam a repetir atos, gestos, poses,
atitudes, como se já tivessem sido naturalizados os posicionamentos do ídolo, tornando-os
conceitos e pensamentos cristalizados na sociedade. Uma pesquisa realizada com crianças
entre 7 e 9 anos de idade, em Brasília, durante o ano de 2001, com o objetivo principal de
investigar as representações e expressões corporais infantis, analisando as respostas das
crianças pesquisadas em relação aos padrões corporais oferecidos pela mídia, revelou que o
modelo “Xuxa” está presente no conceito de beleza das novas gerações. A pesquisa de
campo foi realizada a partir de desenhos de figuras humanas feito por meninas.
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“A Xuxa foi lembrada por várias meninas (...) instigou-nos na análise dos dados
levantados em campo, a presença marcante da figura humana de cabelos loiros,
olhos azuis e pele clara na coleção de desenhos e auto-retratos das crianças,
especialmente das meninas, mesmo quando o modelo não correspondesse a esse
padrão. Muitas meninas morenas, conforme dito anteriormente, desenharam-se
como loiras de olhos e pele clara. Ou então mantiveram a pele morena em
contraste com o cabelo loiro artificial (...) Notamos sobretudo, durante as
entrevistas, uma “naturalização” do ato e uma certa “falta de pudor” em apresentar
um auto-retrato absolutamente incoerente com o modelo do autor, mas de acordo
com o padrão difundido na mídia (...) Neste caso não se trata de conceitos
subjetivos da personalidade, mas de dados físicos corporais, visíveis a olho nu,
como a cor do cabelo, dos olhos e da pele (...) torna-se objeto de desejo como
efeito de um processo de dominação cultural, que se verifica claramente a partir da
segunda metade do século XX, mas que se acentuou no Brasil a partir daquela que
chamamos de “Era Xuxa”.” (Wiggers, 2003)
Pode parecer estranho pensar que Xuxa, esse modelo, desconstruiu regras sociais, mas,
ao analisarmos alguns fatos, podemos perceber que ela subverteu algumas ordens porém,
manteve-se em um patamar superior e, por isso, inatingível. No especial de Natal da Rede
Globo, em 1995, Xuxa anunciou que queria ter um filho, embora o pai ainda não tivesse
“aparecido”. E só apareceu em 1998, quando, no programa Domingão do Faustão, Xuxa
apresentou Luciano Szafir como o progenitor tão esperado. Anunciou: “(...) não sou mais
uma pessoa sozinha. Estou grávida.”. Em momento algum Xuxa rendeu elogios ao
namorado, com quem não casou e com o qual não demonstrou interesse de manter uma
relação duradoura.
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Para os padrões morais brasileiros, fortemente calcados no cristianismo e na ‘família’, a
expectativa é de que este fosse um comportamento condenável. O “namorado” foi colocado
apenas como o objeto de paternidade desde o início. A sociedade então dividiu-se entre
entusiasmo e questionamento. De um lado, pessoas criticaram aquela atitude, mas, do
outro, os fãs mostraram-se solidários ao ver o sofrimento da rainha minimizado por sua
imensa alegria em ser mãe. Da mesma forma, quando Xuxa separou-se de Marlene
prevaleceu para as pessoas a imagem de Marlene como uma empresária vilã, feia, dura e
mandona que controlava os passos da singela rainha, doce, meiga, bonita e politicamente
correta que, finalmente, conseguira livrar-se de uma pessoa tão indesejável. Afora essas,
outras atitudes de Xuxa que poderiam ser alvo de críticas, como a sua participação em
publicidades representando cenas sensuais; shorts curtos, mini-blusas ousadas; figurino
usado em fotos de divulgação e até mesmo o filme no qual representa uma mulher que
seduz uma criança.
Apesar de tudo isto, a imagem da rainha continua inabalável; é como se fizesse parte de
uma redoma, impenetrável. Por outro lado, o papel da Tv Globo é manter vivo o mito que
ela mesma consagrou como tal, até porque sua sustentabilidade enquanto empresa depende,
sobretudo, da credibilidade de seus telespectadores. Desta maneira, seria no mínimo
estranho que a Rede apagasse a “estrela” que acendeu ou deixasse minar o mito que tanto
se empenhou em criar e desenvolver, dando todo suporte em tantos aspectos durante toda a
carreira de Xuxa, desde a divulgação de discos e patrocínios de shows, até colocando-a
sempre como atração principal da emissora.
“ao nosso ver, Xuxa é um fenômeno muito interessante do ponto de vista de
comunicação moderna, pois, ao abolir as imagens anteriores, usando-as como
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